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2018­6­25 Você já ouviu falar em cognição incorporada?

Você já ouviu falar em cognição incorporada?
Corpo interpreta pensamento abstrato de forma literal, mostra estudo 

A  teoria  da  relatividade  nos  mostrou  que  o  tempo  e  o  espaço  estão  interligados  ­  ao  que  nosso
cérebro sabichão poderia bem responder: "Diga algo que eu não sei, Einstein".

Pesquisadores  da  Universidade  de  Aberdeen  descobriram  que  quando  pessoas  foram  solicitadas  a
participar  de  uma  pequena  viagem  mental  no  tempo  e  relembrar  eventos  passados  ou  imaginar
acontecimentos  futuros,  o  corpo  dos  participantes  interpretava  as  metáforas  embutidas  em  como
nós normalmente conceitualizamos o fluxo do tempo.

Enquanto pensavam nos anos passados, os participantes se inclinavam levemente para trás; quando
fantasiavam sobre o futuro, eles se inclinavam para frente. Esses desvios não eram tipo a Torre de
Pisa, mas correspondiam a 2 ou 3 milímetros para uma direção ou outra. No entanto, a direção era
clara e consistente.

"Quando falamos sobre o tempo, muitas vezes usamos metáforas espaciais, como 'Espero o momento de poder te ver', ou 'Estou
refletindo  sobre  o  passado'",  disse  Lynden  K.  Miles,  que  conduziu  o  estudo  com  seus  colegas  Louise  K.  Nind  e  C.  Neil  Macrae.
"Foi  gratificante  para  nós  tomar  um  conceito  abstrato  como  o  tempo  e  mostrar  que  ele  foi  manifestado  em  movimentos
corporais."

O novo estudo, publicado em janeiro no jornal "Psychological Science", faz parte de um campo imensamente popular chamado
cognição incorporada, a ideia de que o cérebro não é a única parte do nosso corpo com uma mente própria.

"A forma como processamos informação está relacionada não apenas aos nossos cérebros, mas ao nosso corpo inteiro", disse Nils
B. Jostmann, da Universidade de Amsterdã. "Usamos todos os sistemas disponíveis para chegar a uma conclusão e compreender o
que está acontecendo".

Frio e calor

Pesquisas sobre cognição incorporada revelaram que o corpo leva a linguagem ao coração e pode ser terrivelmente literal.

Dizemos que uma pessoa é calorosa e adorável, o oposto de fria e distante, não é? Num estudo recente de Yale, pesquisadores
dividiram  41  estudantes  universitários  em  dois  grupos  e  casualmente  pediram  que  os  membros  do  Grupo  A  segurassem  uma
xícara de café quente, enquanto os do Grupo B seguravam café gelado. Os estudantes foram então levados a uma sala de testes e
solicitados a avaliar a personalidade de um individuo imaginário com base em algumas informações.

Estudantes  que  tinham  segurado  a  bebida  quente  tiveram  muito  mais  probabilidade  de  julgar  o  personagem  fictício  como
caloroso e amigável do que os que tinham segurado o café gelado.

Ou talvez você já tenha sentido o vento frio da exclusão social. Quando pesquisadores da Universidade de Toronto instruíram um
grupo  de  65  estudantes  a  se  lembrar  de  um  momento  em  que  se  sentiram  socialmente  aceitos  ou  socialmente  desprezados,  os
que  tiveram  memórias  de  rejeição  disseram  que  a  temperatura  da  sala  estava  2,8ºC,  em  média,  mais  fria  do  que  os  que  tinham
sido embalados por pensamentos calorosos envolvendo a aprovação dos colegas.

O corpo incorpora abstrações da melhor forma que conhece: fisicamente. A baixeza moral, um lapso ético, nada mais é do que
uma mancha no caráter de um indivíduo. Um momento para os Lencinhos de Limpeza Lady Macbeth. Um estudo mostrou que os
participantes  solicitados  a  refletir  sobre  uma  transgressão  moral  pessoal,  como  adultério  ou  colar  numa  prova,  tiveram  maior
tendência a pedir um lenço anti­séptico do que os participantes instruídos a relembrar boas ações que fizeram.

Quando  confrontado  com  uma  palavra  ou  expressão  de  duplo  sentido,  uma  bifurcação  verbal  na  estrada,  o  corpo  considera  o
conselho de Yogi Berra. Num relatório publicado no último mês de agosto no "Psychological Science", Jostmann e seus colegas
Daniel  Lakens  e  Thomas  W.  Schubert  exploraram  o  nível  no  qual  o  corpo  combina  peso  e  importância.  Eles  descobriram,  por
exemplo,  que  quando  estudantes  ouviam  que  determinado  livro  era  vital  para  o  currículo,  eles  achavam  que  o  livro  era
fisicamente mais pesado. Estudantes que ouviam que aquele livro tinha importância secundária para os estudos achavam o livro
mais leve.

Os pesquisadores queriam saber se a sensação de peso poderia influenciar o julgamento das pessoas de forma mais ampla.

Numa série de experimentos, participantes foram orientados a responder questionários anexados a uma prancheta de metal com
um  compartimento  na  parte  de  trás  capaz  de  armazenar  papéis.  Em  alguns  casos,  os  compartimentos  estavam  vazios,  e  a
prancheta pesava apenas 658 gramas. Em outros casos, os compartimentos continham papéis, e a prancheta pesava 1,039 quilo.

Os  participantes  seguravam  uma  prancheta  leve  ou  pesada,  enquanto  respondiam  a  uma  entrevista.  Uma  solicitava  que  eles
calculassem o valor de seis moedas estrangeiras pouco conhecidas. Outra pedia que os alunos indicassem a importância de um
comitê da universidade levar em conta suas opiniões na hora de decidir o valor de bolsas concedidas a estudantes estrangeiros.
Para um terceiro experimento, os participantes foram questionados sobre seu grau de satisfação com (a) a cidade de Amsterdã e
(b) o prefeito de Amsterdã.

Em todos os estudos, como sugerem os resultados, o peso da prancheta influenciou. Os alunos que seguravam a prancheta mais
pesada  achavam  que  as  moedas  estrangeiras  eram  mais  valiosas  do  que  aqueles  com  as  pranchetas  mais  leves.  Os  participantes
com pranchetas mais leves insistiam que os estudantes deveriam ter peso maior na hora de decidir sobre as questões financeiras

http://www.sissaude.com.br/sis/inicial.php?case=2&idnot=4947 1/2
2018­6­25 Você já ouviu falar em cognição incorporada?

da  universidade.  Os  que  seguravam  a  prancheta  mais  pesada  adotaram  um  estado  mental  mais  rigoroso,  e  se  mostraram  mais
prováveis a considerar as conexões entre a habitabilidade de Amsterdã e a eficácia de seu líder.

Evolução

Segundo Jostmann, a prontidão do corpo em levar em conta fatores físicos na sua deliberação sobre temas aparentemente não
relacionados  e  altamente  abstratos  muitas  vezes  faz  sentido.  "A  questão  de  como  os  humanos  veem  a  gravidade  é  útil
evolutivamente", disse ele.

"Uma coisa pesada significa que devemos cuidar dela", continuou. "Coisas pesadas não são facilmente transportadas, mas podem
facilmente nos intimidar".

O  corpo  em  reflexão  prefere  uma  abordagem  mais  prática  e  a  gesticulação  mostrou  que  pode  ajudar  crianças  a  aprender
matemática.

Entre alunos que tinham dificuldade com equações do tipo 4+5+3=x+3, por exemplo, o desempenho melhora acentuadamente
se  eles  são  ensinados  os  gestos  certos:  agrupar  os  números  do  lado  esquerdo  com  dois  dedos  na  forma  de  um  "V",  depois
apontar o indicador para o espaço em branco à direita.

Para aprender como rodar um objeto mentalmente, primeiro tente uma mímica. "Se você motivar as crianças a fazer o movimento
de rotação com as mãos, isso as ajuda a fazer o movimento na cabeça", disse Susan Goldin­Meadow, da Universidade de Chicago
"Simplesmente assistir aos outros não é suficiente".

Podemos  nos  lamentar  sobre  ontem;  o  amanhã  é  apenas  hipótese.  Mas  você  sempre  pode  ouvir  seu  corpo  e  viver  o  momento
intensamente.

Autor: Redação 
 Fonte: Folha de São Paulo 

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