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Reconsiderando o Aniquilacionismo Evangélico

Uma Análise do Pensamento de John Stott sobre a Não-


Existência do Inferno

por

James I. Packer

O evangelicalismo é definido de várias maneiras por diversos tipos de


pessoas. Eu o defino como a religião dos crentes da Bíblia
Trinitariana que se gloriam na cruz de Cristo como a única fonte de
paz com Deus e buscam compartilhar a sua fé com os outros; e eu
noto que o evangelicalismo ocidental (para não irmos mais adiante),
como o liberalismo protestante, o catolicismo romano de toda
espécie, e o ortodoxismo oriental, tem um padrão propriamente seu.
Dentre os fatores que formaram esse padrão durante os últimos
cinqüenta anos incluem-se o ensinamento dogmático, devocional,
apologético e ativista ministrado nas igrejas evangélicas e em
movimentos paraeclesiásticos; a literatura (livros, jornais, revistas)
produzida pelos evangélicos; a sensação de uma fidelidade superior à
Bíblia, seu Deus e seu Cristo, que as instituições evangélicas
cultivam; uma sensação de estar sendo ameaçado pelos enormes
batalhões do protestantismo liberal, catolicismo romano e
instituições seculares, que os leva a vociferar quando esses
fundamentos ideológicos são discutidos; a obstinação por um
evangelismo atuante; e o costume de transformar estudiosos e líderes
em gurus, de onde surge um sentimento de ultraje e traição se
percebem que eles estão andando fora da linha. Dentro da distintiva
identidade corporativa do evangelicalismo introduziram-se uma
consciência de privilégio e vocação, uma mentalidade envolvente e
persistente, a discussão de temas irrelevantes, uma certa violência
verbal e uma tendência de atingir nossos próprios feridos.

Ainda não está claro se o recente restabelecimento da confiança e o


crescimento de uma vida intelectual [1] do movimento estão ou não
amadurecendo esse padrão ainda verde; entretanto, sem dúvida
alguma, os fatores citados acima se tornaram evidentes enquanto os
evangélicos discutiam o aniquilacionismo entre si nos últimos dez
anos.
Idéias aniquilacionistas têm sido debatidas entre os evangélicos por
mais de um século [2], mas nunca se tornaram parte da corrente
principal da fé evangélica [3], nem sequer foram largamente
discutidas no meio evangélico até recentemente. Em 1987, Clark
Pinnock escreveu um artigo bombástico de duas páginas entitulado
“O Fogo, e Nada Mais” [4], mas que, apesar de amplamente lido, não
provocou maiores discussões do que uma exposição de quinhentas
páginas sobre o assunto: “O Fogo que Consome” (1982), publicada
por Edward William Fudge [5], talentoso leigo das Igrejas de Cristo.
Entretanto, em 1988, surgiram dois curtos trabalhos de defesa,
ambos de veteranos evangélicos anglicanos: oito páginas de John
Stott em “Essentials” [6], e dez do falecido Philip Edgecumb Hughes
em “A Verdadeira Imagem” [7], que puseram o gato no meio dos
pombos.

Em uma conferência de 350 líderes em Deerfiield, Illinois, no ano de


1989, eu li um documento pomposamente entitulado “Evangélicos e o
Caminho da Salvação: Novos Desafios ao Evangelho: Universalismo e a
Justificação pela Fé” [8]. No documento eu ofereci uma linha de
pensamento contrária à posição desses dois respeitáveis amigos [9]. A
reação foi tal que a conferência se dividiu ao meio sobre a questão
da aniquilação. O relatório da Christianity Today (periódico
evangélico) dizia:

“Surgiram fortes desentendimentos sobre a posição do


aniquilacionismo, doutrina que afirma que as almas não salvas
deixarão de existir após a morte... a conferência foi quase que
dividida ao meio ao tratar do assunto em suas declarações, e
nenhuma renúncia a essa posição foi incluída na resenha final da
conferência”. [10]

Depois disso, a pedido de John White, então presidente da Associação


Nacional de Evangélicos, o falecido John Gerstner escreveu uma
resposta a Stott, Hughes e Fudge sob o título “Arrependei-vos ou
Perecereis” (1990) [11]; e em 1992 os documentos apresentados na
quarta Conferência sobre Dogmas Cristãos de Edinburgo foram
publicados com o título “Universalismo e a Doutrina do Inferno” [12],
juntamente com “O Argumento a Favor da Imortalidade Condicional”,
de John W. Wenham e “O Argumento Contra o Condicionalismo: Uma
Resposta a Edward William Fudge”, de Kendall S. Harmon.

E isso não foi tudo. Livros reafirmando a realidade e eternidade do


inferno começaram a aparecer: “Questões Cruciais Sobre o inferno”
(1991) [13], de Ajith Fernando; “Um Deus Irado?” (1991) [14], de Eryl
Davies; “O Outro Lado das Boas Novas” (1992) [15], por Larry Dixon;
“Quatro Opiniões sobre o Inferno” (1992) [16], por William Crocket,
John Walvoord, Zachary Hayes e Clark Pinnock; “A Estrada Para o
Inferno” (1992) [17], de David Pawson; “O Que Aconteceu Com o
Inferno?” (1993) [18], de John Blanchard; “A Batalha Pelo Inferno:
Uma Visão Geral e Avaliação do Crescimento do Interesse Evangélico
pela Doutrina da Aniquilação” (1995) [19], por David George Moore;
“O Inferno Em Julgamento: O Argumento a Favor do Castigo Eterno”
(1995) [20], de Robert A. Peterson. Todos estes contestando mais ou
menos elaboradamente o aniquilacionismo. Continuava assim a
discussão.

O que está em questão aqui? A questão é essencialmente exegética,


embora com implicações pastorais e teológicas. E se resume a se,
quando Jesus disse que aqueles banidos no julgamento final “irão
para o castigo eterno” (Mt 25:46), Ele tinha em vista um estado de
tormento que não terá fim, ou um irrevogável fim da existência
consciente; em outras palavras (pois assim é colocada a questão), um
castigo que é eterno em sua extensão ou no seu efeito. A corrente
principal da cristandade sempre afirmou o primeiro, e continua a
fazê-lo; evangélicos aniquilacionistas, juntos com muitos
Testemunhas de Jeová, Adventistas do Sétimo Dia e liberais — na
realidade quase todos os que não são universalistas — defendem o
último. Entretanto desse ponto em diante os evangélicos
aniquilacionistas se dispersam e não há unanimidade [21].

Alguns têm asseverado que o aniquilamento ocorrerá imediatamente


após a sentença de Jesus no Juízo Final, após um período de
tormento no estado intermediário; outros têm pensado que cada
pessoa banida da presença de Jesus passará por algum tormento,
proporcional em intensidade e extensão ao que cada um merece, até
que venha o momento da aniquilação. Alguns baseiam o seu
aniquilacionismo em uma antropologia adaptada. Eles argumentam
que uma existência eterna não é natural; e que, pelo contrário,
desde que nós somos seres pessoais (almas) que vivem por meio de
corpos, a separação entre a alma e o corpo extinguirá a consciência.
Então, depois da nossa separação inicial (a primeira morte) não há
um estado intermediário, apenas uma inconsciência que continuará
até a ressurreição, e depois dos descrentes ressuscitados serem
banidos da presença de Cristo, as suas consciências finalmente
cessarão (segunda morte) quando, e porque, os seus corpos
ressurretos deixarão de existir. Entretanto, alguns que raciocinam
desta forma, na verdade, afirmam que há um estado intermediário
consciente, com alegria para os santos e sofrimento para os ímpios,
como sempre foi o consenso geral da Igreja. Todos que adotam essa
antropologia denominam a sua posição de imortalidade condicional,
expressão cunhada para mostrar que a existência após a morte que as
religiões imaginam e que a maioria, se não todas, deseja, é uma
dádiva que Deus concede somente aos crentes, enquanto que Ele,
cedo ou tarde, simplesmente extingue o resto de nossa raça. A
existência eterna está, portanto, condicionada à fé em Jesus Cristo,
e a aniquilação é a alternativa para os demais [22].

Historicamente, essas são opiniões do século passado. O século


dezenove foi uma era de audaciosos desafios a suposições antigas,
sonhos audaciosos de fazer as coisas melhores, e empreendimentos
audaciosos, tanto intelectuais como tecnológicos, para realizá-los. O
ensinamento cristão histórico sobre o inferno era posto em questão à
luz da convicção utilitariana e progressista de que a retribuição em
si, sem qualquer perspectiva de alguma coisa ou alguém ser
melhorado por ela, não é justificativa suficiente para a punição,
desconsiderando o castigo eterno. Partindo desse ponto de vista a
idéia de que o ato de Deus manter alguém em permanente tormento
após a morte era indigno dEle e, portanto, a posição tradicional
sobre o castigo eterno deve ser abandonada, devendo-se encontrar
outra maneira de explicar os textos que parecem ensiná-la.
Revisionistas da Bíblia desenvolveram duas maneiras de fazer isso,
ambas essencialmente especulativas, à maneira de Orígenes, que
usava a filosofia da época para estabelecer uma estrutura da forma
de interpretação dos textos e para preencher as lacunas nos seus
ensinamentos. O primeiro método era o universalismo, que diz que
todos os seres humanos estarão por fim no céu, e especula em como,
através de dolorosas experiências, os que morrem na incredulidade
conseguirão isso. A segunda maneira é o aniquilacionismo, o qual
afirma que os que estarão no céu serão por fim todos os humanos, e
especula sobre quando os incrédulos serão aniquilados. Os
argumentos utilizados pelos aniquilacionistas de hoje são
essencialmente os mesmos dos seus predecessores do século passado.

Duas advertências pastorais e teológicas devem preceder nossas


considerações a esses argumentos.

1) Opiniões sobre o inferno não devem ser discutidas fora das linhas
do Evangelho. Por quê? Porque é somente em conexão com o
Evangelho que Jesus e os autores do Novo Testamento falam do
inferno, e a maneira bíblica de lidar com temas bíblicos é levar-se
em consideração tanto as suas conexões bíblicas, quanto a sua
substância bíblica. Como diz Peter Toon:
“... a pregação e o ensino de Jesus com relação ao Geena, trevas e
condenação estavam relacionados com a Sua proclamação e
exposição do reino de Deus, salvação e vida eterna; eles nunca são
expostos como assuntos independentes para reflexão e estudo.
Renomados teólogos [23] têm muito enfatizado este último ponto. ...
o inferno é parte integrante do Evangelho e portanto não pode ser
deixado de fora ... . Advertir as pessoas para que evitem o inferno
significa que ele é uma realidade, ou pode vir a ser uma realidade.
Portanto, é inevitável que tentemos oferecer uma descrição do
inferno pelo menos em termos de poena damni (dor pela perda da
alegria) e possivelmente de poena sensus (dor dos sentidos, ou seja,
através dos sentidos) mas ... sempre reconhecemos que falamos
figuradamente”. [24]

A idéia cristã do inferno não é um conceito isolado de sofrimento


apenas por sofrimento (a divina “selvageria”, “sadismo”,
“crueldade” e “vingança” do qual os aniquilacionistas acusam os
crentes que declaram o inferno eterno) [25]; mas uma noção
biblicamente formada por três misérias equivalentes, que são: a
exclusão da presença e comunhão graciosa de Deus, em castigo e
com destruição sobre aqueles que, ao negarem as misericórdias de
Deus, já rejeitaram o Pai e o Filho nos seus corações. A justiça do
juízo final de Deus, o qual Jesus administrará, de acordo com o
Evangelho, está em duas coisas: primeiro, o fato de que o que as
pessoas recebem não é apenas o que elas merecem, mas o que elas
na verdade escolheram — isto é, existir para sempre sem Deus e
conseqüentemente sem nenhum dos bens que Ele concede; segundo,
o fato de que a sentença é proporcional ao conhecimento da Palavra,
obra e vontade de Deus, que foram desconsideradas (Cf. Lc. 12:42-
48; Rm1:18-20, 32, 2:4,12-15). De acordo com o Evangelho, o inferno
não é uma selvageria imoral, mas uma retribuição moral, e discussões
sobre a sua extensão para os seus habitantes devem ocorrer dentro
desse quadro.

2) Opiniões sobre o inferno não deveriam ser determinadas por


considerações do bem-estar. Diz John Wenham: “Acautelai-vos da
imensa atração natural por qualquer saída que os livre da idéia de
pecado e sofrimento sem fim. A tentação de torcer o que deveriam
ser declarações completamente rígidas das Escrituras é intensa. É a
situação ideal para uma racionalização inconsciente” [26].

Diz John Stott:

“Eu acho o conceito de tormento consciente eterno emocionalmente


intolerável e não compreendo como as pessoas conseguem conviver
com isso sem cauterizar seus sentimentos ou esfacelá-los com a
tensão. Mas as nossas emoções são um guia instável, não confiável
para nos conduzir à verdade e não devem ser exaltadas ao lugar de
suprema autoridade em determiná-la ... minha pergunta deve ser —
e é — não o que me diz o meu coração, mas, o que diz a Palavra de
Deus?” [27].

Ambos adotaram o aniquilacionismo, no que estão errados, mas eles


o admitem por uma justa razão — não porque é uma idéia que se
ajustou confortavelmente às suas convicções, apesar de tê-lo feito,
mas porque eles pensaram tê-lo encontrado na Bíblia. Qualquer que
seja nossa posição sobre a questão, nós também devemos ser guiados
pelas Escrituras e nada mais.

1) O primeiro argumento é a necessidade de explicar “castigo


eterno” de Mateus 25:46, que está diretamente relacionado com
“vida eterna”, sem que traga necessariamente a implicação de
eternidade. Admitindo-se que, como é corretamente defendido,
“eterno” (aionios) no Novo Testamento significa “que pertence à era
porvir” em vez de expressar qualquer noção diretamente
cronológica, os escritores do Novo Testamento são unânimes em
concluir que o tempo porvir será eterno. Então o problema dos
aniquilacionistas permanece no mesmo lugar que estava. A afirmação
de que, na era por vir, a vida é alguma coisa contínua, enquanto que
o castigo é algo com um final, torna a questão evasiva. Basil
Atkinson, “um excêntrico bacharel acadêmico”, de acordo com
Wenham [28], mas um filologista profissional, e mentor de Wenham e
Stott nessa matéria, escreveu:

“Quando o adjetivo aionios significando “eterno” é usado no grego


juntamente com substantivos de ação, ele se refere ao resultado da
ação, não ao processo. Assim a expressão “castigo eterno” é
comparável a “redenção eterna” e a “salvação eterna”, todas
expressões bíblicas ... os que se perdem não passarão eternamente
por um processo de castigo mas serão punidos uma vez por todas com
resultados eternos”. [29]

Embora essa declaração seja constantemente feita por


aniquilacionistas, que de outra maneira não poderiam erigir sua
posição, ela carece de apoio gramatical e em qualquer caso torna a
questão evasiva quando assume que o castigo é um evento
momentâneo ao invés de contínuo. Embora, porventura, não seja
absolutamente impossível, o raciocínio parece artificial, evasivo, e,
em uma avaliação final, desamparado.

2) O segundo argumento é que, uma vez que a idéia de imortalidade


intrínseca da alma (isto é, do indivíduo consciente) deixa de ser
considerada como uma intromissão platônica na exegese do segundo
século, parecerá que o único significado natural de morte,
destruição, fogo e trevas no Novo Testamento como indicadores do
destino dos ímpios é de que tais pessoas deixam de existir. Mas tal
afirmação quando submetida à prova mostra estar errada. Para os
evangélicos, a analogia das Escrituras, isto é, o axioma da sua
coerência e consistência intrínsecas e sua capacidade de elucidar ela
mesma os seus ensinos, é uma regra para toda interpretação, e,
embora haja textos que, tomando-os isoladamente, podem conter
implicações aniquilacionistas, há outros que de forma alguma podem
se encaixar nesse esquema. Mas nenhuma teoria que se propõe a
explicar o significado da Bíblia e não abrange todas as Suas principais
declarações pode ser verdadeira.

Judas 6 e Mateus 8:12; 22:13, 25:30 mostram que as trevas significam


um estado de privação e aflição, mas não de destruição no sentido de
deixar de existir. Somente aqueles que existem podem chorar e
ranger seus dentes, como é dito dos que serão lançados nas trevas.

Em nenhuma parte a morte significa extinção; morte física é a


partida para outra forma de existência chamada sheol ou hades, e
morte metafórica é uma existência sem Deus e Sua graça; nada na
terminologia bíblica garante a idéia, encontrada em Guillebaud [30]
e outros, de que “a segunda morte” de Apocalipse 21:11, 20:14, 21:8
significa ou refere-se à extinção da existência.

Lucas 16:22-24 nos mostra, como também uma grande quantidade de


linguagem apocalíptica extra-bíblica, que fogo significa uma
existência continuamente em tormento, e as arrepiantes palavras de
Apocalipse 14:10, 19:20, 20:10 e de Mateus 13:42,50 confirmam isso.

Em 2 Tessalonicenses 1:9 Paulo explica, ou amplia, o significado de


“sofrerão penalidade de eterna (aionios) destruição” adicionando
“banidos da face do Senhor” — expressão que, por denotar exclusão,
joga por terra a idéia de que “destruição” significa extinção.
Somente aqueles que existem podem ser excluídos. Tem sido
freqüentemente demonstrado que no grego o significado natural das
palavras relacionadas a destruição (substantivo, olethros; verbo,
apollumi) é arruinar, de forma que o foi destruído fica, a partir de
então, inutilizado, ao invés de propriamente aniquilado, de maneira
que passa a não mais existir de forma alguma.

Os aniquilacionistas se defendem com especial argumentação. Às


vezes, eles argumentam que tais textos que falam de um tormento
contínuo fazem referência somente a uma experiência temporária
para os que se perdem antes de deixarem de existir, mas isso é
tornar a questão evasiva através de uma exegese especulativa e
renunciar a sua declaração original de que o Novo Testamento,
quando fala de perdição eterna, sugere naturalmente a extinção.
Peterson cita John Stott, no que ele chama de “o melhor argumento
aniquilacionista” [31]. O trecho a seguir faz comentários às palavras
“A fumaça do seu tormento sobe pelos séculos dos séculos” de
Apocalipse 14:11.

O próprio fogo é chamado “eterno” e “inextinguível”, mas seria


muito estranho se o que fosse ali atirado provasse ser indestrutível. A
nossa expectativa deveria ser o oposto: o que for ali atirado deve ser
consumido eternamente, não atormentado eternamente. Por isso
existe a fumaça (evidência de que o fogo fez o seu trabalho) que
“sobe pelos séculos dos séculos”.

“Pelo contrário”, contra-argumenta Peterson, “nossa expectativa


seria de que a fumaça se extinguiria uma vez que o fogo já tivesse
terminado o seu serviço ...”. O restante do verso confirma nossa
interpretação: “e não têm descanso algum, nem de dia nem de noite,
os adoradores da besta e da sua imagem” [32]. Para isso parece não
haver resposta.

Portanto, o argumento lingüístico fracassa em todos os seus pontos.


Dizer que alguns textos, tomados isoladamente, poderiam significar a
aniquilação, não prova absolutamente nada quando outros
evidentemente não o fazem.

3) O terceiro argumento é o de que o fato de Deus aplicar


eternamente um castigo aos perdidos seria algo injusto e
desproporcional. Stott escreve: “eu questiono se o 'tormento eterno
e consciente' é compatível com a revelação bíblica de justiça divina,
a menos que talvez (como tem sido argumentado) a impenitência dos
ímpios também perdure ao longo da eternidade” [33]. A incerteza
expressa pelo “talvez” de Stott é estranha, por isso não há nenhuma
razão para se pensar que a ressurreição dos ímpios mudará o seu
caráter, e sim toda a razão para se supor que a sua rebeldia e
impenitência continuarão enquanto eles existirem, tornando o eterno
exílio da comunhão de Deus plenamente apropriado; mas, deixando
isso a parte, é evidente que o argumento, se fosse válido, provaria
coisas demais e terminaria solapando a própria causa
aniquilacionista.

Mas se, como sugere o argumento, é desnecessariamente cruel para


Deus manter os que se perdem existindo para serem atormentados,
porque a Sua justiça no caso não requer isso, como os
aniquilacionistas podem justificar, em termos da justiça de Deus, o
fato dEle os fazer passar por qualquer tipo de tormento após a
morte. Por que a justiça, que desse ponto de vista requer a
aniquilação de qualquer forma, não se satisfaz com uma aniquilação
no momento da morte? Os aniquilacionistas bíblicos, que não podem
escapar da expectativa bíblica da ressurreição final de crentes e
incrédulos para o julgamento, também admitem que haverá alguma
dor imposta após o julgamento e antes da extinção; mas se a justiça
de Deus não requer nada além da aniquilação, e portanto não requer
essa dor, ela se torna uma crueldade desnecessária, sendo Deus
assim, conseqüentemente, acusado de cometer a mesma falta da
qual os aniquilacionistas ansiosamente querem provar que Ele é
inocente e também condenam a corrente principal do pensamento
cristão por sua inferência. Enquanto que, se a justiça de Deus
realmente não requer nenhuma punição em adição à aniquilação, e a
contínua hostilidade, rebeldia e impenitência dos ímpios para com
Deus permanece uma realidade após suas mortes, não haverá
momento algum em que seja possível tanto para Deus como para o
homem dizer que castigo suficiente já foi aplicado, que já não
merecem mais do que já receberam, e qualquer punição a mais além
disso seria injusta. Dessa forma o argumento retorna aos seus
proponentes como um bumerangue, impelindo-os de volta e
deixando-os sem poder escapar das garras do seu dilema. Basil
Atkinson foi mais sábio e declarou: “eu tenho evitado ... qualquer
argumento sobre o estado final dos ímpios baseado no caráter de
Deus, o que eu consideraria uma irreverência tentar avaliá-lo” [34].
Sem dúvida ele anteviu as dificuldades a que tal argumento conduz.

4) O quarto argumento é o de que a alegria dos santos no céu seria


arruinada pelo fato de saberem que alguns continuam debaixo de
merecida punição. Mas não se pode dizer isso de Deus, como se a
manifestação da Sua santidade na punição doesse mais a Ele do que
aos ofensores; e desde que no céu os cristãos serão semelhantes a
Deus, amando o que Ele ama e se regozijando em toda manifestação
Sua, incluindo a manifestação da Sua justiça (na qual os santos, pelas
Escrituras, na verdade já se alegram neste mundo), não há razão
para imaginar que a sua alegria eterna será prejudicada dessa forma
[35].

É desagradável contestar honrados colegas evangélicos através de


uma matéria impressa, alguns dos quais são bons amigos e outros (eu
falo particularmente de Atkinson, Wenham e Hughes) agora já se
encontram com Cristo. Portanto, paro por aqui. Meu propósito era
apenas reconsiderar o debate e avaliar a força dos argumentos
utilizados, e isso eu fiz. Eu não estou certo se concordo com Peter
Toon quando diz que “discussão sobre se o inferno significa castigo
eterno ou aniquilação após o juízo ... é tanto perda de tempo como
uma tentativa de saber daquilo que não podemos saber” [36], mas eu
estou convencido de que ele está certo em dizer que o inferno “faz
parte do Evangelho” e que “advertir as pessoas para que evitem o
inferno significa que ele é uma realidade” [37]. Todo aquele que se
decide por advertir as pessoas para que evitem o inferno pode andar
em comunhão no seu ministério e legitimamente reivindicar ser um
evangélico. Quando John Stott argumenta que “a aniquilação final do
ímpio deveria ser aceita como uma alternativa legítima e
biblicamente fundamentada para o eterno e consciente tormento”
[38], ele pede demais, pois os fundamentos bíblicos dessa posição,
quando examinados, provam, como vimos, que são inadequados.
Seria errado porém, se essas diferenças de opinião quanto ao assunto
levassem ao rompimento da comunhão. Entretanto seria uma boa
coisa se elas fossem resolvidas.

Notas:

[1] - No Place for Truth (Nenhum Lugar para Verdade - Grand Rapids:
Eerdmans, 1993) de David Wells e Mark Noll, The Scandal of the
Evangelical Mind (O Escândalo da Mente Evangélica - Grand Rapids:
Eerdmans, 1994), contam só parte da história. Admitindo-se que a
teologia evangélica em algumas partes e sobre alguns aspectos tem
sido deformada e fragmentada, a energia que atualmente vem sendo
dedicada para recuperá-la aqui, é notável.

[2] - Detalhes podem ser recolhidos de LeRoy Edwin Froom, The


Conditionalist Faith of Our Fathers (A Fé Condicional de Nossos Pais -
Washington, D. C.: Review and Herald, 2 vols., 1965-66), e de David
J. Powys, “The Nineteenth and Twentieth Century Debates about
Hell and Universalism”, (O Debate sobre Inferno e Universalismo no
Século 19 e 20 - Uníversalism, Paternoster Press, e Grand Rapids:
Baker, 1992), 93138.

[3] - Eu declarei isto em “The Problem of Eternal Punishment” (O


Problema do Castigo Eterno - Crux XXVI.3 - 23/09/90. John Wenham
desafiou fundamentado em que os evangélicos falaram muito sobre o
assunto na segunda metade do século 19, que ele chamou “o auge do
condicionalismo entre evangélicos” (Universalism. ., 181 e nota 27).
Mas conversação e convicção não são a mesma coisa. A evidência
para minha afirmação encontra-se no fato de que três dos “quatro
melhores livros que defendem o aniquilacionismo” segundo Robert A.
Peterson, (Hell on Trial - Inferno em Julgamento - Phillipsburg:
Presbyterian & Reformed Publishing, 1995, 161-62); The Righteous
Judge, de Harold E. Guillebaud (O Justo Juiz - publicação
independente, 1964); Basil F. C. Atkinson, Life and lmmortality (Vida
e Imortalidade - publicação independente, n.d.c. 1968; e Edward
William Fudge, The Fire That Consumes (O Fogo Que Consome), não
foram publicados por nenhuma publicadora evangélica influente.

[4] - Christianity Today (Cristianismo Hoje), 20 de março de 1987,


40-41. Pinnock ampliou sua linha de pensamento em “The
Destruction of the Finally Impenitent” (A Destruição do Impenitente
a Final - Criswell Theological Review 4 (Primavera 1990), 243-59.

[5] - Houston: Providential Press, (Imprensa providencial), 1982. O


livro de Fudge foi notado e respondido de forma breve por Robert
UM. Morey, Death and the Afterlife (Morte e a Vida após a morte -
Minneapolis: Bethany House, 1984), 124ff., 205. Uma edição revisada
e reduzida, com as respostas de Fudge aos críticos, apareceu em
1994 (Carlisle, Reino Unido,: Paternoster Press).

[6] - David L. Edwards e John Stott, Essenhals (Londres: Hodder &


Stoughton, 1988), 313-20.

[7] - Grand Rapids: Eerdmans, e Leicester, Reino Unido,: Inter-Varsity


Press, 1989, 398-407.

[8] - Kenneth Kantzer e Carl F. H. o Henry, eds., Evangelical


Essentials (Grand Rapids: Zondervan, 1990), 107-36.

[9] - A linha de pensamento foi desenvolvida no artigo de Crux (Ponto


Crucial), nota 3.

[10] - Christianity Today (Cristianismo Hoje), 16 de junho de 1989,


60,; 63.
[11] - Ligonier, Pennsylvania,: Soli Deo Gloria Publications (Soli Deo
Gloria Publicações), 1990.

[12] - Veja nota 2.

[13] - Eastbourne, Reino Unido,: Kingsway, 1991.

[14] - Bridgend, Reino Unido,: Evangelical Press of Wales (Imprensa


Evangélica de Gales), 1991.

[15] - Wheaton: Bridgepoint Books (Victor Books), 1992.

[16] - Grand Rapids: Zondervan, 1992.

[17] - Londres: Hodder & Stoughton, 1992.

[18] - Darlington, Reino Unido,: Evangelical Press (Imprensa


Evangélica), 1993.

[19] - Lanham, Maryland,: United Press of América, 1995.

[20] - Veja nota 3.

[21] - Para uma consideração geral, veja David J. Powys, ""The


Nineteenth & Twentieth Century Debates about Hell and
Universalism," in Universalism. . ., (Debate sobre Inferno do Século
19 e 20 e Universalismo), em Universalism. . ., 93-129.

[22] - Além de seus expoentes evangélicos modernos, o


condicionalismo tem tido o apoio de uma grande parte do
protestantismo mundial durante os últimos 150 anos. Veja B. B.
Warfield, " Annihilationism" (Aniquilacionismo-Grand Rapids: Baker,
1981), ix., 447-57; Peter Toon, Heaven and Hell (Céu e Inferno -
Nashville: o Thomas Nelson, 1986), 17S81;artigos "Annihilationism"
(Aniquilacionismo) e Conditional Immortality" (Imortalidade
Condicional - Dicionário Evangélico de Teologia - Walter UM. Elwell,
ed. Grand Rapids: Baker,1984).

[23] - Ibid., 199.

[24] - Ibid., 200-201.

[25] - “Selvageria” é de Michael Green, Evangelism through the Local


Church (Evangelismo pela Igreja Local - Londres: Hodder &
Stoughton, 1990); “sadismo” é de J. W. Wenham, Universalism. . .
(Universalismo ...), 187; as outras duas palavras são de Clark
Pinnock, Criswell Theological Review 4 (1990), 246.

[26] - Wenham, The Enigma of Evil (O Enigma do Mal - Grand Rapids:


Zondervan, 1985), 37-38.

[27] - Stott, Essentials, 315-16.

[28] - Wenham, Universalism ... (Universalismo...), 162, note 3.

[29] - Atkinson, Life and lmmortality (Vida e Imortalidade), 101.

[30] - H. E. Guillebaud, The Righteous Judge (O Justo Juiz), 14.

[31] - Peterson, Hell on Trial (Inferno em Julgamento), 162. Wenham


descreve as páginas de Stott como um “tratamento leve”,
(Universalism. . ., 167). O julgamento de Peterson me parece mais
perspicaz.

[32] - Ibid., 168-69; Stott citando, Essentials, 316.

[33] - Ibid., 319.

[34] - Ibid., iv.

[35] - Estas sentenças são principalmente retiradas de Packer, art.


cit, 23. 36 Ibid., 201.

[37] - Ibid., 250.

[38] - Ibid., 320.39 Fonte: Revista Fides Reformata

Dr. James Packer, antigamente Professor de Teologia no Regent


College, Vancouver; desde 1979, Editor Senior da Chrishanity Today
e um professor muito ocupado. Ele disserta amplamente, escreve
extensivamente, e é o distinto autor de numerosos best-sellers. Ele
contribuiu para Reformation & Revival Journal.

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