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Literatura Comparada Hoje Eduardo F Coutinho (urRy) Pensar a Literatura Comparada em nossos dias € tarefa bas- tante complexa, que traz & tona, de imediato, uma série de pro- blemas de ordem distinta: desde a indagacio sobre os proprios conceitos de Comparatismo até 0 estabelecimento de relagbes capazes de por em xeque o etnocentrismo que caracterizou a dis- ciplina em sua fase inicial e que sempre esteve presente em seu discurso teérico-critico, Surgida em contraposicao aos estudos de literaturas nacionais ou produzidas em um mesmo idioma, a Literatura Comparada traz como marca fundamental, desde ‘5 seus primérdios, a nogao de transversalidade, seja a respei- to das fronteiras entre nagdes ou idiomas, seje no que concerne a0s limitesentre areas do conhecimento. Tal transversalidade, 20 assegurar & disciplina um caréter de amplitude, confere-lhe a0 mesmo tempo um sentido de inadequacio 4 compartimentacio do saber que, como afirma Wlad Godzich em seu The Culture of Literacy, dominou as instituigdes de ensino no Ocidente a partir do Lluminismo’, e projeta 2 Literatura Comparada em um terre no pantanoso, cujas fronteiras, frequentemente esgarcadas, tor nam dificil qualquer delimitacdo. Assim, desde a época de sua configuragao e consolidagao como disciplina académica, as ten tativas de defini-la estendem-se destle os que, iludidos pela ideia da comparagio, a veem como um simples método de abordagem do fendmeno literério, até os que a tomam, no sentido amplo, como area do conhecimento, Deixando de lado qualquer tenta. tiva de aprisionamento da Literatura Comparada em formulas linguisticas’ definidoras, teceremos aqui algumas consideragbes sobre a evolugio histérico-conceitual da disciplina, procurando assinalar as principais tendéncias por que ela vem pasando, em ‘especial nas tiltimas décadas. ‘uso de se comparar literaturas teve origem muito antes dea Literatura Comparada ser reconhecida como uma disciplina regi- da por certos principios e métodos. No entanto, é sé no século x1x que ela comega a instituir-se como area do saber e @ definir seus rumos e objetos de atuacao. Num rastreio ao velho hébito da com- paracdo, por momentos distintos da histéria da literatura, todos anteriores a sua configuracéo como disciplina, avultam exemplos que, significativos, merecem registro. Jé na Antiguidade, especia- listas como Berossos ou Filon de Biblos eram versados em duas literaturas, endo escrito sobre ambas. Os mesmos mitos frequen- tavam diferentes literaturas e os mitégrafos comparavam textos de comiinidades diferentes, criando seus préprios herdis tribais a partir de mifos anteriores. Na Roma Classica, autores como Ma- crobius e Aulus Gellius teceram diversos paralelos entre poetas romanos € gregos; ¢, na Renascenga, 0 comparatismo chegou a tormar;se moda na Europa, dévido, em grande parte, & doutrina da imsitacdo, que exigia comparagdes ¢ 0 estudo de influéncias. No 1 Wad God, The Cure of Lira, Cambridge, Harvard UP. 194 9.274. LITBRATURA COMPARADA HOJE » século xvii, a comparacio entre obras literérias cléssicas e mo- demas voltou a ocupar um primeiro plano, gerando inclusive a famosa Querela dos Antigos e dos Modernos, e, finalmente, apés ssa época, intimeros foram 0s casos isolados de escritores ou cri- ticos que, marcados por acentuado senso de cosmopolitismo, rea- lizaram estudos comparativos de autores, obras, movimentos, ou até literaturas de maneira geral: Goethe, Herder, Lessing, Mme. de ‘Staél, os irmaos Schlegel, Henry Hallam e Sismondi, No século x1x, & diferenca do que ocorrera até entio, surge necessidade de sistematizacio do comparatismo ¢ a Literatura ‘Comparada principia a erigir-se como area do conhecimento. a época de grande fé na ciéncia, em que o empirismo e 0 mé- todo indutivo desempenham papel de relevo, e a disciplina nao deixar de portar essas marcas, s6 muito mais tarde postas em questao. E também 2 época em que se incrementa 0 pensamen- to cosmopolita ¢ se amplia o interesse por culturas que fogem ao eixo europeu. As linguas despertam intensa curiosidade ¢ tornam-se objeto da Linguistica Comparada. A Literatura co- mega a ser encarada por uma dptica conscientemente compa: ratista, e surgem os primeiros cursos e estudos sobre 0 assunto. ‘Um quadro exaustivo dos passos da Literatura Comparada em sua fase de afirmagio e autodefinicio escaparia sem diivida a0 mbito deste ensaio, mas expressivas, ainda que breves, pince- ladas, nao devem tampouco ficar & margem. Seguem-se, assim, algumas delas. Em 1816, antes ainda da grande voga cientifi- cista, Noel e Laplace publicam na Franca uma série de anto- logias de diversas literatutas, sob 0 rétulo genérico de Curso de Literatura Comparada, e entre 1828 e 1840, 0 termo aparece empregado na obra Panorama da Literatura Francesa do Século xvin, do professor Abel-Frangois Villemain, que, jé em 1828- -1829, ministrara na Sorbonne um curso sobre o assunto. Em 1830, J. J. Ampere refere-se & “histdria comparativa das artes € da literatura” em seu Discurso sobre a Histéria da Poesia, e, dex anos depois, reemprega o termo no titulo da obra Histéria da Literatura Francesa Comparada ds Literaturas Estrangeiras. Em 1835, por fim, Philaréte Chasles se encarrega de,formular alguns principios basicos do que considerava ser ima “histéria da lite- ratura comparada’,e patte para sugerit uma visdo conjunta da histéria da literatura, da flosofia e da politica nos cursos que iré ministrar, em 1841, no Collége de France’. Embora as obras mencionadas tenham na realidade mui- to pouico do que hoje se ver compreendendo como Literatura Comparada ~ 0 estudo de Noel e Laplace, por exemplo, ndo pas- sa de um: coletinea de textos escolhidos, sem nenhuma preo- cupagéo com o confronto, e 0 Panorama do professor Villemain nao contém mais do que breves referéncias a outras literaturas fora da mnteiras da Franga -, elas expressam ao menos uma da necessidade de constituigao da disciplina e de , pela cunhagem do termo para designé-la. Tal preocupacao, porquanto mais presente na Franga, conforme se sua legitimag: verifica posteriormente na Revue des Deux. Mondes, de Saint- Beuve, ¢ em seus Nouveaux Lundis (1884), no deixa, todavia, de figurar, ¢ com vigor inegavel, em textos de autores oriundos de outras nagées do Ocidente Europeu. Na Alemanha, Moriz. Carridre jé adota, em 1854, no livro Das Wesen und die Formen der Poesie, a expressio vergleichende Literaturgeschichte, mais tarde difundida como vergleichende Literaturwissenschaft. Na ‘télia, De Sanctis jé leciona a disciplina em Népolis, em 1863, ¢ Mazzini declara, em seus Seritti (1865-1867), que nenhume li- teratura pode alimentar-se de si mesma ou escapar influéncia 2.-Vor Robert | Clements, Compartine Lieretare as Academie Discipline, New York a. 3978;¢ Ulich Ween, Comparative Literatur and Literary Theory, looming. ton indiana Un Pes, 1975. LITERATURA COMPARADA HOJE 2 de literaturas estrangeiras’, Na Gra-Bretanha, em 1886, surge 0 livro Comparative Literature, de Hutcheson McCauley Posnett’, que, apesar do enfoque adotado, de cunho predominantemente sociolégico, ¢ até hoje conhecido como o primeiro, em lingua inglesa, dedicado exclusivamente & matéria. Essa fase inicial, designada pelos teéricos mais recentes como pré-histéria da Literatura Comparada, evolui, da ultima década do séctilo xrx até meados do século xx, para um momen to de certa efervescéncia, em que a disciplina penetra no meio académico, tornando-se objeto de ensino em universidades eu- ropeias e norte-americanas e dotando-se de bibliografia espectfi. cae publicagées especializadas. E entio que surgem as primeiras cctedras universitérias: Lyon (1887), com Joseph Texte, e Sorbon- ‘ne (1910), com Fernand Baldensperger, e, em seguida, Jean-Marie ‘Carré, na Franga; Harvard (1890), com Arthur Richmond Marsh, ¢\ mais tarde, com H. C, Schofield e Irving Babbit, e Columbia (4899), com George Woodberry, nos Estados Unidos. £ entzo também que se publica a primeira bibliografia sobre o assunto, de Louis Betz, com o titulo La Littérature comparée: essai biblio- graphique’ (1904), marco de consolidagao do termo “Literatura Comparada” e base da famosa Bibliography of Comparative Lite- rafure’, de Fernand Baldensperger e Werner Friederich, dada a puiblico quase cinquenta anos depois e considerada como 0 inicio dos modernos estudos da disciplina. & ainda desse periodo que datam a Revue dé Littérature Comparée (1921), criada por Fer- nand Baldensperger e Paul Hazard, considerada, durante longos 3 Vernota2 “+ HLM, Beene, Compartve iterate (1886 rt New York: Johnson Reprints 1970) 5 Louis Pal Bets, La Litraire compart esl iblgraphigue,Eatasburgo,K. Trib 6, Fernand Baldenserger & Werner Feeder, Biography of Comparative Literatu, (Chapel Hl, Unis of Neth Calisa Pres, 50 2: _Eerup0s Courazanos: Tonia, cxinica £ mEronoLoGiA anos, 0 principal veiculo de divulgacao de trabalhos na érea, ¢ 0 ual de Van Tieghem, La Littératuré comparée (1931), adotado «em todos os principais centros de ensino da matéria. Estas duas tltimas publicagGes, bem como os demais manusis que a elas se seguiram com mesmo titulo - os de Frangois-Marius Guyard (0951), © de Claude Pichois e André Rousseau’ (1967) -; sio al- gumas das maiore’ expressOes da chamada era clssica do com- paratismo francés, que hoje se tornou conhecida como “Escola Francesa” de Literatura Comparada. Tendo desempenhado papel fundamental no processo de consolidagao da disciplina, e dominado o universo académico por mais de meio século dentro e fora do pals de origem, a Escola Francesa, apesar de hoje amplamente questiondvel em seus prin- cipios e métodos, deixou cicatrizes no comparatismo que ainda se fazem sentir, A orientagio dominanté era de ordem histérica ou historiogrifice, calcada na pesquisa de fontes ¢ influencias e restringia o alcance da disciplina ao terreno das aproximagées bi- nrias e & constituigéo de “familias literérias” A Literatura Com- pacada era vista como um ramo da Histéria da Literatura, eos au- tores, obras e movimentos, como manifestagdes de um contexto determinado, e, portanto, abordados por uma, éptica extrinseca, (© fendmeno litersrio nao intéressava em si mesmo, mas em suas relagbes quer com a série em que se insertava quer com outfos 1 que sé assemelhava, e nesses casos a comparagao dependia de uum contato real e comprovado, documentado. Investigavam-se as filiagdes de- uma obra, autor ou movimentos, e as influéncias que eles teriam exercido sobre outros, ¢ficava-se, na maioria das au Van Teg, La Literature compare, Pai Ca, ommparde, Pas, Petes Univerataies de Franc, 395 1°. Plcoie & A, Rowse, La Litrtire compari, Pari, Coin 1967 Eat Simo ‘eve uma eee ampiadae tualizada, com 2 colaboraghe de mais um aut Pere Bryoel tule Qu oe er, ar Lermeariiaa companapa OVE 2 vvezes, em um plano puramente analégico-descritivo. E verdade ‘que, em alguns casos, tais estudos (cuja tinica diferenga é a énfase sobre 0 emissor - influéncias ~ ou sobre o receptor - fontes) con- tribuiram para o melhor conhecimento de uma obra ou autor, revelando enganos e falicias, ou para avaliar a importéncia que estes tiveram em contextos posteriores, mas 0 que ocorreu com frequéncia foi o rastejo descritivista de tracos epidérmicos, que no raro desaguou em labor de cunho simplesmente detetivesco. ‘A ruptura com essa tradi¢ao vai ocorrer em 1958, durante 0 II,Congresso da Associacio Internacional de Literatura Com- parada (atc/1cta), fundada poucos anos antes. Nesse Con- gresso, organizado por Werner Friederich, na Universidade de Carolina do Norte, em Chapel Hill (eva), René Wellek apresenta uma conferéncia como titulo provocativo de “A Crise da Lite- ratura Comparada”, em que procede a um balango da discipli- ma ¢ investe contra suas fragilidades teéricas e a incapacidade de estabelecer, até aquela época, um objeto de estudo distinto e ‘uma metodologia especifica. O texto, verdadeiro libelo contra 0s pronunciamentos do grupo francés, representado por Bal- densperger, Van Tieghem, Carré e Guyard, desperta imensa ce- leuma, ¢ constitui uma espécie de ponto de partida do que vem a ser designado mais tarde, em oposigio Francesa, de “Escola Americana” de Literatura Comparada. Tais termos, observe-se, embora pitrio-gentilicos, nao tém qualquer conotagio de teor nacionalista, Antes, apontam para uma polémica entre duas ge- ragdes de comparatistas: uma mais antiga, cléssica, composta na maioria por proféssores e pesquisadores franceses, que encarava 19 R Walk, “The Crisis of Comparative Lteraturd, em Werer Fiederch (or); Comparative Literature: Proceedings ofthe II Congres ofthe re, Chapel Hil, Univ ‘of North Carona Pres, 195, ol. p.s5-60. Rep én René Welk, Cancepis of CCtcian, New Haven, Yale Uni res 983, pp 2-25 a disciplina por um viés predominantemente centripeto, e outra ‘mais recente, moderna, centrada principalmente em universida- des norte-americanas, ¢ que opunha a visio tradicional outra de cunho mais centrifugo. Influenciado pelo formalismo russo, pela fenomenologia e pelo new criticism norte-americano, Wellek critica com veemén- cia os estudos de fontes e influéncias, de ordem extraliteréria e baseados em principios causalistas, e propde um andlise centrada primordialmente no texto, Entretanto, ele nao se atém completa- ‘mente & postura imanentista dessas correntes; ao contrério, con- sidera também importante o estudo das relagdes entre o texto € © contexto em que este fora produzido. Sua critica incide sobre 6 historicismo tradicional, mas nao sobre a dimenséo hist6rica, que nao deve estar ausente na abordagem do fenémeno literé- rio, Além disso, os estudos de fontes e influéncias limitavam-se, 1na maioria das vezes, a estéreis paralelismos, resultantes de mera caga as semelhangas. Wellek condena a perspectiva predominan- temente descritivista de tais estudos e afirma que comparatismo critica ndo podem andar separados. Do mesmo modo, insurge-se contra a distincdo entre Literatura Comparada e Literatura Geral € 0 ressurgimento da velha Siofigeschichte alema, e aceita a pos- sibilidade de estudos comparatistas no interior de uma tinica i- teratura nacional, contanto que a abordagem adotada tenha uma dimensao critico-tedrica que transcenda as fronteiras dessa lite- vatura. Todos esses aspectos formam juntos a base da cisto entre uma suposta orientagao norte-americana e a francesa classica, € fare do autor uma espécie de prégono da nova Literatura Com- parada. Contudo, assinale-se que, a despeito das diferengas sig- nificativas que ponteiam essas duas “escolas’, a incompatibilidade Entre elas ndo ¢ irredutivel. Basta lembrar 0 caso de Etiemble, que sucedea Carré na Sorbonne, eque, peloquestionamentoempreen- dido contra o comparatismo tradicional ¢ a critica desenca- LITERATURA COMPARADA MOTE 5 deada contra toda sorte de eurocentrismo, chega'@ aproximar-se ‘mais dos norte-americanos do que de seus pares na Franga”. Embora os autores que integram a chamada “Escola Ameri- cana” de Literatura Comparada no constituam um grupo coeso nem disponham de um programa estabelecido, fortes denomi- nadores comuns, distinguiveis na atuagdo desses autores, justifi- cam 0 uso do termo. Além dos rasgos jé apontados na proposta de Wellek, registrem-se o ténus acentuadamente eclético da nova escola ¢ sua capacidade de absorcao de nogdes tedricas diversas. ‘Tis aspectos ampliam consideravelmente o Ambito da Literatura Comparada, conferindo-Ihe um caréter mais internacional, que & leva a incluir outras literaturas até entao alheias 20 cinone da tra- digéo ocidental,e mais interdisciplinar, que a aproxima nao s6 das . ‘demais formas de atividade artistica, como ainda de outras esferas, do conhecimento. Tomando sempre por base 0 texto, mas levando em conta suas relacdes com o contexto histérico-cultural, a “Esco- la Americana” aborda o fendmeno literério por uma pluralidade de perspectivas, mas ao mesmo tempo chamando atencao para a importincia de uma metodologia cientifica, que nao Ihe permita incorrer em simples sistema de trocas bilaterais. Nessa nova fase, 1s tradicionais estudos de fontes e influéncias sofem um emba- te decisivo e as barreiras entre comparatismo e critica tornam-se cada ver mais ténues. Contudo, nem todos os germes da tradi¢a0 sio langados por terra, permanecendo ainda, entre outras coisas, 0 cunho universalizante das propostas ¢ 0 tom, porquanto camufle- do, ainda iniludivelmente etnocéntrico do discurso. ‘Além dessas duas “escolas’ de Literatura Comparada, hou- ve também, no percurso de autodefini¢éo ¢ consolidagio da disciplina, outras vozes, em grupo ou isoladas, que, embora em to. Ver René Btemble,Comparaion ne par raion, acs Preset Universitas de Fran 41963 26 —_ESTUDOS COMPAKADOS: TEOMIA, CRITICA B METODOLOGIA menor escala, prestaram valiosa contribuicdo & sua formagio, € a que, portanto, no pode faltar mengio. Entre as primeiras, vale mencionar o grupo de estudiosos eslavos, tambéin chamado de “Escola Sovietica’, representado sobretudo por figuras como Vic- tor Zhirmunsky e Dionyz Durisin, que, somando a influencia do formalismo russo a preocupagées de ordem social, desenvolveu tum sistema de analogias tipolégicas e chamou atengio para os topoi da tradigao popular e legendéria, Entre as vores isoladas, citem-se figuras como Robert Escarpit, dentro da propria Fran- ‘2, que projetou novas luzes sobre o comparatismo, abordando-o por uma éptica sociolégica e realiando pesquisas com o piblico ledor, que antecipam questées posteriormente retomadas e reel boradas pelos tedricos da Estética da Recepsio, ¢ Claudio Guil- lén e Guillermo de Torre, que, situados, pela sua origem hispa- nica, fora do eixo central da Literatura Comparada, ergueram-se como criticos combatentes do etnocentrismo”. A maior permeabilidade da “Escola Americana” e as con- tribuigoes d 28 vores em grupo oui isoladas conferiram novo impulso ao comparatismo, que deixou de lado a perspectiva his- toricista tradicional e seu correlato — 0s velhos estudos de fontese influéncias ~ e passou a ocupar-se cada vez mais do texto literério € das relacées interlterdrias e interdisciplinares. No entanto, ele continuou apoiando-se em certos pilares, de tintas nitidamente etnocéntricas, que pouco ou nada se moveram até os anos de 1970, dentre-os quais a preiensio de universalidade com que se onfundiu o cosmopolitismo dos estudos comparatistas, ¢ 0 dis- uso de apolitizacdo, apregoado, sobretudo, pelos remanescen- tes da “Escola Americana’, que dominou a area nos meados do século xx. O primeiro expressa-se pelo anseio de que, a despeito Ver Eduuso F Couto, Literatu Compara rls Ameria Latina: Ensaio, Ria de Jane, Eden, 203. a diversidade e multiplicidade do fendmeno, é possivel consti- tuir-se um discurso homogéneo sobre ele e de que a literatura é uma espécie de forca enobrecedora da humanidade, que trans- cende qualquer barreira; 0 segundo condénsa-se em afirmagbes como a de que a Literatura Comparada é 0 estudo da literatura, independentemente de ftonteiras linguisticas, étnicas ou politi cas, e que ndo deve portanto deixar-se afetar por circunstancias de ordem econdmica, social ou politica, entre outras. CConquanto esses dois tipos de discurso apresentem variagies, nna superficie, eles encerram, no intimo, um forte denominador comum ~ 0 teor hegeménico de sua construcao -, ¢ foi sobre esse dado fundamental que se baseou grande parte da critica empreen- dida a partir de entéo ao comparatismo tradicional. Em nome de uma pseudodemocracia das letras, que pretendia construir uma Historia Geral da Literatura ou uma poética universal, desenvol- vendo um instrumental comum para a abordagem do fendme- no literrio, independentemente de circunstancias especificas, os comparatistas, piovenientes na maioria do contexto euro-norte- americano, o que fizeram, conscientemente ou nao, foi estender 4 outrasliteraturas os parémetros instituidos a partir de reflexdes desenvolvidas sobre 0 cinone literério europeu (¢ por europeu entenda-se 0 cinone constituido basicamente por obras literérias das poténcias econémicas do oeste do continente). O resultado inevitével foi a supervaloriza¢ao de um sistema’ determinado ¢ a identificacio desse sistema - o europeu - com o universal. Do mesmo modo, a ideia de que a literatura deveria ser abordada por ‘um viés apolitico apenas camuflava uma atitude prepotente de reafirmagio da supremacia de um sistema sobre os demais*. 42, Sobre questo do earocenrismo, er, entre cuts, Samir Amin, Eurocentiam, te, ‘assell Moors, New York, Monthly Pres, 198 ohn Tomlison, Cla pera, Baimore, John Hopkins Uns Pres, 9s; Ai Ahmad, In Theory Clases, Nations.

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