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O LUPANAR E OS AVESSOS DA BELLE ÉPOQUE: UM OLHAR

SOBRE A PROSTITUTA JUDAICA NO RIO DE JANEIRO NA


CRÔNICA DE FERREIRA DA ROSA
Gabriel das Chagas Alves Pereira de Souza
Lorena Bordallo da Rocha Ferreira
1
Luciana Nascimento1

Resumo: As cidades, sejam elas reais ou imaginárias, são constituídas por seus mapas
textuais, nos quais estão contidas suas histórias e suas personagens. Esses elementos
foram captados pelos mais diversos discursos, dentre eles, o literário. Em relação ao
crescimento dessas cidades, a imprensa tornou-se um importante instrumento de
difusão da literatura em fins do século XIX/início do século XX, tendo sido a
responsável por construir a imagem da nação, conforme os postulados de Benedict
Anderson (2008). Naquele cenário, a crônica foi um gênero de grande importância,
fruto da modernidade, "filha do jornal", ou seja, uma narrativa urbana por excelência.
Dentro desse contexto, este artigo tem por objetivo lançar um olhar acerca da
presença da prostituição judaica no Rio de Janeiro da Belle Époque através da análise
das crônicas de Francisco Ferreira da Rosa, publicadas no Jornal O Paiz, em 1895-1896,
sob o título de A Podridão do Vício. Ademais, o estudo das crônicas de Ferreira da Rosa
será articulado aos textos historiográficos sobre o tema, tais como: SOARES (1992);
MEDEIROS (1992); ENGEL (1989), o que nos permite desvelar véus que muitas vezes
encobriram as polacas. Dessa forma, é possível fazer com que a história de um grupo
de "vencidos", usando o termo de BENJAMIM (1985), possa brilhar por instantes, ainda
que fugidios.
Palavras-chave: Cidade, crônica, mulher.

Abstract: The cities, regardless of being real or not, are made by their textual maps, in
which we can find their stories and characters. These elements were captured by many
different discourses, among which there is Literature. Concerning the growth of these
cities, the press became an important tool to spread the literary discourse by the end
of the 19th century and beginning of the 20th, being responsible for building a national
image, according to Benedict Anderson (2008). In this context, the chronicle was an
important genre, coming from the modernity and being "newspaper's daughter", in

1
Acadêmicos do Curso de Letras Português-Inglês da Faculdade de letras da UFRJ, Bolsitas PIBIC/CNPq
2014-2015 e 2015-2016. Docente do Departamento de Ciência da Literatura da Faculdade de Letras da
UFRJ. Docente do Programa Interdisciplinar de Pós- Graduação em Linguística Aplicada da UFRJ. Este
trabalho contou com o apoio do CNPq, por meio de Bolsa de Iniciação científica para os acadêmicos e
Bolsa de Produtividade em pesquisa PQ2 para a Docente. Esse trabalho constitui resultados do projeto
desenvolvido no âmbito do Programa Institucional de Iniciação Científica 2014-2016.
other words, a prototypical urban narrative. In this perspective, this article intends to
analyze the presence of Jewish prostitution in Rio de Janeiro throughout the chronicles
by Francisco Ferreira da Rosa, published in O Paiz, in 1895-1896, entitled A Podridão
do Vício. Besides, the study of these texts will be articulated to historical studies about
the theme, such as SOARES (1992), MEDEIROS (1992) and ENGEL (1989); which allow
us to discover the veils that many times hid these women. Therefore, we aim to tell
the "history of losers" using the concept by BENJAMIM (1985).
Key words: City, chronicle, woman. 2

I. Introdução
O século XIX foi atravessado por profundas transformações nos
campos político, social e cultural. A modernidade engendrada no século
XIX, imersa na era industrial, trouxe, de acordo com Nízia Villaça e Fred
Góes, novos elementos para a vida coletiva nas grandes cidades,
ocasionando transformações na vida econômica, no trabalho, nas relações
sociais, na vivência privada das pessoas nas cidades e no nascimento da
moderna urbe que antecedeu a vida metropolitana atual. (VILLAÇA; GÓES,
1998, p. 38.). Nesse cenário, Marshall Berman expressa muito bem a
modernidade como turbilhão:

Existe um tipo de experiência vital - experiência de tempo e


espaço, de si mesmo e dos outros, das possibilidades e
perigos da vida - que é compartilhada por homens e mulheres
em todo o mundo, hoje. Designarei esse conjunto de
experiências como “modernidade”. Ser moderno é encontrar-
se em um ambiente que promete aventura, poder, alegria,
crescimento, autotransformação e transformação das coisas
em redor - mas ao mesmo tempo ameaça destruir tudo o que
temos, tudo o que sabemos, tudo o que somos. A experiência
ambiental da modernidade anula todas as fronteiras
geográficas e raciais, de classe e nacionalidade, de religião e
ideologia: nesse sentido, pode-se dizer que a modernidade
une a espécie humana. Porem, é uma unidade paradoxal,
uma unidade de desunidade: ela nos despeja a todos num
turbilhão de permanente desintegração e mudança, de luta e
contradição, de ambigüidade e angústia. Ser moderno é fazer
parte de um universo no qual, como disse Marx, “tudo o que
é sólido desmancha no ar”. (BERMAN, 1986, p.11.)
3
Para vislumbrarmos o ponto de vista original do qual parte Marshall
Berman e ilustrarmos de maneira mais abrangente a referida conjuntura,
cabe pontuar brevemente um trecho da análise feita por Marx e Engels:

Essa subversão contínua da produção, o ininterrupto abalo de


todas as condições sociais, a permanente incerteza e a
constante agitação distinguem a época burguesa de todas as
épocas precedentes. Dissolvem-se todas as relações sociais
antigas e cristalizadas, com seu cortejo de representações e
concepções secularmente veneradas; todas as relações que as
substituem envelhecem antes de se consolidarem. (MARX;
ENGELS, 2001, p.33)

A tênue fronteira entre os domínios públicos e privados a partir da


ascensão do capitalismo industrial do século XIX modificou o cotidiano e,
consequentemente, a identidade do indivíduo, que passou a ser
constituída a partir das influências do desenvolvimento tecnológico e da
industrialização. Podemos dizer que o século XIX foi um momento de
ruptura, transformação e adoção de novos valores e referências derivadas
do que chamamos de modernidade. O novo se sobrepõe à tradição, o
individual sobre o coletivo, o privado sobre o público e adventos como o
consumo e a técnica derivados do capitalismo industrial tornam-se
símbolos a representar uma nova era. Assim, a cidade foi um dos grandes
símbolos dessa modernidade industrial do século XIX. De acordo com Luiz
Antonio da Costa Pereira:
Uma das grandes expressões de modernidade ao longo da
história está representada pela cidade – entendida aqui como
um espaço social, econômico e territorial, transformado em
sua originalidade, onde se dá toda a dinâmica interativa dos 4
agentes presentes desse espaço. Inserida no contexto de
modernidade - representado institucionalmente pelos
capitalismo e industrialismo, pela vigilância e pelo poder
militar a cidade é um significativo símbolo cultural da
sociedade humana. Plena daqueles ingredientes que a
definem e suportada por esses componentes institucionais
exerce certo fascínio sobre as pessoas atraindo-as para si,
para o mundo urbano, para as luzes e para as cores. (PEREIRA,
2001, p. 3.)

Desse modo, o espaço urbano engendrou diversos temas e motivos


para a literatura do século XIX, tendo criado uma tradição dentro da
representação literária, quando do surgimento dos primeiros centros
urbanos. A sedução e a desilusão da cidade forneceram temas e posturas
que atravessaram a literatura, na qual a cidade figura mais como metáfora
do que como lugar físico, como bem afirmam Bradbury e McFarlane:
De fato, para muitos escritores, a cidade chegou a se
converter numa analogia da própria forma. E se o
Modernismo é uma arte especificamente urbana, em parte é
porque o artista moderno, tal como seus semelhantes, foi
capturado pelo espírito da cidade moderna, que em si é o
espírito de uma sociedade tecnológica moderna. (BRADBURY;
MCFARLANE, 1999, p. 77).

A cidade moderna do século XIX passa a ser o locus privilegiado em


que se podem observar as contradições da modernidade: de um lado, as
capitais culturais, com todas as suas novidades cosmopolitas; de outro, o
caótico espaço que, exclui para as margens os espoliados do sistema
capitalista, representados pelos trabalhadores, mendicantes e prostitutas,
o que constitui um gênero denominado de fisiologia da cidade
(BENJAMIN, 1994), sendo este um fenômeno também ocorrido no Brasil. 5

Walter Benjamin nos informa que em Paris, a partir de 1840, as


fisiologias surgem como um gênero literário próprio para satisfazer o
interesse do pequeno-burguês. As fisiologias surgem como publicações de
bolso para dar conta do interesse em explorar os tipos que habitam as
feiras, nas ruas e exposições, e que virão evoluir em folhetins e
publicações concorrendo para reproduzir a natureza de bonomia e
inofensividade invocada aos padrões burgueses da época:
Para o flâneur, os letreiros esmaltados e brilhantes das firmas
são um adorno de burguês; muros são a escrivaninha onde
apóia o bloco de apontamentos; bancas de jornais são suas
bibliotecas, e os terraços dos cafés, as sacadas de onde, após
o trabalho, observa o ambiente. Que a vida em toda a sua
diversidade, em toda a sua inesgotável riqueza de variações,
só se desenvolva entre os paralelepípedos cinzentos e ante o
cinzento pano de fundo do despotismo: eis o pensamento
político secreto da escritura de que faziam parte as fisiologias.
(BENJAMIM, 1994. p. 35).

Benjamin lê a modernidade por meio da obra de Baudelaire


indicando importantes aspectos no fazer artístico em tempos modernos,
como a inserção do artista no mercado e nas ruas, o que altera a
percepção do objeto artístico.
No mesmo momento, a ascensão do jornal faz com que a crônica se
consolide como grande marco. Esse gênero será o objeto de estudo do
presente trabalho e, por isso, é importante pensar em suas características
e contexto de aparição. Na virada do século XIII para o XIX, surge, no
periódico francês Journal des Débats, o gênero textual que se tornaria 6

uma das principais expressões da narrativa na Literatura moderna. Em


linhas gerais, são textos responsáveis por reproduzir um retrato da vida
cotidiana, fazendo uso de uma linguagem simples e de fácil acesso. A
crônica se constituiu como um espaço de informações sobre as pessoas
comuns e sobre o cotidiano das cidades, seus tipos populares, casos
típicos, as ruas e anedotas. Essas curtas narrativas são, por definição,
retrato da sociedade em harmonia com acontecimentos contemporâneos.
Sendo assim, não é difícil entender a razão pela qual seu veículo de maior
circulação seja o jornal.
Antônio Candido pontua, em A vida ao rés-do-chão, que a crônica
“Graças a Deus” não é um “gênero maior” porque sendo assim ela fica
mais perto de nós. (CANDIDO, 1992, p.13). Assim, evidencia-se como esse
gênero textual dialoga com a sociedade de forma prosaica e espontânea.
Ainda sobre seu surgimento, diz Machado de Assis, em O nascimento da
crônica:
Não posso dizer positivamente em que ano nasceu a crônica;
mas há toda a probabilidade de crer que foi coletânea das
primeiras duas vizinhas. Essas vizinhas, entre o jantar e a
merenda, sentaram-se à porta, para debicar os sucessos do
dia. Provavelmente começaram a lastimar-se do calor. Uma
dizia que não pudera comer ao jantar, outra que tinha a
camisa mais ensopada do que as ervas que comera. Passar
das ervas às plantações do morador fronteiro, e logo às
tropelias amatórias do dito morador, e ao resto, era a coisa
mais fácil natural e possível do mundo. Eis a origem da
crônica. (ASSIS, 2007, p.13).

Em A vida ao rés-do-chão, Candido assinala a constituição da


7
crônica, esclarecendo que se trata de um texto próximo à coloquialidade e
à rapidez, sem apresentar, contudo, conteúdo superficial:

Por meio dos assuntos, da composição solta, do ar de coisa


sem necessidade que costuma assumir, ela se ajusta à
sensibilidade de todo o dia. Principalmente porque elabora
uma linguagem que fala de perto ao nosso modo de ser mais
natural. Na sua despretensão, humaniza; e esta humanização
lhe permite, como compensação sorrateira, recuperar com a
outra mão certa profundidade de significado e certo
acabamento de forma, que de repente podem fazer dela uma
inesperada embora discreta candidata à perfeição. [...] Em
lugar de oferecer um cenário excelso, numa revoada de
adjetivos e períodos candentes, pega o miúdo e mostra nele
uma grandeza, uma beleza ou uma singularidade
insuspeitada. Ela é amiga da verdade e da poesia nas suas
formas mais diretas e também nas suas formas mais
fantásticas, sobretudo porque quase sempre utiliza o humor.
(CANDIDO, 1992, p. 13).

Seguindo o mesmo raciocínio, Arrigucci Jr nos traz um olhar acerca


desse gênero literário que se coaduna com as considerações de Candido:

A crônica se situa bem perto do chão, no cotidiano da cidade


moderna, e escolhe a linguagem simples e comunicativa, o
tom menor do bate-papo entre amigos, para tratar das
pequenas coisas que formam a vida diária, onde às vezes
encontra a mais alta poesia. (ARRIGUCCI, 1987, p. 55).
Tendo em vistas os aspectos e motivações da crônica, é possível
analisar de maneira mais minuciosa a relação entre literatura e cidade,
que, no início do século XX, estreitou-se. Sem dúvida, a urbe passar a ser
mais do que uma temática dentro da escrita para se tornar o “palco para
encenação do progresso” (BENJAMIN). Incontestavelmente, o fenômeno 8

urbano e essa “encenação do progresso” puderam abarcar muitas culturas


e países, dentre eles, o Brasil.

II- A Modernidade no Rio de Janeiro

Em 1808, a família Real mudou-se para o Rio de Janeiro, que se


tornou a capital do Brasil. Ao mesmo tempo, os ventos do Moderno
traziam, da França para o Brasil, o modelo não só de cidade, mas de
modernidade e progresso, pois Paris era considerada o centro de
irradiação da cultural universal e capital do século XIX.

Em 1903, Pereira Passos começou a maior reforma do Rio de


Janeiro, conhecida como Bota Abaixo, que tinha por objetivo dar ao Rio o
charme das ruas de Paris. O prefeito queria dar fim ao país do atraso e dar
ao Rio características de uma cidade Moderna. Como frutos da reforma de
Pereira Passos, estão o Theatro Municipal, o Museu Nacional de Belas
Artes e a Biblioteca Nacional, que fizeram com que o Rio se tornasse um
polo irradiador de cultura para as outras cidades do Brasil. O Porto do Rio
recebia as principais mercadorias que vinham do exterior e então
distribuía para os estados restantes.
A partir daí, começa a surgir uma cidade moderna que tinha como
modelo a Paris do século XIX e das reformas de Haussmann, em nome de
uma modernização e de um apagamento do passado. Por esse motivo, os
casarões antigos transformados em cortiços, por exemplo, foram
demolidos, em nome do saneamento e da higienização da cidade. Esse 9

período nascido do turbilhão em êxtase da modernidade carioca


corresponde à Belle Époque, “um período de euforia de que a civilização
brasileira participou vivamente.” (BROCA, 2005, p. 13)

Segundo Broca:
Osvaldo Cruz inicia a campanha pela extinção da febre
amarela e o Prefeito Pereira Passos vai tornar-se Barão
Haussmann do Rio de Janeiro, modernizando a velha cidade
colonial de ruas estreitas e tortuosas. Com uma diferença:
Haussmann remodelou Paris, tendo em vista objetivos
político-militares, dando aos “boulevards” um traçado
estratégico, a fim de evitar as barricadas das revoluções
liberais de 1830 e 48; enquanto Pereira Passos se orientava
pelos fins exclusivamente progressistas de emprestar ao Rio
uma fisionomia parisiense, um aspecto de cidade europeia.
Foi o período do “Bota abaixo.” (BROCA, 2005, p.13)

Essa fase representou um momento histórico consagrado pelo luxo


dos grandes salões, o charme dos cafés e a riqueza da alta sociedade.
Contudo, por trás de toda essa ostentação e charme da cidade, reinava a
pobreza e a miséria de grande parte da população. É aí que se encontram
os avessos da Belle Époque, vistos nas tristes cenas cotidianas que os
cronistas foram responsáveis por imortalizar. Dentre esses autores, João
do Rio, grande responsável pela consolidação da crônica-reportagem, é
exemplo contundente de como a crônica foi usada para que fossem feitas
essas denúncias. Em seu texto As mulheres mendigas, presentes na
canônica coletânea A alma encantadora das ruas, o olhar crítico do
flâneur toca na mesma dolorosa temática trabalhada por Ferreira da Rosa
e, por isso, precisamos enfocá-la, ainda que brevemente: 10

Eram amorosas exploradas, ardendo ainda em raiva passional,


eram vítimas do caftismo sentindo no lábio o freio de
lenocínio, eram cocottes do chic, escalavradas de sífilis, na
dor do luxo passado, e velhas, velhas sem pecado, que a
miséria, a ingratidão e a misteriosa fatalidade desfaziam nos
mais amargurados transes. Nunca os descabelados
românticos imaginaram tão torvos quadros. Já quando se lhes
pergunta o nome com bondade, a surpresa estala em choro.
(...)
— Josefina Veral, sim, senhor. Vim como criada. Um homem
raptou-me; vivi com ele seis anos. Entreguei-me à
prostituição explorada por dois malandros. Roubavam-me, a
moléstia acabou a obra... Não posso trabalhar. E de dentro de
sua negra boca saem descrições satânicas da vida que a
inutilizara. (RIO, 2012, p. 162)

De um lado, a cidade representava o grande progresso da sociedade


moderna, por outro, entre toda a pobreza e péssima qualidade de vida,
mulheres judias foram obrigadas a se prostituírem nos bordéis da cidade.
Beatriz Kushnir, em importante estudo sobre o assunto, reconstituiu a
trajetória e os laços de solidariedade e sociabilidade das prostitutas
polacas, retirando-as da vala comum. Através de documentação inédita,
deu nomes e rostos a estas mulheres até então sem uma identidade e sem
direito a uma lápide no cemitério. (KUSHNIR, 1996.).
Nesse contexto de modernização, a cidade recebe fluxos
migratórios de diversas partes do mundo, entre elas de pessoas oriundas
do Leste Europeu, dentre as quais se encontravam as judias polacas. De
acordo com Luis Carlos Soares, elas chegaram ao Rio de Janeiro em 1867 e
aqui eram distribuídas por áreas centrais da cidade (Catete, Glória, Lapa e 11

Avenida Central):

O embarque para o Rio dava-se no porto de Marselha,


que era “o ponto de marcha de todos os caftens”.
Inclusive, havia nesta cidade do sul da França um
mercado de compra e venda dessas mulheres,
organizado pelos próprios “caftens” que agiam em
diversas partes do mundo. Um mercado semelhante,
mas em menores proporções, foi por eles organizado
no Rio de Janeiro, numa casa de leilões na Rua
Uruguaiana, onde promoviam as suas reuniões.
(SOARES, 1992, p. 58).

Vale ressaltar que o fato de os caftens virem para a América latina


não se tratava de coincidência. Havia, a exemplo do Brasil e da Argentina,
uma cultura que tolerava a prostituição, além de um desequilíbrio entre o
número de homens e mulheres. Paralelo a isso, a corrupção de políticos e
policiais refletia em uma repressão branda sobre tais atividades. Beatriz
Kushnir elucida essa conjuntura:

As Américas, que vinham recebendo contingentes masculinos


em grande proporção, constituíam um grande potencial.
Relativizar os trajetos possíveis da imigração e do imigrante é
poder compreender suas variantes em um histórico nada
linear ou previsível. Semelhante aos sonhos que envolviam os
EUA e a Argentina, o Brasil era visto também como um
eldorado, particularmente para o tráfico. (KUSHNIR, 1996, p.
67)

Ferreira da Rosa também havia percebido tais circunstâncias, o que


o levou a considerar o continente americano como uma terra propícia à
instalação dos caftens: “O israelita degenerado quer dinheiro, e não faz 12

questão de meios para obtê-lo. (...) A America é campo vasto para seus
negócios immundos; para a America elle remove a sua tenda nefanda.
(ROSA, 1896, p. 21). 2
Sendo assim, conforme nos aponta Soares, a cidade da Belle Époque
trazia, em suas franjas, personagens que estavam distantes dos salões,
como foi o caso das Judias Polacas, mas que possuem sua importância na
composição do mosaico citadino, tendo em vista que são também sujeitos
construtores da história. A presença dessas mulheres, imersas na podridão
subalterna do esquecimento, não passou despercebida, uma vez que
suscitou inúmeros olhares desde os documentos produzidos pela
imigração aos relatórios de polícia, chegando à literatura por intermédio
da crônica jornalística. Sua existência, porém, era indesejada e incômoda
dentro da paisagem luxuosa da modernidade carioca. Isso é evidente na
crônica Antes de tudo, de Ferreira da Rosa, integrante do grupo de textos
que serão enfocados por este trabalho:

2
Nas citações feitas das crônicas de Ferreira da Rosa, optamos pela reprodução original de seu texto, o
que implica no uso do Português da época.
É doloroso e desagradabillissimo o trabalho de revolver
podridões. Ninguem ha que por gosto, nem mesmo simples
curiosidade, baixe da esphera sã em que vive, aos lodaçaes
pútridos em que a sociedade immerge de um lado, tranquila,
como que fazando cessão de uma parte do seu corpo,
julgando que essa se corromperá sósinha, sem comunicar-lha
a gangrena. (ROSA, 1896, p. 5) 13

Antes de nos debruçarmos para a visão geral das crônicas, é preciso


por em tela, mesmo que brevemente, alguns fatos biográficos a respeito
do autor. Francisco Ferreira da Rosa nasceu em 20 de maio de 1864, na
cidade Angra do Heroísmo: Ilha Terceira, Açores, Portugal. Em 1878, aos
quatorze anos, muda-se para o Rio de Janeiro. Ao longo dos anos, leciona
Português, Geografia e Aritmética a jovens comerciantes. Mais tarde, foi
professor do Colégio “Abílio” e do Liceu Literário Português. Em 1889,
naturalizou-se brasileiro. Já nos últimos anos do século XIX, tornou-se
redator do jornal “O Paiz”, no qual escreve uma série de crônicas acerca
das judias polacas. Faleceu repentinamente no dia 8 de março de 1952,
aos 87 anos, no Rio de Janeiro.
Em meio ao dicotômico e turbulento cenário da Belle époque
carioca, o escritor Ferreira da Rosa produziu, para o Jornal O Paiz, uma
série de crônicas, intituladas A Podridão do Vício durante o ano de 1896.
Seus textos foram reunidos e publicados ao final desse mesmo ano em
livro com o título de O Lupanar: Estudo sobre o caftismo e a prostituição
no Rio de Janeiro. O objetivo deste trabalho será analisar e compreender
essa obra dentro da conjuntura anteriormente descrita.
As crônicas de Ferreira da Rosa são impactantes, pois descrevem a
podridão à qual as mulheres eram submetidas pelos chamados caftens,
homens que enxergavam à sua frente apenas a riqueza e viam, no Brasil,
um território propício para a venda de sua mercadoria. Nesses textos, o
autor deixa clara a intenção “higienizadora” de seu trabalho, com 14

pretensões de denunciar as mazelas pútridas que cercavam, segundo ele,


o Rio de Janeiro. Nesse sentido, a primeira de suas crônicas já apresenta
esses objetivos ao pôr em cena seu “cego altruísmo”:

Ninguem ha que se disponha a tamanho sacrificio senão


forçado pelas contingencias do dever ou, então, impulsionado
pelo amor do seu semelhante, por um cego altruísmo, por um
intimo desejo de falar bem alto à sociedade descuidosa
annunciando-lhe com a mais brutal franqueza o gênero da
lepra que lhe corróe organismo, a grandeza dos cancros que
lhe minam a existencia. É esse ultimo o nosso caso. (ROSA,
1896, p. 5)

Mais adiante, reitera e sintetiza o intuito de sua “brutal franqueza”,


comprovando o caráter não apenas literário, mas jornalístico e sociológico
de seus textos. Suas crônicas são, portanto, verdadeiros estudos sociais do
Rio de Janeiro:

Fique, pois, bem evidente que o nosso objecto não é fazer


escandalo. O nosso alvo é o saneamento moral do Rio de
Janeiro. Mas, como isso não se póde obter à força de
reclamações platonicas (...) vamos desnudar as podridões do
vicio, vamos levantar a planta do theatro de todas as
devassidões, fazer a autopsia dos degenerados, desvendar a
Justiça, mostrar-lhe o dedalo monstruoso que nos deprime,
provar-lhe a inefficacia dos recursos que ella poz nas mãos da
policia e dos magistrados, para, com a energia maxima dos
desesperados, pedir a instituição das leis proprias, que
desafoguem a sociedade e cauterisem as chagas que lhe
corroem os membros. (ROSA, 1896, p. 8)

Antes de darmos continuidade à leitura de suas crônicas, é preciso 15


entender o papel da crítica sociológica na literatura, dentro da qual o
elemento subalterno, nesse caso, as judias polacas, deve ser interpretado
como sujeito construtor de um processo, não apenas como objeto. A esse
respeito, pontua Alfredo Bosi:

A crítica sociológica, estimulada pelo assunto da exclusão e da


marginalidade, deve, portanto, acautelar-se quando enfrenta
escritos ficcionais. A mente ideologizante abstrai e reduz as
diferenças na medida em que procede à força de esquemas e
tipos. Mas as vozes narrativas, quando vivas e densas,
reclamam a atenção para o que é complexo, logo singular. De
resto, quem garante que o chamado homem simples seja tão
simples assim? Há uma segunda maneira de lidar com a
relação entre o excluído e a escrita. Em vez de tomar a figura
do homem sem letras como objeto, procura-se entender o
pólo oposto: o excluído enquanto sujeito do processo
simbólico. (BOSI, 2008, p. 163.).

Podemos perceber, dessa forma, como Ferreira da Rosa foi inovador


e, em certa medida, avant la lettre no que tange à História Nova iniciada a
partir da Escola dos Annalles. O autor antecipa a releitura de uma História,
que, até então, era vinculada apenas aos grandes eventos das ciências
sociais. Para isso, o cronista põe em cena os excluídos, subalternos e
marginalizados, conseguindo, assim, criar aquilo que Le Goff chamou de
Apogeu do documento e decadência do Monumento. Existe, portanto, um
retrato da história dos vencidos, não mais a dos vencedores, para usar o
termo de Walter Benjamin.
Sob o ponto de vista literário, conseguiu, por intermédio da crônica
jornalística, apontar temas escondidos por trás da euforia da Belle 16

Époque. É interessante, no estudo de Ferreira da Rosa, analisar sua


capacidade de denúncia. O autor defende uma classe sem voz, sem moral,
sem dignidade, sem expressão, sem identidade e sem cidadania,
considerada a escória da sociedade. Publicando seus trabalhos em um
jornal de grande circulação, ele vai muito além da denúncia e passa a ser
um grande intercessor daquelas mulheres consideradas impuras. Essa
defesa se dá uma vez que as distingue das demais prostitutas. Segundo o
olhar higienista de Ferreira da Rosa, a prostituição era altamente
condenável, as polacas, porém, eram vítimas desse processo, e não suas
causadoras.

A prostituição, por qualquer lado que seja encarada, é uma


voragem, abysmo sem fundo, monstro que se alimenta de
tudo quanto a sociedade tem de mais precioso; a honra, a
saude e o pudor são virtudes que estalam entre os dentes
desse asqueroso fantasma, que só distila miseria, crimes e
baixeza.
A prostituição é a maior prova da perversão de todas as
faculdades da alma; é a bestialidade, a lascivia e a sordidez,
avassalando tudo quanto ha na mulher de attractivo e nobre,
de seductor e meigo, para converte-la no ente mais abjecto e
mais despresizel da Creação.
A prostituição não se justifica, nunca se justificou, nem se
justificará jamais. Nas grandes capitaes onde ha prostitutas,
são ellas desprezadas como merecem, pois nada ha mais
repugnante do que vender ao primeiro chegado as graças do
seu corpo.
(...)
Ha, porém, que distinguir entre a messalina voluntaria, a
infeliz victima do proprio desequilibrio mental, das proprias
paixões desordenadas, e a messalina recrutada na Europa, 17
illudida nas aldeias do sul da Russia,da Polonia, da Turquia, da
Austria Hungria, não raro da Grecia e muitas vezes da
Roumania.
Ahi, então, o analysta vê-se obrigado a escalpelar uma coisa
hedionda, uma crença quasi fantastica, um crime inaudito: a
obra do infame caften. (ROSA, 1896, p. 9 -11)

Nas crônicas de Ferreira da Rosa, o narrador retrata


jornalisticamente como tudo acontecia, a forma como aquelas mulheres
eram enganadas, capturadas e exploradas por seus próprios maridos. A
partir daí, o cronista demonstra o processo de instalação desse sistema na
cidade e a maneira pela qual, ao chegarem ao Rio de Janeiro, eram
obrigadas a se prostituírem. Antes disso, porém, o autor exerce a faceta
histórica de sua literatura de maneira eficaz ao explorar a origem dessa
prática:

O primeiro que trouxe a esposa abandonou-a, porque era


esteril; ia nisso um arremedo de obediencia à lei mosaica.
Essa mulher prostituiu-se, e elle começou a tutelal-a.
Garantiu-lhe o aluguel da casa, que mobiliou sobriamente
com peças compradas nos seus correligionários adelos; ficou
espiando o movimento do alcouce; e, à noite, foi tomar conta
à nova Messalina. Soavam as 12 horas finaes do dia
astronomico; e, dizendo perante Israel: << Tu não és mais
minha esposa >>, fez-lhe ainda, talvez, companhia conjugal,
assegurando-lhe d’esse modo a sua protecção amiga.
Estava, assim, iniciado o caftismo, tal como originariamente o
praticavam na Austria Hungria homens desbriados. O
primeiro judeu estava negociando a primeira mulher na
primeira cidade do Brazil. (ROSA, 1896, p.22)
18

Em relação a essa origem, é necessário lembrar que alguns


termos, como Zona do Mangue ou polaca, ainda permanecem no
imaginário da cidade. Isso ocorre, no primeiro caso, pela referência ao
Bairro da Cidade Nova e pelo Canal do Mangue neste mesmo bairro, cujas
imagens foram imortalizadas por Lasar Segall, na série de gravuras
intituladas “Mangue”. Sobre essa região, é relevante ressaltar que na
década de 1920, com as progressivas repressões policiais, as judias
polacas foram obrigadas a se concentrarem na Praça Onze, passando a
conviver com o restante da comunidade judaica. Nesse período, a região
era conhecida como o bairro dos judeus, sendo também denominada
Zona do Mangue, por causa do referido canal que atravessava o local.
Mesmo se ainda percorrermos o Cemitério Israelita de Inhaúma,
encontramos um testemunho da passagem das Polacas pela nossa cidade,
que é o chamado cemitério da associação das judias polacas, fundado em
1906.3

3
Há um trabalho da Historiadora Beatriz Kushnir sobre o Cemitério das Judias Polacas do Rio de Janeiro,
intitulado “Nomear é conhecer: as lápides das polacas no Cemitério Israelita de Inhaúma – um relato”.
In: História, imagem e narrativas No5, ano 3, setembro/2007 – ISSN 1808-9895 -
http://www.historiaimagem.com.br. Destacamos que a Historiadora Dra. Beatriz Kushnir é grande
estudiosa do assunto acerca da história da prostituição das judias polacas e de suas Sociedades
Beneficentes de Ajuda Mútua, tendo sido a pioneira nesses estudos, com a publicação do livro “Baile de
máscaras- Mulheres judias e prostituição.”
A ideia por trás de “Polacas”, de acordo com Gruman (2006),
simbolizava a imagem das mulheres das camadas mais pobres e, em geral,
habitantes das regiões agrícolas e industrialmente atrasadas do
continente europeu. Tanto no Rio de Janeiro como em São Paulo, o termo
“polaca” significava a meretriz estrangeira, não necessariamente oriunda 19

da Polônia, mas dos países do Leste Europeu. O termo abrangia uma gama
de mulheres loiras vindas dos países da Europa oriental que o imaginário
popular unificava em um único rótulo. No imaginário masculino, havia
uma atração exercida, seja a polonesa, a austríaca, a russa ou a judia,
constituindo-se um imaginário voltado para a atração por regiões
distantes e de povos distintos. Segundo Margareth Rago:

Ocorriam histórias fantásticas de nobres, num país onde até


então grande parte das prostitutas provinha dos continentes
de escravas e ex-escravas negras, principalmente no Rio de
Janeiro. Mulheres loiras, ruivas, claras, delicadas, de olhos
verdes ou azuis tornavam-se mais misteriosas e inatingíveis
para uma clientela masculina seduzida pelos mistérios
fantásticos da vida moderna e impulsionada pelo desejo de
desvendar física e simbolicamente os labirintos. (RAGO, 1991
p. 294).

O aliciamento de moças oriundas do Leste Europeu ocorreu pelo


processo de empobrecimento daquela da região bem como na
transformação profunda ocorrida nas áreas rurais do Leste Europeu,
tendo em vista que nesta porção da Europa não se conseguia acompanhar
o acelerado processo de industrialização de grande parte do continente e
o imaginário urbano da cidade levava um grande contingente a migrar
para a cidade ou para outros países. (KUSHNIR, 1996).

III. As Polacas em O Lupanar, de Ferreira da Rosa


A chegada das polacas ao Rio de Janeiro se deu em fins do século 20

XIX, por volta de 1867. De acordo com Gruman, em setembro de 1879,


uma notícia do Jornal do Commercio dá conta de que o Dr. Félix da Costa,
terceiro delegado de polícia, havia concluído um inquérito que objetivava
identificar os indivíduos que exploravam a prostituição, prática conhecida
por lenocínio, remetendo-o ao chefe de polícia da capital federal. Dentre
as informações coletadas, verificou-se a existência de uma associação
composta de judeus russos, alemães, austríacos e de outras
nacionalidades que contratavam mulheres na Europa para o Brasil
(GRUMAN, 2006, p. 89). Essa associação não poderia estar fora das
denúncias expostas por Ferreira da Rosa:

O caftismo vulgarisou-se entre os judeus sem escrupulos, e


cada qual timbrava em reunir a seu serviço o maior numero
de mulheres.
Então, começou, d’aqui para diversas cidades do velho
mundo, a romaria dos recrutadores dessas desgraçadas. O
processo empregado pra illudir as incautas familias de aldeias
pobres é ainda hoje o mesmo, com pequenas variantes. O
caften dirige-se à Russía, à Austria ou à Alemanha, escolhendo
as immediações da capital para effectuar a suas conquista ou
antes para alcançar a sua presa. (ROSA, 1896, p. 23)
Por parte da comunidade judaica, as chamadas judias polacas eram
tratadas com exclusão, constituindo mesmo um “tabu na Comunidade
Isaraelita” (KUSHNIR, 2007). Nesse sentido, vale ressaltar que esse tabu foi
enfrentado pela historiadora Beatriz Kushnir quando iniciou seu trabalho
nos anos 1980, época de renovação nos estudos de História. Essas 21

mudanças fizeram com que pesquisadores dessem mais atenção aos


personagens geralmente excluídos dos relatos oficiais, como as
prostitutas. Tal debate enseja uma reflexão sobre a complexa relação das
mulheres que praticavam a prostituição com a sociedade na qual estavam
inseridas, o que demonstra um dos muitos nós que mobilizavam o Rio no
final do século XIX, período em que a então capital da República, em
rápida expansão, viu-se obrigada a lidar com a realidade de uma
metrópole. Assim, imigração, prostituição e criminalidade passaram a
fazer parte do dia a dia de uma cidade, que subitamente ia deixando a sua
feição de cidade colonial e provinciana, para tornar-se uma cidade
moderna criada pela invenção das grandes reformas urbanas.
Em sua série de crônicas no jornal O Paiz, o jornalista Francisco
Ferreira da Rosa esquadrinhou o universo das prostitutas judias,
chamadas na época de "polacas", termo que ficou registrado nos
dicionários como sinônimo de meretriz. Sucesso entre os leitores da
época, suas crônicas permaneceram durante muitas décadas fora de
catálogo.4 Essa obra nos descortina um momento único na história do Rio,

4
Em 2009, o neto do autor, Carlos Ferreira da Rosa, organizou uma reedição da obra, com o auxílio de
Verena Kael e Matilde Teles, diretoras do documentário “Aquelas mulheres”, o qual aborda a temática
dessas mulheres esquecidas. O neto do jornalista produziu uma edição de apenas 100 exemplares, os
quais foram doados a bibliotecas e centros de referência, mantendo o português da época.
“Affrontando commodidades, conveniencias, odios e ingratidões,
penetrámos n’uma cidade completamente nova, Babylonia
desconhecida...”. Em seus textos, o autor registra a rotina daquela
comunidade numa escrita que reflete a visão geral da sociedade da época,
marcada por um misto de curiosidade, preconceito e espanto. Na Edição 22

de O paiz, de 25 de março de 1896, n. 4192, o Editor agradece apoio do


Editor do Diário de Santos e reproduz a carta recebida deste, com a
moção de apoio ao combate do caftismo na cidade, reiterando o
compromisso de Ferreira da Rosa e do Jornal O Paiz na denúncia de tal
atividade.
Ao abrir a série de crônicas e levar seu leitor a conhecer uma
“Babylonia desconhecida”, Ferreira da Rosa traça um panorama da
prostituição carioca, estabelecendo uma cartografia das ruelas do Centro,
nas quais o cronista se propõe a adentrar com o objetivo de moralizar e
sanear esse submundo, narrando a obscuridade dos avessos da Belle
époque, o que fica bem expresso no próprio título da série: A podridão do
vício. Dessa forma, o caráter sociológico e moralizante de seus escritos é,
mais uma vez, reiterada.

No centro mais geometrico da capital da Republica, tem o


Vicio o seu mais faustoso arraial. Ahi o encontrámos debaixo
das suas tres formas mais caracteristicas: a prostituição, a
jogatina e o roubo. Ahi o estudámos. (ROSA, 1896, p. 8)

Ressalta-se, ainda, que a imagem da prostituição no século XIX foi


construída no imaginário e nos discursos do clero, dos médicos, dos
juristas e dos literatos, a partir de uma diretriz regulamentarista,
influenciada pelo positivismo, pelo higienismo e pelo cientificismo que
vigorou no período, reverberando o pensamento de Lombroso, Parent-
Duchatelet, Taine, entre outros. Os médicos franceses, por exemplo,
impuseram a sua estratégia de controle e regulamentação do meretrício, 23

principalmente, na cidade de Paris. Na esteira dos seus pares europeus, os


médicos brasileiros também adotaram medidas similares, vendo a
prostituição como grande mal, que deveria ser combatido. Em decorrência
dessas mentalidades, é possível encontrar discurso semelhante no
jornalismo e na crônica publicada na imprensa, da qual Ferreira da Rosa é
exemplo claro e contundente. Tendo em vista esse cenário, Soares nos
esclarece a questão:

Em 1845, o Dr. Lassance Cunha denunciava em sua tese o


crescimento desenfreado da prostituição na cidade do Rio de
Janeiro e, consequentemente, a disseminação de muitas
doenças venéreas (principalmente a sífilis) por todas as faixas
etárias da população. (SOARES, 1992, p.26)

A partir de 1880, com o grande desenvolvimento da imprensa,


dentro das regras do jogo de poder e prestígio necessários à conquista do
público leitor, os periódicos ganharam um aspecto “imparcial” e
veiculador da “verdade”. Isso era reforçado pelo recurso da ilustração e da
fotografia, cuja “missão civilizadora” direcionava comportamentos e
conceitos, através dos discursos. Nesse contexto, faz-se importante trazer
à tona as ideias de Fairclough, segundo o qual “os discursos não apenas
refletem ou representam entidades e relações sociais, eles as constroem”
(2001, p. 22).
Nesse sentido, ao realizarmos nossa leitura do bloco de crônicas
reunidas em A Podridão do vício, num total de 25 textos, percebemos que
nesse conjunto o cronista recorre diversas vezes em seus enunciados à 24

formação discursiva policial, tendo em vista que, em seus textos, ele lança
mão de reportagens, casos e dados fornecidos por delegacias, citando,
inclusive, o discurso de delegados. Em texto publicado no dia 20 de Maio
de 1896, essa relação fica evidente:

Quem pretende justiça deve começar fazendo justiça.


E não é senão pelo prazer de exercel-a que o autor d’este
opusculo se apressa em declarar que deve todas as
observações nelle contidas à guia de uma autoridade policial
do Rio de Janeiro.
Que o Sr. Luiz Bartholomeu de Souza e Silva, delegado do Dr.
Chefe de policia na 4ª circumscripção urbana perdôe a
revelação que ahi fica. O facto é, porém, que só uma
auctoridade zelosa póde conhecer profundamente todos os
escaninhos physicos e todas as cavernas moraes da parte da
cidade que tem sob sua vigilância; o certo é que só um
homem independente póde franquear as suas obras a exame,
concurrendo para que se esquadrinhe tudo quanto o rodeia.
(...)
Por isso como homem, como brazileiro, como patriota e como
autoridade o Sr. Luiz Bartholomeu conquistou a admiração do
autor que n’estas linhas procura render-lhe a mais justa
homenagem. A elle deve os conhecimentos que adquirio
sobre esta gente que estudou. (ROSA, 1896, p. 3)
Ademais, um aspecto que chama a atenção é a adoção de um
discurso, em certa medida, antissemita, vinculando incessantemente a
imagem do caften à do judeu, sem ligá-lo a outras nacionalidades. Paralelo
ao retrato da situação econômica vivida na Europa pela comunidade
judaica, o autor se concentra, em grande parte, numa retratação 25

totalizante dos fatos, segundo a qual a mulher é vista como prisioneira e,


portanto, sempre vítima do caften.

De sorte que no meio degradante em que a prostituição


ergue o collo, ameaçando a sociedade com o insulto do seu
virus peçonhento, avulta a cellula pôdre, o homem fézes, o
typo nojento do recrutador de mulheres para o exercito do
Vicio – israelita degenerado, a envergonhar a raça humana, a
enxovalhar o Rio de Janeiro. (ROSA, 1896, p.11)

Mais adiante, sua postura antissemita de denúncia a esse grupo de


judeus fica ainda mais evidente. Ainda que Ferreira da Rosa tenha sido um
grande responsável por denunciar a exploração das polacas e consolidar
na história vozes emudecidas pela força do tempo, é imprescindível
esclarecer que tal postura, embora seja em grande parte fruto do anseio
higienista do autor, foi responsável por atrocidades ao longo da história.
Assim, torna-se evidente a visão maniqueísta utilizada na composição do
cenário de um caften vilão contra a polaca escravizada:

O publico está farto de ouvir este termo da nossa gyria –


caften; sabe perfeitamente o que elle exprime; ignorando,
porém, a natureza, o caracter, a vida de relação e a
psychologia daquillo que elle significa. É nesse ponto que
vamos lhe ser uteis.
O caften, de ordinário, é um israelita, é um judeu.
(...)
Ora, não admira que dessa raça, que o vilipendio de seculos
tanto desfigurou, e de que hoje poucos representantes se
conservam fieis à lei e puros diante do seu Deus; dessa raça
experimentada no soffrimento e douta na arte de conseguir o
bem-estar material, embora a consciencia viva estrangulada 26
pela necessidade de fingir; dessa raça hoje, portanto,
decadente brote um ramo degenerado, para constituir o
caften que assola as cidades sul americanas, principalmente o
nosso bello Rio de Janeiro. Asqueroso producto da
degeneração humana! (ROSA, 1896, p. 13-18)

Não se pode pensar, contudo, que os caftens formavam um grupo


homogêneo. Embora o discurso totalizante de Ferreira da Rosa enfoque
insistentemente os judeus, havia, dentre eles, subdivisões que nos provam
a pluralidade desses indivíduos. O argentino Julio Alsogaray e o brasileiro
Anésio Frota Aguiar, ambos delegados de polícia da primeira metade do
século XX, sistematizam esses homens em três subgrupos: o apache, o
sentimental e o caften judeu.

Nesta perspectiva, o tipo apache é o cáften francês, que vive


e age de maneira individualista sem nenhuma sociedade
secreta ou sistema de auto-ajuda. Domina suas mulheres pelo
terror e violência, porém, nunca com arma de fogo. A força
desses homens estava em suas navalhas. O segundo tipo é o
cáften sentimental, identificado como o argentino, o
portenho em especial. Caracterizado pelo papel de gigolô,
não ameaça nem violenta, controla as mulheres pelo coração.
O terceiro é o cáften judeu. Nas análises dos dois delegados,
pode-se perceber toda a problemática de uma visão
preestabelecida a respeito desse último grupo,
profundamente marcada por um estereótipo. (KUSHNIR,
1996, p. 105)

O olhar de ambos os delegados são, não por coincidência, a mesma


que Ferreira da Rosa demonstra. A “visão preestabelecida” de que nos fala
Kushnir é evidente no olhar antissemita do cronista. Em diversos 27

momentos, podemos perceber que o jornalista ilustra os caftens judeus de


modo a desumanizá-los ao máximo, demonstrando como estes não
passam de mercenários frios e inescrupulosos, que não se afetam em
nada pelo sofrimento das polacas e, portanto, seriam os piores tipos
dentre as três categorias de caftens. Entretanto, é preciso estar atento a
radicalismos nessa retratação, uma vez que o estudo de Ferreira da Rosa
almeja buscar um registro fiel do quadro que existia à época no Rio de
Janeiro, com um viés mais jornalístico do que ficcional. Portanto, faz-se
imprescindível manter a leitura crítica das crônicas dispostas em A
podridão do vício tendo em mente que todo e qualquer estudo
historiográfico não pode ser resumido a visões simplistas dos fatos,
sobretudo porque “o mundo da prostituição e da marginalidade está
envolto em fantasias”. (KUSHNIR, 1996, p. 106)
Nesse contexto, é possível observar que as imagens lançadas pelo
cronista se circunscreveram no dualismo caften carrasco/prostituta
subjugada, sem levar em consideração que tais imagens eram, de certo,
simplificadoras e reforçavam um ideal de sociedade burguesa, sem ter
como horizonte que caftens e prostitutas não eram categorias fixas, mas
sujeitos que possuem histórias de vida e crenças, sendo, por isso,
copartícipes da historiografia. Esse maniqueísmo simplificador pode ser
confrontado pelos dados de Beatriz Kushnir:

Em 1889, o Império Russo elabora uma lista de prostíbulos


existentes: os judeus possuíam 203 (70%) das 289 licenças.
No mesmo ano, outro censo apontava 30 das 36 licenças de 28
exploração de lenocínio pertencendo a mulheres judias da
região de Kherson (...) Assim, há que se repensar a ideia que
cerca o tráfico e que o une a uma noção que vitima: de
pobres moças enganadas por homens que as raptavam e as
iludiam com falsas promessas de casamento. (KUSHNIR,1996,
p.63)

Ainda sobre essa questão, é inquestionável que as judias polacas, na


grande maioria dos casos, foram as vítimas do referido processo. Mostra-
se indubitável, também, o fato de que os caftens foram responsáveis por
sua opressão e sofrimento através dos casamentos propostos na intenção
de trazê-las como escravas sexuais ao Brasil. Todavia, assim como todo e
qualquer fenômeno estudado pelas Ciências Humanas, não se pode ter
um olhar limitador no que tange à categorização de “heróis” e “vilões”.
Ferreira da Rosa, contaminado por sua visão radical, ainda que
contundente e preciso em suas críticas, por vezes ignora o panorama geral
do que se passa e acaba preso por uma divisão pouco nítida que se esgota
ao vislumbrar grupos imutáveis na relação entre carrascos e suas escravas.
Por conseguinte, não se pode deixar de lado a complexidade de todo o
sistema que perpassa a prostituição e venda dessas mulheres:

O casamento permeia sempre as narrativas sobre o tráfico.


Uma das mais fortes justificativas para a existência deste
último está no engano que as jovens moças sofriam ao aceitar
propostas de casamento de judeus, vindo com eles para as
Américas. Tal perspectiva deve ser repensada, uma vez que
restringe essas trajetórias a um único modelo, que,
certamente, reflete a visão de papéis fixos desempenhados
por homens e mulheres. Os números já citados demonstram a
vinculação de judeus com a prostituição ainda na Europa, 29
ilustrando que não se pode dar às mulheres envolvidas
apenas um papel passivo. A ascensão de uma prostituta está
na sua possibilidade de possuir uma casa própria e, assim,
tornar-se uma caftina. Portanto, não existem apenas vítimas e
a rede é muito mais complexa. (KUSHNIR, 1996, p.67).
30
31

O discurso jornalístico, de modo geral, trazia em seu bojo uma


formação discursiva jurídica, o que se revela até mesmo na escolha do
assunto constante. Isso pode ser percebido no próprio tema, ou seja, o
caftismo. Apesar de o discurso ter o caráter conservador, a situação da
prostituta é de certa forma, tolerada, pois o que está em cena é a figura
do caften. Nesse sentido, percebe-se a presença do discurso jurídico e, de
acordo com o código penal, o jornalista reafirma a condenação do 32

lenocínio como crime para quem o pratica, realizando um recorte do


mundo da prostituição e do caftismo, de acordo com um discurso legalista
e regulamentarista. Entretanto, o autor não deixa de apontar as lacunas e
problemas da lei, reforçando, assim, o caráter de denúncia que propõe
com a sua escrita: “Vá o publico e vão as autoridades apreciando o
mecanismo da obra revoltante do caften, para bem sentirem a inanidade
das nossas leis diante destes leprosos propagandistas do vicio.” (ROSA,
1896, p. 31).
Ainda que o discurso de Ferreira da Rosa tenha tomado como
missão a denúncia e o combate à exploração da prostituta, ele também foi
reflexo de visões classistas, pois tais atividades foram consideradas por ele
como típicas das classes desfavorecidas, para quem era necessária a
intervenção policial. No contexto geral dos textos do jornalista, aparece,
como já abordado, um discurso antissemita e os caftens não encontravam
abrigo no meio das classes dominantes da sociedade carioca da época. Por
outro lado, tal fato não ocorria quando se tratava da prostituta francesa e
de seu caften, pois tal prostituição fora vista, em certa medida, como
signo de sofisticação e modernidade.
Tendo em vista a conjuntura na qual estão inseridos caftens e
polacas, a observação mais minuciosa da escrita de Ferreira da Rosa e os
casos por ele relatados funcionam como documento, mas também
constituem crônicas de ficção, uma vez que todas as histórias são
produtos de uma observação do escritor. Suas crônicas, assim como já
esclarecido na comparação com João do Rio, se alinham às reportagens,
uma vez que faz uso de uma narrativa que se encontra na intercessão 33

entre Literatura e Jornalismo.


O primeiro desses casos conta a história do caften que chega ao
Brasil depois de conhecer Buenos Aires, cidade que, juntamente com Nova
York, foi um dos “grandes portos de chegada dos imigrantes judeus e,
principalmente, das polacas” (KUSHNIR, p.68). Essa crônica recebe o título
de André Goldmann:

Em Dezembro, André Goldmann, um caften conhecido n’esta


capital, partiu da Europa em direcção a Buenos Ayres, com
mais uma mulher a juntar ao numero das que se prostituem,
constituindo-se fontes de renda para seus exploradores. Em
Buenos Ayres não acharam as coisas muitos correntes, e
vieram para o Rio de Janeiro. (ROSA, 1896, p. 31)

Ferreira da Rosa, a partir daí, narra o caso do caften e suas polacas


sob o olhar crítico que já pudemos analisar. Contudo, antes de dar
continuidade à crônica, é importante perceber como a judia polaca é vista
de uma forma distinta, trata-se de um elemento exótico dentro do
contexto latino-americano. Isso se reflete, inclusive, em seus costumes e
hábitos alimentares:
Wanda, polaca e catholica, tinha 19 annos; não falava
portuguez; trazia hábitos excessivamente devassos, e deu
logo as mais surprehendentes provas de rara extravagância
no paladar. As suas refeições nunca eram a horas regulares,
nem de regular natureza: comia pepinos e cebolas com pão e
sal. Não tomava banhos. (ROSA, 1896, p. 33)

Ao longo da narrativa, encontra-se uma trajetória muito comum no


que se refere à vida das polacas à época. Wanda adoece, vítima de febre 34

amarela, e é impossibilitada de continuar rendendo lucros ao caften. Por


causa disso, Goldmann obriga a mulher a se retirar do prostíbulo e tenta
mandá-la para um hospital, mas Wanda tem medo do que poderia
acontecer. A mulher, que já não tinha controle sobre seu corpo, o país que
habitava e a língua que ouvia, tem seus últimos vestígios de liberdade
roubados ao resistir que fosse levada para o hospital por Elisa, aquela que
auxiliava o caften. Ocorre, assim, uma cena de briga na qual a mulher
enferma é obrigada a cooperar com os interesses de Goldmann.
Ferreira da Rosa faz uso desse episódio para, mais uma vez,
denunciar os absurdos ocultos da Belle époque carioca. Contudo, dessa
vez o autor tematiza uma questão muito relevante em nossos tempos: a
banalização da violência pelos habitantes da grande cidade.

Recuou, então, negando-se a entrar; mas Elisa deu-lhe um


violento empurrão, forçando-a a acceitar o transporte
offerecido.
Esta scena vandalica entre mulheres corroidas pelo virus da
prostituição, dominadas pelo infame caftismo; esta scena
deshumana, este horroroso mixto do acerbo com a satanica
depravação de sentimentos, é bastante como nota da
dissolução que empolga uma capital. E passou-se esta scena à
plena luz solar, em plena rua das nossas mais centraes!
(ROSA, 1896, p.35)
Por fim, a prostituta veio a falecer sem ter recebido nenhuma visita
de seu caften. Nesse momento, fica claro como Goldmann, assim como os
demais caftens, não viam nessas mulheres absolutamente nada além de
uma mercadoria capaz de gerar lucro. São mulheres exploradas em vida 35
para serem apagadas depois da morte: “O caften, assim que teve a noticia
da morte, riscou-a da lista dos seus pertences, e... pensou n’outra para
substituil-a.” (ROSA, 1896, p. 36)
Depois desse relato, Ferreira da Rosa dá continuidade às
crônicas com o caso intitulado de Siegmond Richer, “um personagem
destes, cujo olhar magôa, cujo halito cresta, e cuja visinhança degrada.”
(ROSA, 1896, p.38) É interessante perceber, nesse caso, como o autor
mais uma vez enfatiza a função “civilizadora” que pretende ter com sua
escrita. Em vários momentos de seus textos, Ferreira da Rosa faz questão
enfocar a necessidade social de que dispõe o jornalismo no que se refere
ao combate à prostituição:

Os pontos de encontro dos caftens são conhecidos: e não


sahem dos limites da 4ª circumscripção policial, onde tambem
se acha condensado o seu forte commercio. Os dois cafés
citados só deixaram de ser logares de reunião permanente
desses homens depois que O Paiz deu aquelle rebate. Então,
receiando a caça, afastaram-se para os quartos que têm
sempre alugados em Catumby, Rio Comprido, rua Frei Caneca
e outros pontos da cidade nova. (ROSA, 1896, p. 38)

É assim que se inicia o relato. Sendo acusado de caftismo pelo


jornal, Siegmond foge para uma casa da Rua São Francisco de Assis.
Almejando encontrá-lo, Ferreira da Rosa consegue uma entrevista com o
acusado, que nega peremptoriamente qualquer envolvimento com as
judias polacas, alegando ser apenas um vendedor de joias judeu
conhecido por todos os caftens. O homem admite que os ajuda, mas
persiste em sua afirmação de que não pratica o caftismo. Percebemos, 36

nesse momento, que a anexação das entrevistas às crônicas configura-se


como um ponto alto de articulação entre Ferreira da Rosa e João do Rio:

- Então o seu dinheiro só vem do negocio das joias.


- Só, sim, senhor; eu não...
- Não tem mulher ahi, pela janella, a ganhar dinheiro para
lhe dar?...
Açoitou-nos com o seu olhar vermelho, entreabrio os labios
grossos, mostrou-nos os dentes altos, desaprumados,
amarellos, e disse:
- Não, senhor; não faço isso; a minha vida é séria; trabalho
com honra; sou um homem acreditado na praça. (ROSA,
1896, p.43)

Ainda que o caso pareça estar resolvido, a crônica nos deixa aberto
o suspense em relação à real identidade de Siegmond Richer. Vale lembrar
que os textos de Ferreira da Rosa foram pensados para publicações em
jornais, isto é, havia, mesmo que não de forma prioritária, a preocupação
em cativar seu público, induzindo-o a acompanhar as próximas edições de
sua coluna. Para atingir essa popularidade, nada mais frutífero que o
suspense, pois “o suspense tem uma relação bastante estreita com a
ficção popular” (LODGE, 2009, p. 24). Isso se dá no parágrafo final da
crônica, quando o leitor já imagina que tudo havia sido elucidado:
Agora outra face deste homem. Veja o publico com quanto
artificio elle pretende occultar a sua verdadeira condição.
Depois de ouvil-o modesto nas suas ambições, convicto dos
seus direitos, orgulhoso das suas virtudes, vamos observal-o
desde 1879 até à data presente, accusado por negociantes
sérios, anathematisado e descarnado por uma de suas
victimas, expulso da maçonaria brazileira, processado pelo Dr. 37
Felix da Costa, emquanto, peitando uns e illudindo outros,
elle conseguia alistar-se como nosso concidadão! (ROSA,
1896, p. 44).

Em sua publicação posterior, Ferreira da Rosa dá continuidade à sua


investigação. Nesse momento, o cronista narra às ações de Richer em sua
tentativa de fugir da lei. É interessante perceber que o autor não se priva
de criticar a justiça brasileira, uma vez que, após diversas alegações
duvidosas, o caften consegue se ver livre de sua punição. Na mesma
crônica, Ferreira da Rosa, mais uma vez, insiste em evidenciar o caráter
moralizante e social de sua escrita. O cronista reforça que sua obra tem
uma função em prol da “moral” e da “civilidade”, e continuará com sua
“missão” apesar de qualquer empecilho. É necessário ressaltar, ainda, o
caráter quase messiânico que Ferreira da Rosa atribui ao seu trabalho,
comparando sua equipe a apóstolos:

Excusado é dizer que provou tudo isso. Que é que não se


prova com um pouco de boa vontade? E muniu-se, assim, um
dos homens de facto mais perniciosos à moral da nossa terra
com um documento público que attesta a “elevação das suas
virtudes” e o “fulgor da sua probidade”! Por isso elle agora
tem toda razão para nos processar. Mas nós estamos
convictos de que prestamos um serviço à sociedade, obramos
como apostolos, temos o nosso objectivo honesto, são,
patriotico: não nos assusta a barra do tribunal, ainda quando
a miséria das nossas leis der força a um caften. (ROSA, 1896,
p. 49).

Por fim, após narrar em tom de revolta as artimanhas em


38
decorrência das quais Richer consegue escapar da justiça, Ferreira da Rosa
encerra seu texto com sarcasmo ácido e mordaz, tão recorrente em
outros cronistas do início do século XX, como Lima Barreto e João do Rio:
“Santo, olympico, venerado, homem este! Pobre martyr de perseguições
da policia e da imprensa!” (ROSA, 1896, p. 51).
Ainda que o caso de Siegmond Richer tenha sido detalhadamente
abordado por Ferreira da Rosa nas crônicas já analisadas, esse relato ainda
não está exaurido. Em crônica posterior, o autor transmite, em seu texto,
um artigo escrito por uma mulher que havia conseguido escapar do
domínio do caften. O longo documento, intitulado Infamias dos caftens e
cujo subtítulo é Siegmond Richer, é inserido na crônica e oferece
revelações tão almejadas pelo público que “acompanha com interesse
anatomista, seguindo pari-passu os tempos classicos de uma grave
operação.” (ROSA, 1896, p.55). O título do relato aponta para o fato de
que o polêmico caso seria continuado e, assim, Ferreira da Rosa nos
oferece elucidações sobre esse mistério. Para melhor compreendermos a
natureza do relato, transcrevemos aqui suas primeiras linhas:

Victima do miseravel caften,escoria dessa horda de infames


judeus, que se estabeleceram nesta corte com o infame
commercio de explorar mulheres, venho perante generoso
publico expôr-lhe quanto acaba de fazer-me esse ignobil
caften, deportado por ordem do governo imperial, e que não
seguiu a sortede seus torpes companheiros por se haver
naturalisado cidadão brazileiro. (ROSA, 1896, p. 55).

Por fim, Ferreira da Rosa reforça e conclui esse momento de suas


crônicas, fazendo questão de enfatizar o fato de que sua “missão” 39
continuará: “Para nós, porém, é que não ha ouro: poderá haver a cadeia;
mas a causa do pudor publico não morre: o clamor não cessará.” (ROSA,
1896, p. 58)
Dando continuidade a seu estudo, o autor narra e denuncia diversos
outros casos de caftismo no Rio de Janeiro. Já tendo sido feita a
reprodução e a análise de alguns deles, podemos nos debruçar para uma
proposta de entendimento teórico dos escritos de Ferreira da Rosa. Nesse
sentido, é essencial pontuar a influência realista-naturalista que parece
dar base para seus textos. Tal assertiva é evidente ao lermos, antes de
tudo, o título da obra, dado que podridão e vício são temáticas
recorrentes nas obras produzidas nas últimas décadas do século XIX que
são incluídas nesse grupo. Ademais, a crítica social, por vezes vinculada ao
humor ácido, aproxima Ferreira da Rosa dos parâmetros dessa escola,
além de mostrar aproximação a grandes cronistas contemporâneos a ele
que também perceberam o poder discursivo da ironia, dentre os quais
Lima Barreto é exemplo contundente. Existe, também, em meio ao caráter
moralizante tão notório em seus textos, uma preocupação em expor as
falhas do homem no que tange à ética, à corrupção e à lealdade. Essa
marca faz parte, incontestavelmente, dos grandes autores realistas de seu
tempo. Para que possamos evidenciar tal aspecto, é suficiente pensar, por
exemplo, em três dos maiores nome do momento, sendo estes o
brasileiro Machado de Assis (1839 – 1908), o francês Gustave Flaubert
(1821 – 1880) e o português Eça de Queirós (1845 – 1900). Ainda que
Machado de Assis esteja longe do protótipo realista ilustrado por Flaubert
e Eça, essa tendência universal torna-se, portanto, mais um traço que 40

aproxima Ferreira da Rosa de tal tradição. É interessante lembrar, por fim,


que O cortiço, principal romance do cânone naturalista brasileiro, foi
publicado em 1890, portanto, seis anos antes das crônicas de Ferreira da
Rosa. Assim sendo, evidencia-se, fundamentado em parâmetros
cronológicos, temáticos e estilísticos, que Ferreira da Rosa, a nível didático
e classificatório, poderia lucidamente ser incluído no chamado
Realismo/Naturalismo. Nessa perspectiva, faz-se importante trazer à tela
as considerações acerca dessa escola literária que foram feitas por alguns
de nossos maiores críticos no intuito de comprovar a referida tese.
Nejar, ao analisar a obra de Aluísio Azevedo, tece considerações
que, em certo grau, são aplicáveis a toda produção realista-naturalista e
que poderíamos, por isso, facilmente vincular às crônicas de Ferreira da
Rosa ao postular que o autor de O cortiço “põe a faca impiedosa na
hipocrisia, câncer social de todos os tempos.” (NEJAR, 2011, p.273) Em
seguida, reitera, ainda analisando Aluísio Azevedo, um aspecto constante
nos textos de A podridão do vício: “sua escrita é dura, escorreita, com
agudeza do fio de lâmina, desfiando as alienações de uma sociedade
apodrecida e ilusória.” (NEJAR, 2011, p.273). Nesse cenário, o conceito de
uma sociedade apodrecida e ilusória coaduna-se perfeitamente aos
avessos da belle époque carioca que são denunciados pelo jornalista.
Ocorre, por conseguinte, uma aproximação inegável de Ferreira da Rosa à
tradição realista-naturalista.
Em suas crônicas, como já foi possível analisar, há diversos
momentos nos quais todas essas tendências se mostram evidentes. No
entanto, é importante destacar mais um, no qual as “impressões 41

sensíveis”, nas quais o Realismo se baseia, segundo Afrânio Coutinho, são


perfeitamente ilustradas:

Ao entrar, achamo-nos n’um compartimento que por certo é


denominado <<sala de jantar>>. Uma grande taboa de pinho,
suja, sobre dois cavaletes, occupava o centro; e, encostados
às paredes, havia um guarda-louça desguarnecido, e dois
grandes étangères cheios de pó, restos de pão, moscas, e
pratos besuntados. Pelo chão a mesma falta de asseio. O
papel que forra as paredes estava immundo. As cadeiras
tinham cada uma sua idade, feitio e qualidade. (ROSA, 1896,
p. 62).

No trecho em questão, o leitor é apresentado à cena de uma


maneira recorrente na ficção naturalista. Isso se dá pela adjetivação
expressiva atribuída aos elementos do cenário, que são descritos como
sujos, cobertos de pó, feios e asquerosos para o olhar do jornalista. Essa
estratégia reforça o nojo e repulsa que as crônicas almejam imprimir na
ambientação das polacas, além de trazer as “impressões sensíveis” por
meio do pó, das moscas e da sujeira, ratificando “o trabalho de revolver
podridões” e consolidando os caftens como as “fezes da humanidade”,
termo integrante do repertório de epítetos pejorativos cunhados ao longo
dos textos. Ainda sobre essa escola literária, Bosi, ao compreender a
literatura realista-naturalista-parnasiana como um conjunto, as caracteriza
como “uma grande mancha pardacenta que se alonga aos nossos olhos”
(BOSI, 2006, p.178). É interessante perceber o uso do termo mancha,
recorrente na ideia de impureza e podridão trabalhada amplamente por 42

Ferreira da Rosa. Assim, conseguimos observar a capacidade que o


cronista teve de sintetizar as tendências do final do século XIX em sua
missão contra o caftismo. No mesmo contexto, Bosi nos traz uma assertiva
que parece se comunicar diretamente com as denúncias em nome das
judias polacas ao reiterar que a literatura desse momento é “cinza como o
cotidiano do homem burguês, (...) cinza como a vida das cidades que já
então se unificava em todo o Ocidente” (BOSI, 2006, p.178). Essa análise
dá conta da importância de se compreender caftens e polacas como
personagens que compõem o cenário urbano da belle époque. Logo,
podemos claramente identificar o papel que Ferreira da Rosa exerce
dentro do sistema literário presente à época, no qual sua obra dispôs-se a
denunciar a mancha cinza de podridão e vício que se alastrava pela cidade
cujas vítimas principais eram as próprias polacas.

IV. Considerações finais


Francisco Ferreira da Rosa foi, indubitavelmente, um cronista no sentido
mais puro do termo porque seus textos fizeram do tempo presente e real
matéria-prima de suas denúncias. Assim, seu trabalho, embora demonstre
radicalismos questionáveis em nossos tempos, está apto a nos oferecer
exemplos contundentes da prática jornalística do final do século XIX, além
de comprovar o poder que a crônica possui. Na mesma perspectiva, seus
textos demonstram como o discurso é uma poderosa ferramenta na
disseminação de ideologias, uma vez que sua obra é impregnada pelas
convicções do autor que o motivaram em sua “missão”. 43

A Literatura, embora esteja intrinsecamente conectada ao


jornalismo nesse caso, consegue manter viva sua função de criar um
reflexo essencial e preciso de seu tempo. Por isso, A podridão do vício, em
sua realidade aguda e pujante, funciona como uma fotografia da
prostituição carioca nos últimos anos do século XIX, mesmo que por vezes
embaçada pela visão do autor. Ferreira da Rosa foi capaz de traçar uma
cartografia das margens cariocas, aqueles locais distantes das luzes
civilizatórias que se apoderavam da cidade. Por isso, para além da
primordial denúncia de uma situação deplorável, o cronista foi capaz de
descrever uma cidade e registrá-la de maneira contundente. A geografia
das linhas de Ferreira da Rosa elevam seus textos ao nível de um
documento importante para a memória da cidade e os registros das ruas.
Essas crônicas são o encontro da Literatura com o abandono, expressão
nítida dos avessos da belle époque carioca, na qual se encontram a
opulência e a miséria, o caos e a plenitude, o palco e os bastidores, a luz e
a sombra. Sendo assim, seus textos, inegavelmente, possuem um valor
que não podemos permitir que seja apagado pelo tempo.
Nessa perspectiva, é necessário estabelecer os lugares de memória,
dos quais nos fala Pierre Nora. Isso ocorre porque as polacas, na
sociedade brasileira atual, são esquecidas sob o peso do tempo e dos
tabus que cercam suas histórias. Dessa forma, o discurso precisa manter
essas histórias vivas e repassá-las. Para melhor entendermos essa
necessidade, as ideias de Nora são importantes:

Os lugares de memória nascem e vivem do sentimento de que 44


não há memória espontânea, que é preciso criar arquivos,
que é preciso manter aniversários, organizar celebrações,
pronunciar elogios fúnebres, notariar ata, porque essas
operações não são naturais. É por isso a defesa, pelas
minorias, de uma memória refugiada sobre focos
privilegiados e enciumadamente guardados nada mais faz do
que levar à incandescência a verdade de todos os lugares de
memória. Sem vigilância comemorativa, a história depressa os
varreria. São bastiões sobre os quais se escora. (NORA, 1993,
p.13)

Uma vez que “não há memória espontânea”, uma das diversas


funções do discurso literário é mantê-la acesa com o passar do tempo. No
caso da Podridão do Vício, a Literatura serve duplamente como guardiã da
memória e guerreira das minorias, devido ao fato de que preserva o nome
das polacas obliteradas pela História e denuncia ainda hoje uma realidade
presente na sociedade. Logo, ler o nosso passado é o primeiro passo para
repensarmos o presente e projetarmos o futuro porque a memória é fruto
de uma construção, envolta por razões sociais e políticas, como podemos
ver em Pollak:

A memória é, em parte, herdada, não se refere apenas à vida


física da pessoa. A memória também sofre flutuações que são
função do momento em que ela é articulada, em que ela está
sendo expressa. As preocupações do momento constituem
um elemento de estruturação da memória. Isso é verdade
também em relação à memória coletiva, ainda que esta seja
bem mais organizada. Todos sabem que até as datas oficiais
são fortemente estruturadas do ponto de vista político.
Quando se procura enquadrar a memória nacional por meio
de datas oficialmente selecionadas para as festas nacionais,
há muitas vezes problemas de luta política. A memória 45
organizadíssima, que é a memória nacional, constitui um
objeto de disputa importante, e são comuns os conflitos para
determinar que datas e que acontecimentos vão ser gravados
na memória de um povo. (POLLAK, 1992, p.4)

Por tudo isso, Ferreira da Rosa, de fato, não está ilibado de críticas.
No entanto, o registro do desamparo em sua escrita precisa ser lembrado,
pois foi capaz de usar os poderes da palavra para dar voz às mulheres que
jamais frequentaram espetáculos ou pisaram os salões luxuosos da capital
fluminense. Portanto, almejamos, com este trabalho, contribuir para os
estudos de um autor pouco estudado na Historiografia literária e, assim,
colaborar para o escopo de pesquisas em Ciência da Literatura. Ademais, é
buscada uma compreensão mais profunda e exemplificada da realidade da
prostituição carioca à época, aliando o discurso histórico ao literário-
jornalístico na investigação da marginalização e da memória. Sendo assim,
para além desses objetivos, este projeto é, antes de tudo, a voz das
polacas emudecidas e uma homenagem às mulheres que não puderam ter
nomes, identidades, nem lápides.

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