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21/04/2017 A substância oculta dos contos | Revista Emília

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A substância oculta dos contos


POR YOLANDA REYES | 24 DE FEVEREIRO DE 2017 | ESPAÇOS DE LEITURA |
Últimas
As palavras
inventadas
:a
1. O o da memória
brincadeir
a, o
Faz muito, mas muito tempo mesmo, muito tempo antes de aprender a ler inesperado
sozinhos, que talvez uma voz amada tenha nos contado algum desses contos
eo
tradicionais que costumam ser contados às crianças e que resolvemos agrupar
maravilha
sob o rótulo “contos de fadas” ou “contos tradicionais”. mento
POR
ALESSANDRA
Deveríamos seguir o o da memória para evocar esse rosto, esse tom de voz,
STARACE
essas mãos que iam desenhando reinos e palácios longínquos, para construir
uma arquitetura que não existia então e que, contudo, era mais real que todo o
Instituto
resto: mais real que os cantos dessa cama que já esquecemos; mais real que o
Emília
quarto ou o quintal ou aquela noite daqueles tempos… mais real que nossos
POR REVISTA
rostos de então, que as tranças ou os rabos de cavalo ou o gel que já não EMÍLIA

usamos há anos…
Quem
E agora, quando já esquecemos o rosto que tivemos, a idade exata e o vestido, somos
talvez, continuemos nos lembrando de algum pedaço da história, de alguma POR REVISTA
EMÍLIA
fórmula mágica do começo, de algumas palavras que se repetiam como um
refrão e que nomeavam tudo aquilo de que não se falava durante o resto das

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horas, tudo aquilo que não se dizia para as visitas, na mesa, nem na la do Projeto
colégio… Pequenos
Leitores
POR SANDRA
Eis a substância oculta dos contos: esse poder das palavras para dar nome e
MAYUMI
sentido às realidades interiores, tantas vezes terríveis e incertas, apesar da MURAKAMI
MEDRANO
suposta inocência que os adultos atribuem aos tempos da infância.

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Branca de Neve, por Anne Anderson (1874-1930) Seja amigo da


Emília
 
Nós da Emília
O primeiro conto de que me lembro, talvez o mais triste dos contos que somos
conheço, mais que um conto uma ladainha que indagava, como no fundo a
apaixonados por
literatura sempre faz, sobre os mistérios da vida, com dois de seus dramas
livros e leitura.
decorrentes: o amor e a morte. Era a história da Cucarachita Martínez [A Se você nos
baratinha Martínez] contada muitas noites, por minha avó, sempre na mesma acompanha e é fã
hora. Caso não conheçam o conto, a baratinha, varre que varre a porta de sua de nosso projeto,
casa, encontrava uma moeda, e com ela, comprava uma ta para o cabelo. E,

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assim, tão linda, sentava-se na mesma porta e esperava que alguém se ajude a mantê-lo
apaixonasse. Passavam o cachorro, o gato e outros animais, e todos lhe diziam a vivo!
mesma coisa: “Baratinha, como você está bonita. De coração, te peço: quer casar
comigo?”. Ela, como é costume nos contos tradicionais, respondia: “Depende: o Em breve!
que vai fazer para me conquistar?”.

O cachorro dizia “au, au”, o gato, “miau” e ela perguntava, invariavelmente: “Ah,
não!, segue seu caminho, porque me você me assusta, me espanta, me
assombra”. Até que chegava o Rato Perez e, quando ela dizia “depende: o que
vai fazer para me conquistar?”, o rato respondia sussurrando suavemente:
“bsbsbs”, e ela cava fascinada. Imediatamente se casavam, mas a história não
tinha nal feliz, porque dias depois do casamento, a baratinha deixava o rato
preparar um cozido e o pobre se afogava no caldeirão.

De repente tudo cava muito triste. A baratinha chorava e um passarinho que


passava lhe perguntava por que ela estava tão triste. Ela respondia: “Porque o
rato Perez caiu no caldeirão e a baratinha está muito triste, por isso chora”…
então, o passarinho se unia a ela e dizia: “pois eu passarinho corto meu
biquinho”… então,  passava a pomba passava e perguntava ao passarinho por que
tinha cortado o biquinho  e a ladainha recomeçava: “porque o rato caiu na panela
e a baratinha sente muito e chora, por isso o passarinho corto o biquinho”. E a
pomba dizia: “pois eu, pomba, corto minha cauda”… e quando chegava o pombal
e perguntava a mesma coisa, depois da resposta, dizia: “pois eu pombal vou
parar de voar”, e se somava ao coro e a ladainha cava cada vez mais comprida
e apareciam novos personagens que repetiam uma e outra vez a mesma
ladainha:

Porque o rato Perez caiu na panela e a Baratinha sente e chora e o passarinho


cortou seu biquinho, e a pomba cortou a cauda e que o pombal parou de voar e
a fonte clara se pôs a chorar. E eu, que conto esse conto, acabo lamentando
porque o rato Perez caiu no caldeirão e a baratinha…

E, assim, sucessivamente, a dor ia se apoderando de tudo e as palavras eram


tristes, mas de tanto se repetirem, pareciam ter poderes de cura… Obviamente,
penso isso agora, porque então eu não sabia o que estava por trás das palavras
do que minha avó contava. Talvez nem ela soubesse: simplesmente, éramos
duas pessoas muito próximas, corpo a corpo, cara a cara, falando sem falar
todas as noites, dos mistérios da vida, da morte e do amor.

Creio que disso, exatamente, trata a literatura. E creio que os leitores de


qualquer idade, quando nos refugiamos na cadeia de palavras de um livro,
continuamos procurando essa possibilidade, muitas vezes descoberta do lado
das primeiras vozes e dessas primeiras histórias inscritas em nós, de nomear, em
um idioma secreto, em um Idioma Outro, aqueles mistérios essenciais que
nunca conseguimos entender: a vida e a morte… e o que há no meio.

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2. O lugar da literatura

Se aceitamos que sabemos, desde esses tempos remotos de palácios e vozes


antigas, que a matéria da literatura é precisamente a vida – e a morte e o que há
no meio – caberia perguntar por que continua tão vigente em nossas práticas e
em nossos currículos acadêmicos essa outra ideia, segundo a qual, o que se
deve saber de literatura é tanto o que sobra e tão pouco o que basta: isto é,
de nições, atividades, rótulos… (“Dever antes que vida”, como disse algum ilustre.
A letra morta primeiro e depois, quando já tenhamos aprendido bastante, talvez
o prazer..). Mas o problema é que “depois” pode ser demasiado tarde. A literatura
ensinada assim, com suas listas de autores e de obras ou como estratégias e
padrões de decodi cação, não dá segunda chance.

De onde terá surgido esse consenso escolar que nos obriga a todos a sublinhar
o mesmo no mesmo parágrafo no conto da “Chapeuzinho Vermelho”, a entender
rapidamente as mesmas ideias principais de “Barba Azul” e a ver todas as obras
dos mesmos pontos de vista? De onde surgiu esse desprezo da educação pelo
subjetivo, pelo inefável, pelo que não pode ser avaliado em uma prova
acadêmica?

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A princesa e o sapo, por Anne Anderson (1874-1930)

Atrevo-me a pensar que há um pouco de vaidade nesse equívoco. Porque, em


nossa concepção de ensino, ainda se pede ao professor que seja capaz de
controlar, planejar e avaliar o processo de aprendizagem durante todas as
etapas, do começo ao m, sem que nada lhe escape das mãos. Essa concepção
supõe que quanto mais a curto prazo são os objetivos a que se propõe um
professor e quanto mais se materializem os indicadores concretos, mais fáceis
serão vistos, comprovados e avaliados em termos quantitativos. De alguma
maneira, sua “e cácia” está ainda baseada em função de quanto consegue
demonstrar do aprendizado que seus alunos conseguiram obter. O que não é
visível, avaliável e observável não dá pontos. O que sai da resposta esperada não
vale. O que acontece fora da sala de aula não conta. Os processos que são
concluídos depois do ano acabar ou as revelações que ocorrem paulatinamente
a um ser humano, ao longo de sua vida, talvez graças à voz de um professor que
conta histórias sem esperar em troca nada mais que caras atentas, fascinadas ou

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aterradas, não se quali cam. E o que não se pode avaliar a curto prazo, é como
se não existisse.

Se já esboçamos que a literatura trabalha com toda a experiência vital dos seres
humanos – e não só com o pedacinho que se pode medir – podemos imaginar o
pouco que esses contos e essas vozes representaram para sistemas
pedagógicos calcados em perguntas fechadas de múltipla escolha ou em ideias
meramente instrumentais que insistem em falar de leitura rápida, como se fosse
uma competição acadêmica ou esportiva… no caso, o mesmo.

3. Casa de palavras

Detenhamo-nos a pensar um momento na essência da linguagem literária,


localizando-a dentro do contexto mais amplo da comunicação humana. Cada
um de nós possui uma língua determinada para expressar seu mundo interior e
para se relacionar com os outros. Em nosso caso, pertencemos a uma
comunidade lingüística que fala castelhano. O castelhano tem um código
próprio, um sistema de signos que permite a todos os falantes nomear, com
certos parâmetros, umas imagens mentais ou uns signi cados determinados.
Isso garante que possamos compartir, de certa maneira, um mesmo código. De
fato, se escrevo a palavra “casa”, posso ter a certeza de que todos que
compartilham dessa língua evocam em sua mente o conceito de casa. Contudo,
nenhuma das imagens mentais que se formam corresponde ao signi cado
standard do dicionário. Haverá mansões, apartamentos ou casas de campo;
algumas serão grandes e outras pequenas. Muitos irão mais longe e associarão
a palavra a um cheiro particular, a certa sensação de segurança ou de proteção,
a uma lembrança ou a seus próprios segredos. E isso acontece porque todos
vivemos em casas diferentes.

Usemos essa imagem para mostrar nossa relação com a língua: cada um
constrói sua própria casa de palavras. Temos um código comum, digamos, que
são os materiais e as especi cações básicas. Mas cada ser humano vai se
apropriando do código através de suas próprias experiências vitais e forma seus
signi cados, para além da de nição de um dicionário, mediante uma trama
complexa de relações e de histórias. Assim, afora os rótulos, a linguagem que
habitamos oculta zonas privadas e pessoais. Junto às zonas iluminadas existem
grandes zonas de penumbra.

Que signi cado tem isso tudo para o ensino da literatura? Pois nada menos que
o reconhecimento dessas zonas. Dito de outro modo: não é o mesmo ler um
manual de instruções para ligar um forno que ler um conto de fadas, e se a
escola não se dá conta de “semelhante sutileza”, continuará ensinando a ler
todos os textos desde uma mesma postura.

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Para ligar um forno, deve-se seguir, de maneira literal e obediente, os passos


indicados no manual, pois, do contrário pode-se provocar um curto-circuito.
Contudo, é igualmente certo que, no caso dos contos, dos poemas e da
literatura como um todo, são, precisamente a liberdade do leitor e, de certa
forma, sua desobediência ao sentido literal das palavras, o que permite
“compreender” toda sua dimensão. Embora para os dois tipos de leitura falemos
em compreender, o tipo de compreensão que se estabelece é muito diferente.
Para entender um conto, é necessário conectá-lo com sensações, emoções,
ritmos interiores, evocações, como as que zemos no começo, símbolos talvez
arcaicos, zonas recônditas e secretas de nossa experiência. Se não nos
permitimos explorar essas zonas secretas com suas penumbras e suas
ambiguidades, esses contos não nos dirão nada, de modo que serão feitas
perguntas como qual o tema do texto, quando nasceram seus autores, ou o que
identi camos na introdução, no con ito e no desenlace…

Apesar dos dois tipos de leitura – o do manual de instruções e dos contos de


fadas – compartilharem muitas palavras e signos, há algo neles que faz com que
nós, como leitores, entremos em dinâmicas diferentes. E a escola, é importante
esclarecer, deve ensinar a ler de todas as formas possíveis e com diversos
propósitos. Porque precisamos seguir instruções cada vez mais complexas, não
só para ligar fornos, como também para que uma nave possa decolar e explorar
lugares distantes. Mas também necessitamos, e cada vez com mais urgência,
explorar o fundo de nós mesmos e nos conectar, de lá, com esses outros, iguais
ou diferentes, que compartilham nossas raízes humanas, nossos sonhos e
nossos terrores. Assim como algumas vezes devemos ser obedientes ou literais
e outras vezes precisamos analisar com exatidão textos cientí cos e acadêmicos
– e não nego que isto também pode e deve ser ensinado – também é verdade
que precisamos de ferramentas para fazer leituras livres e transgressoras, para
conversar profundamente com nós mesmos e com essas outras vozes, nesse
idioma secreto que uía entre nós e nossos narradores privados, enquanto
compartilhávamos um conto.

Por falar nesse Outro Idioma, e por nomear essas “casas próprias”, a literatura
deve ser lida, vale dizer, sentida, a partir da própria vida. Aquele que escreve
estreia as palavras e deve reinventá-las a cada vez, para imprimir sua marca
pessoal. E o leitor de literatura recria esse processo de invenção para decifrar e
decifrar-se na linguagem secreta do outro. Esse é um processo complexo que
compromete, por assim dizer, dois sujeitos, com toda sua experiência, com toda
sua história, com suas leituras prévias, com sua sensibilidade, com sua
imaginação, com seu poder de se situar para além de si mesmo. Trata-se de
uma experiência de leitura complexa e, é necessário dizer, difícil. Mas se pode
ensinar. E sustento também que se pode ensinar a amar a literatura, assim como
se ensinam e se aprendem números, vogais ou competências semânticas ou
qualquer outra coisa. É possível ensinar a experiência essencial da literatura: ou
seja, seu poder para revelarmos sentidos ocultos e secretos; para nos comover,
nos assustar, nos abalar, nos nomear e nos fazer rir ou tremer, e para falar de
tudo aquilo que não se diz para as visitas.

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Cabe, então, promover uma pedagogia do amor à literatura que dê asas à


imaginação de alunos, alunas e professores e ao livre exercício de sua
sensibilidade, para impulsioná-los a ser re-criadores dos textos.

4. O que pode ensinar a literatura

Nossas crianças e jovens estão imersos em uma cultura de pressa e


efervescência que os iguala a todos e os impede de refugiar-se, em algum
momento do dia, e até mesmo de sua vida, no mais profundo de si mesmos. Daí
que a experiência do texto literário e o encontro com esses livros reveladores
que não se lêem somente com os olhos ou com a razão, mas com o coração e o
desejo, sejam hoje mais necessários do que nunca como alternativas para ir
construindo essas casas ou palácios interiores. Em meio a uma avalanche de
mensagens e estímulos externos, a experiência literária brinda o leitor com umas
coordenadas para nomear-se e ler-se nesses mundos simbólicos construídos
por outros seres humanos. E, embora ler literatura não mude o mundo, pode sim
torná-lo mais habitável, porque o fato de nos ver em perspectiva e de olhar para
dentro, contribui para abrir novas portas para a sensibilidade e o entendimento
de nós e dos outros.

Precisamos de poemas, contos e de toda literatura possível em nossas escolas,


não para sublinhar ideias principais, mas para favorecer uma educação
sentimental. Não para identi car morais, ensinamentos e valores, mas para
empreender essa antiga tarefa do “conhece-te a ti mesmo” e “conhece aos
demais”. O desa o fundamental de um professor é o de acompanhar seus
alunos nessa tarefa, criando, ao mesmo tempo, um clima de introspecção e
umas condições de diálogo, para que, em volta de cada texto, possam tecer-se
as vozes, as experiências, as particularidades de cada criança, de cada jovem de
carne e osso, com seu nome e com sua história.

Um professor de literatura, acima de tudo, é, como aqueles contadores referidos


no início, uma voz que conta; uma mão que inventa palácios e arquitetura
impossíveis, que abre portas proibidas e que traça caminhos entre a alma dos
livros e a alma dos leitores. E para fazer seu trabalho, não deve esquecer que,
antes de ser professor, é um ser humano, com zonas de luz e sombra; com uma
vida secreta e uma casa de palavras que tem sua própria história. Seu trabalho,
como a própria literatura, é risco e incertezas. Seu privilegiado ofício é,
basicamente, ler. E seus textos de leitura não são os livros, mas também seus
leitores. Não se trata de um ofício, mas de uma atitude de vida. Não gura no
cânone, nem nos textos escolares, tampouco no manual de instruções, mas se
pode ensinar. Tomara que esta ideia que clara: que um professor pode “ensinar”
o amor pela literatura mediante sua atitude frente a vida, que é o texto de seus
alunos, por excelência. Quando saírem da escola e esquecerem datas e nomes,
poderão lembrar da essência dessas conversas de vida tecidas entre linhas,
quando seu professor pegava um livro de contos e dividia com eles a emoção

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de uma história, sem pedir-lhes nada em troca. Porque, no fundo, os livros são
isso: conversações de vida. E sobre a vida, sim, é urgente aprender a conversar.

Lemos para conversar, e dizer e nos dizer, sem nunca entender nada
totalmente. Como a Baratinha quando se refugiava sua ladainha, cada vez com
mais vozes e esse ser nas palavras, esse uir com as palavras de muitos outros,
era como um feitiço que, de certa forma, curava a dor, mediante o rito de
nomeá-lo.

Talvez o tempo, sempre tão apressado, apague nos estudantes os rostos de


agora e as coordenadas do lugar onde se lêem os contos, sem pedir-lhes nada
em troca, salvo seus rostos de curiosidade, terror, surpresa ou deleite… Mas,
talvez, quando forem randes leitores se lembrarão de algum conto inesquecível
que os marcou para sempre, ou de uma voz que dizia:

“Era uma vez, em um país muito distante…”.

E ninguém estará lá para lhes premiar, nem lhes dar uma medalha ao mérito,
nem tampouco atestar um milagre. Mas assim é como vão se fazendo os
leitores: corpo a corpo; corpo e alma, num quarto ou numa sala de aula. Conto a
conto. E um por um.

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Rapunzel, por Anne Anderson (1874-1930)

* Texto adaptado de conferência para professores em Bogotá, 2004.

TRADUCÃO: THAIS ALBIERI  / IMAGEM ANNE ANDERSON

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