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Instituto de Economia
Especialização em Gestão Pública e Governo
Módulo Economia e Finanças do Setor Público
A política fiscal é a maneira à qual o Estado manipula a sua receita, os gastos e tributos
para conduzir a política econômica, visando contrabalancear os efeitos de inflação e depressão
e intensificar o retorno da arrecadação. Conforme Musgrave, essa política desempenha três
funções básicas, que são: 1) função alocativa – baseia-se na provisão eficiente de bens e serviços
públicos para compensar as falhas de mercado, de acordo com o interesse da sociedade; 2)
função distributiva – realiza ajustes para redistribuir de maneira equitativa renda e riqueza para
garantir uma adequação justa na sociedade através de impostos, subsídios e transferências; 3)
função estabilizadora: visa promover um crescimento econômico sustentável com pleno
emprego, razoável estabilidade no nível de preços e estabilidade na balança de pagamentos.
Segundo Fernando de Carvalho, a função da política fiscal para Keynes é induzir variações no
gasto privado, complementando diretamente os gastos com as despesas e investimentos do
governo. Em um ambiente de incertezas, quando os agentes econômicos privados deixam de
consumir e investir, o governo pode compensar esta redução aumentando a sua demanda por
bens e serviços. Assim, poderá manter a demanda agregada inalterada e, portanto, também o
nível de emprego e utilização da capacidade produtiva. O propósito da política fiscal é que o
governo gaste (através do consumo e investimento) e cobre tributos, alterando a renda
disponível e impactando na demanda agregada. Quando há gasto público, o impacto sobre a
renda é maior que o gasto inicial. Como o gasto do governo se transforma em renda para agentes
privados que fornecem bens e serviços, com esta renda os agentes privados gastam ainda mais,
ampliando, assim, a renda de quem atende à sua demanda de consumo. Isto é o que Keynes
chamou de Efeito Multiplicador do Gasto Público. Assim, definimos a política fiscal com nível
adequado de gasto público e não de déficit. Como o governo além de gastar, também cobra
tributos, é possível subir o valor do total de impostos que, se for igual aos gastos públicos, não
haverá déficit.
Carga tributária bruta refere-se à soma das receitas do Estado, que é o detentor legítimo
do poder de coerção sobre a população. A carga tributária bruta não contabiliza as receitas que
os cidadãos pagam se tem o poder de escolha de fazê-lo ou não. Em linhas gerais trata-se de
tributos, incluindo contribuições. Receitas líquidas de devoluções, a Restituição do Imposto da
Renda da Pessoa Física e somatório de receitas que vão para os cofres públicos. Inclui também
os recursos que estão sob a gestão do Estado, mesmo sendo de propriedade privada, como o
FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), PIS (Programa Integração Social) /PASEP
(Programa de Formação do Setor Público) e a Previdência Social. Base de incidência refere-se
ao valor que serve de base a certo cálculo, por exemplo, se um rendimento tem um tributo a
uma taxa de 10%, a base de incidência para este cálculo é o valor do rendimento em que se
aplica a referida taxa para que se chegue à importância do imposto a pagar.
O sistema tributário atual no Brasil tem caráter regressivo por causa da alta participação
nos impostos e baixa tributação sobre patrimônio e renda, além de sua concentração em poucas
bases tributáveis. Devido a estes aspectos, o seu papel como ferramenta distributiva é
dificultado o que piora a questão da desigualdade social, já que sua estrutura é mais incidente
no consumo, onerando os mais pobres. Do ponto de vista da competitividade também há pontos
negativos, já que muitos impostos indiretos são cobrados na mesma base e o sistema de
incidência cumulativa acaba por aumentar o "custo do Brasil".
A partir dos dados do Banco Central para o período 2012-2016 percebemos uma
deterioração no resultado primário, e por consequência, também no resultado nominal. A
evolução do resultado primário brasileiro teve um pico em 2005 quando chegou a 3,74% e, daí
só caiu chegando a -1,88% em 2015. Neste ano, o setor público registrou déficit primário de R$
111,2 bilhões, ou 1,88% do PIB. Somou um déficit de R$ 151,2 bilhões, ou 2,51%, no
acumulado em 12 meses até junho de 2016. Ainda em 2015, o total de juros nominais incidentes
sobre a dívida líquida apropriados em 2015 somou R$ 501,8 bilhões (8,5% do PIB). Já no
acumulado em 12 meses até junho de 2016, somou R$ 449,2 bilhões (7,45% do PIB). O
resultado nominal, ou as necessidades de financiamento do setor público (NFSP) totalizaram,
em 2015, R$ 613,0 bilhões (10,38% do PIB) e somou R$ 600,5 bilhões (9,96% do PIB) no
acumulado em 12 meses até junho de 2016. Nota-se que o orçamento público piorou o seu
resultado no período entre 2012 a 2016, chegando até a ser negativado em 2014.
Historicamente, o setor público no Brasil demonstra necessidades de financiamento positivas,
os déficits nominais. O setor público pode ser financiado domesticamente ou externamente, por
meio de elevação de passivos (como dívida mobiliária e dívida bancária) ou pela redução de
seus ativos (como a redução das disponibilidades da Conta Única). As fontes domésticas foram
responsáveis por financiar 100% das Necessidades de Financiamento do Setor Público (NFSP)
em 2015. As empresas estatais continuaram com os seus orçamentos praticamente estáveis, mas
chegaram a piorar no fim do período analisado. A deterioração das contas do governo central
se destacam e também as contas dos governos estaduais, porém em um grau menor. Podemos
entender que um dos motivos é a evolução dos gastos com juros. Em 2012 o Brasil pagava R$
300 bilhões de juros anualmente, mas passou a