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UNIsaber – Lauro de Freitas – ano 2 nº 1jan/jun 2002 1

História da Ciência – Uma visão introdutória


Teobaldo Rodrigues de Oliveira1

Abstract

The history of science and knowledge has been discussed by several


authors. This article is a panoramic introduction of the theoretical marks and
paradigms that guide the evolution of the science and scientific method, and
a reflection about the Animic Context (before 8th century bc), the Greek
Context (from 8th century bc to 6th century), the Exegetic Context (from 6th
century to 16th century), the Modern Context (from 16th century to 19th
century) and Contemporary Context (from 20th century to the present days).

Resumo

A história da ciência e o do conhecimento tem sido discutida por


diversos autores. Este artigo é uma breve introdução panorâmica dos marcos e
os paradigmas teóricos que nortearam a evolução da ciência e do método
científicos, e uma reflexão sobre o contexto anímico anterior ao século VIII
aC, contexto grego até início o século VI e contexto exegésico do meio do
séculos VI até o século XVI, contexto moderno século XVI até o século XIX, e
o contexto contemporâneo até os dias atuais.

Contexto Anímico

A história da ciência mostra que nos seus primórdios o homem tinha


uma visão anímica da natureza. O mundo era povoado e controlado por
espíritos e forças ocultas que habitavam todas as coisas. Esta magia universal
levava a concepção que apenas o mago era capaz de interagir com estas
forças fazendo com que fossem direcionadas para um determinado objetivo,
como também, trazer os espíritos para o lado de quem estivesse com eles.
Com o passar do tempo e o desenvolvimento da sociedade no antigo Oriente, o
interesse pelo lado mítico, mágico foi sendo substituído por uma forma de
conhecimento mais sólido.

Contexto Grego

Os indícios históricos mostram que a ruptura com o pensamento mítico


ocorre por volta do século VIII aC. Através da criação da filosofia da natureza,
pelos gregos, foram estabelecidas as premissas básicas para suplantar o
contexto anímico. A nova forma de interpretar o mundo ainda apresentava
características amplas sem qualquer distinção entre ciência e filosofia.
Filósofos da natureza como Tales de Mileto, Anaximandro, Pitágoras, Heráclito,
Anaxágoras e Demócrito se interessavam pelos processos naturais, pela
compreensão das coisas do saber e das coisas do homem.

1
Doutor em Geologia, Contador, professor do Mestrado em Administração Avançada
UNEB-UNIBANHIA, consultor do Projeto International Geological Correlation Program
(IGCP-UNESCO) e desenvolvedor De Sistemas na área da Tecnologia da Informação
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Os filósofos da natureza ou pré-socráticos segundo Köche (2001, p. 45)


“distinguiam o que pode ser percebido pelos sentidos - os fenômenos, as
aparências mutáveis das coisas, que fundamentam as opiniões, a doksa – e o
que pode ser percebido pela inteligência - o ser, as essências que definem a
natureza das coisas, seus princípios comuns e imutáveis, que fundamentam o
conhecimento, a ciência, a filosofia”.
Platão (429-348 aC), jovem aristocrata, intelectual foi o pensador que
deu continuidade e visibilidade a conceituação teórica socrática deste
período.No mundo platônico os modelos e a essência de como as coisas
devem estruturar-se estão no mundo das idéias. Provavelmente, Platão foi o
precursor do inatismo, corrente que defendia que a razão e intuição eram
inatas. Platão defendia a dialética como técnica de pesquisa onde duas ou
mais pessoas buscavam a verdade através do processo socrático de perguntas
e respostas.
Aristóteles (384-322 aC), discípulo de Platão, avançou sobre as idéias
i
do se u mestre questionando o mundo das idéias e através da sua Metafísica
idealizou a concepção de ciência que perdurou até o ano de 529, além de
servir de sustentáculo ao Contexto Exegésico. Aristóteles deduziu que a
ciência é resultante da elaboração do entendimento e a experiência sensível.
Segundo ele a análise da realidade por partes e princípios tornaria possível a
postulação de princípios universais, criando o procedimento de investigação
batizado de método indutivo. O método indutivo “parte da enumeração de
experiências ou casos particulares para chegar a conclusões de ordem
universal” (Bastos e Keller, 2001; p. 85).
Segundo Köche (2001) o modelo aristotélico propõe uma ciência
(episteme) objetivando retratar fielmente a realidade em razão da sua base na
observação do real e pelo seu caráter de universalidade desenvolvendo um
conhecimento da essência das coisas e das suas causas manifestando-se
como uma ciência do discurso, qualitativa, que proporciona o conhecimento
universal, estável, certo e necessário.

Contexto Exegésico
No ano de 313 o cristianismo é reconhecido como religião pelo Império
Romano através de Constantino. Em 529 é fechada a Academia de Platão em
Atenas e fundada a Ordem dos Beneditinos a primeira grande ordem religiosa,
portanto, aqui a Igreja cristã afasta de cena a filosofia grega e se apodera
através dos mosteiros da educação monopolizando a forma de gerar
conhecimento da época. Desta forma, transforma-se na grande autoridade
intelectual do ocidente até meados do século XVII. Segundo Pádua (2002) o
“teocentrismo medieval, de certo modo retomou os filósofos gregos, porém com
metodologia estruturada em torno do drama da "salvação" e das questões
teleológicas (explicações qualitativas e finalísticas), deslocando as
preocupações do saber-medir para a problemática da conciliação razão-fé, já
que o cosmos era a "expressão da vontade de Deus".
Este longo período de dominação da Igreja impôs uma forma de
construção do conhecimento a exegese que era baseada nas idéias contidas
no Velho Testamento, na Bíblia, textos sacros, interpretação das traduções e
cópias de originais gregos principalmente de Aristóteles e Platão (Filho e
Pietrocola, 2001).
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Grandes teóricos da Igreja Católica, como Santo Agostinho (354-430)


tentou estabelecer os fundamentos do cristianismo utilizando as idéias de
Platão, enquanto São Santo Tomás de Aquino (1227-1273) tentou uma
simbiose entre os ideais cristãos e Antiguidade clássica enfocando a “questão
da razão-fé a partir das verdades profanas (filosófico-científicas) dos sistemas
explicativos de Aristóteles e das verdades cristãs, contidas nas Sagradas
Escrituras” (Pádua (2002, p. 17).
A forma de construção da verdade e a sua imposição, baseada na
interação entre cosmologia grega e cristã fizeram com que concepções
equivocadas sobre o mundo, tipo o geocentrismo de Ptolomeu (séc. II),
perfeição dos céus, predominaram até o meados do século XV quando
começaram a ser questionadas.

Contexto Moderno

Os modelos platônico e o aristotélico coexistiram por mais de 2000 anos,


no entanto, começaram a ser duramente atacados a partir do século XV e,
mais duramente nos séculos XVI e XVII, durante o Renascimento via
pensadores como Nicolau Copérnico, Francis Bacon, Galileu Galilei e René
Descartes que realizaram a revolução científica moderna, modificando
radicalmente a compreensão e concepção teórica de mundo, de ciência, de
verdade, de conhecimento e de método com a introdução da experimentação
científica. No Contexto Moderno ocorreram as transformações que abalaram o
conhecimento da Natureza no período que vai de 1550 a 1730, na Europa, e a
que se convencionou chamar, "revolução científica".
O contexto moderno também delimitou a presença de duas grandes
correntes de pensadores: os inatistas e os empiristas. Tanto inatistas como
empirista se perguntavam: de onde viriam os princípios racionais (razão) e a
capacidade humana para a intuição? os inatista achavam que nascemos com
elas e com algumas idéias verdadeiras que desenvolvemos ao longo de nossas
vidas, enquanto que os empiristas acreditavam que elas eram obtidas de nossa
interação com o mundo, seja através dos costumes, da educação ou do nosso
livre ensaiar.
As mudanças iniciaram-se com a revolução heliocêntrica de Copérnico
(1473-1543) que deslocou o centro do Universo para o Sol, abrindo caminho
para Kepler (1571-1630) que elabora as "três leis de Kepler", quebrando a idéia
de movimento circular perfeito dos corpos celestes em razão da constatação do
movimento elíptico de todos os planetas tendo o sol como um de seus focos. A
seguir serão mostrados os principais pensadores e formuladores da revolução
científica moderna e os métodos de abordagem propostos.

Francis Bacon
Contemporâneo de Galileu, Francis Bacon (1561-1626) também criticou
o empirismo aristotélico. Bacon era tipicamente um empirista (doutrina contrária
ao inatismo). Os defensores do empirismo afirmavam que a razão, a verdade e
as idéias racionais seriam adquiridas por nós através da experiência. Antes da
experiência, diziam eles, nossa razão é como uma "folha em branco". O
empirismo foi uma corrente muito forte entre os filósofos ingleses dos séculos
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XVI ao XVIII, dentre os quais destacaram-se: Francis Bacon, John Locke,


George Berkeley e David Hume.
“A ambição que marcou a carreira política de Bacon manifesta-se
também no seu pensamento: pretendeu nada menos do que a reforma total da
ciência e planejou uma vasta obra sob o título geral, não menos ambicioso, de
Grande Instauração. Desse plano, no entanto, só desenvolveu uma pequena
parte. Mas ao denunciar os procedimentos tradicionais da ciência, apontou-lhe
novos rumos” (Ronan 1987, p.275).
Saber é poder
Na sua obra Novum Organum - que já no título se contrapõe ao "velho"
Organom de Aristóteles -, Bacon critica os quatro ídolos responsáveis pelo
insucesso da ciência. Os "ídolos da tribo" referem-se às imperfeições do
intelecto, inerentes à toda "tribo" humana, que levam os homens a
acreditarem ingenuamente que nos dados dos sentidos ou em aspectos
da realidade que lhes são convenientes.
Os "ídolos da caverna" correspondem à predisposição do intelecto de
cada indivíduo, que, como os prisioneiros do "mito da caverna" de Platão, toma
o seu mundo particular por verdadeira realidade. Já os "ídolos do foro"
apontam para os problemas da comunicação entre os homens: as palavras são
tidas como idênticas às coisas que designam e, além disso, raramente há um
acordo sobre o que significam. Por fim, os "ídolos do teatro" indicam as
doutrinas filosóficas que, como o teatro, não passam de invenções
especulativas.
Contra esses ídolos, Bacon propõe o método experimental tendo como
base a indução. Não qualquer experiência, pois isso sempre foi feito mas, as
experiências conduzidas por um rigoroso método.
O método experimental baconiano seria o único caminho seguro para se
atingir a verdade dos fatos devendo acompanhar os seguintes passos: a)
experimentação; b) formulação de hipóteses; c) repetição (experimentos devem
ser repetidos em outros lugares ou por outros cientista); d) testagem das
hipóteses; e) formulação de generalizações e leis.
Lahr (in Cervo e Bervian 1978, p. 23) sintetizou passos do método da
seguinte forma: a) alargar a experiência (experimentação); b) variar a
experiência; c) inverter a experiência; d) recorrer aos casos da experiência.
O objetivo deste método era impedir a formulação de generalizações
que extrapolassem os resultados obtidos. No entanto, este método de nada
serviu ao próprio Bacon, pois com ele não conseguiu produzir nada, faltou o
salto do qualitativo para o quantitativo como bem o fez Galileu,

Galileu Galilei
Galileu (1564-1642) generaliza a concepção de perfeição do mundo a
todos os fenômenos físicos da natureza, abrindo caminho para a proposição de
que espaço é um todo homogêneo, e o que nele ocorre pode ser determinado
matematicamente. Além disso, estabelece “uma nova elaboração do conceito
de ordem, que será a motivação principal na elaboração moderna do método:
sem ordem não há conhecimento possível. Com isso, o método assume dois
elementos fundamentais da matemática: a ordem e a medida, a fim de
representar corretamente os seres (coisas, corpos, idéias, afetos etc.) do real,
e sem risco de erro, chegar ao conhecimento "verdadeiro". Este conhecimento
assume também o sentido da previsão, isto é, conhecer para prever, prever
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para controlar a natureza, controlar para melhorar as próprias condições de


vida do Homem. O método científico passa a ser o parâmetro para o
conhecimento verdadeiro e a experimentação, a fonte de autoridade para a
fundamentação do saber (Pádua, 2002, p.18)”. Galileu foi o primeiro teórico do
método experimental denominado de método da indução experimental onde o
pesquisador através da observação de um certo número de casos particulares
pode chegar a uma lei geral. Segundo Lakatos e Marconi (2000) os passos
deste método são os seguintes: a) observação dos fenômenos; b) análise das
partes, estabelecendo relações quantitativas; c) indução de hipóteses; d)
verificação das hipóteses (experimento); d) generalização dos resultados; e)
confirmação das hipóteses; f) estabelecimento de leis gerais.
Galileu estabelece concretamente uma ruptura epistemológica ao
desenvolver um caminho para o fazer científico – método quantitativo-
experimental - desvinculando do caminho do fazer filosófico – empírico,
especulativo. Koyré (1982) demonstra que a partir deste método a ciência
moderna aflorou de forma intensa, iniciando um novo paradigma bem
demarcado pela física newtoniana.

René Descartes
No mesmo século de Galileu e Bacon é publicada o “Discurso sobre o
método e Meditações metafísicas” de Descartes (1596-1650) que afasta-se do
método indutivo e caminha na direção do método dedutivo. Para este pensador
a razão seria o único caminho para se chegar à certeza e a razão,
caracterizado como o principal inatista do período moderno. Segundo
Descartes, as idéias inatas são as mais simples que possuímos (simples não
que dizer "fáceis", e sim não compostas de outras idéias). A mais famosa das
idéias inatas cartesianas é: "Penso, logo existo". Por serem simples, as idéias
inatas são conhecidas por intuição e são elas o ponto de partida da dedução
racional e da indução. Chauí (1998, p. 71) apresenta os preceitos do método
cartesiano:
"O primeiro era o de jamais acolher alguma coisa como verdadeiro que
eu não conhecesse evidentemente como tal; isto é, de evitar cuidadosamente a
precipitação e a prevenção, e de nada incluírem meus juízos que não se
apresentasse tão clara e tão distintamente a meu espírito, que eu não tivesse
nenhuma ocasião de pô-lo em dúvida".
"O segundo, o de dividir cada uma das dificuldades que eu examinasse
em tantas parcelas quantas possíveis e quantas necessárias fossem para
melhor resolvê-las".
"O terceiro, o de conduzir por ordem meus pensamentos, começando
pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir, pouco a
pouco, como por degraus, até o conhecimento dos mais compostos, e supondo
mesmo uma ordem entre os que não se precedem naturalmente uns aos
outros".
"E o último, o de fazer em toda parte enumeração tão completas e
revisões tão gerais, que eu tivesse a certeza de nada omitir" (Discurso do
Método, segunda parte).
O método cartesiano estabelece os preceitos do método racional-
dedutivo. O método trás consigo dois campo bem demarcados o empirismo e o
racionalismo que servem também de parâmetros para a afirmação que o
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mundo natural ou físico seriam o objeto da ciência, ou seja, o nível do sensível


(fatos), enquanto o mudo humano ou espiritual seria o objeto da filosofia.

Isaac Newton
Newton(1642-1727) conclui o programa racionalista de mathesis
universalis, ou seja, a busca de uma nova ciência matematizada, de
conhecimento perfeito, completo dominado pela razão.
A interpretação newtoniana do método científico, de acordo com Duhem
(1914) apud Köche(2001), era indutivista e positivista, próxima à interpretação
de Bacon. Newton, dando uma interpretação diferente à de Galileu, se
recusava a admitir que trabalhava com hipóteses apriorísticas. No Scholium
generale, que está no final dos Principia Mathematica, Newton (1987, p. 705)
afirmava não aceitar nenhuma hipótese física que não pudesse ser extraída da
experiência pela indução. Afirmava que suas leis e teorias eram tiradas dos
fatos, sem interferência da especulação hipotética. Isto é: em física, toda
proposição deveria ser tirada dos fenômenos pela observação e generalizada
por indução. Esse seria o método ideal, o experimental, através do qual se
poderia submeter à prova, uma a uma, as hipóteses científicas. À ciência
caberia aceitar apenas as que evidenciassem a certeza confirmada pelas
provas empíricas produzidas pelo método experimental. Com esse método
estaria se propondo uma espécie de órganon experimental pretensamente
universal que substituísse o órganon aristotélico na lógica.
O modelo popularizado de método científico entre os diferentes campos
das ciências naturais, principalmente através dos manuais universitários foi o
indutivo-confirmável com influências do empirismo baconiano e da indução
confirmabilista newtoniana. Segundo Köche o padrão divulgado de uma forma
geral apresenta o seguinte formato: a) Observação dos elementos que
compõem o fenômeno; b) Análise da relação quantitativa existente entre os
elementos que compõem o fenômeno; c) indução de hipóteses quantitativas; d)
teste experimental das hipóteses para a verificação confirmabilista; e)
generalização dos resultados em lei.
Tal modelo requer que o pesquisador do conhecimento esteja com a
mente limpa, livre de preconceitos, para que receba e se impregne das
impressões sensoriais recebidas pêlos canais da percepção sensorial. As
hipóteses seriam decorrentes do processo indutivo da meticulosa observação
das relações quantitativas existentes entre os fatos e o conhecimento científico
seria formado pelas certezas comprovadas pelas evidências experimentais de
alguns casos analisados.
A Revolução Francesa (1789) simbolicamente marca o fim do contexto
moderno. O indutivismo e empirismo consolidaram o paradigma newtoniano
que seria o modelo ideal a ser copiado por todas as outras áreas do
conhecimento por trazer consigo a idéia de uma ciência confiável, com alto
grau de certeza e exatidão dos resultados das teorias obtidas por um
procedimento julgado perfeito. A física newtoniana, alicerçada no método
científico-experimental indutivista e confirmabilista, estava proporcionando ao
homem um conhecimento comprovado, confirmado e inquestionável, ou seja,
só poderia ser pensado como científico aquilo que estivesse diretamente ligado
à observação. De uma forma simplificada a concepção da construção do saber
científico nomeada pelo positivismo ficou vinculada às seguintes
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características: a) empirismo (parte da realidade de como os sentidos a


percebem e ajusta-se a realidade); b) objetividade (respeitar integralmente o
objeto da qual trata o estudo) c) experimentação (repousa na experimentação
levando o pesquisador a causa ou conseqüência); d) hipótese; e) validade
(quantificativa); e) leis e previsão.
Kant, na sua Crítica da razão pura (1787) fortalece a ciência
experimental newtoniana transformando-a num modelo de conhecimento,
reafirmando a assertativa que o conhecimento verdadeiro é dado pela ciência.
O dogmatismo, antes presente nas teorias aristotélicas divulgadas sob a
proteção do cristianismo, manifesta-se, agora, com intensidade no interior da
própria ciência, no final do século XIX, motivado por esta pregação positivista
do modelo científico dominante como ideal do conhecimento, que não admitia
outras formas válidas de se atingir o saber, a não ser através do método
científico-experimental (Köche 2001).
No entanto, nas ciências sociais o método universal para comprovação
da verdade científica apresentava problemas quando os pesquisadores
tentavam elaborar sistemas explicativos, daí vinha a seguinte pergunta: “Como
medir o social? Como encontrar parâmetros científicos para lidar com a
dinâmica dos grupos sociais, das classes, dos indivíduos e suas motivações
para a ação social, a questão da liberdade e o Estado? O método das ciências
sociais poderia ser aplicado nas ciências sociais?” (Pádua, 2002, p. 21)
As abordagens mais significativas desta época no âmbito das ciências
sociais ficaram a cargo de Augusto Comte (1798-1857) e Karl Marx (1818-
1883). Enquanto que, o positivismo de Comte importa para a análise social o
método utilizado pelas ciências naturais na perspectiva de que o campo social
estaria sujeito as mesmas leis invariáveis que regem os fenômenos físicos,
fisiológicos, químicos das ciências naturais, Marx retoma a discussão da
dialética (de Platão) no sentido desenvolvido por Hegel (1770-1831)
relacionada a síntese de opostos, ou seja, a dialética caracterizada de forma
geral pelo confronto entre dois enfoques contraditórios sobre um mesmo tema,
resultando daí uma compreensão mais abrangente sobre a verdade em
questão.

Contexto Contemporâneo

O desenvolvimento acelerado da economia capitalista em níveis nunca


dantes imaginado e o entendimento da realidade universal, evidenciaram a
vitória do conhecimento científico, o saber neutro, independente de valores
éticos ou morais. O grande legado do Contexto Moderno era o estabelecimento
de um método: o cientificismo como método nas ciências naturais estava
implantado e a experimentação era a ferramenta para o estabelecimento da
verdade. No entanto, o modelo cientificista começou a ser questionado,
inicialmente no campo das ciências humanas no final do século XIX, e
posteriormente, no campo das ciências naturais nas primeiras décadas do
século XX.
A grande ruptura com o cientificismo iniciou-se no interior da própria
física. Pierre Duhen (1861-1916) apud Koche (2001) foi um dos primeiro a
denunciar o dogmatismo do cientificismo. Para ele os critérios utilizados no
fazer científico devem ser entendidos como condicionados historicamente. São
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convenções articuladas no contexto histórico-cultural, e, como tal, permitem a


renovação e progresso das teorias, revelando o caráter dinâmico da ciência e a
historicidade dos princípios epistemológicos do fazer científico.
A concepção universalista de ciência dos filósofos da matriz empírico-
positivista, sofre grande abalo com o estabelecimento da hipótese quântica por
Max Planck, em 1900. Segundo comentários de Heisenberg (1987: 29-30)
apud Lopes (1996), o próprio Planck custou a aceitar o rompimento com os
pressupostos da Física Clássica, dado seu conservadorismo. Contudo, teve
que se render à necessidade de postular a descontinuidade na energia para
interpretação da radiação térmica de um corpo negro, trabalho que iniciou um
campo de investigação dos mais ricos neste século: a Mecânica Quântica.
Posteriormente, surgem as teorias da relatividade de Einstein (1905), o
princípio da complementaridade de Bohr (1913), o novo modelo de átomo
idealizado por Schrodinger (1926), o princípio da incerteza de Heisenberg e
outras teorias da física que diminuíram o ímpeto cientificista, dogmático e o
determinismo do mecanicismo.
Com as descobertas citadas acima, o processo de surgimento da visão
moderna de ciência é alterado. Einstein demonstra que por maior que seja a
quantidade de provas acumuladas a favor de uma teoria, jamais ela será aceita
como definitiva, mudando a visão de progresso científico que passa de
cumulativo a revolucionário. Além disso, o método indutivo de confirmação
baseada na experiência é desmistificado.
A ciência volta a apresentar um velho problema: quais critérios seriam
utilizados para separar o científico do não-científico ?
Lopes (1996) mostra que ao interpretar as consequências da Mecânica
Quântica para o campo epistemológico, Bachelard (1984) apud Lopes (op. cit.),
filósofo francês, faz-nos a compreender distinção entre real científico e real
dado. Na ciência, não se trabalha com o que se encontra visível na
homogeneidade panorâmica. Ao contrário, precisamos ultrapassar as
aparências, pois o aparente é sempre fonte de enganos, de erros, e o
conhecimento científico se estrutura através da superação desses erros, em
um constante processo de ruptura com o que se pensava conhecido. Conforme
Canguilhem (1972, p.52) apud Lopes (1996), para Bachelard “a ciência não
capta ou captura o real, ela indica a direção e a organização intelectual,
segundo as quais nos asseguramos que nos aproximamos do real. É no
caminho do verdadeiro que o pensamento encontra o real; a realidade do
mundo está sempre para ser retomada, sob responsabilidade da razão. Com
efeito, não devemos ver no real a razão determinante da objetividade: o
problema da verdade não deriva do problema da sua realidade. O que
entendemos por realidade faz-se em função de uma organização do
pensamento. Por isso, ele afirma que devemos colocar o problema da
objetividade em termos de métodos de objetivação: uma prova de objetividade
existe sempre em relação a um método de objetivação, a objetivação de um
pensamento à procura do real.”
Ao contrário, para o senso comum, a realidade objetiva é uma só: aquela
que se apresenta aos sentidos; o real aparente faz parte do senso comum.
Portanto, será essencialmente a partir do rompimento com esse
conhecimento comum que se constituirá o conhecimento científico.
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(...) será demasiado cômodo confiar-se uma vez mais a um realismo


totalitário e unitário, e responder-nos: tudo é real, o elétron, o núcleo, o
átomo, a molécula, a micela, o mineral, o planeta, o astro, a nebulosa. Em
nosso ponto de vista, nem tudo é real da mesma maneira, a substância
não tem, em todos os níveis, a mesma coerência; a existência não é uma
função monótona; não se pode afirmar por toda parte e sempre no mesmo
tom. (Bachelard 1984).

Paralelamente, a discussão dos critérios para separar a ciência da não-


ciência no século XX originou três grandes concepções metodológicas no
Contexto Contemporâneo: o Empirismo Lógico, o Racionalismo Crítico de Karl
R. Popper e a teoria desenvolvida por Thomas Khun.

Empirismo Lógico

O Empirismo Lógico também é conhecido como Positivismo Lógico ou


Neopositivismo e construiu um ideal de ciência que se caracterizou
basicamente por dois princípios: Princípio do Empirismo segundo o qual um
conceito só será significante na medida que for comprovado pela experiência;
Princípio do Logicismo segundo o qual um enunciado ou sistema de
enunciados possa valer como científico deve ser passível de exata formulação
na linguagem da lógica.
Chalmers apresenta esta concepção do fazer científico como:
"... uma forma extrema de empirismo, segundo a qual a justificação
das teorias não está ligada somente à sua verificação sobre os fatos
já adquiridos pela observação, mas ao fato de que eles só têm
sentido se de lá tirarem sua origem". (Chalmers, 1999)

O grupo fundador desta concepção se reunia, na década de 1920, em


Moritz Schlick Viena, ficando conhecido como Círculo de Viena 1930 e contou
com importantes pensadores, como R. Carnap (1891-1970), O. Neurath (1881-
1945) e H. Hanh (1891-1953), “segundo eles a lógica, a matemática e as
ciências empíricas esgotam o domínio do conhecimento possível do real”
(Pádua, 2002).

Racionalismo Crítico
As idéias de Einstein e Popper revolucionaram a concepção de ciência e
do método científico, eles desmistificaram a concepção de que método
científico é um procedimento regulado por normas rígidas que prescrevem os
passos que o investigador deve seguir para a produção do conhecimento
científico.
Popper ao reavaliar os conceitos do Círculo de Viena, faz a crítica da
indução como método para se chegar a um conhecimento definitivo do real;
propõe que o indutivismo seja substituído por um modelo hipotético-dedutivo,
ressaltando que o que deve ser testado numa hipótese não é a sua
possibilidade de verificação, mas sim a de refutação - o critério de
refutabilidade que possibilitaria distinguir a ciência da não-ciência
(pseudociência) isto é, especificar a cientificidade ou não de uma teoria.
De acordo com Chibeni (2002) a idéia central de Popper é a de substituir
o empirismo justificacionista-indutivista da concepção tradicional por um
empirismo não-justificacionista e não-indutivista, que ficou conhecido por
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falseacionismo. Popper rejeita que as teorias científicas sejam construídas por


um processo indutivo a partir de uma base empírica neutra, e propõe que elas
possuem um caráter completamente conjetural. Teorias são criações livres da
mente, destinadas a ajustar-se tão bem quanto possível ao conjunto de
fenômenos de que tratam. Uma vez proposta, uma teoria deve ser
rigorosamente testada por observações e experimentos. Se falhar, deve ser
sumariamente eliminada e substituída por outra capaz de passar nos testes em
que a anterior falhou, bem como em todos aqueles nos quais tenha passado.
Assim, a ciência avança por um processo de tentativa e erro, conjeturas e
refutações.
A cientificidade de uma teoria reside, para Popper, não em sua
impossível prova a partir de uma base empírica, mas em sua refutabilidade. Ele
argumenta que somente as teorias passíveis de serem falseadas por
observações fornecem informação sobre o mundo.
O apelo intuitivo do falseacionismo força a formulação das teorias de
maneira clara e precisa. De fato, não é fácil ver como uma teoria obscura ou
imprecisa possa ser submetida a testes rigorosos e, ainda que o seja, possa
ser sempre salva de um veredicto desfavorável por meio de reinterpretações,
de manobras semânticas, o que trai sua irrefutabilidade, e portanto, o seu
caráter não-científico.
A partir das premissas acima, Popper (1968) é taxativo quando afirma
que não existe método científico. Infelizmente não existe. Então, por que
analisar o chamado "método científico"?
O método científico que não existe é aquele que está na imaginação do
leigo, na expectativa do estudante ávido por modelos, fórmulas ou receitas
mágicas para aplicar e colher o resultado e, às vezes, na descrição que fazem
alguns pesquisadores sem notar o engano em que se encontram. O que não
existe no método científico é "um código prático para o comportamento
científico", como afirma Medawar (1974, p. 1108). Não existe um modelo com
normas prontas, definitivas, pelo simples fato de que a investigação deve
orientar-se de acordo com as características do problema a ser investigado,
das hipóteses formuladas, das condições conjunturais e da habilidade crítica e
capacidade criativa do investigador. Praticamente, há tantos métodos quantos
forem os problemas analisados e os investigadores existentes.
Popper defende os seguintes momento no processo de investigação: a)
Expectativas ou conhecimento prévio; b) Problema; c) Conjecturas; d)
Falseamento. Se a hipótese não supera os testes, estará falseada, refutada, e
exige nova formulação do problema e da hipótese, que, se superar os teste
rigorosos, estará corroborada, confirmada provisoriamente, não definitivamente
como queriam os indutivistas.

Thomas Khun

Kuhn era físico teórico e em 1962 lançou o livro A estrutura das


revoluções científicas que mexeu com filósofos, historiadores, sociólogos e
psicólogos. Segundo Kuhn, nem o empirismo lógico nem a teoria de Popper
são capazes de oferecer uma compreensão adequada da ciência. Sendo esta
um fenômeno histórico, só pode ser adequadamente apreendida por uma teoria
que leve em conta sua dimensão histórica (Carvalho 1997).
UNIsaber – Lauro de Freitas – ano 2 nº 1jan/jun 2002 11

Segundo Chalmers (1999) a teoria de Kuhn foi desenvolvida


subsequentemente como uma tentativa de fornecer uma teoria mais corrente
com a situação histórica tal como ele a via. Uma característica chave de sua
teoria é a ênfase dada ao caráter revolucionário do progresso científico, em
que uma revolução implica o abandono de uma estrutura teórica e sua
substituição por outra, incompatível. Um outro traço essencial é o importante
papel desempenhado na teoria de Kuhn pelas características sociológicas das
comunidades científicas.
O quadro de Kuhn da maneira como progride a ciência pode ser
resumido no seguinte esquema aberto:

A atividade desorganizada e diversa que precede a formação da ciência


torna-se eventualmente estruturada e dirigida quando a comunidade científica
atém-se a um único paradigma. Um paradigma é composto de suposições
teóricas gerais e de leis e técnicas para a sua aplicação adotadas por uma
comunidade científica específica. Os que trabalham dentro de um paradigma,
seja ele a mecânica newtoniana, ótica de ondas, química analítica ou qualquer
outro, praticam aquilo que Kuhn chama de ciência normal. Os cientistas
normais articularão e desenvolverão o paradigma em sua tentativa de explicar
e de acomodar o comportamento de alguns aspectos relevantes do mundo real
tais como revelados através dos resultados de experiências. Ao fazê-lo,
experimentarão, inevitavelmente, dificuldades e encontrarão falsificações
aparentes. Se as dificuldades deste tipo fugirem ao controle, um estado de
crise se manifestará. Uma crise é resolvida quando surge um paradigma
inteiramente novo que atrai a adesão de um número crescente de cientistas até
que eventualmente o paradigma original, problemático, é abandonado. A
mudança descontínua constitui uma revolução científica. O novo paradigma,
cheio de promessa e aparentemente não assediado por dificuldades
supostamente insuperáveis, orienta agora a nova atividade científica normal até
que também encontre problemas sérios e o resultado seja uma outra
revolução.

Henry Lakatos

As abordagens de Lakatos e Kuhn têm algumas coisas em comum. Em


especial, ambas fazem a seus relatos filosóficos a exigência de resistirem à
crítica da história da ciência. O relato de Kuhn precede a metodologia dos
programas de pesquisa científica de Lakatos. O relato de Lakatos é a
culminação do programa popperiano em uma resposta direta a ele, e uma
tentativa de melhorar o falsificacionismo. A diferença mais importante entre
Kuhn, de um lado, e Popper e Lakatos, de outro, é a ênfase do primeiro nos
fatores sociológicos.
Segundo Chibeni (2002) o filósofo Imre Lakatos sistematizou de maneira
interessante as características da ciência, introduzindo a noção de programa
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científico de pesquisa. As idéias centrais de Lakatos podem ser observadas


recorrendo-se a este parágrafo do citado livro de Chalmers (1999, p. 76):
Um programa de pesquisa lakatosiano é uma estrutura que fornece um guia para futuras
pesquisas, tanto de maneira positiva, como negativa. A heurística negativa de um programa
envolve a estipulação de que as assunções básicas subjacentes ao programa, que formam o seu
núcleo rígido, não devem ser rejeitadas ou modificadas. Esse núcleo rígido é resguardado contra
falseações por um cinturão protetor de hipóteses auxiliares, condições iniciais, etc. A heurística
positiva constitui-se de prescrições não muito precisas que indicam como o programa deve ser
desenvolvido... Os programas de pesquisa são considerados progressivos ou degenerantes,
conforme tenham sucesso, ou persistentemente fracassem, em levar à descoberta de novos
fenômenos.
O núcleo rígido (hard core) de um programa é aquilo que
essencialmente o identifica e caracteriza, constituindo-se de uma ou mais
hipóteses teóricas. Eis alguns exemplos. O núcleo rígido da cosmologia
aristotélica inclui, entre outras, as hipóteses da finitude e esfericidade do
Universo, a impossibilidade do vazio, os movimentos naturais, a
incorruptibilidade dos céus. O núcleo da astronomia copernicana consiste das
assunções de que a Terra gira sobre si mesma em um dia e em torno do Sol
em um ano, e de que os demais planetas também orbitam o Sol. O da
mecânica newtoniana é formado pelas três leis dinâmicas e pela lei da
gravitação universal; o da teoria especial da relatividade, pelo princípio da
relatividade e pela constância da velocidade da luz; o da teoria da evolução de
Darwin-Wallace, pelo mecanismo da seleção natural.
Por “uma decisão metodológica de seus protagonistas” (Lakatos 1970, p.
133), o núcleo rígido de um programa de pesquisa é “decretado” não-refutável.
Possíveis discrepâncias com os resultados empíricos são eliminadas pela
modificação das hipóteses do cinturão protetor. Essa regra é a heurística
negativa do programa, e tem a função de limitar, metodologicamente, a
incerteza quanto à parte da teoria atingida pelas “falseações”. Recomendando-
nos direcionar as “refutações” para as hipóteses não-essenciais da teoria, a
heurística negativa representa uma regra de tolerância, que visa a dar uma
chance para os princípios fundamentais do núcleo mostrarem a sua
potencialidade. O testemunho da história da ciência parece de fato corroborar a
essa regra, como vimos nos exemplos que demos acima. Uma certa dose de
obstinação parece ter sido essencial para salvar nossas melhores teorias
científicas dos problemas de ajuste empírico que apresentavam quando de sua
criação.
Lakatos reconhece, porém, que essa atitude conservadora tem seus
limites. Quando o programa como um todo se mostra sistematicamente incapaz
de dar conta de fatos importantes e de levar à predição de novos fenômenos
(i.e., torna-se “degenerante”), deve ceder lugar a um programa mais adequado,
“progressivo”. Como uma questão de fato histórico, nota-se que um programa
nunca é abandonado antes que um substituto melhor esteja disponível.
A heurística positiva de um programa é mais vaga e difícil de
caracterizar que a heurística negativa. Segundo Lakatos, ela consiste “de um
conjunto parcialmente articulado de sugestões ou idéias de como mudar ou
desenvolver as ‘variantes refutáveis’ do programa de pesquisa, de como
modificar, sofisticar, o cinturão protetor ‘refutável’.” (op. cit. p. 135) No caso da
astronomia copernicana, por exemplo, a heurística positiva indicava claramente
a necessidade do desenvolvimento de uma mecânica adequada à hipótese da
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Terra móvel, bem como de novos instrumentos de observação astronômica,


capazes de detectar as previstas variações no tamanho aparente dos planetas
e as fases de Vênus, por exemplo. Assim, o telescópio foi construído algumas
décadas após a morte de Copérnico pelo seu ardente defensor, Galileo, que
também principiou a criação da nova mecânica. Esta, a seu turno, uma vez
formulada por Newton, apontou para um imenso campo aberto, no qual se
deveriam buscar uma nova matemática, medidas das dimensões da Terra,
aparelhos para a detecção da força gravitacional entre pequenos objetos, etc.
Tentando uma representação gráfica de um programa de pesquisas
lakatosiano teríamos mais ou menos o seguinte:

A concepção lakatosiana de ciência


envolve um novo critério de
demarcação entre ciência e não-
ciência. Lembremos que o critério
indutivista considerava científicas
somente as teorias provadas
empiricamente. Tal critério é, como
vimos, forte demais: não haveria,
segundo ele, nenhuma teoria
genuinamente científica, pois todo conhecimento do mundo exterior é falível.
Também o critério falseacionista, segundo o qual só são científicas as teorias
refutáveis, elimina demais: como nenhuma teoria pode ser rigorosamente
falseada, nenhuma poderia classificar-se como científica.
O critério de demarcação proposto por Lakatos, por outro lado,
adequadamente situa no campo científico algumas das teorias unanimemente
tidas como científicas, como as grandes teorias da física. Esse critério funda-se
em duas exigências principais: uma teoria deve, para ser científica, estar
imersa em um programa de pesquisa, e este programa deve ser progressivo.

Conclusões

A figura abaixo mostra o quadro evolutivo histórico das diversas


concepções da ciência ao longo do tempo. A análise macro mostra que o
processo de maturação do conhecimento científico foi lento e gradual.
A visão inicial de como os fenômenos ocorriam na natureza era
mitológica. Os gregos de forma sistemática desconfiaram desta visão, ou seja,
concluíram que os mitos não eram uma boa forma de interpretá-la construindo
uma nova forma de enxergar os fenômenos. Este saber era amplo e tinha
caráter puramente filosófico não mostrando qualquer distinção entre ciência e
filosofia. Com a ascensão da Igreja cristã o saber grego foi substituído pelo
poder eclesiástico como produtor das novas verdades. Esta nova forma de
produção de conhecimento baseava-se na exegese muitas vezes tendo fonte a
própria filosofia grega, além de outros textos sagrados.
No século XVI empiristas e racionalistas iniciam o processo de
contestação da forma de conhecimento vigente. Galileu através do método
indutivo planta as sementes que mudaria os destino da humanidade através da
Revolução Científica. Neste contexto (Moderno) foram produzidos
conhecimentos como nunca se tinha visto até então. Materializa-se uma forma
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universal de se chegar à verdade: só a ciência através da experimentação seria


capaz de delineá-la. Estava traçado novamente outro dogmatismo sobre a
verdade. Verdade era apenas o conhecimento construído pelo processo
científico.
No século XX, o empirismo evoluiu para sua forma mais radical e
talhada, o empirismo lógico (positivismo lógico) levado adiante pelas
discussões no círculo de Viena, porém com a advento da mecânica quântica e
a teoria da relatividade o caráter mecanicista e determinista da produção do
conhecimento começa a enfrentar resistências dentro da própria ciência,
principalmente com relação ao método.
Carvalho (1997) mostra que duas novas frentes se formaram, Popper e
seus discípulos, na década de 30 e Thomas Kuhn na década de 60. Popper
apresentou uma nova metodologia das ciências empíricas descaracterizando o
método dominante na época: o indutivismo. A nova metodologia era crítica,
negativa, que não objetivava demonstrar a verdade nem a probabilidade de
hipóteses, mas submete-la ao crivo da crítica com o objetivo de eliminar
aquelas que o teste revelar serem falsas. E a via de eliminação ou de exclusão
de hipótese falsas é dedutiva.
Enquanto Kuhn procura manter distância entre o indutivismo e
dedutivismo, concorda com Popper de que o caminho trilhado pela ciência não
obedece a nada que tenha semelhança com regras indutivas, como também
com o processo de refutação popperiano. A teoria kunhiana de compreensão
da ciência só pode ser realizada de forma satisfatória quando a sua
interpretação levar em consideração a dimensão histórica levando em conta
categorias funcionais que possibilitem a reconstrução da dinâmica da ciência:
ciência normal, paradigma, crise e revolução.
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Evolução
da
Ciência

Contexto Contexto
Anímico Moderno
(Anterior ao (século XVI
século VIII aC) ao início do XX)

Contexto
Francis Bacon (1561-1626)
Grego
Empirismo
(século VIII aC
Galileu Galilei (1564-1642)
até início do século VI)
Indução experimental
Início da evolção científica
Filosófos da natureza Descartes (1596-1650)
Platão (429-348 aC) Racional-dedutivo(cartesiano)
Mundo das idéias Newton (1642-1727)
Dialética Indutivo-confirmável
Aristóteles Comte (1798-1857)
Método indutivo Positivismo
Marx (1818-1883)
Contexto Método Dialético
Exegésico W eber (1864-1920)
(século VI a XVI) Sociologia Compreensiva

Contexto
Contemporâneo
Sto Agostinho(354-430)
(século XX)
Sto Tomás de Aquino
(1227-1273)

Empirismo Lógico
(Neopositivismo)
Círculo de Viena
Década de 20
Popper
Racionalismo Crítico
Década de 30

Thomas Khun
Ciência Normal
Paradigmas
Década de 60
Lakatos
Programas de Pesquisa
Década de 70

Com o passar do tempo muitas modificações foram realizadas nos


métodos científicos existentes. Atualmente a concepção de Método Científico
estaria mais para o campo de uma teoria da investigação. Bunge (1974) apud
Lakatos e Marconi (2000) sugere que os objetivos podem ser alcançados de
forma científica quando são seguidas as etapas abaixo:
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Referências

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