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Uma República de Letras

Eu não dei crédito à notícia que participei a VS, ainda que as que vêm
por semelhantes subterrâneos são as mais certas, e suponho esta com a
mesma qualidade.

Carta de Dom Luís da Cunha a Marco Antônio de Azevedo, 5 de


junho de 1736.1

2.1. Iluminismo: ideias que viajam

“Mas qual se pode desejar mais sublime matéria para compor uma História que
os sucessos e as ações da nossa Republica das Letras?”2 – se perguntava o Marquês de
Abrantes na censura que redigiu para o livro que contava os primeiros anos da História
da Academia Real da História Portuguesa, composto, em 1726, por Manoel Telles da
Silva, Marquês de Alegrete. Com efeito, a criação da Academia da História, por Dom
João V, em dezembro de 1720, foi momento singular no processo de formação e
consolidação de um grupo de intelectuais3 que se reunia em torno do monarca e nele
encontrava seu principal mecenas.4 Nesse sentido, a Academia era sintoma evidente da
formação em Portugal de uma República de Letras de viés iluminista. Mas como se
caracterizava essa República de Letras, quem eram seus componentes, como eles se
articulavam entre si, com o estado e com o monarca e como podemos afirmar que
possuíam uma visão iluminista do mundo?
Diderot, ao redigir o verbete sobre os philosophes para a Enciclopédia, afirma
que a República de Letras aspira uma igualdade entre os escritores e os grandes do
reino.5 O termo república abarcava exatamente esse sentimento de igualdade a que os
homens de letras almejavam. D’Alembert, secretário perpétuo da Academia Francesa de
Belas Letras, reconhecia que a sociedade de Antigo Regime era desigual por natureza,
mas o espaço das Academias seria o locus que nivelaria aqueles cuja glória estava
fundada no talento aos oriundos da nobreza de sangue. “A igualdade acadêmica, da qual
todos os nossos confrades se mostram invejosos, não é apenas uma simples prerrogativa
da Academia Francesa, mas um dos fundamentos essenciais da sua constituição”.6
De um lado, as academias seriam lugar de ascensão dos homens de letras,
equiparando-os aos grandes do estado. Segundo D’Alembert “não somente a Academia
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precisa dos escritores de distinção em todos os gêneros da Literatura, ela precisa mais e
sempre, segundo os mesmos princípios, de membros de distinção por seu nascimento e
graduação”.7 Por outro lado, elas eram também espaço de distinção, distinguindo, desta
feita, os homens de talento, verdadeiramente esclarecidos, dos homens ordinários,
valorizando o mérito e a capacidade dos que contribuíam para o engrandecimento do
Estado.8 Por isso aos acadêmicos “é indispensável que [...] tenham entre as classes uma
distinção marcada, que [...] a virtu e os talentos serão os únicos direitos à nossa
verdadeira homenagem”.9
A junção dos escritores de talento com a nobreza de gosto assentados nas
academias, estas patrocinadas pelos monarcas, formaria um espaço de opinião pública.
Mas esse não era um fenômeno exclusivamente francês. Tal qual na Academia de Belas
Letras Francesa, e de forma bastante precoce, a criação da Academia da História
Portuguesa aglutinava e dava visibilidade ao processo de transformação cultural, sob
viés iluminista, que ocorria em Portugal. Ali configurava-se uma elite intelectual,
composta em grande parte de nobres de nascimento, mas não só,10 que se imiscuía no
Estado, colocando sua capacidade a seu serviço, usufruindo de privilégios e que, ao
mesmo tempo, promovia sua própria ascensão social.
Voltaire destacou que a República de Letras era uma invenção europeia, e não
apenas parisiense, e as academias que pipocavam mais ou menos por todas as cortes
conectavam essas elites inteligentes. Na Era de Luís XIV:

Viu-se estabelecida imperceptivelmente na Europa uma república literária [...],


apesar das guerras e das diferentes religiões. Todas as ciências, as artes, portanto
recebiam assistência mútua dessa maneira; as academias formaram esta república.
[...] Eruditos autênticos em cada campo estreitavam os vínculos desta grande
sociedade de mentes, espalhada por toda parte e por toda parte independente. Esta
correspondência ainda permanece; é uma das consolações para os males que a
ambição e a política disseminam através da terra.11

Apesar dos savants da época, tal qual Voltaire, compartilharem da percepção do


iluminismo como um fenômeno continental, e do espaço das academias como lócus de
intercâmbio dessa sociabilidade, inúmeros debates sobre o universo cultural da época
nos diversos espaços nacionais europeus são, ainda hoje, aguerridos e inflamados. Os
impasses que os historiadores freqüentemente encontram nas análises sobre a cultura
desse período da História Portuguesa se devem em certa medida a pelo menos quatro
fatores principais. Em primeiro lugar, ainda que o termo iluminismo tenha sido
inicialmente cunhado pelos próprios filósofos franceses no século XVIII, e “a idéia de

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‘o Iluminismo’ como um objeto histórico claramente identificado [ser] uma invenção
moderna”,12 a definição do que hoje se considera iluminismo foi consolidada muito
posteriormente, já no século XX. Ou seja, é a partir do conhecimento dos fatos tal qual
ocorreram e se desdobraram no passado que grande parte dos historiadores analisa a
História enquanto um processo que adquire coerência a partir do futuro, ou seja, analisa-
se a história de frente para trás. O grande problema desse tipo de análise metodológica é
que se define um modelo ideal do fenômeno e constrói-se a análise histórica a partir dos
fatos posteriores, os quais passam a conferir inteligibilidade ao que aconteceu
anteriormente, e o que parece não se encaixar perfeitamente neste modelo sequencial de
acontecimentos, o que aparentemente seria o caso da cultura portuguesa do século
XVIII, é visto como exceção, como desvio da regra. Ao invés de se compreender a
História na corrente dos acontecimentos, adota-se o procedimento inverso, o que torna a
abordagem marcada por um viés tautológico, determinista e linear.
Em segundo lugar, resultante dessa visão determinista de História, a maioria das
interpretações sobre o iluminismo se caracteriza por definir o conceito apenas a partir de
sua configuração pós-Revolução Francesa, quando sua feição anti-monárquica e anti-
católica se tornou efetivamente hegemônica na França revolucionária. Nessa medida,
esquece-se que o iluminismo nasceu como instrumento do Estado Absolutista e teve nos
monarcas, como foi o caso de Luís XV ou de Dom João V, seus principais
incentivadores. A Academia Francesa, como a Portuguesa, sob proteção de seus
monarcas, “favorecia os sagazes sábios e os indubitáveis do Governo em favor do
progresso das Luzes”.13 Como revelam as falas de Diderot e D’Alembert no início desse
capítulo, até a Revolução, e mesmo em seus períodos iniciais, os iluministas franceses,
como os portugueses, defendiam não a abolição da monarquia, mas a ascensão dos
intelectuais e dos homens de letras junto aos grandes, como reconhecimento de sua
capacidade intelectual colocada a serviço do Estado monárquico.14
A terceira premissa decorre das duas primeiras e é o caráter
francocêntrico das análises sobre o iluminismo europeu, por aqueles que defendem que
o mesmo foi um fenômeno quase que exclusivamente francês. Para Robert Darnton, o
iluminismo “foi um fenômeno histórico concreto, que pode ser situado no tempo e
circunscrito no espaço: Paris na primeira parte do século XVIII”.15 Esse tipo de análise
costuma diferenciar a cultura francesa e, por extensão, a dos países anglo-saxões – que
se moderniza pelo impacto da razão – e a dos países ibéricos – que permanece imersa no
misticismo que seria característico da religião católica, particularmente sob o impacto

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da inquisição.16 Parte-se aqui novamente de modelos ideais, caracterizados por cortes
binários da realidade: moderno-atrasado; bom-mal; luz-sombra, e que não se sustentam
a uma análise mais detida dos processos históricos ocorridos nessas duas macro-
regiões.17 Da mesma forma, tomam-se os desdobramentos da história francesa (vistos de
frente para trás) como o modelo ideal para examinar os acontecimentos nos diversos
países, vistos então sempre como desviantes ou incompletos.
Em quarto lugar, destaca-se a concepção, já presente na própria elite intelectual
portuguesa da segunda metade do século XVIII e incorporada por boa parte da
historiografia, de que a cultura portuguesa encontrava-se até então mergulhada na
escuridão, engessada pela inquisição, pelo arcaísmo da nobreza e pelo misticismo da
igreja católica. Como nos mostra Ângela Barreto Xavier, ao contrário do que
usualmente se acredita, a Segunda Escolástica não era avessa à inovação18 e grande
parte dessa crença deriva do próprio discurso iluminista, caracterizado pela leitura da
realidade sob signos binários, tais como moderno-arcaico ou progresso-atraso. Ora,
fazia parte do próprio repertório iluminista a utilização da metáfora da luz e da sombra,
que apregoava que somente um novo conhecimento baseado na razão, como uma luz,
tendia a se espalhar e a iluminar a todos, afastando as trevas em que a cultura estivera
mergulhada até então, o que não necessariamente correspondia a realidade dos
acontecimentos.19 Esse tipo de abordagem acaba por imprimir um viés evolucionista às
análises sobre a cultura e a ciência ocidental, agravado no caso das nações ibéricas.
A junção de todas essas premissas acabou por situar o iluminismo português,
quando esse é reconhecido como existente, como uma derivação, ou mesmo um desvio
de sua fonte original francesa, por isso mesmo incompleto e inacabado. Essa ideia não é
exclusiva das análises sobre Portugal, mas se estende (com raras exceções) à maioria
dos estudos sobre outras regiões hoje consideradas periféricas do centro anglo-francês,
como a Espanha, as Américas ou mesmo a Escócia.20 Jorge Cañizares-Esguerra, ao se
debruçar sobre o iluminismo das colônias hispânicas afirma que o que tem caracterizado
estas análises é a insistência em medir em que grau as ideias de uma matriz iluminista
original foram mais ou menos aceitas ou rejeitadas por uma minoritária elite local.21
Este tipo de procedimento metodológico negligencia um aspecto central da
epistemologia iluminista que é a criação de um novo método de produção do
conhecimento. O que aproxima as redes de filósofos iluministas é mais o
compartilhamento da mesma razão epistemológica, do que do conteúdo do

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conhecimento em si. Ainda de acordo com o autor, no caso da história, este novo
método teria se desenvolvido primeiro nas Américas em detrimento da Europa.22
Entre os que aceitam falar de um Iluminismo português, este teria ocorrido
somente a partir da segunda metade do século XVIII, sendo hegemonizado pela figura
do Marquês de Pombal, a par com a elite por ele promovida, e se configuraria nas
transformações então encetadas em Portugal – reforma da universidade, do ensino,
racionalização da burocracia, reforma da economia, etc. Ou seja, a “vertente”
portuguesa do iluminismo teria por natureza uma feição estatal, tardia, considerada
como um desvio da matriz revolucionária original francesa, por isso paradoxal, e que
passou a ser denominada Despotismo Esclarecido.23
Mas afinal, o que constitui o iluminismo? Porque ainda é válido utiliza-lo como
uma ferramenta de análise? O termo originou-se na França, cunhado por um grupo de
filósofos que, como Voltaire, articulava um movimento intelectual caracterizado pelo
uso da razão e que buscava a ascensão dos intelectuais na sociedade hierárquica do
Antigo Regime. No entanto, razão e empiria, em maior e menor grau, sempre haviam
guiado a busca do conhecimento, pois, desde o que chamamos de Renascimento, o
pensamento ocidental se baseava na ideia de que uma razão divina era inerente à criação
e que caberia aos savants desvendar o livro da natureza para revelá-la. O que havia de
novo é que, pela primeira vez, estes philosophes formavam um movimento, buscavam
trocar seus conhecimentos por ascensão social e formaram o embrião de uma esfera
pública de opinião:

O philosophe era um novo tipo social, que hoje conhecemos como intelectual. Ele
pretendia colocar suas idéias em uso, persuadir, propagar e transformar o mundo ao
redor. [...] Representavam uma nova força na história, homens de letras agindo em
conjunto e com autonomia considerável para impor um programa. Eles forjaram
uma identidade coletiva.24

Ao partir destes elementos como constituintes do iluminismo, percebe-se que,


bem ao contrário do que usualmente se afirma, o reinado de Dom João V (1706-1750)
em Portugal já era caracterizado por um ambiente cultural par a par com o que foi
denominado de iluminismo pelos indivíduos a ele contemporâneos e com feições muito
próximas ao que ocorria na França e em vários países da Europa à mesma época. A
ascensão dos intelectuais/escritores/filósofos/letrados de talento25 como uma força nova,
agindo em grupo; a valorização do espírito; a criação de um mercado de letras; a
aproximação entre os intelectuais, os grandes e o estado; a formação de uma opinião

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pública; a proliferação das academias; a articulação de um mecenato régio e a cooptação
dos intelectuais para o serviço do estado monárquico são, entre outros, fenômenos que
podem ser observados, em Portugal, já na primeira metade do século XVIII. Esses
philosophes, bem ao gosto do espírito das Luzes buscavam a construção de uma
Filosofia Mecânica, caracterizada pelo uso da razão, do espírito crítico e do
experimentalismo, como sistema capaz de transformar o entendimento humano,
distanciando-o do dogmatismo que acusavam ser até então dominante. Buscavam
também a construção de uma nomenclatura universal capaz de classificar e sistematizar
o mundo natural. A ampla circulação de livros, o trânsito de intelectuais portugueses
pela Europa e vice-versa, bem como a articulação das redes de intelectuais dos diversos
países europeus propiciaram que, na época, a sociabilidade cultural do continente e
mesmo do além-mar, nas Américas, se configurasse sob patamares muito mais
próximos do que se poderia esperar.
Isto não significa, como alerta Jorge Cañizares-Esguerra, partir do pressuposto
que existiria apenas um único iluminismo que viajasse entre os diferentes espaços,
sendo desvirtuado em maior ou menor grau à medida que se distanciava de seu centro
irradiador.26 Aceitar a ideia de um iluminismo como um movimento com abrangência
geográfica ampliada exige alterar a forma de analisá-lo. Significa pensar um movimento
com inúmeros núcleos e expandindo-se em múltiplas direções, abolindo as noções
tradicionais de centro e periferia, não existindo um único centro difusor. São ideias que
viajam por meio das conexões estabelecidas entre as elites de letras e que são traduzidas
de diferentes formas nos espaços diversos. “O Iluminismo era nacional e local e
internacional”.27 Dessa forma, observa-se que ele é um só e são muitos ao mesmo
tempo. O que identifica o iluminismo é o fato de que elites intelectuais em diferentes
locais, conectadas entre si, e ao mesmo tempo, partilhem da ideia que constroem um
novo método de compreensão do mundo, forjando uma identidade coletiva. Este novo
conhecimento é então produzido nos mais diversos espaços de forma concomitante e é a
comunicação entre essas redes de philosophes, geograficamente distanciados, que
permite que estas ideias circulem em diferentes direções. É um conhecimento em
movimento que circula continuamente e que se inova e se altera à medida que se
movimenta.
Como nos alerta Serge Gruzinski, “como conceber as circulações e as ligações
entre os mundos e as histórias múltiplas quando o eurocentrismo, se é que este não é o
provincianismo, disputa o gosto pelo exotismo e o primitivismo para entravar ou

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parasitar a leitura dos circuitos não europeus”?28 Responder a esta questão exige uma
nova abordagem metodológica do iluminismo que nos permite, por exemplo, apreender
que os centros difusores do conhecimento nem sempre foram os usualmente
estabelecidos, ainda que uma História da Ciência sob moldes tradicionais insista num
modelo evolucionista e franco-anglocêntrico de difusão. Como exemplos: em 1735, o
cirurgião–barbeiro Luís Gomes Ferreira publica em seu livro de medicina, Erário
Mineral, uma receita havia alguns anos desenvolvida empiricamente na Bahia por João
Cardoso de Miranda para a cura do escorbuto, constituída de verduras e frutas frescas
ricas em vitamina C, e hoje se atribui ao inglês James Lind, em 1747, a cura do mal. Em
3 de agosto de 1709, em frente de Dom João V e da corte portuguesa, o padre
Bartolomeu de Gusmão, um philosophe iluminista, partilhando das novas concepções
físico-mecânicas de ciência, foi capaz de, pela primeira vez, perante a uma audiência
extasiada, fazer voar um artefato mais pesado que o ar, e hoje se credita esta descoberta
aos irmãos franceses Joseph Michel e Jacques Étienne Montgolfier, que, em 1783,
usaram o mesmo princípio.29
Ao partir dessa ideia de um modelo multicêntrico de difusão de ideias
iluministas, esse capítulo discute os espaços de atuação de uma República de Letras
portuguesa e a inserção desses philosophes no aparelho de estado, o que muitas vezes
podia ocorrer de forma aparentemente contraditória. Também pretende apontar para
algumas das articulações entre esses intelectuais portugueses e uma rede europeia mais
ampla de savants iluministas, com o intuito de questionar os circuitos tradicionais de
movimento do saber à época.

2.2. Espaços de uma República de Letras

. A viagem

A articulação entre os integrantes dessa República de Letras portuguesa deu-se


de forma mundializada,30 pois o espaço do império português onde eles se encontravam
– em caráter permanente ou transitório – era um espaço global, estendendo-se pelas
quatro partes do mundo. Eram homens que se caracterizaram também por sua abertura e
trânsito intelectual com o mundo europeu e que tinham na viagem o principal
mecanismo do aprendizado e de formação de um conhecimento capaz de contribuir para
o desenvolvimento político, econômico e intelectual do reino.31 O ofício da diplomacia

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constituía-se numa viagem permanente e Dom Luís da Cunho foi exemplar no sentido
de absorver tudo que o mundo extra-Portugal pôde lhe fornecer em termos de cultura e
informação, elaborando-as num conhecimento que pudesse ser útil à modernização da
pátria natal.
A importância das viagens como forma de acesso a um conhecimento que
instrumentalizasse e servisse ao poder pode ser visto no manuscrito, intitulado O
Peregrino Instruído, escrito por Dom Manuel Caetano de Sousa, durante o primeiro
quartel do reinado de Dom João V.32 Grande idealizador da Academia da História
Portuguesa, Dom Manuel Caetano de Sousa realizou, em 1710, um amplo périplo por
algumas cidades italianas, entre elas Roma e Florença, onde se relacionou com os
intelectuais residentes, visitou livrarias e academias, pesquisou manuscritos e teve
acesso a novos instrumentos, como telescópios e microscópios.33 Sua viagem serviu
certamente de inspiração para a confecção do manuscrito dO Peregrino Instruído, que
se constitui num roteiro formulado a partir de 212 questões que deveriam ser observadas
e respondidas por “aqueles que, por meio das viagens, querem conhecer utilmente o
mundo”. O texto foi escrito por encomenda de Dom João V, “por ocasião que esteve por
ir incógnito ver as Cortes estrangeiras”,34 mas deveria servir de orientação para “todo
viajante que desejava se tornar um Peregrino Instruído”. Além de inventariar um rol de
perguntas que deveriam ser respondidas para melhor observar e conhecer o mundo, o
autor também sugeria as formas de conseguir as informações necessárias. Segundo ele,
o viajante curioso deveria colher as notícias gerais nos caminhos e estalagens; observar
diretamente cada lugar; conferir as informações nos livros e, por fim, buscar os homens
mais noticiosos do lugar. O manuscrito “reflete, sem dúvida, uma tentativa de
padronizar o levantamento de informações das diferentes regiões do mundo, sugerindo
aos viajantes ‘os meios mais fáceis para adquirir o conhecimento de todas as coisas’”.35
O grand tour europeu fazia parte da educação não só das elites portuguesas mas
de todas as redes de intelectuais iluministas das mais diferentes cortes europeias. Desde
o século XVI, com ápice no setecentos, passou a ser parte integrante da educação ideal
da jovem elite nobiliárquica dos mais diferentes países. “Ele preenchia funções culturais
importantes com os viajantes trazendo obras de arte ou contribuindo para espalhar
novos gostos e interesses culturais”.36 Locais como a Grécia e Itália eram paradas
obrigatórias para apreciar as antiguidades greco-romanas; os Países Baixos eram centros
importantes de produção de arte com um novo gosto naturalista; Paris com seus salões,
suas academias, sua vida mundana era outro ponto de referência; Londres atraía pelos

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seus “progresso tecnológico e signos de modernidade”;37 Portugal e Espanha eram
portas abertas para o Novo Mundo com as caravelas que aportavam trazendo plantas,
animais, objetos e mesmo gentes nunca antes observados, motivo de êxtase e
curiosidade. O grand tour era, antes de tudo, uma atividade cosmopolita e os viajantes
buscavam as cidades, lugares que congregavam uma nova sociabilidade intelectual, e
tinham um desprezo pelo campo, visto como lugar monótono e desinteressante.38
O francês Marie Gabriel Choiseul-Gouffier depois de fazer sua viagem pitoresca
pela Grécia, deixou registradas em um livro suas impressões. Viagem e livro tornavam-
se fontes de aprendizado não só para ele como para seus leitores. No Discurso
preliminar, adverte que deixou Paris para visitar a Grécia para satisfazer sua paixão
juvenil para conhecer os lugares onde os célebres da antiguidade haviam vivido. Mas a
viagem não deveria ser realizada apenas por curiosidade ou puro prazer, deveria se
transformar em fonte de conhecimento, por isso aproveitou para “acrescentar algumas
observações àquelas dos viajantes que me haviam precedido, de escapar a qualquer de
seus equívocos, de reformar alguns erros de geografia”.39 Movido pelo prazer de
percorrer “esta ilustre e bela região” que tinha conhecido pelos livros de Homero e de
Heródoto, não pôde deixar de registrar que era um privilégio “contemplar os lugares
mesmos que haviam sido teatro [...] dos mais célebres acontecimentos desses séculos
remotos”.40
Choiseul-Gouffier reconhecia que “tudo era fonte de uma nova sensação, [...]
mas depois desses primeiros instantes de ilusão”, não tardaria a perceber que tinha
motivos para muitos arrependimentos. Bem cedo se deu conta que não reunia os
conhecimentos necessários “para tirar de minha viagem uma utilidade real”.
Lamentava-se de ter feito a viagem muito jovem, quando sua bagagem intelectual ainda
era limitada, o que comprometeria a qualidade de suas análises e o impacto das suas
observações quando fossem transformados em livro. Consternado queixava-se:

Eu senti tudo o que me faltava para tirar de minha viagem uma utilidade real, e que
iria aumentar o interesse por mim mesmo, eu senti que ela tinha falhado em
acrescentar algo aos conhecimentos ordinários sobre a história grega,
desconhecimentos maiores ainda sobre suas antiguidades, sobre as diferentes partes
da física e da história natural e, sobretudo, no que diz respeito ao ponto de vista
necessário para bem julgar o estado político e civil de uma nação.41

Assim, se a viagem era fonte de conhecimento, para que ela fosse proveitosa o
savant deveria dispor de informações prévias, estar bem preparado para direcionar seu
olhar e saber inquirir sobre a realidade observada. Daí o cuidado de preparar estes

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manuais que conformassem uma pedagogia do olhar do viajante. Não foi apenas Dom
Manuel Caetano de Sousa que cuidou de preparar um texto para direcionar o viajante
curioso em sua peregrinação e transformar o périplo europeu em conhecimento. O
Mercure de France publicou em sua edição de setembro de 1721 um opúsculo
intitulado Instruções necessárias aos viajantes, para fazerem suas observações com
uma dedicatória aos comerciantes e aos missionários que se encontram nos países
estrangeiros e que podem fazer serviços consideráveis à Geografia. O autor procurava
sistematizar um conjunto de regras para guiar a observação do viajante sobre a
geografia do lugar, já que, segundo ele, a maior parte dos livros “que dita[m] as regras
pra aqueles que viajam para os países estrangeiros” têm se concentrado em organizar as
que dizem respeito à história natural, moral e política e o objetivo do texto era focar na
produção de um conhecimento geográfico. Para tanto, o viajante já deveria ter algumas
noções de geografia, desenho e astronomia, mas deveria tomar alguns cuidados, como o
de percorrer o trajeto com um guia ou uma caravana experimentados no caminho, que
também lhe ajudassem a inquirir e conhecer as curiosidades do lugar. Deveria ainda
tomar as medidas dos pontos visitados, aproveitando-se das melhores horas do dia;
traçar em um mapa das rotas e caminhos disponíveis; informar-se exatamente das
distâncias; tomar as medidas de latitude e longitude valendo-se dos instrumentos
adequados, etc.42 A cartografia era elemento afeito ao grand tour. Fosse como fonte de
informação para orientar na escolha do roteiro e no deslocamento do savant pelo
território, fosse como um produto final da viagem, os mapas estavam sempre presentes.
“O grand tour funcionaria como uma ‘escola final’, onde os nobres bem
educados (a flexão de gênero é normalmente empregada) deveriam polir suas
habilidades sociais e – com sorte - intelectuais à medida que viajavam pela Europa”.43
Mas, entre os nobres, eram exatamente os grandes príncipes e mesmos os reis os que
mais almejavam instruir-se viajando pela Europa. Muitos, por segurança, ou para evitar
o cerimonial extremamente complicado e dispendioso, viajavam incógnitos, encobertos
por pseudônimos. Assim foi que em 1715, Dom João V começou, “segundo as gazetas
nos querem persuadir [...], [a ter] a curiosidade de ver as cortes estrangeiras”.44 Mas a
viagem acabou não ocorrendo devido ao aparato extremamente complexo que ela
exigia. Bem sucedida foi a visita do czar Pedro o grande à França e Inglaterra, onde em
Londres, entre várias modernidades, pôde visitar um navio que estava sendo construído
no Tamisa.45

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A importância do périplo europeu para a formação intelectual dos membros
dessa República de Letras portuguesa pode ser vista a partir da trajetória de vários deles.
Os sócios da Academia de História, ao elegerem o 2º. Conde de Assumar, Dom João de
Almeida, como seu integrante, deixam bastante claro a associação entre a viagem e a
formação cultural. Foram fatores que concorreram para que fosse eleito por
unanimidade “as repetidas viagens que tem feito o senhor Conde dentro e fora da
Europa; a sua freqüente aplicação; o exercício da eloqüência no maior de todos os
empregos, que é o de uma embaixada pela representação e pelo teatro o tem dado a
conhecer o mundo”.46
Outro caso em que a viagem desempenhou papel fulcral foi o de Martinho de
Mendonça Pina e Proença, tutor do infante Dom Manuel (irmão mais novo do rei),
governador interino das Minas Gerais, membro da Academia Portuguesa de História e
do Conselho Ultramarino. A viagem abriu-lhe as portas do saber, mas também grangeou
sua ascensão social. Em 1715, Martinho de Mendonça deixou Portugal e começou “seu
giro pela Europa, visitando a Espanha e a Itália, servindo no exército austríaco contra os
turcos e percorrendo a Alemanha e a França”.47 Mas não se tratou apenas de se destacar
como homem de armas, mas principalmente como homem de letras. Alguns anos
depois, ele mesmo fez um resumo de sua experiência europeia: “saí de Portugal, e
vagando por quase toda a Europa, de caminho procurei alcançar alguma notícia dos
sistemas mais modernos, tive ocasião de conversar em Saxônia com Wolfio,48 e em
Holanda com o S’Gravesande,49 cujas conferências me deram alguma luz dos
engenhosos sistemas e princípios de Leibniz e Newton”.50 Por meio do contato com os
savants nas principais universidades europeias, Martinho de Mendonça se familiarizava
com o saber mais moderno ali produzido e fazia do seu périplo europeu, como
recomendava o manuscrito dO Peregrino Instruído, uma fonte de conhecimento.
Mas, uma vez no estrangeiro, esses viajantes portugueses não apenas adquiriam
saber para si próprios, como também compartilhavam suas ideias e seu aprendizado
com outros intelectuais. Para isso articulavam-se à elite de compatriotas ilustrados,
residentes ou em trânsito pelos países da Europa por onde passavam, formando redes de
interesse, opinião e clientela. Essas redes se articulavam no estrangeiro principalmente a
partir do contato com os que ocupavam postos na diplomacia, pois estes abrigavam e
auxiliavam os que chegavam para o giro europeu. Os contatos estabelecidos por
Martinho de Mendonça durante sua viagem são ilustrativos da constituição dessas redes
de sociabilidade das quais ele vai se servir pelo resto de sua vida. Vejamos:

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No mesmo ano de 1715 em que ele deixava Portugal, o infante Dom Manuel,
irmão mais novo de Dom João V, contra a vontade do rei, seguia destino semelhante:
partia do reino em direção aos Países Baixos, manifestando a mesma vontade de “girar
pelas ‘cortes estrangeiras’, a cursar ‘o mundo polido’, para se aperfeiçoar nas suas
escolas, onde tantos homens se fizeram grandes”.51 Buscava dessa forma conhecer o
mundo, mas também demonstrar sua bravura no combate aos turcos. Junto com o
infante, seguia o filho do Conde de Tarouca. O Conde era embaixador português junto
aos Estados Gerais (Países Baixos), juntamente com Dom Luís da Cunha. Uma vez na
Europa, os destinos do infante, de Dom Luís e de Martinho de Mendonça se cruzaram
várias vezes. Depois de viajar pela Espanha e Itália, Martinho de Mendonça visitou a
Áustria e a Hungria e, em 1717, destacou-se com bravura na batalha de Belgrado, que
infringiu importante derrota ao exército turco, dedicando seu desempenho a Dom
Manuel, que lutava na mesma campanha e que acabou ferido gravemente.52 Para se
recuperar de seus ferimentos, em 1718, o infante foi para Haia,53 tendo sido recebido
pelo Conde de Tarouca e por Dom Luís da Cunha. Ali chegou pela mesma época
Martinho de Mendonça, e os dois embaixadores o encarregam de servir Dom Manuel,
ministrando-lhe aulas de matemática e outras ciências.54
A partir do círculo social dos dois embaixadores, do infante, e sob a proteção de
Tomás da Silva Teles, com quem também lutara em Belgrado, Martinho de Mendonça,
de retorno a Portugal, inseriu-se na rede que, a partir do Marquês de Abrantes,
conectava uma série de homens dessa República de Letras. Assim, em 1719, apresenta-
se perante o rei, em presença “dos marqueses de Abrantes e de Alegrete, do Conde da
Ericeira, dos Padres Gonzaga e Oliveira e de Alexandre de Gusmão”, mostrando seus
vastos conhecimentos. Sua apresentação brilhante rendeu-lhe a designação para
organizar a Biblioteca Real, juntamente com o cardeal da Mota e o Conde da Ericeira.
A organização de uma volumosa biblioteca durante o reinado de Dom João V
refletia o mecenato intelectual dispensado pelo rei e buscava demonstrar publicamente a
importância que o monarca dedicava ao conhecimento e a cultura. A biblioteca deveria
equipar a elite pensante portuguesa não só com as obras clássicas, mas com o que de
melhor e mais moderno estivesse sendo publicado tanto em Portugal, quanto no
exterior. Essa tarefa aglutinou parte significativa dessa República de Letras. A relação
intrínseca entre o monarca, os acadêmicos e a biblioteca para a conformação desse
projeto esclarecido para o reino aparece claramente no discurso com que o 2º. Conde de
Assumar aclamou sua eleição: “[os acadêmicos], que com elegantes e judiciosos

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volumes granjeiam a veneração de toda a república literária, consigam a honra de ter
lugar na biblioteca de Sua Majestade, que admiramos nova maravilha da real
magnificência, não só pelo crescido número de volumes, mas pela primorosa
singularidade da escolha, nascida da [Sua] alta compreensão e erudição vastíssima”.55
Em Portugal, os marqueses de Abrantes e de Alegrete, o Conde da Ericeira, o padre
Bartolomeu de Gusmão, o cardeal da Mota e Martinho de Mendonça redigiam as
extensas listas de obras a serem adquiridas. Nas diversas cortes europeias, os
diplomatas, como Dom Luís da Cunha, José da Cunha Brochado, Sebastião José de
Carvalho, o futuro Marquês de Pombal, entre outros, se dedicavam à compra dos
mesmos. Dessa forma, apesar de distantes espacialmente, ao contribuírem para a
formação da biblioteca real, por meio de troca de correspondências, compartilhavam
gostos, leituras e opiniões.
De volta a Portugal, o conhecimento adquirido no estrangeiro deveria, então, ser
colocado a serviço do estado. Não bastava adquirir livros no exterior, mas produzir um
novo conhecimento a partir dessa nova praxis intelectual vivenciada pelos portugueses
tanto no reino quanto no além-mar. “Migração sempre envolve modificação. [...] Não há
ciência sem tais questões de tradução ou deslocamento”.56 Martinho de Mendonça, por
exemplo, não só se dedicou à organização da Biblioteca Real, mas também publicou
obras de sua autoria, nas quais divulgava as novas teorias de que tomara conhecimento
em seu périplo europeu. Nos Apontamentos para a educação de um menino nobre,
publicado em 1733, propunha todo um novo programa de aprendizado para as novas
gerações, par a par com o pensamento de Locke.57 O livro era quase um decalque do
livro desse filósofo inglês – a questão da autoria adquiria outros significados na época –,
que intitulava-se Some thoughts concerning education, publicado em 1693, e que reunia
um conjunto de cartas escritas sobre o tema, que Locke escrevera quando esteve na
Holanda, entre 1684-1689.58 A par com as ideias divulgadas nesse livro, Martinho de
Mendonça propunha uma nova filosofia de ensino aos jovens nobres em Portugal.
Insurgia-se contra a Escolástica e, entre vários aspectos, propunha uma educação
realista, dividida em três áreas principais – a educação física, a moral e a intelectual – e
baseada na instrução de valores morais, como a virtude, a prudência e a honra.
Mas a viagem, além de mecanismo de aprendizagem, possuía ainda outra
vertente e era seu aspecto pragmático, importante para aqueles que se preparavam para a
governança do império. Assim, além de viajar pela Europa era necessário que esses
homens ocupassem cargos na administração. A carreira diplomática era uma das

89
possibilidades abertas, outra era a administração do além-mar com os muitos cargos e
postos disponíveis. O desempenho de cargos administrativos era também mecanismo
essencial na promoção social, pois o serviço do rei era intercambiado por mercês e
novas patentes. A diplomacia e administração do império serviam assim para a escala
aos cargos mais elevados da administração no reino. Novamente tomemos o exemplo
paradigmático de Martinho de Mendonça. Em 1733, foi designado comissário régio no
Brasil, mais particularmente nas Minas Gerais, no momento em que a Coroa se
defrontava com a super-produção das minas diamantíferas e discutia a substituição do
imposto do Quinto pela Capitação. Em ambas as questões, Martinho de Mendonça vai
desempenhar importante papel:
Os diamantes foram oficialmente descobertos em 1729. Na ocasião, a Coroa
abriu a exploração diamantina aos particulares em troca do pagamento de um imposto
de capitação, cobrado anualmente sobre os escravos empregados nas lavras. Porém, nos
anos iniciais, esse sistema gerou um excesso de produção e, sensíveis à oferta em
excesso, os diamantes viram seus preços despencarem no mercado mundial. Depois de
girar as terras diamantinas, em 1734, Martinho de Mendonça redigiu ao Conde de
Sabugosa um minucioso relato dos fatos relativos ao descobrimento dos diamantes e o
estado atual da região.59 Ancorado nesse relatório, a Coroa decidiu-se pelo fechamento
das lavras, pela interdição da produção dos diamantes, e pela criação da Intendência dos
Diamantes, responsável, a partir de então, pela administração da área.
O imposto da capitação, em substituição ao imposto do Quinto, vinha sendo
discutido pelas autoridades e negociado com as elites mineiras no momento em que
Martinho de Mendonça aportou nas Minas, trazendo uma instrução do rei sobre o
assunto.60 Assistiu em Vila Rica à Junta convocada pelo governador, o Conde das
Galveas, para discutir o tema e impressionou-se vivamente com a resistência dos
mineiros à aplicação do novo imposto. Sobre a questão, escreveu suas Reflexões.61
Apesar de seus alertas, depois de instituída a Capitação, coube a ele confrontar-se com o
movimento que sublevou os sertões da capitania contra o imposto, pois, na ocasião,
ocupava o cargo de governador interino, na ausência do então governador, Gomes
Freire de Andrade.
A administração do além-mar servia assim de laboratório de aprendizagem para
essa elite governante em ascensão. Após seu retorno ao reino, em 1738, Martinho de
Mendonça foi nomeado para o Conselho Ultramarino. Tratava-se, claro, de uma graça
régia, que o recompensava por seus serviços no Brasil, mas tratava-se também de

90
cooptá-lo para as altas esferas da administração, aproveitando-se de sua experiência
governativa no ultramar. Uma vez no Conselho do Ultramar, Martinho de Mendonça
participou ativamente com seus pareceres das grandes decisões relativas à administração
do império.62 Outras mercês régias foram-lhe concedidas, como o posto de
desembargador da Casa de Suplicação e Guarda-mor da Torre do Tombo. Se, por um
lado, revelam sua ascensão social, por outro, apontam o reconhecimento, por parte da
Coroa, de sua capacidade intelectual, colocada a serviço do estado.
Ao ocuparem cargos no Conselho de Estado, no Conselho Ultramarino, ou
participarem das Juntas e Conselhos convocados por Dom João V, os integrantes dessa
República de Letras portuguesa, como era o caso de Martinho de Mendonça, se
imiscuíam nas articulações da política, discutindo amplamente, em caráter público, as
questões europeias, do reino e do ultramar. Mas havia espaços de articulação intelectual
e político de caráter privado ou semi-privado, que eram, por exemplo, as Academias
literárias.

. As Academias

As Academias literárias que funcionaram em Portugal, na França e mesmo no


Brasil, entre fins do século XVII e ao longo do século XVIII, foram importantes centros
de convergência desses homens instruídos e locus de troca e de divulgação de suas
ideias.63 Como na França, “o homem de letras não existe fora das instituições que se
objetivam em um espaço social. Sua atividade depende dos aparelhos culturais do
Estado e de todas as redes da sociedade civil (salões, círculos, academias)”.64 Não por
acaso, Dom Luís da Cunha participou das duas maiores academias que funcionaram em
Portugal por essa época: a Academia dos Generosos e a Academia Real da História
Portuguesa, surgida a partir da primeira.
A Academia dos Generosos foi fundada, em 1647, entre outros, pelo pai de Dom
Luís da Cunha – Dom António Álvares da Cunha –, pelo Conde de Tarouca, pelo 4º.
Conde da Ericeira e pelo Conde de Vila Maior, depois 1o. Marquês de Alegrete, Manuel
Teles da Silva. Durante sua existência, ficou sediada na casa de Dom Antônio Álvares
da Cunha e exerceu importante influência no espírito de Dom Luís.65 A Academia
funcionou inicialmente até 1668, quando suas atividades foram temporariamente
paralisadas. Em sua segunda fase, entre 1693-1696, Dom Luís da Cunha desempenhou
importante papel, que contribuiu para o seu sucesso durante os 3 anos seguintes. Em

91
1696, sua partida para Londres, como embaixador, fez com que os seus trabalhos
fossem interrompidos de forma permanente.66 Essa primeira Academia lançou as bases
de articulação dessa República de Letras na primeira metade do século XVIII e as
sociabilidades e as amizades ali estabelecidas foram invocadas por esses homens ao
longo de toda a sua vida. Como os demais membros, foi a partir da Academia dos
Generosos que Dom Luís da Cunha teceu as principais conexões sociais que manteve
em Portugal, mesmo residindo no exterior durante todo o resto de sua existência.67
A Real Academia da História foi fundada por Dom João V, em 1720, e
congregou os grandes expoentes da administração e da intelectualidade portuguesa da
época.68 Criada por sugestão de Manuel Caetano de Sousa, depois de seu périplo
europeu, teve entre seus primeiros sócios, entre outros, o Conde da Ericeira, Martinho
de Mendonça Pina e Proença, o padre Bartolomeu de Gusmão, Diogo Barbosa
Machado, o Marquês de Alegrete e o Conde de Vilarmaior, que foi seu primeiro
secretário.69 Com sua criação, os antigos partícipes da Academia dos Generosos
juntaram-se a ela. Por indicação régia, em 1723, Dom Luís da Cunha se tornou membro,
na qualidade de supranumerário.70 Os sócios supranumerários eram aqueles não
residentes em Lisboa e, dessa forma, a elite intelectual da capital se conectava com os
residentes no interior do país e também no exterior, como era o caso dos diplomatas.
A criação dessa Academia serviu aos propósitos dessa elite pensante de
formulação de um novo conhecimento, que deveria ser construído segundo as regras do
método cartesiano. A submissão estrita às regras metodológicas conferiria a esse
conhecimento um estatuto científico. Segundo esse método, o texto histórico a ser
produzido pelos membros da instituição deveria ser precedido de uma investigação
rigorosa. As fontes históricas encontradas seriam em seguida submetidas à crítica,
segundo esse novo método.71 Era uma história afeita ao poder e, por isso mesmo, era
sobretudo uma história administrativa. Dessas duas perspectivas – a preocupação com
as fontes e o viés administrativo – decorria a necessidade de recolha e organização dos
documentos a serem utilizados, que eram principalmente os oficiais, produzidos pelo
próprio poder. Não por acaso, o papel de guarda-mor da Torre do Tombo foi confiado,
em momentos diferentes, a Dom Antônio Álvares da Cunha, pai de Dom Luís da
Cunha, e a Martinho de Mendonça Pina e Proença. Dom Antônio esperava que Dom
Luís o sucedesse e, por isso, em sua juventude, ministrava-lhe o preparo intelectual que
o cargo exigia, segundo a nova metodologia nascida nas Academias, o que acabou não
acontecendo. São palavras de Dom Luís: “a Torre do Tombo ficou sem se acabar de

92
reformar, ainda que me dizem que depois se pôs na ordem que meu pai havia começado
esta obra e a tinha adiantado, de que fui testemunha, porque queria que o acompanhasse
e me instruísse na esperança de que lhe sucederia na continuação dessa reforma”.72
Como homens cultos, o texto produzido pelos acadêmicos deveria seguir as
regras do bom discurso, utilizando uma linguagem clara e objetiva.73 Essa preocupação
com o método e com a clareza da forma, segundo as novas regras do discurso histórico
estabelecido nas Academias, manifesta-se, por exemplo, na carta que Dom Luis da
Cunha escreveu a Diogo de Mendonça Corte Real, na qual pedia, em 1714, que
entregasse ao rei um de seus escritos. Tratava-se do primeiro volume de suas Memórias
sobre a Paz de Utrecht:

Dou a este meu trabalho o título de memórias porque de nenhuma maneira cuidei
em fazer História. E ainda que cuidasse sempre seria o mesmo, porque não basta
ter eu má tintura das suas regras para as seguir e saber executar com acerto [...].
Não pude observar nem a pureza nem a frase do nosso idioma; porque faltando-me
já com o pouco uso para o que escrevo ainda me fica sendo mais difícil achar
termos próprios para o que traduzo sem lhe fazer perder alguma parte do seu
verdadeiro sentido; e por isso me ajustei mais a letra do que apurei a composição.74

O embaixador cumpria, por meio de vários escritos de caráter histórico-político,


no seio dos quais as Memórias sobre a Paz de Utrecht têm lugar especial, o papel
destinado a essa República de Letras, em especial aos sócios da Academia da História,
na construção de um conhecimento moderno, a ser disponibilizado ao serviço de estado.
“O poder desses intelectuais repousa enfim sobre sua convicção de produzirem
história”.75 Mas a que produziam não visava apenas desvendar o passado, pois tinha a
missão de instruir os príncipes em sua ação no devir histórico. Esse importante papel na
formação dos monarcas esclarecidos que deveria ser destinado aos acadêmicos-
historiadores é acentuado por Dom Luís da Cunha no discurso escrito quando de sua
posse na Academia:

O estudo, que fazem da antiguidade, dando-lhes experiência de todos os tempos, os


habilita, para que entre eles escolha Sua Majestade um sujeito digno de ter cuidado
da educação do Príncipe nosso Senhor, pois sendo tão versados na arte de louvar os
Heróis, parece que também devem saber melhor que os outros o modo de forma-
los.76

Apesar da falsa modéstia do embaixador, de tratarem-se de simples memórias


pessoais, o texto das Memórias sobre a Paz de Utrecht, compostas de vários volumes
que o ocuparam por muitos anos, como deveria se esperar de um acadêmico, seguia as
novas regras do discurso histórico. Além da análise histórico-política, a obra era

93
acompanhada de extenso suplemento, onde constavam as traduções das fontes
utilizadas, a saber os “Tratados, com notas Genealógicas, Históricas e Geográficas”.77
Os embaixadores portugueses, como era o caso de Dom Luís da Cunha, eram
espectadores privilegiados desse “teatro do mundo” e, por isso mesmo, constantemente
afeitos à produção de textos reflexivos sobre os acontecimentos que lhes eram
contemporâneos. Era uma História eminentemente política, que deveria reconstituir os
acontecimentos do passado, mas também instruir a Coroa em sua ação futura. José da
Cunha Brochado, nas Memórias particulares ou anedotas da Corte de França, no
tempo que serviu como enviado naquela corte, escritas entre 1696 e 1702, apontava
como uma das importantes virtudes dos embaixadores, além de “grande desembaraço,
muita atenção, grande sagacidade com muita dissimulação, um semblante de muitas
caras e um aparato com tanto artifício que sirva a todos os gênios”, a “muita erudição de
História Moderna”.78 Brochado, como era de se esperar, também foi sócio da Real
Academia da História, tendo sido seu primeiro diretor.79 Dom Luís da Cunha se refere
aos embaixadores em termos muito semelhantes. Para ele, “os Embaixadores (se são
como devem ser, e não como eu sou) têm justamente a obrigação de serem uns
Jornaleiros Historiadores dos sucessos presentes, necessitando de os combinar com os
passados, para poderem formar o seu juízo sobre os futuros”.80 Observa-se aí a missão
messiânica da História, de projetar para o futuro a ação dos homens presentes, à luz do
ensinamento dos do passado.
Mas, esse novo conhecimento não deveria ser produzido apenas de forma
individual, mas de maneira coletiva, o que tornava a Academia um espaço privilegiado
de intercâmbio de ideias e de sociabilidade. “A Academia é instituída sob o signo da
comunicação, o que implicava um ideal de colaboração que condena o trabalho
solitário”.81 Seus sócios, por meio da instituição, ainda que distanciados espacialmente,
estavam conectados entre si, partilhando e contribuindo para a produção de um novo
conhecimento, ligados seja sob a forma de sócios numerários, ou supranumerários,
como era o caso de Dom Luís da Cunha. Mas essa produção de um conhecimento
coletivo não significava que não houvesse diferenças ou divergências nos discursos dos
acadêmicos, ou que a instituição fosse monolítica.82 Ao contrário, o debate era a
essência de um conhecimento de viés ilustrado.
Uma outra dimensão importante era o aspecto institucional da História a ser
produzida. Essa dimensão era consoante com o projeto a que denominamos iluminista,
de produção de um conhecimento a serviço do estado e, servia à promoção dos

94
intelectuais dessa República de Letras junto aos grandes. Era um processo coevo ao que,
por essa época, ocorria na França. Por isso, as ligações da Academia com o rei eram
estreitas: ele era o fundador e o grande mecenas da instituição, o conhecimento
produzido era destinado ao seu engrandecimento e ao da nação e, por fim, cabia a ele,
distribuir as graças e mercês régias em troca do conhecimento produzido. É novamente
nas palavras de Dom Luís da Cunha, dirigidas a Diogo de Mendonça Corte Real,
quando enviou para Portugal, aos cuidados do último, a primeira parte das Memórias
sobre a Paz de Utrecht, que podemos observar essa transitividade entre o conhecimento
produzido por esses homens de letras e o poder régio:

Senhor meu: atrevo-me a pedir a Vossa Senhoria que, pelas suas mãos, suba às de
Sua Majestade, que Deus guarde, a primeira parte das minhas memórias que
encerram uma concisa notícia da causa e acontecimentos da ultima guerra. [...]
Cansei-me na brevidade, sem faltar conforme me parece ao essencial do que
conduzia ao meu intento, que é de oferecer a El Rei Nosso Senhor mais que os
simples tratados, convenções e outros papéis que ajunto em volume separado,
segundo os tempos que se fizeram. [...] Até o fim dela continuarei da mesma forma
as ditas memórias quando Vossa Senhoria me segure de que Sua Majestade se
dignou de lhe pôr os olhos.83

É também nas palavras do embaixador que podemos perceber o outro lado dessa
simbiose: a dependência dos homens de letras ao mecenato régio que garantia sua
promoção social, mas, em muitos casos, sua própria sobrevivência. Em 1727, Francisco
Mendes de Góes, antigo funcionário de Dom Luís desde sua embaixada na Inglaterra e
seu dileto amigo,84 cansado dos meandros da carreira diplomática, resolveu abandoná-
la, no momento em que era indicado agente de Portugal em França. Sobre sua decisão,
que aos olhos do embaixador pareceu um ato tresloucado, Dom Luís inquiriu-lhe: “que
diabo de flato lhe deu para pedir licença no tempo em que el Rei lhe faz a maior
confiança? Ser philosopho é muito bom; mas não ter que comer é muitas vezes mau”.85
Grande parte do cotidiano de Dom Luís da Cunha era dispendido na produção de
textos que demonstravam o seu domínio sobre a História Moderna, como era esperado
de um membro da Academia, especialmente sendo embaixador. Como os demais
partícipes de uma República de Letras ilustrada, ele fazia parte de um movimento que
pretendia deixar suas marcas na transformação do mundo. O philosophe era um ser
engajado. Por isso, antes de mais nada, seus textos deveriam projetar para o futuro as
suas ideias sobre a política portuguesa. O culto da escrita, a certeza de possuírem uma
missão civilizadora a ser colocada a serviço do estado, o gosto pela polêmica, a certeza
de terem suas opiniões ouvidas faziam com que esses intelectuais iluministas

95
possuíssem a convicção de que faziam e participavam da História. Mas sua ação “se
situava no devir histórico” e seus conselhos deveriam servir como espelhos dos
príncipes.86

. As correspondências

As amplas distâncias geográficas que separavam espacialmente muitos dos


interlocutores dessa República de Letras não foi impedimento para que eles se
articulassem entre si, intercambiando ideias, projetos, ações. Se o périplo europeu e as
Academias eram momentos e espaços de realização dessa sociabilidade comunitária, a
troca de correspondência era meio ímpar de aproximação desses homens.87 Essa
sociabilidade epistolar pressupõe um espaço europeu de uma República de Letras que
não encontra seus limites no interior dos espaços nacionais.

A correspondência faz desse lugar marginal um centro radiante de uma geografia


deliberadamente fora de toda configuração fronteiriça, política e linguística
habitual. Desse fato, ela desestrutura o espaço político em proveito de um novo
campo de ação onde circulam [...] as formas novas de uma opinião pública
européia. [...] Ela se funda sobre uma constelação de indivíduos detentores de
idéias e de noções, elas mesmas sempre em movimento na troca de
correspondências.88

Uma das principais distinções entre a figura do embaixador na época moderna


da de seus predecessores da Idade Média é o fato de que uma das suas importantes
funções, ao lado da representação, era a de dar informações.89 “O sistema da diplomacia
residente se estrutura justamente como um instrumento de informação, e a primeira
tarefa de um enviado é exatamente o domínio das cortes, dos soberanos e dos estados
estrangeiros em todos os seus aspectos”.90 Os diplomatas eram hábeis na arte da
informação e eram capazes de manipular toda uma rede que incluía espiões, ministros
das cortes estrangeiras, especialmente os encarregados dos assuntos estrangeiros, outros
diplomatas, e quem mais pudesse servir ao propósito de penetrar nos assuntos das cortes
onde servissem. É toda uma linguagem da diplomacia que se constrói, caracterizada
pelo serviço do rei e pelo amplo domínio nos mistérios da outra corte,91 que se revela na
imensa produção epistolar destes agentes.
Dom Luís da Cunha enfatiza o importante papel de suas cartas para que no reino
se soubesse o que se passava no teatro do mundo europeu, especialmente nas questões
de política. Revela a complementaridade do sistema de correspondência em relação às
gazetas, outro importante veículo de circulação de informações à época, que será

96
analisado adiante. As correspondências do século XVIII apresentavam essa faceta semi-
privada e semi-pública, e, por meio delas circulavam “determinadas ideias dentro de um
pequeno círculo da corte”,92 pretendendo seu missivista que tais opiniões repercutissem
no rei. Ao saber que Dom João V mostrava suas cartas ao Conde da Ericeira, Dom Luís
diz com modéstia que “nelas faço por mais que ser gazeteiro”,93 revelando que não se
tratava apenas de informar, mas também de formar opiniões.
Uma gazeta portuguesa manuscrita noticiava de forma queixosa, em 1732, que
“ninguém sabe a causa porque Dom Luís da Cunha há muitos meses não escreve sobre
os negócios de Holanda”. A falta de notícias do embaixador impedia que se soubesse o
que se passava sobre os importantes assuntos que o embaixador estava negociando junto
aos Estados Gerais de interesse vital para Portugal, tais como “um tratado provisional
sobre o comércio da Costa da Mina, [a que] os holandeses propuseram por três anos”.
Sem as cartas do embaixador o autor da gazeta só dispunha de boatos sobre como era
conduzida a negociação, afirmando que “dizem que se aceitou”.94
A ampla e farta correspondência epistolar de Dom Luís da Cunha é exemplo
paradigmático da importância desse sistema para o serviço diplomático, onde
informações iam e vinham, muitas vezes em linguagem cifrada.95 Serviam para conexão
e o estabelecimento de redes de influência e interesse entre esses indivíduos,
freqüentemente distanciados espacialmente, o que não os impedia de estabelecerem
laços comuns.96 “Esta escritura [diplomática] é um affaire de especialistas, quase uma
literatura”.97 Numa carta de Dom Luís da Cunha, nessa época embaixador em Bruxelas,
a Francisco Mendes de Góis, secretário da embaixada em Londres, ele aponta a
importância da correspondência para a aproximação desses homens: “Torno a dizer, que
já que nos não podemos ver sem me arriscar a que seja muito de passagem, que tome
uma hora para me dizer [por escrito] tudo o que pensa pró e contra” sobre o assunto
(referia-se è entrada ou não de Portugal no congresso de paz que se estabelecia para
resolver os conflitos entre os Bourbon e os Habsburgos sobre questões dinásticas e
territoriais, ocorridas especialmente na Polônia, Itália e Áustria).98 É preciso deixar
claro, porém, que esses homens não constituíam um grupo fechado ou homogêneo, mas
estabeleciam-se entre eles várias clivagens e mesmo embates.
A lista de correspondentes de Dom Luís da Cunha é longa e diversificada e
abarca um espaço geográfico amplo. Primeiramente, há a correspondência oficial,
estabelecida, antes de mais ninguém, com o próprio rei. Devido à sua importância
simbólica, o embaixador guardou cuidadosamente em “um maço, coberto de grosso

97
papel pardo, atado e selado com as [suas] armas”, as “cartas d’el Rei assinadas da sua
real mão” a ele dirigidas.99 Em seguida vinham as trocadas com o secretário dos
Negócios Estrangeiros que estivesse em serviço. Mas muitas vezes, principalmente
como era o caso de Marco Antônio de Azevedo, seu dileto amigo, as cartas com este
ministro adquiriam caráter privado. Exemplo é a “carta particular para Marco Antônio
de Azevedo Coutinho de 27 de junho de 1746”. Nessas missivas o embaixador falava
mais livremente, deixando claro que as mesmas não adquiriam caráter oficial.100 Havia
ainda as cartas trocadas com os demais diplomatas em serviço nas demais embaixadas
europeias, que também adquiriam esta dupla dimensão oficial e privada, quando se
tratava de alguém mais próximo. Entre os correspondentes deste tipo encontram-se o
Conde de Tarouca, José de Carvalho e Melo, Antônio Ferreira de Andrade
Encerrabodes, Francisco Mendes de Góes, José da Cunha Brochado, Antônio Guedes
Pereira, entre outros. Depois vinham os membros da elite portuguesa, a maioria deles
também seus amigos. Destacam-se o 2º. Conde de Assumar, o Marquês de Abrantes, o
Conde da Ericeira, o Conde das Galveas, o cardeal da Mota, o Visconde de Ponte de
Lima, Alexandre de Gusmão, entre outros. Seguem-se os missivistas seus parentes,
como seu sobrinho Antônio Álvares da Cunha, o monsenhor Luis da Cunha, pois as
cartas eram fundamentais para estabelecer e assegurar os laços familiares.101 Por fim,
embaixadores e autoridades de outras cortes com quem teve contato, sendo que a
maioria deles também acabou entrando em seu círculo privado de amizade. Ali estão o
Conde de Huescar, embaixador espanhol em Paris a partir de 1746; Monsieur Théodory
Chavigny, que foi embaixador francês em Lisboa entre 1740 e 1743;102 o abade Bignon,
que foi bibliotecário do rei e o geógrafo francês D’Anville, entre outros. Havia ainda
correspondentes na Itália, como o cardeal Valenti (Silvio Valenti Gonzaga) e o cardeal
de Nápoles, Giuseppe Spinelli, além dos membros da família Nunes da Costa e Álvaro
da Costa, judeus portugueses emigrados para a Inglaterra e Países Baixos, que
financiavam seus gastos no exterior, mas com quem partilhava laços de amizade.103
Os correspondentes de D’Anville também apresentam essa dimensão
transnacional, sendo a maioria deles geógrafos e savants, e em menor número, mas
também presentes, autoridades francesas e estrangeiras.104 Era o que se esperava de um
intelectual atuante em seu ofício. Alguns deles também se relacionavam com Dom Luís
da Cunha, pois ambos partilhavam em Paris interesses intelectuais comuns, além de se
relacionarem com os círculos sociais em torno da casa de Orleans. (Observa-se que
grande parte da sociabilidade tecida por Dom Luís em Paris girava em torno dos

98
Orleans, simpáticos à Portugal e hostis à Espanha de Felipe V.) Em primeiro lugar,
entre os correspondentes de D’Anville destaca-se o próprio Duque, Luís I, chamado o
Piedoso, de quem foi secretário e dedicou várias de suas obras. Outro dos seus
correspondentes foi René-Louis de Voyer, Marquês d’Argenson. Argenson também
fazia parte do círculo de amizades que Dom Luís conquistou em Paris e, quando esteve
no comando do ministério dos Negócios Estrangeiros, encetou uma aproximação da
França com Portugal. Como D’Anville, fazia parte dos aliados da casa de Orleans.
Homem ilustrado, foi membro da Académie des Incriptions et Belles Lettres, da qual o
geógrafo também fazia parte. Entre seus correspondentes também figura Vergennes que,
mais tarde, foi embaixador dos Negócios Estrangeiros no reinado de Luís XVI, tendo
vivido ainda criança em Lisboa na companhia de seu tio Chavigny, que ali foi
embaixador de França. Chavigny foi outro que partilhou do círculo de amizades tanto de
D’Anville, quanto de Dom Luís da Cunha e do secretário de Estado Marco Antônio de
Azevedo. Entre os embaixadores estrangeiros em Paris, além de Dom Luís, D’Anville
se correspondeu com o embaixador austríaco, a serviço de José II. Mas a maior parte de
seus correspondentes, em diferentes cortes da Europa, eram afeitos ao mundo do
conhecimento, em particular à arte da cartografia. Não se conhece sua lista completa,
mas num inventário de parte de sua correspondência recebida há a referência a um maço
de 25 “cartas diversas dirigidas à D’Anville, a propósito da geografia”; e um outro do
mesmo tamanho de “cartas diversas dirigidas à D’Anville pelos savants, homens de
letras e amadores da geografia”.105 Como se verá, eram conexões importantes não só
para a divulgação de seu trabalho no exterior, mas também para a coleta de informações
e novidades geográficas a serem incorporadas a seus mapas. Entre seus missivistas
figuraram grandes intelectuais de seu tempo, podendo se destacar Voltaire, que foi seu
colega no Colégio das Quatro Nações; Rousseau, que compartilhou com ele e com seu
irmão Gravellot o projeto dos desenhos para sua Nouvelle Heloïse; Delambre, que foi
secretário perpétuo da Academia Francesa; Leclerc de Septchênes que foi tradutor da
História da decadência do império romano, de Gibbon; Montucla, célebre matemático;
o cardeal Passionei, intelectual e bibliotecário do Vaticano; Bougainville, o famoso
viajante do Pacífico que levou mapas de D’Anville para se guiar em sua expedição;
Caussin de Perceval, especialista no oriente, entre vários outros.106
A importância das correspondência para a troca de informações, opiniões e
gostos entre os membros dessa República de Letras pode ser medida na resposta que
Dom Luís da Cunha escreve ao 2º. Conde de Assumar, Dom João de Almeida, seu

99
amigo e correspondente de longa data, que se queixava que na ocasião (1727) recebia
poucas cartas e pouco se inteirava sobre os acontecimentos europeus e sobre as grandes
decisões tomadas nos acordos que se articulavam em Haia, onde importantes interesses
portugueses estavam em jogo. O embaixador, que se encontrava retido em Bruxelas
com problemas de saúde, ressentia-se também pelo fato de estar sendo posto à margem
dos acontecimentos:

Ora meu Senhor, vejo que em uma das suas cartas se queixa Vossa Senhoria do
pouco que diz Guedes e do nada que escreve Tarouca. Eu pudera dizer o mesmo,
acrescentando que também de Galvão nunca mereço correspondência, e só do meu
Diogo Mendonça107 tenho por maior o que em Haia se obra e por outras vias ignoro
o que se passa.108

Dom Luís da Cunha e o Conde de Tarouca, apesar de algumas divergências,109


tornaram-se grandes amigos e colaboradores. A arte da diplomacia era em grande parte
aprendida no desempenho da função, iniciada nos estágios iniciais da carreira. Em
Utrecht, Haia e Paris, Dom Luís trabalhou com Tarouca, mais velho e experimentado,
mas logo se equiparou em status a ele.110 Quando o Conde partiu para a Áustria, em
1725, depois que as relações diplomáticas com a França foram rompidas, ele se separou
de Dom Luís que seguiu para Bruxelas. Ficaram então dois anos sem se escrever até que
este retomou a correspondência em 1728. O velho Conde não pôde deixar de se
regozijar com a carta que continha “várias expressões generosas e ternas” e comentou
que “me fez crer que VExa me guarda ainda aquela amizade que lhe dei sempre”. Por
isso ele afiançou ao amigo que “eu correspondo com o mais fiel carinho”.111 Pouco
depois, sabendo que Dom Luís teria se deslocado para a Haia, onde os dois haviam
residido nos anos do Congresso de Utrecht, Tarouca lhe escreve: “no mesmo instante
senti que se me reluzia no coração a ternura para com VExa., lembrei-me da vida suave
que passei com VExa. nestas Províncias com que ratificamos a nossa antiqüíssima
amizade”.112
Nessa retomada da correspondência, Tarouca113 diz ao amigo que com essas
cartas “me anima explicar-me nelas com mais liberalidade”.114 Aspecto central da
correspondência entre amigos, a liberalidade era a base para um diálogo sincero entre os
savants, o que só enriquecia o debate. A mesma expressão é usada por Dom Luís em
carta ao cardeal da Cunha: “Ora sr., perdoa-me V.Illma., pelo amor de Deus, esta minha
liberdade que é nascida do sincero afeto que lhe professo”.115

100
Dom Luís da Cunha, como afeito aos filósofos iluministas, acreditava que
ocupava um papel especial no seio dessa elite pensante, indispensável para o
estabelecimento de uma nova política para o império, a qual deveria reinserir Portugal
sob novas dimensões no seio da orquestra política europeia. Apesar do embaixador ter
sido considerado à época, e por parte da Historiografia, como um indivíduo nem sempre
a par com os interesses da Coroa, ele frisa em sua correspondência que, ainda que a
primeira vista muitas das ideias por ele propostas pudessem ser vistas como radicais
demais ou mesmo contra os próprios interesses régios, elas visavam sempre o interesse
da nação, materializada na figura do rei. Tal concepção é consoante com os princípios
que os intelectuais europeus pregavam no início do século XVIII, intitulando-se como
iluministas. Essa percepção entre modernização da cultura e serviço do Estado pode ser
apreendida em diversos momentos da sua correspondência. Certa feita escreveu ao
Cardeal da Mota advogando uma reforma da Universidade de Coimbra, “não só no que
respeita a medicina, mas ainda quanto às muitas faculdades”. Defendia a importância
dessa transformação para “ir abrindo os olhos aos que ignoram”, mas segundo os
princípios do “que Sua Majestade quer que saibam”.116
Na carta particular para Marco Antônio de Azevedo Coutinho, já mencionada no
primeiro capítulo, ele expressa novamente esse difícil equilibro entre o que se reconhece
como interesse do rei e o que é visto como nociva heterodoxia. Nessa missiva, Dom
Luís respondia a um pedido de Marco Antônio de Azevedo Coutinho para que o mesmo
pudesse falar sobre um importante e espinhoso assunto com Dom João V e dar-lhe um
conselho como se fosse oriundo de Dom Luís e não de si próprio. Diz Dom Luis:

[...] mas meu filho, se Vossa Excelência e o Eminentíssimo Cardeal da Mota [...],
nesta matéria, acham, como nós aqui julgamos, que é tão inconveniente ao seu real
serviço, não compreendo a razão porque seja necessário servisse de outras luzes
mais que das suas próprias, que serão as que darão mais claridade e com mais
força, porque os objetos de longe nunca parecem tão grandes como de perto; além
de que, se a noticia é através [contra], o amo me terá por impertinente lhe falar no
que ele não quer ouvir, [e] nem Vossa Excelência como os mais se atrevem, pelo
que me parece falar, senão em nome alheio.117

O texto dessa carta nos permite várias reflexões. Em primeiro lugar, é possível
apreender como os diversos assuntos do Estado eram discutidos nestes círculos privados
(“Vossa Excelência e o Eminentíssimo Cardeal da Mota [...], nesta matéria, acham,
como nós aqui julgamos”). A seguir, observa-se como essas opiniões eram
compartilhadas e intercambiadas entre eles por meio da correspondência. Pode-se
também inferir o importante papel que Dom Luís da Cunha ocupava nessas redes de

101
opinião, pois os articulistas garantiam que seus conselhos encontravam ressonância
junto ao rei, por isso invocarem seu nome para abordar um assunto delicado. Não se
pode também perder a dimensão que, mesmo para Dom Luís da Cunha, na época perto
de seus 80 anos, e apesar de seu aparente despreendimento, não era interessante cair em
desgraça ou em má conta junto ao rei (“Não digo isso por temer algum revés da fortuna,
porque não estou já em idade de temer desgraças, nem de esperar fortunas, e somente
cuido em fazer a minha obrigação e esta me persuade a repetir o que deixo dito todas as
vezes que cair apelo, por ser necessário dizer as coisas quando o tempo e a ocasião os
requerem”), o que aponta para o papel primordial que o rei ocupava no seio dessa
República de Letras. A partir do monarca, esses intelectuais se conectavam entre si a
partir de redes hierárquicas. Outra questão a ser considerada é a inclusão do termo luzes,
empregado na carta para se referir aos conselhos de Dom Luís dirigidos ao monarca,
que aponta para o conceito iluminista de que suas ideias, como uma luz, iluminassem e
transformassem o pensamento da época, servindo principalmente como espelhos dos
príncipes.
Interessante observar que é a materialidade das cartas que permite que as
mesmas se tornem fontes para o historiador e que se possa reconstruir grande parte dos
temas tratados, das formas de sociabilidade da época, das normas de escrituração, etc.
No entanto, o conteúdo de uma carta pode nunca ter chegado ao papel, mas ter se
mantido no registro oral. Assim é por exemplo, quando Dom Luís encarrega Alexandre
de Gusmão que passara em Madrid a caminho do reino de informar os ministros do
reino de assuntos secretos, cuja importância impediam que fossem escritos. Da mesma
forma, em 1711, ele escreve ao cardeal da Cunha que “como Manuel de Sequeira é
carta viva, ele vai encarregado de por-me aos pés de VIllma e de lhe significar o meu
sincero respeito (....) e sobre os pontos que de palavra e por escrito mando perguntar
peço a VIllma que [o] ouça”.118
Dom Luís da Cunha era um dos epicentros importantes de uma dessas redes,
como é atestado por vários missivistas. Já no final de sua vida, a longa experiência
acumulada pelo velho embaixador nas diversas Cortes e tratados onde representou os
interesses portugueses era amplamente reconhecida entre os elementos de sua rede
epistolar. Tomas da Silva Teles, visconde de Vila Nova de Cerveira, embaixador em
Madrid, a partir do ano de 1746, revela que grande parte do cotidiano de Dom Luís da
Cunha era ocupado na escritura desses conselhos, fossem na forma epistolar, fossem
como textos políticos:

102
como me não esqueço de que Vossa Excelência ocupa todos os dias, a maior parte
da manhã, em ditar utilíssimas instruções em matérias sempre dignas de atenção,
peço a Vossa Excelência que divirta agora o fio das que ditava, ocupando o tempo
em fazer-me uma instrução tão miúda que me ponha capaz de perceber qual é o
verdadeiro interesse de Portugal na conjuntura presente.119

Mas esse sistema de correspondência não tinha apenas uma via. Noutra missiva
ao 2º. conde de Assumar, Dom Luis deixa claro que a troca de opiniões tinha sempre
dois fluxos, intercambiando-se entre os missivistas. Na ocasião, Dom Luis agradece ao
antigo amigo “as cartas de Vossa Excelência [que] são cheias de justas reflexões sobre
esta [Londres] e a nossa Corte, em que acho uma só diferença: que esta faz o seu
sistema bom ou mal e sabe segui-lo, e a nossa nem o segue nem o faz, e assim é preciso
ter paciência”.120 Para Francisco Mendes de Góis, seu antigo secretário de embaixada,
Dom Luís escreve num tom muito semelhante que, “tome Vossa Mercê meia hora de
tempo para me responder, porque estimarei muito ouvir a sua opinião porque a tenho
muito boa quanto ao juízo que fizer”.121
Grande parte do cotidiano dos embaixadores era despendido na escritura de
cartas. Algumas serviam para manter a Corte informada de suas ações, mas também
sobre a política europeia em geral. Os destinatários, em Portugal, eram os ministros de
Estado e seus conselheiros que se encarregariam de influenciar o rei em suas decisões.
No caminho para Portugal, essas cartas transitavam por várias embaixadas, onde
podiam ser abertas, fazendo com que os embaixadores se informassem do que sucedia
nas outras cortes europeias. Havia ainda as missivas que eram remetidas diretamente a
outros embaixadores, ou a funcionários das embaixadas, além das que se destinavam ao
círculo pessoal e familiar de cada um. A importância desse sistema de troca de
informações para a formulação da política portuguesa pode ser medida quando, em
1725, o Marquês de Abrantes enviou ao cardeal da Mota um conjunto de cartas
recebidas do conde de Tarouca, de Dom Luís da Cunha, de Marco Antônio de Azevedo
Coutinho, de José da Cunha Brochado e de Antônio Guedes Pereira, todos em missões
diplomáticas. Pediu, no entanto, que as mesmas fossem devolvidas com presteza, pois
ele ainda as leria, juntamente com o Marquês da Fronteira, antes que, na tarde seguinte,
todos se encontrassem com o rei para a tomada de decisões.122
A troca de correspondência articulava e aproximava os elos dessa República de
Letras, mas essa não era apenas uma relação horizontal, como parecem sugerir essas
missivas. Originário do rei, o poder que era intercambiado entre esses homens, por meio
dessas cartas, reproduzia-se também em esferas cada vez menores, dispostas

103
hierarquicamente e de forma desigual. Por isso se constituiu um segundo círculo de
mecenato, abaixo do régio, o aristocrático. Os grandes homens de letras do reino,
oriundos da grande nobreza, protegiam e apoiavam aqueles gênios nascidos em berços
menos privilegiados. Dessa maneira, as cartas não eram apenas espaço de troca de
informações e gostos, mas eram fundamentais para garantir a fidelidade entre uns e
outros.

. A diplomacia

A vida diplomática tornou-se ponto importante de formação e sociabilização


dessa República de Letras. Uma vez na Europa esses embaixadores se punham em
contato com as elites intelectuais e políticas locais. Era no interior dessa elite letrada
que se arregimentava os quadros para a diplomacia, assim embaixadores eram homens
inteligentes e, nos congressos e nas cortes estrangeiras, estabeleciam intensa
cordialidade. “O século XVII foi descrito como um tempo de guerras, o XVIII como
uma sucessão de congressos”.123 Foi por excelência o século da diplomacia, aberto com
o Congresso de Utrecht, cujas preliminares ocorreram em Londres em 1711-1712, e que
se desenrolou nos Países Baixos entre 1713 e 1715. Utrecht constituiu um momento de
inflexão. Moldou novas formas de política diplomática e foi a grande escola de uma
geração de diplomatas que praticamente debutaram nesse congresso.124 Vários desses
homens continuaram a se encontrar vida afora nas diversas cortes européias e nos
congressos de paz que se seguiram, sociabilizando entre si e constituindo uma rede
internacional de homens de letras voltados para os negócios exteriores.
Cabia aos embaixadores tanto negociar quanto representar os soberanos ou
príncipes a quem serviam.125 A novidade do século XVIII, é o fato de que a diplomacia
“seja considerada como uma atividade específica, com suas próprias regras, com seus
lugares de definição e seu próprio estatuto ‘disciplinar’ e jurídico”.126 A diplomacia
exigia pois saberes específicos e mesmo, como salienta Dom Luís, uma outra
linguagem. Por isso ele confessa “que quando saí da Relação de Lisboa para vir a
Londres suceder ao visconde de Fonte Arcada, não sabia mais que despachar um feito,
[...] e assim me foi necessário aprender outra língua; e fazer outro estudo”.127 Antes de
tudo, a diplomacia era uma arte. Arte de conhecimento, de prudência, de inteligência
política, de mediação, de polidez,128 mas também de dissimulação. Qualidades
imprescindíveis para o exercício da função eram “a observação penetrante, a

104
perspicácia, a justa apreciação dos homens, das circunstâncias e das oportunidades, o
auto domínio, a moderação e o equilíbrio.129 Um embaixador deveria ser “muito
familiar, popular e magnífico”, ter “grande desembaraço, muita atenção, grande
sagacidade com muita dissimulação, um semblante de muitas caras e um aparato com
tanto artifício que sirva a todos os gênios”.130
A diplomacia, para a qual a arte da conversão era um expediente importante,
contribuía para fundar e alargar laços de identidade, amizade e clientela entre esses
homens da República de Letras portuguesa. A rede de sociabilidade intelectual que se
articula em torno de Dom Luís da Cunha, por exemplo, que começa a ser tecida ainda
na juventude, na casa de seu pai, sob os auspícios da Academia dos Generosos,
constrói-se na vida adulta principalmente a partir dos postos diplomáticos ocupados no
exterior, nos quais ele entrou em contato com vários homens da República de Letras
portuguesa e europeia, tornando-se, à época, um dos elementos importantes no
intercâmbio de seus saberes. O diplomata é, antes de mais nada, um homem de letras,
pois uma ampla cultura é essencial à sua formação.
No caso das embaixadas portuguesas na Europa, havia ainda as conexões que se
estabeleciam entre os funcionários em diferentes postos hierárquicos e que, em
momentos diversos, serviram a vários embaixadores, bem como o trânsito intenso de
portugueses que por ali circulavam enquanto faziam seu tour europeu. Como o périplo
europeu era valorizado pelos savants da época, parte da sua formação ocorria no
exterior e as embaixadas foram pontos de apoio para os portugueses em viagem. As
casas de Dom Luís abrigavam continuamente viajantes portugueses em trânsito. Quando
Antônio de Mello Castro, filho e neto de vice-reis da Índia, que esteve hospedado em
sua casa na place Louis-le grand, em Paris, estava para partir, Dom Luís queixou-se que
ele “parte depois de amanhã [...], eu fico com saudades dele porque me fazia muito boa
e divertida companhia”.131 As embaixadas portuguesas no exterior, como as demais,
eram portanto espaços de intenso contato social, cultural e político.
A sociabilidade, a capacidade de estabelecer laços de amizade e clientela eram
essenciais para se enfronhar nas altas hierarquias não só da própria corte de origem
(para angariar postos e mercês), mas da corte em que o embaixador estivesse servindo
(para defender os interesses de seu país). O Marquês d’Argenson que se preparava para
ser embaixador da França em Portugal em 1737 sabia que “um embaixador [...] deve ser
um homem de sociedade para se ligar com todas as pessoas que pertencem ao governo

105
donde se está servindo, e tudo vai bem para a nossa nação quando se é agradavelmente
recebido em toda parte”.132
A diplomacia era organizada em diferentes postos hierárquicos: embaixadores,
plenipotenciários, enviados, residentes, secretários133 e esses homens estabeleciam laços
horizontais e verticais entre si. A casa de um embaixador era servida de vários postos
auxiliares e, à medida que estes antigos funcionários subalternos ascendiam na carreira
diplomática, deveriam retribuir com fidelidade a proteção e os favores recebidos. Assim
se formavam as redes clientelares que conectavam esses homens por toda a vida.
Quando estava em Paris, em 1724, Dom Luís da Cunha escreveu uma carta de
recomendação para Francisco Mendes de Góes, que buscava uma mercê régia.134 A
missiva nos permite observar essa teia de sociabilidade e serviço que se criava entre os
embaixadores e seus antigos funcionários. Diz Dom Luís:

Certifico que, no ano de 1710, veio a Londres Francisco Mendes de Góes,


onde o conheci, vivendo quase em minha casa com bom procedimento e
então o encarreguei de algumas diligências por achar nele a capacidade que
para elas se requeria e ali ficou servindo a Joseph da Cunha Brochado até
que este ministro voltou para Portugal, pelo que, vendo-se desamparado,
buscou o meu abrigo em Holanda e, dali, o levei comigo outra vez a
Londres [1715], servindo na minha secretaria e me não pôde acompanhar na
embaixada de Castela. Depois o vi voltar de Inglaterra, servindo de
secretário a Marco Antônio de Azevedo Coutinho; em todo este tempo e em
todas as partes observei sempre nele capacidade, modéstia, fidelidade e
desinteresse.135

A carta também nos permite observar como um funcionário subalterno na


carreira diplomática, como foi o caso de Francisco Mendes de Góes, servindo a
diferentes embaixadores, funcionava como elo de conexão entre eles, como é o caso da
tríade Dom Luís da Cunha, José da Cunha Brochado e Marco Antônio de Azevedo
Coutinho.
A diplomacia era, muitas vezes, um primeiro degrau para a ascensão a postos
administrativos mais importantes. Não é por mero acaso que Diogo de Mendonça Corte
Real, Marco Antônio de Azevedo Coutinho e Sebastião José de Carvalho, depois de
ocuparem cargos de embaixadores, acabaram sendo recrutados e ascenderam ao cargo
de Ministro dos Assuntos Estrangeiros. A diplomacia tornava-se fonte de conhecimento
estratégico, acumulado em benefício do Estado. Essa nova intelectualidade portuguesa,
que se reunia em torno de Dom João V, e que tinha em Dom Luís da Cunha um de seus
expoentes, insistia na necessidade de que Portugal se inserisse sob novos patamares na
106
orquestra política europeia, buscando um papel de destaque, consoante com a riqueza e
o poderio da nação no século XVIII.
Esse conhecimento era, por sua vez, intercambiado por cargos e patentes, e a
ascensão a postos chaves da política do reino – como os ministérios – era o
reconhecimento esperado pelo serviço prestado. Mas cabia ao rei, em ultima instância
conceder as mercês e recompensas, àqueles que se colocavam sob seu serviço. Mas, se
para essa ascensão era necessário mostrar-se apto no desempenho dos cargos, também
era preciso invocar as redes clientelares de proteção, que influenciavam a decisão régia.
Por isso, a formação dessas clientelas era importante, especialmente para os
embaixadores que estavam permanentemente ausentes do dia-a-dia da Corte.
As redes de sociabilidade desses homens de letras não serviam apenas para sua
proteção ou ascensão. Os intelectuais de uma República de Letras iluminista almejavam
sempre persuadir, pois estavam imbuídos de sua missão civilizadora. Seu tempo não se
esgotava no presente, pois suas ideias se projetavam no futuro. Por isso, como exemplo,
durante toda a sua vida, mas especialmente na maturidade, Dom Luís estava sempre a
arregimentar pupilos, aos quais esperava não só fidelidade, mas que se encarregassem
de colocar em prática as suas ideias. A promoção de Marco Antônio de Azevedo
Coutinho, em 1736, à época seu principal discípulo, para o cargo de Secretário dos
Assuntos Estrangeiros, encheu-lhe de esperanças de que muitas de suas ideias fossem
colocadas em prática. Não é por mero acaso também que seu Testamento Político
apontava, a Dom José, Sebastião José de Carvalho, como o mais indicado para tomar
conta da Secretaria de Estado do Reino, pois nesse momento Dom Luís via em
Sebastião José, o mais afeito a, no futuro, colocar em prática sua agenda política para
Portugal.136 Não se enganara o velho embaixador, sua influência sobre a política
pombalina é tão evidente, que não é por mero acaso, que Joaquim Veríssimo Serrão
considerou Dom Luís da Cunha “como uma espécie de oráculo do futuro Marquês de
Pombal”.137

A mesa do embaixador

A arte da conversação era fundamental para a troca de saberes e opiniões. O


homem de letras do século XVIII, “segundo os padrões do establishment literário”, é
antes de mais nada alguém que domina a arte da conversação.138 Também “a
conversação foi a primeira maneira de difusão das novidades”.139 O médico português

107
Antônio Ribeiro Sanches, um grande savant de sua época, que pertencia ao círculo de
Dom Luís, malgrado “sua aparência medíocre, tinha uma fisionomia espiritual, dois
olhos pequenos mas vivos, um sorriso fino que parecia na conversação ser garantia de
sua inteligência, ou o intérprete de seu pensamento”. De Sauvigny,140 que escreveu estas
linhas em elogio ao amigo, ressalta que o domínio da arte da conversação por parte de
Ribeiro Sanches, o que requeria inteligência e perspicácia que se revelavam em seus
olhos vivos e no seu sorriso fino, obliterava sua aparência medíocre. Sobre sua
conversação ele registra que “era sempre interessante, algumas vezes viva e animada”.
A partir de seus comentários observa-se que o domínio da retórica exigia argumentações
sólidas e que a arte da conversação se baseava na discussão inteligente: “Ele não amava
a disputa, mas ele se prestava com prazer à discussão e citava sempre à propósito os
fatos interessantes para apoiar o raciocínio sólido”.141
O savant iluminista não era um homem solitário, ele se constituía em sociedade,
na qual a conversação era o meio por excelência de efetivá-la e de conectar seus
elementos. A participação na sociedade dos letrados “concretiza-se, substancialmente,
nas companhias escolhidas que compartilham os prazeres do encontro, da conversa, do
salão, da mesa”.142 O salão foi o espaço ímpar de sociabilidade dos homens de letras.
Dom Luís, como um dos seus elementos, escreve que, em Paris, ia frequentemente “em
casa de me. Tencin, que é uma espécie de museu, onde há muitos anos preside mr. de
Fontenelle”.143 Claudine Alexandrine Guérin de Tencin, baronesa de Saint-Matin, era
mãe de D’Alembert e reunia no famoso salão de sua casa a nata da elite intelectual
iluminista francesa, entre eles, o abade Prevost, Montesquieu, Marivaux, Helvetius,
entre outros. Bernard Le Bouyer (ou Le Bovier) de Fontenelle, que presidia as seções,
foi um famoso escritor francês, amigo de Voltaire, secretário perpétuo da Academia de
Ciências entre 1699 e 1737. Sobre ele, o Marquês D’Argenson escreveu que os
discursos que pronunciava eram da mesma qualidade que sua conversação, isto é, eram
ambos aprazíveis. Fontenelle fazia parte das redes intelectuais tecidas em torno do
Duque de Orleans e do cardeal de Fleury, da mesma forma que Dom Luís. Às terças
feiras, o salão era dedicado à literatura e foi num desses encontros que o embaixador
assistiu “a oração fúnebre que o padre [Charles Frey de] Neuville pronunciou para
exaltar a memória do cardeal Fleury”.144
Como era esperado de um intelectual, o Cavaleiro de Oliveira conta sobre Dom
Luís que “a sua conversação é gostosíssima. A liberdade com que fala de todas as
matérias é igual à erudição com que as entende, e com que discorre nelas [...] tendo

108
residido com grande aceitação nas principais cortes da Europa”.145 Dom João V informa
que a casa de Dom Luís estava sempre cheia dos ministros estrangeiros e que ele era
mestre na arte do convencimento e da persuasão, angariada em longos anos exercitando
a arte da conversação em sua longa carreira diplomática: “em Paris, [...] todos os mais
os respeitam e fazem assembleia em sua casa, e nenhum tem dúvida a comunicar-lhe os
seus segredos, ou para o conselho, ou por confidência, na certeza de sua probidade”.146
O monarca destaca aspecto importante da arte da conversação quando
empregada na diplomacia. Tratava-se não apenas de exercício de erudição, mas fazia
parte das estratégias para descobrir segredos ou convencer o interlocutor dos interesses
da corte que o embaixador representa. A arte da conversação para atingir os fins
desejados na diplomacia, isto é conseguir arrancar os segredos da nação rival, exigia
toda uma habilidade que Dom Luís manejou com maestria. Segundo ele:

O segredo é um ser moral que tem muitos inimigos, de que se deve defender
para se guardar. O primeiro é a natural inclinação com que nascemos a falar; o
segundo é a vaidade que nós fazemos de que nos dêem atenção mostrando que
sabemos o que os outros ignoram; o terceiro é a astúcia com que alguns, como por
força nos arrancam o que de nós querem saber; o quarto é o da chave de ouro, ou
de qualquer outro equivalente metal, que abre as bocas mais fechadas”.147

Um embaixador devia dominar toda uma verdadeira arte para arrancar o segredo
mais bem guardado que, segundo ele, consistia ou em saber se aproveitar da inclinação
natural dos homens para revelar seus segredos, ou em tirar vantagens da vaidade
humana que faziam alguns falarem além do devido, ou em ter a astúcia de saber
conduzir a conversação para o fim almejado ou, por fim, em saber quando só o suborno
é o único expediente para abrir a boca mais fechada. No exercício dessa arte era preciso
saber o momento oportuno para que determinado assunto fosse abordado, requerendo
do embaixador o domínio da arte da dissimulação. Sobre isso o conde de Oxford
recomenda ao diplomata britânico John Robinson, em Utrecht, “que, por favor, dê a
Dom Luís uma ocasião de lhe falar, mas eu o suplico de não iniciar; mas se ele mesmo
começar e vos oferecer uma ocasião, o faça saber que eu concorro ao que ele me propôs
por um intermediário de seu amigo”148
Jantares íntimos ou festas espetaculares eram momentos ímpares para
estabelecer os contatos, tanto intelectuais, quanto políticos, por isso, no caso dos
diplomatas, era indispensável ao desempenho do ofício. Se os nobres de gosto se
reuniam em salões, onde discutiam um pouco de tudo, os embaixadores se reuniam
principalmente em torno de sua mesa. Dom Luís da Cunha, ao escrever a Marco

109
Antônio de Azevedo suas instruções de como organizar a secretaria de Estado,
recomendou que, como vira em Paris, ele guardasse um dia da semana para receber a
cada ministro estrangeiro em audiência, “servindo-se delas e deles para saber o que se
passa; e se, de tempo em tempo, lhes der de jantar, será muito melhor”.149 Grande parte
da sua sociabilidade ocorria em torno da comida.150 “A arte da mesa se inscrevia
naturalmente no quadro diplomático. [...] [Era] uma valorização da refeição como
símbolo político”.151 A mesa era o lugar dos excessos e “não poucos philosephes,
quando se punham à mesa, esqueciam ‘a doutrina das proporções’ e abandonavam-se à
excessos”,152 pois “a digestão facilitava as confidências”.153
Dom Luís da Cunha, ao longo de sua correspondência, relata diversos jantares,
dá detalhes dos convivas à mesa, dos assuntos abordados, principalmente nos últimos
anos de vida, quando as doenças quase lhe confinaram em casa e muitos ali iam lhe
falar. À sua mesa eram recebidos príncipes e nobres, ministros de estado, especialmente
os de Assuntos Estrangeiros, diplomatas das mais diversas cortes, muitos dos quais se
relacionava desde o início do século, principalmente a partir do congresso de Utrecht,
intelectuais, amigos, vários deles portugueses em trânsito. Era quando então se
aproveitava para, além da sociabilidade intelectual, abordar temas de seu interesse ou de
Portugal. A mesa do embaixador ou as que ele freqüentou nos congressos e nas cortes
estrangeiras foram momentos ímpares para que ele exercesse seu domínio sobre a arte
da conversação e conseguisse arrancar as informações que almejava, ou convencer seu
interlocutor dos propósitos dos portugueses. Vamos citar apenas alguns:
Em Londres, em janeiro de 1712, acompanhou o príncipe Eugênio, duque de
Sabóia numa série de jantares, preliminares ao congresso de Utrecht. O duque lutara na
Guerra de Sucessão e brilhara por sua capacidade militar. Tanto em Londres, quanto
depois nos Países Baixos, desempenhará importante papel nas negociações que se
sucederam à Guerra de Sucessão Espanhola, quando conviveu intensamente com Dom
Luís da Cunha. O príncipe era também um savant ilustrado, possuía coleções preciosas,
principalmente de estampas e mapas, e sua corte era conhecida por seu esplendor. Ele
foi um herói em sua época e, quando foi combater os turcos, a ele se juntou o infante
Dom Manuel. Durante sua estada em Londres, “e ao longo dos dois meses e meio, o
príncipe teria sido visitado todos os dias”.154 Dom Luís foi seu cicerone em Londres,
acompanhando-o em diversos encontros que, como era esperado, davam-se em torno da
mesa. A mesa liberava os espíritos e, dos temas políticos, passava-se a conversações
mais amenas, por isso, Dom Luís afirmou que de todos saía muito tarde, como ocorrera

110
no jantar que o duque de Shumberg dera em sua casa.155 Esse comentário ilustra os
excessos que se cometiam à mesa, criando um clima favorável à intimidade e às
confidências. Dom Luís fez uma avaliação pouco positiva dos resultados políticos
desses encontros. Revela que

o príncipe Eugênio teve domingo a primeira conferência e não creio por algumas
coisas que lhe ouvi que delas saiu mais satisfeito do que entrou, mas não lhe faltam
convites, que fazem pouco bem ao seu negócio e muito mal à minha saúde, pois de
ordinário sou um dos assistentes, e os meus anos e achaques não permitem estes
repetidos excessos.156

Ele não só revela que a mesa era espaço de sociabilidade festiva, que faziam mal
à sua saúde, como de negociação política, que por sua vez não satisfaziam os interesses
do conde, e onde ele se comportava como um ouvinte atento.
Quando o congresso já se desenrolava nos Países Baixos ali chegou o príncipe,
em abril de 1712. Desta feita, foi o cardeal Passionei,157 núncio papal, que o convidou
para jantar em sua casa. Número sugestivo, eram treze à mesa, sendo um deles Dom
Luís da Cunha. Apesar das diferentes nações que representavam, a mesa de Passionei
“reunia um círculo de fidelidade que se desenhava em torno de Eugênio”,158 e os
portugueses, representados por Dom Luís e o conde de Tarouca, estavam entre os que
mais lhe foram fiéis. “Um hóspede ilustre fazia da refeição um acontecimento”.159 Por
meio do contato com o círculo imperial reunido na mesa em torno de Eugênio de
Sabóia, Dom Luís que recebera ordens para se ater no congresso ao contato com os
ingleses utilizava “círculos privados para obter informações e vantagens durante o
congresso”.160
Poucos meses depois, em novembro, em uma nova visita do príncipe, ele se
hospedou na casa do conde de Tarouca. Chegou em seu iate e o conde foi busca-lo, com
toda a pompa, em três carruagens puxadas por 6 cavalos cada.161 Os dias que passou em
Utrecht foram cheios. No primeiro, o príncipe jantou na casa de Aníbal, conde de
Maffei, diplomata da corte de Sabóia e tomou a sopa na casa de seu anfitrião, onde
assistiu uma comédia. No segundo, jantou na casa de Passionei e novamente tomou a
sopa com Tarouca.162 Essa geografia da mesa reflete a “relação directa [estabelecida]
entre as vivências sociais e os contatos políticos estabelecidos”.163
Em 1716, estando nos Países Baixos, Dom Luís foi jantar na casa do rei Jorge I,
que se encontrava na corte de Hanôver. É importante atentar para o fato que é o
embaixador espanhol que dá notícias do acontecido, a partir de uma carta chegada em

111
Lisboa, na qual Dom Luís relatava o acontecimento. Ele informa que “o ministro [dom
Luis de Acuña] saiu a cumprimentar sobre la marcha a SMde que estava para cenar y le
mando se sentar à su mesa y despues tubo uma larga conferencia que duro cerca de
quatro horas pertencente a estes negociados”.164 O assunto em questão era um
desdobramento do que havia sido assinado em Utrecht. Tratava-se da questão dos
navios castelhanos confiscados no Rio de Janeiro durante a guerra, em março de 1704, e
que os portugueses não queriam incluir na conta dos reparos de guerra. O convite do rei,
aparentemente espontâneo, era não só uma deferência a Dom Luís como transpirava
certa camaradagem entre os dois. Observa-se que o embaixador não deixa de registrar
que a conversa desenrolara-se durante 4 horas, tempo suficiente para Dom Luís expor
seu ponto de vista e ser capaz de influenciar seu interlocutor.165
Em 1736, quando servia em Haia, cuidava de espinhosos assuntos em torno do
bloqueio que os espanhóis tinham estabelecido na Colônia do Sacramento e também do
restabelecimento das relações diplomáticas com França, se preparando para ali assumir
o posto de embaixador. Ali fora jantar, numa quarta feira do mês de agosto, o
embaixador inglês, Trevor, quando então ele aproveitou para se inteirar das novas dessa
corte.166 Em Paris, em 1746, embrenhado nas articulações para que Portugal fosse
mediador no Congresso de Breda e ele o seu representante, sua mesa era ponto de
encontro para conta que ali estiveram dois principais ministros franceses, artífices da
política da época: “mr. Anjenson viera jantar a esta casa e que pouco depois chegara mr.
de Chavigny”.167 O primeiro ocupava então o cargo de ministro do negócio estrangeiros
e o segundo havia sido embaixador francês em Lisboa. Dom Luís aproveitou-se para
informa-los da posição portuguesa nos conflitos com os espanhóis e instruí-los
conforme achava desejável.
Argenson, por sua vez, dá notícia de um grande jantar que ofereceu a Dom Luís
da Cunha, em março de 1737, quando se encontrava na expectativa de ser nomeado
embaixador em Lisboa. Além de Dom Luís, foram convidados Francisco Mendes de
Góis e Gonçalo Manuel de Lacerda, ambos servindo na embaixada portuguesa.168
Mendes de Góis, por essa época, havia estreitado relações com o cardeal Fleury,
primeiro ministro francês, e era uma figura vista de forma ambígua por Argenson e
outras figuras na corte, que vai creditar a Mendes o insucesso de sua embaixada. De
fato, não ficava muito claro quem era espião de quem, se Fleury se servia de Mendes ou
vice versa (o mais provável é que ocorresse os dois). O jantar servia para Argenson
estreitar seu contato com os representantes de Portugal e assim mover as engrenagens

112
não só para efetivar sua nomeação, mas para que fosse bem recebido quando chegasse
na corte lisboeta.
A amizade estabelecida entre ministros de diferentes cortes eram passaportes
para que um deles pudesse se relacionar com as redes pessoais que se conectavam ao
outro em seu país de origem. Os embaixadores eram, dessa maneira, os primeiros
anfitriões dos que, do exterior, pretendiam passar para o país que os mesmos
representavam ou simplesmente se conectar com membros da elite local. Dom Luís, por
exemplo, escrevia cartas de recomendação àqueles a quem se sentia obrigado a retribuir
a amizade, e a mesa era muitas vezes o teatro desta retribuição. Assim, por exemplo,
quando o conde de Huescar retornou a Madrid, depois de sua estada pariensiense, em
1749, Dom Luís lhe recomendou por carta a Tomás da Silva Teles, embaixador
português na mesma corte. Escreveu que ele mandava por meio de Silva Teles um
abraço ao duque, de quem era muito amigo.169 Este lhe escreveu que o duque ainda não
chegara a Madrid, pois se encontrava em Aranjuez, em audiência com os monarcas, mas
que “nesta semana determino dar-lhe de jantar e as suas irmãs e cunhadas e dar
principio a comunicação mais particular como tenho com os seus parentes todos”.170
Dessa forma, o círculo se completava e a mesa se mostrava mais uma vez como
elemento que interligava os membros dessa República de Letras.

. As Gazetas

Ainda que, nos dizeres de Dom Luís da Cunha, “as gazetas não são
infalíveis”,171 elas eram importantes veículos de troca de informações entre estes
homens de letras, dispersos entre as diversas cortes europeias. As gazetas, ancestrais da
imprensa atual, eram destinadas a um público culto.172 Por meio delas, notícias iam e
vinham e circulavam com relativa eficiência. As gazetas eram uma forma de rede
epistolar, mas cujo objetivo explícito era tornar público seu conteúdo, informando a
uma audiência mais vasta o que ocorria nos mais distintos espaços. Ainda que escritas
em línguas vernáculas e no interior dos espaços nacionais, as gazetas eram produzidas a
partir de redes de correspondentes e informantes residentes em vários centros que se
articulavam entre si para sua produção.173 Também sua circulação ultrapassava os
espaços nacionais onde eram produzidas, pois sendo comerciadas e circulando pelas
mais diferentes cortes, eram importantes veículos de informação que integravam as
elites europeias, conectando-as entre si. Dom Luís da Cunha, quando em Utrecht em

113
1712, querendo saber notícias de José da Cunha Brochado e das novas de Inglaterra
onde o mesmo era embaixador, escreve ao amigo que “os papeis públicos começam a
gritar pelas ruas, uns bons, outros maus, e eu vou saber alguma coisa pois me faltam
noticias de VE.”.174
Os embaixadores, como Dom Luís da Cunha, eram dos que enviavam
continuamente as gazetas da corte em que estivesse servindo para Lisboa, com vistas a
manter as elites portuguesas informadas do que elas noticiavam. Certa feita, quando se
encontrava em Paris, recebeu ordem para que se duplicasse o número de cada exemplar
das gazetas que enviava para Lisboa. Decidiu que “porque se não retarde uma posta, as
que forem por via de terra, ordeno ao meu livreiro de Haia que em direitura se dirija a
VEx”.175 Observa-se, em seus escritos, que ele se põe constantemente atento,
monitorando o que as gazetas escrevem a respeito dos assuntos portugueses que ele
considera os mais delicados. Um destes pontos, que será melhor examinado no capítulo
5, é a drenagem constante do ouro brasileiro em direção aos cofres das demais nações
europeias. Assim, informa ao reino, em 1743, que “a gazeta de Paris, no artigo de
Genova, diz que um navio holandês tinha entrado naquele porto tendo a bordo 110
moedas de ouro de Portugal para as cortes de Viena e Turim e 150 patacas por conta dos
negociantes”. A contínua saída dessas riquezas para fora de Portugal, a despeito de
todos os seus conselhos, faz com que ele lamente que sobre a notícia “não se deixa de
fazer reflexão”.176
As gazetas e as correspondências eram fios capilares que sustentavam toda uma
rede de informações que os embaixadores eram responsáveis de suprir às suas cortes de
origem. Quando seu amigo o conde de Assumar foi servir na Índia, Dom Luís decidiu
mandar “fazer uma coleção de gazetas desde que [o amigo] partiu até o presente”. Seu
filho, o jovem João de Assumar, que se encontrava hospedado em casa do embaixador
escreveu ao pai que isso “me poupa uma longa descrição das revoluções que têm havido
e dos negócios políticos que se têm tratado”. Esse trecho aponta para a importância das
gazetas cuja leitura era essencial para acompanhar os acontecimentos do teatro do
mundo, onde a política, a guerra e a diplomacia desempenhavam importantes papéis.
Ali, entre tantos assuntos, destacou que o pai poderia ver “nas gazetas de Amsterdão o
manifesto d’el rei da Prússia, a elas me remeto aos progressos do exército. Verá
[também] nas gazetas a descrição da doença d’el rei de França”.177
Ao longo do século XVIII, cada vez mais dirigidas a um público letrado, as
gazetas “se consagram principalmente à vida política, mundana, literária e científica do

114
período”.178 De uma longevidade impressionante, “a apresentação material das gazetas
permaneceu impressionantemente intacta, ao ponto que a essência da gazeta parece
residir nesta uniformidade mecânica”.179 O Mercure de France, por exemplo, foi uma
das inúmeras gazetas que circulou amplamente na França do século XVIII. Publicada a
partir de 1672, foi impressa inicialmente com o título de Mercure Galante, depois
Nouveau Mercure Galant. Apenas em 1724 passou a se intitular Mercure de France.
Veiculava seguidamente informações pertinentes ao mundo das letras. Havia seções
para divulgar livros, peças de teatro, óperas, músicas, artes, ciência e geografia.
Publicava trechos de livros, traduções, poemas, cartas, anedotas, adivinhações. Relatava
as reuniões da Academia Francesa e da Academia de Ciências, informava sobre novos
inventos, gravuras, leilões de livros e obras de arte.
As seções do Mercure não eram direcionadas apenas ao público francês, nem se
restringiam a conectar apenas as elites intelectuais locais, mas abrangiam as redes
europeias de intelectuais. São diversos e seguidos os informes sobre o que se passava
nas cortes estrangeiras, para as quais havia uma seção especial. Por meio de uma rápida
análise de alguns anos desse periódico é possível perceber algumas das conexões
estabelecidas entre os savants franceses e portugueses à época. Muitas são as notícias
sobre as seções da Academia Real da História Portuguesa e os seus letrados, mostrando
que o leitor agudo do periódico sabia quem eram os intelectuais portugueses, o que
discutiam, publicavam... Em setembro de 1723, por exemplo, foi noticiada a reunião
realizada pelos acadêmicos no dia 22 de julho anterior. Na ocasião, foi eleito membro
Filipe Marciel, a partir de então conclave do Cardeal da Cunha, sendo que o rei
confirmou sua nomeação no mesmo dia. O periódico informou ainda sobre duas
reuniões que ocorreram e que Dom João V comparecera a uma delas. João Couceiro de
Abreu e Castro180 leu a continuação de sua memória sobre a geografia do Brasil e
prometeu fazer um catálogo dos arcebispos, alcaides maiores e outras autoridades que
serviram no arcebispado de Salvador. Já o Padre José Barbosa leu a primeira parte da
vida de Dom Henrique que a Academia lhe tinha comissionado. Em seguida examinou-
se o manuscrito que Francisco Xavier de Serra Crasbeeck,181 corregedor do Minho,
enviou para compor a História da Província de Guimarães.182 Como destacara Voltaire,
as academia propiciaram uma sociabilidade internacional entre essas elites ilustradas e
as gazetas eram importantes para circular as informações do que aconteciam no interior
de cada uma.

115
Gazetas eram instrumentos para anunciar mapas ou estampas, estimulando o
interesse do público inteligente, e a cobiça dos colecionadores. Como já foi
mencionado, em 1727, o Marquês de Abrantes escreveu a Francisco Mendes de Góis,
que se encontrava em Paris encarregado das compras régias, para que ele adquirisse
alguns mapas para sua coleção. Um deles foi o que “agora vi na gazeta, que em
Holanda” se publicou.183 As gazetas funcionavam como espaço de publicidade para os
produtos intelectuais dessa república de letras. Por isso, as páginas do Mercure foram as
escolhidas por d’Anville para anunciar a publicação de sua Carte de l’Amérique
méridionale. No anúncio, ele destaca que o gosto e o cuidado com que suas matérias
eram escritas fazia com que crescesse o interesse pelo periódico junto ao público leitor
ilustrado.184 O número de outubro noticiou a publicação de três novas cartas geográficas
que M. Bellin, hidrógrafo francês, especialista em plantas marítimas, acabara de
publicar. Uma se referia ao México, a outra versava sobre o canal da Mancha e a
terceira representava o globo terrestre. O periódico destacou que a exatidão das mesmas,
as cores utilizadas que permitiam, no caso do continente americano, visualizar as
possessões das diferentes nações européias, a utilidade para os navegadores, a profusão
de discussões de natureza geográfica que as memórias que as acompanhavam
continham, a execução precisa e agradável ao olhar, a precisão das longitudes eram
recomendações suficientes para despertar o interesse dos compradores que as podiam
adquirir no ateliê do autor, em Paris, situado na rue Dauphine com rue Cristine.185 Mas
muitas notícias de natureza científica não visavam anunciar um produto, mas
simplesmente divulgar as descobertas mais recentes. Esse foi o caso, entre tantos outros,
da edição do Mercure de maio de 1749, que publicou uma carta do matemático Euler,
da Academia de Saint Petesburg, discutindo a existência da passagem norte, a partir das
novas observações feitas por Behring na sua viagem à região. A carta vinha
acompanhada de um mapa, apontando as variações de longitudes da região, pois a
medida da terra era um dos grandes temas que mobilizava os savants da época. (Figura
12)186
Dom João V aparece nas páginas do Mercure como um rei ilustrado, que
frequentava as seções da Academia, patrocinava suas publicações. A seção da
Academia de 7 de setembro de 1723, que foi noticiada nas suas páginas, ocorreu,
“conforme permitia os seus estatutos”, no palácio real, “em presença do rei de Portugal,
da rainha, do príncipe do Brasil e dos infantes”. Na ocasião, Dom Fernando Teles da
Silva, Marquês de Alegrete, pronunciou um discurso muito eloqüente em elogio à

116
rainha.187 Em dezembro do mesmo ano, é noticiado que ele fizera remeter 4.000 escudos
ao abade Crescimbens, em Roma, para contribuir para a construção da Academia
Arcadi, da qual ele era um dos protetores.188 Fica assim evidenciada não só sua
magnificência, mas sua proteção às artes nas inúmeras redes em que a mesma se
desdobrava pelas cortes europeias.
Toda a sociabilidade da elite da época transparecia nas páginas das gazetas. Por
elas ficava-se sabendo dos casamentos, óbitos e nascimentos de grandes personalidades,
informações que conectavam redes em diferentes espaços nacionais. Assim, em julho de
1723, o Mercure de France noticia que o príncipe Eugênio, cuja corte ilustrada era
conhecida em toda a Europa, escrevera ao duque de Bouillon expressando suas
condolências pela morte da princesa Sobieski que ele ia desposar, e suas felicitações
pelo futuro casamento do príncipe de Turenne, seu filho.189 E em novembro do mesmo
ano, foi noticiado o grande baile que Dom Luís da Cunha deu na embaixada portuguesa
em Paris, por ocasião do nascimento do quarto filho de Dom João V. A descrição da
festa dignificava o rei e a corte portuguesa perante a sociedade parisiense. Para isso o
cronista arrolava os vários eventos nos quais a mesma se desdobrara – iluminação,
fogos de artifício, banquete, concerto, jogo, baile e refrescos em abundância–, e a
importância e o luxo dos convivas, que incluíram as princesas e os príncipes de sangue,
um deles o conde de Orleans, e as damas e senhores da corte, todos elegantemente
vestidos.190
No caso dos assuntos acontecidos em Portugal, as gazetas europeias, entre tantos
temas, noticiavam seguidamente as chegadas e as partidas das frotas, principalmente as
do Brasil. Muitas destas notícias eram extraídas provavelmente da própria Gazeta de
Lisboa, que tinha uma seção especial sobre o tema de grande repercussão no reino, o
que aponta para a prática corriqueira de uma gazeta servindo como repositório de
notícias locais para as publicadas em outras produzidas em regiões mais distantes.
Algumas vezes, a fonte destas notícias não eram outras gazetas, pois informações eram
plantadas. Este era um expediente comum utilizado pelos próprios embaixadores e seus
informantes com vistas a criar nas cortes onde servissem uma imagem favorável ou
fazer circular uma notícia de interesse de seu país.
Se as gazetas eram importantes fontes de informação, elas eram também
importantes espaços de formação de opinião. Por isso nem sempre se podia confiar no
que era estampado, pois muitas de suas notícias eram plantadas pelas mais diferentes
razões. Isso exigia uma leitura a contrapelo de suas páginas, para que o leitor pudesse

117
desvendar as intenções escondidas por debaixo do que era noticiado. Dom Luís era um
leitor sagaz desses periódicos, buscando municiar o reino do que uma outra notícia
podia significar. Revelando o espírito agudo necessário a um bom leitor das gazetas, o
Marquês de Abrantes em carta a Francisco Mendes de Góis pede ao amigo que “VM me
diga, já que sabe ler as gazetas, dividir os impérios e governar o mundo, de que servem
telas, de que servem rendas sem casamentos...”.191 O embaixador também se servia
delas para publicar notícias favoráveis a Portugal, buscando manipular o jogo
diplomático.
São inúmeras as suas observações sobre como interpretar as notícias estampadas
nas gazetas, como em 1728, quando Dom Luís se encontrava em Haia, negociando com
os holandeses para que a Companhia das Índias Ocidentais não impedisse o comércio
que os “brasileiros”192 realizavam a partir do Castelo de São Jorge da Mina. Na ocasião
ficou sabendo por seu informante local, o judeu português “Álvaro Nunes da Costa, a
quem tenho encarregado que me avise de tudo o que ouvir em Amsterdam em ordem a
este negócio, [...] que o gazeteiro holandês dissera que um navio da Companhia
Ocidental pelejara com outro de guerra de Sua Majestade”. Não sabia se a notícia era
verdadeira ou não, já que não tinha notícias dela por suas fontes regulares de
informação, nem em Portugal, nem junto aos Estados Gerais, mas ponderou que “podia
bem ser que tivesse vindo por algum dos navios de Zelândia, que naquela costa negocia
a risco”. Mas precavido, pediu para Álvaro Nunes da Costa “saber do mesmo gazeteiro
por onde tinha aquela notícia e as mais circunstâncias dela”. O gazeteiro foi evasivo,
“insistia em que a notícia era verdadeira, mas que não queria descobrir por onde
viera”.193
Dom Luís estranhou e informou que a falta de certeza de sua veracidade fez com
que ficasse na dúvida se se podia acreditar no ocorrido. Quando finalmente conseguiu
apurar que tudo não passava de boatos, inferiu “que os mesmos interessados na
Companhia fizeram correr aquelas vozes para ver se eu dava alguma esperança de poder
tratar sobre o projeto que os Estados Gerais haviam entregado” sobre a questão
comercial na África.194 Mais uma vez se confirmava sua suspeição em relação ao que
noticiavam as gazetas. Quando o infante Dom Manoel resolveu visitar a Rússia, ele
escreveu de Haia a Diogo de Mendonça, datada de agosto de 1730, na qual comentou:
“a todos tem posto em grande curiosidade a jornada do sr. infante Dom Manuel a
Moscovia, se as gazetas não mentem como de ordinário acontecem”.195 De outra feita,
em 1732, servindo em Haia mais uma vez, informou que “as gazetas nos têm ameaçado

118
com o acomodamento de França, mas como ajuntam a abolição ou reforma da
inquisição vejo que tudo são contos”.196 Observa-se em seu comentário, não só a
falsidade da informação, mas o poder de persuasão das gazetas, ao utilizar o verbo
ameaçar para se referir à notícia que era veiculada.
Observa-se por meio destes incidentes vividos por Dom Luís da Cunha que as
notícias que circulavam nas gazetas podiam repercutir nas questões de estado, num
contexto de intensa rivalidade política entre as nações, no qual a diplomacia
desempenhava papel seminal nas negociações entre elas. As gazetas tornaram-se
importantes instrumentos formadores de opinião, num momento em que se constituía
uma esfera de opinião pública, concomitante ao processo de formação e expansão
dessas elites intelectuais abertas a novas formas de sociabilidade intelectual.197 Há uma
constante preocupação dos embaixadores em monitorar o que era publicado nas gazetas
e cuidar para que elas publicassem uma visão favorável aos interesses de seu país. São
também inúmeras as referências de Dom Luís, no decorrer da sua longa carreira
diplomática, de sua preocupação em também fazer entrar nas gazetas artigos que
pendessem a visão do leitor em favor dos interesses portugueses. Observa-se que ele
também este atento a esta mesma estratégia quando encetada pelos seus rivais.
Em 1736, no contexto de uma nova invasão espanhola da Colônia do
Sacramento, Dom Luís noticia ter visto “as gazetas, principalmente a de Utrecht, em
que o gazeteiro mete o projeto de acomodamento diferentemente do que ele havia feito
em uma de suas anteriores”. Credita esta mudança, às instâncias do embaixador inglês,
pois a Inglaterra havia assinado um acordo secreto com os espanhóis, o qual feria os
interesses portugueses, e por essa razão os ingleses não queriam que o mesmo viesse a
público, pois deixara de lado seu tradicional apoio aos portugueses em prol de seus
próprios negócios. Também a Gazeta de Amsterdam apresentara na mesma ocasião um
relato pró-espanhol dos acontecimentos recentes e, segundo ele, tudo publicado às
instâncias do embaixador daquele país nos Países Baixos.198 Ele observa, contrariado,
que a forma como a gazeta noticiava tais acontecimentos formava no público uma
opinião favorável dos ingleses e espanhóis e não deixava às claras como os portugueses
haviam sido traídos pelos primeiros e prejudicados pelos segundos. O resultado é que
recebe ordens do reino para que também ele “fizesse meter na Gazeta de Amsterdam a
Relação do que se passou no rio da Prata, desde 15 de novembro até 3 de março”,
conforme o ponto de vista português. Ao ler a gazeta, Dom Luís percebeu que à notícia
que enviara para publicação,

119
o gazeteiro ajuntou o que se casa do [que o] embaixador de Espanha lhe tinha
mandado imprimir, pelo que farei meter na gazeta holandesa a mesma Relação que
Patinho [ministro espanhol] deu a van Dermer [ministro nos Países Baixos], que já
remeti e agora o torno a fazer para ajuntar as reflexões de que me parece deixar
convencido este monsenhor principalmente da última que é importante.199

As disputas do teatro do mundo migravam para as páginas das gazetas e se


constituíam como uma verdadeira guerra de palavras, cada lado buscando persuadir a
opinião pública a seu favor.
Se Dom Luís da Cunha se servia das gazetas para se informar e aos ministros no
reino dos acontecimentos do teatro do mundo, ou ainda para plantar uma notícia que
fosse de interesse ao serviço da corte, também sua vida aparece noticiada nas páginas do
Mercure. Afinal, ele era uma das peças dessa elite letrada cuja sociabilidade transparece
nas notícias estampadas nas páginas dessas gazetas. O número de dezembro de 1721
traz noticiado um grande jantar que ele ofereceu em sua casa, com cinco serviços de
peixe à escolha oferecido aos convidados, todos de primeira distinção.200 Em janeiro de
1722 é a vez dele ser um dos convidados ilustres que assiste ao batizado do filho de
Pedro Nolasco Convay, grande financiador das despesas do rei de Portugal em França,
cuja cerimônia, cercada de toda a pompa, é minuciosamente descrita no periódico.201
Logo no início do ano de 1723, é noticiada sua eleição, junto com André de
Melo e Castro, conde das Galveas, como membro supranumerário da Academia
Portuguesa da História, o que atesta frente a toda a sociedade de letras européia sua
inteligência e capacidade intelectual.202 No mesmo ano, a gazeta estampa, com grande
riqueza de detalhes, a festa que Dom Luís deu em Paris na embaixada portuguesa para
comemorar o nascimento do 4º. infante de Portugal.203 A mesa é mais uma vez
momento ímpar de sociabilização festiva. Festas que “não serviam tanto para o prazer
dos convidados, mas para exibir a grandeza, o grandeur de seus organizadores”.204
Finalmente em 1749, Dom Luís aparece na seção de obituários que noticia em
dezembro sua morte ocorrida a 9 de outubro. A nota destaca o fato de que pertencia à
Ordem de Cristo, que era embaixador português junto à Sua Majestade, o rei Luís XV,
que na mesma qualidade de ministro servira em várias cortes, que fora plenipotenciário
em Utrecht e que “era o deão de todos os embaixadores e ministros da Europa”.205
Mesmo na morte Dom Luís torna público, perante toda a sociedade parisiense, não só a
sua importância enquanto partícipe dessa sociedade de letras, mas a pompa, o luxo e a
riqueza de Dom João V, rei magnânimo e erudito, do qual ele era o legítimo
representante.206

120
1
ARQUIVOS NACIONAIS DA TORRE DO TOMBO. Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Dom Luis da Cunha, embaixador em Haia – 16 cartas de 1728 a 1736. Doc.14, Haia, 5 de
junho de 1736.Caixa 789.
2 SILVA. História da Academia Real da História Portuguesa, licença dos censores.
3
O termo intelectual aparece tardiamente na França, somente no século XIX. Seu uso para o
estudo da cultura luso-brasileira do século XVIII não é anacrônico, pois o mesmo não se
observa em Portugal. O dicionário de Raphael Bluteau de 1739 registra os termos intelectual e
intelectivo como aquele “dotado de faculdades, inteligente. O que tem potência capaz para
compreender e entender as coisas do discurso”. O autor reconhece a existência de uma virtude
e uma alma intelectual dotada de entendimento. Por esta razão, o termo será empregado neste
livro como correlato a savant, letrado, inteligente ou philosophe. BLUTEAU. Dicionário da
língua portuguesa, p.159.
4 MOTA. A Academia Real da História.
5 DIDEROT. Oeuvres, p.273-278.
6
D’ALEMBERT. Éloges lus dans les séances publiques de l’Académie Françoise, p.XXX.
7
D’ALEMBERT. Éloges lus dans les séances publiques de l’Académie Françoise, p.XXV.
8 Voltaire, por exemplo, fazia parte do establishment com o objetivo de poder controlar de
dentro os aparelhos culturais do Estado. MASSEAU. L'invention de l'intellectuel dans
l'Europe du XVIIIe siècle, p.15.
9
D’ALEMBERT. Éloges lus dans les séances publiques de l’Académie Françoise, p.XXXIJ.
10 MOTA. A Academia Real da História, p.106-111.
11
WILLS JR. Na República das Letras, p.275.
12
WITHERS. Placing the Enlightenment, p.3.
13
D’ALEMBERT. Éloges lus dans les séances publiques de l’Académie Françoise, p.XXJ.
14
A exceção era Rousseau, visto por Voltaire como perigoso para o movimento de ascensão dos
intelectuais iluministas. Em suas palavras: “C’est grand domage que Jean Jacques se soit mis
tout nu dans le tonneau de Diogène [...]. Est il possible qu’on laisse jouer cet farse impudente
dont on nous menace?”. BESTRMAN. Correspondence de Voltaire. v.XLI, p.228.
15
DARNTON. Os dentes falsos de George Washington, p.18.
16
A primeira crítica contunde a esta divisão tradicional entre as duas culturas pode ser vista em:
MORSE. O espelho de Próspero.
17
Mais uma crítica mais recente cf. CAÑIZARES-ESGUERRA. How to write the history of the
New World.
18
XAVIER. El Rei aonde póde, e não aonde quer, 1998.
19
Nesse aspecto, observa-se, por exemplo, a discrepância de opiniões entre Voltaire e Rousseau
sobre o estado da cultura francesa. Voltaire argumenta que a cultura francesa e os
intelectuais/filósofos transformaram a França numa potência no século XVIII. Rousseau
defende que a cultura estava corrompida e precisava de uma revolução para construir um novo
mundo utópico.
20
Para a Escócia cf. WITHERS. Placing the Enlightenment.
21
CAÑIZARES-ESGUERRA. How to write the history of the New World, p.266-345.
22
DE VOS. Enlightenment – Spanish America, p.450-453
23
MAXWELL. Marquês de Pombal.
24
DARNTON. Os dentes falsos de George Washington, p.19.

121
25
Didier Masseau, para fins analíticos, distingue o savant, do écrivain e do philosophe. Porém,
ele mesmo reconhece que os termos eram utilizados de forma indistinta na época. Nesse livro
usarei os três termos, além de inteligente, indistintamente. MASSEAU. L'invention de
l'intellectuel dans l'Europe du XVIIIe siècle, p.8-10.
26
CAÑIZARES-ESGUERRA. How to write the history of the New World.
27
WITHERS. Placing the Enlightenment, p.7
28
GRUZINSKI. Les quatre parties du monde, p.32.
29
MARCOLIN. Proezas de um padre voador.
30
GRUZINSKI. Les quatre parties du monde, 2004.
31
CARDOZO. The Internationalism of the portuguese Enlightenment: the role of the
Estrangeirado, p.153-167. ; MAXWELL. Marquês de Pombal, p.14-19.
32
MOTT. O peregrino instruído, p.4-6.
33
MOTA. A Academia Real da História, p.30-31.
34
MOTT. O peregrino instruído, p.6.
35
MOTT. O peregrino instruído, p.4.
36
BLACK. Italy and the Grand Tour, p.1.
37
“Travelers to Britain were particularly interested in technological progress and signs of
modernity”. BLACK. Italy and the Grand Tour, p.3.
38
BLACK. Italy and the Grand Tour, p.2-3.
39
CHOISEUL-GOUFFIER. Discours préliminaire du voyage pittoresque de la Grece. Paris :
Imprimerie de Ph. D. Pierres, 1783, p.A3.
40
CHOISEUL-GOUFFIER. Discours préliminaire du voyage pittoresque de la Grece, p.A2.
41
CHOISEUL-GOUFFIER. Discours préliminaire du voyage pittoresque de la Grece, p.A4-5.
42
Instructions necessaires aux voyagers pour faire leurs observations; avec un adresse aux
marchands & aux missionaries que se trouvent dans les pais ètrangérs & que peuvent rendre
des services considèrables à la Geographie, Mercure de France, p.3-9, Septembre 1721. Em
1738, foi a vez do naturalista suíço Merveilleux, que passou longas estadas em Lisboa a
serviço de Dom João V, publicar as Memoires instructifs pour un voyageur dans les divers
Etats de l’Europe, 2 vol., Amsterdam, 1738. ALMEIDA. O naturalista Merveilleux em
Portugal, p.277.
43
MAYHEW. Introduction, p.V.
44
RAU. Cartas de Dom Luís da Cunha para o 1º. Duque de Cadaval (1715-1725).
45
BLACK. Italy and the Grand Tour, p.3.
46
SILVA. História da Academia Real da História Portuguesa, p.199.
47
SERRÃO. História de Portugal, p.432.
48
Wolff (1679-1754) foi um filósofo e matemático alemão, nascido em Breslau, tendo sido
pupilo de Leibniz, e, sucessivamente, designado professor em Marburg e Halle, onde
finalmente se tornou chanceler da Universidade, em 1743.
49
William Jacob's Gravesande, holandês, foi matemático e filósofo, tendo estudado e depois se
tornado professor em Leiden. Foi amigo de Newton e escreveu um livro no qual explicou suas
teorias, intitulado Physices elementa mathematica, experimentis confirmata, sive introductio
ad philosophiam Newtonianam or Mathematical Elements of Natural Philosophy, Confirm'd
by Experiments (Leiden 1720).
50
Apud ABREU. Historiologia Médica, fundada e estabelecida nos princípios de George
Ernesto Stahl, p.a.
51
GOMES. Martinho de Mendonça e a sua obra pedagógica, p.21-22.

122
52
CARTAS de Diogo de Mendonça Corte Real para o conde de Tarouca. Localizado em
Arquivos Nacionais da Torre do Tombo. Ministério dos Negócios Estrangeiros. Livro 137.
53
BIBLIOTECA NACIONAL DE LISBOA. Reservados. AT268. Nesse conjunto de
manuscritos, cartas do conde de Tarouca para o reino, datadas de 1717 e 1718, ele relata dia a
dia os acontecimentos após o incidente ocorrido com o infante, quando “perdeu seus quatro
melhores cavalos” (11 de agosto de 1717), sua partida para Haia “sem embargo de se achar
ainda molestado de defluxão nas gengivas” (13 de janeiro de 1718), de sua chegada em
Utrecht, “ainda molestado” (20 de janeiro de 1717), de sua pouca melhora nos meses de
janeiro e março, de sua recaída em julho, “porque a ferida não criou até agora matéria” (28 de
julho), de ter começado “a dar alguns passos, mas moderado, [e] espera-se que em poucos dias
feche a ferida principal” (18 de agosto) e de estar “totalmente restituído, com a ferida curada e
o movimento da perna restituído” (25 de agosto).
54
GOMES. Martinho de Mendonça e a sua obra pedagógica, p.23.
55
SILVA. História da Academia Real da História Portuguesa, p.206.
56
WITHERS. Placing the Enlightenment, p.10-11.
57
GOMES. Martinho de Mendonça e a sua obra pedagógica, p.131-147.
58
GOMES. Martinho de Mendonça e a sua obra pedagógica, p.132.
59
Sobre o descobrimento dos diamantes na Comarca do Serro do Frio. Primeiras administrações.
Revista do Arquivo Público Mineiro, Belo Horizonte, vol. VIII, p.251-263, 1902.
60
ARQUIVOS NACIONAIS DA TORRE DO TOMBO. Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Papeis do Brasil. Regimento dado por El Rei Dom João, mas escrito por Alexandre de
Gusmão, ao novo governador das Minas, Martinho de Mendonça Pina e Proença, com
referências muito particulares ao sistema da capitação a inaugurar naquela capitania, 30 abril
de 1733.
61
GOMES. Martinho de Mendonça e a sua obra pedagógica, p.77-78.
62
GOMES. Martinho de Mendonça e a sua obra pedagógica, p.84-89.
63
No Brasil destacam-se a Academia Brasílica dos Esquecidos e a dos Renascidos. cf.
KANTOR. Esquecidos e Renascidos.
64
MASSEAU. L'invention de l'intellectuel dans l'Europe du XVIIIe siècle, p.6.
65
PALMA-FERREIRA. Academias literárias dos séculos XVII e XVIII, p.31-38.
66
SILVA. Introdução, p.27-29; CLUNY. D. Luís da Cunha e a idéia de diplomacia em
Portugal, p.23-24; KANTOR. Esquecidos e Renascidos, p.45-57.
67
SILVA. Introdução, p.34.
68
MOTA. A Academia Real da História.
69
MOTA. A Academia Real da História, p.33.
70
CLUNY. D. Luís da Cunha e a idéia de diplomacia em Portugal, p.107-108.
71
MOTA. A Academia Real da História, p.60.
72
CARTA a Marco António de Azevedo Coutinho, 18 de fevereiro de 1742. Localizado em
Arquivos Nacionais da Torre do Tombo. Ministério dos Negócios Estrangeiros. Caixa 561.
Doc.42,
73
MOTA, Isabel Ferreira da. A Academia Real da História, p.60.
74
CARTA a Diogo de Mendonça Corte Real, do Conselho de Sua Magestade e seu secretário de
estado. Localizado em Arquivos Nacionais da Torre do Tombo. Arquivo do Conde de
Linhares, vol.1.
75
MASSEAU. L'invention de l'intellectuel dans l'Europe du XVIIIe siècle, p.15.
76
CUNHA. Carta de D. Luis da Cunha em resposta do aviso que o Secretario da Academia lhe
fez de estar nomeado Académico Supranumerário, p.86.

123
77
CARTAS de Dom Luís da Cunha ao 2o. Conde de Assumar. Códice 1608, 16 de março de
1716. Localizado em Biblioteca Nacional de Lisboa, Seção de Reservados.
78
MEMÓRIAS particulares ou anedotas da Corte de França, apontadas por José da Cunha
Brochado no tempo que serviu como enviado naquela Corte, 1696-1702, f.41. Localizado em
Biblioteca Nacional de Paris, seção de manuscritos. Portugais 18.
79
MOTA. A Academia Real da História, p.47.
80
CUNHA. Carta de D. Luis da Cunha em resposta do aviso que o Secretario da Academia lhe
fez de estar nomeado Académico Supranumerário, p.87.
81
MOTA. A Academia Real da História, p.54.
82
CUNHA. Elites e Acadêmicos na cultura portuguesa setecentista, p.11.
83
CARTA a Diogo de Mendonça Corte Real, f.1-1v, vol.1. Localizado em Arquivos Nacionais
da Torre do Tombo, Arquivo do Conde de Linhares. (grifo meu)
84
A amizade adquiria uma dimensão hierárquica e desigual. FURTADO. Homens de negócio,
p.60.
85
MINUTAS de cartas de Dom Luís da Cunha para Francisco Mendes de Góes, doc.71, 4 de
dezembro de 1727. Localizado em Arquivos Nacionais da Torre do Tombo. Ministério dos
Negócios Estrangeiros. Caixa 1, maço 1.
86
MASSEAU. L'invention de l'intellectuel dans l'Europe du XVIIIe siècle, p.15.
87
CHARTIER. La correspondance.
88
HOOCK-DEMARLE. L’Europe des lettres, p.10. (grifos da autora)
89
FRIGO. Ambassadeurs et diplomatie à l’époque moderne: modèles et pratiques entre l’Italie
et l’Europe, p.38-39.
90
FRIGO. Ambassadeurs et diplomatie à l’époque moderne, p.39.
91
MAGALHÃES. A diplomacia na História de Portugal, p.14
92
VÁSQUEZ. Privacidade e publicidade: a correspondência pessoal como forma de
intervençom nos campos intelectual e do poder, p.76.
93
CORRESPONDÊNCIA de Dom Luís da Cunha e do conde da Ericeira, f.311, 23 de setembro
de 1743 Manuscritos da Livraria, n.1944. Localizado em Arquivos Nacionais da Torre do
Tombo. Ministério dos Negócios Estrangeiros.
94
LISBOA; MIRANDA; OLIVAL. Gazetas manuscritas da Biblioteca Pública de Évora, p.49.
95
As cifras eram frequentemente usadas na correspondência diplomática e consistiam numa
ferramenta criada para evitar a curiosidade dos ministros e das cortes concorrentes. Segundo
Lucien Bély, as cifras eram uma ferramenta essencial do diplomata e podiam ser invocadas
para diferentes fins. Assim, em Utrecht, Dom Luís da Cunha para postergar, junto aos
ingleses, a aceitação por Portugal da cessação de armas contra os espanhóis, se escusa dizendo
que como tinha deixado os códigos das suas cifras em Lisboa, não era capaz de compreender
as ordens que tinham vindo do reino. Londres. Public Record Office, S.P.84/243. f.254-259,
lettre de Strafford à Saint-John, Utrecht, 9 de agosto de 1712. Apud: BÉLY. Espions et
ambassadeurs, p.155.
96
FURTADO. Homens de negócio, p.57-72.
97
BÉLY. Espions et ambassadeurs: au temps de Louis XIV, p.13.
98
MINUTAS de cartas de Dom Luís da Cunha para Francisco Mendes de Góes, 1716 a 1719,
Doc 13. Localizado em Arquivos Nacionais da Torre do Tombo. Ministério dos Negócios
Estrangeiros. Caixa 1, maço 2.
99
DOCUMENTOS diplomáticos de França. Localizado em Arquivos Nacionais da Torre do
Tombo. Ministério dos Negócios Estrangeiros. Caixa 564, doc.356, ano 1756.
100
ARQUIVO DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA. Cartório de Dom Luís da Cunha.
Doc.871.

124
101
FURTADO. Homens de negócio, p.61-62.
102
LABOURDETTE, F. L'ambassade de Monsieur de Chavigny à Lisbonne (1740-1743).
103
A lista de grande parte dos missivistas de Dom Luís pode ser vista no levantamento de seus
papeis que foi realizado em Paris logo após sua morte: DOCUMENTOS diplomáticos de
França. Localizado em Arquivos Nacionais da Torre do Tombo. Ministério dos Negócios
Estrangeiros. Caixa 564, doc.356, ano 1756. No entanto ela não está completa, pois muitos
maços foram arrolados como “correspondentes diversos”.
104
Não se tem a lista completa dos correspondentes de d’Anville, infelizmente perdida até
agora. Há algumas poucas cartas dispersas nos arquivos, algumas poucas foram publicadas e
uma lista de parte delas pode ser vista em: MANNE. Lettres autographes adressées a
d’Anville, p.249-256.
105
MANNE. Lettres autographes adressées a d’Anville, p.253.
106
MANNE. Lettres autographes adressées a d’Anville, p.249-256.
107
Trata-se do filho do então secretário de Estado, de mesmo nome, que fora nomeado
embaixador em Cambrai.
108
OFÍCIOS de Londres de Dom Luís da Cunha, dirigidos ao Conde de Assumar 1705-1711.
Lata 343-1-4. Localizado em Arquivo do Itamaraty (AI). Rio de Janeiro.
109
Em carta ao cardeal da Cunha, Dom Luís relata uma divergência entre os dois ocorrida em
Londres em 1711 e se justifica por não ter seguido as ordens dadas por Tarouca, e que ficava
esperando instruções do reino. “Confesso a VIllma. que é muito digno de louvor a vigilância e
a atividade com que o conde de Tarouca quer adiantar as conveniências de SMde, mas no
mesmo tempo também lhe seguro que não ousei fazer a dita diligência na forma em que o dito
conde me insinuava sem ordem de SMde, porque oferecendo-me as ditas razões entendi que
me não escusaria acomodar-me ao seu juízo só porque ele o tomara a sua conta e o mesmo
julgou Joseph da Cunha Brochado com quem devagar consultei este negocio e ambos
examinamos o material”. Cartas de Dom Luis da Cunha para cardeal da Cunha – inquisidor
geral, f. 171v, Londres 12 de maio de 1711. Localizado em Biblioteca Nacional de Lisboa.
Reservados. Cód.11.209; Poucos dias depois se lamenta o “dissabor, o qual sinto como se nele
tivesse a maior parte porque com efeito sou muito seu amigo, ainda que depois deste acidente
ele [Tarouca] o não queira entender e reconheço as superiores qualidades de que é dotado”.
CARTAS de Dom Luis da Cunha para cardeal da Cunha – inquisidor geral, f.185, Londres 7
de julho de 1711. Localizado em Biblioteca Nacional de Lisboa. Reservados. Cód.11.209.
110
CLUNY. O conde de Tarouca e a diplomacia na época moderna, 2006.
111
BIBLIOTECA NACIONAL DE LISBOA. Reservados. AT 165, f.1, 1728.
112
BIBLIOTECA NACIONAL DE LISBOA. Reservados. AT 165, f.34, 10 de junho de 1728.
113
Isabel Clunny destaca que, enquanto a correspondência de Tarouca era farta de referências a
sua vida privada, na de Dom Luís elas eram bastante escassas, fazendo parte de uma estratégia
“de ocultação do eu”. CLUNNY. A correspondência do conde de Tarouca, p.105.
114
BIBLIOTECA NACIONAL DE LISBOA. Reservados. AT 165, f.1, 1728.
115
CARTAS de Dom Luis da Cunha para cardeal da Cunha – inquisidor geral, f.27, Londres 12
de março de 1709. Localizado em Biblioteca Nacional de Lisboa, reservados. Cód.11.209.
116
Apud: DIAS. Portugal e a cultura europeia (sécs. XVI a XVIII), p.477.
117
ARQUIVO DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA. Cartório de Dom Luís da Cunha.
Doc.828, p.1-1v.
118
CARTAS de Dom Luis da Cunha para cardeal da Cunha – inquisidor geral, f.230, Londres, 8
de dezembro de 1711. Cód.11.209. Localizado em Biblioteca Nacional de Lisboa.
Reservados.
119
ARQUIVO DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA. Cartório de Dom Luís da Cunha.
Doc.894, p.1-1v.

125
120
OFÍCIOS de Londres de Dom Luís da Cunha, dirigidos ao Conde de Assumar 1705-1711.
Lata 343-1-4. Localizado em AI.
121
MINUTAS de cartas de Dom Luís da Cunha para Francisco Mendes de Góes, 1716 a 1719.
Localizado em Arquivos Nacionais da Torre do Tombo. Ministério dos Negócios
Estrangeiros.. Caixa 1, maço 2, Doc 13.
122
NIZZA DA SILVA. D. João V, p.265.
123
BÉLY. Espions et ambassadeurs au temps de Louis XIV, p.12.
124
BÉLY. Espions et ambassadeurs au temps de Louis XIV, p.327.
125
CARDIM. A prática diplomática em Europa do Antigo Regime, p.42-46; CLUNNY. Os
diplomatas de negociação e de representação em Portugal no século XVIII, p.53-68.
126
FRIGO. Ambassadeurs et diplomatie à l’époque moderne: modèles et pratiques entre l’Italie
et l’Europe, p.31.
127
CUNHA. Instruções políticas, p.190.
128
FRIGO. Ambassadeurs et diplomatie à l’époque moderne: modèles et pratiques entre l’Italie
et l’Europe, p.31.
129
MAGALHÃES. A acção diplomática no pensamento dos diplomatas portugueses dos séculos
XVII e XVIII, p.14.
130
MEMÓRIAS particulares ou anedotas da Corte de França, apontadas por José da Cunha
Brochado no tempo que serviu como enviado naquela Corte, 1696-1702, f.40-41. Localizado
em Bibliotéque Nationale François Miterrand. Seção de Manuscritos. Portugais 18.
131
ARQUIVOS NACIONAIS DA TORRE DO TOMBO. Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Caixa 561, M.E III A.Fr.C2. n.124, 27 de julho de 1744.
132
D’ARGENSON. Journal et mémoires du marquis d’Argenson, p.226.
133
Sobre os tipos e as hierarquias na carreira diplomática da época cf. CARDIM. A prática
diplomática em Europa do Antigo Regime, p.42-46; CLUNY. Das embaixadas itinerantes às
embaixadas permanentes, p.42.
134
CLUNY. Dom Luís da Cunha e a idéia de diplomacia em Portugal, p.171-177. Cluny
acredita tratar-se de sua nomeação como agente especial em Paris (p.171).
135
MINUTAS de cartas de Dom Luís da Cunha para Francisco Mendes de Góes, 1716 a 1719.
Localizado em Arquivos Nacionais da Torre do Tombo. Ministério dos Negócios
Estrangeiros. Caixa 1, maço 2. Doc 2.
136
ALMEIDA. A autenticidade do testamento político de D. Luís da Cunha.
137
SERRÃO. História de Portugal (1640-1750), v.5, p.330.
138
CHARTIER. The man of letters, p.133.
139
Le fait divers. Paris: Musée National des Arts et Traditions Populaires/Ministère de la
Culture, 1982, p.111.
140
Louis Bénigne François Bertier de Sauvigny foi intendente de Paris, entre inúmeras medidas
reformadoras, a partir de 1785, mandou realizar os planos das diversas paróquias de Paris para
melhor organizar a tributação.
141
DE SAUVIGNY. Catalogue des livres de feu M. Sanchès, p.25 e 27.
142
CHARTIER. The man of letters, p.128.
143
CARTAS de Dom Francisco Xavier de Mendonça (4º. Conde da Ericeira) a Dom Luís da
Cunha, f.312, 23 de setembro de 1743. Localizado em Arquivos Nacionais da Torre do
Tombo. Manuscritos da Livraria, 1944.
144
CARTAS de Dom Francisco Xavier de Mendonça (4º. Conde da Ericeira) a Dom Luís da
Cunha, f.312. Localizado em Arquivos Nacionais da Torre do Tombo. Manuscritos da
Livraria, 1944.
145
OLIVEIRA. Memórias das viagens de Francisco Xavier de Oliveira, t.1, p.137.

126
146
FERREIRA. Correspondência de D. João V e D. Bárbara de Bragança, rainha de Espanha
(1746-1747), p.195.
147
CUNHA. Instruções políticas, p.194.
148
Apud : BÉLY. Espions et ambassadeurs au temps de Louis XIV, p.389.
149
CUNHA. Carta de Instruções a Marco Antônio de Azevedo Coutinho, p.195. (grifo meu)
150
CAMPORESI. Hedonismo e exotismo.
151
BÉLY. Espions et ambassadeurs au temps de Louis XIV, p.395.
152
CAMPORESI. Hedonismo e exotismo, p.14.
153
“La digestion facilitait les confidences”. BÉLY. Espions et ambassadeurs au temps de Louis
XIV, p.397.
154
CLUNY. O conde de Tarouca e a diplomacia na época moderna, p.243.
155
CARTAS de Dom Luis da Cunha para cardeal da Cunha – inquisidor geral, f.244, Londres,
26 de janeiro de 1712. Localizado em Biblioteca Nacional de Lisboa. Reservados.
Cód.11.209.
156
CARTAS de Dom Luis da Cunha para cardeal da Cunha – inquisidor geral, f.246v, Londres,
2 de fevereiro de 1712. Localizado em Biblioteca Nacional de Lisboa. Reservados.
Cód.11.209. (grifo meu)
157
O cardeal era um núncio papal em serviço na corte parisiense, onde se conectou com vários
intelectuais. Participou como embaixador em Utrecht, desempenhando papel importante na
redação do acordo final.
158
BÉLY. Espions et ambassadeurs au temps de Louis XIV, p.396.
159
BÉLY. Espions et ambassadeurs au temps de Louis XIV, p.396.
160
CLUNY. O conde de Tarouca e a diplomacia na época moderna, p.264.
161
Carruagens eram símbolos importantes de dignificação e como os embaixadores
representavam seus príncipes deviam se apresentar de forma adequada. Dois momentos
ímpares em que Dom João V se valeu desse expediente para se fazer representar com toda a
pompa foram a entrada pública que o conde da Ribeira Grande fez em Paris quando ali chegou
como embaixador em 1715 e a troca das princesas em rio Caia em janeiro de 1729. (Notícia
da entrada pública que fez na corte de Paris em 18 de agosto de 1715 o excelentíssimo senhor
Dom Luís Manoel da Câmara, conde da Ribeira Grande. Lisboa: José Lopes Ferreira, 1716.)
A questão era tão delicada que quando o tratado estabelecido entre espanhóis e portugueses
em Utrecht estava pronto para ser assinado, como o embaixador espanhol já mandara de volta
os coches e não podia fazer uma entrada de praxe e com pompa, devido à impossibilidade de
manter o protocolo, decidiu-se por assinar o acordo no parque no parque. CARTAS do Conde
de Tarouca e de Dom Luis da Cunha nas quais se continua a negociação de Utrecht para
Diogo de Mendonça Corte Real, f.281, 12 de fevereiro de 1715. Localizado em Arquivos
Nacionais da Torre do Tombo. Ministério dos Negócios Estrangeiros. Livro 788.
162
BÉLY. Espions et ambassadeurs au temps de Louis XIV, p.396.
163
CLUNY. O conde de Tarouca e a diplomacia na época moderna, p.271.
164
ARQUIVO GERAL DE SIMANCAS. Estado, Legajo 7091, f.1-1v, Lisboa 23 de fevereiro
de 1717.
165
Não era o primeiro encontro entre os dois. Quando a rainha Anne morreu, o novo rei, que era
eleitor de Hanôver, passou por Haia, onde se encontrava Dom Luís, à caminho da Inglaterra.
Dom Luís conseguiu se encontrar com ele e apresentar os interesses de Portugal. O encontro
foi alvissareiro, pois ele escreve que passou a ter mais esperanças de um apoio inglês.
CARTAS de Dom Luis da Cunha para cardeal da Cunha – inquisidor geral, f.441-445, 27 de
setembro de 1714. Localizado em Biblioteca Nacional de Lisboa. Reservados. Cód.11.209.

127
166
“J’ai donné um grand dîner à m. d’Acunha”. OFICIO de Dom Luis para a Secretaria de
Estado, 17 de agosto de 1746. Localizado em Arquivo da Universidade de Coimbra. Cartório
de Dom Luís da Cunha. Doc.359.
167
OFÍCIO de Dom Luis para a Secretaria de Estado, 1º. de abril 1746. Localizado em Arquivo
da Universidade de Coimbra. Cartório de Dom Luís da Cunha. Doc.788.
168
D’ARGENSON. Journal et mémoires du marquis d’Argenson, t.1, p.248.
169
CARTA de Dom Luís da Cunha para Tomás da Silva Teles, 12 de maio de 1749. Localizado
em Arquivo da Universidade de Coimbra. Cartório de Dom Luís da Cunha.. Doc.1105
170
Carta de Tomás da Silva Teles para Dom Luís da Cunha, 12 de maio de 1749. Localizado em
Arquivo da Universidade de Coimbra. Cartório de Dom Luís da Cunha.. Doc.1106.
171
RAU. Cartas de Dom Luís da Cunha para o 1º. Duque de Cadaval (1715-1725), p.10.
172
Le fait divers, p.113.
173
LISBOA. Gazetas feitas à mão, p.115.
174
CORRESPONDÊNCIA de Jose da Cunha Brochado com Dom Luis da Cunha, carta 17, 5 de
agosto de 1712. Localizado em Arquivos Nacionais da Torre do Tombo. Manuscritos da
Livraria, maço 638.
175
ARQUIVOS NACIONAIS DA TORRE DO TOMBO. Ministério dos Negócios
Estrangeiros. Caixa 561, M.E III A.Fr.C2. n.1, Paris 11 de janeiro de 1740.
176
ARQUIVOS NACIONAIS DA TORRE DO TOMBO. Ministério dos Negócios
Estrangeiros. Caixa 561, M.E III A.Fr.C2. n.73,Paris 13 de abril de 1743.
177
Carta de 25 de outubro de 1744. Apud: MONTEIRO Meu pai e meu senhor muito do meu
coração, p.31, 33, 36.
178
Le fait divers, p.113.
179
REYNAUD. Le temps de l’information dans la presse politique au XVIIIe siècle: grandeur et
décadence du modèle gazette, p.15.
180
Era guarda-mor do Arquivo Real, depois Torre do Tombo.
181
Compilou estes excertos em Memorias ressuscitadas da provincia de entre Douro e Minho,
1726
182
MERCURE DE FRANCE. Setembro de 1723, p.357-358, Nouvelles des Pays Etrangères,
Nouvelles de l’Acadèmie Royale de l’Histoire de Lisbone.
183
CARTAS do Marquês d Abrantes para Francisco Mendes de Góis. Doc.17, Madrid, 28 de
abril de 1727. Localizado em Arquivos Nacionais da Torre do Tombo. Caixa 1, março 5.
184
MERCURE DE FRANCE. 17 de dezembro de 1749, p.169, Lettre de M. d’Anville, à M.
Remond de Sainte Albine, sur une nouvelle Carte d’Amerique Meridionale.
185
MERCURE DE FRANCE. Octobre, p.162-164, Carte geographique de M. Bellin.
186
MERCURE DE FRANCE. Mai, p.97-102, Extrait d’une lettre... sur la passage au nordest le
l’Asie.
187
MERCURE DE FRANCE. Outubro de 1723, p.773, Nouvelles des Pays Etrangères,
Nouvelles de l’Acadèmie Royale de l’Histoire de Lisbone.
188
MERCURE DE FRANCE. Dezembro de 1723, p.1192.
189
MERCURE DE France. Juillet 1723, p.174.
190
MERCURE DE France. Novembre 1723, p.1046-47.
191
CARTAS do Marquês do Abrantes para Francisco Mendes de Góis. Doc.51, Madrid, 9 de
fevereiro de 1728. Localizado em Arquivos Nacionais da Torre do Tombo. Caixa 1, março 5.
192
O termo brasileiro é seguidamente empregado nesta correspondência por Dom Luís para se
referir aos traficantes de escravos oriundos do Brasil. É interessante salientar que é neste
contexto que o termo é cunhado, representando uma burguesia comercial nativa, cujos

128
interesses frequentemente se choca com a portuguesa. ARQUIVO DA UNIVERSIDADE DE
COIMBRA. Cartório de Dom Luís da Cunha. O grande Cunha em Haia. Cód.3016, f.21-21v.
“porque bem considero que se a Companhia tem grande prejuízo e lhe falta o comércio que os
brasileiros lhe levam a Elmira ou forte de S. George, também estes receberam grande perda
em não resgatarem os negros de que necessitam, sem não venderam os maus tabacos que não
tem outra melhor saída”. (grifo meu)
193
BIBLIOTECA NACIONAL DE LISBOA. O grande Cunha em Haia. Cód.3016, f.24-24v,
Haya 26 de agosto de 1728.
194
BIBLIOTECA NACIONAL DE LISBOA. O grande Cunha em Haia. Cód.3016, f.25, 2 de
setembro de 1728.
195
Registro de correspondência de vários embaixadores (caderneta 170B da sala dos índices),
vol.21, p.368. Apud: CARVALHO. Relações entre Portugal e a Rússia no séc. XVIII, p.15.
(grifo meu)
196
ARQUIVOS NACIONAIS DA TORRE DO TOMBO. Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Caixa 789. Dom Luis da Cunha, embaixador em Haia, 16 cartas de 1728 a 1736 dirigidas a
Marco Antonio de Azevedo, n.11, 25 de dezembro de 1732. (grifos meus)
197
HABERMAS. Mudança estrutural da esfera pública.
198
OFÍCIO para a Secretaria de Estado, 19 de agosto de 1736. Localizado em Arquivo da
Universidade de Coimbra. Cartório de Dom Luís da Cunha. Doc.359.
199
CARTAS de Dom Luís da Cunha, de Haia, 1736, f.191v, 28 de agosto 1736. Localizado em
Biblioteca da Real Academia de Ciências. Série Azul, Maço 608.
200
MERCURE DE France. Decembre, p.158, Journal de Paris.
201
MERCURE DE France. Janvier de 1722, p.193-196, Journal de Paris.
202
MERCURE DE France. Mars de 1723, p.565-566, Nouvelles des Pays Etrangères, Nouvelles
de l’Acadèmie des Anonimes et Royale de l’Histoire de Lisbonne.
203
MERCURE DE France. 23 Novembre de 1723, p.1046-1047, Journal de Paris e Decembre
de 1723, p.1.344-1.354, Feste donnée a Paris, par M. L’Ambassadeur de Portugal.
204
HABERMAS. Mudança estrutural da esfera pública, p.23.
205
MERCURE DE France. Decembre de 1749, p.207 – Morts.
206
Isabel Clunny discute o papel de representação do soberano que os embaixadores estavam
investidos enquanto diplomatas nomeados. “os embaixadores são pessoas publicas que os
príncipes mandam a outras cortes”. CLUNNY. D. Luís da Cunha e a ideia de diplomacia em
Portugal, p.51-53.

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