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Este resumo descreve o documento "A Sociedade contra o Estado: pesquisas de antropologia política" de Pierre Clastres. O documento analisa as sociedades indígenas da América do Sul e argumenta que elas ativamente recusam o Estado através de estruturas que impedem a concentração de poder. Clastres critica conceitos ocidentais de evolução social e propõe uma abordagem antropológica descentralizada e relativista.
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Resenha Pierre Clastres
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Resenha a Sociedade Contra o Estado Pierre Clastres
Este resumo descreve o documento "A Sociedade contra o Estado: pesquisas de antropologia política" de Pierre Clastres. O documento analisa as sociedades indígenas da América do Sul e argumenta que elas ativamente recusam o Estado através de estruturas que impedem a concentração de poder. Clastres critica conceitos ocidentais de evolução social e propõe uma abordagem antropológica descentralizada e relativista.
Este resumo descreve o documento "A Sociedade contra o Estado: pesquisas de antropologia política" de Pierre Clastres. O documento analisa as sociedades indígenas da América do Sul e argumenta que elas ativamente recusam o Estado através de estruturas que impedem a concentração de poder. Clastres critica conceitos ocidentais de evolução social e propõe uma abordagem antropológica descentralizada e relativista.
CLASTRES, Pierre. A Sociedade contra o Estado: pesquisas de antropologia política. São
Paulo: Cosac & Naify, 2003. pp. 7-63 e 195-234.
Pierre Clastres, filósofo e etnólogo francês, apresenta em A Sociedade contra o Estado:
pesquisas de antropologia política, uma coletânea de onze textos que produziu entre 1962 e 1974, sendo os indígenas da América do Sul o cerne do estudo. Como o subtítulo da obra já denuncia, trata-se de um trabalho de antropologia política e, por sinal o primeiro grande trabalho com essa temática. Que veio a influenciar muitos pesquisadores posteriores. Dada sua formação filosófica, Pierre Clastres escreve seus textos a partir de uma metodologia dialética, fazendo questionamentos afirmativos e negativos, para depois refutá-los através de vários argumentos, somente após essas refutações apresentar seu ponto e vista. Clastres fora aluno de Claude Lévi-Strauss, no entanto, a maior parte de seu pensamento não concorda com as ideias de seu mestre. Entre seus principais influenciadores estão: Aristóteles e Étienne de La Boétie. O primeiro capítulo da obra, Copérnico e os selvagens, escrito em 1969, é uma análise do fazer antropológico. Debate a epistemologia da antropologia. Nele, Clastres traça uma crítica a obra do Sociólogo francês, Jean-William Lapierre que havia publicado um ano antes, uma análise sobre o poder político em diferentes sociedades primitivas, sobretudo africanas. Para Pierre, a antropologia política tornou-se uma especialização tardia da antropologia, sendo foco de estudo muito depois de outros temas como: parentesco (família), religião, economia e direito. Para ele, o maior problema da questão, em outros trabalhos, estava em não considerar a política separada do poder, mas em considerar a ambivalência do par comando-obediência (Estado-sociedade) como a única forma possível de manifestação da política. Outra crítica de Pierre vai no sentido de que os europeus ainda continuam a pensar de forma evolucionista, muito embora, agora de forma velada, o que é pior, segundo ele. Para ilustrar essa situação, ele expõe que, finalmente, o ocidental passou a aceitar os indivíduos dos outros povos como iguais aos europeus, mas, as sociedades – o grande indivíduo – ainda como inferiores. Ele cita que Lapierre, classificou as sociedades estudadas em cinco níveis, desde os indígenas sul-americanos – totalmente sem Estado –, passando pelos africanos e indígenas norte americanos, até chegar aos europeus – estágio máximo de desenvolvimento do Estado. Clastres critica duramente o conceito sociedade-indivíduo de Durkheim. Segundo ele, esse era o maior empecilho em se pensar outras formas de interação líder-liderados que não nos moldes ocidentais. Assim, ele frisa a necessidade de uma descentralização do ocidente como base da análise antropológica. Em suas palavras “é tempo de buscarmos outro sol e de nos pormos em movimento” (p. 41). Diante dessas constatações, Clastres convida os antropólogos a realizarem uma revolução copernicana no sentido de pensar e fazer a antropologia. Desde Franz Boas, passando por Malinowski, Radcliffe-Brown e Paul Bohannan, a pesquisa antropológica avançou bastante, mormente, no que diz respeito a alteridade, a essência da ciência antropológica, mas a análise ainda continuava a ser etnocêntrica. Com Clastres a antropologia ganhara mais uma porção de relativismo, agora, numa nova área, a política. O segundo capítulo da coletânea, Troca e poder: filosofia da chefia indígena, fora escrito em 1962, portanto, antes de Pierre ter ido a campo fazer suas observações antropológicas. É um texto de cunho fortemente filosófico e pouco etnográfico. Por isso, mesmo será alvo de muita crítica. Nesse tópico, baseando-se em trabalhos de outros pesquisadores ele apresenta as principais características de um “chefe”, expressão, segundo ele, inadequada, pois em muitas sociedades indígenas não há um correspondente na língua nativa que seja equivalente a chefe ou líder. Pierre enfatiza quatro características, sempre presentes nos líderes indígenas sul- americanos, a saber: a oratória, o esforço em manter a paz, a generosidade em suprir as necessidades do grupo e doar bens e a poligínia. Sobre a generosidade, pode-se notar que Clastres empresta o conceito de servidão voluntária de Étienne de La Boétie. A esse respeito escreveu ele: “traço característico da chefia indígenas, a generosidade, parece ser mais que um dever: uma servidão. (...) Avareza e poder não são compatíveis, para ser chefe é preciso ser generoso.” (pp. 48-49). Na verdade, explica ele, o “poder” da chefia indígena é resultado de uma troca, o grupo dá ao chefe mulheres, enquanto que na contrapartida esse tem de retribuir a comunidade com generosidade de bens, apaziguamento em iminência de guerras e com palavras de sabedoria e consolo manifestados através de uma boa oratória. Nessas comunidades, o líder é o que mais trabalha. Há insistentemente, por parte de toda a comunidade, uma recusa ao poder. Destarte, o chefe é um líder sem poder, sem autoridade coercitiva, é detentor de uma autoridade apenas moral. Se por um lado, a chefia não tem poder, por outro, ela tem prestígio. O capítulo 10, Da tortura nas sociedades primitivas, mostra que os rituais de iniciação são os únicos momentos em que se tolera a tortura nessas comunidades ameríndias, não com caráter coercitivo, punitivo, mas afirmativo e de passagem. Para ele, o corpo (a pele), onde se faz as pinturas, inscrições e ficam registradas as marcas das torturas realizadas durante os ritos de iniciação, carregam as leis primitivas. Desse modo, as cicatrizes têm a função social de memória, pois, “a lei, inscrita sobre os corpos, afirma a recusa da sociedade primitiva em correr o risco da divisão, o risco de um poder separado dela mesma, de um poder que lhes escaparia. A lei escrita sobre o corpo é uma lembrança inesquecível.” (pp. 203-204). Essa relação, rito-corpo-escrita-lei-memória carrega um forte apelo político, pois os corpos, marcados igualmente com o simbolismo da comunidade, mostram que todos são iguais e, portanto, é inconcebível que alguém ouse se colocar numa posição de superioridade e mandonismo sobre os demais membros do grupo. Para finalizar a obra, o capítulo 11, traz o texto que dá título a coletânea, A Sociedade conta o Estado. É importante salientar três vocábulos desse título, “sociedade”, “contra’ e “Estado”. Para Clastres, a maior dificuldade em se compreender que as sociedades nativas têm estruturação política, está na forma tal qual compreendemos o que seja a sociedade. Para ele, o conceito de Durkheim é um grande poluidor de nossas compreensões. Pois, para nós, é impossível pensar uma sociedade, sem dominados e dominantes, aí reside a diferença entre os povos primitivos e as sociedades ditas civilizadas. Já que, para Clastres, é justamente essa divisão dicotômica entre dominadores e dominados que institui e legitima o poder e, por conseguinte o Estado. Outros pressupostos que aceitamos como verdadeiros sobre esses povos, trata-se das máximas: “sem Estado”, “sem escrita”, “sem história”, “sem mercado”, logo, com economia apenas de subsistência, com inferioridade tecnológica. Destarte, pensamos estar diante de povos inferiores, desorganizados social, econômica e politicamente. Portanto, não esqueçamos que “a ausência do Estado nas chamadas sociedades primitivas não deriva, como se costuma imaginar, de seu baixo nível de desenvolvimento ou de sua suposta incompletude, mas de uma atitude ativa de recusa do Estado, enquanto poder coercitivo separado da sociedade”. (p. 9). Para Clastres, não se trata de uma sociedade sem estado, mas uma Sociedade contra o Estado. Contra, justamente, porque eles insistem em não aceitar diferenças no seio da comunidade, eles lutam contra o poder de diferenciação, que coloca uns “poucos com poder sobre muitos”, (p. 23). “... a recusa do poder político isolado é a recusa do Estado” (p. 232). “O que os selvagens nos mostram é o esforço permanente para impedir os chefes de serem chefes”, eles querem mostrar “... a história da sua luta contra o Estado.” (p. 234), “a sociedade primitiva nunca tolerará que seu chefe se transforme em déspota” (p. 224). Por isso mesmo, afirma Clastres “alguma coisa existe na ausência.” (p. 38).