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Escola de Inteligência Militar do Exército

A Lucerna

Artigos científicos
Ano II - Nº 4 - Nov/2013
ISSN 2316 - 364X
ESCOLADEINTELIGÊNCIAMILITAR DO EXÉRCITO
Cel Inf Antônio Jorge Dantas de Oliveira

Comissão Editorial da Revista "A LUCERNA"


Cel Inf Antônio Jorge Dantas de Oliveira 1 EDITORIAL
Ten Cel Inf André Luiz Veloso
Ten Cel Cav Vagner Knopp de Carvalho
Ten Cel Inf Marcelo Barbosa Lima Gasse 2 A INTELIGÊNCIA EM APOIO ÀS OPERAÇÕES NO
Maj Inf Márcio Fernandes do Nascimento
Maj Art André Santos Relva da Fonte AMBIENTE TERRORISTA
Maj Art André Horta Piancó
Maj Art Carlos Gustavo Monteiro Renato de Oliveira Assis
Maj Inf Sérgio Henrique Lopes Rendeiro
Marco Lúcio Niendziela
Capa Willian Pina Botelho
1º Sgt Com Leandro Salin Andres

Elaboração Gráfica 14 O APOIO DA INTELIGÊNCIA NO LEVANTAMENTO DOS


S Ten QMB Luís Fernando Silva Alves
STAKEHOLDES NAS OPERAÇÕES DE INFORMAÇÃO
Revisão
Cel Inf Antônio Jorge Dantas de Oliveira Luiz Octávio Carvalho de Penna
Ten Cel Cav Vagner Knopp de Carvalho Emerson da Silva Moraes
Catalogação bibliográfica internacional, normalização João Gustavo B. de Albuquerque
e editoração
Biblioteca do Colégio Militar de Brasília Pablo Ourthe Cabale

Disponível em: http://www.esimex.ensino.eb.br 31 O PROCESSO DE INTEGRAÇÃO DOS SISTEMAS DE

Contatos: INTELIGÊNCIA DAS FORÇAS ARMADAS, PARA CONSTRUÇÃO DE


Av. Duque de Caxias, S/Nr - SMU
Cep: 70630-000 - Brasília-DF CENÁRIOS PROSPECTIVOS PELO MINISTÉRIO DA DEFESA
E-mail: esimex@solsi.eb.mil.br
Tiragem desta edição: 150 (cento e cinquenta) exemplares Luiz Fernando Medeiros Nóbrega
Jason Silva Diamantino
Impressão:
Gráfica Athalaia - Brasília-DF Emerson Garcia Cavaleiro

Os artigos desta publicação são de inteira Raphael Gustavo Frischgesell


responsabilidade de seus autores. As opiniões emitidas não
exprimem, necessariamente, o ponto de vista da EsIMEx. 46 O PROCESSO DE INTEGRAÇÃO TERRENO, CONDIÇÕES
É permitida a reprodução total ou parcial dos artigos
desta revista, desde que citada a fonte. METEOROLÓGICAS E INIMIGO (PITCI) POR INTERMÉDIO DO
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) PROGRAMA "C2 EM COMBATE"
A Lucerna / Escola de Inteligência Militar do Exército. Antonio José Gonçalves Pinto
Ano II Nº 4
(nov 2013). Brasília: Athalaia, 2013. Paulo Cezar Crocetti
Marcus Vinícius de Andrade Gama
55p.

Semestral

ISSN 2316-364X

1. Inteligência Militar 2. Exército Brasileiro 3. Escola de


Inteligência Militar do Exército

CDU: 355.40(81)
A INTELIGÊNCIA EM APOIO ÀS OPERAÇÕES NO AMBIENTE TERRORISTA

RENATO DE OLIVEIRA ASSIS 1


MARCO LÚCIO NIENDZIELA1
WILLIAN PINA BOTELHO1

RESUMO
No dia 11 de setembro de 2001, uma série de atentados terroristas ocorreu nos Estados Unidos.
Uma organização até então desconhecida pela maioria dos órgãos de segurança internacional, denomi-
nada Al-Qaeda, planejou e executou o sequestro de aviões comerciais de passageiros. Dois desses avi-
ões foram conduzidos e se chocaram com as torres do edifício World Trade Center, em Nova York. A
terceira aeronave colidiu com o Pentágono - sede do Departamento de Defesa americano. Tal atentado
provocou cerca de 3.000 (três mil) mortes, a maioria de civis. Indubitavelmente, os dramáticos eventos
perpetrados em 11 de setembro vieram a constituir um rompimento no que se refere à Nova Ordem
Mundial e às ameaças à Segurança Internacional. Trata-se do surgimento da Guerra Irregular e, nesse
universo, está o terrorismo. O Brasil, por sua vez, tem aumentado sua projeção internacional desde o
início do século, a partir de sua estabilização política e econômica. Da mesma forma, o fenômeno da
globalização aproximou o país dos centros de decisão internacional, colocando-o em posição de desta-
que em discussões como o meio ambiente, a questão nuclear, a questão energética e a solução de con-
flitos no mundo, dentre outros. Tais fatores se aliaram à escolha do país para sediar Grandes Eventos
Mundiais, como a Copa das Confederações em 2013, a Copa do Mundo em 2014 e a Olimpíada em
2016. Tudo isso projetou a imagem do Brasil no cenário internacional, inserindo-o também em discus-
sões políticas sensíveis que podem atrair para si o risco de atentados terroristas. Estes visam a causar
grande impacto por meio de ações contundentes, desafiando o poder estatal e semeando o terror entre
as sociedades. Nesse mister, o Brasil, ao ocupar nova posição no contexto geopolítico mundial, neces-
sita possuir um sistema de Inteligência que o proteja de ataques dessa natureza. Porém, sua atual es-
trutura possui entraves que dificultam tal responsabilidade e que precisam ser melhorados, dados que
pretendem ser abordados no presente trabalho.

1 INTRODUÇÃO
O Brasil deixou de ocupar uma posição de coad-
juvante e passou a ser um dos principais líderes
mundiais na discussão de temas multilaterais atuais.
O envolvimento brasileiro na solução de questões
1
Oficiais do Exército Brasileiro, Bacharéis em Ciências Mili-
sensíveis pode tornar o país alvo de ataques extre-
tares pela Academia Militar das Agulhas Negras e Mestres em
mistas contrários às posições defendidas pelo Brasil.
Operações Militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Ofici-
ais. Da mesma forma, o País ocupa posição de destaque

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no sistema internacional ao ser escolhido para sediar - Por quem (em qual nível)?
a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas em 2016. - De quê forma?
O País, por sua vez, precisa estar preparado para - O atual nível de integração entre os diferen-
atuar eficazmente em ações preventivas e operativas tes órgãos de Inteligência do país permite sua ação
para se adequar ao ambiente antiterror. Para tanto, eficaz no ambiente terrorista?
deve contar com Forças Armadas e Órgãos Federais
- O quê deve ser feito para que a atual estrutu-
e Estaduais, civis e militares, em condições de agi-
ra de Inteligência do país seja eficiente e eficaz?
rem contra o terrorismo em território nacional, inte-
grando seus esforços em prol da segurança do Esta- 1.1.4 Objetivo
do brasileiro. Nesse mister, a presente pesquisa tem O objetivo geral do trabalho será atingido pelo
por finalidade definir a atuação integrada dos dife- cumprimento dos objetivos específicos propostos e
rentes órgãos de Inteligência do Brasil dentro de um julgados pertinentes. Cada item particular contribui-
ambiente onde o terrorismo passa a ser um ator pre- rá para a precisão da pesquisa e para se chegar a uma
sente. visão holística da problemática em questão, validan-
do ou não a hipótese formulada.
1.1 CONCEITOS E MÉTODOS
1.1.4.1 Objetivo Geral
1.1.1 Delimitação do Tema
Analisar o atual nível de integração entre os
A Inteligência em apoio às Operações no am-
diferentes órgãos de inteligência do Brasil e apresen-
biente terrorista.
tar procedimentos para seu emprego eficaz no Teatro
1.1.2 Problema
de Operações Anti e Contraterror.
A integração entre os serviços de inteligência
1.1.4.2 Objetivos Específicos
de diferentes órgãos civis e militares, federais e es-
- Apresentar a atual conjuntura do sistema
taduais, no combate ao terrorismo, carece de melho-
político internacional, o papel do terrorismo nesse
rias. O Exército Brasileiro (EB) ainda se relaciona
contexto e suas consequências para o Brasil;
pouco com o Ministério da Justiça.
- Apresentar os órgãos de Inteligência do
O mesmo ocorre com a Polícia Federal. Os
Brasil;
Órgãos de Segurança Pública (OSP) Estaduais, por
sua vez, mantêm certa aproximação com o EB, man- - Apresentar as principais possibilidades e
tendo um vínculo amistoso respeitoso e funcional, limitações do Estado Brasileiro no combate ao terro-
mas não o suficiente para permitir a integração ne- rismo;
cessária para tratar o assunto. Da mesma forma, o - Apresentar as ações já desencadeadas pelo
EB pouco se relaciona com as Polícias Civis. Brasil para o combate ao terrorismo;
1.1.3 Questões de Estudo - Apresentar as propostas de integração dos
- O emprego da Inteligência deve ser centrali- diferentes órgãos de inteligência no combate ao ter-
zado em caso de ações terroristas no Brasil? rorismo.

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2 O AMBIENTE TERRORISTA GLOBAL raçados” para que suas atividades e objetivos pos-
sam ser alcançados com mais rapidez e eficiência.
2.1 O FINANCIAMENTO AO TERRORISMO
Em síntese, a repressão do financiamento do ter-
O terrorismo somente sobrevive ao longo dos a-
rorismo é uma meta ambiciosa dos Estados, e seu
nos se apresentar uma sólida base financeira que
êxito dependerá da capacidade destes em dispor de
possa lhe assegurar uma estrutura de modus operan-
leis vigorosas e instrumentos de aplicação apropria-
di internacional. A prática da disseminação do medo
dos ao enfraquecimento do poder financeiro dos
por meio de grandes atos praticados por grupos ter-
grupos terroristas.
roristas apresenta um alto custo financeiro, vez que,
2.2 O "MODUS OPERANDI" DO TERRORISMO
em sua grande maioria, depende de um mínimo de
Na atualidade, em qualquer parte do mundo, po-
organização logística.
dem se desenvolver atividades de apoio logístico ou
A atividade terrorista se financia mediante ativi-
de recrutamento ao terrorismo. Isso se deve à sua
dades tanto legítimas como ilegítimas. Existe uma
própria lógica de disseminação transnacional, que
grande variedade de atividades que contribuem para
busca continuamente novas áreas de atuação e, tam-
a manutenção econômica do terrorismo. A mais des-
bém, às vantagens específicas que cada país pode
tacada e usual consiste no tráfico de drogas, porém,
oferecer a membros de organizações extremistas,
não se pode deixar de citar outras atividades, como o
como facilidades de obtenção de documentos falsos
tráfico de pessoas, a falsificação de produtos, os
ou de acesso a seu território, além de movimentação,
sequestros, a extorsão, a lavagem de capitais, etc.
refúgio e acesso a bens de natureza material e tecno-
Todavia, merece relevo mencionar que o vínculo
lógica.
entre a estruturação econômica do terrorismo e o
A descentralização das organizações extremistas
comércio ilegal de drogas acabou por apresentar, nos
amplia sua capacidade operacional e lhes permite
últimos anos, de forma exacerbada, um aumento
realizar atentado quando as circunstâncias lhes fo-
quantitativo nunca antes visto. A razão se deve,
rem favoráveis e onde menos se espera, para poten-
principalmente, à expulsão dos talibãs do Afeganis-
cializar o efeito surpresa e o sentimento de insegu-
tão, pois muitos deles se reagruparam no Paquistão.
rança, objetivos próprios do ato terrorista. Desse
Ademais, vale destacar que os recursos para o fi-
modo, cidadãos e interesses de qualquer país, ainda
nanciamento de atos terroristas não advém tão so-
que não sejam os alvos ideais, em termos ideológi-
mente do narcotráfico, mas também do tráfico de
co-religiosos, podem servir de “pontes” para que
imigrantes, da extorsão, da lavagem de capitais, da
organizações extremistas atinjam, embora indireta-
corrupção estatal e privada, etc.
mente, seus principais oponentes.
Nessa direção, pode-se afirmar que a reciclagem
O novo cenário geopolítico no Pós-Guerra Fria
de bens ilícitos e o terrorismo são delitos sem fron-
determinou a redução dos fundos destinados por
teiras e que caminham juntos, tendo em vista a reali-
Estados a grupos terroristas. Após o 11 de setembro,
dade atual das grandes organizações criminosas co-
diversos dispositivos legais bloquearam bens e di-
mo, por exemplo, as grandes máfias, as quais neces-
nheiro de patrocinadores e organizações terroristas.
sitam de recursos financeiros “limpos” e “desemba-
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Assim, estas recorreram às atividades criminosas, o veis à infiltração pelo fato de serem formadas em
que resultou em alianças entre terrorismo e crime torno de núcleos familiares ou de convívio social
organizado. Esses acordos levaram ao intercâmbio prévio.
de know-how específico, como: lavagem de dinhei- Uma visão bastante interessante é do Gen R/1
ro, produção de explosivos e contrabando. Hoje, Álvaro Souza Pinheiro. Para este estudioso as atuais
esses grupos possuem características de ambos. organizações terroristas estruturam-se, de maneira
O terrorismo suicida pode ser visto, em princípio, geral, em quatro níveis. O primeiro, a grande base
como um gesto de paixão e fanatismo. Todavia, não para os demais, é o do Apoio Passivo, que, normal-
se pode negar sua racionalidade, premeditação e mente, aproveita-se de idiossincrasias, tais como
cálculo, tanto para destruir quanto para aproveitar-se bolsões de pobreza, corrupção, tráfico de drogas,
da mídia, sedenta de audiência. Este pode acontecer conflitos étnicos e religiosos, que se constituem em
a qualquer hora, em qualquer parte, e mina qualquer oportunidades para cooptar simpatizantes nos diver-
forma eficaz de segurança preventiva. Homens- sificados ambientes operacionais em presença. O
bomba continuarão a ser utilizados, por serem de segundo é o do Apoio Ativo, o segundo maior e o
baixo custo e causarem grandes danos materiais e mais importante nível da organização terrorista, pois
poderoso efeito moral no inimigo mais poderoso, é o braço de suporte que propicia meios de toda na-
que está preparado apenas para a guerra convencio- tureza para a organização. Mantém canais de comu-
nal (LIMA, 2005). nicações, opera áreas de homizio, a Inteligência e a
De qualquer maneira, o terrorismo representa ris- Contrainteligência, além de assegurar que todas as
co para as nações e deve ser evitado. Certos grupos necessidades logísticas sejam atendidas. O terceiro
podem atuar além das fronteiras nacionais, como o nível é o dos Quadros Ativos, braço armado da or-
fez a Al-Qaeda, em 11 de setembro de 2001, ao der- ganização, responsável pelo planejamento e execu-
rubar as torres do World Trade Center, em Nova ção dos atentados. O quarto nível, o mais alto, é o da
Iorque. Órgãos de Inteligência devem, portanto, pes- Liderança, responsável pela definição das diretrizes
quisar as causas profundas do terrorismo, estudar e gerais e pelas ações estratégicas; via de regra, mani-
conhecer cada organização extremista em sua espe- pula ideologias e filosofias, estabelecendo um ideá-
cificidade, de modo a levar às autoridades conheci- rio em seu próprio benefício.
mentos precisos e úteis à tomada de decisão. Um aspecto importante do sistema de comando e
A estruturação das redes terroristas não obedece a controle das mais relevantes organizações terroristas
uma formalidade. A formação de suas células carac- na atualidade é que, embora enfatizando a disciplina
teriza-se pela espontaneidade e é constituída por e a hierarquia nas suas estruturas, raramente apre-
parentes e amigos. As ações são desencadeadas a sentará estruturas verticalizadas. De uma maneira
partir das estruturas inferiores e são decididas local- geral, toda a integração é efetuada por redes (net-
mente pela base, contribuindo para o baixo custo works). A própria Al Qaeda opera suas redes valen-
operacional e financeiro. A rede apenas assume a do-se de meios diversificados, desde correspondên-
autoria do atentado. As células são pouco permeá- cias pessoais e anúncios anônimos em jornais, até os

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mais sofisticados recursos disponíveis na tecnologia - o Brasil é um dos maiores exportadores
da informação, telefones celulares e por satélite, mundiais de commodities, principalmente grãos e
Internet, e-mails criptografados, videotapes e CD- minérios;
ROMs (read-only memory), dentre outros. - desde 2007, grandes eventos vêm ocor-
rendo em solo pátrio, como os jogos Panamericanos
3 O BRASIL NO AMBIENTE TERRORISTA
(2007), Encontro da Juventude (2013), Copa das
3.1 O BRASIL E O CONTEXTO MUNDIAL Confederações (2013), Copa do Mundo (2014) e
Analisando o cenário internacional, o nosso país Jogos Olímpicos (2016); e
alcançou elevado desenvolvimento econômico nos - o Brasil passa a ser destino de vários tra-
últimos anos. Tais fatos podem ser exemplificados balhadores europeus afetados pela crise econômica
da seguinte maneira: que aflige o velho continente.
- foram descobertas jazidas de petróleo no Verifica-se que o Brasil passou a fazer parte da
Pré-sal o que projeta o país como um dos grandes “sociedade de risco”, ou seja, aquela que se torna
produtores mundiais; alvo de algum objetivo por qualquer motivação, seja
- o Brasil vive uma relativa estabilidade so- ela religiosa, política ou outra. Nessa conjuntura, as
cial em função da redução das desigualdades e da fronteiras do Brasil se alargaram sob os efeitos posi-
pobreza extrema; tivos e negativos da globalização.
- em termos religiosos, predominam o cato-
3.2 A TRÍPLICE FRONTEIRA
licismo e as igrejas pentecostais de origem cristã;
Segundo a Polícia Federal do Brasil, existem
- o país possui liderança regional no sub-
muitas histórias relacionando a cidade de Foz do
continente sulamericano, participando ativamente de
Iguaçu, maior da região, com o terrorismo. Porém,
organizações como o Mercado Comum do Sul -
nada que confirme tais acusações. A falta de fiscali-
Mercosul, a Organização dos Estados Americanos –
zação das milhares de pessoas que cruzam diaria-
OEA, e a União das Nações Sulamericanas – Una-
mente a Ponte da Amizade, que liga Foz do Iguaçu à
sul;
Cidade do Leste, no Paraguai, é uma constatação
- o Brasil exerce liderança mundial na dis-
natural. O acesso livre de turistas para quem cruza a
cussão de assuntos atuais como a reformulação do
ponte a pé ou se acomoda no interior de ônibus, car-
Conselho de Segurança da ONU e os subsídios agrí-
ros de passeio e motos é constante. Um ambiente
colas concedidos nos Estados Unidos e Europa;
bastante propício para a disseminação de atividades
- o país compõe o “BRICS”, juntamente
ilícitas.
com China, Rússia, Índia, China e África do Sul,
3.3 A ESTRUTURA ANTITERROR NO BRASIL
formando o grupo cujas economias serão as maiores
A Secretaria de Acompanhamento e Estudos Ins-
do mundo em 2030, segundo projeções do banco
titucionais – SAEI, do Gabinete de Segurança Insti-
Goldman Sachs;
tucional da Presidência da República – GSI/PR é,
- a nação é vista no restante do globo como
atualmente, um dos principais órgãos do governo
um local de turismo e liberdade sexual;

6 EsIMEx - 2º Semestre de 2013


federal responsável pelo desenvolvimento de estudos estes, estão a precariedade das medidas de segurança
estratégicos em torno da ameaça terrorista no Brasil. e controle no Brasil, a facilidade de ingresso em
Em parceria com outros órgãos, como a Polícia Fe- território nacional em virtude da grande extensão de
deral, o Ministério da Defesa, o Ministério da Justi- fronteiras terrestres e marítimas e a existência de
ça, o Conselho de Controle de Atividades Financei- pontos de apoio constituídos por segmentos da
ras do Brasil – Coaf, a Receita Federal e a Agência comunidade árabe-palestina nos estados de São
Brasileira de Inteligência – ABIN, no qual os setores Paulo, Pará e Rio Grande do Sul, contrários às
de inteligência desses respectivos órgãos estão inclu- políticas de paz com o Estado de Israel (acordo de
ídos, compõe o atual esquema de coordenação das Oslo).
medidas anti e contraterror no Brasil.
3.5 AS VULNERABILIDADES DO BRASIL
O terrorismo internacional é pauta constante de
O Brasil apresenta 2 (dois) tipos de
análise sistemática e pragmática da SAEI. A elabo-
vulnerabilidades: as estruturais e as conjunturais. As
ração do primeiro projeto de lei antiterror no Brasil
primeiras destacam-se pela grande extensão de
por essa Secretaria tomou força após o lançamento
fronteiras terrestres e marítimas (segundo dados do
da Estratégia Nacional de Defesa, em 2008. Esta
Ministério da Defesa, o Brasil possui 17.5 mil
prevê a ameaça terrorista em território nacional, pro-
quilômetros de fronteiras terrestres com nove
jeta o Brasil para o centro das discussões internacio-
tríplices fronteiras e 8 mil quilômetros de fronteiras
nais, lideradas por nações que já foram vítimas da
marítimas).
Al-Qaeda, do Hezbollah, do Hamas ou da Jihad Is-
As vulnerabilidades conjunturais compreendem
lâmica.
os grandes vazios territoriais sem fiscalização e
3.4 O BRASIL NO AMBIENTE TERRORISTA controle, resultado da concentracão demográfica na
Os órgãos de inteligência brasileiros, entre eles a faixa litorânea do país, a falta de um plano de
Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) e a emergência nacional contra terroristas, as
Inteligência das Forças Armadas, afirmam que não deficiências no controle de entrada, permanência e
há registros de existência de grupos, células ou saída de estrangeiros em território nacional,
atividades terroristas internacionais em território deficiências de efetivos e equipamentos nas Forças
brasileiro. Há indícios, porém, de que grupos Armadas e na Polícia Federal e obstáculos na
terroristas estejam realizando intercâmbio legislação penal brasileira, que não tipifica o crime
“técnico”com organizações criminosas ligadas ao de terrorismo.
narcotráfico, o que é possível visto que o modus Abaixo, enumeramos resumidamente alguns do
operandi dessas organizações nos recentes episódios fatores de vulnerabilidade para a ocorrência de atos
nos Estados de São Paulo e do Rio de Janeiro e de terroristas ou presença de grupos internacionais,
materiais apreendidos em algumas favelas cariocas. segundo especialistas da Polícia Federal:
Em uma sociedade globalizada, alguns fatores - densa malha viária, hidroviária,
contribuem para a ocorrência de atentados. Entre aeroportuária e portuária;

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 7


- ausência do Estado em grandes extensões Nesse sentido, Buzanelli (2010, p. 44 – 49) elen-
do território nacional e deficiências dos instrumentos cou dez situações que poderiam envolver o Brasil na
de fiscalização e controle, notadamente em área de questão do terrorismo:
fronteira; - atentado no exterior atingindo circunstanci-
- grande número de campos de pouso almente nacionais ou interesses brasileiros, como no
clandestinos ou não controlados; caso do diplomata Sérgio Vieira de Mello, morto em
- mercado financeiro estável, o que Bagdá;
possibilita a lavagem de dinheiro; - atentado no exterior contra nacionais, repre-
- crescimento de organizações criminosas sentações oficiais ou empresas brasileiras, em fun-
ligadas ao narcotráfico e ao tráfico de armas; ção do maior protagonismo do país na cena interna-
- contato destas organizações criminosas com cional;
grupos terroristas internacionais; - atentado no Brasil contra alvos tradicionais
- despreparo técnico e deficiências do terrorismo;
tecnológicas das polícias estaduais para atuar neste - atentado no Brasil por ocasião de mega e-
tipo de crime. ventos;

3.6 PERSPECTIVAS DE ATAQUE TERRORISTA - atentado no Brasil contra autoridades es-

NO BRASIL trangeiras em visita;

Os atentados terroristas ocorridos na Embaixada - atentado no Brasil contra autoridades na-

de Israel em 1992 e na Associação Mutual Israelita cionais, no caso da busca pelo autor de notoriedade

da Argentina (Amia) em 1994, ambos em Buenos súbita;

Aires, ativaram, pela primeira vez, o alerta do órgão - atentado ou sabotagem contra infraestrutura

de Inteligência do Brasil no tocante à presença e à crítica e recursos essenciais, incluso o terrorismo

atuação de terroristas na América do Sul. País sofre cibernético;

pressões para a adoção de medidas que visem a neu- - atentado contra instalações e meios de

tralizar eventuais ameaças terroristas, incluindo o transporte, abastecimento ou lazer;

aprimoramento do controle de estrangeiros e do en- - utilização do território nacional como área

vio de recursos financeiros ao exterior. de homizio, trânsito, recrutamento e captação de

As pressões internacionais para que o Brasil seja recursos; e

um parceiro ativo das grandes potências no combate - reflexos das medidas antiterroristas adota-

ao terrorismo internacional já são sensíveis e tendem das pelos países centrais.

a crescer. A participação nesse processo vai ao en- Ademais, a noção de que o Brasil é um país

contro dos interesses do País, de maior presença no pacífico, com tolerância religiosa e racial, com for-

cenário mundial, inclusive com pretensões de assen- mação multirracial, conhecido como o país do car-

to permanente no Conselho de Segurança da ONU. naval e do futebol, afastado política e geografica-


mente do foco de tensão dos grupos radicais islâmi-
cos, nada disso afastaria uma eventual escolha pela

8 EsIMEx - 2º Semestre de 2013


execução de atentados no território nacional frente discutida pelos integrantes da Comissão a agilidade
às características do terrorismo. dos órgãos de inteligência em repassar os
conhecimentos elaborados às autoridades ou
4 A INTELIGÊNCIA NO AMBIENTE DO
organizações policiais que irão efetivamente
TERRORISMO
desencadear a operação de captura e prisão. Outro
4.1 A ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA
fator de suma importância e missão da inteligência é
A inteligência no contexto de terrorismo tem
o interrogatório dos capturados sob a ótica do
como suas atribuições a obtenção, análise e
levantamento da maior quantidade possível de dados
disseminação de conhecimentos necessários para
sobre o grupo, perfil, ligações e natureza,
instrumentalizar o processo decisório nacional.
excetuando-se o aspecto criminal.
Portanto, no caso em questão, a inteligência é a
De outra forma, também ficou evidente que,
responsável pela identificação de células ou grupos
mesmo com o desenvolvimento de altas tecnologias
existentes no país, suas bases e regiões de homizio,
e dos diversos ramos da atividade que se
prováveis alvos e possibilidades de atuação,
complementam, como a inteligência de sinais e a
financiadores, ligações com organizações criminosas
inteligência geoespacial (uso de satélites), ainda
e outros segmentos da sociedade, apoiadores,
assim o trabalho de fontes humanas jamais poderá
motivações para uma ação terrorista, elaboração de
ser desprezado; ao contrário, assume de importância
conhecimentos e cenários prospectivos, entre outros.
ainda maior, pois são estas que irão processar e
Nesse sentido, um dos ingredientes de sucesso de
analisar os dados que a tecnologia nos disponibiliza.
governos na luta contra o terrorismo nacional ou
Portanto, o papel da inteligência é preponderante
internacional repousa em quatro fatores, amplamente
não apenas como prevenção na busca de dados
debatidos pela Comissão Federal dos EUA, que
objetivando a detecção e neutralização de ameaças,
analisou os episódios do 11 de setembro e apontou
mas também como ferramenta para a elaboração do
falhas no sistema: (1) confiabilidade na qualidade
planejamento tático e estratégico, subsidiando com
das análises e estimativas apresentadas por seus
informações a ação de grupos especializados e, em
orgãos ou sistema de inteligência; (2) que o produto
seu sentido mais amplo, contribuindo na construção
analítico não sofra influências políticas ou de outros
de políticas institucionais abrangentes.
interesses; (3) a real capacidade desses órgãos na
Logo abaixo apresentamos algumas variáveis
coleta, busca e análise de dados; (4) o nível de
retiradas de um Estudo de Situação de Inteligência
integração e cooperação destes, interna e
da Agência Central de Inteligência (CIA) elaborado
externamente, principalmente no que se refere ao
na década de 1970 quando a prática de grandes
compartilhamento de dados, não obstante o fato de
atentados terroristas por grupos nacionalistas. Por
que os cenários elaborados possam apresentar
sua complexidade nas técnicas de busca e coleta de
divergências, o que seria natural pela diversidade
dados, podemos avaliar a necessidade e a
cultural e entedimento de seus diversos analistas.
importância do assessoramento da área de
Nesse último item, em especial, foi amplamente

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 9


inteligência para a tomada de decisões tanto no detonador, se foram enviadas em cartas ou
plano tático como no estratégico. encomendas; se houve assaltos armados ou
emboscadas e o tipo de armamento utilizado; se
4.1.1 O levantamento de dados para análise
houve sequestro ou desvio de aeronaves, navios ou
Os elementos a serem considerados estão
outros meios; se a ação foi por incêndio criminoso,
divididos em oito variáveis, tais como características
assassinatos ou mutilação; e se a ação ocorreu por
do grupo, doutrina e tendência, base interna,
poluição química, bacteriológica ou radiológica.
características de eventos, características do meio
No que concerne a esse item em particular, consta
local, características do cenário global,
ainda a quantidade e a nacionalidade das vítimas e
interdependência, mudanças sociais e econômicas e
dos terroristas, a natureza das exigências
ambiente político.
(publicidade, libertação de prisioneiros, pagamento
Quanto às caracteristicas do grupo: é necessário
de resgate, ação ou mudança política), o alvo das
conhecer o nome da organização ou quem controla
exigências (se governos, empresas ou organizações
seus membros; país de origem e o relacionamento
internacionais) e duração dos incidentes (atitudes da
com o governo do país de origem, tamanho e
pessoas e de autoridades governamentais, até onde
extensão, lideranças e a formação de seus
foram satisfeitas as exigências dos terroristas,
integrantes no que concerne à média de idades, o
extensão dos danos e governos que concederam asilo
grau de escolaridade e qualificação profissional.
aos terroristas).
Quanto à doutrina e tendências: a tipologia básica
Quanto às características do ambiente local: tipo e
com particularidades como questões étnicas,
eficiência da repressão governamental, tradições e
religiosas, linguísticas e regionais, o nacionalismo, a
atitudes da sociedade em relação à autoridade e a
ideologia e tendência ou não ao anarquismo, a
violência, homogeneidade da população, níveis de
posição política (esquerdismo radical, comunismo
descontentamento popular e divergências internas,
ortodoxo, extrema direita ou extrema esquerda) e
nível de desenvolvimento socioeconômico,
patologias.
industrialização, urbanização, alfabetização e
Quanto à base interna são levantados dados sobre
escolaridade da população, desníveis sociais
o alcance do apoio e simpatia popular, ligação com
(distribuição de renda, restrições a mobilidade social
organizações sociais, políticas ou criminosas e
e política).
relacionamentos com outros grupos. Também são
Quanto às características do cenário global: são
necessários dados sobre as ligacões externas com
analisados aspectos do progresso tecnológico, com
outros grupos terroristas internacionais ou
armamentos sofisticados, sistemas de comunicação
transnacionais e governos estrangeiros.
(alcance e influência), comércio internacional de
No item características dos eventos busca-se
armas, ações para combater o contrabando de armas,
avaliar o local dos incidentes e a natueraza da ação.
insumos e produtos químicos disponíveis, entre
Neste último avalia-se: sequestro, tomada de reféns,
outros. Na variável interdependência são verificadas
se houve explosão e qual o tipo de carga ou aparelho
as vulnerabilidades mais recentes, os sistemas de

10 EsIMEx - 2º Semestre de 2013


transportes, centro comerciais e de comunicações, ções que se utilizam do terrorismo para difundir sua
para avaliar posteriomente a probabilidade de serem ideologia ou outros grupos fundamentalistas.
futuros alvos da ação terrorista. Aqui, busca-se Um dos principais objetivos dos líderes terroristas
identificar o surgimento de novas ideologias, é a dissimulação de suas reais intenções, sempre
insatisfações, grandes concentrações de pessoas e a manipulando a verdade, normalmente apoiados por
taxas de imigrantes legais e ilegais. um séquito de simpatizantes. O fator surpresa é a
No ambiente político são consideradas alterações única certeza que oferece vantagens para a elabora-
nas prioridades e valores da sociedade, a diluição ou ção de seus planos ocultos.
desgaste da autoridade governamental, o aumento de
4.3 A INTEGRAÇÃO BRASILEIRA DEFICIENTE
organizações internacionais e agentes estrangeiros
A integração entre os serviços de inteligência de
que poderão fornecer apoio moral e material,
diferentes órgãos civis e militares, federais e estadu-
acordos, tratados e convenções nacionais e
ais, no combate ao terrorismo no Brasil, carece de
internacionais relacionadas à atividade terroristas,
melhorias. O Exército Brasileiro (EB) ainda se rela-
comportamentao dos países que apoiam os grupos
ciona pouco com o Ministério da Justiça. O mesmo
ou células terroristas, contatos e cooperação entre
ocorre com a Polícia Federal. Os Órgãos de Segu-
grupos terroristas.
rança Pública (OSP) Estaduais, por sua vez, mantêm
A partir da análise desses dados é possível a
certa aproximação com o EB, mantendo um vínculo
utilização da técnica de estudo de cenários e torna-se
amistoso respeitoso e funcional, mas não o suficien-
mais fácil o assessoramento da inteligência na
te para permitir a integração necessária para tratar o
tomada de decisões governamentais, pois possui
assunto. Da mesma forma, o EB pouco se relaciona
potencial de uma ação terrorista futura.
com as Polícias Civis.
4.2 A CONTRAINFORMAÇÃO 4.4 A ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA NO
A contrainformação é uma das principais estraté- COMBATE AO TERROR
gias adotadas pelos serviços de inteligência que Cabe às agências de inteligência o papel primor-
combatem o terrorismo. O seu significado forma dial no que concerne à coleta de dados e a produção
uma ponte entre a manipulação da verdade e a dis- de conhecimento para combater o terrorismo. A a-
simulação por meio de estratégias que confundem, meaça terrorista necessita ser rastreada e identificada
iludem e mascaram as reais intenções de uma pesso- em tempo oportuno para que o comandante em um
a, grupo ou instituição. teatro de operações possa avaliar o grau de sua ame-
Porém, a contrainformação é também utilizada aça e decidir quanto a melhor maneira de neutralizá-
por ideólogos terroristas para obter apoio popular às la.
suas ações. Descobrir o que existe na mente de terro- A tarefa de coletar dados se tornou um paradoxo.
ristas é o maior desafio de um Estado, afinal nunca Hoje em dia a facilidade de se obter dados de pesso-
se sabe, até que seja colocado em prática, quando as e instituições contrasta com a elevada quantidade
acontecerá um novo atentado liderado por organiza- de informações disponíveis. Por conseguinte, cresce

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 11


o papel de um analista que possa filtrar e extrair o co-tecnológicas básicas: o sensoreamento, o proces-
que é relevante para as operações contraterror. Além samento e a atuação;
disso, o analista determina se o dado é fidedigno, a - o apoio de Inteligência possibilita aos co-
sua importância e o seu valor. Assim, colabora com mandantes, em todos os níveis, a manutenção da
os comandantes, facilitando o processo decisório e iniciativa das ações, conservando uma postura ;
mostrando a sua relevância ao sistema de segurança.
- o estabelecimento de Centros Nacionais
5 CONCLUSÃO Conjuntos de Combate ao Terrorismo, assim como
A partir de uma análise de risco de ameaças, em feito em países como os Estados Unidos, Reino Uni-
função das conjunturas global, regional e nacional, é do, Alemanha, França, Rússia e Áustria, adotando
plausível levantar-se a ameaça terrorista exógena, como seu ponto focal a atividade de Inteligência,
materializada por grupos terroristas transnacionais num ambiente de prevenção e combate ao terroris-
contemporâneos. Estes, normalmente de origem mo. Esses centros são organizações governamentais
fundamentalista islâmica, lançariam seus atentados a especificamente responsáveis pela análise e integra-
partir de plataformas terrestres limítrofes ao territó- ção das informações de todos os matizes, tanto refe-
rio nacional, com destaque para a região da Tríplice rentes às células terroristas, quanto às atividades
Fronteira. O conflito armado do Século XXI está básicas de Antiterrorismo, Contraterrorismo e admi-
sendo e será o Conflito Irregular Assimétrico, onde nistração de consequências pós-ataques. São conce-
se enquadra o terrorismo. Dessa forma, as ações anti bidos para operar como verdadeiros centros de Pla-
e contraterror podem ser assim definidas: nejamento de Inteligência Conjunta;
- existência de um eficiente e eficaz sistema - especial atenção deve ser dada à análise de
de Comando e Controle, por meio da integração de risco de ameaça, na medida em que se constitui no
agências governamentais e Forças Armadas, defi- documento que inicia todo o processo de planeja-
nindo responsabilidades e criando uma hierarquia de mento e execução das atividades de prevenção e
trabalhos, obedecendo ao princípio da Unidade de combate ao terrorismo. Deve responder aos Elemen-
Comando, que pode ser conferido ou a um órgão tos Essenciais de Inteligência nos questionamentos
civil ou mesmo diretamente às Forças Armadas; referentes à lideranças, motivações políti-
- esse sistema de Comando e Controle tem co/ideológicas/religiosas/étnicas, "modus operandi"
por finalidade garantir a eficácia dos trabalhos den- usuais, capacitação operacional, fonte de recursos,
tro do mais completo ambiente operacional intera- etc;
gências; - atualmente, a análise de risco de ameaça
- essa integração visa a incrementar a quali- determina um impositivo intercâmbio com agências
dade de dados e informações, resultando em uma de Inteligência de outros países; e
consciência situacional muito mais acurada e numa - deve-se determinar o Coordenador da A-
sincronização das três funções operacionais científi- ção Contraterrorista - CACT, que deve ser assesso-

12 EsIMEx - 2º Semestre de 2013


rado por um Estado-Maior específico para o ambien- REFERÊNCIAS
AMARAL, Arthur B. A Tríplice Fronteira e a Guerra ao
te operacional em que atua, a fim de manter o prin-
Terror. Rio de Janeiro: Ed. Apicuri, 2010.
cípio da Unidade de Comando.
BUZANELLI, Márcio Paulo. Palestra inaugural e debate. In:
As ameaças existentes atualmente já seriam WORKSHOP PREVENÇÃO E COMBATE AO TERRO-
suficientes para que o tema terrorismo fosse tratado RISMO INTERNACIONAL. Brasília, DF: Presidência da
no Brasil com o máximo rigor e preocupação. Toda- República, Gabinete de Segurança Institucional, 2010. p. 21 –
68.
via não é exatamente esse ambiente que se percebe.
Na verdade, o que se observa, é que mesmo no nível _____. Exército Brasileiro. Estado-Maior do Exército. IP 30-1
(reservada): Atividade de Inteligência Militar - 1ª Parte (Con-
do Governo Federal, e de uma maneira geral, na
ceitos Básicos). Brasília, 1995.
sociedade, há uma crença de que o país está imune a
esse tipo de problema. Que o território nacional está GALHARDO, Reinaldo. Fundamentalismo Islâmico e os seus
protegido por uma falsa sensação de afastamento efeitos globais: o Brasil na rota do terror? São Paulo: All

físico dos focos dos conflitos armados que se preci- Print Editora, 2012.

pitam nos cinco continentes.


KLEIN, Aaron J. Contra-Ataque. Tradução: Marilena Moraes e
Iva Sofia. Rio de Janeiro: Ed. Ediouro, 2006.

NEVES, Eduardo Borba; DOMINGUES, Clayton Amaral.


Manual de Metodologia da Pesquisa Científica. Centro de
Estudos de Pessoal. Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais: Rio
de Janeiro: 2007.

PINHEIRO, Álvaro de Souza. A Prevenção e o Combate ao


Terrorismo no Século XXI. CEE ECEME: Rio de Janeiro,
2010.

WOLOSZYN, André L. Terrorismo Global. Rio de Janeiro:


Bibliex, 2010.

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 13


O APOIO DA INTELIGÊNCIA NO LEVENTAMENTO DOS STAKEHOLDERS NAS
OPERAÇÕES DE INFORMAÇÃO
LUIZ OCTÁVIO CARVALHO DE PENNA 1
EMERSON DA SILVA MORAES 2
JOÃO GUSTAVO B. DE ALBUQUERQUE 3
PABLO OURTHE CABALE 4

RESUMO
Apresenta uma visão sobre a definição das Operações de Informação dentro de um contexto da reali-
dade brasileira, com o intuito de atender as demandas dos conflitos de Quarta Geração. Demonstra o impacto
do gramscismo na opinião pública brasileira e nos meios de comunicação tradicionais e nos virais. No decor-
rer do trabalho, apresenta uma definição da Teoria dos Stakeholders adaptada pelos autores à realidade do E-
xército Brasileiro, bem como uma visão de como trabalhar com o apoio de stakeholders para controlar o am-
biente informacional com menos custos e com maior aceitabilidade pela sociedade e pelos meios de comuni-
cação de massa. Discorre sobre como a Inteligência pode apoiar as Operações de Informação por intermédio
da produção do conhecimento e do monitoramento dos stakeholders. Discorre como seria o apoio da Inteli-
gência nesta produção do conhecimento sobre os stakeholders apoiando as Operações Psicológicas, os Assun-
tos Civis, as Operações Interagências, a Guerra Cibernética, a Guerra Eletrônica e a Comunicação Social. En-
fatiza a importância da fonte humana de Inteligência na produção de conhecimento sobre os stakeholders. Tra-
ta da viabilidade e da exequibilidade do apoio de Inteligência às Operações de Informação. São abordadas
possibilidades de atuação da Inteligência nas Operações de Informação, com enfoque nos stakeholders. Enfa-
tiza a importância dos RCN e dos EEI no levantamento de dados. Aborda a crescente importância das fontes
abertas na produção de conhecimentos sobre o stakeholders. Descreve a relevância do Apoio de Inteligência
às Operações de Informação. Para comprovar as ideias desenvolvidas ao longo do trabalho, realizou-se ampla
pesquisa. Por fim, na conclusão, analisa e ratifica as hipóteses levantadas ao longo do trabalho, enfatizando a
exequibilidade do apoio da Inteligência no levantamento e monitoramento de stakeholders, bem como a im-
possibilidade de conduzir este tipo de operação sem o apoio decisivo da Inteligência.

1 INTRODUÇÃO
O processo de globalização, ocorrido a partir do

1
fim dos anos 70, implicou, sem sombra de dúvida,
Oficial FN da Marinha do Brasil - Mestre em Ciências Navais
(EGN). em aumento dos riscos à segurança nacional, pois
2
Oficial de Engenharia do Exército Brasileiro - Mestre em passou a existir um caráter não tradicional. A situa-
Ciências Militares (ECEME). ção tornou-se ainda mais complexa depois dos ata-
3
Oficial de Artilharia do Exército Brasileiro - Mestre em
ques de 11 de setembro, que ocasionaram uma mu-
Ciências Militares (ECEME).
4
dança significativa nas relações entre as operações
Oficial do Exército da República Oriental do Uruguai.
militares e os meios de comunicação em massa, nes-
te, inclusos, os novos meios de tecnologia da infor-

14 EsIMEx - 2º Semestre de 2013


mação (TI). Este atentado, episódio que é um marco com outros atores estatais e não-estatais e que, ain-
na história da humanidade, trouxe à tona uma cruel e da, são influenciadas decisivamente pela opinião
degradante ameaça que se caracteriza por não ter pública nacional e internacional, faz-se mister con-
limites, estratégias ou objetivos definidos, mas que trolar, influenciar ou redirecionar o fluxo de infor-
se caracteriza em impactar as sociedades de forma mações em prol dos objetivos militares das forças
transnacional. que atuam, dentro e fora do Teatro de Operações.
O surgimento deste tipo de ameaça não tradicional, Não se fazem mais guerras sem o apoio da opinião
que utiliza as tecnologias da informação em escala pública. Vivemos a “ditadura da democracia”.
global para alcançar grandes massas populacionais, Restrições de ordem política, econômicas, morais e
inclui-se no que se denomina Guerras de IV Gera- legais para as forças militares podem ser controladas
ção. Thomas X. Hammes5 define como “uma com- ou relativizadas com uma bem-sucedida Campanha
plexa arena de conflito de baixa intensidade. (…). de Informações. Basta, na história recente, obser-
Abrangem o espectro político, social, econômico e varmos o caso da Guerra dos Balcãs, considerado
militar e envolvem agentes nacionais, internacionais, um dos primeiros casos de emprego moderno das
transnacionais e subnacionais”. Operações de Informação. Os líderes do governo
Por isso, as Operações de Informação têm, cada semearam o medo e a paranoia entre os sérvios-
vez mais, ocupado um papel central nos diversos bósnios, que, por sua vez, desenvolveram um ódio
Teatros de Operações pela importância crescente de violento contra os de etnia bósnia e croata na antiga
se controlar o fluxo de informações e seu impacto Iugoslávia, o que ajudou a convencer os sérvios que
nas operações militares. eles estavam, de fato, lutando pela sua sobrevivência
Um exemplo disto são as mídias sociais, em seus como um povo. Embora essas mensagens fossem
diversos vetores e a sua capacidade viral de trans- extremamente eficazes entre os sérvios, estes fracas-
missão da informação, verdadeira ou manipulada, saram em influenciar atores externos ao conflito, o
em tempo real a qualquer parte do mundo. Este am- que ocasionou sua derrota, sem que tivessem sofrido
biente favorece, cada vez mais, o “comunicador sem reveses militares significativos durante a guerra ci-
face”. vil.
Neste ambiente difuso no qual as forças militares No Brasil, a situação é ainda mais complexa. Os
estão se tornando crescentemente dependentes dos meios culturais e a mídia sofrem forte intervenção,
meios de tecnologia da informação e que têm de causada pela infiltração gramscista6. Desta forma,
atuar conjuntamente com outras forças militares e

6
Gramscismo deriva das ideias do filósofo comunista italiano
Antônio Gramsci. Procura implantar o marxismo com os ativis-
5
Guerra de quarta geração (Fourth Generation Warfare – tas comunistas se infiltrando nos meios jornalísticos, na mídia,
4GW) é o termo usado pelos analistas e estrategistas militares na religião, na política, nos meios educacionais reescrevendo a
para descrever a última fase da guerra na era da tecnologia da História e contando no lugar dela uma história mentirosa para o
informação e das comunicações globalizadas. povo pensar que o comunismo sempre foi apoiado pelo povo.

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 15


são incapazes de ver e esclarecer à população brasi- tanto, afetar as atitudes e os comportamentos do pú-
leira dos perigos que o País corre e as demandas que blico-alvo de modo a favorecer as operações milita-
têm de ser atendidas para a consecução dos Objeti- res amigas e / ou dificultar que a força inimiga ou
7
vos Nacionais Permanentes (ONP) . adversa consiga estes mesmos objetivos. Alguns
Mas mesmo o atendimento dos ONP, por mais ób- exemplos de atividades de Operações de Informação
vios que sejam, são relativizados pelos óbices cria- incluem contatos com stakeholders,, distribuição de
dos. Estes óbices podem ser caracterizados pela produtos como panfletos e folhetos, ACISO, conta-
atuação de ONGs, grupos ambientalistas, movimen- tos e entrevistas com órgãos da imprensa, anúncios
tos de pressão, dentre outros. Essas organizações pela televisão e rádio, disseminação de informações
procuram respaldo em temas de grande aceitação pela internet e qualquer outra atividade que promova
popular e, muitas vezes, atendendo aos objetivos de a disseminação de informações e, principalmente, de
outras nações, com o intuito de criar uma opinião ideias.
pública contrária à consecução dos ONP. As opera- Desse modo, as Operações de Informação encetam
ções militares não fogem desta realidade. uma gama variada e diversificada de atividades mul-
Nos conflitos de Quarta Geração é fundamental a- tidisciplinar que contribuirão para a identificação,
tuação preventiva, com o intuito de neutralizar a exploração, análise e sensibilização dos públicos
propaganda adversa e obter atitudes positivas da alvos. Embora ainda não haja uma visão totalmente
opinião pública para com as operações militares, consolidada no Ministério da Defesa Brasileiro, po-
neste ambiente operacional caracterizado por ser demos incluir as seguintes atividades militares que
extremamente sensível e complexo. darão suporte as Operações de Informação:
A segunda guerra do Golfo foi o palco para o de- • Informações Públicas (Comunicação Social);
senvolvimento de uma nova doutrina para gerenciar • Operações Psicológicas;
o processo de obtenção do domínio da informação, • Guerra Cibernética;
denominada Operações de Informação. • Inteligência;
A despeito de ainda não haver um consenso do que • Guerra Eletrônica;
sejam Operações de Informação no Exército Brasi- • Operações Interagências;
leiro, pode-se considerar as Operações de Informa- • Assuntos Civis
ção como o conjunto de atividades empreendidas por Pode-se observar que as Operações de Informação
atores militares e não militares para formar uma são complexas e multidisciplinares. Mas, existe um
concepção básica do conflito ou da situação e, por- componente que é a base de todas as Operações de
Informação que é o ser humano, haja vista que este é
o ente a ser influenciado.
7
De acordo com a doutrina da Escola Superior de Guerra,
As Operações de Informação necessitam de conhe-
Objetivos Nacionais Permanentes (ONP) são objetivos nacio-
cimentos para serem planejadas e conduzidas. Nesse
nais que perduram no tempo. São seis: Democracia, Soberania,
Paz Social, Progresso, Integração Nacional e Integridade do quesito a inteligência contribuirá por intermédio da
Patrimônio Nacional" obtenção, em operações de inteligência, na coleta,

16 EsIMEx - 2º Semestre de 2013


nas fontes de qualquer natureza, com especial aten- sistematizado das Forças Adversas
ção as novas mídias e ao ambiente cibernético. O A obtenção de dados que atendam os indicadores
processamento rápido dos dados obtidos, sua poste- de impacto levantados nos Planos de Campanhas e
rior análise e difusão oportuna, permitirão aos Co- no Plano de Comunicação Social é outra contribui-
mandantes que conduzem as Op Info a possibilidade ção da Atividade de Inteligência nas Op Info.
de trabalhar novos públicos-alvo e a explorar capa-
cidades críticas do adversário. 3 OS STAKEHOLDERS E AS OPERAÇÕES DE
INFORMAÇÃO
2 O PROBLEMA O termo inglês stakeholder designa uma pessoa,
As Operações de Informação são complexas e mul- grupo ou entidade com legítimos interesses nas a-
tidisciplinares. Além da necessidade de integração ções e no desempenho de uma organização ou soci-
de diversos atores, elas ainda estão sujeitas ao ampa- edade e cujas decisões e atuações possam afetar,
ro legal brasileiro e pela limitação de meios, doutri- direta ou indiretamente, essa outra organização ou
na e estruturas do Exército Brasileiro. sociedade. Estão incluídos nos stakeholders os fun-
O grande questionamento na condução das Op Info cionários, gestores, proprietários, fornecedores, cli-
é como impactar o componente humano de uma entes, credores, Estado (enquanto entidade fiscal e
forma mais eficaz e com poucos recursos? As em- reguladora), sindicatos e diversas outras pessoas ou
presas já se utilizam da Teoria dos Stakeholders a entidades que se relacionam com a organização ou
mais de trinta anos para realizar ações com cunho que tenham impacto sobre suas ações.
similar, seja para vender um produto, seja para esva- Para que se possa entender a influência e o alcance
ziar grupos de pressão. do poder de influenciação destas pessoas ou organi-
Questiona-se, então, como a Inteligência pode atu- zações, tratar-se-á superficialmente sobre a Teoria
ar de forma a contribuir decisivamente para as Ope- dos Stakeholders, para que se possa entender como
rações de Informação, atuando sobre este componen- estas pessoas ou organizações são importantes para
te fundamental, os stakeholders, favorecendo nossas as Op Info e como a Inteligência pode apoiar as Op
operações militares, dentro e fora do Teatro de Ope- Info atuando sobre os stakeholders.
rações, e tornando o ambiente psicossocial hostil às Em 1984, Freeman publicou o livro Administração
forças adversas? estratégica: a abordagem da parte interessada, no
Diante do problema a Inteligência pode contribuir qual definiu stakeholder como “qualquer grupo ou
para as Operações de Informação levantando dados indivíduo que foi afetado ou pode afetar a realização
negados sobre stakeholders que possam impactar dos objetivos da organização”. Como observado
nas operações, permitindo assim o levantamento de pelo autor, esse objetivo refere-se à sobrevivência da
indicadores de impacto previstos nos planos. organização. Para ele, cada organização possui sta-
Verifica-se também a adequabilidade do emprego keholders específicos. Essa deve identificá-los e
da Inteligência como um meio de neutralização das incluir seus interesses em suas decisões estratégicas.
ações adversas, por meio de um acompanhamento

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 17


O termo stakeholder apareceu, pela primeira vez,
no trabalho do Standard Research Institute – SRI
Mídias Comando da
(agora SRI International) na década de 1960, e esse tradicionais e Operação
Poder Judiciário

trabalho via o apoio dos stakeholders como um dos cibernéticas


Comunidade
principais componentes do sucesso de uma empresa. Escalão Superior local

A Teoria dos Staheholders é hoje universal nas Agências


ONU e suas Governamentais
empresas. Os críticos não a desconsideram, mas a- agências
Operação
penas apresentam formas diferentes de interpretá-la. Governos
Militar
ONGs sociais e Estrangeiros
Estas pessoas ou instituições têm a capacidade de
ambientais
direcionar ou influenciar o comportamento e as ati- Governo
Empresas
Brasileiro
tudes de muitas outras, gerando um efeito compor- terceirizadas

tamental exponencial. Militares Comunidade


Fornecedores envolvidos Internacional
Embora os conceitos sejam inicialmente semelhan-
Figura 01 – Modelo da Teoria dos Stakeholders de Frelman,
tes, o stakeholder é muito diferente de um líder. Na
adaptado pelo autor para a realidade de uma operação militar
verdade, o primeiro abrange e engloba o segundo.
Fonte: os autores.
Dentro do arquétipo militar é muito comum esta
Os stakeholders estão efetivamente envolvidos na
associação. O líder é um stakeholder, mas a maioria
operação, seja de forma direta, seja de forma indire-
dos stakeholders não são líderes. Inclusive, um líder
ta. Eles têm interesses que podem ser positivamente
pode ser influenciado por diversos stakeholders. Um
ou negativamente afetados pela execução da opera-
comerciante, um médico ou mesmo uma instituição
ção. Eles podem, ainda, exercer influência sobre a
ou empresa, podem ser stakeholders. Qualquer pes-
obtenção dos materiais de emprego militar necessá-
soa ou entidade que impacte nossas operações é um
rios às operações, sobre os membros do estado-
stakeholder.
maior, sobre as tropas ou sobre a capacidade de atu-
Num ambiente de operações militares de quarta ge-
ação da opinião pública.
ração existem relações de interdependência entre
Podemos verificar que são diversos os stakeholders
estes diversos componentes (stakeholders) e a tropa.
e que é difícil harmonizar todos os interesses em
Estas relações são marcadas por influências recípro-
jogo. Os stakeholders internos são a cadeia de co-
cas que resultam em um maior ou menor impacto
mando, o estado-maior, os comandantes de fração,
nas operações. Esta reciprocidade deve ser estudada
oficiais em geral, praças em funções chaves, além
e o decisor deve ter mecanismos para mudar esta
das lideranças no seio da tropa. Já os stakeholders
influência recíproca quando ela é considerada desfa-
externos são todos aqueles que podem influenciar a
vorável.
atuação de uma determina tropa em operações. Po-
Apenas como forma de se vislumbrar o emprego
dem ser desde políticos até integrantes de determi-
desta Teoria nas operações militares, a figura abaixo
nada comunidade.
ilustra os possíveis stakeholders macro de uma ope-
ração militar:

18 EsIMEx - 2º Semestre de 2013


4 A INTELIGÊNCIA, STAKEHOLDERS E O- das nas operações. A adoção dessas medidas permi-
PERAÇÕES PSICOLÓGICAS tirá o julgamento de quem são os principais stake-
O impacto das ações psicológicas num cenário de holders com base em sua capacidade de influênciar
conflito de 4ª Geração é saturado pela atuação dos nas operações. A partir daí, será necessário priorizar
mais diversos stakeholders. as Op Psc com foco nos stakeholders com capacida-
De acordo com o Departamento de Defesa dos Es- de de influenciar nas operações.
tados Unidos, as Operações Psicológicas são o nú- É sempre necessário preparar um plano de acom-
cleo central (core) das Op Info. No entanto, as Op panhamento dos stakeholders. Este plano seria geri-
Psc estão intimamente ligadas à Inteligência, pois do pela célula de Info. As campanhas de Op Psc
sem a qual é impossível planejar e conduzir um Pla- incluiriam estas pessoas como públicos-alvo priori-
no de Campanhas bem sucedido. tários, seja para reforçar sua influência, seja para
As Op Psc exigem um planejamento prévio e mi- eliminar ou reduzir sua capacidade de influenciação,
nucioso, muitas vezes demorado. Essas operações de acordo com os objetivos da operação.
devem estar integradas no planejamento do maior A Inteligência deve acompanhar continuamente os
escalão das forças militares presentes no Teatro de stakeholders que influenciam os públicos-alvo espe-
Operações. cificados nos planejamentos para manter o conheci-
Dessa forma, faz-se mister realizar um levantamen- mento sobre os stakeholder atualizado. Outro produ-
to dos stakeholders presentes na operação. A célula to que a Inteligência pode fornecer às Op Psc, num
de Op Info deverá levantar quais são os interesses contexto de Op Info, é o de oferecer um feedback
envolvidos, quem será impactado e quem poderá sobre as reações do grupo de controle sobre o resul-
impactar as operações. tado obtido com as mensagens de Op Psc e se houve
A partir daí, é necessário categorizar os stakehol- mudança no comportamento dos stakeholders moni-
ders. Um exemplo de como se faria isto seria separá- torados. A atuação afinada e pontual da estrutura de
los por categorias, identificando seu trabalho, res- intelgiência nas operações, oferecendo os conheci-
ponsabilidades, área de atuação, pessoas influencia- mentos necessários e oportunos com a Turma de
das, capacidade de impacto nas operações. Para i- Avaliação do Destacamento de Operações Psicoló-
dentificar seu papel e responsabilidades, dever-se-á gicas se reveste de fundamental importância para as
criar um Repertório dos Conhecimentos Necessários Operações em curso. Além disso, a Inteligência pode
para facilitar o monitoramento de cada categoria de obter preciosos dados por intermédio de interrogató-
stakeholders, e por conseguinte produzir conheci- rios de prisioneiros de guerra, elementos adversos
mentos sobre esses públicos. presos, desertores das forças amigas que depois de
Com estes conhecimentos em mão, a célula de Op analisados e sintetizados servirão para avaliar, pla-
Info poderá iniciar um planejamento de como atuar nejar e executar operações psicológicas em tempo
para reforçar comportamentos desejáveis, ou para real e verificar a eficácia das operações em curso,
evitar ou limitar sua capacidade de impacto negativo bem como atualizar o quadro sobre os principais
ou ainda para realizar a gestão das partes interessa- stakeholders.

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 19


Os planejadores de Op Psc devem envidar esforços 5 OPERAÇÕES INTERAGÊNCIAS
para suas necessidades de inteligência sejam difun- Segundo o Manual MD 33 M-12 (2012), “Agên-
didas as estruturas de inteligência de forma oportuna cia” é uma organização ou instituição com estrutura
de modo que os dados possam ser buscados, proces- e competência formalmente constituídas, podendo
sados e difundidos em tempo hábil. Quando apropri- ser governamental ou não, militar ou civil, nacional
ado, os operadores psicológicos também devem i- ou internacional. Seguindo o citado conceito, as “O-
dentificar as lacunas de conhecimento para que ge- perações Interagências” são a interação das Forças
rem outras necessidades de inteligência para reorien- Armadas com outras agências com a finalidade de
tar o esforço de busca das fontes de diversas nature- conciliar interesses e coordenar esforços para a con-
zas para a produção de conhecimentos relevantes e secução de objetivos ou propósitos convergentes que
oportunos sobre os stakeholders. atendam ao bem comum, evitando a duplicidade de
O Oficial de Inteligência do grande comando em ações, a dispersão de recursos e a divergência de
presença na área de operações também pode auxiliar soluções com eficiência, eficácia, efetividade e me-
o oficial responsável pelo planejamento das Op Psc- nores custos.
na preparação do Plano de Busca, principalmente na A Inteligência pode contribuir para as Operações
definição dos Elementos Essenciais de Inteligência Interagências buscando dados e produzindo conhe-
que tenham requisitos específicos e, após a consoli- cimentos sobre stakeholders que tenham potencial
dação e das informações obtidas, pode auxiliar na para impactar ou até impossibilitar a realização des-
produção de conhecimentos atinentes aos stakehol- sas operações.
ders. A Força Terrestre (FT) pode operar em Operações
Não há hoje nenhum estudo no Brasil que quantifi- Interagências como única força armada presente ou,
que em estatística qualitativa e quantitativa os im- também, em Op Cj coordenada pelo Ministério da
pactos da atuação integrada da Inteligência com as Defesa (MD). Atualmente, por imposição do próprio
Operações Psicológicas. Com a criação do Sistema MD, as ações da FT são, em sua maioria, de forma
Operacional Informação alguns estudos estão em conjunta com as outras forças, o que caracteriza essa
andamento, mas, de acordo com a pesquisa realizada forma como a maior probabilidade de emprego em
pelos autores deste trabalho, nenhum aborda a sis- Op Interagências.
temática de como se daria esta integração. Não há, O conceito de processo interagências estabelece
pois, medidas de eficácia comprovadas desta inte- uma visão clara de orientação de esforços visando a
gração. alcançar objetivos convergentes. Durante uma Ope-
A abordagem das Op Psc enfocando os stakehol- ração Interagências, os stakeholders podem impactar
ders diminui as limitações legais e materiais impos- o desenrolar dessa operação, atuando sobre os meios
tas ao Exército Brasileiro e permite um apoio inte- de comunicações. Um stakeholder pode, facilmente,
gral da Inteligência às Op Psc num contexto de Op ser oriundo da mídia televisiva, impressa ou radio-
Info. fônica, atividades que geralmente são exercidas por
fortes formadores de opinião.

20 EsIMEx - 2º Semestre de 2013


A inteligência pode levantar com antecedência, divíduos influentes, podem ser realizadas por um
desde que devidamente orientada, os dados de sta- trabalho sistemático de Inteligência visando a obten-
keholders dos meios de comunicação que tem poten- ção dos dados necessários dos stakeholders dentro
cial para prejudicar as Operações Interagências. Da das ONG. Após a obtenção dos dados necessários,
posse dos conhecimentos produzidos a partir dos as Op Psc podem atuar visando a influenciar o pen-
dados obtidos o comando da operação pode agir samento do stakeholder menos sensível, para que ele
sobre esse formador de opinião de várias formas. deixe de prejudicar a operação.
Uma dessas formas é utilizar as Operações Psicoló- Dentre as Operações Interagências, destacam-se as
gicas para influenciar o pensamento do stakeholder, Operações ÁGATA, que têm atuado em toda a faixa de
fazendo com que ele atode atitude de apoio a opera- fronteira brasileira, com intuito de combater os delitos
ção. Outra forma é utilizar a Guerra Cibernética para transfronteiriços e ambientais. Atualmente, já está em
evitar as transmissões de mídia que prejudicam as sua sétima edição.
ações do Comando Cj.
As ONG são outros atores que poderão atuar em
uma operação interagências. Essas organizações têm
como características sua independência, sua diversi-
dade e sua flexibilidade. Elas possuem uma capaci-
dade de responder rápida e eficazmente às crises,
contribuindo na reduzição as demandas de recursos
Fig 02 - Militares do Exército Brasileiro em atuação
que são necessários para a operação.
na “Operação Ágata 7” na fronteira sul do país.
As organizações não governamentais, geralmente,
Fonte: http://www.forte.jor.br/category/noticiario-nacional/, em 31/05/2013
possuem vários contatos locais na área de operações
Diante do exposto, a Inteligência deve contribuir
e, por esse motivo, são uma valiosa fonte de dados
na Operação Interagência por meio de um trabalho
sobre as atitudes do governo local e da população
sistematizado, com o objetivo de reduzir as incerte-
durante uma Operação interagências. O EM Cj deve
zas do comandante sobre os stakeholder que atuam
explorar o conhecimento dessas organizações, jun-
nesse ambiente operacional. Também é importante
tamente com o de outras agências presentes na área
ferramenta de apoio ao processo decisório ao ofere-
de operações com a finalidade de levantar e identifi-
cer os conhecimentos necessários para que o Cmt,
car problemas locais que devem ser levados em con-
por intermédio das Op Psc possa mudar atitudes e
ta no contexto das Op Interagências.
comportamentos dos stakeholders.
Entretanto, a obtenção de dados disponíveis nas
6 ASSUNTOS CIVIS
ONG deve ser realizada sempre com ressalvas, pois,
Os países da Organização do Tratado do Atlântico
quase sempre existem stakeholders dentro dessas
Norte possuem um conceito doutrinário com relação
organizações que possuem imensa influência em
à missão dos Assuntos Civis, o qual é definido como
uma determinada localidade e que podem prejudicar
“apoio ao relacionamento do Comandante com as
as operações interagências. A identifição desses in-

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 21


autoridades civis e população civil, a promoção da seus líderes por parte da tropa lá empregada. Erros
legitimidade da missão e o aumento da eficácia das de avaliação em um ambiente de Op Paz podem le-
operações militares”8. var ao fracasso militar.
As operações desenvolvidas pelos exércitos mais Em 2011, a Comissão Especial de Operações de
operativos do Mundo têm XXXX lições aprendidas Manutenção da Paz de Nações Unidas concordou em
a cerca da importância dos Assuntos Civis para o referenciar a função de Assuntos Civis pela primeira
sucesso dessas operações. vez em um relatório legislativo, reconhecendo o
O conceito atual de assuntos civis para apoiar a importante papel dos oficiais de Assuntos Civis nas
administração civil foi originado em operações rea- operações de Manutenção da Paz, inclusive, através
lizadas pelos governos militares instituídos durante a de representações cruzadas, monitoramento e facili-
II Guerra Mundial e no período pós-guerra. Forças tação ao nível local, apoio a construção de confian-
de Assuntos Civis foram criadas para ajudar as for- ça, gestão de conflitos, reconciliação e apoio à res-
ças aliadas a governar a Alemanha durante o período tauração e ampliação da autoridade do Estado. A
de ocupação. Para cumprir essa missão, o Exército Comissão Especial destacou que a implementação
recrutou oficiais de Assuntos Civis diretamente na bem sucedida de muitos mandatos de operações de
população civil para aproveitar do seu conhecimento manutenção da paz exige ligação consistente com o
do campo operacional. governo local, com a população e, salienta ainda, a
Desde o fim da II Guerra Mundial existiram nume- inclusão de pessoal local em componentes de Assun-
rosos exemplos dessas operações relacionadas à re- tos Civis.
construção do aparato de governo. As agências de Inteligência e Seções de Assuntos
Os Estados Unidos da América provocaram uma Civis podem ser beneficiadas pela troca de conheci-
mudança significativa no panorama dos Assuntos mentos sobre os stakeholders que atuam numa de-
Civis, com a criação da Agência dos Estados Unidos terminada sociedade. Esta colaboração pode condu-
para o Desenvolvimento Internacional (USAID). zir a operações conjuntas ou a uma colaboração mais
No entanto, as experiências das unidades de assun- estreita, porque pode manipular os atores para bene-
tos civis que operaram em ambientes não conven- fício de ambas e para o cumprimento da missão atri-
cionais, como nas missões de paz sob a égide das buída ao Comandante do Teatro de Operações.
Nações Unidas no Congo e no Haiti, também de- Os projetos desenvolvidos pela Seção de Assuntos
monstraram que as missões das unidades de Assun- Civis serão, normalmente, de interesse para os líde-
tos Civis é diferente nessas operações, onde é muito res locais e para a população em geral, gerando ain-
importante ganhar a confiança da população e de da mais atração aos stakeholders.
Essas premissas são validas tanto para as Opera-
ções de Combate como para as Operações de Manu-

8
tenção da Paz.
Manual de Campanha do Exercito de EE.UU. 41-10, Civil
Affairs Operations. (Washington, DC: Imprensa do Governo Na determinação e individualização dos atores faz-
dos EE.UU., Janeiro de 1993), págs. 1-1 se mister fazer um levantamento do Ambiente Ope-

22 EsIMEx - 2º Semestre de 2013


racional, o qual inclui os aspectos psicossociais, cul- operações, a Inteligência também pode contribuir,
turais, sociais, econômicos, políticos, religiosos, fornecendo conhecimentos sobre stakeholders que
dentre outros da população da região que se está atuam no espaço cibernético. Esses conhecimentos
operando. O levantamento sistemático de dados, deverão ser XXXX para as estruturas de Guerra Ci-
pelas estruturas de inteligência e a produção de co- bernética que poderão explorar as deficiências desse
nhecimento a cerca do ambiente operacional e dos adversário. Normalmente stakeholders que atuam no
atores, permitirá a melhor individualização do efeito ambiente cibernético, isoladamente, ou ainda, coor-
das ações sobre os stakeholders da sociedade e por denando e influenciando grupos de hackers.
conseguinte, impactando toda sociedade. Os grupos de hackers visam a atacar quase todo o
É importante a colaboração entre as Agencias de tipo de redes, como as de governos, de empresas
Inteligência e as Seções ou organismos criados para públicas ou privadas, de particulares e de instalações
atuar em Assuntos Civis, ambos têm a estrutura ade- militares. A finalidade desses ataques é, principal-
quada para trabalhar conjuntamente e compartilhar mente, prejudicar as expressões econômica, científi-
conhecimentos para obter um melhor resultado na co-tecnológica, política, militar e psicossocial de um
condução de ações que dêem legitimidade a missão país.
e incremente a eficácia das Operações Militares. Atualmente, a pirataria cibernética está dissemina-
Eles podem ser utilizados como fonte de dados e ou da, entre todas as classes e níveis sociais, favorecen-
conhecimentos e proporcionar enlace. do a influência de stakeholders sobre um maior nú-
7 GUERRA CIBERNÉTICA mero de pessoas, as quais são recrutadas como hac-
Segundo a Doutrina Militar de Comando e Contro- kers. O recrutamento visa a realizar ataques ciberné-
le, a Guerra Cibernética corresponde ao uso ofensivo ticos, os quais se tornaram uma arma de guerra com
e defensivo de informação e sistemas de informação capacidade de atuação em todo o mundo.
para negar, explorar, corromper ou destruir capaci- A inteligência da fonte cibernética tem condições
dades de C² do adversário. Compreende ações que de monitorar o espaço cibernético, visando reconhe-
envolvem as ferramentas de Tecnologia da Informa- cer e vigiar a “ameaça hacker”, suas redes e os sta-
ção (TI) para desestabilizar os Sistemas de Tecnolo- keholders que as influenciam. Após o levantamento,
gia da Informação para C² (STIC²) do oponente e a inteligência poderá produzir conhecimentos sobre
defender os próprios STIC². A oportunidade para o esses indivíduos. Utilizando esses conhecimentos, as
emprego dessas operações ou a sua efetiva utilização Operações Psicológicas poderão atuar sobre as ame-
será proporcional à dependência do oponente em ças / forças adversas com a finalidade de mudar-lhes
relação a TI. o comportamento ou a posição ideológica. Nesse
A Guerra Cibernética engloba o ataque a redes de contexto a Guerra Cibernética, também, terá condi-
computadores, a proteção contra ataques e a explo- ções de realizar uma engenharia social ou uma cam-
ração dessas redes para fins de produção de conhe- panha de “trollagem” sobre os referidos stakehol-
cimento de Inteligência, atuando, basicamente, na ders.
esfera das Operações de Informação. Dentro dessas

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 23


Os stakeholders podem estar dentro da imprensa e 8 GUERRA ELETRÔNICA
dos meios de comunicações, influenciando as emis- No combate moderno, verificam-se mudanças no
sões e, dessa forma, prejudicando operações conjun- cenário de um conflito armado, pois este ficou muito
tas, interagências ou da própria Força Terrestre. mais dinâmico e abrangente, onde a informação flui
Os peritos norte-americanos já criaram o termo com muito mais rapidez, sem restrição das distâncias
"cybergedon", ou apocalipse cibernético, o qual po- envolvidas.
deria acontecer quando uma sociedade muito avan- Como se pode observar, a importância desta infor-
çada, na qual tudo de importante é dependente dos mação que flui pelo ambiente operacional já vem
computadores, fosse sabotada. Essa sabotagem seria sendo destacada por grandes pensadores do passado,
conduzida por hackers influenciados por algum sta- como é o caso de Sun Tzu (544-496 AC) e Clause-
keholder, e destruiria quase toda a infrainstrutora, da witz (1780-1831), que já valorizavam este relevante
referida sociedade. Se os EUA sofrerem um ataque fator de força. Isto está constatado quando Sun Tzu
cibernético em seu território, o governo do país po- (2006, p.28), afirma que “se conhecermos nossas
derá responder com um contra-ataque cibernético, forças, mas não as do inimigo, para cada vitória te-
ou uma resposta militar tradicional. remos uma derrota. Se conhecermos o inimigo e a
A infraestrutura e a tecnologia de segurança ciber- nós mesmos, não precisamos temer o resultado de
nética no Brasil estão desatualizadas, contribuindo uma centena de combates”.
para a ação dos hackers. Aproveitando a situação, os Fica desta forma ressaltada a importância da posse
stakeholders podem influenciar algum grupo de da informação para proporcionar um melhor desem-
hackers, os quais canalizariam seus ataques ciberné- penho das tarefas, tanto em épocas passadas como
ticos contra a infraestrutura nacional, o governo ou no mundo moderno. Mas o que significa este termo
alguma operação militar. informação? Dentre várias publicações existentes, a
Atualmente, o Brasil é uma das principais fontes de publicação conjunta 6-0 (UNITED STATES, 1995,
ataques cibernéticos do mundo. Essa situação justifi- p. I-4) diz que a informação é originada de um dado
ca as precauções do governo e do CDCiber do Exér- coletado do ambiente, devendo ser interpretada e
cito Brasileiro com a Defesa Cibernética durante os empregada corretamente. De forma sucessiva, há um
grandes eventos, que o país sediará até 2016. processo que é iniciado com o dado que, ao ser tra-
Dentro de uma Op de Informação, o CDCiber utili- tado, torna-se uma informação. Aplicada a uma me-
za o Destacamento de Defesa Cibernética, o qual todologia, ela se transforma em conhecimento, sobre
pode apoiar uma operação em qualquer parte do ter- o qual é realizado um julgamento para, finalmente,
ritório nacional, desenvolvendo a Guerra ou Defesa resultar na compreensão.
Cibernética. Esse destacamento irá atuar nos grandes Fica marcante também neste cenário, o avanço tec-
eventos na célula das Op de Informação juntamente nológico dos meios envolvidos, meios estes que, no
com a Inteligência, contribuindo na identificação e caso do tema abordado, realizam emissões eletro-
monitoramento dos stakeholders que possuam aces- magnéticas, deliberadas ou acidentais, como os rada-
so a importantes sistemas computacionais. res e os sistemas de radiocomunicações. Tais emis-

24 EsIMEx - 2º Semestre de 2013


sões podem ser exploradas e vir a tornar-se objeto de Dessa forma, o sistema de GE operacionaliza todas
interesse para o sistema de inteligência, podendo as atividades relacionadas à exploração do espectro
representar uma importante fonte de obtenção de eletromagnético, em proveito do Sistema de Inteli-
dados. gência, compondo com as demais fontes o quadro
Estas emissões constituem uma das fontes de dados operacional dos stakeholders. Cabe ressaltar que o
utilizadas pela Atividade de Inteligência, que é a emprego imediato de seus produtos se adéqua à sua
fonte de sinais, a qual fornece dados mediante o uso relevante aptidão para monitorar as ações dos stake-
de sensores eletrônicos, na exploração do espectro holders, ou seja, manter constante vigilância sobre
eletromagnético. Esta ação de explorar o espectro e suas ações, por cujo intermédio, o Sistema de Inteli-
de tirar proveito das emissões é realizada pela Ativi- gência recebe grande quantidade de informações
dade de Guerra Eletrônica (GE), que segundo o ma- passíveis de serem integradas às demais fontes de
nual C 34-1(BRASIL,1999, p. A-6), a define como: dados para a produção de conhecimento e delinea-
“o conjunto de ações que visam assegurar o mento do cenário operacional.
emprego eficiente das emissões eletromag-
néticas próprias, ao mesmo tempo em que Pode-se notar que é totalmente viável o suporte da
buscam impedir, dificultar ou tirar proveito
das emissões inimigas”. Inteligência às ações de GE num contexto de Op
Dessa forma, verifica-se que a Atividade de Inteli- Info, com foco nos stakeholders.
gência e a Atividade de GE estão estritamente rela- 9 COMUNICAÇÃO SOCIAL
cionadas, onde tanto uma quanto a outra podem con- Com o avanço tecnológico, o surgimento de redes
tribuir reciprocamente na obtenção de dados sobre globais de relacionamentos e de meios que favore-
stakeholders que podem impactar ou até impossibili- cem a divulgação instantânea da informação, fica
tar que determinadas operações sejam realizadas. marcante a evolução do processo de comunicação
Observa-se que a cada dia que passa fica mais níti- entre os membros de uma sociedade, possibilitando,
do que quem detém a informação está mais fadado a assim, um maior acesso destes à informação e con-
ter sucesso em seus objetivos e esta informação têm seqüentemente, influenciando seus comportamentos
que ser transmitida por algum meio, ou seja, sempre diante de temas potencialmente sensíveis, ligados à
tem um emissor e um receptor, e quando o espectro defesa nacional e à segurança da população. Com
eletromagnético é o ambiente por onde são trafega- isso, constata-se que o poder e a influência da opini-
das estas informações, cresce de importância a ativi- ão pública no contexto atual são latentes, marcantes
dade de GE, que possui a capacidade de explorar e, em muitos casos, decisivos para respaldar deci-
estas emissões e a partir daí apoiar de forma mais sões político-militares, e desta forma, o posiciona-
efetiva o decisor no cumprimento de sua missão. mento da opinião pública é um fenômeno cada vez
A GE atua diretamente relacionada com as ativida- mais estudado pelos governos e forças armadas.
des de Inteligência, reconhecimento e vigilância para Nos recentes conflitos, os correspondentes de guer-
levantar os stakeholders, que por serem fortes for- ra das grandes redes de comunicação vêm transmi-
madores de opinião, atuam diretamente nos meios de tindo, instantaneamente, os efeitos da guerra direto
comunicações presentes no ambiente operacional. dos campos de batalha para todo o mundo, assim

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 25


imagens e notícias não só informam, mas também contecimentos de uma determinada campanha mili-
influenciam e manipulam o comportamento da opi- tar são vistos quase que instantaneamente, e decor-
nião pública. Nesse contexto, os exércitos necessi- rente disto, as pessoas formulam suas opiniões e as
tam atuar pró-ativamente e manter a sociedade e os expressam rapidamente, influenciando outras e mais
públicos-alvo de interesse, informados dos objetivos outras, formando verdadeiras redes. Diante deste
e das operações em curso, sem no caso, deixar de fato, cresce de importância a opinião pública no pla-
observar o sigilo necessário para não comprometer o nejamento das operações militares, ficando a cargo
sucesso das operações. das Com Soc a responsabilidade de explorar da me-
A Comunicação Social (Com Soc) em operações lhor forma esta variável.
militares, apesar de não ser algo novo, é produto da Com isso, para que se possa obter o apoio desta o-
crescente necessidade, por parte das Forças Arma- pinião pública para nossas ações, tem que fazer um
das, de obter o apoio da opinião pública nacional e trabalho em cima deste público-alvo formador desta
internacional e de assegurar a coesão das tropas. opinião, com o intuito de atraí-los para nossa causa,
Nesse contexto, a opinião pública é considerada um e neste momento a figura dos stakeholders aparece e
fator de decisão, porque influencia o planejamento são ferramentas de fundamental importância para se
militar em todos os níveis – estratégico, operacional conseguir nosso intuito.
e tático – e interfere na escolha e na definição das Com a exploração destes stakeholders em nosso
estratégias e opções militares. Isso fica constatado favor, aliado ao fato da necessidade de integração da
pelo que prevê o manual C 45-1(BRASIL, 2009, p. Com Soc com as outras atividades de apoio, como a
1-2 e p. 4-8), quando diz que: Op Psico, a GE e a Inteligência, buscando a sinergia
“A Opinião Pública é um dos fatores pre- nas atividades, verifica-se que a Com Soc atua proa-
ponderantes a ser considerado no proces-
tivamente no seu propósito, que é de dar a notícia
so decisório. A obtenção de dados sobre a
que interessa à Força antes de ser surpreendido pela
Opinião Pública pode ser realizada por
meio de pesquisa a qual servirá de base notícia que não interessa e assim constata-se que a
para o planejamento das atividades de Com Soc atua diretamente relacionada com as Ope-
Com Soc.” rações de Inteligência na exploração dos stakehol-
“Os planejamentos operacionais devem
ders.
considerar mais esse fator – “Opinião Pú-
10 CONCLUSÃO
blica” – para o sucesso da operação.”
“Durante o planejamento do emprego da O presente trabalho teve por objetivo verificar co-
Força devem ser analisadas as conseqüên- mo a Inteligência poderia apoiar as Operações de
cias e repercussões da manobra a executar Informação por intermédio de sua atuação sobre os
perante a opinião pública local, nacional e
stakeholders.
internacional.”
Pelas razões apresentadas ao longo do trabalho, as
Observa-se nos tempos modernos, que com o a-
Operações de Informação são vitais para a atuação
vanço dos sistemas de comunicações, as informa-
de qualquer força tanto em um conflito de Quarta
ções são passadas com muito mais rapidez e os a-
Geração quanto em um contexto de guerra conven-

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cional. Não se faz nenhuma ação militar sem superi- ar as Op Info. Com a superlativação das redes soci-
oridade de informações. ais, cada vez mais a fonte cibernética se torna priori-
As Operações de Informação já são uma realidade tária.
para o Ministério da Defesa. O Exército Brasileiro já O levantamento dos stakeholders pode apoiar
criou o Sistema Informações. No entanto, até o mo- qualquer ramo das Op Info. O ser humano é a única
mento, não há uma doutrina esse sistema. Sabe-se da constante em qualquer sistema.
experiência de outros exércitos, particularmente o A Inteligência pode apoia as Op Info fornecendo
dos Estados Unidos, mas esta não se aplica à reali- conhecimentos precisos, oportunos e relevantes so-
dade brasileira. bre os stakeholders no ambiente operacional. Os
Assim, uma eventual abordagem das Operações de conhecimentos produzidos pelos analistas de Inteli-
Informação pelo Exército Brasileiro terá que consi- gência são de fundamental importância para alimen-
derar a restrição à liberdade de atuação. A Teoria tar e assessorar os decisores responsáveis pelo plane-
dos Stakeholders, já amplamente consagrada nos jamento e condução das Op Info.
meios empresariais brasileiros, é uma das possíveis Concluindo, o papel da Inteligência nas Operações
soluções. de Informação é relevante na medida que os conhe-
A execução da atividade de Inteligência nas Ope- cimentos produzidos conferem ao poder de influen-
rações de Informação com o foco nos stakeholders é ciação as Operações de Informação no ambiente
plenamente viável como instrumento de assessora- operacional moderno é irrefutável que não se faz Op
mento para apoiar os diversos sistemas envolvidos Info sem o apoio da Inteligência.
nas Op Info.
Nos questionários respondidos, inclusive por mili-
tares do Centro de Inteligência do Exército, ficou
patente que todos concordaram que a Inteligência
pode dar uma importante contribuição às Op Info,
em cada uma das abordagens exploradas no presente
trabalho.
A Inteligência apoiará a definição da inclusão dos
RCN e dos EEI para atender a necessidade de co-
nhecer os stakeholders. Diversas informações po-
dem ser obtidas por intermédio do contato das tropas
diretamente com os stakeholders ou com os públi-
cos-alvo impactados pelas operações militares.
A pesquisa em fontes abertas, principalmente com
aquelas feitas por intermédio da rede mundial de
computadores, é outra importante fonte de conheci-
mento da qual a Inteligência pode se valer para apoi-

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 27


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EsIMEx - 2º Semestre de 2013 29


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30 EsIMEx - 2º Semestre de 2013


O PROCESSO DE INTEGRAÇÃO DOS SISTEMAS DE INTELIGÊNCIA DAS FORÇAS
ARMADAS, PARA CONSTRUÇÃO DE CENÁRIOS PROSPECTIVOS PELO MD
LUIZ FERNANDO MEDEIROS NÓBREGA 1
JASON SILVA DIAMANTINO 2
EMERSON GARCIA CAVALEIRO 3
RAPHAEL GUSTAVO FRISCHGESELL 4

RESUMO
Este artigo avaliou em que medida e com que metodologia ocorrem a produção e integração dos co-
nhecimentos, as similitudes e divergências de cada sistema de inteligência, tudo visando a apontar alternativas
que possam aprimorar o modelo atualmente vigente. Foi estabelecido um arcabouço teórico, onde foi abordada
a organização sistêmica da Inteligência, o Planejamento Estratégico Militar e breve teoria sobre a construção
de cenários. A partir dos resultados da pesquisa de campo , ficou evidenciada a existência insipiente de inte-
gração, os prejuízos decorrentes da inexistência de um Política Nacional de Inteligência aprovada e implanta-
da, além dos resultados positivos decorrentes do trabalho do Sistema de Planejamento Estratégico de Defesa
(SPED). Como conclusão, ressaltou-se a necessidade de maior integração, a indicação do método de cenariza-
ção mais adaptável ao modelo vigente, bem como as tendências para cada SI como partícipes do processo de
alimentação e atualização das conjunturas nacional e internacional.

1.INTRODUÇÃO

O Ministério da Defesa (MD), como órgão centra- de integração que supere as características de cada
lizador e coordenador do trabalho prospectivo de Força Armada (FA).
planejamento no nível setorial, aglutina conhecimen- Os estudos teóricos, as análises conjunturais e a
tos gerados por diferentes fontes, cada uma com suas construção de cenários prospectivos constituem par-
peculiaridades, similitudes e diferenças. Para isso, te primordial da Concepção Estratégica e Configura-
uma metodologia adequada para o trato dos conhe- ção de Forças, primeira fase da Sistemática de Pla-
cimentos coletados faz-se necessária, num processo nejamento Estratégico Militar (SPEM). Estas ativi-
dades ocorrem desde o nível nacional e desenvol-
vem-se nos níveis setorial (MD) e subsetorial (For-
ças Armadas).
1
Oficial de Cavalaria do Exército Brasileiro - Mestre em
É fundamental, na construção de cenários prospec-
Ciências Militares (ECEME)
2
Oficial de Intendência do Exército Brasileiro - Mestre em
tivos, o trabalho do MD no desenvolvimento dos
Ciências Militares (ECEME). cenários comuns entre as FA, de forma a aproximar
3
Oficial de Artilharia do Exército Brasileiro - Mestre em os planejamentos no nível político-estratégico e uni-
Ciências Militares (ECEME). formizar procedimentos gerais que orientarão a for-
4
Oficial da Marinha do Brasil - Mestre em Ciências Navais mulação de Conceitos Estratégicos de Emprego,
(EGN).
bem como de Configuração das Forças (nível subse-
torial).

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 31


Diante disso, coloca-se um problema: em face das Como objetivo geral buscou-se estudar o processo
peculiaridades, similitudes e diferenças na atividade de integração de conhecimentos produzidos pelos
de Inteligência desenvolvida por cada Sistema de órgãos componentes do SIE/MD, notadamente dos
Inteligência (SI) das FA, em que medida o processo SI das FA, propondo possíveis oportunidades de
de integração dos conhecimentos produzidos tem melhoria para a SPEM.
sido efetivo, para formulação das conjunturas e Partindo-se da premissa que tais análises reportam-
construção de cenários prospectivos? se não apenas ao cenário nacional, em todos os seus
Coube a esta pesquisa, portanto, estudar o processo campos de poder, mas também ao entorno estratégi-
de integração dos sistemas de inteligência estratégi- co e cenário internacional, é notória a importância
cos (SIE) das Forças Armadas (FA), naquilo que do trabalho realizado pelos diversos componentes do
cada um apóia na formulação das conjunturas nacio- SISBIN, notadamente os pertencentes ao Sistema de
nal e internacional, numa perspectiva setorial, para Inteligência Estratégica (SIE/MD).
construção de cenários prospectivos pelo MD. A tarefa de aproximar SI de órgãos distintos e fazê-
A hipótese básica foi da necessidade de aprimora- los trabalhar em regime de cooperação já é, por si
mento do processo de integração entre os órgãos do só, um grande desafio. Sabe-se, entretanto, que a
Sistema de Inteligência Estratégica do Ministério da desejada integração pressupõe esforço dirigido e
Defesa (SIE/MD) pertencentes às FA, na análise convergente de todos os atores envolvidos. Quais-
conjuntural e na construção de cenários. O objetivo quer medidas que favoreçam tal ambiente são de
foi o de responder às seguintes questões de estudo, grande relevância, não apenas para o SINDE/MD,
tendo em vista tratar-se de pesquisa de natureza no- mas principalmente para o PEM sob responsabilida-
tadamente qualitativa: qual a metodologia para a de do MD, pois, uma vez alcançado o “estado da
formulação de cenários prospectivos no MD? Quais arte”, as Forças passarão a alimentar o processo e
as metodologias utilizadas para a formulação de ce- realizar as avaliações dos cenários de forma adequa-
nários prospectivos nas Forças Singulares? Existe da, como preconiza o regulamento que a instituiu.
uma metodologia para integração de conhecimentos, 2 A INTELIGÊNCIA E O PLANEJAMENTO
no processo de formulação das conjunturas pelo ESTRATÉGICO
MD? Quais são os órgãos internos responsáveis pelo 2.1 VISÃO SISTÊMICA DA INTELIGÊNCIA
acompanhamento e elaboração de cenários em cada A atividade de Inteligência, no Brasil, está organi-
uma das Forças Singulares? O MD possui estrutura zada em uma estrutura sistêmica, ou seja, “os diver-
para o acompanhamento da conjuntura nacional e sos órgãos que tratam da atividade constituem um
internacional e construção de cenários prospectivos? conjunto de partes interatuantes e interdependentes,
Quais são os pontos semelhantes e divergentes na operando em proveito de um mesmo objetivo, res-
estrutura de Inteligência dos SI das FA, componen- peitada a autonomia funcional de cada uma e obser-
tes do SIE/MD, que possam impactar no processo de vadas as normas legais pertinentes.” (BRASIL,
integração para construção dos cenários prospectivos 2005, p. 16).
comuns?

32 EsIMEx - 2º Semestre de 2013


O SISBIN tem por objetivo “integrar as ações de mesmo tendo sido cumpridas as etapas previstas do
planejamento e execução da atividade de Inteligên- artigo 5° da Lei N° 9883, de 07 de dezembro de
cia do País, com a finalidade de fornecer subsídios 19995, aguarda ainda, desde 2010, a sua fixação e
ao Presidente da República nos assuntos de interesse sanção presidencial (LIMA, 2012, p.55).
nacional.” (BRASIL, 2006, p. 16). Para Gonçalves (2008, p. 187) na PNI devem cons-
Mediante coordenação, órgãos das unidades da Fe- tar os objetivos nacionais, as áreas prioritárias de
deração também poderão compor o SISBIN. A FI- atuação, bem como diretrizes norteadoras da ativi-
GURA 1 apresenta o Sistema Brasileiro de Inteli- dade de Inteligência de Estado em consonância com
gência, com seus órgãos mais atuantes: ordenamento constitucional e legal vigente. A essên-

SISTEMA BRASILEIRO DE INTELIGÊNCIA


cia do PNI, portanto, consistiria fundamentalmente
em oferecer aos órgãos do SISBIN as condições
MJ
M D - SINDE
SE NAS P
AIOP DIP/DPF indispensáveis para produzir conhecimentos visando
CIM / EMA / CON
CIE / EME
ABIN DPRF
Sec Nac Justiça ao aprimoramento, no plano estratégico, do processo
CIAer / EMAer (órgão central)

decisório e da ação governamental, à prevenção de


MRE MS
COCIT ANVISA
eventuais ameaças e ao aproveitamento das oportu-
MTE
Sec Executiva
MF nidades oferecidas ao País (BRASIL, 2009).
COAF
SRF
MMA CASA CIVIL
Sec Executiva
Banco Central
2.2 O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO
Conforme preconiza o SPED (BRASIL,2012), o
FIGURA 1 - Sistema Brasileiro de Inteligência
Planejamento Estratégico não se trata de um plano,
FONTE: SCIE - MD (2013)
mas de um
O SINDE “integra as ações de planejamento e exe-
"processo de GESTÃO fundamentado
cução da atividade de Inteligência de Defesa, com a na elaboração de diagnósticos e na de-
finalidade de assessorar o processo decisório no âm- finição de objetivos de longo prazo e es-
bito do Ministério da Defesa – MD.” (BRASIL, tratégias de transformação. Seu propósito
é a criação de condições futuras para a ob-
2006, p.16).
Conforme dispõe o Manual MD-32-M-01 (BRA-
SIL, 2011), o Órgão Central do SINDE é o Depar-
5
tamento de Inteligência Estratégica – DIE, da Secre- A referida Lei institui o Sistema Brasileiro de Inteligência,

taria de Política, Estratégia e Assuntos Internacio- cria a Agência Brasileira de Inteligência e dá outras providên-
cias. No Art. 5° estabelece que a execução da PNI, deve ser
nais do MD. Atualmente, o órgão que trata da Inteli-
fixada pelo Presidente da República, levado a efeito pela A-
gência no mais alto nível, no âmbito do MD, é a
BIN, sob supervisão da Câmara de Relações Exteriores e Defe-
Subchefia de Inteligência Estratégica (SCIE), subor- sa Nacional do Conselho de Governo. Determina ainda que
dinada à Chefia de Assuntos Estratégicos e gerente antes de fixada pelo Presidente da República a mesma deve ser

do SINDE. remetida ao exame e sugestão do órgão de controle externo da


atividade de inteligência, exercida atualmente pela Comissão
O Brasil ainda não possui, oficialmente, sua Políti-
Mista de Controle das Atividades de Inteligência (CCAI).
ca Nacional de Inteligência (PNI), uma vez que,

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 33


tenção e constante aperfeiçoamento de Lei de Orçamento Anual (LOA), ao passo que as
capacidades de defesa do Estado brasi-
atualizações quadrienais visam compatibilizar a pla-
leiro. Portanto, exige a capacidade de
nejamento com o Plano Plurianual (PPA).
"pensar no amanhã", que difere do costu-
me de "preocupar-se com o hoje". (BRA- A metodologia de planejamento estratégico do Mi-
SIL, 2012, p. 4) nistério da Defesa está em fase inicial de desenvol-
vimento, e seu primeiro ciclo terá por base o ano de
Ainda conforme o SPED (BRASIL, 2012), o Pla- 2012, concluindo o Plano Estratégico de Defesa
nejamento Estratégico, no âmbito do MD, está rela- (PED) em 2014, que será compatibilizado ao PPA
cionado com a adaptação das Forças a um ambiente em 2015, e entrará em vigor em 2016. O ciclo está
mutável, sujeito a incerteza a respeito dos eventos do representado na FIGURA 3, em seguida:
ambiente, sendo orientado para o futuro, ou seja, seu
horizonte de tempo é o longo prazo.

Fig 3 -Ciclo de Produção do Planejamento Estratégico no MD


Fonte: SPED (BRASIL, 2012)
O MD30-M-01 (BRASIL, 2011) divide o Planeja-
Fig 2 - Fases e Etapas do SPED mento Estratégico em três etapas características:
Fonte: SPED (BRASIL, 2012) Avaliação da Conjuntura e Elaboração de Cenários;
Como se vê na FIGURA 2, as fases são elaboradas Exame de Situação e Planejamento; e Controle das
em sequência crescente. O produto final de cada Operações Militares.
fase, após difusão dentro das Forças Armadas, é O Planejamento Estratégico Militar (PEM) está re-
avaliado pelo Comitê de Planejamento Estratégico gulado desde 2005 pelo Manual MD-51-M-01 - Sis-
(CoPE), com a devida ratificação dos Comandantes temática de Planejamento Estratégico Militar. O
de Força, por intermédio dos respectivos Chefes de PEM decorre, portanto, da Sistemática do Planeja-
Estado-Maior, e submetido à aprovação do Ministro mento Estratégico Militar (SPEM), um amplo pro-
de Estado da Defesa, na condição de Decisor Estra- cesso que tem por finalidade estabelecer a sistemati-
tégico. zação do planejamento de alto nível para as Forças
Os planos estratégicos do Ministério da Defesa tra- Armadas (FA), contribuindo com os objetivos da
balham com horizonte temporal de 20 anos, com Defesa Nacional.
atualizações anuais e quadrienais, ou quando houver O PEM objetiva, portanto, seguindo o ensino do
alterações significativas na conjuntura. As atualiza- MD51-M-01, definir e organizar as atividades rela-
ções anuais compatibilizam o planejamento com a cionadas com o preparo e o emprego do poder mili-

34 EsIMEx - 2º Semestre de 2013


tar. Para tal, expressa-se em três níveis: o nacional, permitam o emprego das forças milita-
res.” (BRASIL, 2005, p.9)
formado pelas mais altas autoridades do País; o seto-
Os estudos teóricos, as análises conjunturais e a
rial, constituído pelo Ministério da Defesa e o subse-
construção de cenários prospectivos constituem par-
torial, composto pelas FA.
te primordial da fase preliminar à Concepção Estra-
A formalização deste processo de análise conjuntu-
tégica e Configuração de Forças. Tais atividades são
ral setorial (âmbito MD) dá-se pela Avaliação Estra-
coordenadas de modo centralizado pelo MD, com a
tégica de Defesa (AED), um diagnóstico, sob a ótica
participação das FA, a fim de uniformizar a constru-
da defesa, “dos ambientes internacional, regional e
ção dos cenários. Após a construção do cenário
nacional visando a subsidiar os planejamentos estra-
prospectivo comum, as FA trabalham separadamente
tégicos decorrentes da PDN, realizados no Ministé-
na configuração de cada, em consonância ainda com
rio da Defesa, de modo a possibilitar a formulação
a EMilD e a PMD.
da Política e Estratégia Militares de Defesa” (BRA-
SIL, 2005, p.5)
O SPED preconiza que a operacionalização dessa
metodologia deve se dar mediante a "criação de
grupos de trabalho (GT) temáticos, relacionados
às fases e compostos por representantes do MD,
das Forças e, sempre que adequado, de outros
órgãos governamentais (Legislativo, Executivo e
Judiciário) e não governamentais". (BRASIL, 2012,
p.7). Fig 4 - Fluxograma do Planejamento Estratégico Militar
A SPEM subdivide-se em três fases: Concepção Fonte: SCIE - MD (2013)

Estratégica e Configuração de Forças, Planejamento Conforme pode-se observar na FIGURA 4, antece-

do Preparo e Planejamento do Emprego Operacio- dendo à formulação da Política Militar de Defesa

nal. Conforme preconiza o Manual MD-51-M-01: (PMD) e da Estratégia militar de Defesa (EMiD), o
“As atividades da fase da Concepção Es- trabalho da SCIE é alimentado por uma Avaliação
tratégica e Configuração de Forças rela- Estratégica de Inteligência de Defesa, bem como
cionam-se com o processo de identifica- pelas Avaliações Estratégicas Setoriais de cada For-
ção de forças militares necessárias à capa-
ça, que se somam às avaliações conjunturais conso-
cidade que a nação deve dispor para a sua
defesa, enquanto que as atividades da fase nantes com o Plano de Inteligência de Defesa (PIN-
do planejamento do Preparo são as con- DE), documento que orienta toda a produção de inte-
cernentes à obtenção e ao preparo das for- ligência no âmbito do MD.
ças militares identificadas. As atividades
Para tal, o trabalho de alimentação de dados é rea-
da fase do planejamento do Emprego O-
lizado em ciclos quadrienais, onde ocorrem periódi-
peracional constituem-se das formulações
de estruturas operativas e de doutrinas que
cas avaliações de conjuntura. Essas avaliações são
apreciações que expressam a opinião de diversos

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 35


analistas sobre fatos e situações, passados e presen- Concordando com as palavras de Peter Schwarts6,
tes, ou de um futuro imediato, referente às conjuntu- quando trata de prospectar o futuro, há três ideias
ras nacional e internacional. que não podem ser esquecidas em qualquer contex-
Da apreciação resultante de cada ciclo anual, con- to: “sempre teremos surpresas; conseguiremos lidar
solidada a cada quatro anos, alia-se o trabalho reali- com elas; muitas podem ser previstas. Na verdade,
zado subsetorialmente por cada FA (AES). O vetor podemos fazer algumas suposições bastantes boas
resultante é a avaliação da Defesa (AEID), que con- acerca de como a maioria se dará” (SCHWARTS,
substancia os produtos principais da SPEM, quais 2003, p. 15).
sejam a PMD e a EMiD. Realizado o levantamento e análise das conjuntu-
4 A CONSTRUÇÃO DE CENÁRIOS PROS- ras, inicia-se a construção de cenários prospectivos.
PECTIVOS Esse processo utiliza metodologias científicas pró-
O primeiro a empregar a palavra “prospectiva” foi prias para formular uma antevisão de futuro, em face
o filósofo e pedagogo francês Gaston Berger em sua da qual deverá ser preparada a capacitação militar.
obra A atitude prospectiva, de 1957, estabelecendo Trata-se, portanto de um processo pró-ativo, que
como descrever um futuro desejável para o mundo. busca vislumbrar cenários de tendência e aproximá-
Berger propôs o uso do termo “prospectiva” para los de cenários desejáveis, na tentativa de reduzir
mostrar a necessidade de uma atitude orientada para vicissitudes causadas pela dificuldade de se prever
o futuro. com oportunidade tensões indesejáveis.
No Brasil, segundo Buarque (1988), a prática de No Exército Brasileiro, a 7ª Subchefia do Estado-
elaboração de cenários é recente. As primeiras em- Maior do Exército (7ª SCh EME) tem a responsabi-
presas a utilizarem tal prática de elaboração de cená- lidade de monitorar as conjunturas nacional e inter-
rios foram o Banco Nacional do Desenvolvimento nacional para determinar situações, na área externa
(BNDES), a ELETROBRÁS, a PETROBRÁS e a ao EB, que aconselhem iniciativas para superar con-
ELETRONORTE, em meados da década de 1980, flitos e crises ou para atender interesses da Defesa
em função de operarem com projetos de longo perí- Nacional. Tal missão é consequência direta da ne-
odo de maturação, o que exigia uma visão de longo cessidade de monitoramento dos eventos que podem
prazo. interferir no cenário alvo, produto principal da análi-
Uma nova utilização da técnica prospectiva no se estratégica desenvolvida pelo Estado-Maior do
Brasil foi coordenada pela antiga Secretaria de As- Exército, por meio da 7ª SCh EME.
suntos Estratégicos da Presidência da República Já o monitoramento de eventos tem por objetivo
(SAE), que iniciou em 1996 os estudos que geraram, fornecer subsídios para a atualização do diagnóstico
em 1997, os Cenários Exploratórios do Brasil 2020 estratégico do EB, para a elaboração de cenários e
e, em 1998, os cenários desejados para o Brasil. A
iniciativa da SAE incentivou a discussão do tema no
país. (MARCIAL E GRUMBACH, pag 32) 6
SCHWARTS, Peter. Cenários: as surpresas inevitá-
veis. Rio de Janeiro: Campus, 2003

36 EsIMEx - 2º Semestre de 2013


de indicações, visando atingir o cenário alvo, que método leva em conta a interdependência de várias
pode ser impactado em razão de ruptura de tendên- das questões formuladas, possibilitando que o estudo
cias e/ou modificação nas estratégias dos atores en- que se está realizando adquira um enfoque mais glo-
volvidos. (CARVALHO, 2012) bal, mais sistêmico e, portanto, mais de acordo com
Podem-se dividir as técnicas de elaboração de ce- uma visão prospectiva (MARCIAL & GRUMBA-
nários em três grupos: de ajuda à criatividade; de CH, Pag 64).
avaliação e de análise multicritérios. A Modelagem e simulação é o estabelecimento de
As técnicas de ajuda à criatividade são as seguin- um modelo matemático para o sistema que se está
tes: Brainstorming, Sinéctica, Análise morfológica e estudando. A utilização experimental desses mode-
Questionários e entrevistas. los constitui a simulação. Variando os parâmetros do
As técnicas de avaliação são: Método Delphi, Mé- modelo, selecionamos as “políticas”de funcionamen-
todo dos Impactos Cruzados, Modelagem e simula- to do sistema que mais nos convém, de acordo com
ção. O método consiste em interrogar individual- os critérios previamente estabelecidos.
mente, por meio de sucessivos questionários, um Por fim, as técnicas de análises multicritérios são:
determinado grupo de peritos. Depois de cada apli- Método dos Éxamenes (Método dos Concursos),
cação do questionário aos peritos, as questões são Método Pattern, Método Electre, Método AHP (A-
analisadas e apresentadas a eles outra vez para que nalytic Hierarchy Process), Método Macbeth.
tenham a oportunidade de rever suas opiniões. Para Godet e Roubelat (1996), citado por MAR-
No Método Delphi atuam dois grupos: o de peritos, CIAL & GRUMBACH, Pag 69, não há apenas um
que é consultado a distância, e o de analistas, que método de construção de cenário, mas vários méto-
analisa e interpreta as respostas. dos. Porém, o termo “método de cenário” só se apli-
O grupo de peritos tem por tarefa, mediante um caria a uma abordagem que incluísse alguns passos
processo de raciocínio lógico, a elaboração de esti- específicos, como análise de sistemas; retrospectiva;
mativas, que serão comparadas, corrigidas e comple- identificação das variáveis, seu comportamento e
tadas em fases sequenciais de estimulação, com base relações; estratégia dos atores e elaboração de cená-
nas respostas dadas a sucessivos questionários. rios múltiplos.
(MARCIAL & GRUMBACH, Pag 63). O grupo de Entre os métodos existentes, os descritos por Mi-
análise (ou controle) tem como tarefa controlar o chel Godet, Peter Schwartz, Michel Porter e Raul
processo de elaboração de juízos de valor emitidos Grumbach possuem base conceitual digna de men-
pelos peritos, procurando não promover grandes ção. Eles diferem no que diz respeito aos passos
alterações que descaracterizem aquelas opiniões em utilizados e, não, à filosofia. Todos seguem os prin-
seu conjunto. cípios descritos pela prospectiva.
Já o método dos Impactos Cruzados engloba uma 4.1 OS CENÁRIOS DE DEFESA ATUAIS
família de técnicas que visam avaliar a influência A Assessoria de Planejamento Institucional (AS-
que a ocorrência de determinado evento teria sobre PLAN), órgão de assessoria direta do Ministro da
as probabilidades de ocorrência de outros eventos. O Defesa, responde pela execução do Sistema de Pla-

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 37


nejamento Estratégico de Defesa (SPED). O SPED nais como um todo, deixando desdobramentos espe-
tem como produto final os Cenários de Defesa, de- cíficos a critério de cada Força.
senvolvidos com o propósito de orientar todo o pro- A metodologia para o desenvolvimento dos cená-
cesso de planejamento estratégico do Ministério da rios engloba, além das técnicas de elaboração de
Defesa. Dessa forma, provê cenários futuros que cenários, visitas e consultas a empresas estatais e
fundamentam documentos basilares, como a Política privadas, instituições de ensino civis, Escola Superi-
Nacional de Defesa, a Estratégia Nacional de Defe- or de Guerra (ESG), além de Marinha, Exército e
sa, a Política Setorial de Defesa, o Plano Estratégico Aeronáutica. Os trabalhos são desenvolvidos de
de Defesa, além das políticas, estratégias e planos forma conjunta pelos diversos setores da Adminis-
análogos das Forças Armadas. tração Central – Secretarias, EMCFA e CENSIPAN
Os Cenários de Defesa agregam aspectos conjuntu- – e pelas Forças Armadas, os quais fornecem infor-
rais e estruturais que podem afetar, nos diversos âm- mações e análises com foco em suas respectivas
bitos analisados, a segurança e a defesa nacionais, áreas.
além de suas possíveis evoluções. Assim, pode-se 5 ANÁLISE DOS RESULTADOS OBTIDOS
identificar, em análise posterior, as capacidades ne- A análise a seguir é o resultado da compilação das
cessárias à garantia da integridade e da soberania do pesquisas de campo aplicadas a analistas e operado-
Estado brasileiro, bem como as ações a implementar res dos diversos órgãos que compõem o SINDE.
para alcançá-las. Foram enviados questionários qualitativos ao CIM,
Outro objetivo que de perto interessa a essa pesqui- CIAer, CIE, 2ª e 7ª Subchefias do EME, SCIE/MD e
sa é que, a partir do Cenários de Defesa as Forças SAE/GSI; além disso, foram aproveitadas observa-
dispõem de um conjunto de conhecimentos comuns, ções realizadas durante visitas de instrução da EsI-
a partir dos quais são tomadas as decisões e condu- MEx7 ao MD, ao CIM e ao CIAer, bem como entre-
zida a gestão estratégica. Em especial busca-se co- vistas pessoais com integrantes da SCIE/MD e AS-
ordenar ações e estabelecer sinergias que resultem PLAN/MD.
em melhor aproveitamento dos recursos orçamentá- Quanto ao trabalho de formulação de cenários
rios, além de incrementar a eficiência administrativa prospectivos no MD, foi verificado que no MD tal
e operacional. atividade não está vinculada à Inteligência Estratégi-
A abordagem realizada restringe-se a identificar fa- ca (SCIE), senão à Assessoria de Planejamento Insti-
tos portadores de futuro, suas respectivas tendências tucional do Ministério da Defesa, (ASPLAN), órgão
e possíveis desdobramentos, oportunidades e amea- de assessoramento direto do Ministro da Defesa.
ças, sem elaborar juízo de valor sobre as relações de Isso robustece a importância do assunto perante a
causa e efeito. Eventos futuros capazes de gerar estrutura do MD, ao passo em que envolve órgãos
grande impacto, mesmo que classificados como im-
prováveis, são analisados, sendo que o nível de deta-
lhamento restringe-se à segurança e à defesa nacio- 7
Palestras realizadas para integrantes do Curso Avançado de
Inteligência para Oficiais no ano de 2013.

38 EsIMEx - 2º Semestre de 2013


distintos nas tarefas de análise conjuntural e formu- estratégias e planos análogos das Forças Armadas.
lação de cenários. Contudo, o limite temporal estendido é questionável,
A composição mista dos integrantes tanto da SCIE, ou seja, de 35 (trinta e cinco) anos, uma vez que
quanto da SPE, favorece a integração dos conheci- autores consagrados como Grumbach apontam para
mentos produzidos por cada Força. Já no nível da cenarizações com limites temporais médios de 10
ASPLAN, a estrutura existente é favorecida pelo (dez) anos.
nível dos integrantes que formam o CoPE, os quais A criação GT temáticos para construção de cená-
permeiam toda a estrutura e acessam as diversas rios, propostos pelo SPED e compostos por repre-
estruturas de inteligência. sentantes do MD, das Forças e de representantes de
A Subchefia de Política e Estratégia (SPE) elabora outros órgãos do Legislativo, Executivo e Judiciário,
apenas a atualização da análise conjuntural, que ainda se apresenta de forma insipiente. A previsão,
quadrienualmente é base para reedição da Avaliação também, de um grupo de trabalho composto por in-
Estratégica de Inteligência de Defesa (AEID), traba- tegrantes do MD e das três FA, a fim de atualizar as
lho que subsidia a elaboração da Política Militar de análises realizadas, conforme preconiza a SPEM,
Defesa (PMD) e da Estratégia Militar de Defesa não é uma realidade, não obstante haja a atualização
(EMiD). conjuntural com base nos conhecimentos, oriundos
Analisando a metodologia para o desenvolvimento de cada Força, que chegam ao MD sob a forma de
dos cenários, preconizada no SPED, esta engloba atualizações conjunturais.
visitas e consultas a empresas estatais e privadas, A existência do Comitê de Planejamento Estratégi-
instituições de ensino civis, Escola Superior de co (CoPE), composto pelos Chefe de Estado-Maior
Guerra (ESG), além de Marinha, Exército e Aero- Conjunto das Forças Armadas (EMCFA), Chefes de
náutica, tendo o ciclo de teste iniciado em 2012.. Os Estado-Maior dos Comandos da Marinha (EMA), do
trabalhos foram desenvolvidos de forma conjunta, Exército (EME) e da Aeronáutica (EMAER), Secre-
pelos diversos setores da Administração Central – tários das SEORI, SEPESD e SEPROD, Chefes de
Secretarias, EMCFA e CENSIPAN – e pelas Forças Preparo e Emprego, de Assuntos Estratégicos e de
Armadas, os quais forneceram informações e análi- Logística, além do Assessor de Planejamento Insti-
ses a partir do trabalho realizado em cada área en- tucional indica uma tendência à maior integração do
volvida. trabalho de cenarização, mas também é uma estrutu-
O produto deste trabalho será o documento entitu- ra insipiente, cujo funcionamento e efetividade ainda
lado "Cenários de Defesa 2035", ainda em fase de não são possíveis mensurar.
aprovação no âmbito do MD, o que representa uma A proposta dos Cenários de Defesa vem ao encon-
evolução na gestão estratégica do MD, provendo tro da necessidade de uniformizar os planejamentos
cenários futuros que verdadeiramente fundamenta- das Forças, a partir da premissa de que disporão de
rão a Política Nacional de Defesa, a Estratégia Na- um conjunto de conhecimentos comuns, a partir dos
cional de Defesa, a Política Setorial de Defesa, o quais serão tomadas as decisões. Tal medida redun-
Plano Estratégico de Defesa, bem como as políticas,

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 39


dará na desejada sinergia e na eficiência administra- francês analisado demonstra que a integração se faz
tiva e operacional. na medida em que o órgão de maior nível do sistema
Quanto às metodologias utilizadas para a formula- permeia, controla e integra a inteligência em todos
ção de cenários prospectivos nas Forças Singulares, os demais níveis (operacional e tático).
ficou patente a discrepância entre as Forças. A Força Após a divulgação do Informativo de Defesa, os
Terrestre utiliza-se do Método Grumbach, e realiza analistas de inteligência do MD aprofundam o co-
seu estudo voltado, essencialmente, para os interes- nhecimento das matérias selecionadas daquele dia, e
ses da Força, seus projetos estruturantes e necessi- levantam, junto as fontes disponíveis, a veracidade
dades peculiares. Já as demais forças não realizam dos dados contidos no documento.
propriamente o trabalho de cenarização, mas de ava- A partir de uma avaliação dos Informativos de De-
liação e atualização das conjunturas interna e exter- fesa, realizada semanalmente, e os conhecimentos
na. recebidos dos órgãos do SINDE e do SISBIN é pro-
Respondentes apontaram que a Força Terrestre duzido o documento denominado Sumário de Inteli-
vem utilizando o software PUMA para construção gência. Este documento tem um tramite similar ao
de cenários. Diante do que foi estudado quanto aos Informativo de Defesa, porém já possui classificação
métodos de cenarização, pode-se afirmar que o Mé- reservado e o raciocínio do analista que pode apre-
todo Grumbach, como adaptação dos métodos de sentar uma visão prospectiva.
Schwartz e Godet à realidade nacional, apresenta-se Por sua vez, a Avaliação da Conjuntura, realizada
como o mais adaptado para o trabalho de construção quadrimestralmente, é elaborada a partir dos Sumá-
de cenários prospectivos. rios de Inteligência, seguindo o mesmo processo dos
Quanto à metodologia para integração de conheci- documentos anteriores. Este documento é a base
mentos, no processo de formulação das conjunturas, para a elaboração da Avaliação Estratégica de Inteli-
no MD, o método inicia-se com a elaboração de um gência de Defesa, realizada quadrienualmente. Al-
documento base, chamado Informativo de Defesa. guns assuntos presentes nos documentos anteceden-
Esse documento, não classificado, é elaborado diari- tes podem perder sua relevância e assim, não consta-
amente a partir de coleta e seleção, em fontes aber- rem desta avaliação.
tas, de matérias de mídias de maior relevância para Pôde-se observar que essa sistemática, muito em-
os Objetivos de Inteligência de Defesa previstos no bora não constar nos manuais já elencados no corpo
Plano de Inteligência de Defesa (PINDE); e é divul- desta pesquisa, vem garantindo um fluxo de conhe-
gado para o Subchefe de Inteligência Estratégica, cimentos entre os órgãos do SINDE, mesmo que
para os adidos, para a Chefia de Assuntos Estratégi- num volume proporcionalmente reduzido, dado o
cos, para os Subchefes de Política e Estratégia, para tamanho e complexidade dos órgãos integrantes do
a Subchefia de Assuntos Internacionais, para o SINDE, em especial as Forças Armadas. As pesqui-
CEMCFA e para o SINDE. sas apontaram o CIE como o órgão com maior quan-
Não obstante a base doutrinária da atividade de In- tidade de documentos enviados (60% do volume
teligência no Brasil ser oriunda dos EUA, o modelo total), seguido das aditâncias militares, da ABIN, e

40 EsIMEx - 2º Semestre de 2013


finalmente do CIM e CIAer, nesta ordem de produ- Quanto ao Sistema de Inteligência da Aeronáutica
ção de conhecimentos. A produção de conhecimen- (CIAer), conquanto os resultados de pesquisa de
tos mencionada sofre, contudo, dificuldades para ser campo aplicada não possam ter sido analisados, foi
tratada oportunamente pela SCIE/MD, em face do possível observar que o trabalho de cenarização não
pequeno efetivo disponível para essa tarefa. é realizado por aquele órgão, mas tão somente o de
Os cenários de segurança institucional geram mais atualização conjuntural.
de seiscentos subtemas, em acompanhamento tanto Verificou-se ainda que os pontos semelhantes e di-
pela Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) vergentes na estrutura de Inteligência dos SI das FA,
quanto pelos demais órgãos do SISBIN. Nesse nível, componentes do SIE/MD, não impactam diretamen-
os conhecimentos somente são difundidos por meio te no processo de integração para construção dos
dos Relatórios de Inteligência (RELINT), e a inte- cenários prospectivos comuns. Em verdade, não há
gração não se dá de forma sistêmica. integração plena de bancos de dados, mas são o
Quanto aos órgãos internos responsáveis pelo a- compartilhamento de conhecimentos pertinentes e
companhamento e elaboração de cenários, em cada úteis, em função de cada situação em estudo, fato
uma das Forças Singulares, pôde-se observar dife- esse que se repete também nos demais órgãos com-
rentes formas pelas quais o assunto é tratado: no ponentes tanto do SINDE quanto do SISBIN.
Sistema de Inteligência da Marinha (SIMAR), por Os Sistemas de Inteligência das Forças singulares
exemplo, o Centro de Inteligência da Marinha (CIM) possuem estruturas distintas. Assim, dentro destas
e o Comando de Operações Navais (ComOpNav) estruturas, os órgãos internos responsáveis pelo a-
encaminham subsídios para o Estado Maior da Ar- companhamento e elaboração de cenários não são
mada (EMA) produzir as Conjunturas Nacionais e correspondentes. A edição recente, entretanto, do
Internacionais, quadrimestralmente. Por sua vez, as SPED veio sopesar as diferenças subsetoriais num
Conjunturas vão servir de base para a produção de esforço integrador, isto é, envolvendo a Defesa co-
uma estimativa com valor quadrianual, denominada mo um todo, com o objetivo de se obter um compor-
Avaliação Estratégica da Marinha (AEMAR). A tamento global e sistêmico, mesmo que o trato, pro-
AEMAR é apresentada ao MD como subsídio para a dução e difusão do conhecimento gerado no âmbito
produção da Avaliação Estratégica de Inteligência de cada Força divirja quanto ao método.
de Defesa. Não há elaboração de cenários prospecti- O SPED veio como um processo de construção do
vos, dada a dificuldade no calculo probabilístico; consenso, em face da diversidade dos interesses e
Já no Sistema de Inteligência do Exército (SIEx), a necessidades. Sua implementação efetiva deverá
base para a produção de documentos estratégicos oferecer parâmetros de atendimento de todos os en-
parte desde as agências de inteligência até o Centro volvidos, operacionalmente sendo realizado em cada
de Inteligência do Exército (CIE), passando pelos órgão do SINDE.
Comandos Militares de Área. Após a tramitação do Quanto aos sistemas de Inteligência das Forças
conhecimento produzido no SIEx, o CIE e o EME singulares, analisando a estrutura da Marinha do
são capazes de produzir as Conjunturas e Cenários. Brasil, o SIMAR possui três órgãos de cúpula. O

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 41


EMA, responsável pela centralização, coordenação e Tal tarefa é dificultada pela pouca quantidade de
produção do conhecimento do campo externo rela- reuniões do Conselho Consultivo do SINDE (CON-
cionados ao conhecimento estratégico-militar (Con- SECON/SINDE), o que poderia minimizar os efeitos
junturas) e pela centralização de comunicações de da baixa integração entre os chefes e analistas, que
inteligência com os Adidos Navais. O ComOpNav, atuam somente em atitude colaborativa, sem coorde-
responsável pela centralização, coordenação e pro- nação. Corroborando com este quadro existem, ain-
dução dos conhecimentos no campo operacional. E o da, resistências nos órgãos de Inteligência das For-
CIM, responsável pela centralização, coordenação e ças com relação ao MD, sobretudo em face da falta
produção dos conhecimentos no campo interno e do de coordenação e integração das atividades por esse
campo externo que afete o campo interno. Os três órgão.
órgãos fazem parte do SINDE, mas observa-se a Nesse sentido, foi observado que a breve e espera-
compartimentação da atividade de Inteligência, com da edição do novo Manual de Inteligência de Defesa,
órgãos distintos responsáveis pelos níveis estratégi- pelo MD, poderá normatizar melhor o trâmite dos
co, operacional e tático. conhecimentos entre os integrantes do SINDE, so-
Já no SIEx, tal compartimentação não acontece, bretudo no nível estratégico, objeto do presente tra-
posto que o CIE é o órgão central do sistema e res- balho.
ponsável pela produção do conhecimento nos níveis Outro fato pertinente para agravar este quadro, é a
estratégico, operacional e tático. A confecção de pouca importância dada a Inteligência no âmbito do
cenários voltados para a Força terrestre fica a cargo MD, por falta de conhecimento e por resquícios do
da 7ª Subchefia do EME, que também participa do período de governo militar. Prova desta afirmação é
SINDE e é capaz de produzir Cenários, monitorando a demanda recebida pela SCIE para assuntos da as-
e controlando os cenários produzidos, alimentado sessoria de imprensa, das relações públicas ou mes-
por atualizações conjunturais emanadas do CIE. mo de uma delegacia de polícia.
Soma-se a esse órgãos, ainda, a 2ª Subchefia do Quanto a tramitação do conhecimento, a SCIE re-
EME, que participa do SIEx no campo da doutrina, cebe os documentos via Rede de Inteligência de De-
legislação, coordenação dentro do SIEx no campo fesa (RINDE), o que aumenta a credibilidade da
político, entre outras atividades. SINDE. Os documentos trafegam por redes pré-
Todos os Órgãos integrantes do SINDE participam estabelecidas e criptografadas, com identificação de
ativamente do acompanhamento da conjuntura e destinatários e remetentes.
elaboração dos cenários prospectivos. De uma forma Diante das constatações e respostas de pesquisas, a
geral, os Órgãos integrantes do SINDE repassam interação do SISBIN com o SINDE no acompanha-
conhecimento de Inteligência para o MD. Contudo, a mento da conjuntura e na elaboração dos cenários
integração dos órgãos do SINDE ainda é considera- prospectivos é aquela que se dá apenas de forma
da insipiente e parte dos documentos produzidos eventual, por meio de documentos de inteligência. A
pelos órgãos circulam apenas no âmbito dos seus inexistência de uma Política Nacional de Inteligên-
respectivos sistemas. cia agrava o quadro atual, no sentido de gerar inde-

42 EsIMEx - 2º Semestre de 2013


finições quanto ao alcance, limite e obrigatoriedade cada estrutura de Inteligência das FA, o processo de
do trâmite das informações, bem como insegurança integração dos conhecimentos produzidos, no nível
quanto ao trato sigiloso do conhecimento partilhado. MD, tem gerado efetividade, para formulação das
Aspecto relevante, observado por um dos respon- conjunturas e construção de cenários prospectivos
dentes, diz respeito ao baixo nível de profundidade e no âmbito do MD, todavia num processo em etapa
importância com que o assunto relativo à Análise de inicial, cuja gênese ocorreu há menos de um ano.
Conjunturas e Prospecção de Cenários é tratado no As estruturas de Inteligência do SINDE não estão
Curso de Inteligência Estratégica, da Escola Superi- subordinadas a um mesmo órgão central; guardam
or de Guerra (ESG). O ambiente congrega integran- com a SCIE/MD e AIOp/MD ligações de ordem
tes de todos os órgãos integrantes do SINDE, apre- técnica, o que diverge da estrutura norte-americana e
sentando-se como fórum ideal para disseminação da francesa, analisadas nesta obra. Somente a adoção de
necessidade de integração e fomento da atividade de um modelo similar poderá, de fato, integrar os níveis
Inteligência no mais alto nível, sobretudo quanto ao estratégico, operacional e tático das três FA, o que
tema em estudo. não parece ser a proposta assumida pelo MD, nem
Conforme exposto nas pesquisas aplicadas, atual- mesmo a longo prazo.
mente não existe interação efetiva do SISBIN com o As diferenças estruturais dos SI de cada Força ge-
SINDE. A dificuldade de integração do SINDE com ram diferentes níveis de resposta às demandas de
os órgãos do SISBIN é gerada pela falta de confiabi- produção de conhecimento. Uma vez que o trabalho
lidade entre os órgãos. de construção de cenários envolve grau de reflexão
A fim de melhor evidenciar os principais resulta- mais aprofundado e efetivos maiores envolvidos no
dos alcançados em relação à construção de cenários processo, tal trabalho apresenta-se mais estruturado
e avaliação de conjunturas, o ANEXO B do presente na Força Terrestre, ao passo que as demais Forças
trabalho sintetiza os aspectos mais relevantes apre- concentram seus esforços na avaliação e atualização
sentados pelos respondentes. conjuntural, nos campos externos e interno.
6 CONCLUSÃO De fato, com a absorção dessa tarefa pelo nível se-
Ao final da presente exposição teórica, por meio da torial (MD), é muito provável que as Forças apresen-
qual foram estudados os pressupostos doutrinários tem uma configuração mais voltada para a alimenta-
que norteiam o Planejamento Estratégico de Defesa, ção, do nível ministerial, com dados e conhecimen-
bem como analisado o processo de integração dos tos analíticos (apreciações e estimativas), em produ-
sistemas de inteligência estratégicos das Forças Ar- tos específicos como a AEID e os Cenários de Defe-
madas, no trabalho de formulação das conjunturas sa.
nacional e internacional e na construção de cenários Há, sem dúvida, necessidade de implementação e
prospectivos, é possível afiançar que a integração otimização do processo de integração entre os ór-
sistêmica é uma realidade em construção. gãos do Sistema de Inteligência Estratégica do Mi-
Não obstante as peculiaridades, similitudes e dife- nistério da Defesa (SIE/MD) pertencentes às FA,
renças na atividade de Inteligência, desenvolvida por uma vez que os conhecimentos produzidos muitas

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 43


vezes nascem e morrem no âmbito dos respectivos midade com o que preconiza a doutrina, quando pla-
órgãos que o produziram. Um dos fóruns mais ade- nejamentos serão alinhados desde o nível estratégi-
quados para fomentar a desejada integração é, sem co.
dúvida, a Escola Superior de Guerra, onde novas A inexistência de uma Política Nacional de Inteli-
propostas e modelos de disseminação do conheci- gência (PNI), há tempos em discussão nas câmaras
mento certamente são produzidos. legislativas do País, cria dificuldades sensíveis para
A constatação de que a redundância e falta de integra- o processo de integração e desvincula, ainda, a ativi-
ção ocorrem, não somente entre os órgãos do SINDE, dade de Inteligência do nível político. Sendo efeti-
mas até dentro das próprias Forças, demonstra que a vada, seu benefício maior será o de integrar e orien-
integração plena é uma falácia, senão uma desnecessi- tar os diversos sistemas de inteligência, seja padro-
dade. O compartilhamento de dados não precisa dar-se nizando técnicas, seja estabelecendo canais técnicos
de forma plena, mas apenas aquele que seja oportuno efetivos e duradouros, além de fortalecer e legitimar
quanto aos conhecimentos produzidos pertinentes ao a atividade de Inteligência por meio de um controle
objeto de estudo. A edição do novo Manual de Inteli- regulamentado.
gência de Defesa deverá apontar os rumos e parâmetros Por fim, à luz dos objetivos específicos traçados, iden-
nos quais se dará tal compartilhamento. tificou-se a metodologia utilizada para integração de
A criação de estruturas como o Comitê de Plane- conhecimentos, no processo de formulação das conjun-
jamento Estratégico (CoPE), composto pelos Chefe turas pelo MD, que mesmo de forma ainda insipiente,
de Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas por meio do SPED, promete aproximar os SI num es-
(EMCFA), Chefes de Estado-Maior dos Comandos forço comum de formular Cenários de Defesa aplicáveis
da Marinha (EMA), do Exército (EME) e da Aero- à realidades específicas de cada FA.
náutica (EMAER), Secretários das SEORI, SEPESD Ainda, foi possível identificar que as estruturas de
e SEPROD, Chefes de Preparo e Emprego, de As- apoio à atividade de Inteligência, nas FA, são diver-
suntos Estratégicos e de Logística, além do Assessor gentes e tratam com graus de profundidade disso-
de Planejamento Institucional, indicam positivas nantes o trabalho de análise conjuntural e formula-
contribuições para uma integração de qualidade, em ção de cenários. Isso impacta no processo de inte-
especial no trabalho de cenarização. Os resultados gração para construção dos cenários prospectivos
do SPED e da formulação do "Cenários de Defesa", comuns, cuja tarefa melhor cabe ao nível setorial.
entretanto, são futuros e incertos, não obstante sina- Finalmente, mostrou-se que a formulação de cená-
lizem significativa melhora no processo em estudo. rios prospectivos nas Forças Singulares é trabalho
Com a efetivação dos Cenários de Defesa, haverá realizado apenas pela Força Terrestre, não necessari-
melhor uniformização dos planejamentos das For- amente alinhado com os Cenários de Defesa, mas
ças, a partir da premissa de que disporão de um con- consoante seus projetos particulares. Essa tarefa vem
junto de conhecimentos comuns, a partir dos quais sendo desempenhada em face da ausência da formu-
serão tomadas as decisões. A construção dos Planos lação de cenários no nível setorial, o que deverá ser
Estratégicos Militares dar-se-ão, assim, em confor- paulatinamente absorvido pelo MD.

44 EsIMEx - 2º Semestre de 2013


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EsIMEx - 2º Semestre de 2013 45


O PROCESSO DE INTEGRAÇÃO TERRENO, CONDIÇÕES METEOROLÓGICAS E
INIMIGO (PITCI) POR INTERMÉDIO DO PROGRAMA "C2 EM COMBATE"

ANTONIO JOSÉ GONÇALVES PINTO 1


PAULO CEZAR CROCETTI 2
MARCUS VINÍCIUS DE ANDRADE GAMA 3

RESUMO
O “Estudo de Situação” pode ser entendido como uma metodologia aplicada para a produção do co-
nhecimento necessário para condução das operações militares. Neste contexto, duas áreas assumem grande
relevância: a de Comando e Controle (C2) e a de Inteligência. Enquanto o C2 garante aos comandantes de
todos os escalões a consciência situacional e a direção das ações, a Inteligência reduz as incertezas do campo
de batalha pela integração de fontes para produção de conhecimentos relevantes. No Exército Brasileiro (EB),
o estudo realizado pela Inteligência no campo de batalha é denominado “Processo de Integração Terreno,
Condições Meteorológicas e Inimigo” (PITCI). Um mecanismo que automatize o processo deve manter uma
perspectiva global para assegurar que o significado de cada fragmento de informação seja reconhecido e utili-
zado corretamente e com oportunidade. Diante de tais demandas, o EB desenvolveu o programa C2 em Com-
bate. A pesquisa proposta faz uma revisão bibliográfica sobre o PITCI, preconizado nos manuais militares, e
em paralelo, sobre o estado da arte do programa C2 em Combate, visando determinar a sua relevância no pro-
cesso. Para cumprir tal objetivo, uma pesquisa de campo foi realizada para identificar os principais aspectos
que envolvem o binômio PTICI-C2 em Combate. Um estudo de caso apresentado ao final da pesquisa conso-
lida empiricamente os conhecimentos adquiridos com o trabalho.

1 INTRODUÇÃO
1
Oficial do Quadro de Engenheiros Militares do Exército
A importância do “Estudo de Situação do Coman-
Brasileiro, Graduado em Engenharia da Computação pelo Insti- dante” fica evidenciada na clássica comparação,
tuto Militar de Engenharia (IME), Mestre em Engenharia pela discutida por ANTONY (1995), entre o jogo de xa-
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mestre em drez e o desenvolvimento das operações militares.
Ciências Militares pela Escola de Comando e Estado-Maior do
Jogadores de xadrez e comandantes do campo de
Exército (ECEME) e Especialista em Inteligência Militar pela
batalha necessitam de uma visão clara da situação
Escola de Inteligência Militar do Exército (EsIMEx).
2
Oficial da Arma de Cavalaria do Exército Brasileiro, Mestre para avaliarem suas opções, assim como as dos seus
em Ciências Militares pela Escola de Aperfeiçoamento de adversários.
Oficiais (EsAO) e Especialista em Inteligência Militar pela Tanto no xadrez quanto nas operações militares, os
Escola de Inteligência Militar do Exército (EsIMEx).
3
contendores comandam numerosos recursos (peças
Oficial da Arma de Cavalaria do Exército Brasileiro, Mestre
do jogo ou elementos de manobra) que possuem
em Ciências Militares pela Escola de Comando e Estado-Maior
do Exército (ECEME) e Especialista em Inteligência Militar características específicas e as estratégias emprega-
pela Escola de Inteligência Militar do Exército (EsIMEx). das variam ao longo do tempo. Grupos de peças de

46 EsIMEx - 2º Semestre de 2013


xadrez são análogas às organizações de alto nível em possíveis objetivos, além de cooperar na montagem
um campo de batalha e o próprio tabuleiro de xadrez das linhas de ação. Auxilia, ainda, a análise das li-
representa as restrições de movimento semelhante às nhas de ação opostas, apoia a decisão do comandan-
impostas pelo terreno, pelas condições meteorológi- te, facilita a direção do esforço de busca e permite o
cas, pela logística e por outras características típicas acompanhamento da evolução do combate. (BRA-
do problema militar. Em ambos os domínios, os ob- SIL, 1999, p. 4-1)
jetivos de alto nível do oponente podem ser conhe- A “digitalização do campo de batalha”, imposta pe-
cidos, mas a tática empregada e os objetivos inter- los avanços tecnológicos no campo militar, tem re-
mediários são tipicamente desconhecidos. duzido o tempo disponível e ampliado exponencial-
O comandante militar possui uma visão mais in- mente o volume de dados que devem ser considera-
completa e imprecisa do campo de jogo do que o dos no processo de tomada de decisão operacional.
mestre de xadrez. Este último possui o conhecimen- O PITCI busca prover uma abordagem holística para
to completo da localização das forças oponentes a análise da informação que endereça a complexida-
(peças no tabuleiro), das suas limitações (tabuleiro), de do “Estudo de Situação”. Um mecanismo que
da doutrina do adversário (movimento das peças) e automatize o processo deve manter uma perspectiva
conta com total controle de todos os recursos dispo- global para assegurar que o significado de cada
níveis. Embora os dois problemas sejam metafori- fragmento de informação seja reconhecido e utiliza-
camente similares, o “Estudo de Situação do Co- do corretamente e com oportunidade. Diante de tais
mandante” envolve uma maior complexidade. demandas, foi desenvolvido o programa “C2 em
O “Estudo de Situação” pode ser entendido como Combate”.
uma metodologia para produção do conhecimento O Programa C2 em Combate (C2Cmb) é um soft-
necessário para condução das operações militares. ware desenvolvido pelo EB para condução de opera-
Neste contexto, duas áreas assumem grande relevân- ções militares, possibilitando a integração das in-
cia: a de Comando e Controle (C2) e a de Inteligên- formações dos seguintes sistemas operacionais: co-
cia. Enquanto a área de C2 garante aos comandantes mando e controle; inteligência; manobra; apoio de
de todos os escalões a consciência situacional e a fogo; defesa antiaérea; mobilidade, contramobilida-
direção das ações militares necessárias à vitória, a de e proteção; e logístico. Nos dias atuais, constitui-
Inteligência reduz as incertezas do campo de batalha se como a principal ferramenta computacional para
pela integração das informações relativas ao terreno, apoiar o Sistema de Comando e Controle da Força
às condições meteorológicas e ao inimigo. Terrestre (SC2FTer), sendo enquadrado como um
No Exército Brasileiro (EB), o estudo realizado pe- sistema de apoio à decisão. O C2Cmb automatiza o
la Inteligência no campo de batalha é denominado ciclo de Comando e Controle em operações, inde-
“Processo de Integração Terreno, Condições Meteo- pendente de escalão, sendo empregado prioritaria-
rológicas e Inimigo (PITCI)”, sendo definido como mente nos Centros de Comando e Controle e Postos
um processo cíclico de caráter gráfico, que permite a de Comando.
obtenção das possibilidades do inimigo e de seus

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 47


A pesquisa proposta neste trabalho trata sobre a in- mandava um sistema de Comando e Controle (C2)
tegração do terreno, condições meteorológicas e “calcado em modernos e eficientes sistemas de co-
inimigo no estudo de situação de operações milita- municações e de inteligência, na informatização, no
res, buscando identificar as potencialidades agrega- sensoriamento e na guerra eletrônica” (BRASIL,
das ao processo por intermédio do programa C2 em 1996, p. 1-3). A IP serviria de base para a aprovação
Combate. da 3ª Edição do Manual de Campanha (C) 100-5 –
2 O PROCESSO DE INTEGRAÇÃO DO TER- Operações, que foi definitivamente incorporado à
RENO, CONDIÇÕES METEOROLÓGICAS E Doutrina Militar Brasileira (DMB) no ano seguinte.
INIMIGO O Manual de Operações apresentou um arcabouço
Poucos conflitos na História moderna podem ser completamente novo, que serviria de base para todos
caracterizados como pontos de inflexão na evolução os demais manuais que abordavam, direta ou indire-
da Doutrina Militar. A Guerra do Golfo de 1991, tamente, operações militares em campanha. Ele in-
depois rebatizada como 1ª Guerra do Golfo, foi, em troduziu oficialmente o conceito de “sistemas opera-
muitos aspectos, um destes conflitos históricos. cionais”, e “sincronização do combate”. O texto a
Maior campanha “convencional” desde a 2ª Guerra seguir ilustra perfeitamente a nova concepção dou-
Mundial, a Guerra do Golfo serviu para aplicação de trinária, que servirá de base para outros estudos nes-
um sem número de aprimoramentos doutrinários que te trabalho.
se encontravam em desenvolvimento nas Forças Os elementos de combate, apoio ao com-
Armadas estadunidenses desde a década de 1980. bate e logísticos interagem, integrando

Além de campo de testes para novos sistemas de sistemas operacionais, que permitem ao
comandante coordenar o emprego opor-
armas, a rápida campanha serviu para validar novas
tuno e sincronizado de seus meios no
concepções doutrinárias e iniciar o processo de “di-
tempo, no espaço e na finalidade. Os sis-
gitalização do campo de batalha”. O trânsito de da- temas operacionais são: comando e con-
dos aumentou exponencialmente em relação aos trole; inteligência; manobra; apoio de fo-

conflitos anteriores e novos processos metodológi- go; defesa antiaérea; mobilidade, con-
tramobilidade e proteção; e logístico.
cos buscaram integrar esta grande quantidade de
(BRASIL, 1997, p. 2-13).
informações e apresentá-la de maneira a subsidiar as
decisões do nível tático ao estratégico. Como se pode observar no conceito, a integração
No Brasil, o primeiro manual que refletiu os ensi- dos sistemas operacionais passou a ser um objetivo
namentos adquiridos durante a Guerra do Golfo foi permanente com o intuito de permitir ao Comandan-
publicado, em 1996, pela Portaria nº 126, do Estado- te realizar o emprego sincronizado dos seus meios
Maior do Exército (EME), de 5 de dezembro. Trata- no tempo e no espaço.
se da 1ª Edição da Instrução Provisória (IP) 100-1 – Dois sistemas operacionais serão mais relevantes
Bases para a Modernização da Doutrina de Emprego para o desenvolvimento deste trabalho: o Comando e
da Força Terrestre (Doutrina Delta). O novo manual Controle (C2) e o de Inteligência. O mesmo manual
abordava um campo de batalha moderno que de- afirma que o C2 “permite aos comandantes de todos
48 EsIMEx - 2º Semestre de 2013
os escalões visualizarem o campo de batalha, apre- Aprovada pela Portaria nº 186 do EME, reservada,
ender a situação e dirigir as ações militares necessá- de 6 de dezembro de 1999, esta IP apresenta em seu
rias à vitória” (BRASIL, 1997, p. 2-13). Mais à fren- primeiro capítulo sua finalidade principal, que é a-
te, também afirma que a Inteligência deve “fornecer presentada a seguir.
uma visão precisa do campo de batalha”, estando Estas Instruções Provisórias (IP) propor-
esse sistema “intimamente ligado ao de comando e cionam uma orientação aos comandantes,
controle”. Esta ligação poderá ser observada em di- oficiais de inteligência (Of Intlg), assim
como ao Estado-Maior (EM) de todas as
versos outros manuais doutrinários, tanto da área de
Armas, Quadros e Serviços de todos esca-
C2, como da área de Inteligência.
lões de comando. Referem-se aos proce-
2.1 FUNDAMENTOS DO PITCI dimentos a serem adotados para a execu-
ção da Atividade de Inteligência, voltada
Após a publicação do novo C 100-5, diversos no- para o emprego da Força Terrestre em
vos manuais passaram a ser revisados e republicados Operações Militares, sejam de Defesa Ex-
em novas edições, com os conceitos básicos do Ma- terna (Def Ext), de Defesa Interna (Def

nual de Operações e da Doutrina Delta inseridos em Int) ou de Manutenção da Paz (Mnt Paz).
(BRASIL, 1999, p. 1-1)
seu bojo. O manual que define o processo chamado
de “Estudo de Situação” teve uma nova edição pu- A abrangência da sua finalidade demonstra que o
blicada em 2003, pela Portaria do EME de 8 de se- manual buscou ser, efetivamente, o documento bási-
tembro. O C 101-5 – Estado-Maior e Ordens – 1º e co de consulta para a realização da Atividade de
2º Volumes, 2ª Edição, revogou a versão anterior, Inteligência em qualquer tipo de operação, em qual-
que estava vigente desde 1971, alterando uma dou- quer escalão de execução. No seu bojo, são apresen-
trina em vigor há mais de três décadas. O novo ma- tados todos os principais procedimentos a serem
nual inseriu, pela primeira vez em um documento seguidos pelos profissionais de Inteligência visando
doutrinário do EB, o termo PITCI, apesar de o acrô- a assessorar os Comandantes nos mais diversos ní-
nimo já vir sendo empregado em diversas IP em veis. A importância do PITCI pode ser observada
elaboração. Com o C 101-5, o PITCI passou a ser pelo simples fato de que 5 (cinco) dos 11 (onze)
fase obrigatória do planejamento operacional em capítulos são dedicados a este assunto. No capítulo
todos os níveis, do tático ao estratégico. No entanto, 4, a definição de PITCI é apresentada.
o detalhamento da metodologia para realização do O Processo de Integração Terreno, Con-
PITCI não foi inserida no novo manual, tendo esta dições Meteorológicas e Inimigo (PITCI)

tarefa sido delegada para o conjunto de manuais que pode ser definido como um processo cí-
clico de caráter gráfico, que permite, me-
regulam a Atividade de Inteligência Militar no EB.
diante a análise integrada, a obtenção
Antes mesmo da aprovação do novo C 101-5, e das possibilidades do inimigo e de seus
dois anos após a aprovação do C 100-5, foi publica- possíveis objetivos e cooperar na monta-
gem das linhas de ação. Auxilia, ainda, a
da a IP 30-1 – A Atividade de Inteligência Militar –
análise das linhas de ação opostas, apóia
2ª Parte: A Inteligência nas Operações Militares.
a decisão do comandante, facilita a dire-

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 49


ção do esforço de busca e permite o a- processo de “digitalização do campo de batalha”,
companhamento da evolução do combate
vigente desde a década de 1990.
(estudo de situação continuado). (BRA-
O modelo apresentado era audacioso, na medida
SIL, 1999, p. 4-1)
em que buscava modernizar um sistema vigente por
Observa-se, da definição, alguns aspectos décadas, inserindo definitivamente o tráfego de da-
importantes. Os primeiros termos do texto apontam dos nas redes de comunicações táticas. Sobre a in-
para a retroalimentação do processo, ao mencionar fraestrutura de hardware criada para permitir o esta-
que ele é cíclico e, portanto, contínuo. A seguir, um belecimento destas ligações, o modelo apresentava a
elemento chave na execução do PITCI é a forma de necessidade de criação de um software de Comando
sua apresentação, ressaltada, desde a definição, pelo de Controle (C2) nacional. No relatório final, foi
seu “caráter gráfico”. Este aspecto do PITCI pode ressaltado que a “dependência externa em termos de
ser claramente observado nos procedimentos meto- C2, especialmente em software de Apoio à Decisão,
dológicos adotados em cada uma de suas fases. é indesejável e inadequada” (BRASIL, 2003, an.
Segundo a IP 30-1, o PITCI está subdivido H.). Os motivos para o desenvolvimento de uma
em quatro fases distintas, a saber: solução autóctone são amplamente conhecidos. A
área de C2 permeia todas as operações militares,
- 1ª Fase: Determinação e avaliação da área
de operações; impactando diretamente todos os “sistemas opera-
- 2ª Fase: Análise do Terreno e das Condi- cionais” empregados no campo de batalha. Os custos
ções Meteorológicas;
para aquisição e manutenção de sistemas “de prate-
- 3ª Fase: Avaliação do Inimigo; e
- 4ª Fase: Integração. leira” podem se tornar proibitivos, além de não per-
mitir a customização que, por vezes, a evolução da
3 PROGRAMA “C2 EM COMBATE” Doutrina Militar pode exigir. Por fim, a sensibilida-
O Programa “C2 em Combate” teve sua origem na de dos dados transmitidos pelos meios de C2 exige
Portaria nº 11 do EME, de 8 de março de 2002. Esta uma garantia de segurança que pode não ser assegu-
Portaria estabeleceu um Grupo de Trabalho (GT) rada por empresas com sede em outros países.
que teria como principal tarefa a de apresentar uma Desde sua concepção em 2002, até os dias atuais,
proposta de modelo conceitual para o Sistema de foram mais de dez anos de desenvolvimento que
Comando e Controle da Força Terrestre (SC2FTer), geraram cinco versões principais do programa. Sua
nos níveis Brigada (Bda) e Divisão de Exército versão atual, difundida em 29 de outubro de 2012, é
(DE). O GT buscou integrar representantes do pró- a 5.0.3. O Portal de Comando e Controle é o sítio
prio EME, como Órgão de Direção Geral (ODG) do corporativo na Intranet do Exército Brasileiro res-
EB, com integrantes da área de Ensino, Ciência e ponsável por divulgar informações sobre a família
Tecnologia, Operações e Logística, de acordo com a de aplicativos de Comando e Controle. Dentro do
estrutura vigente à época. Em cerca de cinco meses, seu conteúdo, são apresentadas definições relevan-
o GT apresentou uma proposta que, segundo o seu tes, como a transcrita a seguir.
relatório final, buscou inserir a Força Terrestre no

50 EsIMEx - 2º Semestre de 2013


O Programa C2 em Combate é a ferra- Objetivou-se saber se o militar, após concluir o
menta de software para apoiar uma Bri-
CCEM, foi designado para compor o Estado-Maior
gada em operações, no contexto do Sis-
(EM) de uma Grande Unidade (GU) e qual a função
tema de Comando e Controle da Força
Terrestre (SC2FTer). Como um software ou funções que desempenhou, tendo como resultado
de Comando e Controle (C2), destina-se à os gráficos das figuras 1 e 2 a seguir, em que quase
condução de operações militares e possi- 50% dos entrevistados foi designado para integrar o
bilita a integração das informações dos
EM de uma GU na função de oficial de inteligência,
Sistemas Operacionais de Combate: Ma-
sendo a maior parte em Comando de Brigada.
nobra, Inteligência, Apoio de Fogo, Co-
mando e Controle, Defesa Antiaérea, Lo-
gística e Mobilidade, Contramobilidade e
Proteção. (BRASIL, 2013)

Observa-se, da definição, o amplo escopo de pos-


sibilidades atribuído ao Programa C2 em Combate.
Mais do que um sistema de comunicações, permitin-
do a ligação entre os elementos de combate, apoio
ao combate e logísticos, a ferramenta tem como ob-
jetivo a integração de informações utilizadas pelos
sete sistemas operacionais preconizados no Manual
Fig 1 – Função desempenhada - Fonte: O autor
de Operações. Esta possibilidade de integração abre
um amplo leque de possibilidades que podem ser
aproveitadas particularmente na Atividade de Inteli-
gência Militar.

4 VISÃO TÉCNCIA E OPERACIONAL

4.1 VISÃO DO ANALISTA DE INTELIGÊNCIA

O estudo desenvolvido nesta seção teve por objeti-


vo verificar o grau de conhecimento, por parte dos
Fig 2 – Grande Comando (%) - Fonte: O autor
analistas de inteligência, do programa C2 Cmb e,
Na sequência, intencionou-se saber se o oficial de
principalmente, das possibilidades e limitações na
EM tem conhecimento do PITCI e se empregou, ao
realização do PITCI. Assim, com enfoque eminen-
longo da função, esse processo no planejamento das
temente objetivo, foi estruturada uma entrevista com
manobras, obtendo como resultado o gráfico da
perguntas diretas e claras sobre o assunto, contando
figura 3. Entretanto, quando se questiona sobre o
com a colaboração de oficiais superiores com Curso
emprego do processo no planejamento das
de Comando e Estado-Maior (CCEM).
manobras, apenas 19% afirma ter empregado com
certa frequência, como mostra o gráfico da figura 4.

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 51


Inferindo-se que, apesar do assessor de EM ter co- Observa-se que, para o estudo do terreno, a carta
nhecimento do PITCI, o seu emprego ainda é incipi- topográfica ainda é o meio mais utilizado nessa fase,
ente. representando mais de 80% das referências. Para o
estudo das condições meteorológicas, a internet e as
informações obtidas no DAMEPLAN ainda são as
fontes para obtenção de dados climáticos.

No questionamento sobre a 3ª fase do PITCI, cuja


intenção era saber qual o meio utilizado pelo asses-
sor de EM para realizar o estudo do inimigo, foi ob-
servado que as informações são buscadas principal-
mente no DAMEPLAN.

Fig 3 – Conhece o PITCI - Fonte: O autor


Na sequência, questionou-se sobre os meios utili-
zados para a obtenção de dados para a 2ª fase do
PITCI, cujas respostas estão representadas nos gráfi-
cos das figuras 5 e 6.

Fig 7 – Estudo do inimigo - Fonte: O autor

Isso, muito provavelmente, é reflexo da influência


da metodologia utilizada nos bancos escolares e a
falta de adestramento dos oficiais de inteligência em
buscar dados do inimigo no terreno, em fotografias,
Fig 5 – Estudo do terreno - Fonte: O autor imagens de satélite, ou outras fontes mais situacio-
nais.

Concluindo a primeira parte dos questionamentos,


buscou-se saber por qual meio os dados foram
transmitidos para o escalão superior e subordinado,
obtendo-se como resposta, a carta topográfica como
sendo a forma mais utilizada para a transmissão das
informações, como ilustra o gráfico da figura 8.

Fig 6 – Estudo das condições meteorológicas - Fonte: O autor

52 EsIMEx - 2º Semestre de 2013


Fig 8 – Transmissão das informações - Fonte: O autor

Pode se concluir, parcialmente, que apesar dos ofi- Fig 10 – Conhecimento do C2 - Fonte: O autor

ciais de EM terem conhecimento do PITCI, seu em- Na sequência, intencionou-se saber se a ferramenta
prego ainda não está arraigado na cultura do assessor era utilizada, principalmente na busca de dados de
e, mesmo com meios mais modernos, a carta topo- inteligência. Como resultado, obteve-se um elevado
gráfica e o DAMEPLAN são os mais utilizados para percentual de oficiais que empregaram poucas ou
obtenção de dados, muito provavelmente, pela influ- nenhuma vez o C2 em planejamento de manobras e,
ência dos bancos escolares. ainda, um percentual baixo de oficiais de
Na segunda parte do questionário ao qual os analis- inteligência, conforme os gráficos das figuras 11 e
tas foram submetidos, a intenção, era avaliar o grau 12.
de conhecimento do programa C2 Cmb e a sua utili-
zação no PTICI, tendo 100% dos entrevistados afir-
mado conhecer o programa, sendo que apenas 19%
afirma conhecer razoavelmente mal. Pode-se infe-
rir, portanto, que não há razão para não utilização do
programa no planejamento de manobras militares.

Num segundo questionamento, a grande maioria


afirmou que não sabe operar o sistema, tendo conhe- Fig 11 – Utiliza o C2 em Combate - Fonte: O autor
cimento apenas na condição de assessor de EM, con-
forme representado no gráfico da figura 10.

Fig 12 – Utilizou o C2 em Combate - Fonte: O autor

Fig 9 – Conhece o C2 em Combate - Fonte: O autor

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 53


Passou-se, então, a questionar sobre o emprego do
programa C2 Cmb no PITCI. Como resultado da 2ª
fase, obteve-se os gráficos das figuras 13 (estudo do
terreno) e 14 (estudo das condições meteorológicas).

Fig 15 – Estudo do inimigo - Fonte: O autor

Fig 13 – Estudo do Terreno - Fonte: O autor

Fig 16 – C2 em Combate no PITCI - Fonte: O autor


Finalizando os questionamentos, foi buscado obter
Fig 14 – Estudo das condições climáticas - Fonte: O autor do analista a sua opinião sobre ser ou não vantajoso
a utilização do programa C2 Cmb no PITCI e,
De posse desses percentuais, pode-se inferir que a mesmo com o pouco conhecimento e emprego do
grande maioria dos assessores não tem o hábito de programa nesse processo, a grande maioria dos
empregar o programa C2 Cmb nessa fase e, muito entrevistados julgou que é vantajoso, conforme nos
provavelmente, não tem conhecimento das possibili- revela os dados constantes no gráfico da figura 17.
dades do programa.

Concluindo com a 3ª fase do PITCI, foi levantado


se os assessores utilizaram o programa para realizar
o estudo do inimigo e os valores revelam que o as-
sessor de EM pouco utiliza-se desse programa para
realizar o estudo. Foram também formulados questi-
onamentos sobre a opinião do analista do emprego
do programa C2 Cmb no PITCI e 41% das respostas Fig 17 – C2 em Combate no PITCI - Fonte: O autor
afirmam como sendo necessário o emprego do pro-
Finalizou-se o questionário deixando espaço ao en-
grama no PITCI.
trevistado para opinar sobre o programa C2 em

54 EsIMEx - 2º Semestre de 2013


Cmb, obtendo-se algumas informações importantes, O C2 Cmb é uma ferramenta voltada primariamen-
a saber: te para a condução de operações militares, de qual-
quer natureza, sendo que os principais usuários são o
 Há uma grande dificuldade em se obter cartas
Comando de Operações Terrestres (CO Ter) e os
militares atualizadas em formato digital para
Comandos Militares de Área. No entanto, uma de
carregar o sistema, e a cartas existentes, na sua
suas características é a facilidade de adaptação e
maioria, não dispõe de recursos 3D e são pesadas,
reutilização, cabendo destacar, por exemplo, o seu
gerando travamento do sistema;
emprego como sistema de tratamento de incidentes
 Ferramenta muito importante, mas que
nos V Jogos Mundiais Militares, em 2011.
necessita aprimoramento para se tornar mais útil,
principalmente na inserção dos dados de forma Os requisitos de evolução do C2 Cmb visam aten-
mais automatizada; der prioritariamente a necessidade do SC2FTer e,
 Ferramenta vantajosa, porém seu manuseio quando possível, as solicitações de outros usuários.
pode ser mais facilitado se as opções de inserção Todos os requisitos identificados sofrem uma análise
de dados não fossem eminentemente manuais. e são inseridos com ordem de prioridade no registro
de requisitos de software do projeto. A ordem de
4.2 VISÃO DO DESENVOLVEDOR DO C2
prioridade é revista constantemente e pode ser alte-
CMB
rada conforme os seguintes fatores: dependência,
Esta seção foi elaborada a partir da entrevista reali-
oportunidade, complexidade e valor a ser agregado
zada com a equipe de desenvolvimento do C2 Cmb,
ao usuário.
responsável pela manutenção evolutiva e corretiva
do sistema, abordando as seguintes áreas que envol- A gerência de configuração do C2 Cmb adota uma

vem o C2 Cmb: a Engenharia de Sistemas, o Banco metodologia rígida para controlar as versões do

de Dados, o Sistema de Apoio à Decisão e o Sistema software, as mudanças realizadas (alterações do có-

de Informações Geográficas. digo, as bibliotecas utilizadas e os scripts de iniciali-


zação) e a auditoria das configurações. Tal rigor no
O projeto C2 Cmb faz parte do portfólio do Centro
processo de desenvolvimento garante o registro do
de Desenvolvimento de Sistemas do Exército Brasi-
que foi alterado, a causa da mudança e quando ocor-
leiro e conta com uma equipe própria de desenvol-
reu, quem fez a alteração e se é possível reproduzir
vimento. Atualmente, o grupo de desenvolvimento
tal mudança.
possui doze militares dedicados ao projeto, sendo
um major, quatro capitães e dois tenentes e cinco O gerenciamento da qualidade do C2 Cmb é reali-

sargentos. Quando a necessidade exige, a equipe é zado por meio da realização de testes antes da entre-

reforçada por técnicos civis contratados e conta ain- ga da versão de produção; de testes de compilação,

da, com especialistas de outras organizações milita- testes de stress, testes descentralizados de funciona-

res da Força Terrestre. lidades individuais e testes com várias máquinas e


usuários. O objetivo das avaliações é assegurar que o

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 55


produto atenda ou supere as expectativas dos usuá- O C2 Cmb implementa um sistema que permite a
rios. análise de um grande número de variáveis para que
seja possível o posicionamento a uma determinada
A equipe adota a metodologia de desenvolvimento
questão. O Sistema de Apoio a Decisão do C2 Cmb
software ágil chamada SCRUM. Tal metodologia é
conta com funcionalidades relacionadas com o apoio
baseada em ciclos com período de tempo definido,
à decisão, como conectividade, posicionamento (tro-
chamados sprints, onde se trabalha para alcançar
pas, instalações e medidas de coordenação e contro-
objetivos bem definidos. Estes objetivos são repre-
le, amigas e inimigas, rastreamento em tempo real),
sentados em uma lista de itens a realizar e é constan-
inventário de material e pessoal, planejamento de
temente atualizada. A maior vantagem de tal meto-
operações, ordem de operações, visualização 3D
dologia é a valorização da qualidade do produto com
(perfil do terreno) e visualização de formas geográ-
a realização de testes contínuos.
ficas como hidrografia e cotas. O C2 Cmb não pos-
O desenvolvimento do Programa C2 tem como
sui um SAD específico para o analista de inteligên-
uma de suas premissas básicas o amplo uso de soft-
cia utilizar no PITCI, cabendo ressaltar que o siste-
ware livre. Dentre as principais tecnologias envolvi-
ma ainda não está automatizado, no sentido de ma-
das encontramos o C++ (linguagem de programa-
nipular os dados e propor linhas de ação para deter-
ção); QT 4.X (plataforma para desenvolvimento em
minadas situações ao usuário.
liguagem C++); o SQLite (biblioteca que implemen-
O C2 Cmb conta com subsistema que permite e fa-
ta um banco de dados); o Openscenegraph (biblio-
cilita a análise, gestão ou representação do espaço e
teca para o desenvolvimento de aplicações gráficas
dos fenômenos que nele ocorrem. O SIG utilizado
de elevado desempenho); e o Openssl (biblioteca de
no C2 Cmb é o ATLANTE, que foi desenvolvido
funções básicas de criptografia).
pelo CIGEx com base no Consórcio Geoespacial
O banco de dados adotado no C2 Cmb é o SQLite.
Aberto, que encoraja o desenvolvimento e a imple-
Este banco de dados é recomendado onde a simpli-
mentação de padrões para conteúdo e serviços de
cidade da administração, implementação e manuten-
informações geográficas. Atualmente, os padrões
ção são mais importantes que incontáveis recursos
adotados são o WMS (Serviço de mapa pela Inter-
de programas mais complexos. Os “Dados Médios
net), GeoTiff, JPEG georreferenciado e shapefile.
de Planejamento” (DAMEPLAN) representam in-
O SIG do C2 Cmb já conta com recursos importan-
sumo fundamental para o trabalho do analista de
tes para o analista de inteligência durante o PITCI
inteligência no PITCI, sendo que embora o SQLite
como, por exemplo, a visualização dos perfis do
suporte o carregamento da base de dados com dados
terreno, a partir do modelo 3D, na geração do calco
do DAMEPLAN, para utilização efetiva dos dados é
da análise altimétrica do relevo, a sobreposição de
necessário desenvolver um modelo de integração
destas informações com o modelo de Comando e camadas com informações georeferenciadas na ela-
boração do calco de restrição de movimentos e, ain-
Controle.

56 EsIMEx - 2º Semestre de 2013


da, exibir informações meteorológicas e astronômi- adequados. Assim, os recursos que o programa dis-
cas (luminosidade) a partir de fontes externas. põe nesse cenário não podem ser utilizados.
Para esse estudo de caso foram carregadas 08 (oito)
5 ESTUDO DE CASO
cartas da Região Sul do País, na escala 1:50.000
Para constatar as alegações dos usuários do pro-
(ITAPEVI –RS; CACEQUI –RS; ROSARIO DO
grama sobre as possibilidades e limitações do em-
SUL –RS; ROSÁRIO DO SUL N – RS; AZEVEDO
prego do C2 Cmb no PITCI, foi organizado um caso
SODRÉ –RS; GUARA –RS; SAICA – RS E UMBU
esquemático de forma a observar e estudar o funcio-
–RS). Quando se tentou carregar mais cartas, o pro-
namento do programa.
grama apresentou seguido travamento no equipa-
O caso foi montado de forma a seguir, criteriosa-
mento.
mente, todas as fases do PITCI, inserindo os dados
Inicialmente a manobra montada foi uma “Marcha
necessários a facilitar a compreensão, por parte do
para o Combate de uma Divisão de Exército”. Para
decisor, das interferências do terreno, condições
uma melhor visualização, ao final de missão, foi
meteorológicas e inimigo, integrando-as ao final do
preparado um ataque coordenado de uma Brigada de
estudo.
Cavalaria Blindada com o objetivo de isolar uma
5.1 PREPARAÇAO DO PROGRAMA
localidade.
Nesta fase preparatória, foi instalado o programa
5.2 MONTAGEM DO CASO ESQUEMÁTICO
C2 em Cmb em um laptop HP 630, com processador
Para a montagem do caso esquemático, foi seguido
Intel Core i3, adquirido pelo Comando da 3ª Divisão
o que prevê a IP 30-1 – A ATIVIDADE DE INTE-
de Exército com a finalidade de ser utilizado no
LIGÊNCIA MILITAR, 2ª PARTE – A INTELI-
Centro de Operações daquele Grande Comando pelo
GÊNCIA NAS OPERAÇÕES MILITARES, que a
chefe da 4ª Seção. Iguais equipamentos foram distri-
partir do seu Capitulo 4 descreve o Processo de Inte-
buídos, também, para os demais integrantes do EM.
gração Terreno, Condições Meteorológicas e Inimi-
Após a instalação, foram carregadas cartas digitali-
go – PITCI.
zadas para se criar um cenário de operações. Uma
No intuito de realizar uma análise integrada para
das grandes dificuldades é encontrar cartas com di-
montar uma linha de ação, o processo foi estruturado
mensão de arquivo compatível com o programa,
de forma a apresentar um caráter gráfico para apoiar
bem como o formato.
a decisão do comandante.
As cartas disponíveis não são atuais, e os dados e-
Deste modo, forão apresentados extratos de cartas
xistentes sobre estradas, cidades, obras de arte, etc,
com a representação dos dados inseridos no progra-
não são confiáveis. Além disso, são pouquíssimas as
ma, de acordo com cada fase do PITCI.
cartas disponíveis em cenário 3D. O computador,
por consequência, deve proporcionar suporte a Sha-
5.2.1 Determinação e avaliação da área de opera-
der (instrução da placa de vídeo que facilita a confi- ções (1ª Fase)
guração de luz e sombras para imagem 3D) para que
Para se estabelecer o espaço geográfico que será
os cenários 3D apresentem nitidez e detalhamento
utilizado para o planejamento da manobra, foram

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 57


observadas a Zona de Ação e a Área de Interesse. À Na sequência, foi estabelecida a área de interesse
soma desses espaços dá-se o nome de Área de Ope- da 5ª DE, conforme figura 19. Para poder desenhar a
rações. área de interesse, foi utilizada a ferramenta “DESE-
Ao delimitar a área de Operações do caso esque- NHAR POLÍGONO”, colocando uma máscara com
mático, encontrou-se a primeira dificuldade do pro- transparência suficiente para visualização sem, con-
grama: a resolução da carta x espaço na tela. Quando tudo, esconder os dados do terreno existentes na
se trabalha com detalhes como acidentes do terreno carta.
que sejam facilmente identificáveis para servirem de
limitadores de Z Aç ou como controladores do mo-
vimento, esses pontos devem, também, ser clara-
mente identificados no planejamento realizado. Com
o espaço de tela de um computador, esses detalhes
não foram vistos.
Quando se tentou entrar nesses detalhes do terreno,
foi necessário aumentar as definições da carta utili-
zando-se da ferramenta zoom. Porém, isto dificultou Fig 19 - Delimitação da Area de Interesse da 5ª DE
a realização do traçado dos limites e linhas de con- Fonte: O autor – Estudo de Caso

trole, já que a ferramenta restringe o traçado de li- E concluindo, como já foi dito, foi necessário au-
nhas fora da área de trabalho sem ter que modificar mentar o zoom para visualizar detalhes do terreno.
o posicionamento da mesma, seja pela habilidade do Por isso, foi estabelecido uma área menor de traba-
operador em manusear a ferramenta “NAVEGA- lho na carta, com a manobra de uma Brigada de Ca-
ÇÃO” ou, parando o traçado para modificar o posi- valaria Blindada realizando um Ataque Coordenado.
cionamento da carta com a ferramenta “PAN”. Para isso, novamente utilizando a ferramenta “zo-
om”, foi destacado em qual porção do terreno seria
Assim, foi delimitada a Zona de Ação da 5ª DE
realizada essa manobra, conforme figura 20.
conforme figura 18.

Delimitacão da área de atuação


da 5ª Bda C Bld

Fig 20 - Delimitação da Zona de Ação da 5ª Bda C Bld


Fonte: O autor – Estudo de Caso
Fig 18 - Delimitação da Zona de Ação da 5ª DE
Fonte: O autor – Estudo de Caso

58 EsIMEx - 2º Semestre de 2013


5.2.2 - Estudo do terreno e das condições meteo- A dificuldade encontrada na composição desse cal-
rológicas (2ª Fase) co foi ter que desenhar os polígonos de restrição
5.2.2.1 Análise dos aspectos gerais do terreno manualmente, pois as cartas não são inteligentes e o
Para essa análise, o detalhamento é realizado em programa não consegue identificar, automaticamen-
sete etapas, de forma a determinar os aspectos gerais te, se o desenho de uma mata densa é impeditivo ou
e militares do terreno que interferem na operação, de restritivo ao deslocamento de tropas, principalmente
acordo com o escalão considerado, nesse caso, da 5ª motorizadas, mecanizadas ou blindadas.
Bda C Bld. Além disso, a carência de cartas em 3D não permi-
Na primeira etapa foram levantados os dados co- te identificar qual a declividade do terreno e sua in-
nhecidos na documentação existente. Uma juntada terferência no deslocamento de tropas. Essas ferra-
de cartas topográficas, fotografias aéreas, imagens mentas automáticas, se disponibilizadas, poderiam
de satélite, reconhecimentos no terreno, é fundamen- aumentar a eficácia do programa nessas etapas estu-
tal para concluir essa etapa. dadas.
Na Etapa Nr 2, é elaborado um calco dos aspectos 5.2.2.2 Análise das condições meteorológicas
do terreno.
Essa é a etapa 3 da 2ª fase do PITCI. Utilizando a
No estudo dos aspectos gerais do terreno, busca-se
ferramenta condições meteorológicas, pode-se le-
interpretar os dados topográficos existentes como a
vantar o prognóstico das condições meteorológicas
vegetação, hidrografia, as elevações existentes e sua
para a área de operações para o período considerado.
declividade, a natureza do solo, as obras de arte e as
Os dados dessa ferramenta são obtidos através de
alterações no terreno que impactem a mobilidade.
uma busca na internet.
Assim, levantam-se os terrenos impeditivos, restri-
tivos e adequados para o movimento de tropas, de No caso esquemático, foi digitada a localidade de
acordo com a natureza das mesmas. Rosário do Sul e obtido a previsão para o período,
A junção dessas duas etapas nos permitiu chegar a conforme figura 22, mas para efeito de estudos, foi
um calco de restrição de movimento em caso de considerada a probabilidade de chuvas, o que tem
tempo bom, conforme figura 21. interferência para a manobra.

Fig 21 - Calco de restrição de movimento


Fonte: O autor – Estudo de Caso
Fig 22 - Previsão do tempo para a Região
Fonte: O autor – Estudo de Caso

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 59


Assim, depois de uma análise das condições climá- 5.2.2.4 Identificação dos corredores de mobilidade e
ticas e sua interferência no terreno, foi montado um das vias de acesso.
calco de restrição de movimento em caso de chuvas, Com o calco de restrição de movimento pronto, já
conforme figura 23. se torna possível identificar os corredores de mobili-
dade e as vias de acesso que afetam ou não o movi-
mento das tropas.
Com base no DAMEPLAN, foram medidos os es-
paços no terreno com a ferramenta régua para identi-
ficar a capacidade de cada corredor de mobilidade,
conforme exemplo da figura 25.
O espaço existente nos terrenos adequados devem
ser adequados à área necessária para o movimento
Fig 23 - Calco de restrição de movimento em caso de chuvas
Fonte: O autor – Estudo de Caso de tropas blindadas, que irão atuar nessa faixa de
terreno.
A dificuldade nessa etapa é que o link de acesso ao
A dificuldade encontrada reside no tempo necessá-
banco de dados de clima direciona para um site do
rio para medir cada espaço existente.
CPTEC/INPE, cujos dados são apresentados para 3
dias, e não são discriminados por hora do dia. As-
sim, fica impreciso usar esses dados como subsídio
para o planejamento do emprego de tropas.

5.2.2.3 Integração do terreno com as condições me-


teorológicas.
Ferramenta régua
Na etapa 4, depois de confeccionados os calços das em uso
etapas anteriores, os mesmos foram superpostos, já
que o programa permite a seleção de quais cenários Fig 25 - Medição do terreno para avaliação do espa-

serão visualizados. Dessa forma, chegou-se ao calco ço para manobra - Fonte: O autor – Estudo de Caso
de restrição de movimento, conforme figura 24. Antes de se desenhar os corredores de mobilidade,
foram levantados os acidentes capitais que influen-
ciam a manobra planejada. O resultado é representa-
do na figura 26.

Fig 24 - Calco de restrição integrado terreno e clima


Fonte: O autor – Estudo de Caso
60 EsIMEx - 2º Semestre de 2013
Fig 28 - Vias de Acesso
Fonte: O autor – Estudo de Caso

5.2.2.5 Análise do terreno

Com base nas vias de acesso levantadas, se faz


uma minuciosa análise tanto para o lado do amigo
quanto do inimigo de forma a se levantar aspectos

Fig 26 - Acidentes capitais como: Observação e campos de tiro, cobertas e abri-


Fonte: O autor – Estudo de Caso gos, obstáculos, acidentes capitais, adequação do
Quando se tentou desenhar os corredores de mobi- espaço para manobra, facilidade de movimento e
lidade, deparou-se com uma dificuldade que é a au- outros aspectos relevantes.
sência de uma ferramenta que desenhasse conforme
Cada um desses aspectos pode acrescentar um as-
a padronização de manual. Um subterfúgio para isso
pecto gráfico no calco de integração, mas que deve
foi colocar a letra “I” como separador de subunida-
ser realizado em cada via de acesso. Ao final, uma
de, conforme apresentado na figura 27.
comparação de vias de acesso deve ser realizada.

As cartas em 3D apresentam melhores recursos pa-


ra a obtenção desses dados, já que permitem dimen-
sionar o campo de batalha virtualmente, inclusive
com a visualização do que é ou não visto pelo ob-
servador em qualquer ponto no terreno.

Fig 27 - Corredores de Mobilidade Por não dispormos de cartas desse tipo, não foi
Fonte: O autor – Estudo de Caso possível montar um gráfico adequado para essa fase
Pelo mesmo motivo, as vias de acesso também fo- e, muito menos, efetuar a comparação das vias de
ram simbolizadas de forma diferente do que prescre- acesso.
ve os manuais, por essa limitação do programa. Foi 5.2.2.6 Efeitos do terreno sobre as operações mili-
utilizado a ferramenta “DESENHAR CORREDOR” tares.
para representação gráfica, o que resultou a figura
Após toda a produção gráfica do terreno, o analista
28.
de inteligência deve concluir sobre os efeitos para as
operações, devendo deduzir qual é mais favorável
para o tipo de operação que será desencadeada.

Isso poderá, ao final dos trabalhos, ser apresentado,


também, de forma gráfica, para o decisor, mas deve-
rá, também, ser convencionado pelo operador do
programa, já que o mesmo não possui uma ferra-
menta adequada para otimizar esse processo.

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 61


5.2.3 - Estudo do Inimigo (3ª Fase) apresentar ao comandante a “linha de ação mais
provável do inimigo”.
O estudo do inimigo com o emprego do programa
depende, basicamente, da habilidade do operador em A metodologia empregada permite o acompanha-
lançar os dados corretamente no sistema, pois já foi mento evolutivo e situacional no inimigo e poderá
realizado o processo de estudo do terreno e condi- ser representada em forma de uma matriz das linhas
ções meteorológicas e seus impactos para ambos os de ação.
contendores.
Pode ser montado, ainda, uma sequência de calços
Assim, cabe apenas localizar, com base nos dados de eventos com o posicionamento atual e futuro das
levantados pelo sistema de inteligência existente, tropas inimigas, utilizando-se do mesmo processo
seja das fontes humanas, de sinais ou de imagens, o braçal.
posicionamento das tropas inimigas. O lançamento de dados no programa pelos elemen-
Após isso, e possível visualizar as principais hipó- tos de 1º escalão sobre o posicionamento das tropas
teses que o inimigo poderá desencadear. inimigas, utilizando-se de transmissão por radiofre-
quência, poderá agilizar o processo decisório dos
Para se visualizar a representação no Programa C2
escalões enquadrantes, porém, os equipamentos de-
Cmb o dispositivo, valor, localização e composição
vem ser modernizados e militarizados para possuí-
das tropas inimigas, foi apresentada a figura 44.
rem capacidade e rusticidade nas operações.

6 CONCLUSÃO
No Exército Brasileiro (EB), o estudo realizado pe-
la Inteligência no combate é denominado “Processo
de Integração Terreno, Condições Meteorológicas e
Inimigo (PITCI)”. A chamada “digitalização do
campo de batalha” imposta pelos avanços tecnológi-
Fig 29 - Situação do Inimigo cos do campo militar tem reduzido o tempo disponí-
Fonte: O autor – Estudo de Caso vel e ampliado exponencialmente o volume de in-
formações a serem consideradas no processo de to-
Ao final, apresentar-se-ia um calco completo de si-
mada de decisão operacional. Neste contexto, o EB
tuação do inimigo referente a suas unidades de ma-
desenvolveu o programa “C2 em Combate”.
nobra, apoio de fogo e logística, de forma a subsidiar
o decisor quanto às operações que poderão ser de- Este trabalho de pesquisa teve como objetivo de-
sencadeadas e sua interferência na manobra. terminar a relevância da utilização da do programa
“C2 em Combate” como subsídio ao PITCI. A pes-
5.2.4 4ª Fase - Integração
quisa analisou o uso dessa ferramenta, identificando
A integração é a consolidação de todos os estudos as vantagens e as desvantagens para o analista de
realizados pelo oficial de inteligência de forma a Inteligência. Adicionalmente, explorou os procedi-

62 EsIMEx - 2º Semestre de 2013


mentos adotados pelo analista na execução da Ativi- serão as condições para se fazer face ao combate
dade de Inteligência voltada para o Emprego da For- moderno.
ça Terrestre em Operações Militares. O Programa C2 em Combate tem sido utilizado
O estudo do PITCI revelou a grande demanda do amplamente no âmbito do Exército Brasileiro, tendo
analista no esforço de análise, com muitas tarefas como principal cliente o Comando de Operações
repetitivas que exigem tempo, particularmente se a Terrestres (COTER) que utiliza o software para efe-
área a ser analisada for muito grande. A profundida- tivamente controlar todas as operações com emprego
de da análise está diretamente relacionada com o de tropa atualmente em curso. Seu uso em campanha
tempo disponível para realizá-la. Assim, é importan- tem sido bastante amplo, sendo o software de co-
te disponibilizar, para o analista, ferramentas que mando e controle adotado em Simulações de Com-
diminuam o trabalho manual a ser realizado na aná- bate e Exercícios de Campanha em todo o Brasil.
lise do terreno e condições meteorológicas. Suas ferramentas gráficas e seus recursos cartográfi-
cos permitem utilizá-lo como ferramenta auxiliar de
O PITCI também exige do analista a consulta a ex-
análise.
tensos bancos de dados sobre MEM e Matriz Dou-
trinária do Inimigo. Por exemplo, para cada arma- Dos recursos que ele disponibiliza, pode-se obser-
mento empregado pelo inimigo, o analista poderá var que é possível a representação gráfica das cama-
desenhar, graficamente, o seu raio de ação com base das elaboradas nas 4 (quatro) fases do PICTI. Um
em suas características técnicas, morfologia do ter- limitador do sistema é a própria tela do computador
reno e coberturas vegetais, o que pode ser uma tarefa aonde o sistema estará rodando, que limitará a visão
extremamente desgastante. Da mesma maneira que da área a ser analisada. Por fim, desenhar uma medi-
no estudo do terreno, o estudo do Inimigo poderá da de coordenação e controle na tela de um compu-
facilmente demandar muito tempo do analista, tem- tador é, inevitavelmente, mais demorado do que de-
po este normalmente escasso. senhá-la usando o tradicional método de “lápis e
papel”. A grande vantagem no desenho no computa-
Os cenários que se apresentam no combate moder-
dor será na divulgação do trabalho de análise.
no indicam um aumento na complexidade das opera-
ções, que se desenrolarão em um ambiente de com- A pesquisa junto aos responsáveis pelo desenvol-
bate continuado, com grandes demandas de Inteli- vimento do programa C2 em Combate verificou-se
gência. O PITCI já se apresenta como um processo que a equipe adota padrões modernos e possui plena
consagrado para subsidiar os planejadores na seleção capacidade de evolução. O banco de dados pode
da melhor linha de ação possível para fazer frente ao suportar dados do DAMEPLAN e, embora não pos-
Inimigo moderno. Quanto mais ferramentas forem sua um SAD específico para auxiliar o analista de
disponibilizadas para o analista de Inteligência, vi- inteligência no PITCI, o mesmo poderá ser desen-
sando a facilitar seu trabalho e diminuir o tempo volvido no futuro. No caso das entrevistas realizadas
necessário para a realização de sua análise, melhores com os assessores de EM foi possível verificar que
apesar das afirmações de que é vantajoso o emprego

EsIMEx - 2º Semestre de 2013 63


do programa C2 em Combate no PITCI, ficou evi- BRASIL. Escola de Comando e Estado-Maior do Exército.
ME-101-0-3. Dados Médios de Planejamento Escolar. Rio
denciado que a grande maioria dos usuários desco-
de Janeiro, RJ, 2004.
nhece ou não emprega essa ferramenta.
_____. Escola de Comando e Estado-Maior do Exército. ME-
No estudo de caso realizado foi possível verificar 30-101. O Inimigo (1º Volume). Rio de Janeiro, RJ, 2001.

empiricamente alguns aspectos do emprego do C2 _____. Escola de Comunicações. Curso de Gestão de Sistemas
Táticos de Comando e Controle – Programa C2 em Combate.
em Combate no PITCI. O destaque foi a grande evo-
Brasília, DF, 2012.
lução das ferramentas disponíveis para inserção de
_____. Estado-Maior. C 100-5: Operações. 3. ed. Brasília, DF,
dados sobre o terreno, clima e inimigo que resultam 1997.
em uma visualização gráfica de todos os fatores que _____. Estado-Maior. C 101-5: Estado-Maior e Ordens. v. 1.

podem influenciar uma manobra planejada. A opor- 2. ed. Brasília, DF, 2003.
_____. Estado-Maior. C 101-5: Estado-Maior e Ordens. v. 2.
tunidade de melhoria identificada foi referente a
2. ed. Brasília, DF, 2003.
automação das ferramentas e atualização de cartas _____. Estado-Maior. IP 100-1: Bases para a Modernização
vetorizadas, principalmente em terceira dimensão, da Doutrina de Emprego da Força Terrestre (Doutrina
para maior efetividade do programa como ferramen- Delta). 1. ed. Brasília, DF, 1996.

ta de apoio ao PITCI. _____. Estado-Maior. IP 30-1: A Atividade de Inteligência


Militar. 2. p. 1. Ed. Brasília, DF, 1999.
Por fim, diante do trabalho de pesquisa realizado, _____. Centro de Desenvolvimento de Sistemas. Portal de
verifica-se que é possível empregar com restrições o Comando e Controle. Disponível em:

C2 em Combate no PITCI. Tais restrições constitu- <www.portalc2.eb.mil.br/portalc2/index.php/>. Acesso em: 27


fev. 2013.
em requisitos de evolução do programa.

REFERÊNCIAS
ANTONY, RICHARD T. Principles of Data Fusion Automa-
tion, Norwood, MA: Artech House, 1995.

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