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Capítulo 1

“Primeira vez que eu te vi, meu coração não fez clique...


Primeira vez que eu te vi, primeiro vi seus limites.”

Vi, não vivi – Zélia Duncan


Ana
“Consegui!”

Você foi selecionada para a fase de entrevistas com o dono da empresa. Esteja aqui na
segunda-feira às 8:30. Parabéns, Ana! Boa sorte!

Mal posso acreditar! Minha orientadora na faculdade me indicou para uma vaga de estágio
na Collins & Marcondes, uma das três melhores empresas americanas de publicidade aqui no Rio, e
há um mês eu venho participando das diversas fases qualificativas para a vaga. A última é a
entrevista com o dono e eu não acredito que vou participar!
- Mãe! – Grito e vou correndo para a cozinha.
- Você quer me matar de susto? O que houve, garota?
- Eu consegui! Consegui!
- Conseguiu o que, Ana?
- A entrevista para o estágio!
Minha mãe larga a panela e me abraça.
- Eu sabia, querida! Parabéns! Tenho certeza que essa vaga será sua!
- Tomara! Eu vou mais cedo para a faculdade para conversar com a minha orientadora e
contar a novidade para as meninas.
- Está bem, mas não volte tarde. Você sabe como eu fico preocupada com você andando
pela rua de madrugada.
- Pode deixar.
Minha mãe, meu irmão e eu moramos em Laranjeiras e desde que meu pai morreu em um
assalto na porta do nosso prédio, ela se tornou superprotetora e levemente chata. Eu ainda sinto
muita falta dele, mas já tem quase dez anos que ele se foi e já passou da hora de ela parar de se
preocupar tanto.
Meu irmão é nove anos mais velho que eu, mas ainda mora conosco. Todas as vezes que eu
reclamo que ele sempre pode fazer o que quiser e eu não, minha mãe diz que ele é homem e que
as coisas são mais simples quando você tem algo pendurado no meio de suas pernas.
“Deve ser mesmo... Ele sempre teve tudo de mão beijada...”
Eu me arrumo o mais rápido que posso para ir para a faculdade um pouco mais cedo do
que o normal. Antes de sair de casa, passo uma mensagem para as meninas pedindo que elas me
encontrem no nosso lugar de sempre, antes das aulas começarem.
Quando passo na porta do bar que frequentamos, vejo Eric, namorado da minha melhor
amiga Clara, se esfregando em uma das calouras desse semestre. Vou correndo para o lugar que
sempre nos encontramos antes das aulas e vejo Alice e Lívia sentadas lá.
- Caralho! Cadê a Clara?
- Foi ao banheiro. Por quê? – Pergunta Alice.
- Porque eu acabei de ver o Eric praticamente fazendo uma endoscopia naquela caloura
insuportável.
- Ai, meu Deus! Onde? – Pergunta Lívia.
- No bar.
- Mas ele não tem jeito! Que vontade de ir lá e dar uma surra nele! – Diz Alice.
- O que nós vamos fazer? Contamos para ela? – Pergunto.
- Para quê? Ela não vai fazer nada mesmo... só vai sofrer ainda mais – diz Lívia.
- É verdade. É melhor não contarmos – diz Alice. – Pode deixar que eu vou ter uma
conversinha com ele. Ele não pode fazer isso debaixo do nariz dela! Aquele safado!
- Cala a boca que a Clara está voltando – digo.
- Oi, Ana! – Ela me dá um beijo. – Estamos ansiosas! O que aconteceu? Qual é a surpresa?
- Consegui passar para a fase de entrevistas!
Todas elas gritam, me abraçam e dão pulinhos descontrolados. Elas me parabenizam e Lívia
pergunta:
- E agora? O que vai acontecer?
- A entrevista é na segunda. Se eu passar, significa que eu consegui o estágio por seis meses
e depois eles podem me efetivar ou não.
- Então você vai terminar a faculdade e o estágio ao mesmo tempo? – Pergunta Clara.
- Mais ou menos isso!
Alice e Clara vão terminar o curso no final desse semestre, que já está quase no fim, Giulia
deveria terminar só no final do ano, mas como ela pegou mais de cinco matérias por semestre, ela
vai se formar junto com as duas. Eu também adiantei minhas matérias, mas minha intenção era ficar
na turma da Lívia, que é a minha melhor amiga entre todas elas, e com isso vou me formar um
semestre antes do normal, no final do ano.
- Não vejo a hora de começar a trabalhar! – Digo.
- Bom, depois que você começar você não vai ficar tão animada assim – diz Alice que já
trabalha há alguns anos.
- Cadê a Giulia, gente? – Pergunto.
- Ainda está naquela aula extra que ela está fazendo à tarde – responde Lívia.
- Bem, eu adoraria continuar papeando com vocês, mas tenho que ir encontrar minha
orientadora para contar a novidade. Mais tarde nos falamos.
Saio do pátio e entro no prédio onde ficam os escritórios dos professores. Converso com
minha professora durante meia hora e ela me dá várias dicas para a entrevista. Depois, vou para
minhas aulas do dia e por fim, para casa. O motorista da Lívia mais uma vez me dá uma carona e
nós combinamos de passar o fim de semana juntas na casa dela.
Alice mora sozinha desde que passou no concurso público para professora e começou a dar
aulas de Português e Literatura. Clara se mudou da casa dos pais quando conseguiu ser efetivada
na editora onde era trainee. Giulia comprou um apartamento no ano passado quando conseguiu
seu primeiro emprego e está morando com o Breno, namorado que ela tem há anos. Lívia e eu
ainda moramos na casa dos nossos pais, mas nós planejamos alugar um apartamento assim que
arrumarmos um emprego também. Não que a Lívia precise trabalhar, os pais dela são muito ricos,
mas como eu insisti que eu teria que pagar metade do apartamento e ela se recusa a sair da Zona
Sul, então, nós temos que esperar até pelo menos eu arrumar um emprego.
Passo o fim de semana inteiro na piscina aquecida do apartamento da Lívia no Leblon. Nós
falamos com as meninas pelo telefone e nos encontramos em um bar perto da casa da Lívia no
sábado. No domingo à noite, eu volto para minha casa para descansar antes da entrevista.
Mal consigo dormir de tanta ansiedade e na segunda vou ao escritório, que fica no centro da
cidade. Minha entrevista será a terceira, pelo o que eu entendi na sala de espera, e quando
finalmente chega a minha vez, eu fico ainda mais nervosa. A secretária, que tem sido
extremamente gentil comigo, me leva até a sala do dono da empresa e assim que eu me sento, ele
se apresenta:
- Bom dia! Meu nome é Robert Collins.
Ele é um senhor com os cabelos completamente brancos, mas não parece ter tanta idade.
- Bom dia, senhor Collins. Eu me chamo Ana Luiza Azevedo.
- Bem, quero começar deixando claro quais são as nossas intenções com esse estágio e
depois, se você quiser, nós continuaremos com a entrevista.
- Ok.
- Nós não queremos apenas um estagiário, queremos que a pessoa que preencha essa vaga
se torne assistente do diretor geral do Rio de Janeiro e a partir daí, a pessoa continuará subindo
de acordo com suas próprias habilidades.
- Certo.
- Há apenas um problema. O diretor geral é o meu filho, Roberto, e pelos meus cabelos
brancos você pode entender que ele nunca foi fácil de lidar.
- Isso não será um problema, senhor.
- Será sim... Confie em mim, eu sei do que estou falando. O problema é que, para continuar
na empresa e poder mudar de cargo, a pessoa que ficar com a vaga terá que trabalhar com o
Roberto por pelo menos um ano, os seis meses de estágio e mais seis meses como assistente. E daí
em diante, poderá solicitar outra vaga e se livrar dele. Eu arrumarei outro estagiário como tenho
feito desde sempre. O que você me diz, minha jovem?
- Digo que sim. Eu gostaria de trabalhar em sua empresa mesmo que tenha que passar um
ano trabalhando com o seu filho.
- Certo. Você fala inglês?
- Perfeitamente não, mas eu consigo me comunicar e posso voltar a fazer aulas de Inglês.
- Não será necessário. A empresa providenciará aulas para vocês.
O senhor Collins começa a me fazer perguntas sobre os trabalhos que fiz na faculdade,
apresentações, entre outras coisas. Meia hora depois, ele dá a entrevista por encerrada.
- Muito obrigado, Ana. Você receberá a resposta ainda hoje pela minha secretária e se for
selecionada, começará na segunda que vem.
- Obrigada.
Volto para casa e passo o resto do dia inteiro segurando meu celular.
- Ana, você está me enlouquecendo! – Diz minha mãe. – Você pode se sentar, pelo amor de
Deus?
- Não consigo, mãe.
- Você vai abrir um buraco no chão da sala!
- Quando meu irmão voltará de viagem?
- E de onde você tirou isso agora? Daqui a uma semana. Por quê?
- Por que a senhora sabe que se eu conseguir esse estágio, eu vou morar com a Lívia, não
sabe?
- Sei, você já falou um milhão de vezes.
- E está tudo bem?
- É claro que não está tudo bem, mas o que você quer que eu faça? Você já tem 21 anos.
- Quase 22.
- É, Ana Luiza! Quase 22.
- Por que a senhora está me chamando de Ana Luiza?
- Porque seu nome é Ana Luiza.
- Mas a senhora só diz Ana Luiza quando está brava.
Ela me abraça e me dá um beijo na bochecha.
- Eu não estou brava, querida. Só chateada, mas eu sei que você precisa crescer e que um
dia você vai ter que ir embora.
- Obrigada, mãe – eu a beijo de volta.
- Difícil vai ser convencer o seu irmão que já passou da hora de ele se mudar daqui.
Meu celular apita uma mensagem e o meu coração parece parar de bater.

Parabéns, Ana! Você começa na segunda! Esteja no escritório às 8 horas.

Mal consigo conter minha empolgação.


- Uhuuu! – grito e começo a dançar.
- O que é isso? – Minha mãe pergunta.
- É a dança da vitória! Vem, mãe! Dança comigo!
Minha mãe começa a se mexer de um jeito engraçado.
- E por que nós estamos fazendo esses movimentos ridículos?
- Eu consegui! A vaga é minha!

Meia hora depois de ter parado de dançar, de ter ligado para minha avó, para o meu
irmão e mandar uma mensagem para as meninas, eu começo a me arrumar para ir para a
faculdade. Chego ao meu campus, mais cedo como sempre, e encontro as meninas esperando por
mim.
Todas elas me abraçam ao mesmo tempo e a Clara grita:
- Dança da vitória!
Nós começamos a fazer a dancinha feito idiotas na frente de todo mundo e quando
terminamos, Giulia diz:
- Parabéns, amiga! Depois eu quero saber de todos os detalhes. Agora eu tenho que tirar
umas cópias para minha próxima aula. Alguém quer alguma coisa da papelaria?
“Giulia e a papelaria... Nunca vi gostar tanto!”
- Nada de cópias, Giulia! – Diz Alice. – Nós vamos comemorar. Amanhã você faz isso.
- Não... são para minha aula de hoje.
- Nós não vamos assistir às aulas de hoje. Nós vamos para o bar imediatamente!
- Mas hoje é segunda-feira, Alice!
- E daí?
Giulia fica em silêncio olhando para todas nós.
- Está bem – ela diz depois de pensar um pouco –, mas nós vamos voltar para a segunda
aula.
- Vamos fingir que sim, Giulia – diz Lívia rindo.
Nós seguramos as mãos umas das outras e caminhamos para fora da faculdade enquanto eu
conto sobre a entrevista com o dono da empresa. Assim que nós nos sentamos no fundo do bar,
perto das mesas de sinuca, Gabriel chega para nos servir.
- Oi, meninas! Vão querer o de sempre?
- Sim. Traz logo duas garrafas, por favor, Gabriel! – Diz Alice.
- Pode deixar. Você está linda hoje, Ana – ele diz e eu fico sem graça.
- Obrigada.
- Será que eu posso falar com você depois?
- Claro. Assim que eu terminar de contar as novidades para as meninas, eu te procuro.
Gabriel pisca o olho para mim e vai em direção ao balcão.
- Como você consegue fazer uma coisa dessas? – Clara me pergunta assim que ele vira as
costas.
- O quê?
- Não trepar com ele?
As meninas caem na gargalhada.
- Eu não dei para ninguém até hoje e com certeza eu não vou fazer isso com o Gabriel no
banheiro do bar.
Gabriel e eu sempre nos pegamos escondido nos intervalos dele. É claro que nós já fizemos
muitas coisas, mas nós não somos namorados nem nada.
- Ana, uma hora ou outra você vai ter que fazer sexo de verdade – diz Lívia.
- É claro que eu vou fazer! Mas não com ele e muito menos em pé em um banheiro!
- Você sabe que não precisa ser em pé, não é, querida? – Alice pergunta debochando de
mim e as meninas começam a passar mal de tanto rir. – Veja bem, até a Giulia já fez.
- Ei! – Giulia diz. – Eu faço isso há muito tempo.
- Isso o quê? – Lívia pergunta e Giulia gagueja.
- Vocês sabem o quê.
Giulia não fala palavrões, nem pornografia, nem nada relacionado a sexo diretamente e nós
sempre a provocamos por isso.
Gabriel aparece com os copos e com as duas garrafas de cerveja, coloca tudo sobre a
mesa e diz antes de sair:
- Estou te esperando, gata.
Eu adoro ficar com ele. O Gabriel tem uma pegada incrível, além de ser muito bonito. Todas
as meninas da faculdade que frequentam o bar são loucas por ele e eu tenho certeza que ele sai
com todas elas e não só comigo como ele insiste em dizer.
Eu conto para minhas amigas o que dono da empresa me contou sobre o filho e elas ficam
curiosas para saber mais sobre ele.
- A única coisa que eu sei é que preciso comprar roupas para o trabalho. Eles andam muito
bem vestidos lá e eu não tenho esse tipo de roupa.
- E nós precisamos começar a procurar o nosso apartamento – diz Lívia. – Você já sabe
quanto vai ganhar?
- Ainda não, mas eu vou descobrir na segunda, quando assinar o contrato.
- Ótimo! Eu vou pesquisar então. E é claro que eu vou com você comprar as roupas! Já estou
tendo várias ideias aqui.
O tempo sempre passa voando quando nós estamos conversando e eu só me dou conta de
que não fui falar com o Gabriel quando ele para ao meu lado e diz com uma cara de cachorro
abandonado:
- Já está quase no fim do meu intervalo. Será que nós podemos conversar agora?
- Desculpe! Eu acabei me distraindo. Claro que podemos. Eu já volto, meninas.
Elas começam a gritar e a atirar os guardanapos em nós dois. Gabriel me leva para o
escritório que fica atrás do balcão e de lá para o banheiro dos funcionários. Assim que passamos
pela porta, ele me encosta na parede e me beija até eu perder o fôlego.
- Nossa! Eu senti sua falta – ele diz. – Você quase não vem mais aqui... Está me evitando?
Ele toma meus lábios outra vez e se afasta um pouco para tirar minha blusa.
- Não. É que as coisas estão ficando mais puxadas agora no final da faculdade, eu também
estava fazendo uma seleção para um emprego e...
Gabriel coloca meus seios para fora do sutiã, enfia um mamilo em sua boca macia e eu
esqueço o que estava falando. Ele abre o botão da minha calça jeans, enfia a mão dentro da
minha calcinha e começa a acariciar meu clitóris lentamente, do jeito que eu gosto.
- Isso... – gemo em seu ouvido.
- Quando você vai me deixar te ter de verdade, Ana?
- Em breve.
- Você diz isso há quase dois anos.
- Eu sei... Isso... Continua...
Ele beija meu pescoço e faz movimentos circulares com os dedos me deixando louca.
- Eu quero tanto enfiar meu pau todo em você. Já imaginou como vai ser gostoso? Deixa eu
meter nessa bocetinha hoje, gata.
Não consigo pensar em nada com ele me tocando desse jeito.
- Deixo! Eu deixo! Não para que eu vou...
Gabriel abaixa a cabeça e chupa meu mamilo outra vez, me fazendo gozar em seus dedos.
Rapidamente, ele abaixa minha calça e tira uma das minhas pernas dela. Ele abre sua bermuda,
coloca seu membro para fora e coloca um preservativo. Gabriel levanta minha perna e passa seu
membro pela minha entrada, úmida pelo prazer que ele acaba de me proporcionar.
- Eu vou fazer devagarzinho para não te machucar. Não se preocupe.
Antes que ele possa me penetrar, ouvimos alguém gritando “seu filho da puta” antes de
começar uma gritaria generalizada e logo depois o barulho de coisas sendo quebradas.
- Mas que merda! – Gabriel diz e nós nos vestimos apressados.
Quando voltamos para o bar, vemos que ele está quase vazio e que a discussão continua no
meio da rua. Vou para a porta, mas de todas as meninas, eu só consigo ver a Lívia na calçada.
- O que está acontecendo? – Pergunto.
- A Clara viu o Eric com a caloura.
- Puta que pariu!
Giulia aparece chorando com a mão na orelha.
- Ai, meu Deus, eu vou ficar surda!
- O que houve? – Pergunto desesperada.
- A Clara deu um soco na minha orelha!
- Mas por quê?
- Foi sem querer. Eu estava tentando separar a briga.
- Vamos entrar, Giulia. Vamos ver o que podemos fazer.
Lívia entra no bar com a Giulia e eu vou para o meio da briga. A essa altura quem está
gritando e batendo nos outros é Alice e a Clara está tentando acalmá-la.
- Alice, caralho! O que você está fazendo? – Pergunto segurando seu rosto.
- Eu vou matar aquela piranha! – Ela grita fora de si.
- Alice, pare com isso – Clara diz. – A culpa não é dela. A culpa é do Eric!
- A culpa é dos dois! Ela sabe que ele tem namorada, mas quis se esfregar nele mesmo
assim! Ela não vai falar mal de você na minha frente, Clara! Eu vou arrebentar a cara dela!
Enquanto Clara e eu seguramos a Alice, Eric segura a piranha.
- Por favor, amiga – Clara diz chorando. – Vamos parar com isso. É humilhação demais.
Deixa isso para lá. Vamos voltar para o bar. Eu preciso me sentar.
Alice para no mesmo instante e pergunta:
- Você está passando mal?
- Acho que sim.
- Vamos entrar, então.
Nós três voltamos para o bar e nos sentamos com Lívia e Giulia.
- Mas o que foi que aconteceu, gente? – Pergunto.
- Eu estava indo ao banheiro quando vi o Eric e aquela garota sentados em uma das mesas
lá na frente – Clara diz aos prantos. – Ele estava com a mão na coxa dela e estava falando tão
perto do rosto dela, que eles estavam quase se beijando.
- Mas você o viu beijando-a? – Pergunto.
- E que diferença isso faz, Ana? É claro que ele está saindo com ela! – Lívia diz.
- Não – Clara responde a minha pergunta. – Eu o xinguei, joguei minha cerveja na cara dele
e quebrei o copo. Aí, a confusão começou.
- Meu Deus, Clara. Eu sinto muito.
- Você está se sentindo melhor? Você quer ir embora? – Alice pergunta.
- Sim, eu estou melhor, mas não quero ir embora agora. Giulia, eu te machuquei, amiga?
- Eu acho que vou ficar bem – Giulia responde –, mas ainda estou um pouco surda.
Clara se levanta abraça a Giulia e pergunta:
- Você me perdoa?
- É claro que sim. Eu sei que você não fez de propósito.
Antes que Clara tenha tempo para se sentar, Eric aparece ao lado da nossa mesa.
- Eu posso falar com você? – Ele pergunta com lágrimas nos olhos e com o rosto todo
arranhado.
“Como eu odeio esse idiota!”
- É claro que você não pode, seu babaca! – Alice grita e se levanta. – Vá embora daqui.
Com toda calma do mundo, ele diz:
- Eu não estou falando com você.
- Pouco me importa! Você é um cretino! Como você pode ser tão...
- Está tudo bem, Alice – Clara diz. – Nós vamos ter que fazer isso mais cedo ou mais tarde.
Clara vai andando para fora do bar e o Eric a segue de cabeça baixa.
- Eu não acredito nisso! – Lívia bate na mesa.
- Ninguém acredita, Lívia – diz Alice. – Mas o que nós podemos fazer? Ela tem que decidir
por ela mesma. Mas e você, Ana?
- Eu? Eu até que me dei bem com essa confusão.
- Como assim? – Giulia pergunta, indignada, com a mão na orelha.
- Bem... No calor do momento, eu acabei dizendo para o Gabriel que eu deixaria ela me
comer hoje, mas com a gritaria, eu me salvei de perder a virgindade em pé e no banheiro.
As meninas caem na gargalhada. Nós ficamos mais duas horas no bar, mas a Clara não
volta. Resolvemos ir embora e o motorista da Lívia me leva para casa. Nos despedimos,
combinando de nos encontrarmos amanhã no shopping para comprar minhas roupas para o
trabalho.
Passo a semana inteira morrendo de ansiedade e sem conseguir nem dormir direito. Na
segunda-feira bem cedo, eu me levanto para ir para o meu primeiro dia de estágio. Perco pelo
menos 45 minutos tentando colocar as lentes de contato que a Lívia me convenceu a comprar. Eu
uso óculos desde que me entendo por gente, mas ela disse que eu fico parecendo uma universitária
e não uma assistente em uma grande empresa de Publicidade.
Quando finalmente consigo colocar aquelas porcarias em meus olhos, vejo que não é tão ruim
quanto eu pensava... Eu mal consigo senti-las.
Escolho uma blusa branca de mangas compridas, uma calça social preta, um blazer também
preto e, é claro, meus sapatos de saltos altos. Eu comprei muitas coisas com a Lívia no shopping, mas
acho melhor ir mais discreta no primeiro dia.
Deixo meus cabelos soltos, arrumo minha bolsa e vou de metrô até o Centro. A secretária
supersimpática do senhor Robert, me recebe e me apresenta à outra jovem:
- Essa é a Isabel. Ela é assistente como você e vai te ajudar a aprender qual vai ser o seu
trabalho.
- Bom dia, Ana Luiza – ela estica a mão para me cumprimentar. – É um prazer conhecê-la.
- Bom dia! O prazer é todo meu. Pode me chamar só de Ana.
- Tudo bem. Vamos? Eu vou te mostrar onde vai ser a sua sala.
Eu caminho junto com ela e ela para em frente a uma porta que tem uma placa.

Roberto Duarte Collins


CEO

Isabel bate na porta, mas ninguém responde, então ela a abre. A sala é bem grande e a
decoração bem sóbria, com tons de preto e móveis de madeira. Há uma enorme mesa com um
laptop e inúmeras pastas, uma cadeira com encosto alto atrás dela, uma estante cheia de livros, um
sofá, duas portas em paredes opostas e janelões enormes com vista para a cidade.
- Essa é a sala do senhor Roberto. Você será a assistente dele.
- Sim, eu sei.
- Aquela porta ali é o banheiro. Você pode usá-lo, mas evite quando o senhor Roberto
estiver aqui. Há um banheiro no corredor para os funcionários.
- Certo.
Isabel caminha em direção à outra porta.
- Essa aqui é a sua sala.
A minha sala é bem menor do que a do meu chefe e há apenas uma janela normal, uma
mesa vazia, uma cadeira, uma poltrona e um arquivo.
- No arquivo você vai encontrar os contratos, documentos e informações dos clientes do
senhor Roberto. Não são muitos. A maioria dos clientes prefere não trabalhar com ele.
- Por quê?
- Infelizmente eu não posso te responder, mas você vai descobrir em breve. Eu vou enviar
para o seu e-mail todos os arquivos virtuais dos clientes. Fotos, programas, trabalhos anteriores,
tudo.
- Você era a assistente anterior?
Ela ri.
- Não... Eu fui assistente dele há três anos. Consegui completar o período de um ano e pedi
transferência. O último assistente se demitiu.
- Mas por que ninguém gosta de trabalhar com ele?
- Você vai descobrir em breve.
- Você está me deixando assustada.
- Bem, você já é uma mulher adulta e tenho certeza que vai aprender a lidar com ele. Mas
se prepare, pois você não vai realmente trabalhar como assistente apenas. Você vai ter que fazer
todo o seu serviço e o dele também. O maior inconveniente é sua sala ser dentro da dele. Mas
todos os escritórios são assim aqui. Nunca, de forma alguma, entre na sala dele sem bater. Vai ser
melhor para você.
- Por quê?
- Porque vai... Confie em mim. Fora isso, você não precisa se preocupar com muitas coisas. Ele
é bem respeitador e quase nunca vem trabalhar. Você vai ter paz na maioria dos dias.
- Entendi. Obrigada.
- Agora vamos à sala de TI para criar um e-mail para você e pegar seu celular. Você vai ter
um número exclusivo da empresa e nele tem os números de todos os funcionários. Você pode ligar
para onde quiser. A empresa é quem paga a conta.
- Que legal!
- É uma forma de manter a distância entre o trabalho e sua vida pessoal. O senhor Robert
acha isso muito importante.
Isabel me leva a outro andar que mais parece um aquário, pois não há paredes e placas de
vidro dividem as salas. Nós criamos o meu e-mail e pegamos um celular novo para mim. Depois
voltamos para a minha sala. Mais uma vez ela bate na porta antes de entrar.
- Vou pedir para colocarem um laptop e uma impressora aqui na sua sala. Hoje você vai
passar o dia inteiro em treinamento. Vou te passar o arquivo por e-mail.
- Treinamento? Como assim?
- É modo de dizer. Você vai ler diversos manuais sobre como será seu trabalho, como você
deve se comportar com os clientes, as regras entre funcionários, coisas desse tipo. Anote suas
dúvidas e nós conversaremos amanhã de novo.
- Tudo bem.
- Suas aulas de Inglês serão às segundas e quartas às 16 horas. Sua jornada de trabalho
deveria ser de 6 horas por ser estágio, mas como verdadeiramente não é, seu horário será das 8
às 17 horas. Nos dias de curso, você está liberada para sair uma hora mais cedo. E quanto ao seu
salário, também não será de estagiário e sim de uma assistente no primeiro ano. Vou enviar seu
contrato por e-mail. Leia com cuidado, imprima e assine. Levaremos amanhã juntas no RH. Você tem
alguma pergunta?
“Centenas...”
- Por enquanto não, obrigada.
- Eu sugiro que você compre uma agenda. Você vai ser a secretária do senhor Roberto
também.
“O quê?”
- Está bem. Obrigada.
- Nos vemos amanhã. Boa sorte, Ana.
Isabel sai da minha sala e eu me sento na poltrona para tentar absorver tudo que aconteceu.
Certamente é muita coisa ao mesmo tempo e pelo que eu entendi, na verdade, eu estou aqui para
ser a babá do senhor Roberto. A única coisa que me consola é saber que alguém conseguiu
sobreviver a um ano trabalhando para ele.
Alguns minutos depois, um senhor entra trazendo o computador e a impressora, mas sai sem
nem falar comigo depois de deixar tudo instalado. Abro meu e-mail e vejo que já recebi todos os
arquivos que a Isabel disse que me enviaria. Eu começo imprimindo e lendo o contrato.
Não sei quanto tempo depois, escuto alguém chamando meu chefe dentro da sala dele.
- Roberto, você está aí?
Abro minha porta e vejo um homem alto, forte, mas tão forte que o terno parece pequeno
para ele, com os cabelos loiros escuros e os olhos azuis. Não faz meu estilo, mas é muito bonito.
- Pois não? – Digo.
- Bom dia – ele diz sério e estica a mão para mim. – Eu me chamo Carlos Eduardo. Você
deve ser a nova assistente do Roberto.
Eu o cumprimento.
- Sim. Eu me chamo Ana Luiza, senhor.
Ele sorri, mas sem mexer o rosto, apenas os lábios para o lado esquerdo.
- O Roberto está na empresa hoje?
- Não, senhor – ele faz o mesmo movimento com os lábios –, ele não chegou ainda.
- Se ele aparecer, você pode pedir para ele ir até a minha sala?
- Com certeza.
- Obrigado, Ana Luiza.
- De nada. Pode me chamar só de Ana.
- Seja bem-vinda à empresa, Ana Luiza.
Ele fala o “Ana Luiza” de uma forma esquisita que dá calafrios. Eu decido não insistir no “só
Ana” e apenas sorrio. Ele vira as costas e sai da sala.
“Que homem esquisito...”
Volto para minha sala e continuo lendo o contrato. Na hora do almoço, ligo para a Giulia.
- Oi, Ana! Como está o primeiro dia?
- Está ótimo! Eu estou quase no meu horário de almoço e queria saber se nós podemos comer
juntas.
- É claro! Onde fica a sua empresa?
Digo o endereço a ela e ela diz:
- Não é muito longe. Vamos nos encontrar no meio do caminho.
Giulia me diz a que restaurante ir e eu digo:
- Ótimo, estarei lá em 10 minutos. Vou ligar para a Clara para ver se ela quer nos encontrar
lá.
Desligo e ligo para minha outra amiga.
- Oi, amiga! – Clara diz. – Está tudo bem?
- Sim. Eu vou almoçar com a Giulia hoje. Você quer vir?
- Eu adoraria, mas já combinei de almoçar com o Eric.
- O quê? Mas vocês não tinham terminado?
- É... mais ou menos... Estamos tentando nos entender.
Minha vontade é de fazer um escândalo.
- Ah sim... Então, tudo bem. Deixa para outro dia.
- Podemos marcar para amanhã?
- Com certeza.
- Ótimo! Nos vemos mais tarde na faculdade.
- Está bem. Um beijo!
Saio para encontrar a Giulia, revoltada com o que a Clara acabou de me contar. Assim que
chego ao restaurante, a vejo sentada e me aproximo falando:
- Você não vai acreditar!
- Shhhh... – ela me interrompe – Fale baixo.
- Ai, desculpe – eu me sento ao seu lado e dou um beijo em sua bochecha. – Mas isso me
deixa transtornada! Você acredita que a Clara disse que está tentando se acertar com o Eric e
que eles vão almoçar juntos?
- Eu acredito que eles não devem nem ter terminado... Só não devem estar se encontrando
na faculdade para não dar o que falar.
- Como é que ela aguenta isso?
- Eu não sei... Mas como a Alice sempre diz, é ela que tem que resolver.
- Eu sei! Mas isso me deixa irritada! Eu tenho vontade de quebrar todos os dentes dele!
- Nem me fale...
- Vamos deixar isso para lá e comer em paz.
- Vamos. Mas me conta do seu primeiro dia de trabalho.
- Eu ainda não sei muitas coisas. Acabei de assinar o contrato. O salário é incrível e eu vou
realmente poder alugar um apartamento com Lívia. A única coisa ruim é que vou ter que ir
correndo para a faculdade.
- Mas não são só 6 horas de estágio?
- Eles vão assinar como se fosse estágio, mas eu já vou começar trabalhando e recebendo
como assistente.
- Que ótimo, Ana! Estou muito feliz por você.
- Eu também! Eu ainda não conheci o meu chefe, o tal de Roberto, mas... – conto para ela
tudo que sei até agora. – Ah! Eu vou precisar de uma agenda e alguns materiais de escritório.
Você pode me ajudar?
Os olhos dela chegam a brilhar.
- Com certeza! Assim que nós terminarmos aqui eu vou te levar em uma loja incrível aqui
perto. Tem tudo que você pode imaginar!
“Minha amiga realmente é a louca da papelaria.”
Volto para meu trabalho com uma agenda linda de corações e várias canetas coloridas. A
Giulia me disse que não achava adequado, mas que eu deveria escolher o que eu gostasse, então
escolhi essa.
“É simplesmente linda!”
Passo o resto da tarde lendo os documentos do tal treinamento. Não achei que seria muita
coisa, mas são textos sem fim. Quando faltam quinze minutos para as 16 horas, arrumo minhas
coisas para ir para o curso de Inglês, que fica no prédio do outro lado da rua.
É um curso de Inglês comum e a empresa onde eu trabalho tem convênio para os
funcionários. No meu primeiro dia, eu faço uma prova de nivelamento e converso com meu futuro
professor sobre meu conhecimento da língua e como serão as minhas aulas. Pedro é o nome dele.
Ele me diz que as aulas serão individuais e que serão direcionadas para a área da Publicidade, o
que me deixa muito feliz. De lá, vou direto para a faculdade e chego a tempo de conversar um
pouco com as meninas antes de ir para a primeira aula.
Conto todas as novidades e nós nos separamos para estudar. Quatro horas mais tarde, eu
finalmente volto para casa com o motorista da Lívia.
- Olha só quem está de volta! – Minha mãe diz quando eu abro a porta e vejo meu irmão no
sofá.
Saio correndo e pulo em seu colo.
- Como foi a viagem? Você se divertiu?
- Muitíssimo! Mas nós queremos saber do seu novo trabalho, irmãzinha. Conte tudo!
Eu conto tudo que aconteceu para os dois e depois, Thiago conta sobre sua viagem para
Machu Picchu.
- Dá próxima vez que você for viajar eu quero ir com você! – Digo.
- Nem pensar! Passou o tempo em que eu era obrigado a te levar para todos os lugares.
- Seu sem graça – dou um tapinha em seu braço.
- E cadê seus óculos? – Ele pergunta.
- Eu estou usando lentes – digo sorrindo. – O que me faz lembrar que eu preciso tirá-las.
Esperem aí que já volto.
Depois de tomar banho, tirar as lentes e a maquiagem, nós jantamos juntos antes de dormir.
O dia seguinte não é tão glamoroso quanto o anterior. Eu acordo muito cansada e odeio ter
que colocar aquelas lentes malditas! Escolho a primeira roupa de trabalho que encontro na minha
frente e vou fazendo a maquiagem no metrô. Tudo acontece exatamente da mesma forma. Eu
passo o dia inteiro lendo aqueles manuais e mais uma vez, meu chefe não aparece. A única coisa
diferente é que eu almoço com a Clara e não com Giulia.
- Me conte a verdade, Clara. Vocês voltaram ou não?
Ela faz uma cara triste.
- Eu gosto dele, Ana. Muito.
- Mas você acha que ele vai mudar, amiga?
- Eu não sei, mas eu quero tentar. Naquele dia, por exemplo, eu exagerei. Ele só estava
conversando com a menina.
- Clara! Você sabe muito bem o que ia acontecer ali.
- Mas não aconteceu.
Fico pensando no dia em que eu o vi com a mesma menina aos beijos no bar.
- É... não aconteceu.
“Não vai mudar nada se eu contar a verdade ou não...”
Nós terminamos o nosso almoço sem brigar e eu volto para os meus manuais no escritório.
Os outros dias da semana passam exatamente da mesma forma. Na sexta-feira, eu vou para
o trabalho com uma calça jeans, uma blusa social e os meus saltos altos. Meu contrato diz que todas
as sextas os funcionários podem usar a roupa que quiserem, mas eu preferi não me vestir muito à
vontade e trouxe outra blusa na bolsa para sair com as meninas depois da aula.
Um pouco antes do meu horário de trabalho terminar, ouço alguém chamando pelo meu
chefe depois de uma batida na porta. Vou até lá e vejo que é o senhor Robert.
- Boa tarde! O senhor Roberto não veio hoje. Eu posso ajudá-lo com alguma coisa?
- Boa tarde, Ana. Posso entrar?
- É claro.
Saio da frente da porta e abro espaço para ele passar. Ele se senta na poltrona da sala do
filho e eu puxo uma cadeira e me sento próxima a ele.
- Como está seu treinamento. Está gostando da empresa?
- Eu estou adorando. O treinamento foi ótimo. Eu terminei hoje e a Isabel me incluiu na
reunião de segunda-feira para que eu possa ver o trabalho acontecendo de verdade.
- Excelente! E o Roberto?
“Como é que eu vou dizer que ele não apareceu ainda?”
- Ele ainda não me passou a agenda dele, senhor, então, eu não sei onde ele está hoje, mas
com certeza deve estar fazendo algo para um dos clientes.
O senhor Collins sorri para mim.
- Eu aprecio muito a sua consideração, Ana, mas o Roberto não tem nenhum cliente no
momento.
“Puta merda!”
- Eu realmente não sei onde ele está, mas se o senhor quiser, eu posso ligar para ele.
- Quando foi a última vez que você viu o Roberto?
Fico em silêncio por alguns segundos, mas não tem mais como disfarçar.
- Eu não o conheci ainda, senhor.
Ele fica olhando para mim de boca aberta.
- Ele não apareceu aqui nem um dia dessa semana?
- Não.
O senhor Collins bufa e se levanta.
- Está bem, minha querida. Obrigado. Pode deixar que eu mesmo vou ligar para ele. Tenha
um bom fim de semana.
Eu apenas sorrio e ele sai da sala.
“Mas o que mais eu poderia fazer? Ele não veio mesmo!”
Volto para minha sala, arrumo minhas coisas e vou para a faculdade. Chego atrasada para
minha primeira aula e só consigo encontrar as meninas no intervalo. Nós combinamos para onde
iremos hoje à noite e decidimos ir para a Lapa, embora a Lívia não goste muito.
No final das aulas, nos encontramos no pátio e vamos com o motorista da Lívia para o bar
que geralmente ficamos antes de entrar em uma das casas de show. Clara decide não vir conosco
e a Giulia vai buscar o Breno e combina de nos encontrar depois.
Alice, Lívia e eu ficamos conversando sobre meu novo trabalho e sobre o apartamento que a
Lívia está procurando até a Giulia e o Breno chegarem e se unirem a nós.
- E seu irmão, Ana? Já voltou de viagem? – Alice me pergunta.
- Sim, voltou na segunda.
Lívia aperta o meu braço e pergunta:
- Como assim ele voltou na segunda e você não me disse nada?
- Não achei que fosse importante.
- Mas é claro que é! Será que nós podemos ir para a sua casa ao invés de ir ao show?
- Mas, Lívia...
- Por favor, Ana! Você me deve essa por não ter me contado antes.
“Que saco!”
- Está bem, mas só daqui a uma hora.
Ela sorri e me abraça.
- Obrigada!
Lívia e meu irmão têm um casinho desde que nós nos conhecemos. Eles se encontram de vez
em quando, mas nenhum dos dois pensa em ter um relacionamento. Minha mãe desconfia e já até
me perguntou, mas como ela vai exigir que o Thiago namore a Lívia para ela poder dormir no
quarto dele, nós fingimos que nada acontece entre eles.
Nós ficamos mais uma hora com os nossos amigos e depois vamos para minha casa. Minha
mãe fica feliz que nós tenhamos desistido de ir ao show e diz:
- Thiago, meu filho, aproveite que as meninas voltaram mais cedo e vá comprar umas
cervejas para vocês.
- Tá. E o dinheiro?
- E eu lá tenho cara de mulher que sustenta marmanjo? Use o seu! Já não basta você comer
de graça aqui todos esses anos?
Nós rimos. Minha mãe tenta de qualquer maneira se livrar dele, mas ele diz que não vai se
mudar nunca.
- Mas foi a senhora que disse para eu ir comprar as cervejas.
- Sim, mas eu não disse que seria com o meu dinheiro. Agora, deixe de ser mão de vaca e
vá logo de uma vez.
Thiago calça os chinelos, pega sua chave e sai do nosso apartamento.
- Mas, me conte, Lívia... Como estão as coisas? Tudo bem com os seus pais?
- Acho que sim, tia Rita. A senhora sabe que eles não ficam muito em casa.
- Eu sei, minha querida, e você sabe que é como uma filha para mim, não é? Você pode
contar comigo para o que precisar. Você é parte da família... Não se esqueça!
- Obrigada, tia.
Os pais da Lívia têm muito, mas muito dinheiro, mesmo. Por isso, ela sempre teve tudo o que
quis, mas em compensação foi criada por babás e não diretamente pelos pais, que sempre
estiveram muito ocupados com o trabalho.
Alguns minutos depois, meu irmão volta com as cervejas. Minha mãe bebe um pouquinho
conosco e vai dormir. Menos de cinco minutos depois, os dois vão para o quarto do Thiago e me
deixam sozinha na sala. Fico pensando em assistir a um filme, mas decido dormir para colocar o
sono em dia.
A Lívia passa o final de semana lá em casa e vai embora na segunda de manhã quando eu
saio para o trabalho.
- Quer que meu motorista te leve para o escritório?
- Não, amiga, o trânsito é horrível essa hora. É capaz de eu chegar atrasada se for de
carro.
- Tudo bem. Nos vemos mais tarde, então. Vou ver se consigo encontrar nosso apartamento
essa semana ainda.
- Ótimo!
- Bom trabalho.
Ela pisca para mim e entra no carro.
Pego o metrô e chego no horário de sempre. Deixo minhas coisas na minha sala e me dirijo
para a sala de reuniões, conforme a Isabel me mandou fazer em seu último e-mail. Assim que eu
entro, reconheço quase todas as pessoas, mas algumas delas eu nunca havia visto. Um homem
chama a minha atenção, pois ao invés de interagir com os outros, ele não para de mexer no
celular.
Isabel me cumprimenta de longe e como os lugares perto dela já estão ocupados, eu me
sento do outro lado da mesa. Assim que o senhor Robert entra, a reunião começa e eu vejo que nós
temos um novo cliente. Isabel e o chefe dela serão os responsáveis por essa conta e a empresa
que está nos contratando explica o que eles esperam para o produto.
Uma hora depois, a reunião termina e quase todos saem da sala. Quando eu estou prestes a
sair, Isabel diz:
- Ana, você vai continuar conosco.
- Ah, sim. Desculpe.
Eu volto a me sentar e fico mais meia hora na sala com o pessoal da outra empresa, a Isabel
e o chefe dela, que é o homem esquisito que entrou na minha sala na semana passada.
“Acho que é Carlos Eduardo...”
Eles explicam todos os detalhes sobre o produto deles, que é uma nova bebida energética,
dão algumas ideias que eles têm sobre a produção do marketing e deixam várias caixas cheias
com as garrafinhas da bebida.
Depois que eles se despedem, ficamos apenas Isabel, Carlos Eduardo e eu na sala de
reuniões.
- Bem, Isabel, você sabe o que fazer. Leve a Ana Luiza com você em todas as etapas. Eu
espero vocês duas no final do dia em minha sala. Está bem?
- Sim, Carlos Eduardo.
- Ótimo.
Ele vira as costas e sai.
- Você o chama pelo nome? – Eu pergunto.
Isabel ri e diz:
- Longa história... Eu te conto na hora do almoço. Pegue suas coisas e me encontre na minha
sala. Nós teremos muito trabalho hoje.
Vou para minha sala e quando entro, vejo o homem que estava mexendo no celular na
reunião sentado na cadeira do meu chefe.
“Será que é ele?”
Ele está com fones nos ouvidos, de olhos fechados e com a cabeça jogada para trás, no
encosto da cadeira.
- Com licença, senhor – digo, mas ele não abre os olhos.
- Senhor? – falo mais alto, mas ele não responde.
Decido me aproximar devagar para não assustá-lo e percebo que ele está mexendo o
braço direito. Aproximo-me mais ainda da mesa e não consigo acreditar no que meus olhos veem.
“Ele está se masturbando!”
Por mais que eu entenda que eu tenho que me afastar, não consigo me mover. Fico assistindo
sua mão subindo e descendo na extensão do membro longo e grosso. É a cena mais erótica que eu
já vi. Ele está completamente vestido, apenas com o que é necessário para fora da calça e com um
lenço sobre a camisa social branca.
Eu o ouço gemendo e o vejo ejaculando sobre o lenço. Não consigo parar de assistir. Vejo
que ele para de mover a mão, mas só saio do meu transe quando ele se levanta rápido e grita:
- Mas o que você está fazendo aqui?
Capítulo 2

“Today I don't feel like doing anything, I just wanna lay in my bed. Don't feel like pickin up my
phone, so leave a message at the tone, 'cause today I swear I'm not doing anything.”
“Hoje eu não quero fazer nada, eu só quero deitar na minha cama. Não quero atender meu telefone,
então deixe um recado após o sinal, porque hoje eu juro que não vou fazer nada.”
The lazy song – Bruno Mars
Roberto
“Mas era só o que me faltava!”
Como se não bastasse eu ter que levantar praticamente de madrugada para vir para essa
reunião estúpida e não poder seguir meu ritual matinal, agora alguém invade a minha sala e me
pega em um momento como esse.
A mulher que está de frente para mim e me olha assustada, não responde minha primeira
pergunta, então eu tento novamente enquanto fecho as calças:
- Quem é você? Por que você está na minha sala?
- Ai, meu Deus! – ela cobre os olhos com a mão. – Me desculpe... Eu não sei o que deu em
mim. Eu sairei daqui em um segundo.
Ela entra na sala conjunta a minha e sai de lá com uma bolsa no ombro e cheia de coisas nas
mãos.
“Puta que pariu! A assistente nova!”
Não sei nem onde enfiar a minha cara. Quando ela está quase saindo, eu digo:
- Espere um minuto. Eu sou o Roberto Collins.
Ela arregala os olhos surpresa, depois os fecha e sacode a cabeça. A jovem joga tudo o que
está segurando em cima do meu sofá, para de frente para mim e diz olhando para o meu
pescoço.
- Eu sou a Ana Luiza, senhor, sua nova assistente.
Eu estico a mão para cumprimentá-la, mas logo me dou conta de que não é o mais
adequado nesse momento. Penso em dizer que é um prazer conhecê-la, mas também não me
parece adequado mencionar a palavra “prazer”. Na verdade, a situação inteira não é adequada.
“Dessa vez o meu pai vai me matar! Eu preciso consertar essa merda.”
- Eu sei que esse é um momento difícil, Ana Luiza...
- Pode me chamar só de Ana, senhor – ela me interrompe.
- Eu sei que esse é um momento difícil, Ana, mas nós precisamos conversar a respeito. Por
favor, sente-se.
- Eu preciso ir encontrar a Isabel para iniciar um trabalho. Eu só vim buscar minhas coisas.
Sento-me em minha cadeira e ligo para o ramal da Isabel.
- Isabel, é o Roberto. A Ana só irá encontrar você daqui a quinze minutos. Não inicie o
trabalho sem ela.
- Mas, Roberto, o Carlos Eduardo...
- Você pode deixar que eu me entendo com ele depois.
- Está bem.
Desligo o telefone e digo apontando uma das cadeiras em frente à minha mesa:
- Sente-se.
Ela faz o que eu peço, mas não olha para mim.
- Quantos anos você tem?
- 21, senhor.
Um grande alívio corre pelas minhas veias.
“Menos mal!”
- Eu peço que você me desculpe pelo que viu. Eu não sabia que você voltaria agora. O
Carlos Eduardo me disse que você passaria o dia inteiro com a Isabel.
- Sim, eu só vim buscar as minhas coisas.
Ela continua sem olhar para mim.
- Ana, eu sei que nós não começamos bem, mas eu peço que você me dê uma segunda
chance. Isso não vai mais acontecer. Você precisa desse emprego?
- Sim, senhor.
- E eu preciso de uma assistente. Será que nós podemos recomeçar amanhã?
- Com certeza, senhor.
- Olhe para mim, por favor, Ana.
Ela levanta a cabeça e eu vejo os olhos mais lindos que já vi em toda a minha vida. Eles são
uma mistura de verde e castanho que eu não consigo nem explicar. Fico olhando para ela por
segundos incontáveis, provavelmente com cara de idiota, até ela dizer:
- Posso ir agora?
Não consigo deixar de sorrir.
- Pode, mas arrume sua bolsa para não perder nada no caminho.
Ela se levanta e vai até o sofá. Eu me aproximo dela e vejo uma agenda ridícula e uma
coleção de canetas coloridas para crianças do jardim de infância.
Depois de enfiar tudo dentro da bolsa de qualquer maneira, ela vai em direção à porta.
- Eu realmente sinto muito, Ana.
Ela sorri sem graça, sai da sala e eu vou até o banheiro para me limpar direito.
Minha vida sempre foi cheia de regalias. Eu nunca quis ou precisei trabalhar. Já o meu pai
trabalhou a vida inteira e construiu essa empresa de sucesso.
Em uma visita ao Brasil, ele se apaixonou por uma brasileira e através dela, conheceu o
senhor Marcondes. Juntos, eles abriram uma filial da empresa aqui. Alguns anos mais tarde, o
amigo do meu pai acabou engravidando uma das funcionárias e eles tiveram um filho, meu amigo
Carlos Eduardo. Com isso, meu pai resolveu que deveria ter um filho também, mas minha mãe levou
alguns anos até conseguir engravidar.
Infelizmente, ela morreu no meu parto. Alguns anos depois, meu pai resolveu voltar para os
Estados Unidos e eu fui criado lá. No início, ele me dizia que eu tinha o espírito livre da minha mãe,
mas eu fui crescendo e ultrapassando todos os limites possíveis, então ele passou a dizer que eu
era um selvagem mesmo.
Entre tapas e beijos, meu pai e eu sempre fomos muito próximos e unidos. Quando eu
completei 18 anos, achei que o melhor para minha vida, naquele momento infernal que eu estava
passando, seria voltar para o Brasil e morar aqui. Meu pai autorizou, contanto que eu não
abandonasse meus compromissos nos Estados Unidos e que começasse a trabalhar na empresa. Eu
concordei imediatamente e vim o mais rápido que pude para cá, mas trabalhar nunca foi o meu
forte.
Eu reencontrei o Cadu, que assumiu o lugar do pai e se tornou o responsável pela empresa
no Brasil e empurrei meu trabalho com a barriga até o dia que meu pai apareceu aqui e disse que
me deserdaria.
Acontece que o Cadu contou para ele todas as merdas que eu estava fazendo na empresa e
meu pai decidiu voltar para o Brasil também, mas eu acho que, na verdade, ele sentiu a minha
falta e quis morar perto de mim de novo.
O Brasil certamente era o lugar ideal para o meu espírito livre. Eu amo ir à praia, amo o
carnaval e amo o calor do meu povo, afinal de contas eu nasci aqui e nem por um dia me senti
americano. É claro que uma vez por ano eu volto para os Estados Unidos para cumprir minhas
obrigações lá, mas por apenas uma semana.
“A pior semana do ano!”
Normalmente, os meus dias são muito tranquilos. Eu evito pegar clientes para não ter que
trabalhar e quando alguém quer trabalhar diretamente comigo, eu apenas supervisiono o trabalho
dos meus assistentes.
Há algumas semanas, meu pai até me disse que tinha iniciado uma nova seleção para o meu
próximo assistente, mas isso não me interessou muito. No sábado de manhã, ele invadiu meu
apartamento fazendo um escândalo porque minha assistente já estava trabalhando e eu não tive a
dignidade de ir à empresa nem para me apresentar.
Com isso, ele me ameaçou mais uma vez dizendo que se eu não aparecesse na reunião de
segunda, ele daria o meu cargo para a nova contratada e como eu sou incrivelmente sortudo,
justamente ela viu o que ninguém deveria nem imaginar.
“Só eu mesmo...”
Resolvo passar na sala do Cadu para passar o tempo.
- Nem pense nisso, Roberto – ele diz assim que eu abro a porta. – Eu estou trabalhando.
- Ah... Qual é, cara?! Eu estou entediado!
Eu me sento no sofá.
- Então vá ficar entediado em outro lugar.
- A nova assistente acabou de ver o meu pau.
Cadu para imediatamente o que estava fazendo e olha para mim.
“Eu realmente sei como chamar a atenção das pessoas...”
- Como assim?
- Pois é... Ela meio que me pegou em um momento íntimo.
Eu conto o que aconteceu para ele e o faço rir.
- Eu não acredito nisso, Roberto! Como é que você consegue fazer tanta merda?
- Nem eu sei...
Fico conversando com ele por mais algum tempo até ele ameaçar chamar os seguranças
para me tirarem de sua sala. De lá, volto para minha sala, mas decido voltar para casa, pois não
há nada para eu fazer na empresa.
Paro para almoçar em um restaurante no Leblon e no caminho de volta para o carro, vejo na
vitrine de uma loja famosa de cristais, umas canetas com cores diferentes, mas para adultos.
Lembro-me imediatamente da Ana com aquelas canetas ridículas.
Quando dou por mim, estou dentro da loja mandando a atendente embrulhar uma de cada
cor.
“Já que ela vai receber canetas decentes, talvez eu deva comprar uma agenda decente
também... Quem sabe ela assim ela não conta nada para o meu pai sobre o que viu?”
E é o que eu faço. Antes de voltar para casa, passo no shopping e compro uma agenda
executiva para ela.
Assim que entro em meu apartamento, a senhora que trabalha na minha casa diz:
- Boa tarde, Roberto.
- Oi, Rute! Que bom que você está aqui! Você pode colocar tudo isso em uma caixa de
presente bonita?
- Namorada nova? – ela pergunta sorrindo.
- Não... Assistente nova... E nós começamos com o pé esquerdo.
- Pode deixar. Você vai querer comer alguma coisa?
- Não, obrigado. Eu acabei de almoçar. Vou dormir um pouco.
- Vou deixar o presente na sala antes de ir embora.
- Obrigado, Ru!
Passo o resto do dia assistindo a séries no Netflix e à noite saio para jantar, mas volto logo
para poder acordar cedo para ir trabalhar.
“Quem diria?”
É claro que no dia seguinte, eu não saio de casa no horário certo. Eu até acordo cedo, por
volta das 9h, mas faço todo meu ritual matinal e só consigo chegar à empresa um pouco depois
das 11h.
Vou direto para minha sala, mas Ana não está lá. Ligo para a sala do Cadu:
- Onde estão as assistentes?
- Bom dia para você também, Roberto.
- Corta essa, Cadu! Cadê a minha assistente?
- Trabalhando, coisa que você também deveria estar fazendo desde as 9 da manhã.
- Elas estão na sua sala?
- Não. Elas não estão na empresa. Estão fazendo uma pesquisa de campo sobre o nosso
novo produto.
- E por que a minha assistente tem que trabalhar para você?
- Porque alguém tem que ensinar o trabalho a ela. Você vai fazer isso?
- Claro que não!
- Então tenha um excelente dia, Roberto. E nem pense em vir para minha sala.
- Nossa... Como você é chato!
- Jantaremos juntos hoje à noite?
- Com certeza!
Desligo o telefone e fico olhando para o nada, lembrando-me da cor dos olhos da Ana.
“Os mais bonitos que já vi...”
Não sei quanto tempo eu perco nisso, mas assim que volto para a realidade, fico entediado.
Eu poderia estar dormindo, poderia estar na praia, jogando futebol, assistindo TV...
“Que saco!”
Vou até a recepção e digo para a secretária:
- Márcia, me inclua em algum projeto.
- O quê?
- Eu quero trabalhar em um projeto – ela fica olhando para mim como se eu fosse um
dinossauro. – Você ouviu o que eu disse?
- Ouvi, Roberto, mas não entendi muito bem... A Ana ainda não pode pegar um projeto
sozinha. Ela ainda está em treinamento.
- Eu sei. Eu quero um projeto para mim.
Márcia fica olhando para mim e pega o telefone.
- Senhor, Robert, seu filho está aqui na recepção pedindo um projeto.
Ela fica em silêncio enquanto meu pai fala algo do outro lado da linha.
- Eu sei, eu disse isso para ele, mas ele não quer que a assistente faça. É para ele mesmo.
Ela fica em silêncio outra vez.
- Está bem, senhor.
Márcia desliga o telefone e me diz:
- Seu pai quer vê-lo imediatamente.
- Será que é tão difícil você fazer o seu trabalho sem ligar para o meu pai a cada cinco
minutos?
Ela apenas sorri e volta ao que estava fazendo, o que me deixa com ainda mais raiva. Vou
até a sala do meu pai e assim que eu entro ele pergunta:
- Que palhaçada é essa, Roberto?
Decido usar a tática do Cadu.
- Bom dia para o senhor também, papai.
Sua expressão melhora um pouco.
- Desculpe. Bom dia.
- Tudo bem.
- O que você quer?
- Eu quero um projeto.
- Meu filho, nós sabemos que você vai abandonar o projeto no meio do caminho. A Ana
ainda não está preparada para fazer isso sozinha. Você não pode esperar mais algumas
semanas?
- Eu não preciso de uma assistente para fazer o meu trabalho.
- Desde quando, Roberto?
Penso, mas não consigo me lembrar de uma única vez que terminei um dos meus projetos.
- Isso não importa agora.
Meu pai fica em silêncio por alguns segundos e depois diz:
- Não.
- Como não?
- Simplesmente não. Eu não vou perder mais um cliente por sua culpa. Quando a Ana estiver
preparada, você terá o seu projeto.
- Mas...
- Sem mas, Roberto. Essa é minha resposta final.
Ele volta a olhar para os seus papéis como se eu não estivesse mais na sala.
“Se eu não quero trabalhar, ele reclama. Se eu quero, ele reclama também!”
Volto para minha sala revoltado, entro e bato a porta. Instantes depois a porta da sala
conjunta a minha se abre, mostrando minha assistente com um sorriso lindo nos lábios, vestindo uma
saia vermelha na altura dos joelhos, meias pretas, saltos altos e uma blusa branca levemente
transparente que deixa a renda do seu sutiã transparecer sutilmente. Sinto minhas bolas se
contraindo.
- O que você está fazendo aqui? – pergunto grosseiramente e ela fica sem graça.
- Me desculpe. Ontem o senhor disse que queria que eu continuasse meu trabalho. Eu só vim
deixar minhas coisas para sair para o almoço, mas eu posso ir embora se o senhor achar melhor.
- Pare de me chamar de senhor! Eu não sou o seu pai.
Vejo seus olhos se encherem de lágrimas, mas ela não desvia o olhar.
- Certamente não. O meu pai morreu e você está bem vivo aqui na minha frente.
“Mas eu sou um idiota mesmo!”
- Eu... Me desculpe... Eu não sabia. Sinto muito.
Aproximo-me dela e tento tocar seu braço.
- Não coloque as mãos em mim.
- Claro. Tudo bem. Ana... me perdoe. Eu estou nervoso com outros problemas e acabei
descontando em você. Isso não vai se repetir.
Ela respira fundo e engole o choro.
- E o que você quer que eu faça? Eu devo voltar ao trabalho depois do almoço ou devo
levar todas as minhas coisas agora?
- Almoce comigo hoje.
- O quê?
- Almoce comigo e depois nós podemos trabalhar juntos no seu projeto.
- Eu não acho adequado nós passarmos tempo juntos fora do escritório.
- Você nunca saiu para almoçar com nenhum dos outros funcionários?
- Claro que sim, mas você é meu chefe.
- E que diferença isso faz? Por favor, Ana, me deixe consertar isso.
Ela fica em silêncio e eu consigo ouvir as batidas do meu coração.
“Por que eu estou tão nervoso?”
- Está bem, mas eu só tenho uma hora de almoço.
- Seu horário de almoço é ilimitado quando você está com seu chefe – eu digo e ela sorri.
Eu pego minha carteira e a caixa de presente que a Rute fez e nós dois saímos para
almoçar.
- Onde você quer comer? – pergunto enquanto estamos no elevador.
- Onde você quiser. Eu não conheço muitos lugares no Centro.
- Vamos para a Colombo, então.
- Tudo bem.
Ana e eu caminhamos até a confeitaria e ela diz assim que entramos:
- Uau!
- Você nunca veio aqui?
- Não. Nem sabia que esse lugar existia.
- É um dos lugares mais famosos do Rio, Ana. Aqui é a confeitaria. O restaurante fica no
outro piso. Vamos?
Assim que saímos do elevador, ela fica parada olhando a sua volta.
- Acho que é o restaurante mais lindo que eu já vi! Olha! Tem uma pessoa tocando piano.
Não consigo deixar de rir.
- Tem sim. Todos os dias. O que você vai querer beber?
- Água.
- Sim, mas o que mais?
- Nada. Só água.
- Você não bebe vinho? Cerveja?
- Bebo, mas não no horário de trabalho.
- Nós não estamos trabalhando.
- Mas vamos voltar para o trabalho depois.
- Você vai ficar bêbada com uma taça de vinho?
- É claro que não, mas...
- Tinto ou branco?
- Roberto...
- Tinto ou branco?
- Branco.
- Certo. Você pode levantar e pegar tudo o que quiser. É só escolher.
Ana se levanta e caminha até o buffet. Inconscientemente, olho para a bunda dela que
combina perfeitamente com o resto do corpo cheio de curvas que ela tem. A saia que ela está
usando é bem colada ao corpo, mas eu não consigo ver a marca da calcinha.
“Será que ela está sem?”
Aproveito enquanto ela está distraída para reparar nela. Seus cabelos castanhos bem
escuros estão soltos e os cachos caem até o meio de suas costas. Ela está usando uma pulseira bem
fininha, dourada, com um pingente de coração. Os brincos são duas bolinhas, também douradas e
na mão esquerda ela tem um anel, apenas um arco fino, no polegar.
Antes de ela voltar para a mesa, sorrindo, o garçom aparece e eu peço uma garrafa de
vinho.
- Eu poderia passar o resto da minha vida aqui dentro – ela diz.
Eu estico a mão para ela e ela olha para mim de um jeito esquisito.
- O que foi? – ela pergunta.
- Sua pulseira.
Ela respira aliviada e estica o braço na minha direção. Eu viro o pingente e vejo que em um
dos lados tem escrito a palavra “Fé”.
- Cada uma das minhas amigas tem uma.
- E quantas amigas você tem?
- Somos cinco. Nós estudamos juntas na faculdade.
O garçom chega com a garrafa de vinho que eu pedi e nos serve. Ana começa a comer.
- Você ainda está estudando?
- Sim, mas eu me formo no final do ano.
- Você está estudando Publicidade, eu suponho.
- Sim.
- E você gosta?
- Muito.
- E o que mais você faz?
- Aulas de Inglês duas vezes por semana.
- Nossa... E você ainda consegue tempo para sair com suas amigas?
- Agora está mais difícil, mas sim – ela faz uma pequena pausa. – Você não vai comer?
Depois que ela pergunta é que eu me dou conta que eu nem escolhi minha comida ainda.
- Ah é... Acabei me distraindo. Com licença.
Levanto-me e coloco qualquer coisa no meu prato.
“Será que ela tem namorado?”
Ainda que ela não tenha, eu sei que não posso me envolver com ela. Meu pai demitiria nós
dois se isso acontecesse.
Assim que eu me sento novamente, pergunto:
- Você tem namorado?
“Nossa, Roberto! Quanta sutileza!”
- Não.
- Relacionamentos atrapalham muito o trabalho, por isso que eu perguntei.
- Eu entendo. Mas e você? Por que você não gosta de trabalhar?
- Quem disse que eu não gosto?
- Todo mundo na empresa.
- Eu tenho o meu próprio ritmo, Ana. Isso não significa que eu não gosto do que faço.
- Quantos anos você tem?
- Vinte e nove.
Nós continuamos conversando e quando terminamos de comer, eu entrego a caixa a ela. Ana
parece gostar dos presentes e acho que eu consegui consertar as coisas entre nós.
Assim que voltamos ao escritório, eu a faço sentar na minha sala e me contar tudo sobre o
projeto do Cadu que ela está acompanhando. Nesse instante, tenho uma ideia: Vou desenvolver um
projeto melhor que o dele.
“Já que meu pai não quer me deixar desenvolver o meu próprio projeto, vamos ver qual dos
dois será o melhor!”
Depois de pegar todos os dados com a Ana e de anotar o número do telefone que ela
ganhou da empresa, deixo que ela vá encontrar a Isabel e vou para a sala do Cadu.
- Nem pense em se sentar, Roberto.
Ele diz assim que eu passo pela porta, mas eu me sento assim mesmo.
- Eu tive uma ideia brilhante!
- De passar a se masturbar em casa e não no escritório?
- Hahaha... Muito engraçado. Claro que não. Eu vou precisar de sua ajuda no meu plano.
- Roberto, você sabe que alguns de nós realmente têm que trabalhar para a empresa poder
funcionar, não é?
- Ai, meu Deus! Você sempre foi chato assim?
Ele fica pensando por alguns segundos.
- Provavelmente. Fale logo o que você quer e eu vou ver o que posso fazer.
- Eu vou desenvolver o mesmo projeto que você está desenvolvendo, mas sem assistente
nenhuma. Sozinho. E no dia da apresentação, eu vou surpreender meu pai e nós deixamos a
empresa escolher qual é o melhor projeto. Eu só preciso que você diga que está tudo bem, eu não
quero fazer isso pelas suas costas.
Ele começa a rir descontroladamente.
- É sério isso? Você vai desenvolver um projeto inteiro sozinho?
- Você também não acredita em mim?
- Roberto, você fez com que todos deixassem de acreditar em você. Não venha me culpar
por ter aprendido a não te dar mais oportunidades depois de você ter arruinado as anteriores.
- Você está certo e agora eu quero provar o contrário. Posso contar com você ou não?
- Pode.
Eu me levanto, fecho meu paletó, estendo a mão para o meu amigo e digo:
- Que vença o melhor.
Ana
Eu realmente não sei qual é a pior parte: se é ele ter me visto assistindo enquanto ele se
tocava, se é ele ser o meu chefe ou se é ter que conversar com ele depois disso tudo.
Roberto parece bastante envergonhado em nossa rápida conversa e me pede uma segunda
chance, o que eu acho bastante estranho já que ele poderia ter me demitido e se livrado do
problema.
Caminho em direção à sala da Isabel, mas a encontro no meio do caminho.
- Você está bem? Seu rosto está muito vermelho.
- É... Eu não sei nem como dizer isso...
- Você entrou sem bater na porta, não foi? – ela pergunta sorrindo.
- Foi por isso que você me disse para bater?
- Foi, Ana... Eu sinto muito que você tenha passado por essa situação constrangedora.
- Então por que você está rindo?
- Você não imagina quantas vezes eu passei por isso até aprender a bater na porta.
- Mentira?
- Verdade... Vamos, eu te conto isso na hora do almoço também.
Saímos do escritório e vamos a uma gráfica. Lá, Isabel escolhe como as imagens que temos
serão impressas para começarmos nosso trabalho.
- Essa parte depende de como você gosta de trabalhar. O Carlos Eduardo prefere que as
imagens estejam no tamanho que costumamos apresentar nos projetos para já começar com a
noção de como elas ficarão ampliadas.
- Entendi.
- Se você for trabalhar com o tamanho normal, você pode imprimir na empresa mesmo. Essa
gráfica trabalha direto com a nossa empresa, então se você for imprimir aqui, é só assinar o
recibo que eles cobram junto com as outras despesas no fim do mês. E você precisa guardar todos
os seus recibos. Eles vão ser conferidos na hora do pagamento.
- Tudo bem.
Anoto tudo que ela diz na minha agenda. Depois de encomendar tudo do jeito que ela quer,
Isabel diz:
- Vamos almoçar e passamos aqui para buscar tudo quando terminarmos.
Isabel me leva a um restaurante que só tem saladas. Eu não sou muito fã, mas não reclamo.
Como ela não diz nada do que prometeu que me contaria, eu pergunto:
- Por que você chama seu chefe pelo nome?
Ela ri.
- Achei que você tivesse esquecido... Você promete não contar a ninguém?
- Prometo.
- Quando eu comecei a trabalhar com ele, eu o chamava de senhor Marcondes, que é o
sobrenome dele. Ele ficava olhando para mim com uma cara esquisita todas as vezes. No terceiro
dia, ele me colocou sentada de frente para ele e você não vai acreditar... – eu me aproximo dela.
– Ele é dominador.
- E o que isso quer dizer?
- Pelo amor de Deus, Ana! Quantos anos você tem?
- Vinte e um.
- Dominador e submissa. BDSM. Chicotes. Amarras.
Fico sem saber o que dizer.
- Mentira?
- A mais pura verdade.
- E você faz essas coisas também?
- Claro que não! Ele me explicou que sabia que eu não era submissa e que não estava
interessado que eu fosse, mas que eu precisava parar de chamá-lo de senhor o tempo todo
porque aquilo mexia com ele de uma forma que eu nunca entenderia. E aí, no mesmo instante, eu
parei.
- Eu não acredito nisso.
- Pode acreditar. Eu não sei o que ele faz na casa dele, mas ele é um excelente chefe e
colega de trabalho. Eu não tenho do que reclamar.
- E o Roberto?
- O Roberto é um caso perdido – ela diz rindo. – Sabe aquela pessoa que veio ao mundo só
para se divertir? É ele. Tenho pena do senhor e da senhora Collins.
“Senhora Collins? A mãe dele, claro!”
- Como você conseguiu continuar trabalhando com ele depois do que viu?
- O Roberto é muito gente boa. Você vai ver. O único problema é que você tem que fazer
tudo para ele. E esse não é o seu trabalho. Com o tempo, acaba ficando muito pesado e as
pessoas acabam desistindo antes do primeiro ano. Roberto e eu acabamos virando amigos. Até
hoje, nos encontramos com amigos em comum vez ou outra para ir à praia ou beber alguma coisa.
- Só amigos mesmo? – pergunto desconfiada.
- Com certeza. O Roberto não é esse tipo de homem. Ele pode ter a mulher que quiser, não
precisa ficar seduzindo as assistentes. Inclusive, relacionamentos entre funcionários são proibidos na
empresa.
- Eu sei. Eu li no contrato.
Nosso almoço corre bem e nós buscamos as imagens antes de voltarmos para a empresa.
- Posso levar minhas coisas para a sua sala? – pergunto com medo de ter que voltar para a
minha.
- Claro que sim. Você está com tudo o que precisa?
- Estou.
- Então vamos.
Isabel e eu passamos o resto da tarde trabalhando na sala dela, que fica dentro da sala do
Carlos Eduardo. No final do dia, ele aparece e nós mostramos a ele o que fizemos. Ele faz
algumas anotações e depois escuta nossa opinião sobre o que deve ser feito.
- Ótimo. Isabel, deixe os cavaletes com as imagens aqui na minha sala mesmo. Amanhã,
passe aqui para se encontrar com a Ana Luiza e pegar o que você precisa. Depois, saia para a
pesquisa de campo. Conversaremos novamente no final do dia. Trarei algumas ideias.
- Está bem.
- Ana, o que você está achando do trabalho? Você tem alguma dúvida?
- Eu estou gostando muito, senhor – imediatamente lembro-me do que Isabel me disse. –
Quero dizer, Carlos Eduardo... Quero dizer...
Ele ri.
- Você falou para ela, Isabel?
- Falei.
- Tudo bem. Pode me chamar de Carlos Eduardo. Vai ser melhor assim. E não acredite em
tudo que a Isabel te contar. Cinquenta por cento do que ela diz é mentira – ele sorri e pisca para
ela. – Agora vocês podem ir. Pensem sobre o projeto e anotem qualquer ideia interessante que
vocês tiverem.
Saio do escritório, vou para o curso de Inglês e depois para a faculdade. Quando conto o
que aconteceu para as meninas, elas quase morrem de tanto rir.
- E você vai voltar para o trabalho amanhã? – Giulia pergunta.
- Claro que sim. Eu nunca mais vou entrar sem bater.
- Um se masturba no escritório, o outro é dominador... Que lugar esquisito é esse que você foi
parar! – Lívia diz.
- Pois é, mas é o que fará com que nós finalmente tenhamos nosso apartamento.
- É verdade! – ela se anima. – Eu encontrei dois lugares dentro do seu orçamento. Vou visitá-
los amanhã e, se for pelo menos habitável, eu te levo no fim de semana.
- Combinado!
Vou para casa depois do fim das aulas, mas não consigo descansar e dormir bem. Fico a
noite inteira pensando no que vi o Roberto fazendo. Eu nunca tinha visto pessoalmente um homem
se masturbando, apenas em filmes, e tenho que dizer que aquilo foi muito sensual. E a maneira
como ele o segurava...
“Eu preciso dormir!”
Na manhã seguinte, meu rosto parece o de um panda por causa das minhas olheiras. Para
compensar a cara horrorosa, coloco uma roupa mais bonita, embora eu ache que não vai ajudar
em muita coisa. Parece que uma locomotiva inteira passou pelo meu rosto.
Conforme o combinado, eu vou para minha sala guardar minha bolsa. Bato tão forte na
porta antes de entrar que a secretária vem ver o que está acontecendo.
- Está tudo bem, Ana?
- Está sim, obrigada. Eu só estou verificando se o senhor Roberto está aqui. Ele gosta de ouvir
música com fones de ouvido e pode não escutar se eu for muito sutil.
Márcia sorri.
- Sei. Pode ficar tranquila. Ele não chegou ainda.
- Ah, que ótimo! – digo realmente aliviada. – Obrigada, Márcia.
Entro e vejo que tudo está no lugar. Vou para a minha sala, deixo minha bolsa dentro de
uma das gavetas do arquivo e levo comigo apenas o que vou precisar. Encontro a Isabel na porta
da sala dela e nós vamos para a rua com uma foto ampliada do nosso produto, algumas dezenas
de garrafinhas da bebida, copos descartáveis e várias folhas de um formulário sobre o
energético.
Passamos quase a manhã inteira pedindo a opinião das pessoas sobre a imagem, sobre a
bebida e anotando no formulário a opinião de todos que experimentam.
Quando as bebidas terminam, nós voltamos para o escritório.
- Eu vou almoçar com o meu namorado hoje, Ana. Você quer se juntar a nós? – Isabel
pergunta.
- Obrigada, Isabel, mas eu não quero atrapalhar. Eu vou ligar para uma das minhas amigas
e ver quem está livre. Não se preocupe.
- Tudo bem. Nos encontramos depois do almoço, então.
Antes de entrar na sala, bato na porta, mas ninguém responde. Eu entro, vejo que ela está
vazia e vou para a minha sala. Deixo minha agenda e minhas canetas sobre a mesa e pego minha
bolsa. Ouço a porta do senhor Roberto se abrindo e alguém entrando na sala. Corro para abrir a
minha porta para ele saber que eu estou lá dentro antes de começar a fazer sabe Deus o quê.
Quando eu abro a porta, ele grita comigo mais uma vez e, é claro, nós temos outra discussão.
Ele menciona meu pai e por mais que eu tente, não consigo me controlar e acho que vou chorar.
Roberto percebe e tenta se desculpar me convidando para almoçar. A princípio, eu hesito, mas
depois concordo.
Roberto me leva à Confeitaria Colombo e eu fico simplesmente encantada. É o lugar mais
lindo que eu já vi, com lustres, espelhos enormes e centenas de doces diferentes. Sinto-me em um
filme de época. Subimos para o restaurante, que é ainda mais bonito. De lá de cima, dá para ver
o salão do primeiro andar, pois as mesas ficam em volta de uma mureta com um espaço aberto. Há
até um homem tocando piano. As mesas de mármore e cadeiras de madeira bem escura dão um
tom especial ao salão e eu vejo que muitos executivos estão almoçando ali.
Roberto e eu conversamos um pouco e eu tento deixar de lado a grosseria que ele fez mais
cedo, afinal, eu preciso muito desse emprego. Ele pergunta sobre a minha vida e até sobre a
pulseira que eu uso.
Há alguns anos, Lívia comprou um pingente e uma correntinha de ouro para cada uma de
nós. Cada pingente tem uma palavra diferente e nós sorteamos para ver quem ficaria com qual
palavra para não ter briga.
Quando nós terminamos de comer, Roberto me entrega a caixa que ele está carregando
desde que saímos do escritório. Eu quis perguntar o que era aquilo, mas fiquei com vergonha.
- Acho que vai combinar melhor com o trabalho. E é o meu pedido de desculpas sobre o que
aconteceu ontem – ele diz.
Sacudo a cabeça tentando afastar a lembrança do dia anterior.
- Está tudo bem, Roberto. Você não precisava ter comprado nada.
Abro a caixa, e vejo uma agenda e uma embalagem retangular ao lado dela.
- O que há de errado com a minha agenda? – pergunto rindo.
“Bem que a Giulia me avisou...”
- Você não está na faculdade, Ana. Não quero que os outros executivos diminuam você.
Abro o fecho e depois o zíper da agenda de couro marrom. Vejo que do lado esquerdo há
varias divisórias para cartões, papéis, um bolso para celular e quatro argolas para colocar
canetas. Do lado direito, está presa a agenda de verdade, também de couro marrom.
- É como se fosse uma pasta. Você não vai mais precisar carregar todas as suas coisas
espalhadas. E quando terminar o ano é só trocar a agenda.
- Obrigada, Roberto. É muito bonita.
É claro que é muito mais formal do que eu gostaria, mas certamente é adequada para o meu
trabalho.
Tiro a embalagem retangular de dentro da caixa e quando eu abro, vejo várias canetas
iguais às que Lívia tem. Elas têm vários cristais dentro e cada uma é de uma cor: branca, preta,
dourada, prateada, rosa, azul, lilás, verde...
“São lindas!”
- Não sorria tanto, Ana. A cor da tinta é azul ou preta.
Não consigo deixar de rir. Roberto ri também.
- Muito obrigada. Não precisava ser uma de cada cor.
- É claro que não precisava, mas eu quis fazer mesmo assim. Uma delas é um pen-drive
também. Acho que é a rosa.
- Que legal! Eu nem sei como te agradecer.
- Seja uma boa assistente e tente tolerar as besteiras que eu faço.
Fico com um pouquinho de pena dele.
- Tudo bem.
Roberto pede a conta e quando ela chega, eu insisto em pagar a minha parte.
- De forma alguma, Ana. Eu te convidei, eu escolhi o lugar e eu vou pagar. Além do mais isso
vai quase acabar com o seu vale-refeição.
Não acredito nele.
- E quanto foi a conta?
- R$273,95
- Por dois pratos de comida e uma garrafa de vinho?
- Isso.
- Mas como pode?
- Tudo que é bom custa mais caro que o normal, Ana. Você vai aprender com o tempo. Você
quer sobremesa?
- Deus me livre! Eu provavelmente teria que vender um rim.
Ele ri.
- Não quer mesmo, nem para levar para depois?
- Não, obrigada.
Nós vamos para a confeitaria e Roberto compra alguns doces antes de voltarmos ao
escritório. Assim que chegamos, Roberto me pede para contar para ele sobre o projeto do Carlos
Eduardo e da Isabel. Eu conto tudo o que fizemos até agora e depois vou para a sala da Isabel e
encontro o Carlos Eduardo lá.
- Acho que o número de entrevistados está bom – ele diz. – Agende uma das salas de
reuniões por quatro dias, Isabel. Coloque os cavaletes lá e tente desenvolver algo com o designer
em cima dessas ideias – ele entrega um bloco a ela. – Quero as imagens prontas amanhã de
manhã.
- Certo – Isabel responde. – Ana, me ajude a levar os cavaletes.
Eu pego um deles e Isabel pega outro. Nós paramos na recepção e Isabel consegue agendar
uma das salas.
- Essa é a parte mais difícil. As salas estão sempre ocupadas.
Nós levamos os cavaletes para a sala, que é bem ampla e tem uma enorme mesa oval com
várias cadeiras. Isabel liga para um rapaz que logo depois entra com o laptop dele. Ela passa as
ideias do Carlos Eduardo para ele junto com as imagens que tínhamos e em uma hora o rapaz cria
cinco imagens diferentes seguindo as instruções dadas.
- Nossa! Estão incríveis, Jorge! Obrigada! O que você acha, Ana?
- Eu ainda não consigo acreditar que ele fez tudo isso.
Os dois riem de mim.
- Coloque todas elas no pen-drive, por favor, eu vou levar para a gráfica agora mesmo.
- Quando vai ser a apresentação? – eu pergunto.
- Na segunda.
- Uma semana é o nosso prazo?
- Para a primeira apresentação, geralmente sim. Eles vão avaliar se gostam da ideia para
nós seguirmos no caminho certo e não ter que começar do zero se eles não gostarem quando
estiver tudo pronto.
- Entendi.
- Pegue suas coisas e vamos para gráfica. De lá você pode ir embora.
- Mas eu tenho que ficar até às cinco.
- Você sabe quanto tempo vamos gastar na gráfica?
- Não.
- Nem eu, nem você, nem os nossos chefes – ela pisca o olho para mim e ri.
- Está bem. É bom que eu posso descansar um pouco antes da minha primeira aula.
Nós passamos menos de meia hora na gráfica e quando saímos de lá, eu ligo para a Lívia
para dizer que vou chegar mais cedo e nós combinamos de nos encontrar no bar. Claro que
quando eu chego, ela já está lá.
- Que caixa é essa? – ela pergunta assim que me vê.
- Foi o Roberto que me deu.
- E desde quando você chama seu chefe pelo nome?
- Desde hoje. Ele não quer ser chamado de senhor. Você acredita que ele só tem 29 anos?
- E como você sabe disso?
- Nós almoçamos juntos hoje.
- Não me diga que...
- Não é nada disso, Lívia – eu a interrompo. – Ele só está tentado ser gentil depois de eu ter
visto o pau dele.
- Pau de quem? – Gabriel surge com uma cerveja na mão.
- Você não vai nem querer saber... O dia mais constrangedor da minha vida, Gabriel.
- Você está linda com essa roupa. Já começou a trabalhar, não é?
- Sim.
- Posso falar com você mais tarde?
- Podemos tentar, mas eu realmente preciso ir para minhas aulas de hoje.
- Tudo bem, me avise quando puder.
Ele nos serve e se afasta.
- Por que você fica com esse cara? – Lívia pergunta.
- Porque é ele bonito e beija bem.
- Mas ele é um garçom, Ana.
- E daí? Você já tinha parado com isso.
- Não é por que eu parei de falar que eu parei de pensar.
- Isso é preconceito, Lívia. Você não pode achar que uma pessoa é melhor que a outra por
causa de um emprego.
- Eu posso achar o que eu quiser. E eu não quero brigar. Deixe-me ver o que ele comprou
para você.
Depois de ver o que eu ganhei, ela diz:
- Ele quer te comer.
- Claro que não... Ele não quer que eu passe vergonha na frente dos outros funcionários com
a minha agenda de corações.
- Ana, você é muito ingênua! É claro que ele não iria gastar mais de 500 reais em canetas se
não quisesse algo mais.
- 500 reais?
- Quanto você acha que cada uma delas custa? Acorda, Ana!
- Eu vou devolver tudo amanhã. Isso é um absurdo!
- Você não vai devolver nada. Deixe de ser boba. Basta saber se você quer dar para ele ou
não.
- É claro que não!
- Mas você mesma disse que ele é lindo!
- Sim, mas eu por acaso dei para todos os homens que eu achei lindos?
Ela ri alto.
- Não, na verdade para nenhum deles.
- Chega desse assunto. Você foi ver os apartamentos?
- Fui e só um deles é razoável. Vou ver mais um amanhã.
Nesse instante Alice chega carregando um monte de coisas.
- O que é isso? – eu pergunto.
- Trabalho de casa extra.
- Por que você faz isso, Alice? Parece que você trabalha 24 horas por dia. – Lívia diz.
- Porque eu gosto – ela responde balançando os ombros. – E como foi o trabalho hoje?
Conto tudo de novo e tenho que repetir a mesma história mais duas vezes: uma para a Clara
e outra para a Giulia quando elas chegam do trabalho.
Nós vamos para as nossas aulas e eu não falo mais com o Gabriel. No final da noite, Lívia
me leva para casa.
- Você quer subir? – eu pergunto.
- Seu irmão está em casa?
- Provavelmente, mas minha mãe também está.
- Então não... Deixa para outro dia. Até amanhã.
Ela beija a minha bochecha e eu saio do carro. Janto com minha mãe e meu irmão e minto
dizendo que eu ganhei a agenda e as canetas da empresa. Eu menti ontem quando eles
perguntaram se meu chefe já tinha aparecido e hoje, inventei uma história sem graça a respeito
dele. É claro que eu nem mencionei o nosso almoço, pois tenho certeza que eles não aprovariam.
Depois de tomar banho e separar minha roupa para trabalhar amanhã, eu me deito para
dormir.
“Preciso recuperar meu sono perdido.”
Capítulo 3

“Avassalador, chega sem avisar. Toma de assalto, atropela, vela de incendiar. Arrebatador, vem de
qualquer lugar. Chega, nem pede licença, avança sem ponderar.”
Aquilo que dá no coração – Lenine
Ana
Na manhã seguinte, vou direto para a sala de reuniões e encontro Carlos Eduardo e Isabel
analisando as novas imagens. Elas ficaram ainda mais bonitas impressas.
- Bom dia – digo.
- Oi, Ana. Fui buscar as imagens mais cedo, mas não se preocupe, você não perdeu nada.
- Qual dessas imagens chama mais a sua atenção, Ana Luiza? Qual delas faria você querer
comprar o produto? – Carlos Eduardo pergunta.
Todas as imagens mostram o produto de uma forma diferente e com tonalidades diferentes
no fundo da imagem. A primeira é o produto com raios saindo dele como se estivesse dando
choque. A segunda é a mesma coisa, mas com chamas no lugar dos raios. A terceira tem uma
mulher com um vestido curtíssimo como se estivesse dançando em uma boate. A quarta tem uma
mulher correndo em um parque e a última um homem muito forte representando um lutador.
- Eu gosto mais das imagens que mostram as pessoas junto com a bebida.
- Apenas uma.
- A quarta.
- Por quê?
- Porque é uma bebida que te dá energia.
- E por que não a que tem a moça dançando?
- Você não precisa beber energético para querer dançar. Você só precisa estar feliz ou
bêbado.
- E você não coloca energético na sua bebida?
- Deus me livre!
Ele sorri.
- Você não pode escolher como divulgar um produto pensando apenas nos seus gostos. Você
tem que pensar no que a maioria gostaria.
- Nesse caso então é a imagem com a moça seminua.
Isabel ri.
- Agora sim você está falando como uma profissional – ele diz e se vira para Isabel. – Leve
a imagem com a chama, a da moça correndo e da mulher seminua, Isabel. Vejamos o que as
pessoas dirão. Passe na minha sala antes de falar com o designer.
- Está bem.
Carlos Eduardo sai da sala e eu pergunto:
- E agora?
- Agora você guarda suas coisas e nós vamos para a rua outra vez. Encontre-me na
recepção.
Vou até a minha sala, bato várias vezes na porta antes entrar e não vejo nenhum sinal do
Roberto. Guardo minhas coisas e vou para a rua com a Isabel. Nós passamos a manhã inteira
perguntando às pessoas qual imagem as faria querer comprar o produto. Obviamente, o Carlos
Eduardo estava certo e a minha imagem foi a menos votada. Passo o tempo todo da nossa
pesquisa querendo voltar logo para o escritório só para ver se o Roberto já chegou, mas quando
voltamos, não encontro nenhum vestígio dele.
Deixamos os cavaletes na sala de reuniões e Isabel vai chamar o Carlos Eduardo, que vem
nos encontrar.
- Está ótimo, Isabel. Chame o Jorge depois do seu almoço e peça que ele faça três
alterações de cores nas duas imagens mais votadas: a da chama e a da moça seminua. Traga-as
prontas amanhã de manhã.
Assim que ele sai da sala, ela diz rindo:
- Advinha quem vai sair mais cedo hoje de novo?
- Eu tenho curso de Inglês hoje.
- Passe lá e veja se eles conseguem adiantar a sua aula. Pode ser que tenha algum professor
em tempo vago. Eu fiz isso várias vezes enquanto estudava lá.
- Boa ideia. Vou tentar.
Eu saio para almoçar com a Isabel, depois nós ficamos esperando o Jorge fazer o trabalho
dele, passamos na gráfica para deixar as imagens e eu vou para o curso. Por sorte, tem uma
professora disponível que aceita adiantar minha aula.
Como hoje é quarta e eu sei que a Alice sai mais cedo do trabalho, decido ligar para ela
depois da minha aula.
- Oi, Ana! Tudo bem?
- Tudo. Olha só... Eu saí mais cedo do trabalho e estou livre. Estava pensando em tomarmos
alguma coisa e depois irmos ao Ladies’ Club. O que você acha?
- Eu acho ótimo!
“Ela nunca diz não!”
- Eu vou ficar te esperando no Arco do Teles, então.
- Você já falou com as meninas?
- Não. Vou ligar para elas agora.
- Está bem. Deixe que eu ligo para a Clara, se não ela vai inventar uma desculpa para não
ir.
- Combinado!
Ligo para Lívia e ela diz que está vindo. Giulia diz que virá quando sair do trabalho, mas
que vai embora para a segunda aula. O que nunca de fato acontece, pois por mais que ela
queira, nós não deixamos.
Meia hora depois, Alice chega e eu aproveito para conversar sozinha com ela enquanto
tomamos uma cerveja.
- Eu acho que eu estou com um problema.
- O quê?
- Promete que não vai contar para as outras meninas?
- Prometo.
“Mentira! Nós sempre contamos tudo umas às outras.”
- Eu não consigo parar de pensar no meu chefe se masturbando. Toda hora aquela imagem
vem na minha cabeça e eu não estou conseguindo nem dormir direito.
- Mas é uma sensação boa ou ruim?
- Como assim?
- Você gosta de ficar relembrando ou sente nojo do que ele estava fazendo ou algo do tipo?
- Era para sentir nojo? – Alice ri da minha pergunta.
- Cada pessoa sentiria uma coisa diferente. Como você se sente?
- Eu fico meio que... excitada.
- Acho que eu também ficaria.
- Mas ele é meu chefe. Eu não posso simplesmente ficar pensando no pau dele, Alice.
- Eu concordo. Tente criar uma lembrança nova. Faça algo interessante com algum dos caras
que você sai para ter no que pensar.
- É... pode ser uma boa ideia. Ele não foi trabalhar hoje e eu fiquei o dia inteiro ansiosa
esperando ele aparecer.
- Ana... Isso é perigoso. Você não pode se envolver com ele. Pode custar o seu emprego.
- Eu sei.
- Encontre outra pessoa. Vai ser melhor.
Nesse instante, Lívia chega.
- O que vai ser melhor? – ela pergunta.
- Se nós não misturarmos cerveja com caipirinha hoje – respondo apressada.
- E desde quando isso é melhor?
- Desde que agora eu tenho que levantar cedo para ir trabalhar.
- É... Faz sentido...
Aos poucos as outras meninas chegam e assim que eles abrem, nós entramos na casa de
show.
É claro que eu não faço o que disse que faria e misturo todos os tipos de bebidas que eles
têm. Clara só fica um pouquinho durante a apresentação e depois vai embora. Giulia espera o
Breno poder entrar para falar conosco e logo depois eles se despedem. Alice, Lívia e eu só vamos
embora quando o lugar fecha. Alice e Lívia vão embora acompanhadas por dois rapazes e eu
pego um táxi para voltar para casa.
Tento não fazer barulho para não acordar a minha mãe. Eu avisei que chegaria mais tarde,
mas ela não precisa saber o quão tarde foi. Uma luz se acende na sala e meu coração parece
parar de bater, mas é o meu irmão.
- Caralho, Thiago! Você quer me matar de susto? – eu sussurro.
- Chegando de madrugada e bêbada, Ana?
- E o que você tem com isso? Você faz o mesmo quase todos os dias.
- Eu quero a chave do seu apartamento novo. E a mamãe não pode ter uma.
- Que chave? Eu nem tenho um apartamento ainda!
- Mãe... – ele diz alto enquanto se levanta da poltrona.
- Está bem! Eu faço uma cópia para você quando eu tiver a porra da chave. Mas para que
você quer isso?
- Para poder ficar mais à vontade com a sua amiga quando você não estiver lá.
- Você é ridículo, sabia?
- Sabia. Boa noite, irmãzinha.
Ele vai para o quarto dele e eu penso se devo tomar banho agora ou amanhã de manhã.
“Amanhã...”
O amanhã chega e é o pior dia da minha vida. Eu acordo atrasada, tenho que tomar banho,
não consigo colocar as lentes nos olhos e só reparo que estou usando um vestido curto para o
trabalho quando já estou na metade do caminho. É claro que ele não é curtinho, mas poderia ter
pelo menos um palmo a mais de tecido para ser adequado. Tento colocar as lentes no metrô, mas
acabo machucando os olhos e desisto.
“Vou de óculos mesmo.”
Começo a fazer a maquiagem e quando pego o batom que eu coloquei correndo na bolsa,
vejo que ele é levemente vermelho.
“Mas que inferno!”
Passo ele mesmo assim, penteio os cabelos e os deixo soltos, pois não estou com paciência
para penteados.
“Nunca mais eu saio durante a semana...”
Ao invés de ir para a sala de reuniões, vou para minha sala para me sentar um pouco e ver
se minha vontade de vomitar passa. Abro a porta sem bater e dou de cara com o Roberto sentado
no sofá. Ele fica olhando para mim com uma expressão estranha.
- Bom dia, Roberto – digo colocando meus óculos no lugar certo. – Desculpe, eu achei que
você não estivesse aqui ainda.
- Você usa óculos? – ele se levanta e se aproxima lentamente.
- Geralmente, eu uso lentes, mas não consegui colocá-las hoje. Você se importa se eu usar seu
banheiro?
- Não... Fique à vontade. Você está bem?
- Na medida do possível sim. Noite agitada.
Entro no banheiro e molho as mãos, os pulsos e a nuca.
“Eu não posso vomitar!”
Fico alguns minutos lá dentro e quando saio, Roberto está parado na porta.
- Sente-se um pouco, Ana.
Eu agradeço mentalmente e me sento no sofá. Roberto se senta ao meu lado, coloca a mão
no meu joelho e olha diretamente em meus olhos. Sinto calafrios percorrendo todo o meu corpo.
Sua mão é grande e pesada.
- Você quer tirar o dia de folga?
- De forma alguma, mas obrigada por oferecer.
- O que aconteceu?
- Nada... Eu saí com as minhas amigas, bebi demais, dancei demais, fui dormir tarde demais...
Você sabe...
Ele fica em silêncio por alguns segundos, tira a mão da minha perna e sua expressão se
torna séria.
- Sei. Bem, eu espero que você consiga fazer o seu trabalho direito. Eu não vou voltar mais
ao escritório hoje. Tenho outras coisas para fazer... Você sabe...
“Não, não sei...”
- Tudo bem. Se você precisar de alguma coisa é só me ligar.
Ele volta a ficar em silêncio me encarando.
- Tenha um bom dia, Ana Luiza.
Roberto se levanta, pega algumas coisas sobre a mesa e sai sem nem olhar para trás.
Esse continua sendo um dos piores dias da minha vida até o fim. Roberto realmente não volta
para o trabalho, eu passo o dia inteiro com dor de cabeça sem conseguir me concentrar e no fim
do dia decido ir para casa e não para a faculdade.
- O que houve? – minha mãe pergunta quando me vê entrando. – Não teve aula hoje?
- Eu não estou me sentindo bem, mãe. Acho que comi alguma coisa estragada – minto.
- Quer que eu prepare uma sopinha?
- Não, obrigada. Eu vou tomar um banho e tentar dormir um pouco.
- Está bem. Se precisar de alguma coisa, me avise.
Ela me dá um beijo no rosto e volta a molhar as plantas. Eu tomo banho e desmaio na cama.
Na sexta-feira, acordo mais cedo do que o normal e tenho tempo de me arrumar sem
pressa. Visto uma calça jeans, pois hoje posso usar qualquer roupa, uma blusa verde escuro e meus
saltos nude. Chego um pouquinho mais cedo no trabalho e me surpreendo ao ver o Roberto na
sala.
- Bom dia, Ana. Dormiu bem essa noite?
- Bom dia... Sim, nem fui para a faculdade ontem para poder dormir direito.
- Você tem algo planejado com a Isabel hoje?
- Sim, ela e o Carlos Eduardo vão escrever a apresentação e eu vou assistir.
- Então a primeira fase já está pronta?
- Sim.
Reparo que ele não está vestindo roupas casuais.
- Roberto, eu estou vestida assim porque no contrato diz que às sextas eu posso vestir o que
eu quiser.
- Sim, eu sei.
- Você se incomoda? Se você preferir eu posso usar as roupas de trabalho a partir da
semana que vem.
- Não, de forma alguma. Para onde você vai hoje?
- Para a sala de reuniões.
Ele ri e eu fico sem entender.
- Depois do trabalho, Ana. Hoje é sexta, você está toda arrumada... Eu achei que você fosse
sair.
- Ah, sim... Eu vou para a Lapa com as minhas amigas – minto. – Você quer vir também?
“Mas de onde eu tirei isso?”
- Lapa... Não sei... Eu fui uma vez e não gostei muito... Mas vou pensar. Eu te ligo depois do
trabalho, pode ser?
Sinto meu coração acelerar.
- Claro.
Roberto sorri e seus olhos quase fecham.
- Agora eu preciso resolver umas coisas. Estarei na empresa o dia todo. Se precisar de
alguma coisa, é só falar comigo.
- Obrigada.
Vou para minha sala e fecho a porta. Largo a bolsa em cima da mesa e me sento em minha
cadeira.
“Eu não acredito que eu acabei de convidar o meu chefe para sair... E ainda mais para um
passeio que não existe.”
Passo o dia inteiro na sala de reuniões com a Isabel e o Carlos Eduardo e vejo como eles
preparam a apresentação que será feita na segunda. Eles passam a maior parte do tempo
definindo a estratégia e fazendo anotações e quando voltamos do almoço, Carlos Eduardo faz a
apresentação e nós duas assistimos. É incrível e eu passo a querer o produto de qualquer maneira.
“Impressionante como uma boa propaganda pode influenciar as pessoas...”
Depois de definirem os últimos pontos, ele diz:
- Isabel, agende uma sala grande para segunda. Ana Luiza, você pode voltar para a sua
sala e fazer o seu trabalho a partir de agora. Qualquer dúvida, você pode falar com a Isabel ou
comigo.
- Obrigada.
Volto para minha sala e bato na porta. Roberto grita de lá de dentro:
- Pode entrar – eu abro a porta. – Ah... Oi, Ana.
Ele faz alguma coisa no computador e não tira os olhos da tela.
- Eles já me dispensaram. Você quer que eu faça alguma coisa?
- Não, obrigado. Eu preciso terminar isso sozinho.
- Tudo bem.
Vou para minha sala, mas deixo a porta aberta caso ele precise de alguma coisa. O que
não acontece. Quando termina o meu horário, vou embora e ele fica trabalhando.
- Eu te ligo mais tarde para dizer se vou ou não – ele diz quando eu aviso que estou indo
embora. – Se eu não for, tenha um bom fim de semana.
Fico levemente desanimada.
- Para você também. Tchau.
Vou para a faculdade morrendo de vergonha e não conto nada para as meninas.
- Como foi no trabalho hoje? – Clara me pergunta.
- Tudo normal.
- Eu tenho dois apartamentos para te mostrar, Ana. Podemos ir no domingo? – Lívia pergunta.
- Claro. Alguém quer vir conosco? – eu pergunto, mas ninguém aceita.
Passo as horas seguintes verificando o celular da empresa de cinco em cinco segundos para
ver se eu recebi alguma ligação ou mensagem, mas nada. Quando nossa última aula termina e nós
nos reunimos no pátio para esperar a Giulia, que é sempre a última, meu celular pessoal toca e eu
não conheço o número.
- Alô?
- Eu poderia falar com a Ana Luiza, por favor?
- É ela. Quem está falando?
- Oi, Ana. É o Roberto.
Inconscientemente bato no braço da Lívia e dou um beliscão nela.
- Oi, Roberto. Tudo bem?
- Sim. Eu decidi ir encontrar você e suas amigas. Onde vocês estão?
Meu coração parece que vai pular para fora do peito.
- Nós estamos na faculdade ainda, mas já estamos indo para lá. Eu vou te passar o
endereço, você pode anotar?
Digo para ele a localização do bar para onde sempre vamos antes de ir a algum show.
- Tudo bem. Eu encontro vocês lá então.
- Nós te esperamos. Um beijo.
“Um beijo, Ana?!”
Ele ri.
- Um beijo.
Assim que eu desligo, Alice pergunta:
- Nós quem, cara pálida?
- Pelo amor de Deus! Vocês têm que ir comigo! Eu sempre faço tudo que vocês pedem.
- Devagar... – Lívia diz. – Ir aonde? Fazer o quê? Esse Roberto é o seu chefe? Por que diabos
você me beliscou?
Conto para elas o que eu fiz.
- Eu achei que ele não fosse aceitar, por isso não falei nada para vocês. Por favor, gente!
- Está bem, eu vou – diz Alice e eu pulo em seu colo.
- Você é a melhor das melhores! – digo dando vários beijos em seu rosto.
- Ei! – diz Lívia. – Eu achei que eu fosse a melhor das melhores!
- Você vem comigo?
- Vou.
Largo a Alice e faço o mesmo com a Lívia.
- Você é a melhor das melhores! Clara?
- E eu lá vou perder essa oportunidade? Só tenho que avisar ao Eric, pois nós combinamos
de ir embora juntos. Vou deixar a chave do meu carro com ele e já volto.
- Obrigada, amiga.
Giulia caminha em nossa direção.
- O que está acontecendo? – ela pergunta.
- Nós estamos indo para a Lapa e você vai conosco!
- Nem pensar.
- Por favor, Giulia. Só um pouquinho! Eu te levo para almoçar na segunda e depois nós
podemos passar na papelaria que você gosta. Tudo o que você quiser por minha conta.
Ela pensa por alguns segundos.
- Qualquer coisa? – eu concordo balançando a cabeça. – Promete?
- Prometo.
- Então eu vou!
Cada uma vai em seu carro e eu vou com a Lívia e o motorista. Chegando à Lapa, Eric deixa
a Clara conosco no bar e vai fazer sabe-se lá o quê. Poucos minutos depois, Breno chega e se
junta a nós. Os minutos parecem levar horas para passar e quando eu vejo Roberto entrando no
bar, não sei o que fazer.
Ele se aproxima e eu me levanto. Ele não está mais com a roupa do trabalho e sim com uma
calça jeans e uma blusa polo vermelha. Dá para ver uma parte de uma tatuagem em seu braço
direito.
“Uau!”
- Oi – ele diz e dá um beijo em cada lado do meu rosto.
- Oi – respondo sem graça e viro para minhas amigas. – Meninas, esse é o Roberto. Roberto,
essas são Lívia, Giulia, Clara e Alice – digo enquanto aponto para cada uma delas. – E esse é o
Breno, namorado da Giulia.
Roberto aperta a mão de cada um deles e diz sorrindo:
- É um prazer conhecer vocês. Ana, onde é o banheiro?
- Ali – eu aponto o lugar.
- Obrigado. Com licença, eu já volto.
Eu me sento e ele se afasta.
- Eu juro que não sabia que você tinha tantos dentes – Lívia diz. – Sorria direito! Você está
parecendo uma hiena.
Mostro minha língua para ela.
- Ana – Alice diz –, você vai ter que decidir agora se você vai dar para ele ou não, porque
se você não for, amiga, eu vou.
Todos nós caímos na gargalhada.
- Ele é gato, não é?
- Muito – diz Giulia.
- Como assim, Giulia? – Breno pergunta rindo.
- Ué, Breno. Eu não sou cega.
- Calem a boca que ele está voltando – diz Clara. – Você vai querer beber o que, Roberto?
- Um chopp, por favor.
Clara chama o garçom e Roberto se senta ao meu lado e sorri para mim. O cheiro do seu
perfume é incrível.
- Ana nos contou que vocês trabalham juntos, não é? – diz Alice.
- Sim, na verdade nós ainda não começamos o trabalho em si juntos, mas o faremos em
breve.
- E onde você mora? – Lívia pergunta e minha vontade é de socá-la.
- No Leblon.
- Eu também. A Ana vai se mudar para lá em breve.
- Mesmo? – ele pergunta olhando para mim.
- Sim. Lívia e eu vamos dividir um apartamento.
- Em que rua?
- Não sabemos ainda. Estamos procurando.
As meninas fazem um verdadeiro interrogatório sobre a vida dele e Roberto responde
pacientemente a todas as perguntas. Depois de alguns chopps, decidimos que é hora de continuar
e entramos em um lugar onde está tocando samba. Giulia e Clara vão embora logo depois, mas
Alice e Lívia ficam conosco até encontrarem companhia.
- Você realmente sabe fazer isso – Roberto grita para que eu possa ouvi-lo.
- Isso, o quê?
- Sambar.
- Ah... Todo mundo sabe!
- Eu não sei.
- Vem cá que eu te ensino.
Seguro sua mão e tento ensinar o básico, mas a música termina e eles começam a tocar uma
mais lenta. Roberto continua segurando minha mão e me puxa para mais perto.
- Essa eu sei – ele diz em meu ouvido.
Roberto coloca a mão em minha cintura e me aperta junto a seu peito. Nós dançamos juntos e
eu vejo Alice e Lívia acenando e indo embora, mas não digo nada. Quando a música termina,
Roberto continua me abraçando, mas eu me afasto. Ele olha em volta e pergunta:
- Onde estão as suas amigas?
- Acho que foram embora. É melhor nos irmos também.
- Se você preferir.
Roberto e eu pagamos a conta e saímos do bar.
- Eu vou ficar aqui esperando um táxi. Você pode ir se quiser – digo.
- De jeito nenhum. Eu te levo em casa.
- Eu não quero atrapalhar, Roberto.
- Não vai.
Nós caminhamos até o estacionamento onde ele deixou o carro, uma Mercedes preta.
- Você não tem medo de ser assaltado?
- Não. Eu já fui duas vezes. O jeito é entregar o que eles pedirem sem questionar. Está tudo
no seguro e pode ser recuperado, menos a minha vida.
- Você tem razão.
Eu me encosto na porta do carro e ele se aproxima. Roberto passa a mão em meu rosto e
segura minha nuca.
- Você é muito bonita, Ana.
- Obrigada. Você também é.
- Você sabe o que eu mais quero agora?
- Não. O quê?
- Te dar um beijo.
- E o que está te impedindo?
Ele sorri e lentamente aproxima seu corpo até encostá-lo ao meu. Roberto passa o nariz pelo
meu rosto e coloca a outra mão em minha cintura.
- Sua pele é tão macia, Ana.
Eu não consigo dizer nada. Ele distribui beijos pelo meu maxilar antes de passar os lábios
pelos meus. Roberto me beija bem devagar, esfregando sua língua na minha com calma e precisão.
Sinto sua ereção crescendo e cutucando minha barriga enquanto ele aprofunda o beijo, mas logo
em seguida ele para, apoia sua testa na minha e fica em silêncio por alguns segundos antes de
dizer:
- Vamos, eu vou te levar para casa.
- Mas...
Ele afasta seu corpo do meu, aperta o botão da chave do carro que abre a porta, dá a
volta e entra no carro. Eu não tenho nada a fazer a não ser entrar também.
- Onde você mora?
Ele pergunta como se nada tivesse acontecido. Passo meu endereço para ele e ele coloca no
GPS. Roberto dirige até a porta do meu prédio em silêncio e quando estaciona, diz:
- Bom fim de semana, Ana.
- Roberto, eu não quero que você pense que...
- Eu não vou pensar nada. Aquilo foi um erro e eu prometo que não vai mais acontecer.
Não sei o que dizer. Eu queria muito continuar o que nós estávamos fazendo. O beijo dele é
incrível e eu ainda estou excitada, mas ele está certo. Foi um erro. Nós trabalhamos juntos, quer
dizer, ele é meu chefe e isso não pode acontecer.
Abro a porta do carro e digo antes de sair:
- Até segunda, senhor Collins.
Roberto
Depois que o Cadu concorda em me deixar desenvolver o mesmo projeto que ele, eu volto
para casa e pesquiso sobre o nosso produto e produtos similares a ele. Começo a anotar minhas
ideias e a desenvolvê-las no Photoshop. Quando dou por mim, já passou da hora do jantar e a
Rute já deve ter ido embora.
Vou até a cozinha e vejo que ela já foi, mas deixou um sanduíche de salmão pronto para
mim. Como rápido e volto ao trabalho. No dia seguinte, acordo cedo, mas decido não ir à empresa
para não ter distrações. Cada vez que eu vejo ou penso na Ana, perco pelo menos meia hora
lembrando-me da renda do sutiã dela debaixo daquela blusa transparente...
E com isso, é claro, eu paro o que estava fazendo para pensar nela... e me masturbar.
No início da tarde, saio para almoçar e depois caminho um pouco no calçadão. Ouço meu
celular tocando e vejo que é o Cadu.
- Como está seu projeto?
- Caminhando. E o seu?
- Indo muito bem. Jantaremos juntos hoje?
Cadu e eu jantamos juntos umas três vezes por semana, geralmente depois do nosso futebol
na praia.
- Hoje não vai dar, tenho muita coisa para adiantar. Amanhã?
- Com certeza! Você não está pegando informações com a sua assistente sobre o meu
projeto, está?
- Claro que não, Cadu. Eu sou preguiçoso e não trapaceiro.
- Foi o que eu pensei. E você contou a ela que vai apresentar algo?
- Não. Ninguém pode saber.
- Está bem. Você vem trabalhar amanhã?
- Vou. Preciso ver umas coisas que estão no meu arquivo.
- Até lá, então.
- Até.
Mais uma vez o dia passa tão rápido que quando eu dou por mim, já está de madrugada.
“Mas não é que trabalhar ajuda a passar o tempo?!”
Na manhã seguinte, pulo meu ritual e vou para a empresa. A verdade é que eu estou ansioso
para ver a Ana, mas quando eu chego, ela ainda não está lá. Entro na sala dela para pegar os
arquivos que preciso, os coloco sobre a minha mesa e me sento no sofá para ligar para a gráfica
que temos convênio para ver se eles podem vir entregar as imagens que eu solicitar direto na
empresa.
Antes que eu possa fazer a ligação, a porta da minha sala se abre com violência. Vejo Ana
entrando com sapatos de saltos altos pretos, um vestido social também preto, bem colado ao corpo,
uma bolsa enorme e... óculos!
Não consigo reagir. Seus óculos de aro preto a deixam ainda mais bonita e realçam o verde
de seus olhos. Como se não pudesse ficar melhor, ela está com um batom vermelho.
Penso em como seria incrível se ela não dissesse nada, largasse a bolsa no chão, se
ajoelhasse aos meus pés, abrisse minha calça bem devagar, colocasse meu pau para fora e o
chupasse sem tirar os olhos dos meus.
Ana fala alguma coisa, mas eu não consigo prestar atenção. Não consigo prestar atenção
nem ao que eu estou dizendo a ela. Automaticamente, me levanto e me aproximo, disposto a tomá-
la para mim nem que isso custe o meu emprego.
Antes de conseguir tocá-la, ouço-a pedindo para usar meu banheiro e um barulho estranho
vindo de seu estômago.
-... Você está bem? – pergunto.
- Na medida do possível sim. Noite agitada.
Sinto como se meu sangue parasse de circular pelo meu corpo.
“Como assim noite agitada?”
Ana entra no banheiro e quando ela finalmente sai, eu tento descobrir mais sobre o que ela
fez na noite passada. Ela me explica, sem dizer realmente o que fez, e isso só me deixa mais
irritado.
“Com certeza ela passou a noite inteira transando com algum moleque da faculdade dela!”
- Sei. Bem, eu espero que você consiga fazer o seu trabalho direito. Eu não vou voltar mais
ao escritório hoje. Tenho outras coisas para fazer... Você sabe... – digo, sendo bastante grosseiro.
Dou uma última olhada para ela.
“Ela está simplesmente maravilhosa com os óculos!”
- Tenha um bom dia, Ana Luiza.
Pego as pastas que eu havia separado para trabalhar e resolvo levar tudo para casa. Eu
não acredito que ela teve coragem de fazer sexo com outra pessoa e de falar isso na minha cara
como se fosse natural.
Na verdade, era para ser bastante natural. Nós não estamos juntos, nem poderíamos estar.
“Mas que inferno!”
Não tenho cabeça para fazer nada e decido ir à praia. Um mergulho certamente vai
melhorar o meu humor. Depois de me acalmar e relaxar um pouco, volto caminhando para o meu
apartamento, tomo um banho e começo a trabalhar.
Sou interrompido pelo meu celular tocando. É o Cadu.
- Onde você está, Roberto? Eu estou te esperando há quinze minutos!
Olho para a janela e vejo que já escureceu completamente.
- E daí? O bebezinho não pode esperar?
- Você sabe que eu odeio atrasos?
- E você sabe que eu não sou uma das suas submissas?
- Graças a Deus! Feio do jeito que você é!
- Eu já estou saindo. Acabei perdendo a hora. Chego aí em 10 minutos.
Desligo o telefone, largo tudo que estou fazendo e vou de carro para chegar mais rápido.
- Ai, senhor, acho que esqueci minha coleira em casa – digo fazendo uma voz engraçada e
me sento onde Cadu está.
- Você é ridículo!
- Obrigado. Falando em ridículo, você não vai acreditar...
- Se você for fazer fofoca da vida dos funcionários, nem comece, eu não quero saber.
- E se for da vida sexual da minha assistente?
- Nesse caso, pode continuar.
O garçom me traz um chopp e eu conto para o meu amigo que a Ana deu a entender que
passou a noite com alguém.
- Mas ela falou isso diretamente? – ele pergunta.
- Não, mas eu li nas entrelinhas.
- Acho difícil que isso tenha acontecido, Roberto. Primeiro, porque você não sabe ler nas
entrelinhas...
- Vá se foder! – eu o interrompo e ele ri.
- Segundo, porque ela não me parece esse tipo de mulher. Não que ela não faça sexo a
noite inteira, mas daí a insinuar isso para o chefe? Acho que não.
- Será que eu entendi errado?
- Eu apostaria todo o meu dinheiro nisso.
“Mas é muito babaca mesmo!”
- Mas me fala, Cadu. Você continua com aquela submissa, a tal de Mariana?
- Sim.
- E quando eu vou conhecê-la?
- Nunca. Você está cansado de saber que isso não é um relacionamento, Roberto. É um
compromisso que inclui apenas sessões de prazer.
- Mas quando você vai ter um relacionamento de verdade?
- O que é um relacionamento de verdade, Roberto? O seu? Ou sair com uma mulher diferente
a cada fim de semana e fingir que é namorado dela? Essas coisas não servem para mim.
- Pois você deveria tentar... Funciona muito bem para a maioria das pessoas.

Na manhã seguinte, vou para o escritório ainda mais cedo para terminar meu trabalho e
poder enviar o material que eu preciso para a gráfica. Ana chega logo depois de mim com uma
calça tão apertada que não tem como ela estar conseguindo respirar direito com aquilo. Enquanto
nós conversamos e eu tento descobrir para quem ela vai dar hoje, ela me surpreende me
convidando para sair com ela e com as amigas.
Penso no que o Cadu me disse e vejo que é a oportunidade ideal de ver como ela realmente
se comporta, mas o lugar que ela quer ir não me agrada em nada. Fico de pensar e avisar depois.
Volto ao meu trabalho e a deixo fazer o dela, pois realmente não estou podendo perder tempo.
Tenho que provar a todos que sou capaz de fazer minhas próprias coisas.
Só vejo a Ana novamente no fim do dia, mas pouco tempo depois, ela vai embora e eu ainda
não tive tempo de decidir se vou ou não. Digo isso a ela, e assim que ela sai, entro no banco de
dados dos funcionários e anoto o telefone particular dela.
“Se eu realmente for, tenho que manter isso completamente fora da empresa.”
Algumas horas depois, finalmente consigo terminar minhas imagens, que não são poucas,
encaminho tudo para a gráfica e vou para casa.
Resolvo tomar banho, me arrumar, sair para jantar e decidir no restaurante se vou encontrar
a Ana ou não. Confesso que só decido ir depois de muitos chopps. Bem lá no fundo, eu sinto que
isso não é uma boa ideia e que vai acabar me causando problemas.
Ligo para ela avisando que vou e ela me passa o endereço. Procuro um estacionamento
pago perto do bar onde ela está com as amigas porque nem fodendo eu vou deixar meu carro na
rua no meio da Lapa.
Realmente compensa ir para aquele lugar horrível quando eu entro no bar e vejo a Ana
sorrir como uma criança que acaba de ganhar um cachorrinho. Quando dou por mim, já estou
beijando suas bochechas como se fossemos amigos.
Ana me apresenta às amigas e ao namorado de uma delas. Todas elas parecem ter quase a
mesma idade e a primeira coisa que eu reparo é na pulseira delas. Realmente todas elas usam a
mesma, como Ana havia me dito. Vou ao banheiro para lavar minhas mãos antes de começar a
comer e beber e quando eu volto, há uma cadeira para mim ao lado da Ana.
No meio da conversa, descubro que ela vai mudar com uma das amigas para o mesmo
bairro onde eu moro em breve. Isso me deixa animado. É sempre melhor quando a mulher não
mora mais com os pais...
“Que diferença isso vai fazer? Ela é apenas minha assistente.”
Reparo que a amiga que vai morar com ela, usa um anel igual ao da Ana no polegar e
pergunto em seu ouvido:
- Por que vocês usam o mesmo anel?
- Porque dentre todas as meninas, ela é a minha melhor amiga.
Eu acho bobagem, mas deve ser normal entre mulheres da idade delas. Umas duas horas
mais tarde, elas decidem ir dançar. Um cara aparece, não fala com ninguém e uma das amigas vai
embora com ele. Ana se aproxima de mim e diz:
- É o namorado dela. O nome dele é Eric, mas ninguém gosta dele.
“Está explicado...”
Logo depois, o casal que estava no bar vai embora e enquanto ela dança com as duas
amigas que restaram, eu a observo.
Seus quadris mexem de um lado para o outro de uma forma muito sensual. Começo a
imaginar diferentes formas de tê-la dançando no meu colo e rebolando no meu pau. As amigas
dela se afastam para comprar bebidas e eu me levanto para não deixá-la sozinha. Ana tenta me
ensinar a dançar e quando eles trocam a música, eu a puxo para os meus braços e nós dançamos
juntos.
Durante muitos anos eu quis ter calma e paciência para fazer as coisas e pela primeira vez,
eu sinto que eu poderia fazer exatamente isso por muitas horas seguidas: ter o corpo dela colado
ao meu. Mas nosso momento dura pouco. Acho que Ana vê as amigas indo embora e assim que a
música termina, diz que devemos ir também.
Eu insisto em levá-la para casa e esse é o maior erro que eu cometo. Quando nós chegamos
ao estacionamento e finalmente ficamos sozinhos, eu digo que quero beijá-la e ela me incentiva a
fazê-lo. O que eu não esperava é que o beijo fosse tão maravilhoso. Ela tem alguma coisa que me
encanta e me enlouquece. Talvez seja a mistura de inocência, maturidade e liberdade que ela
mostra ter, como se nada fosse importante ou valioso demais que não pudesse ser superado.
Simplesmente, não consigo parar de beijá-la. Minha única vontade é de levá-la para o meu
apartamento e passar a noite inteira dentro dela, mas logo em seguida, lembro-me que não posso
fazer nada disso por causa do nosso trabalho.
Afasto meus lábios dos dela e contrario todas as minhas vontades em uma única frase:
- Vamos, eu vou te levar para casa.

Passo o fim de semana tentando me concentrar na minha apresentação, mas não consigo
parar de pensar nela. Na suavidade do seu beijo e na força em sua voz quando ela se despediu
de mim me chamando de “senhor Collins”.
“Ah, Ana...”
Penso várias vezes em ligar para ela ou ir até seu apartamento. Uma delas, chego a ir para
a garagem do meu prédio, mas depois desisto. Tenho certeza que só a quero porque sei que não
posso tê-la.
Na segunda de manhã, passo na sala de reuniões para ver se meus quadros estão prontos e
vejo que o pessoal da gráfica deixou tudo arrumado ao lado da apresentação do Cadu. Ao invés
de ir para a minha sala, vou para a dele.
- Porra... Perdi cem Reais... – ele diz quando me vê entrando.
- Como?
- Eu apostei com a Isabel que você não apareceria aqui hoje.
“Mas é realmente um idiota!”
- Obrigado pelo voto de confiança. Posso ficar aqui até a apresentação começar? Não
quero ir para a minha sala.
- Se você for ficar em silêncio, pode.
Enquanto Cadu repassa suas anotações, eu repasso as minhas. Quase uma hora depois,
Isabel aparece e diz que os executivos da empresa que está querendo nos contratar já estão na
sala de reuniões.
Vamos os três juntos para a sala e assim que entramos vejo Ana sentada em uma das
cadeiras. Depois de cumprimentar e me apresentar a todos, me sento ao seu lado.
- Bom dia!
- Bom dia, senhor Collins – ela diz sem nem olhar para mim.
- Ana, eu...
Nesse momento, meu pai entra e se surpreende ao me ver, mas não diz nada. Depois de
falar com todos, ele se senta e diz:
- Podemos começar, Carlos Eduardo.
Cadu se dirige ao cavalete dele e faz sua apresentação de 10 minutos, mostrando duas
imagens do produto. Assim que ele termina, os executivos aplaudem e Cadu diz:
- Agora, eu peço que vocês assistam a apresentação do senhor Roberto Collins...
Meu pai olha para mim tão rápido que eu tenho certeza que ele quase quebrou o pescoço.
Ele me fuzila com o olhar.
- Decidimos dar uma opção a vocês – Cadu continua. – E o projeto que vocês escolherem
será bem aceito por nós. Roberto, por favor.
Quando passo pela cadeira onde meu pai está sentado, ele sussurra em inglês:
- O que você pensa que está fazendo?
Eu finjo que não ouvi e me aproximo dos meus cavaletes.
- Senhorita Azevedo, você poderia tirar isso daqui, por favor? – digo apontando para o
cavalete do Cadu.
Ana se levanta e caminha em minha direção.
- Senhores, essa é a minha assistente Ana Luiza Azevedo. Pode colocar em qualquer lugar.
Depois volte e fique aqui ao meu lado para segurar as imagens.
- Sim, senhor.
Sinto um aperto no peito cada vez que ela me chama de senhor.
- Bom, senhores, primeiramente, bom dia. Eu sou o Roberto e gostaria que os senhores
reparassem bem nessas imagens.
Tiro a imagem preta da frente do primeiro cavalete. O que aparece é um jovem magro na
academia, se matando para levantar pesos.
- Você quer transformar o seu corpo e até se esforça na academia, mas não consegue
melhores resultados porque não tem energia para malhar durante horas e é claro que você não
quer se intoxicar com anabolizantes. Do que você precisa? Um milagre? Não... Você precisa de
Power Drink!
Tiro a imagem do jovem magro e a que aparece atrás dela é o mesmo jovem, mas agora
musculoso segurando os pesos sobre a cabeça e com o energético ao lado dele sobre um banco.
Vou até o segundo cavalete e tiro a imagem preta. O que aparece embaixo dela é uma
mulher de meia idade deitada no sofá assistindo TV.
- Você sabe que precisa se exercitar para ficar com a saúde em dia e ver seus netos
crescerem, mas depois de trabalhar um dia inteiro, você não tem disposição para fazer mais nada.
Do que você precisa? De uma amiga que te acompanhe na caminhada? Não! Você precisa de
Power Drink!
Tiro a imagem e a nova que aparece mostra a mesma mulher correndo com uma mochila e
no espaço para colocar a garrafa d’água, está o energético.
Faço a mesma coisa com os outros dois cavaletes e no final, quando todas as imagens dos
cavaletes são as que têm o energético, eu termino minha apresentação com:
- Power Drink. Porque imagens falam mais do que palavras.
Os executivos se levantam e aplaudem minha apresentação. Meu pai, Ana e Isabel olham
para mim de boca aberta. Cadu sorri e faz um sinal de positivo.
- Incrível, senhor Collins – um dos executivos aperta minha mão. – Nós definitivamente
queremos essa apresentação. Vamos precisar que vocês nos enviem o contrato ainda hoje e que o
senhor passe na nossa empresa no final do dia para fazer a apresentação para o nosso chefe.
- Aqui está o contrato – pego a pasta em cima da mesa e entrego a ele.
- Roberto – meu pai diz ao se levantar –, alguém revisou esse contrato?
- Sim.
- Quem?
- Eu mesmo. E como CEO da empresa, eu tenho a capacidade e o direito de redigir meus
próprios contratos.
- Sim, claro – meu pai responde sabendo que não pode discutir comigo na frente dos futuros
clientes.
- Ótimo – diz o executivo. – Será que nós podemos ficar a sós por alguns minutos analisando
o contrato?
- Com certeza – respondo. – Eu estarei na minha sala. Por favor, me avisem quando tomarem
uma decisão.
Meu pai, Cadu, Ana, Isabel e eu saímos da sala. Cadu aperta minha mão e diz, antes de se
afastar com a Isabel:
- Excelente!
- Obrigado.
- Na minha sala agora, Roberto – meu pai diz antes de virar as costas e sair.
- Ana, não saia dessa porta. Assim que eles abrirem você me procura, entendeu? – Digo.
- Sim, senhor – ela diz sorrindo.
Vou para a sala do meu pai, me preparando psicologicamente para ouvir o seu sermão.
- O que você pensa que está fazendo? – Ele grita em inglês.
- Não adianta falar em inglês, pai. Noventa por cento dos funcionários falam também.
- Não me venha com gracinhas, Roberto! Eu te avisei que você não pegaria nenhum projeto
enquanto sua assistente não estivesse treinada!
- Esse projeto não era meu, era do Cadu. E eu não precisei da minha assistente para
desenvolvê-lo.
- Pior ainda! Você não sabe o significado da palavra respeito? Em primeiro lugar...
- Em primeiro lugar – eu o interrompo –, o Cadu sabia que eu estava desenvolvendo o
mesmo projeto. Eu jamais faria isso sem o consentimento dele. Em segundo lugar, eles preferiram a
minha apresentação. Então qual é o seu problema?
Ele fica em silêncio por algum tempo.
- Eu quero uma cópia do contrato agora mesmo.
Tiro meu celular do bolso e envio o arquivo para o seu e-mail.
- Pronto.
Ele começa a ler o contrato e alguém bate na porta.
- Pode entrar – ele diz.
- Com licença – Ana diz. – Os executivos estão à sua espera, senhor.
- Obrigado, Ana.
- Eu vou com você – meu pai diz e se levanta.
Nós três voltamos para a sala de reuniões e assim que sentamos, um deles diz:
- O contrato está de acordo com as normas e nós concordamos com os prazos e condições. O
único problema foi o valor solicitado – meu pai bufa –, mas nós já ligamos para o dono da
empresa e ele disse que se a apresentação for realmente boa como nós dissemos, ele aceita. O
senhor Soares cancelou as reuniões do fim da tarde e gostaria que o senhor fosse até lá. Seria
possível, senhor Collins?
- Com certeza – respondo. – Deixe o endereço com a minha assistente e eu estarei lá. Agora,
me deem licença para começar a me organizar.
Saio da sala de reuniões e vou para a minha. Alguns minutos depois, Ana entra.
- Posso fazer algo para ajudá-lo, senhor?
- Ana... Pare com isso. Você não precisa me chamar assim.
- Preciso sim. O senhor é meu chefe.
- Eu não quis te ofender. Você é...
- Por favor, senhor Collins, vamos esquecer o que aconteceu. Eu realmente preciso desse
emprego e não quero passar um ano sofrendo até poder ser transferida.
- Do que você está falando?
- O senhor não sabe?
- Não sei o quê?
Ela fica em silêncio por um longo tempo.
- Nada. O senhor precisa de ajuda ou não?
- Não – respondo irritado.
- Certo. Eu estarei na minha sala.
Ana caminha até lá, entra e fecha a porta. Eu penso em invadir a sala dela, puxá-la para os
meus braços, beijá-la e rasgar aquela saia azul-marinho que ela está usando. Mas ao invés de
fazer isso, recolho tudo que vou precisar e vou para a sala de reuniões onde estão meus cavaletes.
“Apenas uma porta nos separando não será o suficiente...”
Fico lá até hora que tenho que sair da empresa para fazer minha apresentação. Não saio
nem para almoçar e peço à Márcia, a secretária, que encomende um sanduíche para mim.

Nada me alegra mais que assinar o contrato com o dono da Power Drink logo após a
apresentação. No caminho de volta para minha empresa, recebo uma ligação do Cadu
perguntando se eu tinha fechado o contrato e eu digo que só contarei quando chegar.
Sou recebido pelo Cadu e vários outros funcionários com garrafas de champanhe e taças,
todos sorrindo, exceto meu pai.
- E aí, Roberto? – ele me pergunta.
- Assinado! – digo e levanto a pasta com o contrato.
Todos começam a vibrar, a abrir as garrafas e a beber. Todos querem me cumprimentar ao
mesmo tempo. Alguém coloca uma música para tocar e Ana coloca uma taça em minha mão.
- Parabéns, senhor Collins.
- Obrigado.
Ana se afasta e eu converso com várias pessoas ao mesmo tempo.
É sempre assim. Toda vez que fechamos um contrato grande como o da Power Drink, nós
comemoramos na empresa. Os funcionários podem ir embora mais cedo ou ficar e comemorar. Meu
pai para ao meu lado e diz:
- Não é por que você conseguiu o contrato que nós vamos deixar de conversar sobre isso.
- Quando o senhor quiser.
Meu pai se afasta e vai conversar com alguns funcionários. Algumas horas e muitas taças de
champanhe depois, procuro Ana com os olhos, mas não consigo encontrá-la.
- Com licença – digo para a jovem do RH que está conversando comigo.
Começo a procurá-la pelo escritório, que está repleto de gente em todos os lugares e a
encontro sentada no sofá do lado de fora da nossa sala ao lado do Jorge. Ela está prestando
muita atenção ao que ele fala enquanto ele acaricia o braço dela.
- Jorge! – digo mais alto do que o normal. – Meu pai quer vê-lo na sala dele imediatamente.
- Sim, senhor. Ana, eu já volto.
Ele se levanta e assim que está longe o suficiente, eu pergunto:
- O que você pensa que está fazendo, Ana?
- Socializando com um dos funcionários. Por quê? Aqui só é permitido socializar com você?
Ela se levanta e entra na nossa sala. Eu vou atrás dela.
- Você está bêbada! – digo rindo.
- E o que você tem com isso?
Ana entra no banheiro, mas não fecha a porta. Ela inclina o corpo sobre a pia para lavar o
rosto e sua bunda fica empinada, me fazendo ter uma ereção relâmpago. Antes que ela consiga
abrir a torneira, eu entro no banheiro, bato a porta e viro seu corpo de frente para mim.
- O que você está fazendo?
- Eu não consigo, Ana. Você não sai da minha cabeça.
Inclino minha cabeça e beijo seu pescoço. Ana geme baixinho.
- Eu quero você, Ana. Eu sei que eu não posso, mas eu quero – ela não diz nada e eu
esfrego minha ereção nela. – Está vendo?
Ana suspira e apoia as mãos na pia de mármore. Abro o primeiro botão de sua blusa e
beijo os montinhos dos seios que estão fora do sutiã.
- Roberto... Eu preciso desse emprego...
Puxo sua blusa para fora da saia.
- Eu sei... – abro lentamente um botão de cada vez – mas eu só vou parar se você disser que
não me quer.
Tiro sua blusa, jogo-a no chão e volto a beijar os montinhos.
- Ana?
Ela responde arrancando meu paletó do meu corpo. Eu subo sua saia e a coloco sentada
sobre o mármore da pia. Eu a beijo...
“Ah... aquele beijo...”
Ana abre minha calça e eu a abaixo junto com a minha cueca. Ela interrompe nosso beijo e
olha para o meu pau. Ana abre o fecho, tira o sutiã e o joga para o lado. Fico hipnotizado com
seus seios. Passo meus lábios fechados pelos mamilos e ela geme. Lambo um deles antes de sugá-
lo. Ana puxa meus cabelos com suavidade. Sem soltar seu mamilo, puxo sua calcinha para baixo.
Afasto-me um pouco para Ana se livrar dela. Ana chuta a calcinha para longe e abre as pernas.
- Devagar, Roberto.
Ela diz, me puxa e me beija.
“Devagar é bom...”
Encaixo meu pau em sua entrada e Ana passa as pernas em volta da minha cintura. Aos
poucos e bem devagar, vou colocando meu pau nela. Ana apoia as mãos na pia, fecha os olhos e
sorri. Eu não consigo parar de olhar para ela. Sua respiração acelera e ela geme baixinho. Assim
que estou todo dentro dela, Ana abre os olhos e eu vejo um misto de desejo e carinho neles.
- Você está bem? – Pergunto.
- Muito bem. Me beija!
Faço o que ela me pede e nós somos interrompidos por uma batida na porta.
- Quem é? – eu grito.
- Sou eu – Cadu responde. – Você sumiu, eu estava te procurando.
- Caralho, Cadu! Eu estou cagando. Vai demorar. Será que você pode esperar lá fora?
- Está bem – meu amigo grita lá de fora.
- Nossa... Você é realmente sabe como usar as palavras para seduzir – ela sussurra
debochando de mim.
- Fico feliz que isso te excite.
- Muito!
Volto a beijá-la enquanto entro e saio lentamente de seu corpo. Ana me beija com aflição e
eu aumento o ritmo, mas logo depois diminuo.
- Não! Continua.
- Eu não vou conseguir te esperar, Ana. Você está muito apertada.
- Continua, Roberto.
Faço o que ela manda e gozo instantes depois. Apoio minha cabeça em seus seios e assim
que consigo falar, digo:
- Sinto muito, Ana, mas estava muito gostoso. Vamos nos limpar um pouco, eu vou te levar
para o sofá para você ficar mais confortável e vou fazer você gozar também.
- Não se preocupe, nós teremos tempo para isso.
Eu sorrio e dou um beijo estalado em seus lábios. Saio de dentro dela aos poucos e Ana
desce da pia. Abro a torneira enquanto a vejo pelo espelho catando suas roupas. Quando a água
gelada bate no meu membro, automaticamente olho para ele e vejo rastros de sangue.
“Não! Outra vez, não!”
Capítulo 4

“Desse jeito vão saber de nós dois, dessa nossa farra e será uma maldade voraz.
Pura hipocrisia! Nossos corpos não conseguem ter paz.”
Ilegais – Vanessa da Mata
Ana
- Você era virgem? – Roberto grita olhando para mim pelo espelho.
- Fale baixo...
- Responda!
- Sim – digo envergonhada.
- Eu não acredito nisso! Por que você não me falou nada? Mas que merda! – ele se enxuga e
sobe as calças.
Eu me sento no vaso com as minhas roupas na mão.
- Roberto, isso não quer dizer nada. Aconteceu com você, poderia ter sido com qualquer
outro.
Ele fica em silêncio olhando para mim e sua expressão se suaviza. Roberto se aproxima de
mim e ajoelha ao meu lado.
- Ana... – ele apoia a cabeça em minhas pernas – eu jamais teria feito dessa forma se eu
soubesse.
- Não tem problema, eu queria que fosse assim. Na verdade, o melhor seria se você não
tivesse descoberto.
- Mas por quê?
- Há anos eu faço de tudo, menos isso. Não sei... Por medo, por causa da minha mãe, por que
eu nunca quis de verdade, mas hoje eu quis e aconteceu. Você não precisa se preocupar com
nada. Não é por que eu era virgem que você me deve alguma coisa ou que nós vamos casar ou
algo do tipo.
Roberto arregala os olhos antes de me perguntar:
- Você toma algum tipo de anticoncepcional?
- Não.
- Puta que pariu, Ana! Nós precisamos ir a uma farmácia imediatamente.
- Roberto. Eu não preciso de você para comprar uma pílula do dia seguinte. Fique tranquilo...
Mesmo. Eu estou bem e vou resolver tudo assim que sair daqui.
- Não. Eu vou com você. E depois eu vou te levar para a minha casa e fazer isso do jeito que
deve ser feito. Eu sinto muito, Ana.
Não consigo deixar de sorrir.
- Eu não posso ir para a sua casa, Roberto. Eu moro com a minha mãe.
- Dê um jeito. Eu te espero no estacionamento. Você tem dez minutos.
Roberto sai do banheiro e eu ouço a porta da sala abrir e fechar. Vou para minha sala, ligo
para minha mãe e digo que a empresa fechou um contrato, que todos os funcionários devem
participar da comemoração e que eu não sei a hora que vai terminar.
- E como você vai voltar para casa? – ela me pergunta.
- Eu convidei a Lívia para a festa e o motorista dela vai vir nos buscar. Eu vou dormir na
casa dela e amanhã de manhã ele vai me trazer de volta ao trabalho.
- Está bem. Tome cuidado e me ligue amanhã.
- Pode deixar, mãe.
Aproveito os minutos que ainda tenho e me sento para pensar na merda que estou fazendo.
Depois que ele disse que nosso beijo foi um erro, e realmente foi, eu cheguei à conclusão de
que o melhor seria realmente não me envolver com ele. Eu passei o sábado inteiro descansando e
no domingo fui ver os apartamentos com a Lívia. Nós escolhemos um deles, mas o dono precisa de
15 dias para se mudar.
Acho que me encantei pelo Roberto outra vez durante sua apresentação surpresa. Ele estava
tão seguro e a apresentação foi tão incrível que meu coração amoleceu um pouquinho.
Durante a comemoração, eu bebi um pouco demais, é verdade, mas foi para ter coragem de
falar com ele. Até que eu o vi conversando muito intimamente com uma mulher. Resolvi me afastar e
me sentei no sofá próximo a nossa sala. Aí uma coisa leva a outra... Eu já estava bêbada mesmo,
Jorge pediu para conversar comigo e eu acabei deixando ele achar que nós poderíamos ter algo
a mais. Até que o Roberto chegou.
Eu ainda tentei me afastar, mas quando ele começou a me dar aqueles beijos molhados no
pescoço, eu parei de responder por mim mesma e decidi que agora era a hora e que seria com
ele.
Doeu? Claro que sim, mas não tanto quanto eu achei que seria. Acho que por que eu estava
muito excitada e por isso estava pronta para recebê-lo. Eu só não contava que fosse sangrar ao
ponto de ele perceber.
Olho para o meu relógio e vejo que estou dois minutos atrasada. No elevador, passo uma
mensagem para a Lívia.

Disse para minha mãe que vou dormir na sua casa. Não vou para a faculdade hoje. Te ligo
amanhã.

Nem um minuto depois, ela me responde.


Divirta-se!

Chego ao estacionamento e vejo Roberto encostado em seu carro. Eu me aproximo, ele me


abraça e beija o topo da minha cabeça.
- Conseguiu?
- Sim.
- Um dia você vai se arrepender de ter feito isso comigo, Ana. Mas até lá, eu vou fazer você
gostar de mim de verdade.
- Nossa... Como você é brega.
- Nossa – ele diz revirando os olhos e fazendo uma voz engraçada –... como você é
insensível.
- Não, Roberto. Eu sou muito sensível, tanto que ainda estou sentindo seu pau dentro de mim.
Roberto me solta.
- Vamos logo antes que eu te foda aqui no estacionamento mesmo.
Ele entra no carro e eu dou uma risada. Dou a volta e entro também. Roberto sai da
garagem do prédio e nós entramos no trânsito do centro do Rio.
- Agora é sério, Ana. Por que você não me contou?
- Se eu tivesse te contado, nós teríamos feito?
- Claro que não.
- Aí está a sua resposta.
- Mas por que eu?
- Eu já falei. Porque aconteceu.
- Você sabe como acabar com o ego de um homem, não é?
- Sim, é isso que eles nos ensinam no primeiro semestre da faculdade.
Ele ri, segura minha mão e assim nós passamos os próximos 45 minutos até a garagem do
apartamento dele. Nós subimos até o andar dele e no corredor há apenas uma porta que ele abre
e estende o braço para que eu entre primeiro.
A sala é enorme e assim que ele acende as luzes, eu vejo que a decoração é toda em vidro
com peças brancas, como os sofás, por exemplo.
- Você quer comer alguma coisa? Beber? Vinho?
- Sim, obrigada.
Eu começo a ficar nervosa sem saber onde colocar minhas mãos.
- Posso ir ao banheiro?
Roberto dá uma gargalhada gostosa.
- Eu não acredito que você pediu para usar o banheiro como se estivesse na escola! Vamos.
Eu vou te levar para o meu quarto.
Nós subimos as escadas e como tudo está apagado, eu não sei exatamente onde estamos
indo até que ele abre uma porta e acende a luz.
A decoração do quarto segue a mesma linha da sala e a enorme cama branca se destaca.
- O banheiro é ali – ele aponta para uma porta. Há toalhas limpas dentro das gavetas. Pode
usar o que quiser.
- Obrigada.
- Eu vou buscar o vinho e já volto – eu apenas sorrio. – Estou feliz que você tenha vindo.
- Eu também.
Roberto sai e eu vou para o banheiro que tem uma enorme jacuzzi branca. Há uma porta e
eu não me contenho. Abro-a e vejo um closet enorme e completamente cheio.
Pego uma toalha, tomo um banho rápido e depois de me secar, não tenho vontade de
colocar as roupas do trabalho. Abro mais uma vez o closet, pego uma das camisas brancas do
Roberto e visto-a sem nada por baixo. Volto para o quarto e Roberto está sentado em uma das
poltronas com sua taça nas mãos. Ele sorri quando me vê.
- Venha – ele estende a mão para mim e eu me sento em seu colo.
Roberto me beija com calma até eu me derreter completamente por ele.
- Eu vou tomar um banho e já volto, está bem?
- Sim.
Ele se levanta e eu me sento em seu lugar. Bebo um pouco do vinho rosé que está em sua
taça para ver se eu gosto antes de colocar na minha.
“Eu não acredito que estou aqui!”
Antes que eu crie coragem para ir embora, Roberto sai do banheiro com uma toalha presa
em sua cintura e eu vejo sua tatuagem no braço. Na verdade, é uma tatuagem tribal que começa
no braço, passa pelo ombro e vai para as costas.
Sem falar nada, ele me pega no colo, me deita na cama e se deita ao meu lado.
- Você está bem?
- Sim.
- Está doendo?
- O quê?
- Como o que, Ana?
- Ah... Não... Está tudo normal.
Roberto sorri e me beija enquanto faz carinho em minha cabeça. Ele fica de joelhos na cama
e abre os botões da camisa que estou vestindo até deixar meu corpo completamente exposto.
Roberto beija o espaço entre meus seios e acaricia meus mamilos com as mãos. Sinto minha
respiração falhar. Roberto faz uma trilha de beijos pela minha barriga até chegar ao meu sexo.
Ele dá um beijo estalado em minha vulva antes de separar os lábios e passar a língua pelo meu
clitóris.
- Alguém já fez isso em você?
- Sim – respondo ofegante.
- Você gosta?
- Sim.
Roberto se afasta um pouco, pega um travesseiro e coloca debaixo do meu corpo. Ele coloca
meus pés sobre a cama e afasta bem as minhas pernas. Roberto volta a lamber meu clitóris e eu
vou ficando cada vez mais excitada. Quando ele o coloca entre os lábios e o suga, eu libero a
tensão que estava presa dentro de mim desde o episódio no banheiro.
Roberto beija minha coxa até que minha respiração volte ao normal. Depois ele se deita ao
meu lado e vira meu corpo de costas para ele. Roberto levanta uma das minhas pernas e eu sinto
seu membro duro encostando em minha entrada.
- Você quer mesmo fazer isso? – ele pergunta.
- Quero.
Roberto entra em mim lentamente e eu sinto meu corpo se expandindo mais uma vez. Agora,
dói menos do que a primeira vez, mas ainda assim é um pouco incômodo.
Ouço-o gemendo e viro a cabeça para trás. Vejo Roberto com os olhos fechados e
mordendo levemente o lábio inferior. Sinto meu ventre se contorcendo de prazer ao ver aquilo.
- O que você fez? – ele arregala os olhos. – Faça outra vez.
- Eu não fiz nada.
- Fez sim... Foi muito gostoso.
“Entendi!”
Penso no dia em que o vi se masturbando no escritório e tenho a mesma sensação.
- Isso! – ele aperta meu quadril. – Faz de novo, Ana.
- Eu não sei fazer.
- Mas você fez duas vezes.
- Foi involuntário. Eu estava pensando em... outras coisas.
- Pensa de novo, então.
Lembro-me de quando ele ejaculou sobre o lenço e da sensação de tê-lo fazendo o mesmo
dentro de mim no banheiro.
- Caralho! Assim eu vou gozar – ele para de se mexer e respira fundo durante algum tempo.
– No que você pensou?
- Em coisas que me deixam excitada.
Roberto sorri, coloca a mão entre as minhas pernas e acaricia a ponta do meu clitóris.
- Eu vou te comer todos os dias até você aprender a gozar só com o meu pau dentro de
você, Ana. E eu aposto que não vai demorar, mas até lá eu vou te ajudar. Abra mais a perna.
Faço o que ele pede e seus dedos tocam todas as partes expostas do meu clitóris. Ele
começa a fazer movimentos circulares com a mão e entra e sai do meu corpo ao mesmo tempo.
- Sua boceta é muito gostosa... Vai, Ana, aperta meu pau outra vez.
Só de ouvi-lo falando assim já sinto meu ventre se contrair.
- Isso! De novo.
Tento, mas não consigo.
- Fale mais, Roberto.
- Ah, que maravilha. Minha garota gosta de ouvir sacanagem... Era tudo o que eu queria.
Mais tarde, eu vou te colocar de joelhos no chão, você vai chupar o meu pau e eu vou gozar na
sua boca para você sentir o meu gosto.
Roberto geme.
- E o que mais? – pergunto.
- Depois eu vou colocar dois dedos na sua boceta e vou te chupar até você gozar para mim
de novo. Mas dessa vez eu não vou parar, Ana. Você vai gozar duas, três, quatro vezes seguidas
em minha língua.
Meu corpo se quebra em milhares de partículas de prazer. Sinto Roberto metendo em mim
com mais força e isso dói um pouco.
- Caralho! Você é muito gostosa!
Roberto tira a mão do meio das minhas pernas e a coloca em minha boca. Eu lambo seus
dedos e ele goza falando coisas sem sentido.
Não sei quanto tempo ficamos na mesma posição, mas eu começo a pegar no sono.
- Não, Ana. Não dorme – ele me sacode de leve.
- Eu estou cansada.
- Mas eu quero ficar com você.
- Eu estou aqui.
É a última coisa que eu digo antes de adormecer.

Acordo com o barulho do meu estômago roncando e dou de cara com o Roberto olhando
para mim.
- Oi – ele diz e eu sorrio.
- Que horas tem?
- Pouco mais de meia-noite – eu me sento e vejo que ainda estou com a camisa aberta no
corpo. – Você está com fome?
- Muita.
- Vou pegar alguma coisa lá embaixo. Ou você prefere descer?
- Prefiro ficar aqui.
- Está bem.
Roberto se levanta e sai do quarto pelado.
Eu fecho os botões da camisa e pego o controle da televisão que está na mesinha de
cabeceira. Quando ligo, mal posso conter uma gargalhada.
“Filme pornô!”
Na verdade é um daqueles canais pagos que passam filmes adultos de todos os tipos, o dia
inteiro. Eu fico assistindo até Roberto abrir a porta e dizer:
- Não é isso que você está pensando.
Eu dou outra gargalhada.
- E no que eu estou pensando, Roberto? Isso é perfeitamente normal. Todo mundo assiste.
- Você saiu de que planeta, garota?
Ele coloca uma bandeja com dois pratos grandes com um sanduíche em cada um, um pires
com um comprimido e um copo com água sobre a cama, depois ele dá um beijinho em meus lábios.
- Não entendi.
- Qualquer outra mulher estaria fazendo um escândalo por isso. Sem contar que elas nunca
diriam que foi por acaso que elas perderam a virgindade com alguém.
- Mas foi por acaso, poderia...
- Poderia ter sido com qualquer um – ele me interrompe. – Eu já sei.
Roberto pega nossas taças, a garrafa de vinho e as traz para cama.
- O sanduíche é de salmão. Você gosta?
- Sim.
- E o comprimido é a pílula do dia seguinte. Pedi para a farmácia entregar. Coma um pouco
e tome depois.
- Obrigada.
Dou uma mordida no sanduíche e meu estômago ronca mais alto ainda.
- Ana... Eu quero continuar saindo com você, mas isso vai ser complicado.
- Por quê?
- Porque ninguém pode saber. Nós não podemos ser vistos juntos fora da empresa.
- Por mim, tudo bem.
- Mas eu não quero que você saia com mais ninguém.
- Por que não?
- Porque... eu meio que gosto de você.
- E você também não vai sair com mais ninguém?
- Não.
- Está bem.
- Só isso?
- Sim, o que mais você quer?
Roberto levanta o lençol e coloca a mão entre as minhas pernas.
- O que você está fazendo? – digo de boca cheia.
- Verificando se você tem mesmo uma pepeca. Você age feito um menino.
- Pepeca? Pelo amor de Deus!
Roberto ri e dá uma enorme mordida em seu sanduíche. Depois de comermos, eu o convenço
a fazer sexo comigo imitando as posições do filme, o que é muito divertido. Depois, nós dormimos
juntos e é a primeira vez que eu durmo ao lado de um homem sem ser o meu irmão.
Na manhã seguinte, Roberto me acorda. Ele já está vestido e tem dois cabides, um em cada
mão.
- Qual dos dois você prefere?
Um tem um vestido verde e o outro, exatamente o mesmo modelo em vermelho.
- O verde. Mas de onde você tirou isso?
- Pedi para a loja que tem na outra esquina trazer aqui. Você não pode aparecer com a
mesma roupa de ontem. Vamos! Arrume-se ou você vai chegar atrasada e eu vou ser obrigado a
te advertir na frente de todo mundo.
- Está bem.
Eu me levanto, pego o vestido da mão dele e vou para o banheiro. Enquanto tomo banho,
penso em como foi divertido passar a noite com ele. Ele me tratou com carinho e respeito, coisas
que eu nem imaginava que fizessem o perfil dele.
Faço um rabo de cavalo, coloco minhas lentes e saio pronta do banheiro. Roberto está
sentado na cama me esperando.
- Vamos, eu posso me maquiar no caminho.
Enquanto Roberto dirige para a empresa, eu ligo para minha mãe para avisar que estou
bem e que estou indo para o trabalho, além de mandar uma mensagem para Lívia para ela saber
que eu estou viva.
- Eu vou te deixar um quarteirão antes da empresa, pode ser? – Roberto pergunta.
- Pode.
Assim que ele para o carro no sinal, eu desço apressada e nem me despeço dele. Vou
caminhando bem devagar para a empresa para dar tempo de ele estacionar e chegar a nossa
sala. Assim que entro, encontro Isabel na recepção.
- Poxa... Você sumiu ontem. Eu queria te apresentar ao meu namorado que veio me buscar,
mas não te achei em canto nenhum.
- Eu não estava me sentindo bem e fui embora.
- Está bem, fica para a próxima.
- E agora, que trabalho faremos?
- Você vai trabalhar no resto do projeto com o Roberto, já que ele ficou com a conta. Assim
que o Carlos Eduardo tiver outro, você vai trabalhar conosco também.
- E leva quanto tempo para ele pegar outro projeto?
- Depende... Sempre que tem algo que chama sua atenção, ele pega.
- Você me avisa?
- Claro!
- Me deixe ir para minha sala e ver se meu chefe precisa de alguma coisa.
- Tenha um bom dia!
- Você também, Isabel.
Vou até a sala e bato na porta.
- Pode entrar! – Roberto grita.
- Bom dia, senhor Collins.
- Senhorita Azevedo – ele diz, mas não olha para mim. Eu entro e fecho a porta.
- A Isabel disse que eu vou trabalhar no projeto com você a partir de agora. Tem algo que
eu possa fazer?
- No momento, não. Você pode ir para a sua sala e quando eu precisar, eu te chamo.
Ele continua olhando para o computador. Eu fico parada durante algum tempo para ver se
ele vai falar comigo direito, mas ele não diz mais nada, então eu vou para minha sala.
“Só pode ser maluco...”
Um pouco antes da hora do almoço, ele me chama e eu vou até a sala dele.
- Sente-se, por favor.
Eu me dirijo até o sofá e abro minha agenda. Roberto começa a me passar os compromissos
dele na empresa. Alguns ele tem que ir sozinho, outros eu tenho que ir junto. Eu anoto tudo e no
final ele diz:
- O último compromisso do mês, é um evento de caridade. Nós temos uma mesa com oito
lugares. Eu vou usar três deles. Pensei que talvez você queira convidar as suas amigas. Nós só não
teremos espaço para os acompanhantes delas.
- Está bem. Eu vou falar com elas. Obrigada.
- Agora, meus compromissos pessoais – ele me passa uma infinidade de partidas de futebol
e algumas consultas com médicos. – O último é a ginecologista na quarta-feira às 9 horas.
- Ginecologista? – pergunto espantada.
- Para você, Ana – ele responde sorrindo e é a primeira vez que eu reconheço o Roberto
que passou a noite comigo, mas ele logo desaparece. – Você pode vir para o trabalho depois da
consulta, mas não se esqueça de trazer um atestado para justificar o seu atraso.
- Está bem.
- Você quer que eu vá com você?
- Claro que não.
- E o que você vai fazer lá?
- O que nós combinamos ontem à noite.
- Isso... Agora vamos aos compromissos do projeto.
Roberto me dá milhares de tarefas tanto dentro quanto fora da empresa para nós darmos
continuidade ao projeto do energético.
- E acho que é isso. Você tem alguma dúvida?
- Por enquanto, não.
- Ótimo! Eu vou sair para almoçar e não tenho hora para voltar. Se você precisar de alguma
coisa, peça ajuda à Isabel.
Fico em silêncio olhando para ele sem conseguir entender por que ele está fazendo isso, já
que estamos a sós.
Quando ele está prestes a abrir a porta e digo um tom acima do normal:
- Roberto?
Ele olha para mim e responde:
- Sim?
- Nada... Bom almoço.
Roberto
Confesso que perco a cabeça quando vejo o controle da minha vida descendo pelo ralo
junto com aquele sangue e sou bastante grosseiro quando exijo que Ana me conte a verdade, mas
me surpreendo quando ela me diz que aquilo poderia ter acontecido com qualquer outro.
Olho para ela e a vejo segurando suas roupas junto ao peito como quem está a ponto de se
arrepender pelo o que acabou de fazer.
“Você é um idiota, Roberto!”
Percebo que ao invés de estar tornando esse momento especial para ela, eu o estou
arruinando. Tento melhorar o clima entre nós, mas perco o controle outra vez quando ela me diz
que não está tomando nenhum anticoncepcional.
- Puta que pariu, Ana! Nós precisamos ir a uma farmácia imediatamente.
Ela me dá outro choque de realidade quando diz mais uma vez que não precisa de mim e
da minha ajuda. Isso me faz ficar um pouco aliviado e o desejo de fazer isso da forma correta
volta a ser maior do que o de sair correndo dali.
Consigo convencê-la a passar a noite comigo e nós nos encontramos no estacionamento antes
de seguirmos para minha casa. Depois de tomarmos banho, eu a levo para minha cama e tento
fazer tudo com calma, como se essa fosse realmente a primeira vez, mas descubro que Ana gosta
de ouvir sacanagem e não consigo me controlar.
“Isso faz de mim o homem mais feliz do mundo!”
Depois de saciados, vejo que ela começa a pegar no sono. Eu peço para ela não dormir.
Quero conhecê-la melhor, saber mais sobre a sua vida ou só ficar abraçado olhando para ela,
mas ninguém consegue controlar o sono, então ela acaba dormindo.
Algum tempo depois, eu fico entediado e resolvo comer alguma coisa. Vou até a cozinha e
vejo que a Rute deixou sanduíches prontos. Como um deles enquanto telefono para a farmácia
para eles entregarem a pílula que Ana precisa tomar aqui em casa. Logo depois, ligo para o
Cadu.
- Já estava dormindo? – pergunto.
- Não, mas já estou deitado. O que houve?
- Acho que eu fiz a segunda maior merda da minha vida.
- Você está preso? Fala logo onde é que eu vou te buscar.
- Não, cara, eu estou em casa... Com a Ana.
- E quem é Ana?
- Ana Luiza, minha assistente.
- Você está de brincadeira?
- Eu ainda não terminei...
- E como isso pode ficar pior?
- Ela era virgem.
- Caralho! De novo?
- Eu não sabia!
- Sinceramente, como você pode não saber isso no instante que você enfia o pau em alguém?
Aí, seu pai te chama de moleque e você fica ofendido! Porra, Roberto!
- Bem... Agora já era. Não foi para isso que eu te liguei. Eu quero continuar com ela.
- Eu não vou nem te responder. Você sabe muito bem por que essa regra existe.
- Sim, por sua culpa! E é por isso que você vai ter que me ajudar.
- E eu posso saber como isso é minha culpa?
- Se a sua mãe não tivesse engravidado de você, seu pai não teria inventado essa merda de
regra.
- Não... Não foi por isso. Foi para evitar processos por assédio sexual, seu imbecil!
- Essa foi a desculpa que ele inventou. Mas, pouco me importa. Eu quero continuar com ela.
- Mas por quê? Ela é uma menina, Roberto.
- Não sei... Ela é... diferente.
Ele bufa.
- Tá, foda-se... Eu não tenho tempo para isso. O que você quer que eu faça?
- Quero que você me diga se alguém desconfiar, principalmente meu pai. E se nós estivermos
dando bandeira também.
- Está bem. Farei isso. Boa noite, Roberto.
- Ei! Eu ainda estou falando com...
E mais uma vez ele desliga o telefone na minha cara.
“Babaca!”
Enquanto eu fico olhando para o teto da cozinha pensando no que fazer, a campainha toca.
Eu pego a encomenda da farmácia, deixo na cozinha, volto para o quarto e me deito outra vez ao
lado de Ana. Ela realmente é uma menina. Nossos oito anos de diferença não são muita coisa, mas
certamente eu já vivi muito mais do que ela. Escuto um barulho esquisito e levo algum tempo até
perceber que é o estômago dela roncando, mas ela acorda logo depois. Eu pergunto se ela está
com fome e como ela diz que sim, desço para pegar um sanduíche para ela e aproveito para
pegar outro para mim.
Quando volto para o quarto e vejo que a televisão está ligada, não preciso nem olhar para
a tela para saber o que está passando, afinal, isso é basicamente o que eu assisto todos os dias no
quarto, faz parte do meu ritual matinal.
“Puta merda!”
Ana me surpreende ao não fazer um escândalo e me surpreende ainda mais quando aceita
minha proposta insana de que ninguém pode saber do nosso envolvimento, mas que eu também
não quero que ela se envolva com mais ninguém.
Enquanto nós comemos, Ana assiste ao filme como se fosse outro qualquer.
- Você quer trocar de canal?
- Não. Tudo bem.
- Você assiste a essas coisas em casa?
- Claro que não. Eu moro com a minha mãe.
- Mas você já assistiu antes.
- Já.
- Com quem?
- Roberto... – ela me dá um olhar de reprovação.
- Está bem... Desculpe.
- Sabe o que nós podíamos fazer? Imitar as cenas do filme.
Ela diz empolgada enquanto termina seu lanche.
- Outro dia.
- Por que outro dia? Eu estou aqui agora.
- Eu sei, mas esses filmes... É... essas posições podem te machucar. Hoje não é o melhor dia
para isso.
Ela fica de joelhos na cama e tira a camisa pela cabeça.
- Para! Vai dizer que você não quer que – ela olha para a TV –... eu sente no seu colo e
esfregue meus peitos assim na sua cara?
Ela faz exatamente isso e meu pau começa a ficar duro outra vez.
- É claro que quero, mas esses filmes são muito...
Chupo um de seus mamilos e ela geme.
- Muito o quê?
- Agressivos.
- Se eu não estivesse sentindo seu pinto me cutucando, eu teria que verificar para ter certeza
de que você não é menina.
- Pinto? Pelo amor de Deus! – imito o jeito como ela disse mais cedo.
- Por favor, Roberto – ela olha para a TV outra vez e imita a posição que a atriz está
fazendo. – Você não quer me comer de quatro daquele jeito?
“Eu só posso estar sonhando...”
Fico de joelhos atrás dela e seguro seu quadril.
- Tem certeza?
- Tenho.
Eu a penetro lentamente e me perco de prazer dentro dela, que está ainda mais apertada
do que antes.
- Roberto?
- Oi.
- Você não está fazendo igual.
Olho para a TV e vejo que o ator está beliscando os mamilos da moça. Eu faço igual e sinto
sua boceta me apertando.
- No que você está pensando?
- Em nada... Estou assistindo... Vai. Continua.
Eu até tento acompanhar o filme, mas não consigo me concentrar e estou a ponto de gozar.
- Chega, Ana.
Saio de dentro dela e ela se senta na cama.
- Por quê?
- Porque eu vou te machucar, porra.
Eu me sento encostado na cabeceira da cama e continuo:
- Vem cá. Sente-se aqui.
Ana se aproxima de mim engatinhando e eu a coloco sentada no meu colo.
- Eu preciso fazer você gozar, Ana. E daquele jeito eu não vou conseguir...
Ana segura meu membro e o encaixa dentro dela.
- E nessa posição você vai conseguir? – ela pergunta.
- Nessa posição, você vai conseguir sozinha. Você só vai precisar parar quando eu pedir.
- Tudo bem.
Ela começa a movimentar o quadril para cima e para baixo. Eu a abraço e lambo um de
seus seios antes de começar a chupar o mamilo. Aos poucos, Ana aumenta o ritmo e eu tenho que
pedir para ela parar duas vezes.
- Roberto! – ela grita, joga a cabeça para trás e eu entendo que ela conseguiu.
Seguro seu quadril e a penetro com força enquanto me entrego ao prazer junto com ela.
Ana apoia a cabeça em meu ombro.
- Você está bem?
- Sim... Foi incrível... Obrigada.
Dou um beijo em sua testa e digo aliviado:
- De nada.

No caminho do trabalho no dia seguinte, não sei como agir. Nós ficamos em silêncio durante
todo o percurso e eu só abro a boca para perguntar se posso deixá-la antes de chegarmos à
empresa para que ninguém nos veja. Ana parece não se importar.
O vestido verde que o entregador trouxe ficou encantador nela e combinou perfeitamente
com seus olhos. Eu não sei o que fazer, mas ninguém pode descobrir o que aconteceu. Resolvo
então, tratá-la como eu trataria qualquer outro assistente. Enquanto separo todos os meus
compromissos para passar para ela, tenho uma ideia que vai facilitar a nossa vida. Ligo para o
Cadu:
- Me passa o número da sua ginecologista?
- E desde quando eu vou à ginecologista, Roberto?
- Da ginecologista que você leva as mulheres com quem você sai... Você entendeu.
- Para quê? Não... Deixa para lá... Eu prefiro não saber. Vou te passar o contato por
mensagem.
- Obrigado.
Assim que recebo a mensagem, ligo para o consultório e consigo uma vaga para Ana.
Ontem à noite, depois que ela tomou a pílula do dia seguinte, nós combinamos que ela
começaria a tomar o anticoncepcional indicado por um médico e que nós começaríamos o mais
rápido o possível. Ana me disse que não tem um médico e ficou de procurar um.
Depois de passar todas as novas atividades que Ana vai fazer e de verificar se ela anotou
tudo, saio para almoçar sozinho. Não tenho vontade de voltar ao escritório e continuar fingindo
que nada aconteceu entre nós, então decido ir continuar meu trabalho em casa, mas no fim do dia,
me arrependo de não ter ficado lá olhando para os olhos verdes dela.
Na manhã seguinte, saio mais cedo, pois quero encontrá-la logo e quando chego aos
elevadores, a vejo parada esperando um deles chegar.
- Bom dia, linda – digo baixinho.
- Ai que susto! – ela coloca a mão sobre os seios e eu não consigo deixar de pensar neles
em minha boca. – Bom dia, senhor Collins.
O elevador chega e eu entro, mas Ana continua parada.
- Vamos?
- Eu vou esperar o próximo, obrigada.
- Pare de palhaçada, Ana. Nós nos encontramos por acaso aqui embaixo.
- Mas as pessoas do nosso andar não sabem disso. Eu vou esperar o próximo.
Minha vontade é de puxá-la para dentro do elevador e fazê-la subir comigo, mas depois de
expressar a minha insatisfação com um olhar bem feio para ela, aperto o botão do nosso andar.
“Talvez ela esteja certa.”
Quinze minutos se passam e nada da Ana aparecer. Ligo para seu celular, mas ela não
atende. Ligo para o celular da empresa e ela diz:
- Pois não, senhor Collins?
- Onde você está?
- Trabalhando com a Isabel. O senhor precisa de alguma coisa?
- Preciso... Preciso que você me diga a cor do sutiã que está usando.
- É... eu... Eu não entendi.
- Ele combina com a sua calcinha?
- Senhor Collins, eu estou na sala do senhor Marcondes. O senhor realmente precisa dessa
informação agora?
- Preciso.
- Vermelho... os dois.
- Ah, Ana... Você sabe o que estou fazendo, não sabe? Você quer vir aqui e assistir? Dessa
vez, eu deixo você participar. Você pode lamber a cabeça do meu pau enquanto eu...
Ela desliga o telefone e eu sinto dor no estômago de tanto rir. Abro meu laptop e começo a
trabalhar. Ana não aparece o dia inteiro. No fim da tarde, vou até a sala do Cadu, mas só
encontro a Isabel.
- Onde está a Ana?
- Ela sai mais cedo às segundas e quartas.
- Por quê?
- Porque ela faz aulas de Inglês pela firma.
- No mesmo lugar onde você fazia?
- Sim.
- E ela está lá agora?
- Provavelmente... Mas a aula já deve estar acabando e de lá, ela vai para a faculdade. Eu
posso te ajudar com alguma coisa?
- Não. Obrigado, Isabel.
Pego minha carteira e meu celular e vou para a porta do prédio onde fica o curso de Inglês.
Paro em um quiosque que vende flores quase ao lado da porta e peço para a moça embrulhar
uma rosa. Enquanto ela prepara a flor, vejo Ana saindo do prédio junto com um homem que eu não
conheço. Eles conversam durante alguns minutos e se despedem com um beijo bastante demorado
no rosto. O homem volta para o prédio e Ana vai embora. Eu vou correndo atrás dele.
Subo no mesmo elevador e nós descemos no andar do curso. Ele para na recepção e diz:
- Fernanda, você pode ligar para a sala dos professores quando meu próximo aluno
chegar?
- Claro.
Ele se afasta e eu me aproximo da secretária.
- Boa tarde, eu poderia falar com o coordenador ou o responsável pelo curso?
- Sim. Qual é o seu nome?
- Roberto Collins, da Collins & Marcondes.
- Só um minuto, senhor Collins.
Ela se levanta e desaparece por uma porta. Quando ela volta, uma mulher aparece junto
com ela e diz:
- Acompanhe-me, por favor, senhor Collins, eu me chamo Amanda. O senhor gostaria de
beber alguma coisa... um café?
- Não, obrigado. Eu estou com pressa.
Ela me leva até uma sala e se senta.
- Em que posso ajudá-lo?
- Você sabe quem são os professores de todos os meus funcionários que estudam aqui?
- Sim.
- Quem é o professor da senhorita Ana Luiza Azevedo?
- É o Pedro.
- Ótimo, eu gostaria que ele fosse substituído.
- Eu posso perguntar o motivo?
- Não, não pode.
Ela fica de boca aberta olhando para mim.
- Claro. E quem o senhor gostaria que fosse o novo professor?
- Eu gostaria que fosse uma professora. Qualquer uma que esteja disponível.
- Está bem. Eu vou providenciar.
- Obrigado, era apenas isso. Tenha um bom final de tarde.
- Obrigada. É um prazer finalmente conhecê-lo, senhor.
Eu apenas sorrio e saio da sala dela.
Volto para casa levemente irritado e prometo a mim mesmo fazê-la ficar tão irritada
amanhã quanto eu estou agora.
Assim que chego ao escritório no dia seguinte, ligo para a sala da Isabel.
- A Ana está aí?
- Sim. Quer falar com ela?
- Não. Peça que ela venha até a minha sala agora.
Fico parado atrás da porta e assim que ela entra me chamando, eu fecho a porta e encosto
Ana sobre ela com meus braços a sua volta para ela não ter como fugir.
- O que você está fazendo? Alguém pode vir nos procurar – ela diz.
Encosto meu nariz em seu pescoço e beijo sua mandíbula.
- Roberto, pare com isso.
Aperto sua bunda fazendo seu quadril encostar no meu.
- Você está saindo com seu professor?
- O quê? Que professor? Do que você está falando?
- Do seu professor de Inglês. Eu vi vocês dois se despedindo ontem.
Ela tenta me empurrar.
- Eu não te devo satisfações da minha vida.
Beijo seus lábios com ferocidade.
- Ana, eu não quero dividir você com ninguém.
Beijo-a outra vez e ela vai amolecendo em meus braços.
- Você está saindo com ele?
Ela segura meu rosto com as duas mãos e diz suavemente:
- Claro que não. Nós combinamos que não sairíamos com mais ninguém.
Sorrio para ela com a mesma delicadeza que ela olha para mim. Ana fecha os olhos e puxa
meu rosto para um beijo, mas eu me afasto.
- Muito obrigado pela informação, senhorita Azevedo. Pode voltar ao seu trabalho.
Ela continua encostada na porta, ofegante, e eu me sento em minha cadeira.
- Você não fez isso... – eu sorrio para ela. – Você me paga, Roberto!
Ela abre a porta e eu digo:
- Passe no banheiro antes de voltar para a sala da Isabel. Seu batom está todo borrado.
- Miserável!
Ela diz baixinho antes de sair e bater a porta. Ana não volta mais até eu sair para o almoço
e depois disso, eu volto para casa. Decido não ir ao trabalho na sexta para ver se ela esquece o
que eu fiz e quando dá o horário que ela sai da faculdade, eu ligo para ela mais de dez vezes,
mas ela não atende.
Decido ligar para o Cadu.
- Eu estou ocupado, Roberto.
- Fazendo o quê? Posso passar na sua casa?
- Não.
- Por que não?
- Porque a minha submissa está aqui.
- E daí? É uma ótima oportunidade para eu conhecê-la.
- Te vejo amanhã de manhã na praia.
Cadu desliga e eu fico sem saber o que fazer.
“Será que eu devo ir procurá-la na Lapa? Mas e se ela não estiver lá? Será que eu posso ir
até a casa dela?”
Deixo todas essas ideias de lado e ligo para o Marcos, um amigo meu.
- Qual é a boa de hoje, Marquinhos?
- Fala, Roberto! Quanto tempo! Achei que só fosse te ver na festa da empresa.
- Pois é... Eu estou livre hoje e o Cadu está espancando alguém que eu não posso conhecer.
Ele ri.
- Você e seus exageros, Roberto. Eu estou com um pessoal aqui na Guanabara, mas depois
nós vamos para uma festa.
- Swing?
- Sempre, meu caro.
- Bom... Eu vou aí encontrar vocês e você me conta mais sobre essa festa.
- Claro! Estou te esperando.
Pego meu carro e vou para uma das pizzarias mais tradicionais do Rio de Janeiro. Cadu e
eu conhecemos o Marcos através da empresa. Ele tem uma rede famosa de hotéis e nós fazemos
todas as propagandas dele. Depois de alguns anos de trabalho, nós acabamos nos tornando
amigos.
Marcos me apresenta a seus amigos e eu janto com eles enquanto nós tomamos um chopp.
- Mas me fala da festa – digo.
- É na casa de swing que eu sempre vou. Você vai gostar.
- E qualquer um pode entrar?
- Se você pagar a entrada, sim.
- Então acho que não vou... Muita gente desconhecida... Não é muito a minha praia.
Eu continuo com eles até eles decidirem que está na hora de ir para a tal festa, depois volto
para minha casa e assisto TV até pegar no sono.
No dia seguinte, acordo com o Cadu me ligando.
- Levanta preguiçoso. Eu já estou te esperando.
- Você já correu e fez aqueles milhares de exercícios que você faz?
- Já.
- Está bem... Estou indo.
Levanto mal-humorado, visto minha sunga, meus shorts, meus óculos de sol, pego meu celular e
saio de casa.
“Um banho de mar certamente vai me animar.”
No caminho, ligo para Ana algumas vezes, tanto no celular da empresa, quanto no dela, mas
ela não atende. Encontro meu amigo, deixo minhas coisas na areia ao seu lado, vou direto para o
mar e lá tenho uma ideia. Assim que volto, ele pergunta:
- Acordou?
- Sim. Me empresta seu telefone?
- Claro.
Cadu me entrega e eu ligo para o celular da Ana.
- Alô?
“Miserável!”
- Por que você não atendeu quando eu liguei do meu número?
- O quê? Quem está falando?
- É o Roberto. Onde você está? Eu quero te ver.
- Se eu quisesse que você tivesse essa informação, eu teria atendido ao seu número, você
não acha?
- Por que você está fazendo isso? Tem alguém da empresa perto de você?
- Ah, Roberto! Faça-me o favor! É claro que não. Eu simplesmente não quero te encontrar.
- E por que não?
Escuto uma gritaria e outra voz fala comigo ao telefone.
- Nós estamos na praia. É a Lívia quem está falando.
- Oi, Lívia. Eu também estou na praia. Onde vocês estão mais ou menos? Estão só vocês duas?
- Sim. Estamos no começo do Posto 12, perto do mar.
- Certo, vou procurar. Obrigado.
Entrego o celular de volta para o meu amigo.
- O que houve?
- A Ana não atendeu meu número.
- Roberto...
- Depois, Cadu. Ajude-me a procurá-la. Ela está perto do mar em algum lugar aqui. Ela está
com uma amiga.
- Está bem.
Ele se levanta e nós não demoramos a encontrá-las.
- Ali – Cadu diz.
- Você quer vir comigo? Quer conhecer a amiga dela?
- Não, obrigado. Quando você terminar essa palhaçada você sabe onde me encontrar.
Eu me aproximo e as duas ainda estão cochichando algo.
- Ana?
- O que você quer, Roberto? Fale logo de uma vez.
Ela está linda em um biquíni branco de lacinho.
- Desde quando você é mal educada desse jeito? – a amiga dela pergunta.
- Cale a boca, Lívia.
- Oi, Roberto – a amiga diz. – Como você está?
- Eu estou bem e você?
- Estou ótima! Bem que a Ana me disse que a sua tatuagem era legal! Posso ver a parte de
trás?
- Lívia! – Ana grita, mas a menina parece não ligar.
Eu me viro de costas para elas.
- Uau! Doeu?
- Um pouco.
- Eu quero muito fazer uma tatuagem, mas ainda não escolhi o desenho.
- Você precisa pensar bem para não se arrepender depois – digo.
- Eu sei. Uma das nossas amigas fez uma há alguns anos.
Ana fica de braços cruzados e cara feia durante a nossa conversa.
- Qual amiga?
- A Clara. Aquela que tem o namorado mal educado.
- Ah, sim. E onde você pretende fazer?
- Eu não decidi ainda. Talvez na costela ou na perna. Vai depender do desenho.
- Dizem que na costela dói muito.
- Eu também li isso em algum lugar. Em que estúdio você fez a sua?
- Foi aqui no Leblon mesmo, mas não lembro o nome. Eu tenho o cartão. Se você quiser, eu
posso dar para a Ana e ela entrega para você. O que você acha?
- Acho ótimo! Ana? Você se importa?
- Agora vocês dois estão me vendo aqui?
- Nossa! Quanto mau humor! – a amiga dela diz revirando os olhos. – Olha, Roberto, foi um
prazer te rever. Eu vou dar um mergulho e deixar vocês sozinhos. É muita tensão para um sábado
de manhã.
- Foi um prazer revê-la também.
Lívia se afasta e Ana diz:
- O que você quer, Roberto?
- Conversar com você.
- Fale de uma vez.
- Aqui não. No meu apartamento.
Capítulo 5

“Caia na realidade, fada! Olha bem na minha cara e confessa que gostou do meu papo bom, do meu
jeito são, do meu sarro, do meu som...”
Mulher sem razão – Adriana Calcanhotto
Ana
“Como se não bastasse o seu comportamento ridículo durante a semana, agora essa!”
Desde sexta-feira, ele não para de me ligar, mas eu decidi não atendê-lo. Eu não gostei
nada do que ele fez para conseguir saber se eu estava saindo com o meu professor de inglês.
Naquele dia, quando eu voltei para a sala da Isabel, mesmo depois de ter passado no banheiro,
ela percebeu que eu não estava bem. Sem falar no dia anterior quando ele quis saber pelo
telefone a cor da minha calcinha... Eu tenho certeza que o Carlos Eduardo percebeu alguma coisa,
porque depois que eu desliguei, ele ficou rindo de mim. Resumindo: a semana no trabalho foi
terrível.
Na faculdade, apesar da correria, eu consegui reunir todas as meninas no bar e contar a
novidade. O fato de ter acontecido com meu chefe não foi realmente aprovado por elas, mas
depois que eu prometi que não me apaixonaria por ele, elas ficaram mais calmas. E é claro que
elas debocharam de mim quando eu contei que acabou acontecendo em um banheiro.
Durante um dos nossos intervalos entre uma aula e outra, aproveito para convidá-las para a
festa da empresa e elas imediatamente confirmam presença. Até a Giulia, mesmo sabendo que não
poderá levar o Breno.
Lívia me convence a ir passar o fim de semana na casa dela e no sábado, ela me acorda
mais cedo do que eu gostaria para ir à praia. Assim que ela finalmente consegue encontrar o
lugar onde ela quer ficar e o rapaz coloca nossas cadeiras na areia, meu telefone começa a tocar.
Eu vejo que é o Roberto e o coloco de volta dentro da bolsa.
- Quem é?
- Roberto.
- Por que você não atende logo de uma vez e acaba com esse sofrimento? Você quer falar
com ele, Ana. Não adianta mentir para mim.
- Eu não quero coisa nenhuma.
- Então desliga a porra do telefone. Eu não aguento mais ouvir isso tocando.
- Eu não posso desligar. E se a minha mãe quiser falar comigo?
- Ela vai ligar para mim. Está vendo como você está inventando desculpas?
O celular da empresa começa a tocar e eu vejo que é ele outra vez.
- Deixe-me adivinhar... – ela diz.
- Ai! Como você é chata!
Levanto-me e dou um mergulho rápido. Assim que me sento outra vez, ela diz:
- Seu biquíni é transparente.
- Eu sei, mas é só um pouquinho. Se a pessoa não estiver olhando diretamente para os meus
mamilos, como você está agora, não dá para ver.
Ela ri e meu telefone toca outra vez.
- Eu juro por Deus que se você não desligar essa merda, eu vou jogá-lo no mar.
- Cala a boca. Não é o Roberto. Alô?
A pessoa diz alguma coisa que eu não consigo entender.
- O quê? Quem está falando?
- É o Roberto. Onde você está? Eu quero te ver.
“Puta merda!”
Eu digo que não quero vê-lo e o imbecil tem a cara de pau de me perguntar se eu estou com
alguém do trabalho.
- Ah, Roberto! Faça-me o favor! É claro que não. Eu simplesmente não quero te encontrar.
Quando Lívia escuta o nome dele, ela estende a mão em minha direção e diz:
- Me dá.
- O quê? Claro que não!
Ela toma o telefone da minha mão e eu grito:
- Você não pode fazer isso! Eu não quero falar com ele.
- Para de fazer cu doce, Ana! – ela grita de volta e diz para ele onde nós estamos.
Tento, durante algum tempo, tomar o telefone de volta, mas não consigo.
- Qual é o seu problema? – eu pergunto.
- Você! Pare de ser chata! Relaxa! Ele também está aqui na praia. Olha ali, é ele não é?
Roberto está com uma sunga amarela que realça seu bronzeado.
- É.
- Ele é ainda melhor sem roupa, Ana! Como que você não quer encontrar um homem desses?
- Ele é um idiota. Gostoso para caralho, mas idiota.
- E quem é aquele com ele?
- O Carlos Eduardo.
- E esse é quem mesmo?
- O sócio – ela fica sem entender. – O dominador, Lívia.
- Ah é... E por que ele é tão musculoso assim? Precisa ser desse jeito para fazer o que ele
faz?
- Como é que eu vou saber?
Roberto continua vindo em nossa direção, mas Carlos Eduardo não o acompanha.
- Você tirou a sorte grande, Ana... E essa tatuagem? Meu Deus... Acho que quero dar para
ele também...
- É incrível... Continua nas costas... E não, você não pode dar para ele também.
- Ana!
Roberto diz e eu sou grosseira. Lívia me repreende e depois começa um assunto interminável
sobre a tatuagem dele. Aguardo até que eles terminem, Lívia fala mal de mim outra vez e nos
deixa a sós depois de mencionar o enorme prazer que ela teve em reencontrá-lo.
- O que você quer, Roberto?
- Conversar com você.
- Fale de uma vez.
- Aqui não. No meu apartamento.
Antes que eu possa dizer não, ele segura minha mão e diz:
- Por favor, Ana.
- Está bem, mas eu não posso demorar.
- Obrigado.
Visto meus shorts, pego meu celular e passo uma mensagem para o da Lívia para que ela
saiba aonde eu fui quando sair do mar.
- Vamos.
Como o prédio onde ele mora é bem pertinho, nós vamos andando.
- Por que você não atendeu ao meu número?
- Porque eu não quero falar com você.
- E por que não?
- Porque o que você fez durante a semana foi ridículo. Você passou metade do tempo me
ignorando e me tratando como se eu fosse qualquer pessoa e a outra metade me fazendo passar
vergonha.
Nós entramos no elevador e ele segura minha mão.
- Eu não sei como agir. Isso é novo para mim também.
- Aja normalmente.
- Você me odiaria se eu agisse normalmente.
- Ninguém vai perceber nada, a não ser que você segure minha mão ou me beije na frente
dos outros. Fora isso, você só estará tratando a sua funcionária com respeito. Isso é normal.
- Eu vou tentar. Você me avisa quando eu estiver sendo um idiota?
- Aviso – digo sorrindo.
Nós chegamos à cobertura e Roberto me pergunta ainda do lado de fora:
- Posso te dar um beijo?
- Pode.
Ele puxa meu cabelo para trás e beija meu pescoço.
- Você está salgadinha...
Eu beijo seus lábios e lembro o quanto é bom fazer isso.
- Você também...
Roberto puxa as cortininhas da parte de cima do meu biquíni para os lados, deixando meus
mamilos expostos. Ele chupa um, depois o outro.
- Você quer tomar banho antes de fazermos isso? – pergunto.
- Não... Eu quero comer você assim... com gosto de mar.
Roberto abre a porta sem parar de lamber meus seios e nós entramos no apartamento. Ele
fecha a porta e me encosta nela. Eu abaixo sua sunga de praia e seguro sua ereção.
- Nós precisamos usar camisinha.
- A médica disse? Você não começou a tomar remédio?
- Eu te explico depois, mas temos que usar por um tempo.
Ele segura seu membro e o passa por cima do meu biquíni antes de soltar um dos lacinhos.
- Eu tiro antes de gozar.
Roberto me penetra com uma única estocada e meu corpo bate contra a porta.
- Isso não está certo.
- Eu já não sei mais o que é certo ou não, Ana. A única coisa que eu quero agora é te sentir
por completo.
Ele sai quase completamente e depois entra de novo, fazendo meu corpo bater outra vez na
porta. Sinto a excitação de tê-lo outra vez preenchendo todos os meus poros.
- Está bem.
Roberto coloca uma das minhas pernas em volta de seu quadril e me fode com força. Tanta,
que eu acho que vamos derrubar a porta.
- Você é tão gostosa, Ana.
Ele beija meu pescoço, antes de passar para os meus lábios. De repente, Roberto tira seu
membro de dentro de mim e eu o vejo ejaculando em minha barriga com a mão livre, ele aperta
meu quadril com força. Quando ele me solta, eu passo a mão pelo líquido espesso e ele pergunta:
- O que foi?
- Uau! Isso foi muito sexy!
Antes que eu perceba estou com a mão entre minhas pernas acariciando meu clitóris. Roberto
se ajoelha, coloca uma das minhas pernas sobre seu ombro e me beija exatamente onde eu preciso
até me fazer gozar também.

Roberto e eu tomamos banho juntos para tirar o sal e o suor do corpo. De lá, ele me leva
para a piscina que ele tem na varanda que tem vista para a praia.
- Você quer beber alguma coisa? – ele me pergunta.
- A essa hora?
- Existem bebidas não-alcóolicas, você sabia?
Não consigo deixar de rir.
- Um suco.
- Eu já volto.
Poucos minutos depois, ele volta com uma jarra e dois copos em uma bandeja.
- Pode ser de laranja?
- Pode.
Roberto se junta a mim na piscina e pergunta:
- Mas o que a médica disse?
- Ela me passou uma pílula anticoncepcional e disse para eu esperar minha menstruação vir
para começar a tomar. O mais seguro é usar camisinha durante os três primeiros meses da pílula já
que eu nunca tomei nada antes.
- Três meses?
- Sim. Normalmente já é seguro depois do primeiro mês, mas esse período é o que mais
ocorre falhas na pílula, pois o organismo ainda não se adaptou completamente. Por isso, ela sugere
três meses.
- Eu não vou aguentar usar aquela porcaria por três meses!
- Você quer ter filhos aos 29 anos?
- É claro que não!
- Então você vai ter que aguentar.
Roberto fica em silêncio por longos segundos.
- Você tem razão... Nós vamos usar.
- Eu sei que vamos – dou um beijinho em sua bochecha. – Agora eu tenho que voltar para a
praia para encontrar a Lívia.
- Ah, não... Eu quero ficar com você.
- Mas eu combinei de passar o fim de semana com ela. Quer que eu diga para ela vir para
cá?
- Não, Ana. Eu quero ficar só com você.
- Você pode escolher entre ficar comigo e com a Lívia ou sozinho. O que você prefere?
- Mas quanta falta de romantismo da sua parte... Está bem! Peça para ela vir. Vou ligar para
o Cadu para ver se ele quer subir também.
Nós dois saímos da piscina e cada um liga para seu amigo. Lívia concorda em vir, mas diz
que não vai ficar segurando vela durante muito tempo. Roberto faz sinal de positivo para mim e eu
digo a ela:
- O amigo dele vai vir também. Pronto. Ninguém vai segurar vela.
Nós voltamos para a piscina e alguns minutos depois, Lívia chega e se junta a nós. Os dois
continuam na história de fazer tatuagens até o Cadu chegar.
- Cadu, essa é a Lívia – Roberto diz.
- É um prazer conhecê-la – ele diz enquanto aperta a mão dela.
- O prazer é meu. A Ana me contou sobre seu estilo de vida diferente e eu fiquei curiosa.
Eu apenas olho para ela com todo o ódio que estou sentindo por ela ter mencionado isso.
Carlos Eduardo olha para mim e estica a mão para me cumprimentar.
- Ana Luiza.
Eu não sei exatamente se aquilo foi um cumprimento ou se ele estava me repreendendo de
alguma forma, mas ele parece um pouco mais normal quando está de sunga e não de terno e
gravata.
Nós nos sentamos na borda da piscina e o silêncio constrangedor parece que vai durar para
sempre. Quando Roberto abre a boca para falar alguma coisa, tenho a impressão de que as
coisas vão melhorar, mas logo percebo que estou errada.
- E aí, você vai ficar com a sua submissa hoje?
“Ai, meu Deus!”
- Roberto – ele responde.
- Ah, qual é! Todo mundo aqui sabe o que você faz, qual é o problema eu perguntar isso?
Antes que Carlos Eduardo tenha tempo de responder, Lívia pergunta:
- E como você escolhe quem vai ser a sua submissa? É igual nos filmes com contrato e tudo
mais?
- O problema é que você abre espaço para outras pessoas perguntarem o que não é da
conta delas – ele responde à pergunta do Roberto e Lívia sussurra para mim:
- Nossa... Que ignorante...
- Na maioria das vezes, em clubes de BDSM – Carlos Eduardo responde a pergunta da Lívia.
– E não, eu não faço contratos. Ou você concorda com tudo ou não pode ter nada.
- E esse tipo de clube existe? – ela pergunta realmente surpresa.
- Tanto existe que eu precisaria de alguns dedos da sua mão para somar todos que eu
conheço.
Lívia esconde as mãos embaixo da bunda e ele ri. Confesso que isso me dá medo. Ele soa
como se fosse cortar os dedos dela para poder contar.
- Mais alguma pergunta?
- Não... Eu estou bem... – Lívia responde e vira de costas para ele.
Vejo Carlos Eduardo com aquela mesma expressão de quando eu o chamava de senhor e
acho esquisito.
“O que ela fez para despertar isso nele?”
Roberto e o amigo começam a conversar sobre a empresa e Lívia e eu sobre o nosso novo
apartamento que estará disponível em breve. Algumas horas mais tarde, uma senhora aparece com
uma bandeja com vários tipos de petiscos e long necks de cerveja.
Roberto sai da piscina correndo e abraça a mulher.
- O que eu faria sem você, Ru? Obrigado!
A senhora responde baixinho e sai envergonhada. Cadu sai da piscina e os dois começam a
beber e a comer como se não houvesse amanhã.
Nós nos juntamos a eles em volta da mesa redonda e continuamos a conversar sobre
amenidades. Depois de algumas cervejas, Lívia pergunta:
- Mas você não faz sexo normal, Cadu?
Roberto e eu nos entreolhamos e olhamos para ele.
- Meu nome não é Cadu.
- Eu sei, é o seu apelido. O Roberto te chamou assim mais cedo.
- Sim, mas quase ninguém me chama assim. E é claro que eu faço sexo normal... Pouco, mas
faço.
- E você faz sexo normal com as suas submissas?
- Lívia! – eu grito.
- Tudo bem, Ana Luiza – ele diz olhando para mim antes de se dirigir a ela. – Não.
Ela abre a boca outra vez e eu dou um beliscão em sua perna.
- Eu juro que vou te jogar pela varanda se você continuar com isso.
- Mas ele disse que está tudo bem... Cadu, você faz sexo normal com outras pessoas mesmo
tendo uma submissa?
Eu tenho vontade de morrer. Roberto fica calado apenas rindo. Depois de uma longa pausa,
Carlos Eduardo diz:
- Se você me chamar de Cadu outra vez, eu vou colocar você deitada sobre as minhas
pernas, abaixar o seu biquíni e dar dez tapas na sua bunda. Na frente deles dois.
Lívia fica de boca aberta sem saber o que dizer. Roberto se levanta e diz apressado:
- Que tal se nós tomássemos banho e continuássemos na mureta da Urca? Vai ser ótimo ter
mais pessoas a nossa volta.
- Eu acho ótimo! – digo um pouco mais alto do que eu gostaria.
- Por mim tudo bem – ele diz.
Lívia apenas balança a cabeça. Carlos Eduardo se levanta, veste seus shorts e pega suas
coisas. Lívia faz o mesmo.
- Eu encontro vocês lá – ele diz e depois olha para Lívia. – Você quer que eu te leve em
casa?
- Não! É... eu preciso combinar umas coisas com a Ana antes. Pode ir... Eu moro aqui perto.
- Eu posso te esperar – ele diz com um sorriso debochado.
- Obrigada... Não precisa mesmo. Eu vou sozinha.
- Já que você insiste...
Roberto leva o amigo para dentro do apartamento.
- Mas que diabos deu em você? – eu grito.
- Eu estava curiosa.
- Lívia, eu trabalho com ele! Como é que eu vou olhar para a cara dele na segunda-feira?
- E o que você quer que eu faça?
- Você precisa controlar a sua língua!
- Está bem. Ai, que saco...
- Acho que eu vou com você. Minhas roupas estão na sua casa.
- Não se preocupe. Eu peço para o João trazer para você. Você acha que ele faria aquilo
mesmo?
- Aquilo o quê?
- Me bater.
- Eu não sei, mas certamente eu pararia de provocá-lo se fosse você.
Depois que Lívia vai embora, Roberto e eu vamos tomar banho. Enquanto ele lava meu
cabelo, eu digo:
- Eu não sabia que tinha uma pessoa trabalhando aqui.
- A Rute? – eu balanço a cabeça concordando. – Ela trabalha na família há muitos anos. Ela
trabalha na casa do meu pai também. Na verdade, ela passa a maior parte do tempo lá e só vem
aqui para dar um jeito nas coisas e para cozinhar. Você viu o que aconteceu entre aqueles dois na
varanda?
- Vi. Sinto muito, eu não sabia que ela faria aquelas perguntas.
- Mas o Cadu estava diferente... Normalmente, ele não fala sobre esse assunto. As pessoas
que sabem sobre esse lado dele até perguntam, mas ele não responde. Parecia que ele estava
instigando a Lívia a perguntar mais.
- Sério?
- Sério. Eu só não entendi o porquê.
Depois do banho, Roberto se veste e desce para buscar minha mochila que o motorista da
Lívia trouxe para cá. Eu coloco um vestido branco soltinho e uma sandália com saltos Anabela e nós
vamos no carro do Roberto até a Urca. Quando chegamos lá, obviamente mais tarde do que o
combinado, encontramos Lívia e Carlos Eduardo sentados na mureta conversando.
- Ai, meu Deus... – digo.
- Fique tranquila. Ele não vai bater nela na frente de estranhos.
Dou uma gargalhada, Roberto me segura pela cintura, beija minha orelha e nós caminhamos
para perto dos nossos amigos.
O fim da tarde e a noite correm bem. Roberto fica o tempo todo ao meu lado, mas é como
se fôssemos apenas amigos. Com certeza ele está com medo de alguém do trabalho nos ver juntos.
Carlos Eduardo e Lívia continuam se provocando, mas com moderação, pois agora estamos no meio
da rua.
Nós conversamos sobre as nossas famílias e o Roberto conta que morou nos Estados Unidos
até os 18 anos. Cadu diz que eles eram amigos quando eram crianças e o Roberto ainda morava
aqui, mas como ele era muito pequeno não tem lembranças disso.
- Quantos anos você tem, Cadu? – Lívia pergunta.
- Você está brincando com fogo, menina... – Lívia, a essa altura apenas ri das ameaças dele.
– Trinta e cinco e você? Eu sei que a Ana Luiza tem 21.
- Eu tenho 22. Então você já era grandinho quando o Roberto nasceu, por isso você se
lembra.
- Exatamente.
- E seus pais se mudaram com você quando você voltou para o Brasil? – eu pergunto ao
Roberto.
- Não de imediato, mas meu pai veio algum tempo depois por causa da empresa.
Algumas horas mais tarde, Lívia coloca a mão na barriga e diz:
- Porra, eu estou morrendo de fome outra vez.
- Esse é o décimo palavrão que você fala em meia hora. Você não sabe se comportar,
senhorita boca suja? – diz Cadu.
- Ui! Me desculpe, senhor dominador. Eu não sabia que era proibido falar palavrões na sua
presença.
- Eu acho uma ótima ideia nós comermos alguma coisa – diz Roberto. – Vamos para o
Garota?
- Por mim, tudo bem.
- Ah, não... Vamos continuar aqui mesmo, mas lá no restaurante do segundo andar. A comida
aqui é bem melhor – diz Lívia.
- Pela primeira vez durante todo o dia, eu concordo com ela – diz Cadu.
- Mas lá em cima é tudo fechado – Roberto diz.
- Graças a Deus! Assim nós podemos parar de suar – Lívia diz.
- Por mim, tanto faz – digo.
- Está bem, vamos subir – diz Roberto.
É a primeira vez que eu vou ao segundo andar, que é a onde fica o restaurante. A vista é
ainda mais bonita lá de cima e nós sentamos em uma mesa colada à janela para ficar ainda
melhor.
Por incrível que pareça, Lívia e Cadu resolvem comer a mesma coisa: bacalhau na
Cataplana, o prato mais absurdamente caro do restaurante. Roberto escolhe uma caldeirada de
frutos do mar e eu decido acompanhá-lo. A comida é realmente muito boa e eu vejo que o Cadu
tem a mesma mania ridícula da Lívia de que ninguém pode comer nem um pedacinho da comida do
prato dele.
Depois do jantar, Roberto quer logo voltar para casa.
- Mas eu combinei de dormir na casa da Lívia – digo.
- Não tem problema, Ana. Pode ir dormir com ele.
- Tem certeza? – pergunto.
- Claro que tenho – ela diz.
- Então, vamos pedir a conta e vamos embora – diz Roberto.
- Não – diz Cadu levemente apressado. – Vocês podem ir, nós ainda estamos bebendo.
Eu fico olhando para a Lívia e ela simplesmente faz cara de paisagem e não diz nada.
- Lívia? Você vem conosco? – pergunto.
- Não... Podem ir... Eu vou para casa depois. Meu motorista está me esperando.
Eu começo a ficar preocupada.
- Tem certeza?
- Tenho. Eu vou terminar de beber com o Carlos Eduardo.
Roberto
- Vamos, então, Ana – digo, mas percebo que tem algo de errado.
Primeiro, Ana parece estar preocupada em deixar a amiga sozinha. Segundo, o Cadu nunca
se importou em ir embora sem terminar sua bebida. Terceiro, essa foi a primeira vez que a Lívia
disse o nome completo dele.
“Isso não é bom...”
Ana se levanta e dá um beijo na amiga. Eu tiro três notas de cem reais da carteira e deixo
sobre a mesa antes de dizer para o meu amigo:
- Se for mais do que isso você me avisa na segunda.
Ele apenas balança a cabeça para mim e se vira de frente para a Lívia. Ana e eu saímos do
restaurante e vamos em silêncio até meu carro.
O dia inteiro foi esquisito. Depois que fizemos sexo na porta do meu apartamento e eu
totalmente esqueci que a Rute estava lá, Ana insiste em passar o dia com a Lívia e eu chamo o
Cadu para se juntar a nós. Rute finge que não viu nem ouviu nada, o que realmente é impossível,
mas já que ela não menciona nada, não sou eu que vou tocar no assunto.
O Cadu simplesmente parece outra pessoa o dia inteiro. Ele nunca reage muito bem quando
estamos junto com pessoas desconhecidas. Dessa vez, ele estava agindo como uma pessoa normal...
Na verdade, normal demais para o meu gosto. Ele riu, brincou e até bebeu mais do que faz
quando saímos.
O maior desafio foi a notícia de que terei que esperar três meses para fazer sexo sem
camisinha. Eu vou conferir com o Cadu se essa médica não está exagerando, pois ele sabe bem
esse negócio de quanto tempo esperar.
- Você está bem? – Ana me pergunta quando estamos quase chegando ao meu apartamento.
- Sim. Por quê?
- Você parece distraído.
- Estou pensado em tudo que aconteceu hoje.
- Pois é... Difícil de acreditar.
- Nem me fale.
Nós chegamos e vamos direto para o meu quarto. Ana pede para tomar banho outra vez e
quando ela sai do banheiro, eu entro. Quando volto para o quarto, a TV está ligada e eu vejo que
ela está de óculos, usando uma camisola de algodão, branca com desenhos de morangos. Ela até
tem um decote provocante, mas é o tipo de roupa que crianças usam e não mulheres.
- Sério?
- Sério o quê?
- Sua camisola.
- Eu ia dormir com a Lívia. Você queria que eu vestisse o quê?
Eu me sento ao seu lado na cama.
- Por que você não usa os óculos o tempo todo?
- Porque a Lívia disse que eu pareço uma universitária com eles e que isso não é bom para o
trabalho. Nós compramos minhas lentes juntas. Elas até que não são ruins... Eu gosto.
“É uma pena... Ela fica linda com os óculos...”
Perco-me em meus pensamentos até ela dizer:
- O que foi?
Tiro a toalha da minha cintura e mostro minha ereção a ela.
- Estou pensando em você me chupando usando só os óculos.
Ana sorri, fica de joelhos na cama e tira a camisola pela cabeça de uma vez só.
- E o que você vai fazer por mim depois?
- Tudo o que você quiser.
Ana puxa meu corpo para baixo para que eu me deite na cama. Ela abre minhas pernas e
fica de joelhos no meio delas.
- Como você gosta?
- Eu vou te guiando. Não precisa ter medo.
Sei que ela era virgem e que por isso não tem muita experiência, mas eu não me importo em
ajudar.
Ana começa beijando meus lábios, passa para o meu pescoço e desce beijando meu
abdômen. Ela segura meu membro e olhando para mim por cima dos óculos enfia uma das minhas
bolas na boca. Ela a suga com delicadeza antes de passar para a outra e fazer o mesmo. Ana
sobe lambendo toda a extensão do meu pau até a glande e passa a língua em toda a superfície,
como se eu fosse um picolé.
Aos poucos, ela coloca a glande na boca e começa a chupá-la e a rodeá-la com a língua ao
mesmo tempo, o que é uma delícia. Ana olha para mim outra vez por cima dos óculos e enfia
lentamente todo meu pau em sua boca... Todo ele.
Ela volta a se concentrar na glande, depois o engole outra vez me levando à loucura. Não
sei dizer quantas vezes ela faz isso antes de deixá-lo sair de sua boca. Meu pau bate pesado em
minha barriga e eu vejo que ela lambe a mão esquerda. Logo em seguida, ela a coloca entre suas
pernas. Eu poderia ter gozado aí.
“Como ela pode ser tão sexy?”
Com a mão disponível, Ana segura meu membro, me chupa e me masturba ao mesmo tempo.
Eu gozo menos de um minuto depois... E ela engole tudo, sem frescura e sem nojo.
Não sei se recupero minha respiração ou se começo uma discussão para descobrir como é
que ela faz isso tão bem. Lembro-me que ela disse que fez de tudo um pouco e pergunto ainda
ofegante:
- Quantas vezes você já fez isso?
Ela balança os ombros e diz:
- Já perdi as contas.
Ana se deita na cama, abre as pernas e diz:
- Minha vez!

No domingo, Ana e eu acordamos relativamente cedo. A primeira coisa que ela faz é ligar
para a mãe e depois para a amiga. Eu desço para ver o que temos para o café da manhã e vejo
que não tem nada pronto. Volto para o quarto e a vejo encarando o celular.
- O que foi? – pergunto.
- A Lívia não dormiu em casa e não está atendendo o celular.
- E daí?
- E daí que ela só pode estar com o Carlos Eduardo. Você pode ligar para ele?
- Claro.
“Puta merda!”
Pego meu celular e ligo para ele, mas ninguém atende. Eu tento outra vez e ele diz com uma
voz sonolenta:
- Alô?
- Cadu, é o Roberto. Você está bem?
- É... sim – ele parece confuso.
- A Lívia está aí com você?
- A Lívia está aqui comigo?
- Sim. A Ana está preocupada com ela.
- A Ana está preocupada com ela?
- Por que você está repetindo tudo o que eu digo?
- Eu acabei de acordar, Roberto. Minha cabeça não está muito boa. E não, a Lívia não está
comigo.
- Você sabe se ela foi para casa ontem à noite?
Ele fica em silêncio durante muito tempo e eu entendo o que está acontecendo.
- Não sei... Eu fui embora e ela disse que ia encontrar uns amigos.
- Está bem. Desculpe ter te acordado.
- Não tem problema. Nos falamos mais tarde.
Ele desliga e eu digo para Ana:
- Ela está na casa dele.
- Eu não acredito nisso... Será que ela está bem? Será que ele a machucou?
- Ana, eu não sei realmente como funciona esse negócio que ele faz, mas o Cadu jamais
machucaria alguém.
- Está bem.
- O que você quer fazer hoje?
- Não sei, mas eu tenho que voltar para casa cedo. Tenho que arrumar minhas coisas para o
trabalho amanhã... Meu chefe é insuportável – ela diz sorrindo.
- Mas ele também é forte, bonito e bom de cama, não é?
- Forte e bonito sim, mas bom de cama... Ainda tenho minhas dúvidas...
Ela se deita na cama e eu me sento sobre seu quadril com uma perna de cada lado de seu
corpo. Coloco seus braços para o alto e seguro seus pulsos com uma das minhas mãos. Com a mão
que está livre, acaricio seu corpo até chegar a sua cintura. Abaixo meu rosto sobre seu pescoço,
Ana dá um gemidinho e eu digo sussurrando em seu ouvido:
- Você vai pagar por isso.
Começo a fazer cosquinha em seu pescoço e em sua cintura ao mesmo tempo. Ana se
contorce, gargalhando e me pedindo para parar.
- Retire o que você disse – digo rindo.
- Não.
Volto a fazer cosquinha nela até ela finalmente retirar o que falou. Me jogo na cama ao seu
lado e nós tentamos voltar a respirar normalmente e parar de rir.
Ana fica olhado para mim em silêncio e eu pergunto:
- O que foi?
- Nada... Eu gosto de passar tempo com você.
- Eu também.
Ficamos feito dois idiotas olhando um para o outro até ela dizer:
- Eu estou com fome.
- Acabei esquecendo. A Rute não deixou nada preparado para o café da manhã. Vista-se e
nós comeremos algo na rua.
Quinze minutos depois, nós vamos para um dos cafés do bairro e pedimos um café da manhã
completo. É claro que Ana não come a parte dela toda e eu acabo comendo o meu e o que sobrou
do dela. Nós ficamos muito tempo sentados lá apenas conversando e depois caminhamos pelas
ruas do Leblon para aproveitar o dia. No caminho, decidimos entrar em um cinema e assistir a um
filme.
O mais engraçado é que Ana escolhe um filme cult e eu uma comédia romântica.
- Eu odeio todos universitários do mundo e os filmes chatos que vocês assistem – digo.
- E qual é o homem que prefere assistir a um filme com a Jennifer Aniston a qualquer outro?
- Eu.
Ela ri.
- Está bem, Roberto, mas quando nós voltarmos para o seu apartamento, eu vou verificar
outra vez se você é realmente um menino.
- Hahaha... Muito engraçadinha.
É claro que o filme é bom e engraçadíssimo. Ana também gosta e nós falamos sobre os
nossos gostos sobre filmes e música durante nosso almoço tardio depois do cinema. Quando começa
a anoitecer, ela diz:
- Roberto, eu preciso voltar para casa.
- Tudo bem.
Eu pago a conta e nós voltamos caminhando para o meu apartamento. Enquanto Ana arruma
sua mochila, eu fico sentado na cama olhando para ela. Ana começou a trabalhar na empresa há
quase um mês e nós nos conhecemos muito pouco ainda, mas eu a acho muito madura para sua
idade. Talvez por eu ser imaturo demais para a minha.
Talvez ela tenha se tornado mais forte por ter perdido o pai tão cedo ou por ter sido criada
da forma que foi pela mãe, eu não sei... Mas eu gosto da companhia dela. Ela me faz voltar à
realidade e perceber que há um mundo de pessoas lá fora que precisa ser responsável,
independentemente da idade.
- Estou pronta.
- Vem cá, sente-se aqui – bato na cama e ela se senta ao meu lado.
- Eu vou tentar ser normal no trabalho, mas se acontecer alguma coisa que você não goste,
você promete conversar comigo antes de ficar brava?
- Prometo.
- Você tem mesmo que ir embora agora?
- Tenho.
- Então, vamos. Eu vou te levar em casa.
- Não precisa, Roberto. Eu posso pegar o ônibus.
- De jeito nenhum. Eu te levo.
- Está bem, obrigada.
Nós vamos em silêncio até a porta do prédio dela. Ana coloca sua mochila no colo e diz:
- Obrigada pelo fim de semana. Foi legal.
- Foi... Nós podemos combinar e fazer mais vezes.
- Sim.
Ela começa a abrir a porta e eu digo:
- Não vai me dar um beijo de despedida?
Ana sorri, segura meu rosto e beija meus lábios com suavidade.
- Até amanhã, senhor Collins.
Ela pisca para mim e sai do carro. Fico esperando ela entrar no prédio e depois volto para
casa. Entro no meu apartamento e vejo meu pai sentado no sofá.
- O que o senhor está fazendo aqui?
- Quem é Ana, Roberto?
- O quê? Como assim?
- A Rute chegou lá em casa toda feliz dizendo que você passou o sábado com uma tal de
Ana, com o Cadu e com uma outra mulher, mas que você estava com a tal de Ana.
“Puta que pariu!”
- E daí?
- Você não está saindo com a nova assistente, está?
- É claro que não, pai. Eu já fiz todo o tipo de merda, mas quando foi que eu me envolvi com
uma funcionária?
- Nunca, mas não me surpreenderia se você fizesse isso.
- Está bem... Eu não presto como pessoa, como filho, como funcionário da sua empresa. O que
mais?
- Você está saindo com a sua assistente?
- Não! Eu estou saindo com uma Ana, mas não essa Ana.
Ele fica olhando para mim com uma expressão desconfiada.
- Tudo bem. Agora vamos falar sobre você roubar o projeto do Cadu.
- Mas que merda! Eu não roubei o projeto dele! Ele sabia que eu faria uma apresentação!
Meu pai fica enchendo meu saco por pelo menos mais meia hora e nós terminamos nossa
conversa sobre a maldita apresentação com ele dizendo:
- Já que você conseguiu o contrato, não me decepcione. Faça o seu melhor. Eu sei que você é
capaz.
- Obrigado, pai.
- Agora vamos relaxar, você tem um cerveja aí?
- Tenho.
Vou até a cozinha e volto com duas cervejas. Nós começamos a falar de esportes e eu ligo a
TV para nós assistirmos uma partida qualquer de futebol.
Às 22h, meu pai vai embora. Eu vou para o quarto, tento dormir, mas não consigo. Eu
simplesmente não posso mais correr o risco de trazer a Ana para a minha casa e não sei como
vamos conseguir manter qualquer tipo de relação dessa forma.
No dia seguinte, não acordo a tempo de chegar ao escritório no horário certo, então faço
todo o meu ritual matinal com calma antes de sair de casa. Entro na minha sala e vejo que Ana já
chegou, pois a porta da sala dela está aberta e a bolsa dela está sobre a mesa.
“Ela deve estar trabalhando com a Isabel.”
Mando uma mensagem para o seu celular do trabalho.

Bom dia, Ana Luiza! Você poderia vir até a minha sala?
Traga sua agenda.

Tento parecer o mais profissional possível, mas sem ser rude. Eu me sento e ligo o laptop para
começar a trabalhar. Alguns minutos depois, ela entra na sala, linda em um vestido de meia manga
azul marinho que bate um pouco abaixo dos seus joelhos, mas que marca seu corpo divinamente.
Consigo imaginar todas as suas curvas nuas e não tem como não ficar excitado.
- Pois não, senhor Collins?
- Sente-se, por favor.
Ela faz o que eu peço e abre sua agenda.
- Nós temos um problema e precisamos conversar fora daqui. Me encontre no estacionamento
na hora do almoço, está bem?
- Sim. É muito ruim?
- Não, apenas um imprevisto.
- OK. Posso fazer mais alguma coisa?
- Não, era só isso – ela se levanta. – E, Ana, você está ainda mais bonita hoje.
- Isso é porque você ainda não viu o que eu estou usando por baixo do vestido – ela
sussurra, sorri e sai da sala.
“Danada!”
Capítulo 6

“Hoje eu preciso te encontrar de qualquer jeito nem que seja só pra te levar pra casa, depois de um
dia normal. Olhar teus olhos de promessas fáceis e te beijar a boca de um jeito que te faça rir.”
Só hoje – Jota Quest
Ana
Meu final de semana com o Roberto foi muito legal. Nós nos divertimos e nos conhecemos um
pouco mais. Eu gostei muito e espero poder passar mais dias assim com ele.
Eu continuo tentando ligar para a Lívia depois de chegar em casa no domingo, mas ela não
me atende. Arrumo minhas coisas para o trabalho e fico o resto da noite assistindo TV com minha
mãe e meu irmão.
Na segunda, coloco um vestido bonito e vou para o trabalho, mas quando chego à empresa,
vejo que Roberto ainda não está lá. Mal tenho tempo de deixar minhas coisas na minha sala e
Isabel vem me chamar para trabalhar com ela e com o Cadu. É claro que eu o chamo de Cadu
apenas mentalmente... Prefiro não correr nenhum risco.
- Bom dia, Ana Luiza – ele diz assim que nós entramos na sala dele.
- Bom dia.
- Você está fazendo aulas de Inglês, não é?
- Sim.
- Mas você já tem algum conhecimento?
- Sim. Eu fiz um curso há alguns anos.
- Ótimo. A Isabel vai analisar alguns documentos da matriz. Como você vai precisar fazer
isso sozinha em algum momento com os documentos do Roberto, ela vai te ensinar, ok?
- Sim, tudo bem.
Isabel e eu vamos para a sala dela e deixamos a porta aberta, mas ele logo depois sai de
lá. Eu consigo entender alguma coisa, mas a Isabel tem que traduzir grande parte do documento
para mim.
- E por que você tem que ler esses documentos? – pergunto.
- Porque o Carlos Eduardo é dono da empresa também e precisa resolver vários tipos de
problemas, para poupar tempo, eu leio parte dos documentos para ver se há algo de errado e
para marcar as partes mais importantes para ele ler antes de alguma reunião.
- E o Roberto também tem esse tipo de responsabilidade?
- Quando o senhor Collins e o Carlos Eduardo têm muito trabalho, eles passam uma parte
para o Roberto, nesse caso para você. Você não vai precisar encaminhar esses documentos para
ele, pois ele nem vai a essas reuniões, mas você vai passar o relatório para o senhor Robert ou
para o Carlos Eduardo.
- Ah... entendi.
Algum tempo depois, o celular da empresa toca e eu vejo que recebi uma mensagem do
Roberto pedindo que eu vá até a sala dele. Meu coração acelera na expectativa de revê-lo. Vou
até lá e o vejo em um terno azul marinho que, por acaso, combina com o meu vestido. Ele olha para
mim de cima a baixo, mas ele parece preocupado. Roberto me diz que aconteceu um imprevisto e
que nós precisamos conversar em outro lugar. Ele me pede para encontrá-lo na hora do almoço e
eu concordo.
Ele diz que eu estou bonita e eu o provoco antes de sair da sala deixando-o ficar pensando
em uma lingerie que na verdade eu não estou nem usando. Antes de fechar a porta, vejo que ele
sorri.
Volto para o meu trabalho com a Isabel e um pouco antes do almoço, Lívia me liga.
- Ora, ora... Mas não é que ela está viva?
- Oi, Ana. Me desculpe. Meu celular não está funcionando muito bem.
- Mentirosa! Eu sei que você passou a noite com ele, Lívia.
- Com quem?
- Eu estou no trabalho e não posso falar, mas você sabe muito bem.
- Eu não sei do que você está falando, mas eu só liguei para dizer que estou bem. Você vai
para a faculdade hoje?
- É claro que vou.
- Então nós nos vemos mais tarde. Um beijo.
Ela não me deixa nem responder e desliga.
“Mas ela vai ter que me contar o que aconteceu mais cedo ou mais tarde!”
No horário combinado, vou até o estacionamento e vejo Roberto encostado em seu carro.
Olho para todos os lados e entro correndo pela porta que ele abre para mim. Como os vidros são
bem escuros, ninguém pode nos ver.
Antes que eu consiga dizer alguma coisa, Roberto me beija com volúpia, me fazendo pensar
em sexo.
- Meu Deus, Ana... Você está tão bonita!
- Você também não está de se jogar fora.
Ele me beija outra vez.
- Vamos, eu quero ficar sozinho com você.
Roberto sai da garagem e eu pergunto:
- Para onde nós vamos? Eu só tenho uma hora de almoço.
- Para qualquer lugar onde eu possa fazer o que eu quiser com você.
Sinto meu ventre se contraindo. Alguns minutos depois, Roberto entra em um motel famoso no
Centro. É a primeira vez que eu entro em um motel.
Roberto fala com a atendente, pega uma chave e dirige até o quarto onde ficaremos.
Antes de sairmos do carro, eu digo:
- Roberto... Eu estou menstruada.
Ele fecha os olhos e suspira.
- Não me diga uma coisa dessas...
- É verdade.
- Mas você disse que estava vestindo algo especial debaixo do vestido.
- Eu só estava te provocando – digo sorrindo.
Ele fica em silêncio por alguns segundos.
- Não tem problema. Nós podemos comer alguma coisa e ficar só conversando.
- Tudo bem.
Roberto sai do carro e abre a porta para mim. Nós subimos de mãos dadas até o quarto e
quando entramos, vejo que é uma saleta. Tem uma mesa de madeira com duas cadeiras. Uma
estante de vidro com caixas de camisinhas, lubrificantes e alguns acessórios eróticos e, ao lado
dela, um minibar.
Roberto abre a porta ao lado da mesa e pergunta:
- É a primeira vez que você entra em um motel, não é?
- Sim.
Ele sorri e me dá um beijo na testa. Nós passamos pela porta e o quarto finalmente aparece.
As paredes são vermelhas e a cama redonda tem lençóis e travesseiros brancos. Tolhas e roupões,
também brancos, estão sobre a cama.
Há uma mesa de cabeceira de cada lado da cama, uma mesinha e duas poltronas brancas
em um canto, e do outro lado, uma porta.
- Ali é o banheiro – ele diz.
- Quantas vezes você já veio aqui?
- Ana...
- Você pode me perguntar quantas vezes eu já fiz sexo oral e eu não posso perguntar
quantas vezes você esteve neste motel? Não me parece muito justo.
- Algumas vezes... Umas três, eu acho.
Caminho até o banheiro e vejo que há uma banheira de hidromassagem, um box com
chuveiro, duas pias lado a lado e um vaso sanitário. Fecho a porta e me sento na cama. Roberto
tira seu paletó e o coloca em cima de uma das poltronas depois de afrouxar um pouco a gravata.
Roberto vai para a saleta e volta com um cardápio nas mãos.
- Escolha o que você quer comer.
Há várias opções de bebidas, alguns petiscos e porções e algumas opções de refeições. Eu
escolho um sanduíche de filet mignon com fritas e uma garrafinha de água mineral.
Roberto se senta na cama e usa o telefone da mesinha de cabeceira para pedir nossa
comida. Depois, ele se aproxima e se senta ao meu lado na beira da cama.
- A Rute contou para o meu pai que você estava lá em casa.
Meu coração parece parar de bater.
- O quê?
- Ela não sabe que você trabalha comigo, ela só disse o seu nome, mas meu pai me
perguntou se era você. Eu disse que não. Disse que estava saindo com uma mulher que, por acaso,
também se chama Ana.
- Ai, meu Deus! Você acha que ele acreditou?
- Sim, mas nós não poderemos mais ficar na minha casa. A Rute pode começar a descrever
como você é para ele e aí não vai ter jeito.
- É claro que não podemos! – faço uma longa pausa. – Roberto... Isso não vai funcionar... Eu
acho que é melhor nós não nos encontrarmos mais.
- Não! Não é isso que eu quero, Ana.
- Nem eu, mas nós não podemos ser vistos juntos. Como nós faremos isso?
- Eu não sei, mas nós vamos dar um jeito. Você vai ter um apartamento só seu, não vai?
- Meu e da Lívia. Mas e aí? Nós vamos ficar trancados no meu quarto o dia inteiro?
- Nós vamos encontrar um jeito. Eu prometo. Quando você vai se mudar?
- Nesse final de semana.
- Me dê um tempo para pensar, Ana. Eu vou encontrar uma saída. Por favor.
- Tudo bem.
Roberto segura meu rosto e me beija com delicadeza antes de se levantar e me ajudar a me
levantar também. Ele abre o zíper do meu vestido, que cai aos meus pés, depois me ajuda a sair
de dentro dele e a tirar os sapatos. Eu fico de calcinha e sutiã, mas Roberto logo tira meu sutiã
também. Ele tira sua roupa e a coloca com cuidado em cima da poltrona, ficando completamente
nu.
Ele se ajoelha na cama e estica a mão para mim que faço o mesmo. Roberto se deita e me
coloca deitada ao seu lado, de frente para ele, com a cabeça apoiada em seu braço. Ele me
abraça e beija minha testa.
- Você quer fazer alguma coisa? Nós podemos ir para o chuveiro – digo.
- Não. Eu quero só sentir o seu corpo encostado no meu.
“Fofo!”
Nós ficamos abraçados em silêncio até tocarem a campainha. Roberto coloca suas calças e
vai até a saleta. Logo em seguida, ele volta com uma bandeja com a nossa comida e nós comemos
sentados na cama.
- Suas amigas vão à festa da empresa?
- Sim, elas estão ansiosas. Não falam de outra coisa além disso e das provas que teremos
essa semana.
- A semana inteira?
- Sim, são as provas de fim de semestre para mim e para Lívia, e de conclusão de curso
para as outras meninas.
- E vocês duas se formam quando?
- No final do ano.
- Legal.
- A festa de formatura delas vai ser daqui a dois fins de semana. Você quer ir comigo?
Ele sorri.
- Eu adoraria.
Assim que nós terminamos de comer, voltamos para o escritório e Roberto me deixa dois
quarteirões antes para que ninguém nos veja juntos.
Passo o resto do dia trabalhando com a Isabel e decido não ir para minha aula de Inglês.
Vou direto para a biblioteca da faculdade e aproveito esse tempo para estudar para minha
prova de hoje.
Um pouco antes de a aula começar, vou para o pátio e encontro as meninas sentadas
conversando. Nós nos cumprimentamos e todas, assim como eu, estão muito nervosas por causa das
provas.
Quando dá o horário, vou para minha sala com a Lívia e enquanto os outros alunos chegam
e o professor se organiza, eu pergunto:
- Com quem você passou o final de semana?
- Com o... César.
- E quem é César, Lívia?
- Você não o conhece. Ele é meu vizinho.
- Eu conheço todo mundo que você sai e nunca nem ouvi falar sobre nenhum César.
- É por que eu não saía com ele. Foi uma surpresa para mim também.
O professor começa a distribuir a prova.
- Eu vou fingir que acredito, mas da próxima vez, seja mais criativa e escolha um nome que
pelo menos não comece com a mesma letra que a do Cadu. Não ofenda a minha inteligência.
Ela não responde e passa a prova para mim. A prova da primeira aula até que não foi
difícil, mas a da segunda... Tenho certeza que minha nota não será lá muito boa.
Volto para casa com a Lívia e nós não falamos mais sobre o fim de semana. No dia seguinte,
chego ao escritório no horário normal e Roberto já está lá.
- Bom dia, senhor Collins – digo com a porta aberta.
- Bom dia, Ana Luiza.
Fecho a porta, me aproximo dele, me sento em seu colo e dou um beijo demorado em seus
lábios. Quando eu me afasto, ele sorri e diz:
- Você é louca...
Esfrego meu nariz no dele, me levanto e vou para minha sala. Guardo minhas coisas e ligo
para a Isabel, mas ela diz que não vai precisar de mim hoje. Pego minha agenda e vou para a
sala do Roberto.
- A Isabel disse para eu trabalhar com você hoje. Você quer ajuda?
- Eu estou desenvolvendo o projeto da Power Drink. Você quer ver?
- Sim.
Coloco uma cadeira ao lado da dele e ele me mostra o que está fazendo no computador.
Quando ele começa a alterar as imagens no Photoshop, eu pergunto:
- Por que você não pede ao Jorge para fazer isso?
- Porque eu não preciso dele para fazer o meu trabalho.
“Ele está com ciúme?”
- Mas o Cadu pede.
- Porque ele é preguiçoso. Ele sabe, tanto quanto eu, como desenvolver cem por cento dos
projetos, mas ele coloca outros funcionários para desenvolverem as ideias dele.
- E por que você não faz o mesmo para agilizar?
- Porque eu quero fazer tudo sozinho dessa vez.
- Entendi.
Eu continuo ao lado dele e algumas horas depois, o pai dele entra na sala sem bater. Eu fico
sem saber o que fazer enquanto ele fica olhando para nós dois.
- Entendeu, Ana Luiza? – Roberto pergunta de forma ríspida.
- Entendi – digo mesmo sem saber do que ele está falando.
- Agora faça outra vez e tente fazer direito agora.
Ele se levanta, se aproxima do pai e diz apontando para mim:
- Muito fraquinha essa... Acho que vamos ter que arrumar outra.
- Roberto... – o pai dele diz.
- Vamos conversar na sua sala. Eu volto em dez minutos, Ana Luiza.
Os dois saem e eu tento me acalmar. Não sei se fico com raiva por ele ter dito aquelas coisas
ou contente pelo senhor Robert não ter percebido, embora nós não estivéssemos fazendo nada.
Em exatos dez minutos, Roberto volta para a sala e já entra me pedindo desculpas.
- Não tem problema... Eu sei que você estava tentando disfarçar.
- Eu vou ter que sair para almoçar com meu pai e alguns funcionários e não sei a hora que
eu vou voltar. Você tem prova hoje de novo, não tem?
- Tenho.
- Você pode ir embora depois do almoço para estudar se quiser.
- Eu quero sim. Obrigada.
Ele se aproxima e segura minha mão.
- Você tem certeza que não está chateada?
- Tenho. Pode ficar tranquilo.
- Está bem – ele me dá um beijinho nos lábios. – Até amanhã. Boa prova!
- Obrigada.
Roberto vai embora e eu começo a arrumar minhas coisas. Saio para almoçar sozinha e
depois vou direto para a biblioteca da faculdade. As meninas e eu quase não conversamos outra
vez, fazemos nossas provas do dia e vamos embora.
Chego ao trabalho na quarta e Roberto não está lá. Aproveito que não tenho nada para
fazer e fico estudando em minha sala. Algumas horas mais tarde, recebo uma mensagem em meu
celular particular.

Estou fora da empresa resolvendo problemas para o meu pai. Nós não nos veremos hoje. Você
pode ir embora depois do almoço para estudar mais. Já estou ficando com saudade...

Os dias mais chatos são os que ele não vem trabalhar. Hoje vai ser pior ainda, pois não
tenho nada para fazer. Pelo menos, vou poder passar o dia inteiro estudando.

Também estou com saudade. Até amanhã!

Passo a manhã inteira estudando na minha sala e depois faço como ontem: vou para a
biblioteca depois do almoço. Às 16 horas, o despertador do meu celular toca e eu faço uma pausa
para tomar o anticoncepcional que a médica me passou. Eu comecei a tomar no primeiro dia da
minha menstruação e escolhi um horário que eu não estivesse em casa para tomar. O remédio fica
guardado dentro da minha bolsa para minha mãe não ver e eu coloquei o alarme para não
esquecer, pois a médica disse que o ideal é tomar sempre no mesmo horário.
As coisas na faculdade acontecem da mesma forma. As semanas de prova são sempre
assim... Nós mal conseguimos nos falar, mas quando chega o final de semana, nós nos reunimos e
saímos para nos divertir. O que vai ser difícil agora, pois nós faremos a mudança. Pelo menos o
jantar da empresa será no sábado e nós faremos alguma coisa todas juntas.
Na quinta de manhã, recebo uma mensagem do Roberto antes de chegar à empresa.
Não irei para a empresa hoje de novo. Você pode ir embora mais cedo. Tenha um bom dia,
linda.

“Que droga! O que tanto ele faz na rua?”


O único ponto bom é que eu posso me concentrar para as provas. Com ele aqui, seria
impossível. Mesmo assim decido provocá-lo.

Que pena... Pensei que nós almoçaríamos juntos naquele lugar hoje. Na verdade, nós não
almoçaríamos, mas o que vale é a intenção.

Segundos depois outra mensagem chega.

Sua menstruação já acabou?

Eu respondo com apenas um “sim”. Roberto não diz mais nada, então eu começo a estudar.
Mais uma vez, fico no escritório só até a hora do almoço, depois começo a juntar minhas coisas
para ir embora. Vou para o corredor e fico esperando o elevador chegar pensando no que vou
vestir amanhã, já que é o dia é de roupa livre. O elevador apita no meu andar e abre as portas
mostrando Roberto dentro dele.
- Puta merda! – ele sussurra e me puxa para dentro do elevador.
Roberto aperta o botão do andar abaixo do nosso e diz:
- Você vai sair e vai direto para as escadas. Espere por mim lá. Eu vou descer no próximo
andar.
- Você está bem? – Pergunto, pois ele está muito ofegante.
- Sim... Nós não temos muito tempo, eu tive que correr.
O elevador abre. Eu saio e Roberto fica. Vou direto para a saída de incêndio e em menos de
um minuto ele aparece subindo correndo. Roberto me encosta na parede e me beija com
desespero.
- Ah, Ana...
Ele beija meu pescoço e começa a acariciar meu seio por cima do vestido que eu estou
usando. Com a outra mão, ele sobe a barra do meu vestido até a minha cintura e esfrega seu
membro em mim por cima da minha calcinha.
- Eu te quero tanto – ele diz e toma meus lábios outra vez.
O beijo dele desperta em mim sensações indescritíveis. Roberto coloca a mão dentro da
minha calcinha e começa a brincar com meu clitóris.
- Eu vou te comer agora e você vai passar o resto do dia sentindo meu pau dentro de você,
não vai?
Ele sabe que eu fico excitada quando ele fala essas coisas. Eu jogo a cabeça para trás e
acabo batendo com ela na parede.
- Ai! Vou...
Começo a abrir o cinto dele, mas tenho que parar, pois ele dá uma leve mordida em meu
mamilo por cima do vestido.
- Eu adoro quando você vem trabalhar sem sutiã, Ana. Meu pau fica duro o dia inteiro.
Sinto meu ventre se contorcer de prazer.
- Faz de novo, Roberto.
Ele morde meu mamilo outra vez e eu gozo. Roberto diminui o ritmo de seus dedos e me
beija. Eu termino de abrir seu cinto e sua calça, Roberto coloca seu membro para fora, levanta uma
das minhas pernas, coloca minha calcinha para o lado e me penetra.
- Roberto... A camisinha.
- Ai, caralho! Eu esqueci. Eu não tenho nenhuma. Você tem?
- Não.
Ele encosta a testa na minha e suspira.
- Está bem. Nós faremos outro dia.
Roberto começa a se afastar, mas eu seguro sua bunda mantendo-o dentro de mim.
- Não. Quando você quiser gozar, você tira.
- Tem certeza?
- Tenho.
Ele começa a se movimentar, entrando e saindo de mim bem devagar.
- Me fode com força, Roberto. Eu quero gozar no seu pau.
Ele para de se mexer e me beija.
- Se você não ficar em silêncio, isso não vai durar nem um minuto.
Ele volta a me penetrar, mas por mais que eu esteja calada, alguns minutos depois, ele sai de
dentro de mim e começa a se masturbar.
- Agora?
Eu pergunto e ele concorda com a cabeça. Eu me ajoelho e continuo:
- Goza na minha boca.
Roberto puxa meu cabelo, apoiando a mão na minha cabeça. Abro a boca e ele ejacula em
minha língua. Fecho a boca e engulo seu sêmen olhando para ele. Roberto continua se
masturbando.
- Porra, Ana!
Ele goza outra vez, agora no meu rosto.
Roberto continua apoiado em minha cabeça por um tempo, depois me ajuda a levantar. Ele
tira um lenço do bolso e limpa meu rosto.
- Você é incrível! – Roberto diz e me beija.
Quando ele se afasta, eu arrumo minha roupa e ele a dele.
- Eu tenho que ir embora. Saí correndo dizendo que ia almoçar. Estamos definindo alguns
negócios do jantar de sábado.
- Tudo bem. Eu vou almoçar e depois vou estudar.
- Eu vou pelas escadas até o próximo andar. Você pode esperar um pouco antes de pegar o
elevador?
- Posso.
- Eu provavelmente não venho amanhã de novo, mas nós daremos um jeito de ficar juntos no
final semana.
- Está bem. Tenha um bom dia – digo sorrindo.
Roberto dá um beijinho em meus lábios e diz:
- Você também. Eu te amo.
Eu arregalo os olhos surpresa e ele faz cara de paisagem antes de começar a gaguejar.
- É... Eu... Ana... Eu não quis dizer isso. Saiu sem querer. Eu só estava me despedindo. Não
significa nada.
- Tudo bem, Roberto. Eu entendi.
- Não... Eu realmente não quis dizer isso.
- Não se preocupe. Eu entendi. Vá logo antes que você se atrase.
Ele balança a cabeça e desce as escadas.
“Ele me ama? Será?”
É claro que não... Ele estava se despedindo.
“Ninguém ama ninguém tão rápido assim. Deve ser força do hábito.”
Sacudo a cabeça afastando esse pensamento e volto para o corredor para esperar pelo
elevador.
Eu passo o resto do dia e a sexta-feira inteira pensando nisso. Eu não conto nada para as
meninas, pois nós não temos tempo, mas contarei durante o fim de semana.
No sábado de manhã, um caminhão de mudança chega na casa da minha mãe para levar os
meus móveis para o apartamento novo. Eu não tenho muitas coisas, então foi fácil empacotar tudo
na sexta à noite. Até porque eu fui jogando tudo de qualquer maneira, até as minhas roupas,
dentro das caixas que a firma responsável pela mudança mandou.
Quando está tudo no caminhão e a Lívia chega para me buscar, eu me despeço da minha
mãe apenas, pois meu irmão não voltou para casa ontem à noite.
- Tem certeza que você não precisa de ajuda? – ela me pergunta.
- Tenho, mãe. Obrigada.
- Você sabe que pode vir me visitar quando quiser, não sabe?
- Sei.
- E sabe que se você quiser voltar a morar comigo, será muito bem-vinda, não sabe?
- Sei.
- Então suma logo daqui antes que eu comece a chorar na sua frente.
Ela me abraça e me dá um beijo no rosto com os olhos cheios de lágrimas.
- Assim que as coisas estiverem arrumadas, eu te aviso para você ir nos visitar.
- Está bem.
Eu saio do apartamento e tenho que me controlar para não chorar também. Entro no carro
da Lívia e ela me abraça.
- Não fique assim, amiga. Nós vamos nos divertir. Você vai ver.
- Eu sei.
- Vamos para o apartamento novo, João.
Ela diz ao motorista e nós entramos no trânsito da cidade. Assim que entramos no
apartamento, vejo três homens montando os móveis.
- Lívia? – Digo e aponto para os homens.
- Quem você achou que faria isso?
- Nós duas.
- E desde quando eu sei montar móveis, Ana? Eu, hein?!
- E quanto foi isso? Você não pode fazer essas coisas sem me consultar.
- Não foi nada. Meu pai nos deu de presente.
- Ah, que maravilha! – digo com ironia. – Minha mãe nos deu uma galinha da angola para
colocar em cima da geladeira.
- Legal!
- E por onde nós começamos?
- Pela cozinha. Os móveis são planejados, então eles não vão ter que montar nada. Nós
podemos desempacotar o que compramos.
- Eu trouxe alguns pratos e talhares de casa.
- Para quê? Eu comprei tudo novo.
- E quanto foi, Lívia?
- Ai, como você é chata! Eu não sei. Quando a conta chegar nós dividimos.
“Isso não vai dar certo...”
Começamos a desempacotar o conjunto de porcelana e os copos de cristais que ela comprou
e eu penso que provavelmente terei que me prostituir para pagar a metade disso, mas não falo
nada. Algumas horas mais tarde, Lívia vai ao banheiro e a campainha toca.
Eu abro a porta e um rapaz segurando uma enorme cesta pergunta:
- Lívia?
- Não, eu sou a Ana. Lívia está no banheiro.
- Não tem problema. Essa encomenda é para ela.
Ele me entrega um papel, eu assino e ele me entrega a cesta. Depois de fechar a porta, eu
a coloco sobre a mesa da sala e vejo que dentro tem uma garrafa de champanhe, chocolates,
latas de caviar, embalagens de biscoitos salgados, morangos e um vaso com flores.
Pego o cartão e leio:

Para comemorar a mudança!


Carlos Eduardo

Lívia aparece e bate palmas quando vê a cesta.


- Que legal! Vou pegar as taças! Quem mandou? Meu pai?
- Não... O Carlos Eduardo – digo séria.
Lívia arregala os olhos e eu entrego o cartão na mão dela.
- Você vai me dizer outra vez que não deu para ele? – pergunto.
- Está bem... Eu dei para ele, mas foi só aquele dia. Quer dizer, aquele final de semana.
- Lívia!
- O quê? Você é a pessoa que está transando com o chefe e quer falar o que de mim?
- Ele te machucou? – pergunto sinceramente preocupada.
- Não... Mas ele me dominou... E eu gostei.
- Eu não estou acreditando nisso... Vá buscar as taças... Eu preciso beber.
Eu levo a cesta para a varanda e começo a colocar as coisas do lado de fora. Lívia traz as
taças e alguns pratinhos para colocar as outras coisas da cesta.
Nós nos sentamos com nossas bebidas e eu digo:
- Então?
- Você não vai querer saber.
- É claro que eu quero saber!
- No sábado, ele me levou para o apartamento dele e nós fizemos sexo normal. Incrível, Ana!
Como ele fode bem! Meu Deus! Aí, no domingo, eu pedi para ele me mostrar o que ele fazia e ele
disse que não podia, que aquilo não era brincadeira e sim um compromisso e ele não estava
comprometido comigo. Mas ele me comeu de um jeito diferente... Eu não sei explicar... Era como se
ele pudesse levar o meu corpo e os meus sentidos a qualquer lugar. Foi a primeira vez que eu senti
que alguém estava realmente tomando conta de mim, sabe? Como se eu não precisasse fazer nada
porque ele estaria ali fazendo. Foi demais!
- E ele não te bateu?
- Não.
- E o que mais?
- Antes de eu vir embora, eu disse que queria sair com ele outras vezes, mas ele disse que
não podia.
- E por que não?
- Porque ele tem uma submissa e ele teria que terminar com ela para ficar comigo.
- E?
- E ele disse que eu não era uma submissa e que ele não tem relacionamentos paralelos, por
mais que tenha gostado de ficar comigo.
- Então vocês não vão mais ficar juntos?
Ela balança os ombros.
- Só se ele terminar com a submissa. E ainda assim, seria apenas enquanto ele não arrumasse
outra.
- Gente... Eu não sei nem o que dizer.
- Foi bom, passou e foi isso. Nada mais.
A campainha toca outra vez.
- Deixa que eu abro – Lívia diz e vai para sala, mas logo depois ela me grita.
- O que foi?
- É para você.
Vou até a sala e ela está segurando um cabide com uma capa bege.
- O que é isso?
- Acho que é um vestido. Toma o cartão.
Ela coloca o cabide sobre a mesa e eu abro o cartão.

Achei que você não teria tempo para procurar um vestido com tanto trabalho e as provas ao
mesmo tempo. Espero que você goste, linda.

O cartão não está assinado, mas eu sei que só pode ser do Roberto. Abro o zíper da capa e
vejo um vestido verde esmeralda. Eu o tiro da capa, o coloco na frente do corpo e vou até o
enorme espelho da sala. O vestido é longo e parece bem colado ao corpo até os joelhos. Depois
ele se abre caindo até meus pés. Nas alças largas e na parte do busto, ele é rendado em branco
com detalhes naquele mesmo lindo tom de verde.
- Nossa, Ana! É lindo! – Lívia diz.
- É maravilhoso.
A campainha toca outra vez.
- Mas o que será agora? – pergunto.
- Agora são as meninas.
- Mentira?
Lívia abre a porta e eu vejo todas elas, cada uma com um vestido nas mãos, exceto Alice,
que carrega dois.
- Eu convidei elas para se arrumarem aqui! – Lívia diz.
Elas entram, nós nos abraçamos e damos os nossos pulinhos ridículos. Elas largam as coisas
em qualquer lugar na sala e nós vamos direto para a varanda. Elas também não acreditam que
Lívia dormiu com o Cadu, mas todas ficam aliviadas quando Lívia conta que ele não bateu nela.
Cada uma conta as suas novidades e nós conversamos sobre as provas que fizemos
enquanto bebemos e comemos o que veio na cesta. É claro que a garrafa de champanhe logo
acaba e quando Lívia aparece com outra, eu pergunto:
- De onde você tirou essa garrafa?
- Do cooler de vinhos.
- E onde fica isso?
- Embutido na ilha da cozinha.
Tenho até medo de ir procurar e ver o que ela comprou para colocar lá dentro.
Nós ficamos conversando até os montadores irem embora. Depois passamos para o meu
quarto e elas me ajudam a desempacotar até a hora que temos que começar a nos arrumar.
Há dois banheiros em nosso apartamento: um no quarto da Lívia e um no corredor entre a
sala e os quartos.
- Quem vai tomar banho primeiro? – Lívia pergunta.
- É melhor deixar a Alice ir logo. Até ela ficar pronta e trocar de roupa dez vezes, todo
mundo já conseguiu se arrumar e aí nós não precisamos esperar – diz Giulia.
Alice arremessa uma almofada nela.
- Então, vão Alice e Ana e nós passamos para o quarto da Lívia para dar uma arrumada lá
– diz Clara.
- Tudo bem – digo.
Aos poucos, nós vamos nos arrumando e ajudando umas às outras a fazer o cabelo e a
maquiagem. Assim que todas estão prontas, nós descemos para pegar um táxi, mas assim que
chegamos à portaria, vemos uma limusine parada na porta do prédio. O motorista nos vê e diz:
- Senhorita Ana, senhorita Lívia?
- Somos nós – eu digo e aponto para mim e para Lívia.
- Eu vim buscá-las para a festa.
- Oba! – Giulia diz e é a primeira a entrar no carro.
Lá dentro, há uma garrafa de champanhe em uma mesinha na lateral do carro e taças para
todas nós. Lívia a abre e nós brindamos.
- Quem mandou a limusine? – Clara pergunta.
- Só pode ter sido o Roberto – Lívia responde. – Ele mandou o vestido também.
- É... pode ser – digo.
Nós vamos com o motorista até uma mansão, que na verdade é um salão de festas em São
Conrado. Assim que nós entramos, eu dou o meu nome e o segurança nos deixa passar. O lugar já
está cheio e eu começo a procurar o Roberto, pois a nossa mesa é com ele. Vejo a Isabel, o Cadu e
o senhor Robert conversando com algumas pessoas e logo depois avisto o Roberto sentado,
mexendo no celular. Nós vamos até ele e quando ele nos vê, se levanta e diz baixinho:
- Eu já estava te mandando uma mensagem. Vocês demoraram. Tudo bem?
- Sim. Obrigada pelo vestido. Eu amei.
Ele sorri.
Eu apresento as meninas outra vez a ele e Giulia diz:
- Obrigada pela limusine, Roberto. Foi divertido.
- Que limusine?
- A que você mandou para nos buscar – digo.
- Eu não mandei ninguém buscar vocês.
- Ué? Então quem foi?
- Eu – Cadu diz depois de se aproximar.
Lívia sorri tanto que quase vira a cara do avesso.
- Quem está parecendo uma hiena agora? – sussurro em seu ouvido.
Cadu se aproxima e aperta a minha mão.
- Ana Luiza – ele diz.
- Essas são as minhas amigas, Carlos Eduardo. – digo o nome de cada uma e ele aperta a
mão delas. – E essa é a Lívia.
Ele segura a mão dela e dá um beijo galanteador.
- É um prazer revê-la.
- Todo meu – ela diz. – Obrigada pela limusine. E pela cesta também. Nós adoramos, não foi,
Ana?
Ela me dá uma cotovelada.
- Foi, sim. Obrigada.
- Os lugares de vocês estão com uma plaquinha com o nome, mas vocês podem trocar se
quiserem – Roberto diz.
Obviamente, meu nome está ao lado do dele. Nós nos sentamos e logo em seguida, Carlos
Eduardo pergunta à Alice:
- Você se importa de trocar de lugar comigo?
Alice, que está ao lado da Lívia, diz:
- Claro que não.
Assim ficamos Roberto, eu, Lívia, Cadu, Giulia, Clara e Alice na mesa redonda, mas há uma
cadeira vazia entre Alice e Roberto.
- Quem vai sentar ali?
- Você não conhece. É o Marcos, um amigo meu, mas ele não chegou ainda. Você está
simplesmente linda.
- Obrigada. Você também está maravilhoso.
Ele está usando um smoking preto como a maioria dos homens.
O salão de festas é muito bonito e está todo decorado com flores. Há uma banda tocando,
algumas pessoas dançando e todos estão bebendo alguma coisa. Garçons aparecem e nos
oferecem taças com champanhe e eu só observo, Lívia conversando com Cadu o tempo todo.
- O que vai acontecer hoje? Você disse que era um jantar beneficente.
- Nada. É só um jantar, uma festa. O dinheiro arrecadado com a venda dos convites será
distribuído para ONGs que trabalham em comunidades da Zona Sul do Rio. Meu pai faz esse
evento todo ano.
- Por quê?
- Porque a pobreza das pessoas nas favelas o surpreendeu quando ele veio para cá a
primeira vez. Ele quis arrumar uma forma de ajudar essas pessoas, pois ficou impressionado em
como elas podem ser tão felizes mesmo com tão pouco. Ele vai fazer um discurso e contar a
história. Você vai ver.
Assim que Roberto termina de falar, sinto alguém cutucando meu ombro. Olho e vejo que é o
Jorge.
- Oi, Jorge! Tudo bem? – digo.
- Tudo. Vim te convidar para dançar comigo. Você quer?
Olho para o Roberto, mas ele não mexe nem um músculo de seu rosto.
- Claro!
Eu me levanto e vou para a pista de dança com ele, mas menos de cinco minutos depois,
Carlos Eduardo se aproxima e diz:
- Posso?
- Com certeza, senhor – Jorge diz e se afasta.
Cadu me segura pela cintura e nós começamos a dançar.
- É importante que você saiba que o Roberto me obrigou a fazer isso. Eu não tinha nenhum
interesse em dançar hoje.
- Tudo bem. Nós podemos voltar para a nossa mesa.
- Vamos esperar a música terminar para ninguém perceber.
Assim que voltamos para a mesa, vejo que o homem que estava faltando chegou e que Alice
conversa com ele muito animada.
- Ana! – ela praticamente grita quando me vê. – Você acredita que ele faz swing também?
- Fale baixo! – eu sussurro.
- Meu nome é Marcos – ele estende a mão para mim e eu o cumprimento. – E não se
preocupe! Todo mundo aqui sabe disso.
- Ele frequenta a mesma boate que eu e nós nunca nos vimos! – Alice diz sorrindo.
- Super.
Logo depois do jantar, Clara e Giulia vão embora, agradecendo muito ao Roberto pelo
convite. Algumas horas mais tarde, Alice e Marcos vão juntos para o tal clube que eles frequentam.
Roberto some por algum tempo, mas eu o vejo de longe conversando com o pai e outros
homens. Isabel e o namorado vêm se sentar conosco e logo depois, Lívia resolve ir embora sozinha,
mas em seguida o Cadu também se despede.
“Eu não gosto disso...”
Eu me levanto para ir ao banheiro e no meio do caminho, paro no bar para pegar mais uma
bebida. Roberto para ao meu lado e diz:
- Nós estamos indo embora agora. Despeça-se da Isabel e me encontre na limusine em dez
minutos.
- Está bem.
Eu vou ao banheiro, volto para a mesa com a minha bebida e assim que eu a termino, digo:
- Acho que vou embora. Foi um prazer conhecê-lo, Renato. Isabel, nós nos vemos na segunda.
Dou um beijo em cada um e enquanto caminho para a limusine, ouço alguém gritar meu nome.
Me viro e vejo o Jorge correndo em minha direção.
“Merda.”
- Espera, Ana. Você já está indo embora?
- Sim. Estou cansada. Acabei de me mudar e ainda tenho um monte de coisas para arrumar
amanhã.
- Eu quero falar com você – eu continuo andando e paro ao lado da limusine. – Eu pensei
que talvez nós pudéssemos sair qualquer dia desses depois do trabalho. Ou talvez em um final de
semana.
O vidro da janela da limusine se abre e Roberto diz:
- Você esqueceu que relacionamentos entre funcionários são proibidos, Jorge?
O rapaz não sabe o que fazer.
- Senhor Collins... Eu... Não sabia que o senhor estava aí... Me desculpe... É claro que sei... Eu
quis dizer sair como amigos, não o que o senhor está pensando.
- Melhor assim. Vamos logo, Ana Luiza. Eu não vou ficar esperando a noite inteira para te
dar uma carona.
- Sim, senhor – digo. – Eu tenho que ir, Jorge. Até segunda!
Entro correndo no carro, mas Roberto não dirige a palavra a mim durante muito tempo.
- O que há de errado? – pergunto.
- Quantas vezes eu vou ter que afastar esse idiota de você?
- Roberto... Você está exagerando.
- Estou! E você quer saber o que mais? Eu não ligo.
Eu me sento ao seu lado.
- Pare de ser bobo. Eu não quero nada com ele.
- Então me faça uma gentileza e da próxima vez que ele se aproximar de você, diga isso a
ele.
- Tudo bem – faço uma pequena pausa. – Você quer passar o resto da noite comigo?
Ele finalmente sorri.
- Até que enfim! Achei que você não fosse me convidar e que eu teria que me oferecer para
conhecer o seu apartamento.
- Está um pouco bagunçado ainda, mas está ficando direitinho.
Roberto e eu subimos de mãos dadas e assim que entramos, vejo a bolsa da Lívia na sala.
“Pelo menos ela voltou para casa.”
Nós vamos direto para o meu quarto e eu separo um pijama para mim e a camisa e os shorts
mais largos que eu tenho para o Roberto.
- Eu vou tomar um banho – digo.
- Eu vou com você.
- Não. A Lívia pode acordar.
- E daí?
- Não, Roberto. Você vai depois.
Ele revira os olhos e se senta em minha cama de solteiro.
Tomo um banho rápido e quando volto para o quarto, vejo Roberto mexendo nas minhas
caixas.
- O que você está fazendo?
- Fuçando nas suas coisas.
Dou uma gargalhada.
- Você não existe, Roberto!
Ele sai para tomar banho e volta enrolado na toalha. Roberto pula na cama ao meu lado e
pergunta:
- Como nós vamos dormir nessa cama tão pequena?
- E quem disse que nós vamos dormir?
Ele fica em silêncio por alguns instantes, sorrindo.
- Você é tão safada, Ana...
Roberto me beija e eu tiro a toalha de sua cintura.
Capítulo 7

“De repente, a dor de esperar terminou e o amor veio enfim. Eu que sempre sonhei, mas não acreditei
muito em mim. Vi o tempo passar, o inverno chegar outra vez, mas desta vez, todo pranto sumiu, um
encanto surgiu, meu amor. Você é mais do que sei, é mais que pensei, é mais que esperava, baby.”
Você – Tim Maia
Roberto
Quando eu acordo no dia seguinte, vejo que ainda está muito cedo para um domingo, mas
como estou muito apertado, me levanto para ir ao banheiro. Coloco a roupa que a Ana me deu
ontem à noite, pois a Lívia pode estar acordada, e saio do quarto. Quando estou entrando no
banheiro, ouço:
- Mas que inferno!
“Mas essa voz é do Cadu?”
Vou até a cozinha e o encontro lá, abaixado atrás da ilha.
- O que você está fazendo aqui? – pergunto.
- O mesmo que você – ele responde irritado e sem nem olhar para mim.
Eu dou a volta e paro ao seu lado.
- O que você está procurando?
Ele olha para mim, senta no chão e começa a rir.
- Você precisa ser estudado, Roberto! Meu Deus! Você está ridículo! Por que você está
vestindo isso?
- Vá à merda!
Viro as costas e vou para o banheiro. Quando volto, Cadu está fazendo café.
- Cadu, o que está acontecendo?
- Como assim?
- Você não passa a noite com mulheres que não são suas submissas. Principalmente na casa
delas.
- É claro que eu passo.
- Mentira.
- Diga o que você quiser. Eu não estou com nenhuma submissa no momento. Fora isso, eu já
estou indo embora. Não é como se eu estivesse namorando a Lívia.
- Como não está com nenhuma submissa? Você terminou com ela?
- Sim. Ontem.
Não sei o que dizer. Esses relacionamentos dele sempre duram uma eternidade.
Cadu começa a remexer nos armários e geladeira, leva algumas coisas para a mesa da sala
e volta para buscar o café. Eu encho uma caneca para mim e me sento ao seu lado para comer
alguma coisa.
- O que você achou da festa? – ele me pergunta e nós começamos a falar sobre isso.
Alguns minutos depois, Ana sai do quarto e fica olhando para nós dois.
- Pode fechar a boca, Ana. Sou eu mesmo – Cadu diz.
- Bom dia? – ela diz confusa.
- Sente-se conosco – eu digo a ela.
Ana vai até a cozinha e volta com uma xícara de café. Enquanto nós comemos, conversamos
sobre a festa e depois sobre nossos planos para o dia. Lívia sai do quarto dela como uma blusa
preta de alcinha e com alguma coisa que eu não sei se é um shorts muito pequeno ou uma calcinha
grande, mas definitivamente a bunda dela está aparecendo.
- Bom dia, gente – ela diz como se essa cena fosse normal e vai para a cozinha.
- Lívia? – Cadu diz com uma voz que chega a dar medo e ela para no meio do caminho.
- O quê?
- Vá se vestir imediatamente. Você não está vendo o Roberto aqui?
- Eu estou vestida.
- Não está, não. E não discuta comigo. Volte para o quarto e vista algo decente.
- Coitado... – ela diz e continua andando.
Cadu se levanta tão rápido que a cadeira cai no chão. Lívia consegue entrar na cozinha,
mas instantes depois ele volta com ela no colo e a leva para o quarto.
- Ai, meu Deus! E agora? – Ana pergunta.
- Nós não temos nada com isso. Eles que se entendam.
Ficamos em silêncio por alguns segundos enquanto os dois gritam dentro do quarto. Eles se
calam e pouco tempo depois, nós ouvimos o primeiro tapa.
“Puta merda!”
Nós corremos até a porta do quarto e Ana pergunta:
- Será que devemos entrar?
Ouvimos o segundo e o terceiro.
- Eu não sei...
Lívia grita de lá de dentro:
- Isso, Carlos Eduardo! Mais forte!
Ana olha para mim assustada e eu digo:
- Acho que eles vão ficar bem.
Nós voltamos para a sala e terminamos de comer em silêncio. Começamos a tirar as coisas
da mesa e os dois saem do quarto. Lívia agora está com um vestido normal. Eles se sentam e
começam a comer e conversar como se nada tivesse acontecido.
Ana para o que está fazendo e vai para o quarto. Eu vou atrás dela.
- O que houve? – pergunto depois de fechar a porta.
Ana se joga na cama e eu me deito ao lado dela.
- Eu não me sinto confortável com essa situação.
- Com todos nós juntos no mesmo apartamento?
- Não... Com ele batendo na minha amiga, com eles dois fingindo que nada disso aconteceu,
comigo tendo que fingir na segunda-feira que nada disso aconteceu...
- Ana... Eu sei que isso parece esquisito, principalmente para você que é tão jovem. O Cadu
gosta de fazer essas coisas, mas ele não força ninguém a fazer com ele. Se ele fez, foi por que
ela deixou. E eu tenho certeza que a Lívia não é o tipo de mulher que aceitaria algo que não está
gostando.
- Não é mesmo.
- Então... Não fique triste. Eu não gosto de te ver com essa carinha.
Ela sorri.
- Eu só acho estranho ela se interessar por ele. Ela sempre fez e disse o que quis a vida
inteira, nunca teve limites e agora está interessada em um relacionamento como esse?
- Eu acho que ele também está interessado nela. Ele me disse que terminou com a submissa
dele ontem.
- O quê?
- Pois é. Ele não trai as submissas e já tinha traído daquela vez que eles ficaram juntos. Acho
que para não trair outras vezes, ele resolveu terminar. Mas vamos parar de falar deles e falar de
nós dois. O que você quer fazer hoje?
- Eu tenho que terminar de arrumar minhas coisas.
- Ah, não! Você pode fazer isso aos poucos durante a semana. Vamos fazer alguma coisa
legal juntos.
Ela me abraça e beija minha bochecha.
- E o que você quer fazer?
- Nós podemos passar o dia inteiro deitados assistindo alguma coisa na TV. O que você
acha?
- Acho que você é o maior preguiçoso de todos os tempos.
- Preguiçoso? Eu estou indo trabalhar de manhã cedo todos os dias. Acho que é a primeira
vez na vida que faço isso.
Ela ri.
- Está bem – ela pega o controle e liga a TV. – Vamos ver se encontramos a Jeniffer Aniston
em algum canal.
Nós ficamos apenas deitados até sentirmos fome para almoçar. Quando saímos do quarto,
nem Cadu nem Lívia estão no apartamento. Nós saímos e caminhamos até o meu apartamento para
eu trocar de roupa e depois vamos a um restaurante mexicano.
Depois de sentarmos e escolhermos o que vamos comer, Ana pergunta:
- Você já foi ao México?
- Sim e você?
- Não. Eu nunca saí do Brasil. Por que você resolveu voltar para cá?
- Porque eu prefiro morar aqui a nos Estados Unidos.
- Mas todo mundo fala tão bem de lá.
- Sim, é ótimo! Mas as pessoas são mais frias e indiferentes, o clima muda muito ao longo do
ano... Sei lá, eu prefiro morar aqui.
- E você vai muitas vezes para lá?
- Uma vez por ano. Por pouco tempo, mas eu tenho que ir. Sempre tenho que revolver
algumas coisas da empresa.
“Odeio ter que mentir para ela.”
- E quando você vai?
- Infelizmente, daqui a algumas semanas.
Essa conversa me desanima, principalmente porque eu passei a semana passada inteira
dizendo que estava fora da empresa resolvendo problemas do trabalho quando, na verdade,
grande parte do tempo estava resolvendo problemas da vida que eu deixei para trás lá nos
Estados Unidos.
A única coisa boa da semana foi a nossa rapidinha na escada, mas terminou tragicamente
comigo dizendo que a amava. É claro que eu gosto e me importo com ela, mas amar? Isso nunca
dará certo para mim. Eu não posso me dar ao luxo de amar ninguém.
Naquele mesmo dia, eu passei por uma loja e vi um vestido que me faz lembrar dos olhos
dela. Comprei imediatamente e pedi para a loja entregar no endereço novo no dia da festa.
Normalmente, eu pediria para a Rute providenciar isso, mas não posso correr o risco de ela falar
algo para o meu pai.
É claro que o vestido fica ainda mais bonito com ela dentro dele. Minha vontade é de passar
a festa inteira ao lado dela, mas infelizmente eu não posso. Aos poucos, isso vai me deixando tão
irritado que quase arrumo uma confusão com o Jorge no final da festa.
- Roberto! – Ana grita.
- Oi. Desculpe, eu estava distraído.
- Acho que esse telefone que não para de tocar é seu.
Olho para a cadeira ao meu lado, onde deixei meu celular e minha carteira, e vejo que é ele
mesmo.
“Hilary!”
Quando vejo que é ela quem está me ligando, cancelo a chamada e desligo o telefone.
- Está tudo bem?
- Sim... Era o Cadu. Depois eu ligo para ele.
Depois que terminamos de comer, voltamos para o apartamento da Ana. Ela começa a dar
um jeito na sala para que nós possamos nos sentar no sofá e eu digo:
- Acho que vou embora. Eu tenho que terminar algumas coisas do projeto.
- Mas já? Eu pensei que nós ficaríamos juntos até de noite.
- Eu não quero te atrapalhar. Eu sei que você precisa arrumar as suas coisas.
- Eu posso arrumar durante a semana. Eu não vou ter aulas. Só preciso passar na faculdade
para pegar o resultado e fazer provas de recuperação se for necessário.
- Tem certeza?
- Tenho. Você prefere ficar no meu quarto?
- Acho que sim. Lá nós podemos ficar mais à vontade.
- Vamos.
Ela deixa tudo de lado e nós vamos para o quarto dela. Eu tiro minha calça jeans, minha
camisa e fico só de cueca. Ana se deita ao meu lado, completamente vestida, e liga a TV. Eu estico
o braço para que ela apoie a cabeça em meu ombro e ela passa todos os canais da TV até parar
em um filme pornô.
- Foi para isso que você saiu da casa da sua mãe, não foi? – pergunto brincando.
- Mas é claro!
Nós dois ficamos em silêncio e ela começa a acariciar meu pau por cima da cueca.
Obviamente, eu vou ficando excitado e ele vai crescendo. Ana fica de joelhos e tira o vestido e o
sutiã, ficando apenas com a calcinha. Ela tira minha cueca e lambe minha glande antes de chupar
meu pau. Quando estou prestes a gozar, seguro seus braços e digo:
- Vem cá. Eu quero sentir você.
Ana se deita ao meu lado, com a cabeça próxima aos meus pés e abre as pernas para mim.
Vejo o quanto ela está molhada.
- Não, Ana... Senta aqui.
Ela se apoia nos braços e olha para mim.
- Mas eu quero que você fique por cima dessa vez.
- E eu quero que você goze comigo. Vem, senta aqui...
- E quem disse que eu não vou gozar? Por favor, Roberto.
- É mais fácil para você se você estiver por cima.
- Ai, meu Deus! Por que você fala tanto? Eu quero que você me faça gozar assim. Vem,
Roberto.
“Merda!”
Ana começa a acariciar seu clitóris e eu faço o que ela pede. Depois de penetrá-la, beijo
seu pescoço e seu rosto. Tento fazer tudo com calma para não gozar antes dela, embora eu saiba
que será em vão.
Sinto suas unhas arranhando minhas costas e ela aperta minha bunda. Eu rebolo com meu
pau todo dentro dela e Ana arqueia o corpo gritando de prazer. Continuo fazendo o mesmo já
que ela parece gostar tanto e não para de gemer. Ana abre os olhos, puxa meus cabelos até meu
rosto se aproximar do seu e me beija com os lábios fechados durante algum tempo.
- Viu só. Eu consegui – ela diz sorrindo e relaxada.
- Conseguiu? Você gozou?
- Sim. Você não sentiu?
“Eu consegui? Eu consegui!”
- Senti aqueles movimentos que seu corpo faz quando eu falo sacanagem no seu ouvido.
Saio de dentro dela e me sento ao seu lado. Estou me sentindo o melhor homem do planeta.
- Sabe o que nós poderíamos tentar qualquer dia desses? – ela pergunta.
- O quê?
- Sexo anal.
“Eu não acredito nisso!”
- Sério?
- Sério. A Alice faz e diz que gosta muito. Eu quero tentar também, mas não hoje. Quero
pegar umas dicas antes.
Eu fico olhando para ela sem saber o que dizer. É claro que eu sempre quis, mas ninguém
nunca quis fazer comigo.
- Tudo bem.
Ana olha para a TV e vê que a atriz está chupando o ator do filme. Ela fica na mesma
posição que a mulher está e eu entendo que ela quer fazer igual, então me posiciono igual ao ator.
Ana chupa meu pau daquele jeito incrível até me fazer gozar em sua língua.

Assim que chego em casa, ligo meu celular e recebo uma mensagem dizendo que eu perdi
67 chamadas da Hilary.
“Sessenta e sete!”
Por mais que eu não queira, telefono para ela.
- Where the fuck were you? (Onde diabos você estava?) – ela pergunta.
Por mais que nós nos conheçamos há mais de dez anos, ela não aprendeu nem uma palavra
em Português até hoje. Então, nós nos falamos em Inglês.
- Eu estava ocupado. Do que você precisa agora?
- A água continua vazando no porão. O encanador que você arrumou é uma porcaria.
- É claro que é! O que você esperava? Que eu encontrasse um encanador decente daqui do
Brasil? Eu não estou aí! Eu não posso conferir o trabalho dos outros a quilômetros de distância!
- E o que você está esperando para vir para cá?
- Eu não vou adiantar minha viagem, Hilary. Esqueça isso! Por que você não pede para a sua
mãe arrumar um encanador decente?
- Porque você é o meu marido e essa casa é sua!
- Agora a casa é minha? Só quando dá algum problema que ela é minha? Você é uma
mulher adulta agora! Arrume a porra de um encanador você mesma!
Desligo o telefone furioso, pego uma cerveja e me sento no sofá da sala.
“Ela me tira do sério!”
Hilary e eu nos conhecemos quando eu tinha 17 anos e ela 15. Ela começou a estudar na
mesma escola que eu e eu fiquei louco por ela. Eu estava no último ano e mal podia esperar para
ir para a faculdade. Hilary era mais ousada que as outras meninas da escola. Ela parecia mais
madura e independente e alguns dos rapazes do time de futebol americano comentavam que ela
fazia várias coisas com eles que as outras meninas não fariam. É claro que eu não era do time...
Futebol americano nem é futebol de verdade, em minha opinião, mas eles eram meus amigos e nós
andávamos sempre juntos.
Em uma das festas em comemoração à vitória do time, Hilary começou a se aproximar de
mim. Nós dançamos e bebemos juntos a noite toda, e antes da festa acabar, ela me levou para um
dos quartos da casa do Jason. A verdade é que eu achava que ela não era mais virgem por
conta de tudo que meus amigos contavam, mas a realidade era o oposto. Ela era tão virgem que
quando nós terminamos de transar, a cama estava toda suja de sangue.
Foi um escândalo na escola. Todos ficaram sabendo e isso foi parar nos ouvidos do meu pai.
Ele arrasou comigo e me obrigou a trazer a menina para nossa casa para jantar. As pessoas,
inclusive a Hilary, começaram a achar que nós éramos namorados e meus planos de diversão na
faculdade foram por água abaixo.
Já que a merda estava feita, uma noite eu a levei para o cinema e depois para minha casa.
Achei que nós fôssemos fazer sexo outra vez, mas ela disse que nós só faríamos de novo depois
que nos casássemos, o que não fazia o menor sentido na minha cabeça, já que eu não tinha
intenção alguma de me casar com ela. Eu, inocente como sempre, disse isso a ela, que ficou
revoltada e resolveu ir embora.
Algumas semanas mais tarde, eu cheguei em casa e encontrei meu pai e ela sentados na
mesa da sala. Foi o dia que a minha vida virou um inferno. Hilary foi lá para contar ao meu pai
que achava que estava grávida. Ele imediatamente disse que ela não criaria o neto dele sozinha e
que eu me casaria com ela querendo ou não.
Meu pai nos comprou uma mansão em Bel Air, no mesmo bairro onde nós morávamos em Los
Angeles, Califórnia. A Hilary teve o casamento dos sonhos de qualquer mulher em tempo recorde,
eu fui obrigado a começar a trabalhar com o meu pai para justificar a nossa mesada e é claro
que ela não estava grávida coisa nenhuma.
Nós moramos juntos durante um ano e todos os dias foram insuportáveis. Ela fazia de tudo
para me irritar e sempre que podia, falava mal do meu país de origem. Nada nunca estava bom
para ela e claro que sempre era por minha culpa. Até o fato de ela não conseguir gozar era
minha culpa. Hilary só sentia prazer com masturbação, sexo oral ou quando ela estava por cima de
mim. Ela dizia que nessa posição, ela conseguia porque era ela que estava fazendo tudo. Se fosse
em outra posição, era eu, e eu obviamente nunca fazia do jeito certo. É claro que, depois de alguns
meses, eu desisti de fazer sexo com ela. Era sempre frustrante demais para mim ouvi-la dizendo
que eu estava fazendo errado.
Algumas semanas antes do nosso primeiro aniversário de casamento, meu pai nos convidou
para fazer uma visita à empresa no Brasil. Eu fiquei muito animado com a ideia, mas Hilary disse
que jamais colocaria os pés “naquele país nojento”. Nesse instante, eu vi a luz no fim do túnel e por
isso resolvi voltar para o Brasil.
Quando eu disse isso para ela, Hilary não se incomodou que eu me mudasse sozinho para
cá, mas ela tinha algumas condições, é claro. A primeira era que eu continuaria sustentando todas
as despesas dela e da nossa casa. A segunda era que eu não podia trai-la e a terceira era que
eu voltaria uma vez por ano, no nosso aniversário de casamento, para visitá-la.
Eu agarrei essa oportunidade com unhas e dentes e me mudei o mais rápido que pude. Eu
comecei a fazer faculdade e a trabalhar na empresa do Rio. É claro que eu a traí diversas vezes,
tanto que uma vez ela descobriu e ameaçou se mudar para cá. Desde então, eu tenho sido muito
cuidadoso e nunca mais namorei ninguém. Eu saía com alguém vez ou outra, mas nunca mais tive um
relacionamento.
Na semana que eu costumo passar com ela, sou obrigado a ficar em casa quando ela está e
no dia do nosso aniversário, nós jantamos no restaurante mais caro da cidade, eu compro um
presente bem caro para ela, nós fazemos sexo quando voltamos para casa e ela reclama que
mesmo depois de todos esses anos eu ainda não aprendi.
Em uma das minhas visitas, eu perguntei a ela se ela não preferia se divorciar e fazer o que
ela quisesse da vida dela, disse até que ela poderia ficar com a casa e com o carro, mas ela não
aceitou. Em primeiro lugar, porque ela não nunca seria uma mulher divorciada e em segundo lugar,
porque ela provavelmente teria que trabalhar e isso não poderia acontecer de forma alguma.
E assim nós continuamos o nosso casamento de mentira até hoje. Ela me importunando sempre
que pode e eu vivendo a minha vida como bem entendo em outro país.
Meu celular apita uma mensagem e eu vejo que é dela.

Você é mesmo um imprestável!

“Novidade!”
Subo para o meu quarto, tomo um banho e depois vou direto para cama.
No dia seguinte, chego à empresa antes da Ana. Começo a trabalhar minhas ideias no
computador e algum tempo depois ela entra, linda em um terninho preto de saia. Seus cabelos
castanhos e cacheados estão soltos e lindos e seus olhos verdes brilham feito duas esmeraldas.
- Bom dia, senhor Collins – ela diz e pisca para mim.
Ana fecha a porta.
- Bom dia, linda.
Ela vai direto para a sala dela e eu a acompanho com o olhar. Ana arruma rapidamente
suas coisas e volta para a minha sala com a agenda nas mãos. Ao invés de se sentar na cadeira
de frente para minha mesa, ela se senta no sofá. Ana abre a agenda e me diz os compromissos do
dia. Aos poucos, ela vai abrindo as pernas e eu consigo ver uma calcinha de renda vermelha por
baixo de sua saia.
- Ana... Você está fazendo de propósito...
- O quê? – Ela pergunta sorrindo e percebo que ela sabe exatamente do que eu estou
falando.
Ela continua me dizendo os compromissos do dia e quando termina, pergunta:
- O senhor tem algum compromisso que precise ser acrescentado nos próximos dias?
- Ainda não.
- O senhor precisa de mim para alguma coisa?
- Você sabe que sim. Vem cá. Me dá um beijo.
Ana fecha a agenda, se levanta e encosta na porta. Com uma das mãos, ela abre
lentamente os dois primeiros botões de sua blusa e me mostra o sutiã vermelho, que parece um top
de renda. Eu consigo ver seus mamilos através dele.
- Agora não, mas eu tenho planos para nós dois mais tarde.
Eu me levanto, mas antes que eu consiga me aproximar, ela fecha a blusa, coloca a agenda
na frente e sai da sala. Vou até a porta, que ela deixou aberta, e vejo que ela entra no banheiro
do corredor.
“Provavelmente para fechar os botões...”
Volto para minha mesa e mando uma mensagem para o celular dela:

Para onde você vai? Você não pode me deixar aqui duro desse jeito...

Pouco tempo depois, ela responde:


Vou trabalhar com a Isabel o dia inteiro hoje.

Eu mando outra mensagem:

Nós nos encontraremos na hora do almoço, então?

Ela responde:

Não. Eu vou almoçar com a Isabel e com o namorado dela.

Mando mais uma mensagem:

E quais são os seus planos para nós dois? Eu quero sentir seu corpo no meu hoje, Ana! Você não pode
me seduzir desse jeito e depois me deixar na mão.

Ela demora um pouco, mas me responde mais uma vez:

Eu vou para minha aula de Inglês, depois você vai me levar para a faculdade, esperar uns quinze
minutos para eu pegar a minha nota e depois nós vamos juntos para o meu apartamento. Lá, você vai
poder ter o meu corpo até amanhã de manhã...

Começo a imaginar todas as coisas que nós faremos mais tarde e mando a última mensagem:

Combinado!

Fico olhando para o computador sem realmente ver nada que está a minha frente. Lembro-
me de vê-la gozando ontem e de nem ter percebido o que estava acontecendo. Eu passei tanto
tempo pensando que não era capaz de fazer uma mulher gozar em outra posição apenas com
penetração e só agora me dei conta que eu deixei de tentar. Sempre fazia elas gozarem sentadas
em mim ou com sexo oral e só depois mudava para uma posição em que eu realmente quisesse
estar.
Toda essa troca de posições me faz lembrar da cama de solteiro da Ana. Entro no site da
loja onde eu comprei os móveis novos do meu apartamento depois da reforma, compro uma cama
igual a minha e mando entregar ainda hoje na casa dela junto com quatro conjuntos de lençóis,
travesseiros e tudo mais.
Ligo para o Cadu para pegar o número do telefone da Lívia e peço que ela receba a
entrega e se desfaça da cama antiga da amiga. Ela adora a ideia e acha que a Ana vai gostar
da surpresa.
Passo o dia inteiro trabalhando na segunda fase do meu projeto, que está quase pronto, e
paro apenas para almoçar. No final do dia, Ana aparece para pegar suas coisas.
- Eu saio do curso às 17h. Onde eu te encontro?
- Na portaria.
Ela se aproxima e dá um beijinho em meus lábios.
- Até mais tarde – ela diz e vai embora.
É claro que essa é a hora que mais demora a passar o dia inteiro. Vou para a porta do
prédio onde fica seu curso e cinco minutos depois do horário, Ana aparece, mas sua expressão não
parece muito boa.
- Você está bem? – pergunto.
- É claro que não! Quem você pensa que é, seu idiota?
- Mas o que foi que eu fiz?
- Não se faça de sonso, Roberto! Você mandou substituírem meu professor!
- E precisa desse escândalo todo por isso?
- É claro que precisa!
- Está bem. Me desculpe. Nós podemos terminar essa conversa no seu apartamento?
- Nem sonhando! Eu não quero mais olhar para a sua cara hoje, quem dirá dormir com você!
Ana sai andando e eu vou atrás dela.
- Ana... Não faça isso... Eu fiquei com ciúme.
- Não me interessa, Roberto!
- Pare de gritar. Nós estamos no meio da rua e perto do trabalho.
- Foda-se! Pare de me seguir, então!
Eu paro onde estou e ela continua andando sem olhar para trás. Vejo-a entrando em uma
das estações do metrô e penso em ir buscá-la direto na faculdade, mas depois desisto. É melhor
deixar ela se acalmar hoje e conversar com ela só amanhã.
Vou direto para casa. No caminho ouço uma mensagem apitando no meu celular, mas resolvo
só abrir em casa. Acabo esquecendo e só vejo depois de tomar banho e comer um dos sanduíches
da Rute.
“Puta merda!”
A mensagem é uma foto do porão da minha casa com uma enorme poça de água e a
seguinte frase:

Estou indo para a casa da minha mãe. Se você não vier consertar essa merda, sua casa vai
inundar.

“Eu não acredito nisso!”


Ligo para a Hilary, mas ela não atende ao telefone. Ligo para o encanador e peço que ele
vá outra vez ver o vazamento.
- Mas, senhor, eu não sei o que pode ter acontecido. Eu consertei tudo direitinho e deixei
funcionando normalmente.
- Faça o que você puder para melhorar isso. Eu só posso viajar no domingo – digo a ele.
Eu prometi a Ana que seria o acompanhante dela na festa de formatura das amigas e não
posso simplesmente não ir. Assim que desligo o telefone, compro minha passagem pela internet
para domingo bem cedo e passo uma mensagem para a vaca da Hilary:

Estarei aí no domingo à noite. Enviei por e-mail os detalhes do meu voo. Faça a gentileza de mandar o
motorista, que EU estou pagando, ir me buscar.

Quando acordo no dia seguinte, não tenho vontade de ir trabalhar, mas vou mesmo assim,
pois quero ver a Ana. Chego mais tarde que o normal e vejo que Ana já está lá, pois suas coisas
estão sobre a mesa de sua sala. Ligo para a Isabel e peço que ela mande a Ana vir até a minha
sala.
Eu me sento no sofá, para manter um clima mais casual, e assim que ela entra, ela se senta
ao meu lado e nós dois falamos ao mesmo tempo:
- Me desculpe.
- Você não tem que se desculpar, Ana. Eu errei... Fiquei com ciúme quando vi vocês dois
conversando, mas eu não tenho o direito de interferir na sua vida dessa forma.
- Sim, é verdade, mas isso não me dá o direito de gritar com você e te xingar. Me desculpe.
- Tudo bem. Você estava brava. Eu entendo.
- Você promete que não vai mais fazer essas coisas? Eu juro que não estou saindo com mais
ninguém.
- Prometo – seguro uma de suas mãos e dou um beijo nela. – Eu tenho uma má notícia.
- O que houve? – ela pergunta preocupada.
- Eu vou ter que antecipar minha viagem para os Estados Unidos. Tem um vazamento no
porão da minha casa e o encanador que eu contratei não conseguiu consertar.
- E como você sabe sobre o vazamento?
“Merda!”
- Eu tenho uma governanta. Ela me telefonou para avisar.
- Tudo bem. Quando você viaja?
- No domingo de manhã.
Ana sorri.
- Você não precisa esperar tanto. Eu posso ir sozinha para a formatura das minhas amigas.
- Não, eu quero ir com você.
Ana dá um beijo em minha mão.
- Obrigada – ela faz uma longa pausa. – Bem, eu tenho que voltar ao trabalho.
- Está bem. Eu vou precisar que você ligue para adiar todos os meus compromissos da
semana que vem.
- Sem problemas. Farei isso. Nos vemos mais tarde.
Ela se levanta e vai embora, mas volta em seguida e sussurra com a porta aberta:
- Obrigada pela cama nova. Eu amei!
A semana inteira passa corrida demais e eu tenho que me dividir entre o projeto, arrumar
minhas coisas para a viagem e comprar presentes para os meus amigos de lá. Eles sempre pedem
que eu leve algumas coisas que eles amam daqui que não encontram nos Estados Unidos.
Eu mal vejo a Ana quando estou na empresa e não tenho muito tempo sobrando para ficar
trocando mensagens com ela.
Na sexta-feira, quando abro a porta do meu escritório, vejo a Ana sentada na minha
cadeira, mexendo no meu computador.
- O que você está fazendo? – pergunto.
Ela se afasta da tela e eu vejo que ela está com os óculos que eu tanto gosto, com os cabelos
presos em um rabo de cavalo e usando batom vermelho.
- Até que enfim você chegou! Tranque a porta.
- Para quê? – pergunto desconfiado.
Ela se levanta, se aproxima de mim e tranca a porta.
- Para eu chupar você.
Ana beija o meu pescoço e tira meu paletó. Ela afrouxa minha gravata e a tira pela minha
cabeça antes de me puxar até o sofá. Eu me sento, mas ela sussurra:
- Deite-se.
Ana tira seu blazer e eu vejo que por baixo dele, ela está com uma blusa preta, colada ao
corpo e sem sutiã. Ela tira a blusa e fica de joelhos no sofá. Lentamente, ela abre os botões da
minha camisa e se abaixa para me beijar.
Sinto seus mamilos roçarem pelo meu peito e ela geme baixinho em meus lábios. Ana desce
beijando meu peito e meu abdômen. Ela abre meu cinto, minha calça e puxa meu pau e minhas
bolas para fora.
- Ana... Nós não podemos fazer isso aqui. Vamos para o meu carro.
Ela não diz nada e engole meu pau todo de uma vez só.
- Ai, caralho! Que delícia.
Ela repete a mesma coisa e começa acariciar minhas bolas. Ana olha para mim por cima dos
óculos. É incrível ver meu pau desaparecendo entre seus lábios vermelhos enquanto aqueles olhos
verdes me encaram. Ela tira a boca, começa a me masturbar e diz:
- Goza para mim, Roberto.
- Porra, Ana!
Ela coloca minha glande na boca e chupa enquanto continua olhando para mim. Eu gozo
violentamente. Ana levanta a saia e eu vejo que ela está sem calcinha. Ela senta no meu pau e eu
sinto uma coisa esquisita, um misto de nervoso e prazer. Ana segura os seios e os oferece para mim
enquanto cavalga no meu pau. Eu chupo um deles com vontade enquanto ela persegue seu próprio
prazer. Alguns minutos depois, Ana deixa o corpo cair sobre o meu, ofegante.
- Uau! – ela diz.
Eu apenas fico lá, seminu no meu escritório, abraçando-a.
- O que você vai fazer hoje à noite? – pergunto algum tempo depois.
- As meninas e eu combinamos de ir para a casa da Alice para começar a comemoração.
Mas só nós.
- Que pena.
- Mas nós nos veremos amanhã, não é?
- Sim, mas só à noite. Combinei com meu pai de pegar alguns documentos com ele para levar
para a empresa já que eu estou indo para lá e nós teremos uma reunião durante o dia.
- Tudo bem.
Ana se levanta e vai ao banheiro. Quando ela volta, eu entro para tentar me arrumar um
pouco.
- Você quer almoçar comigo hoje? – pergunto.
- De novo?
- Não, Ana. Almoçar de verdade – respondo sorrindo.
- Eu combinei de almoçar com a Giulia. Se eu cancelar, ela vai encher meu saco pelo resto
da vida.
- Não tem problema. Eu vou ficar na empresa até a hora do almoço, depois vou voltar para
casa para terminar de resolver as coisas da viagem.
- Eu estou indo para a sala da Isabel. Nós nos vemos amanhã.
Eu pisco para ela e digo:
- Até amanhã, linda.
Ana pega suas coisas e sai da sala. Eu faço o que disse a ela durante o dia e à noite saio
para jantar com o Cadu.
- É verdade que você vai para os Estados Unidos no domingo? Eu ouvi a Ana falando para
a Isabel – ele me pergunta.
- Infelizmente. A casa está com um vazamento e a Hilary se recusa a encontrar um
encanador. O que eu mandei disse que consertou, mas que o cano apareceu arrebentado outra
vez.
- Você falou a verdade para a Ana?
- É claro que não!
- Onde você pretende chegar com isso, Roberto?
- Eu não sei. Você sabe que meu casamento não é de verdade, mas você acha que a Ana
vai querer continuar saindo comigo se eu disser que sou casado?
- Acho que não – Cadu faz uma longa pausa. – A Lívia pediu para ser minha submissa.
Eu mal posso acreditar no que ouvi.
- O quê? Você está de brincadeira!
- Não.
- E você aceitou?
- Eu disse que iria pensar. Ela não é submissa, Roberto. Seria uma luta diária até ela
aprender e mesmo assim, vai contra a natureza dela. Eu não sei se estou disposto a isso.
- Você gosta dela, não é?
- Ela me encanta de uma forma que eu não sei explicar.
- Vocês não são obrigados a ficar juntos para sempre. Tente por algum tempo, se não
funcionar, você termina. É melhor do que não saber se daria certo ou não.
- Você tem razão... Eu vou pensar.
- Ela te convidou para a formatura das amigas?
- Sim, mas eu só vou se tiver decidido até lá.
Cadu e eu ficamos bebendo mais um pouco depois do jantar e algumas doses mais tarde,
cada um vai para sua casa. Meu pai passa o sábado inteiro me dando inúmeras recomendações
de como lidar com a empresa na Califórnia, de como lidar com a minha esposa e até o que fazer
com o vazamento da minha casa. Por causa dele, eu acabo me atrasando para a festa de
formatura. A cerimônia foi na faculdade delas no fim da tarde, mas Ana sabia que eu iria apenas
para a festa, que será em um salão de festas perto do campus onde elas estudam.
Chego ao salão e avisto de longe todas as meninas juntas, menos a Ana. Começo a procurá-
la e a vejo no canto da pista de dança, encostada na parede, com um rapaz bem próximo a ela
falando algo em seu ouvido.
Eu respiro fundo, tentando me controlar e caminho para perto deles. Ana me vê e
desencosta da parede. O rapaz se afasta um pouco dela e ela diz:
- Gabriel, esse é o Roberto que eu estava te falando. Roberto, esse é um amigo da
faculdade, ou melhor, do bar da faculdade.
Eu aperto a mão dele.
- Então você é o namorado dela? – ele pergunta.
- Isso – eu respondo.
- Eu não disse que ele era meu namorado, Gabriel – Ana diz.
- Mas se você não pode sair com mais ninguém significa que vocês estão namorando, não é
isso? – o rapaz pergunta olhando para mim.
- Exatamente – eu respondo. – Com licença, Gabriel. Eu preciso levar a Ana por alguns
instantes.
Ela apoia o braço no meu, nós nos afastamos um pouco e ela diz.
- Eu sinto muito. Eu realmente estava dizendo para ele que nós estamos juntos.
- Tudo bem. Eu estou bem. Não tem problema.
“Tudo mentira!”
Por dentro, eu estou morrendo de ódio e de ciúme, mas eu preciso me controlar depois da
mancada que dei por causa do professor de Inglês.
A festa é bastante animada e Ana passa pouco tempo comigo já que tem muitos amigos dela
lá. Ela e as amigas dançam grande parte da noite e eu fico sentado, bebendo e observando. O
Cadu não aparece e Lívia me pergunta umas três vezes se eu sei algo sobre ele. No final da festa,
Ana e eu vamos para o apartamento dela e as amigas dela decidem ir à uma boate para
continuar a comemoração.
- Me desculpe por atrapalhar seus planos com as suas amigas. Se eu soubesse, teria
marcado a viagem para antes da festa – digo enquanto tiro minha roupa em seu quarto.
- Roberto – Ana acaricia meu rosto –... Eu não fui porque não quis. E você não tinha como
adivinhar. Elas inventaram isso em cima da hora. Eu estou feliz de estar aqui com você.
- Eu também estou.
Pego uma cueca na minha mochila e vou para o banheiro. Deixei minha mala pronta no
carro, pois amanhã de manhã vou direto para o aeroporto. Tomo um banho e depois Ana entra
para tomar o dela.
Ainda bem que eu comprei uma cama nova para ela senão hoje seria outra noite mal
dormida. Eu me deito e espero que Ana volte para o quarto. Quando ela aparece, traz uma
garrafa de vinho branco e duas taças. Ela me dá uma delas e me serve. Nós brindamos e Ana diz:
- Você promete que não vai ficar com ninguém quando estiver na Califórnia?
“Essa vai ser difícil...”
- Prometo. Você promete que não vai ficar com ninguém enquanto eu estiver fora?
Ana sorri e responde:
- Prometo. Você promete que vai me ligar todos os dias?
- Prometo. Você promete que vai pensar em mim todos os dias?
- Prometo.
Ana bebe o vinho de sua taça todo de uma vez, coloca a taça no chão, se deita na cama e
diz:
- Faz amor comigo, Roberto.
Sinto meu coração bater mais forte. Coloco minha taça no chão também e me deito ao seu
lado. Ana e eu deixamos o prazer tomar nossos corpos de forma lenta e suave, durante horas
intermináveis. Depois, dormimos nos braços um do outro e eu me sinto completo pela primeira vez
na vida.

Quando levanto na manhã seguinte, o dia nem clareou ainda. Tomo um banho rápido e
quando saio do banheiro, vejo Ana na cozinha fazendo café.
- Por que você está fora da cama? – pergunto e dou um beijo em seu ombro.
- Eu quero te levar no aeroporto.
- Eu vou adorar.
Volto para o quarto dela para arrumar minhas coisas e quando estou pronto, vou para a
sala tomar café com ela. Inesperadamente, a campainha toca.
- Mas quem será a essa hora?
Ana se levanta e abre a porta.
- Cadu?
Quando ouço o nome do meu amigo, me levanto e vou até a porta. Cadu entra e eu vejo que
ele está alterado.
- O que aconteceu? – eu pergunto.
- Eu vim falar com a Lívia. Ela está aqui?
- Sente-se um pouco – Ana diz. – Você está bêbado?
- Um pouco? – Ele diz, confuso, antes de se sentar.
Ana vai até o corredor e volta.
- Ela está aqui sim. A porta do quarto está fechada e quando nós fomos dormir estava
aberta. Mas está muito cedo. Você não quer voltar mais tarde quando você estiver melhor?
- Eu estou ótimo.
Ele se levanta e vai em direção ao quarto dela. Nós ouvimos ele abrindo a porta e dizendo:
- Lívia...
Mas logo depois ele fica em silêncio. Alguns segundos depois, Cadu aparece, abre a porta
da sala e sai revoltado. Logo em seguida, Lívia aparece descalça com uma camisa maior do que
ela que tem o desenho de uma coruja e a palavra “Letras” escrita embaixo dela.
- Espere, Carlos Eduardo! – ela grita. – Volte aqui!
Ela sai do apartamento atrás dele. Quando olho para Ana, vejo que ela está com os olhos
arregalados.
- Puta que pariu, Thiago! – ela grita enquanto se levanta e vai para o quarto da amiga.
“Mas quem é Thiago?”
Vou atrás dela e vejo um homem se vestindo enquanto Ana grita com ele.
- Eu não usei a chave! Foi ela quem me convidou – o rapaz diz.
- Fora daqui! Eu vou contar tudo para a mamãe!
- Vai contar que você tem um namorado também? – ele pergunta debochando dela.
- Eu... É... Ele não é meu namorado!
- Sou sim. E meu nome é Roberto.
Me aproximo e aperto a mão do rapaz, que agora eu deduzo ser o irmão dela. Ana me
fuzila com o olhar e sai do quarto da Lívia.
Eu vou mais uma vez atrás dela e Ana sai do apartamento. Ela desce as escadas correndo e
quando chegamos à portaria vemos Lívia sentada na calçada do lado de fora do prédio. Ana se
senta ao lado dela e eu decido manter a distância e deixá-las conversando.
Alguns minutos depois, o irmão da Ana sai do prédio, dá um tapinha no meu ombro e vai
embora sem dizer nada. Logo em seguida, as duas se levantam e nós três voltamos para o
apartamento. Assim que entramos, eu pego minha mochila e digo:
- Pode ficar com a sua amiga. Eu vou sozinho.
- Tem certeza? – Ana me pergunta.
- Tenho.
Ela se aproxima de mim e me dá um abraço apertado.
- Eu vou sentir saudade.
Passo a mão pelo seu rosto e respondo antes de beijá-la:
- Eu também.

Meu voo demora, mas é bem tranquilo e eu aproveito para dormir bastante. Só acordo para
comer e ir ao banheiro. Quando saio do aeroporto, o motorista da Hilary está lá esperando por
mim.
- Boa noite, senhor Collins.
- Boa noite, Philip.
- O senhor vai direto para casa ou quer parar em algum lugar antes?
- Direto para casa, por favor.
Entro e fico esperando até ele colocar minha mala no carro e entrar também.
“Mas que inferno!”
Nada me aborrece mais do que ter que vir para cá. Por mais que aqui eles estejam no verão
e meu bairro seja bastante agradável, eu não consigo suportar ficar aqui mais do que uma
semana. Sinto falta da praia, das pessoas falando minha língua, de ver todo mundo sorrindo
mesmo sem ter motivos para isso...
No longo caminho até a minha casa, passo uma mensagem para Ana.

Cheguei. Aqui são quatro horas a menos do que aí. Você pode me ligar ou mandar mensagem
sempre que quiser. Espero que tenha ficado tudo bem com a sua amiga.

Alguns minutos depois, ela responde:

Desculpe a demora. Eu estava tomando banho. Estou me preparando para dormir. Ela está bem,
sim. Eles meio que terminaram. Eu te conto o que aconteceu quando nos falarmos por telefone.
Saudade!

“Eu também, linda...”


Chego em casa e encontro tudo apagado. Coloco minha aliança no dedo e penso em ir
direto ao porão para ver o problema, mas desisto. Deixo minha mala na sala e vou até a cozinha.
Vejo através das cortinas que as luzes do quintal estão acesas, abro a porta e encontro todos os
meus amigos e alguns vizinhos lá.
Alguns estão sentados em volta da grande mesa do jardim outros dentro da piscina e eu não
consigo entender o que eles estão fazendo ali.
Sinto alguém tocando meu braço e quando me viro, vejo a Hilary. Ela sorri, me entrega uma
taça com Martini e diz:
- Seja bem-vindo!
Hilary me dá um beijo demorado e eu me sinto mal pensando na Ana.
Meus amigos começam a se aproximar e a me cumprimentar. Um deles me diz:
- Sua mulher está mudando, cara! Você acredita que foi ela que inventou essa festa?
“Impossível!”
Hilary sempre odiou os meus amigos e sempre fez tudo que pôde para me afastar deles. Ela
aparece outra vez ao meu lado e me entrega uma sunga e um roupão.
- Caso você queira entrar na piscina.
Há garçons servindo bebidas e comidas e é claro que as amigas dela também estão aqui.
Tudo que eu queria era ir para o meu quarto e dormir, mas agora vou ter que ficar aqui até sabe-
se lá que horas.
Depois de falar com todo mundo e dizer que entregarei os presentes outro dia, vou para o
banheiro do jardim, coloco minha sunga, meu roupão e ao invés de me juntar aos outros, vou para
o chalé onde tem uma piscina aquecida.
Enquanto meus músculos relaxam com o calor da água, penso em como seria incrível ter a
Ana aqui comigo. Penso em mandar uma mensagem para ela, mas desisto, pois ela já deve estar
dormindo.
Vou ficando cada ver mais angustiado com a merda que aconteceu em minha vida e que eu
não consigo encontrar uma solução para ela. Ouço a porta do chalé se abrindo e nem olho para
trás, deve ser algum dos meus amigos que me viu entrando aqui.
Hilary entra na piscina com um maiô preto muito bonito. Eu não sei por que ela só usa maiôs.
O corpo dela é lindo e perfeito, mas ela se recusa a usar biquínis. Ela vem nadando em minha
direção, se senta em meu colo e me abraça.
- Eu senti sua falta – ela diz.
- Menos, Hilary. Você nunca sente minha falta. De onde veio isso agora?
- Por que você está aqui sozinho? Não gostou da festa que eu preparei para você?
- Gostei. Obrigado. Eu só estou cansado. Você sabe... Horas de viagem, conexão...
- Você quer que eu mande todo mundo ir embora?
- Não.
Ela me beija e eu me vejo obrigado a retribuir.
- O encanador voltou para consertar o cano? – eu a afasto.
- Eu não quero falar sobre o encanador agora, Roberto. Nós vamos resolver tudo amanhã.
Hilary volta a me beijar. Há alguma coisa errada. Há alguns dias ela estava sendo a Hilary
de sempre e enchendo o meu saco. Agora que eu finalmente estou aqui, ela parece outra pessoa.
- O que você quer? – eu pergunto.
- Como assim?
- Por que você está agindo dessa forma? O que você quer?
- Cruzes, Roberto! Como você é insensível! Você é meu marido! Tem quase um ano que eu não
te vejo. Eu estou com saudade.
- Você passa meses sem me dar nem um telefonema.
- Você é realmente muito grosso! Eu estou tentando te agradar e fazer as pazes e você me
trata desse jeito?
- Fale de uma vez o que você quer, Hilary!
Ela faz uma longa pausa e bufa como se eu estivesse arruinando os seus planos.
- Um filho. Eu quero ter um filho com você.
Fico olhando para ela sem saber o que dizer.
- Você ficou maluca?
- Por quê? O que há de anormal em eu querer ter um filho com o meu marido?
- Hilary, nós não somos um casal de verdade! Nós não moramos nem no mesmo país! Como
você pretende criar essa criança?
- Eu acho que já está na hora de você voltar para casa, Roberto. E se nós tivéssemos um
filho, você teria ainda mais motivos para voltar.
- Não.
Tiro ela do meu colo e saio da piscina. Visto meu roupão e saio do chalé enquanto ela grita
meu nome. Passo por todos os convidados sem falar com ninguém e vou para casa. Subo direto
para o nosso quarto, tomo uma chuveirada e vou para cama.
“Ela só pode estar de brincadeira!”
Capítulo 8

“Olhos fechados pra te encontrar. Não estou ao seu lado, mas posso sonhar.
Aonde quer que eu vá, levo você no olhar.”
Aonde quer que eu vá – Os Paralamas do Sucesso
Ana
Acordar depois da festa da empresa e encontrar o Cadu sentado na sala com o Roberto,
não era o que eu esperava para começar meu domingo, mas tudo definitivamente piora, quando
vemos ele levando a Lívia para o quarto e escutamos ele batendo nela. Minha vontade é de
invadir o quarto e bater nele também, mas fico com medo. Lívia grita pedindo mais e eu não posso
acreditar em meus ouvidos.
“Nós duas teremos uma conversa muito séria mais tarde!”
É claro que isso abala o meu dia e meu humor fica meio esquisito durante muito tempo.
Roberto e eu passamos o domingo todo juntos e conversamos um pouco sobre a vida dele lá nos
Estados Unidos. Ele não parece gostar de lá. O que é muito estranho, já que muitas pessoas
trocariam um braço para poder viver em outro país.
Depois do almoço, nós voltamos para o meu apartamento e fazemos sexo. Roberto continua
insistindo para que eu fique por cima dele e eu não sei de onde ele tirou essa ideia de que eu só
vou ter um orgasmo nessa posição.
Nós ficamos juntos até de noite, abraçados e vendo TV. Roberto vai embora e eu não digo
nada, mas eu confesso que queria que ele ficasse aqui comigo. Eu me sinto mais leve ao lado dele.
Como se eu não precisasse me preocupar com nada... nem com o meu trabalho, nem com minhas
provas... Como se a vida pudesse ser apenas divertida.
Eu não vejo a Lívia o resto do domingo inteiro e não sei onde ela está. Na segunda de
manhã, abro a porta do seu quarto e vejo que ela está lá, mas decido não acordá-la. Enquanto
separo minha roupa, penso em uma forma de chamar a atenção do Roberto e escolho um conjunto
de calcinha e sutiã de renda vermelha.
“Acho que ele vai gostar!”
Vou para o trabalho e assim que chego em nosso andar, Isabel está esperando por mim na
recepção.
- Oi, Ana! Nós vamos trabalhar juntas essa semana de novo!
“E como é que eu vou olhar para a cara do Cadu agora?”
- Que maravilha – finjo estar animada.
- Sim! Projeto novo! Vai ser divertido! Deixe suas coisas na sua sala e traga só a agenda. E
nós vamos almoçar com meu namorado hoje, Ana. Ele vai nos encontrar assim que conseguirmos um
intervalo para comer.
- Está bem. Eu já volto.
- Ah! O Roberto já chegou. Bata na porta – ela diz rindo.
Meu plano era seduzi-lo na hora do almoço, mas como teremos um projeto novo, não terei
uma hora de almoço e a Isabel já planejou tudo, então decido convencê-lo a ir me encontrar no
meu apartamento mais tarde. E assim eu o faço. Deixo que ele veja minha lingerie e saio da sala
correndo antes que ele tenha tempo de se levantar e me segurar lá. Por mensagens de texto, nós
combinamos de nos encontrar mais tarde, depois da minha aula.
Entro na sala do Cadu, pois infelizmente, tenho que passar por ela antes de ir para a da
Isabel.
- Bom dia, Ana Luiza – ele diz.
- Bom dia.
Isabel está em pé ao lado dele e eu tento manter a compostura.
- Como foi o seu final de semana?
“Ele só pode estar de brincadeira!”
- É... Normal.
- Que bom. Aproxime-se. Vamos começar a trabalhar.
Isabel abre uma caixa rosa pink e eu vejo alguns brinquedos eróticos. Cadu tira todos de
dentro da caixa e coloca sobre a mesa.
- Nosso projeto é para uma loja de produtos eróticos. Eles enviaram alguns dos produtos
para teste e pesquisa. Aquelas outras caixas têm o mesmo que essa aqui. Você conhece essas
coisas, Ana Luiza?
Isabel dá uma risadinha e eu olho para ela de cara feia.
- Creio que sim.
- Bem, temos aqui um vibrador clitoriano, um par de algemas, uma imitação de chicote...
Ele frisa o “imitação” e sorri para mim.
“Com certeza ele sabe a diferença...”
- Uma venda – ele continua – e uma vela erótica, mais conhecida como hot wax. Você sabe
para que serve essa vela, Ana?
Parece que ele pegou esse projeto e me colocou para trabalhar nele para me irritar.
- Para aromatizar o ambiente?
Ele sorri e passa a mão pelos cabelos.
- Não. Serve para você jogar a cera no corpo da pessoa.
“Mas que porra é essa?”
Fico olhando para ele sem saber o que dizer. Passa imediatamente pela minha cabeça ele
jogando cera quente na minha amiga e minha vontade é de dar uma voadora na cara dele.
- E isso não queima as pessoas? – Isabel pergunta.
- Sim, mas se você souber como usar, queima apenas o suficiente para dar prazer.
- E o que nós teremos que fazer dessa vez? – Ela pergunta.
- O mesmo da vez anterior. Vocês vão fazer a pesquisa de rua mostrando os produtos para
ver o que as pessoas acham deles e selecionar vinte pessoas para a pesquisa continuada. Essas
pessoas levarão a caixa para casa e utilizarão os produtos antes de dar sua opinião final.
Ele coloca tudo dentro da caixa, a fecha e continua:
- Essa caixa é sua, Ana. A Isabel já pegou a dela – tenho que me controlar para não
mandá-lo para um lugar desagradável. – Vocês já podem começar. Alguma pergunta?
- Não – Isabel diz animada e eu só nego com a cabeça.
- Nos encontraremos no final do dia.
Pego minha caixa e sigo Isabel até a sala dela. Deixo a caixa lá e nós vamos para a
pesquisa na rua. É a situação mais constrangedora que já passei em toda a minha vida. A maioria
das pessoas fica olhando como se nós fôssemos loucas e alguns homens têm a coragem de tentar
marcar um encontro com uma de nós só por que estamos segurando aquelas coisas.
Para me distrair um pouco, passo grande parte do dia pensando em como o Roberto está
lindo com aquele terno cinza e a gravata verde, e decidindo se devo ou não deixar ele tirar a
roupa quando chegarmos lá em casa.
Nossa pausa para o almoço é bastante divertida e o namorado da Isabel fica interessado
em usar os nossos produtos o mais rápido o possível.
No final do dia, eu passo em minha sala correndo, pois já estou atrasada, e combino com
Roberto onde nos encontraremos depois da minha aula. Quando chego no curso, vejo que o Pedro,
meu professor, não está lá e sim uma mulher.
- Boa tarde! Meu nome é Luciana e eu serei sua nova professora.
- O que aconteceu com o Pedro?
- Ele foi transferido.
- Por quê?
- Eu não sei, mas você pode conversar com a coordenadora no final da aula.
- Está bem.
A aula flui bem e ela é até melhor do que o Pedro, que passava metade da aula falando em
Português sobre as nossas vidas e não sobre o que eu tinha que aprender. Passo na sala da
coordenadora antes de ir embora e me surpreendo quando ela diz:
- O seu chefe pediu que ele fosse transferido.
- O quê? Mas por quê?
- Ele não disse o motivo. Apenas pediu que você tivesse uma professora e não um professor.
O ódio toma o meu corpo e eu gostaria muito de ter um bastão para acertar na cabeça do
Roberto nesse momento.
- Tudo bem. Obrigada.
Saio da sala dela e assim que encontro Roberto na portaria, faço um escândalo tão grande
que nem eu sabia que era tão barraqueira. Vou embora, deixando-o para trás. Só consigo me
acalmar depois de pegar minha nota e ir com as meninas para o bar. Conto para elas o que
aconteceu e Alice diz:
- Ele não pode fazer isso.
- Eu sei! A nova professora é até melhor, mas ele não tem o direito de interferir na minha
vida dessa forma. Eu só estou me sentindo mal porque eu gritei com ele e não acho isso certo.
- Você também não pode sair gritando com outros – diz Giulia. – É falta de respeito. Você já
é uma mulher adulta, Ana.
- Eu vou pedir desculpas amanhã e conversar com ele.
- Mas como ficou o final da festa da empresa? – Clara pergunta. – Foi muito legal! Pena que
nós tivemos que ir embora cedo.
- Ah, foi incrível! – Alice diz. – Na verdade foi mais legal depois da festa. Não é que o
Marcos gosta mesmo de swing? Foi uma das minhas melhores noites lá no clube.
Alice nos conta um pouco do que aconteceu. Ela nunca fala muitos detalhes do que ela faz
nesses lugares, mas sempre conta o básico da história. Ela diz que nós não fazemos essas coisas e
que ela não quer influenciar ninguém.
- Mas e a sua noite, Lívia? Como foi? O Carlos Eduardo não te deixou conversar com
ninguém a noite toda – Clara diz.
- Não seja exagerada, Clara. Você nem estava lá a noite toda para dizer isso. E
respondendo a sua pergunta, foi ótima.
Eu fico só olhando para a cara dela para ver se ela vai dizer o que aconteceu no domingo.
- O Cadu dormiu lá em casa – ela continua. – E foi basicamente isso.
- Basicamente isso? – pergunto já ficando irritada.
- Sim. Você quer que eu conte em que posição ele me comeu? A Alice não contou as posições
que ela fez.
- Isso não vai ficar assim – digo baixinho para que só ela ouça. – Falando nas posições da
Alice... Quem mais já fez sexo anal?
Elas começam a rir descontroladamente.
- Caralho, Ana! Só você para abordar esses temas dessa forma – Clara diz rindo. – Eu não.
O Eric sempre pede, mas eu não tenho coragem.
- Eu acho que não preciso nem responder – Giulia diz.
- Eu já fiz. Com seu irmão, inclusive – diz Lívia.
- Eca, Lívia! Eu não quero saber das suas intimidades com o meu irmão!
- Mas ele sabe fazer direitinho. Se o cara não souber fazer, não rola.
- Você é nojenta! Não fala mais comigo – dou as costas para ela. – Alice, você sempre diz
que não dói, mas como faz para não doer?
- Você tem que começar com calma. E é o que a Lívia disse, o cara tem que saber fazer, Ana.
Ou você tem que ensinar para ele.
- E como eu vou ensinar se eu não sei?
- É mais ou menos assim...
Alice me dá algumas dicas como velocidade, posições e lubrificantes que ajudam nas
primeiras vezes. Nós ficamos algumas horas no bar, mas vamos embora cedo, pois só viemos buscar
nossa nota. Acho estranho o Gabriel não estar trabalhando hoje, mas não comento nada com
ninguém.
O motorista da Lívia nos leva para casa e assim que ele para na porta do nosso
apartamento, eu saio do carro, mas Lívia continua lá dentro.
- Você não vem?
- Não. Eu vou visitar meus pais.
- Você não pode escapar da nossa conversa para sempre, Lívia. Uma hora ou outra você vai
ter que me contar que merda foi aquela.
- Eu vou. Mais tarde.
Vou para casa e pego uma cerveja antes de começar a arrumar parte das coisas que ainda
estão espalhadas na sala. Vejo um bilhete no balcão e é da Lívia.

Chegou um presente para você. Coloquei no seu quarto. Foi o Roberto que mandou.
Vou até lá ver o que é e me deparo com uma enorme cama de casal no lugar da minha. Há
uma sacola sobre ela com alguns jogos de cama de cores diferentes, mas nenhum bilhete. Fico
ainda mais arrependida de ter brigado com ele, mas decido não ligar e sim pedir desculpas
pessoalmente.
Arrumo algumas coisas, tomo banho e vou me deitar. Não vejo a Lívia voltar para casa, mas
na manhã seguinte, vejo que ela está lá. Chego ao trabalho no horário de sempre, mas Roberto
não está lá. Guardo minhas coisas e vou para a sala da Isabel para começar as tarefas do dia.
Algumas horas mais tarde, Roberto liga para ela e pede que eu vá à sala dele. Eu aproveito para
me desculpar e ele se desculpa também, o que me deixa muito feliz, pois vejo que ele entendeu
que o que ele fez não é certo.
Nós conversamos um pouco e ele me diz que vai ter que antecipar sua ida aos Estados
Unidos, pois aconteceu um problema na casa dele. Ele me diz que só vai depois da festa de
formatura das minhas amigas e eu fico feito uma boba por ele ter pensado nisso.
Quando volto para a sala da Isabel, vejo que ela está em pé na porta me esperando.
- O que houve?
- Não sei. Uma mulher chegou para ter uma reunião com ele. Ela não estava agendada. Ele
pediu que eu saísse e levasse você para uma das salas de reuniões. Vamos logo que eu tenho que
te passar algumas coisas antes de sairmos para a pesquisa de hoje.
Nós passamos o dia inteiro trabalhando juntas e eu não vejo mais o Roberto. Vou para a
faculdade pegar minha nota e dessa vez nós vamos direto para casa, sem passar no bar. Assim
que chegamos, Lívia vai até a cozinha e pega uma garrafa de vinho. Ela nos serve e se senta ao
meu lado no sofá.
- Pergunte de uma vez o que você quer saber.
- Ele te bateu naquele dia, não foi?
- Foi.
- Lívia! Como você pode dizer isso com essa naturalidade?
- Eu gostei, Ana. Não me machucou. Quer dizer, machucou um pouco, mas... me deixou
excitada e foi incrível quando ele me penetrou. Ele...
- Eu não quero saber dos detalhes. Eu estou preocupada com você. Você acha isso normal?
- Normal, sim. Convencional, não. Eu também não sei de muitas coisas, mas eu quero saber
mais. Eu quero tentar para ver se vou gostar.
- Mas por quê?
- Não sei... Eu me sinto segura com ele. É como se só eu e nada mais importasse para ele
quando nós estamos juntos. Eu me sinto importante.
- Lívia, você é importante para mim, para as meninas, para os seus pais...
- É diferente, Ana. Cada uma de vocês tem uma vida própria para cuidar e meus pais e
nada dá no mesmo, eles nunca ligaram muito para mim. O Cadu é... É como se eu fosse a vida
dele.
- Você só saiu com ele duas vezes.
- Três. Eu fui para a casa dele ontem e não para os meus pais. E eu fui ao escritório hoje.
- Ah! Então você era a mulher sem horário marcado?
- Sim.
- E o que você foi fazer lá?
- Fui pedir para ser a nova submissa dele.
Fico sem palavras.
- Eu juro que preferia ser surda a ouvir um absurdo desses. Você só pode ter ficado maluca!
- Eu poderia estar chamando você de maluca por estar dormindo com seu chefe, mas ao
invés disso, eu estou te apoiando porque sei que você gosta dele. Você não pode fazer o mesmo?
- Isso é completamente diferente, Lívia! Ele pode te machucar.
- Mas eu quero tentar. E eu não vou ficar discutindo isso com você cada vez que eu sair com
ele. Isso não é da sua conta.
Fico em silêncio por alguns minutos tentando ver o lado dela.
- Está bem. Mas você tem que me prometer que vai me contar se algo de ruim acontecer ou
se ele fizer algo que você não goste.
- Eu prometo – ela diz sorrindo.
- E ele te aceitou como submissa?
- Ele disse que vai pensar, pois minha natureza não é submissa e ele não quer tentar me
transformar em algo que eu não sou.
“Menos mal.”
Nos outros dias da semana, eu quase não vejo o Roberto. Eu trabalho muito com a Isabel e
quando não estou com ela, estou no telefone reagendando os compromissos dele. Na sexta, resolvo
surpreendê-lo e nós fazemos sexo no escritório. A princípio ele não quer, mas se deixa levar e é
muito gostoso.
Na hora do almoço, eu encontro a Giulia e depois de comermos saímos para comprar um
vestido de formatura para ela. Nos encontramos outra vez na faculdade e de lá vamos para a
casa da Alice para começar a comemoração.
Lívia conta para as meninas sobre o Cadu e elas também não aprovam a situação, mas assim
como eu, decidem parar de reclamar e esperar para ver o que acontece. Nós ficamos bebendo e
conversando até tarde e no dia seguinte, nos encontramos outra vez na casa da Alice para nos
arrumarmos juntas para a festa. Elas ficam lindíssimas em seus vestidos de formatura. Como Lívia e
eu somos apenas convidadas, não nos arrumamos tanto quanto elas.
Quando estamos prontas, vamos para a cerimônia, que acontece no auditório da faculdade.
Está tudo lindo e enfeitado com flores e bolas. A cerimônia é a mesma de todas as formaturas. Um
monte de discursos de alunos e professores até que eles começam a entregar um canudo de
diploma vazio, pois o mesmo só será depois da cerimônia. Lívia e eu nos sentamos com os pais das
meninas e eles, obviamente estão muito orgulhosos delas.
De lá, nós vamos para a festa. O salão de festas também está superlindo e muito bem
decorado. Os pais das minhas amigas sentam todos juntos em uma mesa e nós sentamos em outra,
mas as meninas logo se levantam para tirar milhares de fotos.
- Que horas o Roberto vai chegar? – Lívia me pergunta.
- Não sei. Ele tinha uma reunião com o pai hoje e disse que só poderia vir para a festa. Por
quê?
- Eu convidei o Cadu e estou pensando que talvez eles venham juntos.
- Ele já respondeu se te aceita ou não?
- Ainda não, mas ele disse que me diria da próxima vez que nos víssemos.
Eu seguro sua mão.
- Não se preocupe. Vai dar tudo certo.
- Obrigada, amiga.
Nós vamos tirar fotos com as meninas e começamos a beber e a dançar. É ótimo, pois todos
os nossos colegas da faculdade estão lá. Enquanto estou dançando, sinto alguém me abraçando
por trás e me viro achando que é o Roberto, mas na verdade, é o Gabriel. Eu me afasto um pouco.
- Oi, Gabriel! Você também foi convidado?
- Sim, o Lucas me chamou.
- Legal!
- Você está linda, Ana!
- Obrigada.
Ele segura minha mão e me afasta do meio da pista de dança. Gabriel me encosta na
parede e me dá um beijo de tirar o fôlego. Eu o empurro com delicadeza e pergunto:
- O que você está fazendo?
- Estava com saudade. Você quase não vai mais me visitar.
- Eu estou saindo com uma pessoa, Gabriel.
- Mentira!
- Eu juro. O nome dele é Roberto e nós combinamos de não sair com mais ninguém, pelo
menos por enquanto.
- Mas ele não está nem aqui. Como ele vai descobrir?
- Ele está ali.
Vejo Roberto se aproximando com uma cara de poucos amigos, com razão, mas ele não faz
uma cena, então eu deduzo que ele não viu o beijo.
Eu apresento os dois e logo depois levo Roberto até a mesa onde nós estamos. Ele
cumprimenta as meninas e eu acho melhor não apresentá-lo aos pais delas, pois não quero que
minha mãe fique sabendo disso.
Nós ficamos um pouco juntos, conversando sobre a semana e o que nós fizemos, mas logo
depois as meninas me levam para dançar.
- Já sei! – diz Alice – Nós podemos ir para a Lapa e continuar a festa lá!
Todas as meninas concordam animadas.
- Eu não vou. O Roberto vai viajar amanhã e eu quero ficar um pouco com ele.
Clara me abraça e diz:
- Você está apaixonada, não está?
- Claro que não!
- Está sim! – diz Giulia. – Você não fala de outra coisa. E só Roberto para cá, Roberto para
lá.
- Isso não tem nada a ver!
- E o que nós vamos fazer nessas férias? – Lívia pergunta. – Temos que combinar alguma
coisa.
- Minha preocupação é como nós vamos nos ver com frequência agora – diz Alice.
- Nós podíamos ter um dia da semana só nosso – digo. – Sei lá... Toda quinta nós nos
encontramos em algum lugar que seja bom para todo mundo.
- No Centro – Giulia diz. – Todo mundo trabalha lá.
- Eu não trabalho no Centro – diz Alice.
- Flamengo é quase Centro – Clara diz.
- Eu nem trabalho! Vou fazer o que lá?
- Mas é a maioria! Nós três trabalhamos lá e não custa nada vocês irem nos encontrar. De
uma forma ou de outra nós quase sempre vamos para a Praça XV ou para a Lapa quando saímos
– digo.
- Por mim, tudo bem – diz Alice.
- Fazer o quê? Eu concordo, mas só porque amo vocês – Lívia diz e nós nos abraçamos.
Quando a festa termina, Roberto e eu vamos para o meu apartamento no carro dele. Espero
ele terminar de tomar banho e depois eu entro. Nós conversamos um pouco, sentados na cama, até
eu pedir para ele fazer amor comigo. Não sei o que isso realmente significa, mas é isso o que eu
quero hoje.
Roberto se deita ao meu lado e sorri. Ele segura minha cabeça e beija meus lábios com
suavidade. Eu o abraço e ele passa a beijar o meu pescoço. Roberto tira a blusa do meu pijama e
fica de joelhos na cama. Ele beija os meus seios enquanto eu acaricio seus cabelos. Roberto suga os
meus mamilos, enviando ondas de prazer para todo o meu corpo.
Ele vai descendo beijando minha barriga e separa meus grandes lábios. Roberto lambe meu
clitóris lentamente, me deixando ainda mais excitada, mas eu seguro seus braços e o puxo para
cima. Seguro seu membro e o faço me penetrar. Roberto se movimenta com delicadeza, enfiando
cada centímetro seu dentro de mim.
Quando ele está todo lá dentro, eu o beijo.
- Eu vou sentir saudade – digo.
- Eu também, Ana – ele passa a mão pelo meu rosto. – Minha Ana.
Eu enrosco as pernas em sua cintura e ele volta a me beijar. Alguns minutos depois, eu gozo e
Roberto sorri feito um bobo. Ele começa a se afastar, mas eu seguro sua bunda, mantendo-o dentro
de mim.
- Eu não vou aguentar segurar por muito mais tempo, linda.
- Eu quero que você goze assim.
- Mas e o remédio?
- Eu já estou tomando há tempo suficiente. Aquela médica é exagerada.
- Tem certeza? Você queria esperar os três meses.
- Tenho.
Eu puxo sua cabeça para baixo e o beijo. Roberto volta a se movimentar e instantes depois,
ele goza, gemendo com os lábios encostados aos meus. Tenho vontade de não deixar ele sair dali
nunca mais.
Roberto adormece assim que sai de dentro do meu corpo e vira de lado para me abraçar.
Eu fico deitada ao seu lado durante algum tempo, mas depois me levanto para me limpar.
No dia seguinte, acordo quando Roberto levanta da cama. Levanto para preparar algo
para comermos antes de ele ter que ir para o aeroporto. Enquanto comemos em silêncio, a
campainha toca e eu me surpreendo quando abro a porta e vejo o Cadu embriagado dizendo
que quer falar com a Lívia. Ele entra no quarto dela, mas logo depois vai embora sem falar nada.
Lívia sai correndo atrás dele e eu vejo que ela está vestida com a camisa do meu irmão.
“Puta merda!”
É claro que eu tenho uma discussão com o Thiago, pois quando eu dei a chave do
apartamento a ele, ele me prometeu que me avisaria sempre que fosse usá-la. Ele diz que veio
com a Lívia e começa a me ameaçar quando vê que eu estou com o Roberto. Como a minha única
preocupação agora é minha amiga, deixo os dois e vou atrás dela. Quando chego na portaria,
vejo que ela está sentada na calçada chorando. Sento-me a seu lado e pergunto:
- O que houve, amiga?
- Eu faço tudo errado, Ana. Tudo!
- O que ele fez com você?
- Nada. Ele veio dizer que me aceitava como submissa, mas eu estava dormindo com o seu
irmão. Ele não vai me perdoar nunca.
- Lívia... De repente foi melhor assim...
- Agora eu não vou poder mais saber o que seria melhor. Eu sou uma idiota!
- Não fique assim. Vamos lá para cima. Conversaremos melhor lá.
Eu a ajudo a se levantar e nós voltamos para o apartamento. Roberto entende que agora eu
preciso ficar com a minha amiga e por mais que eu quisesse muito levá-lo ao aeroporto, Lívia e as
meninas sempre serão prioridade para mim.
Passo o dia inteiro com ela. Lívia está inconsolável e eu nunca a vi desse jeito por nada nem
por ninguém. À noite, recebo uma mensagem do Roberto avisando que chegou bem e logo depois
vou dormir.
No dia seguinte, quando chego ao trabalho, vou direto para a sala do Cadu e Isabel está lá
com ele.
- Bom dia – digo e eles me cumprimentam.
- Ana Luiza, essa caixa foi a que eu mandei você levar para casa para testar os produtos? –
Cadu me pergunta.
- Sim. Acabei esquecendo.
- Isabel, deixe-me a sós com ela.
Isabel arregala os olhos para mim e sai em silêncio.
- Quando ela te perguntar o que eu queria falar com você, você vai dizer que era sobre
você não ter levado a caixa, entendeu? – Ele diz com uma expressão bem séria.
- Entendi.
- Quem era aquele homem no quarto da Lívia?
- Meu irmão, mas eu não sabia que os dois estavam juntos lá. Se eu soubesse, jamais teria
deixado você entrar, Carlos Eduardo. E eu sinto muito por isso ter acontecido.
- E eles são namorados?
- Não! A Lívia não tem nenhum namorado. De vez em quando ela sai com o meu irmão, mas
não é nada sério. Você vai dar uma chance a ela? Ela gosta muito de você.
- Não, eu não posso. Na verdade foi melhor ter acontecido dessa forma. Tentar aquilo com
ela seria um erro. Enfim, eu espero que isso não afete o seu trabalho comigo.
- Claro que não. Pode ficar tranquilo.
- Ótimo. Peça para a Isabel entrar novamente.
Recebo uma mensagem do Roberto dizendo que está com saudade e pedindo para eu ligar
para ele, mas como temos muito trabalho a fazer, deixo para ligar mais tarde. Trabalho o dia
inteiro com a Isabel, vou para o curso de Inglês e depois para casa, já que tenho uma semana de
férias antes de começar o próximo semestre.
Chego em casa e conto para Lívia o que o Carlos Eduardo me disse.
- Eu imaginei... Eu liguei para ele várias vezes durante o dia, mas ele não me atendeu. Você
acha que se eu for ao escritório ou à casa dele, ele aceita conversar comigo?
- Acho que ele não te receberia, Lívia. Ele pareceu bem confiante. Não acho que mudará de
ideia. Deixe isso para lá.
- Mas eu queria tanto tentar...
- Tente com outra pessoa então.
- E eu por acaso conheço outra pessoa que faça essas coisas?
- Por que você não vai a um daqueles lugares que ele disse que frequenta?
- Você sabe onde fica? – ela pergunta animada.
- Claro que não. Pesquise na Internet. Você com certeza vai achar alguma coisa.
- Boa ideia, Ana! É por isso que eu te amo!
Lívia dá um beijo em meu rosto e vai para o seu quarto.
Penso no Roberto, verifico a hora e acho melhor esperar mais um pouco para ligar. Ele ainda
deve estar no escritório e eu não quero atrapalhar. Fico me lembrando dos momentos que
passamos juntos e fazendo planos para quando ele voltar.
Percebo que peguei no sono quando ouço meu celular tocando. É o Roberto querendo saber
por que eu não liguei. Digo que não queria atrapalhá-lo e ele diz:
- Você não me atrapalha nunca, Ana. Tem certeza que está tudo bem?
- Tenho... É que... Eu estou com muita saudade. Quando você vai voltar?
- Eu também estou com muita saudade de você, minha menina. No máximo, em uma semana.
Eu não quero ficar muito tempo longe de você.
Fico muito feliz e resolvo contar para ele algo que está me incomodando:
- Eu acho que eu te amo, Roberto.
Roberto
Acordo na manhã seguinte com Hilary deitada nua ao meu lado. Eu sou um ser humano e é
claro que tenho uma ereção, mas me levanto imediatamente para não cair em tentação. Levo meu
celular para a cozinha e mando uma mensagem para a Ana, que com certeza já está no trabalho.

Bom dia! Quando você tiver um tempo livre ligue para mim. Estou com saudade de ouvir a sua
voz.

Fico olhando para o celular, mas ela não responde. Começo a preparar um café e uma
mulher que eu não conheço aparece na cozinha com uma cesta de roupas nas mãos.
- O senhor deve ser o marido da senhora Collins. Eu me chamo Guadalupe. É um prazer
finalmente conhecê-lo – ela fala em um Inglês carregado de sotaque.
“Mas quem é essa?”
- Você trabalha aqui?
- Sim, senhor. Há sete meses. Eu não sabia que o senhor levantaria cedo, por isso não
preparei o café. A senhora Collins sempre levanta mais tarde.
“Era só o que me faltava! A Hilary não faz nada o dia inteiro e ainda teve a coragem de
contratar uma empregada?”
- Não tem problema, Guadalupe. Eu mesmo preparo.
- Eu vou colocar essas roupas para lavar e já volto para ajudar o senhor.
Sento-me à mesa com minha xícara e leio as notícias pelo meu celular. Assim que termino meu
café, ligo para o encanador e peço para ele vir me encontrar. Guadalupe volta e começa a
preparar o almoço, então eu vou para a sala para não atrapalhá-la.
Quando o encanador chega, eu desço com ele até o porão e ele me mostra o cano que
consertou pela segunda vez.
- O problema estava aqui – ele aponta o buraco aberto na parede com o cano aparecendo.
- E o que aconteceu?
- Eu cheguei aqui a primeira vez e a parede estava com uma infiltração. Antes de derrubá-
la, eu vi que havia um furo como se alguém estivesse tentando colocar um prego para pendurar
algo. Eu derrubei a parede e o cano estava furado. Eu troquei toda essa parte e os joelhos
também para garantir e não fechei o buraco, pois nós geralmente esperamos uma semana para
ver se o problema foi consertado.
- E você veio aqui ver se estava tudo certo?
- Vim alguns dias depois e estava tudo no lugar. Eu estava esperando apenas completar os 7
dias para vir fechar o buraco. Quando o senhor me ligou pela segunda vez e eu voltei para ver, o
cano estava com o mesmo furo de antes. Eu não sei como isso é possível, pois eu não consertei o
furo, eu coloquei um cano novo.
“Muito esquisito...”
- E agora você trocou o cano de novo?
- Sim. E parece que está tudo certo outra vez.
- Ok. Eu vou acompanhar isso de agora em diante, Matthew. Eu estarei aqui por uma
semana. Você pode ligar direto para o meu celular quando vier fechar a parede. Se houver algum
problema até lá, eu te ligo.
Levo o senhor até a porta e subo para ver se a Hilary já acordou, mas ela não está no
quarto. Vou para a cozinha e pergunto à Guadalupe:
- Você viu a Hilary?
- Sim. Ela saiu para se exercitar, senhor.
- E ela costuma demorar muito?
- Um pouco mais de uma hora.
Subo para tomar banho e me arrumar para passar na empresa. Separo minha roupa antes
de entrar no chuveiro e verifico meu celular para ver se tem alguma mensagem da Ana, mas não
há nada. Enquanto tomo banho, vejo Hilary entrando no banheiro.
- Bom dia – ela diz em sua roupa de corrida.
- São quase duas horas da tarde.
- E daí? É a primeira vez que eu te vejo hoje.
Hilary tira a roupa e entra no box. Ela tira a esponja da minha mão e começa a esfregar
minhas costas.
- Você sabe que eu odiei quando você fez essa tatuagem, mas agora eu meio que gosto
dela.
- Não me diga...
- É verdade.
Ela começa a passar os seios nas minhas costas, joga a esponja no chão e alisa meu
abdômen.
- Pare com isso – digo.
- Por quê? Você não estava com saudade? Tem quase um ano que nós não fazemos sexo.
“Só se for ela...”
Ela vai descendo a mão até encostar em meu pau. Hilary começa a me masturbar e eu
seguro sua mão.
- Eu não vou fazer sexo com você, Hilary.
- Mas nós fazemos sempre que você está aqui.
- E de que adianta? Para que você quer transar comigo? Para ficar reclamando depois?
Eu a afasto e saio do box.
- Aonde você vai, Roberto?
- Trabalhar. Pelo menos um de nós dois tem que fazer isso.
Enrolo-me na toalha e saio do banheiro. Visto-me o mais rápido que posso para não ter que
encontrá-la outra vez, pego a chave do meu carro que fica aqui e vou para a empresa. Passo o
resto do dia lá e antes de voltar para casa, paro em um bar. Como não tive nenhum sinal da Ana
até agora, resolvo ligar para ela.
- Alô? – ela diz sonolenta.
- Oi, linda.
- Oi.
- Está tudo bem? Você não me ligou. Eu fiquei preocupado.
- Eu não quis te atrapalhar. Você tem tantas coisas para fazer aí. Achei melhor não ligar.
- Você não me atrapalha nunca, Ana. Tem certeza que está tudo bem?
- Tenho... É que... Eu estou com muita saudade. Quando você vai voltar?
Meu peito se enche de amor por ela.
- Eu também estou com muita saudade de você, minha menina. No máximo em uma semana.
Eu não quero ficar muito tempo longe de você.
- Eu acho que eu te amo, Roberto.
Fico surpreso e feliz.
- Você acha? – pergunto rindo.
- Sim... Eu não sei explicar o que é isso. É um aperto tão grande no peito que chega a dar
falta de ar.
- Ah, Ana... Eu quero tanto te ver. Nós podemos nos falar por Skype?
- Eu não tenho, mas eu posso criar uma conta e nós nos vemos amanhã. Pode ser?
- Claro que pode. Mal posso esperar. Volte a dormir, está bem? Eu te ligo amanhã no seu
horário de almoço. Boa noite.
- Está bem. Até amanhã.
- Ana?
- Oi.
- Eu também te amo.
Ela ri e diz:
- Eu sei, você disse naquele dia nas escadas.
- Você vai sonhar comigo?
- Sempre. Boa noite.
Não consigo conter um sorriso.
- Boa noite.
Tomo alguns chopps sozinho e penso em ligar para um dos meus amigos, mas desisto e logo
depois volto para casa. Vou direto para o quarto e encontro Hilary em uma camisola branca,
rendada e transparente nos seios.
- Nossa, como você demorou! – ela diz.
- Boa noite para você também.
Vou para o closet, troco de roupa e volto para o quarto.
- Você se lembra dessa camisola?
Tenho certeza que isso é um truque para eu ficar olhando para ela.
- Não – deito-me ao seu lado e ela começa a fazer carinho no meu peito.
- Eu usei ela na nossa noite de núpcias.
- Hum.
Hilary monta sobre o meu corpo e beija meu pescoço.
- Você não quer fazer amor comigo?
- Não.
- Você se envolveu com outra mulher no Brasil?
- Não.
- Você virou gay?
- É claro que não.
Ela abaixa as alças da camisola, coloca os seios para fora e começa a brincar com eles.
- Você não quer chupá-los? Você sempre adorou os meus seios.
- E nem por isso você me deixou tocá-los por mais de dois minutos em mais de dez anos.
Eu a tiro de cima de mim, levanto da cama e pego meu travesseiro.
- Eu estou vendo a sua ereção, Roberto. Mais cedo ou mais tarde, você vai parar com essa
palhaçada.
Saio do nosso quarto e vou para um dos quartos de hóspedes. Acendo a luz e vejo que a
cama está sem o colchão.
“Miserável!”
Vou para os outros quatro quartos, mas o mesmo se repete.
“Se ela está achando que vai me fazer ficar ao lado dela assim, ela está muito enganada!”
Vou para a sala e me deito no sofá, mas no meio da madrugada, acordo morrendo de frio
em pleno verão nos Estados Unidos. Verifico o termostato da sala e vejo está em 10 graus.
“Mas que diabos!”
Procuro o controle do ar condicionado para desligá-lo, mas não o encontro. Não há o que
fazer, é voltar para o quarto dela ou ficar doente. Volto para o quarto e ela já está dormindo,
então não tenho problemas. Na manhã seguinte, acordo com meu celular tocando.
- Alô?
- Desculpe ter te acordado. Eu posso ligar mais tarde.
- Não, Ana. Tudo bem. O que houve?
- Nada. Era só para avisar que já criei meu Skype e aproveitei para ouvir um pouco sua voz.
- Que bom. Você pode ligar a hora que for.
- Eu preciso ir agora. Nos falamos mais tarde. Eu te mando uma mensagem quando chegar
em casa.
- Está bem. Um beijo!
Ela desliga e eu fico olhando para o celular feito um idiota até ouvir:
- Quem é Ana, Roberto?
“Puta merda!”
Viro para o lado e vejo que Hilary acordou.
- Minha assistente. Por quê?
- Nada. Foi a única palavra que eu entendi.
- Ah.
Levanto-me e desço para preparar um café, mas vejo que Guadalupe chegou mais cedo e
deixou tudo pronto: frutas picadas, sanduíches, iogurte, bolos, ovos mexidos, sucos e café.
Alguns minutos depois, Hilary se junta a mim.
- Você quer vir correr comigo hoje?
- Não, obrigado.
- Você não se exercita no Brasil?
- Só quando me dá vontade. O encanador veio aqui ontem e me mostrou o que aconteceu.
Parece que algo ou alguém estava furando os canos.
- Como pode?
- Não sei. Ele já trocou mais uma vez a tubulação e virá fechar a parede em alguns dias. Eu
vou embora assim que ele consertar tudo.
- O quê? Você não vai ficar até o nosso aniversário de casamento?
- Não. Você não quis que eu viesse mais cedo? Aqui estou eu, mas não vou ficar mais de uma
semana.
Hilary se levanta, pega um shake na geladeira e diz ao sair da cozinha.
- Tenha um bom dia, Roberto.
Eu vou para a empresa um pouco mais cedo para voltar mais cedo e conseguir falar com a
Ana. Quando volto, Hilary não está em casa. Eu vou até o porão verificar o cano e vejo que está
tudo certo, depois, vou para o escritório e ligo meu Skype. Há uma solicitação de amizade da Ana,
eu a aceito e a vejo online. Ligo para ela e sinto meu coração bater mais rápido enquanto ela não
atende.
- Oi – ela diz com o sorriso mais lindo do mundo.
- Oi, linda.
Nós ficamos em silêncio apenas olhando um para o outro.
“Como eu sinto sua falta...”
- Tudo bem? – falamos ao mesmo tempo e ela ri.
- Não é tão legal ir trabalhar quando você não está lá – ela diz.
- Eu sei... Eu sou a alegria daquela empresa.
Ana revira os olhos e pergunta:
- E como estão as coisas por aí?
- Chatas como sempre. Não vejo a hora de poder ir embora.
- Você conseguiu resolver o problema do vazamento?
- Sim, só estou esperando eles voltarem para fechar a parede.
- Que bom!
Ana me conta sobre o trabalho e a empresa do Rio e eu conto para ela, ou melhor, minto
para ela sobre o que estou fazendo aqui. Nós conversamos durante uma hora e depois ela se
despede para jantar e dormir. Tenho vontade de dizer que eu a amo outra vez, mas como ela não
diz nada, eu também não digo.
“Será que ela chegou à conclusão que não me ama?”
Saio do escritório e dou de cara com a Hilary atrás da porta.
- Você quer me matar de susto? – Digo.
- Eu vim te avisar que tem água no porão outra vez, mas não quis atrapalhar sua conversa.
- Mas isso não é possível!
Vou até o porão e vejo que tem uma pequena poça no chão. Vejo a água caindo por um
pequeno furo no cano. Ligo para o encanador e ele vem o mais rápido que pode para trocar o
cano mais uma vez.
Enquanto ele faz o seu serviço, eu pergunto à Hilary:
- É você quem está fazendo isso, não é?
- Isso o quê?
- Estragando os canos.
- Eu não sei do que você está falando.
- Hilary, não me interessa o estado que o porão estará no domingo. Eu vou embora de
qualquer jeito. E, a partir de agora, o porão vai ficar trancado. Eu quero ver o cano arrebentar
sozinho de novo.
- Eu quero ter um filho, Roberto.
- Eu não vou voltar a morar aqui. Esqueça isso.
- Você pode continuar fazendo o que você quiser no Brasil. Eu não me importo. Mas eu quero
ter um filho.
- Hilary, pelo amor de Deus! Por que você não arruma alguém de quem você goste de
verdade? Alguém com quem você possa ter um casamento de verdade? Isso não é vida! Até
quando nós vamos ter que viver assim?
- Nós fizemos um juramento no altar, Roberto. Até que a morte nos separe.
- Quanta hipocrisia! Você sabe que eu fui obrigado a me casar com você! E ainda assim, eu
tentei durante um ano, a porra de um ano inteiro, me aproximar de você e você não quis.
- Eu não vou me divorciar de você.
- E eu não vou ter um filho com você! – eu grito e vou para a garagem.
Vou dirigindo até o bar mais próximo e me empanturro de cerveja e pizza. Ligo para o
Mason, um dos meus amigos da época da escola, e ele vem se encontrar comigo. Nós só saímos do
bar às duas da manhã e assim que eu chego em casa, me jogo no sofá e ligo para Ana.
- Roberto? Está tudo bem?
- Eu te amo, Ana. E eu estou com muito tesão agora pensando em você.
- Você está bêbado! – ela diz rindo.
- É... um pouco...
- Você está sozinho?
Olho em volta para verificar.
- Sim.
- Então coloca seu pau para fora.
- Você é tão perfeita que me dá vontade de chorar – digo enquanto faço o que ela
mandou.
- Colocou?
- Sim.
- Faça um carinho nele. Do jeito que eu faço.
- Eu queria tanto que você estivesse aqui.
- Você está fazendo?
- Estou.
- Está gostoso?
- Não... Eu prefiro quando você faz.
- Você tem que imaginar que sou eu que estou fazendo. Imagina que eu estou aí e que eu
estou lambendo a cabeça dele antes de enfiá-lo na boca e chupá-lo com força.
- Eu adoro que você seja safada assim. Eu aposto que você está se masturbando também,
não está?
- Estou.
- E o que você está fazendo?
- Estou com uma mão dentro da minha calcinha e com a outra estou acariciando um dos meus
mamilos.
- E como você está segurando o telefone?
- Viva-voz, Roberto!
- Nossa! Que ótima ideia!
Coloco o meu no viva-voz também.
- Onde você está? – ela me pergunta.
- Na sala. Sentado no sofá.
- Então imagina que eu estou de quatro no sofá. Está me vendo?
- Estou...
- O que você quer fazer comigo?
- Eu quero te foder, Ana.
- Então vem... Você está sentindo minha boceta apertando seu pau? Ele deslizando todo para
dentro de mim?
- Ai, que delícia... Fala mais, Ana. O que mais está acontecendo?
- Você está me segurando pelo quadril e enquanto você me come, eu brinco com meu clitóris.
Você é tão gostoso, Roberto...
Ouço Ana gemendo do outro lado da linha e gozo com força. Ela não fala mais nada e eu
só ouço sua respiração ofegante.
- Nossa! Isso foi incrível! – digo algum tempo depois. – Ana?
- Oi.
- Desculpe ter ligado tão cedo.
- Não tem problema. Eu adorei acordar assim. Só é uma pena você não estar aqui para nós
ficarmos descansando juntos agora.
- Nem me fale... Mas eu vou voltar logo e nós vamos passar todas as noites juntos. Está bem?
- Sim. Eu preciso desligar. Tenho que tomar banho para ir trabalhar.
- Está bem. Nós nos falamos mais tarde.
- Eu te amo, Roberto – ela diz e desliga o telefone antes que eu possa responder.

Sou acordado na manhã seguinte com um jato de água gelada em todo meu corpo. Levanto
do sofá assustado e vejo Hilary com a mangueira do jardim na mão e Guadalupe ao lado dela.
Hilary para de jogar água em mim, entrega a mangueira à outra mulher e diz:
- Leve isso de volta lá para fora e nos deixe a sós por algum tempo.
- Mas que porra é essa, Hilary?
- Você não tem vergonha?
- Você tirou os colchões dos outros quartos. Você quer que eu faça o quê?
- Eu não estou falando disso! A Guadalupe foi me acordar porque achou que tivesse
acontecido alguma coisa com você. Eu vim correndo e quando cheguei aqui você estava dormindo
seminu e todo sujo de porra, Roberto!
Começo a pensar na noite passada e não me lembro de ter me levantado para me limpar. Eu
devo ter desmaiado assim que desliguei o telefone.
“Mas que merda! Só eu mesmo...”
Viro as costas e caminho em direção às escadas.
- Você não vai dizer nada?
- Não há nada a ser dito.
É claro que essa é somente a minha opinião, pois Hilary sobe atrás de mim e continua
reclamando até eu terminar de me arrumar e ir para o escritório.
Eu simplesmente estou contando os dias para poder ir embora. Falo com o encanador
durante o dia e ele diz que trocou mais uma vez o cano. Assim que eu volto para casa, tranco o
porão e decido virar o jogo. Não dá para continuar assim, pois a Hilary com certeza vai arrumar
uma forma de estragar outra coisa só para me fazer voltar.
Ligo para o restaurante preferido dela e peço que eles preparem um jantar especial para
duas pessoas e que entreguem aqui em casa. Ligo para o motorista e digo para ele não trazer a
Hilary de volta para casa, pois eu estou preparando uma surpresa.
Depois que eles entregam o jantar e eu arrumo tudo, deixo Hilary voltar. Assim que ela entra
na sala de jantar, ela sorri.
- Não me diga que você mudou de ideia?
- Sente-se, querida.
Puxo uma cadeira e ela faz o que eu peço. Coloco vinho para ela, me sento ao seu lado e
seguro sua mão.
- Por que você quer ter um filho? Você nunca gostou de crianças.
- Eu estou me sentindo sozinha e todas as minhas amigas já têm filhos.
- Por que você não convida sua mãe para vir morar aqui?
Os olhos dela brilham e Hilary sorri.
- Jura?
- Se isso for te deixar mais feliz, sim. A verdade é que eu ainda não estou preparado para
ser pai, Hilary. Eu preciso de mais alguns anos.
- Se você vai finalmente deixar minha mãe vir morar aqui, eu não preciso de filhos... por
enquanto.
- Ótimo! Combinado! Você pode começar a providenciar a mudança dela assim que eu for
embora.
- Obrigada, querido.
Ela levanta sua taça e nós brindamos. Nosso jantar corre em paz e nós ficamos grande parte
dele em silêncio. Quando Hilary começa a falar outra vez, percebo que nós voltaremos a brigar.
- Eu quero fazer sexo, Roberto. Mesmo se não for para ter um filho.
- Hilary... Você nem gosta de fazer sexo comigo. Para que fazer? Para ficar reclamando
depois? Por que você não arruma um namorado?
- Não seja ridículo! Nós somos casados! E se eu não admito que você tenha amantes, eu tenho
que dar o exemplo.
- Mas eu admito que você tenha. Pode ter quantos amantes você quiser.
- E você não se importa com o que as pessoas vão dizer?
- Não.
- Você está me traindo outra vez!
- É claro que não estou.
- Está sim, Roberto! Qual é o homem que ficaria tanto tempo sem fazer sexo e não se
importaria com isso?
- Eu me masturbo todos os dias. É quase a mesma coisa.
- Me deixa ver o seu celular.
- Quem está sendo ridículo agora?
- Eu quero ver as suas mensagens.
- E de que vai adiantar, Hilary? Você não fala português. Você acha que eu seria idiota ao
ponto de te trair e mandar mensagens em inglês? Fora que eu não quero você enchendo meu saco
no Brasil. Aconteceu uma vez, eu já entendi que você não quer e eu nunca mais fiz. Ponto final.
- E as minhas necessidades?
- Você quer que eu te compre um vibrador? Provavelmente vai satisfazer as suas
necessidades melhor do que eu.
- Só uma vez, Roberto, por favor.
Ela se levanta e se senta no meu colo. Hilary beija meu pescoço e acaricia minhas costas.
- Está bem, mas só uma vez.
Capítulo 9

“Tô com saudade de tu, meu desejo. Tô com saudade do beijo e do mel, do teu olhar carinhoso, do teu
abraço gostoso, de passear no teu céu. É tão difícil ficar sem você, o teu amor é gostoso demais. Teu
cheiro me dá prazer, quando estou com você, estou nos braços da paz.”
Gostoso demais – Maria Bethânia
Roberto
- Vamos para o quarto – ela diz.
- Agora não – eu me levanto com ela no colo e a coloco de pé. – Eu quero saber o que você
faz quando eu não estou aqui. Quero que me conte o que está gostando de fazer atualmente... É...
essas coisas.
É a melhor desculpa que eu consigo encontrar. Vou até a cozinha e pego outra garrafa de
vinho. Quando volto para a sala, coloco uma música romântica e a levo para o sofá. Hilary parece
não desconfiar do meu interesse repentino pela vida dela. Cada vez que sua taça começa a
esvaziar, eu a encho outra vez. Ela me conta como passa o dia inteiro tratando do corpo e da
beleza dela, quantas horas ela passa por dia no salão e tudo o que faz lá, os exercícios físicos
que pratica e histórias sobre a vida das amigas dela. Percebo que ela começa a ficar bêbada
quando ela começa a falar mais alto e assim que ela chega ao nível que eu preciso, seguro seu
pescoço e a beijo.
- Você quer ir para o quarto agora? – pergunto.
- Quero.
Eu a pego no colo e subo para o nosso quarto com ela nos braços. Hilary não para de sorrir
e eu a coloco deitada na cama antes de me afastar.
- Aonde você vai?
- Tomar um banho rápido.
- Ah não, Roberto. Não precisa. Vem cá – ela diz e estende os braços para mim.
- Eu quero ficar limpinho e cheiroso para você, querida.
Entro no banheiro e a deixo falando sozinha.
Esse é o banho mais demorado que já tomei em toda minha vida, mas eu consigo o que eu
queria: quando volto para o quarto, Hilary está dormindo. Tiro sua roupa e a deixo nua antes de
me deitar a seu lado, também nu, e apagar a luz para dormir. Acordo na manhã seguinte com a
Hilary me sacudindo.
- O que foi?
- Eu estou morrendo de dor de cabeça. Pegue um comprimido para mim na gaveta da sua
mesinha.
Faço o que ela pede e entrego o comprimido a ela.
- O que aconteceu ontem? – ela pergunta.
- Você bebeu um pouco além do normal, nós subimos e fizemos sexo.
- Fizemos? Sua performance deve ter sido tão boa que eu preferi esquecer.
- Eu também te amo, Hilary.
Viro para o lado e volto a dormir.

Hilary não me importuna mais e concorda que eu vá embora no sábado ao invés de ficar
até o dia do nosso aniversário. Agora, ela está muito ocupada providenciando a mudança da mãe
dela para cá. Aproveito os últimos dias para visitar meus amigos e entregar os presentes que eu
trouxe, além de tentar fazer tudo que meu pai pediu na empresa. Falo com a Ana todos os dias
pelo telefone ou pelo Skype e vez ou outra Hilary me pega escondido no telefone, mas não diz
nada.
“A ideia de deixar a mãe dela vir morar aqui foi excelente!”
Ana e eu combinamos de nos encontrar no apartamento dela assim que eu chegar de viagem
e no sábado à noite, eu começo minha volta ao Brasil. É claro que a minha esposa não está nem em
casa para se despedir de mim e eu faço questão de não deixar nenhum recado para ela.
Chego ao Rio de Janeiro no início da noite de domingo e vou direto encontrar a minha Ana.
Assim que ela abre a porta para mim, me jogo em seus braços e cubro seu rosto de beijos.
- Como eu senti sua falta!
- Eu também, Roberto. Muita!
Ela fecha a porta e puxa minha mão até o sofá. Ana senta no meu colo e me beija com
carinho.
- Quando você vai ter que viajar de novo? – ela pergunta.
- Se tudo der certo, só no ano que vem.
- Eu preparei o jantar. Você está com fome? – ela pergunta animada.
- Sim, muita fome.
“Mentira... Eu acabei de comer um sanduíche.”
Lívia aparece na sala e se senta conosco.
- Até que enfim você chegou, Roberto! Você tem que me ajudar!
- O que aconteceu? – pergunto.
- Você precisa ligar para o Cadu e dizer para ele vir te encontrar aqui. Ele não quer mais
falar comigo. Eu já tentei de tudo. Você é minha última esperança.
- Eu não sei o que está acontecendo, Lívia. Não falei com ele a semana toda, mas se você
está dizendo que ele não quer falar com você, então ele não vai vir.
- Diga para ele que eu estou viajando e ele virá. Por favor, Roberto. Eu só preciso de uma
chance para falar com ele.
Penso por alguns segundos e apesar de saber que ele vai querer me matar, digo:
- Tudo bem.
- Obrigada. Eu vou me arrumar.
Lívia volta para o quarto dela e Ana me conta por alto o que aconteceu com eles.
- Você acha melhor nós irmos para o meu apartamento para deixar os dois sozinhos? –
pergunto.
- Acho uma boa ideia. Nós podemos jantar e depois ir dormir lá.
- Combinado.
- Eu vou arrumar uma bolsa com o que preciso levar para o trabalho amanhã. Você pode ir
colocando a mesa? Está tudo separado no balcão da cozinha. Pode colocar a comida nos pratos,
mas não coloque muito para mim.
- Tudo bem.
Vou até a cozinha e vejo que em uma panela tem macarrão e na outra um molho cheio de
coisas dentro. Eu só não sei se o molho não está cozido direito ou se era para ser aguado desse
jeito. Fico olhando para as panelas sem saber como colocar isso no prato sem derramar no chão.
Ana aparece e fica olhando para a panela junto comigo.
- Está esquisito, não está? – ela pergunta. – Você quer uma concha para pegar o molho?
- Acho que nós não deveríamos precisar de uma concha para isso.
- É... talvez não... Eu nunca vi minha mãe usando conchas para molho de macarrão.
- Será que é melhor acender o fogo e esperar reduzir um pouco do caldo?
- Será que reduz?
Não consigo deixar de rir. Até eu sei disso.
- É claro que reduz, Ana. Você nunca fez molho para macarrão?
- Não.
Dou um beijo em seu rosto e digo:
- Obrigado por ter feito para mim. Vamos fazer o seguinte: eu vou ligar para o Cadu e
pedir para ele vir para cá agora e nós saímos para jantar. Assim, eles dois terão mais tempo para
se acertar e nós não morreremos intoxicados.
Ela ri.
- Está bem. Vou falar com a Lívia.
Ana sai da cozinha e eu ligo para o meu amigo.
- Oi, Roberto. Como foi a viagem?
- Uma merda... Depois eu te conto. Olha só, a Ana preparou uma macarronada que está com
uma cara maravilhosa e eu pensei que seria bom se você viesse jantar conosco.
- Obrigado, Roberto, mas eu não quero encontrar a Lívia. Nós podemos jantar juntos amanhã.
- Lívia não está aqui. Ana disse que ela foi viajar e que só volta na quarta-feira.
Ele fica em silêncio por alguns segundos.
- Está bem. Estou indo. Nos vemos em 15 minutos.
Desligo o telefone e chamo a Ana, que está no quarto da Lívia.
- Vamos, Ana! Ele já está vindo.
Ana e eu vamos jantar em meu restaurante preferido. Na verdade, a comida não tem nada
de especial, mas eles fazem batidas de coco maravilhosas.
“Que saudade que eu estava do meu país!”
Nós conversamos sobre a minha viagem a maior parte do jantar e eu omito tudo relacionado
à Hilary. Ana me conta sobre a semana no trabalho e que aproveitou a folga na faculdade para
terminar de arrumar suas coisas no apartamento novo.
- Você está diferente hoje. O que houve? – pergunto e Ana desvia o olhar sorrindo.
- Nada. Tudo normal.
Eu seguro sua mão e dou um beijo nela.
- Não está não. Você está aprontando alguma coisa.
- Nós podemos ir logo para sua casa?
- Claro que sim.
Pago a conta e assim que chegamos, vamos direto para o quarto. Eu entro no banheiro para
tomar banho e deixo Ana arrumando suas coisas. Quando saio do banho, Ana não está no quarto.
Começo a procurá-la pela casa e a encontro na cozinha tentando abrir uma garrafa de vinho, mas
a melhor parte é o que ela está vestindo: um body preto todo rendado e transparente,
supercavado, com um decote que vai até seu umbigo, com um lacinho na cintura, marcando seu
corpo incrivelmente sexy.
- Eu sabia que tinha alguma coisa de diferente!
- Já terminou o banho? Eu vim pegar algo para bebermos. Queria fazer uma surpresa.
- Ah, Ana... Você definitivamente me surpreendeu.
Aproximo-me dela, coloco seus lindos cachos para o lado e beijo seu pescoço.
- Você não sabe como eu senti sua falta – digo enquanto distribuo beijos por seu pescoço e
colo.
Ana acaricia minhas costas e me puxa para mais perto. Beijo seus seios por cima da renda e
ela se apoia na ilha da cozinha. Eu a pego no colo e a coloco sentada lá. Ana dá um gritinho.
- O que foi?
- A bancada está gelada – ela diz rindo.
- Você quer ir para o quarto?
- Não, está gostoso aqui.
Ela puxa minha cabeça de volta aos seus seios e enrosca as pernas em meu quadril. Ana tira
a tolha que está enrolada em minha cintura e puxa o body para o lado fazendo meu pau encostar
em sua entrada úmida. Ela se esfrega descaradamente em mim enquanto eu continuo beijando seus
seios.
Ana se deita com o sorriso mais lindo do mundo em seu rosto. Ela coloca os braços esticados
acima da cabeça e fecha os olhos. Eu a penetro lentamente, sentido cada pedacinho do meu pau
sendo massageado. Ana arqueia as costas e geme.
Fico parado, olhando para ela até ela abrir os olhos. Ana balança a cabeça como se me
perguntasse o que aconteceu.
- Você já decidiu se me ama?
- Ainda não. Mas você pode tentar me convencer me fazendo gozar muito.
- Se você continuar falando assim, eu vou gozar e você vai ter que esperar a segunda
rodada.
Ana apoia os pés na bancada abrindo as pernas para mim.
- De jeito nenhum. Eu estou esperando há uma semana.
Ela coloca os seios para fora do body e segura os mamilos entre os polegares e os
indicadores. Sinto um arrepio pela minha espinha, começo a fodê-la e só paro depois de fazer o
que ela pediu... Duas vezes.
Acordar no dia seguinte com a Ana me beijando e enroscada ao meu corpo é o melhor que
pode acontecer em uma segunda-feira de manhã. Nós tomamos banho e nos arrumamos juntos
para o trabalho e enquanto ela está terminando de se maquiar, eu desço para tentar me livrar da
Rute. Minha intenção era pedir para ela ir ao mercado para que Ana e eu pudéssemos comer e
sair sem que ela a visse, mas assim que entro na cozinha dou de cara com meu pai conversando
com a Rute.
“Mas que merda! Agora eu vou ter que me livrar dos dois.”
- O que o senhor está fazendo aqui?
- Achei que seria melhor você me contar sobre a viagem antes de ir para a empresa.
- Não vai dar, pai. Eu tenho uma reunião daqui a pouco com o pessoal da Power Drink. Pode
ir para o escritório. Eu passo lá mais tarde. E Rute, eu preciso que você vá ao mercado agora.
Quero que você faça aquele sanduíche de salmão para o almoço.
- Será que eu posso pelo menos terminar de tomar o meu café? – meu pai pergunta.
- Claro, pai.
“Eu tenho que dar um jeito de avisar a Ana!”
Rute sai da cozinha para fazer o que eu pedi. Procuro meu celular no bolso, mas ele não
está lá.
- Esqueci meu telefone no quarto. Vou lá em cima buscar e depois nós vamos embora. Eu
realmente não posso me atrasar para a reunião.
Antes que eu consiga sair da cozinha, Ana entra mexendo no celular.
- Ana Luiza? O que você está fazendo aqui? – meu pai pergunta e ela se assusta.
Ana fica em silêncio por alguns segundos, mas logo depois diz:
- Bom dia, senhor Collins. O senhor Marcondes mandou que eu passasse aqui bem cedo para
entregar uns documentos importantes para o Roberto usar hoje. Eu precisei usar o banheiro antes
de ir embora.
- Documentos para sua reunião? – ele me pergunta.
- Exatamente – respondo. – Você está se sentindo bem, Ana Luiza? Sua cara não está muito
boa.
- Acho que eu comi algo que não me fez bem ontem à noite. Bem, o senhor precisa de mais
alguma coisa ou eu posso ir para a empresa?
- Por que você não a leva com você para a reunião, Roberto? Acho que seria ótimo para ela
aprender.
- É uma boa ideia! – digo.
- Saímos todos juntos? – meu pai pergunta.
- O senhor pode ir. Ana você pode encher aquela caneca térmica de café para nós
levarmos?
- Sim, senhor.
- Nós nos falamos mais tarde então, filho. Tenham um bom dia.
Levo meu pai até a porta e assim que eu a fecho volto para a cozinha correndo. Ana está
tremendo muito, sentada em um dos bancos.
- Você está bem? Se acalme!
- Ai, meu Deus, Roberto! Essa foi por pouco! Será que ele acreditou?
- Acho que sim.
- Você precisa ligar para o Cadu e falar com ele para confirmar a nossa história se seu pai
perguntar alguma coisa.
- Vou fazer isso. Não se preocupe, vai dar tudo certo. Agora nós teremos tempo para tomar
café. Coma alguma coisa.
Subo para buscar meu telefone e ligo para o meu amigo.
- Seu mentiroso filho da puta! – ele grita.
- Você está sujando a honra da minha finada mãe, Cadu. Isso não se faz...
- Você come merda, Roberto? Eu te avisei que eu não queria vê-la!
- Foi tão ruim assim?
- É claro que foi! Eu acabei trepando com ela, seu idiota!
- Ah... Então não foi ruim. Preste atenção... Eu preciso da sua ajuda.
Conto para ele o que aconteceu.
- Bem feito! Tomara que ele descubra tudo!
- Nossa! Mas quanto rancor, Carlos Eduardo...
- Vai se foder!
Ele desliga o telefone na minha cara, mas eu sei que se meu pai for falar com ele, ele vai
confirmar a nossa história.
Ana e eu comemos sem pressa e depois vamos para a empresa no meu carro. Eu dirijo bem
devagar para dar tempo de fingir que estávamos na reunião e assim que chegamos ao escritório,
ela vai trabalhar com a Isabel e eu vou para a sala do meu pai.
Conto para ele tudo sobre a empresa, o que eu fiz e o que não consegui fazer para que ele
peça que outra pessoa faça.
- E a Hilary como está?
- O senhor não vai acreditar... Ela queria ter um filho! Foi por isso que ela quebrou o cano
três vezes.
- Com você aqui e ela lá?
- Ela disse que estava se sentindo sozinha e que um filho faria companhia a ela. Eu não
consigo nem imaginá-la sendo mãe. No fim das contas, eu consegui convencê-la a deixar essa
loucura de lado e deixei ela convidar a mãe dela para ir morar lá.
- Eu não sei como ela não quis se divorciar de você até hoje.
- É muito confortável para ela não ter que fazer nada e viver as minhas custas.
- Mas ela poderia arrumar um marido rico.
- É, mas com ele, ela teria obrigações de esposa e comigo ela nunca vai precisar ter porque
ela sabe que eu quero distância dela.
- E você, meu filho? Você não pensa em se divorciar dela? Quem sabe casar com uma mulher
que você ame dessa vez?
Penso imediatamente na Ana.
- É complicado, pai. Eu já conversei com a Hilary sobre o divórcio, mas ela não aceita de jeito
nenhum.
- Bem, não chegou a hora ainda. Quando chegar, tenho certeza que você vai dar um jeito
nisso.
Nós conversamos sobre a reunião que eu inventei e depois eu vou para a sala do Cadu, mas
ele está trabalhando com a Isabel e com a Ana.
- Cadu, preciso falar com você. Você pode vir até a minha sala?
Ele bufa se levanta e me acompanha. Deixo ele entrar primeiro e fecho a porta. Meu amigo
se senta de frente para a minha mesa e eu pergunto depois de me sentar também:
- Como foi com a Lívia?
- Como foi? Eu não tive chance, Roberto. Eu cheguei lá e ela agiu como a perfeita submissa
que ela não é. Eu não resisti.
- Mas vocês estão juntos de novo?
- Não. Eu fiquei o tempo necessário para me assegurar de que ela ficaria bem e depois
voltei para minha casa.
- Mas Cadu, pelo que a Ana me contou, vocês ainda não estavam realmente juntos. Ela tinha
o direito de sair com outras pessoas.
- É claro que não tinha! Eu disse a ela que daria uma resposta. Ela tinha que esperar.
- Você avisou que ela tinha que esperar?
Ele fica em silêncio por alguns segundos.
- Não.
- Eu não tenho nada a ver com isso, mas ela pareceu realmente querer ficar com você.
- Bem, agora é tarde. Ela perdeu a única oportunidade que tinha. Você me chamou aqui
para fazer fofoca da vida dos outros ou você tem algo de útil para me falar?
- Olha... Sinceramente... Você é insuportável! Meu pai te perguntou alguma coisa?
- É óbvio que perguntou, Roberto, mas pode ficar tranquilo que eu falei o que você me
pediu. Você quer que eu te conte sobre a briga da Isabel com o namorado dela ou eu posso voltar
ao trabalho agora?
- Shiii.... Eles brigaram, é? Por quê?
Cadu se levanta, vai embora e eu fico rindo sozinho.
Ana só volta para a nossa sala no fim do dia para buscar as coisas dela e ir para a aula de
Inglês.
- Você quer sair para jantar comigo hoje? – pergunto.
- Eu tenho que ir para a faculdade. Minhas aulas começam hoje.
- Mas e depois da aula?
- Eu tenho que voltar para casa. Preciso dormir cedo.
- E quando nós vamos ficar juntos de novo? – me levanto e a abraço.
- Na sexta você pode ir lá para casa.
- Só na sexta? Ah não, Ana... Eu ainda estou com saudade – dou um beijo em seu pescoço.
- Eu também estou, mas não posso me distrair agora. É o meu último semestre na faculdade.
- Está bem – digo emburrado –, mas você vai ter que fazer alguma coisa para me agradar
no fim de semana.
- O que você quiser. É só dizer.
Penso um pouco antes de decidir.
- Quero que você me leve para almoçar com a sua mãe e seu irmão.
Ana bufa.
- Tudo menos isso, Roberto. Minha mãe vai ficar enchendo o saco querendo saber se você é
meu namorado, se nós estamos fazendo sexo seguro, se você tem planos de se casar comigo...
- Sim, sim e sim.
- O quê? – ela arregala os olhos para mim.
- Eu vou dizer tudo que ela quiser ouvir, mas eu quero conhecê-la, Ana. Quero que sua
família saiba que eu estou tomando conta de você e que isso é sério.
- E isso é sério desde quando, Roberto?
- Desde o dia que você entrou aqui e viu que eu estava me masturbando – ela ri e me dá um
beijo estalado. – O que você queria que eu fizesse? Você viu meu pau logo no primeiro dia e
agora eu tenho que assumir esse relacionamento.
- Seu bobo! – ela dá um tapa na minha bunda. – Eu tenho que ir. Prometo que vou pensar,
mas não garanto nada.
- Está bem.
Deixo Ana ir embora e começo a fechar as minhas coisas para ir para casa. Encontro Cadu
no estacionamento e ele diz:
- Você quer tomar alguma coisa?
- Agora? Não são nem cinco da tarde.
- E daí? Quer ou não?
- Não.
- Não me faça implorar, Roberto. Eu preciso de companhia.
- Está bem. Para onde você quer ir?
- Para o Jobi.
Sigo o carro do Cadu até o botequim mais badalado do Leblon. Enquanto nós comemos e
tomamos uns chopps, eu conto a ele tudo que aconteceu quando eu estava nos Estados Unidos e ele
me fala sobre os sentimentos dele pela Lívia. É a primeira vez que nós temos uma conversa desse
tipo e eu acho muito estranho esse novo comportamento dele.
- Mas você nunca gostou de mulher nenhuma antes, Cadu.
- É claro que gostei. De onde você tirou essa ideia maluca?
- Você nunca me falou nada sobre elas antes.
- Elas eram minhas submissas, Roberto. Eu tenho obrigação de preservá-las e manter nosso
relacionamento o mais sigiloso possível.
- Mas você teve um ou outro relacionamento normal e nunca me falou essas coisas. Eu achava
inclusive que você não tinha sentimentos.
Cadu revira os olhos.
- E o que você está tentando provar com isso?
- Que você gosta mais da Lívia do que das outras mulheres que você já saiu.
- Não seja idiota! É claro que não.
- Eu gosto mais da Ana do que das outras mulheres que eu saí. Não é vergonha nenhuma
assumir isso.
- E o que você vai fazer quando a sua mulher descobrir sobre ela?
- Ela não vai descobrir nunca.
- Assim eu espero, Roberto. De verdade.
Nós voltamos para casa relativamente cedo e eu aproveito para dar uma olhada no meu
projeto. Analiso tudo que já fiz e faço anotações sobre o que falta ser feito quando chega uma
mensagem no meu celular.

Já falei com a minha mãe e você terá o seu almoço com ela no próximo sábado. Ela está mais
do que ansiosa para te conhecer e eu te odeio por isso.
:-P
Ana
Durante a semana que Roberto está fora, é muito chato ter que ir trabalhar e não encontrá-
lo lá. Por mais que eu tenha ficado bastante ocupada com a Isabel e com o Cadu, sinto falta dele o
tempo todo.
Lívia e eu aproveitamos a semana de férias para terminar de organizar a casa e ela está
tão tristinha que dá até pena. Nós até resolvemos fazer a nossa primeira noite das meninas aqui
em casa e não no Centro, pois Lívia não quis sair.
As meninas vêm todas para cá e nós nos divertimos como sempre. Vai ser horrível não ter
todas elas na faculdade. Pelo menos, será por pouco tempo, pois Lívia e eu nos formaremos no
final do ano.
- Eu preciso que vocês fiquem de olho no Eric para mim – Clara diz. – Agora que eu não
estou mais na faculdade, não vou poder vigiá-lo.
- Era só o que me faltava! – Lívia diz – E você vai fazer o que quando nós te contarmos que
o vimos com outra pessoa? Você nunca fez nada! Me poupe!
- Lívia! – grito. – Precisa ser grossa desse jeito? Pode deixar que eu vou ficar de olho e
qualquer coisa eu te aviso, Clara.
- Obrigada.
Alice muda de assunto tentando amenizar o clima.
- E o Carlos Eduardo?
- Ele não quer mais sair comigo. Ele me viu dormindo com o irmão da Ana.
- Mas você estava saindo com os dois? – Giulia pergunta.
- Eu estava saindo com todo mundo. Ele não me avisou que não podia. Nós não estávamos
namorando nem nada.
- E desde quando precisa avisar, Lívia? – Giulia pergunta indignada. – Você não pode sair
com duas pessoas ao mesmo tempo.
- Bem, nesse caso, Giulia, minha querida, só você que não pode – Alice diz rindo.
- O pior é que ele não quer nem atender minhas ligações. Ele não deu nem chance de eu me
explicar.
- Por que você não o convida para vir para cá quando o Roberto voltar, Ana? – Clara diz. –
Finja que a Lívia não está e quando ele chegar, eles vão ter a oportunidade de conversar.
- Ótima ideia, Clara! – diz Lívia. – Quando o Roberto volta de viagem?
- No domingo, mas eu não sei se ele vai querer mentir para o amigo, Lívia.
- Pode deixar que eu vou falar com ele.
Nosso encontro não termina muito tarde, pois nós temos que trabalhar de manhã cedo. No fim
de semana, vou ao shopping e compro uma lingerie bonita para receber o Roberto. Decido
preparar, eu mesma, alguma coisa para o jantar, já que na maioria das vezes comemos o que
minha mãe faz e eu congelo ou o que a empregada da casa da Lívia manda.
Compro todos os ingredientes que eu acho necessários para fazer macarrão e procuro uma
receita na internet No fim da tarde, eu preparo a comida e depois fico pronta esperando o
Roberto chegar.
- Que horas ele vai chegar? – Lívia aparece na sala.
- Caralho! Você já perguntou quarenta e cinco mil vezes! O voo chega às 18h.
- Grossa!
Ela me mostra a língua e volta para o quarto dela. Fico ansiosa, andando de um lado para o
outro até o interfone tocar e o porteiro avisar que o Roberto está subindo. Assim que abro a porta,
ele me abraça e me beija muito. Não quero que ele vá embora nunca mais. Eu achava que estava
só com saudade, mas agora que ele está aqui, percebi que estava morrendo de saudade.
Antes que Roberto e eu tenhamos tempo para conversar e curtir o momento, Lívia aparece e
pede para ele ligar para o Cadu. Roberto concorda com a maluquice e Lívia volta para o quarto
para se vestir melhor. Nós decidimos ir para o apartamento dele para deixar os dois à vontade e
Roberto ri da comida que eu preparei para ele.
Bem que eu achei que tinha algo de errado. Não está parecendo muito com a foto da
receita, mas eu segui o passo-a-passo direitinho. Eu conto a ele que é a primeira vez que eu tento
cozinhar alguma coisa sozinha e ele diz:
- Obrigado por ter feito para mim. Vamos fazer o seguinte: eu vou ligar para o Cadu e
pedir para ele vir para cá agora e nós saímos para jantar. Assim, eles dois terão mais tempo para
se acertar e nós não morreremos intoxicados.
Eu concordo e vou avisar à Lívia que nós não jantaremos mais aqui. Entro no quarto dela e
vejo que ela está de roupão e fez um coque lindo no cabelo.
- Como você fez isso sozinha? – pergunto e ela vira o laptop de frente para mim.
Ela estava assistindo a um vídeo que ensina a fazer coques.
- Está bom?
- Está perfeito! Mas você não gosta de usar o cabelo preso.
- Eu li que as submissas costumam prender os cabelos em coques ou tranças para evitar
acidentes durante as cenas de dominação.
Meu humor muda imediatamente.
- E você acha isso normal? É para isso que você estava enchendo o saco para falar com ele?
- Eu quero ser a submissa dele, Ana. E não vou desistir até conseguir.
- Mas Lívia...
- Você prometeu que iria me apoiar!
Fico em silêncio por alguns segundos.
- Está bem, me desculpe. E você vai vestir o quê?
- Ainda não decidi. Você acha que eu devo colocar algo sexy ou comportado?
- Eu não tenho certeza, mas acho que se é para ser submissa, tem que ser comportado, não
é?
- Também não sei...
Roberto bate na porta e me chama para ir embora, pois o Cadu já está vindo. Dou um
abraço na Lívia e digo:
- Boa sorte, amiga. E se acontecer alguma coisa, me liga que eu volto na mesma hora, está
bem?
- Obrigada, Ana.
Roberto e eu saímos para jantar e depois vamos para o apartamento dele. Enquanto ele
entra para tomar banho, eu tiro minha roupa e fico só com o body que comprei, mas decido pegar
algo para bebermos e vou até a cozinha. Roberto aparece pouco tempo depois e nós fazemos
sexo incrível em cima da bancada.
Depois, ele me leva para a cama em seus braços e nós dormimos abraçados. Assim que o
despertador toca no dia seguinte, Roberto e eu tomamos banho juntos e entre carícias e beijos, ele
lava o meu cabelo e eu o dele. Chega a ser engraçado. Eu seco meu cabelo enquanto ele se veste
e quando está pronto, ele diz:
- Vou lá embaixo porque a Rute deve estar aqui. Vou pedir para ela sair para comprar
alguma coisa, assim você pode descer e tomar café sem que ela te veja. Quando estiver pronta,
pode descer.
- Tudo bem.
Termino de me arrumar e desço mandando uma mensagem para Lívia para saber se ela está
bem. Entro na cozinha e sou surpreendida pela voz do senhor Robert.
“Puta que pariu!”
- Ana Luiza? O que você está fazendo aqui?
Fico sem saber o que dizer e invento uma mentira: digo que vim a pedido do Cadu. Eu estou
tão nervosa que não sei onde enfiar minhas mãos. Ele parece não perceber e diz para o Roberto
me levar a uma reunião, mas eu não sei sobre o que eles estão falando.
Assim que ele se despede e Roberto sai da cozinha com ele, eu me sento antes que eu caia
no chão de nervoso. Roberto volta, me acalma e sai outra vez para ligar para o Cadu e pedir
para ele contar a mesma coisa, se o senhor Robert perguntar algo a ele.
Coloco um pouco de suco em um copo e respiro fundo, tentando controlar minha respiração.
Vejo que tem ovos mexidos na frigideira que está sobre o fogão e coloco um pouco para mim.
Abro a geladeira, pego a travessa com queijo e presunto e me sento outra vez para comer.
Roberto volta pouco tempo depois e nós comemos juntos.
- Não precisa comer correndo, Ana.
- Mas e se a Rute voltar?
- Ela vai demorar. Não se preocupe – ele passa a mão pelo meu rosto. – Eu sinto muito que
tenha que ser assim.
- Eu também.
Assim que chegamos à empresa, vou para a sala do Cadu para trabalhar com ele e com a
Isabel. A cara dele não está muito boa, mas eu não posso perguntar o porquê aqui no trabalho.
Lívia até agora não respondeu a minha mensagem e eu já estou ficando preocupada com ela.
Na hora do almoço, ligo para ela, que atende com voz de quem acabou de acordar.
- Oi, amiga – ela diz.
- Você está bem?
- Sim, está tudo bem. O Cadu está no trabalho?
- Está. Por quê?
- Acho que ele não dormiu aqui. Ou então foi embora muito cedo.
- Ele te machucou?
- É claro que não, Ana.
- Você vai para a faculdade mais tarde?
- Vou.
- Nós nos falamos lá então. Um beijo.
Saio para almoçar com a Isabel, com a Clara e com a Giulia. Isabel resolve comer conosco,
pois brigou com o namorado e não vai almoçar com ele. Ela nos conta que vai entrar de férias na
semana que vem e que eles vão viajar, mas que antes ela quer dar um gelo nele para ele
aprender. No fim do meu expediente, encontro Roberto outra vez. Por mais que eu queira muito
ficar com ele, preciso me concentrar nas minhas aulas e no meu trabalho, então recuso seu convite
para jantar ou para dormir com ele depois da aula na faculdade.
Roberto me surpreende quando eu digo que farei o que ele quiser no final de semana e ele
pede para conhecer minha mãe.
- Tudo menos isso, Roberto. Minha mãe vai ficar enchendo o saco querendo saber se você é
meu namorado, se nós estamos fazendo sexo seguro, se você tem planos de se casar comigo...
- Sim, sim e sim.
- O quê?
Acho que meu coração chega a parar de bater por alguns segundos
- Eu vou dizer tudo que ela quiser ouvir, mas eu quero conhecê-la, Ana. Quero que sua
família saiba que eu estou tomando conta de você e que isso é sério.
Ele se explica e eu me acalmo um pouco. Digo para ele que vou pensar, mas assim que saio
do curso de Inglês e pego o metrô para ir para a faculdade, ligo para minha mãe.
- Ana, minha filha, você precisa aprender a cozinhar. Já acabou a comida outra vez?
- Oi, mãe – digo rindo. – Não... Nós ainda temos bastante coisa. Eu estou ligando porquê...
É... Eu meio que estou namorando uma pessoa e ele pediu para te conhecer.
- Que maravilha! E quem é ele?
- Bem, a senhora não conhece. Eu conto melhor quando vocês se encontrarem. A senhora
quer ir almoçar lá em casa no sábado ou no domingo? O Thiago também está convidado.
- De jeito nenhum! Faremos o almoço aqui em casa. E sábado é melhor para mim. Às 13h está
bom para vocês?
- Está ótimo, mãe. Nós estaremos aí.
Quando chego na faculdade, encontro Lívia sentada no nosso lugar de sempre.
- Isso aqui é muito chato sem as meninas – ela diz e eu me sento ao seu lado.
- E aí? O que aconteceu com o Cadu?
- Ah, Ana, foi incrível! A princípio ele ficou puto e não queria falar comigo, quase foi embora,
mas eu...
Ela para de falar.
- Ai, meu Deus, Lívia! Você o quê?
- Promete que não vai me julgar?
- Lá vem merda! Prometo... Fala logo.
- Eu implorei de joelhos e ele ficou.
Tenho vontade de estapeá-la e fazê-la voltar à realidade, mas me controlo.
- E você não está com vergonha?
- Não. Eu consegui o que eu queria. É isso que importa.
- E ele te bateu?
- Não, mas nós usamos a vela que estava na caixinha do seu quarto.
- Você está brincando?
- Não! Foi ótimo! Ele...
Não sei nem o que dizer, mas a interrompo.
- Eu não quero saber dos detalhes. Vocês resolveram alguma coisa?
- Não. Eu achei que nós conversaríamos hoje de manhã, mas eu nem vi a hora que ele foi
embora. Eu liguei para ele o dia inteiro e ele não me atendeu.
- Que merda... Eu vou tentar falar com ele amanhã. De qualquer forma, a assistente dele vai
entrar de férias na semana que vem e eu terei mais oportunidades.
Lívia bate no meu braço e me dá um apertão.
- Eu já sei! Ele vai precisar de uma substituta para a assistente. Vou pedir para o Roberto me
contratar! Eu preciso fazer um estágio de qualquer jeito. Por que não lá?
- Não sei se é uma boa ideia, Lívia.
- É claro que é! Quando o Roberto vai lá em casa?
- Só no final de semana.
- Você se importa se eu telefonar para ele antes disso?
- Claro que não.
- Vou tentar ligar amanhã.
Lívia e eu assistimos nossas aulas e depois vamos para casa com o motorista. Antes de dormir,
passo uma mensagem para o Roberto avisando sobre o encontro com a minha mãe.
A semana no trabalho passa superagitada, pois eu tenho que me dividir entre trabalhar com
o Cadu e com o Roberto, que está na fase final do projeto dele e me pediu ajuda. Na quinta, as
meninas e eu nos encontramos em um bar no Centro depois do trabalho para falar sobre as
novidades e Lívia e eu acabamos perdendo a primeira aula. Na sexta, quando estamos indo para
o estacionamento da faculdade para encontrar o motorista da Lívia, vejo Roberto parado na porta
do carro dele.
Lívia dá um tapa na minha bunda e diz:
- Vai com ele! E divirta-se! Vou passar na casa dos meus pais.
- Você precisa seriamente parar de me bater.
Jogo um beijo para ela de longe e assim que me aproximo, Roberto me abraça.
- Eu posso passar o dia inteiro trabalhando com você, mas continuo com saudade. Você acha
isso normal? – ele diz.
- É claro que é normal... É por que você me ama.
Ele me dá um beijo demorado nos lábios.
- Amo mesmo – Roberto faz uma pausa e fica olhando para mim. – O que você quer fazer
hoje?
- Jantar, te abraçar e te beijar muito a noite inteira.
- Jantar primeiro?
- Com certeza! Estou morrendo de fome!
- Então vamos.
Roberto abre a porta do carro para mim e no caminho decidimos onde comeremos. Vamos
para um bar e comemos petiscos enquanto tomamos caipirinhas de morango.
- Por que você não tem um carro? – Roberto pergunta.
- Porque eu ainda não tive dinheiro sobrando para comprar um.
- Mas você sabe dirigir?
- Sim, eu tirei a carteira de motorista quando fiz 18 anos.
- E se você fosse comprar um carro, qual seria?
- Não sei... Um bem simples. Eu morro de medo de ser assaltada.
- Por causa do que aconteceu com seu pai?
- Sim.
- Eu sinto muito, Ana.
- Eu também, mas não há nada que possa ser feito, então não tem por que ficar triste.
- É verdade.
Depois do jantar, nós caminhamos pela praia do Leblon antes de voltarmos para o meu
apartamento. Assim que chegamos, Lívia, que já voltou da casa dos pais, pede para substituir a
Isabel durante as férias dela. Ela tentou falar com ele a semana toda, mas não conseguiu.
- Você não precisa nem me pagar para trabalhar, Roberto.
- É claro que nós vamos pagar. A ideia não é ruim, Lívia. Ficar um mês inteiro sem uma
funcionária como a Isabel é sempre um prejuízo para os nossos projetos, mas eu não posso fazer
isso sem falar com o Cadu. Você teria que trabalhar diretamente com ele.
- E é justamente por isso que eu quero o emprego. Ele não quer me ouvir! Mas eu tenho
certeza que se me visse todo dia, uma hora ou outra ele me daria a oportunidade de falar.
- Eu preciso pensar... Ele vai ficar puto comigo.
- Mas por quê? Você é o dono da empresa!
- Ele também é. E além do mais, eu posso te contratar e ele pode de demitir no mesmo dia.
- Eu quero correr o risco. Por favor, Roberto!
Ele olha para mim e eu decido ajudar a minha amiga.
- Ela pode trabalhar com você e eu trabalho com ele. A Lívia precisa fazer um estágio de
qualquer maneira para poder se formar.
Roberto fica em silêncio por algum tempo.
- Está bem. Passe na empresa na segunda de manhã. Vou passar uma mensagem para o
chefe do RH agora mesmo pedindo para ele já ir preparando seu contrato.
Ela se joga nos braços dele e o abraça.
- Muito obrigada, Roberto! Agora eu vou para o meu quarto para deixar vocês a sós.
Roberto pega o celular e manda a mensagem.
- Eu vou tomar um banho. Você quer vir comigo? – pergunto e ele me beija.
- Mas é claro que sim!
Nós vamos para o chuveiro e tomamos um banho demorado. Passamos a maior parte do
tempo mais brincando do que tomando banho de verdade. Corremos pelados para o meu quarto,
pois não trouxemos roupa limpa quando entramos no banheiro e assim que entramos, Roberto me
joga na cama.
- Por que nós não podemos passar a semana inteira juntos?
- Porque eu moro com a Lívia e não com você.
- E se eu te convidar para morar comigo?
- Eu vou achar você mais lindo do que eu já acho, mas vou ter que negar. Primeiro, porque
eu preciso me formar e segundo, porque eu não posso deixar a Lívia sozinha, principalmente
agora.
- Às vezes eu acho que você gosta mais das suas amigas do que de mim – ele faz uma
carinha emburrada.
- Mas é claro que eu gosto mais delas. Homens vêm e vão. A amizade delas é para sempre.
- Eu quero saber quem são todos esses homens vindo para fazer com que eles sumam logo
de uma vez – não consigo conter uma risada. – E eu vou estar aqui para sempre também. Nem
que tenha que ser junto com elas.
Roberto coloca seu corpo sobre o meu e me beija. Aos poucos, ele desce beijando meu
pescoço, meus seios, minha barriga até chegar ao meu sexo, que anseia por ele. Roberto abre
minhas pernas e lambe meu clitóris com bastante delicadeza no início. Assim que estou bastante
excitada, digo:
- Vem aqui.
Ele se deita ao meu lado.
- Está vendo aquela caixa? – aponto o objeto que está em cima da cadeira. – Quero que
você pegue o lubrificante que está lá dentro.
- Para quê? – ele pergunta sorrindo.
- Você sabe para quê.
Ele arregala os olhos e sorri.
- Tem certeza?
Apenas balanço a cabeça concordando. Roberto vai até a cadeira e começa a mexer na
caixa.
- E essas outras coisas aqui?
- A caixa é do meu projeto com a Isabel e o Cadu. Tenho que testar todas essas coisas – seus
olhos brilham de alegria. – Mas hoje só o lubrificante.
Ele volta correndo para a cama com o tubinho nas mãos. Deito de lado na cama e de costas
para ele, pois Alice disse que seria mais fácil começar assim. Roberto fica de joelhos atrás de mim.
Sinto minhas nádegas sendo separadas por suas mãos e logo depois um desconforto insuportável.
- Ai! O que você está fazendo?
Ele se afasta.
- Você não quer fazer sexo anal?
- Sim, mas você está me machucando.
- Desculpe, amor. Vou fazer mais devagar.
E outra vez aquela dor.
- Não! Para, Roberto! Está doendo!
Afasto-me dele e me sento na cama. Roberto continua ajoelhado e olha para mim espantado.
- Desculpe. Nós podemos parar se estiver doendo tanto assim.
- Quantas vezes você já fez isso? Ninguém nunca reclamou?
Ele fica em silêncio e se senta de costas para mim.
- É a primeira vez que eu faço.
Dou a volta na cama e me sento ao seu lado.
- Jura?
Roberto apenas balança a cabeça.
- Você quer que eu ligue para a Alice e peça para ela te ensinar?
- Deus me livre! Eu morreria de vergonha.
Seguro sua mão e tento me lembrar do que ela me disse.
- Deite-se aqui comigo – digo.
- Não, Ana. Está tudo bem. Nós podemos fazer outro dia. Eu não quero te machucar.
- Roberto...
Ele faz o que eu peço e nós ficamos abraçados. Obviamente ele não está mais excitado. Fico
fazendo carinho nele durante muito tempo antes de beijá-lo sensualmente. Viro de costas para ele
outra vez e digo:
- Me abraça.
Ele passa um dos braços por baixo da minha cabeça e o outro por cima da minha cintura.
- Agora você vai colocar lubrificante nos seus dedos e colocar um de cada vez dentro de
mim, bem devagar, tudo bem?
- Tá.
Ele faz tudo com bastante calma dessa vez e aos poucos, sinto sua ereção crescendo outra
vez.
- Está bom assim? Está doendo? – ele pergunta.
- Está gostoso... Continua...
Ele brinca com os dedos em meu ânus e eu começo a acariciar meu clitóris. Quando estou
excitada outra vez, digo:
- Me come, Roberto.
- Como?
- Desse jeito que você está, mas você tem que colocar aos poucos. Coloca mais lubrificante.
Sinto a cabeça de seu pau encostando em mim. Roberto a enfia bem devagar e quando ele
se apressa, eu aperto sua perna e ele para.
- Deixa que eu me mexo – digo.
Ele fica parado e assim que eu me sinto confortável empino minha bunda para trás e mais
uma parte de seu membro entra em mim. Roberto começa a acariciar meus mamilos e a beijar meu
pescoço.
- Você é tão linda.
- Está gostoso, Roberto?
- Está incrível! Você está bem?
- Sim.
Pouco a pouco, seu membro entra todo em mim. Começo a me movimentar para frente e para
trás e Roberto aperta meu quadril.
- Assim eu vou gozar, Ana.
- Eu sei.
Movimento-me um pouco mais rápido, Roberto geme e morde meu ombro.
- Puta merda! – ele grita.
Por mais que ele não tenha feito nada, está ofegante como se tivesse acabado de correr.
Roberto vira meu rosto para ele e me beija profundamente.
- Eu te amo – ele diz sorrindo. – Obrigado por não ter desistido de mim.
Sem que eu tenha que falar nada, Roberto sai de dentro de mim com cuidado e me lambe
exatamente onde eu preciso até me fazer gozar também.
Tomamos outro banho juntos, mas agora é diferente. Ele me abraça o tempo todo e me faz
carinho, sem brincadeiras ou outras intenções. Roberto me leva no colo de volta para a cama e nós
dormimos abraçados. Acordo na manhã seguinte com ele beijando meu pescoço.
- Acorda, dorminhoca. Nós vamos nos atrasar para ir para a sua mãe.
Dou um pulo da cama e vejo um jarro com várias rosas brancas em cima da minha mesinha
de estudos.
- O que essas flores estão fazendo aqui?
- Eu saí para comprar o café da manhã, as encontrei no caminho, na floricultura, e as trouxe
para você.
- Obrigada – sorrio e dou um beijo nele.
- Vamos, o café está na varanda.
Roberto, Lívia e eu comemos sem pressa, depois nos arrumamos para ir para a casa da
minha mãe. Assim que chegamos lá, Lívia beija minha mãe e vai para o sofá para cumprimentar o
Thiago.
- Esse é o Roberto, mãe.
- É um prazer finalmente conhecê-la dona Rita.
- O prazer é meu! Entre, por favor. Thiago! Levante a bunda desse sofá e venha
cumprimentar o namorado da sua irmã!
Meu irmão vem até nós e diz:
- E aí, Roberto, como você está?
- Vocês já se conhecem? – minha mãe pergunta.
- Já! – dou um beliscão no meu irmão. – Nós encontramos o Thiago em um bar um dia desses.
- Que bom! Mas sente-se, Roberto. Você quer beber alguma coisa?
- Eu bebo o que todos forem beber.
- Thiago! Vá comprar mais cervejas. E com o seu dinheiro.
Minha mãe se senta no sofá ao lado do Roberto e diz:
- Entra ano e sai ano e esse garoto não se forma! Já está há quase dez anos na faculdade!
Só quer saber de viver da bolsa que eles pagam, viagens e cerveja.
- Lívia, você quer vir comigo para me ajudar? – Thiago pergunta da porta.
- Claro que não! – minha mãe grita. – Ela quer ficar aqui comigo.
Thiago bate a porta e minha mãe continua:
- E onde vocês se conheceram?
- No trabalho – Roberto responde.
Minha mãe fica pensativa durante algum tempo e depois pergunta:
- Mas Roberto não era o seu chefe que não queria trabalhar? Você é o chefe dela?
- Não, mãe. Ele é outro Roberto – digo o mais rápido que posso.
- E você já conheceu os pais dele, Ana?
- Só o pai – digo.
- Minha mãe morreu quando eu nasci – Roberto diz e eu olho para ele espantada.
“Como assim?”
- Sinto muito – minha mãe, Lívia e eu falamos ao mesmo tempo.
Algum tempo depois, Thiago volta com as cervejas e nós passamos uma tarde agradável com
a minha família, mas eu não consigo tirar da minha cabeça o que ele disse sobre a mãe.
“Por que ele nunca me contou nada?”
“E quem é a senhora Collins que a Isabel me falou assim que eu comecei a trabalhar lá?”
Quando saímos para voltar para casa, nos despedimos da Lívia na porta do prédio da
minha mãe, pois ela combinou de sair com o meu irmão para afogar as mágoas. No caminho de
volta para o meu apartamento, pergunto:
- Se a sua mãe faleceu, quem é a senhora Collins que todo mundo fala na empresa?
Capítulo 10

“Se você quiser, eu vou te dar um amor desses de cinema. Não vai te faltar carinho,
plano ou assunto ao longo do dia. Se você quiser eu largo tudo, vou pro mundo
com você, meu bem...”
Ai, ai, ai – Vanessa da Mata
Ana
- O quê? Quem falou sobre isso?
- Várias pessoas – exagero. – Me disseram que não sabiam como o seu pai e a senhora
Collins aguentavam você.
- É... – Ele parece confuso. – Meu pai teve outras esposas depois da minha mãe. Deve ter
sido isso.

Roberto passa o fim de semana todo no meu apartamento e na segunda de manhã, Lívia, ele
e eu vamos trabalhar juntos.
- Passe com a Lívia no RH e antes de ir para a sala do Cadu com ela, me mande uma
mensagem. Eu quero ir com vocês – ele diz.
Faço o que ele pede e nós nos encontramos na porta da sala do Cadu. Roberto bate na
porta, entra e nós entramos atrás dele.
- Bom dia, Roberto – Cadu diz antes de ver a Lívia. – Mas o que ela está fazendo aqui?
- Ela vai substituir a Isabel enquanto ela estiver de férias.
- De jeito nenhum!
- Cadu, o negócio é o seguinte: se a Lívia não fizer um estágio agora, ela não vai poder se
formar no final do ano. Ela não conseguiu em nenhuma outra empresa e eu acho que você não é
egoísta a esse ponto. Seja um profissional e esqueça sua paixonite por ela.
Ele fica em silêncio com o olhar furioso para o Roberto.
- Eu realmente preciso desse estágio, senhor Marcondes. Prometo que não vou atrapalhá-lo –
Lívia diz de cabeça baixa.
- Você já está me atrapalhando! Não me chame de senhor! – ele respira fundo e baixa o
tom da voz. – Se você realmente precisa, pode ficar. Mas você vai trabalhar na sala da Ana Luiza
e não aqui.
- Sim, senhor – Lívia diz.
Cadu bufa e se levanta.
- Eu quero falar com você a sós – ele arrasta Roberto pelo braço para fora da sala.
- Consegui, amiga! – Lívia diz e me abraça. – Obrigada.
“Ela só pode ter algum problema mental!”
Entro na sala da Isabel, pego o material que vamos precisar e nós duas vamos para minha
sala.
É claro que trabalhar com a minha amiga é muito mais divertido do que trabalhar sozinha,
mas todo dia de manhã é um inferno para tirá-la da cama para ir para a empresa. Alguns dias
depois, nos preparamos para a apresentação do projeto e Cadu consegue a conta para a nossa
empresa. Nos dias que temos livres, trabalhamos com o Roberto. A apresentação final do projeto
dele também fica incrível. Por mais estranho que pareça, logo depois, Roberto pega um novo
projeto para ele e nós trabalhamos muito mais com ele do que com o Cadu. Roberto passa todos os
fins de semana comigo e a cada dia que passa eu gosto ainda mais dele. Estou completamente
apaixonada para dizer a verdade.
Desde que a Lívia veio trabalhar aqui, nossas escapadinhas durante o almoço e as
brincadeiras no banheiro diminuíram bastante, mas mesmo assim, vez ou outra nós fazemos alguma
loucura.
Uma vez por semana, encontramos todas as meninas no mesmo bar no Centro e colocamos o
papo em dia. Todas elas estão aliviadas por não ter mais que ir para a faculdade, mas tristes por
não estarmos mais juntas o tempo todo.
Um dia, quando falta uma semana para as férias da Isabel terminarem, Lívia vai ao médico
antes de ir para a empresa. Ela está se sentindo mal há dias, mas se recusou a ir ao médico até eu
contar para o Cadu e ele obrigá-la a ir. Quando ela finalmente chega, está com uma cara
péssima.
- E aí? O que você tem?
- Gastrite.
- E por que essa cara?
- Eu vou ter que parar de trabalhar imediatamente. O médico disse que eu não posso me
estressar ou a doença pode virar crônica.
- Meu Deus!
- Pois é... Eu vou conversar com o Roberto, agradecer e depois vou embora.
- Você quer que eu vá para casa com você?
- Não, amiga. Eu vou passar uns dias em Búzios para me distrair e descansar um pouco.
- No meio do semestre? E as aulas?
- Depois eu pego a matéria com você.
- Lívia, tem certeza que você está bem mesmo?
- Absoluta. Eu preciso ir agora. Te mando uma mensagem quando eu chegar lá.
- Está bem. Descanse.
Dou um abraço e um beijo na minha amiga e a deixo ir embora.
Algumas horas depois, Roberto entra sorridente em minha sala, me levanta e me abraça.
- Agora eu vou ter você só para mim! Quer almoçar comigo hoje? – ele pisca o olho e eu
entendo que eu serei o almoço.
- Não fale isso. Eu estou preocupada com ela. Quem é que precisa parar de trabalhar por
que tem gastrite?
- Eu também achei estranho, mas a Lívia não gosta mesmo de trabalhar. De repente foi a
melhor desculpa que ela encontrou para parar. Eu combinei com ela que vamos assinar o estágio
completo dela e que ela não precisa se preocupar com isso – ele me beija. – Vamos almoçar juntos
ou não?
- Vamos!
O resto da semana passa corrido demais, pois agora que minha amiga não está mais
trabalhando, Cadu voltou a pedir minha ajuda e eu estou em dois projetos ao mesmo tempo. No
sábado de manhã, eu levanto cedo, pois quero ir para a praia. Deixo Roberto dormir mais um
pouquinho enquanto eu preparo algo para o café da manhã e encontro Lívia na cozinha. Parece
que ela foi atropelada por um caminhão.
- Mas o que aconteceu com você? – digo e a seguro pelo braço.
Lívia grita de dor e puxa o braço.
- Eu cheguei ontem de madrugada. Estou cansada, só isso.
- O que tem de errado no seu braço? Por que você está de manga comprida nesse calor do
inferno? Por que você está magra desse jeito?
- Uma pergunta de cada vez, Ana. Depois nós conversamos. Eu preciso dormir e só vim
buscar um copo d’água.
- Mas nem fodendo você vai sair daqui sem me explicar o que está acontecendo!
- Está bem. Não há nada de errado no meu braço. Estou de manga comprida porque estava
no ar condicionado do meu quarto. Emagreci um pouco, pois não posso ficar comendo e nem
bebendo besteira por causa da gastrite.
- Mentira. Deixa eu ver o seu braço.
- Não seja ridícula!
Lívia sai andando e eu a seguro pelo pulso. Outra vez ela grita de dor, mas eu não a solto e
levanto a manga de sua blusa. Meu coração dispara dentro do peito quando vejo que ela está
toda roxa.
- Ai, meu Deus! – eu a abraço. – Eu vou matar aquele filho da puta!
Lívia se afasta.
- Não, Ana! Não foi ele. O Cadu não tem nada a ver com isso.
- Não minta para mim! Você estava com ele, não estava?
- Não, Ana – ela começa a chorar. – Por favor, eu preciso descansar. Me deixe voltar para a
cama.
Eu vou com ela até o quarto e a deixo deitar. Estou com tanta pena dela que não sei o que
dizer ou fazer.
- Você promete que vai conversar comigo depois?
- Prometo.
- Está bem – dou um beijo em sua bochecha. – Eu te amo, Lívia. Não se esqueça disso.
- Eu também te amo.
Volto para a sala aos prantos sem saber o que fazer. Pego meu celular e ligo para o Cadu.
Quando ele atende, grito:
- Nunca mais se aproxime da minha amiga, ouviu bem? Eu vou te denunciar, seu miserável!
Você vai para a cadeia!
- Você é louca? Do que você está falando?
- Do que você fez com a Lívia!
- O quê? A última vez que eu falei com a Lívia foi no trabalho. O que aconteceu com ela?
- Mentiroso! Ela está toda roxa e só pode ter sido você!
- Ela está roxa? Em que parte do corpo?
- Nos pulsos e acho que nos braços também. Ela está gritando de dor, seu cretino!
- Eu estou indo para aí agora.
Ele desliga o telefone na minha cara. Continuo sentada olhando para o meu celular e
chorando. Dez minutos depois, o porteiro avisa que o Cadu está subindo. Assim que abro a porta
para ele, dou um tapa em seu rosto.
Ele fica apenas olhando para mim em silêncio.
- Ana, não fui eu quem fez isso e nós precisamos descobrir quem foi. Manchas roxas podem
aparecer depois de uma encenação, mas elas não podem doer do jeito que você disse.
“Será que ele está falando a verdade?”
- Por favor, me deixe falar com ela – Cadu continua.
Nós dois vamos juntos até o quarto da Lívia e ela grita assim que nos vê:
- Saia da minha casa agora! Você não é bem-vindo aqui!
“Ué? Alguns dias atrás ela era louca por ele e agora isso?”
- Me deixe ver os seus braços – ele diz com calma e se senta na cama.
- Não!
- Eu não vou pedir outra vez, Lívia.
- Eu não sou sua submissa e você não manda em mim!
Cadu simplesmente rasga a blusa dela em pedacinhos em meio aos socos e pontapés da
Lívia. Não consigo acreditar. Os dois braços delas estão completamente roxos e a barriga, perto
do umbigo também.
Eles começam a discutir e Cadu a acusa de estar se drogando.
“O quê?”
- Por que você está fazendo isso, sua irresponsável?
- Se você não sair da minha casa agora, eu vou chamar a polícia e dizer que você fez isso!
Você acha que eles vão acreditar em quem? Me deixa em paz! – ela esbraveja.
Cadu fica transtornado e, sem palavras, sai do quarto. Saio atrás dele e encontro Roberto no
corredor.
- Mas que escândalo é esse? O que ele está fazendo aqui?
- Daqui a pouco eu falo com você.
- Espera, Cadu! – Por favor! Me diga o que eu devo fazer – desço atrás dele pelas escadas.
- Aquelas marcas são de injeções, Ana. A sua amiga precisa de ajuda médica.
- E você vai abandoná-la?
- Ela me mandou embora, você não ouviu?
Ele continua descendo e eu paro. Volto para o apartamento e me tranco no quarto com a
Lívia.
- Pelo amor de Deus! – digo aos prantos. – Você não pode estar fazendo isso, Lívia! Me
conta o que aconteceu de verdade!
- Você jura que nunca na sua vida você vai falar isso para ninguém, principalmente para o
Cadu?
- Juro!
- Eu estava grávida dele e fiz um aborto.

Os meses que passam após esse episódio são os mais estranhos da minha vida. Por mais que
tudo esteja maravilhoso entre o Roberto e eu, minha amiga sofre calada e não conversa nem
comigo. É como se só o corpo dela estivesse ali. É claro que ela disfarça muito bem e apenas eu
percebo seu sofrimento, mas ela se recusa a falar sobre o assunto. O Cadu tentou entrar em
contato com ela inúmeras vezes, mas ela nunca mais atendeu seus telefonemas ou o recebeu aqui
em casa. Tenho certeza que algo aconteceu entre eles para ela ter tomado uma atitude dessas,
mas não sei o que foi.
Meu trabalho está cada dia mais interessante e eu aprendo muitas coisas que antes só sabia
a teoria. Roberto me ajuda muito e nunca mais deixou de ir ao escritório. Agora, ele trabalha cedo
e até pega dois projetos ao mesmo tempo. Passei a trabalhar mais com ele do que com o Cadu e a
Isabel, e pude perceber que mesmo dentro da mesma empresa, pessoas usam métodos diferentes
para desenvolver o mesmo projeto. Enquanto Cadu delega todo o processo para outras pessoas
desenvolverem a sua ideia e nos coloca para fazer pesquisas na rua, Roberto prefere fazer as
pesquisas online e gosta de desenvolver ele mesmo todas as etapas de criação, por mais que leve
mais tempo.
Enquanto minhas aulas na faculdade não haviam terminado, nós sempre saíamos para
“almoçar” juntos durante a semana ou encontrávamos um cantinho no escritório para satisfazer as
nossas fantasias. Agora que já estou de férias, apenas esperando pela festa de formatura,
Roberto e eu voltamos juntos para o meu apartamento praticamente todas as noites. Eu até separei
uma parte do meu guarda-roupas para as coisas dele.
As meninas e eu continuamos nos encontrando fielmente toda quinta-feira no bar de sempre
no Centro. Clara foi promovida mais uma vez no trabalho e evita falar sobre o relacionamento
dela com o Eric o máximo que pode. Eles ainda estão juntos e ele continua traindo ela com Deus e
o mundo. Alice está namorando o Marcos, amigo do Roberto que ela conheceu na festa da
empresa e é claro que eles continuam fazendo swing. Giulia continua no seu mundo perfeito e
extremamente limpo com o Breno e Lívia... Ninguém diz que ela está com problemas, mas eu sei que
mesmo depois de tanto tempo ela ainda não está bem.
Comemoro meu aniversário de 22 anos na boate que amamos e que tem o Ladies’ Club no
Happy Hour. Dançamos muito e subimos no palco com os dançarinos como sempre, exceto Lívia e
Giulia que nunca subiram. Quando a boate abre para a entrada dos homens, Roberto vem nos
encontrar e traz Cadu junto com ele, o que faz a minha melhor amiga ir embora imediatamente da
minha festa.
- Desculpe-me, Ana. Eu achei que ela não se importaria de me ver no meio de tanta gente.
Você acha que se eu for embora, ela voltará? Ligue para ela e avise que eu estou indo.
- Deixa para lá, Cadu. Ela vai achar que eu estou mentindo e não vai voltar de jeito nenhum.
- Será que ela vai chegar bem em casa?
- Sim, o João está lá fora esperando no carro.
- Quem é João?
- O motorista dela.
Nós ficamos na boate durante mais algumas horas, depois saímos para jantar. Marcos, Eric e
Breno nos encontram no restaurante e por mais que eu tente convencer a Lívia, usando chantagem
emocional pelo telefone, ela se recusa a vir nos encontrar. Minha mãe e meu irmão também se
juntam a nós e é claro que o Cadu vai embora assim que ele chega. Eu mal tenho tempo de
apresentá-lo a minha mãe.
Depois de comermos, todos se despedem ainda no restaurante. Depois que todos foram
embora, Roberto me abraça e pergunta:
- O que você quer fazer agora, princesa?
- Acho que devemos ir para casa. Quero ver como a Lívia está.
- Ana, hoje é seu aniversário. Você precisa parar de viver a vida da Lívia, nem que seja só
por um dia.
- Eu sei, mas eu fico preocupada. Ela não tem ninguém que cuide dela e...
- Nada disso – ele me interrompe. – Hoje nós não vamos para o seu apartamento. Você quer
sair para dançar de novo, quer beber mais alguma coisa?
- Não. Comi tanto que acho que não vou conseguir nem andar.
- Então vamos.
Roberto me leva para um hotel em Ipanema, nós passamos pela recepção e assim que ele dá
seu nome, entregam uma chave para ele.
- Você já tinha planejado vir para cá?
- É claro.
Vamos para o nosso andar e vejo que há um balde com uma garrafa de champanhe na
sala. Eu abro a varanda, que tem vista para a praia, e me sento no enorme divã do lado de fora.
Roberto aparece instantes depois com duas taças e se senta ao meu lado.
- Para a mulher mais maravilhosa da minha vida.
Nós brindamos e depois que bebe um gole, ele me abraça, encosta sua testa na minha e
continua:
- Queria tanto ter te conhecido quando eu tinha 17 anos.
- Para quê? Para brincar de bonecas comigo?
Ele sorri e me dá um beijinho nos lábios.
- Você sabe que eu te amo mais do que tudo?
- Sei.
- E que nada nem ninguém vai mudar isso?
- Que assunto é esse, Roberto?
- Nada... É só que eu te amo demais e às vezes sinto que vou te perder.
- É claro que não vai. Eu também te amo muito e nós vamos arrumar um jeito no trabalho
quando chegar o momento. Seu pai vai entender, querido.
Ele dá um sorriso triste.
- Eu espero que sim.
Ficamos abraçados olhando para a praia e Roberto recomeça o assunto estranho.
- Você promete que vai ouvir o que eu tenho a dizer não importa o que aconteça?
- Eu não estou entendo nada, mas eu prometo.
Levanto-me e em seguida me sento em seu colo de frente para ele, passando minhas pernas
em volta de sua cintura. Eu o beijo, mostrando o quanto o desejo, e segundos depois, Roberto tira
minha blusa e meu sutiã.
Enquanto ele chupa meus mamilos, sinto sua ereção crescendo entre minhas pernas. Ele me
enlouquece durante minutos incontáveis.
- Roberto... – digo tentando afastá-lo dos meus seios.
Ele emite um som, mas não para.
- Eu preciso que você me foda.
Ele passa a língua em volta do meu mamilo uma última vez e me coloca deitada no divã.
Roberto dá um beijo estalado na minha barriga, abre minha calça social e a puxa para baixo
junto com a minha calcinha. Depois que ele tira sua calça também, Roberto passa seu pau pela
minha entrada e acaricia meu clitóris com ele, olhando em meus olhos.
“Como isso me excita!”
Eu gemo e ele sorri.
- Você gosta quando eu esfrego meu pau em você assim, não é?
- Gosto.
Com a mão livre, ele belisca de leve um dos meus mamilos.
- Então goza para me mostrar o quanto você gosta.
Ele faz os movimentos um pouco mais rápido e aumenta a pressão sobre o meu clitóris.
Poucos minutos depois, o prazer toma meu corpo. Assim que paro de tremer, Roberto me coloca de
quatro e me penetra com uma única estocada. Ele segura meus quadris com força e fala besteiras
em meu ouvido até nós dois alcançarmos o clímax juntos.

Acordo na manhã seguinte sem o barulho do despertador e quando pego meu celular, vejo
que estamos atrasados. Levanto correndo e sacudo o Roberto.
- Querido, acorda! Nós já estamos muito atrasados para o trabalho.
Roberto abre os olhos, me puxa de volta para a cama, me abraça e beija meu rosto.
- Nós não vamos trabalhar hoje. Eu pedi para o Cadu dizer para o meu pai, caso ele nos
procure, que nós estamos em uma reunião fora da empresa.
- Mas por quê?
- Porque nós vamos dormir mais um pouquinho, namorar mais um pouquinho, tomar café com
calma e depois sair para comprar o seu vestido de formatura.
- Eu tenho o vestido que você me deu para a festa da empresa. Não preciso de outro.
- Precisa sim. É a sua formatura, um dos momentos mais importantes da sua vida, e você vai
comemorar como merece.
- Roberto...
- Shhh, Ana. Agora está na hora de dormir mais um pouquinho.
Ele fecha os olhos e continua me abraçando. Fico olhando para ele e aos poucos vejo que
sua respiração vai ficando mais leve. Acabo pegando no sono outra vez e acordo com Roberto
beijando meu pescoço.
- Amor... O café já está lá na varanda e o dia está lindo. Acorda, dorminhoca.
Ele passa o nariz pelo lóbulo da minha orelha e beija minha bochecha. Viro-me de barriga
para cima e estico os braços para ele, que está ajoelhado na cama. Roberto me pega no colo e
me leva até a varanda. Ele coloca um pouco de café em uma xícara para mim e eu bebo aos
poucos até conseguir despertar completamente.
- O que nós vamos fazer no Natal e no Ano-Novo? – pergunto
- O que você quiser.
- Geralmente, eu passo o Natal com a minha mãe e o Ano-Novo com as meninas.
- Então iremos para a casa da sua mãe. Você já combinou alguma coisa com suas amigas?
- Não.
- Se você quiser, podemos fazer uma festa lá em casa e chamar todas elas com os
namorados.
- Que legal! Mas e a Rute?
- A Rute não trabalha em feriados.
- Está bem. Vou falar com elas. Você não passa as festas de final de ano com a sua família?
- Não. Meu pai costuma viajar para esquiar nessa época do ano.
- E você não gosta de esquiar?
- Deus me livre! Um frio miserável. Eu gosto é de sol e praia.
Roberto e eu tomamos café com calma e depois saímos para comprar um vestido para mim.
Eu escolho um vestido longo com uma cauda simples, rendado e preto, com alças finas que cruzam
nas costas e o decote nas costas é bem profundo com formato arredondado. A moça que está nos
atendendo traz um par de sapatos pretos simples, com saltos altos para combinar e depois de
experimentar o vestido com os sapatos, tenho certeza que é esse mesmo o que eu quero. Roberto
insiste em me dar o vestido de presente, mas eu não aceito, mesmo sabendo que terei que
trabalhar o resto da minha vida para terminar de pagá-lo.
- Mas eu quero te dar um presente de formatura.
- Você pode me dar um livro, se quiser.
- Um livro? E isso lá é presente de formatura?
- Claro que é.
Nós saímos e caminhamos de mãos dadas pelo Leblon até que Roberto para em frente a
vitrine de uma joalheria. Ele olha para mim e sorri.
- Encontrei meu presente e não aceito “não” como resposta.
- Não, Roberto. Isso deve custar...
- Ai, meu Deus! Eu acabei de dizer que não aceito “não”. Vamos!
Ele me puxa para dentro da loja, aponta o que ele quer para o vendedor e nós nos
sentamos para esperar. Quando o senhor volta e abre a caixinha, quero morrer de amor pelo
Roberto. Vejo uma pulseira toda de corações verdes e eu já sei que ele escolheu essa porque acha
que tem a cor dos meus olhos. Sorrio e aperto a mão dele, mas logo a solto quando o vendedor
diz:
- Em volta de cada esmeralda tem quinze diamantes e a pulseira tem cinco anos de garantia
caso você perca alguma das pedras.
Olho para o Roberto irritada e digo:
- Obrigada, mas nós não vamos levar.
Tento me levantar, mas Roberto não deixa.
- Vamos levar sim. Pode embrulhar, por favor.
O vendedor se afasta contente.
- Mas Roberto...
- Você não gostou?
- É claro que gostei. É linda! Mas é obvio que é muito cara.
- E daí?
- E daí que você não precisa me dar coisas valiosas.
- Eu sei que não preciso, mas ela combina com seus olhos e vai ficar perfeita com o vestido
que você não me deixou comprar.
Começo a me arrepender por ter feito isso.
- Mas você vai ter dinheiro para pagar? Não vai atrapalhar suas obrigações?
Roberto dá uma gargalhada, beija meu nariz e se levanta para ir pagar a pulseira.
- Só você, Ana.
Ele se afasta de mim e eu prefiro não ir atrás dele para não saber o valor do presente.
Depois de sairmos da loja, vamos para o meu apartamento e Roberto liga para a lavanderia para
eles levarem o vestido novo e trazerem mais tarde.
Bato na porta do quarto da Lívia e ela grita:
- Entra!
Nós conversamos sobre o que aconteceu ontem e ela diz que não ficou chateada comigo.
- Você comprou seu vestido de formatura? – pergunto.
- Sim. E minha mãe nos deu um Spa Day de presente. Sairemos às 10h amanhã.
- Que maravilha! Vou mandar uma mensagem para ela mais tarde para agradecer. O
Roberto está aqui. Você quer ficar conosco na sala?
- Deixa eu terminar de assistir esse episódio – ela aponta para a TV – e eu vou.
- Está bem.
Dou um beijo em sua testa e volto para a sala. No fim da tarde, Roberto e eu vamos à praia.
Dezembro no Rio de Janeiro é um calor do inferno. Ficamos lá até anoitecer, depois vamos jantar
em um restaurante em frete à praia. Nós dormimos juntos e na manhã seguinte, quando Lívia e eu
saímos, ele volta para o apartamento dele.
Passamos um dia agradável fazendo massagens, as unhas, penteados e maquiagem. No fim
da tarde, quando estamos prontas, voltamos para casa e eu mando uma mensagem para o
Roberto como ele pediu que eu fizesse. Lívia abre uma garrafa de champanhe e nós brindamos.
- Acho que agora estamos nos tornando adultas – ela diz.
- Que merda, hein?!
Ela ri.
- Pois é. O que nós vamos fazer agora?
- Acho que continuar trabalhando.
- Não sei como você consegue... Trabalhar é muito chato.
- E você vai fazer o quê? Viver o resto da vida com o dinheiro dos seus pais?
- Sim... Pelo menos vai compensar a falta de atenção deles.
- E eles vão mais tarde?
- Vão para a colação e depois vão dar uma passadinha na festa. Eles têm outro
compromisso.
Ela diz balançando os ombros, mas sei que na verdade fica triste com isso.
Nós ficamos de roupão, bebendo na varanda até Roberto chegar. Abro a porta para ele,
que fica olhando de boca aberta para mim.
- O que foi? – pergunto.
- Por que você fez isso com o seu cabelo? – ele toca os fios perto do meu rosto.
Meus cabelos são cacheados e eu amo que eles sejam assim, apesar do trabalho que tenho
para cuidar deles, mas hoje resolvi deixá-los lisos porque achei que ficaria mais bonito com o
vestido que comprei.
- Ficou feio?
Ele me abraça e me dá um beijo.
- Não! Está lindo! É só que eu amo seus cachos e levei um susto quando não os vi.
Roberto está usando um terno cinza com uma gravata preta e traz uma bolsinha na mão.
- O que é isso?
- É para combinar com a pulseira.
- Roberto!
- Deixe de ser chata, Ana.
Ele caminha pela sala, deixa a bolsinha no sofá e vai para a varanda. Passo na cozinha
para pegar uma taça para ele e ficamos os três conversando por meia hora até Lívia dizer que
precisamos nos arrumar. Roberto vem comigo até o meu quarto e depois que estou vestida, me
ajuda a colocar a pulseira. Procuro um brinco que combine tanto com o vestido quanto com a
pulseira, mas não encontro nenhum que me agrade. Roberto me observa sentado na cama.
- O que foi? – ele pergunta quando eu bufo.
- Não encontro um brinco que combine. Vou ver se a Lívia tem algum.
Ele segura minha mão quando eu passo por ele e me faz sentar ao seu lado. Roberto tira
uma caixinha de dento da bolsa e a abre para mim. Há um par de brincos com um coração de
esmeralda, rodeado por diamantes, exatamente igual aos da pulseira.
Não consigo deixar de sorrir.
- Como você adivinhou?
- Eu te conheço muito bem. Por mais que você ache que não.
Ele coloca o brinco em minhas mãos, dou um beijo em seu rosto e volto para frente do
espelho para colocá-los. Lívia aparece deslumbrante com seu vestido dourado.
- Está pronta?
- Sim.
Roberto se levanta e diz:
- Então vamos.
Todos juntos, vamos para o auditório da faculdade e lá encontramos minha mãe, meu irmão,
as meninas com os namorados e os pais da Lívia. Abraçamos e beijamos todo mundo antes de nos
juntarmos à turma de formandos. É claro que tudo acontece da mesma forma das outras cerimônias
de formatura, mas dessa vez é mais especial porque é a minha. Lívia e eu contratamos um dos
fotógrafos e ele tira diversas fotos durante a cerimônia para montar um álbum. Quando todos
terminam de falar e pegam o canudo vazio, há aquela parte em que todo mundo joga os capelos
para o alto e que é a mais divertida de todas.
Assim que isso termina, nós fazemos uma fila em uma sala para assinar e pegar o diploma
de verdade antes de voltarmos ao auditório para tirar fotos com nossos familiares e amigos. Logo
em seguida, vamos para a festa, que é no mesmo salão onde foi a das minhas amigas. Quando
finalmente conseguimos nos sentar, minha mãe diz:
- Estou tão orgulhosa de você, Ana.
- Obrigada, mãe.
Ela sorri enquanto faz carinho na minha mão, mas logo depois a solta e dá um tapa na
cabeça do Thiago, que está ao lado dela.
- E você vai ser formar quando, seu preguiçoso?
- Ai, mãe! Em breve... Eles não vão me deixar ficar mais muito tempo na faculdade.
- Dona Rita – Roberto diz –, Ana e eu estamos pensando em passar o Natal na sua casa. Se
não for um incômodo, é claro.
- Que maravilha! Será um prazer, Roberto. Você pode convidar seu pai e quem mais você
quiser também.
- Obrigado, mas meu pai geralmente viaja nessa época do ano.
Começo a beber e a dançar com as meninas, Roberto e Thiago. Pouco mais de uma hora
depois, vejo Cadu se aproximando de nós na pista de dança com dois presentes nas mãos.
“Puta merda!”
Seguro o braço da Lívia e sussurro:
- Não faça escândalo.
- Por quê?
Mostro para ela quem está vindo e ela para de dançar e de sorrir imediatamente.
- Boa noite – Cadu diz.
- O que você está fazendo aqui? – ela grita e eu aperto seu braço.
- Eu só vim entregar uma coisa, já estou indo embora.
- Parabéns pela formatura, Ana – ele me dá um abraço e me entrega uma das caixas.
- Obrigada.
Lívia e Cadu ficam se olhando sem falar nada e ele estende a outra caixa para ela.
- Esse é seu.
- Eu não quero nada que venha de você.
- Lívia! – aperto seu braço outra vez.
- Por favor. Leve para casa e abra. Se você realmente não quiser, você pode me devolver.
- Não.
Cadu segura a mão dela e se aproxima tanto que quase chega a beijá-la.
- Por favor.
Lívia fica em silêncio durante algum tempo, apenas olhando para ele.
- Está bem.
Ele se afasta um pouco, coloca o presente na mão dela e diz:
- Obrigado.
Cadu simplesmente vira as costas e vai embora. Roberto e Marcos, que estava dançando com
a Alice, vão atrás dele. Abro a minha caixa e vejo que ganhei um relógio.
- Você não vai abrir a sua? – Alice pergunta.
- Você não ouviu ele dizendo que era para abrir em casa?
- E daí? – digo.
- Vai que tem um vibrador gigante aqui? Não quero correr o risco.
Dou uma gargalhada, pego a caixa de suas mãos e a entrego para minha mãe, que continua
sentada. Quando Roberto volta, me abraça.
- E aí? – pergunto.
- Nada. Ele realmente só veio entregar o presente.

Alguns dias depois da festa, Lívia e eu saímos para comprar os presentes de Natal. Como os
pais dela vão viajar, ela vai ficar na casa da minha mãe conosco.
- Você já abriu o presente do Cadu?
- Ainda não. Acho que vou devolver sem nem abrir. Eu não quero nada dele.
- Eu sei... E o que eu compro de presente para o Roberto?
Lívia pensa por alguns segundos e diz:
- Por que você não faz uma cesta com várias lingeries e produtos eróticos já que vocês
gostam tanto?
- E como eu vou dar isso para ele na frente da minha mãe, Lívia?
- Não seja burra! Você compra qualquer coisa... Uma camisa... Sei lá. Dá isso na frente da
sua mãe e quando vocês voltarem para casa, você dá o presente de verdade.
“Mas não é que ela é esperta?!”
- Ótima ideia!
Lívia me ajuda a escolher alguns conjuntos sexy, corseletes, meias e tudo mais que se pode
imaginar. Depois, nós vamos a um sex shop e compramos mais alguns produtos para incrementar o
presente. Quando voltamos para casa, compro uma cesta de palha bem bonita pela internet e
pago a entrega expressa já que não temos muitos dias.
Roberto continua trabalhando enquanto eu tirei alguns dias de folga para as festas de fim
de ano, por isso tenho o dia inteiro disponível para preparar o presente e para escondê-lo antes
de ele chegar do trabalho.
No dia 23, as meninas e eu saímos para comemorar, já que não passaremos o Natal juntas.
Quando surge o assunto do Ano-Novo, digo:
- O Roberto disse que nós podemos fazer uma festa no apartamento dele e que vocês
podem levar os namorados.
Todas ficam animadíssimas, exceto Lívia.
- Eu não vou – ela diz.
- Por que não? – Pergunto.
- Porque é obvio que o Roberto vai chamar o Cadu e eu não quero encontrá-lo.
- Deixe de ser boba, Lívia – diz Alice. – Você não precisa falar com ele. Não é possível que
você não possa suportar ficar no mesmo ambiente que ele.
- E qual foi o presente que ele te deu? – Clara pergunta.
- Eu não abri e pretendo devolvê-lo sem nem ver o que é.
- Pois aí está sua oportunidade – digo. – Se é que o Roberto vai convidá-lo.
Ela pensa por algum tempo e depois diz:
- Tudo bem. Eu vou.
Elas me dão ideias do que podemos fazer para a festa e eu combino com a Giulia de ir me
encontrar um dia com o Roberto, já que ela é a especialista em organização.
Na véspera de Natal, Roberto, Lívia e eu vamos para a casa da minha mãe como ficou
combinado. Roberto aparece para nos buscar com o carro cheio de caixas de presentes e quando
chegamos lá, vemos que Thiago levou um amigo para passar a noite conosco.
Como em todos os Natais, minha mãe serve a ceia antes da meia-noite, pois ninguém aguenta
esperar e é claro que a comida está fria. Ela prepara tudo de manhã cedo e não há quem a faça
mudar de ideia.
Lívia está lá, mas é como se não estivesse. Quase não conversa com ninguém e fica o tempo
todo assistindo ao filme natalino que está passando na TV. Nem o Thiago consegue animá-la. Todo
Natal ela fica assim. Acho que é por que raramente os pais ficam com ela nessa época do ano.
Quando dá meia-noite, todos se abraçam e se beijam e minha mãe começa a entregar os
presentes que ela comprou, depois a Lívia entrega os dela, eu entrego os meus e o último é o
Roberto. Como sempre, meu irmão não comprou nada para ninguém.
Roberto dá um par de brincos para a Lívia, que os acha lindos. Para o Thiago, uma camisa
da Ralf Lauren, para minha mãe, uma máquina de café expresso e quando se aproxima de mim,
ele diz:
- Eu espero que esse seja o primeiro de muitos natais que passaremos juntos.
Ele me dá um beijinho nos lábios e me entrega uma caixa pequena e retangular.
- Eu também espero.
Abro a caixinha e vejo a chave de um carro da Volkswagen.
- Um carro? – pergunto surpresa.
- Sim – ele diz sorrindo. – Eu comprei um Polo prata, pois você disse que tinha medo de ser
assaltada, mas se você não gostar nós podemos trocar.
“Como se eu soubesse nomes de modelos de carros...”
- E onde está?
- Na garagem do seu prédio.
- Ai, Roberto... O que eu faço com você? – eu o abraço. – Muito obrigada.
- Eu te amo – ele diz baixinho em meu ouvido e me dá um beijo.
- Seu presente de verdade está lá em casa. A camisa foi só para disfarçar – sussurro em
seus lábios.
- É mesmo?
Balanço a cabeça concordando.
- Podemos ir embora agora?
- Claro que não, bobo. Mas garanto que você vai gostar.
- Já estou gostando.
Depois que todos já abriram seus presentes e agradeceram, nós nos sentamos outra vez e
voltamos a beber e conversar.
Lívia pesquisa pelo celular qual o modelo de carro eu ganhei e me mostra uma foto.
- É esse? – pergunto ao Roberto.
- Sim, mas o seu tem duas portas e o vidro fumê.
Lívia pesquisa outra vez e nos mostra.
- Você gosta? – Roberto pergunta.
- Muito. Poderia ser até um fusquinha que eu amaria.
- Quer trocar a cor? O vendedor disse que mulheres geralmente escolhem carros brancos ou
vermelhos e o risco de ser assaltada é maior nesses casos.
- Deus me livre! Prata está ótimo!
Ficamos na casa da minha mãe até às duas da manhã e voltamos os três juntos para o meu
apartamento. Lívia sobe direto e Roberto e eu passamos na garagem para ver o carro, que é
lindo! Os vidros são completamente escuros, o que faz eu me sentir mais segura, os bancos são de
couro e Roberto colocou um laço de presente verde no volante.
- Você vai me ajudar a aprender?
- Mas você não disse que tinha carteira?
- Tenho, mas não tenho prática.
Roberto me abraça.
- Você prefere que eu contrate um instrutor?
- Não. Quero que você me ensine.
- Então podemos começar amanhã mesmo, se você quiser.
- Eu não sei nem como te agradecer, Roberto.
- Não precisa, meu amor. Eu só quero que você se sinta confortável e um carro com certeza
vai facilitar a sua vida.
Só consigo sorrir. Ter encontrado o Roberto foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido.
Ele sempre faz de tudo para que eu me sinta amada e querida, mesmo com o nosso
relacionamento complicado.
- Vamos subir? – ele pergunta. – Quero ver logo o meu presente de verdade.
- Vamos. Mas antes, quero falar uma coisa. Quando chegarmos lá em cima, sei que você não
vai nem querer ouvir.
Ele ri.
- Fale.
- Combinei com a Giulia daqui a dois dias de vir nos encontrar para organizar a festa de
Ano-Novo. As meninas concordaram em ir para sua casa.
- A Giulia trabalha com festas também?
- Não, mas ela é muito boa na organização de qualquer coisa.
- Se você quiser fazer assim, tudo bem. Mas eu tinha pensado em contratar um buffet e
deixar eles fazerem tudo.
- Sério?
- Sim.
- Então contrate o que você quiser e eu levo a Giulia para falar com o responsável e
organizar direto com ele.
- Combinado! Podemos ir agora? Eu estou ansioso.
- Agora sim.
Nós subimos e eu mando Roberto direto para o banho enquanto eu confiro o presente mais
uma vez. Vou até a cozinha, tiro o vinho da adega refrigerada e o coloco sobre uma bandeja com
duas taças. Assim que Roberto sai do banheiro, eu entro para uma chuveirada rápida. Seco meu
corpo, dou um jeito no cabelo e passo na cozinha para pegar a bandeja antes de ir para o quarto
completamente nua.
Assim que eu entro, Roberto se levanta da cama e diz:
- Esse é o melhor presente que eu já recebi na vida.
Ele tira a bandeja das minhas mãos e coloca sobre a mesinha.
- Mas esse ainda não é o presente.
- Como não?
- Está em baixo da cama – ele se abaixa, pega a caixa e fica olhando para ela intrigado. –
Pode abrir.
Roberto vai tirando as coisas de dentro da caixa e eu vejo seus olhos brilharem. Depois de
ver todo o conteúdo, ele me pergunta:
- Mas quem vai vestir essas coisas? Eu?
Dou uma gargalhada.
- Claro que não! Eu, mas você pode escolher qual, quando, onde e como quer que eu use,
começando agora.
- Você é muito safada, Ana – ele se aproxima de mim e me beija com paixão. – Promete que
vai ser assim para sempre?
- Prometo – ele me beija outra vez. – E o que você quer que eu use hoje?
Ele volta para perto do presente.
- Esse aqui.
Roberto escolhe o espartilho vermelho que acompanha meias 7/8 também vermelhas.
- Está bem. Agora vá à cozinha pegar alguma coisa para comermos.
- Você está com fome?
- Claro que não. Mas eu quero me vestir e você não pode ficar aqui vendo.
- Ah... Mas eu quero ver.
- Mas assim não tem graça. Vá e volte em 10 minutos.
- Está bem.
Ele veste seus shorts e sai do quarto. Eu me visto o mais rápido que posso, mas prender as
ligas nas meias não é tão fácil quanto parece. Minha intenção era estar deitada na cama quando
ele voltasse, mas Roberto entra e eu ainda estou colocando vinho nas taças.
- Uau! – ele diz e bate a porta. – Você está incrível!
Dou a ele uma das taças, mas Roberto a coloca de novo sobre a bandeja.
- Eu não quero vinho. Quero você.
Ele me beija e me puxa para perto, apertando minha bunda. Sinto sua ereção cutucando
minha barriga. Roberto beija meu pescoço até me deixar louca, depois puxa o bojo do espartilho
para baixo e faz o mesmo com meus mamilos. Ele se abaixa beijando minha barriga e fica de
joelhos de frente para mim. Roberto abaixa minha calcinha e me ajuda a sair dela.
- Abra as pernas para mim, Ana.
Faço o que ele pede e ele dá uma lambida do meu períneo até o meu clitóris. Roberto
separa meus grandes lábios delicadamente e faz sua mágica até me levar a beira do abismo.
Quando estou prestes a gozar, ele se afasta, se levanta e me beija. Roberto coloca a mão entre as
minhas pernas e volta a me dar a atenção que preciso.
- Você está pronta para mim, não está?
- Estou.
- E onde você quer gozar? Na minha mão ou na minha língua? – ele sussurra em meu ouvido.
- No seu pau.
Roberto respira fundo antes de me colocar de quatro na cama e me penetrar, me fazendo
gozar em sua primeira investida. Ele segura minha cintura e abaixa o corpo sobre o meu. Sinto sua
respiração em minhas costas antes de sentir suas mãos tocando meu clitóris. Roberto volta a
acariciá-lo bem lentamente e continua entrando e saindo de mim com a força e velocidade
necessárias para me fazer gozar mais uma vez.
De repente, ele me coloca deitada de costas na cama, separa bem minhas pernas e volta a
me penetrar. Roberto segura meus tornozelos para o alto e me fode feito um selvagem.
- Você me ama? – ele pergunta.
- Muito.
Ele abaixa o corpo sobre o meu e me beija. Roberto deixa seus lábios colados aos meus e
olha fundo em meus olhos.
- Eu te amo – digo e ele sorri sem se afastar.
- Eu te amo – repito e Roberto me dá um beijinho.
- Eu te amo, eu te amo, eu te amo...
Repito várias vezes até ele fechar os olhos e se entregar ao prazer.

Roberto e eu temos uma manhã preguiçosa e ficamos apenas deitados, assistido a um filme
abraçados. Quando minha barriga começa a roncar, nós nos levantamos e vamos tomar café na
cafeteria de sempre perto do meu prédio. Depois de comermos, vamos para a praia e passamos o
resto da tarde lá.
- Quando você vai tirar férias? – ele me pergunta.
- Só posso pensar nisso depois de junho. Tenho que completar pelo menos um ano na
empresa antes de poder tirar férias. Por quê?
- Porque eu quero tirar junto com você. Pensei que nós poderíamos viajar juntos.
- Eu adoraria.
Roberto dá um beijo na minha cabeça e vai para o mar. Aproveito para ligar para a Giulia
para pedir para ela vir me encontrar amanhã e ligo para a Lívia para ver se ela está bem.
Quando saímos da praia, Roberto me leva para dirigir meu carro novo em um
estacionamento enorme que eu nem conhecia. A princípio eu fico muito nervosa, mesmo quase não
havendo carros lá, mas algumas horas depois, já me sinto mais confiante.
Combinamos de dirigir junto com os outros carros amanhã e que Roberto me dará aulas à
noite e quando chover também para eu não ficar desesperada caso ocorra um imprevisto.
No dia seguinte de manhã, Giulia vem ao meu apartamento e Roberto, Lívia, Giulia e eu
vamos para o apartamento dele. Ele liga para a dona do buffet que ele gosta e ela vai nos
encontrar na casa dele.
Assim que a jovem senhora chega com vários livros nas mãos, Roberto diz:
- Eu vou deixar vocês a sós para decidirem isso. Você pode escolher o que quiser, Ana. Se
precisar, estarei lá em cima no escritório.
Roberto sobe as escadas e a senhora diz:
- Bem, qual estilo de festa vocês gostariam de fazer? Quantos convidados?
Ela nos mostra as fotos dos livros que trouxe. Aos poucos, selecionamos o cardápio, as
bebidas e por último a decoração. Nós mostramos para ela as partes da casa que usaremos na
festa e ela faz algumas anotações.
- Perfeito. Eu vou mandar um dos meus funcionários vir aqui para tirar algumas medidas no
final da tarde de hoje. No dia 31 de manhã, nós viremos preparar tudo e às 17h traremos as
comidas e bebidas.
- Está bem – digo. – E quanto vai ser isso? Quais são as formas de pagamento?
- Isso o senhor Roberto me proibiu de tratar com você – ela diz sorrindo. – Você poderia
avisá-lo que nós já terminamos e que eu estou indo embora?
- Claro.
Subo até o escritório, abro a porta e encontro Roberto trabalhando em seu laptop.
- Já? – ele pergunta.
- Sim. A moça quer falar com você antes de ir embora.
Ele se levanta e desce junto comigo. Roberto sai do apartamento com a mulher e eu vou para
a varanda encontrar as meninas.
- O que vocês vão fazer hoje? Querem passar o dia aqui na piscina? – pergunto.
- Claro – Lívia diz.
- Eu não trouxe meu biquíni – Giulia diz.
- Pede para o Breno trazer – digo.
- Ele está trabalhando. A empresa dele não tem recesso de fim de ano.
- Eu te empresto um – diz Lívia.
- Deus me livre! Você não deve emprestar calcinhas para os outros, Lívia.
- Mas você não é “os outros”. Você é minha amiga e eu sei que você é limpinha.
- Mesmo assim. Eu prefiro comprar um novo.
- Certo – digo. – Lívia, você passa lá em casa e traz as nossas coisas. Eu vou levar a Giulia
naquela loja aqui perto.
- Combinado.
Vamos para a sala e eu vejo Roberto entrando na cozinha. Vou atrás dele.
- E quanto foi a festa?
- Você gostou do que escolheu?
- Sim.
- Então é isso que importa – ele me dá um beijo na bochecha. – Eu comecei a desenvolver
uma parte do projeto e quero terminar. Você se importa se eu ficar mais um pouco lá em cima?
- Não. Eu chamei a Lívia e a Giulia para passarem o dia aqui. Vou lá embaixo rapidinho
para comprar um biquíni para a Giulia.
- Legal. Vou ligar para o Cadu para ver se ele quer vir também.
- Ah não, Roberto. Por favor. Se ele vier a Lívia vai querer ir embora. Ela já concordou em
passar o Ano-Novo com ele, mas eu não quero forçar muito.
- Tudo bem. Nós podemos encontrá-lo mais tarde. Você se importa se jantarmos com ele?
- Claro que não.
- Está certo.
Roberto pega um sanduíche na geladeira e sobe. Faço o que combinei com as meninas e
quando voltamos para o apartamento, vejo que Lívia já está na piscina. Giulia vai até o banheiro
para lavar o biquíni antes de usá-lo e eu me troco e entro na piscina também.
Passo um dia agradável em meio a risadas e brincadeiras com as minhas amigas. Os outros
dias antes da festa de Ano-Novo são calmos e eu aproveito para descansar bastante, já que terei
que voltar ao trabalho no dia 2 de janeiro. Roberto e eu vamos à praia todos os dias, depois ele
me ensina a dirigir e nós voltamos para minha casa. Temos passado todos esses dias juntos e é
muito bom ficar o dia inteiro com ele e poder agir normalmente sem a pressão de alguém nos
descobrir.
No dia 31, Lívia, Roberto e eu vamos cedo para o apartamento dele e logo depois, pessoas
começam a chegar para arrumar a decoração. Lívia e eu ficamos na cozinha para não atrapalhar
e Roberto diz que vai trabalhar um pouco no escritório, mas quando subo para procurá-lo, ele está
no quarto, dormindo. Deixo-o descansar e volto para cozinha.
- Você trouxe o presente para devolver ao Cadu?
- Sim.
- E você não está nem um pouquinho curiosa para saber o que tem dentro?
- Não. Eu prefiro não saber.
Três horas depois, a varanda e a sala estão decoradas do jeito que eu escolhi. Ficou lindo!
Na varanda, há duas mesas compridas. Em uma delas, há diferentes tipos de pratos e tigelas de
vidro vazias, onde serão colocados os petiscos mais tarde, e taças posicionadas junto a um balde
de prata, onde eu suponho que eles colocarão gelo e as bebidas. A outra mesa está decorada
com velas brancas e redondas e vasinhos de vidro transparente com rosas brancas. Os pratos,
talheres e guardanapos estão posicionados em frente às cadeiras e cada uma delas tem dois
balões pendurados: um dourado e um branco. A piscina está cheia de balões brancos e dourados
e na extensão da mureta há jarros de vidro com velas brancas dentro.
A sala está cheia de balões brancos e dourados no teto. As paredes repletas de estrelas
douradas e alguns móveis foram retirados, abrindo espaço para uma pista de dança. Há também
velas e rosas brancas espalhadas por todas as bancadas e mesinhas.
Roberto aparece no alto da escada bocejando. Ele desce e me abraça.
- Ficou muito bonito, Ana. Você tem muito bom gosto.
- Obrigada. Eles vão voltar mais tarde para arrumar as comidas e bebidas.
Nós vamos para a varanda e passamos o resto da tarde tomando sol e indo para a cozinha
para comer ou beber alguma coisa para não estragar nada do que já está pronto. Às 17h em
ponto, novos funcionários do buffet chegam e continuam com seu trabalho. Nós subimos para nos
arrumar, pois marcamos com as outras meninas às 19h. Tomo banho junto com Roberto depois de
levar Lívia para um dos quartos de hóspedes. Coloco o vestido longo e branco que eu comprei
para a festa, minhas sandálias novas, verde-escuro e com os saltos altíssimos e a pulseira e o
brinco de esmeraldas que o Roberto me deu de presente. Seco os cabelos, deixando meus cachos
bem volumosos e quando volto para o quarto, Roberto, que está com uma bermuda de linho branca
e uma camisa social também branca, se levanta e me beija.
- Você está linda! Eu amei a sandália.
- Comprei pensando que você gostaria da cor.
- Eu adorei. Mais tarde, eu vou te trazer para cá, tirar seu vestido e te comer com você
usando só as sandálias.
Ele me beija com paixão, e depois de alguns minutos, eu me afasto.
- Tenho que terminar de me arrumar. As meninas vão chegar a qualquer momento.
Vou para o quarto onde a Lívia está e a vejo em seu vestido curtinho de lantejoulas
douradas e suas sandálias, também douradas, de saltos altos. Nós saímos juntas para comprar
nossas roupas e como sempre, ela escolheu dourado, mesmo que a maioria use branco no Ano-
Novo.
- Me ajuda com a maquiagem? – pergunto.
- Claro. Entra.
Eu me sento e ela começa a me maquiar.
- Como você está?
- Bem. Por quê?
- Por causa do Cadu. Você promete que não vai desaparecer no meio da noite?
- Prometo. Eu vou ser educada, vou cumprimentá-lo, devolver o presente e é isso. Nós não
precisamos ficar conversando e eu não vou deixar de me divertir com as minhas amigas por causa
dele.
- É assim que se fala!
Quando nós estamos prontas, descemos e encontramos Cadu e Roberto na varanda. Eles se
levantam quando nos veem.
- Roberto me disse que você foi a responsável pela decoração. Parabéns, Ana. Está muito
bonito.
Ele me dá dois beijos no rosto.
- Obrigada, mas eu só escolhi. O Roberto contratou uma empresa para montar tudo.
- Boa noite, Lívia. Tudo bem?
- Boa noite, Carlos Eduardo. Tudo bem e você?
- Ansioso para saber se você gostou do presente.
- Ah, sim... Você pode vir até a sala comigo?
- Claro.
Os dois entram e Roberto e eu ficamos observando. Lívia devolve a caixa, Cadu fala alguma
coisa, ela responde. Eles começam uma discussão até a Lívia tocar no braço dele, virar as costas e
voltar para a varanda.
- Está tudo bem? – pergunto quando ela passa ao nosso lado.
- Vai ficar.
Aos poucos as meninas começam a chegar. Primeiro a Giulia e o Breno, depois Clara e o
insuportável do Eric e por último Alice e Marcos. Há dois garçons servindo as bebidas e os petiscos
e nós nos divertimos muito. Quando a meia-noite se aproxima nós vamos para perto da mureta
para assistir à queima de fogos da praia e é simplesmente lindo! É claro que é muito mais
confortável estar aqui em cima do que lá embaixo no meio da multidão.
As meninas e eu brindamos com champanhe e nos abraçamos desejando coisas boas para o
novo ano. Assim que nos separamos, cada uma vai falar com o seu namorado. Roberto me abraça
e me beija durante muito tempo.
- Feliz Ano-Novo, amor! – ele diz. – Espero que esse seja o primeiro de todos os outros que
passaremos juntos para sempre.
Não consigo deixar de sorrir, pois ele falou algo parecido no Natal.
- Para sempre é muito tempo, Roberto.
- Não é o suficiente para mim. Eu quero ficar com você mais 20 anos depois de para
sempre.
- Eu também te amo – digo sorrindo.
Nós nos beijamos outra vez e quando nos separamos, não vejo Lívia nem Cadu. Falo com
Roberto e ele diz:
- Vou procurá-los discretamente.
Ele entra e eu cumprimento os namorados das minhas amigas. Vejo o celular do Roberto
tocando na mesinha ao lado da espreguiçadeira onde ele estava sentado. Pego-o e vejo que o
número não é do Brasil, então resolvo atender, pois pode ter acontecido alguma coisa na casa
dele.
- Alô?
- Quem está falando? – Uma mulher pergunta em inglês do outro lado da linha.
- É a Ana. O Roberto foi ao banheiro. Espere um minutinho que ele já vai voltar.
- Você é a Ana, assistente dele na empresa?
- Sim – nesse instante ele entra na varanda. – Ele chegou, vou passar para ele.
Estendo o telefone em sua direção e ele pergunta:
- Quem é?
- Não sei... Uma mulher falando inglês.
- E o que ela disse?
- Nada, só pediu para falar com você e eu disse que você já estava voltando.
Ele pega o telefone e volta para dentro do apartamento. Roberto desaparece por uns
quinze minutos e quando entro para procurá-lo, encontro-o na cozinha bebendo uísque.
- Está tudo bem? – pergunto.
- Sim.
- Quem era no telefone?
- É... Minha governanta.
- Aconteceu alguma coisa na sua casa?
- Não. Ela ligou só para desejar feliz Ano-Novo.
- E como é que ela sabe meu nome e que eu sou sua assistente?
- Eu falei de você para ela quando estava lá.
- É mesmo? Falou o quê?
Ele se aproxima, me abraça e beija meu pescoço.
- Que você era linda e que eu estava apaixonado por você. Agora, vamos lá para fora
antes que eu te arraste para o quarto.
Nossa festa continua até às 4 da manhã e todas as meninas vão embora, exceto Lívia que
dorme no quarto de hóspedes. Roberto e eu passamos o dia seguinte inteiro na cama nos
recuperando do excesso de bebida da noite anterior. Só levantamos para comer e tomar banho.
No dia 2, passamos de manhã cedo no meu apartamento para eu me arrumar para o
trabalho e nós vamos juntos no meu carro, comigo dirigindo. Estaciono no subsolo da empresa e
Roberto me dá um beijo antes de dizer:
- Sobe você primeiro. Eu vou daqui a 5 minutos.
- Está bem.
Vou de elevador até o nosso andar e assim que passo pela recepção, Márcia, a secretária,
diz:
- A esposa do senhor Collins está na sua sala esperando o Roberto. Ela não fala português.
- Obrigada, Márcia.
“Finalmente vou conhecer a madrasta dele!”
Confesso que estava extremamente curiosa para saber quem era a nova esposa do senhor
Robert, mas me surpreendo quando vejo uma jovem mulher, magra, loira e com os cabelos lisos
sentada no sofá da sala do Roberto.
- Bom dia! Eu me chamo Ana Luiza e sou a assistente do Roberto – digo em inglês – É um
prazer conhecê-la.
Estendo a mão para ela que a segura e me cumprimenta.
- Você sabe quem eu sou?
- A senhora Collins, esposa do senhor Robert, não?
- Eu sou a senhora Collins sim, mas eu sou esposa do Roberto e não do pai dele.
Capítulo 11

“I'm so in love with you and I hope you know. Darling, your love is more than worth its weight in gold.
We've come so far, my dear, look how we've grown and I wanna stay with you until we're grey and
old. Just say you won't let go… Just say you won't let go.”
“Eu estou tão apaixonado por você e eu espero que você saiba. Querida, seu amor vale mais do que
o seu peso em ouro. Nós chegamos tão longe, minha querida, veja como nós crescemos e eu quero
ficar com você até ficarmos grisalhos e velhos. Apenas diga que você não vai desistir... Apenas diga
que você não vai desistir.

Say you won't let go – James Arthur


Roberto
Eu não acredito em meus olhos quando vejo a Hilary dentro do meu escritório junto com a
Ana.
“Minha vida estava boa demais para ser verdade!”
Esses últimos meses foram incríveis e eu nunca havia me sentido tão feliz. Depois da
formatura da Ana, nós passamos a dormir juntos quase todas as noites e passar as festas de fim
de ano com ela foi tão bom que eu cheguei a pensar em um futuro para nós dois.
- Olha que engraçado, Roberto! Sua assistente achou que eu era casada com seu pai –
Hilary diz com aquela voz insuportável.
- Eu peço desculpas, senhora – Ana vira de frente para mim e eu vejo seus lindos olhos
cheios de lágrimas. – Eu vou começar o meu trabalho na sala da Isabel. Se o senhor precisar de
mim, é só me chamar.
Ela vira as costas e sai da sala.
- Espere, Ana! – eu grito, mas ela não para.
- Não seja ridículo e não faça essa cena dentro da empresa – Hilary bate a porta. – Você
acha que eu sou idiota, Roberto? Você acha que eu não sei que você estava comendo ela esse
tempo todo? Eu sabia de tudo! Mas uma coisa é você estar se divertindo com a sua assistente e
outra muito diferente é passar o Ano-Novo com ela!
- Cale a boca, Hilary.
Na noite de Ano-Novo, ela não falou nada sobre a Ana estar em minha casa, disse que ligou
apenas para desejar feliz Ano-Novo e me contou sobre a mudança da mãe e como tinha ficado
feliz por isso.
“Ela já devia estar planejando vir para cá.”
Abro a porta e vou até a sala do Cadu. Entro, vejo os dois sentados no sofá e o Cadu
forçando-a a beber água.
- Beba – ele diz.
Isabel está em pé do outro lado da sala provavelmente sem entender o que está
acontecendo.
- Roberto, saia daqui, por favor – meu amigo diz. – Agora não é a hora e aqui não é o
lugar para essa conversa. Fique tranquilo que assim que ela se acalmar eu vou levá-la para casa
e não vou deixá-la sozinha se a Lívia não estiver lá.
- Ana...
Ela nem olha para mim e não para de chorar e soluçar.
- Isabel, por favor! – Cadu grita.
Isabel me puxa pelo braço e me leva para fora da sala.
- Meu pai não pode saber de nada disso, Isabel.
- Fique tranquilo, eu não sei de nada.
- Obrigado.
Aperto seu braço de leve e volto para minha sala.
- O que você está fazendo aqui? – pergunto a minha esposa.
- Eu estou me mudando para o Brasil. Vim do aeroporto direto para cá e o táxi está me
esperando lá embaixo para me levar para sua casa.
- Você está louca? Você não vai morar aqui comigo.
- Vou sim. Eu sou sua esposa e não vou permitir que você me troque por uma qualquer.
- A Ana não é uma qualquer!
- Se ela está dormindo com um homem casado, é sim.
- Ela não sabe que eu sou casado, Hilary. Pelo amor de Deus! Nós não somos casados de
verdade.
- Você quer que eu te mostre a certidão de casamento? – ela começa a mexer em sua pasta.
- Não.
- Nós teremos uma conversa séria sobre o seu relacionamento com essa menina mais tarde.
Agora, eu quero descansar. Vamos, me dê as chaves de casa.
“Eu não acredito que isso esteja acontecendo comigo!”
Tiro-as do bolso e as coloco em sua mão.
- E desça comigo para dar o endereço ao motorista e pagar o táxi.
Abro a porta e nós caminhamos pelo corredor. Vejo Cadu saindo da sala dele com a Ana e
me viro para ir falar com ela, mas Hilary segura minha mão e me guia em direção aos elevadores.
Consigo ver quando Ana volta a chorar e Cadu a abraça.
- Eu te odeio – digo baixinho para Hilary.
- É uma pena, pois você vai ter que passar o resto da sua vida comigo.
Ela responde sorrindo enquanto passamos pela recepção e ela dá tchauzinho para a
secretária. Eu a levo até o táxi que a espera e digo o endereço ao motorista depois de deixar
algum dinheiro com ela.
- Até mais tarde, querido.
Eu prefiro nem responder.
Volto o mais rápido que posso para o meu andar e vou para a sala do Cadu, mas quem
está lá é a Isabel.
- Para onde eles foram?
- O Carlos Eduardo disse que estava indo para a casa da Ana.
- Se meu pai perguntar por mim ou pela Ana, diga que estamos em uma reunião fora da
empresa.
- Pode deixar, Roberto.
Pego um táxi, pois viemos no carro dela, e vou até seu apartamento. O porteiro me deixa
subir sem nem mesmo avisar, pois já me conhece. Chego ao andar dela, bato na porta e quem
abre é o Cadu.
- Cadê ela?
- Roberto, você é surdo? Eu não falei para você esperar?
- Eu não posso esperar. Eu preciso falar com ela.
- Ela está muito nervosa e você só vai piorar as coisas se falar com ela agora – deixo ele
falando sozinho e começo a procurá-la. – Espere pelo menos ela sair do banho, Roberto. Ela está
na banheira da Lívia.
Sento-me no sofá e apoio a cabeça nas mãos. Meu amigo se senta ao meu lado.
- O que você vai fazer agora?
- Contar a verdade. O que mais eu posso fazer?
- Como a Hilary veio parar aqui?
- Ela me ligou na noite de Ano-Novo e a Ana atendeu. Ela disse que está se mudando para
cá. Mandei ela para minha casa em um táxi.
- Como assim se mudando para cá? Ela sempre odiou o Brasil.
- Pois é... Foi o que ela disse. Eu não sei o que fazer, Cadu.
- Você precisa se acalmar. Você sabe que a Ana não vai continuar com você mesmo sabendo
que seu casamento não é de verdade, não sabe?
- Sei. Mas eu a amo! Eu não estava mentindo sobre meus sentimentos. Eu quero ficar com ela
de verdade, casar, ter filhos, tudo!
- Então por que você não se divorcia da Hilary de uma vez?
- Porque ela já disse que nunca vai me dar o divórcio.
Assim que eu termino de falar, Lívia entra no apartamento.
- O que houve? Cadê a Ana?
- Está no seu banheiro. Sente-se para nós explicarmos o que aconteceu – Cadu diz.
Lívia faz o que ele pediu e conta para ela enquanto eu fico apenas observando.
- Você é casado? – ela pergunta e eu balanço a cabeça concordando.
- Escuta, Lívia... – começo, mas ela me interrompe.
- Eu não vou escutar porra nenhuma! Eu quero você fora da minha casa, seu canalha!
Ela dá um tapa no meu rosto.
- Lívia! – Cadu grita.
- Tudo bem – digo. – Eu mereço. Lívia, eu amo sua amiga. Eu também não escolhi me
apaixonar por ela.
Conto para ela toda minha história com a Hilary e ela parece se acalmar um pouco.
- Então por que você não se divorcia dela?
Falo para ela a mesma coisa que acabei de dizer para meu amigo.
- Mas não é possível que você seja obrigado a viver com alguém que não ama.
- Se eu entrar com o pedido de divórcio, pode levar anos até eu conseguir, mas agora eu
estou disposto a tentar pela Ana. Eu farei qualquer coisa para ficar com ela.
Escutamos um barulho vindo do quarto da Lívia e Cadu diz:
- Vamos deixá-los conversar um pouco a sós, Lívia. Roberto, estaremos no corredor.
- Obrigado.
Os dois saem e alguns minutos depois, Ana aparece com uma toalha enrolada no corpo e
outra no cabelo. Sua expressão de cansaço e decepção acaba comigo. Quando ela vê que sou eu
quem está sentado no sofá, seus olhos se enchem de lágrimas.
- Ana, meu amor... – eu me levanto.
- Nunca mais me chame assim. O que você está fazendo aqui?
Por mais que ela esteja chorando, sua voz está tranquila.
- Eu vim para te explicar o que está acontecendo.
Aproximo-me dela e estendo a mão para tocá-la, mas ela se afasta.
- Não encoste em mim.
- Ana... Eu...
Conto para ela sobre a farsa que é meu casamento, digo que a amo e que farei tudo que
estiver ao meu alcance para ficar com ela.
- Então nunca existiu nenhuma governanta e nenhum vazamento?
- Vazamento sim, isso foi verdade.
- Por que você não me contou antes?
- Eu não sabia que me apaixonaria por você, querida. E depois, fiquei com medo de contar
e você me abandonar. Eu vou me divorciar dela, Ana. Vai levar algum tempo, mas assim que o
divórcio sair, nós poderemos nos casar e...
- Você deveria ter me deixado escolher se eu queria me envolver ou não com um homem
casado. Você me enganou, Roberto. E você pode fazer o que você quiser com o seu divórcio. Eu
não vou mais ficar com você, independentemente do seu estado civil.
Ela vira as costas, entra em seu quarto e fecha a porta. Tento abri-la, mas está trancada.
- Ana, por favor, me deixe entrar. Nós podemos resolver isso. Eu entendo que você esteja
chateada, mas eu te amo.
Ela não responde nada.
Fico pelo menos meia hora falando sozinho através da porta. Cadu e Lívia entram e me
encontram sentado no chão agarrado à porta como se fosse minha tábua de salvação.
- Roberto – Cadu diz baixinho –, já chega. Vamos embora.
- Eu não vou embora enquanto ela não sair do quarto e falar comigo.
- Ela não vai sair, Roberto – Lívia diz. – Deixe-a descansar e pensar um pouco. Depois você
volta.
- Isso, cara. A Lívia te avisa quando ela estiver melhor, não é?
- Aviso, Roberto. Eu te ligo – ela diz.
- Está bem – digo e Cadu me ajuda a levantar do chão. – Vou esperar você me ligar.
Nós saímos do apartamento e Cadu me pergunta:
- Cadê seu carro?
- Em casa. Eu estava ensinando a Ana a dirigir e nós estávamos usando o carro que eu dei
de presente a ela.
- Você quer que eu te dê uma carona. Vou pedir para alguém da empresa trazer o carro da
Ana de volta para cá.
- Não. A Hilary está lá em casa.
- Quer ir para minha casa, então?
- Não. Quero beber alguma coisa.
- Roberto, são 11 horas da manhã.
- E daí?
Cadu me leva para o Jobi e nós pedimos um chopp. Entre bolinhas de queijo, caldinhos de
feijão e pasteizinhos de camarão, nós conversamos sobre a merda que está acontecendo na minha
vida. Nem Cadu, que sempre tem a solução para tudo, sabe como me ajudar.
No fim da tarde, volto embriagado para casa e encontro Hilary na piscina.
- Até que enfim você voltou – ela diz. – Eu não gosto desse apartamento. Nós precisamos nos
mudar.
“Era só o que faltava!”
Viro as costas e subo para meu quarto, que já está todo diferente. Entro no closet e vejo que
ela tirou minhas coisas do lugar para arrumar as dela. Hilary aparece atrás de mim vestindo um
roupão.
- Eu estou falando com você!
- Pouco me importa.
- Você bebeu?
- Sim. Muito. O dia inteiro. E você não vai dormir no meu quarto. Aquela é minha cama e da
Ana e você não vai substituí-la.
- O quê?
- Isso mesmo que você ouviu! Fora daqui!
Vou para o banheiro e coloco a água para esquentar enquanto escovo meus dentes. De
repente, ouço um barulhinho como se fosse um apito vindo do quarto. Vou correndo para lá e vejo
a cama em chamas, os sprinklers do teto jogando água para todos os lados e a Hilary
simplesmente lá assistindo.
Minha embriaguez passa imediatamente.
- Você é louca? – grito.
- Está aí a sua cama com a Ana. Aproveite.
Ela vira as costas e sai do quarto. Eu corro de volta para o banheiro, jogo as flores que
estão em um vaso no chão e encho o vaso com água várias vezes para apagar o fogo mais
rápido. Quando finalmente consigo apagá-lo e os sprinklers param de jogar água, pois a
temperatura já baixou, sento-me no chão olhando para o estrago que ela fez. A cama está
destruída, todos os móveis estão encharcados e a parede atrás da cama tem uma mancha mais
escura, provavelmente por causa do fogo.
Ouço a porta do quarto se abrindo, mas nem olho para trás.
- Tem um idiota querendo falar com você lá na porta.
- E o que ele quer?
- Não sei. Ele não fala inglês.
Levanto-me, desço as escadas e vejo o síndico.
- Boa tarde, Marcelo. Em que posso ajudá-lo? – digo.
- O porteiro me informou que havia um foco de incêndio vindo do seu apartamento e eu vim
verificar.
-Sim. Tive um pequeno acidente no meu quarto, mas já está tudo sobre controle.
- Você precisa que eu mande alguém para fazer algum tipo de serviço?
- Sim. Terei pelo menos que repintar a parede.
- Certo. Enviarei um encarregado da empresa de manutenção do prédio para ver o que
precisa ser feito amanhã de manhã, está bem?
- Sim. Muito obrigado.
Aperto sua mão e ele vai embora. Volto para o segundo andar, separo algumas roupas de
cama e roupas para mim e levo para um dos quartos de hóspedes. Deixo tudo sobre a cama, saio
e tranco a porta. Desço para procurar a Hilary e encontro-a na cozinha.
- O que você quer para ir embora? – pergunto.
- Nada. Eu vim para ficar. Inclusive quero trabalhar na empresa.
- Você só pode ter batido com a cabeça.
- Quero também que você compre uma casa no subúrbio. Você sabe como eu odeio
apartamentos.
“Se ela soubesse como são os subúrbios no Brasil...”
Isso me dá uma ideia.
- Se eu comprar uma casa você não vai morar comigo?
- É claro que vou. Você vai se mudar também.
- Eu quero o divórcio.
- Eu já disse que não vou dar. Entre com o pedido e eu vou arrastar o processo durante anos
até você se cansar.
- Você pode ficar com a casa em Bel Air, com o carro e eu continuo te sustentando para
sempre, mesmo se você quiser se casar de novo.
- Parece bem interessante, Roberto – ela faz uma pausa e me enche de esperança. – Mas
não, obrigada.
“Filha da puta! Se é guerra o que ela quer, é guerra que ela terá!”
- Está bem. Nós podemos falar sobre isso depois. Você quer uma casa no subúrbio?
- Sim. Com piscina.
- Vou providenciar. Mas eu não posso me mudar imediatamente. Você vai ter que ir na frente
e pode aproveitar para decorá-la.
- Ótima ideia.
- Quando você quer se mudar?
- O mais rápido possível.
- Então arrume suas malas. Vou falar com meu corretor ainda hoje e pedir para te levarem
amanhã.
- Sei que você está tentando se livrar de mim, mas não pense que você não vai se mudar
assim que a casa estiver pronta.
- Eu sei... Eu sei...

Passo a noite inteira procurando a pior casa para alugar em um lugar chamado Cascadura.
Escolhi esse bairro porque li que fica perto de Madureira onde há várias escolas de samba e a
Hilary com certeza vai odiar. Na manhã seguinte, vou para a empresa bem cedo na esperança de
encontrar a Ana. Antes de sair de casa, aviso a Rute que Hilary está aqui e que uma pessoa da
manutenção do prédio virá ver um problema no meu quarto. Enquanto Ana não chega, ligo para o
proprietário da casa que encontrei e agendo uma visita para hoje à tarde. Logo em seguida, vou
à sala do Cadu.
- Preciso de sua ajuda – digo.
- Como estão as coisas com a Hilary?
- De mal a pior. Você acredita que ela colocou fogo na minha cama?
- O quê?
- Pois é, mas depois eu te conto isso. Preciso que você vá com ela ver uma casa em
Cascadura.
- Onde fica isso?
- Perto de Madureira.
- Você não está me ajudando, Roberto.
- Pouco importa, Cadu. Vocês vão de táxi. Eu quero que você vá só para ver como ela vai
reagir e me contar depois.
- Mas por quê?
Conto para ele o que aconteceu ontem, os meus planos para hoje e ele cai na gargalhada.
- Ela vai querer te matar!
- Você vai me ajudar?
- É claro! Eu não perderia isso por nada.
- Eu te aviso quando ela chegar aqui. Vou voltar para minha sala para ver se a Ana já
chegou.
- A Ana não virá hoje.
- Não?
- Não. A Lívia me ligou e disse que ela não tem condições. Eu disse que ela não se
preocupasse. Fiz mal?
- Fez bem. A Lívia disse mais alguma coisa?
- Não.
- Vou passar no apartamento delas mais tarde.
- Eu não acho uma boa ideia. Dê um tempo para ela, Roberto.
- Quanto mais tempo eu der, mais ela vai se afastar de mim.
- Isso é verdade. Mas pega leve. Não force a barra.
- Eu sei. Pode deixar.
Volto para minha sala e passo uma mensagem para Hilary dizendo que mandarei um táxi ir
buscá-la para ir ver a casa nova. Ligo para o celular da Ana, mas ela não me atende. Tento o da
Lívia e ela não atende também.
Eu estou desesperado, mas tento manter a confiança de que vou convencê-la a voltar para
mim, por isso não me deixo abater. Começo meu trabalho e no horário marcado, a secretária me
avisa que Hilary chegou. Ligo para o Cadu que vai me encontrar na recepção.
- Hilary, você se lembra do Carlos Eduardo? – pergunto.
- Sim. Como vai?
- Bem e você?
- Não muito... Esse país é muito quente e úmido.
Contenho minha vontade de mandá-la voltar para o país dela e apenas digo:
- O Cadu vai levar você até a casa nova. Aqui está o endereço – eu entrego o papel a ele.
- Você não vem? – ela pergunta.
- Não. Eu estou ocupado.
- E cadê a piranha da sua assistente?
Perco o controle e quando estou partindo para cima dela, Cadu me segura e diz olhando
para Hilary:
- Ela não está na empresa. Eu dei uns dias de folga a ela até nós decidirmos o que fazer.
- Menos mal – Hilary diz.
- Vamos? – Cadu estica o braço apontando os elevadores.
- Sim.
Ela olha para mim com cara de nojo e acompanha o Cadu.
“Quero ver a cara dela quando voltar para o meu apartamento mais tarde.”
Começo a arrumar as minhas coisas para ir para a casa da Ana. Quando chego lá, o
porteiro não me deixa subir.
- Mas por quê?
- Eu sinto muito, senhor, mas são ordens da dona Ana Luiza.
- Eu não acredito nisso! Interfone para ela, por favor.
- Ela me proibiu de interfonar se fosse o senhor.
Saio da portaria e começo a gritar da calçada.
- Ana! Ana! Eu não vou embora enquanto você não falar comigo! Ana!
Ela coloca a cabeça para fora da janela da sala.
- Ana, querida. Eu só quero conversar. Me deixa subir.
Ela me mostra o dedo do meio, coloca a cabeça para dentro e fecha a janela.
“Mas que inferno!”
- Ana!
Os outros vizinhos começam a reclamar e o porteiro me puxa pelo braço.
- Pare com isso, senhor. Assim eu vou ser obrigado a chamar a polícia. Eu não sei o que o
senhor fez, mas ela está furiosa. Tente falar com ela pelo telefone. Ela não vai receber o senhor
aqui.
- Está bem, Caio. Obrigado.
Volto para casa tentando pensar em uma maneira de fazê-la conversar comigo, mas nada
vem a minha cabeça. Tomo um banho, vou para a sala e pego uma cerveja para esperar o Cadu
me ligar. Algumas horas mais tarde, Hilary abre a porta do apartamento e entra carregando a
mala com suas coisas. Cadu entra atrás dela.
- Você vai me pagar por isso, Roberto! E leve minha mala de volta lá para cima! Eu preciso
tomar um banho antes que eu fique doente!
Ela sobe as escadas correndo e Cadu se senta na poltrona de frente para mim.
- E aí? Como foi?
- Caralho, Roberto! Foi o melhor dia da minha vida! Você tinha que ter visto a cara dela – ele
diz chorando de tanto rir.
- Conta tudo.
- O problema começou no caminho quando o taxista abriu as janelas e acendeu um cigarro.
Conforme nós fomos nos aproximando do bairro, ela foi ficando preocupada porque estava
achando tudo muito cinza e feio. Essa foi a melhor ideia que você teve na vida!
- E o que mais? Ela viu a piscina?
- A piscina foi a melhor parte, mas antes disso nós paramos na porta da casa e o dono
estava lá esperando. Quando ela viu a casa, eu achei que ela fosse vomitar. O dono foi
supersimpático e nos levou para conhecer os três cômodos da casa: sala/quarto, cozinha e
banheiro. Estava tudo limpo e organizado, mas cada vez que ela esbarrava em algo, ela tirava um
vidrinho de álcool da bolsa e se limpava. No final, que não demorou muito a chegar, ele nos levou
para o quintal e ela viu a piscina de plástico com as cadeiras de praia em volta. Ela quase morreu!
Ficou completamente pálida, disse que isso só poderia ser uma piada e voltou para o táxi sem nem
se despedir do dono da casa.
Minha barriga chega a doer de tanto que estou rindo.
- Eu agradeci ao homem e voltei para o táxi. Ela estava histérica! Ligou para a mãe dela e
veio de lá até aqui falando mal de você. Se prepara porque ela vai querer se vingar.
- Ai, meu Deus! Que pena que eu perdi essa!
- Se você estivesse lá, ela teria te afogado na piscina.
Nós caímos na gargalhada outra vez.
- Quer uma cerveja? – Pergunto.
- Não, eu preciso voltar para casa. Notícias da Ana?
- Fui lá, mas ela não quis me receber.
- Não se preocupe. Ela vai se acalmar. Bem, tenho que ir. Nós nos vemos amanhã na
empresa.
Abro a porta para o meu amigo e ele vai embora. Antes que eu tenha tempo de subir e me
trancar no quarto de hóspedes, Hilary aparece e diz:
- Eu quero um carro e um motorista a minha disposição a partir de amanhã. Os taxistas desse
lugar não têm um pingo de educação.
- Vou providenciar – tenho uma nova ótima ideia. – Você não gostou da casa?
- Eu não vou nem responder a essa pergunta ridícula!
- Mas você disse que queria uma casa no subúrbio. A maior parte dos subúrbios no Brasil são
daquele jeito. Achei que você soubesse.
- É claro que eu não sabia! – ela grita.
- O que o pessoal da manutenção falou sobre o quarto que você incendiou?
- Como é que eu vou saber? Ninguém nesse país fala inglês!
- Vou perguntar ao síndico. Amanhã mandarei seu carro.
- E o que nós vamos jantar?
- Tem comida na geladeira e na dispensa. É só você cozinhar o que quiser.
- Cozinhar?
- Sim, Hilary. Parece um absurdo, mas é o que a maioria das pessoas faz.
Saio do apartamento e passo na casa do síndico, que me diz que o conserto vai durar quase
uma semana. Depois, eu saio para jantar, porque eu não sou como a maioria das pessoas.
Na manhã seguinte, vou trabalhar desanimado, pois sei que não vou encontrar a Ana, mas
certamente é melhor ir para a empresa do que ficar em casa com a Hilary. Coloco meu plano em
prática, alugo um carro e contrato um motorista para minha querida esposa.
Depois do almoço meu pai entra em minha sala.
- Rute me disse que a Hilary está na sua casa. Que milagre é esse?
- Ela veio infernizar a minha vida. Disse que vai ficar aqui de vez.
- Eu não me preocuparia. Ela não vai aguentar ficar aqui por muito tempo.
- Tomara.
- Onde está a Ana? Preciso dos documentos que ela ficou de analisar.
“Merda!”
- Ela está doente, não veio trabalhar.
- O que ela tem?
- É... Gripe.
- Está bem. Peça que ela me entregue assim que voltar.
- Pode deixar.
Passo o dia inteiro tentando ligar para Ana para saber que documento é esse, mas ela não
me atende. Penso em mandar uma mensagem, mas desisto porque quero ouvir sua voz.
No fim do dia, volto para casa. Assim que entro na garagem do meu prédio, vejo Hilary
sentada sobre o capô de um Chevette 81, marrom e eu acho que é o que eu aluguei para ser o
carro dela. Estaciono em minha vaga, que fica ao lado do carro onde ela está. Quando ela se
levanta, vejo que ela tem uma barra de ferro nas mãos.
Antes que eu tenha tempo de abrir a porta do carro, Hilary quebra o vidro da porta do
motorista. Os cacos se espalham por meu colo e eu cubro o rosto. Ouço o barulho de mais vidros
quebrando e quando consigo abrir os olhos, vejo que ela quebrou todas as janelas do meu carro e
que o para-brisa está todo estilhaçado.
Saio do carro e grito:
- Mas que porra é essa?
- Se eu vou ter que sair táxi, você também vai.
Ela joga a barra de ferro chão e vai em direção aos elevadores. Fico atordoado sem saber
o que fazer. Vejo que ela também destruiu os vidros do carro que eu aluguei.
“Que inferno!”
Chamo o porteiro e dou um dinheiro a ele para que ele peça a alguém que limpe a bagunça
da garagem. Vou para meu apartamento, ligo para o seguro do meu carro e para a empresa de
aluguel de carros antigos e peço a eles que venham levar os carros para consertar.
Logo depois, ligo para o Cadu.
- Posso ir dormir na sua casa hoje? – Pergunto.
- Claro que pode. Mas o que aconteceu?
- Se eu ficar aqui eu vou matá-la! Eu te conto quando chegar aí. Já estou indo.
Vou para o quarto de hóspedes onde estou dormindo, coloco algumas roupas em uma
mochila, alguns ternos em uma capa e saio. Pego um táxi na porta do meu prédio e vou para casa
do meu amigo.
Fico o resto da semana na casa do Cadu. Passo no apartamento da Ana todos os dias, mas
ela se recusa a me deixar entrar. Tento falar com ela ou com a Lívia por telefone, mas elas não me
atendem. Todas as tardes, passo na empresa para trabalhar um pouco e depois repito todo o
processo para tentar ver a Ana, mas sempre é em vão.
Começo a perder as esperanças de que um dia ela irá me perdoar e não sei como vai ser a
minha vida sem ela. Às vezes, eu até entendo e tento me colocar no lugar dela. Se ela tivesse
mentido desse jeito para mim, eu também ficaria com raiva, mas nunca desistiria dela se ela tivesse
me contado tudo que eu contei sobre o meu casamento.
No final de semana, depois de milhares de chamadas perdidas da Hilary, ligo para ela e
aviso que vou ficar uns dias na casa do Cadu. É claro que ela insiste em vir até aqui e conferir se
eu não estou com a Ana. Eu deixo, pois não quero mais problemas. Já decidi me divorciar dela,
não importa quanto tempo leve para isso acontecer.
Na semana seguinte, pego meu carro de volta, alugo um carro decente e contrato um
motorista que fale inglês para a Hilary. Continuo na casa do Cadu e continuo tentando falar com a
Ana. Uma noite, depois do trabalho, encontro Lívia saindo do prédio delas e me aproximo.
- Eu não posso falar com você, Roberto. A Ana não vai nunca mais falar comigo se descobrir.
- Por favor, Lívia. Não é possível que você não saiba que eu amo sua amiga.
- É claro que sei. Mas ela não vai voltar para você. Você precisa aceitar isso e viver a sua
vida.
- Eu não vou aceitar. Eu já decidi me divorciar e não importa quanto tempo isso levará para
acontecer, mas eu quero ser livre para poder me casar com a Ana. Eu quero ter uma família com
ela, Lívia. Ela é a mulher da minha vida.
Ela fica em silêncio por alguns segundos.
- Olha, eu vou te dizer onde ela está, mas você não pode falar de maneira nenhuma que fui
eu que disse.
- Obrigado! – Dou um abraço nela. – Não vou contar nem se me torturarem. Eu juro.
- Ela foi na faculdade falar com a antiga orientadora dela e disse que depois iria ao bar
que nós frequentávamos quando estudávamos lá. Aquele que ela te mostrou no dia da nossa
formatura.
- Está bem. Eu vou até lá. Muito obrigado mesmo!
Vou até o lugar que Ana me apontou quando saímos da sua colação de grau e fomos para
o salão de festas.
Assim que entro, encontro-a sentada sozinha em frente ao balcão.
- O que você está fazendo aqui?
- Nós precisamos conversar, Ana.
- Eu não quero saber de mais nada. Não vai fazer diferença nenhuma. Vá embora.
Ela está um pouco bêbada e eu me sento ao seu lado. O rapaz que estava conversando com
ela na formatura das amigas se aproxima.
- Tudo bem, Ana?
- Sim, Gabriel. Obrigada.
Ele estende a mão para mim.
- Bom revê-lo – digo.
- Quer beber alguma coisa?
- Vou beber o que ela estiver bebendo.
Ele me traz um copo e coloca a cerveja da garrafa que Ana está bebendo para mim.
- Você não me ouviu mandando você ir embora?
- Como você vai voltar para casa?
- Não te interessa!
- Ana, por favor! Você veio de carro?
- Sim.
- Você não pode dirigir desse jeito. Eu vou te levar para casa e lá nós podemos conversar.
- Eu não quero ouvir nada do que você tem para me dizer.
- Eu vou me divorciar, Ana. E assim que o divórcio sair, vou me casar com você.
Ela fica olhando para mim por alguns segundos antes de dizer:
- Não!
Ana se levanta, dá a volta no balcão, passa por uma porta e a fecha. Eu continuo sentado e
decido esperar ela sair. Ela pode ter ido ao banheiro. De qualquer maneira, eu não posso deixá-la
voltar para casa desse jeito.
Cinco, dez, quinze minutos e nada de ela voltar. Decido ir atrás dela e quando me aproximo
da porta, ela se abre abruptamente. Ana passa por mim, abaixando a blusa e ajeitando o sutiã.
Vejo-a pegando sua bolsa e decido olhar para o lugar de onde ela saiu. Vejo o tal de Gabriel
vestindo suas calças e jogando uma camisinha em uma lixeira.
Não consigo respirar nem me mover. Não posso acreditar que ela fez sexo com outra pessoa
e ainda mais sabendo que eu estava aqui do lado de fora.
Meu coração bate tão depressa que eu acho que vou morrer. Lentamente, saio do bar e
caminho em direção ao lugar onde deixei meu carro. Um pouco mais a frente, vejo Ana vomitando
próximo ao carro que dei de presente a ela. Meu orgulho diz para eu entrar no carro e ir embora,
mas meu coração não permite e eu me aproximo para ajudá-la.
- Me solta, Roberto – ela diz entre uma golfada e outra.
- Eu só quero te ajudar. Vou te soltar quando você estiver se sentindo melhor.
Seguro seus cabelos e sua testa enquanto ela coloca tudo que tem no estômago para fora.
Quando ela termina, Ana se afasta do vômito e se senta na calçada. Sento-me ao seu lado.
- Você quer vomitar mais?
- Não. Eu quero ir para casa.
- Eu vou te levar.
Pego-a no colo e ela dorme ou desmaia em meus braços. Levo-a para o meu carro, coloco-a
sentada e coloco o cinto de segurança nela. Abro as janelas para ela poder respirar bem e dirijo
com calma até seu apartamento. Quando estaciono na porta do prédio, tento acordá-la.
- Ana... Nós chegamos. Acorde.
Ela diz palavras sem sentidos. Eu a tiro do carro e a levo para a portaria no colo.
- O que aconteceu? – O porteiro pergunta.
- Nada, ela só bebeu um pouco além da conta. Você pode pedir para a Lívia descer para
ajudá-la?
- A dona Lívia não está em casa. O senhor pode levá-la lá para cima? Eu não posso sair da
portaria.
- Claro que sim.
Subo com Ana no colo e a coloco sentada no chão para pegar a chave em sua bolsa. Meu
coração está despedaçado, mas eu não posso abandoná-la agora. Levo-a para dentro do
apartamento, tiro sua roupa e a coloco deitada na cama. Sento-me na cadeira que tem em seu
quarto e fico tomando conta dela até ouvir a porta do apartamento se abrir duas horas depois.
Vou para a sala e Lívia pergunta:
- O que você está fazendo aqui?
- A Ana estava bêbada e vomitando. Eu a trouxe para cá e como você não estava, fiquei
tomado conta dela, mas agora já vou.
- Vocês conversaram?
- Não... Não tivemos tempo para isso. Eu preciso ir, Lívia. Se vocês precisarem de alguma
coisa, pode me ligar.
- Obrigada por ter ficado aqui com ela.
- Não foi nada. Amanhã vou pedir para alguém trazer o carro dela para cá. Vou levar as
chaves.
- Está bem.
Volto para a casa do meu amigo completamente abatido. A vida parou de fazer sentido e
eu realmente não sei o que fazer de agora em diante.
Na manhã seguinte, saio para trabalhar com Cadu. Ficar em casa não vai ajudar em nada.
No caminho, conto a ele o que aconteceu ontem.
- Que merda, Roberto. Eu sinto muito. O que você vai fazer agora?
- Eu não sei. Está doendo demais. Eu jamais pensei que ela seria capaz de fazer uma coisa
dessas.
- Bem, vocês não estão juntos e você também fez sexo com Hilary quando você foi para os
Estados Unidos.
- Quem disse? Eu não toquei na Hilary nem um dia.
- Mas sempre que você vai, vocês fazem.
- Dessa vez foi diferente. Eu estava com a Ana. Eu não faria uma coisa dessas com ela,
mesmo que ela não fosse descobrir. E ela fez comigo lá, esperando por ela.
- Ela estava bêbada.
- E daí, Cadu? Eu já fiquei bêbado milhares de vezes e não deixei ninguém me comer por
isso.
Meu amigo continua criando desculpas para o que a Ana fez, mas nenhuma delas parece
plausível para mim. Assim que chego ao escritório, encontro meu pai em minha sala.
- Cadê a Ana? Eu preciso dos relatórios para hoje.
- Ela ainda está doente.
- Duas semanas depois? Assim não dá... Desse jeito terei que demiti-la e arrumar outro
assistente para você.
- Qual o documento que o senhor precisa? Pode ser que esteja pronto no arquivo dela.
Meu pai me diz qual documento ele usará na reunião de hoje com o pessoal da empresa nos
Estados Unidos.
- Eu vou ligar para ela e perguntar.
- Está bem. Ligue para minha sala para me avisar.
Meu pai sai e eu vou até a sala da Ana procurar o documento. Eu o encontro sobre a mesa,
mas ela não fez as anotações que deveria ter feito.
Levo os papéis para minha mesa e faço, eu mesmo, o trabalho dela. Decido digitar no
computador e imprimir as anotações para meu pai não perceber que não é a letra da Ana.
Assim que termino, vou até a sala dele.
- Aqui está.
- Estava pronto?
- Sim. Eu não estava encontrando no meio de todos os papéis dela.
- Roberto, avise a ela para voltar na segunda-feira. Não é possível que ela ainda esteja
gripada. Se ela não voltar, vou contratar outra pessoa.
- Está bem.
Volto para minha sala e ligo para o celular dela, mas ela não atende. Tento o da Lívia e
nada também. Mando uma mensagem para Lívia, pedindo para ela atender, pois é sobre o
trabalho da Ana. Nem um minuto depois, meu celular toca.
- Oi, Roberto – Lívia diz.
- Oi. Olha, infelizmente, meu pai disse que se a Ana não voltar a trabalhar na segunda-feira,
ela será demitida. Eu juro que não tive nada a ver com isso. Avise a ela que se ela quiser voltar,
ela poderá continuar o trabalho dela normalmente, eu não vou atrapalhá-la. Se ela não quiser,
peça para ela passar no RH e assinar a demissão dela amanhã mesmo.
- Roberto...
Ana, minha doce Ana, fala baixinho e eu entendo que o telefone da Lívia está no viva-voz.
- Pois não?
- Será que você pode passar aqui em casa mais tarde? Eu preciso falar com você antes de
voltar ao trabalho.
- Infelizmente, não posso. Decida o que você vai fazer e esteja aqui amanhã. Tenham um bom
dia.
Desligo o telefone com o coração partido. Por mais que eu a ame e por mais que eu não
tenha dito que era casado, o que ela fez acabou comigo.
No fim da tarde, volto com Cadu para a casa dele, mas pego minhas coisas e volto para o
meu apartamento.
“Essa palhaçada precisa acabar.”
Hilary não está em casa. Vejo que meu quarto já está completamente consertado e que há
uma cama nova no lugar. Como as coisas dela estão lá, sigo para o quarto de hóspedes onde eu
estava. Aproveito que estou sozinho e ligo para o meu advogado nos Estados Unidos. Digo a ele
que quero o divórcio e peço que ele prepare um documento oferecendo muitos benefícios à Hilary
se ela aceitá-lo imediatamente, mas a cada semana que se passar até ela assinar, ela perde uma
vantagem.
- Obrigado, Ross. Eu espero você me enviar o documento provisório amanhã.
Deixo um bilhete na sala para a Hilary, avisando que eu estou em casa e me tranco no
quarto de hóspedes com um dos sanduíches da Rute. Fico trabalhando em meu laptop, mas paro
várias vezes para ver fotos da Ana no meu celular: nós dois na praia, na festa de Ano-Novo, na
formatura dela, no Natal na casa da dona Rita.
“Não acredito que ela deu para aquele cara!”
Algumas horas mais tarde, Hilary bate na porta, mas eu não atendo. Depois de dez minutos,
ela desiste e eu continuo meu trabalho até sentir sono. Na manhã seguinte, saio tão cedo, que
chego à empresa antes da Márcia, secretária do meu pai.
É difícil me concentrar no trabalho, pois cada pedacinho da minha sala me faz lembrar da
Ana e das nossas aventuras pelo escritório. É como se o nosso amor estivesse impregnado em todas
as partes.
Por volta das 11h da manhã, alguém bate à minha porta e eu mando entrar. Quando tiro os
olhos do computador, vejo Ana em um de seus terninhos verdes.
- Pois não?
- Se não for um problema, eu voltei para trabalhar.
- Você está atrasada.
Ela entra e fecha a porta.
- Roberto, nós precisamos conversar.
- E sobre o que você quer falar?
- Sobre tudo que aconteceu conosco.
- Isso já passou, Ana. Você deixou bem claro que não se importa com o amor que eu sentia
por você. Eu entendi.
- Sentia? Você não me ama mais?
- Depois de ver você trepando com outro homem? O que você acha?
- Caralho, Roberto! Você é casado! Vai dizer que você não trepou com a sua mulher quando
você voltou para casa?
- Não.
- Mentiroso!
- Se você não acredita, o problema é seu! E vamos terminar logo essa conversa porque eu
preciso voltar ao trabalho. Fale de uma vez o que você quer dizer.
- Eu sinto muito por ter feito aquilo com você me esperando no bar. Independentemente do
que você fez comigo, eu não podia ter te humilhado daquela forma. E eu queria agradecer por
mesmo assim você ter me levado para casa e ter tomado conta de mim.
- Certo. Vou pedir sua transferência agora mesmo.
- O quê? Como assim?
- Você vai ser assistente de outro diretor.
- Eu não posso ser transferida. Meu contrato diz que eu tenho que trabalhar um ano com
você ou serei demitida.
- O que você está dizendo?
Ela fica em silêncio por algum tempo.
- É o contrato de todos os seus assistentes. Seu pai contratava as pessoas para fazerem o
seu trabalho, já que você não fazia. Se a pessoa não trabalhar por você durante um ano, não
pode continuar na empresa.
“Não acredito que meu pai seria capaz de fazer uma coisa dessas.”
- Eu sinto muito, Roberto. Você pode perguntar para Isabel. Ela já trabalhou para você.
Certamente falarei com meu pai mais tarde e como não quero deixá-la sem emprego, digo:
- Está bem. Comece seu trabalho, então. Há uma pilha de papéis na impressora que eu
mandei imprimir. Separe-os e traga-os para mim. Vou passar suas tarefas e meus compromissos.
“Mas que porra de contrato de um ano é esse? Será que meu pai me acha tão incompetente
assim?”
Vou à sala dele, mas ele não está. Vou atrás da Isabel na sala do Cadu.
- Cadê a Isabel? – pergunto depois de entrar sem nem bater.
- Bom dia para você também, Roberto – Cadu diz. – A Isabel saiu para encomendar umas
impressões. O que houve?
- Você sabia que os meus assistentes são obrigados a trabalhar comigo por um ano caso não
queiram ser demitidos?
- Sabia.
Fico horrorizado.
- E você nunca me disse nada, amigo da onça?
- Roberto, seja razoável. Você mal vinha trabalhar antes de a Ana vir para cá. Era o que nós
podíamos fazer para manter o mínimo de ritmo na empresa.
- Você é ridículo!
- Obrigado. Era só isso?
- Sim, era só isso, seu traíra!
Volto para minha sala e vejo Ana sentada no sofá lendo algo.
- E você? Já terminou de fazer o que eu mandei?
- Você vai mesmo se divorciar?
“Mas que inferno!”
No meio dos documentos e contratos da empresa, eu mandei imprimir o rascunho que o
advogado me mandou.
- Sim.
- Por quê?
- Porque meu casamento nunca foi de verdade, porque eu fui obrigado a me casar com ela,
porque eu nunca a amei e todas as outras coisas que eu te disse na sua casa e você preferiu
ignorar e arruinar o nosso amor trepando com um garçom dentro de um bar – digo aos berros.
Ana fica calada, apenas olhando para mim.
- Há quantos anos você é casado com ela?
- Mais de dez.
- E há quanto tempo vocês moram separados?
- Nós moramos juntos por menos de um ano, Ana. E eu não acho que esse assunto deva ser
tratado com a minha assistente. Pare de ler meus documentos pessoais e vá buscar a sua agenda
para anotar os meus compromissos.
Ela faz o que eu peço em silêncio. Ana vai até a sala dela e volta com a agenda que eu dei
de presente em suas mãos. Ela se senta na cadeira de frente para minha mesa e eu começo a
passar as informações para ela.
Estou com tanta raiva que invento milhares de festas, jantares e encontros com mulheres que
não existem. Quando estou terminando de falar meus compromissos fictícios, a porta da minha sala
se abre e Hilary entra como um foguete.
“Era só o que me faltava!”
- Quer dizer então que a mocinha voltou ao trabalho? – Hilary pergunta ironizando.
- O que você está fazendo aqui? – pergunto.
- Me disseram que ela tinha voltado e eu vim para tomar conta do que é meu.
Ana abre a boca para falar, mas eu a interrompo:
- Não seja hipócrita, Hilary. Eu não sou, nem nunca fui seu.
- Mas você é casado comigo, queridinho, e eu não vou deixar você ficar com ela.
- O que havia entre a Ana e eu acabou para sempre, Hilary. Não precisa se preocupar. Ela
vai completar o período de um ano trabalhando para mim e depois será transferida. Se você não
quiser acreditar, pode vir todo dia e ficar aqui fazendo a mesma coisa que você faz em casa:
nada!
- Foi para isso mesmo que eu vim.
Ela se senta no sofá e tira um tablet e fones de ouvido da bolsa.
- Ana – digo em português –, é só isso. Pode voltar para a sua sala e trabalhar
normalmente. Se eu precisar de alguma coisa, eu te chamo.
Esse é o dia mais ridículo da minha vida. Hilary passa o dia inteiro deitada no sofá da minha
sala, assistindo a Deus sabe o que naquele tablet enquanto eu trabalho. Toda vez que eu saio da
sala, ela vem atrás de mim e Ana não sai da sala dela nem para ir ao banheiro.
Eu, inocente, passo o dia inteiro pensando que as coisas não podem piorar, mas parece que
minha vida está descendo por uma ladeira sem fim e Hilary aparece todos os dias da semana no
escritório para atrapalhar o meu trabalho e atormentar a minha vida.
Na sexta, antes de ir embora, Ana senta-se ao lado da Hilary no sofá e me diz em inglês:
- Seu último compromisso de hoje é um chopp com a Olívia na Pizzaria Guanabara.
- Quem é Olívia, Roberto? – Hilary grita e Ana sorri.
- Uma amiga – digo.
- Eu vou com você.
- Mas não vai mesmo!
- Ana, onde é essa pizzaria? – Hilary pergunta.
- Bem, senhora Collins, tem em vários bairros diferentes. Mas se a senhora quiser ir atrás
dele, eu sugiro que tente a do Leblon.
- Qual é o seu problema, Ana? – Pergunto em português.
- Nenhum – a cínica responde e se levanta. – Eu estou indo embora. Tenham um bom final de
semana.
Ela vai embora e Hilary começa a encher o meu saco. Meia hora depois, eu desisto:
- Está bem! Você pode vir! Mas o Cadu também estará lá.
- Por mim tanto faz.
Passo uma mensagem para meu amigo:

Pizzaria Guanabara mais tarde?

Logo em seguida, recebo:

Combinado!

Volto para casa com a Hilary, tomo um banho e me deito para descansar um pouco antes de
sair. A Ana nunca fala em inglês na frente dela e disse que eu tinha um encontro hoje de propósito.
“Ela está com ciúme!”
Eu não podia me desmentir, então achei melhor deixar a Hilary achar que era verdade.
Agora vou ter que pagar o preço e aturá-la a noite inteira.
Quando chegamos à pizzaria, Cadu já está lá e fica surpreso ao vê-la comigo. Todos os
homens olham para Hilary. Ela é realmente muito bonita, mas um pé no saco.
“Como seria bom se ela se apaixonasse por alguém e decidisse me deixar em paz.”
Hilary reclama de tudo: do calor, das mesas, das cadeiras... Quando a pizza chega, ela
cospe o pedaço que colocou na boca.
- Mas o que é isso? Isso não é pizza de verdade.
- Você não vai encontrar muito melhor do que isso por aqui – Cadu diz com a boca cheia.
- Eu não vou comer essa porcaria. Eu quero ir embora.
Estendo o braço em direção à rua e digo:
- Fique à vontade.
- Você vem comigo.
Dou uma gargalhada.
- Claro que não.
- Eu não vou deixar você encontrar piranha nenhuma!
- Ah... Ela me mandou uma mensagem dizendo que não vai poder vir.
- Mentiroso!
- É verdade, não é, Cadu?
Ele olha para Hilary e depois para mim.
- Sim, ela não vem mais.
- Roberto, se alguma mulher se aproximar dessa mesa, eu vou saber, vou aparecer aqui e
quebrar tudo. Você entendeu?
- Claro, querida.
Ela se levanta e vai embora.
- Nossa... Mas ela é muito chata! – meu amigo diz. – Quando você vai se livrar dela?
- Em breve. Já mandei o documento de divórcio revisado para o meu advogado e ele vai
entrar em contato com ela durante a semana.
Cadu e eu terminamos de comer e decidimos continuar bebendo lá mesmo ao invés de ir
para um bar. Algumas horas mais tarde e muitos chopps depois, vemos Lívia e Ana entrando no
restaurante.
- E cadê a tal da Olívia?
Ana pergunta depois de se sentar. Lívia continua de pé.
- Já foi embora – digo. – Por quê?
- Ana, vamos embora. Você já viu o que queria – Lívia diz.
- Espera um pouco – Ana grita com a amiga e eu percebo que ela bebeu demais outra vez.
Cadu se levanta e diz à Lívia:
- Posso falar com você?
- É claro que não, Carlos Eduardo.
- Por favor, Lívia.
Ela bufa antes de dizer:
- Está bem. Você tem um minuto.
Os dois saem do restaurante.
- Não existe Olívia nenhuma, não é? – Ana pergunta.
- Eu não sei do que você está falando.
- Você ainda me ama, Roberto?
Antes que eu tenha tempo para responder, um desconhecido, completamente embriagado, se
senta em nossa mesa.
- Me desculpe, mas eu vi que ela acabou de chegar e fiquei simplesmente apaixonado. Me
perdoe por ser rude e tão direto, mas vocês estão juntos?
Ana vira de frente para ele, cruza as pernas e sorri.
- É claro que nós estamos juntos! – eu me levanto. – Sai fora daqui!
O homem vai embora pedindo desculpas e eu me sento outra vez. Lívia aparece e faz a Ana
levantar.
- Vamos embora agora ou eu vou te deixar aqui sozinha – ela diz.
- Está bem! Nos vemos na segunda, senhor Collins.
Ana se aproxima, senta no meu colo com as pernas aberta de frente para mim e me dá um
beijo de tirar o fôlego. Eu não consigo fazer outra coisa a não ser retribuir.
“Como eu sinto falta dos beijos dela.”
Ana passa seu nariz pelo meu, me dando um beijinho de esquimó, se levanta e vai embora.
Passo o fim de semana inteiro pensando no que fazer. Independentemente de qualquer coisa,
eu vou me divorciar da Hilary. Às vezes acho que Ana quer estar comigo, outras acho que não. O
que eu preciso fazer é decidir se eu quero ficar com ela.
“Será que eu consigo perdoá-la e esquecer o que ela fez naquele maldito bar?”
Sinceramente não sei. Com certeza aquele foi o pior dia da minha vida.
“O segundo pior dia... O pior de todos foi quando eu fui obrigado a me casar com a Hilary.”
Eu simplesmente não consigo aceitar que a Ana, a minha Ana, tenha feito aquilo comigo.

Passo o fim de semana inteiro indo da minha cama para a praia, da praia para a piscina da
minha varanda e da piscina de volta para o meu quarto, sem conseguir pensar em mais nada. Não
consigo nem prestar atenção às reclamações da Hilary.
No caminho para o trabalho na segunda de manhã, decido conversar com a Ana e entender
de uma vez por todas o que ela quer. Quando chego à empresa, vejo que as coisas dela já estão
na sala, mas ela não está.
“Deve estar trabalhando com a Isabel.”
Espero pacientemente ela aparecer e começo a trabalhar. Algumas horas mais tarde, Hilary
chega e se deita no sofá com seu tablet depois de dizer:
- Bom dia, querido.
“Isso é ridículo!”
Desisto de esperar a Ana. Agora que a Hilary chegou, eu não vou poder conversar com ela.
Um pouco antes da hora do almoço, Ana aparece em um vestido social branco, saltos altos preto,
com os cabelos lisos, presos em um rabo de cavalo e usando os óculos que eu tanto amo.
- Bom dia – ela diz, se aproxima da minha mesa e deixa uns papéis sobre ela. – O Cadu
pediu para você dar uma olhada nesses documentos.
Olho para seus lindos olhos verde, para os lábios pintados de marrom, para seu pescoço, seu
colo...
“Mas que porra é essa?”
- O que é isso no seu pescoço?
Ela fica em silêncio por alguns segundos e depois responde sorrindo:
- Um chupão. Por quê?
Perco o controle e soco na mesa.
“Ela está passando dos limites!”
- Eu quero falar com você imediatamente na sala de reuniões.
- Sim, senhor.
Ana sai e eu me levanto. Sem entender o que está acontecendo, Hilary se levanta para vir
atrás de mim e eu digo bem sério:
- Você fica!
Capítulo 12

“Às vezes, o amor escorre como areia entre os dedos. Não tem explicação para tantos erros. É melhor
partir antes do último grão cair. Eu e você, podia ser, mas o vento mudou a direção. Eu e você e esta
canção, pra dizer adeus ao nosso, ao nosso coração.”

Último grão – Isabella Taviani


Ana
Meu coração parece parar de bater quando a mulher que está sentada no sofá me diz que
é a esposa do Roberto. Por um instante, tudo faz sentido: por que ele foi correndo para os Estados
Unidos por causa de um vazamento, as coisas estranhas que ele me disse sobre não abandoná-lo,
a ligação da governanta dele no Ano-Novo.
Roberto entra na sala e por mais que eu pudesse quebrar os dois braços dele agora, não
consigo nem olhar para sua cara. Eu só queria desaparecer. Mantenho as aparências na frente
dele e saio com dignidade da sala. Sem saber o que fazer, vou para a sala do Cadu. Isabel e ele
estão trabalhando e eu entro aos prantos.
- O que houve? – Cadu diz e se levanta apressado.
- A senhora Collins está na sala do Roberto.
Ele fecha os olhos e passa a mão pelos cabelos me deixando entender que ele sabia que o
Roberto é casado.
“É claro que sabia, sua burra! Eles são melhores amigos.”
- Pegue um copo d’água, Isabel – ele diz.
Cadu se aproxima de mim e me puxa para o sofá. Eu tento empurrá-lo, mas só machuco
minha mão, ele nem sai do lugar.
- Eu não quero falar com você. Você sabia esse tempo todo e não me contou a verdade.
- Como eu faria isso, Ana? Ele é meu amigo.
Isabel estende o copo para mim e eu digo:
- Eu não quero água.
- Quer sim! – ele pega o copo e me força a beber – Você precisa se acalmar. Não é tão
ruim quanto parece.
- Não é tão ruim quanto parece? Você...
- Shhh! – ele me interrompe. – Beba.
E outra vez eu sou forçada a beber água. A porta se abre e Roberto entra sozinho. Ele se
aproxima e eu não olho para ele.
“Estou com nojo dele!”
Cadu não deixa ele ficar e Isabel o leva para fora da sala.
- Você não tem condições de ficar aqui hoje. Eu vou te levar para casa. Vamos.
Ele tenta me levantar, mas eu digo:
- Mas e o senhor Robert? Eu preciso preparar uns documentos. E se ele for me procurar e
não me encontrar? Eu não posso perder esse emprego, Cadu.
Nesse instante, nem me dou conta que o meu contrato me obriga a trabalhar diretamente com
o Roberto por um ano.
- Eu digo que você está trabalhando para mim fora da empresa. Você não vai perder seu
emprego. Não se preocupe.
- Está bem.
Saio junto com ele e assim que ele fecha a porta, vejo Roberto e a esposa no corredor.
A dor é tão grande que eu mal consigo respirar, vejo que ele tenta vir em nossa direção, mas
ela o segura e ele a segue como um cão adestrado.
“Eu não acredito que ele fez isso comigo!”
Cadu me abraça e eu percebo que estou chorando no meio do corredor.
- Não fique assim, Ana. As pessoas vão perceber. Por favor, se controle.
Pouco tempo depois, ele me solta e nós vamos até o estacionamento. Cadu me leva para
minha casa no carro dele e nós vamos em silêncio o caminho todo.
Penso em tudo que vivi com Roberto em tão pouco tempo e nunca, nem um único dia, eu
imaginei que ele pudesse ser casado. Mesmo que algumas vezes o telefone dele tenha tocado e
ele tenha cancelado a chamada ou colocado para vibrar, ou até mesmo ter desaparecido para
falar ao telefone, eu jamais pensei que seria por isso.
Eu confiei nele, deixei ele ficar na minha casa, nós fizemos planos juntos e ele não teve nem a
coragem de me dizer a verdade.
“Não faria a menor diferença. Eu não ficaria com ele se soubesse que ele era casado.”
Sempre recriminei a Lívia por ela sair com caras que tinham namorada sem se preocupar
que tinha alguém sendo traído por causa dela e eu estava com um homem casado.
Não sei o que pensar... Ao mesmo tempo em que tenho medo ficar sem ele, também tenho
medo de que ele largue a esposa por minha causa. Eu estaria arruinando um casamento.
“Isso não pode acontecer!”
Cadu sobe para meu apartamento comigo e me acompanha até o meu quarto.
- Eu quero ficar sozinha agora, Cadu.
- Eu vou ligar para a Lívia e pedir para ela vir para cá. Me dê o seu telefone, pois ela não
vai atender se vir meu número.
Faço o que ele pede e me deito na cama.
- Eu vou preparar um banho para você e já volto.
- Eu não quero tomar banho.
- Quer sim.
Ele sai do meu quarto e eu fecho os olhos.
“Era só o que faltava.”
Alguns minutos depois, ele diz:
- Está pronto. Venha.
- Mas Cadu...
- Você vai tomar banho, Ana. Ponto final.
Ele estende a mão para mim e eu o acompanho até o banheiro da Lívia, que é o único que
tem uma banheira.
- Eu vou te deixar sozinha. Se você precisar, é só chamar. Estarei na sala até a Lívia chegar.
- Obrigada.
Tiro a roupa e entro na banheira, que está com a água quentinha e cheia de espuma. Até
que a ideia não foi ruim. O calor da água relaxa meus músculos e aquece meu coração
despedaçado.
Choro o tempo todo em que estou no banho. Aquele idiota insistiu em conhecer a minha
família e disse que o que tínhamos era sério.
“O que eu vou falar para minha mãe?”
Saio do banho uns vinte minutos depois e vou para a sala procurar o Cadu e ver se a Lívia
já chegou, mas dou de cara com o Roberto sentado no meu sofá. Não sei como reagir. Ele tenta se
aproximar, eu não deixo, mas ouço o que ele tem a me dizer conforme prometi que faria.
Roberto me conta uma história que mais parece de novela do que da vida real. Ele diz que
foi obrigado a casar com ela, pois ela era menor de idade, ele tinha tirado a virgindade dela e
ela achava que estava grávida. O próprio senhor Robert o obrigou a assumir o compromisso.
Roberto me diz que tentou se aproximar dela, mas que ela sempre fez de tudo para afastá-lo e
para diminui-lo, até com as suas habilidades sexuais.
Por mais que eu compreenda que ele não queira viver com uma pessoa dessas, não entendo
por que não se divorciou até hoje e o pior de tudo, por que não me contou a maldita verdade.
- Você deveria ter me deixado escolher se eu queria me envolver ou não com um homem
casado. Você me enganou, Roberto. E você pode fazer o que quiser com o seu divórcio. Eu não vou
mais ficar com você independentemente do seu estado civil – digo, vou para o meu quarto e tranco
a porta.
Sento-me na cama e ouço Roberto implorando para falar comigo várias vezes, mas eu não
tenho condições de ouvir mais nada. A mentira dele não tem perdão, por mais que eu o ame.
Um bom tempo depois, ele para de falar e logo em seguida ouço uma batida na porta.
- Ana, sou eu – diz Lívia. – Ele já foi. Me deixe entrar.
Abro a porta e ela me abraça assim que me vê.
- Eu sinto muito, querida. Sei o quanto você é contra a esse tipo de relacionamento.
- Eu não acredito que isso esteja acontecendo comigo.
- Vai ficar tudo bem. Ele vai se divorciar e vocês vão poder ficar juntos.
- Eu não quero que ele se divorcie. Não quero ser a culpada pelo fim do casamento dele.
- Mas ele te ama.
- Não importa. Ele é casado e eu não vou levar essa culpa para o resto da minha vida –
faço uma pequena pausa e volto a chorar. – O que eu vou falar para minha mãe, Lívia? E para as
meninas?
- Não foi sua culpa e se você não quiser contar a verdade, você não é obrigada.
- Eu sei, mas não gosto de mentir para elas.
- Não se preocupe com isso agora. Você pode pensar sobre isso mais tarde. Quer comer ou
beber alguma coisa?
- Não. Na verdade, eu quero ficar sozinha e me deitar um pouco.
- Tudo bem. Eu vou estar no meu quarto.
- Obrigada, Lívia.
Ela sorri, sai e encosta a porta.
Passo o resto do dia deprimida pensando nessa merda toda e, aos poucos, as coisas
começam a fazer sentido: Foi por isso que ele ficou histérico quando descobriu que eu era virgem.
“Outra virgem para ele ter que se casar.”
E por isso que ele pensava que eu só gozaria se estivesse por cima.
“Ele realmente ficou traumatizado com as coisas que a mulher dizia...”
Fico a noite inteira relembrando os nossos momentos juntos e o quanto ele realmente parecia
me amar. Não acho que ele tenha mentido sobre isso e eu também o amo muito, mas com certeza
não vou ser motivo do divórcio de ninguém.
Na manhã seguinte, não tenho vontade de ir trabalhar. É muito cedo para ter que encará-lo
e eu não sei como eu reagirei, então peço à Lívia para avisar ao Cadu que eu não vou e ele diz
que eu posso ficar em casa o tempo que achar necessário.
“Menos um problema.”
Durmo mais um pouco, já que não dormi bem durante a noite, e depois que levanto e tomo
café, vou à portaria avisar que o Roberto está proibido de entrar aqui, já que eu havia avisado
anteriormente que ele podia subir sem ser anunciado. Quase no fim da tarde, estou assistindo TV
com a Lívia na sala e ouço o Roberto gritando do lado de fora do prédio.
- Mas o que é isso?
Levanto-me, olho pela janela e o vejo na porta do meu prédio.
- Ana, querida. Eu só quero conversar. Me deixa subir.
Eu reajo da forma mais mal educada que encontro e fecho a janela. Vou para meu quarto e
Lívia vem atrás de mim. Começo a colocar as roupas dele que ficaram aqui em cima da cama.
- O que você vai fazer? – minha amiga pergunta.
- Jogar tudo em cima dele.
- Pelo amor de Deus! Não me faça passar uma vergonha dessas, Ana! Se você não quer
ficar com as coisas dele aqui, tudo bem, mande alguém entregar, mas jogar pela janela não.
- Você acha um exagero?
- É ridículo!
Sento-me ao lado das roupas.
- Está bem. Depois eu mando alguém entregar.
- Obrigada.
Lívia volta para sala e eu guardo tudo no lugar. Cheiro cada uma das peças e, é claro, volto
a chorar.
No dia seguinte, Roberto liga várias vezes para mim e eu não atendo. Ele liga para a Lívia e
eu a proíbo de atender também. No fim da tarde, ele vem aqui em casa e o porteiro interfona
avisando que ele está lá embaixo implorando para entrar, mas eu não o deixo subir.
Todos os dias são iguais e eu já estou cansada de ficar em casa sem fazer nada. Quero
voltar a trabalhar, mas ainda não estou pronta para encará-lo. Não sei como vou conseguir
continuar trabalhando com ele até cumprir meu contrato e poder pedir transferência. Na noite das
meninas, elas vêm para cá ao invés de nos encontrarmos no bar de sempre no Centro.
- Qual foi o problema dessa vez? – Alice entra perguntando. – Toda vez que nosso encontro
é transferido para cá é por que deu merda com alguém.
- Foi comigo – digo e levanto a mão.
As meninas entregam as bebidas e os petiscos que trouxeram para Lívia e se sentam perto
de mim.
- O que houve? – Giulia pergunta.
- O Roberto... Eu descobri que ele é casado.
Elas ficam olhando para mim de boca aberta.
- Como assim? Nós passamos o Ano-Novo na casa dele e ele passou o Natal na casa da sua
mãe, não foi? – Clara pergunta. – Onde ele escondeu a esposa?
- Nos Estados Unidos – digo.
Conto para elas o que ele me contou e a dúvida “por que ele não se separou ainda” sai da
boca de todas elas ao mesmo tempo.
- Ele disse que ela não aceita o divórcio e que vai enrolar durante anos até ele se cansar.
- Mas isso não existe, gente! Ninguém conhece um advogado? Ele não pode ser obrigado a
ficar com ela – Alice diz.
- Eu acho que ele nunca quis se separar – digo, triste. – Bem, agora não importa mais. Eu
não quero que ele faça isso por minha causa.
- Mas vocês estavam se dando tão bem, Ana – Clara diz. – Você não gosta dele?
- Amo.
- Ama, mas não quer mais ficar com ele por essa bobagem – diz Lívia.
- Bobagem? Ele mentiu para...
- Mentiu não, omitiu – Lívia me interrompe. – Está bem, ele errou, mas ele está disposto a se
separar para ficar com você e você não quer.
- Eu não sou uma destruidora de lares, Lívia!
- Que lar, Ana? Eles não moram juntos há quase dez anos! Ele foi obrigado a casar com ela!
Não é como se eles fossem um casal feliz e você estivesse arruinando tudo.
- Mesmo assim! – digo, enfurecida.
- Ana – Alice diz –, ela tem razão, querida. Eu entendo que você se sinta mal, mas ele não
tem um relacionamento de verdade com essa tal de Hilary. E ele te ama. Coloque de lado a raiva
que você está sentindo e pense um pouco.
- Não importa, ele mentiu...
- Omitiu! – Lívia grita.
- Foda-se! Ele omitiu que tinha uma esposa e eu não vou ficar com um homem casado ou ser
o motivo do divórcio dele.
- Acho melhor nós pararmos com esse assunto – diz Alice. – Nós não viemos aqui para brigar.
Promete que vai ao menos pensar no que ela disse, Ana?
- Prometo.
- Está bem. Deixa eu contar minhas novidades, então.
E assim nós mudamos de assunto e não voltamos mais a falar sobre os meus problemas. A
noite não é das mais animadas, pois não estou no clima, mas nós conversamos e nos divertimos um
pouco.
O final de semana é terrível! Eu não tenho nada para fazer e fico pensando em todos os fins
de semana que passei com o Roberto. Quando nós íamos para a praia e dividíamos a minha canga
porque ele se recusava a levar uma para ele, os dias que nós ficávamos só deitados vendo
televisão e brincando de cosquinha, as noites em que fazíamos amor com calma e paixão e outras
em que fazíamos sexo selvagem.
“Não consigo tirá-lo da minha cabeça!”
Na semana seguinte, decido ir falar com minha orientadora da faculdade para saber se ela
tem alguma outra empresa para me indicar. Eu não posso ficar sem trabalhar e não quero voltar a
ver o Roberto. Infelizmente, ela não tem nada, mas promete me enviar um e-mail assim que souber
de algo.
Passo no bar perto da faculdade para dar um oi para o Gabriel e tomar uma cerveja antes
de voltar para casa.
“O calor está de matar!”
- Mas não é que quem é vivo sempre aparece? – Gabriel diz ao me ver.
Ele me abraça e me dá um beijinho no rosto.
- Vim exclusivamente para te ver.
- É mesmo?
- Mentira. Vim falar com a minha orientadora, mas ao bar foi só por você.
Ele ri.
- Adoro sua sinceridade. Vai beber alguma coisa.
- Sim. O de sempre.
Ele busca uma garrafa de cerveja e dois copos. Gabriel nos serve e esconde o copo dele
atrás do balcão depois de brindarmos.
- E como anda a vida?
- Já foi melhor. Eu estou tentando arrumar outro emprego.
- Por quê? Achei que você gostasse do lugar onde está.
- Eu gosto, mas o Roberto e eu terminamos e eu não acho legal continuar trabalhando com
ele.
- Quer dizer que você está solteira? – ele enche meu copo outra vez.
- Sim.
- Fico muito feliz!
- Gabriel! – dou um tapinha em seu braço.
- Fico mesmo. Escuta, você não quer ir lá dentro comigo no meu intervalo? Eu estou com
saudade.
- Hm... Vou pensar.
Desse momento em diante, meu copo nunca mais fica vazio. Gabriel para toda vez que passa
por mim para enchê-lo ou trazer uma nova garrafa de cerveja. Mando mensagens para as
meninas pedindo que elas venham me encontrar, mas ninguém aceita. Aos poucos, algumas pessoas
que eu conheço da faculdade entram, conversam um pouco comigo e depois vão para suas mesas.
Eu começo a ficar bêbada. Gabriel para ao meu lado e diz:
- Meu intervalo é daqui a 10 minutos. Você vai querer entrar comigo?
- Vou.
Ele abre o maior sorriso do mundo.
- Mal posso esperar.
Gabriel volta ao trabalho e eu continuo bebendo sozinha até o Roberto parar ao meu lado.
- O que você está fazendo aqui?
- Nós precisamos conversar, Ana.
“Eu não acredito nisso! Como ele descobriu onde eu estava?”
Eu o mando ir embora, mas ele não vai e parece realmente preocupado se eu vou ser capaz
de dirigir de volta para casa.
“Claro que vou! Eu não estou tão bêbada assim.”
Ele tenta falar, mas eu digo que não quero ouvi-lo até que ele diz:
- Eu vou me divorciar, Ana. E assim que o divórcio sair, vou me casar com você.
Não acredito no que acabei de ouvir.
“Ele quer mesmo se casar comigo?”
Por mais que eu o ame mais que tudo, eu não posso ser a responsável pelo divórcio dele. Eu
não sou esse tipo de mulher. Vejo Gabriel entrando no escritório para o intervalo dele e digo para
o Roberto:
- Não!
Vou atrás do Gabriel, entro e fecho a porta com a chave.
- O que você está fazendo aqui? Eu pensei que... – ele diz, mas eu o interrompo.
- Pensou errado, Gabriel.
Eu o encosto na parede e o beijo como fazia antigamente. Gabriel retribui, me abraça e
aperta minha bunda.
- Você é tão gostosa, Ana.
Ele me encosta na parede, sobe minha saia e esfrega sua ereção em mim. Gabriel, puxa
minha blusa e meu sutiã para baixo, deixando meus seios estranhamente expostos. Ele chupa meus
mamilos como fazia, mas agora eu já não acho tão agradável. Deixo que ele continue e ele
distribui beijos molhados pelo meu pescoço antes de voltar para os meus mamilos.
- Me fode, Gabriel.
Ele se afasta um pouco e pergunta:
- Você tem certeza?
- Tenho – digo e tiro minha calcinha.
Gabriel pega uma camisinha na carteira, a coloca em seu membro e volta a me beijar.
- Você ainda é virgem?
- Não.
Gabriel levanta uma das minhas pernas e me penetra lentamente, gemendo em meu ouvido.
Imediatamente, lembro-me da primeira vez que fiz sexo com o Roberto e percebo a diferença.
“Eu o amo desde aquele primeiro dia...”
- Espera, Gabriel! – digo e o empurro. – Desculpe, eu não posso.
Coloco minha calcinha e abaixo minha saia enquanto ele fica parado olhando para mim.
- Você está de brincadeira?
- Não. Eu sinto muito.
Começo a ajeitar minha blusa e ele diz:
- Mas Ana...
- Não, Gabriel.
Saio do escritório ainda tentando arrumar minha blusa e quase esbarro no Roberto, que está
parado atrás da porta. Pego minha bolsa e saio sem olhar para trás. Não tenho coragem de olhar
para nenhum dos dois agora.
Ando o mais rápido que posso em direção ao meu carro e antes que eu consiga pegar a
chave, sinto vontade de vomitar. Roberto se aproxima e segura minha cabeça, peço para ele me
largar, mas ele fica o tempo todo lá me ajudando.

A última coisa de que me lembro quando Lívia me acorda na manhã seguinte é de dizer ao
Roberto que queria ir para casa, mas não faço ideia de como cheguei aqui.
- Pelo visto você não tem condições de trabalhar hoje outra vez.
- Pelo amor de Deus, feche essa cortina!
Ela faz o que eu peço e se senta ao meu lado no escuro.
- Você quer uma água ou um café?
- Não, eu quero morrer. Como foi que eu cheguei aqui?
- O Roberto trouxe você. O que aconteceu? Ele saiu daqui muito esquisito.
- Ele apareceu no bar, eu fiquei irritada e fui para o escritório com o Gabriel.
- Ai, meu Deus! Você deu para ele?
- Sim... Não... Mais ou menos...
- E o Roberto?
- Estava sentado do lado de fora me esperando.
- Você superou o significado da palavra babaca, Ana!
- Será que ele entendeu o que aconteceu?
- Ele não disse nada, mas ele não é idiota, né?
- Puta que pariu!
Meu celular começa a tocar e eu vejo que é o Roberto ligando. Não atendo e logo em
seguida o da Lívia toca.
- Posso atender? – ela pergunta.
- Não.
Lívia deixa tocar até cair na caixa postal e logo em seguida, recebe uma mensagem.
- Ele está dizendo que é sobre seu trabalho, Ana.
- Merda! Liga para ele e coloca no viva-voz, mas você fala.
Ouço Roberto dizer que o pai dele está atrás de mim e que se eu não voltar na semana que
vem, vou ser demitida. Mesmo depois do que eu fiz ontem, ele continua se preocupando comigo.
Lívia vai responder quando seguro sua mão e digo:
- Roberto...
- Pois não?
Ele diz secamente e se antes eu tinha dúvidas se ele sabia o que estava acontecendo no bar
ou não, agora eu tenho certeza que ele sabe. Peço para ele passar aqui em casa, pois preciso
conversar com ele e pedir desculpas, mas ele diz que não pode vir e me manda decidir sobre o
emprego.
“Eu estraguei tudo!”
Por mais que eu não queira ficar com ele, uma parte bem pequeninha dentro de mim quer,
afinal de contas eu o amo.
- O que você vai fazer agora? – Lívia pergunta.
- Vou voltar ao trabalho. Se é que ele realmente vai me deixar continuar trabalhando na
empresa dele.
À noite, decido voltar a trabalhar no dia seguinte e não na segunda-feira como Roberto
sugeriu. Separo uma roupa da cor que eu sei que ele gosta porque combina com meus olhos e uma
lingerie bem bonita para me sentir mais confiante, mesmo sabendo que Roberto não a verá.
Assim que chego ao escritório, encontro Isabel na recepção.
- Graças a Deus você voltou! Eu preciso muito da sua ajuda, mas antes quero falar com você.
Ela me leva para uma das salas de reunião e fecha a porta.
- Ana, você vai ter que ser muito cuidadosa. Todo mundo na empresa desconfia do seu
relacionamento com o Roberto.
- O quê? Como assim?
- Eu também sempre desconfiei, mas nunca disse nada porque não tinha certeza. Se isso
chegar aos ouvidos do senhor Robert, você vai ser demitida com certeza. Ainda mais agora com a
mulher do Roberto no Brasil.
- Espera um pouco. O que te disseram?
- O Jorge falou que o Roberto mandou ele ir falar com o senhor Robert quando fechamos a
conta da Power Drink e estávamos comemorando e que o senhor Robert não tinha nada para falar
com ele. Jorge acha que foi só para separar vocês dois e que inclusive vocês tinham desaparecido
quando ele voltou.
- Ai, meu Deus! O que mais?
- A Márcia disse que viu vocês dois de mãos dadas passeando no Leblon. Jorge falou que
Roberto te deu uma carona muito suspeita no dia da festa beneficente da empresa e o José do RH
disse que já viu vocês dois juntos na praia várias vezes.
“Mas que merda! Meu emprego está por um fio.”
- E você nunca me disse nada, Isabel?
- Eu não tinha certeza se era verdade.
- E onde essas pessoas falaram tudo isso? Todos estavam juntos ou você ouviu pelos
corredores?
- Estávamos todos juntos na cafeteria do último andar. Você pode ficar tranquila que eu não
vou falar nada do que sei para ninguém e que se eu ouvir mais alguma coisa sobre esse assunto,
vou negar e dizer que você está namorando outra pessoa.
- Obrigada. De qualquer forma, nós não estamos mais juntos. Eu não sabia que ele era
casado.
- Como não sabia? Todo mundo sabe! Eu te falei sobre ela assim que você veio trabalhar
aqui.
- Eu achei que você estivesse falando da mãe dele.
- A mãe dele morreu.
- Pois é... Eu não sabia. Agora eu sei e nada disso importa mais. Acabou e se você não for
ficar chateada, eu não gostaria mais de falar sobre esse assunto.
- Claro. Não falaremos mais. Vamos para minha sala. Nós temos muito trabalho hoje.
Assim que entramos, Cadu sorri ao me ver.
- Que bom que você voltou, Ana. Estamos mesmo precisando de sua ajuda.
- Falei para ela – Isabel diz.
- Obrigada pelos dias de folga, Carlos Eduardo. E por ter me levado para casa aquele dia.
- Não foi nada. Bem, ao trabalho então.
Isabel e eu vamos para a sala dela e começamos a trabalhar no novo projeto do Cadu.
Algumas horas mais tarde, fazemos uma pausa e eu vou para minha sala. Ao invés de entrar
direto, bato na porta.
“Sabe Deus o que o Roberto pode estar fazendo lá dentro...”
Ele me manda entrar e eu digo que voltei para trabalhar. Ele está tão bonito com uma
gravata vermelha que me dá vontade de beijá-lo. Digo a ele que nós precisamos conversar, mas
ele parece pouco interessado
- Isso já passou, Ana. Você deixou bem claro que não se importa com o amor que eu sentia
por você. Eu entendi.
- Sentia? Você não me ama mais?
- Depois de ver você trepando com outro homem? O que você acha?
“Merda, merda, merda!”
Decido nem tentar explicar para ele que Gabriel e eu não fomos até o fim.
- Caralho, Roberto! Você é casado! Vai dizer que você não trepou com a sua mulher quando
você voltou para casa?
- Não.
“Será possível que eles não façam sexo nunca?”
Nós começamos a discutir, mas eu não vim aqui para isso. Peço desculpas pelo que fiz no bar
e agradeço por ele ter me ajudado enquanto eu vomitava. Roberto parece não ligar e diz que vai
me transferir. Fico triste em ter que contar para ele os termos do meu contrato, pois sei que ele nem
desconfia de nada. Vejo o quanto ele fica abalado depois que digo que o mesmo aconteceu com
todos seus assistentes
Ele fica calado durante muito tempo e quando eu acho que ele vai me demitir, Roberto diz:
- Está bem. Comece seu trabalho, então. Há uma pilha de papéis na impressora que eu
mandei imprimir. Separe-os e traga-os para mim. Vou passar suas tarefas e meus compromissos.
Roberto se levanta e sai da sala. Eu começo a fazer o que ele mandou e no meio dos
documentos em português, encontro um em inglês. Começo a ler e vejo que é um acordo de
divórcio.

Se o acordo for assinado em até uma semana depois da data de recebimento, a senhora Hilary
Collins terá direito de ficar com:
· A mansão do casal em Bel Air com tudo que há dentro dela,
· A limusine do casal,
· O carro que a mesma ganhou de presente no aniversário de 5 anos de casamento,
· A casa de praia em Malibu com tudo que há dentro dela,
· O apartamento de Nova York com tudo que há dentro dele,
· Todas as joias de herança adquiridas pela família Collins até a presente data.

Fora isso, o senhor Roberto Duarte Collins se compromete a:


· Continuar pagando todas as despesas de todas as propriedades acima citadas,
· Continuar pagando todos os funcionários de todas as propriedades acima citadas,
· Continuar pagando o motorista particular do casal,
· Continuar depositando mensalmente 200 mil dólares para as despesas pessoais da
senhora Hilary Collins,
· E, como um bônus, outros 50 mil dólares mensais serão depositados mensalmente na
conta da senhora Hilary Collins.

Continuo lendo o documento e vejo que quanto mais tempo ela levar para assinar, menos ela
vai receber. No documento diz inclusive que ela pode se casar ou ter outros relacionamentos que
ele continuará pagando tudo para ela.
“Será que tudo que ele disse é mesmo verdade?”
Se ele está realmente disposto a pagar tudo isso para se livrar dela o mais rápido possível,
é provável que seja verdade.
Roberto volta para sala e me encontra lendo o papel do seu divórcio. Nós conversamos um
pouco sobre o assunto, mas ele não quer falar sobre isso e me manda continuar meu trabalho. Fico
extremamente abalada quando ele começa a me passar seus próximos compromissos e eu percebo
que ele já está saindo com outras pessoas.
Sei que ele não fazia essas coisas antes, pois nós estávamos juntos o tempo todo, mas agora
que terminamos e que ele me viu fazendo aquela merda no bar, ele tem todo direito de seguir com
a vida dele. Fico muito triste, mas não digo nada.
De repente, a porta da sala se abre e a esposa dele já entra me ofendendo.
“Que vontade de dar na cara dela!”
Eu até tento dar uma resposta à altura, mas Roberto me interrompe e eles começam a discutir.
É a primeira vez que vejo os dois interagindo e definitivamente eles se odeiam. Ela diz que vai
passar o dia inteiro aqui, Roberto diz que pouco se importa e me manda ir para minha sala
continuar meu trabalho lá. É a situação mais constrangedora de toda minha vida.
Roberto me trata como se eu fosse uma completa desconhecida a semana inteira. Ele está
realmente magoado com o que aconteceu no bar. A louca da mulher dele fica todos os dias
deitada no sofá do escritório, os dois saem juntos para almoçar e vão embora juntos. Por mais que
essas coisas me entristeçam, cada dia que passa eu tenho mais certeza que eles não se amam e
que realmente nunca foram um casal de verdade. Mas o que está me enlouquecendo mesmo são
as festinhas do Roberto.
Um dia da semana, eu pergunto a ele:
- Você não tem vergonha de sair com outras mulheres sendo casado?
Ele olha para a esposa deitada no sofá.
- Se isso fosse um casamento de verdade, eu jamais faria uma coisa dessas.
- E você acha certo me colocar para agendar seus encontros depois de tudo que nós
passamos juntos?
- Você terminou comigo. E você deu para aquele imbecil naquele bar imundo enquanto eu te
esperava para dizer que eu queria me casar com você. Você acha certo eu não poder me divertir
depois do que você fez?
- Eu já pedi desculpas.
- Suas desculpas não vão apagar aquela imagem da minha cabeça.
- Roberto, você é casado, você não me contou, nós estávamos brigados e eu tinha o direito
de fazer...
- Isso não importa mais – ele me interrompe. – Quais são os meus compromissos de hoje?
“Que ódio!”
Respondo a sua pergunta e me tranco em minha sala para trabalhar. Na sexta-feira, decido
atrapalhar os planos dele e digo que ele tem um encontro em inglês para que a mulher dele
entenda. Obviamente, eles começam a brigar por isso e eu vou embora contente por ter arruinado
seus planos.
Chego em casa no horário de sempre. Agora com o carro, eu chego um pouco mais tarde do
que quando ia de metrô, mas é muito mais confortável do que ir amassada e em pé, por mais que
leve mais tempo. Assim que eu abro a porta do apartamento, Lívia me recebe com uma taça de
vinho branco.
- Estamos comemorando alguma coisa? – pergunto depois de dar o primeiro gole.
- Sim! Você está solteira, hoje é sexta-feira e nós vamos sair!
- Vamos para onde?
- Para uma boate. Não decidi qual ainda.
- Ah, não Lívia! Boate não. Você sabe que eu não suporto música eletrônica. Nós podemos ir
para Lapa.
- Lapa não! Você sabe que eu não gosto de lá. Barzinho, então? Mas aqui na Zona Sul.
- Fechado!
Aos poucos, Lívia e eu nos arrumamos e vamos a um dos bares perto do nosso apartamento.
Por mais que nós estejamos sempre juntas, nós sempre temos assunto para colocar em dia.
Passamos as horas seguintes bebendo e comendo petiscos até eu decidir ver se o Roberto
realmente está tendo um encontro.
Obrigo Lívia a ir comigo ao restaurante onde ele deveria estar. Ela me xinga inúmeras vezes
no caminho, mas me acompanha. Roberto está mesmo no restaurante, mas está com Cadu e não com
uma mulher. Eu me sento com eles e Roberto diz que a moça já foi embora.
Fico com muita raiva ao saber que ela realmente existe, mas logo fico mais tranquila quando
um cara senta conosco pedindo para conversar comigo e o Roberto morre de ciúme e manda o
homem ir embora. Lívia me ameaça dizendo que vai me deixar sozinha e eu me levanto para ir
embora com ela, mas não consigo me conter, me sento no colo do Roberto e o beijo como se nós
ainda estivéssemos juntos.
“Como eu estou sentindo falta dele, meu Deus!”
Meu coração se aquece com todo o amor que sinto por ele.
“Por que ele tinha que ser casado?”
A vida é uma merda mesmo... Encontrei o homem que amo, que é perfeito para mim e não
posso ficar com ele.
Lívia praticamente me arrasta para fora do bar e diz:
- Eu te odeio, sabia?
- Mas o que eu fiz?
- Toda hora eu sou obrigada a encontrar o Carlos Eduardo por sua causa!
- Ah, Lívia! Supere isso!
- Como é que eu posso superar se ele não me deixa em paz? Não adianta eu dizer que não
quero nada com ele. Você acredita que ele me beijou?
- A força?
Ela abaixa a cabeça.
- Não... Eu deixei.
- Então pare de reclamar.
- Mas ele me domina com o olhar, Ana! Eu não consigo resistir!
- Você vai me contar por que você desistiu dele e fez aquela merda?
- Não.
- Então eu não quero saber de nada!
Nós voltamos para casa e eu vou direto para cama dormir. Acordo na manhã seguinte e fico
deitada pensando no Roberto. É claro que ele ainda me ama, senão não teria ficado tão irritado
quando aquele homem pediu para conversar comigo no bar.
“Então por que ele está saindo com outras pessoas?”
Só pode ser para me magoar pelo que eu fiz com o Gabriel... Ou para provar que ele não
vai ficar com a esposa mesmo se eu desistir dele. Começo a pensar em uma forma de deixá-lo com
ciúme e tenho uma ideia brilhante.
Vou ao quarto da Lívia e a acordo.
- O que foi? Está tudo bem?
- Sim. Eu preciso de sua ajuda.
Ela se senta na cama.
- O que você quer?
- Quero que você dê um chupão no meu pescoço.
Ela fica apenas olhando para mim durante algum tempo.
- Você só pode estar bêbada ainda.
Lívia se deita novamente e cobre a cabeça com o lençol.
- Lívia!
- Nem fodendo, Ana. Pode sair do meu quarto.
Vou para sala pensando em quem vai me ajudar... Eu não quero ter que sair com um cara
qualquer e pedir para ele me dar um chupão. Isso é ridículo! Decido então ligar para Alice.
- Oi, amiga! – ela diz. Tudo bem?
- Sim e você?
- Bem.
- Eu estou precisando conversar e queria saber se você pode passar aqui em casa. Nós
podemos tomar café da manhã na cafeteria aqui perto. Eles fazem ovos maravilhosos!
- O Marcos está aqui em casa. Pode ser mais tarde ou amanhã?
- Não... Eu realmente preciso de ajuda.
- Está bem. Eu estou indo.
Se eu dissesse o que eu quero que ela faça, Alice, com certeza, não viria. Quarenta minutos
mais tarde, o interfone toca e o porteiro avisa que ela está subindo.
- Quem é? – diz Lívia saindo do quarto.
- Alice.
- Eu não acredito que você mandou ela vir aqui para te dar um chupão! – eu apenas
balanço os ombros. – Você está fora de controle, Ana!
Minha amiga vai para a cozinha e eu abro a porta para esperar a Alice, que chega
despenteada e com cara de sono.
- Você está bem? – ela pergunta depois de me dar um beijo no rosto.
- Sim. Entre.
Nós nos sentamos no sofá e Lívia se junta a nós com uma xícara de café. Conto para Alice
como Roberto ficou quando o outro cara pediu para conversar comigo.
- Mas você não disse que não vai voltar para o Roberto de jeito nenhum?
- Sim, mas acho que estou mudando de ideia. Se ele vai mesmo se divorciar e está saindo
com várias mulheres, acho que podemos nos acertar e esperar para ficarmos juntos quando o
divórcio sair.
- Você gosta mesmo dele, não é? – Alice segura minha mão carinhosamente.
- Sim, muito! E é por isso que eu preciso que você de um chupão no meu pescoço.
Alice solta minha mão como se ela estivesse me chamas.
- O quê? Por quê?
- Para ele ficar com ciúme. Ele está com raiva porque acha que eu fiz sexo com o Gabriel e
não quer falar comigo direito.
- E por que você não sai com alguém e consegue um chupão naturalmente?
- Porque eu não quero sair com ninguém. Pare de palhaçada, Alice! Você sai com outras
mulheres. Qual o problema em beijar o meu pescoço? Eu sou sua amiga!
- E por que eu? Por que você não pediu para a Lívia?
- Ela pediu – Lívia diz.
- Ana... – Alice continua. – Você é minha amiga e eu não quero que a nossa relação mude
por nada nesse mundo.
- Meu Deus! Mas esse drama todo por causa de um chupãozinho de nada? Você acha o
quê? Que eu vou querer me casar com você?
Nós ficamos em silêncio por um tempo, Alice respira fundo e diz:
- Está bem. Em que parte do pescoço você quer?
- Obrigada, obrigada, obrigada! Você é a melhor! Aqui! – aponto a lateral do pescoço.
Alice coloca meu cabelo para o lado, segura meu pescoço com uma das mãos e meu ombro
com a outra. Sinto seus lábios me tocando e quando ela chupa minha pele sinto um arrepio na
espinha. Ela continua chupando por um tempo e depois se afasta. Seguro sua mão e digo:
- Foi o chupão mais gostoso da minha vida.
- Ana! – ela grita, levanta do sofá e eu começo a rir.
- Vocês são muito nojentas... – Lívia diz e se aproxima para olhar meu pescoço.
- E aí? – pergunto.
- Vai ficar um escândalo! – diz Lívia. – Está supervermelho.
- Posso voltar para minha casa agora? – Alice pergunta.
- Claro que não! Quem você acha que eu sou para você vir na minha casa, chupar meu
pescoço e me abandonar? Você vai pelo menos tomar café da manhã comigo – digo brincando. –
Vamos! Eu pago.
Nós três vamos para a cafeteria e comemos juntas. Logo depois, Alice vai embora e Lívia e
eu voltamos para casa. Eu passo o fim de semana inteiro de frente para o espelho vendo a marca
escurecer e ficar cada vez mais arroxeada. Decido alisar o cabelo para prendê-lo em um rabo de
cavalo e ficar mais fácil de o Roberto ver, já que ele quase não olha para mim.
Na segunda, vou para o trabalho de óculos e não de lentes, pois sei que ele gosta e é uma
chance extra de ele reparar em mim. Escolho um vestido bem bonito e saltos um pouco mais altos
do que normalmente eu uso para ir trabalhar. Escondo o chupão com maquiagem, pois sei que vou
ficar com a Isabel e o Cadu na parte da manhã.
Nós três trabalhamos juntos e no intervalo para o almoço, passo no banheiro, tiro a
maquiagem do pescoço e vou para a sala do Roberto. Dou bom dia para ele e para a louca da
esposa que está lá no sofá. Roberto sorri quando vê que eu estou de óculos. Coloco uns
documentos sobre sua mesa e percebo que consegui chamar sua atenção. Ele analisa meu rosto e
meu corpo quando de repente pergunta sério:
- O que é isso no seu pescoço?
“Isso! Consegui!”
- Um chupão. Por quê?
Roberto dá um soco na mesa e eu me assusto.
- Eu quero falar com você imediatamente na sala de reuniões – ele grita.
- Sim, senhor – digo e caminho em direção a porta.
Saio e ouço ele dizendo para a esposa para ela ficar na sala. Roberto sai praticamente
marchando na minha frente.
- Qual sala de reuniões está vazia hoje, Márcia? – ele pergunta grosseiramente.
- A número 3.
Roberto caminha até lá e eu o sigo. Ele abre a porta e me deixa entrar primeiro, depois
entra e fecha a porta com a chave.
- O que há de errado com você? – ele grita. – Você não pode sair dando o que meu por aí
para qualquer um!
- Nós não estamos juntos, Roberto. Eu posso dar para quem eu quiser.
Encosto na enorme mesa oval da sala. Ele se aproxima e para de frente para mim, tão perto
que eu sinto sua respiração descontrolada em meu rosto.
- Não pode não!
Roberto me beija com violência e eu retribuo. Ele puxa meu rabo de cavalo e meu pescoço
fica exposto. Ele distribui beijos para os dois lados.
- Roberto, sua mulher deve estar te procurando...
- Você é a minha mulher, Ana. A mulher que meu coração escolheu e a mulher que eu quero
para mim.
Ele me beija outra vez fazendo todo meu corpo se aquecer. Sinto sua ereção tocando meu
corpo e o afasto um pouco. Levanto meu vestido, abaixo minha calcinha e me sento na mesa.
- O que você está fazendo? – ele me pergunta e eu abro seu cinto.
- Me come, Roberto. Me faz ser sua mulher outra vez.
Ele abaixa a calça e a cueca ao mesmo tempo. Roberto passa sua ereção pela minha
entrada úmida, segura minha bunda com uma mão e me penetra. Não consigo conter um gemido
de satisfação por tê-lo outra vez dentro do meu corpo.
Roberto coloca a outra mão em minha bunda também e começa a se movimentar. Eu o beijo,
o abraço e enrosco minhas pernas em volta de sua cintura.
- Isso! – digo.
Roberto mantém os lábios encostados aos meus enquanto olha em meus olhos. Ele entra e sai
de mim inúmeras vezes, me levando cada vez mais perto do abismo. Quando sinto que estou perto
de alcançar o clímax, digo:
- Mais rápido, Roberto... Eu vou gozar no seu pau do jeito que você gosta...
Ele aumenta o ritmo e nós gozamos juntos engolindo os gemidos um do outro. Roberto me
pega no colo e nos deita no chão da sala. Ele me abraça e dá um beijo em minha cabeça.
- Eu senti sua falta – ele diz sorrindo.
- Eu também.
Ouvimos uma batida na porta e logo depois, Hilary diz:
- Você está aí, Roberto?
Nós ficamos em silêncio e continuamos nos olhando, abraçados. Volto à realidade e me
arrependo do que acabamos de fazer. Acho que ele repara, pois logo em seguida, Roberto diz:
- Eu te amo.
- Eu também te amo, mas isso não quer dizer que nós podemos ficar juntos.
Eu me levanto e Roberto se senta.
- Ana...
- Não, Roberto. Esqueça o que aconteceu.
Vou até o banheiro da sala, entro e fecho a porta. Tenho vontade de chorar, mas me
controlo. Limpo-me da melhor maneira que posso, lavo as mãos e o rosto e quando volto para a
sala para buscar minha calcinha, Roberto não está mais lá.
Capítulo 13

“O amor me pegou e eu não descanso enquanto não pegar aquela criatura. Saio na noite à procura.
O batidão do meu coração na pista escura.
Se pego, ui! Me entrego e fui.”
Gatas extraordinárias – Caetano Veloso
Roberto
Quando Hilary bate na porta da sala de reuniões, vejo nos olhos da Ana que ela não vai
ficar comigo enquanto esse maldito divórcio não sair. Ana vai para o banheiro, eu me levanto,
arrumo minha roupa, abro a porta e saio.
- O que você estava fazendo aí? – Hilary pergunta.
- Trabalhando. É o que eu faço aqui todos os dias. Você vai querer sair para almoçar ou vai
ficar aqui?
- É claro que eu vou querer almoçar.
Consigo tirá-la da empresa sem entrar na sala e ver a calcinha da Ana jogada no chão.
- Onde está seu pai? Eu não o vi desde que cheguei.
- Ele não vem para a empresa todos os dias. A próxima vez que eu encontrá-lo, te aviso.
Mais uma vez sou obrigado a almoçar com ela. Decido não voltar para a empresa e nós
vamos para casa. Assim que entramos, Hilary vê um envelope para ela em cima da mesa.
“Só pode ser o documento de divórcio.”
Subo e a deixo sozinha.
“Quem sabe ela tem um ataque nervoso e eu não chego a tempo para salvá-la?”
É claro que isso não acontece e cinco minutos depois ela invade o quarto de hóspedes onde
eu estou.
- Você perdeu o juízo, Roberto? Que merda é essa?
- Sua oportunidade de se livrar de mim e manter a vida que você leva sem nunca ter que se
preocupar com nada.
- Eu não vou assinar isso! Nós não vamos nos divorciar.
- Vamos sim, Hilary. Nem que seja daqui a 10 anos. Eu sugiro que você leia atentamente
porque o tempo já está passando e você já está perdendo alguns benefícios desse divórcio.
Ela olha para o papel e começa a ler.
- Você é ridículo! – ela diz rindo. – Todas essas coisas já são minhas porque eu sou casada
com você e eu tenho direito a metade delas em qualquer situação de divórcio.
- É aí que você se engana, minha querida! A única propriedade que está no meu nome é
esse apartamento aqui no Brasil. O resto pertence ao meu pai e você se casou comigo e não com
ele.
- O quê?
- Isso mesmo. Tic Tac, tic tac... Acho que você acaba de perder o colar de pérolas negras que
você tanto gosta e que era da minha mãe.
Hilary dá um gritinho, vira as costas e sai do quarto. Com certeza, ela vai ligar para um
advogado.

Durante o restante do mês de janeiro, Hilary me dá uma trégua e não vai mais à empresa
todos os dias. Ela deve estar muito ocupada tentando avaliar o documento do divórcio. Cada
semana que passa sem ela assinar, ela perde alguma coisa. Até agora, já perdeu o apartamento
de Nova York e o bônus de 50 mil que eu estava disposto a pagar.
Meu pai nos faz uma visita em casa alguns dias antes do feriado de carnaval e ela faz um
escândalo com ele dizendo que não sabia que a mansão que ele havia nos dado de presente não
estava no meu nome.
- Hilary, minha querida, o presente era vocês poderem morar em um bairro bom e tranquilo.
Você acha que naquela época o Roberto teria dinheiro para comprar aquela casa? Ele só tinha 17
anos e era um irresponsável. Você acha mesmo que eu colocaria alguma coisa no nome dele?
- Mas me deixar pensando que a casa era nossa não foi justo, Robert.
- Também não foi justo você me deixar pensando que você estava grávida quando você já
sabia que não estava. Você me ouviu reclamando sobre isso alguma vez, Hilary?
Ela não sabe onde enfiar a cara depois que ele diz isso.
- Por que você não assina o divórcio logo de uma vez? – Meu pai continua. – Foi um erro
meu ter forçado esse casamento. Vocês nunca se amaram de verdade. Pense que a casa será sua
se você assinar logo. Não é isso que você quer?
- Mas eu não quero ser uma mulher divorciada, Robert!
- Você é jovem. Vai arrumar outro marido. Quem sabe você não se apaixona de verdade
por alguém? Pode ter certeza que vai ser melhor assim, minha filha. Ninguém vai te julgar por você
ser divorciada. Nós já passamos dessa fase.
- Mas eu não quero.
Hilary se levanta como uma criança birrenta e sobe para o quarto.
- É, meu filho... Não vai ser fácil. E a Ana?
- Que Ana?
- Roberto, eu sou seu pai, já tive a sua idade e não sou idiota. É claro que eu sei que você
estava namorando a Ana, sua assistente. E da mesma forma que eu sei que a presença dela no
escritório foi o que fez você começar a trabalhar direito, eu também sei que vocês se amam. É só
ver a cara dos dois nas reuniões.
Fico de boca aberta sem saber o que dizer.
- Desde quando o senhor sabe?
- Desde que a firma de segurança me mandou as imagens de vocês dois fazendo sexo nas
escadas.
“Puta que pariu!”
Provavelmente estou olhando para ele com cara de idiota.
- Não se preocupe. Eu não assisti tudo – ele diz.
- Pai, eu...
- Você não precisa se explicar, Roberto. Eu sei muito bem o que é amar alguém ao ponto de
fazer certas loucuras.
- Eu a amo... De verdade... Mas sei que ela não vai voltar para mim enquanto esse divórcio
não sair e a cada dia que passa, nós nos afastamos mais.
- Não se preocupe. Você vai conseguir seu divórcio cedo ou tarde e se ela te ama de
verdade, vai esperar.
- Obrigado, pai.
- Por enquanto, ela pode continuar na empresa para vocês não perderem completamente o
contato, mas depois que vocês estiverem juntos, ela vai ter que sair, Roberto. Eu sinto muito.
- Eu vou me casar com ela. Se ela for minha esposa, ela pode trabalhar lá se quiser, não
pode?
- Nesse caso, pode – ele diz sorrindo. – Tomara que dê tudo certo, filho.
- Vai dar!
Alguns dias depois, recebo dois abadás para o desfile da Banda de Ipanema como recebo
todos os anos. O desfile será no sábado de carnaval, que é no início de fevereiro esse ano.
Graças a Deus, Hilary se recusa a ir e ficar “no meio daquele gente suada e fedida”. Levo as
camisas para o escritório e vou direto para a sala do Cadu dar uma para ele.
- Me diga que isso não é o que eu estou pensando – ele diz.
- É isso mesmo. E esse ano você vai comigo de qualquer jeito.
- Roberto, eu odeio carnaval. Você sabe disso. É claro que eu não vou. Além do mais, todas
as pessoas do planeta vão para a Banda. Eu não gosto de multidões.
- Sim, mas com o abadá você vai ficar junto com a banda dentro do cordão e não misturado
com as outras pessoas.
- De jeito nenhum.
- A Ana vai junto com a Lívia. Eu ouvi elas falando pelo telefone.
- Tem certeza?
- Absoluta.
Ele pega o pacote de cima da mesa, abre e coloca a camisa na frente do corpo.
- Eles não têm com mangas? Eu não uso camiseta.
- Claro que não. Você quer o quê? Camisa Polo no meio do carnaval? Era só o que faltava!
Levanto e vou para minha sala. Quase não tenho visto a Ana depois do nosso encontro na
sala de reuniões. Parei de pedir para ela agendar meus compromissos e ela tem trabalhado muito
com a Isabel, então nós basicamente nos vemos quando ela vem até a nossa sala para deixar ou
buscar as coisas dela. Nós não conversamos sobre o que aconteceu ou o que vamos fazer. Eu estou
dedicando todo meu tempo livre ao divórcio e sinceramente espero que ela esteja esperando por
mim.
Antes do horário de almoço, ela entra para buscar sua bolsa.
- Você precisa de alguma coisa, Roberto?
- Não, obrigado – ela fica parada olhando para mim. – O que foi?
- Eu sei que isso não é da minha conta, mas sua mulher está doente? Já tem algum tempo que
ela não vem para cá.
- Ela não é minha mulher, Ana – ela abre a boca para argumentar, mas eu não deixo. – Ela
é minha esposa e por pouco tempo. Minha mulher, não. E ela não está doente, está ocupada
demais com o divórcio e não quer perder tempo vindo para cá.
Ela dá um sorriso tímido.
- Entendi.
- Você quer me perguntar mais alguma coisa?
- Não... Era só isso.
Ela vira as costas para sair.
- Ana! – ela vira de frente para mim. – Eu te amo.
Ela apenas balança a cabeça e sai.
Vou para casa mais cedo, pego minha sunga e vou para praia. Quero aproveitar a tarde
antes do feriado, pois depois a praia fica lotada. Passo a tarde lá e quando começa a escurecer,
volto para meu apartamento. Encontro Hilary sentada na sala e ela diz:
- Nós precisamos conversar.
Aproximo-me e digo:
- Pode falar.
- Eu quero que você anule esse documento do jeito que ele está. Eu preciso de tempo para
pensar e para falar com meus advogados. Com essa cláusula ridícula que eu perco alguma coisa a
cada nova semana, eu não consigo me concentrar.
- Sinto muito.
Subo e vou para o quarto de hóspedes. Não vou facilitar a vida dela.
No sábado à tarde, encontro Cadu na porta do prédio dele e nós vamos caminhando pelo
calçadão até a praça General Osório onde fica a concentração da Banda.
- Eu estou me sentindo ridículo com essa camiseta – ele diz.
- Nada! Combina muito bem com seus músculos.
- Não acredito que você me convenceu a participar dessa merda. Onde nós vamos encontrar
a Ana e a Lívia?
- Elas não sabem que vão nos encontrar. Você acha mesmo que a Lívia viria se soubesse que
teria que te ver?
- Como assim? Você não marcou nada com elas?
- Não.
Ele olha para mim com ódio.
- Comece a rezar agora para elas aparecerem porque se eu passar a tarde inteira com
essa camiseta ridícula à toa, vou ser seu pior pesadelo pelo resto da sua vida.
- Pior que a Hilary?
Meu amigo ri.
- Pior que ela é impossível!
A praça está lotada. Nós nos esprememos entre as pessoas até alcançar o cordão que
protege a banda. Há algumas outras pessoas com o abadá igual ao nosso, a maioria mulheres e
quase todo mundo que tem o abadá é famoso.
Começamos a beber e o Cadu a reclamar que a cerveja não presta, que a cerveja está
quente, que está muito calor, que tem muita gente, que a música é horrível, mas assim que ele avista
a Lívia, ele para.
Ana está com orelhinhas de gatinha e Lívia está com cara de nojo. Tenho vontade de rir, mas
me controlo. Elas param bem perto de nós e o que nos separa é o cordão e os seguranças que
ficam em volta dele. Lívia nos cumprimenta de longe e nós saímos da área reservada para falar
com elas.
- Que surpresa encontrar vocês aqui – digo.
Lívia me dá dois beijinhos no rosto.
- Como você está? – ela me pergunta.
- Bem e você?
- Mal! Eu odeio carnaval! A Ana me obrigou a vir para esse inferno.
A Banda começa a tocar e a sair do lugar. A multidão começa a caminhar atrás e nós somos
empurrados. Lívia quase cai no chão, mas Cadu a segura.
- Você quer entrar na área do cordão comigo? – ele pergunta.
- Ela não quer não – Ana grita.
- Quem disse? É claro que eu quero. Obrigada, Carlos Eduardo.
Os dois passam pelos seguranças e começam a conversar. Ana bufa.
- Você quer vir também? – pergunto.
- Não.
- Quer que eu fique aqui com você?
- Não.
Eu vou para a área reservada, mas mesmo distante, nós ficamos olhando um para o outro.
Durante o bloco, vários homens se aproximam dela. Ela é sempre simpática com eles, mas não
passa disso. De repente, sinto uma lambida no meu braço. Olho para o lado e vejo uma mulher,
que eu não conheço, bem bêbada e sorrindo para mim.
- Nossa! Eu amei a sua tatuagem! – ela diz.
- Obrigado.
- Posso dançar com você?
Olho para Ana e vejo que ela não está mais se divertindo.
- Claro!
A mulher me abraça e nós começamos a pular e cantar ao som de “Mamãe, eu quero”.
- Meu nome é Priscila – ela grita.
- O meu é Roberto.
Do nada começa uma briga. Dois seguranças tentam tirar uma pessoa de dentro da área
reservada. Quando eu me aproximo, vejo que a pessoa é a Ana.
- Ei! Está tudo bem – digo. – Ela está comigo.
Os seguranças a soltam e ela me empurra.
- Você não tem vergonha, não?
Ana anda em direção à tal de Priscila.
- Você sabia que ele é casado? – ela diz.
- Com você? – a mulher pergunta.
- Claro que não! Mas ele é casado.
- Se ele não se importa, eu menos ainda. É carnaval!
Priscila me abraça outra vez e nós voltamos a dançar.
Ana rapidamente começa a flertar com um homem que também está na área reservada.
Procuro Cadu e Lívia, mas não os encontro. Quando olho outra vez para Ana, ela está beijando o
cara e olhando para mim.
“Eu odeio ela!”
Seguro Priscila pelo pescoço e a beijo também.
Ana solta o rapaz e sai no meio da multidão. Vou atrás dela, gritando seu nome, e ela me
mostra o dedo do meio, mas eu não desisto. Quando chegamos ao calçadão, ela começa a correr
para praia. Consigo alcançá-la na areia e quando a puxo, perco o equilíbrio e nós dois caímos.
- Você é um idiota! Eu te odeio! – ela grita e eu a beijo.
Ana retribui e me abraça.
- Fica comigo hoje, Ana, por favor.
- Mas e a...
- Vamos esquecer que ela existe – eu a interrompo. – Só hoje... Eu te amo tanto, querida. Por
favor.
Ana fica olhando para mim.
- Está bem, mas nós não vamos dormir juntos.
- Por que não?
- Porque eu não quero fazer sexo com você outra vez enquanto vocês estiverem juntos.
- Mas nós podemos só dormir pelo menos?
- Eu não vou aguentar ter você do meu lado e não lamber a sua tatuagem – ela diz e ri.
Eu rio também e penso o que pode apressar ainda mais nossa reconciliação.
- Eu vou sair do meu apartamento. Se eu não morar mais com ela, você dorme comigo?
- Não quero que você faça isso. Ela pode ficar com raiva e atrapalhar mais ainda o
divórcio.
- Eu sinto tanto sua falta, Ana.
- Eu também, mas nós precisamos esperar. Eu não quero que as pessoas digam que você
terminou seu casamento para ficar comigo.
- Ninguém vai dizer isso, querida. Todo mundo sabe que não é um casamento de verdade.
- A Márcia, secretária do seu pai, sabe que não é um casamento de verdade? O porteiro do
seu prédio sabe que não é um casamento de verdade?
- Não, não sabem – Ana fica olhando para mim em silêncio. – Entendi. Nós vamos esperar.
Ela sorri e eu a beijo outra vez.
- Você quer voltar para a Banda? – pergunto.
- Não. Está lotado esse ano, não é?
- Cada ano que passa só piora... Vou ligar para o Cadu para ver onde ele e a Lívia estão.
Descubro que nossos amigos estão no Jobi e nós vamos caminhando para lá, tentando evitar
a multidão da orla da praia. Ana e eu vamos conversando sobre assuntos amenos e não sobre o
que realmente importa: meu divórcio e o fato de ela estar saindo com todo mundo. Como só
ficaremos juntos hoje, prefiro deixar isso para depois e aproveitar sua companhia. Mais cedo ou
mais tarde teremos uma conversa séria e definitiva.
O bar está lotado. Cadu e Lívia estão em pé em uma das mesas improvisadas do lado de
fora e estão conversando tranquilamente.
“Será que fizeram as pazes?”
Nós nos juntamos a eles e pedimos caipirinhas e petiscos. Por incrível que pareça ficamos
horas juntos sem ninguém brigar ou ir embora, mas é claro que Cadu não se aproxima de Lívia
para beijá-la, nem eu da Ana. É como se fôssemos um grupo de amigos.
De repente, começamos a ouvir uma música se aproximando e vemos algumas pessoas com
instrumentos musicais vindo em direção ao bar. Eles param no meio da rua e tocam suas músicas de
carnaval. Ana começa a se empolgar e dançar quando ouve:

Nesse Carnaval, não quero mais saber de brigar com você.


Nesse Carnaval, não quero mais saber de brigar com você.
Vamos brincar juntinhos. Água na boca pra quem ficar sozinho.
As nossas brigas não podem continuar porque nosso amor não pode se acabar.

Ela me abraça, me beija e eu retribuo, contente, dançando com ela. De repente, ela coloca a
mão dentro da bolsa tira um punhado de confetes e joga em cima do Cadu e da Lívia. Os dois
olham para Ana como se ela fosse de outro planeta e ao invés de se juntarem à brincadeira,
começam a se limpar.
“Esses dois foram feitos um para o outro...”
Ana começa a jogar confete em mim e em algumas outras pessoas que riem dela e eu dou
graças a Deus por ver a minha Ana de volta.
Nós continuamos no bar até tarde da noite, depois Cadu e eu levamos as meninas até a
porta do apartamento delas. Ele logo se despede e vai embora, mas eu fico com a Ana na
portaria, insistindo para passar a noite com ela.
- Por favor, Ana. Eu juro que só quero ficar abraçado sentindo o seu cheiro. Prometo que nós
não vamos fazer nada. Me deixa subir, vai?
- Eu não vou resistir, Roberto. Vá para sua casa.
- Você é a minha casa. Eu quero ficar com você, Aninha linda do meu coração.
“Nossa! Dá para ser mais brega? E nem bêbado eu estou...”
- Ai! Está bem! Mas só essa noite.
- Oba!
Nós subimos e vamos direto para o quarto dela. Ana me dá uma das minhas bermudas, pega
um vestidinho para ela e sai do quarto. Vou atrás dela e nós entramos no banheiro.
- Você prometeu, Roberto...
- E eu não estou fazendo nada. Só vim tomar banho com você.
- Nada disso. Você fica esperando lá fora.
Ela me empurra e fecha a porta. Vou para sala e Lívia aparece logo depois.
- Vocês voltaram? – ela pergunta.
- Ainda não, mas ela me deixou dormir aqui. Acho que depois do divórcio, ela vai voltar
para mim. E você e o Cadu?
- Não. Só estávamos sendo civilizados.
Balanço a cabeça e ela vai para a cozinha. Quando Ana sai do banho, eu entro e tomo uma
chuveirada rápida. Volto para o quarto dela, que está geladinho por causa do ar condicionado e
a encontro deitada, enrolada nos lençóis e com os cabelos cacheados espalhados pela cama.
“Como eu amo os cabelos dela...”
Deito-me a seu lado e ela apoia a cabeça em meu peito.
- Você quer conversar agora sobre o que aconteceu e o que nós faremos daqui em diante?
– pergunto.
- Não. Mas nós podemos conversar amanhã quando acordarmos.
- Tudo bem.
Ana dá um beijo em meu peito e diz:
- Eu vou te esperar, Roberto.

Acordo no meio da madrugada com o celular da Ana tocando. Ela se senta e atente:
- Alô?
Ela escuta o que a pessoa diz antes de virar de frente para mim e arregalar os olhos.
- Nós já estamos indo. Em que delegacia o senhor está?
Ela fica em silêncio outra vez antes de desligar o telefone.
- Era seu pai, Roberto. Ele está na delegacia.
- Meu pai?
- Sim. Ele disse que já te ligou várias vezes e pediu que nós fôssemos até lá.
- Que delegacia?
- A 14ª DP.
Ligo meu celular e vejo que há várias chamadas perdidas de um número que eu não
conheço, outras do celular do meu pai e nós começamos a nos vestir apressados.
- Estranho... Como é que seu pai sabia que eu estava com você? – Ana pergunta.
- Ele sabe de tudo – Ana para o que estava fazendo e olha para mim. – Mas ele está do
nosso lado. Não se preocupe.
- Como assim ele sabe?
- Ele nos viu juntos em uma das fitas de segurança da empresa. Ele já sabe há muito tempo,
mas me contou recentemente.
- Onde?
- Onde o quê?
- Onde nós estávamos?
- Ah... No estacionamento.
Acho melhor mentir para ela não ficar envergonhada. Assim que entramos na delegacia,
vemos meu pai sentado na recepção.
- O que aconteceu? – pergunto.
- A Hilary foi presa por desacato a autoridade.
Ana
“Estava bom demais para ser verdade! ”
Mesmo que Hilary não soubesse que nós estávamos juntos, arrumou um jeito de nos separar
outra vez. Sabe Deus o que ela deve ter feito para o pobre do policial.
- Acho melhor eu ir embora e deixar vocês resolvendo isso – digo.
- De forma alguma – o senhor Robert diz. – Chega de palhaçada! É com você que meu filho
quer ficar, foi por minha culpa que ele se casou com ela e eu não vou permitir que ela atrapalhe a
felicidade de vocês nem mais um dia.
- Mas senhor Robert...
- Só Robert, Ana. Você faz parte da família agora.
Ele coloca a mão em meu ombro e sorri. A única coisa que eu posso fazer é sorrir de volta.
- Você prefere que eu vá embora? – pergunto baixinho para o Roberto.
- Não. Meu pai está certo.
Nós três entramos para falar com o policial que foi desacatado e com o delegado e ele diz
que Hilary foi assaltada e enquanto ele tentava ajudá-la, ela deu um tapa em seu rosto.
- E o que nós precisamos fazer para tirá-la daqui? – Roberto pergunta.
- Certamente pagar a fiança, mas creio que o ideal seria deixá-la passar pelo menos uma
noite aqui. Ela está um pouco descontrolada e parece que não aprendeu ainda que não pode sair
batendo nas pessoas.
- Olha, senhor, ela é americana e não ficará no país por muito tempo – o senhor Robert diz.
– Ela é esposa do meu filho e eles já estão assinando o divórcio. Assim que estiver tudo certo, ela
vai embora. Eu garanto ao senhor que ela não vai causar mais transtornos enquanto estiver aqui.
Eu me responsabilizo por ela.
O delegado olha para o policial que concorda com a cabeça.
- Está bem. Vou deixar você levá-la. Silva, vá buscar a moça.
Assim que Hilary entra na sala onde estamos, ela começa a gritar e o policial é obrigado a
segurá-la.
- O que essa piranha está fazendo aqui? Você estava com ela esse tempo todo, não é,
Roberto? Por isso que seu telefone estava desligado, seu miserável!
O senhor Robert se aproxima dela e diz com toda a calma do mundo, enquanto ela se
debate:
- Primeiro, pare de se sacudir. Você não é criança. Segundo, você tem duas opções agora,
Hilary: deixar o Roberto e a Ana em paz e vir ficar hospedada na minha casa enquanto seu
divórcio não sai ou continuar presa aqui. Esses dois senhores não estão muito contentes em te
liberar e eu tive que me comprometer a ser responsável por você.
- Eu não vou admitir isso, Robert!
Ela volta a se sacudir e o senhor Robert diz em português:
- Pode levá-la de volta. Não vou pagar a fiança dela.
O policial começa a arrastá-la para fora da sala e ela diz:
- Tudo bem! Eu concordo! Só me tire logo daqui!
- Espere, por favor. Nós vamos levá-la – o senhor Robert diz.
Hilary fica quieta e o policial a larga. Nós saímos da sala civilizadamente, Roberto paga a
fiança dela e nós saímos da delegacia. O senhor Robert abre a porta do carro dele, Hilary entra e
ele nos diz:
- Vou pedir para a Rute arrumar as coisas dela e levar tudo para minha casa amanhã.
Preciso que você vá até lá durante a semana, quando ela estiver mais calma, para termos uma
conversa definitiva.
- Está bem, pai. Obrigado.
- É o mínimo que eu posso fazer. Tenham uma boa noite.
Roberto e eu entramos no meu carro e ele dirige de volta para o meu apartamento.
- Você quer conversar sobre o que aconteceu? – pergunto.
- Eu estou exausto, Ana. Não aguento mais isso.
Eu o abraço e ele começa a chorar.
- Vai ficar tudo bem, querido.
- Não vai não. Ela não vai me deixar em paz nunca. E o meu maior problema não é ter que
lidar com ela, meu maior problema é perder você. Eu sei que a qualquer momento você vai desistir.
Você é jovem, bonita, inteligente e definitivamente não precisa passar por isso.
Fico em silêncio e ele continua:
- Vou voltar para o meu apartamento. Nós nos falamos depois – ele abre a porta do carro e
eu seguro seu braço.
- Você quer mesmo ir embora?
- Você quer que eu fique?
- Roberto, eu te amo. É claro que eu quero que você fique.
Ele dá um sorriso triste.
- Está bem. Vamos.
Nós vamos direto para o meu quarto, trocamos de roupa e voltamos para cama, mas não
conseguimos dormir. Ficamos lá, abraçados e em silêncio até amanhecer. Eu me sento na cama e
pergunto:
- Você quer tentar dormir mais um pouco?
- Não, não vou conseguir.
- Vou preparar um café, então.
Levanto e vou para cozinha. Logo depois, Roberto aparece e se senta em um dos bancos que
temos em volta da ilha. Assim que o café fica pronto, coloco uma xícara para ele, outra para mim e
me sento de frente para ele.
- Eu prometo que não vou ficar com mais ninguém, se você também não ficar – digo.
- Eu não fiquei com ninguém, Ana. Todos aqueles encontros eram de mentira, só para te
deixar com ciúme.
- O quê?
Ele dá um sorriso desanimado.
- Desculpe por ser tão bobo.
- O meu chupão também era de mentira – digo rápido para ele ver que não é o único.
- Era maquiagem?
- Não, era um chupão de verdade, mas foi a Alice quem fez – ele arregala os olhos para
mim. – Eu a convenci a fazer para você achar que eu também estava saindo com outras pessoas
depois que vi como você ficou furioso com aquele cara no restaurante.
Ele estica a mão para mim e eu a seguro.
- E o que você viu no bar também não é exatamente o que você está pensando – continuo.
- Eu não quero falar sobre isso. Prefiro esquecer que esse dia existiu.
- Gabriel e eu não fizemos sexo.
- Ana, você não precisa mentir. Eu o vi tirando a camisinha e jogando no lixo.
- Nós nos beijamos e...
- Por favor, eu não quero saber.
- Você tem que saber. Nós nos beijamos e eu realmente ia fazer sexo com ele, mas assim que
ele me penetrou, eu pensei em você, em como você fazia eu me sentir e vi que estava errada. Eu
pedi que ele parasse e por isso eu sai correndo de lá.
Roberto respira fundo e faz carinho na minha mão.
- Eu não quero falar sobre isso, Ana.
- Mas não aconteceu nada.
- O que aconteceu foi o suficiente para me magoar. Eu entendo que você estava com muita
raiva e talvez eu até fizesse o mesmo se eu estivesse no seu lugar, mas eu nunca vou esquecer o
que eu vi, infelizmente. Pensar que as mãos de outro homem estavam tocando você enquanto eu
estava ali tentando te pedir perdão é muito doloroso e eu vou lembrar disso para o resto da
minha vida.
- Eu sinto muito.
- Eu sei que sente. E é por isso que eu continuo aqui, tentando fazer você ficar comigo.
- Eu quero que você me conte tudo sobre o divórcio.
- É basicamente aquilo que você leu no documento. Aos poucos ela vai perdendo todos os
benefícios extras que eu estou oferecendo. E em algum momento, querendo ou não, ela vai ter que
assinar. Quando ela finalmente decidir, eu vou ter que ir aos Estados Unidos, pois o casamento foi
lá, e meu advogado disse que consegue que o documento seja oficial em uma semana. Depois
disso, estarei livre para fazer o que quiser.
- E eu vou ficar com você o tempo que isso levar, se você quiser ficar comigo – digo sorrindo,
mas ele não parece se animar.
- Isso pode levar anos, Ana. O que nós vamos fazer? Ser amigos até lá? Quanto tempo você
vai aguentar isso?
- Não. Nós vamos ser o que costumávamos ser. Nós já nos escondíamos mesmo. Mas assim
que o divórcio sair, eu quero ter um relacionamento normal. Vou procurar outro emprego e aí não
teremos mais problemas.
Agora sim ele parece se animar.
- Você tem certeza disso? Absoluta? Não quer pensar mais um pouco? Não me dê
esperanças se você não tiver certeza, Ana.
- Eu tenho certeza absoluta!
Roberto se levanta, dá a volta na ilha, me pega no colo e me dá um beijo estalado.
- Eu te amo – ele diz e me leva de volta para o quarto.
Roberto e eu passamos o resto do feriado juntos e, por incrível que pareça, Hilary não
telefona para ele nem uma vez. Na quinta-feira, vamos trabalhar juntos e Roberto vai direto falar
com o pai dele. Minutos depois, o telefone da minha sala toca:
- Alô?
- Ana, o senhor Robert está pedindo para você ir até a sala dele – diz Márcia.
- Está bem, obrigada.
Vou até lá e assim que eu entro, Roberto bate a mão no espaço vazio ao seu lado no sofá.
- Bom dia – digo.
- Bom dia, Ana. O Roberto me falou que você sabe da história toda e que vocês decidiram
ficar juntos esperando o divórcio sair, certo?
- Sim.
- E ele também me disse que você vai procurar outro emprego.
- Sim, senhor. Eu sei que o nosso relacionamento é contra as normas da empresa, mas o
Roberto é mais importante para mim. Emprego, eu posso arrumar em qualquer lugar.
- Muito bem. Vou pedir para a Márcia providenciar uma carta de recomendação em meu
nome e enviá-la para todas as empresas que temos contato. Isso te ajuda?
- Muito. Obrigada!
- Bem, nós dois combinamos que Roberto passará lá em casa hoje e eu sugeri que você fosse
também, mas ele disse que você faz algo com suas amigas às quintas. Amanhã você estará
disponível?
- Sim, mas eu não acho certo eu participar das decisões do divórcio do Roberto, senhor. Se
eu estiver lá, vou me sentir ainda pior por estar no meio dessa situação.
Ele sorri.
- Nada disso é culpa sua, Ana. O Roberto é que é um preguiçoso e esperou tantos anos para
fazer a coisa certa. Bom, então seremos você, Hilary e eu – ele se dirige ao filho. – Espero você
mais tarde.
- Estarei lá – Roberto diz, se levanta e estica a mão para mim. – Vamos?
Nós voltamos para nossa sala e começamos a trabalhar. No fim do expediente, vou para o
bar de sempre encontrar as meninas. Lívia para variar é a última a chegar.
- Qual é sua cor preferida? – Giulia me pergunta.
- Verde. Por quê?
- Por nada... E você gosta mais de verde claro ou verde escuro?
- Mas de onde veio isso, Giulia?
- Só curiosidade.
- Escuro. Agora que já estão todas aqui, tenho uma novidade: Roberto e eu decidimos ficar
juntos, esperar o divórcio e assumir para todos o nosso relacionamento.
Elas batem palmas, mas não ficam tão surpresas e animadas como achei que ficariam. Giulia
dá uma cotovelada na Clara e ela me pergunta:
- Quais são suas flores preferidas?
- Gente, mas que perguntas ridículas são essas?
- É que a Giulia está fazendo uma pesquisa para o trabalho e todas nós já respondemos, só
falta você – diz Alice.
- Pergunta logo tudo de uma vez então, Giulia.
Minha amiga me faz várias perguntas descabidas e eu não consigo nem imaginar qual o tipo
de projeto ela está desenvolvendo.
- Sabe no que eu também estou pensando? – Giulia diz. – Onde passar a minha lua de mel
quando Breno e eu nos casarmos. Para onde você iria, Ana?
- E aquele seu caderninho onde você anota essas coisas? Eu tenho certeza que sua lua de
mel está planejada desde que você beijou o Breno pela primeira vez.
Todas nós rimos.
- É claro que sim, mas eu estou procurando ideias novas.
- Eu iria para alguma ilha na Ásia – diz Alice.
- Eu gostaria de conhecer meu país primeiro antes de conhecer outros lugares – digo. – Mas
uma ilha com certeza seria legal.
Giulia sorri e anota alguma coisa em seu celular.
- Foi ótimo, meninas, mas agora eu preciso ir – ela diz.
- Mas já? Eu acabei de chegar – diz Lívia.
- Eu tenho um compromisso com o Breno e não posso me atrasar. Nós nos vemos na semana
que vem.
Ela se despede e vai embora. As outras meninas e eu ficamos mais um pouco, mas também
vamos embora cedo.
No caminho de volta para casa, pergunto à Lívia:
- Você voltou a sair com o Cadu?
- Não. Por quê?
- Porque você quase não ficou em casa no carnaval e eu sei que você não estava pelos
blocos se divertindo.
- Eu tenho outros amigos, sabia?
- Hm... Sabia...
Deixo isso para lá, pois sei que ela está mentindo e não quero discutir agora. Assim que
entramos em casa, meu celular toca e é a Clara.
- Oi – digo. – Está tudo bem?
- Sim. Qual o estado do Brasil que você mais gostaria de conhecer?
- Não sei... Acho que a Bahia. Por quê?
- Por nada, amiga. Um beijo.
Ela desliga o telefone e eu fico sem entender nada. Tomo um banho e quando estou voltando
para o quarto, a campainha toca. Abro a porta e vejo Roberto com o maior sorriso do mundo. Ele
me abraça, me pega no colo, me dá um beijo e me leva para o quarto.
- E aí, como foi?
- Insuportável, como sempre, mas ela decidiu assinar, Ana!
- Jura?
Meu coração parece que vai sair do peito.
- Sim. Ela vai voltar para os Estados Unidos amanhã à noite. Meu advogado vai preparar o
documento definitivo e nós assinaremos na semana que vem no escritório dele.
- Então você também vai para lá? Vocês vão ficar sozinhos na mesma casa?
Confesso que fico com ciúme.
- Sim, eu tenho que ir para dar entrada no divórcio lá, não basta só assinar o documento. E
não, nós não vamos ficar sozinhos. Primeiro, porque ela decidiu se mudar para Nova York e ficar
com o apartamento de lá. Segundo, porque eu vou levar você comigo.
Roberto
Quando saímos da delegacia e voltamos para o apartamento da Ana, eu estou tão cansado
emocionalmente que não quero ter que implorar mais para ficar com ela, mas me surpreendo
quando ela diz que quer que eu fique. Uma chama de esperança toma meu coração.
Nós mal conseguimos dormir o resto da noite e na manhã seguinte, temos a temida conversa
para decidir o que faremos com nossas vidas. Ana me conta que o chupão foi feito pela Alice e eu
fico aliviado. Ela também me diz que não fez sexo com o garçom do bar, mas eu fico em dúvida se
ela está dizendo isso para fazer eu meu sentir melhor ou se realmente não aconteceu. No fim das
contas, não vai fazer diferença para mim. Só o fato de ele a ter beijado já seria o suficiente para
acabar comigo.
Ana pede e eu conto a ela sobre o divórcio. Ela diz que vai esperar comigo e eu aviso que
pode levar anos para sair, mas ela parece realmente decidida a não abrir mão de nós dois.
- Você tem certeza disso? Absoluta? Não quer pensar mais um pouco? Não me dê
esperanças se você não tiver certeza, Ana.
- Eu tenho certeza absoluta!
Sorrio para ela, o amor da minha vida, a mulher que faz eu me sentir completo e que me faz
querer ser, a cada dia, um homem melhor. Pego-a no colo e a levo de volta para o quarto depois
de dizer que a amo.
Ana e eu fazemos amor sem pressa e logo depois ela pega no sono. Eu também gostaria de
dormir um pouco depois da noite mal dormida, mas preciso planejar como farei para tê-la em
minha vida para sempre.
Saio do quarto e vou atrás da Lívia. Conto para ela o que estou planejando e ela liga
imediatamente para Giulia, pois diz que ela é a melhor pessoa para fazer o que eu tenho em
mente. Giulia se empolga com a minha ideia e concorda em ajudar.
- Eu vou falar com as outras meninas e tenho certeza de que todas vão fazer o que puderem
também. Não se preocupe! Vai dar tudo certo e a Ana vai amar, Roberto – diz Lívia depois que eu
devolvo seu celular.
- Obrigado pelo apoio.
- Você sabe que eu estou fazendo isso por ela e não por você, não é?
“Mas que grossa!”
- Você sabia que você e o Cadu nasceram um para o outro, não é? Você é tão delicada
quanto ele.
Lívia ri.
- Desculpe, minha intenção não era te ofender, mas é a verdade.
- Não tem problema. Eu entendi. Vou voltar para o quarto antes que ela acorde.
- Vai sim – ela diz sorrindo.
Ana e eu vamos a alguns blocos juntos e à praia todos os dias. Eu não gosto muito da
multidão durante o carnaval, mas ela está tão feliz e se divertindo tanto que eu nem me importo
com os empurrões.
Voltamos ao trabalho juntos e depois de deixá-la em nossa sala, vou ver meu pai.
- Bom dia, pai. Como estão as coisas?
- Meu Deus, Roberto! Como você aguentou aquela garota todos esses anos? Ela reclama de
tudo!
- Era mais fácil quando eu não morava com ela – digo rindo.
- Bem, eu conversei com ela e propus melhorarmos o contrato para ela. Ela pareceu
satisfeita, mas de qualquer forma o casamento é seu e você é quem vai ter que resolver isso. Acho
que vocês deveriam passar lá em casa hoje mesmo e acabar com isso logo de uma vez.
- Ana e eu?
- Sim, por que não?
- A Ana não pode hoje. Ela encontra com as amigas dela toda quinta. É algo meio que
sagrado.
- E ela não pode perder um encontro?
- Até pode, mas esse em especial não.
Conto para ele o que estou planejando com as amigas dela.
- E hoje elas vão tentar descobrir o que Ana gosta, então ela realmente tem que ir.
- Bem, ou você vai sozinho hoje ou vão os dois juntos amanhã.
- Acho melhor perguntarmos se ela quer ir antes de decidirmos.
- Está bem.
Meu pai pede para a secretária ligar para Ana e ela entra na sala minutos depois. Nós três
conversamos e como eu supunha, ela não quer fazer parte disso. Depois de tudo decidido,
começamos a trabalhar. Quando Ana vai encontrar as amigas, eu vou para o bar que combinei de
encontrar a Giulia assim que ela tivesse todas as informações. Menos de uma hora depois, ela
aparece.
- Que bom que você chegou! Foi rápido! Ela desconfiou de alguma coisa? – pergunto.
- Acho que não.
- Você quer beber alguma coisa?
- Não, obrigada. Eu tenho que voltar logo para casa e começar a planejar tudo.
Ela me conta que está tudo sob controle e que conseguiu todas as informações que
precisava.
- E o vestido? – pergunto.
- Ai, meus Deus! Me esqueci disso! Mas vou pedir a uma das meninas para perguntar a ela.
Acho que o ideal seria fazer pelo menos dois modelos diferentes para ela escolher.
- O que você achar melhor.
- E o orçamento? Qual valor você tem disponível?
- Quanto você precisar gastar para deixar tudo perfeito.
- Perfeição é comigo mesmo – ela diz e sorri. – Então tudo certo. Nós vamos nos falando por
telefone.
- Eu não sei nem como te agradecer, Giulia.
- Não precisa. Eu faço pela felicidade da Ana.
“Será que todas elas são grossas assim?”
- De qualquer forma, obrigado.
- De nada. Eu te ligo na semana que vem.
Ela se levanta me dá um beijo no rosto e vai embora. Do bar, vou para casa do meu pai,
conforme combinamos de manhã. Chego lá e encontro os dois sentados na sala esperando por mim.
- Boa noite – digo, mas apenas meu pai responde.
Os dois se levantam e nós vamos para a sala de jantar. Meu pai entrega uma cópia do
documento de divórcio para mim e outra para a Hilary.
- Todos nós sabemos que esse casamento foi um erro desde o primeiro dia – meu pai diz – e
eu gostaria de pedir desculpas, pois eu fui o culpado, obrigando vocês dois a ficarem juntos. Já
passou da hora dos dois serem felizes e é por isso que eu tomei uma decisão. Hilary, como eu já te
disse antes, se você concordar em voltar para os Estados Unidos e assinar o divórcio semana que
vem, você pode escolher quais propriedades e bens da família você quer para você e além do
que o Roberto já custeia mensalmente, eu me comprometo a dar outros 100 mil dólares por mês até
o dia que você decidir se casar novamente.
- Mas pai...
- Sem mais nem menos, Roberto. O dinheiro é meu, as propriedades são minhas e eu vou
fazer o que eu quiser.
- Isso vai constar no novo documento de divórcio? – Hilary pergunta.
- Sim.
- Então, eu assino.
- Vamos ver o que você quer da lista que o Roberto te ofereceu.
Meu pai, que não é bobo nem nada, não fez uma nova lista com todas as propriedades da
nossa família. Assim, ele deixa de fora da vista da Hilary mais da metade do nosso patrimônio.
Hilary lê o documento e algum tempo depois diz:
- Eu quero o apartamento de Nova York, a casa em Malibu e quero continuar com todas as
joias.
- Você não vai querer morar em Bel Air? – pergunto.
- Não... Eu odeio aqueles vizinhos que só sabem tomar conta da vida dos outros o dia inteiro.
Vou me mudar para Nova York assim que voltar para os Estados Unidos.
- Você quer mais alguma coisa, Hilary? – meu pai pergunta.
- Sim. Eu aceito que você pare de depositar o dinheiro extra se um dia eu me casar, Robert,
mas eu quero que o Roberto continue me dando o que eu tenho direito para sempre, independente
do meu estado civil.
“Qualquer coisa para me livrar dela!”
- Eu concordo – digo.
- Perfeito – meu pai diz. – Quando você quer voltar para os Estados Unidos, Hilary?
- Amanhã mesmo. Não aguento mais ficar nesse país nojento.
Controlo minha vontade de enforcá-la estalando os dedos das minhas mãos.
- Certo. Vou providenciar uma passagem para você e pedir que uma empresa faça sua
mudança com você no domingo. Está bem?
- Sim.
- Ótimo. Você poderia me deixar a sós com meu filho?
Hilary se levanta emburrada e sai da sala.
- Pronto! Em breve você será um homem livre para fazer o que quiser da sua vida.
- Obrigado, pai.
- É o mínimo que eu posso fazer.
- Como o senhor conseguiu convencê-la?
- Convencendo a mãe dela de que as duas perderiam tudo se ela não convencesse a filha a
assinar logo o divórcio.
“É claro! A Hilary faz tudo o que mãe manda.”
- Muito bem pensado.
- Eu vou entrar em contato com o advogado pedindo para ele consertar a documentação.
Que dia da semana que vem está bom para você ir ao escritório dele?
- Se a Hilary vai se mudar no domingo, eu posso ir para casa na segunda e levar a Ana
comigo. Terça ou quarta está bom para mim.
- Vou pedir para ele agendar com o advogado da Hilary. Quer jantar aqui conosco?
- Deus me livre! Vou voltar para casa da Ana. Quero ver se ela realmente não está
desconfiada do que as amigas dela e eu estamos fazendo.
- Eu estou orgulhoso de você, filho.
Eu sorrio, me levanto e o abraço. Vou embora sem nem me despedir da Hilary e vou direto
para casa da Ana. Conto para ela o que aconteceu e vejo que ela fica preocupada mesmo antes
que ela diga:
- Então você também vai para lá? Vocês vão ficar sozinhos na mesma casa?
“Ah, Ana... Como eu te amo!”
- Sim, eu tenho que ir para dar entrada no divórcio lá, não basta só assinar o documento. E
não, nós não vamos ficar sozinhos. Primeiro, porque ela decidiu se mudar para Nova York e ficar
com o apartamento de lá. Segundo, porque eu vou levar você comigo.
Ana arregala os olhos para mim.
- Mas como? Eu não tenho visto.
- Separe sua documentação. Amanhã mesmo nós tiraremos um para você.
- Essas coisas não demoram para sair?
- Normalmente sim, mas eu tenho cidadania americana, a empresa no nome da minha família
e estou disposto a pagar por um visto emergencial, pois é muito importante que a minha
funcionária viaje comigo a trabalho.
Ela sorri.
- E quando nós viajaremos?
- Na segunda-feira. Já pode começar a arrumar suas coisas.
- Agora é inverno lá, não é?
- Sim. E faz muito frio. Você tem roupas para inverno de verdade?
- Claro que não. Eu nunca saí do Brasil.
- Então nós faremos o seguinte: depois de dar entrada no visto amanhã, compraremos
algumas coisas para você não congelar quando chegarmos. O resto compraremos lá. A qualidade
é muito melhor. Nós não ficaremos muitos dias. Creio que duas semanas no máximo. Faça uma mala
com poucas coisas, pois acho que você não vai conseguir vesti-las lá.
Ana me abraça e eu a beijo.
- Eu preciso comprar logo nossas passagens para mostrar que temos uma data fechada
para ida e volta. Vai facilitar o visto. Posso usar seu computador?
- Claro. Vou ligar para minha mãe para contar da viagem – ela diz animada.
- Você falou para sua mãe que eu sou casado?
- Não. Ela não sabe nem que nós terminamos. Toda vez que nos falávamos, eu dizia que nós
estávamos bem. Inclusive, ela mandou vários beijos para você.
- Ana... Nós vamos ter que contar a verdade para ela em algum momento.
- Por quê?
- Porque eu não quero que nosso relacionamento tenha mais mentiras. Sua mãe precisa saber
o que aconteceu.
- Ah, Roberto! Isso vai ser um problema enorme. Será que nós não podemos deixar isso entre
nós?
- Não. Mas nós podemos contar depois que tudo estiver resolvido. Assim não deixamos ela
preocupada. E nós temos que contar também que eu sou o seu chefe.
Ana bufa.
- Está bem, mas você vai comigo.
- É claro que vou, meu amor.
Nós vamos para o quarto, eu me sento para usar o computador e Ana sai com o telefone na
mão. Compro nossas passagens e planejo mentalmente como incluir a mãe da Ana em meus planos.
De acordo com meus cálculos, se a Hilary assinar o documento na quarta, uma semana depois eu
estarei livre dela, nós podemos voltar para o Brasil na quinta, falar com a mãe da Ana na sexta e
terminar tudo na segunda.
“Isso mesmo!”
Pego meu celular e mando uma mensagem para Giulia.
Já defini a data! Daqui a três semanas, na segunda-feira às 18h.

Alguns minutos depois, ela me responde.

Tudo estará pronto até lá!


Capítulo 14

“O amor é um furacão, surge no coração sem ter licença pra entrar, tempestade de desejos, um eclipse
no final de um beijo. O amor é estação, é inverno, é verão, é como um raio de sol que aquece e tira o
medo de enfrentar os riscos, se entregar.”
Amar é... – Roupa Nova
Ana
Não consigo acreditar que o Roberto realmente vai se separar e que eu vou viajar para os
Estados Unidos. Ligo para minha mãe e conto para ela que vou fazer a viagem por causa da
empresa, mas que vou com o Roberto. Ela fica muito preocupada e diz que tem certeza absoluta
que o avião vai cair.
“Só minha mãe mesmo!”
Assim que desligo o telefone vou para o quarto da Lívia contar a novidade.
- Mas assim tão rápido? O que o pai dele fez para ela concordar?
- Eu não sei, ele não me contou ainda.
- Você vai precisar de roupas de inverno. Eu posso te emprestar algumas se você quiser.
- Roberto disse que nós vamos ficar no máximo duas semanas e que é melhor comprar
roupas novas lá do que aqui.
- Ele está certo. Mas é melhor você levar algo para os dois ou três primeiros dias para não
ter que sair correndo para fazer compras. Vem, deixa eu te mostrar o que eu tenho aqui.
Vamos para o closet dela e ela tira caixas da prateleira mais altas e alguns cabides com
capas.
- Vocês pretendem esquiar?
- Não sei... Ele não disse nada, mas nós não estamos de férias. Não sei se teremos muito
tempo livre.
- De qualquer forma, você pode comprar lá.
Lívia me mostra vários casacos, sweaters, calças e roupas térmicas para usar por baixo da
roupa de verdade. Eu pego emprestado uma calça e uma blusa térmica, duas calças, dois sweaters
e um casacão preto que ela diz que é mais quentinho.
- Você quer toucas e cachecóis também?
- Isso eu tenho.
- Não é a mesma coisa, Ana. Os que nós encontramos aqui são mais finos e geralmente não
esquentam o suficiente. A não ser que você tenha comprado em uma loja específica de roupas de
inverno.
- Não...
- Então... Escolha pelo menos um de cada e lá você compra o que gostar.
Faço o que ela sugere e levo tudo para o meu quarto.
- O que é isso? – Roberto pergunta.
- Lívia me emprestou roupas para os dois primeiros dias. Chega a estar me dando coceira
nos braços de tão quente que elas são.
Ele sorri, se levanta e me abraça.
- As passagens já estão compradas. Nós iremos na segunda-feira no voo da manhã.
- Ótimo!

No dia seguinte, nós vamos à embaixada e o Roberto consegue um visto emergencial e


temporário para mim, do jeito que ele disse que conseguiria. Deixamos meu passaporte lá e
combinamos de pegar de volta antes de ir para o aeroporto na segunda-feira. De lá, vamos para
o trabalho e depois passamos no apartamento do Roberto para pegar umas coisas dele.
- Você acha que nós deveríamos ficar aqui em casa agora que meu pai sabe que nós
estamos juntos? – ele pergunta.
- Não sei... Nós podemos ficar alguns dias aqui se você quiser, mas não todos os dias. Eu não
quero deixar a Lívia sozinha por muito tempo.
- Está bem. Quando voltarmos de viagem decidiremos isso. Vou arrumar algumas coisas e nós
voltaremos para o seu apartamento.
Espero por ele sentada na beira da piscina e tiro meus sapatos para molhar meus pés. Vinte
minutos depois, Roberto aparece com uma mala de mão.
- Vamos?
- Você vai levar só isso?
- Eu tenho muitas roupas lá. Não preciso levar quase nada.
Roberto e eu jantamos na rua e depois vamos para minha casa. No sábado, nós vamos
almoçar com a minha mãe, que ainda está apavorada com a viagem repentina. Por incrível que
pareça, Roberto consegue acalmá-la um pouco. Nós passamos o dia inteiro lá com ela e meu irmão.
No domingo, arrumo minha mala com tudo que vou precisar, por mais que o Roberto tenha
dito que eu não preciso levar shampoo e outros produtos de higiene.
Estou muito empolgada! É a primeira vez que eu faço uma viagem para fora do meu país. É
também a primeira vez que eu entro em um avião. Todas as viagens que fiz foram de carro ou de
ônibus.
A segunda-feira de manhã é bem corrida. Mal tenho tempo de me despedir da Lívia, pois
temos que pegar meu passaporte com o visto antes de embarcarmos. Graças a Deus dá tudo certo
e eu começo a ficar nervosa quando chamam o nosso voo. Roberto logo se levanta e nós vamos
para uma fila bem pequena com nossas bagagens de mão.
Acho muito estranho quando entramos e vejo os assentos que viram camas.
“Quem é que consegue dormir no meio de uma viagem assim?”
Roberto entrega nossas malas para a aeromoça que as guarda no compartimento de
bagagem de mão. Nossas poltronas são coladas uma na outra e a única coisa que as separa é um
frigobar retangular.
Nós nos sentamos e Roberto segura minha mão.
- Você está bem?
- Sim. Por quê?
- Não é todo mundo que se acostuma a voar logo na primeira viagem. Se você se sentir mal,
me avise, está bem?
Não entendo o que ele quer dizer na hora, mas assim que o avião decola me dá um
desespero tão grande que eu acho que vou morrer. É um frio na barriga terrível e eu só consigo
pensar que se algo acontecer, nós não teremos como fugir ou para onde correr.
Roberto percebe meu desespero e pergunta:
- Você quer beber ou comer alguma coisa para tentar se acalmar.
- Não! Acho que vou vomitar se eu colocar alguma coisa no estômago. A Lívia me deu um
calmante e disse para eu tomar se não me sentisse bem. Ela disse que sempre toma antes de viajar
e fica mais tranquila, mas que não dorme.
- Se ela não dorme, provavelmente o remédio não é muito forte. Você já tomou esse tipo de
remédio alguma vez?
- Não.
- Então se você quiser mesmo tomar, sugiro que você tome só a metade. Nunca se sabe como
isso vai funcionar no seu organismo.
Sigo o conselho dele e 15 minutos depois, estou completamente zonza e enrolando as
palavras de tanto sono.
Acordo com Roberto fazendo carinho no meu rosto, mas minha cabeça dói muito e por mais
que eu esteja morta de sede, não quero acordar ainda.
- Nós chegamos, querida. Você precisa levantar ou eles vão achar que eu te dopei.
- Eu não quero mais ir... Pode ir você sozinho. Eu vou voltar para casa.
Roberto ri tão alto que eu me assusto e acabo despertando.
- O que foi?
- Que merda foi essa que a Lívia te deu?
- Do que você está falando? E por que você está gritando?
- Ana, meu amor, eu não estou gritando. Você ainda está sob efeito do remédio. Nós
precisamos descer do avião e você precisa fazer isso andando.
- Descer para onde?
- Nós já chegamos.
- Nos Estados Unidos?
- Sim – ele diz rindo. – E nós temos que fazer a conexão.
- E você me deixou dormir esse tempo todo?
- Claro. Você estava linda roncando.
- Mentira! Eu não ronco.
- Quando chegarmos em casa, eu vou te mostrar o vídeo.
- Você fez um vídeo comigo roncando? – pergunto indignada.
- Ana, nós precisamos ir. Nós conversamos no caminho.
Nós desembarcamos e quarenta minutos depois pegamos outro voo. Como ainda estou muito
sonolenta, volta a dormir assim que termino de comer. Roberto me acorda outra vez quando
chegamos a Los Angeles.
Como nossas bagagens são de mão, não precisamos esperar para sair do aeroporto, apenas
passar pela imigração, que não está com uma fila muito grande. Roberto me diz para colocar o
casaco, o cachecol e a touca antes de sairmos, por mais que eu não esteja sentindo frio.
Tudo muda quando coloco os pés do lado de fora e começo a sentir dor nos ossos. Além de
a temperatura ser muito mais baixa do que o inverno do Rio, aqui é um frio seco e chega a doer.
Nós pegamos um táxi para ir para a casa do Roberto e assim que saímos do aeroporto, começo a
ver neve por todos os lados, exceto no meio da rua.
Roberto me diz que eles têm máquinas que limpam as estradas e empurram a neve para
perto da calçada, por isso que há essas minimontanhas de gelo em todos os lugares.
É a coisa mais linda que eu já vi na vida! Os telhados todos branquinhos e a cidade toda
iluminada.
- Você está com frio? – Roberto pergunta. – Eu posso pedir para ele aumentar o aquecedor.
- Não, eu estou bem.
- Está se sentindo melhor ou o remédio ainda está fazendo efeito?
- Ainda estou um pouco tonta, mas está melhorando.
Não sei quanto tempo depois, Roberto pede, em inglês, ao motorista para entrar pelo portão
que ele abre com um controle eletrônico ou invés de nos deixar do lado de fora.
Assim que passamos pelas grades, eu entendo que é por que eu provavelmente morreria de
frio fazendo todo esse percurso a pé. O taxista para de frente para a maior casa que eu já vi.
Maior até que a casa dos pais da Lívia em Búzios. A casa é toda branquinha com as janelas e
porta pretas e há neve por todo o quintal. Apenas o caminho até a porta está limpo.
Assim que eu abro a porta do táxi começo a sentir frio outra vez. Roberto paga o taxista,
tira nossas malas do carro e vai na minha frente para abrir a porta. Depois que ele a abre, sai da
frente para que eu entre primeiro.
- Seja bem-vinda! – ele diz sorrindo.
Eu entro, praticamente correndo, e por mais que todas as luzes estejam apagadas, a casa
está quentinha.
- Como pode estar quente aqui dentro?
- O sistema de aquecimento está ligado. Eu avisei ao jardineiro que nós viríamos e ele deixou
tudo preparado.
- Você tem um jardineiro?
- A casa precisa ter alguns funcionários quando eu não estou aqui, Ana. Se não, estaria tudo
destruído depois de tantos anos sem cuidado.
Roberto acende as luzes e eu vejo uma enorme sala de estar, provavelmente maior que todo
o apartamento da minha mãe. O estilo e decoração são as mesmas do apartamento dele no Rio.
Roberto desaparece atrás de uma porta e volta alguns minutos depois.
- Você quer conhecer a casa ou comer primeiro?
- O que nós vamos comer?
- Vou ligar para um restaurante e pedir para eles entregarem.
- Então peça a comida e enquanto nós esperamos, você me mostra a casa.
- Está bem.
Roberto pega o telefone e se afasta outra vez. Eu me aproximo da lareira, que me parece
ser elétrica e não aquelas nós vemos nos filmes que você tem que colocar toras de madeira.
- Vamos? – Roberto pergunta.
No primeiro andar, há, além da sala de estar, uma sala de jantar, um escritório, uma
biblioteca, cozinha, lavanderia, lavabo e vejo pela janela um enorme quintal com uma piscina que
está completamente coberta.
- Por que a piscina está coberta?
- Por que ninguém vai usar nessa época e é perigoso deixar descoberta por vários motivos:
Pode congelar ou a neve pode virar gelo em volta dela e você escorregar e cair lá dentro... Mas
há uma piscina aquecida naquele chalé no fim do quintal, se você quiser dar um mergulho.
Ele sorri e dá um beijo na minha bochecha.
No segundo andar, há seis quartos, todos com banheiro dentro, mais um escritório e um
lavabo. O maior de todos os quartos é onde o Roberto coloca nossas malas.
- Você pode pendurar suas roupas no closet – ele aponta a porta para mim. – Amanhã nós
sairemos para comprar roupas para você. Eu vou descer para arrumar a mesa. O que você quer
beber?
- O que você pediu para comer?
- Tortellini al Prosciutto Crudo.
- E o que é isso?
- Uma massa recheada com um tipo de presunto e molho de queijo parmesão. Você vai
gostar.
- Vinho tinto, então?
- Certamente, madame – ele abaixa o corpo fazendo um gesto engraçado. – Estou te
esperando lá embaixo. Não demore.
Coloco minha mala sobre a cama e tiro tudo de dentro dela. Levo aos poucos minhas coisas
para o closet e começo a arrumá-las no lado que está vazio. Não consigo deixar de pensar que
esse era o lado da esposa dele e que há bem pouco tempo as coisas dela estavam aqui.
“Meu Deus! Será que eu sou a culpada pelo fim do casamento deles?”
Acho que esse pensamento nunca vai me abandonar. Em cima de uma das poltronas, vejo
que há um envelope. Na frente dele está escrito apenas o nome do Roberto. Não consigo controlar
minha curiosidade e abro para ver o que tem dentro. Há uma folha de papel e nela está escrito:

I have never loved you and she will never love you either.

“Eu nunca te amei e ela também nunca não te amará.”


Só pode ter sido a mulher dele que deixou isso aqui. Eu sabia que ela fazia de tudo para
fazê-lo infeliz, mas deixar uma coisa dessas antes de ir embora é muita maldade.
“Como ela pode ser tão cruel?”
Guardo a carta no meio das minhas coisas até poder jogá-la fora sem que o Roberto veja.
Ele não merece isso. Desço e encontro-o colocando uma toalha na mesa de centro perto da lareira
que agora está acesa. Roberto também acendeu velas e elas estão espalhadas em todos os cantos.
“Como não amá-lo?”
- Você se importa se nós jantarmos aqui?
- Claro que não. Está ótimo! Você precisa de ajuda?
- Você pode trazer o vinho que eu deixei na mesa da cozinha e as taças.
Vou até a cozinha fazer o que ele me pediu e vejo que está nevando. Aproximo-me da
porta de vidro e é simplesmente mágico ver tantos pontinhos brancos caindo do céu. Um deles bate
no vidro e eu tenho vontade de sair para pegá-lo. O formato é exatamente igual àqueles flocos
de neve que vemos nos desenhos e nas decorações de natal. Eu sempre achei que era uma
bolotinha e que aquele formato era apenas uma representação.
Volto para a sala animada feito uma criança e pergunto:
- Você sabia que os flocos de neve têm aquele formato dos desenhos?
Roberto ri.
- Sim.
- Incrível, não é?
- Eu não sou muito fã de neve, Ana. Está nevando agora?
- Sim. Está lindo lá fora.
Roberto para o que está fazendo, abre as cortinas de um janelão de vidro e assim nós
podemos ver o jardim. Eu me sento no divã próximo à janela e continuo admirando aquela
maravilha. Pouco tempo depois, Roberto se senta ao meu lado e me dá um beijo no ombro.
- Amanhã eu te levo para brincar lá fora, está bem?
- Jura?
- Claro que sim.
O interfone toca e Roberto se levanta para atender. Ele leva as embalagens para a cozinha
e eu vou atrás dele para ajudar.
O cheiro da comida é incrível! Eu começo a salivar na mesma hora.
- Mas essa comida não é típica daqui, é?
- Não. A comida aqui não é muito boa. Quero dizer, o gosto é incrível, mas não é saudável. A
culinária americana se baseia em fast food. O bom é que você encontra restaurantes ótimos com a
culinária de outros países aqui, o que não acontece de fato no Brasil.
Roberto coloca nossas porções nos pratos e cada um leva o seu para a mesinha que ele
preparou na sala. Nós nos sentamos no tapete bem perto da lareira e enquanto nós comemos,
pergunto:
- Quais são seus planos enquanto estamos aqui?
- Amanhã vamos acordar tarde, sair para comprar roupas para você e eu vou deixar você
brincar com a neve quando nós voltarmos.
- Ah! Muito obrigada, senhor.
Roberto ri.
- Na quarta, nós vamos ao escritório do meu advogado e se tudo der certo, assinaremos o
divórcio e daremos entrada na papelada. Depois, teremos uma semana livre para fazer o que
você quiser por aqui e voltaremos para o Brasil na quinta.
- E quando nós voltarmos para lá? O que faremos?
- Eu serei um homem livre, você arrumará outro emprego, nós assumiremos nosso
relacionamento e viveremos como um casal de namorados normal.
- Normal? Mas eu gosto de você justamente por que você não é normal...
- É claro que eu sou normal.
- Roberto, quem é a pessoa normal que se masturba no trabalho?
- Um monte de gente.
- Eu só conheço você.
- E já basta, você conheceu o melhor de todos.
Roberto segura minha mão e faz carinho nela.
- Obrigado por não ter me abandonado, Ana.
Ele larga seu garfo e se aproxima de mim engatinhando. Roberto me beija e diz antes de me
deitar no tapete.
- Eu te amo.
Aos poucos, ele vai tirando todas as camadas de roupas que eu estou usando, mas
permanece vestido. Roberto beija meus seios e suga meus mamilos até me deixar completamente
excitada. Depois, ele me faz gozar em sua língua daquele jeito que só ele sabe fazer.
Roberto se senta ao meu lado e me dá um beijo nos lábios. Vejo sua ereção presa em suas
calças, fico de quatro e digo:
- De novo, Roberto. Com seu pau agora.
Ele dá um tapa leve em minha bunda, abre a calça e me penetra.
- Eu adoro quando você fala assim – Roberto diz depois de lamber minhas costas. – Fala
mais, Ana.

Acordo com Roberto beijando meu pescoço.


- Ah, não... Você disse que nós dormiríamos até mais tarde.
- Sim... Mas já são duas da tarde.
- O quê? – sento-me assustada. – Por que você não me acordou antes?
- Eu também estava dormindo, mas nós temos que nos apressar porque daqui a pouco vai
escurecer outra vez e você realmente precisa de roupas para não congelar.
Roberto e eu nos levantamos, tomamos banho e nos arrumamos para sair. Descemos e vamos
até a cozinha para comer alguma coisa e encontramos uma mulher lá.
- Guadalupe? O que você está fazendo aqui? – ele pergunta em inglês.
- Boa tarde, senhor Roberto. A dona Hilary não quis me levar com ela e eu pensei que talvez
o senhor precisasse dos meus serviços aqui – ela fala com um sotaque estranho e sem tirar os olhos
do chão. – Me desculpe, mas eu realmente preciso desse emprego, senhor.
Roberto olha para mim e de novo para a mulher.
- Sente-se, Guadalupe – ela faz o que ele pede e Roberto se senta de frente para ela. – Eu
não vou morar aqui... E eu já tenho o Mike que toma conta da casa.
- Tudo bem... Eu entendo.
- Mas... Eu posso arrumar um emprego para você na empresa onde eu trabalho. Acho que
seria até melhor... Você teria direito a férias, plano de saúde e todos os outros benefícios que eles
oferecem. O que você acha?
Os olhos da mulher brilham de alegria e eu fico orgulhosa dele.
- Muito obrigada, senhor Roberto.
- Tudo certo, então. Essa semana você pode continuar seu trabalho aqui e quando nós formos
embora, você começa na empresa. A propósito, essa é a Ana Luiza, minha noiva.
“Noiva? De onde ele tirou isso?”
Não digo nada para não envergonhá-lo na frente da moça que olha para mim e diz:
- É um prazer conhecê-la, dona Ana Luiza.
- Não precisa me chamar assim... Só Ana está bom. E é um prazer conhecer você também,
Guadalupe.
- O que vocês vão querer para o café da manhã? – ela pergunta e se levanta. – Ou vocês
querem almoçar?
Roberto olha para mim e eu digo:
- Café da manhã.
- Mas algo rápido, Guadalupe – Roberto diz. – Nós estamos atrasados.
Guadalupe prepara ovos mexidos com bacon e panquecas com calda de framboesa. É tudo
uma delícia, mas extremamente calórico e pouco saudável como Roberto disse ontem. Assim que
terminamos de comer, vamos para a garagem e eu não consigo nem reconhecer que tipo de carro
é esse que ele tem aqui.
- E que carro é esse?
- Um Jaguar conversível. Com certeza é muito mais divertido no verão, pois dá para abaixar
o teto.
- Você não tem medo de ser assaltado?
- Aqui não é o Brasil, Ana. Não funciona do mesmo jeito. Aqui, o perigo é mínimo.
- Está bem.
Entro no carro, mas com medo. Roberto entra também e segura minha mão.
- Você quer que eu alugue um carro? Um que seja mais simples para você não ficar com
medo?
- Não. Eu vou ficar bem. Você jura que não é perigoso?
- Juro, amor.
- Então, vamos.
Desde que meu pai morreu naquele maldito assalto, eu sempre tive muito medo de acontecer
o mesmo comigo e carros chamativos sempre foram meu maior problema.
Tento não ficar pensando nisso e Roberto começa a dirigir.
- Para onde estamos indo?
- Rodeo Drive.
- E o que é isso?
- Você não conhece? É um dos lugares mais famosos daqui.
- Nunca ouvi falar.
- É uma rua cheia de lojas e restaurantes em Beverly Hills.
- E onde nós estamos mesmo?
Roberto ri e me dá um beijo.
- Bel Air, Ana.
- Ah é... E isso é muito longe daqui?
- Uns vinte minutos.
Assim que Roberto diz “chegamos” tenho certeza de que isso não foi uma boa ideia.
Enquanto ele procura um lugar para estacionar, digo:
- Eu conheço essas lojas, Roberto, e eu não vou deixar você gastar esse dinheiro todo em
roupas.
- Se você conhece as lojas sabe que elas são de qualidade e que você não vai sentir frio
com as roupas que compraremos nelas.
- Sim, mas eu tenho certeza que há roupas boas em outros lugares.
- Definitivamente, mas é aqui que nós vamos comprar.
- Mas por quê?
- Porque eu posso e quero te dar o melhor.
“Lindo!”
- Está bem...
Assim que desço do carro, quero voltar para casa. Sinto dor em partes do meu corpo que eu
nem sabia que existiam, tipo a pele do meu cotovelo.
O lugar é deslumbrante. A arquitetura é completamente diferente do que vemos no Brasil,
mesmo que se esteja na Zona Sul. As palmeiras espalhadas dos dois lados da calçada certamente
devem ser ainda mais bonitas e verdes no verão.
- Você já assistiu ao filme “Uma linda mulher”?
- Sim, há muito tempo e uma vez só. Por quê?
- Uma vez só? É um clássico, Ana! Nós vamos assistir juntos. Então... Lembra quando a Julia
Roberts sai para comprar roupas e as vendedoras a tratam mal, aí depois ela volta com o Richard
Gere e todo mundo a trata bem porque ele é rico?
“Roberto e os filmes dele...”
- Sim e daí?
- É nessa rua! – ele diz animado. – Viu, você conhece!
- Você só está piorando as coisas... Será que pelo amor de Deus nós podemos acabar logo
com essas compras?
- Não. Nós nem começamos ainda.
Depois de mais de três horas e quantias exorbitantes, voltamos para casa com tudo que o
Roberto acha que eu vou precisar nesse tempo que ficaremos aqui. O que incluiu sapatos com
saltos altíssimos e calcinhas praticamente inexistentes, apesar do frio.
Quando chegamos, já está escuro e eu decido deixar para “brincar na neve” amanhã. Já
senti muito frio hoje. Assim que entramos, Roberto pega o telefone e eu começo a subir as escadas,
mas ele pergunta:
- Aonde você vai?
- Guardar as compras.
- Não. Deixe tudo aqui. Estou ligando para a lavanderia. Eles vão lavar tudo, passar e
trazer amanhã de manhã.
- Ah tá.
Volto e deixo as sacolas em uma das poltronas da entrada. Espero Roberto desligar o
telefone e pergunto:
- Você quer que eu prepare alguma coisa para o jantar?
- Deus me livre! Eu te amo, querida, mas cozinhar não é para você.
- Ei! Eu posso aprender!
- Sim, claro que pode, mas nós não temos tempo para isso. O jantar é para hoje ainda.
Ele me abraça.
- Você quer sair para conhecer os meus amigos daqui?
- Claro que não!
- Por que não?
- Porque você ainda é casado e todo mundo vai pensar que eu sou sua amante.
Roberto
“É cada ideia que ela tem...”
- Ana, meu amor, de onde você tirou isso?
- É a verdade, Roberto e eu não vou passar por essa vergonha.
- Você sabe que eu não acho isso, não sabe?
- Sim, mas as outras pessoas vão achar. Eu não quero ir. Se você quiser, pode ir sozinho. Eu
fico aqui assistindo a um filme.
- Claro que não. Eu vou ficar com você.
Ela apenas balança a cabeça e sobe as escadas.
“Será que ela realmente acha que é minha amante?”
Por mais que tecnicamente seja isso, a palavra não se aplica ao nosso caso. Subo atrás dela,
pois tenho certeza que ela não está bem.
- Quer que eu ligue a lareira?
- Não. Quero comer e dormir. Estou cansada.
- Mas, querida...
- Roberto, por favor, não me pressione! Eu não estou bem com essa situação e não quero
brigar com você. Eu me sinto mal com tudo isso, você sabe, eu sei e nós decidimos ficar juntos
mesmo assim. Eu não quero ficar ainda pior.
Se eu estivesse no lugar dela, provavelmente também não me sentira confortável.
- Tudo bem. O que você quer comer? Quer sair... só nós dois?
- Quero um sanduiche bem grande e gorduroso, mas quero comer aqui mesmo.
- Vou ligar e pedir para entregarem.
Ligo do telefone do quarto enquanto Ana está no closet, provavelmente trocando de roupa.
Procuro na TV a cabo o filme que nós falamos mais cedo para alugar e o encontro.
Quando Ana volta vestindo seu pijama, ela se senta ao meu lado, olha para televisão e ri.
- Você não desiste, não é?
- Claro que não!
Nós assistimos ao filme e quando a comida chega comemos na cama. Ana diz que é o melhor
cheeseburguer que ela já comeu na vida e eu concordo com ela até me lembrar do filé com queijo
que é vendido na Big Polis do Leblon.
“Difícil escolher meu preferido...”
Algumas horas mais tarde, pergunto se ela quer sair para conhecer a cidade e beber
alguma coisa, mas ela diz que não e é até melhor mesmo, pois teremos que sair cedo para
encontrar a Hilary e os advogados amanhã.
Quando acordamos na manhã seguinte, as roupas da Ana já estão de volta e eu a ajudo a
colocar tudo no closet antes de começarmos a nos arrumar.
- Você tem certeza que quer que eu vá? Eu não quero provocar sua mulher, Roberto.
- Quantas vezes eu vou ter que dizer que minha mulher é você, Ana? A Hilary é apenas uma
pedra no meu sapato.
Ela esboça um sorriso.
- Está bem.
Uma hora depois, saímos de casa e vinte minutos mais tarde, chegamos ao escritório do meu
advogado. Assim que entramos na recepção, Hilary e o advogado dela se levantam. Ele estende a
mão e cumprimenta a mim e a Ana. Hilary, sempre um poço de simpatia, diz:
- Que bom que você trouxe a meretriz com você!
- Mas o que você pensa... – eu começo, mas Ana aperta meu braço e diz em português.
- Não perca tempo discutindo com ela. É exatamente isso o que ela quer. Entre lá e acabe
com isso de uma vez. Eu vou ficar te esperando aqui fora.
- Está bem. Eu volto o mais rápido o possível.
Tento dar um beijinho em seus lábios, mas ela vira a bochecha para mim.
Eu entro com Hilary e o advogado e ela começa a fazer um escândalo sobre como eu fui
capaz de trazer minha amante para cá. Eu permaneço em silêncio, deixando ela gritar o quanto
quiser e quando ela faz uma pausa, meu advogado diz:
- Podemos começar?
- Sim – o advogado dela responde.
- Primeiro, eu gostaria de deixar claro que a senhora Hilary já concordou em assinar esse
documento e se ele não for assinado agora, ele perderá a validade e, com isso, a senhora
perderá todos os benefícios do contrato.
- Nós estamos cientes – o advogado dela diz.
Meu advogado lê e explica claramente todas as cláusulas do documento, tanto para mim
quanto para Hilary, e no final, ele pergunta:
- Alguém tem alguma dúvida, pergunta ou gostaria de dizer alguma coisa?
- Não – eu digo.
- Eu tenho uma coisa para dizer – Hilary grita e o advogado segura o braço dela.
- Pondere bem o que você vai falar. Essa é sua última chance de assinar esse documento.
Ela pensa por alguns segundos e diz:
- Não. Eu não tenho nada para dizer.
- Muito bem! Roberto, você assina aqui – meu advogado aponta a linha para eu assinar.
Depois que eu assino, ele vira o papel para a Hilary e diz:
- E você aqui.
Ela puxa a caneta da mão dele e assina.
“Graças a Deus!”
- Eu vou dar entrada no documento agora mesmo exigindo urgência, conforme o combinado.
Em uma semana, vou encaminhar os papéis definitivos para o seu escritório e você se encarrega de
enviar para a sua cliente – meu advogado diz para o dela antes de se dirigir a mim. – Eu passo
na sua casa para te entregar assim que sair, Roberto.
- Obrigado.
Eu me levanto e todos fazem o mesmo. Quando saímos da sala, Ana se levanta e eu me
aproximo dela. Não vejo Hilary se aproximando até ouvi-la dizer:
- Tome cuidado. Se ele me trocou para ficar com você, ele pode muito bem te trocar para
ficar com outra.
- Isso não é problema seu – Ana diz, dá as costas para ela e me beija.
- Livres! – digo com meus lábios encostados aos dela e Ana sorri. – Nós vamos comemorar
hoje à noite. Só nós dois.
Saímos do escritório e voltamos para casa. Por incrível que pareça, o dia está ensolarado e
por mais que esteja frio e que haja neve por toda parte, Ana não reclama. Assim que entramos em
casa, Guadalupe pergunta se nós já queremos almoçar e Ana diz que só mais tarde. Ela sobe
correndo para o quarto e eu vou atrás dela. Ana entra no closet e volta com roupas para neve nas
mãos.
- Vá buscar as suas. Nós vamos brincar lá fora.
Eu não gosto nem de frio, muito menos de neve, mas ela está tão animada que eu não
consigo dizer não. Pego minhas roupas e nós vamos para o jardim depois de nos trocarmos. Ana se
diverte como uma criança quando vê neve pela primeira vez. Ela desenha anjos com o corpo no
chão, faz bolas e as joga em mim, nós montamos juntos um boneco de neve e ela até come um
pedaço dele para saber o gosto que a neve tem.
- É incrível, Roberto! Um milagre! Como pode existir algo tão lindo assim?
- Você não está com frio?
- Não muito.
Nós ficamos sentados no chão, lado a lado, apenas olhando um para o outro com amor e
carinho. Ouço a barriga dela fazendo um barulho estranho e digo:
- Hora de entrar para comer.
- Mas eu quero brincar mais.
- A neve não vai desaparecer da noite para o dia. Vamos, nós podemos brincar de novo
amanhã.
Ana e eu entramos, tomamos um banho quente e vamos almoçar com a Guadalupe na
cozinha. Depois de comermos, vamos para a sala e nos deitamos no sofá para assistir TV. Ana logo
pega no sono e assim que eu me sinto menos preguiçoso, me levanto para começar a arrumar
nossa noite romântica.
Separo algumas frutas, torradas, pastinhas, queijos e frios e levo para o chalé onde fica a
piscina aquecida. Depois levo algumas velas e acendo todas elas em volta piscina. Volto para a
cozinha, pego uma garrafa de champanhe e quando estou pegando as taças, Ana aparece.
- Você me deixou dormindo sozinha...
- Estou preparando um lanchinho. Vista um casaco e venha comigo.
Ana faz o que eu peço e nós vamos para o chalé.
- Uau! Que incrível! – ela diz assim que entra.
Coloco o balde com o champanhe e as taças em cima de uma das mesinhas. Ana coloca a
mão na água e diz:
- Mas eu não trouxe biquíni.
Tiro minha roupa e digo:
- Você não vai precisar de biquíni, querida.
Pulo na piscina e estico os braços para ela.
- Vem.
Ana tira a roupa com aquele sorriso safado que eu tanto amo e ao invés de entrar na
piscina como qualquer mulher faria, ela simplesmente pula em cima de mim espalhando água para
todos os lados e apagando metade das velas. Nós afundamos e quando voltamos à superfície, ela
diz:
- Ops!
“Eu sou completamente apaixonado por ela!”
Ana me beija e enrosca as pernas em volta do meu quadril.
- Vou abrir o champanhe – digo.
Tento me afastar, mas Ana não deixa.
- Você não vai a lugar algum – ela beija meu pescoço.
- Não?
- Não... Eu preciso de você aqui.
- Onde?
- Dentro de mim – ela sussurra em meu ouvido.
Ana estica o corpo para cima e me oferece um dos seus lindos seios. Eu, imediatamente, o
coloco na boca e o chupo do jeito que ela gosta. Alguns minutos depois, Ana segura meu pau e o
coloca em sua entrada. Caminho até a borda mais próxima, a encosto nela e a penetro. Ana geme
e arranha minhas costas enquanto beijo seu pescoço.
Ela olha em meus olhos e diz:
- Fundo e forte, Roberto.
Sinto um calafrio tomar todo meu corpo e encosto minha testa a dela.
- Nós já conversamos sobre isso... Assim não dá, Ana.
Ela me beija e me faz entrar ainda mais fundo quando aperta minha bunda. Eu seguro na
borda dá piscina e dou a ela o que ela quer.

Passamos a semana toda visitando alguns pontos turísticos, mas Ana não consegue caminhar
pela rua sem sentir frio, então a maioria dos lugares que visitamos são museus e teatros. Ela se
esforça um pouco no dia que a levo para ver a calçada da fama e tira fotos com suas estrelas
preferidas assim como os outros turistas. Passamos pelo famoso letreiro de Hollywood e Ana sai e
volta correndo para o carro depois da foto. Ela fica decepcionada por não aguentar a
temperatura e conhecer os famosos parques temáticos e estúdios de cinema, então eu prometo
trazê-la de volta no verão.
Finalmente, chega a quarta-feira e eu passo o dia inteiro ansioso esperando pelo documento
do divórcio, mas meu advogado só aparece à noite com o envelope com a minha liberdade.
Na quinta-feira, voltamos para o Brasil e eu invento uma desculpa para Ana, dizendo que
preciso resolver umas coisas e terei que dormir no meu apartamento. Falo com a Giulia pelo
telefone e ela me diz que tudo está saindo conforme o planejado. Vou direto para casa do Cadu e
conto para ele meus planos.
- Sinceramente, Roberto! Você mal saiu de um e já vai se enfiar em outro?
- Mas dessa vez eu quero. Não estão me obrigando.
- Se você está feliz, eu também estou. Pode contar comigo.
Assim que saio de lá, passo na casa do meu pai e conto para ele como foi a viagem e o que
a Giulia me contou pelo telefone.
- Sua mãe estaria muito orgulhosa de você, Roberto. Tenho certeza que a Ana vai adorar.
Vou para meu apartamento e ligo para mãe da Ana.
- Boa noite, dona Rita. Me desculpe por estar ligando tão tarde. É o Roberto, namorado da
Ana.
- Oi, Roberto! Não se preocupe, eu ainda estava acordada. Está tudo bem?
- Sim, nós já chegamos de viagem e eu gostaria de passar na sua casa amanhã com a Ana.
Nós precisamos conversar com a senhora.
- Ai, meu Deus! Não me diga que ela está grávida?
- Não! Não é nada disso. Eu estou preparando uma surpresa para ela, mas antes eu
gostaria que a senhora soubesse algo importante sobre a minha vida e a Ana quer contar junto
comigo.
- E que surpresa é essa?
Conto para ela e digo que ela pode convidar quem ela quiser.
- Quanta alegria, Roberto!
- Eu também estou muito feliz e ansioso. As amigas dela estão preparando tudo para ela não
desconfiar e eu só peço que a senhora espere até o nosso encontro amanhã antes de começar a
convidar as pessoas. O que temos para falar é importante.
- Tudo bem. Eu espero vocês para o almoço então.
- Obrigado, dona Rita! Até amanhã!
Na sexta de manhã, saio para comprar uma roupa para usar na segunda-feira. Ligo para
Giulia outra vez para ver o que ela preparou para os outros homens para não ficar muito
diferente.
- O Carlos Eduardo falou comigo ontem e disse que vai providenciar a própria roupa. Ele se
recusa a usar algo alugado que outras pessoas já vestiram – ela diz.
- Você passou para ele o modelo?
- Sim.
Assim que compro o que preciso, passo no meu apartamento para deixar a roupa lá e
depois busco a Ana para irmos para a casa da mãe dela.
- Estava com saudade – ela diz depois de entrar no carro e me dar um beijo.
- Eu também, meu amor.
Chegamos na casa da dona Rita e antes mesmo de comermos, eu conto que era casado, que
já estou divorciado e que sou o chefe da Ana. A mãe dela não fica satisfeita e eu tento amenizar
dizendo que a Ana não sabia de nada e que ela deve culpar apenas a mim.
Durante o almoço, conto como era o meu casamento e aos poucos ela vai entendendo e
aceitando que eu não era realmente casado. Quando saímos de lá, ela já está calma e até faz
sinal de positivo para mim quando nós estamos indo embora. Com isso, eu deduzo que está tudo
bem e que posso dar continuidade ao meu plano.
Eu passo o final de semana inteiro fugindo da Ana. Ela insiste em ficar me acariciando em
todo e qualquer lugar e no domingo à noite, ela pergunta:
- O que há de errado com você? Por que você está me evitando desde que nós voltamos?
- Eu não sei do que você está falando...
- Roberto, você não me deixa encostar em você. Toda vez que eu me aproximo, você me
afasta.
- Não é nada... Eu só estou cansado.
- Você está cansado há 4 dias? Você passou o fim de semana inteiro na cama, só saiu para
comer – ela beija o meu pescoço e segura meu pau. – Eu quero você.
- Hoje não, Ana – tiro sua mão do meu membro.
- Por que não?
- Eu já disse que estou cansado. O que mais você quer?
- Que saco!
Ela vira para o lado, me dando as costas.
Ana não insiste mais e nós dormimos juntos. Na segunda-feira, vamos para o trabalho no
carro dela. Ela está com um mau humor terrível. Assim que chegamos ao escritório, digo:
- Nós temos uma reunião importante às 18 horas. Vou precisar que você falte sua aula de
Inglês hoje.
- Tudo bem.
- Por enquanto, você pode ir trabalhar com a Isabel e com o Cadu. Nós nos encontraremos
no fim do dia.
Assim que ela vai para a sala do Cadu, saio correndo da empresa, pego um táxi e vou para
minha casa. Separo tudo que vou precisar para mais tarde e passo na casa da Giulia para
entregar a ela.
- Ansioso para mais tarde? – ela me pergunta depois de me dar um beijo no rosto.
- Muito! Está tudo certo?
- Sim. Tudo perfeito!
- Você precisa que eu faça alguma coisa?
- Só que você se acalme e que não deixe a Ana perceber nada.
- Tudo bem.
Volto para a empresa, mas é claro que não consigo me concentrar no trabalho. Às 17:30,
Ana aparece em minha sala e diz:
- Já terminei com a Isabel. Você precisa de alguma coisa?
- Sim. De um doce.
- O quê?
- Vamos lá embaixo comprar um doce.
- Eu não quero doce.
- Então venha ao menos me fazer companhia.
Estou tão nervoso que não consigo nem pensar em uma desculpa decente.
- Está bem.
Ana pega sua bolsa e nós vamos para a Confeitaria Colombo, o lugar onde almoçamos
juntos pela primeira vez.
- Nossa! Hoje está ainda mais bonito do que o normal – ela diz assim que entramos no salão.
- Eles fazem eventos aqui de vez em quando. Deve ser por isso.
Nós nos sentamos na única mesa vazia, a mais próxima da entrada. Um garçom aparece e
eu peço um mil-folhas, que é o meu doce preferido.
- Tem certeza que você não vai querer nada?
- Tenho.
- Ana, nós precisamos conversar. É muito importante.
- O que aconteceu?
Seguro sua mão e percebo que a minha está tremendo.
- Eu te amo. Você é a melhor coisa que aconteceu na minha vida e eu quero te perguntar
uma coisa.
Faço uma longa pausa, pois o garçom aparece com o que eu pedi.
- Pergunta logo, Roberto! Você está me deixando nervosa – ela diz assim que ele vira as
costas.
- Você aceita se casar comigo?
Ana arregala aqueles lindos olhos verdes para mim e sorri.
- É sério?
- Muito sério.
- Então eu aceito – ela aperta minha mão.
- Agora?
Ela vira a cabeça para o lado, parecendo confusa.
- Como assim?
Levanto da cadeira, conforme combinei com a amiga dela, e todas as pessoas que foram
contratadas se levantam também, Ana se assusta e começa a olhar pelo salão até ver suas amigas
e seus familiares nas mesas do fundo. Todos começam a aplaudir e ela diz:
- Ai, meu Deus! Por que está todo mundo usando essas roupas de festa?
Estendo a mão para ela e ela se levanta também.
- Você aceita se casar comigo agora? Nesse instante?
Ana começa a chorar e me abraça.
- É claro que sim!
Capítulo 15

“Meu amor, juro por Deus que a luz dos olhos meus já não pode esperar. Quero a luz dos olhos meus
na luz dos olhos teus sem mais la ra ra ra. Pela luz dos olhos teus, eu acho, meu amor, que só se pode
achar, que a luz dos olhos meus precisa se casar.”

Pela luz dos olhos teus – Tom Jobim e Vinicius de Moraes


Ana
“Acho que estou sonhando!”
As meninas se aproximam de nós e nos abraçam também.
- Agora, solte a noiva que nós precisamos arrumá-la, Roberto – Alice diz.
- Gente! Mas como vocês fizeram isso?
- Nós te contaremos tudo no caminho, querida – diz Alice.
Roberto dá um beijo na minha mão e diz:
- Nos vemos mais tarde. Eu te amo.
Elas me puxam para fora da confeitaria e nós entramos em uma limusine que com certeza
não estava ali quando eu entrei com o Roberto.
- Mas e se eu dissesse não? – pergunto ainda um pouco desorientada.
- Ele estava confiante o suficiente para preparar tudo antes – diz Giulia.
- Alguém vai me contar o que está acontecendo aqui?
Elas me contam como preparam tudo enquanto Roberto e eu estávamos nos Estados Unidos e
como escolheram cada detalhe.
- Esperamos que você goste de tudo, Ana – diz Clara. – Foi corrido, mas dedicamos cada
minuto disponível com muito amor.
- E para onde estamos indo?
- Para o Windsor para você se arrumar – diz Lívia.
- E o que é isso?
- O melhor hotel que eu encontrei aqui no Centro.
Lívia diz levemente desanimada. Eu sei que ela odeia o centro da cidade.
- E quem inventou de fazer isso na Confeitaria Colombo?
- O Roberto. Ele que inventou tudo. Nós só colocamos em prática – diz Alice. – A Giulia muito
mais do que nós. Nós apenas ajudamos. Ela providenciou tudo.
- Obrigada, querida – digo e faço carinho em sua mão.
Assim que chegamos ao hotel, vamos para um dos quartos e minutos depois minha mãe
chega.
- Vocês me esqueceram na confeitaria! O Roberto teve que me mandar para cá em um táxi.
As meninas riem e Alice se desculpa.
- Foi a emoção tia, desculpe.
Minha mãe me abraça e diz:
- Você vai ser muito feliz, querida. Pode acreditar.
- Eu ainda não sei o que está acontecendo direito, mas eu estou feliz.
Reparo que minha mãe está usando um vestido verde bem escuro e que todas as meninas
estão com um modelo igual ao dela, mas em um tom mais claro.
Alguém bate na porta, Alice abre e três mulheres entram com maletas nas mãos.
- Elas vão arrumar você – Giulia diz. – O que você quer fazer no cabelo?
- Não sei, mas quero que ele esteja cacheado. O Roberto gosta dele assim.
A mulher, que eu deduzo ser a cabelereira, tira umas revistas da maleta e me entrega.
- E as unhas? – Lívia pergunta.
- Brancas, mas não muito branco...
- Tire sua roupa e coloque esse roupão – Alice me entrega um roupão de seda branco.
Alguém bate na porta outra vez e uma das moças a abre. Um garçom entra com um carrinho
com baldes com gelo, taças e três garrafas de champanhe.
- Se vocês precisarem de mais bebida ou quiserem comer alguma coisa, é só ligar para a
recepção.
- Eu certamente vou precisar de mais bebida – digo.
As coisas ainda não estão funcionando bem na minha cabeça. Eu saí para comprar um doce
e agora estou me arrumando para casar.
“O que acontece depois?”
- Vocês sabem o que vamos fazer depois do casamento? – pergunto.
- Sim, mas é surpresa – Lívia diz.
Minha mãe e as meninas começam a beber e me dão uma taça também. Começo a folhear a
revista para escolher um penteado.
- Mas e o vestido? Eu não tenho nenhum.
- A Giulia pensou em tudo – diz Clara e Giulia abre um armário atrás dela.
Minha amiga tira dois vestidos para eu ver e escolher qual deles eu quero. Acabo
escolhendo o que é todo rendando, tomara-que-caia, mas que a renda sobe pelo colo e passa
pelos ombros fazendo uma manguinha.
- Vocês acham que o Roberto vai gostar desse?
- O Roberto vai gostar até se você estiver pelada, querida – diz Alice.
- Na verdade ele vai gostar mais quando você estiver pelada – diz Lívia e todas elas riem.
- Gente! Minha mãe está aqui.
- E você acha que nasceu como, Ana? – minha mãe pergunta. – Não foi a cegonha que te
trouxe...
Todas nós rimos.
Decido não usar véu e escolho uma das tiaras que a Giulia me mostra para enfeitar o
cabelo. Escolho um penteado solto com a tiara no topo da cabeça, fazendo um arco.
Enquanto uma das moças pinta as unhas das minhas mãos, a outra pinta as dos meus pés e a
terceira começa a modelar meus cachos depois de lavá-los. Como eu perdi nosso último encontro,
as meninas me atualizam e nós nos divertimos muito enquanto eu me arrumo. Aproveito para contar
para elas tudo o que aconteceu na viagem.
Giulia me mostra três opções de sapatos e três opções de buquês e eu escolho o sapato
tradicional todo branco e o buquê todo daquelas flores miudinhas, que nós chamamos de
mosquitinho, enrolado em uma linda fita verde da cor dos meus olhos.
“É simplesmente lindo!”
Duas horas e meia mais tarde, nós entramos na limusine e vamos para a Candelária, que
também fica no Centro. Eu nunca havia entrado nessa igreja, mas quando paramos na porta, vejo
que não poderia haver lugar melhor para eu me casar com o Roberto.
As meninas me ajudam a descer do carro e meu irmão está esperando por mim em um lindo
terno preto com gravata e lenço verdes, da mesma cor dos vestidos das meninas.
O senhor Robert se aproxima, me dá um beijo no rosto e diz:
- Você está linda, Ana! Estou muito feliz por você ter aceitado o pedido do Roberto. Tenho
certeza que vocês serão muito felizes juntos.
- Obrigada!
Nós nos posicionamos para entrar, primeiro minha mãe e o pai do Roberto, depois as
meninas, uma atrás da outra e por último, meu irmão e eu.
- Ana, eu quero que você saiba que é uma honra poder estar aqui no lugar do papai e eu
tenho certeza que onde quer que ele esteja, ele está muito feliz e orgulhoso de você – Thiago diz
e me abraça.
- Você vai me fazer chorar.
- Não... Não é para chorar. É para sorrir.
Quando eu dou por mim, já está na nossa vez de entrar e eu obviamente estou chorando.
Caminho com meu irmão e vejo os pais das minhas amigas, até os pais da Lívia vieram. Vejo meus
tios, tias e primos, a Isabel e o namorado dela, algumas pessoas do escritório e muita gente que eu
não conheço.
Tenho vontade de matar o Roberto por ter convidado as pessoas do escritório, mas assim que
o vejo esperando por mim no altar a vontade passa.
Ele está simplesmente lindo em um terno branco com uma gravata verde e eu o amo ainda
mais a cada passo que dou em sua direção. Chego ao altar, ele segura minha mão e dá um beijo
na minha testa.
- Você está incrivelmente linda.
- Você também – sussurro em seu ouvido.
Vejo que as meninas formaram pares com os homens que, provavelmente, já estavam no altar
e eu não reparei, pois não consegui tirar os olhos do Roberto. Lívia e Cadu, Alice e Marcos, Giulia
e Breno, e Clara e o meu irmão. Graças a Deus, elas tiveram o bom senso de não incluir o Eric
nisso, mas ele certamente está em algum lugar na igreja.
O padre começa a fazer o seu discurso e quando chega a hora do sim, Roberto tira uma
caixinha com as alianças do bolso, ele a abre para mim e eu tiro o anel maior, que, obviamente, é
o dele. Olho para a aliança, que é simples e linda, e reparo que dentro dela tem meu nome
escrito.
Nós dois dizemos sim e colocamos as alianças um no outro. Eu apoio meu braço no do
Roberto e nós caminhamos para fora da igreja. Entramos na limusine em meio a uma chuva de
pétalas de rosas brancas e Roberto me beija depois de fechar a porta.
- Pronta para a festa senhora Collins?
- Você é louco, sabia?
- Louco por você!
Roberto me beija outra vez e nós voltamos para a confeitaria que está ainda mais bonita e
arrumada. Há menos mesas e cadeiras e agora elas estão posicionadas em volta do salão e não
no meio dele.
A festa é simplesmente linda e inesquecível! Nós nos divertimos muitíssimo e eu não poderia
estar mais feliz. Vejo que Cadu e Lívia passam a noite inteira grudados. Eles não se beijam, mas
ele toda hora beija o colar que a Lívia está usando. Não entendo o porquê e agora não é o
momento para perguntar. Nós dançamos, bebemos e comemos a noite inteira e depois que quase
todo mundo já foi embora, as meninas se aproximam de mim. Alice e Lívia estão segurando, cada
uma, uma mala, Giulia segura duas taças e Clara duas garrafas de champanhe.
- Vamos até o banheiro – Lívia diz.
Eu vou com elas e Clara diz:
- Está na hora de você trocar de roupa para ir para a lua de mel.
- E onde vai ser?
- Muito espertinha – Alice diz e dá um beijo no meu rosto.
Lívia abre a mala que está segurando, tira um vestido social branco de lá e me entrega.
- Eu vou guardar seu vestido de noiva para você. Nessas malas, tem tudo que você vai
precisar para a viagem. Divirta-se muito!
Agora que ela está perto de mim, reparo no colar de diamantes bem colado no pescoço que
ela está usando. Deve ser novo, pois eu nunca havia visto esse.
- E não se preocupe! Fui eu que fiz a mala e não a Lívia – diz Giulia.
Nós caímos na gargalhada enquanto eu troco de roupa. Quando saímos do banheiro, as
pessoas que ainda estão na festa me esperam na porta. Eu me despeço de todo mundo e encontro
Roberto do lado de fora, parado em frente à limusine.
Ele abre a porta, estende a mão para mim e eu entro no carro.
- Para onde nós estamos indo?
- Para Boipeba.
- E onde fica isso?
- É uma ilha na Bahia. Você não disse que queria conhecer o seu país primeiro? – balanço a
cabeça concordando. – Vamos começar por lá.
Não consigo deixar de sorrir.
- Você está feliz? – ele me pergunta.
- Mais do que eu já estive em toda minha vida!
Roberto me beija.
- E eu vou te fazer feliz por todos os próximos dias dela.
Nós vamos direto para o aeroporto e pegamos um jatinho que nos leva até a ilha. Em mais
ou menos três horas, nós chegamos lá e vamos direto para a pousada onde ficaremos hospedados.
Por mais que seja tarde da noite, somos recepcionados por um rapaz que nos leva até o nosso
bangalô e dá as informações sobre a pousada e sobre o restaurante deles.
O lugar é simplesmente divino, no meio da mata, e lá no fundo dá para ver o mar. No nosso
quarto, há dois copos com caipirinha de mangaba, que é uma fruta e eu nem conhecia. A
decoração é rústica e linda e eu não vejo a hora de passear pela ilha.
Mesmo estando exausta, vou tomar um banho e dou de cara com uma banheira de
hidromassagem lá dentro. Contenho minha empolgação e vou para o chuveiro. Assim que eu saio,
Roberto entra e eu espero por ele na cama.
- O que você gostaria de fazer com a sua esposa hoje?
Roberto pula na cama e me beija.
- Eu gostaria de amá-la até fazê-la gozar inúmeras vezes. Será que ela gostaria disso?
- Eu acho que ela adoraria.
Roberto me beija outra vez e nós fazemos amor com calma até os primeiros raios do sol
entrarem pelas janelas.
No nosso primeiro dia, decidimos dormir até mais tarde e passear a pé pela ilha. Por incrível
que pareça, Roberto diz que foi ele e não a Giulia quem fez todo o planejamento com o que
faremos aqui.
Depois de tomar um café da manhã maravilhoso na pousada, vamos para a praia que fica
bem em frente a ela. O mar é calmo e a água muito salgada. Nós passamos o dia inteiro lá e no
fim da tarde, caminhamos até outra praia. Nos sentamos no único restaurante do lugar, que tem as
mesas e cadeiras na areia. Comemos, eu com muita dificuldade, lagostas enormes e incríveis antes
de voltar caminhando para a pousada. Nós paramos no bar e tomamos alguns drinques. É
impressionante a quantidade de frutas que eles têm aqui e nós não temos no Rio de Janeiro.
Algumas horas depois, voltamos para o quarto e eu pergunto:
- Quer tomar banho comigo?
Roberto, que estava sentado na cama, se levanta rapidamente e diz:
- Claro.
Eu pego sua mão e o levo para o banheiro. Roberto começa a escovar os dentes, eu tiro
minha roupa e entro no box. Molho minha cabeça e meu corpo antes de começar a me ensaboar
olhando para o Roberto. Passo o sabonete pelo pescoço, por meus seios e levo minha mão até o
meio das minhas pernas.
- Se você demorar muito, eu vou gozar sem você – digo para provocá-lo.
Roberto joga a escova dentro da pia, cospe e nem enxagua a boca antes de entrar no box.
Ele me empurra contra a parede, cola seu corpo ao meu e me beija.
- Você está com gosto de pasta de dente.
- E você está com gosto de quem está com tesão e não pode esperar.
Roberto abre a boca e a enxagua com a água do chuveiro antes de me beijar outra vez e
me fazer perder o fôlego.
- Muito melhor agora – digo.
Ele esfrega seu membro duro em minha barriga antes de segurá-lo e acariciá-lo olhando
para mim.
- Chupa ele, Ana.
Eu me ajoelho e faço o que Roberto pede. Enquanto eu o chupo, ele acaricia meus mamilos,
me deixando ainda mais excitada. Pouco tempo depois, Roberto tira o pau da minha boca e o
passa pelo meu rosto antes de me ajudar a levantar. Ele me vira de frente para a parede do
chuveiro, coloca minhas duas mãos apoiadas nela, puxa meu cabelo para o lado e beija minha
nuca.
- Empine a bunda e não tire as mãos daí.
Faço o que ele diz. Roberto segura meu quadril e me penetra. Logo depois, ele segura um
dos meus seios com uma mão e com a outra ele começa a acariciar meu clitóris.
Meu corpo pega fogo com tudo que ele faz ao mesmo tempo.
- Você quer comer meu cu mais tarde?
Roberto para tudo e respira fundo.
- Eu já pedi para você não fazer isso...
- Você não gosta?
- Você sabe que eu gosto – ele belisca meu mamilo. – Me deixa louco!
- Então me faz gozar e depois eu vou ficar de quatro para você poder me foder como
quiser.
- Caralho, Ana! Eu te amo!
Roberto volta a me penetrar e me masturbar ao mesmo tempo. Eu gozo alguns minutos
depois. Mais tarde, vamos para a cama ainda molhados e fazemos exatamente conforme o
combinado.

Na manhã seguinte, levantamos cedo e pegamos uma lancha para fazer um passeio pela
ilha. Nossa primeira parada é em uma piscina natural no meio do mar. É impressionante! A água
bate nas nossas pernas e nós estamos a mais de 1 quilômetro da costa.
Nós usamos aquelas máscaras de mergulho e vemos vários peixinhos lindos na piscina. Depois
de algum tempo nadando e explorando o local, uma senhora aparece com uma mesinha flutuante e
nos oferece duas caipirinhas de caju. Ela nos conta que a profundidade da piscina depende da
maré e que nós demos sorte de encontrá-la assim, tão baixa.
Nos sentamos na areia dentro da piscina e tomamos nossa bebida.
- Onde você quer morar quando nós voltarmos para o Rio? – Roberto me pergunta.
“Eu não tinha pensado nisso...”
- Não sei... Tenho que ver com a Lívia.
- Ana, nós não vamos morar com ela.
- Eu sei que não, mas quero ver o que ela vai fazer antes de decidir. Talvez, eu deixe meu
quarto montado lá e continue pagando o aluguel para ela não ter que voltar para a casa dos
pais.
- Nós podemos morar no meu apartamento ou procurar outro lugar ali perto se você preferir.
- Eu gosto do seu apartamento. Acho que podemos ficar lá mesmo.
- Você quer fazer algum tipo de reforma? Nós podemos contratar uma empresa e passar um
tempo em um hotel.
- Não sei... Mas vou pensar sobre isso.
Quando o piloto da nossa lancha nos chama, voltamos para ela para continuar o passeio.
Nossa próxima parada é em uma praia com enorme extensão de areia e assim que descemos da
lancha, reparo inúmeras coisas nela que eu não sei o nome, algo como uma concha, mas que não
se parece uma concha, de vários tamanhos diferentes. Enquanto caminhamos pela praia, vejo que
elas estão por todos os lados. Elas são brancas e redondas, no meio delas há algo que se parece
com o desenho de uma flor e a maioria delas tem uns furos retangulares.
Abaixo-me, pego uma e pergunto ao Roberto:
- O que é isso?
Ele pensa por alguns instantes antes de dizer:
- Eu não sei o nome em português. Em inglês chama-se sand dollar. Coloque uma na sua bolsa
e nós perguntaremos ao piloto quando voltarmos.
Ele dá um beijo em minha cabeça e volta a caminhar. Eu até tento pegar uma só, mas elas
são tão lindas que eu pego várias. Nós deixamos nossas coisas na areia e vamos para o mar, que
é tão azul que chega a doer os olhos. Uma hora depois, voltamos para a lancha e o piloto diz que
lá na Bahia, eles chamam aquela “conchinha” de bolacha-da-praia. Eu nunca tinha visto ou ouvido
falar disso.
Depois dessa praia, paramos em um lugar chamado Cova da Onça, que é um dos lugares
mais isolados e primitivos da ilha, de acordo com o piloto. Há apenas algumas “tendas” feitas com
troncos de árvores e folhas para fazer sombra, algumas mesas e cadeiras e uma balsa flutuante,
que é um “restaurante”. É bem simples, mas que a comida é pescada na hora e simplesmente
deliciosa.
Depois de almoçarmos, caminhamos um pouco pela praia e nos deitamos na areia para
tomar sol e descansar um pouco. Algumas horas mais tarde, damos continuidade ao passeio em
volta da ilha e entramos por um rio chamado Rio do Inferno. Fazemos nossa última parada em uma
construção de madeira no meio do rio onde o povoado é famoso por fazer cultivo de ostras. Assim
que nos sentamos, eles trazem um prato cheio, com várias delas cruas. Roberto imediatamente,
coloca um pouco de limão em uma delas, engole o conteúdo, deixando apenas a concha, e dá um
gemido de satisfação.
- Eca! – digo. – Como você consegue comer isso?
- É uma delícia! Prove!
Ele coloca limão em outra e a estica para mim.
Eu pego a concha, desconfiada, e sugo a coisa molenga que está presa nela. A textura é
estranha, mas o gosto é muito bom.
- E o mais legal é que elas estão vivas! – ele diz sorrindo.
- Como assim elas estão vivas? Eu acabei de engolir um animal vivo?
- É assim que tem que ser, senão estiverem vivas, você não deve comê-las cruas.
- Eca, Roberto! Por que você me falou isso?
- Porque é verdade. Olha só! – ele pega o limão e pinga em outra. – Viu? Se mexeu.
Certamente, estou olhando com cara de nojo para os bichinhos no prato. Roberto continua
comendo como se aquilo fosse normal e eu fico olhando, tentando decidir se vou comer outra ou
não. A moça que trabalha no lugar se aproxima e diz:
- Nós podemos fazer gratinada com pasta de ricota ou grelhada com palmito. A senhora
prefere?
- Ah, sim! Muito obrigada.
- Você pode trazer um pouco de cada para nós provarmos e mais umas dessas cruas? –
Roberto pergunta.
- Claro!
Depois que a moça se afasta eu pego outra ostra e como.
“É muito esquisito!”
Resolvo deixá-las para o Roberto e esperar pelas outras. Assim que ele termina de comer,
Roberto pula do lugar onde estamos para um mergulho no rio e eu pulo atrás dele.
- O passeio foi legal, né? – Ele diz.
- Muito! Eu amei!
- Essa é a última parada. Vamos ficar aqui até o pôr do sol e depois voltaremos para
pousada.
Assim que as ostras ficam prontas, nós subimos pela escadinha de volta para o restaurante.
Cozidas, elas são muito melhores, na minha opinião, pois Roberto continua preferindo as cruas.
É simplesmente mágico assistir ao sol se pôr naquele lugar incrível. Nós voltamos para a
pousada e eu acabo pegando no sono na lancha. Acordo com Roberto fazendo carinho na minha
cabeça.
- Nós chegamos, amor.
Eu me levanto, nós agradecemos e nos despedimos do piloto e vamos para o nosso quarto.
Tomo banho antes do Roberto e quando ele entra e tira a camisa, vejo que suas costas estão
completamente vermelhas.
- Meu Deus! Você está todo queimado! Não está ardendo?
- Um pouco, mas acho que um banho gelado vai fazer melhorar.
Enquanto Roberto toma banho, ligo para Lívia:
- Oi, amiga! – digo.
- Oi, Ana – não é a Lívia quem responde e sim um homem.
- Quem está falando? Esse telefone é da Lívia?
- É o Cadu.
Minha cabeça dá um nó.
“O que ele está fazendo com o telefone dela?”
- Como está a viagem? – ele pergunta.
- Muito boa. A Lívia está aí?
- Sim, ela foi ao banheiro. Vou levar para ela. Diga para o Roberto que eu mandei um
abraço.
- Pode deixar.
Alguns segundos depois, Lívia grita:
- Oi, amiga! Como você está?
- Bem. O que você está fazendo com o Cadu?
- Nós voltamos, mas eu só ia te contar quando você chegasse.
- Lívia...
- O que é, Ana? Eu não quero discutir com você.
- Você está bem? Ele não está te machucando?
- Claro que não! Mas me conte da viagem... Está se divertindo?
- Muito! É lindo demais aqui!
Conto para ela sobre o passeio que fizemos hoje.
- Legal! Olha, eu preciso desligar. O Cadu e eu estamos nos arrumando para sair para...
Jantar.
“Não gosto dessa pausa... Ela só pode estar mentindo!”
- Está bem. Nos falamos depois. Um beijo e tome cuidado.
- Pode deixar!
Ela desliga e eu fico sentada na cama esperando o Roberto sair do banheiro. Como ele não
está se sentindo bem, pedimos para entregarem o jantar no nosso quarto e quanto mais tarde vai
ficando, mais dor ele vai sentindo. Saio de quarto e vou até a recepção perguntar onde tem uma
farmácia para comprar um pós-sol para ver se alivia a dor dele, mas o rapaz diz que não há
farmácias abertas a essa hora na ilha.
- Se a senhora quiser, eu posso lhe dar um pouco de pasta d’água.
- E isso serve para quê?
- Para proteger do sol e ajuda a curar as queimaduras dele.
“Nunca ouvi falar...”
- Se você puder, eu agradeceria.
- Só um minuto que eu vou buscar na minha mochila.
Ele volta com um potinho nas mãos, eu agradeço e volto para o quarto.
- Conseguiu alguma coisa?
- Não. Está tudo fechado, mas o rapaz da recepção me deu isso aqui e disse que ajuda. Vire
de costas.
Roberto deita com a barriga na cama e eu passo aquela coisa melequenta e branca em suas
costas, ombros e braços.
- Por que você não passou protetor solar?
- Porque você não me deu. Você não está cuidando bem de mim.
- Era só o que me faltava... Como você está se sentindo?
- Deu uma refrescada, mas ainda está ardendo.
- Tente descansar. Amanhã vai estar melhor.
Digo isso apenas para que ele relaxe, pois acho que isso vai demorar para ficar bom e com
certeza vai descascar, mas no dia seguinte, depois que lavo as costas dele no banho, a
vermelhidão praticamente desapareceu e ele diz que não está ardendo mais, o que é quase um
milagre.
“Não posso esquecer de agradecer ao menino da recepção!”
Nós passamos o dia todo no quarto vendo TV e quando o sol já está mais fraco, vamos para
a praia. Roberto fica de camisa para se proteger. Assistimos ao pôr do sol de mãos dadas,
sentados na areia, entre abraços e beijos apaixonados.
O dia seguinte é nosso último dia na ilha e nós fazemos um passeio de caiaque pelos
manguezais. É encantador! Vemos muitos caranguejos e várias espécies de pássaros sobrevoando
os troncos retorcidos das árvores, que quase batem em nossas cabeças em determinadas partes do
rio, pois a maré subiu um pouco. Assim que voltamos, fazemos uma massagem relaxante na praia e
depois vamos para a pousada para arrumar as nossas coisas.
Quando tudo está pronto, vamos para o jatinho particular que o Roberto alugou. Por mais
que eu saiba que temos que voltar para casa e para o trabalho, não queria que nossa lua de mel
terminasse tão cedo.
Assim que decolamos, pergunto:
- E o que vamos fazer no trabalho? Acho melhor eu não voltar para lá e esperar até
encontrar outro emprego.
- Você é minha esposa agora, Ana. A empresa também é sua. Você pode continuar
trabalhando lá se quiser. Se não, você pode arrumar um emprego em outro lugar ou não trabalhar
mais.
- E eu vou ficar fazendo o que o dia todo?
- O que você quiser. Você pode me ajudar com os meus projetos sem ter que se preocupar
em ir para a empresa todos os dias.
- Vou pensar, mas não sei se é uma boa ideia ficar em casa sem fazer nada.
- Faça o que você preferir, meu amor.
Nosso jatinho decola algum tempo depois e em pouco mais de meia hora, nós começamos a
aterrissar.
- O que está acontecendo? Por que nós estamos descendo? – pergunto preocupada.
- Nada. Não se preocupe. Estamos descendo porque vamos passar uns dias em Salvador.
Nossa lua de mel está apenas começando.
Fico completamente surpresa. Roberto sorri e me dá um beijo suave nos lábios.
“Ele tem razão...”
Não só nossa lua de mel, mas também nossa vida juntos está apenas começando... E eu tenho
a sensação de que seremos muito felizes.
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Saiba mais sobre a série
Cariocas é a série de livros New Adult que contém seis livros que contam a história
de cinco mulheres que se conhecem desde os tempos da faculdade: Clara, Alice, Lívia,
Ana e Giulia. Todas são bem jovens, exceto Alice que já é um pouco mais experiente e
está cursando sua segunda graduação. Elas se tornam melhores amigas assim que
começam a estudar e vivem grandes aventuras, tanto dentro da Universidade quanto
fora dela.
Ana vive fortes emoções em um relacionamento perigoso com Roberto, filho do dono
da empresa onde ela começa a fazer estágio. Através deles, Lívia conhece Carlos
Eduardo que a leva para um mundo de dominação e prazer. Clara conhece o amor
de sua vida, Alexandros, em uma viagem cheia de luxúria para a Grécia (Compre
aqui). Alice, que sempre foi adepta aos relacionamentos abertos, se envolve com
Dimitris e descobre que também pode haver amor no mundo do swing (Compre aqui)
e Giulia, que depois de se decepcionar profundamente com o namorado que tinha
desde o Ensino Médio, se junta a Filippo para viver uma paixão tórrida e cheia de
mistério (Compre aqui).
Sobre a autora

Apaixonada por livros, pela Língua Portuguesa e pela Mitologia Grega desde a
infância, Bárbara Shênia decidiu fazer faculdade de Letras e cursou Língua e
Literatura Grega. Durante o curso escreveu e publicou textos sobre a Antiguidade
Grega junto à Universidade e aos Centros Acadêmicos que participou. Foi professora
de Inglês durante sete anos até ser apresentada à Literatura Erótica por uma amiga
de trabalho. Conciliando três empregos e a criação de seu primeiro livro, resolveu
largar tudo em 2015 e se mudar para a Grécia para realizar seu grande sonho: ser
escritora. Em setembro de 2015 lançou sua primeira obra através do Wattpad e em
virtude da aceitação dos leitores, publicou na Amazon o primeiro livro da série
Cariocas.

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