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Porto Alegre
2007
LUARA FERNANDEZ DE CANDIDO
Porto Alegre
2007
LUARA FERNANDEZ DE CANDIDO
BANCA EXAMINADORA:
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Profª. Drª. Fernanda Bittencourt Ribeiro (PUCRS)
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Profª Drª Lúcia Helena Alves Müller (PUCRS)
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Profa. Me. Roshangela de Freitas Bastani (PUCRS)
CITCFGEKOGPVQU
The objective of this abstract is to map the symbolic aspects involved in the use
of credit with discount on sheet of payment for INSS's retirees. From an
ethnographic approach, analyzes the speeches of retirees inside the
institutional premises of a bank in Porto Alegre, as well as the content of some
interviews conducted. Initially, it is an exposition on the economic policies
implemented by the Federal Government that influenced the changes of
meanings of the role of the elderly in the media and on the market. It is a brief
analysis of the conflict between the policy of expanding the credit and public
policies directed toward the elderly. Later, finding themselves understand how
this logic in the calculation of the users of financial services and the cultural
aspects that are involved in decision-making, and how the relationship between
retirees customers and bank agents are made. The meanings assigned by
retirees to the use of credit with discount on sheet of payment are variable, and
may refer to both the positive and negative aspects. The logic in the
calculations of who requests a loan has aspects related to family relationships
and moral values or subjective aspects that tried to decipher during the search.
Gráfico 6 - Rendimento total das pessoas de 60 anos ou mais de idade, segundo ------ 16
a contribuição de cada tipo de rendimento – Brasil -1992/1999
INTRODUÇÃO ....................................................................................... .. 1
CONCLUSÃO ............................................................................................... 47
REFERÊNCIAS ........................................................................................... 50
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01. Introdução:
Metodologia
renda e fez uso dos das linhas de crédito com desconto em folha; uma pensionista
do INSS, de 67 anos, que também já utilizou os empréstimos e a neta de uma
aposentada juntamente com sua mãe, a qual já havia solicitado dinheiro emprestado
à sua avó. Os nomes dos entrevistados foram alterados para preservar o sigilo.
O primeiro capítulo tratará sobre os aspectos do cenário econômico atual que
desperta a atenção de diversos seguimentos da sociedade: o crescimento acelerado
no consumo de crédito por parte da terceira idade, após implementação da política
estabelecida pelo governo e o Banco Central - de estabelecimento de um teto
máximo de juros para a oferta de crédito consignado. Neste capítulo, procura-se
fazer uma breve análise de como o aposentado teve o status transformado no
mercado de crédito e de como a mídia e as instituições financeiras acompanharam
esse processo, assim como se verificar os conflitos presentes entre as políticas que
visam proteger a categoria denominada terceira idade e a política econômica de
expansão do crédito.
O segundo capítulo analisa os significados existentes no ato de se pedir
dinheiro emprestado. As falas dos entrevistados e os discursos dos aposentados
observados no espaço institucional revelam alguns dos valores associados ao ato de
se solicitar um empréstimo, os quais são descritos nesse capítulo.
O terceiro apresenta as análises realizadas no espaço da agência bancária.
Analisa-se como se dão as interações entre os clientes aposentados e os
funcionários e descreve-se as diversas “cenas sociais” observadas no decorrer do
estudo.
O quarto capítulo trata dos diferentes aspectos que envolvem os cálculos dos
aposentados nas tomadas de decisões referentes às finanças.
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Renda:
Trabalhador vinculado a Funcionário público
Sem renda / Trabalhador temporário / Trabalhador informa l/ empresa privada / na ativa ou aposentado
Estagiário
Restrições Crediticias
Menor Maior
trocas entre os indivíduos são desconsiderados pela lógica econômica, pois não são
tidos como garantias reais de pagamento.
O empréstimo consignação em folha, por não exigir o cálculo de risco que
outras modalidades exigem, se tornou um caso peculiar que permitiu o acesso ao
crédito mesmo por parte daqueles que possuem restrições. O aposentado tornou-se
além de um consumidor potencial aos olhos do mercado, aquele que pode, no grupo
familiar e de amigos, “emprestar o nome” , mesmo que esteja com o “nome sujo”
para consumir.
(Ministério da Previdência,2007 )
Gráfico 2 -População residente de 60 anos ou mais de idade, por grupos de idade Brasil- 1991/2000
Fonte: Relatório do Perfil dos idosos responsáveis pelo domicilio no Brasil. IBGE (2000)
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Gráfico 4- Proporção de pessoas de 60 anos ou mais de idade responsáveis pelos domicílios urbanos, por
classes de rendimento nominal mensal médio em salários mínimos- Brasil – 1991/2000
Fonte: Perfil dos idosos responsáveis pelo domicilio no Brasil. IBGE (2000)
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Gráfico 5 - Proporção de pessoas de 60 anos ou mais de idade responsáveis pelos domicílios rurais, por
classes de rendimento nominal mensal médio em salários mínimos- Brasil- 1991-2000
Fonte: Perfil dos idosos responsáveis pelo domicilio no Brasil. IBGE (2000)
"
Gráfico 6 - Rendimento total das pessoas de 60 anos ou mais de idade, segundo a contribuição de cada tipo de
rendimento – Brasil -1992/1999
Fonte: Perfil dos idosos responsáveis pelo domicilio no Brasil. IBGE (2000)
O diagrama abaixo ilustra o ciclo que gerou o aumento do consumo do crédito por
parte dos aposentados.
Política
econômica de Autorização de
expansão do empréstimos
acesso ao crédito com desconto
em folha de
pagamento
É grande o
número de Aposentado
indivíduos sem
Risco das
acesso ao crédito
operações
caírem,
facilidades para
Etgueg" os tomadores
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publicidade
envolvidos nas práticas financeiras dos idosos. Uma política econômica gera
impactos nas relações sociais, mas as mesmas se articulam com lógicas já
construídas, agregando os novos conhecimentos e novos produtos às práticas
econômicas já existentes.
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"
Abramovay (2004), em seu livro que trata sobre a vida financeira das famílias
vivendo próximo à linha da pobreza verifica como se organizam aqueles indivíduos
que estão excluídos dos serviços financeiros formais e, como se dão os “laços
financeiros na luta contra a pobreza”, Segundo o autor:
Não peço nada para parentes! Se eu posso tirar, porque vou pedir para
eles? Depois fico com dívidas com eles também! Tu pede para um
parente, chega um dia que tu não vai querer pagar, te esquece
qualquer coisa...No banco não tem nada disso aí não, no banco já
vem descontado em folha.Ali não tem como o cara dizer “não é para
descontar”, já vem descontado ali!
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¹ “Comprar a área”: nos últimos anos, devido o aumento da violência na cidade de Porto Alegre ,
verifica-se a prática de oferta de serviços de segurança nos bairros da capital. Os serviços de
segurança muitas vezes são realizados por intermédio de acordos informais. Um indivíduo oferece a
vigilância da rua para a vizinhança, passando a controlar o “seu pedaço”, o qual não pode ser
controlado por outra pessoa sem que haja um acordo entre as partes. Sr. Francisco “comprou a área”
antes vigiada por seu sobrinho, sendo o “novo dono” do quarteirão que vigia.
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Pelo o que vimos nos dados dessa pesquisa a “cobrança” que se evita ao
fugir do empréstimo solicitado a parentes, não é a do valor que se pediu
emprestado, é algo que está além dos contratos de bancos e financeiras. A dádiva,
tratando-se de empréstimos em dinheiro, envolve aspectos morais e significados
construídos culturalmente acerca do dinheiro.
Se, por um lado o acesso ao crédito formal é dificultado devido às exigências
para o cálculo do risco de inadimplência, os empréstimos entre amigos e parentes
exigem outro tipo de garantias. Trata-se preservar o nome e a honra de quem pediu,
que não deve ser prejudicada.
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Segundo os autores, tudo está previsto para que o cliente não demore muito
na zona de serviços, não havendo nem mesas nem cadeiras, apenas um balcão
estreito para se preencher os envelopes e cheques. “As pessoas de mais idade são
um estorvo nesta relação automatizada e em plena aceleração”. A empresa
observada por Peixoto e Clavairolle distinguem duas categorias de indivíduos, o
sênior - potencial investidor- e as pessoas de mais idade que na visão da instituição
“poluem”, no sentido de estarem atrapalhando a lógica de atendimento adotada
onde o fator tempo é componente essencial.
entre agente bancário e cliente traz diversos aspectos positivos para a empresa.
No caso do consumo de empréstimos que não possuam o desconto em folha de
pagamento, a proximidade entre agente bancário e cliente cria garantias
adicionais, que envolvem questões abstratas e subjetivas que sistema bancário
não pode calcular. Preservar o nome perante a instituição se torna prioridade
quando há maior proximidade entre as partes envolvidas, trazendo para as
relações entre banco e cliente aspectos das relações de âmbitos distintos, como
família e grupo de amigos.
No início do meu estágio, minha função foi a de oferecer crédito por telefone –
o que se chama de telemarketing ativo. Ao contatar os clientes, percebi que a
receptividade dos mesmos variava.
A oferta de crédito por telefone muitas vezes não possui efeito imediato.
Alguns clientes não demonstram interesse no momento da ligação, mas
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Com 76 anos, Sônia possui uma renda aproximada de nove salários mínimos,
advinda de duas aposentadorias e uma pensão pela morte de seu marido. Certa vez
Sônia se dirigiu a minha mesa para ser atendida, e em voz baixa falou que iria me
contar um segredo. Com ar de preocupação, falou sobre um problema de saúde de
seu filho, que já havia comparecido com ela em outras ocasiões na agência. Com
diversos empréstimos contratados, a cliente desejava o valor de R$10.000,00 para
comprar uma casa. Enquanto eu realizava as pesquisas necessárias, Sonia ia me
contando de forma espontânea sobre seus problemas familiares. Explicou que cuida
dos três netos e que a pensão que recebe repassa para o seu filho para que o
mesmo administre e sustente as crianças. Falou sobre seu apartamento era muito
frio e que, por isso, queria se mudar, além de estar preocupada com o aumento do
aluguel. Um amigo lhe oferecera uma casa por dez mil reais e, por essa razão, ela
queria fazer um outro empréstimo. Falou que tinha um valor para receber da justiça
e que logo iria pagar tudo o que devia, que seu filho que lhe causava muitos gastos,
mas que ela não poderia deixar de ajudar seus netos, pois afinal, ela era a avó.
Fica claro no discurso de Sônia a forte noção de que é dever dos mais velhos
auxiliar economicamente os mais novos, e é devido a essa noção que solicitar
empréstimos para solucionar problemas para a família possui um significado
diferente do que solicitar para o próprio benefício. Nas situações anteriores, nas
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quais Sônia se dirigiu à agência juntamente com seu filho e sua neta para solicitar
empréstimos destinados ao filho, ela não procurou fornecer muitas explicações
sobre a finalidade da contratação e não demonstrou sentir-se envergonhada de
estar ali efetuando uma operação de crédito. Já na sua última visita à agência, com
muitas explicações e justificativas, falou que estava se sentindo humilhada. O termo
utilizado pela cliente chamou atenção, pois percebi que, de fato, ela estava
extremamente desconfortável de estar ali solicitando mais valores que, dessa vez,
seriam utilizados para seu proveito.
Para ter acesso a linha de crédito própria do banco com juros mais acessíveis
– destinados a beneficiários do INSS - se faz necessário que o cliente receba o
benefício em conta corrente. Informei a Lurdes que para que fosse disponibilizada tal
linha de crédito ela deveria solicitar a transferência do recebimento do benefício para
sua conta no banco. Na expectativa de solucionar seu problema, Lurdes aceitou a
transferência do recebimento da pensão.
empréstimo havia quebrado, que elas eram ruins. “Pobre é fogo”, afirmou, se
referindo ao fato das dificuldades e dos acontecimentos. Enquanto eu atualizava o
cadastro da cliente a fim de liberar novamente valores para empréstimos, ela me
contou que cuidava das netas, falou sobre os cuidados que tinha em relação à
limpeza no bar. “Sou caprichosa”, afirmou. Nesse contato, Lurdes procurou transmitir
os aspectos que justificariam a solicitação de mais um empréstimo, reforçando que
ela era uma pessoa que batalha, cuida das netas, possui um empreendimento e que
os recursos seriam bem aplicados.
que trabalhava muito, e que de vez em quando se permitia ter um lazer. Contou que
uma vez por mês gostava de comer em um restaurante fino.
Com o passar do tempo, novas opções para oferta de crédito foram sendo
criadas pelas instituições. O fato de existir um percentual máximo para desconto e
um prazo máximo para realização das operações de crédito consignado fez com
que, após um período como no início as operações com desconto em folha, não
tivessem um crescimento elevado. Novas formas para se pedir dinheiro foram
elaboradas. As chamadas operações de renovação englobam em um único contrato
as operações que o cliente já possui, possibilitando, assim, a retirada de novos
valores. Muitos aposentados, que já possuem diversos contratos, se dirigem à
agência e solicitam a renovação, pois “fica tudo uma coisa só!” A impressão passada
pelos clientes é a que ter várias operações em aberto gera um sentimento maior de
“se estar devendo”. Na renovação, os valores permanecem os mesmos, se
estendendo o prazo e permitindo a diminuição do valor da prestação, podendo ou
não se pedir um valor extra.
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REFERÊNCIAS
DOUGLAS, Mary; ISHERWOOD, Baron. O mundo dos bens: para uma antropologia
do consumo. Rio de Janeiro: Editora UFRJ,2004.
GIANNETTI, Eduardo. O valor do amanhã: ensaio sobre a natureza dos juros. São
Paulo: Companhia das Letras, 2005. p.258
MAUSS, Marcel. Ensaio sobre a dádiva. Lisboa : 70, 2001. 199 p. (Perspectivas do
Homem; 29)
SARTI, Cynthia Andersen. A família como espelho: um estudo sobre a moral dos
pobres. São Paulo: Cortez, 2003