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A IMPORTÂNCIA DE SABER QUE NÃO SE SABE

Sócrates: Conheceis, se não me engano, Querofonte. Meu amigo desde jovem e amigo da
maior parte de vós, convosco, não faz muito tempo, esteve no exílio e depois regressou à
cidade. Sabeis com certeza como era Querofonte, como se apaixonava por qualquer coisa que
fizesse. Assim, uma vez, indo para Delfos, ousou consultar o oráculo acerca da questão de que
estamos a falar. Já vos pedi, atenienses, para não rumorejar aquilo que digo. Perguntou ele
então a Pítia se havia alguém mais sábio do que eu, e Pítia respondeu que não havia ninguém.
Sobre isso prestará testemunho o seu irmão, aqui presente, porque Querofonte está morto. (...)

Depois de saber do fato, refleti comigo mesmo: o que o deus pretendia dizer e o que escondia
sob os seus enigmas? Eu, pelo que me diz respeito, estou bem consciente de não ser sábio,
nem muito nem pouco: e então o que ele quer dizer ao afirmar que sou o mais sábio de todos?
Certamente não está mentindo, porque isso não é possível a um deus. Assim, fiquei muito
tempo em dúvida quanto ao sentido da resposta.

Depois me dediquei com todas as minhas energias a procurar resolver o enigma. Fui ter com
um daqueles que têm fama de sábio com o intuito de encontrar elementos para refutar o
oráculo, se isso fosse possível de alguma maneira, contrapondo o fato de que ele mesmo era
com certeza mais sábio do que eu, quando o que se dizia era que o mais sábio de todos era eu.

Interrogando, então, tal pessoa (...) e falando-lhe, tive a impressão de que de fato parecia a ele
(...) ser sábio, mas na verdade não o era. Então tentei demonstrar-lhe que ele se acreditava
sábio, mas que na verdade não era assim.

Por isso, atraí sobre mim o seu ódio e também o de muitos dos que estavam presentes. No
entanto, ao ir embora refleti comigo mesmo que na verdade eu era mais sábio do que aquele
homem: de fato, cada um de nós dois corre o risco de não saber absolutamente nada de belo e
de bom, mas ele acredita saber alguma coisa, quando na verdade não sabe; eu, no entanto, não
só não sei como não acredito saber. Portanto, parece-me que eu seja mais sábio do que ele
justamente por esta pequena diferença, de que não acredito saber aquilo que não sei.

NICOLA, Ubaldo. Antologia ilustrada de Filosofia: Das Origens à Idade Moderna. São
Paulo: Globo, 2005. [Texto extraído da Apologia de Sócrates]

A FILOSOFIA NÃO É "ADVERSARIAL"

Richard E. Creel

Porque em filosofia argumentamos uns com os outros sobre questões filosóficas é natural
pensar que a filosofia é um processo "adversarial" [antagônico] como dois advogados (o de
acusação e o de defesa) que argumentam um contra o outro num tribunal. Contudo, há duas
razões pelas quais esta comparação dos filósofos com os advogados não é boa. Em primeiro
lugar, o objectivo de cada advogado é ganhar a causa do seu cliente — quer o seu cliente
esteja inocente quer não. Pelo contrário, o objectivo de dois filósofos que se encontrem a
argumentar um com o outro é chegar à verdade — seja ela qual for e seja quem for que tenha
razão. Como um estudante afirmou, eloquentemente, o objectivo de cada advogado é ganhar a
causa, quer ele tenha a verdade quer não, ao passo que o objectivo de cada filósofo é chegar à
verdade, quer ele ganhe o argumento quer não. (Sendo os filósofos seres humanos, nem
sempre são assim tão imparciais, mas o ideal é este.)

Em segundo lugar, num julgamento há uma autoridade (o juiz ou o júri) que os advogados
tentam persuadir, e que em última análise determina se o acusado está ou não inocente. Em
filosofia, pelo contrário, não há qualquer juiz ou júri com autoridade para tornar uma posição
incorreta e a outra correta. Só existimos nós. Claro que alguns de nós sabem mais do que
outros sobre questões filosóficas, e o mais sábio é ficar atento e aprender com quem sabe mais
do que nós, mas quando chega o momento de tomar decisões relativamente a um tema
filosófico somos todos igualmente responsáveis pelas nossas crenças e devemos por isso
tomar, cada um de nós, as suas próprias decisões.

Richard E. Creel
Tradução de Desidério Murcho
Thinking Philosophically, Blackwell, Oxford, 2001, p. 88

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