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Richard Vainberg
400 ESTABILIDADE POUTICA ESTADO CONTEMPORÂNEO 401

mente difícil encontrar outros elementos que se Finalmente, é mister esclarecer que a mobili- cadores está ainda, fundamentalmente, por ser mas hão de ser sempre atendidos onde emerjam
possam considerar "indicadores" aceitáveis desta zação social e o desenvolvimento econômico não feito e só deveria terminar quando houvesse con- do contexto social. Daí que a integração entre
condição de Estabilidade. Por enquanto só se foram enumerados entre as condições de Esta- dições de avaliar os verdadeiros e autênticos ín~ Estado de direito e Estado social não possa dar·
pode indicar três fatores que talvez ofereçam su- bilidade, não só 'porque aqui só se examinaram dices de Estabilidade dos vários países anali· se a nível constitucional, mas só a nível legisla~
gestões úteis sobre a eficácia do sistema político as condições, políticas, como também porque se sados. tivo e administrativo. Se os direitos fundamentais
considerado: a) a regularidade e freqüência .de trata de fenômenos que -não possuem uma im- são a garantia de uma sociedade burguesa sepa·
rotatividade no cargo das pessoas que ocupam portância direta, mas apenas indireta, para a Es- rada do Estado, os direitos sociais, pelo contrário,
postos fundamentais no sistema político, sobre- tabilidade. De um lado, de fato, a mobilização BIBLIOGRAFIA. - G.- A. ALMüND e S. VERBA, The cirie representam a via por onde a sociedade entra no
tudo no Governo; substituiçãeg muito freqüentes social, tanto em seus diversos aspectos, como nos culture, Princeton University Press, Princeton 1963; R. A, Estado, modificando·lhe a estrutura formal.
dos titulares de tais cargos dão origem, em si, complexo~ processos que põe em movimento, é DAHL, Who governs?, Yale University Press, New Haven A mudança fundamental consistiu, a partir da
a que nenhuma linha política possa ser seriamente indubitavelmente decisiva para a legitimidade do 1961; D, EASTON, 1/ sistema político (1960), Comunità,
segunda metade do século XIX, na gradual inte·
seguida e nenhuma decisão importante levada a sistema político; de outro, o desenvolvimento eco- Milano 1963; H, ECKSTEIN, 11 rendimento dei sisfemi poli-
gração do Estado político com a sociedade civil,
termo, com a provável conseqüência de uma me- nômico, traduzido no quantum em recursos ma- tici (1971), in "Rivista Italiana di Scienza Politica", 11,
que acabou por alterar a ·forma jurídica do Es·
nor- eficácia do. sistema político; b) o "quantum" teriais que existe num sistema, é também, por 1972; Id., Division and cohesion in democracy, A study oj
tado, os processos de legitimação e a estrutura
de dissenso existente dentro da elite do poder: sua vez, sumamente importante para uma maior norway, Princeton University Press, Prince~on 1966; 11,
da administração.
a uma maior discordância corresponde muitas eficácia decisória. Por isso, entre mobilização so- ECKSTEIN eT. R. GURR, Patterns o} authority, A struí'tural
basisfor political inquiry, Wiley & Sons, New York 1975: A estrutura do Estado de direito pode ser, as·
vezes uma menor probabilidade de se tomar de- cial e legitimidade, entre desenvolvimento eco-
T, R. GURR, Why men rebel, Princeton University Press, sim, sistematizada como:
cisões idôneas em tempo útil e uma maior proba nômico e eficácia decisória existem corr'e1açõcs
bilidade de só se chegar a soluções de compro· diretas que não se dão, ao contrário, entre os Princeton 1970; S. P, HUNTINGTüN, Ordinamento polifieo I) Estrutura formal do sistema jurídico, ga·
missa que, contentando a todos, nada resolvem; sobreditos processos sócio-econômicos e a Esta- e muramento sociale (1968), Angeli, Milano 1975: HOR- rantia das liberdades fundamentais com a apli·
c) o funcionamento de proc~ssos decisórios "nor- WTIZ, An index o} democratic political stability, in "Com- cação da lei geral.abstrata por parte de juízes
bilidade.
mais" ou não, ou seja, as decisões são tomadas parative, Political Studies", IV, 1971: Id" Contemporary independentes.
habitualmente segundo formalidades padroniza· approaches to political stability, in "Comparative Politics",
IV. PERSPECTIVAS DE ANÁLISE. - O tema da 2) Estrutura material do sistema jurídico: liber·
das e em conformidade com as normas previstas, V 1973; S. M. LIPSET, L'uomo e la política (1960), Comu·
Estabilidade é um tema que é preciso aprofundai dade de concorrência no mercado, reconhecida
ou então só são adotadas em decorrência do re- nitã, Milano 1963; D. C. POTlER e outros, PoliticaJ
em seus vários aspectos e de que, se é difícil no comércio aos sujeitos da propriedade.
curso a· meios extraordinários, por existir um iter stability, The Open University, Rustington 1974.
coligir· os· resultados alcançados, é bastante sim-
decisório cheio de obstáculos, complicado, às ve- ples indicar as perspectivas de análise. A nível 3) Estrutura social do sistema jurídico: a ques·
[LEONARDO MORLlNO] tão social e as políticas reformistas de integração
zes impedido e sempre avaro; com efeito, se exis- teórico da formulação das hipóteses gerais, é pre·
tir um processo decisório irregular e for difícil ciso resolver melhor as querelas existentes entre da classe trabalhadora.
tomar rápidas decisões, o sistema tornar-se-á pro- os que preferem uma definição assaz ampla de 4) Estrutura política do sistema jurídico: sepa·
vavelmente menos eficaz, uma vez que as decisões Estabilidade, aceitando como dimensões desse Estado Contemporâneo, ração e distribuição do poder (F. Neumann, 1973).
serão tomadas com atraso' e em número aquém conceito aquelas que poderiam ser consideradas As mudanças ocorridas na estrutura mate-daI
do necessário. Embora de difícil verificação empí- apenas como "condições de ocorrência", e os e na estrutura social do sistema jurídico foram
rica, estes três elementos parecem, bem conside- I. ESTADO DE DIREITO E ESTADO SOCIAL. -
que, ao invés, optam por uma definição mais cir- origem das transformações a nível formal e po·
radas as coisas, mais facilmente identificáveis que Uma definição de Estado contemporâneo envolve
cunscrita. Em segundo lugar, é necessário ir mais lítico.
outros, sobretudo se especificados e aprofundados. numerosos problemas, derivados principalmente
além na própria individualização das -condições da dificuldade de analisar exaustivamente as múl
São bastante evidentes as dificuldades que é e na investigação empírica dos fenômenos da le- 11. O CAPITALISMO ORGANIZADO. - Pelos fins
tipIas relações que se criaram entre o Estado e
preciso superar, quando se enfrentam os numero- gitimidade e da eficácia. Ainda a nível teórico, do século XIX e início do século XX, ocorreram
o complexo social e de captar, depois, os seus
sos problemas respeitantes ao estudo deste tema. poder-se~ia encarar muitos outros problemas: por transformações profundas na estrutura material
efeitos sobre a racionalidade interna do sistema
Elas se tornam de todo insuperáveis se se exa- exemplo, o das relações entre Estabilidade e efi· do Estado de direito, havendo sido radicalmente
político. Uma abordagem que se revela particular·
mina outra das condições da Estabilidade dos cácia decisória, dado que a eficácia também pode alterada a forma da livre concorrência de mer-
mente útil na investigação referente aos proble-
sistemas políticos, em geral completamente igno- ser considerada como uma conseqüência da Esta- mas subjacentes ao desenvolvimento do Estado cado. Organisierter Kapitalismus é o predicado
rada dos autores que se ocuparam# do problema: bilidade e, por conseguinte, pode existir uma re- contemporâneo é a da análise da difícil coexis- que exprime esta importante mudança. Na Ale·
papel, efeitos e incidência dos fatores internacio- lação recíproca, segundo a qual mais Estabilidade tência das formas do Estado de direito com os manha, por exemplo, este momento de transfor~
nais. Mesmo sendo claríssima a importância desta se traduziria numa maior eficácia e vice-versa; mação se verificou depois dos anos 70, sendo
conteúdos do Estado social.
condição, a impossibilidade de formular qual· ou, então, sobre como distinguir, quando se passa Os direitos fundamentais representam a tradi- favorecido por algumas tendências: a) a intro~
quer generalização é que fez dela um elemento de um sistema a outro - o que é importante cional tutela das liberdades burguesas: liberdade dução de tecnologia avançada; a preferência dada
deixado de parte. Só se pode estabelecer que até para verificar a posteriori- - a Estabilidade do pessoal, política e econômica. Constituem um di· às grandes empresas; a formação planificada de
o sistema mais estável pode cair devido à inter- sistema. que contra a intervenção do Estado., Pelo contrá~ "capital humano"; a afirmação de um naciona-
venção de uma potência estrangeira ou de uma Além disso, é preciso ter presente que a hipó' rio, os direitos sociais representam direitos de lismo econômico como ideologia de desenvolvi·
conjuntura internacional desfavorável, ou, pelo tese aqui formulada num plano teórico é só uma participação no poder político e na distribuição menta; b) a legislação liberal dos anos 70 - o
contrário, que o sistema político mais instável hipótese de trabalho para aplicação empírica, um da riqueza social produzida. A forma do Estado novo direito industrial, bancário, comercial, acio-
pode manter-se anos a fio, se sustentado por uma conjunto de conceitos formulados de tal modo oscila, assim, entre a liberdade e a participa'ção nário e da Bolsa - , que criou para tal désen·
potência estrangeira ou por uma situação inter- que tornem possível uma atenta e apurada com- (E. Forsthoff, 1973). volvimento um quadro institucional considerado
nacional favorável. É por isso que esta condição paração. Os dados é que demonstrarão a falsi· Além disso, enquanto os direitos fundamentais vantajoso pelos representantes dos bancos e das
se inclui, em geral, na conhecida cláusula coeteris dade ou não da hipótese proposta. Enfim, o tra· representam a garantia do status quo, os direitos empresas (H. U. Wehler, 1974). A forma da
paribus. balho de pesquisa e aperfeiçoamento' dos indi· sociais, pelo contrário, são a priori imprevisíveis, propriedade também mudou, tornando·se dispo·
402 ESTADO CONTEMPORÂNEO ESTADO CONTEMPORÂNEO 403

nível através das ações da Bolsa. Ao mesmo tem- em setores ainda concorrenciais reclama, ao con- desenvolve segundo um esquema do tipo "se. a unidade da formação econômico-política pu-
po, a anarquia da produção encontrou um pri- trário, intervenção legislativa ad hoc. então". N. Luhmann leva até às últimas conse- desse ser assegurada pelo desenvolvimento autô-
meiro paliativo na forma de planejamento .eco- Mas esta possibilidade se revela de pronto ir- qüências as premiss~s weberianas e, dentro de nomo da sociedade, com a simples garantia da
nômico privado. Pôde-se assim assistir à forma- realizável, já que no Parlamento se acham pre- um esquema sistemático, apresenta a hipótese _de intervenção política de "polícia".
ção de grandes concentrações, que contaram com sentes os partidos da classe trabalhadora que po- um tipo de legitimação que se operaria através Impôs-se, em vez disso, a necessidade de uma
o apoio dos bancos, mesmo que não se fundissem deriam impor um controle Ildemocrático" da eco- do processo eleitoral, legislativo, judiciário e ad- tecnologia social que determinasse as causas das
com eles. A tendência estava já esboçada: as nomia, a que se oporiam os partidos que defen- ministrativo (Legitimation durch Verfahren). Este divisões sociais e tratasse de lhes remediar, me-
formas separadas do capital industrial, comerciai dem tradicionalmente os interesses do capital con- tipo de lógica de tipo hipotético-dedutivo, que diante adequadas intervenções de reforma social.
e bancário se uniram na forma do capital finan- tra o trabalho. Daí se seguiu o, esvaziamento da remete o caso particular à lei geral, será profun- Se a Inglaterra, já antes de 1900, tinha posto em
ceiro, que foi a realidade histórica em que se função legislativa e a reorganização do comando damente alterado pelas modificações ocorridas no prática uma avançada legislação da atividade fa-
revelou o capitalismo organizado. político, que começou a desviar-se para outros seio da sociedade civil. bril a Alemanha de Bismarck, em vez disso, levou
De um ponto de vista marxista, esta mudança centros do aparelho estatal. As últimas fases da Weber distingue algumas das características a c~bo uma articulada série de intervenções, vi·
profunda é que levou à formação do capital so- República de Weimar, por exemplo, já antes do principais do poder legal-racional: caráter im- sando pôr em ação um sistema de previdência
cial conjunto (Gesamtkapital), que consiste na advento do nacional-socialismo, se caracterizaram pessoal, hierarquia dos cargos (v. PODER) e, final- social que viria a concretizar-se entre 1883 e
concentração do capital industrial e na subsunção pelo aumento das intervenções presidenciais, sob mente, competência, ou seja, posse por parte dos 1889, com os primeiros programas de seguro obri-
por este do capital comercial, com o fim de redu- forma de decretos, e por um crescente recurso funcionários de um saber especializado. Parece gatório contra a doença, a velhice e a invalidez.
zir os tempos de circulação em que permanece ao poder de revisão judiciária, pelo qual O juiz assim evidente que a crença na legitimidade, que Assim como a legislação da atividade fabril in-
fixo, improdutivamente, o valor que tem de ser podia interpretar a lei geral e abstrata, fazendo se resolvera em crença na legalidade, revela-se, glesa teve também ampla aplicação no exterior,
realizado. uso de Hprincípios gerais" extrajurídicos, parti- em última instância, como fé no saber especia- também o sistema de previdência social alemão
A presença de fortes concentrações industriais cularmente nos dissídios trabalhistas e na regu- lizado do aparelho administrativo. Mas tratava-se encontrou vasta imitação. A Dinamarca aplicou
converteu-se em presença de um grupo de pressão, lamentação da concorrência de mercado. Isto re- ainda da estrutura fonnal, correspondente a uma as disposições pensionistas entre 1891 e 1898;
capaz de influir na política interna, como o de- presentava um retorno ao jusnaturalismo, não de economia de mercado concorrencia1. Weber não a Bélgica, entre 1894 e 1903. A Suíça, com uma
feição progressista como o hovía oid9 para a bur- podia prever as transformações do aparelho ad- Emenda constitucional, permitiu, em 1890, que
monstrou, por exemplo, na Alemanha, a formação
guesia :em a.censão nos séculos XVII e XVIII, ministrativo nem a nova racionalidade, não mais o Governo federal organizasse um sistema de
de uma política de proteção aduaneira.
mas de feição conservadora. Para além de qual- de tipo legal-racional, que uma sociedade. civil seguro nacional.
A relação Estado-economia foi, pois, modifi- tornada mais complexa havia de impor. A obra de Bismarck encontrou firme apoio
quer confronto histórico, pode-se, contudo, afir-
cada com a constituição do capital financeiro e na Constituição, em 1873, do Verein jür Sozial-
mar que a tendência evidenciada por Neumann
não pode consistir mais J como ao longo de todo IV. O PROBLEMA SOCIAL 00 ESTAOO CONTEM- politik, fundado por G. von Schmoller, que reu-
representa um' caminho irreversível do Estado
o século XVIII, na estranheza da política ao in- contemporâneo, um caminho que o levou a es- PORÂNEO. - A "questão social" que ecIodiu na nia "sob uma mesma bandeira todos aqueles que,
tercâmbio do mercado. O paradigma mudou: a vaziar progressivamente o poder legislativo em segunda metade do século XIX colheu de sur- concordes sobre a urgência de reformas sociais
política econômica do Estado interfere agora dire- prol de uma organização corporativa do poder, presa a burguesia, impondo-se-lhe como o proble- e prontos a trabalhar por elas, estavam decididos
tamente, não sÓ através de medidas protecionistas baseada na crescente funcionalização das agencies ma principal a que ela devia fazer frente e que a meter mãos à obra, com plena convicção". O
em relação ao capital monopólico, mas também da administração, tendo em vista os diversos se· ainda continua sendo o problema sem solução do Verein estava na origem daquela ideologia co-
das manobras monetárias do Banco Central e, tores do capital (I. Hirsch, I. O'Connor). Estado moderno. nhecida com o nome de socialismo de cátedra
pouco a pouco, mediante a criação de condições
Em 1601, na Inglaterra, foi promulgada a Poor que, moldada num método histórico de economia,
infra-estruturais favoráveis à valorização do ca- 111. O PODER LEGAL-RACIONAL. - A uma so- Law; mas esta lei~ que instituía uma taxa para foi o primeiro esfor,ço, mais que o marginalismo,
pital industrial. De um ponto de vista teórico, os pobres e um sistema de subsídios em dinheiro, de oposição por parte do Estado legislativo de
ciedade estruturada com base nos automatismos
isto implica a passagem da economia política à constituiu mais uma tentativa de elimJnação dos direito à difusão do marxismo na Europa.
do mercado corresponde um certo tipo de poder,
análise e crítica da política econômica do Estado. pobres do que de eliminação da pobreza. Toda Foi certamente por este :caminho que se co-
que Weber define como legal-racional, e um certo
A diversa estrutura material altera, pois, a ló- modo de transmissão dos comandos concretos. comunidade que tinha de prover ao sustento dos meçou a abrir, dificultosaménte) uma alternativa
gica da política estatal, já que, a um Estado que Poder é a possibilidade de contar com a obediên· seus pobres procurou, na realidade, expulsá-los ao liberalismo: nasceu, de fato, em fins do século
antes contribuiu, durante todo o século XVIII, cia a ordens específicas por parte de um deter- e deixar entrar o menor número possíyel. Até XIX, o Estado interventivo, cada vez mais en-
para a criação da forma-mercado, não só das mer- minado grupo de pessoas. Todo poder carece do o início do século XIX, a tarefa assistencial era volvido no financiamento e administração de pro-
cadorias, mas também do trabalho, do dinheiro aparelho administrativo para a execução das suas confiada às corporações de artes e ofícios. O fim gramas de seguro social. As primeiras formas de
e da terra (K. Polany), e depois se limitou a determinações. O que legitima o poder não é das corporações foi levada avante pelas socie- Welfare visavam, na realidade, a contrastar o
garantir formalmente, desde fora, a estrutura da tanto, ou não é só, uma motivação afetiva ou dades de socorra mútuo, às quais cabiam também avanço do socialismo, procurando criar a depen-
livre-troca, sucede agora um Estado que intervém racional relativa ao valor: a esta se junta a crença atribuições previdenciárias. Ao fim, a previdência dência do trabalhador ao Estado, mas, ao mes-
ativamente dentro do processo de valorização ca- na sua legitimidade. O poder do Estado de direito social se impôs como uma necessidade em face mo tempo, deram origem a algumas formas de
pitalista. Mas a mudança atinge não sÓ a política é racional quando. escreve Weber, I'se apóia na dos riscos acarreados pela Revolução Industrial, política econômica, destinadas a modificar irre-
econômica, como também as funções tradicionais crença da legalidade dos ordenamentos estatui- que trouxe aos trabalhadores condições de maior versivelmente a face do Estado contemporâneo.
do Estado de direito. Foi F. Neumann quem dos e do direito daqueles que foram chamados pobreza e os relegou em vastos aglomerados ur- A lei que instituía pensões de invalidez e velhice,
analisou as transformações da função da lei em a exercer o poder". Assim, a fé na legitimidade banos, privados dos laços de solidariedade que aprovada na Alemanha em 1889, permitia uma
face do capitalismo organizado. A lei geral, abs- se resolve em fé na legalidade, e a legitimação encontravam na comunidade rural. contribuição de 50 marcos, por conta do Tesouro
trata, correspondia formalmente a uma situação da administração que transmite o comando polí- A "questão social", surgida como efeito da imperial, para toda pessoa que recebesse uma
de mercado onde os sujeitos realizavam a permu- tico é uma legitimação legal. A lógica desta ra- Revolução Industrial, representou O fim de uma pensão. Depois, os seguros sociais, que se torna-
ta livremente, em condições paritárias. A diver- cionalidade administrativa é própria do Estado concepção orgânica da sociedade e do Estado, ram támhém extensivos a outras categorias de
sificação do capital em setores monopólicos e de direito; como execução da lei geral, ela se típica da filosofia hegeliana, e não permitiu que trabalhadores, e não só aoS operários, constituí-
404 ESTADO CONTEMPORÂNEO ESTADO CONTEMPORÂNEO 405

ram uma forma de redistribuição da renda entre deixa entrever uma crise na lógica que preside ainda mais e os serviços laborais se tornaram dição insanável da crise de legitimação do Estado
os núcleos familiares. Mas, para isso, foi~se im- à forma-mercado. O Estado fiscal se encontra mais especializados. O setQr rebocador do desen· contemporâneo. A legitimação não pode assentar
pondo, de 'modo progressivo, cada vez mais acen~ perante dois limites: o primeiro representado pela volvimento econômico - o do capital monopólico na crença da legalidade, como acontece em
tuadamente, a intervenção financeira do Estado. natureza do objeto fiscal (em virtude da qual a - exige crescentes investimentos infra-estruturais Weber; a lei universal e abstrata não pode mais
imposição direta pode gravar mais a renda e o (capital social, segundo O'Connor) no campo da referir~se a um contexto econômico e social pro~
V. O ESTADO FISCAL. - R. Goldscheid pôs capital monopólico do que a empresa concorren- pesquisa e do desenvolvimento, nos transportes fundamente não homogêneo e, por isso, a sua
em relevo a tendência histórica a um progressivo cial) e pelos vínculos da manutenção de uma eco- e na qualificação da força-trabalho. aplicação se realiza através de processos admi-
empobrecimento do Estado, já que a burguesia nomia livre; o segundo constituído pela possibi~
conseguiu criar um Estado dependente, no que A intervenção do Estado adquire assim um sen- nistrativos cada vez mais funcionalmente adapta-
lidade de um incremento incontrolável da de- tido preciso, já que tende a socializar, ist.o ~, dos a claros interesses, que vão surgindo num
respeita à disponibilidade financeira, à~ suas COn- manda de despesas públicas, capaz de motivar
cessões. Se na época do Estado absoluto os que de- a impor a toda sociedade civil o peso da valorI- aparelho produtivo amplamente diversificado. A
o .colapso do Estado fiscal. Schumpeter identifi- zação exclusiva do setor econômico mais desen- legitimação da autoridade política do Estado tem
tinham o poder representavam igualmente o Esta. cou, já nos primeiros decênios deste- século, a volvido. Por este meio, o Estado fornece uma cota de buscar outro fundamento.
do, e a riqueza do Estado era a sua riqueza, na épo- razão principal da crise do Estado contemporâ-
ca do Governo constitucional, ao contrário, o Esta- de capital constante, que contribui para frear a Segundo O'Connor, a crise de legitimação se
neo, ao escrever: "é o momento da empresa pri~ queda da taxa média de lucro. Está aqui a origem apresenta como crise fiscal do Estado, ou seja,
do e a propriedade se separaram. Esta separação vada... e, com a empresa privada, é também daquele aumento da despesa pública que já A. como incapacidade da autoridade política em en·
originou a dependência - a dependência fiscal
- do Estado à sociedade. O problema do Es.
o momento do Estado fiscal", mas "a sociedade Wagner punha em evidência no início do século, frentar a situação contraditória dos interesses do
está crescendo e indo mais além da empresa ao formular teoricamente a "lei do crescimento da grande capital e da força-trabalho marginal, exis-
tado parece ser, nesse caso, o da,sua "recapita- privada e do Estado fiscal" (Schumpeter, 1918,
lização", baseada. nos impostos fiscais, ou seja, atividade estatal" (Das Gesetz der zunchmenden tentes dentro do corpo social. As des.pesas públi-
p. 371). Staattiitigkeit, in Handworterbuch der Staats- cas não conseguem prover, devido à diferença
o da acumulação e concentração de capital de
propriedades públicas, que permitirá a solução wissenschaften, vaI. 7, 1911). crescente entre as saídas necessárias e as entradas
VI. A TEORIA MARXISTA DO ESTADO. _ Na re- insuficientes, à distribuição de recursos que satis-
dos mais urgentes problemas sociais. E. Forsthoff cente teoria marxista, o Estado é concebido como
Parece aqui evidente que a política econômica
vê no Estado fiscal a possibilidaoo de uma síntese do Estado (composta da política monetária, fiscal façam as aspirações de uma área· cada vez mais
uma dedução (Ableitung) da lógica da valoriza- e .social) subordina~se progressivamente à lógica vasta de indivíduos, cuja reprodução social só
entre Estado de direito e Estado social; fica, de
ção do capitaL O enfoque metodológico geralmen. da valorização de um dos setores do "capital pode ser esperada da expansão das despesas so-
fato, inalterada a estrutura de posse e, ao mesmo
te seguido nestes processos dedutivos é I'genético" global". f: possível distinguir também a consti- ciais por parte do Estado. A crise fiscal, junto
tempo, realiza-se uma redistribuição da renda ca-
e "funcional": genético, quando se indaga·a ori- tuição de um "complexo político~industrial",. for- com a crise da legitimação, se revela, portanto,
paz de resolver as múltiplas manifestações das
instâncias sociais. gem histórica das funções do Estado, que está mado pela articulação da autoridade política com como uma crise social, como uma crise do Estado
nos conflitos entre as classes sociais ou na contra- os interesses da valorização do capital. Dai o de segurança social.
Por este caminho, a ciência das finanças cul- dição que opõe os diversos setores do capital;
minará numa teoria da propriedade pública. As conseqüente fim da forma-mercado e a criação de A crescente integração de Estado e sociedade
funcional, quando se verifica se as tarefas histo- um sistema, dentro do qual operam, de modo com· civil - ou seja, a extensão das políticas tendentes
finanças públicas começarão assim a adquirir um ricamente criadas, a que o Estado deve presidir,
papel central na análise do Estado, uma vez que plementar, duas lógicas formalmente diversas: a a assegurar o equilíbrio dos interesses emergentes
resolvem-se ou não numa relação de funcionali~ do capital, de tipo quantitativo, que tenta a criação - encontra na análise das despesas públicas o
nelas se sintetiza a relação do "político" com a dade com os processos de valorização da estrutura
sociedade civil ("todo problema social é um pro- capitalista. e a realização do lucro, e a do Estado, de tipo instrumento privilegiado da pesquisa, destinada
blema financeiro", escrevia Goldscheid no início qualitativo, que não produz mercadorias (valores a esclarecer o alcance e resultado da estreita arti-
dest.e século). A sociologia das finanças se impõe f: possível distinguir quatro funções fundamen- de troca) para o mercado, mas sim valores de culação do Estado e da sociedade. Mas a análise
efetIvamente, como a abordagem que pode inda- tais entre as desempenhadas pelo Estado contem. uso, que podem compreender contribuições de da politica não é ainda a análise do politico, ou
gar a dependência do Estado das estruturas sociais. porâneo: a) criação das condições materiais ge- uso vário, da criação de infra-estruturas à "qua- seja, das estruturas institucionais do Estado. Con~
néricas da produção (infra.estrutura); b) deter. lificação" da força-trabalho, e que representam tudo, partindo do fundamento da política, poder-
Aquilo que pode fundamentar o Estado fiscal minação e salvaguarda do sistema geral das leis
é a poupança; mas hão de ser definidos os limites as condições gerais da valorização do capital. se-ão indagar as transformações históricas do po~
que compreendem as relações dos sujeitos jurí- Mas a intervenção do Estado, que, historica- lítico e seu nível de adequação funcional à nova
dentro dos quais se pode desenvolver a arreca- dicos na sociedade capitalista; c) regulamentação
dação fiscal do Estado, para não anular o inte- mente, exerce primeiro a função de mera garantia complexidade da sociedade civiL
dos conflitos entre trabalho assalariado e capital; formal do funcionamento da concorrência mer-
resse financeiro dos empreendedores no processo d) segurança e expansão do capital nacional total
produtivo. cantil e, depois, a do aprontamento de políticas VII. A CRISE DA PLANIFICAÇÃO POLÍTICA.
no mercado capitalista mundial (E. Altvater, econômicas claramente orientadas à valorização O consolidar-se de uma sociedade complexa altera
O debate sobre o Estado fiscal nos começos 1979).
deste século reflete as transformações operadas na do capital, apresenta contradições dificilmente os princípios fundamentais do Estado de direito.
Se A. Smith e D. Ricardo limitavam as funções superáveis: a orientação'~ pública favorável à A complexidade é conseqüência, por um lado, da
estrutura material e social do Estado de direito. do Estado à manutenção das instituições militares,
Reconhece~se assim i,l. necessidade da "recapitali- acumulação põe de fato o problema da legitimação diversificação do aparelho produtivo em três se-
policiais, educativas e judiciárias, deixando o resto dessa intervenção. Q'Connor reconhece assim na tores (monopólio, concorrencial e estatal) e da
zação" do .Estado para prover à satisfação das ao Ilnatural" desenrolar da lógica do mercado, as
exigências sociais, e se discute a possibilidade acumulação e na legitimação as duas funções a conseqüente segmentação do mercado de trabalho;
funções ,acima delineadas expressam, ao invés, que deve presidir a ação pública. Mas trata-se por outro, da multiplicação de aspirações, necessi-
da transformação do livre. jogo concorrencial das claramente a presença do Estado no processo de
forças do mercado O, Schumpeter, 1918). de uma problemática repetida em outros autores dades e comportamentos no campo da reprodução
acumulação. (Habermas, Offe) , que dão particular relevo ao da força·trabalho, a que há de corresponder uma
Trata-se, pois, de definir, de um lado, a exten- Do ponto de vista marxista, este processo se modo COmo a ruptura dos automatismos da per- ação política profundamente diversificada.· Ao tra~
são per~tida à imposição direta e de analisar, explica pelo progressivo aumento da complexi- muta e, com ela, também a crise da forma-mer- dicional aparelho político·representativo do Esta-
do outro, as possibilidades concretas de ·c·ons~i­ dade do processo de produção: o desenvolvimento do agregam-se assim funções econômicas, orien-
cado, como meio da integração ideológica na
tuição e desenvolvimento de um Estado empresa. capitalista se tornou mais dependente da ciência sociedade liberal como fundamento dos valores t.adas à valorização dos diversos setores do capital,
rial, capaz de dirigir empresas públicas: mas isso e da técnica, a divisão do trabalho se' acentuou de "igualdade" e "liberdade", representam a con- ou seja, do capital global, e funções sociais, ten·
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o Parlamento parece esvaziado de toda capa- a qualidade e quantidade de trabalho que há de nar descentralizada que o Estado põe em ação
dentes a assegurar, através das várias formas da
cidade de decisão política. que 'não seja a mera entrar no processo de produção; é esta regula- para assegurar a integração social do indivíduo:
política social, a integração da força-trabalho no isto implica a necessidade de um enriquecimento
indicação de critérios sumamente genéricos, cuja mentação, precisamente da incumbência do Es-
equilíbrio do sistema político-econômico.
aplicação é deixada aos múltiplos sistemas admi- lado. Contudo, é possível identificar algumas ten- temático e categórico da teoria tradicional do
Esta mudança de conotações nas relações entre dências nas sociedades de capitalismo maduro, Estado, tanto da parte burguesa como marxista.
"político" e "econômico" foi a origem da crise nistrativo-industriais. Como escreve Luhmann,
aparentemente se transniudou o processo das deci- capazes de alterar essa relação de complemen- Como vimos, o processo de valorização do ca~
dos princípios fundamentais do Estado legisla- taridade que existe entre o Estado e a reprodução pital requer a constituição de funções do Estado
tivo de direito: a) do princípio da supremacia sões do alto para baixo, porquanto faltam ao deba-
te parlamentar as informações que permitiriam da força-trabalho. que se manifestam fundamentalmente através de
do poder legislativo; b) da legalidade da atividade De fato, 6 cumprimento das funções estatais um trabalho concreto, ou seja, através da con-
tomar decisões. Impõe-se, assim, a consolidação de
executiva do Estado, que há de dar-se segundo que interferem no processo de produção dá-se quista de objetivos precisos, baseados em critérios,
um centro de poder administrativo-industrial que
as formas preestabelecidas da lei universal e mediante a expansão de um tipo de trabalho não apenas quantitativos, mas sobretudo qualita~
vai esvaziando as formas tradicionais do sistema
abstrata; c) do controle de legitimidade, isto é, político representativo burguês. O princfpio da concreto, remunerado com a renda e não com um tivos. Trata-se, com efeito, de estabelecer as prio-
da conformidade com a lei, exercido pela ativi· preeminência do poder legislativo surge aqui des· salário: um trabalho cujo produto não são mer- ridades, a distribuição de custos, os reflexos sobre
dade judiciária. tituído de fundamento, visto haver ocorrido um cadorias, mas resultados precisos, valores de uso o emprego, os incentivos, os subsídios, etc. Mas
A economicização e a socialização do Estado desvio do poder do Parlamento para o aparelho que são consumidos e não trocados no mercado daí resultará - como escreve C. OHe - que,
acabam na privatização do seu aparelho ou admi- burocrático e .a autonomia do executivo. Esta (pensemos, por exemplo, na qualificação da força- quanto mais a política se fizer concreta, tanto
nistração, expressa na forma de uma crescente transformação se explica pela necessidade de criar trabalho). mais se multiplicarão os conflitos e se acentuarão
autonomia em relação ao poder do Parlamento e estruturas organizacionais e formas de intervenção Ao mesmo tempo, a estrutura setorial do apare- os efeitos da polarização. Estará assim aberto o
na subordinação a grupos específicos de interesse. flexíveis, livres das rígidas formas normativas do lho econômico está penetrada por uma clara caminho à crise política, devido à incapacidade
Como escreve J. Hirsch, é possível verificar uma Estado de direito: isto representa a crise da lega- tendência do mercado do trabalho, que se resume de coordenar todos os· interesses do complexo
certa apropriação de funções públicas por parte lidade da atividade executiva, cada vez menos numa "desocupação tecnológica" cada vez mais sacia!; além disso, surgirá para o Estado o pro-
de determinados setores industriais, que se revela condicionada pela forma da lei e cada vez mais vasta, provocada pelas inovações técnico-cientí- blema da legitimação, ou seja, do consenso acerca
também como possibilidade de unificação de desempenhada mediante procedimentos informais, ficas do capital monopólico, e na existência de dos critérios qualitativos que orientam suas in-
alguns níveis organizacionais da burocracia de subtraídos a qualquer controle de legitimidade. elementos no mercado do trabalho que, em razão tervenções.
Estado e da grande indústria privada e se resolve A intervenção do Estado na economia não che- do baixo nível da retribuição salarial, acabam O esquema analítico evidenciou, portanto, dois
com a tradução dos conflitos entre os diversos ga a exprimir qualquer princípio de autoridade; por depender cada vez mais do aparelho de se- desenvolvimentos: o primeiro, patenteado na rela~
setores econômicos da administração. Resulta daí pelo contrário, são os diversos capitais que se gurança social do Estado. Surgem assim desenvol- ção estrutura produtiva-segmentaçào da adminis-
que a intervenção do Estado já não consegue rea- apoderam do aparelho burocrático administrativo vimentos orientados à progressiva subtração da tração, da qual deriva a impossibilidade do plano
lizar uma planificação global, cada vez mais subs- e tornam impossível qualquer forma de plani- força-trabalho da forma tradicional da integração político; o segundo, constituído pela expansão,
tituida por um tipo de planificação por projetos, ficação política. A este nível não parece, portanto, ideológica no Estado capitalista, isto é, da forma- dentro do aparelho estatal, do trabalho concreto,
que tem como fim as necessidades das grandes possível reconhecer nenhuma "autonomia ao po- 'mercado, já que vastos setores de força-trabalho e, dentro do mercado de trabalhá, pela nova
empresas. Como adverte ainda J. Hirsch, a estru- lítico". tendem a não se referir mais a si mesmos como composição e pelos novos comportamentos da
tura administrativa parece distribuída em agências ,a uma mercadoria, mas elaboram uma espécie de força~trabalho,
que abrem caminho à crise da
que visam à satisfação de interesses setoriais. Não VIII. O ESTADO DE VIGILÂNCIA E CONTROLE. - identificação com a substância e as condições do motivação do indivíduo e à crise da legitimação
se podendo realizar uma planificação de toda a Se as funções do Estado com relação à estrutura trabalho, ou então realçam modalidades antiinte- do poder político.
estrutura produtiva, a única prática administra- econômica revelam subordinação da autoridade lectuais, que representam um retorno a modos
tiva possível no que toca às decisões consiste política à lógica dos processos produtivos, o de- instintivos que se opõem à lógica da organização IX. Os CRITÉRIOS DA RACIONALIDADE ADMINIS-
numa coordenação negativa (F. Scharpf, 1973) senvolvimento das formas do "político" com rela- trabalho (D. Bell). TRATIVA. A "POLITICIZAÇÃO" DA ADMINISTRAÇÃO.
das possíveis decisões a tomar, isto é, as agências ção às necessidades de reprodução da força-traba- O Estado não pode, portanto, limitar-se a criar A progressiva subtração da reprodução da força·
se limitam a excluir aquelas decisões que pode- lho parece, pelo contrário, diverso. sociais tendentes a assegurar comple- trabalho ao controle social cria o problema de um
riam criar efeitos negativos nos setores a que se Sob este ângulo, poderemos assim esquemati- mentarmente a integração do mercado. Pelo con~ novo assentimento às políticas de intervenção do
referem. Esboça-se assim uma contradição real zar as funções tradicionalmente desempenhadas trário, tem de fazer face à perda de controle Estado. Cabia tradicionalmente à política a incum·
entre as decisões tomadas por projetos, motivadas pelo Estado: 1) predisposição das condições ma- social, que se manifesta essencialmente como bência de garantir o consenso à ação executiva
por um certo setor produtivo, e a sociedade global, teriais da reprodução (proteção do trabalho, segu- crise de motivação (J. Habermas, 1975) em rela- da administração (N. Luhmann). Agora, pelo
cujas relações não podem ser separadas: a com· rança social, assistência sanitária, etc.); 2) criação ção aos valores tradicionais do individualismo e contrário, parece cada vez mais claro que a rela-
plexidade dos fenômenos reciprocamente inter- de motivações ·consentâneas com o processo do do profissionalismo, pondo em ação uma ampla ção política~administração se alterou inteiramente.
relacionados se decompõe numa multiplicidade de trabalho (dispositivos ideológicos, estabilização da rede de vigilância e controle, que compreenda, De fato, a racionalidade weberiana, que é a racio-
pólos decisórios administrativos, mas sem um família como agente essencial do processo de só a ampliação do aparelho policial, como nalidade do Estado de direito, é incompatível
também o incremento de vastos setores do cha- com a nova racionalidade, que tem de compor
centro unificante que a possa abranger global- socialização burguesa); 3) regulamentação da
mado trabalho social (conselheiros familiares, as solicitações do ambiente com a lógica legal-
mente. Entre a decisão político-administrativa e o oferta da força-trabalho (função intermediária do
centros de preparação profissional, alojamento, racional do sistema político. Se o modelo do
"conjunto" da sociedade existe um gap, um déficit sistema de formação profissional, qualificação e juvenis, etc.), capazes de remediar a per- poder weberiano se funda na conformidade das
informativo que remonta, em última instância, requalificação, mobilidade, seleção, etc.) (OHe- da das motivações que eram tradicionalmente mi- ações administrativas com as normas jurídicas.
ao conflito dos interesses setoriais. Só coordena- Lenhardt, 1979). Estas funções mostram claramen· nistradas pela família. Também se pode perceber no Estado social. pelo contrário, como escreve C.
ção negativa, nenhuma possibilidade de coorde· te como a intervenção do Estado é sempre comple- facilmente como, por este caminho, a teoria do Offe, as premissas da ação são resultados con~
nação política positiva. O plano parece impossível. , mentar à permutabilidade da força-trabalho como se há de converter numa teoria do poder, cretos, isto é, "o objetivo que a prática adminis-
Só é possível a contradição entre agências condi- mercadoria de mercado. É verdade que o capita- a abranger toda a extensão da rede discipli~ trativa tem em vista vale como primeiro critério
cionadas por específicos interesses setoriais. lismo "libertou" a força-trabalho, mas não definiu
408 ESTADO CONTEMPORÂNEO ESTADO DE POLICIA 409

de juízo a respeito das decisões e ações no âmbi- o que caracteriza os procedünentos é a Sua escapatória do filtro político, representado pelo cuidado de AIJT. VÁR., La Nuova Ita1ia, Firenze 1980;
to da administração: Jos objetivos propostos de- autonomização quanto, à complexidade social re~ sistema de partidos, esvazia o regime parlamentar F. W. SCHARPE, Planung ais politischer Prozess, Suhrkamp,
pendem os inputs que ~ão de ser produzidos e duzida pelo sistema político. lsto comporta algu- da possibilidade de assegurar a lealdade de massa Frankfurt 1973; J. SCHUMPETER, Die Krise des Steuerstaats
aplicados" (C. Ofle, 1974, p. 336). É daí que se mas conseqüências particularmente significativas: e remete a legitimação do "político" a procedimen- (1918), in Die Finanzkrise des Sleuerstaats (1918), in Die
origina a contradição fundamental que envolve em primeiro lugar, o abandono de categorias Como tos não legais, 11).as, como vimos, de tipo sublegal. Finanzkrise des Steuerstaats, Beitrage zur politischen Oko-
hoje a lógica da racionalidade 'administrativa, por- a da representação, já que não se trata, segundo Contudo, o peso que recai, assim, sobre o Estado nomie der Staatsfinanzen, ao cuidado de R. VON HICKEL,
quanto, por um lado, ela deve conformar-se com Luhmann, de traduzir no âmbito do sistema polí- administrativo, ou seja, sobre o Estado de se- Suhrkamp, Frankfurt 1976; M. WEBER, Economia e società
as n.ormas, por outro, tem de estar orientada para tico a complexidade social, mas antes de a reduzir. gurança social, parece excessivamente gravoso: (1922), Edizioni di Comunità, Milano 1968; H. U. WEH-
Daí que a crise do Estado contemporâneo não não só pelos limites estruturais que representa LER, Der Au}:stieg des organisferten Kapitalismus UM lnter-
fins precisos. A nova racionalidade administra-
tiva se compreende levando em conta a tendência possa ser devida a um déficit de representação uma insuperável crise fiscal, mas também pela ventionsstaates in Deulschland, in Organisierler Kapitalis-
da administração para a "politícização", porquan- mas tão-só, segundo o mesmo Luhmann, a u~ crise da forma-mercado como instrumento tra- mus, ao cuidado de AUT. VÁR., Vandenhoeck U. Ruprecht,
to é -3 ela que agora incumbe a tarefa de assegurar eventual déficit de reflexividade. Por outras pa- dicional de integração, que tira a eficácia à polí- G6ttingen 1974.
a legitimação da decisão política: não uma legiti- lavras, o que é decisivo na estrutura do poder tica social do Estado, política que constituía uma
mação legal, mas uma legitimação' de tipo sublegal, político é o conhecimento das normas que regulam intervenção complementar daquela forma ideo- [GUSTAVO GOZZI]

baseada em processos empíricos de busca do con- os procedimentos, ou seja, dos processos que lógica.
senso (sobretudo a distribuição de dinheiro). permitem uma elaboração mais eficaz das deci. O sistema de segurança social não parece ter
sões. Em segundo lugar, a' categoria HEstado" é condições de gàrantir a legitimação (sublegal) do Estado de Polícia,
X. LEGITIMAÇÃO POR PROCEDIMENTO. - Tam- substituída pela categoria "sistema", urna vez que sistema político e o aparelho político-representa-
bém Luhmann reconhece a tendência da adminis~ o problema não é tanto o das relações funcionais tivo não possui mais a capacidade de garantir
Estado-sociedade ou Estado-aparelho produtivo, a lealdade das massas. O sistema político deve I. ACEPÇÃO HISTORlOGRÁFICA E ORlGEM HIS-
tração para a "politicização", apresentando-a TÓRICA CONCRETA DA "POLÍCIA". - O termo~
como desenvolvimento contraditório no seio do como sobretudo o da análise dos procedimentos então assumir outra função, a da tutela da Cons-
"internos" do sistema político. Enfim, a demo~ tituição, estabelecendo quem lhe é favorável e conceito em questão adquiriu seu significado
sistema politico. técnico no campo historiográfico. Isso significa
cracia é sacrificada à complexidade e à redução quem é desfavorável, isto é, sobrepondo uma
Este sistema se subdivide, segundo Luhmann, desta como resultado dos procedimentos do sis-' que se trata de uma expressão criada pela histcr
no subsistema dos partidos e no subsistema admi~ instância de superlegalidade política aos princí-
tema político-administrativo. pios constitucionais. As funções do aparelho polí- riografia para indicar um bem preciso e circuns-
nistrativo, que compreende o legislativo, o exe~ tanciado fenômeno histórico. Ela remonta mais
cutivo e o judiciário. tico representativo não desempenham mais ,a ta~
XI. O ESTADO DE SEGURANÇA NACIONAL. _ refa de garantir a lealdade de massa, mas a de precisamente àqueles historiadores constitucionais
As categorias fundamentais do pensamento po~ Na realidade, também Luhmann reconhece as di- tutela da segurança nacional (e é este o sentido alemães da metade do século XIX que, movidos
litológico de N. Luhmann são as de complexi- ficuldades cOada vez mais insolúveis que a legiti. mais autêntico da categoria da "autonomia do por um compromisso político liberal-burguês, cor-
dade e contingência. Complexidade é o conjunto mação por processo encontra, dado que o proce- político"). Um sistema de super!egalidade pode, respondente ao ideal constitucional do "Estado de
das possibilidades de ação que se abrem ao indi- dimento administrativo é cada vez menos o que pois, sobrepor-se ao da legalidade, à liberdade direito", entenderam contrapor a este, como fase
víduo numa sociedade de capitalismo maduro; leva a efeito as diretrizes políticas - a política individual, isto é, ao sistema do Estado de direito. antitética ou ao menos anterior ao desenvolvi~
contingência é o âmbito das possibilidades de decide apenas acerca das decisões, ou seja, apre- A oscilação entre o princípio da super!egali- mento histórico das formas estatais, precisamente
ação "limitadas" ou permitidas ao indivíduo. O senta as modalidades das decisões administrativas dade e os critérios de uma legitimação sublegal o "Estado de pólícia".
sistema político "reduz" a complexidade do sis~ mas não lhes determina os conteúdos - , e inter~ constitui a dialética dentro da qual se desenha A própria origem do termo já sugere a intenção
tema social, com o fim de garantir a própria vém no complexo social o mais das vezes segundo a atual trajetória do Estado contemporâneo e é o pejorativa com que foi inventado e usado por
"estabilidade". Segundo N. Luhmann, é o "polí- critérios de oportunidade. Existe aqui também a horizonte problemático e aberto que se patenteia longo tempo. Essa intenção se refere evidentemen~
tico", por exemplo, que define os "temas" sobre crise da teoria dos sistemas, já que é a política à pesquisa e â reflexão politológica. te à parte aposta do termo, ou seja, a "polícia"
os quais se deverá fannar a opinião pública; mas administrativa que agora se deve tornar passiva, que, na classificação das formas de vida estatal
é sobretudo o poder político que orienta a ação isto é, adaptar-se em cada caso aos problemas implícita no uso historiográfico acima indicado,
BIBLlQGRAFlA, - E. ALTVATER, Note su akuni problemi
social, controlando e transmitindo as informações emergentes, renunciando a abranger o corpo so- devia contrapor-se ao "direito" como dimensão
deU intervento deito Srato (1973), in 11 capitale e lo Stata,
necessárias para agir de um extremo a outro do cial dentro de procedimentos formais. Mas a crise não só mais limitada e circunstanciada, mas tam-
ao cuidado de AUT. VÁR., Bertani, Verona 1979; E. FORS~
sistema social ("poder como comunicação", N. da legitimação por 'procedimento é a crise da bém degenerativa em relação a ele.
THOFF, Srara di diritta in rra.~jormaziane (1964), Giuffré,
Luhmann, 1979). possibilidade de reduzir a complexidade. É cada Deixando de lado as particularizações sobre o
Milano 1973; J. HABERMAS, La crisi delta razionalità neI
Estas intervenções do "político" hão de ser vez mais freqüente o poder-meio de comunicação capitalismo maturo (1973), Laterza, Bari 1975; J. HIRSCH, conceito de Estado, a que, de resto, será preciso
legitimadas, e isso acontece mediante quatro pro~ encontrar blocos ou fontes de poder já impossíveis Wissenschajilich-(echnücher ;Fortschritt urui politisches voltar de vez em quando, convém fixar nossa
cedimentos (eleitoral, legislativo, administrativo de controlar, com os quais tem de esta1:lelecer uma System, Suhrkamp, Frankfurt 1973 ; N, LUHMANN, Legi- atenção sobre o conceito de "polícia" e tentar
e judiciário) (Luhmann, 1969). Os procedimentos nova forma de coexistência, algo assim como um limarian durch Verjahren, Luchterhand, Damstadt 1969; captar, em sua evolução histórica, as razões que
são "sistemas sociais de natureza particular, cria- tipo de "politicismo localista, baseado na especi- Sociologia dei dirilto (1972), Laterza, Bari 1977; Id., determinaram um comportamento historiográfico
dos para a elaboração de decisões obrigatórias" ficidade de determinados minissistemas" (N. Luh- Potere e complessità sociale (1975),11 Saggiatore, Milano tão unívoco como o que acabamos de lembrar.
(Luhmann, 1977, p. 259). O ator soelal é sepa- mann, 1979, p. 113). A nova estrutura social que F. NEUMANN, Lo Slaro democralico e lo Stala auro- Desse modo será possível não só apercebermo~nos
rado do próprio ambiente ou "mundo vital" se está delineando deixa entrever uma organiza- rilario (1957),11 Mulino, Bologna 1973; J. O'CONNOR, La exatamente das motivações ideológicas em que
(Lebenswelt) e subordinado a papéis, cujo fim ção assente em núcleos cada vez mais descentra- crisi jiscale dello Stato (1973), Einaudi, Torino 1977; C. assenta o significado pejorativo comumente atri-
é tornar pública uma decisão. Compreende-se lizados, ligados por uma rede de informação OFFE e G. LENHARDT, Teoria del/o Slato e polilica social e buído ao conceito de Estado de polícia, como
como, desta maneira, o sistema político reduz o carente de um centro. (1977), Feltrinelli, Milano 1979; C. OFFE, Criteri di razio- também convencermo~nos de que esse significado
indivíduo a mera variável da sua lógica interna A irredutibilidade da complexidade social cria nalità e problemi di ji.mzione dei comportamento politico- deve ser substituído por outro bem mais histo-
e acaba por legitimar a si mesmo. uma dialética nova dentro do sistema político. A ammi',iSl/'ativo (1974), in 11 rrasjormazioni del/o Staro. ao ricamente fundado e dotado não já de implicações

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