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RESUMO
1 Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Instituto de Ciências Agrárias, Av. Universitária, 1000,
bairro Universitário, 39404-006, Montes Claros, MG, Brasil. Email: maxonze@yahoo.com.br
* Autor para correspondência.
Recebido / Received: 22/08/2016
Aprovado / Approved: 10/11/2016
Rev. Inst. Laticínios Cândido Tostes, Juiz de Fora, v. 71, n. 1, p. 43-52, jan/mar, 2016
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ABSTRACT
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Características físico-químicas e microbiológicas do queijo artesanal produzido na... 45
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resultados posivtivos de S. aureus em produ valores para esse atributo nos documentos
tos lácteos provenientes de leite não pasteu de caracterização do Queijo Minas Artesanal
rizado (LANCETTE; BENNETT, 2001). do Serro e de Araxá (APROCAN, 2006;
Ornelas (2005) concluiu que a quali APAQS, 2006). O que se pode ver nos docu
dade microbiológica dos queijos produzidos mentos supracitados é um limite inferior
na Serra da Canastra estava insatisfatória, e superior de acidez recomendada dos
send o 85% em desacordo com os padrões queijos. Entretanto, a acidez em queijo é
legais vigentes. Enterotoxinas estafiloc ó influenciada por diferentes fatores, além
cicas, coliformes a 35 ºC e 45 ºC foram de da presença de H+, tornado-a assim um in
tectadas em elevado número de amostras, dicador ineficaz para a caracterização. Ainda
L. monocytogenes foi isolada de uma amos que cada região esteja livre para produzir
tra e Salmonella sp. não foi observada. queijos com diferentes valores de pH, é im
portante ressaltar que este atributo em um
Parâmetros físico-químicos do queijo ar alimento influencia no crescimento e contro-
tesanal da Microrregião de Montes Claros le de microrganismos patogênicos. Sabe-se
que em alimentos com pH abaixo de 4,6 pra
Na Tabela 3 são apresentadas as médias ticamente não há crescimento de potenciais
dos valores encontrados nas análises das patógenos (HOFFMANN, 2001; BAPTISTA;
amostras dos produtores de queijo Minas VENÂNCIO, 2003). Uma vez que os queijos
artesanal da microrregião de Montes Claros apresentam valores de pH superiores a este
e na Tabela 4 são mostradas as médias dos limite, tem-se a necessidade de maior rigor
parâmetros físico-químicos dos queijos de em todas as etapas de produção deste alimen
outras regiões produtoras em Minas Gerais. to. A Tabela 4 apresenta as características
O pH médio encontrado para os queijos físico-químicas de queijos de outras microrre
artesanais da microrregião de Montes Claros giões produtoras.
foi de 5,36. Em relação ao pH, não existem
Tabela 3 – Estimativa da média, desvio padrão e variância dos parâmetros físico-químicos dos
queijos artesanais da microrregião de Montes Claros
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Tabela 4 – Média dos resultados físico-químicos dos queijos artesanais de outras regiões de
Minas Gerais
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2001; PINTO et al., 2004; ARAÚJO, 2008). maturação é o resultado da ação proteolítica
A função do sal no queijo é conferir-lhe o das enzimas do coalho sobre a caseína do
gosto característico, ao mesmo tempo em queijo (SILVA, 2007). O valor médio encon
que realça ou mascara o sabor de outras trado para este parâmetro foi de 9,88%. Valor
substâncias. O sal ajuda na dessoragem do abaixo dos encontrados nas outras regiões,
queijo, favorecendo a liberação de água livre mas está próximo aos resultados obtidos na
da massa e exerce ainda importante papel na região de Araxá. A variação na extensão de
seleção da microbiota do queijo (FURTADO, maturação pode ser explicada pelo uso indis
1990). criminado de coalho, que pode estar sendo
O resultado encontrado para cinzas foi utilizado em quantidade maior ou menor que
em torno de 4,05%. Valores próximos aos o indicado pelo fabricante (PINTO, 2004).
encontrados por Machado et al.(2004) na A profundidade de maturação deter
região do Serro e por Vargas et al. (1998) na minada para o queijo Minas artesanal da
região da Canastra (Tabela 4). Furtado (1990) microrregião de Montes Claros foi de 3,85%,
afirma que o papel das cinzas é de grande valor muito abaixo dos encontrados nas re
importância no que se refere à textura final giões de Araxá, Serro e Canastra. Esse baixo
dos queijos. A massa de queijo é como se valor comparado com os das outras regiões,
fosse um conjunto, em que o cálcio forma a pode ser explicado devido à ausência do
estrutura, atuando como elemento de ligação. “pingo” na tecnologia de fabricação do quei-
O teor de gordura encontrada nos quei jo artesanal da microrregião de Montes Claros,
jos artesanais da microrregião de Montes sendo o leite fermentado apenas micro
Claros foi de 26,34%, teor mais baixo do que biota endógena do leite. A profundidade de
os encontrados nas outras regiões produtoras maturação é o resultado da ação proteolítica
de queijos artesanais. A região da Canastra do fermento lático sobre peptídeos libera
apre senta um teor de gordura de 27,58%, dos, principalmente pelo coalho, produzindo
sendo o resultado mais próximo encontrado aminoácidos e compostos de baixo peso mo
para o queijo da microrregião de Montes lecular. Logo está relacionada com a ativi-
Claros. dade proteolítica do fermento lático na ma-
Segundo o regulamento técnico de turação (SILVA, 2007).
identidade e qualidade de queijos (BRASIL,
1996), os queijos artesanais da microrre CONCLUSÕES
gião de Montes Claros analisados, podem ser
enquadrados como queijos semi-gordos, por A grande variação nos parâmetros físi
estarem dentro da faixa de 25 a 49% de gordu co-químicos demonstra falta de padronização
ra. Assim como estão classificados os queijos no processo de produção desse queijo, o que
do Serro, Canastra e Araxá. dificulta estabelecer um padrão para o queijo
Para as análises de proteínas foi encon artesanal da região.
trado um resultado médio de 21,09%, valor Na experimentação foi possível per
abaixo dos encontrados nos queijos das re ceber que microbiologicamente o queijo da
giões do Serro, Canastra e Araxá (Tabela 4). região de Montes Claros não oferece segu
A região do Serro é a que apresenta o resul rança alimentar aos seus consumidores. 100%
tado mais próximo do encontrado para a das amostras analisadas apresentaram con
microrregião de Montes Claros, apresentando tagens para S. aureus superior ao permiti
22,4% de proteína. do pela legislação, além de duas amostras
O índice de proteólise ou extensão da evidenciarem a presença de Salmonella sp.
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