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ADVOCACIA

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA CÍVEL


DE ______________, ESTADO DE ___________

___________, menor impúbere, neste ato


representada(CPC, art. 8º) por KARINE DE TAL, brasileira, casada, maior,
universitária, inscrita no CPF(MF) sob o nº. 111.222.333-44 e PAULO DE TAL,
brasileiro, casado, maior, industrial, possuidor do CPF(MF) nº. 222.444.333-55,
todos residentes e domiciliados na Rua da X, nº. 0000, CEP 44555-666 São
Paulo(SP), vem, com o devido respeito à presença de Vossa Excelência, por
intermédio de seu patrono que abaixo assina, para ajuizar, com supedâneo no art.
5º, inc. X da Carta Política, bem como art. 186 c/c art. 932, inc. I e IV e art. 949,
estes do Código Civil e, ainda, § 1º, art. 25, do CDC, a presente

AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS


(cumulado com “preceito cominatório”)

Contra _____________, pessoa jurídica de direito privado, estabelida na Av.


_______, nº. _________, em ____________ – CEP nº. _______, inscrita no
CNPJ(MF) sob o nº. ___________________

e, solidariamente,

_______________, brasileiro, casado, maior, empresário, residente e domiciliado


na Rua _________, nº. _________, em São Paulo(SP) – CEP nº. _________,
inscrito no CPF(MF) sob o nº. _____________;

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CARLA, brasileira, casada, maior, dentista, residente e domiciliada na Rua K, nº.


0000, em São Paulo(SP) – CEP nº. 11222-444, inscrito no CPF(MF) sob o nº.
777.666.555-44,

em decorrência das justificativas de ordem fática e de direito abaixo delineadas.

SÍNTESE DOS FATOS

A menor, ora Autora, de apenas 9 anos, aqui representada


por seus genitores(doc. 01), estuda no Colégio Zeta, aqui Ré, desde o ano de
0000. Atualmente encontra-se matriculada e frequentando o 4º ano do ensino
fundamental, o que observa-se pelo documento ora carreado.(doc. 02)

No início do segundo semestre deste ano letivo, a Autora


passou a sofrer agressões físicas e verbais, maiormente xingamentos, chutes
e empurrões, de forma mais acentuada e freqüente por parte do filho dos segundos
Réus, chamado de Fernando. Tudo isto deve-se ao fato da Autora ter uma
compleição física de uma menina franzina, a qual apelidada de “Olívia Palito”,
referindo-se a uma personagem de um famoso desenho animado.

Almejando resolver tal problema, a mãe da Autora, por


inúmeras vezes, procurou a direção da escola, sem, contudo, lograr êxito. Com total
descaso com a situação, sempre alegaram que “eram meras brincadeiras entre os
alunos.” Fora afirmado, mais, que os pais do aluno Fernando já haviam sido
informados das referidas “brincadeiras” e que os mesmos haviam se comprometido
em resolver o caso relatado.
Mas a verdade era outra !

Os pais da Autora já não suportaram mais acreditar


em tamanho descado da escola e, mais, observar o estado psicológico que dominou
sua filha, em face do desiderato em mira. Os ataques sofridos pela pequena
menina, contínuos, verbais e físicos, culminaram em fobia social e uma repentina
queda em seu rendimento escolar, o que pode-se constatar pelo laudo

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psicológico ora acostado e seu boletim de notas.(docs. 03/04). Ademais, segundo


um outro laudo médico ora apresentado, de titularidade do médico psiquiatra Dr.
Fernando Fictício(CRM nº. 112233), a menina sofre, hoje, de depressão.(doc. 05)

Como observa-se do enredo fático aqui exposto, agregado


aos conteúdos dos documentos acostados, sem sombra de dúvidas contata-se a
existência do bullying, quando há um dano psicológico e físico decorrentes das
atitudes inconvenientes contra uma menor estudante no ambiente colegial,
potencializado pelo alcance em ambiente extra-colegial.

Foram sérios os constrangimentos sofridos pela Autora em


face dos aludidos acontecimentos, reclamando a condenação judicial pertinente e
nos limites de sua agressão(CC, art. 944).

DO DIREITO

DA LEGITIMIDADE PASSIVA DA 1ª RÉ

De boa prudência que evidenciemos, de pronto,


fundamentos concernentes à legitimidade passiva da primeira Ré nesta querela.

Delimitou-se que os episódios danosos foram perpetrados


dentro da instituição de ensino, a qual figura também no pólo passivo desta querela.
Cabe à mesma, segundo a disciplina da Legislação Substantiva Civil, manter a
incolumidade físicas e moral de seus alunos, enquanto sob sua guarda temporária:

CÓDIGO CIVIL

Art. 932 – São também responsáveis pela reparação civil:


(...)

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Inc. IV – os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se


albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes,
moradores e educandos.

Vejamos, a propósito, as considerações doutrinárias de


Sílvio de Salvo Venosa, o qual, tratando sobre o tema de responsabilidade por fato
de outrem, e, mais, tercendo consirações acerca da incidência do Código de Defesa
do Consumidor à hipótese, destaca que:

“ A responsabilidade dos estabelecimentos de educação está fixada de forma


não muito clara no esmos dispositivo que cuida dos donos de hotéis. O art. 932, IV,
estatui que a hospedagem para fins de educação faz com que o hospedeiro
responda pelos atos do educando.
Em princípio, deve ser alargado o dispositivo. Enquanto o aluno se encontra
no estabelecimento de ensino, este é responsável não somente pela incolumidade
física do educando, como também pelos atos ilícitos praticados por este a terceiros.
Há um dever de vigilância inerente ao estabelecimento de educação que,
modernamente, decorre da responsabilidade objetiva do Código de Defesa do
Consumidor. O aluno é consumidor do fornecedor de serviços, que é a instituição
educacional. Se o agente sofre prejuízo físico ou moral decorrente da atividade no
interior do estabelecimento, este é responsável. Responde, portanto, a escola, se o
aluno vem a ser agredido por colega em seu interior. “(In, Direito Civil:
Responsabilidade Civil. 12ª Ed. São Paulo: Atlas, 2012, p. 98).

Na mesma trilha de entendimento:

“ Já no que concerne aos educadores, e também aqui ressalvada a incidência


da legislação do consumidor, há que ver que a respectiva responsabilidade civil
deve restringir-se ao período em que o educando está sob o poder de direação do
estabalecimento, ainda que e, atividade de recreação.” (Cezar Peluzo(coord.).

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Código Civil Comentado: doutrina e jurisprudência. 4ª Ed. São Paulo: Manole, 2010,
p. 930)

Neste rumo:

RESPONSABILIDADE CIVIL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS


DECORRENTES DO ÓBITO DO FILHO MENOR ENQUANTO NAS
DEPENDÊNCIAS DE ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL. RESPONSABILIDADE
OBJETIVA, NOS TERMOS DOS ARTS. 932 E 933 DO CC. INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS MAJORADOS PARA 200 SALÁRIOS MÍNIMOS,
CONSIDERANDO A GRAVIDADE DO FATO E AS CONDIÇÕES ECONÔMICAS
DAS PARTES. FUTUROS TRATAMENTOS MÉDICOS DERIVADOS DO ABALO
PSICOLÓGICO SOFRIDO PELOS GENITORES SÃO ENGLOBADOS NO VALOR
DA FIXAÇÃO DOS DANOS MORAIS. JUROS MORATÓRIOS FIXADOS DESDE A
DATA DO EVENTO, NOS TERMOS DA SÚMULA Nº 54, DO STJ. SENTENÇA DE
PROCEDÊNCIA. RECURSO DOS AUTORES PROVIDOS. PENSÃO. VÍTIMA
MENOR. DESNECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DE DEPENDÊNCIA
ECONÔMICA DE SEU PAI.
Fixação em 2/3 do salário mínimo desde a data em a vítima completaria 14 até os
25 anos de idade, com redução para 1/3 a partir de então, até a data em que
completaria 65 anos. Sentença de procedência. Recursos dos autores e da ré
parcialmente providos. (TJSP - APL 991.07.026138-4; Ac. 4742139; Bauru; Décima
Sexta Câmara de Direito Privado; Rel. Des. Windor Santos; Julg. 24/08/2010;
DJESP 22/10/2010)

DA LEGITIMIDADE PASSIVA DOS PAIS


De outro contexto, segundo relatado pela direção da
escola, os pais do menor Fernando, autor de agressões físicas sofridas pela menor
Autora, foram devidamento informados dos atos praticados por seu filho e, mesmo
assim, após tal comunidado, os procedimentos ilícitos tornaram a ser repetir, com a

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mesma freqüências e intensidade. Houve, portanto, omissão dos mesmos em


estirpar tais procedimentos do seu filho.

Neste diapasão, reza o Código Civil que:

CÓDIGO CIVIL

Art. 932 – São também responsáveis pela reparação civil:


I – os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua
companhia;

A culpa em ensejo, pois, diz respeito ao poder familiar e ao


poder-dever, que atrai para si o dever de indenizar.

Frise-se, por oportuno, que mesmo havendo afastamento


fático entre os pais e o menor, como sucedeu-se no caso em vertente, ainda
assim a responsabilidade civil deste remanesce, porquanto aquele estava sob
poder de direção e guarda.

“ Reputa-se, a propósito, que deva responder o pai ou mãe no exercício do


poder familiar, portanto dele não destituído, que, no instante dos fatos, tenha o
menor sob o seu poder de direção. Ou seja, não poderá o pai ou mãe de quem, a
título jurídico, portanto não quando haja afastamento fático, e com freqüência
indevido, sobretudo porque é mal exercido o poder familiar, se tenha retirado o
poder de direção, por exemplo quando o menor esteja sob a direção do educador,
ou quando, separados os pais, esteja em companhia do detentor da guarda, mas
não destituído do poder familiar, estiver com o menor sob sua autoridade no
momento dos fatos, tal como quando esteja no período de visita do genitor separado
ou divorciado. Quer dizer, parece haver a lei, agora, ao aludir à autoridade dos
apais, e não a seu poder familiar, tencionado evidenciar que a responsabilidade do
genitor se funda em seu direto poder de direção e, pois, de vigilância do filho menor,
portanto quando esteja sob seu controle. “(Cezar Peluzo(coord.). Código Civil

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Comentado: doutrina e jurisprudência. 4ª Ed. São Paulo: Manole, 2010. Págs. 928-
929)

Nesta mesma linha de entendimento:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. ACIDENTE DE TRÂNSITO.


PEDIDO CONTRAPOSTO. VEÍCULO CONDUZIDO POR MENOR.
RESPONSABILIDADE DOS PAIS. CULPA DA VÍTIMA. DEMONSTRAÇÃO. DANOS
MATERIAIS COMPROVADOS. PROCEDÊNCIA PARCIAL DO PEDIDO. RECURSO
PARCIALMENTE PROVIDO.
I. Comprovada a prática de ato ilícito cometido por menor, que causa danos a
veículo de terceiro, ao convergir à esquerda sem o devido cuidado, vindo a ser
atingido por sua culpa, com a frente do automotor, devem os seus genitores ser
responsabilizados pelos prejuízos materiais causados, em razão do disposto no art.
932, I, do Código Civil. (TJMG - APCV 1.0332.10.002193-7/001; Rel. Des. Alberto
Henrique; Julg. 21/02/2013; DJEMG 01/03/2013)

APELAÇÃO CÍVEL. RECURSO ADESIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL.


AGRESSÃO FÍSICA. JOGO DE FUTEBOL. RESPONSABILIDADE DOS PAIS DO
AGRESSOR. ART. 932, I DO CPC. APLICABILIDADE. ATO ILÍCITO
RECONHECIDO APENAS COM RELAÇÃO AO MENOR DE IDADE. ÔNUS DA
PROVA. DANO ESTÉTICO E DANO MORAL. CARACTERIZADOS. VALOR DA
INDENIZAÇÃO. READEQUAÇÃO.
I - Nos termos do art. 932, I do Código Civil os pais são responsáveis pela
reparação decorrentes dos atos ilícitos praticados pelos filhos menores, mesmo que
no curso da ação sobrevenha a maioridade civil, justamente porque sobre eles
exercem o poder familiar, sendo que dentre as várias obrigações está o dever de
vigilância. II - Competia ao autor fazer prova no sentido de que, além da injusta
agressão perpetrada pelo réu frente ao seu filho, também foi por ele agredido. A
prova dos autos não se mostra apta a demonstrar o fato alegado, ônus que
competia ao requerente, nos termos do art. 333, I do CPC. III- são cumuláveis o

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dano estético e o dano moral, conforme precedentes do STJ. IV- o dano estético
resta caracterizado em razão da deformidade no olho esquerdo decorrente da
fratura do assoalho da órbita, que ocasionou a motilidade ocular. V - O valor da
indenização por dano moral, além do caráter preventivo e punitivo, em casos como
o dos autos, deve observar o poderio econômico das partes. Valor da indenização
reduzido, readequando-se o termo inicial da correção monetária. Súmula nº 362 do
STJ. Recurso de apelação parcialmente provido. Recurso adesivo provido. (TJRS -
AC 548287-44.2011.8.21.7000; Cachoeirinha; Sexta Câmara Cível; Rel. Des. Artur
Arnildo Ludwig; Julg. 13/12/2012; DJERS 31/01/2013)

DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL INDIRETA


DOS PAIS PELOS ATOS DOS FILHOS. EXCLUDENTES. REEXAME DE MATÉRIA
FÁTICA. 1. Os pais respondem civilmente, de forma objetiva, pelos atos do filhos
menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia (artigo 932, I, do
Código Civil). 2.- O fato de o menor não residir com o(a) genitor(a) não configura,
por si só, causa excludente de responsabilidade civil. 3.- Há que se investigar se
persiste o poder familiar com todas os deveres/poderes de orientação e vigilância
que lhe são inerentes. Precedentes. 4.- No caso dos autos o Tribunal de origem não
esclareceu se, a despeito de o menor não residir com o Recorrente, estaria também
configurada a ausência de relações entre eles a evidenciar um esfacelamento do
poder familiar. O exame da questão, tal como enfocada pela jurisprudência da
Corte, demandaria a análise de fatos e provas, o que veda a Súmula 07/STJ. 5.-
Agravo Regimental a que se nega provimento. (STJ - AgRg-Ag-REsp 220.930; Proc.
2012/0177273-1; MG; Terceira Turma; Rel. Min. Sidnei Beneti; Julg. 09/10/2012;
DJE 29/10/2012)

RELAÇÃO DE CONSUMO CONFIGURADA

Em se tratando de prestação de serviço cujo destinatário


final é o tomador, no caso da Autora, há relação de consumo nos precisos termos
do que reza o Código de Defesa do Consumidor:

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Art. 2º Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produtos
ou serviço como destinatário final.

Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou


estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de
produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação,
distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.
§ 1° (...)
§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante
remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e
securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.

Neste enfoque temos destacamos os seguintes julgados:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. 1) UNIVERSIDADE. EXCESSO DE


COBRANÇA. RETIRADA DO ALUNO DA SALA DE AULA POR
INADIMPLEMENTO. FALTA DE CONDUTA ÉTICA. CONSTRANGIMENTO
VEXATÓRIO. 2) INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. DANO MORAL CONFIGURADO. DEVER DE
INDENIZAR. VALOR FIXADO SEGUNDO CRITÉRIOS DA PROPORCIONALIDADE
E RAZOABILIDADE. MAJORAÇÃO IMPOSSÍVEL. RECURSO IMPROVIDO.
1). Como se sabe, o credor poder valer-se de todos os meios legais que dispõe,
para a cobrança de seus créditos, ainda que na residência, no local de trabalho ou
na escola do devedor, desde que o faça sem ameaça ou qualquer tipo de
constrangimento. Entrementes, in casu, a instituição educacional cometera excesso
na cobrança, ao expor o devedor a constrangimento vexatório, uma vez que retirou
o aluno da sala de aula na presença dos demais alunos, evidenciando-se assim,
ausência de conduta ética na cobrança de mensalidade escolar.
2) destarte, verificando-se que partes se enquadram nos conceitos de consumidor e
fornecedor, a presente relação jurídica processual deve ser vista sob o enfoque do

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Código de Defesa do Consumidor. Por conseguinte, diante da conduta da instituição


de ensino, resta configurando está o dano moral, eis que clarividentes a conduta, o
dano e o nexo de causalidade ligando um ao outro, elementos esses bastantes à
configuração da responsabilidade de natureza objetiva da ré, ora apelada, que, por
via reflexa, gera para o ofensor o dever de indenizar.
3) no que concerne ao quantum indenizatório, verifica-se que, no caso, não possível
a sua majoração, porquanto o valor da indenização fora fixado pautando-se
segundo os critérios da razoabilidade e proporcionalidade. (TJES - AC
36030007847; Terceira Câmara Cível; Rel. Des. Rômulo Taddei; DJES 28/09/2010;
Pág. 122)

RECURSO DE APELAÇÃO. REPARAÇÃO DE DANOS. RESPONSABILIDADE


CIVIL DO ESTADO. TIROTEIO EM RECINTO ESCOLAR. OMISSÃO ESTATAL
ESPECÍFICA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. NEXO DE CAUSALIDADE.
OMISSÃO ILÍCITA AO DEVER DE GUARDA. DANO CONFIGURADO.
RESPONSABILIDADE CABÍVEL. RECURSO IMPROVIDO. "ao receber dos pais a
guarda do estudante, fica o estado obrigado a zelar por sua incolumidade,
obrigando-se a agir de forma diligente, utilizando meios normais de vigilância para
evitar a ocorrência de danos. " ademais, nos termos do disposto no art. 14, do
Código de Defesa do Consumidor, também se evidencia situação de
responsabilidade objetiva direta para todos os fornecedores de serviços em
relação aos danos causados aos seus hóspedes, educandos. A
responsabilidade do estado em decorrência de acidente sofrido pelo aluno no
interior da escola pública, é objetiva, quando configurada a hipótese de omissão
específica (dever de vigilância), na qual incide a responsabilidade objetiva, prevista
no artigo 37, parágrafo 6º, da Constituição Federal. Recurso improvido. (TJMT -
APL 63396/2009; Capital; Terceira Câmara Cível; Rel. Des. José Tadeu Cury; Julg.
23/02/2010; DJMT 03/03/2010; Pág. 26)

DO DEVER DE INDENIZAR
RESPONSABILIDADE CIVIL: REQUISITOS CONFIGURADOS

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ADVOCACIA

No plano do direito civil, para a configuração do dever de


indenizar, segundo as lições de Caio Mário da Silva Pereira, faz-se necessário a
concorrência dos seguintes fatores:

“ a) em primeiro lugar, a verificação de uma conduta antijurídica, que abrange


comportamento contrário a direito, por comissão ou por omissão, sem necessidade
de indagar se houve ou não o propósito de malfazer; b) em segundo lugar, a
existência de um dano, tomada a expressão no sentido de lesão a um bem jurídico,
seja este de ordem material ou imaterial, de natureza patrimonial ou não
patrimonial; c) e em terceiro lugar, o estabelecimento de um nexo de causalidade
entre um e outro, de forma a precisar-se que o dano decorre da conduta antijurídica,
ou, em termos negativos, que sem a verificação do comportamento contrário a
direito não teria havido o atentado ao bem jurídico.”(In, Instituições de Direito Civil.
Rio de Janeiro: Forense, 2004, Vol. I. Pág. 661).

A propósito reza a Legislação Substantiva Civil que:

CÓDIGO CIVIL

Art. 186 – Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, viola direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral,
comete ato ilícito. “

Ademais, aplicável ao caso sub examine a doutrina do


“risco criado”(responsabilidade objetiva), que está posta no Código Civil, que assim
prevê:

CÓDIGO CIVIL

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ADVOCACIA

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.

Parágrafo único - Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de


culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os
direitos de outrem.

Neste contexto, cumpre-nos evidenciar alguns julgados:

APELAÇÃO AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO C.C.


Indenização por dano moral Débito lançado na conta-corrente da autora, em razão
de ação de terceiro, falsário Inscrição do nome da demandante em cadastros
restritivos Sentença de acolhimento parcial dos pedidos Irresignação improcedente
Fraude não contestada Inequívoca a responsabilidade da instituição financeira
nessas circunstâncias Aplicação da teoria do risco da atividade, expressa no art. 14
do CDC Hipótese se enquadrando no enunciado da recente Súmula nº 479 do STJ
Dano moral presumido nas circunstâncias Arbitramento da indenização (R$
5.000,00) não comportando a pretendida redução. Apelação a que se nega
provimento. (TJSP - APL 0019409-54.2012.8.26.0482; Ac. 6718243; Presidente
Prudente; Décima Nona Câmara de Direito Privado; Rel. Des. Ricardo Pessoa de
Mello Belli; Julg. 29/04/2013; DJESP 15/05/2013)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. SENTENÇA


DE PROCEDÊNCIA. APELO DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA.
Sustenta a ausência de responsabilidade civil e inexistência de dano. Inscrição
indevida nos órgãos de proteção creditícia pelo período de 31 meses. Dívida
quitada. Inexistência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor.
Ônus que compete ao réu. Inteligência do art. 333, II, do código de processo civil.
Responsabilidade objetiva. Teoria do risco da atividade. Dano moral in re ipsa

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ADVOCACIA

configurado. Alegação de impossibilidade de repetição do indébito e/ou


compensação de dívida. Matéria não ventilada anteriormente no curso do processo.
Inovação recursal caracterizada. Ponto não conhecido. Insurgência contra a
concessão da tutela antecipada. Ausência de impugnação aos termos da sentença.
Violação do art. 514, inciso II, do código de processo civil e ao princípio da
dialeticidade. Fundamentação inconsistente. Ponto não conhecido. Pleito de
minoração dos honorários advocatícios e do quantum indenizatório. Impossibilidade.
Verbas fixadas em consonância com os parâmetros desta corte em casos análogos.
Manutenção da sentença. Recurso conhecido em parte e desprovido. (TJSC - AC
2013.021388-9; Santa Rosa do Sul; Segunda Câmara de Direito Comercial; Relª
Desª Rejane Andersen; Julg. 23/04/2013; DJSC 14/05/2013; Pág. 208)

E, como já esclarecido que a relação jurídica


entabulada entre as partes é consumo, o Código de Defesa do Consumidor é
aplicável à espécie, abrindo, no caso, também por este ângulo, a
responsabilidade objetiva da primeira Ré.

CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de


culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos
à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas
sobre sua fruição e riscos.

Em que pese tais aspectos legais e doutrinários


acerca da responsabilidade civil objetiva, evidenciaremos, abaixo, que todos os
Réus devem ser responsabilizada civilmente, pelos motivos abaixo expostos.

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ADVOCACIA

Todo o relato fático traduz à conclusão da


ocorrência do Bullying Social, que, em última análise, nada mais é que um dano
moral. Tal desiderato justifica-se porquanto constata-se que houvera contra a
pequena Autora comportamentos agressivos, físicos e morais, no âmbito escolar, de
forma intencional e repetitiva. Releve-se, mais, que sobremaneira ficou constatado
um comportamento, injusto, de aluno(menor) mais forte em desfavor de uma aluna
mais frágil(a Autora), com o firme propósito prazeroso de maltratar, humilhar,
intimidar, ferir na alma e amendrotar a pequena menina.

É consabido que a Constituição Federal prevê a


inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das
pessoas, assegurando o direito à indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação.

CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
[...]
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação;

Por certo, quanto ao agressor, tal desiderato


acontecera porquanto não existiam limites no processo educacional no contexto
familiar.

A Autora já apresenta sintomas, como afirmado nas


linhas iniciais, no quadro fático, que, sem sombra de dúvidas, denotam a existência
do sofrimento de Bullying, a saber: tem, hoje, postura retraída; seu rendimento

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ADVOCACIA

escolar caiu; tem faltado à escola com freqüência, por medo de voltar a acontecer
tais fatos; tem depressão e é desinteressada pelas atividades e tarefas escolares.
Ademais, seu humor alterou-se demasiadamente, mostrando-se uma menina
irritada, com explosões repentinas contra os pais e colegas que a telefonam.

Portanto, estamos diante de uma responsabilidade


civil sob o manto do dano de ordem moral. Neste caso, consideremos, pois, o direito
à incolomidade moral pertence à classe dos direitos absolutos, encontrando-se
positivados pela conjugação de preceitos constitucionais elencados no rol dos
direitos e garantias individuais da Carta Magna(CF/88, art. 5º, inv. V e X), erigidos,
portanto, ao status cláusula pétrea(CF/88, art. 60, § 4º), merecendo ser
devidamente tutelado nos casos concretos apreciados pelo Poder Judiciário.

A moral individual está relacionada à honra, ao nome, à


boa-fama, à auto-estima e ao apreço, sendo que o dano moral resulta de ato ilícito
que atinge o patrimônio do indivíduo, ferindo sua honra, decoro, crenças políticas e
religiosas, paz interior, bom nome e liberdade, originando sofrimento psíquico, físico
ou moral.

A doutrina já consagrou uma definição e uma classificação,


melhor dotada de consensualidade, encontrando-se de certa forma compendiada na
lição da insigne Maria Helena Diniz, em seu festejado “Curso de Direito Civil
Brasileiro" (São Paulo: Saraiva, 2002, 7º vol., 16. ed., p. 83), quando discorre sobre
a responsabilidade civil, nomeadamente em face do dano moral:

" c.3.2. Dano moral direto e indireto.


O dano moral direto consiste na lesão a um interesse que visa a satisfação ou gozo
de um bem jurídico extrapatrimonial contido nos direitos da personalidade (como a
vida, a integridade corporal, a liberdade, a honra, o decoro, a intimidade, os
sentimentos afetivos, a própria imagem) ou nos atributos da pessoa (como o nome,
a capacidade, o estado de família). O dano moral indireto consiste na lesão a um

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ADVOCACIA

interesse tendente à satisfação ou gozo de bens jurídicos patrimoniais, que produz


um menoscabo a um bem extrapatrimonial, ou melhor, é aquele que provoca
prejuízo a qualquer interesse não patrimonial, devido a uma lesão a um bem
patrimonial da vítima. Deriva, portanto, do fato lesivo a um interesse patrimonial. P.
ex.: perda de coisa com valor afetivo, ou seja, de um anel de noivado."

No caso em ensejo, evidentemente encontra-se


demonstrado a má prestação de serviço escolar, a incidir, como antes aludido, no
importe da responsabilidade objetiva como fornecedora de serviços, ante o
Código de Defesa do Consumidor.(art. 14)

A exposição à qual foi submetida a Autora é


inadmissível, uma vez que fora destratada na esfera mais íntima do ser, teve sua
honra e dignidade feridas, seus direitos fundamentais violados..

Houve, destarte, irrefutável falha na prestação do


serviço ao indicar-se resultado laboratorial errado.

Nestes termos, restaram configurados a existência


dos pressupostos essenciais à responsabilidade civil: conduta lesiva, nexo causal
e dano, a justificar o pedido de indenização moral.

Por fim, anote-se que o dano moral justifica-se


pela simples prática do ato lesivo ao ofendido, constatando-se, desta sorte, de
forma in re ipsa, ou seja, prescinde da prova da efetividade de seus reflexos.

Vejamos, pois, alguns julgados que solidificam o


entendimento retro evidenciado, ou seja, sob o enfoque da responsabilidade civil
objetiva pela prática do Bullying, capaz de gerar dano moral indenizável:

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ADVOCACIA

APELAÇÕES CÍVEIS. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO


POR DANOS MORAIS. OFENSAS PUBLICADAS EM REDE SOCIAL. DANO
MORAL CARACTERIZADO. QUANTUM INDENIZATÓRIO. DANOS MATERIAIS.
1. A autora logrou comprovar os fatos articulados na exordial, no sentido de que foi
ofendida pela demandada em rede social, sem que desse causa a tal conduta
desmedida e agressiva, ao denominar aquela de forma pejorativa, em evidente
desrespeito dignidade pessoal mesma.
2. É passível de ressarcimento o dano moral causado no caso em exame,
decorrente de a autora ter sido ofendida, sem que houvesse injustamente
provocado, tal medida abusiva resulta na violação ao dever de respeitar a gama de
direitos inerentes a personalidade de cada ser humano, tais como a imagem, o
nome e a reputação da parte ofendida.
3. As referidas ofensas dão conta de um fenômeno moderno denominado de
bullying, no qual adolescente se dedica a maltratar determinado colega,
desqualificando-o em redes sociais perante os demais e incitando estes a
prosseguirem com a agressão, conduta ilícita que deve ser reprimida também na
esfera civil com a devida reparação, pois é notório que este tipo de ato vem a
causar danos psíquicos na parte ofendida, levando, em alguns casos, ao suicídio.
4. No que tange à prova do dano moral, por se tratar de lesão imaterial,
desnecessária a demonstração do prejuízo, na medida em que possui natureza
compensatória, minimizando de forma indireta as conseqüências da conduta da
parte ré, decorrendo aquele do próprio fato. Conduta ilícita do demandado que faz
presumir os prejuízos alegados pela parte autora, é o denominado dano moral puro.
5. O valor a ser arbitrado a título de indenização por dano imaterial deve levar em
conta o princípio da proporcionalidade, bem como as condições da ofendida, a
capacidade econômica do ofensor, além da reprovabilidade da conduta ilícita
praticada. Por fim, há que se ter presente que o ressarcimento do dano não se
transforme em ganho desmesurado, importando em enriquecimento ilícito. Quantum
mantido.
6. Releva ponderar, ainda, que, quando da ocorrência de um dano material, duas
subespécies de prejuízos exsurgem desta situação, os danos emergentes, ou seja,
aquele efetivamente causado, decorrente da diminuição patrimonial sofrida pela
vítima; e os lucros cessantes, o que esta deixou de ganhar em razão do ato ilícito.

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ADVOCACIA

7. Não é juridicamente possível indenizar expectativa de direito, tendo em vista que


os prejuízos de ordem material devem ser devidamente comprovados, o que não
ocorreu no caso em tela. Negado provimento ao recurso. (TJRS - AC 5684-
42.2013.8.21.7000; Porto Alegre; Quinta Câmara Cível; Rel. Des. Jorge Luiz Lopes
do Canto; Julg. 27/03/2013; DJERS 04/04/2013)

APELAÇÃO CÍVEL. ABALOS PSICOLÓGICOS DECORRENTES DE VIOLÊNCIA


ESCOLAR. BULLYING. ESTABELECIMENTO DE ENSINO. RESPONSABILIDADE
OBJETIVA. FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO. OFENSA AO PRINCÍPIO DA
DIGNIDADE HUMANA. DANO MORAL CONFIGURADO. REFORMA DA
SENTENÇA.
Na espécie, restou demonstrado que o autor sofreu agressões verbais e física de
um colega de sala, que foram muito além de atritos entre adolescentes, no interior
da Escola no ano de 2009. Trata-se de relação de consumo e a responsabilidade da
ré, como prestadora de serviços educacionais é objetiva, bastando a simples
comprovação do nexo causal e do dano. Além disso, as agressões noticiadas na
inicial e comprovadas, por si, só, configuram dano moral cuja responsabilidade de
indenização é da Instituição de Ensino, em razão de sua responsabilidade objetiva.
Muito embora o Colégio tenha tomado algumas medidas na tentativa de contornar a
situação, tais providências não foram suficientes para solucionar o problema, uma
vez que as agressões continuaram até a ocorrência da agressão física. O
Requerido não atentou para o papel da escola como instrumento de inclusão social.
A reparação moral tem função compensatória e punitiva. A primeira, compensatória,
deve ser analisada sob os prismas da extensão do dano e das condições pessoais
da vítima. A finalidade punitiva, por sua vez, tem caráter pedagógico e preventivo,
pois visa desestimular o ofensor a reiterar a conduta ilícita. Sobre os danos morais
incidirão juros de mora desde o evento danoso (Súmula nº 54 do STJ). A fixação dos
honorários advocatícios nas decisões de natureza condenatória é arbitrada com
base no valor da condenação, na forma do art. 20, § 3º, do CPC. (TJMG - APCV
1.0024.10.142345-7/002; Rel. Des. Tibúrcio Marques; Julg. 25/04/2013; DJEMG
03/05/2013)

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ADVOCACIA

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. PRÁTICA DE BULLYING.


AMBIENTE ESCOLAR. PRELIMINAR DE INCOMPETÊNCIA DO JUÍZO E
CERCEAMENTO DE DEFESA. REJEITADAS. ART. 933 DO CPC.
RESPONSABILIDADE DOS GENITORES DO MENOR. COMPROVAÇÃO DA
PRÁTICA DO BULLYING. INDENIZAÇÃO DEVIDA. RECURSO NÃO PROVIDO.
Não assiste razão aos apelantes ao atestar a incompetência absoluta do Juízo a
quo, uma vez que a presente ação indenizatória, foi promovida pela autora (que, por
ser menor, foi devidamente representada por seu genitor), em face do Colégio Santa
Dorotéia e dos pais do menor, tendo em vista que o mesmo, à época da distribuição
da ação, era inimputável, não havendo que se falar em competência da Justiça da
Infância e da Juventude. Se o Juiz, ante as peculiaridades da espécie, se convence
da possibilidade do julgamento da lide e, no estado em que o processo se encontra,
profere sentença, desprezando a dilação probatória, não há que se falar em
cerceamento de defesa ante a manifesta inutilidade ou o claro intuito protelatório da
coleta de prova. A prática do bullying não é um fenômeno do mundo
contemporâneo, mas sim algo existente há algumas décadas, sendo indubitável, no
entanto, o crescimento das ocorrências relativas a tal prática nos últimos anos, e,
consequentemente, de demandas judiciais requerendo indenização pelos danos
sofridos pelas vítimas. Tenho que, especialmente pela imaturidade de crianças e
adolescentes, é costumeiro o comportamento repressivo contra colegas em razão
de sua classe social, de suas características físicas, da sua raça, e até mesmo, pelo
seu rendimento escolar. Tratando-se de conduta praticada por menores, como é o
caso dos presentes autos, os pais respondem pelo ato ilícito de seus filhos,
conforme dispõem o art. 932, I e art. 933 do Código Civil. Na hipótese de
indenização a título de danos morais, deve-se obedecer aos princípios da
razoabilidade e proporcionalidade. Não havendo configuração de valor
demasiadamente alto a ponto de se falar em enriquecimento ilícito, não deve haver
redução deste sob o risco de tornar-se irrisório. V.V.: A fixação da quantia estipulada
na r. sentença de R$8.000,00 (oito mil reais), não traduz as diretrizes acima
expostas, devendo, assim, ser reduzida para o montante de R$ 6.000,00 (seis mil
reais), valor este que encontra-se em consonância com os princípios da

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ADVOCACIA

razoabilidade e da proporcionalidade. (TJMG - APCV 1.0024.08.199172-1/001; Relª


Desª Hilda Teixeira da Costa; Julg. 15/03/2012; DJEMG 17/08/2012)

DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA


A inversão do ônus da prova se faz necessária na hipótese
em estudo, vez que a inversão é “ope legis” e resulta do quanto contido no Código
de Defesa do Consumidor.

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de


culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos
à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas
sobre sua fruição e riscos.
[...]
§ 3º O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:

I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;

II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

À Réu(escola), portanto, caberá, face a inversão do ônus


da prova, evidenciar se a Autora concorreu para o evento danoso, na qualidade de
consumidora dos serviços, ou, de outro bordo, em face de terceiro(s), que é
justamente a regra do inc. II, do art. 14, do CDC, acima citado.

Nesse sentido, de todo oportuno evidenciar as lições de


Rizzatto Nunes:

“Já tivemos oportunidade de deixar consignado que o Código de Defesa do


Consumidor constituir-se num sistema autônomo e próprio, sendo fonte primária
(dentro do sistema da Constituição) para o intérprete.

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ADVOCACIA

Dessa forma, no que respeita à questão da produção de provas, no processo civil, o


CDC é o ponto de partida, aplicando-se a seguir, de forma complementar, as regras
do Código de Processo Civil (arts. 332 a 443). “( NUNES, Luiz Antônio Rizzatto.
Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. 6ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2011,
pp. 215-216)

Também é por esse prisma é o entendimento de Ada


Pellegrini Grinover:

“Já com a inversão do ônus da prova, aliada à chamada ‘culpa objetiva’, não há
necessidade de provar-se dolo ou culpa, valendo dizer que o simples fato de ser
colocar no mercado um veículo naquela condições que acarrete, ou possa acarretar
danos, já enseja uma indenização, ou procedimento cautelar para evitar os referidos
danos, tudo independemente de se indagar de quem foi a negligência ou imperícia,
por exemplo. “ (GRINOVER, Ada Pellegrini [et tal]. Código de Defesa do
Consumidor: comentado pelos autores do anteprojeto. 10ª Ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2011, p. 158)

A tal respeito trazemos à baila as seguintes notas


jurisprudenciais:

DIREITO DO CONSUMIDOR. RESPONSABILIDADE CIVIL. TELEFONIA MÓVEL.


DEFEITO NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. ALTERAÇÃO DE PLANO E
COBRANÇA INDEVIDA. DANOS MORAIS.
1. Acórdão elaborado de conformidade com o disposto no art. 46, da Lei nº
9.099/1995 e arts. 12, inciso IX, 98 e 99 do Regimento Interno das Turmas
Recursais. Recurso próprio, regular e tempestivo.
2. Usuária de linha telefônica pré-paga que tem o seu contrato alterado para o plano
pós-pago, sem solicitação. Alegação da operadora de que a consumidora solicitou
alteração no plano, sem respaldo em prova idônea, qual seja, a gravação do serviço
de atendimento ao cliente. Inversão do ônus da prova em favor da consumidora, na
forma do art. 6º, inciso VIII do CDC.

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ADVOCACIA

3. Suspensão dos serviços com grave repercussão no cotidiano da autora. Danos


morais caracterizados. Indenização fixada em R$ 5.000,00, que atende aos critérios
de repressão e prevenção ao ilícito. Sentença que se confirma pelos seus próprios
fundamentos.
4. Recurso conhecido, mas não provido. Custas processuais e honorários
advocatícios, no valor de R$ 800,00, pelo recorrente. (TJDF - Rec
2012.01.1.096058-5; Ac. 647.710; Segunda Turma Recursal dos Juizados Especiais
do Distrito Federal; Rel. Juiz Aiston Henrique de Sousa; DJDFTE 25/01/2013; Pág.
437)

RECURSO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR


DANOS MATERIAIS E MORAIS. CURTO CIRCUITO EM LINHA DE
TRANSMISSÃO DE ENERGIA ELÉTRICA. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA.
RELAÇÃO DE CONSUMO. VEROSSIMILHANÇA DAS ALEGAÇÕES E
HIPOSSUFICIÊNCIA. REQUISITOS LEGAIS PREENCHIDOS. DECISÃO MANTIDA.
RECURSO DESPROVIDO.
1. A inversão do ônus da prova é medida excepcional, aplicável nas hipóteses em
que forem verificados os requisitos necessários, quais sejam, a verossimilhança das
alegações ou quando a parte for hipossuficiente.
2. No caso concreto, à concessionária dos serviços de fornecimento de energia
elétrica deve ser imposto o ônus de provar eventual excludente de responsabilidade
pelos danos causados por curto circuito em linha de transmissão da rede elétrica.
Hipossuficiência do consumidor. (TJMT - AI 13474/2012; Segunda Câmara Cível;
Relª Desª Clarice Claudino da Silva; Julg. 16/01/2013; DJMT 24/01/2013; Pág. 34)

PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. FORNECIMENTO DE ÁGUA E COLETA DE


ESGOTO. COBRANÇA. RELAÇÃO DE CONSUMO. HIPOSSUFICIÊNCIA TÉCNICA
DA AUTORA. CONSTATAÇÃO. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA.
Aplicação do artigo 6º, VIII do Código de Defesa do Consumidor. Admissibilidade.
Efetiva utilização, pelos réus, dos serviços cobrados. Comprovação. Ausência. Ônus
do qual a autora não se desincumbiu. Sentença mantida. Recurso improvido. (TJSP
- APL 0486973-44.2010.8.26.0000; Ac. 6444178; São Paulo; Trigésima Segunda

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ADVOCACIA

Câmara de Direito Privado; Rel. Des. Rocha de Souza; Julg. 17/01/2013; DJESP
24/01/2013)

PEDIDOS E REQUERIMENTOS

POSTO ISSO,
como últimos requerimentos desta Ação Indenizatória, a Autora requer que Vossa
Excelência se digne de tomar as seguintes providências:

a) Determinar a citação dos Requeridos, por carta, com AR, instando-os,


para, querendo, apresentarem defesa no prazo legal, sob pena de revelia e
confissão;

b) pede, mais, sejam JULGADOS PROCEDENTES os pedidos formulados na


presente ação, condenando os Réus, solidariamente, a pagarem indenização
por danos morais sofridos pela Autora, a ser estipulado por Vossa Excelência
por equidade;

c) requer, outrossim, seja aplicado preceito cominatório aos Réus, de sorte


que sejam compelidos a pagarem tratamento psicológico em favor da Autora,
e a escolha do(a) profissional caiba aos genitores desta, pelo período de
tratamento que seja apto a superar os traumas sofridos, finalizando por meio
de laudo compatível e assim delimitando, sob pena de pagamento de multa
diária de R$ 1.000,00(mil reais), consoante a regras do art. 461, § 4º, do CPC
c/c art. 949 do CC;

d) todos os valores acima pleiteados sejam corrigidos monetariamente,


conforme abaixo evidenciado:

Súmula 362 do STJ – A correção monetária do valor da indenização do dano


moral incide desde a data do arbitramento.

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ADVOCACIA

Súmula 54 do STJ – Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em


caso de responsabilidade extracontratual.

e) sejam os Requeridos condenados solidariamente ao pagamento de


honorários de 20%(vinte por cento) sobre o valor da condenação, mormente
levando-se em conta o trabalho profissional desenvolvido pelo patrono do
Autor, além do pagamento de custas e despesas, tudo também devidamente
corrigido.

4) com o pedido de inversão do ônus da prova, protestar provar o alegado por


todos os meios de prova em direitos admitidos, por mais especiais que sejam,
sobretudo com a oitiva de testemunhas, depoimento pessoal do(s)
representante(s) legal(is) da Ré, o que desde já requer, sob pena de confesso.

Atribui-se a presente Ação o valor estimativo de R$


____________

Respeitosamente, pede deferimento.

_________________, __ de _______ de ___________.

_______________________
Advogado – OAB

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