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ARTIGO ARTICLE S1

Organizações de avaliação de tecnologias


em saúde (ATS): dimensões do arcabouço
institucional e político

Health technology assessment (HTA) organizations:


dimensions of the institutional and political
framework

Organizaciones de evaluación de tecnologías en


salud (ETS): dimensiones del marco institucional
y político
Hillegonda Maria Dutilh Novaes 1,2
Patrícia Coelho de Soárez 1,2

Resumo

A avaliação de tecnologias em saúde (ATS) está consolidada enquanto 1 Faculdade de Medicina, Correspondência
Universidade de São Paulo, P. C. Soárez
prática científica e tecnológica. O objetivo do estudo é identificar organi- São Paulo, Brasil. Departamento de Medicina
zações de ATS de diferentes contextos e analisá-las de acordo com dimen- 2 Instituto de Avaliação de Preventiva, Faculdade de
Tecnologias em Saúde, Porto Medicina, Universidade
sões relevantes na avaliação de sua efetividade/impacto, buscando contri- Alegre, Brasil. de São Paulo.
buir com os desafios enfrentados no contexto nacional. Revisão narrativa Av. Dr. Arnaldo 455, 2 o andar,
São Paulo, SP
da literatura, realizada em bases de dados e web sites de organizações de
01246-903, Brasil.
ATS. Existem processos de desenvolvimento das atividades bem estabele- patricia.soarez@usp.br
cidos em todas as organizações. Elas apresentam particularidades no seu
perfil, nos processos de avaliação, decisão e implementação das tecnolo-
gias que influenciam o seu impacto potencial sobre os sistemas de saúde.
As agências compartilham os desafios de priorização das tecnologias a se-
rem avaliadas e implementação das suas recomendações. O fortalecimen-
to técnico e político do processo de institucionalização da ATS no contexto
nacional poderá contribuir com as políticas científicas, tecnológicas e de
inovação, impactando de forma efetiva as políticas de saúde.

Avaliação de Tecnologias de Saúde; Tomada de Decisões; Políticas


Públicas de Saúde; Desenvolvimento Sustentável; Inovação

http://dx.doi.org/10.1590/0102-311X00022315 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 32 Sup 2:e00022315, 2016


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Introdução que exclusivamente no âmbito do setor públi-


co de administração direta, nos ministérios ou
Ao longo das últimas três décadas, a presença e equivalentes. A delegação de atribuições de coor-
visibilidade da avaliação de tecnologias em saú- denação de atividades técnicas para as agências
de (ATS), enquanto produção de conhecimento é identificada como parte de um movimento em
e política de saúde, se disseminou na Europa, direção à melhor governança, buscando reduzir
América do Norte, Austrália e, mais tardiamente, a interferência das vicissitudes políticas em ativi-
nos países em desenvolvimento 1. Considera-se dades que necessitam de estabilidade e continui-
que sua participação nos processos de incorpo- dade para serem bem-sucedidas 6.
ração e utilização das tecnologias de saúde pode Os resultados dos processos de ATS, muitas
contribuir para a equidade e acesso aos serviços vezes, podem representar conclusões impopu-
de saúde, maior eficiência na alocação de recur- lares para alguns setores ou stakeholders. As rea-
sos, melhor efetividade e qualidade dos serviços ções de alguns desses interessados às conclusões
e maior sustentabilidade financeira do sistema indesejáveis podem colocar em risco as agências,
de saúde. no que se refere à estabilidade e independên-
A ATS se consolidou enquanto prática cientí- cia 7,8. Os tomadores de decisão, os gestores pú-
fica e tecnológica, atingiu desenvolvimento me- blicos, e associações de especialidades médicas
todológico e expansão da sua influência no meio e pacientes podem desconhecer alguns aspec-
científico e entre os gestores em saúde. Porém, sua tos do processo de avaliação, incluindo a aná-
implantação enquanto política de saúde ainda en- lise econômica. A incompreensão do processo
frenta dificuldades. A criação de organizações e decisório e das avaliações de custo-efetividade
agências de ATS tem sido uma estratégia de ins- foi apontada como um dos fatores que mais pro-
titucionalização que busca enfrentar o desafio de vocaram críticas às decisões 9.
torná-la uma política de saúde efetiva. Embora a maioria das agências de ATS seja
O desenvolvimento das organizações de ATS cientificamente independente, elas operam den-
e seu processo de institucionalização pode ser tro de estruturas de governança mais amplas e
observado pela criação de redes e progressivo au- não têm independência política. A estrutura de
mento do número de agências membros da In- governança institucional afeta a independência
ternational Network of Agencies for Health Tech- das agências, bem como os poderes e controles
nology Assessment (INAHTA), atualmente com dos outros atores, como o judiciário e órgãos
55 agências, da European Network for Health regulatórios.
Technology Assessment (EUnetHTA), com 51 Não há modelos padronizados ou caminhos
organizações participantes; e o recente estabe- universais para a criação e institucionalização
lecimento da Rede de Avaliação de Tecnologias das agências, dadas as grandes diferenças entre
das Américas (RedETSA), criada em 2011, com 25 os países (culturas e valores, sistemas de saúde,
instituições membros 2. prioridades políticas, governança etc.). Apesar
A principal razão pela qual os governos jus- das diferenças nos contextos nos quais a ATS tem
tificam a criação das agências de ATS é a neces- sido conduzida, organizações de ATS existentes
sidade de haver uma instância especificamente e futuras podem aprender umas com as outras.
voltada para informar aos formuladores de polí- Neste texto, temos como objetivo identificar or-
ticas sobre as implicações do desenvolvimento, ganizações de ATS representativas de diferentes
difusão e uso de tecnologias de saúde. Propos- contextos, como se conformam no arcabouço
tas para servir como “uma ponte entre o mundo institucional e político dos sistemas de saúde e
da pesquisa e o mundo da tomada de decisão” 3 analisá-las de acordo com dimensões relevantes
(p. 1464), essas organizações estariam situadas na avaliação de sua efetividade/impacto, bus-
na fronteira entre os domínios de pesquisa e de cando contribuir com os desafios a serem en-
formulação de políticas para serem capazes de frentados no contexto nacional.
responder solicitações que exigem decisões mais
informadas, transparentes e legítimas, e permi-
tam maior participação da sociedade 4,5. Método
A expansão de agências como instâncias
organizacionais nos serviços públicos não se li- Revisão narrativa da literatura
mitou a ATS e foi um fenômeno internacional e
presente em diversos setores da atividade eco- O levantamento bibliográfico ocorreu no perío-
nômica. A criação das agências representou uma do de outubro de 2014 a fevereiro de 2015 e foi
grande mudança nas políticas de gestão de mui- realizado em cinco bases de dados: MEDLINE,
tos países em que tradicionalmente as decisões LILACS e bases de dados do Centre for Revie-
sobre as políticas públicas eram tomadas quase ws and Dissemination (CRD: NHS EED, HTA,

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DARE). Foi realizada revisão específica de re- tão de ATS/escopo da avaliação, produtos de
vista internacional especializada em ATS, In- ATS e utilização dos produtos de ATS 12 (Figura 1
ternational Journal of Technology Assessment in e Tabela 1).
Health Care. Revisamos as listas de referências Apresenta-se o perfil das dez organizações de
dos trabalhos incluídos e solicitamos indicações ATS selecionadas, sumarizando as dimensões:
de especialistas da área. Buscamos a literatura tecnologia avaliada, data de início, organização
cinzenta no Google e Google acadêmico. Nossa responsável pela avaliação, tipo de organização,
busca utilizou um conjunto de palavras-chave financiamento, organização responsável pela
(“Technology Assessment, Biomedical” “Health apreciação, papel e organização responsável pe-
Technology Assessment”, “HTA”, “Technology As- la decisão de cobertura, para a identificação de
sessment”, “HTA Agencies”, “HTA organizations”, tipologias de agências e semelhanças ou diferen-
“HTA Programs”, “Evaluation”, “Decision ma- ças que dialoguem com o cenário nacional.
king”, “Health policy” e “Impact”).
Consultamos também, os web sites da
INAHTA; Health Technology Assessment Inter- Resultados e discussão
national (HTAi); EUnetHTA e de dez organiza-
ções de ATS: Pharmaceutical Benefits Advisory Desenvolvimento das organizações de ATS
Committee (PBAC) na Austrália, Swedish Council na perspectiva internacional
on Technology Assessment in Health Care (SBU)
na Suécia, Canadian Agency for Drugs and Tech- A revisão narrativa da literatura identificou or-
nologies in Health (CADTH) no Canadá, National ganizações de ATS representativas de diferentes
Institute for Clinical Excellence (NICE) no Rei- contextos e permitiu a sistematização de suas
no Unido, Agency for Healthcare Research and principais características institucionais.
Quality (AHRQ) nos Estados Unidos, Institute for A organização considerada como pioneira,
Quality and Efficiency in Health Care (IQWiG) na o PBAC é um órgão estatutário independente
Alemanha, Centro Nacional de Excelencia Tec- estabelecido pelo governo australiano em 1953,
nológica en Salud (CENETEC) no México, Hau- para recomendar novos medicamentos para for-
te Autorité de Santé (HAS) na França, Comissão mulário nacional de medicamentos do Pharma-
Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS ceutical Benefits Scheme (PBS), um programa
(CONITEC) no Brasil, e Instituto de Evaluación governamental que subsidia a maioria dos medi-
Tecnológica en Salud (IETS) na Colômbia. camentos com prescrição na Austrália. Nenhum
Essas organizações foram selecionadas para novo medicamento pode ser incluído no formu-
o aprofundamento da análise com base na re- lário, sem uma recomendação positiva do PBAC.
visão de literatura realizada. São agências pio- Ao recomendar um medicamento, o PBAC leva
neiras no campo de ATS, que influenciaram os em conta as condições médicas para as quais o
modelos adotados em outros países e institui- medicamento foi registrado para uso na Austrá-
ções criadas mais recentemente, inseridas em lia, sua eficácia clínica, segurança e custo-efetivi-
diferentes modelos de sistemas de saúde: uni- dade, em comparação com outros tratamentos.
versais (tipo Beveridgiano: Suécia, Reino Unido, Considerada a primeira agência nacional de
Austrália); seguros sociais (tipo Bismarckiano: ATS na Europa, o SBU foi estabelecido em 1987,
França, Alemanha); mercados de livre concor- com o propósito de informar o governo central
rência (Estados Unidos); e híbridos (México, Bra- sueco e conselhos distritais sobre o valor das
sil, Colômbia). Os contextos institucionais dessas tecnologias em saúde. A agência deveria forne-
instituições apresentam grande variação, o que cer informação baseada em evidências sobre as
permite explorar a diversidade na organização tecnologias em saúde para orientar as políticas e
das etapas da “cadeia de avaliação”, do proces- práticas de saúde práticas e o público em geral.
so de ATS (priorização, avaliação, apreciação, O governo forneceu instruções explícitas para o
disseminação e implementação dos resultados/ SBU: fazer avaliações científicas de tecnologias
recomendações) 10,11. de saúde novas e estabelecidas, considerando os
Com base no modelo teórico de Hailey 11 que aspectos médico, social, econômico e ético. Mas,
elenca as dimensões (estrutura, processos, resul- sem uma função regulatória 13.
tados, impacto dos produtos e desfechos finais) Em 1989, foi criada a agência nacional de
determinantes da efetividade de programas/ ATS canadense, o Canadian Coordinating Offi-
agências de ATS, foram selecionados para análise ce for Health Technology Assessment – CCOHTA
os parâmetros mais frequentemente utilizados (renomeada como Canadian Agency for Drugs
nas avaliações: contexto, recursos humanos/pes- and Technologies in Health – CADTH em 2006).
soal, recursos financeiros, estrutura organizacio- Estabelecida e financiada pelos governos fede-
nal, seleção e priorização, formulação da ques- ral, provincial e territorial, sua missão é forne-

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Figura 1

Determinantes da efetividade de programas/agências de avaliação de tecnologias em saúde (ATS).

Fonte: adaptado de Hailey 11.

cer avaliações baseadas em evidência de novas mentais, seguradoras e planos de saúde, entida-
tecnologias, incluindo medicamentos, disposi- des privadas com e sem fins lucrativos. A AHRQ
tivos médicos, procedimentos e sistemas para foi criada em 2003 e é a principal agência do go-
todos os níveis de governo. Todos os novos me- verno americano, responsável pelo desenvolvi-
dicamentos, excetuado os medicamentos para mento e financiamento da ATS. As avaliações da
câncer, devem ser avaliados antes da decisão de AHRQ geralmente são utilizadas pelo Centers for
incluí-los na lista de cobertura. No entanto, so- Medicare e Medicaid Services (CMS) para infor-
mente uma parte dessas tecnologias passam por mar as políticas de cobertura para os programas
revisões formais de seu desempenho clínico e nacionais e locais do Medicare. A AHRQ não faz
custo-efetividade. As recomendações da CADTH recomendações 18.
têm um caráter consultivo, cabendo aos Ministé- O IQWiG é um instituto independente que
rios da Saúde e governos provinciais decidirem a investiga os benefícios e riscos de intervenções
introdução das tecnologias no sistema de saúde médicas para os pacientes. O escopo de suas ati-
ou planos públicos de medicamento 14,15. vidades é definido por lei e trabalha em nome do
Em 1999, foi criado no Reino Unido o NICE, Federal Joint Committee (Gemeinsamer Bunde-
a organização em ATS que mais se aproxima dos sausschuss – G-BA) ou do Ministério Federal da
objetivos propostos para a ATS enquanto prática Saúde da Alemanha. IQWiG avalia procedimen-
política e técnica 16,17. É reconhecido internacio- tos cirúrgicos e de diagnóstico, produtos farma-
nalmente pelo seu rigor metodológico, em parti- cêuticos, bem como as diretrizes de tratamento,
cular pelos seus guidelines de avaliação que são e cria a base para novos programas de gerencia-
utilizados como modelos internacionalmente. mento de doenças. As avaliações do IQWiG ser-
As recomendações do NICE são mandatórias. As vem de base para a tomada de decisão do G-BA 19.
tecnologias recomendadas devem estar dispo- Em 2005 o governo francês estabeleceu a
níveis em até três meses após a publicação da Haute Autorité de Santé (HAS), um órgão públi-
recomendação. co independente, com autonomia financeira. É
Nos Estados Unidos, a ATS é um processo al- obrigada por lei a realizar missões específicas,
tamente descentralizado, conduzido por uma sé- reportando-se ao governo e ao parlamento. Suas
rie de stakeholders, incluindo agências governa- atividades vão desde a avaliação de medicamen-

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Tabela 1

Dimensões dos programas/agências de avaliação de tecnologias em saúde (ATS).

Estrutura Processos Resultados Impacto dos produtos Desfechos finais

• Mandato – público-alvo Gestão dos processos: Rastreamento do horizonte Aceitação dos produtos da Impacto no estado de saúde
agência:
• Princípios/Valores • Gestão de RH Produtos de ATS • Awareness Impacto no sistema de
(completo): saúde:
• Governança • Gestão financeira • Descrição • Atitude • Geral
Relação contratual • Gestão de projetos • Qualidade • Satisfação • Econômico/Sistema de
custos
• Relações colaborativas • Estratégia/Planejamento • Custo Utilização dos produtos de • Equidade
ATS:
• Recursos financeiros • Avaliação e/ou pesquisa • Oportunidade • Simbólico • Sustentabilidade
• Recursos humanos/ • Comunicações • Relevância • Conceitual – mudança na
pessoal awareness, conhecimento,
atitude em relação à
tecnologia
• Comitê/Estruturas/ Processos de ATS: Recomendações/ • Instrumental – mudança
Funções Apreciações/Outros: na política ou prática
• Estrutura organizacional • Priorização e seleção da • Transferência de pesquisa • Impacto sobre a
ATS ou desenvolvimento de tecnologia:
capacidades/eventos/
produtos
• Dados/Sistemas de • Formulação da questão • Inovação ou adaptação
informação de ATS
• Público-alvo • Comissionamento e • Pesquisa e
acompanhamento desenvolvimento
• Fontes de solicitação • Coleta e análise de dados • Obsolescência/
Substituição
• Decisões/Recomendações
• Preparação e revisão do
relatório
• Divulgação/Transferência da
pesquisa
• Apelações

Fonte: adaptado de Hailey 11.

tos, dispositivos médicos e procedimentos para formação acurada, pertinente e relevante sobre
publicação de orientações para credenciamento a tecnologia de saúde para melhorar a prestação
de organizações de saúde e certificação de mé- de cuidados de saúde e a concepção e imple-
dicos. Possui ligação estreita com as agências mentação de políticas de saúde; e (ii) ajudar a
governamentais de saúde, seguros de saúde na- racionalizar a aquisição, adoção, gestão e disse-
cionais, institutos de pesquisa, sindicatos de pro- minação de tecnologias médicas nos níveis local,
fissionais de saúde e representantes de pacien- regional e nacional 20. Inicialmente, CENETEC
tes. Abriga alguns comitês científicos específicos teve como foco os equipamentos médicos, mas
como a Commission de la Transparence (CT), ampliou o escopo, incluindo dispositivos médi-
responsável pela apreciação dos medicamentos. cos, medicamentos e procedimentos.
Na América Latina, o processo de criação das O IETS é uma agência público-privada sem
agências se iniciou mais tardiamente. Em 2004, fins lucrativos criada na Colômbia em setembro
o Centro Nacional de Excelencia Tecnológica en de 2012. Produz avaliações de tecnologias em
Salud (CENETEC) foi criado no México, como saúde, diretrizes clínicas baseadas em evidên-
uma agência especializada dentro do Ministério cias e protocolos de medicamentos, dispositi-
da Saúde com duas funções básicas: (i) gerar in- vos médicos, procedimentos e tratamentos para

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apoiar os formuladores de políticas e profissio- a) Contexto


nais de saúde na decisão de quais tecnologias
são eficazes e oferecem a melhor qualidade e efi- As organizações responsáveis por processos de
ciência e, portanto, devem ser financiadas com ATS podem estar em nível local, regional, nacio-
fundos públicos. nal e internacional. No nível local/regional, as
A CONITEC substituiu a Comissão para In- organizações de ATS respondem principalmente
corporação de Tecnologias do Ministério da Saú- a questões de gestores locais, serviços de saúde,
de (CITEC) e iniciou suas atividades em 2011. A profissionais de saúde, grupos de pacientes, se-
CONITEC é vinculada à Secretaria de Ciência, guradoras e outros stakeholders. Houve em anos
Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério recentes um aumento de organizações de ATS
da Saúde (SCTIE) e assistida pelo Departamento em nível hospitalar/local 22. No nível nacional, a
de Gestão e Incorporação de Tecnologias em Saú- organização produz informação para o governo
de (DGITS), criado em 2012. São competências federal, sistema nacional de saúde, formuladores
da CONITEC: subsidiar a SCTIE na formulação de políticas e outros stakeholders 23. O tipo de
de políticas, diretrizes e metas para a incorpora- avaliação é influenciado pela forma de inserção
ção, alteração ou exclusão pelo Sistema Único de da agência no sistema de saúde. As agências mais
Saúde (SUS) de tecnologias em saúde, bem como destacadas estão inseridas em nível nacional 24.
no desenvolvimento e alteração de protocolos
clínicos e diretrizes terapêuticas, além de propor b) Recursos humanos/pessoal
atualização da Relação Nacional de Medicamen-
tos Essenciais (RENAME). Algumas organizações realizam suas atividades
Após a criação da CONITEC, o processo pa- por meio de equipes próprias, outras coordenam
ra submissão de pedidos e documentos a serem e acompanham estudos independentes feitas
entregues pelo demandante tornou-se um fluxo por organismos externos, como universidades,
contínuo, e o prazo para a análise dos processos instituições de pesquisa ou grupos de especia-
foi fixado em 180 dias, podendo ser prorrogável listas. Enquanto algumas agências são proativas
por mais 90 dias 21. Foi também estabelecido na definição dos estudos a serem realizados, es-
prazo de 180 dias para ofertar a nova tecnolo- tabelecendo prioridades com base na busca de
gia no SUS, após a publicação da deliberação no questões emergentes e rastreamento tecnológico
Diário Oficial da União. As recomendações da do horizonte, outras são reativas e respondem às
CONITEC devem ser referendadas pelo Secretá- demandas de partes interessadas na realização
rio de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos de estudos específicos 24.
e posteriormente encaminhadas ao Ministro da
Saúde. Após a deliberação do Ministro da Saúde, c) Recursos financeiros
o processo deverá retornar à CONITEC e nova-
mente à respectiva área técnica para incorpora- As agências são financiadas exclusivamente pe-
ção ou retirada da tecnologia. lo governo, ou contam com financiamento pre-
dominantemente governamental, com alguma
contribuição privada. Agências de ATS privadas
Dimensões nucleares das organizações ou com fins lucrativos são financiadas inteira-
de ATS mente ou especialmente por recursos privados,
com pequena contribuição do governo 23.
Foram utilizados para organizar a síntese dos
principais estudos identificados na revisão nar- d) Estrutura organizacional
rativa da literatura os parâmetros propostos no
modelo teórico de Hailey 11 (Figura 1 e Tabela 1) O modelo governamental é o mais difundido. Ne-
mais frequentemente utilizados nas avaliações le as organizações são implantadas como unida-
de impacto das agências: contexto, recursos hu- des inseridas em organogramas de instâncias do
manos/pessoal, recursos financeiros, estrutura sistema de saúde público (regional/nacional) ou
organizacional, seleção e priorização, formula- como agência independente, porém vinculada
ção da questão de ATS/escopo da avaliação, pro- ao sistema de saúde. Esse modelo é adotado em
dutos de ATS e utilização dos produtos de ATS 12. muitos países com programas de ATS bem esta-
belecidos, como o Reino Unido, França, Espanha
• Estrutura e Canadá 24,25.

A dimensão estrutura inclui os parâmetros: con-


texto, recursos humanos/pessoal, recursos fi-
nanceiros e estrutura organizacional.

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• Processos a maioria das agências restringe suas avaliações


ao estudo de novos medicamentos, dispositivos,
A dimensão processos inclui a seleção e priori- procedimentos ou programas de atenção médi-
zação e formulação da questão de ATS/escopo ca que exigem grandes investimentos de capital.
da avaliação. Em todo o mundo, as abordagens desenvolvidas
nas agências para os medicamentos são mais
a) Seleção e priorização bem estabelecidas e sistemáticas do que para
outras tecnologias. As avaliações relacionadas
Vários estudos destacam a falta de transparência às intervenções de saúde pública, tecnologias
no processo de seleção e priorização das tecno- emergentes e tecnologias de processo utilizam
logias. Muitas organizações de ATS não apresen- metodologias mais diversificadas 30.
tam processos explícitos de priorização, incluin-
do os métodos de seleção e participação dos sta- • Resultados
keholders interessados 26, pouco mais da metade
das agências utilizam algum processo explícito a) Produtos de ATS
de priorização. A maioria das agências que refere
utilizar processos de priorização dos estudos tem Os produtos das agências da INAHTA diferem
painel ou comitê para fornecer recomendações tanto na nomenclatura quanto no método utili-
sobre as prioridades 24,27. zado para desenvolvê-los. Determinados produ-
Os critérios mais comumente aplicados pe- tos são desenvolvidos com métodos amplamente
las agências na determinação das prioridades aceitos e bem definidos e abordam as dimensões
são: impacto clínico e econômico da tecnologia, consideradas fundamentais 31.
a carga da doença, o impacto orçamentário, a Os relatórios de ATS completos devem apre-
disponibilidade de evidências relevantes pro- sentar maior rigor metodológico, complexidade
venientes de órgãos ou agências de ATS e o in- na análise e quantidade de informação. Os rela-
teresse por parte dos governos, profissionais de tórios Mini-ATS devem apresentar rigor metodo-
saúde e pacientes 27. Os critérios de priorização lógico, contudo têm um escopo mais restrito e
referidos pelas agências selecionadas estão apre- menor abrangência na informação apresentada
sentados no Tabela 2. As agências NICE, AHRQ, do que os relatórios completos de ATS. As Ava-
CADTH e SBU apresentaram o maior número de liações Rápidas, por outro lado, têm menor rigor
critérios explicitados. Não foram identificados os e escopo reduzido, e respondem a necessidades
critérios usados no CENETEC e IETS. urgentes e específicas dos gestores, em um curto
As organizações de ATS com articulação di- espaço de tempo 31.
reta com órgãos governamentais, na maioria das Os produtos finais das organizações de ATS
vezes realizam as avaliações que são solicitadas e as recomendações elaboradas nos estudos po-
pelas instâncias responsáveis pela decisão de in- dem ter um caráter consultivo ou mandatário.
corporação e remuneração, ou seja, elas têm me- Têm caráter consultivo quando as conside-
nor autonomia sobre a definição de prioridades rações sobre a efetividade e eficiência, pelo me-
da agenda de pesquisa 28. É o caso, por exemplo, nos, das tecnologias, e as recomendações sobre
do PBAC na Austrália, que avalia as demandas a sua incorporação no sistema de saúde serão
dos fabricantes de medicamentos. elementos a serem levados em consideração nas
A maioria das agências procura atuar com decisões finais. Nesse caso os seus produtos se
certo grau de independência em relação aos ges- caracterizam como relatórios, diretrizes de prá-
tores dos sistemas de saúde e se esforça em não tica clínica etc. Têm caráter mandatário quan-
se envolver diretamente nos conflitos de interes- do condições políticas e legais determinam o
se existentes, sem negá-los, por meio de proces- cumprimento das recomendações. Para que isso
sos e políticas transparentes 29. fosse possível, houve um compromisso político
geral e políticas que lhe correspondam a fim de
b) Formulação da questão de ATS/escopo que os gestores e prestadores de serviços de saú-
da avaliação de aceitem as recomendações e providenciem
os recursos necessários para implementá-las 30.
Os estudos desenvolvidos pelas agências de ATS
adotam, na prática, definições estreitas, orienta-
das em torno de eficácia, segurança e eficiência.
Enquanto algumas agências desenvolvem
estudos abrangentes que incluem todas as tec-
nologias de interesse para os sistemas de saú-
de, inclusive aqueles relativos à saúde pública,

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Tabela 2

Critérios de priorização para seleção de tecnologias a serem avaliadas.

Critérios PBAC * SBU CADTH NICE AHQR IQWiG ** HAS *** CENETEC # CONITEC ## IETS #

Impacto clínico     
Impacto econômico     
Carga da doença      
Impacto orçamentário    
Nível esperado de interesse   
Evidência disponível   
Oportunidade revisão 
Variações nas taxas de uso 
Implicações éticas, legais ou 
psicossociais
Tecnologia de natureza  
controversa
Alternativas disponíveis  
Dúvida sobre subutilização ou
superutilização
Probabilidade alta de que os  
resultados influenciem a tomada
de decisão
Benefício de realizar a avaliação 

AHRQ: Agency for Healthcare Research and Quality; CADTH: Canadian Agency for Drugs and Technologies in Health; CENETEC: Centro Nacional de
Excelencia Tecnológica en Salud; CONITEC: Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS; HAS: Haute Autorité de Santé; IETS: Instituto de
Evaluación Tecnológica en Salud; IQWiG: Institute for Quality and Efficiency in Health Care; NICE: National Institute for Clinical Excellence;
PBAC: Pharmaceutical Benefits Advisory Committee; SBU: Swedish Council on Technology Assessment in Health Care.
* O PBAC geralmente não define quais medicamentos serão avaliados. Ele revisa as submissões (apresentados pelos fabricantes) de novos medicamentos ou
de uso adicional de medicamentos já listadas no formulário nacional de medicamentos (PBS);
** Natureza e severidade da doença, magnitude do benefício terapêutico, perfil dos efeitos colaterais, conveniência de uso;
*** Impacto na organização do cuidado, ação planejada pelo requerente na sequência da avaliação;
# Não foram identificados os critérios usados no CENETEC e IETS;
## O processo de priorização é baseado nos seguintes critérios: relevância epidemiológica; relevância para a política e os serviços de saúde; conhecimento
avançado sobre o tema; viabilidade operacional; e demanda social/judicial como exigência de ações do Estado.

• Impacto dos produtos de saúde. Recomendações de agências de ATS


podem ser decisões regulatórias, um fato cada
a) Utilização dos produtos de ATS em vez mais reconhecido pelos órgãos do judiciário.
mudanças na política ou prática de saúde Os órgãos de ATS não são os responsáveis pelo
registro dos medicamentos, mas seus estudos
O impacto dos produtos sobre a incorporação podem influenciar a compra dos medicamentos
de tecnologias em saúde depende do arcabouço e decisões de prescrição de médicos e hospitais.
político e institucional das agências. As organi- Os estudos podem também influenciar as estra-
zações de ATS podem ter um papel regulatório tégias utilizadas pela indústria farmacêutica de
direto, previsto por lei, ou suas recomendações lançamento de medicamentos nos mercados far-
podem ser utilizadas pelo órgão regulatório para macêuticos nacionais 6.
definir as regras para a sua incorporação 23.
Mesmo quando as suas funções são apenas Perfil das organizações de ATS selecionadas
“consultivas”, produtoras de “recomendações”, as
agências de ATS são consideradas atores impor- A revisão narrativa da literatura permitiu cons-
tantes nas decisões econômicas sobre quais tra- truir o perfil das dez organizações de ATS selecio-
tamentos são financiados pelos serviços públicos nadas, sumarizando as dimensões importantes

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para a identificação de tipologias de agências e decisão é esperada e desejável. Entretanto, em


semelhanças ou diferenças que podem dialogar geral, os papéis e as responsabilidades da agência
com o cenário nacional (Tabela 3). de ATS e dos tomadores de decisão são distintos 8.
Os tipos de tecnologia avaliados nas organi- Os limites institucionais e as organizações
zações apresentam variações. Por exemplo, na responsáveis pelas tarefas de avaliação e aprecia-
Suécia, a decisão sobre a cobertura de medica- ção podem apresentar variações, como se obser-
mentos é responsabilidade de um órgão espe- va na Inglaterra e País de Gales, onde a avaliação
cífico (Tandvårds-och läkemedelsförmånsverket é feita nas instituições acadêmicas e/ou institu-
– TLV, Dental & Pharmaceutical Benefits Agen- tos de pesquisa como o Centre for Reviews and
cy, em inglês) que lida somente com cobertura Dissemination (CRD), da Universidade de York
e precificação de medicamentos. Na Inglaterra ou no Programa de Avaliação de Tecnologias do
e País de Gales, os estudos incluem tecnologias Sistema de Saúde do Reino Unido e a apreciação
muito diversas (medicamentos, dispositivos, no NICE.
procedimentos, programas de saúde pública, Na Alemanha, a tomada de decisão é con-
programas de rastreamento, vacinas e serviços) centrada em um único comitê federal que to-
e envolvem diferentes comitês, como mostra o ma decisões sobre todas as tecnologias em saú-
Tabela 3. Somente duas agências (SBU e PBAC) de dos setores ambulatoriais e hospitalares. A
limitam o tipo de tecnologia avaliada (somen- França possui comitês de apreciação distintos
te medicamentos), a maioria avalia vários tipos para medicamentos, procedimentos médicos
de tecnologias (medicamentos, procedimentos, e dispositivos, que estão integrados na mes-
dispositivos etc.). ma instituição responsável pela elaboração das
O tipo de organização incluiu desde organi- avaliações (HAS). Os comitês de apreciação que
zações exclusivamente públicas, diferentes mo- possuem poder de decisão são o NICE, TLV e o
delos de caráter público-privado a algumas de G-BA 28,29. Nas organizações latino-americanas
caráter exclusivamente privado. Independente- criadas mais recentemente, predominam a in-
mente do tipo de organização, um ponto comum serção nos Ministérios da Saúde, sem atribuições
a todas as agências é a explicitação do cuidado bem definidas.
com a questão da “isenção” em relação aos inte- A explicitação dos critérios considerados na
resses dos órgãos financiadores e clientes. Para tomada de decisão é vaga nos documentos ofi-
que os estudos realizados possam alcançar o im- ciais e sua aplicação em estudos específicos é de
pacto desejado, todas as agências são confronta- difícil identificação 33. Os medicamentos têm o
das com a necessidade de se apresentarem como maior número de critérios explícitos para a de-
organizações que realizam suas atividades de cisão. Vários países (Suécia, Reino Unido, Aus-
forma autônoma. A literatura sugere que a inser- trália, Brasil) definiram custo-efetividade como
ção de agências de ATS nacionais no âmbito dos um critério relevante para a tomada de decisão
Ministérios da Saúde não se mostra satisfatória, relacionada aos medicamentos. Os processos
em longo prazo. Recomenda-se que sejam cria- políticos relacionados à cobertura de medica-
das instâncias independentes, mesmo que finan- mentos são muito explícitos e formalizados em
ciadas por dinheiro público, tais como o SBU 32. alguns países, e a ATS está claramente integrada e
Apesar das diferenças encontradas nas agên- garantida por lei como um recurso para a tomada
cias pesquisadas, parece existir um modelo de decisão.
dominante para a decisão de cobertura/finan- As dez organizações selecionadas atuam no
ciamento de novas tecnologias nos sistemas de nível nacional e adotaram o modelo “Agência
saúde. Nesse modelo (Figura 2), o processo é ini- Nacional”. De acordo com a literatura, esse mo-
ciado com um pedido ou solicitação de cobertura delo não seria o único possível e haveria como
por um ator (pagador, prestador, fabricante ou alternativa o “Modelo de Rede”, em que uma re-
paciente, dependendo do país). Na sequência, de descentralizada de grupos de pesquisa seria
uma organização de ATS realiza uma avaliação coordenada por um órgão gestor nacional.
(assessment, processo técnico/científico de cole- Independentemente do modelo adotado, o
ta e síntese de informação de aspectos relevantes grau em que uma organização de ATS é capaz
da tecnologia, realizada por pesquisadores), que de influenciar mudanças concretas nos sistemas
será utilizada na apreciação (appraisal, proces- e serviços de saúde depende das características
so político de tomada de decisão realizada pelos políticas e regulatórias do contexto no qual ela
formuladores de política, que levam em consi- atua. Em outras palavras, se as agências regulató-
deração além das informações disponibilizadas rias ou profissionais não usarem os produtos das
na avaliação, além de outros fatores e valores) 28. agências e não aceitarem e implementarem as
Nos processos de realização de estudos de ATS, conclusões dos relatórios de ATS, o impacto geral
a interação entre os avaliadores e tomadores de da ATS provavelmente será bastante limitado 34.

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Tabela 3

Perfil das organizações de avaliação de tecnologias em saúde (ATS) selecionadas.

País Tecnologia Data de Organização Tipo de organização Financiamento Organização Papel Organização
avaliada início responsável responsável responsável
pela pela pela decisão de
avaliação apreciação cobertura
(assessment) (appraisal)

Austrália Medicamentos 1953 PBAC Autoridade estatutária Governo PBAC Consultivo Ministério da
independente Saúde
Suécia Medicamentos 1987 SBU Governamental Governo TLV Regulatório TLV
Canadá Medicamentos; 1989 CADTH Quasigovernamental * Governo CADTH Consultivo Ministério da
dispositivos; Saúde
procedimentos
Inglaterra Medicamentos; 1999 NHS CRD Autoridade Governo NICE ** Regulatório NICE
e País de dispositivos; especial de saúde
Gales procedimentos; independente
programas de
saúde pública
Estados Medicamentos; 2003 AHRQ Governamental Governo CMS Consultivo CMS
Unidos dispositivos;
serviços
Alemanha Medicamentos; 2004 IQWiG Privada Governo + setor G-BA Regulatório G-BA
dispositivos; privado
procedimentos
França Procedimentos 2005 HAS Órgão público Governo + setor HAS *** Consultivo Ministério da
médicos e independente privado Saúde
cirúrgicos;
medicamentos;
dispositivos; testes
biológicos
México Equipamentos/ 2004 CENETEC Governamental CENETEC Consultivo Ministério da
Dispositivos; Saúde
medicamentos/
procedimentos
Brasil Medicamentos; 2011 CONITEC Governamental Governo CONITEC Consultivo Ministério da
produtos Saúde
para a saúde;
procedimentos
Colômbia Medicamentos; 2012 IETS Público-privada Governo + setor IETS Consultivo Ministério da
dispositivos; privado Saúde; decisores
procedimentos; do setor privado
testes diagnósticos

AHRQ: Agency for Healthcare Research and Quality; CADTH: Canadian Agency for Drugs and Technologies in Health; CENETEC: Centro Nacional de
Excelencia Tecnológica en Salud; CMS: Centers for Medicare e Medicaid Services; CONITEC: Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS;
G-BA: Gemeinsamer Bundesausschuss (Federal Joint Committee); HAS: Haute Autorité de Santé; IETS: Instituto de Evaluación Tecnológica en Salud;
IQWiG: Institute for Quality and Efficiency in Health Care; NICE: National Institute for Clinical Excellence; NHS CRD: National Health Service Centre for
Reviews and Dissemination; PBAC: Pharmaceutical Benefits Advisory Committee; SBU: Swedish Council on Technology Assessment in Health Care; TLV:
Tandvårds-och läkemedelsförmånsverket (Dental & Pharmaceutical Benefits Agency).
* Financiada pelo governo, mas não está dentro do governo. Possui autonomia;
** Os programas de rastreamento são apreciados no National Screening Committee (NSC), as vacinas são avaliadas no National Coordinating Centre for
Health Technology Assessment (NCCHTA) e apreciadas no Joint Committee on Vaccination and Immunisation (JCVINHS CRD) e os serviços são apreciados no
National Specialist Commissioning Advisory Group (NCCAG);
*** É feita em alguns comitês (comitê para avaliação dos procedimentos médicos e cirúrgicos, comitê da transparência, comitê para avaliação de dispositivos
e tecnologias em saúde) incluídos na HAS.

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ORGANIZAÇÕES DE ATS: ARCABOUÇO INSTITUCIONAL E POLÍTICO S11

Figura 2

Modelo geral de decisões de cobertura.

Fonte: adaptado de Garrido et al. 28.

Considerações finais mentação das suas recomendações nas políticas


de saúde nacionais.
A revisão da literatura e a consulta aos web sites A revisão da literatura sobre as dimensões re-
de organizações que desenvolvem atividades de levantes para avaliação de efetividade/impacto
ATS demonstrou sua progressiva institucionali- das agências e o perfil das organizações selecio-
zação em países desenvolvidos e em desenvolvi- nadas contribuiu para a melhor compreensão
mento. Difundiram-se propostas metodológicas dos desafios a serem enfrentados no contexto
que orientam os estudos a serem realizados e nacional.
que são adotadas com maior ou menor rigor pela A criação da CONITEC em 2011 representou
maioria das agências. A padronização dos mé- um avanço no processo de institucionalização da
todos segue propostas de sistematização disse- ATS no cenário nacional. Porém, pode ser consi-
minadas pela INAHTA, EUnetHTA, International derada como estando em fase de implantação,
Society for Pharmacoeconomics and Outcomes não tendo alcançado ainda desenvolvimento
Research (ISPOR), entre outras. Cada agência, metodológico e legitimidade científica ampla e
todavia, apresenta particularidades no seu perfil, potencial de atuação política abrangente.
nos seus processos de avaliação, decisão e im- Ao analisar as organizações em ATS que ado-
plementação das tecnologias, determinados pela taram o modelo “Agência Nacional”, esse parece
conformação dos seus arcabouços institucionais que poderia ser um desenvolvimento positivo
e políticos aos respectivos sistemas de saúde. para o contexto nacional. Ter uma Agência em
Apesar das diferenças relacionadas às dimen- ATS inserida em nível federal, independente, mas
sões e perfil das organizações, as agências de ATS articulada às instâncias governamentais respon-
compartilham os desafios relacionados à priori- sáveis pelos processos decisórios de financia-
zação das tecnologias a serem avaliadas e imple- mento de novas tecnologias no SUS e estimular o

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S12 Novaes HMD, Soárez PC

desenvolvimento de organizações de ATS regio- pletos e consistentes. No âmbito da CITEC, de


nais e em nível hospitalar, para promover uma 2008 a 2010, entre os 103 estudos produzidos
rede nacional colaborativa de ATS, representaria para auxiliar as decisões, houve predominân-
um avanço na institucionalização da ATS como cia de Nota Técnica de Revisão Rápida (36/103)
parte da política de saúde e de desenvolvimento e Parecer Técnico Científico (26/103). Somente
científico e tecnológico. 11,6% (12/103) desses estudos foram análises
Uma agência com garantia de recursos finan- econômicas 37. Na CONITEC, no período de 2012
ceiros provenientes sobretudo dos cofres públi- a 2015, os relatórios de recomendação também
cos, permitiria o estabelecimento de um quadro se basearam em estudos mais simples, do tipo
técnico estável, com sólida formação metodo- descrição de tecnologia e análises preliminares
lógica e menos sensível às mudanças políticas e de impacto orçamentário. Entre as tecnologias
investidas de partes interessadas nos processos recomendadas para incorporação, apenas 11,1%
de incorporação tecnológica. Recursos humanos apresentaram uma avaliação econômica com-
capacitados são fundamentais para estabelecer pleta com o cálculo da razão de custo-efetividade
legitimidade científica e aceitação dos resultados incremental.
dos estudos e das recomendações apresentadas A reputação e a credibilidade de uma agên-
nos pareceres ou relatórios técnicos. cia, envolvimento dos stakeholders e qualidade
A independência da agência é essencial para dos produtos (relatórios, pareceres, estudos)
garantir a transparência no processo de seleção apresentados, são apontadas na literatura como
e priorização das tecnologias a serem avaliadas. os aspectos mais importantes para obtenção de
No caso da CONITEC, ligada diretamente a uma maior impacto da agência de ATS 24.
instância governamental (SCTIE), a maioria das Com relação à possibilidade de um papel
avaliações de tecnologias são demandadas pe- regulatório da agência, o arranjo institucional
lo setor público. Estudo internacional recente, poderia ser a separação clara dos limites insti-
financiado pela indústria farmacêutica, questio- tucionais e das organizações responsáveis pelas
nou a clareza dos seus critérios de priorização e duas tarefas (avaliação e apreciação), garantindo
apontou a dificuldade de solicitação de novas ava- uma articulação privilegiada com a instância de-
liações, bem como pequena participação dos pa- cisória para aumentar a influência das suas reco-
cientes nas deliberações para recomendação 35. mendações e estabelecer seu potencial efetivo de
A necessidade da participação mais demo- atuação política.
crática de pacientes e representantes da socie- O processo de institucionalização da ATS no
dade na seleção das tecnologias e definições dos contexto nacional apresenta um desenvolvimen-
critérios de prioridades tem sido amplamente de- to continuado e similar ao ocorrido em outros
batida e estimulada no cenário internacional 36. países. A sua ampliação e fortalecimento técnico
O quadro técnico permanente também po- e político poderá contribuir de forma significati-
deria possibilitar uma melhor adequação às va com as políticas científicas, tecnológicas e de
boas práticas na condução de estudos de ATS, inovação, impactando de forma efetiva as políti-
permitindo a realização de estudos mais com- cas de saúde.

Colaboradores Agradecimentos

H. M. D. Novaes e P. C. Soárez participaram da concep- Ao Instituto de Avaliação de Tecnologias em Saúde


ção e projeto, análise e interpretação dos dados, reda- (IATS).
ção do artigo e revisão crítica do conteúdo intelectual,
aprovação final da versão a ser publicada e, são respon-
sáveis por todos os aspectos do trabalho na garantia da
exatidão e integridade de qualquer parte da obra.

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 32 Sup 2:e00022315, 2016


ORGANIZAÇÕES DE ATS: ARCABOUÇO INSTITUCIONAL E POLÍTICO S13

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Abstract Resumen

Health technology assessment (HTA) is consolidated La evaluación de tecnologías en salud (ETS) está con-
as a scientific and technological practice. The aim of solidada en cuanto práctica científica y tecnológica. El
this study is to identify HTA organizations from dif- objetivo del estudio es identificar organizaciones de
ferent settings and analyze their relevant dimensions ETS de diferentes contextos y analizarlas, de acuerdo
in terms of effectiveness/impact, in order to address a dimensiones relevantes en la evaluación de su efec-
the challenges they face in Brazil. Narrative literature tividad/impacto, procurando contribuir a los desafíos
review based on data and websites of HTA organiza- existentes en el contexto nacional. Revisión narrativa
tions. There are well-established activity development de la literatura, realizada en bases de datos y páginas
processes in all organizations. These activities have web de organizaciones de ETS. Existen procesos de de-
specific features in their profile, in the process of tech- sarrollo de las actividades bien establecidos en todas
nology assessment, decision and implementation of las organizaciones. Éstas presentan particularidades
technologies that influence their potential impact on en su perfil, en los procesos de evaluación, decisión
health systems. Agencies share in common the chal- e implementación de las tecnologías que tienen in-
lenges of ranking the technologies to be assessed, and fluencia por su impacto potencial sobre los sistemas
the implementation of their recommendations. Tech- de salud. Las agencias comparten los desafíos de prio-
nical and political strengthening of the institutional- rización de las tecnologías para que sean evaluadas e
ization of HTA in Brazil may foster scientific, techno- implementación de sus recomendaciones. El fortale-
logical and innovation policies, effectively impacting cimiento técnico y político del proceso de institucio-
health policies. nalización de la ETS en el contexto nacional podrá
contribuir con políticas científicas, tecnológicas y de
Health Technology Assessment; Decision Making; innovación, teniendo impacto de forma efectiva sobre
Public Health Policy; Sustainable Development; las políticas de salud
Innovation
Evaluación de las Tecnologías de Salud; Toma de
Decisiones; Políticas Públicas de Salud; Desarrollo
Sostenible; Innovación

Recebido em 24/Fev/2015
Versão final reapresentada em 27/Jul/2015
Aprovado em 20/Out/2015

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 32 Sup 2:e00022315, 2016

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