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A Educação de Jovens e Adultos – EJA– é uma modalidade de ensino que tem por
objetivo oferecer oportunidade de estudos para aquelas pessoas que não tiveram acesso ou não
concluíram o ensino fundamental ou médio na idade regular (BRASIL, s/d ).
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Bolsista do Núcleo de Ensino de Botucatu
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Professora orientadora do projeto – Departamento de Educação – Instituto de Biociências – Unesp – Campus de Botucatu
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A Constituição Federal de 1988 representou avanços sociais significativos no Art.
208. onde o dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:
Dessa forma, o analfabetismo era enfocado como causa e não efeito da situação
econômica, social e cultural do país, visão esta que no desenrolar da Campanha foi se
modificando, através da convivência dos técnicos com os alunos, levando-os a reconhecer o
analfabeto como um ser participante da produção, que tem visão própria e amadurecida dos
problemas, sendo capaz de resolvê-los.
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Em 1962, já em vigência da lei n° 4.024/61, de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, foi instituída pelo MEC, a MNCA (Mobilização Nacional contra o Analfabetismo), pelo
decreto n° 51.470/62. Essa Mobilização pretendia escolarizar indivíduos de até 21 anos de idade e
“ se possível, até de mais de 21 anos”, e incorporava as seguintes ações/movimentos:
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O Movimento Brasileiro de Alfabetização - o MOBRAL, foi criado pela Lei número
5.379, de 15 de dezembro de 1967 e surgiu como um prosseguimento das campanhas de
alfabetização de adultos iniciadas por Lourenço Filho. Porém com um cunho ideológico totalmente
diferente do que vinha sendo feito até então, o MOBRAL assumiu a educação como investimento,
qualificação de mão-de-obra para o trabalho. A atividade de pensar proposta foi direcionada para
motivar e preparar o indivíduo para o desenvolvimento, segundo o Modelo Brasileiro em vigor no
período de 1970 a 1975. Sendo assim, não pode visar à reflexão da realidade existencial do
alfabetizando porque era por em perigo seus objetivos (BELLO, 1992).
Mas, na prática, pouca coisa aconteceu, pois as comissões não tiveram controle
efetivo sobre os projetos e sobre os recursos distribuídos pelo PNAC. Em 1991, um ano após seu
lançamento, o Programa foi extinto, pois com a mudança do Ministério, com os cortes nos recursos
destinados a esse programa e com a redução de sua importância ficava comprovado que a
educação de jovens e adultos não se constituía em prioridade na política de educação básica
(CASÉRIO, 2004).
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Com base nesses pressupostos político-pedagógicos é que se implantou o MOVA-
SP (Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos da Cidade de São Paulo) na Secretária
Municipal de Educação, cujo início efetivo se deu em janeiro de 1990, na esteira da obra de Paulo
Freire e na sua primeira administração pública, em São Paulo (Freire, 1991) (GADOTTI, 2000).
È preciso considerar, ainda, que na EJA há mais de trinta anos persiste uma
distribuição tradicional dos conteúdos e que os conhecimentos escolares de Ciências Naturais não
são, de um modo geral, utilizados pelos alunos em sua vida cotidiana ou profissional – o que indica
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que a abordagem tradicional dos conteúdos não os vincula à realidade do aluno jovem e adulto
(BRASIL, 1997).
Assim, a articulação dos conteúdos abordados com a realidade dos alunos torna-se
um dos principais princípios educativos.
Segundo Melo (2000) o baixo índice de envolvimento dos alunos nas aulas de
Ciências se dá em virtude do professor não conseguir relacionar o conteúdo trabalhado em sala de
aula ao cotidiano real do aluno. Percebe-se que não há uma preocupação em demonstrar, e
construir socialmente, a idéia da importância efetiva das Ciências ao dia-a-dia do aluno interagindo
com o seu meio sócio-cultural.
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...”não será possível se continuarmos bitolando os alfabetizandos com desenhos pré-
formulados para colorir, com textos criados por outros para copiarem, com caminhos
pontilhados para seguir, com histórias que alienam, com métodos que não levam em
conta a lógica de quem aprende”. (FUCK, 1994, p. 14 - 15).
No entanto, o recurso não é substituto do professor, pois seu uso efetivo dependerá
da habilidade do professor em selecionar, visualizar e utilizar os recursos de maneira adequada e
produtiva. A seleção dos materiais deve levar em consideração o aluno ao qual se destina (faixa
etária, interesses), os objetivos e os conteúdos a serem aprendidos. Assim, consideramos que
cabe ao professor, como dinamizador do processo de aprendizagem, estar atento às diferentes
situações para que os recursos cumpram sua finalidade, que é, principalmente, facilitar a
aprendizagem integrada e dinâmica (SCHIMITZ, 1993).
OBJETIVO
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DESENVOLVIMENTO DA PROPOSTA
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Segundo as professoras, as deficiências dos alunos se encontram em português e
matemática e precisam primeiro trabalhar a leitura e escrita para depois iniciar Ciências, do
contrário ficaria muito difícil o processo de aprendizagem, ainda mais porque elas não possuem
nenhum material didático, apenas alguns textos.
Com relação aos materiais que julgam facilitar o aprendizado dos alunos, as
professoras citaram : palestras (citaram ainda que melhor que a palestra propriamente dita,
discussões em sala, são muito ricas e produtivas), cruzadinhas, jogos, e textos curtos.
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grande necessidade de abstração que alguns conteúdos de Ciências exigem, acabam recorrendo
a copia de textos na lousa, reduzindo o tempo para explicações e discussões com a sala.
Já o questionário para os alunos envolveu quatro questões (( o que pensa que vai
aprender e o que gostaria de aprender em Ciências e por quê; materiais que o professor usa que
você gosta; materiais que ajudam a aprender e materiais você gostaria de ter para aprender
Ciências e por quê?).No caso dos alunos por se tratar da alfabetização (1ª e 2ª séries) e por eles
apresentarem ainda algumas dificuldades para com a leitura e escrita (3ª e 4ª séries), preferimos,
ao invés de entregar os questionários, entrevistá-los individualmente.
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Quadro 3. Número de entrevistas realizadas com alunos por série.
1ª 9
2ª 11
3ª 17
4ª 14
Desta forma, nessa questão, tive que auxiliá-los citando diversos conteúdos que
podem ser trabalhados nessa disciplina, para que eles pudessem dizer sobre o que mais tinham
curiosidade em aprender.
Os conteúdos (mais citados) que eles disseram ter mais curiosidade em aprender
foram: o corpo humano (localização dos órgãos, funcionamento, onde alguns remédios atuam,
etc.); as plantas (por morar e/ou trabalhar em área rural) e saúde (doenças, remédios).
O que se evidenciou com essa questão foi à vontade de aprender destes alunos,
pois mesmo relatando alguns conteúdos que tinham mais curiosidade e justificando-os, sempre ao
final colocavam que gostariam de aprender tudo, o máximo possível.
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Quanto aos materiais que as professoras utilizam eles afirmaram que " gostam de
todos", principalmente cruzadinhas e quebra-cabeças. Alguns alunos citaram que não gostam
muito de recortar palavras em revistas e de joguinhos, por falta de paciência ou por acharem um
pouco infantil.
Com relação aos materiais que eles julgam auxiliar a aprendizagem e que gostariam
de ter, foram diversas as sugestões: caça-palavras, quebra-cabeças, cruzadinhas, vídeos (porém
não muito longo), alfabeto móvel (para montar eles próprios as palavras), jogo da memória,
dominó, computador (a maioria não sabe utiliza-lo e acredita que seria um ótima oportunidade para
isso, já que não o possuem em casa) e que gostariam de ter mais palestras sobre temas do dia-a-
dia.
A partir da análise dos dados coletados ficou claro que há uma carência de
materiais didáticos adequados à educação de jovens e adultos, pois a falta de materiais é
apontada como a maior dificuldade encontrada no processo de ensino e aprendizagem na EJA,
pelas professoras das quatro séries iniciais do ensino fundamental.
A disciplina de Ciências Naturais envolve uma área de estudo muito ampla. Assim,
para a elaboração dos materiais, definimos quatro temas: Seres Vivos, Ambiente, Saúde e Corpo
Humano, dentro os quais definimos alguns conteúdos para a elaboração dos materiais. Para a
seleção desses temas consideramos o plano de ensino da escola e os resultados dos dados
obtidos através das observações e dos questionários.
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A partir disso, iniciamos a confecção dos materiais, tendo como critérios :
durabilidade, facilidade para o transporte e adequação ao conteúdo. A preocupação com a
adequação dos materiais à clientela (jovens e adultos) foi o maior princípio para a elaboração dos
mesmos, pois esperávamos que os materiais pudessem contribuir de forma significativa e
facilitadora para a aprendizagem de Ciências Naturais, ou seja, para que os alunos realmente se
apropriassem do saber e para que os materiais não ficassem infantis e, conseqüentemente
inadequados.
MATERIAL CONTEÚDO
Fotossíntese
Cadeia e Teia Alimentar
As Plantas
O que é vida?
Classificação dos Seres Vivos
Animais em Extinção
Ciclo da Água
Ciclo do nitrogênio, do oxigênio e do carbono
Tipos de Solos
Lixo (Resíduos Sólidos e Orgânicos)
Tratamento da Água
Alimentação
O Corpo Humano
Transparência
Aparelho Respiratório
Aparelho Digestório
Aparelho Reprodutor
Sistema Circulatório
Sistema Excretor
Gravidez
Os cinco sentidos
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MATERIAL CONTEÚDO
Vírus
Maquete Sistema Solar
Língua
Fotossíntese
Condução de água, sais minerais e matéria orgânica em plantas
Cadeia Alimentar
As Plantas
Ciclo da Água
Atividade Prática Tipos de Solos
Lixo (Resíduos Sólidos e Orgânicos)
Conhecendo o Universo
Tratamento da Água
O Corpo Humano
Aparelho Respiratório
Doenças
Alimentação
Vídeo Gravidez
Roteiro para discussão Plantas Medicinais
Manual Plantas Medicinais
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Assim, a Educação de Jovens e Adultos – EJA – favorece a inclusão social,
econômica e política de indivíduos que não tiveram acesso ou não concluíram o ensino
fundamental ou médio na idade regular.
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“O adulto analfabeto já encontrou seu lugar na sociedade. Pode não ser um bom lugar,
mas é o seu lugar. Vai ser peixeiro, vigia de prédio, lixeiro ou seguir outras profissões que
não exigem alfabetização. Alfabetizar o adulto não vai mudar muito sua posição dentro da
sociedade e pode até perturbar. Vamos concentrar os nossos recursos em alfabetizar a
população jovens. Fazemos isso agora, em dez anos desaparece o analfabetismo.”(
JOSÉ GOLDEMBERG – Ministro da Educação, Jornal do Comércio, RJ. 12/10/1991).
Desta forma, o material não pode ser considerado como o objetivo principal da
atividade, já que esta é a aprendizagem. Ele é apenas um instrumento facilitador para que ela
possa ocorrer de forma significativa, que pode e deve ser explorado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CURY, C. R. J. Caros colegas de trabalho, prezadas professoras, alunos e alunas da Educação de
Jovens e de Adultos (EJA)! Disponível em:
http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2001/eja/pgm5.htm . Acesso em: 18 ago 2005.
FUCK, Irene Terezinha. Alfabetização de Adultos. Relato de uma experiência construtivista. 2. ed.
Petrópolis: Vozes, 1994.
GADOTTI, M. O MOVA-SP: Estado e Movimentos Populares. In: GADOTTI, M. & ROMÃO, J. E.
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GAGNÉ, R. Como se realiza a aprendizagem. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1971.
KRASILCHICK, M & MARANDINO, M. Ensino de ciências e cidadania, São Paulo: Editora
Moderna, Coleção Cotidiano Escolar, 2004.
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Disponível em: http://www.rosamelo.hpg.com.br. Acesso em: 20 jul 2005.
NÉRICI, I. G. Introdução à didática geral. 16ª edição. São Paulo: Atlas, 1991.
OLIVEIRA, M. O. M. Avaliação de um programa de alfabetização de adultos: seus contextos, seus
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PNUD – Programa Nacional para o Desenvolvimento. Disponível em: http://www.onu-brasil.org.br.
Acesso em: 26 out 2005.
PAIVA, V. P. Educação popular e educação de adultos: contribuição à história da educação
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PILETTI, C. Didática geral. 23ª edição. São Paulo: Ática, 2000.
SCHMITZ, E. Fundamentos da Didática. 7ª ed. São Leopoldo: UNISINOS, 1993.
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de (Org.). Ensino de ciências: fundamentos e abordagens. Campinas: R. Vieira Gráfica e Ed Ltda,
2000.
SOARES, L. J. G. Processos de inclusão/exclusão na educação de jovens e adultos. Presença
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VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
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ANEXO 1
QUESTIONÁRIO PROFESSORES (AS)
Nome:___________________________________________________________________
Tempo de experiência – EJA:_________________________________________________
Formação – Curso:__________________________________________________________
Instituição:______________________________________________________
Ano de Conclusão:___________
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