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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO AMAZONAS


Gabinete do Desembargador Yedo Simões de Oliveira

PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL


Agravo Regimental n.º 0000463-27.2018.8.04.0000
Agravante : Defensoria Pública do Estado do Amazonas
Defensor : Carlos Alberto Souza de Almeida Filho (4079/AM)
Agravado : Estado do Amazonas
Procurador : Jucelino Araújo Lima (8039/AM)
Agravado : Município de Manaus
Relator: Des. Yedo Simões de Oliveira

EMENTA:

AGRAVO INTERNO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO


CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. DIREITO À
MORADIA. AUXÍLIO-ALUGUEL. REQUISITOS PARA
CONCESSÃO. NÃO PREENCHIMENTO. DECISÃO MANTIDA.
RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO.
1. A concessão da tutela provisória de urgência pressupõe a existência
cumulativa dos requisitos previstos no art. 300 do Código de Processo Civil,
quais sejam, a probabilidade do direito e o perigo de dano ou risco ao
resultado útil do processo;
2. A Lei Municipal n.º 1.666/2011 prevê expressamente as hipóteses de
concessão do auxílio-aluguel, restringido-se a famílias que, decorrência de
enchentes, desmoronamento, área sob risco iminente ou obra pública
emergencial, se encontrem desalojadas, desabrigadas ou em situação de
vulnerabilidade temporária, voltando-se à proteção de famílias atingidas por
evento fortuito e consubstanciando-se em ferramenta pública específica para
a circunstância fática escolhida pelo legislador;
3. Não existe previsão legal de concessão do auxílio-aluguel, nos moldes da
Lei Municipal n.º 1.666/2011, para as famílias alvo de desocupação de área
ambiental;
4. Recurso conhecido e não provido;
5. Decisão mantida.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo Regimental nº


0000463-27.2018.8.04.0000, de Manaus (AM), em que são partes as acima indicadas,
ACORDAM os Excelentíssimos Senhores Desembargadores que compõem a Primeira
Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas, por
_________________ de votos, em conhecer do recurso e negar-lhe provimento, nos termos do
voto do relator.

Sala das Sessões, em Manaus, de de 2018.

Desembargador YEDO SIMÕES DE OLIVEIRA


Relator

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RELATÓRIO

Trata-se de AGRAVO INTERNO em AGRAVO DE INSTRUMENTO


interposto pela Defensoria Pública do Estado do Amazonas em face de decisão exarada nos
autos do Agravo de Instrumento n.º 4002141-77.2016.8.04.0000, que indeferiu a
antecipação dos efeitos da tutela recursal à recorrente.
A agravante alega, em síntese, que a vulnerabilidade habitacional não se limita às
hipóteses previstas na lei municipal que fundamenta o pedido de auxílio-aluguel.
Invoca as disposições da Constituição da República e da Constituição do Estado
do Amazonas acerca do direito à moradia, sublinhando que a atuação do Poder Judiciário na
hipótese não consubstancia violação à separação de Poderes.
Argumenta que compete ao Estado a promoção da dignidade da pessoa humana,
pelo que se reputa adequada a incursão do Poder Judiciário no campo das políticas públicas e
se determine o pagamento do auxílio-aluguel às famílias tuteladas pela Defensoria Pública.
Invoca a vedação à proteção deficiente e a aplicação do princípio da
proporcionalidade para evitar o que entende por coisificação de pessoas em estado de penúria,
sublinhando as condições precárias nas quais se encontrariam as famílias desalojadas e a falta
de garantia do mínimo existencial e da dignidade da pessoa humana.
Requer, ao fim, o conhecimento e provimento do recurso, com o deferimento da
antecipação dos efeitos da tutela recursal no agravo de instrumento primevo.
Contrarrazões do Estado do Amazonas às fls. 21/34, alertando para a ausência de
preenchimento dos requisitos autorizadores da antecipação dos efeitos da tutela recursal, uma
vez que a colheita de depoimentos de pessoas na situação de vulnerabilidade a que faz menção
a parte agravante demonstrou que há, dentre os prejudicados, capacidade financeira para arcar
com o pagamento de moradia.
Recorda que não houve comprovação da negativa por parte do Estado do
Amazonas em providenciar moradia digna às famílias desalojadas.
Aponta que as famílias prejudicadas pela desapropriação não apresentavam
qualquer cadastro junto à SUHAB ou à SEMASDH dentro de programa de moradia do

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governo estadual, federal ou municipal.


Defende a limitação do ativismo judicial à defesa de minorias estigmatizadas.
Observa que a ocupação de área de preservação ambiental enseja o conflito entre o
direito à moradia, de natureza individual, e o direito ao meio ambiente, de viés coletivo,
donde se depreende que este último deverá prevalecer.
Aduz que o acolhimento do pleito da agravante estimularia invasões e construções
ilegais.
Requer, ao fim, a negativa de provimento ao recurso.
Contrarrazões do Município de Manaus às fls. 38/45, onde argumenta que não se
afiguram presentes os requisitos para a antecipação dos efeitos da tutela recursal, narrando que
as famílias não participam de nenhum cadastro junto aos entes públicos para fins de moradia,
e entendendo que a ocupação ocorreu a despeito da capacidade econômica dos invasores em
custear o próprio aluguel.
Rechaça a arguição de inconstitucionalidade da lei municipal, vislumbrando
inovação recursal.
Alerta que as famílias que tentaram e não conseguiram o cadastro receberam a
negativa em virtude de rendimento mensal acima do permitido para o ganho de um imóvel.
Requer, ao fim, a negativa de provimento ao recurso.
É o relatório.

VOTO

Presentes os requisitos de admissibilidade, passo à análise do mérito recursal.


Da análise dos autos e de tudo que deles consta, entendo que a decisão recorrida
merece reforma.
Ab initio, considerando que a alegação de inconstitucionalidade da Lei Municipal
n.º 1.666/2011 se restringe ao pedido do recurso, não há fundamentação destinada
especificamente a esse fim no bojo do agravo e sua arguição deveria ter ocorrido já no âmbito
do agravo de instrumento principal, indefiro o pleito de imediato, ante a inovação recursal in
casu que, mesmo se superada, não sobrevive à inépcia das razões recursais quanto à sua

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demonstração.
Pois bem.
Frise-se que o presente agravo se destina à análise acerca da tutela de urgência
requestada no recurso principal; não se destina, portanto, ao esgotamento da matéria sob
análise, sendo leitura em cognição precária das provas e fundamentos carreados nos autos.
Assim dispõe o Código de Processo Civil sobre os requisitos para a concessão da
tutela provisória de urgência:

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado
útil do processo.

Sobre a probabilidade do direito, importante esclarecer que trata-se de conjugação


de fundamentos jurídicos que autorizem o acolhimento da pretensão, ainda que em caráter
precário, com substância probatória suficiente a indicar que a versão dos fatos trazida na
petição inicial corresponde à realidade dos fatos, assim sendo o magistério de Fredie Didier
Jr.1 a respeito:

Inicialmente, é necessária a verossimilhança fática, com a constatação de que há um


considerável grau de plausibilidade em torno da narrativa dos fatos trazida
pelo autor. É preciso que se visualize, nessa narrativa, uma verdade provável sobre
os fatos, independentemente da produção de prova.
Junto a isso, deve haver uma plausibilidade jurídica, com a verificação de que é
provável a subsunção dos fatos à norma invocada, conduzindo aos efeitos
pretendidos.

O perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo, por sua vez, diz respeito
ao potencial lesivo que o transcurso do tempo pode acarretar ao bem da vida pretendido caso
se aguarde o final do processo, cediço que o trâmite regular de uma ação na Justiça pode durar
tempo suficiente para causar o perecimento do objeto do pedido.
O magistério de Humberto Theodoro Júnior2 a respeito é didático:

O perigo de dano refere-se, portanto, ao interesse processual em obter uma justa


composição do litígio, seja em favor de uma ou de outra parte, o que não poderá ser
1
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: teoria da prova, direito probatório, ações
probatórias, decisão, precedente, coisa julgada e antecipação dos efeitos da tutela, p. 596 / Fredie Didier Jr.,
Paula Sarno Braga e Rafael Alexandria de Oliveira - 10. ed. - Salvador: Editora Juspodivm, 2015.
2 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil - Teoria geral do direito processual

civil, processo de conhecimento e procedimento comum (e-book), item 447, segundo parágrafo - vol. I. 56.
ed. rev. atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense, 2015.

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alcançado caso se concretize o dano temido. Ele nasce de dados concretos,


seguros, objeto de prova suficiente para autorizar o juízo de grande
probabilidade em torno do risco de prejuízo grave. Pretende-se combater os
riscos de injustiça ou de dano derivados da espera pela finalização do curso normal
do processo. Há que se demonstrar, portanto, o “perigo na demora da prestação da
tutela jurisdicional” (NCPC, art. 300).

Estabelecidas as premissas acima, passa-se ao mérito da controvérsia.


Assim dispõe a Lei Municipal n.º 1.666/2012 acerca das hipóteses de concessão
do auxílio-aluguel:

Art. 1º. Fica instituído o “Auxílio Aluguel”, benefício de caráter eventual a ser
concedido a famílias vítimas de enchentes, desmoronamentos, remoção de
situação de risco ou por força de obras públicas, que estejam desabrigadas,
desalojadas ou em situação de vulnerabilidade temporária.

A leitura desse dispositivo deve ser feita de forma sistemática, junto ao artigo
onde se fixam os requisitos cumulativos para a concessão do beneplácito. Vejamos:

Art. 5º. Constituem requisitos cumulativos para a concessão do "Auxilio Aluguel"


que:
I - o imóvel de residência da família tenha sido total ou parcialmente destruído,
apresente problemas estruturais graves, ou esteja situado em área sob risco
iminente de alagamento, desabamento ou desmoronamento, ensejando a sua
interdição, desocupação ou demolição, comprovado por laudo da Defesa Civil
Municipal de Manaus ou do Estado do Amazonas;
II - a família beneficiária resida no Município e se encontre em situação de
vulnerabilidade temporária, conforme laudo social da Secretaria Municipal de
Assistência Social e Direitos Humanos- SEMASDH.

A exegese da norma leva à seguinte conclusão: i) as famílias beneficiadas serão


aquelas vítimas de enchentes, desmoronamentos, que se encontrem em situação de risco ou se
encontrem removidas de sua morada por força de obras públicas; ii) as famílias atingidas por
esses eventos também deverão, em virtude desses acontecimentos, estar desalojadas,
desabrigadas ou em situação de vulnerabilidade temporária; iii) o imóvel de residência da
família afetada deve ter sido comprometido, no todo ou em parte, pelo evento descrito no art.
1º da lei em comento, ou encontre-se na iminência de sê-lo, com a comprovação desse estado
por intermédio de laudo confeccionado pela Defesa Civil do Município de Manaus ou do
Estado do Amazonas.
Não basta que a pessoa se encontre em estado de vulnerabilidade temporária. É
necessário que essa vulnerabilidade temporária decorra de uma das quatro hipóteses previstas
no art. 1º da lei municipal.
A legislação é clara ao focar seus esforços na tutela de famílias atingidas pelo

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fortuito, onde estabelece claramente requisitos que se correlacionam com a ocorrência de


cenário de calamidade, natural ou concebido pelo homem (a situação em área sob risco de
desabamento pode ocorrer, por exemplo, em virtude da ação humana indevida sobre terreno
ou construção), que ensejou a retirada dos ocupantes do bem, seja em caráter definitivo (o
desaparecimento da moradia em virtude do evento) ou preventivo (a retirada em caso de risco
de desabamento).
Não há abertura, dentro das hipóteses da lei, de concessão a famílias que foram
alvo de reintegração de posse para desocupação de área ambiental. Isso porque não há cenário
de calamidade na hipótese (inexiste enchente, desmoronamento, área sob risco iminente ou
obra pública emergencial) que autorize a concessão, e a necessidade de aposição de laudo
técnico comprovando a destruição ou perigo em que se encontre o imóvel reforça o teor
fortuito do evento abrangido pela norma.
A desocupação, apesar de inegavelmente indicar a insuficiência de moradia
disponível a todos os setores da sociedade, mormente os mais carentes de recursos, é motivo
que não se encontra dentro das hipóteses da lei municipal e não foi acolhida pelo legislador
local para a tutela do Estado, ao menos dentro da medida in casu.
É certo que é dever do Estado promover políticas habitacionais que consigam
contemplar a parcela mais vulnerável da sociedade, e que o direito à moradia digna não se
confunde com a simples capacidade econômica de custear aluguel nem todo imóvel alugado
oferece condições adequadas de vida. No entanto, esse dever não irradia sobre toda e qualquer
medida de mitigação nos danos a esse direito, sob pena de qualquer política relacionada a
moradia se submeter a exagerado elastecimento para abarcar todos aqueles que se encontrem
vulnerados de alguma forma.
A adoção de política habitacional ou medida de mitigação deve, portanto, se
efetivar com a utilização de ferramentas adequadas à sua consecução: no caso em tela, o
legislador entendeu que a ação pertinente à hipótese seria o auxílio, com o dispêndio de
verbas públicas, no pagamento do aluguel em caráter provisório. Isso não significa que essa
seria a melhor política também àqueles que não possuem moradia, mas tão somente que a
ação se reputou adequada à finalidade específica para a qual foi destinada pelo poder
legiferante. Para as famílias nas condições de que trata o presente feito existem políticas
específicas e mais efetivas de moradia tocadas pelo Poder Público, e o resguardo desse direito
constitucional deve ocorrer à luz desses projetos.

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Por esse motivo, estender o benefício aos tutelados pela instituição agravante se
afigura indevido, além de configurar clara ação legislativa em ato judicial (a imposição ao
Poder Executivo para que destine verba de seu orçamento ao pagamento de aluguel a
categoria originalmente não contemplada em lei inova em caráter geral e abstrato, gerando
novas obrigações e indicando que o poder judicante extrapolou em sua competência).
Imperioso alertar que a leitura da legislação é essencial ao deslinde da
controvérsia, sendo o princípio da legalidade bússola inescusável da atuação administrativa,
porquanto ao administrador caiba agir tão somente quando a lei o permite. Nesta senda, se a
norma visa efetivar direito previsto constitucionalmente e os valores por ela defendidos se
vislumbram de forma clara, há plena compatibilidade entre as missões preestabelecidas pelo
constituinte e a posterior lei local, impondo-se a leitura responsável do dispositivo.
Frise-se que, como afirmado na decisão recorrida, não se trata de omissão
específica do Poder Público (aqui, seria a recusa de pagamento do benefício a um dos
contemplados no art. 1º da norma municipal), mas de suposta omissão legislativa, o que
somente pode ser corrigido por meio de ação política, e não judicial.
Ausente a probabilidade de provimento do recurso diante da falta de fumaça do
bom direito, o indeferimento do pleito é medida que se impõe.
Ante o exposto, conheço do recurso e lhe nego provimento, mantendo na íntegra a
decisão agravada.
Condeno a agravante ao pagamento de multa na razão de 1% (um por cento) sobre
o valor atualizado da causa em caso de desprovimento unânime do recurso, inexistindo
motivos para sua majoração, cujo pagamento deverá ser realizado ao final do processo, nos
termos do art. 1.021, §§4º e 5º do Código de Processo Civil.
É como voto.

Desembargador YEDO SIMÕES DE OLIVEIRA


Relator

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