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Introdução à Engenharia de

Segurança do Trabalho

Brasília-DF.
Elaboração

Paulo Celso dos Reis Gomes


Luiz Roberto Pires Domingues Junior

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

Apresentação.................................................................................................................................. 4

Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa..................................................................... 5

Introdução.................................................................................................................................... 7

Unidade I
EVOLUÇÃO DA SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO.............................................................................. 9

Capítulo 1
Como ocorreu a evolução histórica da Segurança e da Saúde no Trabalho?........ 9

Capítulo 2
Como evoluiu a Segurança e a Saúde do Trabalho no Brasil?.................................... 11

Capítulo 3
A regulamentação da Engenharia
de Segurança...................................................................................................................... 15

Unidade iI
SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO........................................................................................ 18

Capítulo 1
Os acidentes do trabalho................................................................................................. 21

Capítulo 2
Os riscos ambientais........................................................................................................... 27

Capítulo 3
Gestão dos riscos.............................................................................................................. 51

Para (não) Finalizar...................................................................................................................... 69

Referências................................................................................................................................... 70

Anexo............................................................................................................................................. 71
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

4
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para
aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

5
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
A segurança do trabalho está relacionada a um conjunto de normas e técnicas aplicáveis
em vários setores. Pode ser entendida como um conjunto de medidas adotadas para
proteger o trabalhador em sua integridade e capacidade de trabalho, evitar doenças
ocupacionais e minimizar acidentes de trabalho.

É definida por normas e leis. No Brasil, compõe-se de normas regulamentadoras, rurais,


leis complementares, como portarias e decretos e também as convenções internacionais
da Organização Internacional do Trabalho, ratificadas pelo Brasil.

Atualmente, conforme preconiza a Norma Regulamentadora 4 do MTE, compõem o


quadro de Segurança do Trabalho de uma empresa, variadas equipes com desempenho
multidisciplinar, cuja função, pode ser desempenhada por: técnicos de segurança do
trabalho, engenheiros de segurança do trabalho, médicos do trabalho e enfermeiros
do trabalho.

O conjunto de profissionais que formam o quadro é denominado Serviço Especializado


em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT). Para efetivar um
comprometimento eficaz na dinâmica de segurança de trabalho, os empregados da
empresa constituem a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), conforme
a Norma Regulamentadora 5 do MTE, cujo objetivo é prevenir acidentes e doenças
decorrentes do trabalho, para tornar compatível o trabalho com a preservação da vida
e a promoção da saúde do trabalhador, numa perspectiva permanente.

Antes de continuarmos com o estudo dos conceitos desta disciplina, convidamos


você a se situar no contexto histórico, para que possa identificar as consequências
do processo da Revolução Industrial em relação à melhoria das condições humanas
no trabalho, as medidas de prevenção de acidentes, o aumento da produtividade e da
qualidade dos produtos.

Objetivos
»» Apresentar aos alunos as normas e procedimentos do curso.

»» Analisar a evolução da engenharia de segurança, em seus aspectos


econômicos, políticos e sociais.

»» Conhecer a história do prevencionismo nas entidades públicas e privadas.

7
»» Compreender a inserção da engenharia de segurança no contexto capital
x trabalho e o papel e as responsabilidades do engenheiro de segurança.

»» Apreender a conceituação, a classificação, as causas e as consequências


dos acidentes do trabalho, como também os riscos inerentes às principais
atividades laborais.

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EVOLUÇÃO DA
SEGURANÇA E SAÚDE Unidade I
NO TRABALHO

Capítulo 1
Como ocorreu a evolução histórica da
Segurança e da Saúde no Trabalho?

Você deve pensar que, de modo geral, as coisas acompanham a evolução. Pois bem,
de fato, isso, na maioria das vezes, é verdadeiro. Uma tentativa de se adequar ao novo
comportamento, às atitudes, ao modo de pensar, vai com o tempo se ajustando e quando
se percebe as coisas mudaram.

Nesse contexto, é muito importante estudar a evolução histórica dos acontecimentos,


para que possamos identificar o processo de mudança e entender a dinâmica estabelecida.

Na história da segurança do trabalho, são encontrados indicativos muito antigos da


preocupação quanto à preservação da vida dos trabalhadores. Hipócrates (460-357 a.C.)
e Plínio, o Velho (23-79 d.C.), indicaram nos seus trabalhos a ocorrência de doenças
pulmonares em mineiros.

No ano de 1556, Georg Bauer publicou o livro “Re De Metallica”, em que estuda as
doenças e acidentes de trabalho relacionados à mineração e fundição de ouro e prata.
O autor discute, em especial, a inalação de poeiras causadoras da “asma dos mineiros”
que, pelos sintomas descritos, deve tratar-se de silicose. Em 1567, Aureolus Theophrastur
Bembastur von Hohenheim apresentou a primeira monografia relacionando trabalho
com doença. (NOGUEIRA, 1981)

Em 1700, na Itália, o médico Bernardino Ramazzini, considerado o “pai da Medicina do


Trabalho”, publicou o livro “De Morbis Artificium Diatriba”. A obra descreve com bastante
profundidade as doenças relacionadas a cerca de cinquenta profissões, tais como: mineiros,
químicos, oleiros, ferreiros, cloaqueiros, salineiros, joalheiros, pedreiros, entre outros.

A Revolução Industrial significou a mudança vertiginosa na história da humanidade,


quando os meios de produção, até então dispersos e baseados na cooperação individual,

9
UNIDADE I │ EVOLUÇÃO DA SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO

passaram a concentrar-se em grandes fábricas, ocasionando profundas transformações


sociais e econômicas.

As máquinas a vapor usavam carvão para seu acionamento, o que aumentou também o
número de minas de carvão nos diversos países. O trabalho em condições degradantes,
que era desempenhado pelos mineiros, contribuiu para criar na categoria uma consciência
das condições desumanas a que eles eram submetidos. Era comum a ocorrência de
incêndios, explosões, intoxicação por gases, inundações e desmoronamento, ocasião
em que muitos trabalhadores ficavam sepultados nas galerias. Também eram comuns
as doenças ocupacionais, tais como tuberculose, anemia e asma.

A improvisação das fábricas e a mão de obra constituída principalmente por crianças e


mulheres resultaram em problemas ocupacionais extremamente sérios. Os acidentes de
trabalho eram numerosos, provocados por máquinas sem qualquer proteção, movidas
por correias expostas, e as mortes, principalmente de crianças, eram muito frequentes.
(NOGUEIRA, 1981)

Como você pode ver, mesmo que aparentemente o processo de trabalho tenha sido
modificado, as condições de trabalho não eram as melhores. Não havia nenhuma
regulamentação quanto às condições do trabalho e do ambiente industrial, tampouco
em relação à duração da jornada de trabalho. Apesar da jornada excessiva de trabalho
não poder ser atribuída ao nascimento da grande indústria, pois já era verificada na
atividade artesanal, essa condição foi potencializada. A partir de 1792, com a invenção
do lampião a gás, houve uma tendência de aumento da jornada de trabalho, haja vista
a possibilidade de uso de iluminação artificial, ainda que precária.

Em função das más condições de trabalho, o parlamento inglês criou uma comissão
de inquérito que foi responsável pela criação, em 1802, da primeira lei de proteção aos
trabalhadores, a “Lei de Saúde e Moral dos Aprendizes”, que estabelecia o limite de 12
horas de trabalho diário, proibia o trabalho noturno, obrigava os empregadores a ventilar
as fábricas e lavar suas paredes duas vezes por ano. Essa lei, complementada em 1819,
não teve a eficiência esperada devido à oposição dos empregadores. (NOGUEIRA, 1981)

A partir do relatório elaborado pela comissão, foi instituída na Inglaterra, em 1833, a “Lei
das Fábricas” (FactoryAct), primeira lei realmente eficaz no campo da segurança e saúde
no trabalho. A lei, aplicada à indústria têxtil, proibia o trabalho noturno para os menores de
18 anos, restringindo sua carga horária para 12 horas diárias e 69 semanais. Para menores
entre 9 e 13 anos, a jornada de trabalho diária passou a ser de 9 horas. A idade mínima
para o trabalho era de 9 anos, sendo necessário um médico atestar que o desenvolvimento
físico da criança correspondia à sua idade cronológica. As fábricas precisavam ter, ainda,
escolas frequentadas por todos os trabalhadores menores de 13 anos.

10
Capítulo 2
Como evoluiu a Segurança e a Saúde
do Trabalho no Brasil?

No Brasil Colonial, os escravos trabalhavam até 18 horas por dia, estando os proprietários
no direito de aplicar castigos para garantir uma melhor produtividade e submissão ao
trabalho. As condições de trabalho eram degradantes, encontrando-se muitas situações
semelhantes às ocorridas na Inglaterra durante a Revolução Industrial, a partir de 1760.

O processo de industrialização no Brasil foi lento e demorado, a Revolução Industrial


ocorreu somente no final do século XIX, bem depois de ter ocorrido nos países da
Europa. Embora, diante de toda experiência que já existia na época sobre esse processo
de industrialização, os problemas por que passamos fossem os mesmos.

A Lei no 3.724 de 15/1/1919 firmou-se como a primeira lei sobre indenização por acidentes
de trabalho, sendo regulamentada pelo Decreto no 13.498, de 12/3/1919. Essa lei
limitava-se ao setor ferroviário e reconhecia somente os elementos que caracterizavam
diretamente o acidente de trabalho.

Somente no Governo de Vargas é que de fato a industrialização se efetivou. Ela se


caracterizou por profunda reestruturação da ordem jurídica trabalhista, estando,
muitas das propostas da época, em vigor até os dias atuais.

O Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio foi criado por meio do Decreto no 19.433,
de 26/11/1930. Em 1932, foram criadas as Inspetorias do Ministério do Trabalho, Indústria
e Comércio, transformadas, no ano de 1940, em Delegacias Regionais do Trabalho.

O Decreto no 24.367, de 10/7/1934, que substituiu a Lei no 3.724 de 1919, instituiu o


depósito obrigatório para garantia da indenização, simplificou o processo e aumentou
o valor da indenização em caso de morte do acidentado, entendendo a doença
profissional também como acidente de trabalho indenizável, em complementação
à legislação anterior. Com o Decreto foram incluídos os industriários, trabalhadores
agrícolas, comerciários e domésticos, sempre até determinado valor de remuneração.
Por outro lado, foram excluídas várias outras categorias, tendo em vista o valor de seus
vencimentos, tais como os autônomos, consultores técnicos, empregados em pequenos
estabelecimentos industriais e comerciais sob o regime familiar.

O adicional de insalubridade foi instituído a partir do Decreto-lei no 399, de 30/4/1938,


estabelecendo seu valor em 10, 20 e 40% do salário mínimo para graus de insalubridade

11
UNIDADE I │ EVOLUÇÃO DA SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO

mínimo, médio e máximo, respectivamente, conforme quadro de atividades elaboradas


posteriormente.

A Consolidação das Leis do Trabalho – CLT foi criada pelo Decreto no 5.452, de 1/5/1943,
e reuniu a legislação relacionada com a organização sindical, previdência social, justiça
e segurança do trabalho. A CLT, no seu Capitulo V – Da Segurança e da Medicina do
Trabalho, dispõe sobre diversos temas, tais como a Comissão Interna de Prevenção
de Acidentes (CIPA), máquinas e equipamentos, caldeiras, insalubridade, Medicina do
Trabalho, higiene industrial, entre outros. Essa legislação foi alterada em 1977 e serviu
como base para as atuais Normas Regulamentadoras.

Na década de 1950, o governo atendeu às pressões políticas dos empregados da Petrobras


e concedeu, por meio da Lei no 2.573, de 15/8/1955, o adicional de periculosidade
aos trabalhadores que prestassem serviço em contato permanente com inflamáveis,
correspondente a 30% do valor do salário (ROCHA; NUNES 1993). Por meio do Decreto
Legislativo no 24, de 29/5/1956, o Brasil ratificou a Convenção no 81, da Organização
Internacional do Trabalho que estabelece que seus membros devam manter sistema de
inspeção do trabalho.

O Decreto-lei no 229, de 28/2/1967, modificou a Capítulo V da Consolidação das Leis


do Trabalho em vários itens, destacando-se a exigência que as empresas mantivessem
“Serviços Especializados em Segurança e em Higiene do Trabalho”.

A Lei no 6.514, de 22/12/1977, alterou o Capítulo V, Título II da Consolidação das Leis


do Trabalho (CLT), relativo à Segurança e Medicina do Trabalho, legislação válida até os
dias atuais. Essa lei foi regulamentada pela Portaria no 3.214 de 8/6/1978, que significou
o grande salto qualitativo nas ações prevencionistas, estimulando uma atuação mais
eficaz por parte das empresas, sindicatos, Ministério do Trabalho, entre outros.

Em 1970, o Brasil foi campeão em acidentes de trabalho. No entanto, durante um


longo período, a aplicação das normas relativas à segurança do trabalho modificou
significativamente os números de acidentes ocorridos anualmente. Dados do INSS
informam que durante os anos de 1971 a 1997, com esforço comum de todos os segmentos
da nação brasileira, os acidentes de trabalho passaram do patamar de 17,61% ao ano
para 1,58% ao ano.

Desde a década de 1990, várias Normas Regulamentadoras têm sido revisadas,


atendendo a nova filosofia de necessidade de gestão da segurança e saúde ocupacional,
essa iniciativa foi iniciada, principalmente, com a NR 7 PCMSO (Programa de
Controle Médico e Saúde Ocupacional), NR 9 PPRA (Programa de Prevenção de
Riscos Ambientais), NR 18 (Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da

12
EVOLUÇÃO DA SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO │ UNIDADE I

Construção) e com o PCMAT (Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho


na Indústria da Construção).

A publicação de novas Normas Regulamentadoras pelo Ministério do Trabalho e


Emprego tem ocorrido no sentido de estabelecer procedimentos mínimos de segurança
e saúde do trabalho em setores específicos, após os resultados obtidos pela primeira NR
com essa característica, a NR 18, que criou o PCMAT para o setor da construção civil.
Nessa lógica, já temos normas específicas para:

»» o trabalho portuário;

»» o trabalho aquaviário;

»» trabalho na agricultura, pecuária, silvicultura, exploração florestal a


aquicultura;

»» trabalho em serviços de saúde;

»» trabalhos em espaços confinados;

»» trabalho na indústria da construção e reparação naval;

»» trabalho em altura;

»» trabalho em empresas de abate e processamento de carnes e derivados.

Na mesma linha, está em audiência pública a redação de uma NR para os trabalhos em


serviços de limpeza urbana.

Atualmente, vários setores estão envolvidos no processo de prevencionismo, ou seja, a


prevenção de acidentes de doenças do trabalho. Várias leis têm sido criadas no sentido
de zelar pela manutenção da saúde do trabalhador, almejando a melhoria das condições
de trabalho no Brasil.

Entre as maiores inovações no arcabouço legal, temos o NTEP e o eSocial. Pelo NTEP,
é realizado o cruzamento das informações de código da Classificação Internacional de
Doenças (CID-10) e do código da Classificação Nacional de Atividade Econômica (CNAE).
Ele já aponta se há uma relação entre a lesão ou agravo e a atividade desenvolvida pelo
trabalhador. Caso haja essa relação no NTEP, o trabalhador não fica mais com o ônus
de comprovar que a sua lesão foi provocada pela atividade laboral na empresa, cabe à
empresa provar que a lesão não foi provocada pela atividade laboral. A indicação de
NTEP está embasada em estudos científicos alinhados com os fundamentos da estatística
e epidemiologia. A partir dessa referência, a medicina pericial do INSS ganha mais uma
importante ferramenta-auxiliar em suas análises para conclusão sobre a natureza da
incapacidade ao trabalho apresentada, se de natureza previdenciária ou acidentária.

13
UNIDADE I │ EVOLUÇÃO DA SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO

O Decreto no 8373/2014 instituiu o Sistema de Escrituração Digital das Obrigações Fiscais,


Previdenciárias e Trabalhistas (eSocial). Por meio desse sistema, os empregadores devem
comunicar ao Governo, de forma unificada, as informações relativas aos trabalhadores,
como vínculos, contribuições previdenciárias, folha de pagamento, comunicações de
acidente de trabalho, aviso prévio, escriturações fiscais e informações sobre o FGTS.

A transmissão eletrônica desses dados tem o potencial de simplificar a prestação das


informações referentes às obrigações fiscais, previdenciárias e trabalhistas, de forma a
reduzir a burocracia para as empresas. A prestação das informações ao eSocial substitui
o preenchimento e a entrega de formulários e declarações separados a cada ente.

A implantação do eSocial tem como objetivos principais:

»» viabilizar garantia aos diretos previdenciários e trabalhistas;

»» racionalizar e simplificar o cumprimento de obrigações;

»» eliminar a redundância nas informações prestadas pelas pessoas físicas


e jurídicas;

»» aprimorar a qualidade das informações das relações de trabalho,


previdenciárias e tributárias.

A legislação prevê ainda tratamento diferenciado às micro e pequenas empresas.

Acesse e entenda o potencial dessa ferramenta em: <https://portal.esocial.gov.br/>;


<http://www.previdencia.gov.br/perguntas-frequentes/previdencia-social/
esocial/>.

14
Capítulo 3
A regulamentação da Engenharia
de Segurança

Vimos anteriormente que o processo de industrialização brasileiro foi lento, entretanto,


a organização dos segmentos sociais que estavam direta e indiretamente envolvidos
no processo de prevencionismo conseguiu se sensibilizar para a necessidade da
regulamentação da Engenharia de Segurança como profissionalização. Alguns decretos
e leis foram importantes.

Destaca-se, inicialmente, o Decreto no 70.861, de 25/7/1972, regulamentado pela


Portaria no 3.236, de 27/7/1972. Essa legislação instituiu o Plano Nacional de Valorização
do Trabalhador, que foi responsável pela criação dos primeiros cursos de formação de
profissionais de segurança.

A necessidade de formação emergencial de profissionais de segurança do trabalho foi


reforçada pela Portaria no 3.237, de 27/7/1972, que criou a obrigatoriedade por parte
das empresas de manter Serviços Especializados em Segurança, Higiene e Medicina
do Trabalho.

Essa Portaria definia como integrante dos Serviços Especializados os engenheiros de


segurança do trabalho, da seguinte forma: “São considerados engenheiros de segurança
do trabalho, para fins desta Portaria, aqueles que, possuidores de título de formação de
engenheiros, comprovem uma das seguintes condições:

I – Conclusão de curso de especialização em Engenharia de Segurança


do Trabalho ou Higiene Industrial, ministrado por Universidade ou
instituição especializada, reconhecidas e autorizadas, com currículos
aprovados pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social – MTPS,
através do DNSHT.

A partir de 1973, a proliferação de cursos para capacitação de profissionais de segurança


e saúde foi significativa. Apesar da quantidade significativa de profissionais capacitados,
não havia o reconhecimento necessário à Segurança e Saúde do Trabalhador (SST). No
caso dos engenheiros, o próprio sistema CONFEA/CREA não reconhecia a profissão,
negando-se, inclusive, a anotar na carteira do profissional que havia realizado a
capacitação em SST. (FARO, 1982)

O anseio dos profissionais somente tornou-se realidade por meio da Lei no 7.410, de
27/11/1985 e o Decreto no 95.530, de 9/4/1986. Essa legislação permitiu o exercício da
15
UNIDADE I │ EVOLUÇÃO DA SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO

profissão de engenheiro de segurança do trabalho, somente para aqueles portadores de


curso de especialização em nível de pós-graduação.

O Conselho Federal de Educação fixou o currículo básico obrigatório das disciplinas


e cargas horárias por meio do Parecer no 19, de 21/1/1987. O Conselho Federal de
Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CONFEA), editou somente em 1991 a Resolução
no 359, que dispõe sobre o exercício profissional do Engenheiro de Segurança do
Trabalho. A Resolução estabelece, também, as atribuições do profissional.

Recentemente, a Resolução no 1.073, de 19 de abril de 2016, regulamentou a atribuição


de títulos, atividades, competências e campos de atuação profissionais aos profissionais
registrados no Sistema Confea/Crea para efeito de fiscalização do exercício profissional
no âmbito da Engenharia e da Agronomia, incluídos aí os engenheiros de segurança do
trabalho.

O profissional de segurança do trabalho atua conforme sua formação, quer seja médico,
técnico, enfermeiro ou engenheiro. O campo de atuação é vasto.

Em geral, o engenheiro e o técnico de segurança atuam em empresas organizando


programas de prevenção de acidentes, orientando a CIPA e os trabalhadores quanto
ao uso de equipamentos de proteção individual; elaborando planos de prevenção de
riscos ambientais; fazendo inspeção de segurança, laudos técnicos e ainda organizando
e dando palestras e treinamento.

Os sistemas de gestão se segurança e saúde do trabalho tendem a ser organizados com


ferramentas eficientes de gestão. Nesse sentido, recentemente foi publicada a nova
norma internacional para Sistemas de Gestão de Segurança e Saúde Ocupacional (SSO),
ISO/DIS 45001. Ela especifica os requisitos para estabelecer, implementar, manter
e melhorar continuamente um sistema de gestão da SSO para qualquer organização,
independentemente de tamanho, atividade ou localização.

Para se aprofundar nesse tema fundamental acesse <https://www.iso.org/files/


live/sites/isoorg/files/archive/pdf/en/iso_45001_briefing_note.pdf>.

Muitas vezes o profissional que faz a gestão de SSO também é responsável pela
implementação de programas de Gestão da Qualidade (tendo como base programas de
gestão preconizados pela NBR ISO 9001), Gestão Ambiental (analogamente à NBR ISO
14.001) e Gestão da Responsabilidade Social (NBR 16.001 e ISO 26.000).

São extremamente otimistas as perspectivas da expansão do campo de atuação para


profissionais que elaborem, implementem e se responsabilizem por Sistemas de Gestão
16
EVOLUÇÃO DA SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO │ UNIDADE I

de Segurança e Saúde do Trabalho de forma integrada com os demais sistemas de gestão


(qualidade, meio ambiente e responsabilidade social).

O médico e o enfermeiro do trabalho dedicam-se à parte de saúde ocupacional, prevenindo


doenças, fazendo consultas, tratando ferimentos, ministrando vacinas, fazendo exames
de admissão e periódicos nos empregados.

17
SEGURANÇA
DO TRABALHO – Unidade iI
INTRODUÇÃO
O trabalho é considerado, em algumas sociedades, como fonte de satisfação e de orgulho
para o ser humano. Podemos inferir que as doenças ocupacionais e os acidentes de
trabalho prejudicam todos os atores sociais envolvidos no processo: trabalhador,
empregador e governo.

O trabalhador é a principal vítima do acidente do trabalho ou da doença profissional.


Dependendo do tipo e da intensidade do acidente, o trabalhador, além dos danos
físicos, pode perder a profissão, sua autoestima e até sua vontade de viver. A questão
social também deve ser percebida, com a desestruturação familiar estabelecida a partir
da morte ou de acidente que deixe sequelas irreversíveis no trabalhador.

Para Sell (2002), as empresas que sujeitam seus trabalhadores a condições de trabalho
inadequadas, perdem em termos de qualidade, produtividade, competitividade e
imagem perante a sociedade. Trabalhadores em más condições de trabalho não
contribuem na melhoria de processos e produtos, reduzem sua disposição para
o trabalho, não têm comprometimento com a empresa por não se sentirem parte
do processo.

Cabe ressaltar que as empresas estão sujeitas à fiscalização de organismos do


governo, tais como Superintendências Regionais do Trabalho e Instituto Nacional da
Seguridade Social, bem como sujeitas a demandas na Justiça do Trabalho, em termos
de indenizações, ações cíveis e criminais. Essas ações públicas são fundamentais
pois, senão, será somente o poder público, por meio da Previdência Social, que
ficará responsável pelas despesas do tratamento médico-hospitalar, reabilitação
profissional e, se for o caso, do pagamento de indenizações previstas na legislação
previdenciária (LUCCA; FÁVERO, 1994). Segundo o INSS, as perdas por acidentes do
trabalho e doenças ocupacionais representam 2,2% do Produto Interno Bruto (PIB),
o que significa R$ 23,6 bilhões por ano.

Pesquise os dados de acidentes do trabalho no Brasil em: <http://www.


previdencia.gov.br/dados-abertos/aeat-2013/estatisticas-de-acidentes-
do-trabalho-2013/> ou Anuário Brasileiro de Proteção. Confira os dados
atualizados em <http://www.protecao.com.br/conteudo/anuario_brasileiro_
de_p_r_o_t_e_c_a_o/anuario_2017/J9jjJa_JayJJ9>.

18
SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO │ UNIDADE II

Há uma “cultura do fatalismo” introjetada em boa parte das empresas brasileiras, segundo
a qual, quando um acidente ocorre, foi devido a uma “fatalidade” de cunho imprevisível e
sem possibilidade real de ter sido evitado. Dependendo das crenças religiosas, essa questão
transcende e pode ser associada ao destino ou carma de cada indivíduo. Entretanto, ao se
analisar as causas dos acidentes do trabalho ocorridos em qualquer empresa, verifica-se,
facilmente, que a maioria poderia ter sido evitada com ações simples em três campos:

»» manutenção adequada das instalações e equipamentos;

»» treinamento e capacitação periódica dos empregados;

»» controle de acesso aos locais de risco.

A ação de corrigir ou melhorar as questões de risco de um ambiente de trabalho pode


ser definida como a busca pela “salubridade ambiental” daquele ambiente de trabalho.
Ou seja, as iniciativas da Engenharia de Segurança destinam-se ao reconhecimento,
avaliação, neutralização e controle dos riscos ambientais potenciais, originados ou
existentes no ambiente de trabalho, antes que possam causar doença, comprometimento
da saúde e do bem-estar da pessoa em seu trabalho ou são significantes para causar
desconforto entre os membros de uma comunidade de trabalho.

Como bem afirmou Souto (1999), está na hora de corrigirmos os nossos cacoetes
e titularmos acertadamente as ações integradas da Medicina do Trabalho e da
Engenharia de Segurança do Trabalho, inclusive com o propósito de evitar distorções
em sua aplicação: somos agentes que trabalham para a implantação e manutenção de
condições de salubridade ambiental nos ambientes de trabalho.

Principais conceitos prevencionistas

É melhor prevenir do que remediar!!!!!

Saúde

É a sensação de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a


ausência de doença ou enfermidade (OMS).

A saúde não cabe apenas ao médico, pois é um problema de todo contexto social.

A saúde é um direito do cidadão e um dever do Estado.

Saúde pública (Winslow)

É a ciência e a arte de prevenir a doença, prolongar a vida e promover saúde e


eficiência física e mental, por meio de esforços organizados da comunidade para o

19
UNIDADE II │ SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO

saneamento do meio, o controle das doenças infectocontagiosas, a educação do


indivíduo em princípios de higiene pessoal, a organização dos serviços médicos e
de enfermagem para o diagnóstico precoce e tratamento preventivo das doenças
e o desenvolvimento da maquinaria social, de modo a assegurar a cada indivíduo
da comunidade um padrão de vida adequado à manutenção da saúde.

Saúde ambiental (OMS, 1997)

Parte da Saúde Pública que se ocupa das formas de vida, das substâncias e das
condições em torno do homem que podem exercer alguma influência sobre sua
saúde e bem-estar.

Vigilância ambiental (OPAS, 1999)

Processo contínuo de coleta e análise de informações sobre saúde e ambiente,


com o intuito de orientar a execução de ações de controle de fatores ambientais
que ajudem na prevenção de doenças.

Salubridade ambiental

Estado de higidez (saúde) com capacidade de:

»» inibir, prevenir ou impedir a ocorrência de endemias ou epidemias


veiculadas pelo meio ambiente;

»» promover condições favoráveis ao pleno gozo de saúde e bem-estar


da população.

Saneamento ambiental

Conjunto das ações socioeconômicas com objetivo de alcançar níveis crescentes


de salubridade ambiental, por meio de:

»» abastecimento de água potável;

»» coleta, tratamento e disposição adequada de resíduos sólidos, líquidos


e gasosos;

»» prevenção e controle do excesso de ruído;

»» disciplina sanitária do uso e ocupação do solo;

»» drenagem urbana;

»» controle de vetores de doenças transmissíveis.

20
Capítulo 1
Os acidentes do trabalho

A definição de acidente do trabalho adotada pela esfera legal no Brasil afirma que é
“aquele que pode ocorrer pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, provocando
lesão corporal, perturbação funcional ou doença que cause morte, ou a perda, ou a
redução permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho”. Essa definição
não é interessante para a prevenção de acidentes e doenças do trabalho porque cria
uma “dependência” de ocorrer um dano direto ao trabalhador, ou seja, só é considerado
acidente do trabalho aquele que tem uma vítima com lesões.

Nesse texto, portanto, adotaremos a definição de acidente do trabalho usualmente utilizada


pelos profissionais da área prevencionista, que é “toda ocorrência, inesperada ou não, que
interfere no andamento normal do trabalho e da qual resulta lesão no trabalhador e/ou
perda de tempo e/ou danos materiais, ou os três simultaneamente”. Adotando essa postura,
estaremos analisando todo o espectro de causas de possíveis acidentes em uma empresa
segundo o estudo de Bird (1998), com o foco em sua prevenção, ou seja:

»» os acidentes que tiverem vítimas (lesões sérias ou leves),

»» acidentes que só gerem danos à propriedade, e

»» incidentes, ou quase acidentes, que não gerem lesões nem danos, mas
apenas perda de tempo (ou “sustos”).

Figura 1. Pirâmide da segurança.

Fonte: Bird, 1985.

21
UNIDADE II │ SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO

Os acidentes de trabalho também podem ser classificados como típico ou de trajeto.


O acidente típico ocorre com o colaborador durante o exercício de suas atividades
laborais, dentro ou fora, interno ou externo ao ambiente de trabalho. Pode ocorrer
durante uma viagem a serviço da empresa. O acidente de trajeto ocorre durante
o trânsito do colaborador entre a casa-trabalho e trabalho-casa. O desvio do trajeto
habitual descaracteriza o acidente de trabalho de trajeto.

Todo acidente do trabalho ou doença profissional deverá ser comunicado!

Vale ressaltar que é obrigatória a emissão da Comunicação de Acidente do Trabalho


(CAT) relativa ao acidente ou doença profissional ocorrido com todo colaborador.
A Lei no 8.213/1991 determina, no seu artigo 22, que todo acidente do trabalho ou
doença profissional deverá ser comunicado pela empresa ao INSS, sob pena de multa
em caso de omissão. A obrigatoriedade de emissão da CAT configura esforço do MTE
em gerar estatísticas confiáveis que possam ser utilizadas no planejamento das ações
do Ministério.

A avaliação de poucos fatores na caracterização das causas dos acidentes e doenças


ocupacionais dificulta o entendimento de seus verdadeiros fatores determinantes.
Para Garrigou (1999), o “gerenciamento individual” da segurança, associado a outros
mecanismos, dificulta a compreensão do mecanismo do acidente e dificulta a implantação
de ações de prevenção.

Uma questão fundamental é quanto à definição da culpa nos acidentes de trabalho,


que normalmente recai sobre o trabalhador, acusando-o de cometer o famigerado
“ato inseguro”. Essa atitude de colocar a culpa do acidente no trabalhador ainda está
profundamente fixada na nossa cultura organizacional. Assunção e Lima (2003)
identificam a atribuição de culpa ao trabalhador como forma mais usual de interpretação
dos acidentes e doenças ocupacionais.

Apesar da expressão “ato inseguro” e toda a sua filosofia de direcionamento da culpa


do acidente de trabalho para a própria vítima (o trabalhador) ter sido constantemente
repudiada por inúmeros profissionais e entidades, principalmente a Fundacentro,
pode-se perceber que ela ainda se faz presente no cotidiano das empresas. A própria
legislação ainda utiliza o termo, como a Norma Regulamentadora número 1, no item 1.7:

1.7. Cabe ao empregador:

[...]

22
SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO │ UNIDADE II

b) elaborar ordens de serviço sobre segurança e medicina do trabalho,


dando ciência aos empregados, com os seguintes objetivos:

I – prevenir atos inseguros no desempenho do trabalho;

Essa abordagem simplificada que imputa a culpa à própria vítima traz como
consequência uma avaliação superficial das questões de segurança e saúde. É usual
os empresários justificarem o treinamento realizado para seus empregados com o
argumento de que o propósito é conscientizar o trabalhador para o cumprimento
das normas de segurança, ou seja, treiná-los para que não cometam atos inseguros
(OLIVEIRA, 1999).

Segundo Garcia (2001), esse enfoque pode ser considerado como maniqueísta, pois
reduz uma questão complexa, que envolve a exposição a diversos riscos, a uma
dicotomia: o problema é o “uso inadequado” e a solução é a “conscientização”, no caso
entendida como “treinamentos”. Ao caracterizar a questão da exposição aos riscos e
suas consequências como basicamente um “problema de educação”, reduzindo-a à não
observação dos “cuidados” recomendados, o que é realmente efetivado é a transferência
ao trabalhador, de praticamente toda a responsabilidade pelas consequências ocorridas
no âmbito de suas tarefas.

A resolução dos problemas de segurança por meio da “prescrição de comportamentos


e de procedimentos seguros” (ASSUNÇÃO; LIMA, 2003) é comum nas empresas e
nos meios prevencionistas convencionais. A limitação da avaliação do ser humano
e do ambiente físico e organizacional que o cerca tem como consequência uma igual
limitação nas estratégias das ações de prevenção.

Uma última questão a ser discutida é a visão legalista da segurança e da saúde do


trabalhador. Para Oliveira (1999) os programas de segurança e de saúde do trabalhador,
na maioria das empresas, são concebidos e orientados normalmente para o atendimento
à legislação que dispõe sobre a matéria. Assunção e Lima (2003) reforçam a questão
da idolatria legal, alertando que as exigências das leis, muitas vezes, tornam-se “meros
rituais”, e o cumprimento do estabelecido na legislação é colocado num patamar mais
importante que a própria prática prevencionista.

Podemos definir como causas dos acidentes do trabalho “qualquer fator que, se fosse
removido a tempo, teria evitado o acidente”. O ambiente de trabalho, portanto, contém
condições inadequadas para o exercício das tarefas pelos trabalhadores e, em algumas
situações, essas condições concorrem simultaneamente para a ocorrência do acidente.

Há diversas definições para as “condições inseguras” existentes em um ambiente


de trabalho:

23
UNIDADE II │ SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO

»» as falhas físicas de um local de trabalho que comprometem a segurança


do trabalhador, das instalações e/ou dos equipamentos e

»» as irregularidades ou deficiências existentes no ambiente de trabalho que


constituem riscos para a integridade física do trabalhador e para a sua
saúde, bem como para os bens materiais da empresa.

Os riscos de acidentes têm uma abrangência diversificada das situações inseguras dos
locais de trabalho. Podemos subdividir as condições inadequadas dos ambientes de
trabalho em quatro categorias:

1. o local de trabalho é inseguro;

2. o material a ser utilizado na tarefa é inseguro;

3. o equipamento ou ferramenta a ser utilizado na tarefa é inseguro;

4. as medidas administrativas que coordenam a atividade são inseguras.

Um local pode ser inseguro devido à existência de fontes de riscos no ambiente de


trabalho, que geram exposição dos trabalhadores a:

»» iluminação deficiente,

»» ventilação deficiente,

»» pisos escorregadios,

»» escadas sem corrimão,

»» arranjo físico inadequado,

»» espaço insuficiente,

»» ruído excessivo,

»» vibrações excessivas,

»» umidade excessiva etc.

O material que será utilizado na atividade pode conter, intrínsecos, diversos graus de
risco, como:

»» ser inflamável,

»» explosivo,

»» tóxico,

24
SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO │ UNIDADE II

»» corrosivo,

»» defeituoso,

»» radioativo,

»» com superfícies em temperaturas extremas etc.

Os equipamentos e as ferramentas que serão utilizados na atividade laboral também


podem conter diversos graus de risco, como:

»» equipamento inadequado,

»» com defeito,

»» sem proteção,

»» com proteção insuficiente,

»» falta de equipamento de proteção individual (EPI),

»» uso de EPI inadequado,

»» uso de EPI defeituoso.

E, por último, as medidas administrativas que coordenam a execução das atividades


em uma empresa também podem gerar a exposição dos trabalhadores a diversos riscos,
devido a:

»» falta de treinamento para a formação técnica adequada dos empregados,

»» falta de manutenção adequada das instalações e equipamentos,

»» processos de trabalho mal estabelecidos,

»» atividades mal distribuídas,

»» excesso de horas extras,

»» processo de comunicação deficiente,

»» falta de acompanhamento da saúde dos empregados etc.

Nesse texto adotaremos a definição de que as condições inseguras se constituem em


fontes de riscos nos ambientes de trabalho, ou seja, riscos ambientais, os quais serão
detalhados no próximo capítulo. Para reforçar o conceito de que a responsabilidade de
um acidente não é exclusiva da vítima, vale verificar que não existem atos inseguros que
não tenham sido gerados por condições inseguras anteriores.

25
UNIDADE II │ SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO

Segundo os autores que ainda utilizam o conceito de ato inseguro como causa dos
acidentes, a definição para esses atos é: “a maneira pela qual o trabalhador se expõe,
consciente ou inconscientemente, a riscos de acidentes”. Esses autores afirmam que
ato inseguro é todo ato, consciente ou não, capaz de provocar dano ao trabalhador,
a seus companheiros ou a máquinas, materiais e equipamentos, estando diretamente
relacionado a falha humana.

Ao se analisar um acidente, antes de se imputar toda a responsabilidade ao trabalhador


devido a seu “descuido”, “distração”, “indisciplina”, “ignorância”, “cansaço”, “hábito”,
“preconceito”, “deficiência física” etc., deve-se verificar o que realmente ocasionou tal
ato e, dessa forma, chegaremos a um conjunto de medidas administrativas inseguras
que concorreram para a ocorrência do tal ato e do respectivo acidente.

Todo ato inseguro é ocasionado por um conjunto de condições inseguras!

Alguns conceitos ligados ao equivocado


conceito de “ato inseguro”
»» Imprudência: é a atuação intempestiva e irrefletida. Consiste em
praticar uma ação sem as necessárias precauções, isto é, agir com
precipitação, inconsideração ou inconstância.

»» Imperícia: é a falta de aptidão especial, habilidade, experiência ou de


previsão no exercício de determinada função, profissão, arte ou ofício.

»» Negligência: é a omissão voluntária de desinência ou cuidado, falta


ou demora no prevenir ou obstar um dano.

»» Culpa “in vigilando”: origina da inexistência de fiscalização por parte


do empregador sobre as atividades de seus empregados ou prepostos.

26
Capítulo 2
Os riscos ambientais

O que é risco?
Risco é qualquer variável que pode causar danos ou lesões graves ao trabalhador, inclusive
a morte.

O exercício da atividade laboral sob condições inseguras existentes no ambiente de


trabalho expõe o trabalhador a riscos que podem ser classificados em cinco categorias:

1. físicos,

2. químicos,

3. biológicos,

4. ergonômicos e

5. mecânicos (ou de acidentes).

Essa classificação é internacional e segue a simbologia dos riscos ambientais que são
empregadas no Mapa de Risco (NR-05 – CIPA):

»» Risco físico: cor verde.

»» Risco químico: cor vermelha.

»» Risco biológico: cor marrom.

»» Risco ergonômico: cor amarela.

»» Risco de acidentes: cor azul.

Para efeito da Norma Regulamentadora 9 (MTE), em seu item 9.1.5., consideram-se


riscos ambientais os agentes físicos, químicos e biológicos existentes nos ambientes
de trabalho que, em função de sua natureza, concentração ou intensidade e tempo de
exposição, são capazes de causar danos à saúde do trabalhador. Os riscos ergonômicos
são apresentados e discutidos na Norma Regulamentadora 17 (MTE). Os riscos
mecânicos, entretanto, estão diluídos em diferentes normas regulamentadoras, mas
pode-se visualizá-los com mais profundidade na Norma Regulamentadora 18 (MTE),
que trata da construção civil.

27
UNIDADE II │ SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO

Deve-se entender que a presença dos agentes físicos, químicos e biológicos no ambiente
pode oferecer riscos potenciais à saúde dos trabalhadores e gerar uma probabilidade de
que eles venham a contrair uma doença. Mas para que isso aconteça, devem concorrer
vários fatores:

»» o tempo de exposição do trabalhador;

»» a concentração ou intensidade dos agentes de risco no ambiente laboral;

»» as características do agente de risco;

»» a susceptibilidade individual.

Cada agente de risco tem, no mínimo, uma fonte geradora do risco associada. O espaço
existente entre a fonte do risco e o trabalhador é considerado a sua “trajetória”. Qualquer
medida planejada para controlar a exposição do trabalhador ao risco estará centrada
em, pelo menos, um destes três focos possíveis:

»» na fonte geradora,

»» na trajetória, ou

»» no trabalhador.

Conceitos ligados a riscos no trabalho


»» Segurança: “Situação que está livre de risco ou perigo”.

»» Perigo: “Estado ou situação que inspira cuidado e que pode produzir


danos”.

»» Risco: “Possibilidade ou probabilidade de um perigo”.

Lei de Murphy

<http://brasil.elpais.com/brasil/2015/06/19/ciencia/1434705663_423636.html>.

“Se algo errado tiver de acontecer, não se preocupe, acontecerá da pior maneira”

Lei dinâmica de Murphy

“Algo errado, sob pressão, tende a piorar”.

Todo o programa de segurança e prevenção somente será avaliado quando


algo falhar. Enquanto não acontecer nenhum acidente ou incidente, sempre
vai parecer que o programa de segurança está perfeito e custando mais do
que deveria.

28
SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO │ UNIDADE II

Riscos físicos

Agentes de riscos físicos são as diversas formas de energia a que possam estar expostos os
trabalhadores, tais como: ruído, vibrações, pressões anormais, temperaturas extremas
e radiações ionizantes.

Ruído (contínuo e de impacto)

É um fenômeno físico que indica uma mistura de sons, cujas frequências não seguem uma
lei precisa. Alguns utilizam como sinônimo de barulho, mas esse inclui componentes
subjetivos da percepção sonora. É o risco profissional com maior frequência de
reclamações nos ambientes laborais. Pode causar perda auditiva, permanente ou
temporária, e trauma acústico entre outros efeitos possíveis de alterações em quase
todos os órgãos do organismo humano.

O ruído de impacto é aquele que se caracteriza por ser de intensidade muito alta
com duração muito pequena, menor que um segundo, em intervalos maiores que um
segundo, como, por exemplo, uma martelada em superfície metálica e a operação de
um bate-estaca. Considera-se ruído contínuo todo outro tipo de ruído que não seja
de impacto.

Uma dica: se o ruído ambiente prejudica a conversa entre dois trabalhadores que estão
dispostos a 1,0 metro de distância, em tom de voz normal, vale a pena solicitar uma
avaliação com equipamentos pois essa intensidade de ruído pode ser danosa à saúde.

Vibração

É o movimento, oscilação ou balanço de objetos. Apenas uma pequena parcela das


vibrações pode ser detectada pelos órgãos sensoriais humanos (tato e audição).
O organismo humano está sujeito aos efeitos das vibrações quando elas apresentam
valores específicos de amplitude e de frequência. A exposição às vibrações pode ocorrer
de forma direta, quando há contato entre a fonte de vibração e o trabalhador (a operação
de uma britadeira), ou de forma indireta, quando a fonte vibra as instalações físicas (o
piso por exemplo) e esta vibração é transmitida ao trabalhador.

As vibrações atuam em regiões diferentes do organismo em função das suas características,


mas podem causar:

»» enjoo ou náuseas,

»» afundamento do tórax,

29
UNIDADE II │ SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO

»» problemas ósteo-articulares ou angio-neurológicos (como artrose do


cotovelo, necrose dos ossos dos dedos, deslocamentos anatômicos,
problemas nervosos etc.).

Temperaturas extremas (calor e frio)

São as condições térmicas rigorosas em que são realizadas diversas atividades profissionais,
submetendo os colaboradores a sua ação. Deve-se conhecer a interação térmica entre
o organismo humano e o meio ambiente de trabalho e conhecer, também, os efeitos da
exposição a essas temperaturas para que se possa avaliar e controlar essas interações
de forma a proteger o trabalhador de seus efeitos maléficos. Vale ressaltar que os efeitos
da exposição a temperaturas extremas são relacionados à atividade física realizada pelo
trabalhador, em termos de taxa de metabolismo.

Com o aumento do calor ambiental, há uma sobrecarga térmica e o organismo reage


para promover um aumento da perda de calor por reações fisiológicas. Os principais
mecanismos de defesa do organismo ao calor intenso são:

»» a vasodilatação periférica que aumenta a temperatura cutânea e diminui o


ganho de calor corporal, tanto por irradiação quanto por condução-convexão,
e

»» a sudorese, cuja eficiência está associada à evaporação do suor gerado.

Trabalhadores expostos a ambientes com calor intenso sofrem de fadiga, erros de


percepção e raciocínio e apresentam perturbações psicológicas. Entre os efeitos da
exposição ao calor estão:

»» a insolação,

»» a prostração térmica ou exaustão do calor,

»» a desidratação,

»» as câimbras de calor e

»» o choque térmico.

A exposição a frio intenso pode gerar consequências na saúde, no conforto e na eficiência


do trabalhador. A baixa temperatura corporal resulta de um balanço negativo entre a
produção (que diminui) e a perda de calor (que aumenta). Os principais mecanismos de
defesa do organismo ao frio intenso são a vasoconstrição periférica, a diminuição gradual
de todas as atividades fisiológicas e o tremor (cuja produção de calor é proporcional ao
número de contrações musculares). Os efeitos dependem principalmente da temperatura
30
SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO │ UNIDADE II

do ar, da velocidade do ar e da variação do calor radiante. Com a temperatura do corpo


abaixo de 29º C ocorre o fenômeno da hipotermia que pode evoluir para sonolência e
coma. A morte ocorre quando a temperatura é inferior a 28º C, por falha cardíaca.

Pressão anormal
A exposição à pressão anormal é definida como qualquer exposição a pressões diferentes
da pressão atmosférica a que os trabalhadores estão normalmente expostos. A pressão
acima da atmosférica é a alta pressão, ou condição hiperbárica, a pressão abaixo da
atmosférica é a baixa pressão, ou condição hipobárica. A exposição de trabalhadores
à condição hiperbárica é muito mais frequente e mais danosa à saúde humana, com
diversos estudos epidemiológicos e limites estabelecidos.

Os efeitos das pressões anormais no organismo são diversos:

»» ruptura de tecidos (tímpano, alvéolos, vasos, pleura etc.),

»» irritação nos pulmões,

»» narcose pelo nitrogênio dissolvido no ar comprimido,

»» bolhas de nitrogênio nos tecidos (dores nas juntas, suor, palidez, tontura,
inconsciência, paralisias etc.).

Radiação (ionizante e não ionizante)

As radiações são uma forma de energia que se transmite pelo espaço como ondas
eletromagnéticas e, em alguns casos, apresenta também comportamento corpuscular.
A absorção da radiação pelo organismo pode gerar diversas lesões e doenças. A radiação
pode ser classificada em dois tipos, pois, ao atingir o organismo e ser absorvida, pode
gerar dois efeitos principais:

»» ionização, oriunda das radiações ionizantes, e

»» excitação, proveniente das radiações não ionizantes.

As radiações ionizantes podem ser naturais e artificiais, mas a sua classificação mais
importante é feita em 4 tipos:

»» alfa,

»» beta,

»» gama, e

»» raios X.
31
UNIDADE II │ SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO

Os efeitos dependem da dose da radiação recebida pelo organismo, mas podem ser
divididos em:

»» somáticos (agudos ou crônicos), que ocorrem no organismo atingido,


gerando doenças e danos, não se transmitindo a seus descendentes e

»» genéticos, que são mutações ocorridas nos cromossomos ou genes das


células germinativas que podem gerar alterações nas gerações futuras.

Cabe ressaltar que essa classificação é uma tentativa de ordenação de fenômenos


muito complexos e interligados, e que essa divisão pode não ser tão clara em diversos
casos. O órgão normalizador para o exercício das atividades envolvendo radiações
ionizantes no Brasil é a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), com unidades
descentralizadas no país, à qual recomendamos fortemente que seja informada e
consultada sobre quaisquer potenciais fontes de risco de radiações ionizantes.

Os diversos tipos de radiações não ionizantes são classificados conforme o comprimento


de onda e a frequência da radiação. Cabe ressaltar que, com poucas exceções, as radiações
são invisíveis e dificilmente detectáveis pelos sentidos humanos. No caso dos efeitos
térmicos provocados, a sensação de calor pode chegar tarde demais para denunciar o
risco, portanto, é obrigatório o uso de detectores com o acompanhamento de profissionais
qualificados. Uma classificação das radiações não ionizantes as divide em:

»» micro-ondas,

»» infravermelha,

»» ultravioleta,

»» maser.

Existem, ainda, muitas dúvidas quanto à extensão real dos efeitos nocivos da exposição
a essas radiações, dividindo-os em:

»» efeitos térmicos, mais aparente, e

»» efeitos não térmicos, geralmente relacionados ao campo elétrico e


magnético.

O órgão mais suscetível a um dano por efeito térmico é a lente ocular.

Riscos químicos

Consideram-se agentes químicos as substâncias, compostos ou produtos que possam


penetrar no organismo pela via respiratória, ou então aqueles que, pela natureza da

32
SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO │ UNIDADE II

atividade de exposição, possam ter contato ou ser absorvido pelo organismo através da
pele ou por ingestão.

Portanto, o risco químico está associado à exposição a substâncias, compostos ou


produtos químicos em diferentes concentrações no ambiente na forma de:

»» Gases: substâncias cujo estado natural nas CNTP (Condições Naturais e


Temperatura e Pressão – 25° C, 1 atm) é o gasoso.

»» Vapores: substâncias cujo estado natural nas CNTP é o sólido ou


líquido, mas que devido a uma alteração de temperatura e/ou de pressão
se encontra no estado gasoso.

»» Poeiras: substâncias cujo estado natural nas CNTP é o sólido, em


pequenas partículas (com diâmetros maiores que 1 mícron) resultantes
da ruptura mecânica de sólidos, seja pelo simples manuseio, seja em
consequência de operações de trituração, moagem, peneiramento,
broqueamento, polimento, detonação etc. Como exemplo citamos poeiras
de sílica, asbesto, de cereais, de carvão, de metais etc.

»» Fumos: substâncias cujo estado natural nas CNTP é o sólido, em


partículas menores que as de poeira (diâmetros menores que 1 mícron),
resultantes da condensação de vapores, geralmente após a volatilização
de metais fundidos e quase sempre acompanhadas de oxidação. Ao
contrário das poeiras, os fumos tendem a flocular. Os fumos podem
formar-se pela volatilização de matérias orgânicas sólidas ou pela reação
de substâncias químicas, como na combinação de ácido clorídrico e
amoníaco.

»» Neblinas: substâncias cujo estado natural nas CNTP é o líquido, em


pequenas partículas suspensas resultantes da ruptura mecânica de
líquidos.

»» Névoas: substâncias cujo estado natural nas CNTP é o líquido, em


partículas menores que as de neblinas (diâmetros entre 0,1 e 100
micra), resultantes da condensação de vapores sobre certos núcleos,
ou ocorrências como a nebulização, borbulhento, respingo etc. Como
exemplo podemos citar: névoas de ácido crômio, de ácido sulfúrico e de
tintas pulverizadas.

»» Aerodispersoides: conjunto de substâncias que estão dispersas no ar


na forma sólida, líquida ou gasosa.

33
UNIDADE II │ SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO

Os danos à saúde provenientes da exposição a agentes de risco químico podem ser


classificados em, oito categorias:

»» irritantes,

»» asfixiantes (simples e químicos),

»» anestésicos (narcóticos),

»» tóxicos sistêmicos,

»» material particulado não tóxicos sistêmicos,

»» genotóxicos e mutagênicos,

»» carcinógenos, e

»» embriotóxicose teratógenos.

O tipo de ação fisiológica de um agente tóxico sobre o organismo depende da concentração


na qual está presente. Por exemplo, um vapor, numa determinada concentração, pode
exercer sua principal ação como anestésico, enquanto que uma menor concentração
do mesmo vapor pode, sem efeito anestésico, danificar o sistema nervoso, o sistema
hematopoético, ou algum órgão visceral. Por esse motivo, é impossível, frequentemente,
colocar-se um agente tóxico numa única classe.

Irritantes

Substâncias que produzem inflamação nos tecidos vivos, quando entram em contato
direto são corrosivos vesicantes em sua ação. Têm essencialmente o mesmo efeito
sobre homens e animais, e o fator concentração é mais importante que o fator tempo
de exposição. Os irritantes primários concentram a sua ação irritante (amônia, cloro,
ozônio, gases lacrimogênios etc.) enquanto os secundários possuem o efeito irritante e
têm uma ação tóxica generalizada sobre o organismo (gás sulfídrico).

Asfixiantes

Exercem sua ação interferindo com a oxidação dos tecidos. Podem ser divididos em
simples e químicos. Os simples são gases inertes que agem por diluição do oxigênio
atmosférico: dióxido de carbono, etano, hélio, hidrogênio, metano, nitrogênio, óxido
nitroso. Os químicos impedem o transporte de oxigênio pelo sangue: monóxido de
carbono, cianogênio, cianeto de hidrogênio, nitrobenzeno, sulfeto de hidrogênio.

34
SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO │ UNIDADE II

Anestésicos (Narcóticos)

Sua principal ação é a anestésica, sem sérios efeitos sistêmicos, tendo ação sobre o
SNC (sistema nervoso central). Alguns passam para a corrente sanguínea e, daí, para os
demais órgãos. Podem penetrar pela pele. São exemplos de anestésicos: hidrocarbonetos
acetilênicos, hidrocarbonetos oleofínicos, éter etílico, hidrocarbonetos parafínicos,
cetonas alifáticas, álcoois alifáticos.

Tóxicos Sistêmicos

Incluem:

»» materiais que causam danos a um ou mais órgãos viscerais: a maioria dos


hidrocarbonetoshalogenados;

»» materiais que causam danos ao sistema hematopoético: benzeno, fenóis


e em certo grau, otolueno, xilol e naftaleno;

»» materiais que causam danos ao sistema nervoso: dissulfeto de carbono,


álcool metílico, tiofeno;

»» não metais tóxicos inorgânicos: compostos de arsênio, fósforo, selênio,


enxofre e fluoretos.

Material particulado não tóxico sistêmico

Produzem doenças em local específico do organismo, como:

»» poeiras que produzem fibrose: sílica, asbesto;

»» poeiras inertes: carborundo, carvão; e

»» poeiras que causam reações alérgicas: pólen, madeira, resinas e outras


poeiras orgânicas.

Existem substâncias que causam dano unicamente aos pulmões, incluindo aquelas que
não causam nenhum tipo de ação irritante, tais como poeiras de asbesto, causadoras
da fibrose. As poeiras que fazem parte desse grupo podem se tornar mais nocivas se
contaminadas com bactérias ou fungos alergênicos, microtoxinas ou pólens.

Agentes genotóxicos e mutagênicos

São substâncias que podem causar dano material genético e podem, também, ser
mutagênicas. Os mutagênicos podem causar mutações. Uma mutação é considerada

35
UNIDADE II │ SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO

como sendo qualquer modificação relativamente estável no material genético, DNA


(ácido desoxirribonucleico). Muitas das substâncias mutagênicas também podem dar
origem ao câncer (carcinógenos).

Carcinógenos

São substâncias que podem produzir câncer, que é uma doença resultante do
desenvolvimento de um tumor maligno e de sua invasão em tecidos vizinhos. Um tumor
(neoplasma) caracteriza-se pelo crescimento do tecido, formando um grupo de células
anormais no organismo. Um tumor maligno é composto de células que se dividem e
se dispersam através do organismo. Um tumor benigno é aquele localizado e que não
invade os tecidos vizinhos nem produz câncer.

Agente embriotóxicos e teratógenos

São substâncias capazes de induzir efeitos adversos na progênie durante o primeiro


estágio da gravidez, ou seja, entre a concepção e a fase fetal. Os teratógenos são
substâncias que, em doses que não apresentem toxicidade materna, podem causar danos
não hereditários na progênie. Esses danos podem levar ao aborto. Após o nascimento,
esses danos são denominados de más formações congênitas.

Riscos biológicos

Consideram-se agentes biológicos: as bactérias, fungos, bacilos, parasitas, protozoários,


vírus, entre outros. Entretanto, devido à dificuldade de monitoramento e de avaliação,
dificilmente se foca o trabalho de prevenção nos agentes, mas nas atividades que
potencialmente expõem os trabalhadores à ação nociva de micro-organismos.

Portanto, o risco biológico está associado à exposição a locais, substâncias compostos


ou produtos com a presença de micro-organismos patogênicos em geral. Geralmente, o
senso comum associa o risco biológico a três situações:

»» o contato com pacientes e/ou ambientes com doenças contagiosas,

»» a presença de esgotos sanitários, e

»» o contato com lixo.

Entretanto, exceto na primeira situação, na qual o risco é real e deve ser evitado, o risco
biológico na segunda e terceira só é evidente para os profissionais que trabalham em
alguma etapa dos sistemas de esgotamento sanitário e dos serviços de limpeza urbana,
conforme será detalhado na unidade 2.

36
SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO │ UNIDADE II

A existência de sanitários e áreas de disposição temporária dos resíduos sólidos não


representa, por si só, riscos de contaminação biológica. Na maioria das situações, a
concorrência de três fatores simples podem conferir a esses locais condições satisfatórias
de salubridade ambiental:

»» a manutenção e a limpeza adequadas desses locais,

»» a possibilidade de exposição desses locais à iluminação natural (o sol é um


dos melhores bactericidas que existem devido à ação dos raios UVA), e

»» a existência de mecanismos de ventilação natural.

As exposições ocupacionais a materiais biológicos potencialmente contaminados


representam um sério risco aos profissionais da área da saúde. Os ferimentos com
agulhas e materiais perfurocortantes, em geral, são considerados extremamente
perigosos por serem potencialmente capazes de transmitir mais de vinte tipos de
patógenos diferentes, sendo os vírus da imunodeficiência humana (HIV), da Hepatite B
e da Hepatite C os agentes infecciosos mais comumente envolvidos.

Segundo a Resolução no 5/1993 do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente)


infectantes perfurocortantes são seringas, agulhas, escalpes, ampolas, vidros de um
modo em geral ou, qualquer material pontiagudo ou que contenham fios de corte
capazes de causar perfurações ou cortes. Segundo a mesma Resolução, infectantes não
perfurocortantes são os materiais que contenham sangue ou fluidos corpóreos. No caso
das farmácias e drogarias, são os algodões com sangue.

O risco de trabalhadores da área da saúde adquirir patógenos veiculados pelo sangue já


está bem documentado. Os acidentes com perfurocortantes persistem como principal
forma de transmissão de patógenos veiculados pelo sangue aos profissionais de saúde,
contaminando acima de 25% dos acidentados com portadores do antígeno da hepatite
B. Geralmente, os trabalhadores de enfermagem são os mais atingidos pelos acidentes
ocupacionais envolvendo material perfurocortante infectante. Os acidentes na área de
saúde geralmente ocorrem em três situações:

»» durante a limpeza,

»» autoinoculação durante o trabalho ou

»» inoculação por outro profissional.

O sangue, qualquer fluido orgânico contendo sangue, secreção vaginal, sêmen e


tecidos, são materiais biológicos envolvidos na transmissão do vírus HIV. Os líquidos
de serosas (peritoneal, pleural, pericárdico), líquido amniótico, liquor, líquido articular

37
UNIDADE II │ SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO

e saliva (em ambientes odontológicos), são materiais de risco indeterminado para a


transmissão do vírus. Exposições a esses e outros materiais potencialmente infectantes
que não o sangue ou material biológico contaminado com sangue devem ser avaliadas
de forma individual. Em geral, esses materiais são considerados como de baixo risco
para transmissão ocupacional do HIV.

Cabe esclarecer que a exposição a agentes biológicos ocorre em número muito mais
expressivo em ambientes que utilizam sistemas de condicionamento de ar, naquilo que
a Organização Mundial de Saúde (OMS) define com Síndrome do Edifício Doente (SED).
A Síndrome do Edifício Doente refere-se à relação entre causa e efeito das condições
ambientais observadas em áreas internas, com reduzida renovação de ar, e os vários
níveis de agressão à saúde de seus ocupantes por meio de fontes poluentes de origem
física, química e/ou microbiológica.

Um edifício pode ser considerado “doente” quando cerca de 20% de seus ocupantes
apresentam sintomas transitórios associados ao tempo de permanência em seu interior,
que tendem a desaparecer após curtos períodos de afastamento. Em alguns casos, a
simples saída do local já é suficiente para que os sintomas desapareçam. Os principais
sintomas relacionados a SED são:

»» irritação dos olhos, nariz, pele e garganta,

»» dores de cabeça,

»» fadiga,

»» falta de concentração, e

»» náuseas.

Outros fatores associados à Síndrome do Edifício Doente são a elevação da taxa de


absenteísmo e a redução na produtividade e na qualidade de vida do trabalhador.
Dessa forma, a qualidade do ar de ambientes interiores assumiu importante papel
não só em questões relativas à Saúde Pública, como também, no que diz respeito à
Saúde Ocupacional.

No Brasil, em 1998, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão


regulamentador do sistema de saúde, publicou a Portaria no 3.523, estabelecendo,
para todos os ambientes climatizados artificialmente de uso público e coletivo, a
obrigatoriedade de elaborar e manter um plano de manutenção, operação e controle
dos sistemas de condicionamento de ar (PMOC).O PMOC estabelece, no mínimo,
uma limpeza anual de todo o sistema e uma consequente avaliação da qualidade do
ar no ambiente.

38
SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO │ UNIDADE II

Em 2000, a Anvisa publicou a Resolução no 176, contendo parâmetros biológicos, químicos


e físicos por meio dos quais é possível avaliar a qualidade do ar interior. Atualmente, a
Anvisa trabalha na definição de critérios para ambientes climatizados com fins especiais,
como as salas de cirurgia e unidades de tratamento intensivo de hospitais, onde o risco de
contaminação pode ser fatal para pessoas com organismo debilitado.

Os danos à saúde provenientes da exposição a agentes de risco biológico podem ser


de diferentes classes, dependendo de quais são os micro-organismos presentes no
ambiente. Tanto para os agentes de riscos químicos quanto para os agentes de riscos
biológicos, há três formas de penetração no corpo humano:

»» absorção,

»» inalação, e

»» ingestão.

Da mesma forma que os agentes físicos e químicos, a melhor atuação para a prevenção
sempre é, prioritariamente, na fonte e/ou na trajetória, no sentido de se evitar que o
risco chegue ao trabalhador, situação que impõe o uso de equipamentos de proteção
individual (EPI), cuja eficiência e eficácia são, via de regra, discutíveis.

Absorção

O contaminante, ao entrar em contato com a pele, órgão de maior superfície do corpo


humano, pode ser absorvido, causando diversas formas de alergias, ulcerações, dermatoses
e outras doenças ocupacionais que atingem esse tecido.

Inalação

O trato respiratório é a via mais importante pela qual os agentes biológicos e químicos
entram no organismo. A grande maioria das intoxicações ocupacionais que afetam a
estrutura interna do corpo é ocasionada por se respirar substâncias contidas no ar. Essas
substâncias podem ficar retidas nos pulmões ou outras partes do trato respiratório e
podem afetar esse sistema, ou passar através dos pulmões a outras partes do organismo,
levadas pelas células fagocitárias.

A relativamente enorme superfície do pulmão (90 m2 de superfície total e 70 m2 de


superfície alveolar), em conjunto com a superfície capilar (140 m2), com seu fluxo
sanguíneo contínuo, exerce uma ação extraordinária de absorção de determinadas
substâncias presentes no ar inspirado.

39
UNIDADE II │ SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO

Ingestão

A intoxicação por essa via é mais comum para os agentes biológicos e menos comum
para os químicos. A frequência e o grau de contato com os agentes tóxicos depositados
nas mãos, alimentos e cigarros é muito menor que na inalação, por isso, somente
substâncias altamente tóxicas como o chumbo, o arsênico e o mercúrio podem causar
preocupações nesse sentido. Cabe ressaltar que a porção que se deposita na parte
superior do trato respiratório é arrastada para cima pela ação ciliar, e é posteriormente
engolida, ingressando no organismo.

O trato gastrointestinal pode ser visto como um tubo que atravessa o corpo, começando
na boca e terminando no ânus. Apesar de estarem dentro do organismo, seus conteúdos
estão essencialmente externos aos fluídos do corpo (sangue e linfa). Por isso, os agentes
tóxicos no trato gastrointestinal podem produzir um efeito na superfície da mucosa que
o reveste, sendo absorvidos pela mucosa do trato gastrointestinal.

A absorção de um tóxico pelo sangue através do trato gastrointestinal é baixa. Os alimentos


e líquidos misturados com o tóxico contribuem para diluí-lo e reduzem a sua absorção,
devido à formação de material insolúvel. O intestino possui certa seletividade que tende
a impedir a assimilação de substâncias, ou limitar a quantidade absorvida. Depois de
ser absorvido pela corrente sanguínea, o material tóxico vai diretamente ao fígado, que,
metabolicamente, altera, degrada e torna inócua a maior parte das substâncias.

Riscos ergonômicos

A ergonomia é a ciência que estuda a relação entre o homem e o seu ambiente de trabalho,
visando ao conforto. Segundo a Associação Internacional de Ergonomia (International
Ergonomics Association – IEA, 2000) ergonomia é “a disciplina científica relacionada
ao entendimento das interações entre seres humanos e outros elementos de um sistema,
e também é a profissão que aplica teoria, princípios, dados e métodos para projetar a fim
de otimizar o bem-estar humano e o desempenho geral de um sistema”. A Associação
Internacional de Ergonomia divide a ergonomia em três domínios de especialização,
são eles:

»» ergonomia física,

»» ergonomia cognitiva e

»» ergonomia organizacional.

A Ergonomia Física lida com as respostas do corpo humano à carga física e psicológica.
Tópicos relevantes incluem manipulação de materiais (peso), arranjo físico de estações

40
SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO │ UNIDADE II

de trabalho, demandas do trabalho e fatores tais como repetição, vibração, força e postura
estática, relacionada com lesões musculoesqueléticas (lesão por esforço repetitivo).

A Ergonomia Cognitiva, também conhecida engenharia psicológica, refere-se


aos processos mentais, tais como percepção, atenção, cognição, controle motor e
armazenamento e recuperação de memória, como eles afetam as interações entre
seres humanos e outros elementos de um sistema. Tópicos relevantes incluem carga
mental de trabalho, vigilância, tomada de decisão, desempenho de habilidades, erro
humano, interação humano-computador e treinamento.

A Ergonomia Organizacional, ou macroergonomia, está relacionada com a otimização


dos sistemas sócio-técnicos, incluindo sua estrutura organizacional, políticas e
processos. Tópicos relevantes incluem trabalho em turnos, programação de trabalho,
satisfação no trabalho, teoria motivacional, supervisão, trabalho em equipe, trabalho a
distância e ética.

A ergonomia pode ser também considerada como o estudo dos aspectos do trabalho e
sua relação com o conforto e bem-estar do trabalhador. Está mais ligada às posturas,
movimentos e ritmos determinados pela atividade e conteúdo dessa atividade, nos seus
aspectos físicos e mentais.

A ergonomia intervém, analisando o trabalho, as posturas adotadas pelo trabalhador,


sua movimentação e seu ritmo, que de modo geral são determinados por outros fatores
organizacionais. O objetivo principal da ergonomia é dar condições de trabalho para
que haja maior conforto e bem-estar do operador a partir da análise da atividade. As
melhorias ergonômicas se referem a vários aspectos do trabalho, tais como:

»» cadeiras, mesas, bancadas;

»» o planejamento e localização de dispositivos e materiais de trabalho;

»» a quantidade, qualidade e localização da iluminação;

»» indicações sobre melhorias na organização da atividade, incluindo o


planejamento de novos dispositivos de trabalho ou modificação nos
existentes e

»» alteração no ritmo de sequenciamento de várias tarefas desempenhadas


pelo operador.

Entre os danos causados pela exposição aos riscos ergonômicos merecem destaque as
DORT (distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho, que englobam as lesões
por esforços repetitivos, a LER). As DORT abrangem diversas patologias, sendo as mais
conhecidas a tenossinovite, a tendinite e a bursite.

41
UNIDADE II │ SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO

Há muitas definições para as DORT. Porém, o conceito básico é o de alterações e


sintomas de diversos níveis de intensidade nas estruturas osteomusculares (tendões,
sinóvias, articulações, nervos, músculos), além de alteração do sistema modulador da
dor. Esse quadro clínico é decorrente do excesso de uso do sistema osteomuscular no
trabalho. Apenas um fator isolado não é determinante para a ocorrência de DORT, mas
sim uma combinação deles associados à sua frequência, intensidade e duração.

Postura

As posturas fixas são um fator de risco, principalmente em trabalhos sedentários.


No entanto, trabalhos mais dinâmicos, com posturas extremas de tronco como, por
exemplo, abaixar-se e virar-se de lado, também são identificados como fatores de risco.
As más posturas de extremidades superiores também se constituem como fatores de
risco, tais como: desvios dos punhos, braços torcidos e elevação do ombro. Todos esses
desvios são influenciados por uma série de fatores ocupacionais e individuais, incluindo
a característica do mobiliário e do posto de trabalho.

Movimento e força

Esses dois fatores estão correlacionados ao aparecimento de DORT nas mãos e punhos.
A combinação de forças elevadas e alta repetitividade aumenta a magnitude da lesão
mais do que qualquer uma delas isoladamente. Movimentos repetidos podem danificar
diretamente os tendões devido ao frequente alongamento e flexão dos músculos. A força
exercida durante a realização dos movimentos é outro determinante das lesões, como
por exemplo, no levantamento, carregamento e utilização de ferramentas pesadas; a força
necessária para cortar objetos muito duros, a utilização de parafusadeiras e furadeiras.

Conteúdo de trabalho e fatores psicológicos

A relação entre trabalho e a saúde é afetada pela organização do trabalho e fatores


psicológicos relacionados ao trabalho, podendo contribuir para o aparecimento de
disfunções musculoesqueléticas. É possível estabelecer a relação entre o trabalho, o
estresse e o sistema musculoesquelético.

Características individuais

O tipo de musculatura e as características individuais parecem manter uma relação com


a incidência dos problemas. Portanto, as mulheres parecem ser mais suscetíveis que os
homens aos problemas derivados da exposição a riscos ergonômicos. A distribuição de

42
SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO │ UNIDADE II

tarefas por sexo e, consequentemente, a carga do trabalho, determinam o aparecimento


de problemas e estão intimamente ligados às características individuais.

Riscos mecânicos ou riscos de acidentes

Os tipos de acidentes mais comuns que ocorrem na realização do trabalho são:

»» queda,

»» choque elétrico,

»» soterramento,

»» choque mecânico,

»» cortes e perfurações,

»» queimaduras,

»» animais peçonhentos,

»» acidentes de trânsito,

»» incêndio e explosão.

Os riscos de acidentes se caracterizam pela possibilidade de lesão imediata ao trabalhador


exposto. A pior exposição a risco de acidentes ocorre quando ele estiver em situação de
risco grave (passível de causar lesão grave, incapacitante ou fatal) e iminente (passível
de atingir o trabalhador a qualquer momento).

Quedas

As quedas podem ocorrer em mesmo nível ou em níveis diferentes. As quedas em mesmo


nível ocorrem, geralmente, por imperfeições ou irregularidades nos pisos, ou pela
existência de materiais que os tornam escorregadios. As quedas em níveis diferentes
são consideradas aquelas ocorridas partir de dois metros de altura, e são, ainda hoje, a
principal causa dos acidentes fatais no Brasil. As quedas de níveis diferentes ocorrem
pela falta de proteções coletivas (guarda-corpos, barreiras etc.) somada à ausência de
equipamentos de proteção individual (cinto tipo paraquedista).

Choque elétrico

O choque elétrico é a reação do organismo à passagem da corrente elétrica e pode


ocorrer pelo manuseio de máquinas e equipamentos ou pelo contato com instalações
energizadas. Os choques são a segunda maior causa dos acidentes fatais no Brasil.
43
UNIDADE II │ SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO

Os riscos de acidentes dos empregados que trabalham com eletricidade, em qualquer


das etapas de geração, transmissão, distribuição e consumo de energia elétrica, constam
da Norma Regulamentadora 10 (MTE).

Os efeitos do choque elétrico sobre o organismo humano podem ser:

»» tetanização dos músculos, na qual a corrente elétrica se sobrepõe aos


estímulos cerebrais, e a vítima perde o controle sobre esses músculos que
terão uma contração enquanto o choque continuar;

»» parada respiratória, consequente da tetanização dos músculos responsáveis


pela respiração,

»» queimaduras, com tendência a serem profundas e de difícil cicatrização, e

»» fibrilação ventricular, que é um tipo de arritmia cardíaca, a qual acontece


quando não existe sincronicidade na contração das fibras musculares
cardíacas (miocárdio) dos ventrículos. Dessa maneira não existe uma
contração efetiva, levando a uma consequente parada cardiorrespiratória
e circulatória.

Soterramento

O soterramento ocorre quando uma grande quantidade de material cobre um trabalhador


e é a terceira maior causa dos acidentes fatais no Brasil. Geralmente, o senso comum
leva a crer que os soterramentos só ocorrem em grandes profundidades, entretanto,
eles são muito mais comuns na escavação de valas e nos trabalhos realizados próximos
a taludes instáveis. Com o deslizamento dos materiais, o trabalhador cai, com o seu
corpo saindo da posição vertical para a posição horizontal, e sua cabeça passa de uma
altura de 1,5 m para 0,30 m, possibilitando a sua cobertura por completo.

Choque mecânico

O choque mecânico ocorre devido a batidas do trabalhador:

»» contra objetos fixos,

»» ocorridas por objetos em movimento,

»» pela queda de objetos de níveis mais altos.

O transporte de materiais com comprimento elevado e os locais com pé-direito baixo


estão entre as principais causas das batidas. As quedas de objeto só ocorrem com a
concorrência de dos fatores:

44
SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO │ UNIDADE II

»» o objeto não estar preso a nenhuma estrutura (estar solto, sem cordas ou
correntes) e

»» não existirem anteparos que detenham a queda do objeto em sua trajetória.

A prensagem é um tipo específico de choque mecânico que ocorre pela compressão do


corpo (ou de partes do corpo) pela ação de dois objetos móveis ou de um objeto móvel e
outro fixo. Atenção especial deve ser dada aos mecanismos com alta rotação (milhares
de rpm) que tem a característica de prender cabelos compridos e roupas frouxas e puxar
a vítima (ou partes de seu corpo) para a consequente prensagem.

Cortes e perfurações

Os cortes e perfurações são os acidentes de trabalho mais comuns e são consequência


do manuseio de materiais e/ou de equipamentos perfurocortantes. Os cortes deixam a
pele aberta e devem ser fechados para evitar infecções. Os arranhões machucam apenas
a camada superficial da pele, podem doer mais do que o corte, mas cicatrizam rápido.
As perfurações podem ser profundas e devem ser deixadas abertas para não infectarem.

Queimaduras

As queimaduras são lesões em determinada parte do organismo, desencadeadas pelo


contato com um agente externo. Dependendo desse agente, as queimaduras podem ser
classificadas em queimaduras térmicas, elétricas e químicas. As queimaduras térmicas
são aquelas causadas pelo contato com superfícies em temperaturas extremas (calor ou
frio) e são as mais frequentes.

As queimaduras são classificadas de acordo com a extensão e profundidade da lesão.


A gravidade depende mais da extensão do que da profundidade. Uma queimadura de
primeiro ou segundo grau em todo o corpo é mais grave do que uma queimadura de
terceiro grau de pequena extensão. Saber diferenciar a queimadura é muito importante
para que os primeiros cuidados sejam efetuados corretamente.

As queimaduras de primeiro grau são as mais superficiais e caracterizam-se por deixar


a pele avermelhada (hiperemiada), inchada (edemaciada) e extremamente dolorida.
Uma exposição prolongada ao sol pode desencadear esse tipo de lesão. Não se formam
bolhas e a pele não se desprende. Na evolução não surgem cicatrizes, mas elas podem
deixar a pele um pouco escura no início, tendendo a se resolver por completo com o tempo.

As queimaduras de segundo grau têm uma profundidade intermediária, ocorrendo


uma destruição maior da epiderme e derme, e caracterizam-se pelo aparecimento da
bolha (flictena) que é a manifestação externa de um descolamento dermo-epidérmico.
45
UNIDADE II │ SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO

A recuperação dos tecidos é mais lente e pode deixar cicatrizes e manchas claras
ou escuras.

As queimaduras de terceiro grau caracterizam-se pelo aparecimento de uma zona de


morte tecidual (necrose), há uma destruição total de todas as camadas da pele e o local
pode ficar esbranquiçado ou carbonizado (escuro). A dor é geralmente pequena, pois
a queimadura é tão profunda que chega a danificar as terminações nervosas da pele.
Pode ser muito grave e até fatal dependendo da porcentagem de área corporal afetada.
Na evolução, sempre deixam cicatrizes podendo necessitar de tratamento cirúrgico e
fisioterápico posterior para retirada de lesões e aderências que afetem a movimentação.
Algumas cicatrizes podem ser foco de carcinomas de pele tardiamente e por isso o
acompanhamento dessas lesões é fundamental.

Animais peçonhentos

Os animais peçonhentos são aqueles que possuem glândulas de veneno que se


comunicam com dentes ocos, ou ferrões, ou aguilhões, por onde o veneno passa
ativamente. Portanto, peçonhentos são os animais que injetam veneno com facilidade e
de maneira ativa: serpentes, aranhas, escorpiões, lacraias, abelhas, vespas, maribondos
e arraias. Os animais venenosos são aqueles que produzem veneno, mas não possuem
um aparelho inoculador (dentes, ferrões), provocando envenenamento passivo por
contato (taturana), por compressão (sapo) ou por ingestão (peixe baiacu).

Na década de 1980, ocorreu a falta generalizada de soro antiofídico no Brasil. A falência


do sistema de produção de antivenenos desencadeou uma insatisfação nacional que
levou o Ministério da Saúde a implantar o Programa Nacional de Ofidismo, em 1986,
a partir do qual os acidentes ofídicos passaram a ser de notificação obrigatória no país.
Os dados de escorpionismo e araneísmo passam a ser coletados a partir de 1988.

A partir da centralização do controle desses acidentes no Ministério da Saúde foi


verificada uma melhoria no registro de casos de envenenamentos provocados por
animais peçonhentos. Esta melhoria pode também ser observada com o decréscimo do
número de óbitos por acidentes com animais peçonhentos a partir de 1986, registrados
pelo Sistema de Informações de Mortalidade – SIM.

No Brasil existem pelo menos quatro sistemas de informação que tratam do registro
de acidentes por animais peçonhentos: o Sistema Nacional de Informações Tóxico-
Farmacológicas – SINITOX, o Sistema Nacional de Agravos de Notificação – SINAN, o
Sistema de Internação Hospitalar – SIH/SUS, e o Sistema de Informação de Mortalidade
– SIM. Cada um desses sistemas possui características próprias, pois foram criados para
atender demandas diferentes, e ao invés de se completarem, podem até se contradizer
em alguns casos.

46
SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO │ UNIDADE II

Acidentes de trânsito

Acidente de trânsito pode ser definido como todo evento danoso que envolva o veículo,
a via, o homem e/ou animais e, para caracterizar-se, é necessária a presença de dois
desses fatores. Os principais fatores que concorrem para a ocorrência dos acidentes de
trânsito são:

»» o veículo (em condições inadequadas de manutenção),

»» a via (em estado de conservação inadequado),

»» o motorista (negligente, imprudente ou imperito), e

»» a sinalização do trânsito (inexistente ou inadequada).

Os acidentes de trabalho, devido ao trânsito, estão, em sua maioria, associados aos


acidentes de trajeto, exceção feita aos profissionais do setor de transportes. Deve se
incluir também os acidentes que ocorrem no interior das empresas, relacionados à
movimentação de máquinas (tratores, empilhadeiras etc.).

Incêndio e explosão

O fogo é um fenômeno físico e químico que resulta da rápida combinação de um comburente


com um combustível e é caracterizado pela emissão de calor, luz e, geralmente, chamas.
O incêndio pode ser definido como “a propagação rápida e descontrolada do fogo”, outra
definição é “a presença de fogo em local não desejado e capaz de provocar danos a vida
humana (quedas, queimaduras e intoxicações por fumaça), além de prejuízos materiais”.

Para ocorrer o fogo são necessários quatro componentes, conhecidos como Tetraedro
do Fogo:

»» Combustível: é o material oxidável (sólido, líquido ou gasoso) capaz de


reagir com o comburente (em geral o oxigênio) numa reação de combustão.

»» Comburente: é o material gasoso que pode reagir com um combustível,


produzindo a combustão, em incêndios geralmente é o oxigênio
atmosférico (O2).

»» Agente ígneo, ou fonte de calor: é o responsável pelo início do processo


de combustão, introduzindo na mistura combustível/comburente, a
energia mínima inicial necessária.

»» Reação em cadeia: é o processo de sustentabilidade da combustão,


pela presença de radicais livres, que são formados durante o processo de
queima do combustível.
47
UNIDADE II │ SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO

Eliminando-se um dos 4 elementos do tetraedro do fogo, a combustão terminará e,


consequentemente, o foco de incêndio será extinto. Há, portanto, quatro procedimentos
básicos para se combater o fogo:

»» o resfriamento, que é o mais comum e o mais utilizado pelos Corpos de


Bombeiros Militares no Brasil, com a utilização da água em abundância
para resfriar os materiais em combustão até a extinção das chamas;

»» o abafamento, baseado na retirada do comburente do ambiente para se


obter a extinção, (com menos de 13% de O2 o fogo apaga) fato que pode
ser obtido pelo insuflamento de gases não comburentes que deslocam o
oxigênio (de preferência inertes) como o gás carbônico;

»» a retirada do material combustível do ambiente, afastando ou eliminando


a substância que está sendo queimada, procedimento esse de difícil
execução; geralmente se retiram os materiais que ainda não inflamaram
e se espera que o fogo consuma os materiais combustíveis existentes em
um ambiente até a sua “extinção”; e

»» pode-se interromper a reação em cadeia, com o insuflamento ou


lançamento de substâncias que atuam como inibidores da reação química.

A propagação do fogo pode ocorrer de três formas:

»» condução, que é a propagação do calor por meio do contato de moléculas


de duas ou mais substâncias com temperaturas diferentes, ou seja, é
necessário o contato entre dois materiais sólidos ou líquidos;

»» convecção, que é um processo de transporte de massa caracterizado pelo


movimento de um fluido devido à sua diferença de densidade, esse é o
meio mais comum de propagação de um incêndio predial pela convecção
dos gases aquecidos; e

»» irradiação, que é a radiação eletromagnética (ondas caloríficas) emitida


por um corpo, aumentando a temperatura de um segundo corpo que pode
absorvê-la, ou seja, os dois corpos têm entre si um intercâmbio de energia.

Em um sistema de proteção contra incêndios prediais, deve-se prever mecanismos nos


edifícios que possibilitem a interrupção dessas 3 formas de propagação do fogo.

Os incêndios podem ser classificados em:

»» Classe A: que ocorre em materiais sólidos que queimam em profundidade


e deixam resíduos (madeira, papel, tecido etc.).

48
SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO │ UNIDADE II

»» Classe B: em líquidos inflamáveis, os quais queimam somente em


superfície e têm a característica de propagar rapidamente o fogo quando
transbordam (gasolina, acetona, gás de cozinha (GLP) etc.).

»» Classe C: em materiais elétricos energizados, cujo contato com água pode


piorar a situação e aumentar a propagação, além de causar acidentes.

»» Classe D: são os metais pirofóricos, geralmente encontrados em


indústrias específicas, como a automobilística (raspa de zinco, limalhas
de magnésio etc.), cujo contato com a água pode gerar até explosões.

A explosão é um processo caracterizado pelo súbito aumento de volume e grande


liberação de energia, o qual, geralmente, gera altas temperaturas e produção de gases.
Uma explosão provoca ondas de pressão ao redor do local onde ocorre. Explosões são
classificadas de acordo com essas ondas de choque:

»» deflagração, em caso de ondas subsônicas, e

»» detonação, em caso de ondas supersônicas.

A propagação das ondas é diferente entre elas:

»» na detonação a onda propaga-se longitudinalmente,

»» na deflagração a onda vai tomar toda a superfície do explosivo e dirigir-se


para o interior.

Os explosivos artificiais mais comuns são os explosivos químicos, que se decompõem por
meio de violentas reações de oxidação e produzem grandes quantidades de gás e calor
(dinamite, nitroglicerina, nitrocelulose, pólvora negra etc.). Entretanto, é importante
assinalar que as poeiras de qualquer substância que possa ser mantida em combustão,
quando se coloca fogo, explodirá sob as circunstâncias certas.

A explosão de poeiras ocorre sob duas condições:

»» a poeira deve ser fina o suficiente para pegar fogo facilmente, e

»» a poeira deve estar em suspensão, misturada à quantidade certa de ar.

Locais com muita poeira explosiva geralmente geram duas explosões subsequentes:

»» a primeira é pequena e ocorrerá em algum ponto da nuvem de poeira


formada, no local onde a mistura for adequada,

»» como consequência dessa primeira explosão, mais a poeira suspensa no


ambiente, ocorre a segunda explosão, maior e mais perigosa.
49
UNIDADE II │ SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO

Os efeitos das explosões dividem-se em: fisiológicos, térmicos e mecânicos. Os efeitos


fisiológicos são os que afetam os indivíduos ao nível de olhos, tímpanos, pulmões,
coração etc. Os efeitos térmicos provêm do aumento de temperatura provocado pela
libertação de energia. Os efeitos mecânicos traduzem-se na deslocação de materiais,
por arrastamento ou por destruição.

50
Capítulo 3
Gestão dos riscos

A gestão dos riscos ambientais só tem chance de sucesso em uma empresa se houver
um programa de gestão dos riscos implantado. Segundo os preceitos da higiene do
trabalho, o reconhecimento de riscos é a primeira fase de um programa para gerenciar
e controlar os riscos ocupacionais. Pode-se verificar que não faz sentido reconhecer
os riscos sem propor medidas que possam controlar a exposição dos trabalhadores a
esses riscos, esta é, portanto, a segunda fase do programa. A Norma Regulamentadora
no 9 propõe uma metodologia para elaboração de um programa de prevenção de riscos
ambientais, entretanto aborda apenas os riscos físicos, químicos e biológicos.

O programa de gestão de riscos constitui a base de uma gestão eficaz da segurança e da


saúde e é fundamental para reduzir os acidentes de trabalho e as doenças profissionais.
Se for bem elaborado e implantado, esse programa de gestão de riscos pode melhorar a
higiene, a segurança e a saúde, bem como, de um modo geral, o desempenho das empresas.

O reconhecimento dos riscos ambientais, que neste texto será tratado diversas vezes como
avaliação ambiental qualitativa existentes nos ambientes de trabalho, é fundamental
para o empregador, o qual tem o dever de assegurar a segurança e a saúde dos
trabalhadores em todos os aspectos relacionados ao trabalho.

O reconhecimento de riscos é o processo de identificação dos riscos para a saúde e a


segurança dos trabalhadores existentes no local de trabalho. Portanto, é uma análise
sistemática de todos os aspectos do trabalho, que identifica:

»» toda fonte de risco ambiental que é susceptível de causar lesões ou danos;

»» a possibilidade das fontes de riscos serem eliminadas;

»» as medidas de prevenção ou proteção que existem, ou devem existir, para


controlar os riscos que não podem ser eliminados.

A Norma Regulamentadora no 5 propõe uma metodologia para elaboração do mapa de


riscos como instrumento de reconhecimento de riscos. Na maior parte das empresas,
uma abordagem direta, em duas etapas, pode ser utilizada para reconhecer todos os
tipos de risco. Três etapas, subsequentes ao reconhecimento, podem ser utilizadas para
controlar a maioria dos riscos ambientais reconhecidos nos ambientes de trabalho.
Portanto, a elaboração do programa de gestão e controle de riscos ambientais pode ser
apresentada em cinco etapas: 2 para o reconhecimento e 3 para o controle dos riscos.

51
UNIDADE II │ SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO

A primeira etapa é a identificação das fontes de riscos existentes nos locais de trabalho
e das pessoas expostas a esses riscos, utilizando apenas as percepções sensoriais
humanas, principalmente a visão, a audição e o olfato. Essa identificação pode ser feita
seguindo o seguinte procedimento:

»» circular pelo local de trabalho e observar (sentir) tudo o que possa causar
danos;

»» consultar os trabalhadores e/ou os seus representantes sobre os


problemas que lhes tenham surgido;

»» observar os riscos a longo prazo para a saúde, por exemplo, níveis elevados
de ruído ou fatores de risco decorrentes da organização do trabalho;

»» consultar os registros de acidentes de trabalho e de problemas de saúde


da empresa; e

»» obter informações de outras fontes, como manuais de instruções ou


fichas de dados dos fabricantes e fornecedores, sítios web sobre saúde e
segurança no trabalho, organismos nacionais, associações comerciais ou
sindicatos, regulamentos e normas técnicas.

Deve-se verificar quais são as pessoas expostas a cada risco de forma a subsidiar
a identificação da melhor forma de gerir o risco. A ideia é identificar os grupos de
trabalhadores expostos e não elaborar listas nominativas. Cabe lembrar que o pessoal
de serviços terceirizados (limpeza, vigilância etc.), os contratantes e o público em geral
podem igualmente estar expostos a riscos.

Atenção especial deve ser dada às questões de gênero e a grupos de trabalhadores


que podem correr riscos acrescidos ou ter requisitos específicos, como: portadores
de necessidades especiais, migrantes, jovens e idosos, mulheres grávidas e lactantes,
pessoal inexperiente ou sem formação, pessoal da manutenção, trabalhadores
imunocomprometidos, trabalhadores com problemas de saúde e trabalhadores sob
medicação susceptível de aumentar a sua vulnerabilidade ao dano.

A segunda etapa consiste na avaliação dos riscos decorrentes de cada fonte. Para o
efeito, deve-se considerar:

»» a probabilidade de um risco ocasionar dano;

»» a gravidade provável do dano;

»» a frequência da exposição dos trabalhadores (e o número de trabalhadores


expostos).

52
SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO │ UNIDADE II

Um processo direto, baseado na percepção sensorial (visão e audição), que não exige
qualificações especializadas ou técnicas complicadas, pode ser suficiente para a maioria
das atividades do local de trabalho, cujos riscos são bem conhecidos ou facilmente
identificáveis e com meios de controle facilmente disponíveis. Esse é o caso da maior
parte das empresas (principalmente pequenas e médias empresas – PME). Em seguida,
devem ser definidas prioridades para o tratamento dos riscos.

A terceira etapa do programa de gestão, já com objetivo precípuo de controle dos riscos,
consiste em decidir de que forma eliminar ou controlar os riscos. Nessa fase, há que se
avaliar se é possível eliminar o risco; se não, de que forma é possível controlar os riscos
de modo que esses não comprometam a segurança e a saúde das pessoas expostas.
Na prevenção e no controle dos riscos, deve-se levar em conta os seguintes princípios
gerais de prevenção:

»» substituir todo produto/equipamento que é perigoso por similar isento


de perigo ou menos perigoso (atuar na fonte);

»» combater os riscos na origem, enclausurando-os sempre que possível


(atuar na fonte);

»» evitar a exposição de trabalhadores aos riscos, controlando o acesso aos


ambientes de risco (atuar na trajetória);

»» conferir às medidas de proteção coletiva prioridade em relação às medidas


de proteção individual (atuar na trajetória);

»» sempre buscar melhorar o nível de proteção, adaptando-se ao progresso


técnico e às mudanças na informação.

A quarta etapa consiste na adoção de medidas de prevenção e de proteção. É importante


envolver os trabalhadores e os seus representantes no processo. Para que as medidas
aplicadas sejam eficazes, é necessário elaborar um plano que especifique:

»» as medidas a aplicar;

»» quem faz o que e quando (cronograma); e

»» quando a aplicação deve estar concluída.

É essencial definir prioridades para os trabalhos destinados a eliminar ou prevenir


riscos.

A última etapa consiste no acompanhamento e manutenção periódicos do trabalho


realizado nas etapas anteriores. A avaliação de riscos deve ser revista regularmente, em

53
UNIDADE II │ SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO

função da natureza dos riscos e do grau provável de mudança na atividade laboral, ou


na sequência das conclusões da investigação de um acidente ou de um “quase acidente”.

Todas as etapas do programa de gestão de riscos, tanto de reconhecimento quanto


de controle de riscos, devem ser registradas. O seu registro pode ser utilizado como
base para:

»» informações a transmitir às pessoas expostas aos riscos;

»» controle destinado a avaliar se foram tomadas as medidas necessárias;

»» elementos para apresentar às autoridades de fiscalização; e

»» uma eventual revisão, em caso de alteração das circunstâncias.

Nesse texto apresentaremos a metodologia de avaliação ambiental qualitativa


elaborada para o Sistema Integrado de Segurança e Saúde Ocupacional do Servidor
Público Federal (SISOSP) do Ministério do Planejamento Orçamento e Gestão e
que, atualmente, está sendo utilizada pelo Observatório de Segurança Ambiental da
UnB (OBSAM). Ela foi desenvolvida de forma a possibilitar uma avaliação sucinta
e eficaz das condições ambientais passíveis de causar danos à saúde ou à segurança
dos trabalhadores que ali realizam suas tarefas. Essa metodologia instrumentaliza a
implantação da etapa de “Reconhecimento de Riscos Ambientais” (prevista no PPRA
– NR 9, MTE).

A avaliação qualitativa contempla a vistoria nos ambientes de trabalho (macroambientes


e microambientes) por pessoal técnico capacitado preenchendo instrumento específico
(formulário no Anexo I). Os itens dessa avaliação são valorados qualitativamente,
para tanto, foi elaborado um Manual de Avaliação Qualitativa, que estabelece as
diretrizes (os parâmetros e os critérios técnicos) a serem utilizadas nessa valoração
de cada item avaliado.

A ponderação dos resultados da avaliação qualitativa permite uma classificação dos


ambientes avaliados com base em um conjunto integrado de indicadores denominados:
Índices de Condição Ambiental (ICA). Esses índices são percentuais e terão a sua
variação classificada em faixas de aceitabilidade ou adequabilidade, a serem definidas
junto à equipe técnica do local a ser avaliado.

Os indicadores ICA permitem a comparação das condições ambientais de um ambiente


de trabalho em diferentes momentos (variação temporal), como também permitem
a comparação dessas condições entre diferentes ambientes de trabalho (variação
espacial). A avaliação qualitativa também avalia as condições do microambiente no
quesito existência de “risco grave e iminente”.

54
SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO │ UNIDADE II

A metodologia de avaliação qualitativa contempla, além da obtenção e cálculo dos


indicadores ICA, a realização de pequenas entrevistas com os trabalhadores do ambiente
avaliado, de forma a avaliar tanto o entrevistador (avaliador) quanto o entrevistado
(trabalhador do local). Essa entrevista deve ser realizada com um trabalhador,
selecionado de forma aleatória durante a vistoria do ambiente. O trabalhador deve
responder a questões abertas sobre seis temas:

1. controle de acesso,

2. programa de manutenção,

3. treinamento de segurança,

4. plano de abandono,

5. equipamento de proteção individual, e

6. atendimento de emergência a acidentados.

Vale ressaltar que a questão a ser respondida pelo trabalhador para cada tema será
selecionada de forma aleatória de um “banco de questões” do tema respectivo, cada
um com no mínimo 20 questões disponíveis. O avaliador deve, a partir das respostas
dadas pelo servidor, avaliar o conteúdo de cada resposta e emitir uma nota para o
desenvolvimento daquele tema específico, no local avaliado. O avaliador deve descrever,
no formulário específico, uma justificativa que detalhe os critérios técnicos utilizados
para emitir a nota de cada tema avaliado.

A metodologia de avaliação qualitativa foi desenvolvida de forma a permitir uma


autoavaliação dos ambientes de trabalho por seus próprios ocupantes, fortalecendo a
legitimidade do instrumento, difundindo as práticas prevencionistas, e potencializando
a transparência do sistema (com potencial “controle social”). Essa autoavaliação deve
estar disponível para acesso a qualquer trabalhador, com a tabulação de seus resultados
feita paralelamente àqueles oriundos de avaliações de pessoal capacitado para esse fim
(avaliação ambiental qualitativa). Os resultados de ambas as avaliações (participativa
e de pessoal capacitado) deve ser tornada pública, de preferência disponibilizada
na internet.

A tabela 1 apresenta os parâmetros e critérios para se avaliar o controle da exposição


aos agentes de riscos físicos. Em todos os casos, o controle da exposição prescinde
de avaliações periódicas de exposição ao risco, avaliações periódicas da saúde,
procedimentos e instalações específicos para evitar ou minimizar a exposição e
avaliações periódicas da eficiência desses procedimentos e instalações.

55
UNIDADE II │ SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO

Tabela 1. Riscos físicos.

PARÂMETROS CRITÉRIOS
RUÍDO CONTÍNUO E DE IMPACTO
»» Controle de Acesso ao ambiente com ruído intenso.
»» Tom de voz normal para conversa (baixa intensidade).
»» Tom de voz alterado para conversa (média à alta).
»» Avaliações periódicas da saúde (audiometrias).
Controle de Exposição
»» Procedimentos e instalações específicos para evitar ou minimizar a exposição ao ruído insalubre no
ambiente (na fonte ou na trajetória). Para ruído de impacto:
›› Periodicidade simples (manuseio de materiais, marteladas, disparo de armas etc.).
›› Repetitivo (prensas automáticas, guilhotinas, ferramentas pneumáticas, rajadas consecutivas etc.).
TEMPERATURA EXTREMA – CALOR E FRIO
»» Controle de acesso aos locais aquecidos e resfriados, limitado e restrito ao pessoal autorizado e
qualificado.
Controle de Exposição
»» Procedimentos e instalações específicos para evitar ou minimizar a exposição ao calor ou frio
insalubre no ambiente (na fonte ou na trajetória).
UMIDADE
»» Controle de Acesso aos locais encharcados ou alagados, limitado e restrito ao pessoal autorizado e
qualificado:
Controle de Exposição ›› contato direto e permanente com água e umidade do ar excessiva.
»» Procedimentos e instalações específicos para evitar ou minimizar a exposição à umidade insalubre no
ambiente (na fonte ou na trajetória).
VIBRAÇÃO
»» Controle de acesso aos ambientes, máquinas ou equipamentos que gerem vibrações excessivas,
limitado e restrito ao pessoal autorizado e qualificado.
»» Contato parcial (membros superiores: ferramentas manuais, moto serras, derrubada de árvores,
Controle de Exposição fundição, fabricação de móveis, reparo de autos etc.).
»» Contato integral (corpo inteiro: plataformas industriais, veículos pesados, tratores etc.).
»» Procedimentos e instalações específicos para evitar ou minimizar a exposição à vibração insalubre no
ambiente (na fonte ou na trajetória).
PRESSÕES ANORMAIS
»» Controle de Acesso aos ambientes com pressões anormais, limitado e restrito ao pessoal autorizado
(18 a 45 anos).
»» Medidas de controle na câmara de trabalho.
Controle de Exposição
»» Avaliação e controle de agentes químicos e condições de exposição ao calor no local.
»» Procedimentos e instalações específicos para evitar ou minimizar a exposição a pressões insalubres
ou perigosas no ambiente (na fonte ou na trajetória).
RADIAÇÃO IONIZANTE E NÃO IONIZANTE
»» Controle de acesso aos ambientes com radiações ionizantes e não ionizantes, limitado e restrito ao
pessoal autorizado.
Controle de Exposição
»» Procedimentos e instalações específicos para evitar ou minimizar a exposição a radiações insalubres
ou perigosas no ambiente (na fonte ou na trajetória).

Fonte: próprio autor.

A tabela 2 apresenta os parâmetros e critérios para se avaliar o controle da exposição aos


agentes de riscos químicos. Os itens RQ 01 e RQ 02 podem ser observados em qualquer

56
SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO │ UNIDADE II

instalação, os demais itens (RQ 03 a RQ 08) só devem ser observados em ambientes de


trabalho cujo objeto de trabalho seja a utilização e manipulação de produtos químicos,
como em laboratórios químicos. Da mesma forma que nos riscos físicos, o controle
da exposição prescinde de avaliações periódicas de exposição ao risco, avaliações
periódicas da saúde, procedimentos e instalações específicos para evitar ou minimizar
a exposição e avaliações periódicas da eficiência destes procedimentos e instalações.

Tabela 2. Riscos químicos.

PARÂMETROS CRITÉRIOS
RQ 01 ARMAZENAMENTO DE PRODUTOS QUÍMICOS
»» Controle de acesso aos ambientes de armazenamento de produtos químicos, limitado e restrito ao pessoal
autorizado.
»» Procedimentos e instalações específicos para evitar ou minimizar a exposição a agentes químicos (na fonte ou na
trajetória).
Controle de
exposição »» Recipientes adequados e identificados (rotulados).
»» Prateleiras estáveis e resistentes, em bom estado de conservação.
»» Critério de separação dos produtos.
»» Sinalização de segurança (advertência e emergência).

RQ 02 MANIPULAÇÃO DE PRODUTOS QUÍMICOS

Controle de »» Controle de acesso às áreas de manipulação de produtos químicos, limitado e restrito ao pessoal autorizado e qualificado.
exposição »» Procedimentos e instalações específicos para evitar ou minimizar os riscos de contaminação.

RQ 03 VENTILAÇÃO

Eficiência do »» Ambiente confortável para execução das tarefas.


sistema »» Entradas e saídas externas em ambientes controlados.

Monitoramento da »» Monitoramento periódico do ar interno e externo.


qualidade do ar »» Resultado divulgado.

Manutenção e »» Empresa especializada em manutenção e limpeza de sistemas de ventilação.


limpeza »» Realizada periodicamente (verificar PMOC, se for o caso).

Manutenção e »» Empresa especializada em manutenção e limpeza de sistemas de ventilação.


limpeza »» Realizada periodicamente (verificar PMOC, se for o caso).

RQ 04 HIGIENIZAÇÃO DO AMBIENTE
»» Higienização constante.
Bancadas
»» Livres de produtos estranhos ao trabalho.

Organização »» Materiais separados e identificados (etiquetados).

»» Parede, piso e equipamentos higienizados.


Limpeza
»» Objetos perfurocortantes descartados após uso.

RQ 05 MANUTENÇÃO DO AMBIENTE

Máquinas e »» Controle e manutenção de equipamentos danificados.


equipamentos »» Empresa contratada – pessoal qualificado.
»» Suficiente para execução das tarefas.
Iluminação
»» Confortável durante toda a jornada de trabalho.

57
UNIDADE II │ SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO

PARÂMETROS CRITÉRIOS
RQ 06 GESTÃO DE RESÍDUOS QUÍMICOS
»» Em local adequado.
Armazenamento
»» Controle de acesso.
»» Plano de gerenciamento de resíduos químicos.
Coleta e transporte »» Periodicidade dos treinamentos.
»» Procedimentos em caso de emergência.
»» Inertização dos materiais contaminados.
Tratamento e
»» Descarte local, com monitoramento e controle.
descarte
»» Descarte no sistema municipal com monitoramento.
RQ 07 EQUIPAMENTOS DE EMERGÊNCIA
»» Equipamento com fácil acesso e em funcionamento adequado, de acordo com as especificações de projeto.
Lava olhos
»» Manutenção e treinamento periódicos.
Chuveiro de »» Equipamento com fácil acesso e em funcionamento adequado, de acordo com as especificações de projeto.
emergência »» Manutenção e treinamento periódicos.
RQ 08 EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO COLETIVA
»» EPC com fácil acesso e em funcionamento adequado, de acordo com as especificações de projeto.
Capela »» Manutenção e treinamento periódicos.
»» Acionado pelo funcionário quando em atividade.
»» EPC com fácil acesso e em funcionamento adequado, de acordo com as especificações de projeto.
Ventilação local
(exaustora ou »» Manutenção e treinamento periódicos.
diluidora) »» Acionado pelo funcionário quando em atividade.
»» EPC com fácil acesso e em funcionamento adequado, de acordo com as especificações de projeto.
Outros EPC »» Manutenção e treinamento periódicos.
»» Acionado pelo funcionário quando em atividade.

Fonte: próprio autor.

A tabela 3 apresenta os parâmetros e critérios para se avaliar o controle da exposição


aos agentes de riscos biológicos. Os itens RB 01 e RB 02 podem ser observados em
qualquer instalação, os demais itens (RB 03 a RB 07) só devem ser observados em
ambientes de trabalho cujo objeto seja a utilização e manipulação de materiais biológicos
potencialmente contaminados, como em laboratórios biológicos. Novamente, o controle
da exposição prescinde de avaliações periódicas de exposição ao risco, avaliações
periódicas da saúde, procedimentos e instalações específicos para evitar ou minimizar
a exposição e avaliações periódicas da eficiência desses procedimentos e instalações.

Tabela 3. Risco Biológico.

PARÂMETROS CRITÉRIOS
RB 01 FONTES POTENCIAIS (Mofo, ácaros, fungos)

Controle de exposição »» Paredes, pisos e forros sem infiltração ou mofo.


(áreas) »» Higienização periódica.

58
SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO │ UNIDADE II

PARÂMETROS CRITÉRIOS
»» Móveis, cortinas e tapetes sem mofo.
Controle de exposição
»» Higienização periódica.
(mobiliário)
»» Sem poeira acumulada ou suspensa.

RB 02 PÁTÓGENOS (Bactérias, Vírus etc.)


»» Controle de acesso às áreas de pacientes com doenças infectocontagiosas, limitado e restrito ao
pessoal autorizado e qualificado.
Controle de exposição
(áreas) »» Avaliações periódicas de concentração de patógenos.
»» Procedimentos e instalações específicos para evitar ou minimizar a exposição a patógenos no ambiente.
»» Controle de acesso aos materiais contaminados.
Controle de Exposição
»» Procedimentos em caso de emergência.
(materiais contaminados)
»» Procedimentos e instalações específicos para descarte adequado.

RB 03 MANIPULAÇÃO DE MATERIAIS BIOLÓGICOS


»» Controle de acesso às áreas de manipulação de materiais biológicos, limitado e restrito ao pessoal
Controle de Exposição a autorizado e qualificado.
materiais biológicos
»» Procedimentos e instalações específicos para evitar ou minimizar os riscos da contaminação.

RB 04 HIGIENIZAÇÃO DO AMBIENTE
»» Higienização constante.
Bancadas
»» Livres de produtos estranhos ao trabalho.

Organização »» Materiais separados e identificados (etiquetados).

»» Parede, piso e equipamentos higienizados.


Limpeza
»» Objetos perfurocortantes utilizados e descartados.

RB 05 MANUTENÇÃO DO AMBIENTE
»» Controle e manutenção de equipamentos danificados.
Máquinas e equipamentos
»» Empresa contratada – pessoal qualificado.
»» Suficiente para execução das tarefas.
Iluminação
»» Confortável durante toda a jornada de trabalho.
»» Ambiente confortável para execução das tarefas.
»» Entradas e saídas externas em ambientes controlados.
Ventilação
»» Monitoramento periódico do ar interno e externo, com o resultado divulgado.
»» Manutenção periódica realizada por empresa especializada.

RB 06 GESTÃO DE RESÍDUOS BIOLÓGICOS


»» Em local adequado.
Armazenamento »» Controle de acesso.
»» Tempo de armazenamento não permite a decomposição.
»» Plano de gerenciamento de resíduos biológicos.
Coleta e transporte »» Periodicidade dos treinamentos.
»» Procedimentos em caso de emergência.
»» Inertização dos materiais contaminados.
Tratamento e descarte »» Descarte local, com monitoramento e controle.
»» Descarte no sistema municipal com monitoramento.

59
UNIDADE II │ SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO

PARÂMETROS CRITÉRIOS
RB 07 EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO COLETIVA
»» EPC com fácil acesso e em funcionamento adequado, de acordo com as especificações de projeto.
Capela »» Manutenção e treinamento periódicos.
»» Acionado pelo funcionário quando em atividade.
»» EPC com fácil acesso e em funcionamento adequado, de acordo com as especificações de projeto.
Ventilação local (exaustora
»» Manutenção e treinamento periódicos.
ou diluidora)
»» Acionado pelo funcionário quando em atividade.
»» EPC com fácil acesso e em funcionamento adequado, de acordo com as especificações de projeto.
Sistema de diferença de
»» Manutenção e treinamento periódicos.
pressão (negativa / positiva)
»» Acionado pelo funcionário quando em atividade.
»» EPC com fácil acesso e em funcionamento adequado, de acordo com as especificações de projeto.
Outros EPC »» Manutenção e treinamento periódicos.
»» Acionado pelo funcionário quando em atividade.

Fonte: próprio autor.

A tabela 4 apresenta os parâmetros e critérios para se avaliar o controle da exposição aos


agentes de riscos ergonômicos. Em todos os casos, o controle da exposição prescinde de
avaliações periódicas de exposição ao risco e de avaliações periódicas da saúde.

Tabela 4. Risco ergonômico

PARÂMETROS CRITÉRIOS
RE 01 VENTILAÇÃO
»» Sistema de condicionamento de ar ou sistema de ventiladores adequado para execução das tarefas.
Conforto »» Confortável durante toda a jornada de trabalho, com os servidores não recebendo fluxo direto de ar.
»» Manutenção e limpeza dos componentes do sistema.
RE 02 ILUMINAÇÃO
»» Luminosidade (função da quantidade e disposição das luminárias) adequada para execução das tarefas.
Conforto »» Confortável durante toda a jornada de trabalho, sem mudanças bruscas de luminosidade no
ambiente. Manutenção e limpeza das luminárias e lâmpadas.
RE 03 CONFORTO TÉRMICO
»» Adequado para execução das tarefas.
Conforto
»» Confortável durante toda a jornada de trabalho.
RE 04 CONFORTO ACÚSTICO
»» Adequado para execução das tarefas.
Conforto
»» Confortável durante toda a jornada de trabalho.
RE 05 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
»» Ordens de serviço para execução das tarefas.
Normas e procedimentos
»» Periodicidade dos treinamentos.
»» Divisão de tarefas “equitativa”.
Jornada de trabalho »» Trabalho em turnos (diurno e noturno).
»» Excesso de horas extras.

60
SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO │ UNIDADE II

PARÂMETROS CRITÉRIOS
»» Ritmo de trabalho não excessivo com pausas no trabalho.
»» Reconhecimento e valorização dos trabalhos de extrema responsabilidade, cujos erros geram graves
Rotina no trabalho
consequências.
»» Planos de escalonamento de férias e licenças que não sobrecarreguem os demais colegas.

Avaliação pessoal de
»» Entrevista com alguns servidores solicitando que eles avaliem (0 a 10) a organização de seu trabalho.
trabalhador
RE 06 GINÁSTICA LABORAL
Profissional qualificado »» Empresa especializada ou profissional qualificado.

»» Espaço suficiente para a ginástica (área e volume).


Espaço adequado
»» Iluminação e ventilação adequadas para a ginástica.

Participação »» Instrumentos que fomentam a participação total.

RE 07 MANIPULAÇÃO DE PESO
»» Ordem de serviço para execução das tarefas.
Treinamento
»» Periodicidade dos treinamentos em carga, descarga e transporte.

Equipamento »» Equipamentos para movimentação horizontal e vertical, incluindo a carga e a descarga.

»» Carga Eventual – Carga Contínua


Esforço físico ›› 50 kg/30 kg – Homens
›› 30 kg/15 kg – Mulheres

RE 08 MESA
Cantos vivos »» Observação da adequação e conforto do parâmetro.

Superfície lisa »» Observação da adequação e conforto do parâmetro.

Não reflexiva »» Observação da adequação e conforto do parâmetro.

Cor clara »» Observação da adequação e conforto do parâmetro.

RE 09 CADEIRA
Bordas arredondadas »» Observação da adequação e conforto do parâmetro.

»» Treinamento para utilizar o recurso.


Regulagem de altura »» Pés apoiados no piso.
»» Perna e coxa em ângulo de 90 graus.
»» Treinamento para utilizar o recurso.
Regulagem de encosto
»» Apoio da região lombar das costas.

Tecido permeável »» Em toda a superfície de contato do assento e do encosto.

RE 10 COMPUTADOR
»» Treinamento para utilizar o recurso.
Suporte de teclado com altura
»» Braço e antebraço em ângulo de 90 graus.
regulável
»» Ombros relaxados.
»» Treinamento para utilizar o recurso.
Monitor com altura regulável
»» Dentro do campo direto de visão (pescoço relaxado).
»» Movimento fácil.
Espaço para mouse
»» Próximo ao teclado.

61
UNIDADE II │ SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO

PARÂMETROS CRITÉRIOS
Disposição de computadores »» De modo a minimizar a reflexão de luz na tela.
RE 11 POSTO DE TRABALHO
»» Posto sentado com conforto na posição da coluna e com espaço suficiente para as pernas.
Postura
»» Posto em pé com conforto na posição da coluna e assento para realizar pausas.
»» Alcance dos movimentos do corpo (membros superiores e inferiores) adequado.
Movimentos corporais
»» Alcance visual adequado.
Visualização
»» Campo de visão adequado (linha dos olhos para baixo).

Fonte: próprio autor.

A tabela 5 apresenta os parâmetros e critérios para se avaliar o controle da exposição


aos agentes de riscos mecânicos. O controle da exposição prescinde de avaliações
periódicas de exposição ao risco, procedimentos e instalações específicos para evitar
ou minimizar a exposição, avaliações periódicas da eficiência desses procedimentos
e instalações. As questões inerentes às falhas nas rotas de fuga (inexistentes ou
inadequadas) foram colocadas em um item específico para facilitar o seu entendimento
na tabela 5. Como o manuseio inadequado de máquinas e equipamentos pode gerar
riscos de choques elétricos, choques mecânicos, acidentes de trânsito e cortes e
perfurações, também há um item específico na tabela 5 sobre máquinas, equipamentos
e ferramentas.
Tabela 5. Risco Mecânico.

PARÂMETROS CRITÉRIOS
QUEDA
»» Procedimentos e instalações específicos para evitar a queda de pessoas em mesmo nível,
Controle de exposição principalmente, em piso molhado, escorregadio, com ressaltos ou buracos ou com trepidação, e a
queda de pessoas em níveis diferentes (> 2,0m).
CHOQUE ELÉTRICO EM INSTALAÇÕES, MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS
»» Controle de acesso aos ambientes e instalações e às máquinas e equipamentos que gerem riscos
Controle de exposição de choque elétrico, limitado e restrito ao pessoal autorizado e qualificado.
»» Procedimentos e instalações específicos para evitar o choque elétrico em máquinas e equipamentos.
SOTERRAMENTO
»» Procedimentos e instalações específicos para evitar o deslizamento de solos e materiais que possam
gerar o soterramento de trabalhadores: estudos geotécnicos, estabilização de taludes, sistemas de
Controle de exposição contenção etc.
»» Avaliações periódicas da eficiência dos procedimentos.
CHOQUE MECÂNICO
»» Procedimentos e instalações específicos para evitar as batidas e as quedas de objetos,
Controle de exposição principalmente, no manuseio de máquinas e de ferramentas.
»» Avaliações periódicas da eficiência dos procedimentos.
CORTES E PERFURAÇÕES – MATERIAIS PERFUROCORTANTES
»» Controle de acesso aos materiais perfurocortantes, limitado e restrito ao pessoal autorizado e qualificado.
Controle de exposição »» Procedimentos e instalações específicos (guarda, uso e descarte – com embalagem segura e
recipiente específico) para evitar cortes e perfurações.

62
SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO │ UNIDADE II

PARÂMETROS CRITÉRIOS
QUEIMADURAS
»» Controle de acesso aos ambientes com superfícies e materiais em alta ou baixa temperatura,
energizados ou com radiação, limitado e restrito ao pessoal autorizado e qualificado.
Controle de exposição
»» Procedimentos e instalações específicos para evitar acidentes (queimaduras) com superfícies em
temperaturas extremas, com eletricidade ou radiação.
ANIMAIS PEÇONHENTOS
»» Combate e controle periódicos de insetos, baratas e roedores.
Controle de exposição »» Combate à proliferação.
»» Limpeza e organização de forma a evitar o depósito ou acúmulo de resíduos.
ACIDENTE DE TRÂNSITO
»» Procedimentos e instalações (sonorizadores, quebra-molas, sinalização etc.) específicos para evitar
Controle de exposição acidentes de trânsito, no interior das instalações, na garagem e em serviços externos (transporte de
pessoas e de cargas).
INCÊNDIO E EXPLOSÃO
»» Procedimentos e instalações específicos para evitar o início de fogo no ambiente.
»» Sinalização (advertência de risco e de emergência) e desobstrução de extintores, hidrantes e saídas
de emergência.
»» Equipamentos adequados ao combate em quantidade suficiente e em bom estado de conservação.
Controle de risco »» Procedimentos e instalações específicos para evitar explosões:
›› no local de armazenamento de materiais explosivos (distância segura, parede e piso de fácil
lavagem, fiação elétrica antiexplosão e ventilação),
›› no local de manipulação e uso desses materiais.
»» Sinalização (advertência de risco e de emergência).
»» Ordem de serviço para execução das tarefas com explosivos.
»» Treinamentos em evacuação, socorro e combate.
Treinamento
»» Procedimentos em caso de emergência.
»» Simulações periódicas.
ROTA DE FUGA
»» Placas de identificação de saídas, portas, escadas e andares.
Sinalização
»» Sinalização luminosa.
»» Iluminação de emergência na rota de fuga.
»» Saídas próximas, visíveis, destrancadas e desobstruídas.
Manutenção da rota de fuga
»» Porta corta-fogo com abertura no sentido do fluxo.
»» Faixa antiderrapante e corrimão nas escadas de emergência.
»» Treinamentos em evacuação e socorro.
Treinamento
»» Simulações periódicas.
MÁQUINAS, EQUIPAMENTOS E FERRAMENTAS
»» Controle de acesso às máquinas, equipamentos e ferramentas que gerem riscos, limitado e restrito
ao pessoal autorizado.
»» Procedimentos e instalações específicos para evitar acidentes em máquinas, equipamentos e ferramentas.
Controle de exposição
»» Instrução de uso fixado próximo à máquina, equipamento e ferramenta.
»» Ferramentas adequadas para execução das tarefas, em bom estado de conservação e com partes
perigosas isoladas.

Fonte: próprio autor.

63
UNIDADE II │ SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO

Para todas as classes de risco, deve-se observar as questões relativas à manutenção


da fonte geradora do risco específico, ao treinamento do pessoal exposto ao risco,
aos equipamentos de proteção coletiva (EPC) disponíveis e/ou necessários, e aos
equipamentos de proteção individual (EPI) disponíveis e/ou necessários. Os critérios e
parâmetros para se avaliar os três primeiros itens estão dispostos na tabela 6.

Tabela 6. Manutenção, treinamento e proteção coletiva.

PARÂMETROS CRITÉRIOS
»» Manutenção inadequada (peças soltas, gastas e/ou sem lubrificação).
Manutenção da fonte geradora »» Manutenção corretiva (planejada ou não planejada).
»» Manutenção preventiva.
»» Ordem de serviço para execução das tarefas.
Treinamento »» Periodicidade dos treinamentos.
»» Procedimentos em caso de emergência.
»» Atuação na fonte (enclausuramento da fonte).
Equipamento de Proteção
»» Atuação na trajetória (barreiras) dimensionada por técnico habilitado.
Coletiva
»» Funcionamento adequado, manutenção periódica e acionamento pelo funcionário quando em atividade.

Fonte: próprio autor.

Os critérios e parâmetros para se avaliar a eficiência e a eficácia da adoção de equipamentos


de proteção individual (EPI) nos ambientes de trabalho estão dispostos na tabela 7.

Tabela 7. Equipamento de proteção individual.

PARÂMETRO CRITÉRIOS
Proteção visual e facial.
»» Riscos: projeção de partículas, respingos, gases, vapores, poeiras e radiações.
»» Protetores: óculos, anteparos, protetores faciais etc.
Proteção respiratória.
»» Riscos: deficiência de oxigênio no ambiente, contaminantes nocivos (gases, vapores, poeiras e fumos).
»» Protetores: máscaras, respiradores etc.
Proteção para membros superiores e inferiores.
»» Riscos: cortes, perfurações, abrasão, substâncias nocivas, agentes térmicos (calor ou frio), choques
elétricos, impacto de objetos, compressões e umidade.
»» Protetores superiores: luvas, protetores de palma da mão e punho, mangas, mangotes, dedeiras etc.
Adequado ao risco
»» Protetores inferiores: sapatos, botinas, botas, chancas etc.
Proteção para cabeça.
»» Riscos: impacto, penetrações, choques elétricos, queimaduras e arrancamento do cabelo.
»» Protetores: capacetes, bonés, gorros, redes etc.
Proteção auditiva.
»» Riscos: ruído.
»» Protetores: protetores auditivos de inserção, tipo “concha” ou “plug”, protetores ativos etc.
Proteção para o tronco.
»» Riscos: cortes, projeção de partículas, golpes, abrasão, calor, respingos, substâncias nocivas e umidade.
»» Protetores: aventais, jaquetas, capas etc.

64
SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO │ UNIDADE II

PARÂMETRO CRITÉRIOS
Roupas especiais.
»» Riscos: temperaturas extremas, radiações, visualização noturna.
»» Protetores: vestimentas de amianto, aventais de chumbo, coletes, capas, bonés fluorescentes etc.
Adequado ao risco
Cinturões de segurança.
»» Riscos: quedas.
»» Protetores: cinturão de corda, cinturão com talabarte, trava-quedas etc.
Procedimentos específicos para higienização, guarda, manutenção e substituição dos EPI.
Treinamento »» Instruções de segurança para execução das tarefas.
»» Periodicidade dos treinamentos.
Certificado de aprovação.
Gestão dos EPI »» Controle de uso dos EPI nos locais de trabalho.
»» Controle de qualidade e validade dos EPI.

Fonte: próprio autor.

Os resultados da avaliação qualitativa poderão indicar a necessidade da realização de


avaliações quantitativas no ambiente de trabalho, e/ou da execução/implantação de
medidas de controle dos riscos (adequações no ambiente de trabalho). As medidas de
controle poderão ser:

»» instalação e/ou manutenção de equipamentos de proteção coletiva;

»» alteração no lay-out do local de trabalho;

»» alteração no posto de trabalho;

»» alteração no processo de trabalho;

»» capacitação dos funcionários;

»» aquisição e/ou manutenção de equipamentos de proteção individual etc.

Apresentamos uma proposta inicial de classificação dos ambientes de trabalho em


seis categorias, de forma a possibilitar uma gestão eficaz dos indicadores ICA e dos
resultados das avaliações quantitativas pelo OBSAM - UnB. Essas classes poderão ser
redefinidas pela equipe técnica do local a ser avaliado, são elas:

»» serviços administrativos e de atendimento ao público, ambientes cujos


trabalhadores realizam atividades típicas de administração/escritório,
com uma maior incidência de condições de riscos ergonômicos;

»» serviços envolvendo processos químicos, ambientes cujos trabalhadores


realizam atividades com a presença de processos químicos, com uma
maior incidência de condições de riscos químicos;

»» serviços envolvendo procedimentos biológicos, ambientes, cujos


trabalhadores realizam atividades com procedimentos biológicos, com
uma maior incidência de condições de riscos biológicos e químicos;

65
UNIDADE II │ SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO

»» serviços envolvendo inflamáveis e explosivos, ambientes, cujos


trabalhadores realizam atividades, envolvendo substâncias inflamáveis ou
explosivas, com uma maior incidência de condições de riscos mecânicos
e químicos;

»» serviços de produção ou manutenção, ambientes, cujos trabalhadores


realizam atividades com máquinas, equipamentos e/ou ferramentas, com
uma maior incidência de condições de riscos físicos, químicos e mecânicos;

»» serviços externos, cujos trabalhadores realizam atividades externas, em


ambientes fora da ingerência do órgão público, podendo ser urbanos ou
rurais, cuja incidência de condições de riscos deve ser analisada caso a caso.

Existem, ainda, duas classes de serviços que são realizados em todos os ambientes de
trabalho de um órgão público:

»» serviços de segurança patrimonial, com uma maior incidência de condições


de riscos mecânicos; e

»» serviços de limpeza predial, com uma maior incidência de condições de


riscos mecânicos e ergonômicos.

As condições de exposição desses funcionários devem ser objeto de uma avaliação do


seu processo de trabalho, com suas respectivas condições de riscos.

A avaliação ambiental qualitativa pode indicar a necessidade de avaliações ambientais


quantitativas. A avaliação quantitativa contempla uma perícia nos ambientes de trabalho
(microambientes) por pessoal técnico habilitado, preenchendo instrumento específico
que está em fase de elaboração pelo OBSAM. Os formulários serão padronizados –
com campos específicos para preenchimento pelo perito avaliador – para cada tipo de
agente ambiental avaliado, de forma a facilitar a avaliação dos trabalhos realizados, a
comparação entre diferentes laudos, e a comparação entre diferentes exposições em
ambientes similares.

A avaliação quantitativa demanda a elaboração de uma estratégia de amostragem


específica para cada item a ser avaliado. Essa estratégia de amostragem considera
uma amostragem espacial (avaliação em diferentes pontos de amostragem) e temporal
(avaliação em diferentes momentos para cada ponto de amostragem).

Os resultados da avaliação quantitativa são apresentados em laudo pericial conclusivo


assinado pelo técnico habilitado que o elaborou. O laudo deve apresentar anexa uma
cópia do certificado de calibração dos equipamentos de medição utilizados na avaliação

66
SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO │ UNIDADE II

ambiental. O certificado de calibração deve ser válido para o período das avaliações
realizadas e deve conter informações sobre a sua rastreabilidade, segundo os critérios
da Rede Brasileira de Calibração (RBC).

A metodologia de avaliação quantitativa estará disponível no OBSAM – UnB para


acesso a qualquer trabalhador. Os seus resultados, bem como a sua tabulação, devem
ser apresentados de forma integrada aos indicadores de condição ambiental (ICA),
resultantes das avaliações ambientais qualitativas realizadas por pessoal capacitado.
Os resultados de ambas as avaliações (qualitativa e quantitativa) devem ser tornados
públicos, de preferência disponibilizados na internet.

A conclusão do laudo pode indicar duas situações:

»» a conformidade do item avaliado no ambiente quanto aos limites


estabelecidos em normas de segurança e saúde do trabalho (nacionais ou
internacionais); e

»» a não conformidade do item avaliado no ambiente quanto aos limites


estabelecidos em normas de segurança e saúde do trabalho (nacionais ou
internacionais).

A comprovação de uma não conformidade pode estabelecer a necessidade de


execução/implantação de medidas de controle dos riscos (adequações no ambiente
de trabalho). Essas adequações devem fazer parte do laudo em um item denominado
“Sugestões para atingir a conformidade”. O laudo não deve detalhar as sugestões de
adequação. O detalhamento destas adequações deve ser realizado na etapa de “Controle
dos Riscos Ambientais”, por profissionais qualificados, a serem definidos pelo gestor da
empresa ou do órgão cujo ambiente apresentou a não conformidade.

O detalhamento completo da etapa de “Controle de Riscos Ambientais” não é o objeto


desse texto, mas deve ser objeto de trabalho ao se constatarem não conformidades tanto
na fase de avaliação qualitativa quanto na fase de avaliação quantitativa. Entretanto,
podemos enumerar cinco premissas básicas que são fundamentais para o sucesso de
qualquer programa de controle de riscos ambientais: a manutenção adequada do local
de trabalho (instalações e equipamentos); o treinamento dos funcionários; o controle
de acesso aos locais e máquinas que tenham tido riscos reconhecidos; a instalação e
manutenção dos equipamentos de proteção coletiva e todos os procedimentos para
a entrega dos equipamentos de proteção individual. A tabela 8 apresenta, de forma
sucinta, essas premissas.

67
UNIDADE II │ SEGURANÇA DO TRABALHO – INTRODUÇÃO

Tabela 8.

PARÂMETRO CRITÉRIOS
»» Manutenção adequada (peças soltas, gastas e/ou sem lubrificação).
Manutenção »» Manutenção corretiva planejada.
»» Manutenção preventiva
»» Ordem de serviço para execução das tarefas.
Treinamento »» Periodicidade dos treinamentos.
»» Procedimentos em caso de emergência.
»» Controle de acesso aos locais com riscos reconhecidos, limitado e restrito ao pessoal autorizado e
qualificado.
»» Controle de acesso às máquinas com riscos reconhecidos, limitado e restrito ao pessoal autorizado e
Controle de Acesso habilitado.
»» Avaliações periódicas da saúde das pessoas com acesso aos locais de risco.
»» Avaliações periódicas da eficiência das medidas de controle de acesso.
»» Equipamento (enclausuramento da fonte, barreiras na trajetória etc.) dimensionado por técnico
Equipamento de Proteção habilitado.
Coletiva »» Funcionamento adequado, manutenção periódica e acionamento pelo funcionário quando em
atividade.
»» Equipamento dimensionado por técnico qualificado, com certificado de aprovação.

Equipamento de Proteção »» Procedimentos específicos para higienização, guarda, manutenção e substituição dos EPI.
Individual »» Controle de uso dos EPI nos locais de trabalho.
»» Controle de qualidade e validade dos EPI.

Fonte: próprio autor.

68
Para (não) Finalizar

O incremento do setor produtivo no Brasil aponta para uma crescente demanda por
engenheiros de segurança.

Nesse contexto, o negócio de construção civil, demanda inicial do profissional de


engenharia de segurança, tem sido ampliado, haja vista as empresas cada vez mais
entenderem que a gestão dos riscos inerentes ao seu processo produtivo cria uma
equação positiva financeiramente para a empresa, aumentando sua competitividade
frente ao mercado interno e externo, principalmente quando comparado aos produtos
vindos da China.

O papel do engenheiro de segurança teve uma percepção durante muito tempo de um


profissional descartável, que existia no quadro das empresas somente para cumprir
determinante legal, tanto o é que na publicação do Regime Jurídico Único dos Servidores
Públicos Civis Federais, esse profissional foi excluído, assim como a necessidade de se
estabelecer um serviço especializado de segurança e Medicina do Trabalho (SESMT).
Tal visão tem mudado fortemente, apresentando uma demanda cada vez maior por
parte das empresas para esse profissional, haja vista consolidar a imagem de que o
engenheiro de segurança ultrapassa as suas responsabilidades frente à legislação
vigente, atuando de forma efetiva na melhoria dos processos e condições de trabalho,
aumentando a competitividade da empresa.

Enfim, espera-se essa disciplina tenha contribuído para a comunidade de segurança


ocupacional, com empreendedores interessados em investir no ramo de construção
civil e, consequentemente, com o desenvolvimento do setor imobiliário do Brasil.

69
Referências

ANDREOTTO, Elifas. Retrato do Brasil. Rio de Janeiro: Editora Política. vol. IV,
1984,

BUSCHINELLI, José Tarcísio P. Isto é trabalho de gente? Petrópolis: Vozes Ltda.,


1993. p. 672.

CARVALHO, Hilário Veiga; SAGRE, Marco. Medicina social e do trabalho. São


Paulo: Mcgraw Hill do Brasil Ltda, 1977. p. 376.

INFANTE, Ricardo. La Calidad del Empleo. Editora OIT, 1999. p. 264.

IVONE Vieira, Sebastião. Manual de saúde e segurança do trabalho. 2ª ed. São


Paulo: Editora LTr, 2008.

LIBBY, Douglas Cole. Transformação e trabalho. São Paulo: Brasiliense, 1988.


p. 404.

MORAES, Vinícius de. Operário em Construção. 6ª ed. Rio de Janeiro: Nova


Fronteira, 1983. p. 112.

OLIVEIRA-ALBUQUERQUE, P. R. Do Exótico ao Esotérico: uma sistematização da


saúde do trabalhador. 1ª ed. São Paulo: Editora LTr, 2011.

______. NTEP e FAP: Novo olhar sobre a saúde do trabalhador. 2ª ed. São
Paulo: Editora LTr, 2010.

RAMAZZINI, Bernardino. As doenças dos trabalhadores. São Paulo: Fundacentro,


2000. p. 325.

TOLEDO, Flávio de. Recursos Humanos, crises e mudanças. São Paulo: Atlas,
1986. p. 110.

70
Anexo

Formulário de avaliação ambiental qualitativa


HOLOAMBIENTE:

MACROAMBIENTE:

NOME DO ORGÃO:

AVALIADORES:

RESPONSÁVEL DA INSTITUIÇÃO:

E-MAIL:

ENDEREÇO:

TELEFONE:

ÁREA TOTAL:

QUANT. DE MESO:

Valor1
ACESSIBILIDADE
0 -10
AC 01 Estacionamento

AC 02 Calçadas

AC 03 Recepção

AC 04 Elevadores

AC 05 Rampas/corredores/escadas

AC 06 Telefones

AC 07 Bebedouros

AC 08 Posto de Trabalho

AC 09 Banheiros

AC 10 Aparelhos Sanitários

AC 11 Vestiários

ÍNDICE DE CONDIÇÃO AMBIENTAL


ACESSIBILIDADE
ICA-AC2 = SOMA [(AC 01 a AC 11) / 11] x 10

71
anexos

Valor1
EDIFICAÇÃO
0 –10
ED 01 Escadas/rampas/corredores
ED 02 Elevadores
ED 03 Subestação e gerador
ED 04 Quadro elétrico
ED 05 Serviços de limpeza/jardinagem
ED 06 Vigilância
ED 07 SESMT
ED 08 CIPA
ÍNDICE DE CONDIÇÃO AMBIENTAL
EDIFICAÇÃO
ICA-ED2 = SOMA [(ED 01 a ED 08) / 8] x 10

Valo1
MEIO AMBIENTE DO TRABALHO
0 –10
MAT 01 Sistema de ar-condicionado
MAT 02 Qualidade da água
MAT 03 Bebedouros
MAT 04 Sanitários
MAT 05 Esgotos sanitários
MAT 06 Refeitórios
MAT 07 Vestiários
MAT 08 Resíduos sólidos
ÍNDICE DE CONDIÇÃO AMBIENTAL
MEIO AMBIENTE DO TRABALHO
ICA-MAT2 = SOMA [(MAT 01 a MAT 08) / 8] x 10

Valor1
SISTEMA DE PROTEÇÃO CONTRA INCÊNDIO
0 –10
SPI 01 Brigada de incêndio
SPI 02 Combustíveis inflamáveis
SPI 03 Sistema de alarme e chuveiros automáticos
SPI 04 Hidrante de rua
SPI 05 Hidrantes internos
SPI 06 Sistema de extintores
SPI 07 Sistemas de emergência
ÍNDICE DE CONDIÇÃO AMBIENTAL
SISTEMA DE PROTEÇÃO CONTRA INCÊNDIO
ICA-SPI2 = SOMA [(SPI 01 a SPI 07) / 7] x 10

72
anexos

ÍNDICE DE CONDIÇÃO AMBIENTAL MACRO AMBIENTE


ICA-MA = SOMA (ICA-AC+ICA-ED+ICA-MAT+ICA-SPI) / 4

HOLOAMBIENTE:
MACROAMBIENTE:
LOCAL:
MICROAMBIENTE:

RF – RISCOS FÍSICOS Valor1 RGI3


RF 01 Ruído contínuo

RF 02 Ruído de impacto
RF 03 Temperatura extrema – calor
RF 04 Temperatura extrema – frio
RF 05 Umidade
RF 06 Vibração
RF 07 Pressão anormal
RF 08 Radiação ionizante
RF 09 Radiação não ionizante
ÍNDICE DE CONDIÇÃO AMBIENTAL
RISCOS FÍSICOS
ICA-RF2 = SOMA [(RF 01 a RF 09) / 9] x 10

RQ – RISCOS QUÍMICOS Valor1 RGI3


RQ 01
RQ 02
RQ 03
RQ 04
RQ 05
RQ 06
RQ 07
RQ 08
RQ 09
ÍNDICE DE CONDIÇÃO AMBIENTAL
RISCOS QUÍMICOS
ICA-RQ2 = SOMA [(RQ 01 a RQ 09 / 9] x 10

73
anexos

RE – RISCOS ERGONÔMICOS
Valor1
E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
RE 01 Ventilação
RE 02 Iluminação
RE 03 Conforto térmico
RE 04 Conforto acústico
RE 05 Organização do trabalho
RE 06 Ginástica laboral
RE 07 Manipulação de peso
RE 08 Mesa
RE 09 Cadeira
RE 10 Computador
RE 11 Posto de trabalho
ÍNDICE DE CONDIÇÃO AMBIENTAL
RISCOS ERGONÔMICOS
ICA-RE2 = SOMA [(RE 1 a RE 11) / 11] x 10

RM – RISCOS MECÂNICOS Valor1 RGI3


RM 01 Choque elétrico em máquinas e equipamentos
RM 02 Choque elétrico em instalações
RM 03 Choque mecânico
RM 04 Queda em mesmo nível
RM 05 Queda em níveis diferentes
RM 06 Acidente de trânsito
RM 07 Materiais perfurocortantes
RM 08 Superfícies/Materiais em temperaturas extremas
RM 09 Máquinas
RM 10 Ferramentas
RM 11 Animais peçonhentos
RM 12 Rota de fuga
RM 13 Incêndio
RM 14 Explosão
RM 15 Equipamento de proteção individual
ÍNDICE DE CONDIÇÃO AMBIENTAL
RISCOS MECÂNICOS
ICA-RM2 = SOMA [(RM 1 a RM 15) / 15] x 10

74
anexos

ÍNDICE DE CONDIÇÃO AMBIENTAL MICROAMBIENTE


ICA-MI = SOMA (ICARF+ICARQ+ICARB+ICARE+ICARM) / 5

RELAÇÃO DO TRABALHADOR COM O AMBIENTE


QUESTÕES ABERTAS
QA 01 CONTROLE DE ACESSO
Obs:

QA 02 PROGRAMA DE MANUTENÇÃO
Obs:

QA 03 TREINAMENTO DE SEGURANÇA
Obs:

QA 04 PLANO DE ABANDONO
Obs:

QA 05 EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL


Obs:

QA 06 ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA A ACIDENTADOS


Obs:

ÍNDICE DE CONDIÇÃO AMBIENTAL


RELAÇÃO TRABALHADOR
ICA-RT = SOMA [(QA 01 a QA 06) / 6] x 10

1. NOTA – Deve ser um valor numérico entre 0,0 e 10,0.


2. ICA – Média aritmética dos itens com valores atribuídos pelo avaliador.
3. RGI – Ocorrência de risco grave e iminente.

75

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