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O homem, no sistema capitalista, convive com uma luta eterna e interna entre a
necessidade e os recursos. A necessidade do homem e infinita, a depender da
situação, política, economia, governo entre outros varia de forma muito
grandiosa, sendo impossível alcançar, dentro de uma mesma sociedade a
satisfação das necessidades de todas as pessoas. E os recursos são finitos,
seja por causa da geografia, que não possibilita a exploração de determinadas
atividades de econômicas, seja por causa da forma de governo, que decide
investir em determinado ramo do mercado financeiro, seja por causa da lei, que
impede determinadas condutas.
2.1 CONCEITO
Antônio Sérgio A. de Moraes Pitombo, citando Nando Lefort, diz que o conceito
de lavagem de dinheiro é, “el lavabo de dinero es la actividad encaminhada a
darle el caráter de legítimos a los bienes produtos de la comisión de delitos, los
cuales reportan ganâncias a sus autores” (2003, p.35).
Muitos dos conceitos trazidos pela doutrina atual nacional e estrangeira sobre
lavagem de dinheiro, se limitam a falar apenas sobre os meios em que podem
ser ”lavados” o dinheiro, incidindo assim tal delito, e que a origem deste
dinheiro deve ser ilícita. O conceito traz uma dúvida aos aplicadores do direito,
sendo a incerteza de quando está iniciado o processo de execução do crime de
lavagem de dinheiro?.
Existe uma dificuldade em diferenciar a ocultação ou dissimulação “inocente”
(aquela feita sem conhecimento da origem ilícita do bem ou valor) daquela com
vistas a atingir o escopo da lavagem de dinheiro.
Portanto é muito simples alguém que incidir neste crime grave que é o de
lavagem de dinheiro sem saber, já que é necessário somente que se comprove
a materialidade do crime antecedente para incidir o delito de lavagem de
capitais.
2.2 HISTÓRICO
Após este passo inicial dado pela Convenção de Viena de 1988, no tocante ao
tratamento do crime de lavagem de dinheiro, conforme diz Neydja Maria Dias
de Morais (2007, p.3) outras constituições mundiais, como por exemplo a da
Alemanha, Espanha, Portugal, Brasil, Bélgica, França, Itália, México, Suíça e
Estados Unidos, se sucederam no tratamento do crime de lavagem de dinheiro,
dando cada uma delas um rol de crimes antecedentes que achava adequado,
delitos estes classificados em de primeira, segunda e terceira geração.
Diante disso as primeiras regulamentações sobre o tema fora feitas pelo Banco
Central do Brasil.
Em 1996, também o Banco Central do Brasil, editou Circular nº. 2677, a qual
regulava as movimentações de ingresso ou saída de recursos do país feitas em
favor ou por instituições financeiras estrangeiras e a obrigatoriedade da
identificação rígida das pessoas da transação e da origem do dinheiro quando
a movimentação era feita em valores iguais ou superiores a dez mil reais.
Este início de combate à lavagem de dinheiro adveio de que “Em 1994, graças
à estabilidade monetária, trazida pelo Plano Real afirma-se que ocorreu
aumento de interesse por lavar dinheiro no território
brasileiro.”(PITOMBO,2003,p.53), e:
Ainda com a Lei 10.701/2003, tentou-se mudar a redação do inciso VII deste
diploma legal colocando o tráfico de órgãos humanos ou pessoas como delito
prévio ao crime de lavagem de dinheiro, porem foi vetada esta mudança,
segundo Antônio Sergio Pitombo (2003) “O veto, portanto, fundou-se no
evidente erro de numeração do texto aprovado”.
Existem quatro teorias que tratam sobre qual é o bem jurídico tutelado pelo
crime de lavagem de dinheiro.
A primeira teoria que diz que o crime de lavagem de dinheiro tutela o bem do
delito antecedente é criticada porque se assim fosse estaríamos admitindo que
o delito antecedente não seria capaz de tutelar o seu objeto de forma
autônoma necessitando de uma outra legislação criminal, que seria a Lei
9.613/98, para tutelar o seu objeto de forma completa.
Esta primeira teoria é defendida por Silvia Bagacigalupo e Miguel Bajo, estes
citados por Marcia Monassi Mougenot Bonfim e Edilson Mougenot Bonfim,
dizendo que:
Sobre a teoria que diz que o bem jurídico tutelado na lavagem de dinheiro é a
Administração da Justiça, Antonio A. De Moraes Pitombo, citando José de Faria
Costa,diz que:
A quarta teoria diz que a ordem econômica, artigo 170 da Constituição Federal,
é o bem jurídico tutelado pela lavagem de dinheiro, sendo esta a mais plausível
de se entender e a qual nos filiamos, porque neste delito são utilizados os
meios legais postos pelo ordenamento para a utilização pela população de
forma legal para se “lavar” dinheiro alem de ferir vários princípios do direito
constitucional econômico, como por exemplo, da livre iniciativa, concorrência
leal e propriedade privada.
Eros Roberto Grau (2004, p.179-180) diz que a ordem econômica trazida pela
Constituição Federal de 1988 é composta por princípios os quais organizam e
dão as diretrizes das condutas econômicas, quais sejam, por exemplo, a
dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre
iniciativa, a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, a garantia do
desenvolvimento nacional, a erradicação da pobreza e da marginalização e a
redução das desigualdades sociais e regionais, a livre associação profissional
ou sindical, a propriedade e a sua função social, a livre concorrência.
Marco Antônio de Barros (1998 p. 4-5) diz que a lei de lavagem de dinheiro tem
como grande escopo garantir a segurança do sistema econômico-financeiro e
suas operações transações e outras formas de movimentar a economia.
Ainda nestes termos, para William Terra de Oliveira (1998), citado por Ana
Karina Viviani em artigo publicado na Internet em 2004, a ordem
socioeconômica seria:
2.4 ETAPAS
Celso Sanchez Vilardi, (2004, p.17), que também tem o entendimento de que é
na fase de ocultação do crime de lavagem de dinheiro que se busca distanciar
o bem, direito ou valor da fonte criminosa para depois disto integrá-lo no
sistema econômico-financeiro.
São exemplos de ações com o fim de ocultar os bens, uma grande quantidade
de depósitos de dinheiro em quantia as médias ou pequenas em contas
correntes ou poupanças em diversos Bancos.
Antonio Sérgio, A. de Moraes Pitombo, citando Rodolfo Maia Tigre (2003, p.37),
diz que a fase da integração é realizada através da integração dos valores “no
sistema produtivo, por intermédio da criação, aquisição e/ou investimento em
negócios lícitos ou pela simples compra de bens”.
André Luis Callegari, (2005, p.188), afirma que chegando na fase de integração
é muito difícil rastrear a origem dos bens se já não foi feito este trabalho, pois
nesta fase os bens, valores ou patrimônios por terem aparência de lícitos,
obtidos através de operações financeiras legais, não são percebidos como
advindos de crimes antecedentes, portanto bens ilícitos.
Serve como exemplo de ação integrativa de bens ou valores a compra de uma
concessionária de automóveis, de uma imobiliária ou a criação de um lava-jato
ou estacionamento de carros.
Faremos agora uma breve abordagem sobre o tratamento dado por alguns
países europeus ao delito de lavagem de dinheiro.
Segundo Raúl Cervini (1998), há uma distinção, dada pelo legislador Francês,
ás penas aplicadas ao crime de lavagem de dinheiro, a depender do crime
antecedente, caso o crime prévio seja ligado ao narcotráfico, a pena “in
abstrato” será maior e a pena pecuniária menor, entretanto, se o crime primário
não estiver ligado ao tráfico de drogas, a pena “in abstrato” será
“sensiblemente inferior” (1998, p.194).
O legislador italiano ainda traz a novidade de punir tanto aquele que pratica a
lavagem de dinheiro quanto aquele que é receptador dos bens provenientes da
lavagem de dinheiro,
Artículo 25°. Será reprimido con prisión de dos a diez años y multa de
seismil a quinientos australes, el que sin haber tomado parte ni
cooperado en laejecución delos hechos previstos en esta ley,
interviniere en la inversión, venta, pignoración, transferência o cesion
de las ganancias, cosas o bienes provenientes de aquellos, o del
beneficio económico obtenido del delito siempre que hubiese
conocido ese origen o lo hubiera sospechado.
Con la misma pena será reprimido elque comprare, guardare, ocultare
o receptare dichas ganancias,cosas,bienes o beneficios conociendo
su origen o habiéndolo sospechado
A los fines de la aplicación de este artículo no importaráque el hecho
originante de las ganancias,cosas, bienes o beneficios se haya
producido en el territorio extranjero(CERVINI, 1998, p.198).
A Argentina, segundo Raúl Cervini (1998), no artigo 39 do seu Código Penal
estabelece que os valores obtidos com a venda dos bens apreendidos na luta
contra a lavagem de dinheiro,serão utilizados na luta contra o tráfico de drogas
e ao consumo de drogas ou substâncias análogas.Este aspecto da lei
Argentina e cabível de aplausos pois tenta acabar com o maior gerador de
bens a serem lavados que o tráfico de drogas e ainda busca cuidar da parcela
da população que foi “vítima” dos efeitos devastadores das drogas no ser
humano.
Importante relembrar que a Lei 9.613/98 não está atualmente com seu texto
originário pois, esta já foi reformada ou modificada outras vezes como por
exemplo pela lei n°10.7683/03 e 10.701/03, sendo que estas mudanças não
serão as ultimas pois sendo este crime de enorme incidência e é grande a
evolução nas formas de execução, devido ao Capitalismo exacerbado e da
Globalização em que vivemos, se faz necessário sempre uma atualização ou
adequação da lei à realidade econômica que vive a sociedade brasileira.
A Lei 9.613/98 ainda trouxe em seu bojo o rito procedimental a ser adotado nos
crimes de lavagem de dinheiro, como se observa dos artigos 2° a 6° daquele
diploma legal.
O que achamos que seria mais certo, que o legislador não previu, era existir a
conexão entre os processos de lavagem de dinheiro, sendo o juiz competente
para o crime antecedente o mesmo para o delito de lavagem de dinheiro.
Uma vez existente a conexão entre os processos seria muito mais fácil o
esclarecimento sobre o crime de lavagem de dinheiro e menos provável a
condenação de uma pessoa inocente pelo crime de lavagem de capitais.
CONCLUSAO
O delito da lavagem de dinheiro por ser um crime que tutela o bem jurídico da
ordem econômica é classificado como um delito do Direito Penal Econômico.