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A escrava Isaura, de Bernardo Guimarães

Guia de Leitura

1. Amor romântico

Você se considera alguém “romântico”? Esse termo é usualmente


associado a comportamentos como gostar de poemas e histórias de amor,
emocionar-se facilmente, ser sensível a assuntos relacionados ao coração, ser
gentil e delicado com quem se gosta. Na arte, o Romantismo foi um movimento
associado principalmente ao século XIX e também se relacionava com a
expressão de sentimentos e a idealização do amor. Os prosadores românticos
preocupavam-se em refletir, nos escritos, o predomínio da emoção em cenas e
personagens cotidianos, desenvolvendo cativantes narrativas de amor e paixão,
fato que contribuiu para ascensão da literatura de ficção entre os leitores da
época.

>Sugestões de atividades:

a) Procure definir o amor de acordo com a visão dos autores românticos,


utilizando, como fonte de pesquisa, além de autores da prosa e da poesia, outros
artistas expoentes da música, da pintura, da escultura e do teatro. Busque
informações complementares em livros teóricos, revistas especializadas,
enciclopédias e na internet.

b) Pesquise sobre a poesia e a prosa romântica brasileira e compare a


representação da mulher amada nessas duas instâncias literárias, conhecendo
as semelhanças e diferenças entre os recursos estéticos utilizados pelos
autores. Organize um painel que contemple o tratamento dado a tal figura do
Romantismo ou uma declamação de trechos das obras pesquisadas.

c) Separe trechos do romance A escrava Isaura (1875), de Bernardo Guimarães,


que ilustrem o amor romântico ou a visão idealizada da mulher amada. Compare-
os com citações de outras narrativas românticas brasileiras de autores como
José de Alencar (1829-1877), Joaquim Manoel de Macedo (1820-1882) e
Visconde de Taunay (1843-1899), montando um quadro com afinidades e
discordâncias estéticas.

d) Apesar da distância em relação ao contexto histórico do século XIX, muitos


poemas e letras de canções contemporâneas ainda trazem semelhanças com o
retrato do amor romântico. Selecione algumas dessas composições e monte um
quadro comparativo com trechos de obras de prosadores românticos.

2. Identidade nacional e regionalismo

O Romantismo, no Brasil, teve como um dos seus principais ideais o


nacionalismo, procurando responder à pergunta “o que é ser brasileiro?”. Com
isso, muitos autores voltaram-se à busca dos espaços nacionais como meio de
definir a identidade cultural brasileira. Inicialmente centrada na figura ancestral
do índio, a produção artística também passou a retratar as mais diversas regiões
do país, indo além das grandes capitais e abrangendo a vida rural. O romance
regionalista, diferente de outras formas de narrativa romântica, não teve como
modelo o Romantismo europeu, constituindo um gênero central na tentativa de
autonomia cultural brasileira, envolvendo a preocupação de mostrar o país ao
seu povo. O regionalismo acabou reverberando na produção literária nacional
posterior ao século XIX, influenciando também o cinema, a TV, a música e o
teatro.

>Sugestões de atividades:

a) Pesquise por obras literárias lançadas a partir da década de 1930, de autores


como Graciliano Ramos (1892-1953), Jorge Amado (1912-2001), Erico
Verissimo (1905-1975), Rachel de Queiroz (1910-2003) e Guimarães Rosa
(1908-1967), que resgataram o regionalismo dos autores românticos,
procurando comparar passagens que descrevem a paisagem das mais diversas
regiões do Brasil.

b) Identifique, no romance A escrava Isaura (1875), de Bernardo Guimarães,


passagens que mostrem o problema comum aos autores românticos
regionalistas em não conseguirem adequar a variação linguística regional à
linguagem literária culta.

3. Caráter social

O romantismo brasileiro também se colocou a serviço de causas político-


ideológicas, procurando expressar uma arte de crítica, contestação e
conscientização social. Nesse sentido, o cotidiano da aristocracia em uma
sociedade ainda escravocrata foi o tema principal do romance A escrava Isaura
(1875), de Bernardo Guimarães. Para a sociedade conservadora e racista, no
Brasil do século XIX, a cor da pele significava um elemento de distinção. A
protagonista Isaura tinha a pele branca, mas a sua origem negra a colocava
como vítima do regime servil. Todavia, ela conseguiu ser educada e prendada à
moda europeia aparentemente por possuir a tez mais clara, conseguindo
adentrar os espaços da casa grande. Entretanto, apesar da possível boa
intenção em discutir a causa abolicionista, Bernardo Guimarães pecou na
descrição precária e esteriotipada dos personagens negros escravizados,
revelando certa contradição.

>Sugestões de atividades:

a) Pesquise sobre a Lei Eusébio de Queirós (1850) e a Lei do Ventre Livre (1871)
e as relacione à construção do enredo de A escrava Isaura (1875), levando em
consideração o viés abolicionista empregado pelo autor Bernardo Guimarães à
narrativa.

b) Discorra sobre a decisão do autor Bernardo Guimarães em criar uma


protagonista escravizada branca, levando em consideração o contexto histórico
em que o romance A escrava Isaura (1875) foi lançado.

c) Destaque pelo menos 3 trechos da narrativa de A escrava Isaura (1875) que


ressaltem a causa abolicionista de forma direta ou indireta.
d) Compare as características da personagem Isaura com as das figuras
escravizadas retratadas pelo artista francês Jean-Baptiste Debret (1768-1848)
na pintura a seguir. Discorra sobre as escolhas de adjetivação de Bernardo
Guimarães em relação à sua protagonista e aos outros personagens
escravizados de A escrava Isaura (1875). Ilustre sua reflexão com trechos do
romance.

Uma senhora brasileira em seu lar (1823), litografia aquarelada de Jean-


Baptiste Debret (1768-1848).

Fonte: Instituto Durango Duarte (Disponível em:


<http://idd.org.br/acervo/debret-uma-senhora-brasileira-em-seu-lar/>. Acesso
em: 06 mai. 2018).

e) Apesar de a escravidão ter se tornado oficialmente ilegal, o Estado e a


sociedade por muito tempo não garantiram condições para os libertos poderem
efetivar sua cidadania. Na contemporaneidade, a população negra do país não
mais luta pela abolição, mas pelo fim do preconceito e da discriminação racial e
cultural através da afirmação de uma identidade afro-brasileira. Pesquise por
representações artisticas do negro no século XXI (na literatura, na música, nas
artes plásticas, no teatro) e comente sobre as diferenças e semelhanças em
relação às representações étnicas empreendidas no século XIX, envolvendo,
inclusive, a influência do crescimento atual no número de artistas negros
reconhecidos e aplaudidos.

3. Condição feminina

As mulheres da burguesia constituíam o principal público alvo da ficção


romântica no século XIX, fosse ela publicada em folhetim nos jornais ou em
livros. Os romances, geralmente embasados no trio herói, mocinha e vilão,
traziam personagens de caracterização quase sempre superficial, beirando o
maniqueísmo, em tramas agridoces focadas no amor. As protagonistas
femininas refletiam os costumes e valores esperados à mulher da sociedade de
então, sendo recatadas, regidas pela moral cristã e desempenhando o papel de
esposa, mãe e senhora do lar, com o casamento parecendo definir o seu destino.
Em contrapartida, as figuras femininas que fugiam a este estereótipo eram
colocadas em posição desfavorável nas narrativas, indicando o que não deveria
ser seguido.

>Sugestões de atividades:

a) Leia as descrições a seguir, referentes às personagens Isaura, Malvina e


Rosa, respectivamente:

“A tez é como o marfim do teclado, alva que não deslumbra, embaçada por uma
nuança delicada, que não sabereis dizer se é leve palidez ou cor-de-rosa
desmaiada. O colo donoso e do mais puro lavor sustenta com graça inefável o
busto maravilhoso. Os cabelos soltos e fortemente ondulados se despenham
caracolando pelos ombros em espessos e luzidios rolos, e como franjas negras
escondiam quase completamente o dorso da cadeira, a que se achava
recostada. Na fronte calma e lisa como mármore polido, a luz do ocaso esbatia
um róseo e suave reflexo; di-la-íeis misteriosa lâmpada de alabastro guardando
no seio diáfano o fogo celeste da inspiração.”

“Era também uma formosa dama ainda no viço da mocidade, bonita, bem feita e
elegante. A riqueza e o primoroso esmero do trajar, o porte altivo e senhoril, certo
balanceio afetado e langoroso dos movimentos davam-lhe esse ar pretensioso,
que acompanha toda moça bonita e rica, ainda mesmo quando está sozinha.
Mas com todo esse luxo e donaire de grande senhora nem por isso sua grande
beleza deixava de ficar algum tanto eclipsada em presença das formas puras e
corretas, da nobre singeleza, e dos tão naturais e modestos ademanes da
cantora.”

“Entre estas últimas distinguia-se uma rapariguinha, a mais faceira e gentil que
se pode imaginar nesse gênero. Esbelta e flexível de corpo, tinha o rostinho
mimoso, lábios um tanto grossos, mas bem modelados, voluptuosos, úmidos, e
vermelhos como boninas que acabam de desabrochar em manhã de abril. Os
olhos negros não eram muito grandes, mas tinham uma viveza e travessura
encantadoras. Os cabelos negros e anelados podiam estar bem na cabeça da
mais branca fidalga de além-mar. Ela porém os trazia curtos e mui bem frisados
à maneira dos homens. Isto longe de tirar-lhe a graça, dava à sua fisionomia
zombeteira e espevitada um chispe original e encantador. Se não fossem os
brinquinhos de ouro, que lhe tremiam nas pequenas e bem molduradas orelhas,
e os túrgidos e ofegantes seios que como dois trêfegos cabritinhos lhe pulavam
por baixo de transparente camisa, tomá-la-íeis por um rapazote maroto e
petulante.”

Compare o retrato feito por Bernardo Guimarães às suas diferentes personagens


femininas e, tendo o romance A escrava Isaura (1875) como base, discorra sobre
a condição da mulher no século XIX e sua visão idealizada.

b) Destaque pelo menos 3 possíveis elementos estéticos de atração para a


leitura de mulheres burguesas no romance A escrava Isaura (1875).

4. Análise comparativa

O apelo emocional de A escrava Isaura (1875) ocasional o sucesso


editorial de Bernardo Guimarães, tornando-o um dos escritores mais populares
de seu tempo. O impacto cultural do romance ecoou em diversas releituras,
paródias e adaptações para as mais variadas linguagens, assim como
associações de seu enredo a outras obras.

>Sugestões de atividades:

a) Pesquise sobre as adaptações do romance de Bernado Guimarães para a


televisão e monte um quadro comparativo com os atores que interpreteram os
personagens que considerar de maior destaque na obra (Isaura, Leôncio, Álvaro,
Rosa, etc). Discuta com amigos que também leram o livro se a fisionomia dessas
pessoas é semelhante às descrições presentes na narrativa e se combinam com
a imagem que vocês pensaram dos personagens.

Vinhetas da abertura das mais conhecidas adaptações feitas para a televisão


de A escrava Isaura (1875), de Bernardo Guimarães.

Fonte: Site Teledramaturgia (Disponível em: <http://teledramaturgia.com.br>.


Acesso em: 6 mai 2018).

Também procure por vídeos com trechos das produções na internet e observe
se a caracterização e reconstrução histórica de roupas e objetos condiz com a
época em que se passam as desventuras de Isaura.

b) Leia o recorte de jornal a seguir, com um anúncio de venda do livro A escrava


Isaura (1875), datado do mesmo ano de sua publicação:

Anúncio de venda do romance A escrava Isaura (1875) publicado no periódico


carioca A Reforma, em 3 de junho de 1875.
Fonte: Acervo da Hemeroteca digital da Biblioteca Nacional.

O pequeno texto apresenta o romance de Bernardo Guimarães de maneira


bastante elogiosa, comparando-o a outro título que fazia sucesso na época e
que também abordava a questão da escravatura: A cabana do Pai Tomás
(1852), da escritora norte-americana Harriet Beecher Stowe (1811-1896).
Pesquise sobre o enredo deste livro e compare com o de A escrava Isaura
(1875), destacando a abordagem da causa abolicionista e a contribuição na
perpetuação de estereótipos dos negros escravizados.

c) Paródia é um tipo de intertextualidade que se define como a releitura ou


imitação jocosa de uma obra. Trata-se de uma recriação com objetivos críticos,
contestadores, irônicos, zombeteiros e humorísticos. Essa desconstrução é
intencional e deve manter características para que possamos reconhecer o texto
original então distorcido. Em 2010, a editora Lua de Papel lançou a coleção
“Clássicos Fantásticos”, com releituras paródicas de grandes títulos da literatura
brasileira, trazendo em suas tramas elementos mágicos e sobrenaturais. A
escrava Isaura (1875), de Bernardo Guimarães, virou A escrava Isaura e o
vampiro (2010), pelas mãos do roteirista e humorista Jovane Nunes.

Capa de A escrava Isaura e o vampiro (2010), de Jovane Nunes.

Fonte: RANGEL, N. Deu a louca nos clássicos. Revista IstoÉ. Online. 24 de


setembro de 2010. (Disponível em:
<https://istoe.com.br/102106_DEU+A+LOUCA+NOS+CLASSICOS/>. Acesso
em: 6 mai. 2018).

Na nova versão, Isaura é atormentada por um Leôncio morto-vivo e atrapalhado.


Nunes, para além da inserção do elemento fantástico do vampiro, procurou
discutir o estilo romântico através da ironia e da comparação humorística entre
a realidade do século XIX e a contemporaneidade. É o que podemos verificar no
trecho que inicia o primeiro capítulo:

“Nasce o sol, este rebento que é o imperador caloroso de todos os astros. Ao


despontar, o mavioso astro rei jorra seus raios como filetes de ouro sobre a casa-
grande de uma soberba fazenda. A luz, tal qual a razão quando invade a mente
do ignorante, inunda de vida nova o belo jardim repleto de plantas nativas... Não.
Repleto de robustas e doces plantas europeias, dessas que sabem até falar
francês e não guardam em seu âmago os filhotes do mosquito da dengue. Assim
é mais romântico. Essa aurora matinal traz consigo a entusiástica manhã de um
florido dia do suntuoso mês de março no majestoso século XIX. Amanhecer que,
precisamos dizer, veio antes do meio dia e é o começo de novos e soberbos
tempos. Esta bucólica fazenda em questão, situada na zona rural do município
de Campos, amável e aprazível Campos, no interior do Rio de Janeiro, é o
paradisíaco lugar onde começa a nossa empolgante história. O dono da fazenda
e senhor de tudo é Leôncio Pai, pai de Leôncio filho, o popular Rubens de Falco.
Leôncio Pai, por ter muito dinheiro e muitos bens, é riquíssimo. Graças ao ciclo
econômico do café, do pãozinho francês e da Cleybon Cremosa, Leôncio Pai
tornou-se o grande monopolista do desjejum brasileiro.”
(NUNES, J. A escrava Isaura e o vampiro. São Paulo: Lua de Papel, 2010, p. 6.)

Após a leitura do excerto, compare-o com o início do romance-base e indique


qual artifício estético-linguístico dos escritores românticos é parodiado por
Jovane Nunes nas descrições iniciais. A partir da criativa ideia da paródia
mencionada, escreva quais as possíveis consequências da inclusão de um
personagem vampiro na narrativa de Bernardo Guimarães, relacionando tal
figura gótica ao apego pela morte e ao pessimismo que também marcaram o
Romantismo no Brasil.

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