Laboratório de Pesquisa em Relações Internacionais – Lapri V Prof.ª Tatiana Maranhão 1º Semestre de 2011 Catarina Rodrigues Duleba RA: 200910938
Comentário do Filme Gran Torino
Em “O Pronome Perigoso”, Richard Sennett define conceitos como
comunidade, dependência, confiança e o uso do pronome “nós” no capitalismo flexível. A partir do texto, é possível relacioná-lo com o filme “Gran Torino” e a história de seu personagem principal, Walt Kowalski, interpretado por Clint Eastwood. Kowalski é um veterano da Guerra da Coreia que vê com antipatia como sua vizinhança mudou, desprezando os vizinhos imigrantes hmong. Ele também tem problemas com a família que se acentuaram com a morte de sua esposa. Ao decorrer do filme, começa a aceitar as diferenças, se aproxima dos vizinhos e passa a defendê-los das gangues do bairro.
Para Sennett, o uso dos “nós” e o desejo de comunidade se tornaram
um recurso de defesa, sendo muitas vezes revelados na rejeição a imigrantes e outros grupos marginalizados. No filme de Clint Eastwood, há uma relação de comunidade de defesa na rejeição aos grupos de diferentes etnias no bairro. Do mesmo modo, podemos ver no filme, gangues formadas por esses grupos como a formada por mexicanos e a formada pelos hmong.
Há também no texto, uma definição de dependência que é entendida
por vergonhosa para a nova ordem. No regime neoliberal, pretende-se flexibilizar a hierarquia burocrática e há um ataque ao estado assistencial. Segundo o autor, essa vergonha da dependência leva a um enfraquecimento da confiança que abala as relações sociais. Em “Gran Torino”, Kowalski é desconfiado dos outros e não gosta de assumir sua dependência, aliás, rejeita qualquer ajuda de seus vizinhos e do padre. Por outro lado, os vizinhos sentem-se na obrigação de ajudá-lo, como forma de retribuição, após o garoto Thao ter tentado furtar seu carro e após Kowalski ter defendido o bairro de uma gangue, assim como é apresentado no conceito de necessidade mútua. A independência e autonomia são exaltadas e os laços sociais enfraquecidos, como pôde ser visto com os familiares de Kowalski que pouco se preocupam uns com os outros. Cada um se preocupa com suas próprias necessidades, de forma individual. Sennett ainda usa o argumento de Lewis Coser para dizer que somente há comunidade quando as pessoas enfrentam suas diferenças com o tempo, assim como o personagem principal da trama de Clint Eastwood aceitou seus vizinhos e se aproximou dos irmãos Sue e Thao e assim, passou a defendê-los.
Para o autor do texto, em situação de conflito que se dá a verdadeira
comunidade, de forma que as pessoas articulem e negociem suas diferenças para realmente terem laços fortes, porém o novo regime capitalista dificulta essas relações ao flexibilizar tudo. É preciso pensar em ser responsável e necessário para as outras pessoas para ser digno de confiança. Cada ação diante do outro é importante porque alguém pode contar com você. Entretanto o atual sistema irradia a indiferença e prega que as pessoas podem ser descartadas. No capitalismo flexível essa indiferença é pessoal, o que o torna único. Portanto, essa é a forma que o autor conclui sua definição de “corrosão do caráter”, acrescentando ainda que esse sistema não pode se legitimar por muito tempo já que não oferece motivos para ligações entre as pessoas. Relacionando com o filme, Kowalski levou muito tempo para enfim, se aproximar de seus vizinhos, estabelecendo uma relação de necessidade mútua, confiança e comunidade. Ao contrário das gangues que são formadas por um motivo em comum de seus membros, a relação formada entre Kowalski e seus vizinhos era uma comunidade real em que cada um se tornou responsável pelo outro. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
SENNETT, Richard. A corrosão do caráter. pp 163-176. Rio de Janeiro. Editora