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Patricia Degasperi
Sexo e sexualidade não são sinônimos, mas estão intimamente ligados. A sexualidade
abrange muito mais do que as relações sexuais, envolvendo processos emocionais e
sociais como linguagens, fantasias, convenções, representações e símbolos (LOURO,
2000). De acordo com Figueiró (2006, p. 2), sexualidade inclui o sexo, a afetividade, o
carinho, o prazer, o amor ou o sentimento mútuo de bem querer, os gestos, a
comunicação, o toque e a intimidade. Inclui, também, os valores e as normas morais que
cada cultura elabora sobre o comportamento sexual.
Contrário à visão tradicional, Freud (1996, p. 104) explica que faz parte da opinião
popular sobre a pulsão sexual que ela está ausente na infância e só desperta no período
da vida designado da puberdade. Mas esse não é apenas um erro qualquer, e sim um
equívoco de graves consequências, pois é o principal culpado de nossa ignorância de
hoje sobre as condições básicas da vida sexual.
A sexualidade, como parte integrante do ser humano, não pode ser tomada como algo
atemporal, sem relação com a antiguidade. Por isso, é necessário direcionarmos o nosso
olhar aos acontecimentos sócio-histórico-culturais, para entendermos essa importante
parte do ser humano.
Na Idade Média, a sexualidade era muito controlada pela Igreja que despertava no povo
a ideia de que tudo relacionado ao prazer “carnal” era pecado: masturbação, sexo anal e
oral e todo tipo de relação que evitasse a procriação era condenado e os fiéis recebiam
penitências. Desse modo, as relações entre homossexuais eram completamente
incriminadas. Quanto à mulher, esta deveria ser submissa ao homem, realizando seus
desejos. Era acusada de ser mais inclinada à luxúria, fazendo o homem “cair na
tentação”. A esposa deveria dedicar-se totalmente ao marido, vivendo para servir-lhe
(RICHARDS, 1993).
De acordo com Marcondes (1992, p. [1]-[2][2]) poder-se-ia afirmar que “são atividades
sexuais da criança comportamentos como: mamar, brincar, descobrir habilidades
motoras e cognitivas, relacionar-se com os outros, etc.”. A mesma autora explica que
desde o nascimento a libido[3] está presente na criança e se prolonga até a idade adulta.
As fases do desenvolvimento psicossexual da criança correspondem à trajetória da
libido em busca da satisfação que é cheia de obstáculos e irá impulsionar diversas
aprendizagens na criança. Segundo a autora, baseada na teoria psicanalítica:
A fase oral ocorre do nascimento até o desmame, que se dá comumente por volta do
primeiro ano de vida[4]. Possui como principal característica a erotização da região
bucal. Isto porque a maior parte do tempo do bebê será ocupada com cuidados
alimentares, então este rapidamente perceberá que o enorme desconforto provocado
pela sensação de fome é cessado pela estimulação bucal, que em função disso se torna
uma zona de prazer. Devido à libido que é aí depositada, a criança poderá desfrutar de
uma sensação prazerosa, independentemente de haver ou não a alimentação em
determinado momento. Ou seja, ela também poderá sentir prazer por meio da sucção do
polegar, da chupeta ou de objetos levados à boca (MARCONDES, 1992).
Em seu estudo, Molina (1998) enfatiza que no início o bebê vive uma relação de fusão
total com a mãe, ou seja, ele pensa ser a mãe, é incapaz de distinguir-se dela e se
perceber como um ser único, separado do mundo externo. Marcondes (1992) chama isto
de vínculo simbiótico e acrescenta que a criança não somente incorpora a si mesma a
sua mãe, mas também objetos que são fontes de prazer oral. Deste modo, acontece uma
confusão entre TER e SER, sendo o objeto de desejo incorporado ao próprio desejante.
Crianças não saciadas, porque a atenção, o cuidado e o afeto recebidos não foram
suficientes [...] podem permanecer orais numa tentativa de suprir a falta que sentem,
principalmente com relação ao domínio e à segurança afetiva insaciada na vivência oral.
Crianças super-protegidas, superalimentadas, usualmente muito inseguras podem
permanecer orais porque se torna difícil renunciar à segurança, ao conforto e aos
prazeres orais. A dependência dessas crianças é reforçada pelas mães, insistentemente,
pela manutenção ou prorrogação obsessiva de cuidados maternais. (MARCONDES,
1992, p. [3]).
Marcondes (1992) discorre ainda sobre algumas implicações da fixação na fase oral que
podem ser observadas no aluno no contexto escolar. São geralmente crianças egoístas
que não lidam bem com perdas (pois percebem como perda de si mesmas) e necessitam
da aprovação para agirem.
Nesse sentido, a mesma autora sugere que, como professores, ao percebermos estas e
outras características que traduzam a dificuldade de lidar com a propriedade ou a falta
dela e com a perda, devemos oportunizar situações reequilibradoras. Isto pode ser feito,
por exemplo, a partir da verbalização para a criança, por meio de brincadeiras (troca de
presentes no amigo oculto, colorir desenhos trocando cores com os colegas) e atividades
que estimulem a sua independência (escolha de suas próprias roupas e brinquedos, ficar
responsável por cuidar de um bichinho ou mascote da turma, organizar um armário,
etc.).
A fase anal ocorre do primeiro ao terceiro ano de vida da criança, momento que em
função do amadurecimento psicomotor ela alcança certa independência e se põe a
explorar ativamente o ambiente (anda, corre, manipula, experimenta), ao mesmo tempo
em que vai aprendendo regras de convivência ao interagir com outras crianças ou
mesmo com adultos. Essa fase caracteriza-se pelo deslocamento da libido que provoca a
retenção ou expulsão consciente das fezes e da urina (MARCONDES, 1992).
A mesma autora explica que é “possível que, simbolicamente, a criança dê suas fezes de
presente à sua mãe em sinal de carinho, ou, então, que as retenha durante dias, também
de presente, tentando agradar” (MARCONDES, 1992, p. [5]). Dependendo do
tratamento que lhe for oferecido a retenção ou expulsão das fezes pode ser vista como
uma punição, ao invés de presente. Ela então o fará por medo ou obediência, para
agradar a mãe. Porém, ainda assim estará renunciando a uma sensação prazerosa,
motivo pelo qual passa a ver a mãe também como quem não somente lhe dá amor
(quando dá), mas também castiga, proíbe e pune, dando vez a um misto de sentimentos
de amor e ódio e, paralelamente, inaugurando a dimensão de sua própria agressividade.
Deste modo, confrontos e agressões àquele que impede os seus movimentos e dá ordens
que causam o seu aborrecimento torna-se comum. Nesses combates, vai aprendendo a
controlar seus impulsos e a sua agressividade (MARCONDES, 1992).
Goldschmied e Jackson (2006) falam sobre a importância de que exista uma relação de
confiança entre a criança e o adulto que pede a sua cooperação, além de que é
imprescindível que a creche e a família estejam plenamente harmonizadas e de acordo,
trabalhando em parceria, para não gerar confusão na criança. Também cabe ao educador
assegurar que a criança não esteja sendo colocada nessa situação sobre pressão, pois
nossas funções corporais são conectadas ao nosso estado emocional e forçá-las a algo
sem ter o devido cuidado pode resultar em uma tentativa frustrada tanto para a criança
como para o adulto.
Como na fase anterior, a libido dessa fase pode ser fixada mais do que o esperado, caso
haja uma vivência desequilibrada (cuidado excessivo ou falta de cuidado). Neste caso,
os traços mais notáveis na personalidade da criança serão as dificuldades no domínio da
relação social e/ou no controle da impulsividade ou agressividade. Esta fixação ocorre
comumente em função de dois tipos de vivências: a) a rigidez na disciplina e hábitos
higiênicos, o que poderá levar à repetição disto ou ao extremo oposto em busca da
satisfação dos desejos reprimidos; b) a falta de atenção e cuidado no momento em que
está aprendo a controlar a sua musculatura voluntária e os seus impulsos, podendo levar
à repetição da indisciplina a que esteve submetida ou, ao contrário, à busca do
estabelecimento de regras para si mesmas. Essa falta de equilíbrio pode afetar a sua
espontaneidade, criatividade e suas relações intersociais (MARCONDES, 1992).
Do mesmo modo como acontece naturalmente, a masturbação passa a ter sua frequência
reduzida até desaparecer, quando as tensões libidinais são acalmadas. Contudo, caso o
ato seja proibido a criança poderá dar um novo sentido a ele e torná-lo mais frequente,
“devido ao impulso de provocar o castigo (autopunição) ou ao sentimento de culpa
(autodepreciação); ou ao simples prazer do afrontamento do adulto” (MARCONDES,
1992, p. [8]). Por outro lado, a criança que se masturba em público pode estar
denunciando condições insatisfatórias de ocupação de seu tempo (principalmente
crianças que se masturbam em sala de aula) ou sua superioridade intelectual. Nesses
casos, podemos apresentar atividades mais estimulantes e desafiadoras para a criança
como, por exemplo, jogos socializantes com grau de dificuldade levemente maior do
que os que geralmente satisfatórios para sua idade cronológica (MARCONDES, 1992,
p. [8]).
Também o adulto pode mostrar que lida com estes sentimentos e assegurá-las de que é
possível sobreviver com eles, e mais do que isso, há acontecimentos e sentimentos
demasiadamente maiores como a vida e o amor (MARCONDES, 1992).
No gênero masculino, ocorre por volta dos quatro, quatro anos e meio. O filho,
desejando ser o parceiro sexual da mãe, busca incessantemente impressioná-la,
monopolizá-la, tendo ciúme de tudo o que desvia a sua atenção, criando
inconscientemente uma situação de rivalidade com o pai. É então que, não conseguindo
vencer o seu rival, identifica-se com ele que se torna o seu modelo para constituir-se
como homem que poderá futuramente conquistar outra mulher para si. Esse conflito
pode solucionar-se aos seis anos, seis anos e meio, ou postergar-se para o final da
adolescência. A mãe, por sua vez, pode contribuir para a resolução edípica valorizando
a sua masculinidade, demonstrando aprovação e incentivando as tentativas de imitar o
pai ou outro adulto que o sirva de paradigma (parentes, heróis, ídolos, etc.) e
estabelecendo limites na relação mãe-filho.
Mães sedutoras e/ou extremamente apegadas a seus filhos podem prolongar, retardar ou
impedir a resolução do conflito infantil (o que é uma das possibilidades de estruturação
homossexual). [...]. Pais que aos olhos da criança sejam extremamente violentos,
injustos, malqueridos, ou incapazes, fracos e excessivamente omissos, também podem
dificultar ou retardar o processo de identificação com a masculinidade que sugerem.
(MARCONDES, 1992, p. [10]).
No gênero feminino, o conflito ocorre pouco tempo antes, tendo estrutura idêntica. A
filha, sentindo-se desvalorizada por não contar com alguns atributos da mãe (como seios
e maternidade), encontra complemento na figura paternal, fantasiando tê-lo somente
para si e rivalizando-se com a mãe. Porém, na medida em que percebe a preferência da
mãe pelo pai, vai abandonando a ideia incestuosa para imitar a mãe, preparando-se para
cativar um homem. Se a figura da mãe for pouco atrativa aos seus olhos, ela buscará
outros modelos. Do mesmo modo, pais demasiadamente possessivos, ciumentos e/ou
sedutores retardam a liberação da menina para constituir uma sexualidade independente.
2. 5 A fase de latência
A fase de latência ocorre por volta dos seis ou sete anos e se estende até a adolescência,
período de experiências sexuais mais intensas. Nesse momento, “a criança vai
experimentar os mecanismos de defesa que desenvolveu, vai alimentar sua fome de
satisfação e prazer como lhe tiver ficado estruturada a personalidade até então”
(MARCONDES, 1992, p. [12]). No período de latência ocorre uma coleta subjetiva e
reflexiva onde as crises de agressividade, indisciplina ou carinho cederão seu lugar ao
jogar, construir, fazer consertos e viajar, tendo a criança mais tempo para escutar o que
os familiares têm para lhe contar (CORSO, 2002). Segundo Corso (2002, p. 24), “[...]
não há dúvida de que este é o momento em que o filho mais se aproxima do sonho
pedagógico dos adultos, pois [...] o latente tem plena consciência de estar sendo bom
menino”. Sendo esta uma fase em que a criança está muito voltada para a aprendizagem,
os professores devem aproveitá-la com a máxima intensidade.
Na ótica da autora, podemos dizer que um dos aspectos mais importantes é a descoberta
e a atitude da criança em relação ao seu próprio sexo. O conhecimento de que “eu sou
uma menina” ou “eu sou um menino” implica diretamente no comportamento da
criança. Porém, a compreensão da criança sobre seu próprio corpo e seu próprio sexo
muda com a idade.
Por volta dos três anos de idade, a criança compreende esses rótulos ("menino" e
"menina") e é capaz de aplicá-los corretamente a si. Aos quatro anos, geralmente, esses
rótulos passam a ser utilizados pelas crianças não somente para si, mas também para
pessoas e objetos.
Enfim, entre os cinco e seis anos de idade, já na fase escolar, a criança finalmente
possui uma ideia clara, a partir das referências do meio social, de algumas
características que compõe o "papel feminino" e o "papel masculino". "Normalmente,
elas adotam comportamentos consistentes ao seu sexo e imitam mais os
comportamentos dos adultos de seu próprio sexo do que os do sexo oposto". (BEE,
1984, p. 220).
Em contrapartida, Felipe (2001) discorre sobre as relações entre gêneros e aquilo que
Bee (1984, p. 224) chama de “identidade do papel sexual” a partir de uma ótica
diferenciada em relação à anterior. Para ela, “as expectativas que temos em relação a
homens e mulheres, meninos e meninas são construídas numa determinada cultura e
num determinado tempo histórico. São essas expectativas que chamamos de relação de
gênero” (FELIPE, 2001, p. 65). Até mesmo o jeito de ser e os comportamentos
esperados de ambos são construídos histórica e socialmente. O homem ideal é visto
como agressivo, forte, racional, ousado e empreendedor, enquanto que a mulher é vista
como passiva, frágil, sentimental, dependente da figura masculina, e além de tudo,
como um mero objeto sexual e modelo de beleza, juventude e sensualidade. Caberá
então a nós, professores, desfazer as barreiras estabelecidas que definam o que seja ou
não apropriado, afinal, o mundo é constituído de transformações e diversidades, e
permitir que as diferenças se transformem em desigualdades seria o mesmo que ferir os
nossos direitos fundamentais (FELIPE, 2011).
Percebemos que não há uma proposta diretiva que obrigue as escolas a lidarem com o
tema sexualidade, e que as orientações nacionais são objetos de estudo que merecem
maior aprofundamento, o que não é o foco deste trabalho, que pretende discutir sobre o
tema de forma mais ampla.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) possuem uma parte especifica sobre o
tema transversal “Orientação Sexual”, onde é explicada a importância da abordagem da
sexualidade nas escolas, pois são contrários à postura da escola se isentar da discussão
acerca das “[...] manifestações da sexualidade [que] afloram em todas as faixas etárias.
[Entendendo que é errada a postura das escolas em] Ignorar, ocultar ou reprimir são
respostas habituais dadas por profissionais da escola, baseados na ideia de que a
sexualidade é assunto para ser lidado apenas pela família” (BRASIL, 1997, p 291).
Em um estudo sobre os documentos que orientam este eixo temático dos PCNs, Vianna
e Unbehaum (2006) criticam a postura adotada por este documento, no qual articula a
sexualidade e as relações de gênero em um único tema transversal, pois ao associar a
sexualidade fundamentalmente com a saúde, isso favorece, mesmo não desejando, uma
abordagem restrita à prevenção e à doença. Ou seja, a sexualidade acaba adquirindo o
traço de um problema circunscrito ao corpo, à saúde pública e separado das relações de
gênero. [...] Os PCN para o ensino fundamental, porém, não estão impregnados de uma
perspectiva de gênero, a qual, a nosso ver, deveria perpassar todas as áreas do
conhecimento e não estar atrelada estritamente à orientação sexual. (VIANNA;
UNBEHAUM, 2006, p. 420).
Além dos PCNs, outro documento que orienta a postura da escola em relação à
sexualidade e relações de gênero é o da Secretaria de Educação Continuada
Alfabetização Diversidade e Inclusão do Ministério de Educação e Cultura
(SECADI/MEC), no Caderno de Gênero e Diversidade Sexual na Escola, que traz um
rico estudo sobre o tema, tendo em mente a legitimidade da pluralidade de gênero, de
identidade de gênero e da livre expressão afetiva e sexual vai além dos importantes
aspectos relacionados ao direito à saúde reprodutiva. Entende que integram os direitos
humanos tanto os direitos relativos à saúde reprodutiva quanto os direitos sexuais, sem
que estes devam ser considerados um subconjunto daqueles, pois os extrapolam. Afinal,
a sexualidade diz respeito a muitas outras esferas de atuação humana – inclusive a da
produção do conhecimento. (BRASIL, 2007, p. 16).
No entanto, Guizzo e Comiotto (2015) ao discutirem estas Diretrizes bem como o Plano
Nacional de Educação vigente explicam que pouco se fala e muito menos se cobra das
escolas a respeito da discussão sobre sexualidade e relações de gênero. Observamos isto
também nos outros documentos, que delegam à escola opção de trabalhar ou não algo,
que, como demonstramos acima, é inerente à vida humana e a felicidade do indivíduo.
A ideia de lidar com a sexualidade em crianças pequenas e bebês costuma ser algo
difícil para educadores ou até para as famílias, uma vez que o sexo é visto como algo
impuro, desvirtuoso (SANFELICE, 2010), e a criança é o seu exato oposto, sendo
angelical e pura (SILVA, 2007). Se analisarmos um pouco mais esta dicotomia,
perceberemos o quão desnecessário é este tabu, pois a sexualidade é ligada ao prazer
(do corpo e da mente) e refere-se à construção do afeto físico e emocional. Silva (2007)
nos chama a atenção a respeito de que o nosso primeiro contato com o mundo é pelo
corpo, e nossas primeiras sensações são com o contato materno ou no seio familiar.
Desta forma “[...] o desenvolvimento afetivo-sexual da pessoa será resultado da
combinação do componente biológico (índole inata do bebê) com o ambiente e meio
cultural (do qual os pais são parte fundamental)” (SILVA, 2007, p. 52). Zornig (2008)
destaca que não é somente pela nutrição biológica que se garante um ser humano
saudável, reforçando ainda a importância da construção da criação de uma autoimagem
positiva para um crescimento psicológico saudável, uma vez que [...] uma criança que
tenha um esquema corporal saudável pode ter uma imagem inconsciente do corpo
perturbada se suas relações com as pessoas que cuidam dela se restringirem à
manutenção de suas necessidades, não sendo acompanhadas de trocas afetivas que a
introduzam numa relação simbólica. (ZORNIG, 2008, p. 75).
Quando seguimos esta ideia, parece até lógico vincularmos a infância com a
sexualidade, uma vez que as crianças que ainda não dominaram a comunicação pela fala
têm por sua primeira ferramenta de expressão e sensação o próprio corpo, e “[...] o auto-
erotismo infantil é destacado justamente pelo fato de que na infância a sexualidade é
autoerótica, sendo o corpo da criança o único meio de obter gratificação em
circunstâncias normais” (ZORNIG, 2008).
Assim, uma criança que tenha um esquema corporal saudável pode ter uma imagem
inconsciente do corpo perturbada se suas relações com as pessoas que cuidam dela se
restringirem à manutenção de suas necessidades, não sendo acompanhadas de trocas
afetivas que a introduzam numa relação simbólica. (ZORNIG, 2008, p. 75).
Segundo Pinto (1997), a intimidade é algo ausente na escola, acontece que sem essa
procura pela construção do eu, não há como trabalhar com a sexualidade, sendo ela
distante da concepção escolar.
Os professores, principalmente os da educação infantil, encontram certa dificuldade em
lidar com o tema sexualidade, uma vez que é um assunto ainda delicado para a nossa
sociedade. O educar sexualmente precisa vir, além dos embasamentos teóricos, do bom
senso, das emoções, da sensibilidade, da afetividade, da intuição (que pressupõe
conhecimentos e experiências adquiridas ao longo da vida) (SANTOS, 2014).
O educador, antes de tudo, precisa fazer uma revisão pessoal, refletindo sobre seus
próprios valores, seus sentimentos e sobre os possíveis tabus e preconceitos existentes
na sociedade.
Muitas vezes, não há consenso entre a ideia de pais e professores a respeito da educação
sexual das crianças e jovens. Isso faz com que muitos professores tenham receio de
como irão trabalhar com os alunos, e os pais tenham medo de que seus filhos mudem as
atitudes com base nos ensinamentos da escola (FIGUEIRÓ, 2006). Sendo assim, os
professores devem trabalhar para ensinar o que é correto aos alunos, conversando sobre
temas importantes na sociedade, não contribuindo para a disseminação do preconceito e
nem debochando de costumes ensinados pelas famílias. Educar sexualmente é muito
mais do que ensinar a biologia e a fisiologia, “[...] é criar oportunidades para o aluno
expressar seus sentimentos, angústias e dúvidas, refletir sobre suas atitudes e rever
preconceitos” (FIGUEIRÓ, 2206, p. 7).
As palavras pênis, vagina, sexo, masturbação deveriam ser tratadas como definições
naturais que são e os professores com isso, trabalham contra a ideia de que são
bobagens que quando pronunciadas devem ser seguidas de “risinhos”. A masturbação,
por exemplo, é uma das questões que preocupam muitos professores, contudo, deve ser
mostrada aos alunos como uma ação normal, com tempo e espaços próprios e que ajuda
na saúde e no processo de conhecimento e de se sentir bem com o próprio corpo. Isso
favorece a visão positiva dos alunos sobre a sexualidade.
Referências
BEE, H. A criança em desenvolvimento. 3. ed. São Paulo: Harper&How do Brasil,
1984.
FREUD, S. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, 1905. In: _____. Um caso de
histeria. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade e outros trabalhos (1901-1905).
Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 233-270. Disponível em . Acesso em: 01 jul. 2015.
MOLINA, P. “Aquele Sou Eu”: A Criança Frente ao Espelho – Relação com o outro e
Exploração Cognitiva. In: BONDIOLI, A.; MANTOVANI, S. (Org.). Manual de
Educação Infantil. 9. ed. Porto Alegre: Artmed, 1998. p. 228-244.
RIBEIRO, P. R. M. Por minha culpa, minha culpa, minha máxima culpa... A educação
sexual no Brasil nos documentos da inquisição dos séculos XVI e XVII. In: REUNIÃO
ANUAL DA ANPED, 28., 2005, Caxambu. Anais... Caxambu: Associação Nacional de
Pós-graduação em Pesquisa em Educação, 2005. p. 1-15. Disponível em:
<28reuniao.anped.org.br/textos/ge231146int.rtf>. Acesso em: 29 jun. 2015.
[2] Informamos que neste artigo não foi inserida a paginação, motivo pelo qual foi
necessário explicitar, com colchetes, o número de página do artigo publicado.
[3] Busca instintiva pelo prazer ou desejo sexual, força ou energia psíquica utilizada
com a finalidade de produzir satisfação (FELIPE, 2001).
[4] Nesse sentido, importa mencionar que esta idade para o desmame, embora tenha
sido sugerida no estudo de Marcondes (1992), não é consensual. De acordo com a
Organização Mundial de Saúde (OMS), as crianças devem ser amamentadas de forma
exclusiva até os seis meses de idade. Somente a partir dos seis meses é recomendável o
recebimento de alimentos complementares, porém mantendo o aleitamento materno
pelo menos até completarem dois anos de idade.
[5] Martins Filho (2013) refere-se à terceirização da educação como a transferência das
funções maternas e paternas para outras pessoas, por conta da entrada da mulher no
mercado de trabalho e das novas configurações familiares.