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As Relações Econômicas entre Brasil e China:

Uma Parceria Difícil

ALEXANDRE DE FREITAS BARBOSA / RICARDO CAMARGO MENDES


As Relações Econômicas entre Brasil e China FES Briefing Paper Janeiro 2006 Página 

– a China figura não apenas como ameaça para o


O objetivo deste texto é apresentar as principais Brasil, podendo se gestar relações econômicas e
características das relações econômicas e políticas políticas de maior envergadura entre os dois pa-
desenvolvidas entre Brasil e China desde a segun- íses, em virtude tanto da base industrial da eco-
da metade dos anos noventa. nomia brasileira, como da projeção internacional
que o país tem adquirido nas negociações comer-
Em primeiro lugar, procura-se apontar os con-
ciais.
trastes existentes entre os modelos de desenvol-
vimento e de inserção externa de Brasil e China,
1 Brasil e China: Trajetórias Macro-
para num segundo momento destrinchar a forma
econômicas Distintas nos Anos 90
específica de entrelaçamento entre as economias
destes países. Durante os anos noventa, as trajetórias macroe-
conômicas de Brasil e China apresentaram com-
A relação econômica Brasil-China pode ser dividi-
portamentos bastante divergentes. Se, por um
da em duas fases. Entre 1999 e 2003, estrutura-
lado, ambas as economias aumentaram o seu
se um padrão de comércio que gera expressivos
grau de vinculação à economia internacional,
superávits comerciais para o Brasil, por conta do
pode-se dizer que as políticas de inserção na glo-
ganho de mercado obtido pelas commodities
balização foram acionadas a partir de um conjun-
brasileiras no mercado chinês, mas também pelo
to de premissas e políticas diversas e, às vezes,
efeito preço.
até opostas.
Já no ano de 2004, observa-se uma mudança
O quadro 1 procura sintetizar o desempenho das
deste padrão de comércio, a partir da expressi-
principais variáveis macroeconômicas, de modo a
va redução dos saldos comerciais, e do ganho de
qualificar os caminhos escolhidos e os resultados
mercado dos produtos chineses no mercado bra-
alcançados por estes dois países no período re-
sileiro, especialmente nos setores mais dinâmicos
cente.
como eletrônicos e máquinas / equipamentos,
sem perder a dianteira adquirida nos segmentos
mais tradicionais de brinquedos e vestuário, por Quadro 1 – Comparativo do Desempenho
exemplo. Paralelamente, os investimentos chine- Macroeconômico Recente – Brasil X China
ses, ainda que partindo de níveis muito reduzidos, Variáveis Macroeconô- Brasil China
se mostram mais dinâmicos que o total dos inves- micas
timentos externos diretos recebidos pelo Brasil. Crescimento do PIB per 1,2% 8,5%
capita (média anual 1990-
A terceira parte do texto volta-se para as relações 2003, em %).
políticas e diplomáticas mantidas entre os dois Taxa de investimento mé- 20% 33%
países. Desenvolve-se a tese de que, estimulado dia entre 1990-2000 (em
pelos ganhos comerciais, o governo Lula decide % do PIB)
colocar a parceria com a China num novo pata- Taxa de crescimento das 6,4% 17%
mar. Concede a este país o estatuto de economia importações 1990-2003
de mercado, vota ao seu favor na Comissão de (média anual, em %).
Direitos Humanos da ONU, em troca da aprova- Taxa de crescimento das 6,7% 16,2%
exportações 1990-2003
ção pela China do ingresso do Brasil no Conselho
(média anual, em %).
de Segurança, além de negociar o fim de algumas
Participação da Corrente 28,7% 57,1%
barreiras comerciais no setor de alimentos. Esta
de Comércio no PIB em
estratégia, entretanto, peca por negociar vanta- US$ (2001-2003)
gens políticas duvidosas, eximindo-se de promo- Participação das Exporta- 52% 91%
ver uma relação econômica mais densa, voltada ções de Manufaturados no
para o aprofundamento das parcerias produtivas Total Exportado
e para a diversificação dos fluxos de comércio. Participação das Exporta- 12% 27%
ções de Alta Tecnologia no
Finalmente, o texto revela como, a partir da mu-
Total Exportado
dança de comércio, o governo brasileiro passa a
Participação no total de 2,9% 5,3%
sofrer a pressão de dois segmentos do empresa-
IEDs mundiais (1997 a
riado, com interesses divergentes em relação à 2002)
China. De um lado, estão aqueles que se favore- Relação Dívida Externa/ Ex- 3,16 vezes 0,52 vez
ceram com um padrão de comércio concentrado portações (2000-2002)
em commodities; e de outro, os que se sentiram Renda Per Capita em US$ 7.790 5.003
prejudicados, quando a pauta de exportações chi- PPP (posição 64) (posição 93)
nesas passou por uma transformação qualitativa.
Fonte: Pnud, OMC, Banco Mundial e Unctad; Elaboração dos
Como conclusão, desenvolve-se a idéia de que autores.
– ao contrário de outros países latino-americanos
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Em primeiro lugar, o que sobressai ao se contra- A diferença essencial entre os dois países parece
por as duas economias é o ritmo de expansão. residir no nexo entre exportações e investimen-
No período 1990-2003, a economia chinesa ex- to, que permitiu ampliar a capacidade produtiva
pandiu-se quatro vezes mais rapidamente que a na China, enquanto no Brasil e demais países
brasileira, pelo critério de renda per capita (8,5% latino-americanos a volatilidade cambial trouxe
contra 1,2% ao ano). alterações bruscas nas taxas de crescimento e
investimento, recorrendo estes países a políticas
Enquanto a economia brasileira, ao longo da dé-
monetárias rígidas.
cada de noventa, experimentou um processo de
estabilização combinado a uma típica situação de Segundo as categorias traçadas pela Unctad ,
stop and go, jamais tendo crescido a taxas supe- a China poderia ser classificada como um país
riores a 5% por dois anos consecutivos; a China de industrialização rápida, que presencia uma
tem se destacado por um dinamismo surpreen- transformação estrutural da sua base produtiva;
dente do PIB, ancorado em altas taxas de inves- enquanto no Brasil, se a abertura não trouxe a
timento, as quais se explicam por sua vez pela desindustrialização, impediu que o país diversifi-
expansão das exportações, pela presença ativa do casse a sua base industrial e promovesse um salto
Estado e pela expansão do mercado interno num de competitividade nos segmentos mais dinâmi-
contexto de extrema cautela quanto à liberali- cos do comércio internacional.
zação do mercado de capitais, iniciada no Brasil
Agora vejamos como estas distintas trajetórias
antes mesmo do Plano Real, enquanto na China
macroeconômicas e de opções de inserção exter-
esta foi realizada de forma progressiva após o in-
na empreendidas por Brasil e China se cruzaram
gresso na OMC, em 2001.
ao longo dos últimos anos, acarretando muta-
Em parte devido a uma âncora cambial entre ções no relacionamento externo entre as duas
1994-1998, a expansão das exportações brasi- economias.
leiras seguiu as mesmas taxas da economia in-
ternacional, na média do período 1990-2003, 2 Relações Econômicas Brasil/China:
enquanto as exportações chinesas cresceram 2,5 Emergência de um Novo Padrão de
vezes acima da média global, situando-se este Comércio
país como o 3º maior exportador global em 2004
Os impactos da expansão da economia chinesa
e perfazendo 6,5% das exportações mundiais.
sobre a brasileira podem ser divididos em duas
Além disso, a China tem realizado um upgrading categorias: indiretos e diretos. No primeiro caso,
das suas exportações, das quais 91% são com- encontram-se os fatores relacionados ao vigor da
postas de bens manufaturados e mais de ¼ de economia internacional no período 2003-2005,
bens intensivos em tecnologia, contra percentuais mas também ao fato de que a economia chinesa
de 52% e 12% para o Brasil, respectivamente. permitiu atenuar os efeitos da crise internacional
do triênio imediatamente anterior. Os superávits
Isso significa que as vendas externas chinesas têm
comerciais chineses – na medida em que contri-
sido acompanhadas de uma melhoria da oferta,
buem para preencher os déficits em conta corren-
enquanto o boom exportador brasileiro de 2004
te dos Estados Unidos – favorecem a transferência
foi, em grande medida, favorecido pela valoriza-
de capitais para as economias emergentes, além
ção das commodities. Neste ano, o Brasil apenas
de elevarem a demanda de outros países que im-
voltou ao mesmo patamar de 1,1% do total das
portam produtos brasileiros.
vendas externas globais, alcançado em 1989,
portanto antes da abertura comercial empreen- Já os impactos diretos são aqueles vinculados à
dida por este país. expansão da demanda chinesa por commodities
agrícolas e minerais, propiciando inclusive uma
Finalmente, os investimentos externos diretos
elevação do seu preço no mercado internacional.
(IEDs) na China, além de serem mais expressivos,
De fato, quando se analisa o perfil das importa-
não diminuíram com a queda mundial presencia-
ções chinesas, observa-se que 19% das impor-
da pós-2000, ao contrário do Brasil. Em 2003, os
tações chinesas de produtos agrícolas e 7% das
fluxos de IEDs para a China representaram 9,6%
importações de produtos minerais são provenien-
do total mundial, contra 1,8% para o caso brasi-
tes da América Latina, que participa com apenas
leiro, devendo este arrefecimento ao fim do pro-
3,6% das importações totais chinesas no ano de
grama de privatizações e ao baixo crescimento
2003 (OMC).
econômico verificado no país. Adicionalmente, e
ao menos até 1999, o Brasil conviveu com eleva-
dos déficits em transações correntes e níveis de
 Capital Accumulation, Growth and Structural
endividamento externo, ao passo que a China se Change, in: Trade and Development Report 2003,
destacou por incrementar as suas reservas inter- Geneva: UNCTAD, 2003.
nacionais.  João Sayad, “Fantasma”, in: Folha de São Paulo, 29
de agosto de 2005.
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Gráfico 1- Exportações, Importações e Saldo Comercial do Brasil com a China, de 1998 a 2004
(em US$ milhões).

5.440
5.500

4.533
4.500

3.710

3.500

2.520 2.385
2.500
2.148
1.902
1.730
1.554
1.328
1.500
1.034 1.085 1.222
905 865 966
676 574
500

-500 1998 -129 1999 -189 2000 -137 2001 2002 2003 2004

exportações importações saldo

Fonte: Secex/Mdic: Elaboração Prospectiva.

O Brasil ocupa um papel de relevância no merca- passo que o superávit comercial brasileiro regride
do chinês, tendo respondido por cerca de 42% 27%. Em apenas um ano, as exportações chine-
das exportações latino-americanas para a China sas para o Brasil ampliam-se em mais de 70%. E a
neste ano. Por outro lado, em termos de partici- velocidade de queda do superávit comercial brasi-
pação chinesa no total das exportações nacionais, leiro se elevaria ao longo do primeiro semestre de
o Brasil aparece em quinto lugar na região, “per- 2005, se comparado com o mesmo período do
dendo” para Chile, Peru, Argentina e Cuba. No ano anterior, recuando de US$ 1,409 bilhão para
ano de 2004, a China foi responsável por 5,7% US$ 436 milhões.
da corrente de comércio brasileira, ficando atrás
O gráfico 2 nos permite levantar algumas hipó-
apenas da União Européia, Estados Unidos e Ar-
teses importantes sobre esta transformação. Se
gentina.
tomarmos os produtos nos quais o Brasil apre-
O ano de 2003 representou o auge de um padrão senta um superávit considerável – soja, óleo de
de comércio que tendo se mostrado conjuntural- soja, minério de ferro, madeira e celulose – o seu
mente favorável ao Brasil, começaria, entretanto saldo comercial conjunto elevou-se mais de sete
a assumir feições estruturais diferenciadas já a vezes entre no período 1999-2004, tendo o ritmo
partir de 2004. de expansão se tornado sensivelmente mais lento
após 2003.
Vale lembrar que, entre 1999 e 2003, a corrente
Neste período, conforme o quadro 2 abaixo, o
de comércio entre os dois países multiplicou-se
Brasil foi favorecido não só pela demanda do par-
por 3,4 vezes. Concomitantemente, o Brasil pre-
ceiro chinês, mas também pelos ganhos de com-
senciou, neste período, uma expressiva elevação
petitividade nestes setores, a ponto de ganhar
do seu saldo comercial, saindo de um resultado
market-share nas importações deste país e deslo-
negativo pouco superior a US$ 100 milhões para
car outros importantes players mundiais. Afir-
um superávit comercial de US$ 2,4 bilhões (gráfi-
mou-se enquanto exportador de destaque de
co 1), o que representou 10% do saldo total obti-
soja, óleo de soja, minério de ferro e consolidou
do pelo país. As exportações brasileiras para este
sua posição nas exportações de madeira e celulo-
país ampliaram-se neste período 400%.
se. No caso do algodão, apesar da competitivida-
Em 2004, um novo padrão de comércio passa a de brasileira, a posição do país ainda se mostra
ser desenhado. A corrente de comércio, em ape- marginal. Este quadro pode ser alterado, depen-
nas um ano, se incrementa em quase 40%, ao dendo da redução dos apoios domésticos que
acabam impactando o preço das exportações dos
EUA, maior fornecedor deste produto para o
 Panorama de Inserción Internacional de América
Latina y el Caribe – 2002-2003, Santiago: CEPAL, mercado chinês.
2004. Desta forma, não se pode explicar o recente bom
 Latin America and the Caribbean in the World Eco- das exportações primárias do Brasil sem que se
nomy - 2005 Trends, Santiago: CEPAL, 2004.
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Gráfico 2 - Superávit Brasileiro e Chinês de Acordo com a Característica dos Produtos mais Im-
portantes da Pauta dos dois Países (em US$ milhões)

4500
4073
4000
3484
3500

3000

2500
2046
1882
2000

1500 1256
970
1000 746 694 681
564 441 456 614
489 364
500 214 136 160 152 208
123
0
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

superavitários brasil superativarios dinâmicos china superavitários tradicionais china


Fonte: Secex/Mdic: Elaboração Prospectiva.

mencione a demanda chinesa, responsável por segmentos dinâmicos. No caso das máquinas e
18% das exportações agropecuárias brasileiras e aparelhos elétricos, a China deixou de ser o séti-
por 21% das vendas externas de minerais metá- mo exportador brasileiro para ocupar a primeira
licos . posição, “deixando para trás” Estados Unidos,
Japão, Alemanha e Coréia do Sul.
Por outro lado, os chineses avançaram de forma
categórica sobre o mercado brasileiro, sobretudo Desta forma, são poucos os produtos e segmen-
nos segmentos mais dinâmicos. Enquanto o supe- tos com alto valor agregado em que o Brasil se
rávit dos setores mais tradicionais – têxtil, vestuá- destaca como exportador para o mercado chi-
rio, calçados e outros - saltou de US$ 214 milhões nês. A presença de produtos manufaturados nas
em 1998 para US$ 364 milhões em 2004; no que exportações para a China situa-se em torno de
se refere ao agregado dos capítulos 84, 85 e 90 17,7%, contra 54,9% quando se analisa o con-
– que compreende produtos químicos orgânicos, junto das exportações brasileiras (Secex/Mdic).
máquinas e equipamentos, componentes eletrô- Em segmentos como celulose/papel e ferro/aço,
nicos, além dos instrumentos de ótica e fotogra- o Brasil tende a exportar produtos do início da
fia – o salto foi de 363%, superando a casa dos cadeia, tendo participação reduzida nas importa-
US$ 2 bilhões no ano de 2004. ções chinesas de produtos acabados. No segmen-
to de autopeças, o Brasil tem ampliado as suas
Boa parte deste incremento se concentrou no ano
exportações para o mercado chinês, ainda que
de 2004, mostrando que o superávit comercial
estas ocupem uma participação irrelevante no to-
brasileiro com a China tende a se contrair – po-
tal das importações deste país.
dendo até mesmo ser revertido no médio prazo
Por que o Brasil que vem se destacando como
– a se manter uma tendência de crescimento eco-
importante exportador de produtos manufatu-ra-
nômico anual superior a 3,5%.
dos – expansão de 94% entre 1999 e 2004 – mas
Uma análise do quadro 3 possibilita uma compre- não consegue acessar o mercado chinês, onde se
ensão mais refinada do novo padrão de comércio percebe, aliás, uma tendência de crescente pri-
vigente entre os dois países. Se a China conso- marização?
lidou a sua posição enquanto maior fornecedor
Estudo recente do IPEA revelou que entre 1999
brasileiro de brinquedos, vestuário e de filamen-
e 2003, o número de empresas brasileiras que
tos sintéticos; o que merece destaque, tanto em
exportam para a China triplicou, passando de
termos de valor exportado como de ganho de
400 para 1.400. Estas empresas têm, em média,
market-share, é justamente o desempenho nos
maiores níveis de produtividade e são mais inten-
sivas em tecnologia do que a média das empresas
 Fernanda de Negri, “Perfil dos Exportadores Indu- exportadoras brasileiras .
striais Brasileiros para a China”, in: Revista Brasileira
de Comércio Exterior, no. 84, agosto e setembro de
2005.  Fernanda de Negri, op. cit., 2005.
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Quadro 1 – Participação dos Principais Produtos Exportados pelo Brasil no Mercado Chinês

1999 2004
Market- Market-
Total Exportado Share Total Exportado Share Rank-
    (US$) (em %) Ranking (US$) (em %) ing
Capítulo Sementes e Frutos
12 Oleaginosos 171.963.034 10,5 4 2.077.123.163 28,2 2
Capítulo
15 Óleos e Gorduras 61.331.044 4,5 5 543.420.230 12,9 4
Capítulo Minérios, Escórias e
26 Cinzas. 322.792.449 14,7 2 2.921.260.609 16,9 3
Capítulo
44 Madeira e Obras 13.986.019 0,5 23 157.276.175 3,0 9
Capítulo
47 Celulose 71.628.865 4,3 6 393.048.273 7,4 5
Capítulo
48 Papel 11.920.769 0,3 25 38.828.828 0,8 22
Capítulo
52 Algodão 201.768 0,0 50 26.335.271 0,4 22
Capítulo
72 Ferro e Aço 33.871.994 0,5 15 657.928.072 2,8 7
Capítulo Automóveis, Tra-
87 tores e Partes. 5.534.312 0,2 19 134.969.218 1,0 9

Fonte: Comtrade/Onu: Elaboração Prospectiva.

Quadro 2 – Participação dos Principais Produtos Exportados


pela China no Mercado Brasileiro

1999 2000
Market- Market-
Total Exportado Share (em Total Exportado Share Rank-
    (US$) %) Ranking (US$) (em %) ing
Capítulo Máquinas e Aparel-
84 hos Mecânicos 127.231.047 1,4 11 438.666.512 4,7 5
Capítulo Máquinas, Mate-
85 riais Elétricos. 254.380.582 3,3 7 1.496.239.913 16,6 1
Capítulo Instrumentos de
90 Ótica e Fotografia 41.866.498 2,4 7 244.382.149 10,3 3
Capítulo Filamentos Sintéti-
54 cos 3.715.557 0,9 18 152.851.536 23,4 1
Vestuário e
Capítulo acessórios de
61 malha 15.615.617 28,7 1 22.812.714 42,2 1
Vestuário e
Capítulo acessórios exceto
62 de malha 23.391.400 20,8 2 51.387.211 52,4 1
Capítulo
95 Brinquedos e jogos 55.929.868 42,1 1 77.866.862 72,2 1
Fonte: Comtrade/Onu: Elaboração Prospectiva.

O fato de que estas empresas exportem produtos quando se leva em consideração a aplicação de
de menor valor agregado para a China deve-se uma tarifa média chinesa de 11,3% para os bens
fundamentalmente à estratégia inter­nacional das não-agrícolas, inferior à verificada em outros paí-
empresas chinesas - com elevada escala de pro- ses em desenvolvimento.
dução e priorizando a geração de valor agregado
Ou seja, é justamente nos segmentos da indústria
internamente - para o que contribui a trajetória
– nos quais a participação chinesa nas exportações
macroeconômica seguida pelo país nos últimos
brasileiras mostra-se bem inferior à participação
vinte anos.
destes segmentos no total das vendas externas
Esta hipótese mostra-se ainda mais consistente, nacionais – que as tarifas tendem a ser menos re-
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levantes, ainda que existam alguns picos tarifários ção. A resolução encorajava a China a permitir a
e barreiras não-tarifárias para alguns produtos e visita de relatores e cooperar com a comunidade
capítulos específicos, especialmente no caso dos internacional em questões de Direitos Humanos.
bens de consumo duráveis . Outro movimento na mesma direção foi o anún-
cio do reconhecimento da China como economia
A alteração deste quadro parece exigir a defini-
de mercado pela diplomacia brasileira durante a
ção de parcerias produtivas intra-setoriais entre
visita de Hun Jintao ao Brasil em novembro de
os dois países, além de uma mudança na trajetó-
2004.
ria macroeconômica brasileira, no sentido de uma
expansão diversificadora da estrutura produtiva, Passado mais de um ano e meio desde a missão
com ganhos de escala, e ocupação paulatina do de Lula à China, a política externa brasileira em
mercado externo. relação à China vem recebendo fortes críticas de
diversos setores da sociedade que chegam a falar
No que diz respeito ao fluxo de capitais, além de
em um “ilusão diplomática”. Essa crítica é base-
joint-veintures desenvolvidas por empresas brasi-
ada na falta de resultados gerados por esse novo
leiras na China, como é caso da Embraer, Embra-
direcionamento do Brasil. O principal questiona-
co, Marcopolo e outras, o fato mais relevante tem
mento feito ao governo é ter apostado em um
sido o crescente IED chinês no Brasil, ainda que
apoio da China a um dos principais objetivos da
este se dê a partir de níveis bastante baixos. Os
política externa brasileira, que é tornar-se mem-
dados do Banco Central do Brasil apontam para
bro permanente do Conselho de Segurança da
uma expansão de cerca de 100% dos fluxos de
ONU.
IED chinês entre 2001 e 2003, com relação ao
estoque de 2000, enquanto o montante de IED O posicionamento da China contra a entrada de
ingressado no Brasil ampliou-se em apenas 40% novos membros no Conselho da ONU é apontado
no período. como a maior prova da falta de reciprocidade nas
relações entre os dois países, ainda que o objetivo
3 Os Acordos Brasil/China nos tenha sido impedir que o Japão ingressasse no
Governos FHC e Lula órgão e não necessariamente vetar as aspirações
brasileiras. O Brasil teria supostamente cedido no
É grande a motivação do governo Lula em colo-
campo econômico e político (daí a mudança de
car as relações Brasil-China em um novo patamar.
posição na Comissão de Direitos Humanos) para
Essa estratégia de política externa fica evidente
obter vantagens políticas, as quais não foram en-
quando se observa que, em menos de três anos
tregues.
no poder, o atual governo assinou mais acordos
com os chineses que Fernando Henrique Cardoso Mesmo no caso da OMC, a aliança entre o Brasil
durante seus dois mandatos. e a China no âmbito do G-20 parece se circuns-
crever ao tema agricultura, tendendo os dois pa-
Desde 1º de janeiro de 2003, data em que Lula
íses a assumir posições crescentemente divergen-
assumiu a presidência do Brasil, entraram em
tes, o que se explica pela diferenciação de suas
vigor 18 entendimentos nas áreas de ciência e
trajetórias econômicas e produtivas. Um exemplo
tecnologia, esportes, transportes, padrões sani­
é a adesão da China ao Information Technology
tários e fitossanitários, vistos, cooperação indus­
Agreement, enquanto o Brasil se recusa a assiná-
trial e comércio e investimentos. Metade desses
lo.
entendimentos foram assinados durante a visita
presidencial à China em maio de 2004. Em con- Finalmente, nas várias reuniões do G-8, para as
trapartida, ao longo dos oitos anos do governo quais têm sido convidados os chefes de Estado
FHC foram assinados apenas 17 acordos em nove brasileiro e chinês, além de outros países em de-
áreas distintas. senvolvimento, não se tem afirmado uma posição
convergente do Sul, capaz de impor políticas e
Mais recentemente, em fóruns multilaterais como
fazer exigências aos países do Norte.
a Comissão de Direitos Humanos da Organização
das Nações Unidas, o Brasil mudou drasticamente Deve-se, no entanto ponderar a crítica feita aos
seu posicionamento em favor da China, tendo, policymakers brasileiros. Além de alianças políti-
em 2004, votado a favor de uma non-action mo- cas, a estratégia de elevação do patamar das re-
tion que retirou resolução sobre a China da vota- lações com a China incorpora outros interesses.
Para algumas empresas exportadoras, sobretudo
de recursos naturais, poucos mercados apresen-
 Lia Valls Pereira e Galeno Tinoco Ferraz Filho, O tam dinamismo e oportunidades de crescimento
Acesso da China à OMC: Implicações para os Inte-
resses Brasileiros, Rio de Janeiro: Funcex, julho de
2005.  O editorial, no dia 17 de setembro de 2005, do jor-
 Além dessas áreas, o país têm acordos de co­operação nal “O Estado de São Paulo” classificou a política
com os chineses nas áreas de comunicações, ener- externa do país em relação à China de “ilusão di-
gia e educação, assinados por governos anteriores. plomática”.
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comparáveis ao da China. O potencial de investi- satélite do programa China-Brazil Earth Resour-


mento por parte de empresas chinesas também ces Sattelite (CBERS). Deve-se ter em conta, no
é visto como estratégico, seja por empresas que entanto, que o CBERS é um programa lançado
vislumbram oportunidades de parcerias, ou por pelo governo Sarney em 1988, tendo o primeiro
governos de todos os níveis da federação inte- satélite sido lançado durante o governo FHC.
ressados na melhoria da infra-estrutura para ex-
Desta forma, o governo Lula - ainda que tenha
portação.
se empenhado em colocar as relações com a Chi-
Não por acaso, a visita do presidente Lula à China na na ordem do dia de sua agenda internacional
em 2004 foi acompanhada por uma delegação de - não logrou estabelecer mecanismos que asse-
quase quinhentos empresários e várias autorida- gurassem ao país apoio político em fóruns mul-
des públicas. Além dos entendimentos em áreas tilaterais ou criassem novas parcerias produtivas.
políticas, foram assinados quatorze entendimen- Estas parecem depender mais da “boa vontade”
tos entre empresas brasileiras e chinesas. Entre de empresários, em setores em que as vantagens
esses entendimentos destacam-se os seguintes comparativas são naturais e os interesses chineses
acordos de cooperação: são evidentes.
• Entre a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) Em síntese, pode-se dizer que os resultados eco-
e a Shanghai Baosteel Group Corporation, vi- nômicos positivos iniciais estimularam o governo
sando a criação de uma joint venture para a Lula a “apostar na China”, acreditando que os
produção de aço no Maranhão; ganhos econômicos para o Brasil seriam irrestri-
tos, e que se poderia conceder vantagens econô-
• Entre a CVRD e a Aluminium Corporation of
micas à China em troca de uma maior projeção
China, sobre exploração de bauxita e pro-
da política externa brasileira no cenário interna-
dução de alumina no Brasil para exportação
cional, que contaria com o suposto apoio chinês.
ao mercado chinês;
A partir de 2004, aqueles ganhos econômicos fo-
• Entre a Petrobrás e a Sinopec, para explora- ram atenuados, em virtude da configuração de
ção de petróleo em terceiros países; um novo padrão de comércio, gerando conflitos
internos com parte do empresariado nacional,
• Entre a China National Machinery and Equi-
como veremos adiante, além de não se ter obtido
pment Import and Export Corporation e a
os dividendos políticos.
Central Termelétrica do Sul para a construção
de usina termoelétrica a carvão no Rio Gran- De qualquer maneira, foram lançadas as bases
de do Sul; iniciais para uma parceria estratégica, que depen-
de, para ser consumada, de uma revisão dos ob-
• Entre o Banco Nacional de Desenvolvimento
jetivos e interesses de ambas as partes tanto na
Econômico e o Citic Group, para o desen-
arena política como na econômica.
volvimento de projetos de financiamento de
joint ventures voltadas à exportação.
4 A Visão do Empresariado Brasileiro
Se na área política não são perceptíveis os re-
A ascensão da China como um dos principais
sultados da investida diplomática em favor dos
players no comércio internacional tem provocado
chineses, na área econômica fica evidente a con-
algumas movimentações interessantes no empre-
tribuição dos chineses para os crescentes saldos
sariado brasileiro, gerando uma polarização entre
positivos no balanço de pagamentos do Brasil,
empresários que enxergam a China como fonte
ainda que se levando em conta as ressalvas so-
de ameaças ou de oportunidades.
bre a pauta comercial discutidas acima. A julgar
pelos desdobramentos dos acordos empresariais, O primeiro grupo é composto, sobretudo por se-
no entanto, o Brasil também tem muito pouco tores industriais, que além de perder market-sha-
a comemorar. Nenhum dos acordos empresariais re em terceiros mercados, vêm sendo ameaçados
assinados em maio de 2004 se viabilizou até o pelas importações chinesas. Do lado oposto en-
momento. O crescimento dos investimentos contram-se empresas exportadoras de produtos
chineses não tem sido resultado direto da em- básicos, favorecidos pelo dinamismo da demanda
preitada diplomática de Lula. São investimentos chinesa.
basicamente realizados por empresas do setor
Entre os setores ameaçados pela China destaca-
industrial – nos segmentos de equipamentos de
se a indústria têxtil, que - devido ao crescimento
telecomunicações e material elétrico e eletrônico
das exportações chinesas alavancadas pelo fim
- interessadas em expandir sua presença no mer-
do Acordo de Têxteis e Vestuários na OMC - vem
cado brasileiro.
liderando alianças empresariais em favor da im-
No campo de cooperação em ciência e tecnologia, posição de salvaguardas contra os produtos chi-
a cooperação com os chineses vem produzindo neses.
bons resultados. Em 2003, foi lançado o segundo
Além da forte associação que representa os in-
As Relações Econômicas entre Brasil e China FES Briefing Paper Janeiro 2006 Página 

teresses da indústria têxtil em âmbito nacional, e Empresarial Brasil-China, que além de defender
que exerce influência sobre a posição da princi- seus interesses junto às autoridades brasileiras e
pal associação empresarial da América Latina, a chinesas, vem promovendo uma agenda positiva
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo visando melhorar o perfil das relações econômi-
(FIESP), cujo presidente, Paulo Skaf, é uma das cas entre as duas partes.
principais lideranças do setor. Vale mencionar que
Além da questão das salvaguardas, o reconheci-
o presidente da Associação Brasileira da Indústria
mento da China como economia de mercado, nos
Têxtil e de Vestuários (ABIT) é filho do vice-presi-
termos do acordo da OMC, também polarizou es-
dente do país, José de Alencar, o que em certa
ses dois grupos de empresários. Na prática, o que
medida facilita a canalização dos interesses do
muda com a declaração das autoridades brasilei-
setor junto às esferas governamentais.
ras é que os critérios para investigações de dum-
Ao aliar-se com setores que antes tinham visões ping por parte de empresas chinesas passam a ser
opostas em outras frentes comerciais, como nas mais rígidos. Apesar do movimento em favor da
negociações da Área de Livre Comércio das Amé- China, a posição do governo tem sido ambígua,
ricas (ALCA) ou Mercosul-União Européia, o setor o que reflete a força que ambos os grupos detêm
têxtil inaugurou uma nova lógica de articulação junto ao governo Lula. Ressalte-se, finalmente,
empresarial diante da ameaça chinesa. que o reconhecimento da China como economia
de mercado ainda não foi regulamentado, o que
Entre os setores que antes faziam sérias ressalvas
significa que as regras para a abertura de casos
à ALCA e que agora estão alinhados com o setor
de dumping contra aquele país continuam inal-
têxtil, destacam-se máquinas e equipamentos,
teradas.
eletro-eletrônicos e químicos. Além desses setores
fazem parte do grupo que demanda proteção em
5 China: nem Salvação, tampouco
relação às importações chinesas: calçados, jóias e
Ameaça.
bijuterias, material de escritório, metais sanitários,
produtos de couro, papel, produtos farmacêu- Este texto procurou apresentar dois processos
ticos, indústria óptica, produtos para saúde ani- coincidentes, mas não necessariamente comple-
mal, produtos metalúrgicos, autopeças e móveis. mentares, que marcaram as relações entre Brasil
Encontram-se, portanto unidos na mesma frente e China no período recente.
“anti-China” desde setores mais tradicionais até
De um lado, existe uma intensificação do volume
aqueles mais intensivos em tecnologia.
de comércio entre os dois países, que redundou
A principal bandeira desse grupo de empresas em expressivos superávits comerciais para o Brasil,
tem sido a imposição de salvaguardas contra as ao menos até 2003, justamente quando as expor-
importações chinesas. Dois mecanismos de sal- tações funcionavam como o único mecanismo de
vaguardas especificas, previstos no Protocolo de ativação da demanda interna. Paralelamente, no
Acesso da China à OMC, poderiam ser aplicados ano de 2004, ficou evidente a emergência de um
(um deles é específico para o setor têxtil). No en- novo padrão de comércio, que tende a reduzir os
tanto, para que os setores pudessem recorrer a es- saldos comerciais brasileiros com a China, além
ses mecanismos, era necessária a sua regulamen- de colocar este país como importante fornecedor
tação, como já haviam feito os Estados Unidos, a de produtos industriais dinâmicos, sem perder a
União Européia e a Argentina. Apenas depois de primazia nos tradicionais.
algum tempo anunciando a regulamentação das
Por outro lado, a ascensão econômica chinesa
salvaguardas específicas, e depois de uma última
e seus impactos sobre o Brasil permitiram que o
tentativa de negociar mecanismos voluntários por
governo Lula alçasse este país à condição de par-
parte dos chineses, em outubro de 2005, o go-
ceiro privilegiado, o que apenas despontava no
verno brasileiro decidiu internalizá-las.
horizonte do governo FHC, mas não de forma ca-
Por outro lado, o governo Lula tem como aliados tegórica. Esta opção estratégica pela China não
em sua política externa em relação à China uma trouxe, até o presente momento, os dividendos
série de empresas com interesses comerciais na- políticos esperados, além de gerar tensões inter-
quele mercado, sobretudo de setores exportado- nas com segmentos do empresariado nacional,
res de produtos básicos como carne, óleo vegetal, principalmente após a mudança do padrão de
alimentos, madeira, café e celulose, além de ban- comércio, que parece ter sido subestimada pelos
cos que operam no comércio internacional, em- policymakers brasileiros.
presas de transportes e tradings. Para esse grupo
Ainda assim, acredita-se que haja espaço para
de empresas, a demanda de regulamentação das
uma relação estratégica entre o Brasil e a China
salvaguardas, capitaneada pela FIESP e pelo setor
– desmobilizando parte das críticas localizadas –
têxtil, pode acarretar ônus nas relações bilaterais,
principalmente se o governo brasileiro pressionar
prejudicando suas operações no mercado chinês.
pela maior diversificação da nossa pauta expor-
Esse grupo de empresas organizou o Conselho
tadora para aquele país, incentivando a forma-
As Relações Econômicas entre Brasil e China FES Briefing Paper Janeiro 2006 Página 10

ção de novas parcerias produtivas, para além dos Sobre os autores:


setores tradicionais, e resguardando-se por meio
Alexandre de Freitas Barbosa, doutor em Eco-
de uma proteção mínima e necessária aos produ-
nomia Aplicada pela UNICAMP e consultor eco-
tores nacionais.
nômico da Prospectiva Consultoria Brasileira de
No campo político, a relação Brasil/China também Assuntos Internacionais. È também professor nas
poderia ultrapassar o âmbito da ONU e se solidi- Universidades Mackenzie e Paulista.
ficar em outros fóruns multilaterais, como OMC,
Ricardo Camargo Mendes, mestre em Relações
Banco Mundial e FMI, apesar das crescentes di-
Internacionais pela University of Cambridge (Hu-
vergências de inserção externa dos dois países.
ghes Hall) e diretor da Prospectiva Consultoria
Brasileira de Assuntos Internacionais.

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