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Conceitos Básicos

Sumário
0.1 Conceitos Geométricos Básicos . . . . . . . . . . . . 2

0.2 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

0.3 Ângulos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

1
Unidade 0 Conceitos Geométricos Básicos

0.1 Conceitos Geométricos Básicos

Este curso é devotado ao estudo da Geometria Euclidiana, assim adjetivada


após a famosa obra Elementos ([7]), de Euclides de Alexandria1 .

Figura 1: Euclides de Alexandria, matemático grego dos


séculos IV e III a.C. e um dos mais importantes da anti-
guidade. A maior de todas as contribuições de Euclides à
Matemática, bem como à ciência em geral, foi o tratado
Elementos, obra na qual expôs, sistematicamente, os co-
nhecimentos de Geometria Plana de seu tempo  doravante
rotulada como Euclidiana , alguns dos quais frutos de seu
próprio trabalho. A importância dos Elementos se deve ao
fato deste ser a primeira obra em que se considera um corpo
de conhecimento matemático como parte de um sistema
lógico dedutivo bem denido.

Pautaremos nossa discussão, o mais possível, pelo utilização do método


lógico-dedutivo, sem ter, no entanto, a preocupação de listar um conjunto
exaustivo de postulados a partir dos quais possamos construir axiomaticamente2
a geometria. Para o cumprimento de um tal programa, referimos o leitor a [3].
1 Euclidesde Alexandria, matemático grego dos séculos IV e III a.C. e um dos mais im-
portantes da antiguidade. A maior de todas as contribuições de Euclides à Matemática, bem
como à ciência em geral, foi o tratado Elementos, obra na qual expôs sistematicamente os
conhecimentos de Geometria de seu tempo  doravante rotulada como Euclidiana. A im-
portância dos Elementos se deve ao fato deste ser o primeiro livro em que se considera um
corpo de conhecimento matemático como parte de um sistema lógico-dedutivo bem denido.
2 Um axioma ou postulado é uma propriedade imposta como verdadeira. A utilização do

método axiomático é uma das características fundamentais da Matemática como ciência.

2
Conceitos Básicos Unidade 0

Para além do que apresentaremos aqui, sugerimos as referências [1], [6], [8],
[9], [10], [11], [12] ou [13].
Apresentamos, nesta unidade, os conceitos e resultados mais básicos en-
volvidos na construção da Geometria.

0.2 Introdução

O leitor certamente tem uma boa ideia, a partir da experiência diária, do


que vem a ser um ponto, uma reta ou um plano. Portanto, vamos assumir
essas noções como conhecidas.

r s
B

Figura 2: pontos e retas no plano.

Na Figura 2, temos os pontos A e B e as retas r e s (em geral, denotare-


mos pontos por letras latinas maiúsculas e retas por letras latinas minúsculas).
Grosso modo, podemos dizer que a geometria Euclidiana plana estuda pro-
priedades relativas aos pontos e retas de um plano.
Dados no plano um ponto P e uma reta r, só há duas possibilidades: ou o
ponto P pertence à reta r ou não; no primeiro caso, escrevemos P ∈ r (lê-se
P pertence a r) e, no segundo, escrevemos P ∈ / r (lê-se P não pertence a r).
Na Figura 3, temos A ∈ r e B ∈ / r.

B
A

r
Figura 3: posições relativas de ponto e reta.

3
Unidade 0 Introdução

Neste momento, é natural nos perguntarmos sobre quantas retas podem ser
traçadas por dois pontos dados. Assumiremos que podemos traçar exatamente
uma tal reta. Em resumo, por dois pontos distintos A e B do plano, podemos
traçar uma única reta (veja a Figura 4). Nesse caso, sendo r a reta determinada
←→
por tais pontos, denotamos, alternativamente, r = AB .
r
B
A

Figura 4: dois pontos determinam uma única reta.

Um ponto A, situado sobre uma reta r, a divide em dois pedaços, quais


sejam, as semirretas de origem A. Escolhendo pontos B e C sobre r, um em
−→
cada um de tais pedaços, podemos denotar as semirretas de origem A por AB
−→
e AC . Na Figura 5, mostramos a porção da reta r correspondente à semirreta
−→ −→
AB (a porção correspondente à semirreta AC foi apagada).

B r
A
−→
Figura 5: semirreta AB de origem A.

Dados pontos distintos A e B sobre uma reta r, o segmento AB é a porção


da reta r situada de A a B . Escrevemos AB para denotar o comprimento
do segmento AB (que, a menos que se diga o contrário, será medido em
centímetros). Para decidir se dois segmentos dados no plano são iguais (i.e.,
se têm comprimentos iguais) ou, caso contrário, qual deles é o maior, podemos
usar um compasso, transportando um dos segmentos para a reta determinada
pelo outro:

←→
3
Exemplo 1 Com o uso de um compasso, transporte o segmento AB para a reta CD
e decida se AB > CD ou vice-versa.

4
Conceitos Básicos Unidade 0

Solução

B
D

Descrição dos passos.

1. Centre o compasso em A e xe a outra extremidade do mesmo em B .


2. Mantendo a abertura calibrada no item 1., centre o compasso em C
e marque, com a outra extremidade do mesmo, um ponto E sobre a
−→
semirreta CD, tal que CE = AB .

3. Compare os comprimentos dos segmentos AB = CE e CD.

Também podemos usar um compasso para adicionar segmentos e para mul-


tiplicar um segmento por um natural, conforme ensina o próximo exemplo.

Dados, no plano, os segmentos AB e CD como abaixo, construa com régua Exemplo 2

e compasso segmentos EF e GH , tais que EF = AB + CD e GH = 3 AB .

Solução

C
B

A D

Descrição dos passos.

1. Com o auxílio de uma régua, trace uma reta r.

5
Unidade 0 Introdução

2. Marque sobre a reta r um ponto X e, em seguida, transporte o segmento


AB para r, obtendo um segmento EX , tal que EX = AB .

3. Transporte o segmento CD para r, a partir do ponto X , obtendo um


ponto F , tal que XF = CD e X ∈ EF .

4. Perfaça uma cadeia análoga de passos para construir um segmento GH


como pedido (observe que 3 AB = AB + AB + AB ).

Uma última observação sobre segmentos: dados os pontos A e B no plano,


denimos a distância d(A, B) entre os mesmos como o comprimento AB do
segmento AB :
d(A, B) = AB.

Além de pontos, retas, semirretas e segmentos, círculos serão objetos de


grande importância em nosso estudo de Geometria Euclidiana plana. Precisa-
mente, dados um ponto O e um real r > 0 (que deve ser pensado como o
comprimento de um segmento), o círculo de centro O e raio r é o conjunto
dos pontos P do plano que estão à distância r de O, i.e., tais que OP = r:

r
P

Figura 6: o círculo de centro O e raio r.

De uma maneira mais concreta, o círculo de centro O e raio r é a curva plana


obtida quando posicionamos a ponta de um compasso no ponto O e xamos
sua abertura como igual ao comprimento r. O complemento de um círculo no
plano consiste de duas regiões, uma limitada, que denominamos seu interior
e a outra ilimitada, denominada o exterior do círculo. Alternativamente, o
interior do círculo de centro O e raio r é o conjunto dos pontos P do plano
cuja distância ao centro O é menor que r, i.e., tais que OP < r (Figura 7);

6
Conceitos Básicos Unidade 0

analogamente, o exterior do círculo é o conjunto dos pontos P do plano cuja


distância ao centro O é maior que r, i.e., tais que OP > r.
P
r

Figura 7: interior do círculo de centro O e raio r.

Via de regra, denotaremos círculos por letras gregas maiúsculas. Por exem-
plo, denotamos o círculo da Figura 8 a seguir por Γ (lê-se gama), e podemos
mesmo escrever Γ(O; r), caso queiramos enfatizar que o centro de Γ é O e o
raio é r.
Dado um círculo Γ de centro O e raio r (gura 8), também denominamos
raio do mesmo a todo segmento que une o centro O a um de seus pontos;
por exemplo, OA, OB e OP são raios do círculo Γ. Uma corda de Γ é um
segmento que une dois pontos quaisquer do círculo; um diâmetro de Γ é uma
corda que passa por seu centro. Nas notações da Figura 8, AB e CD são cordas
de Γ, sendo AB um diâmetro. Todo diâmetro de um círculo o divide em duas
partes iguais, denominadas semicírculos; reciprocamente, se uma corda de um
círculo o divide em duas partes iguais, então tal corda deve, necessariamente,
ser um diâmetro do círculo.
C
D Γ
O
B A
r
P

Figura 8: elementos de um círculo.

Ainda em relação à Figura 8, o leitor deve ter notado que uma porção do
círculo Γ aparece em negrito. Tal porção corresponde a um arco de círculo,

7
Unidade 0 Ângulos

i.e., a uma porção de um círculo delimitada por dois de seus pontos. Note que
há uma certa ambiguidade nessa denição, devido ao fato de que dois pontos
sobre um círculo determinam dois arcos. Em geral, resolveremos essa situação
_
nos referindo ao arco menor ou ao arco maior CD. Desse modo, diremos
_
que a porção do círculo Γ em negrito na Figura 8 é o arco menor CD. Outra
possibilidade é escolhermos mais um ponto sobre o arco a que desejamos nos
referir, denotando o arco com o auxílio desse ponto extra; na Figura 8, por
_ _
exemplo, poderíamos escrever CP D para denotar o arco maior CD.

Exemplo 3 Construa com um compasso o círculo de centro O e passando pelo ponto


A. Em seguida, marque sobre o mesmo todos os possíveis pontos B para os
quais a corda AB tenha o comprimento l dado.

Solução

O
l

Descrição dos passos.

1. Centre o compasso em O e xe sua abertura de O a A. Em seguida,


trace o círculo pedido.

2. Trace, de maneira análoga, o círculo de centro A e raio igual a l.


3. As possíveis posições do ponto B são os pontos de interseção dos dois
círculos traçados.

0.3 Ângulos

Comecemos esta seção com nossa primeira denição formal, que encontrará
utilidade em outras situações.

8
Conceitos Básicos Unidade 0

Uma região R do plano é convexa quando, para todos os pontos A, B ∈ Definição 4

R, tivermos AB ⊂ R. Caso contrário, diremos que R é uma região não


convexa.

A
B A B

Figura 9: regiões convexa (esq.) e não convexa (dir.).

De acordo com a denição acima, para uma região R ser não convexa basta
que existam pontos A, B ∈ R tais que pelo menos um ponto do segmento AB
não pertença a R.
Uma reta r de um plano o divide em duas regiões convexas, os semiplanos
delimitados por r. Dados pontos A e B , um em cada um dos semiplanos em
que r divide o plano, tem-se sempre AB ∩ r 6= ∅ (Figura 10).

A B

Figura 10: semiplanos determinados por uma reta.

−→ −→
Dadas, no plano, duas semirretas OA e OB , um ângulo (ou região Definição 5
−→ −→
angular) de vértice O e lados OA e OB é uma das duas regiões do plano
−→ −→
limitadas pelas semirretas OA e OB .

Um ângulo pode ser convexo ou não convexo; na gura acima, o ângulo


da esquerda é convexo, ao passo que o da direita é não convexo. Denotamos

9
Unidade 0 Ângulos

B O

O A A

Figura 11: regiões angulares no plano

−→ −→
um ângulo de lados OA e OB escrevendo ∠AOB ; o contexto deixará claro se
estamos nos referindo ao ângulo convexo ou ao não convexo.
Nosso objetivo, agora, é associar a todo ângulo uma medida da região do
plano que ele ocupa. Para tanto (Figura 12), divida um círculo Γ de centro O
em 360 arcos iguais e tome pontos X e Y , extremos de um desses 360 arcos
iguais. Dizemos que a medida do ângulo ∠XOY é de 1 grau, denotado 1◦ , e
escrevemos
b = 1◦ .
X OY

Y
X

Figura 12: grau como unidade de medida de ângulos.

Há um pequeno problema com a denição de grau dada acima. Como


podemos saber que ela não depende do círculo escolhido? De outro modo,
como podemos saber se, dividindo outro círculo Σ (lê-se sigma), de centro O,
em 360 partes iguais, obteremos um ângulo ∠X 0 OY 0 o qual podemos dizer
também medir 1◦ ? Para responder essa pergunta, considere a Figura 13. Nela,

10
Conceitos Básicos Unidade 0

A′
B′ A
B
O
Γ
Σ

Figura 13: boa denição da noção de grau.

temos dois círculos Γ e Σ, de mesmo centro O, e dois pontos A, B ∈ Γ. Sejam


−→ −→
A0 e B 0 os pontos de interseção das semirretas OA e OB com Σ. Assumimos
_
como axioma que a fração de Γ que o arco menor AB representa é igual à
_
fração de Σ que o arco menor A0 B 0 representa. Portanto, se, na denição de
grau, tivéssemos tomado um círculo Σ, de raio diferente do raio de Γ mas com
mesmo centro O, teríamos um mesmo ângulo representando a medida de 1◦ .
A partir da denição de grau, é imediato que um círculo completo corres-
ponde a 360◦ . Por outro lado, dado um ângulo ∠AOB , permanece a pergunta
de como podemos medi-lo. Para responder à mesma, fazemos a seguinte con-
strução: traçamos um círculo qualquer Γ, de centro O, e marcamos os pontos
−→ −→
A0 e B 0 em que Γ intersecta os lados OA e OB de ∠AOB (Figura 14); em
_
seguida, vemos qual fração do comprimento total de Γ o arco A0 B 0 representa.
A medida AOBb do ângulo ∠AOB será essa fração de 360◦ . Por exemplo, se o

B′

A
O A′
Γ

Figura 14: medindo o ângulo ∠AOB .

11
Unidade 0 Ângulos

_
comprimento do arco A0 B 0 for 16 do comprimento total de Γ, então a medida
de ∠AOB será
b = 1 · 360◦ = 60◦ .
AOB
6
Observações 6.

i. Diremos que dois ângulos são iguais se suas medidas forem iguais.

ii. A m de evitar confusões, usaremos sistematicamente notações diferentes


para um ângulo e para sua medida em graus.

iii. Muitas vezes usamos, por economia de notação, letras gregas minúsculas
para denotar medidas de ângulos4 ; por exemplo, escrevemos AOBb =θ
(lê-se téta) para signicar que a medida do ângulo ∠AOB é θ graus.

Exemplo 7 Com o auxílio de um compasso, construa um ângulo de vértice O0 , com


um lado situado sobre a reta r e igual ao ângulo α dado.

Solução

O′

Os passos a seguir serão justicados quando estudarmos o caso LLL de con-


gruência de triângulos, na Unidade3.

Descrição dos passos.

1. Trace um arco de círculo de raio arbitrário R, centrado no vértice do


ângulo dado, marcando pontos X e Y sobre os lados do mesmo.
4A exceção é a letra π (lê-se pi); por razões que carão claras posteriormente, reservamos
outro uso para tal letra.

12
Conceitos Básicos Unidade 0

2. Trace outro arco de círculo de raio R, centrado em O0 , marcando Y 0


como um dos pontos de interseção do mesmo com a reta r.

3. Marque o ponto X 0 de interseção do círculo de raio R e centro O0 com


o círculo de raio XY e centro Y 0 .

4. O ângulo ∠X 0 O0 Y 0 mede α.
Observamos, anteriormente, que todo diâmetro de uma círculo o divide em
−→ −→
duas partes iguais. Assim, se tivermos um ângulo ∠AOB tal que OA e OB
sejam semirretas opostas (i.e., A, O e B estejam sobre uma mesma reta, com
O ∈ AB ), então AOB b = 180◦ (Figura 15).

180◦
B A
O

Figura 15: ângulo de 180◦ .

Raras vezes utilizaremos ângulos maiores que 180◦ . Assim, no que segue,
quando escrevermos ∠AOB , estaremos nos referindo, a menos que se diga o
contrário, ao ângulo convexo ∠AOB , i.e., ao ângulo ∠AOB tal que 0◦ <
b ≤ 180◦ . Diremos (Figura 16) que um ângulo ∠AOB é agudo quando
AOB
0◦ < AOBb < 90◦ , reto quando AOB b = 90◦ e obtuso quando 90◦ < AOB b <
180◦ . Observe, na (Figura 16), a notação especial utilizada para ângulos retos.

B
B
B


θ = 90◦ θ > 90◦
θ < 90
O A A A
O O

Figura 16: ângulos agudo (esq.), reto (centro) e obtuso (dir.).

É, por vezes, útil ter um nome especial associado a dois ângulos cuja soma
das medidas seja igual a 90◦ ; diremos, doravante, que dois ângulos com tal

13
Unidade 0 Ângulos

propriedade são complementares. Assim, se α e β são as medidas de dois


ângulos complementares, então α + β = 90◦ . Ainda nesse caso, diremos que α
é o complemento de β e vice-versa. Por exemplo, dois ângulos medindo
25◦ e 65◦ são complementares, uma vez que 25◦ + 65◦ = 90◦ ; por outro
lado, o complemento de um ângulo de 30◦ é um ângulo de medida igual a
90◦ − 30◦ = 60◦ .
A primeira proposição de Geometria Euclidiana plana que vamos provar
fornece uma condição suciente para a igualdade de dois ângulos. Contudo,
antes de enunciá-la precisamos da seguinte

Definição 8 Dois ângulos ∠AOB e ∠COD (de mesmo vértice O) são opostos pelo
vértice (abreviamos OPV) se seus lados forem semirretas opostas.

D A
γ
β α
O

C B

Figura 17: ângulos opostos pelo vértice.

Os ângulos ∠AOB e ∠COD da Figura 17 são OPV, uma vez que as


−→ −→ −→ −→
semirretas OA e OC , bem como as semirretas OB e OD, são respectivamente
opostas.

Proposição 9 Dois ângulos OPV são iguais.

−→ −→
Demonstração
Vamos nos referir à Figura 17. Como OB e OD são semirretas opostas,
segue que α + γ = 180◦ . Analogamente, β + γ = 180◦ . Portanto,

α = 180◦ − γ = β.

14
Referências Bibliográcas

[1] AKOPYAN, A. V. e ZASLAVSKY A. A. (2007). Geometry of Conics. Amer-


ican Mathematical Society. 3

[2] DE BARROS, A. A. e ANDRADE, P. F. DE A. (2009). Introdução à Geo-


metria Projetiva. Sociedade Brasileira de Matemática.

[3] BARBOSA, J. L. M. (2004). Geometria Euclidiana Plana. Sociedade


Brasileira de Matemática. 2

[4] BARBOSA, J. L. M. (1995). Geometria Hiperbólica. Instituto Nacional de


Matemática Pura e Aplicada.

[5] CAMINHA, A. (2012). Temas de Matemática Elementar, Volume 1.


Números Reais. Sociedade Brasileira de Matemática.

[6] COXETER, H. S. M. e GREITZER, S. L. (1967). Geometry Revisited. The


Mathematical Association of America. 3

[7] HEATH, T. L. (1956). The Thirteen Books of Euclid's Elements. Dover. 2

[8] HONSBERGER, R. (1995). Episodes in Nineteenth and Twentieth Century


Euclidean Geometry. The Mathematical Association of America. 3

[9] JOHNSON, R. (2007). Advanced Euclidean Geometry. Dover. 3

[10] YAGLOM, I. M. (1962). Geometric Transformations I. The Mathematical


Association of America. 3

[11] YAGLOM, I. M. (1968). Geometric Transformations II. The Mathematical


Association of America. 3

[12] YAGLOM, I. M. (1973). Geometric Transformations III. The Mathematical


Association of America. 3

[13] YAGLOM, I. M. e SHENITZER, A. (2009). Geometric Transformations IV.


The Mathematical Association of America. 3

15
1
Polígonos

Sumário
1.1 Polígonos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

1.2 Problemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

1
Unidade 1 Polígonos

1.1 Polígonos
←→
Considere três pontos A, B e C no plano. Se C estiver sobre a reta AB ,
diremos que A, B e C são colineares; caso contrário, diremos que A, B e C
são não colineares (Figura 1.1).

A B r

Figura 1.1: três pontos não colineares.

Três pontos não colineares formam um triângulo. Nesse caso, a região


triangular correspondente é região limitada do plano, delimitada pelos segmen-
tos que unem os três pontos dois a dois. Sendo A, B e C tais pontos, diremos
que A, B e C são os vértices do triângulo ABC . Mostramos, na Figura 1.2,
o triângulo ABC que tem por vértices os pontos A, B e C da Figura 1.1.
C
b
a
A
c B

Figura 1.2: o triângulo ABC de vértices A, B e C .

Ainda em relação a um triângulo genérico ABC , diremos que os segmentos


AB , AC e BC (ou seus comprimentos) são os lados do triângulo; em geral,
escreveremos AB = c, AC = b e BC = a para denotar os comprimentos dos
lados de um triângulo ABC (Figura 1.2). A soma dos comprimentos dos lados
do triângulo é seu perímetro, o qual será, doravante, denotado por 2p; assim,
p é o semiperímetro do triângulo. Nas notações da Figura 1.2, temos
a+b+c
p= . (1.1)
2
Os ângulos ∠A = ∠BAC , ∠B = ∠ABC e ∠C = ∠ACB (ou suas medidas
b ,B
A = B AC
b b eC
b = ABC b ) são os ângulos internos do triângulo.
b = ACB

2
Polígonos Unidade 1

Podemos classicar triângulos de duas maneiras básicas: em relação aos


comprimentos de seus lados ou em relação às medidas de seus ângulos; ve-
jamos, por enquanto, como classicá-los em relação aos comprimentos de seus
lados. Como todo triângulo tem três lados, as únicas possibilidades para os
comprimentos dos mesmos são que haja pelo menos dois lados iguais ou que os
três lados sejam diferentes dois a dois. Assim, temos a denição a seguir.

Um triângulo ABC é denominado: Definição 1

(a) Equilátero, se AB = AC = BC .
(b) Isósceles, se ao menos dois dentre AB, AC, BC forem iguais.
(c) Escaleno, se AB 6= AC 6= BC 6= AB .

A A
A

B C B C B C

Figura 1.3: triângulos equilátero (esq.), isósceles (centro), escaleno (dir.).

Pela denição acima, todo triângulo equilátero é isósceles; no entanto, a


recíproca não é verdadeira (veja, por exemplo, o triângulo ABC do centro na
Figura 1.3, para o qual temos claramente AB = AC 6= BC ).
Quando ABC for um triângulo isósceles, tal que AB = AC , diremos que
o lado BC é a base do triângulo. Para triângulos equiláteros, podemos chamar
um qualquer de seus lados de base, mas, nesse caso, raramente usamos essa
palavra, i.e., em geral reservamos a palavra base para triângulos isósceles que
não são equiláteros.
Um triângulo é um tipo particular de polígono convexo, conforme a denição
a seguir.

3
Unidade 1 Polígonos

Definição 2 Sejam n ≥ 3 um natural e A1 , A2 , . . . , An pontos distintos do plano.


Dizemos que A1 A2 . . . An é um polígono (convexo) se, para 1 ≤ i ≤ n, a
←→
reta Ai Ai+1 não contém nenhum outro ponto Aj , mas deixa todos eles em um
mesmo semiplano, dentre os que ela determina (aqui e no que segue, A0 = An ,
An+1 = A1 e An+2 = A2 ).

A4
A5

A3

A1 A2

Figura 1.4: um polígono convexo de cinco vértices (e lados).

Os pontos A1 , A2 , . . . , An são os vértices do polígono; os segmentos A1 A2 ,


A2 A3 , . . . , An−1 An , An A1 (ou, por vezes, seus comprimentos) são os lados
do polígono. Assim como com triângulos, a soma dos comprimentos dos lados
do polígono é o perímetro do mesmo. A região poligonal correspondente ao
polígono A1 A2 . . . An é a região limitada do plano, delimitada pelos segmentos
A1 A2 , A2 A3 , . . . , An−1 An , An A1 (para um exemplo, veja a Figura 1.5).

A4
A5

A3

A1 A2

Figura 1.5: a região poligonal correspondente ao polígono da gura 1.4.

Uma diagonal de um polígono é qualquer um dos segmentos Ai Aj que não


seja um lado do mesmo; por exemplo, o polígono A1 A2 . . . A5 da Figura 1.4 pos-
sui exatamente cinco diagonais: A1 A3 , A1 A4 , A2 A4 , A2 A5 e A3 A5 . Provare-

4
Polígonos Unidade 1

mos, na Proposição 3, que todo polígono convexo com n lados possui exata-
mente n(n−3)
2
diagonais (veja também o Problema 1, página 7).
Os ângulos convexos ∠Ai−1 Ai Ai+1 (ou simplesmente ∠Ai , 1 ≤ i ≤ n) são
os ângulos internos do polígono. Assim, todo polígono de n vértices possui
exatamente n ângulos internos. Na Figura 1.4 marcamos os ângulos internos
do polígono A1 A2 . . . A5 . Um polígono convexo A1 A2 . . . An possui exatamente
dois ângulos externos em cada um de seus vértices; no vértice A1 , por exem-
plo, tais ângulos são aquele formado pelo lado A1 A2 e pelo prolongamento do
lado An A1 , no sentido de An para A1 , bem como o ângulo oposto pelo vértice
a esse. (Na Figura 1.6, marcamos os ângulos externos do polígono A1 A2 . . . A5
no vértice A1 .) Analogamente, denimos os ângulos externos de A1 A2 . . . An
em cada um dos outros n − 1 vértices restantes.
A4
A5

A3

A1 A2

Figura 1.6: ângulos externos do polígono A1 A2 A3 A4 A5 em A1 .

Em geral, dizemos que um polígono A1 A2 . . . An é um n−ágono, em refe-


rência a seu número n de lados (e de vértices). Contudo, são consagrados pelo
uso os nomes quadrilátero para n = 4, pentágono para n = 5, hexágono
para n = 6, heptágono para n = 7, octógono para n = 8 e decágono para
n = 10. Ainda no que concerne quantidades especícas de lados, é costume
nomear os vértices de um polígono com letras latinas maiúsculas distintas. Por
exemplo, um quadrilátero será, em geral, denotado por ABCD e, nesse caso,
sempre suporemos, salvo menção explícita em contrário, que os lados do mesmo
são AB , BC , CD e DA. Observações análogas são válidas para pentágonos,
hexágonos etc.
A proposição a seguir estabelece o número de diagonais de um n−ágono
convexo.

5
Unidade 1 Polígonos

Proposição 3 Todo n−ágono convexo possui exatamente n(n−3)


2
diagonais.

Demonstração Se n = 3 não há nada a provar, uma vez que triângulos não têm diagonais
e n(n−3)
2
= 0 para n = 3. Suponha, pois, n ≥ 4. Unindo o vértice A1 aos
n − 1 vértices restantes A2 , . . . , An obtemos n − 1 segmentos; destes, dois são
lados (A1 A2 e A1 An ) e os n − 3 restantes (A1 A3 , . . . , A1 An−1 ) são diagonais
(Figura 1.7). Como um raciocínio análogo é válido para qualquer outro vértice,

An−1

An A3

A1 A2

Figura 1.7: diagonais de um n−ágono convexo partindo de A1 .

segue que, de cada vértice do polígono, partem exatamente n − 3 diagonais.


Isso nos daria um total de n(n − 3) diagonais (i.e., n − 3 diagonais para cada
um dos n vértices). Daria, porque cada diagonal Ai Aj foi contada, da maneira
acima, duas vezes: uma quando contamos as diagonais que partem do vértice
Ai e outra quando contamos as que partem do vértice Aj . Portanto, para
obter o número correto de diagonais do polígono, devemos dividir por 2 o total
n(n − 3), obtendo, então, n(n−3)
2
diagonais.

6
Polígonos Unidade 1

1.2 Problemas

1. Prove a fórmula para o número de diagonais de um polígono convexo


(Proposição 3) por indução sobre o número de lados do mesmo. (Sug-
estão: para o passo de indução, considere um polígono A1 A2 . . . Ak Ak+1 ,
de k + 1 lados. A diagonal A1 Ak o divide em dois polígonos: o triângulo
A1 Ak Ak+1 e o polígono de k lados A1 A2 . . . Ak . Observe, agora, que as
diagonais de A1 A2 . . . Ak Ak+1 são de um dentre três tipos: (a) A1 Ak ;
(b) diagonais de A1 A2 . . . Ak ; (c) diagonais Ai Ak+1 , para 2 ≤ i ≤ k − 1.
Some os totais de diagonais de cada um dos tipos (a), (b) e (c), utilizando
a hipótese de indução para o tipo (b).)

2. A partir de um dos vértices de um polígono convexo podemos traçar


tantas diagonais quantas são as diagonais de um hexágono. Encontre o
número de lados do polígono.

3. Três polígonos convexos têm números de lados iguais a três naturais con-
secutivos. Sabendo que a soma dos números de diagonais dos polígonos
é 133, calcule o número de lados do polígono com maior número de dia-
gonais. (Sugestão: algebrize o problema, i.e., denote por n, n + 1 e n + 2
os números de lados dos polígonos e, em seguida, utilize o resultado da
Proposição 3 para montar uma equação de segundo grau na incógnita n.)

7
Referências Bibliográcas

[1] AKOPYAN, A. V. e ZASLAVSKY A. A. (2007). Geometry of Conics. Amer-


ican Mathematical Society.

[2] DE BARROS, A. A. e ANDRADE, P. F. DE A. (2009). Introdução à Geo-

metria Projetiva. Sociedade Brasileira de Matemática.

[3] BARBOSA, J. L. M. (2004). Geometria Euclidiana Plana . Sociedade


Brasileira de Matemática.

[4] BARBOSA, J. L. M. (1995). Geometria Hiperbólica . Instituto Nacional de


Matemática Pura e Aplicada.

[5] CAMINHA, A. (2012). Temas de Matemática Elementar, Volume 1.


Números Reais. Sociedade Brasileira de Matemática.

[6] COXETER, H. S. M. e GREITZER, S. L. (1967). Geometry Revisited . The


Mathematical Association of America.

[7] HEATH, T. L. (1956). The Thirteen Books of Euclid's Elements . Dover.

[8] HONSBERGER, R. (1995). Episodes in Nineteenth and Twentieth Century

Euclidean Geometry. The Mathematical Association of America.

[9] JOHNSON, R. (2007). Advanced Euclidean Geometry . Dover.

[10] YAGLOM, I. M. (1962). Geometric Transformations I . The Mathematical


Association of America.

[11] YAGLOM, I. M. (1968). Geometric Transformations II. The Mathematical


Association of America.

[12] YAGLOM, I. M. (1973). Geometric Transformations III. The Mathematical


Association of America.

[13] YAGLOM, I. M. e SHENITZER, A. (2009). Geometric Transformations IV.


The Mathematical Association of America.

8
2

Congruência de
Triângulos
Sumário
2.1 Os casos LAL, ALA e LLL . . . . . . . . . . . . . . 2

2.2 Problemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

2.3 Aplicações de congruência . . . . . . . . . . . . . . 11

2.4 Problemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

1
Unidade 2 Os casos LAL, ALA e LLL

Congruência de Triângulos

Esta unidade é devotada ao estudo de condições necessárias e sucientes


para que dois triângulos possam ser considerados iguais, num sentido a ser pre-
cisado. Discutimos, ainda, várias consequências interessantes de tais conjuntos
de condições, notadamente o quinto axioma de Euclides (também conhecido
como o axioma das paralelas), a desigualdade triangular e os vários tipos de
quadriláteros notáveis.

2.1 Os casos LAL, ALA e LLL

Consideremos, inicialmente, o exemplo a seguir.

Exemplo 1 Construa com régua e compasso um triângulo equilátero ABC de lados

iguais a l.

Solução

Descrição dos passos.

1. Marque um ponto arbitrário A no plano.


2. Com a abertura do compasso igual a l, centre-o em A e construa o círculo
de centro A e raio l.

3. Marque um ponto arbitrário B sobre tal círculo.


4. Com a abertura do compasso igual a l, centre-o em B e construa o círculo
de centro B e raio l.

5. Denotando por C uma qualquer das interseções dos dois círculos traçados,
construímos um triângulo ABC , equilátero e de lado l.

2
Congruência de Triângulos Unidade 2

No exemplo acima, construímos um triângulo tendo certas propriedades


pré-estabelecidas (ser equilátero, com comprimento dos lados conhecido). Ao
resolvê-lo, aceitamos implicitamente o fato de que só havia, essencialmente, um
triângulo satisfazendo as propriedades pedidas; de outro modo, qualquer outro
triângulo que tivéssemos construído mereceria ser qualicado como igual ao
triângulo construído, uma vez que só diferiria desse por sua posição no plano.
A discussão acima motiva a noção de igualdade para triângulos, a qual
recebe o nome especial de congruência: dizemos que dois triângulos são con-
gruentes se for possível mover um deles no espaço, sem deformá-lo, até fazê-lo
coincidir com o outro.
Assim, se dois triângulos ABC e A0 B 0 C 0 forem congruentes, deve existir
uma correspondência entre os vértices de um e do outro, de modo que os
ângulos internos em vértices correspondentes sejam iguais, bem como o sejam
os lados opostos a vértices correspondentes. A Figura 2.1 mostra dois triângulos
congruentes ABC e A0 B 0 C 0 , com a correspondência de vértices
A ←→ A0 ; B ←→ B 0 ; C ←→ C 0 .
Para tais triângulos, temos então
A C′

B C A′
B′

Figura 2.1: dois triângulos congruentes.

(
A
b=Ab0 ; B
b=B b0; C
b=Cb0
.
AB = A0 B 0 ; AC = A0 C 0 ; BC = B 0 C 0
É imediato que a congruência de triângulos possui as duas propriedades
interessantes a seguir1 :
1O leitor com algum conhecimento prévio de Geometria Euclidiana notará que, no que
segue, não listamos a propriedade reexiva da congruência de triângulos. Nesse sentido,
sempre que nos referirmos, em um certo contexto, a dois triângulos, cará implícito que os
mesmos são, necessariamente, distintos.

3
Unidade 2 Os casos LAL, ALA e LLL

1. Simetria: tanto faz dizermos que um triângulo ABC é congruente a


um triângulo DEF quanto que DEF é congruente a ABC , ou mesmo
que ABC e DEF são congruentes. Isso porque, se pudermos mover
ABC , sem deformá-lo, até fazê-lo coincidir com DEF , então certamente
poderemos fazer o movimento contrário com DEF , até superpô-lo a
ABC .

2. Transitividade: se ABC for congruente a DEF e DEF for congruente


a GHI , então ABC será congruente a GHI . Isso porque podemos mover
ABC até fazê-lo coincidir com GHI por partes: primeiro, movemos ABC
até que ele coincida com DEF e, então, continuamos a movê-lo até que
coincida com GHI .
Doravante, escreveremos
ABC ≡ A0 B 0 C 0
para denotar que os dois triângulos ABC e A0 B 0 C 0 são congruentes, com a
correspondência de vértices

A ←→ A0 ; B ←→ B 0 ; C ←→ C 0 .

Seria interessante dispormos de critérios para decidir se dois triângulos dados


são ou não congruentes. Tais critérios deveriam ser os mais simples possíveis,
a m de facilitar a vericação da congruência. Esses critérios existem e são
chamados casos de congruência de triângulos.
No que segue, vamos estudar os vários casos de congruência de triângulos
sob um ponto de vista informal. Cada caso é precedido de um problema de
construção com régua e compasso, cuja solução motiva sua formalização.

Exemplo 2 Construa com régua e compasso o triângulo ABC , conhecidos BC = a,


AC = b e C
b = γ.

Solução

a b γ

4
Congruência de Triângulos Unidade 2

Descrição dos passos.

−→
1. Marque um ponto C no plano e, em seguida, trace uma semirreta CX
de origem C .

2. Transporte o ângulo dado −→


para um ângulo X CY
b = γ , de vértice C ,
determinando a semirreta CY de origem C .
−→ −→
3. Sobre as semirretas CX e CY marque, respectivamente, os pontos B e
A tais que AC = b e BC = a.

Analisando os passos da construção acima notamos que, escolhendo outra


posição para o vértice C e outra direção para os lados do ângulo ∠XCY , a
construção do triângulo ABC continuaria determinada pelos dados do exemplo
e obteríamos um triângulo que, intuitivamente, gostaríamos de qualicar como
congruente ao triângulo inicial. Essa discussão motiva nosso primeiro caso de
congruência, conhecido como o caso LAL.

Se dois lados de um triângulo e o ângulo formado por esses dois lados forem Axioma 3
LAL
respectivamente iguais a dois lados de outro triângulo e ao ângulo formado por
esses dois lados, então os dois triângulos são congruentes.

A C′

B C A′
B′

Figura 2.2: o caso de congruência LAL.

Em símbolos, o caso de congruência acima garante que, dados triângulos


ABC e A0 B 0 C 0 , temos:

AB = A0 B 0 
LAL

0
AC = A C 0 =⇒ ABC ≡ A0 B 0 C 0 ,

A b0
b=A 

5
Unidade 2 Os casos LAL, ALA e LLL

com a correspondência de vértices A ↔ A0 , B ↔ B 0 , C ↔ C 0 . Em particular,


segue, daí, que
Bb=B b0, C b=C b0 e BC = B 0 C 0 .

Consideremos, agora, o exemplo a seguir.

Exemplo 4 Construa com régua e compasso o triângulo ABC , conhecidos BC = a,


B
b=β e C
b = γ.

Solução

a
β γ

Descrição dos passos.

1. Trace uma reta r e, sobre a mesma, marque pontos B e C tais que


BC = a.
−→
2. Construa uma semirreta BX tal que C BX
b = β.
−→
3. No semiplano determinado por r e X construa a semirreta CY tal que
b = γ.
B CY
−→ −→
4. Marque o ponto A como interseção das semirretas BX e CY .

Aqui novamente, analisando os passos da construção acima, notamos que,


escolhendo outra posição para o lado BC e mantendo BC = a, a construção
do triângulo ABC continuaria determinada pelas medidas impostas aos ângulos
∠B e ∠C , de modo que obteríamos um triângulo que gostaríamos de qualicar
como congruente ao triângulo inicial. Essa discussão motiva nosso segundo
caso de congruência, o caso ALA.

6
Congruência de Triângulos Unidade 2

Se dois ângulos de um triângulo e o lado compreendido entre esses dois Axioma 5


ALA
ângulos forem respectivamente iguais a dois ângulos de outro triângulo e ao lado
compreendido entre esses dois ângulos, então os dois triângulos são congruentes.

A C′

B C A′
B′

Figura 2.3: o caso de congruência ALA.

Em símbolos, dados dois triângulos ABC e A0 B 0 C 0 , temos:



A
b=A b0 
ALA

B=B
b b 0 =⇒ ABC ≡ A0 B 0 C 0 ,

AB = A0 B 0

com a correspondência de vértices A ↔ A0 , B ↔ B 0 , C ↔ C 0 . Em particular,


também devemos ter

C b0 , AC = A0 C 0 e BC = B 0 C 0 .
b=C

Examinemos, agora, o exemplo que motivará nosso terceiro caso de con-


gruência.

Construa com régua e compasso o triângulo ABC , conhecidos AB = c, Exemplo 6

AC = b e BC = a.

Solução

c
a b

7
Unidade 2 Os casos LAL, ALA e LLL

Descrição dos passos.

1. Trace uma reta r e, sobre a mesma, marque pontos B e C tais que


BC = a.

2. Trace os círculos de centro B e raio c e de centro C e raio b.


3. Marque o ponto A como um dos pontos de interseção dos círculos traça-
dos no item anterior.

Uma vez mais, os passos da construção evidenciam que, com outro posi-
cionamento inicial para o lado BC (mantida, é claro, a condição BC = a),
obteríamos um triângulo que gostaríamos de qualicar como congruente ao
triângulo inicial. Isto motiva, então, nosso terceiro caso de congruência, o caso
LLL, enunciado a seguir.

Axioma 7 Se os três lados de um triângulo são, em alguma ordem, respectivamente


LLL
congruentes aos três lados de outro triângulo, então os dois triângulos são
congruentes.

A C′

B C A′
B′

Figura 2.4: o caso de congruência LLL.

Em símbolos, dados dois triângulos ABC e A0 B 0 C 0 , temos:



AB = A0 B 0 
LLL

BC = B C 0 0 =⇒ ABC ≡ A0 B 0 C 0 ,

CA = C 0 A0

com a correspondência de vértices A ↔ A0 , B ↔ B 0 , C ↔ C 0 . Em particular,


também temos
Ab=A b0 , Bb=Bb0 e C b=C b0 .

8
Congruência de Triângulos Unidade 2

Vale observar que os casos de congruência ALA e LLL decorrem do caso


LAL no seguinte sentido: dados, no plano, dois triângulos quaisquer, pode
ser mostrado que a validade de um qualquer dos conjuntos de condições ALA
ou LLL para os mesmos acarreta a validade de uma condição do tipo LAL.
No entanto, como tais deduções não implicariam em ganho substancial para
o propósito destas notas, não as apresentaremos aqui (para uma exposição,
referimos o leitor a [3]). Por m, apresentaremos os dois últimos casos de
congruência de triângulos no Corolário 4.8 e no Problema 1 da Unidade 4,
mostrando como tais casos podem ser deduzidos a partir dos casos ALA e LLL,
estudados acima.
Por m, observamos que, uma vez estabelecida a congruência de dois triân-
gulos, sempre que não houver perigo de confusão omitiremos a correspondência
entre seus vértices. Essa praxe será utilizada várias vezes no restante dessas
notas, de forma que exortamos o leitor, em cada uma de tais oportunidades, a
checar com cuidado a correspondência apropriada entre os vértices envolvidos,
para o bem da compreensão do texto.

9
Unidade 2 Problemas

2.2 Problemas

1. (a) Dê um exemplo mostrando dois triângulos congruentes para os quais


não seja possível mover rigidamente (i.e., sem deformar) um deles
no plano até fazê-lo coincidir com o outro.

(b) Em que diferem os dois triângulos congruentes do item (a) que


justique não podermos fazer tal movimento no plano?
(c) Para o exemplo do item (a), mostre como mover rigidamente um
dos triângulos no espaço até fazê-lo coincidir com o outro.
(Sugestão: para o item (a), considere triângulos escalenos ABC e A0 BC
no plano, tais que AB = A0 B e AC = A0 C . A razão da impossibilidade
de mover (no plano) um deles até fazê-lo coincidir com o outro é o fato
de que eles têm orientações distintas.)

10
Congruência de Triângulos Unidade 2

2.3 Aplicações de congruência

Colecionamos, nesta seção, algumas aplicações úteis dos casos de congruên-


cia de triângulos estudados na seção anterior. Tais aplicações aparecerão do-
ravante com tanta frequência que o leitor deve se esforçar por memorizá-las o
quanto antes.

−→
Dado um ângulo ∠AOB , a bissetriz de ∠AOB é a semirreta OC que Definição 8
−→
o divide em dois ângulos iguais. Neste caso, dizemos ainda que OC bissecta
∠AOB . Assim,
−→
OC bissecta ∠AOB ⇐⇒ AOC
b = B OC.
b

Assumiremos, aqui, que a bissetriz interna de um ângulo, caso exista, é


única. O próximo exemplo ensina como construi-la.

Construa com régua e compasso a bissetriz do ângulo ∠AOB dado abaixo. Exemplo 9

Solução

O A

Descrição dos passos.

1. Centre−→
o compasso em O e, com uma mesma abertura r, marque pontos
−→
X ∈ OA e Y ∈ OB .

2. Fixe uma abertura s > 21 XY e trace, dos círculos de raio s e centros X e


−→
Y , arcos que se intersectem num ponto C . A semirreta OC é a bissetriz
de ∠AOB .

11
Unidade 2 Aplicações de congruência

De fato, em relação aos triângulos XOC e Y OC construídos acima, temos


OX = OY = r e XC = Y C = s; uma vez que o lado OC é comum aos
dois triângulos, segue do caso de congruência LLL que XOC ≡ Y OC . Logo,
X OC
b = Y OC b ou, ainda, AOC b = B OCb .

Em um triângulo ABC , a bissetriz interna relativa a BC (ou ao vértice


A) é a porção AP da bissetriz do ângulo interno ∠A do triângulo, desde A até
o lado BC ; o ponto P ∈ BC é o pé da bissetriz interna relativa a BC .
Analogamente, temos em ABC as bissetrizes internas relativas aos lados AC
e AB (ou aos vértices B e C , respectivamente), de modo que todo triângulo
possui exatamente três bissetrizes internas. Neste momento, é instrutivo o
leitor desenhar um triângulo ABC , juntamente com a bissetriz interna relativa
ao vértice A e o pé da bissetriz correspondente; a esse respeito, veja também
o Problema 1, página 17.
Combinando os casos LLL e LAL podemos contruir também o ponto médio
de um segmento, i.e., o ponto que o divide em duas partes iguais. O próximo
exemplo explica como construi-lo.

Exemplo 10 Construa com régua e compasso o ponto médio do segmento AB .

Solução

Descrição dos passos.

1. Fixe uma abertura r > 12 AB e trace, dos círculos de raio r e centros A


e B , arcos que se intersectem nos pontos X e Y .
←→
2. O ponto M de interseção da reta XY com o segmento AB é o ponto
médio de AB .

De fato, em relação aos triângulos AXY e BXY , temos AX = BX e AY =


BY ; uma vez que o lado XY é comum aos dois triângulos, segue do caso de

12
Congruência de Triângulos Unidade 2

congruência LLL que AXY ≡ BXY . Portanto, AXYb = B XYb ou, ainda,
AXM
b b . Agora, nos triângulos AXM e BXM , temos que AX =
= B XM
BX e AXM b = B XMb ; mas, como o lado XM é comum aos mesmos, segue
do caso LAL que AXM ≡ BXM . Logo, AM = BM .

Em um triângulo ABC , a mediana relativa ao lado BC (ou ao vértice A)


é o segmento que une o vértice A ao ponto médio do lado BC . Analogamente,
temos em ABC medianas relativas aos lados AC e AB (ou aos vértices B
e C , respectivamente), de modo que todo triângulo possui exatamente três
medianas. Sugerimos ao leitor desenhar um triângulo ABC , juntamente com
sua mediana relativa ao vértice A e o ponto médio do lado correspondente; veja
também o Problema 2, página 17.
Dadas duas retas r e s no plano, dizemos que r é perpendicular a s, que
s é perpendicular a r ou, ainda, que r e s são perpendiculares quando r e s
tiverem um ponto em comum e formarem ângulos de 90◦ nesse ponto. Escreve-
mos r⊥s para denotar que duas retas r e s são perpendiculares. O próximo
exemplo mostra como usar os casos de congruência estudados anteriormente
para construir a reta perpendicular a uma reta dada e passando por um ponto
dado.

Dados, no plano, uma reta r e um ponto A, construa com régua e compasso Exemplo 11

uma reta s tal que r⊥s e A ∈ s.

Há dois casos a considerar: Solução


(a)

Descrição dos passos.

1. Com o compasso centrado em A, descreva um arco de círculo que inter-


secte a reta r em dois pontos distintos B e C .

13
Unidade 2 Aplicações de congruência

←→
2. Construa o ponto médio M de BC e faça s = AM .

De fato, em relação aos triângulos ABM e ACM , temos AB = AC e


BM = CM ; como AM é lado de ambos os triângulos, segue do caso LLL que
ABM ≡ ACM e, daí, AM cB = AM cC . Mas, como AM cB + AMcC = 180◦ ,
←→
devemos ter, então, que AM
cB = AM cC = 90◦ ou, ainda, AM ⊥r.

(b)

A
r

Descrição dos passos.

1. Com o compasso centrado em A, descreva um semicírculo que intersecta


a reta r nos pontos B e C .

2. Trace, agora, círculos de raio r > 12 BC e centros respectivamente em B


e em C ; sendo A0 um dos pontos de interseção de tais círculos, temos
←→
A0 A⊥r.

De fato, temos ABA0 ≡ ACA0 por LLL e, daí, A0 AB b . Mas, como


b = A0 AC
A0 AB b = 180◦ , segue que A0 AB
b + A0 AC b = 90◦ .
b = A0 AC

Nas notações do exemplo anterior, se A ∈


/ r, então o ponto de interseção
da reta s, perpendicular a r por A, é denominado o pé da perpendicular
baixada de A a r.

Observação 12 Dados, no plano, um ponto A e uma reta r, é possível mostrar que existe

uma única reta s, perpendicular a r e passando por A (a esse respeito, veja o

Problema 19 da Unidade 4.

Dados, no plano, um ponto A e uma reta r, com A ∈ / r, a distância do


ponto A à reta r é denida como o comprimento do segmento AP , onde P
é o pé da perpendicular baixada de A a r (cf. Figura 2.5). Denotando por
d a distância de A a r, temos então d = AP . Provaremos na Unidade 5
que o comprimento do segmento AP é menor que o comprimento de qualquer

14
Congruência de Triângulos Unidade 2

P P′ r

Figura 2.5: distância do ponto A à reta r.

outro segmento unindo A a um ponto P 0 ∈ r, com P 0 6= P ; nas notações da


Figura 2.5, d < AP 0 .
Em um triângulo ABC , a altura relativa ao lado BC (ou ao vértice A) é o
←→
segmento que une o vértice A ao pé da perpendicular baixada de A à reta BC .
Nesse caso, denominamos o pé da perpendicular em questão de pé da altura
relativa a BC . Analogamente, temos em ABC alturas relativas aos lados AC
e AB (ou aos vértices B e C , respectivamente), de modo que todo triângulo
possui exatamente três alturas. A esta altura, sugerimos ao leitor desenhar um
triângulo ABC , juntamente com sua altura relativa ao vértice A e o pé da
altura correspondente; a esse respeito, veja também o Problema 3, página 17.
Finalizamos essa seção estudando uma propriedade muito importante dos
triângulos isósceles:

Se ABC é um triângulo isósceles de base BC , então B b.


b=C Proposição 13

A prova dessa proposição está embutida na justicativa que demos para a Demonstração
construção do ponto médio de um segmento. Em todo caso, vamos repeti-la.

B M C

Figura 2.6: ABC isósceles ⇒B


b=C
b.

15
Unidade 2 Aplicações de congruência

Seja M o ponto médio do lado BC (Figura 2.6). Como BM = CM ,


AB = AC e AM é lado comum de AM B e AM C , segue do caso de con-
gruência LLL que tais triângulos são congruentes. Logo, ABM b .
b = ACM

Corolário 14 Os ângulos internos de um triângulo equilátero são todos iguais.

Demonstração
Basta observar que todos os lados de um triângulo equilátero podem ser
vistos como bases do mesmo, considerado como triângulo isósceles.

16
Congruência de Triângulos Unidade 2

2.4 Problemas

1. Construa com régua e compasso as bissetrizes internas do triângulo ABC


da Figura 2.7.(Sugestão: siga os passos da construção descrita no Exem-
plo 9.)

A B

Figura 2.7: bissetrizes internas de um triângulo.

2. Construa com régua e compasso as medianas do triângulo ABC da


Figura 2.8.(Sugestão: siga os passos da construção descrita no Exem-
plo 10.)

A B

Figura 2.8: medianas de um triângulo.

3. Construa com régua e compasso as alturas do triângulo ABC da Figura 2.8.


Após os três problemas acima, vale a pena tecermos alguns comentários.
Em primeiro lugar, é imediato, a partir das denições dadas, que as bis-
setrizes internas e as medianas de um triângulo estão sempre contidas
no mesmo; isso não é necessariamente verdadeiro para as alturas, con-
forme você pôde notar no último problema acima. Por outro lado, você
deve ter notado que, nas construções efetuadas nos três problemas referi-
dos, as bissetrizes internas do triângulo ABC passaram todas por um

17
Unidade 2 Problemas

mesmo ponto, o mesmo tendo ocorrido para as medianas e as alturas.


Tais concorrências não são devidas aos triângulos ABC escolhidos, de
fato, prova-se que bissetrizes internas, medianas e alturas de um triân-
gulo qualquer sempre passam por um mesmo ponto.

4. * Sejam dados, no plano, um ponto A e uma reta r, com A ∈/ r. Dize-


mos que um ponto A0 é o simétrico de A em relação à reta r quando
←→
AA0 ⊥r e r passar pelo ponto médio do segmento AA0 . Mostre como
construir A0 com régua e compasso2 . (Sugestão: comece construindo a
reta perpendicular a r e passando por A.)

5. Construa com régua e compasso o triângulo ABC , conhecidos os com-


primentos AB = c, BC = a e ma da mediana relativa a A. (Sugestão:
comece construindo o triângulo ABM , onde M é o ponto médio do lado
BC .)

6. Construa com régua e compasso o triângulo ABC , conhecendo os com-


primentos AB = c, AC = b e ma da mediana relativa a BC . (Sugestão:
−→
no triângulo ABC , sejam M o ponto médio do lado BC e A0 ∈ AM tal
que A0 M = AM . Mostre que A0 M C ≡ AM B e, em seguida, use esta
conclusão para construir o triângulo AA0 C . Construa, agora, o ponto
−→
médio M de AA0 e obtenha o vértice B como o ponto sobre CM tal que
BM = CM .)

7. Construa com régua e compasso o triângulo ABC , conhecidos os compri-


mentos AB = c e βa da bissetriz interna relativa ao lado BC , bem como
a medida ∠BAC = α. (Sugestão: divida o ângulo α em duas partes
iguais (com o auxílio da construção da bissetriz) e, em seguida, construa
o triângulo ABP , onde P é o pé da bissetriz interna de ABC relativa ao
−→
lado BC . Em seguida, obtenha o vértice C como a interseção de BP
−→
com AX , onde B AX b = α.)

8. * Se ABC é um triângulo isósceles de base BC , prove que a bissetriz, a


mediana e a altura relativas a BC coincidem. (Sugestão: se M é o ponto
2 Paraestudar sistematicamente reexão como uma transformação geométrica (cf. [10]),
é necessário denirmos o simétrico A0 de um ponto A em relação à reta r quando A ∈ r;
nesse caso, pomos A0 = A.

18
Congruência de Triângulos Unidade 2

médio do lado BC , mostramos na Proposição 13 que os triângulos ABM


e ACM são congruentes por LLL. Conclua, daí, que AM é bissetriz de
∠BAC e que B M cA = C M cA. Por m, use o fato de B McA + C M cA =
180◦ para concluir que AM é altura.)

9. * Sejam ABC um triângulo e P , M e H respectivamente os pés da


bissetriz interna, mediana e altura relativas ao lado BC . Se P e H ou
M e H coincidirem, prove que ABC é isósceles de base BC . (Sugestão:
se P e H coincidirem, mostre que ABP ≡ ACP por ALA; se M e H
coincidirem, use LAL em vez de ALA.)

10. * Seja Γ um círculo de centro O e AB uma corda de Γ. Se M é um


ponto sobre AB , prove que

OM ⊥AB ⇔ AM = BM .

(Sugestão: uma vez que OA = OB , é suciente combinar os resultados


dos dois problemas anteriores.)

19
Referências Bibliográcas

[1] AKOPYAN, A. V. e ZASLAVSKY A. A. (2007). Geometry of Conics. Amer-


ican Mathematical Society.

[2] DE BARROS, A. A. e ANDRADE, P. F. DE A. (2009). Introdução à Geo-

metria Projetiva. Sociedade Brasileira de Matemática.

[3] BARBOSA, J. L. M. (2004). Geometria Euclidiana Plana . Sociedade


Brasileira de Matemática. 9

[4] BARBOSA, J. L. M. (1995). Geometria Hiperbólica . Instituto Nacional de


Matemática Pura e Aplicada.

[5] CAMINHA, A. (2012). Temas de Matemática Elementar, Volume 1.


Números Reais. Sociedade Brasileira de Matemática.

[6] COXETER, H. S. M. e GREITZER, S. L. (1967). Geometry Revisited . The


Mathematical Association of America.

[7] HEATH, T. L. (1956). The Thirteen Books of Euclid's Elements . Dover.

[8] HONSBERGER, R. (1995). Episodes in Nineteenth and Twentieth Century

Euclidean Geometry. The Mathematical Association of America.

[9] JOHNSON, R. (2007). Advanced Euclidean Geometry . Dover.

[10] YAGLOM, I. M. (1962). Geometric Transformations I. The Mathematical


Association of America. 18

[11] YAGLOM, I. M. (1968). Geometric Transformations II. The Mathematical


Association of America.

[12] YAGLOM, I. M. (1973). Geometric Transformations III. The Mathematical


Association of America.

[13] YAGLOM, I. M. e SHENITZER, A. (2009). Geometric Transformations IV.


The Mathematical Association of America.

20
3

Paralelismo

Sumário
3.1 Paralelismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

3.2 Problemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

1
Unidade 3 Paralelismo

3.1 Paralelismo

Dadas duas retas no plano, temos somente duas possibilidades para as mes-
mas: ou elas têm um ponto em comum ou não têm nenhum ponto em comum;
no primeiro caso, as retas são ditas concorrentes; no segundo, as retas são
paralelas (Figura 3.1).

Figura 3.1: retas concorrentes (esq.) e paralelas (dir.).

Dados uma reta r e um ponto A não pertencente a r, gostaríamos de estudar


o problema de traçar, pelo ponto A, uma reta paralela à reta r. Para tanto,
precisamos do resultado auxiliar a seguir.

Lema 1 Em todo triângulo, a medida de cada ângulo externo é maior que as


medidas dos ângulos internos não adjacentes a ele.

Demonstração
Seja ABC um triângulo qualquer e M o ponto médio do lado AC (Figura 3.2).
−→
Prolongue a semirreta BM até o ponto B 0 , tal que BM = M B 0 , e considere
os triângulos ABM e CB 0 M . Temos AM = CM , BM = B 0 M e AM cB =
CMcB 0 (ângulos OPV). Portanto, pelo caso LAL, temos AM B ≡ CM B 0 e,
daí, B 0 CM b . Logo,
b = B AM

b > B 0 CA
X CA b = B 0 CM
b = B AM
b = B AC.
b

Analogamente, prova-se que X CA b .


b > ABC

O exemplo abaixo mostra como fazer uma das construções com régua e
compasso mais importantes da Geometria Euclidiana, qual seja, a de uma reta
paralela a uma reta dada, passando por um ponto também dado.

2
Paralelismo Unidade 3

A B′
M

B X
C

Figura 3.2: a desigualdade do ângulo externo.

Construa com régua e compasso uma reta s, paralela à reta r e passando Exemplo 2

pelo ponto A.

Solução

Descrição dos passos.

1. Tome pontos C e X sobre a reta r e una A a C .


2. Construa um ângulo ∠CAY tal que C AY b e X e Y estejam
b = ACX
←→
situados em semiplanos opostos em relação à reta AC .
←→
3. A reta s = AY é paralela à reta r.
A m de justicar a construção acima, suponha, por contradição, que a reta
←→
AY intersecte a reta r em um ponto B (Figura 3.3). Analisemos o caso em
que C ∈ BX , sendo o outro caso totalmente análogo.

A
Y
B X
C

Figura 3.3: construção de uma paralela a uma reta por um ponto.

3
Unidade 3 Paralelismo

Por construção, teríamos

B AC
b = Y AC
b = ACX;
b

por outro lado, como ∠ACX é ângulo externo do triângulo ABC , seguiria do
lema anterior que
B AC
b < ACX,b
←→
o que é uma contradição. Logo, as retas AY e r são paralelas.

Se duas retas r e s forem paralelas, escreveremos r k s. Na Geometria


Euclidiana, não é possível deduzir, a partir de fatos mais básicos assumidos
como verdadeiros, que, por um ponto não pertencente a uma reta dada, passa
uma única reta paralela à mesma. Em seu livro Elementos, Euclides impôs a
unicidade da reta paralela como um postulado, conhecido na literatura como
o quinto postulado, ou postulado das paralelas. Porém, para a grande
maioria dos matemáticos que estudaram a obra de Euclides, tal postulado pare-
cia muito mais complexo que os quatro anteriores1 , o que os fez pensar, por
vários séculos, que fosse possível deduzi-lo, como um teorema, a partir dos pos-
tulados anteriores. Porém, todas as tentativas de se descobrir tal demonstração
foram vãs. Então, ocorreu que, no início do século XIX, o matemático húngaro
János Bolyai e o matemático russo Nikolai Lobatchevsky mostraram, indepen-
dentemente, que, de fato, era necessário assumir a unicidade da paralela como
um postulado. O que eles zeram foi construir outro tipo de geometria, deno-
minada Geometria Hiperbólica, na qual ainda são válidos os quatro primeiros
postulados de Euclides, mas tal que, por um ponto fora de uma reta qualquer,
é possível traçar innitas retas paralelas à reta dada2 .
Assim é que, dados no plano uma reta r e um ponto A ∈ / r, assumimos a
unicidade da paralela como um postulado, conforme enunciado a seguir.
1 Quais sejam: por dois pontos quaisquer podemos traçar uma única reta; todo segmento

de reta pode ser prolongado em uma reta; dados um ponto e um segmento tendo tal ponto

por extremidade, existe um círculo que tem centro no ponto dado e raio igual ao segmento

dado; todos os ângulos retos são iguais.


2 Para uma introdução elementar à Geometria Hiperbólica, bem como para uma discussão

sobre as inúmeras tentativas frustradas de se demonstrar o quinto postulado de Euclides,

recomendamos ao leitor a referência [4]. Referimos também o leitor a [2], para a construção

da Geometria Elíptica, na qual duas retas quaisquer sempre se intersectam.

4
Paralelismo Unidade 3

Figura 3.4: Lobatchevsky

Dados, no plano, uma reta r e um ponto A ∈


/ r, existe uma única reta s, Postulado 3

paralela a r e passando por A.

Uma construção da paralela a uma reta dada e passando por um ponto não
pertencente à mesma, mais simples que aquela delineada no Exemplo 6.4 da
Unidade 6.
De posse do quinto postulado, podemos enunciar e provar alguns dos mais
importantes resultados da Geometria Euclidiana. Para o primeiro deles, suponha
dadas, no plano, retas r, s e t, com t intersectando r e s nos pontos A e B ,
respectivamente (Figura 3.5). Nas notações da Figura 3.5, os ângulos α e β

B
s
γ β
α
A
r
t

Figura 3.5: ângulos alternos internos e colaterais internos.

são ditos alternos internos, ao passo que os ângulos α e γ são chamados


colaterais internos.
De posse da nomenclatura acima, temos o seguinte critério para o parale-
lismo de duas retas.

5
Unidade 3 Paralelismo

Corolário 4 Nas notações da Figura 3.5, temos

r k s ⇔ α = β ⇔ α + γ = 180◦ .

Demonstração
Inicialmente, note que, como β + γ = 180◦ , temos α = β ⇔ α + γ = 180◦ .
Portanto, basta provarmos que r k s ⇔ α = β .
Já provamos, no Exemplo 2, que α = β ⇒ r k s, de modo que basta provar
a implicação contrária. Suponha, pois, que r k s. Então, pelo quinto postulado,
s é a única reta paralela a r e passando por B , de sorte que pode ser construída
conforme prescrito no Exemplo 2. Logo, segue da construção descrita naquele
exemplo que α = β .

Outra consequência da discussão acima, ademais extremamente relevante,


é a constante do resultado a seguir.

Proposição 5 A soma dos ângulos internos de um triângulo é igual a 180◦ .

←→ ←→
Demonstração
Sejam ABC um triângulo qualquer e XY a reta paralela a BC e passando
por A (Figura 3.6). Pelo Corolário 4, temos que B b eC
b = B AX b , de
b = C AY

A
X Y

B C

Figura 3.6: soma dos ângulos internos de um triângulo.

sorte que
A
b+B
b+C
b=A
b + B AX b = 180◦ .
b + C AY

6
Paralelismo Unidade 3

Os ângulos de um triângulo equilátero são todos iguais a 60◦ . Corolário 6

Pelo Corolário 2.14 da Unidade 2, todo triângulo equilátero tem três ângulos Demonstração
iguais. Mas, como a soma de tais ângulos é 180◦ , cada um deles deve medir
60◦ .

O resultado do corolário a seguir é conhecido na literatura como o teorema


do ângulo externo.

Em todo triângulo, a medida de um ângulo externo é igual à soma das Corolário 7

medidas dos dois ângulos internos não adjacentes a ele.

Basta ver (Figura 3.7) que ACXb = 180◦ − C


b=A b , onde usamos a
b+B
Demonstração
Proposição 5 na última igualdade.

B X
C

Figura 3.7: o teorema do angulo externo.

Vejamos, agora, como classicar triângulos quanto às medidas de seus ân-


gulos internos. Para tanto, note primeiro que a Proposição 5 garante que todo
triângulo tem no máximo um ângulo interno maior ou igual que 90◦ . De fato,
se, em um triângulo ABC , tivéssemos Ab ≥ 90◦ e B b ≥ 90◦ , viria que

A
b+B
b+C
b>A b ≥ 90◦ + 90◦ = 180◦ ,
b+B

o que é um absurdo. Assim, um triângulo é acutângulo se todos os seus ângu-


los internos forem agudos, retângulo se tiver um ângulo reto e obtusângulo
se tiver um ângulo obtuso (Figura 3.8).

7
Unidade 3 Paralelismo

B C

A C B A

Figura 3.8: triângulos retângulo (esq.) e obtusângulo (dir.) em A.

No caso de um triângulo retângulo, o lado oposto ao ângulo reto é a hi-


potenusa do mesmo, enquanto os outros dois lados são seus catetos. Nas
notações da Figura 3.8, BC é a hipotenusa e AB e AC são os catetos.
Terminamos esta seção estudando mais um conjunto de condições su-
cientes para a congruência de dois triângulos, conjunto este conhecido como o
caso de congruência LAAo. O último conjunto de condições sucientes para a
congruência de dois triângulos será visto no Problema 1, página 10.

Corolário 8 Se dois ângulos de um triângulo e o lado oposto a um desses ângulos


forem respectivamente iguais a dois ângulos de outro triângulo e ao lado oposto
ao ângulo correspondente nesse outro triângulo, então os dois triângulos são
congruentes. Em símbolos, dados triângulos ABC e A0 B 0 C 0 , temos:

BC = B 0 C 0 
LAAo

A
b=A b0 =⇒ ABC ≡ A0 B 0 C 0 ,

Bb=B b0 

com a correspondência de vértices A ↔ A0 , B ↔ B 0 e C ↔ C 0 . Em particular,


também temos

C b0 , AC = A0 C 0 e AB = A0 B 0 .
b=C

Demonstração
Basta observar que as condições Ab = Ab0 e B b 0 fornecem
b=B

b = 180◦ − A
C b0 − B
b = 180◦ − A
b−B b0 = C
b0 .

Portanto, para os triângulos em questão, temos que

BC = B 0 C 0 ; B b0; C
b=B b0 .
b=C

8
Paralelismo Unidade 3

B C

Figura 3.9: o caso de congruencia LAAo

Pelo caso ALA, tais triângulos são congruentes.

O problema de construir um triângulo dados um lado e dois ângulos internos,


um deles oposto ao lado dado, será discutido no Exemplo 5.6 da Unidade 5.

9
Unidade 3 Problemas

3.2 Problemas

1. * Se dois triângulos retângulos são tais que a hipotenusa e um dos catetos


do primeiro são respectivamente congruentes à hipotenusa e a um dos
catetos do outro, prove que os triângulos são congruentes. (Sugestão:
comece analisando o triângulo isósceles construído justapondo os cate-
tos iguais dos dois triângulos retângulos sob consideração; em seguida,
aplique o resultado do Problema 8 da Unidade 2.)

2. * ABC é um triângulo
←→
isósceles de base BC e D ∈ AB , E ∈ AC
←→
são pontos tais que DE k BC . Sendo F o ponto de interseção dos
segmentos CD e BE , mostre que BF = CF . (Sugestão: comece
mostrando que ADE isósceles de base DE e, daí, que BD = CE .
Conclua que os triângulos DBC e ECB são congruentes por LAL e, daí,
que DCB
b = E BC b .)

3. Seja ABC um triângulo isósceles de base BC . Prove que as alturas,


medianas e bissetrizes internas relativas aos lados AB e AC têm compri-
mentos iguais. (Sugestão: consideremos o caso das medianas relativas aos
lados AB e AC (a análise dos outros dois casos é totalmente análoga).
Sendo Mb e Mc os pontos médios dos lados AC e AB , respectivamente,
mostre que os triângulos BCMb e CBMc são congruentes por LAL.)

4. Em um triângulo ABC temos Ab = 90◦ . Sendo P ∈ AC o pé da bissetriz


interna relativa a B e sabendo que a distância de P ao lado BC é igual
a 2cm, calcule o comprimento do segmento AP . (Sugestão: sendo E o
pé da perpendicular baixada de P ao lado BC , mostre que os triângulos
BAP e BEP são congruentes por LAAo.)
←→ ←→
5. Na gura abaixo, as retas AB e CD são paralelas. Sabendo que as
medidas dos ângulos ∠ABC e ∠BCD são respectivamente iguais a 3x −
20◦ e x + 40◦ , calcule o valor de x em graus.
C
D

A
B

10
Paralelismo Unidade 3

6. Na gura abaixo, prove que r k s ⇔ α = β (os ângulos α e β são


denominados correspondentes).

β
s

r
t

7. Na gura abaixo, se r k s, prove que α + β = γ .

s
β

α
r

(Sugestão: trace, pelo vértice do ângulo de medida γ , a paralela às retas


r e s. Em seguida, aplique o Corolário 4.)

8. Na gura abaixo, temos←→ABC


b = 20◦ , B CD
←→
b = 60◦ e DEF
b = 25◦ .
Sabendo que as retas AB e EF são paralelas, calcule a medida do
ângulo C DE
b .

E F

C
A B

(Sugestão: adapte a sugestão do problema anterior ao presente caso.)

9. Na gura abaixo, prove que α = DAB


b + ABC b .
b + B CD

11
Unidade 3 Problemas

D
α
A C
−→
(Sugestão: trace BD e aplique o teorema do ângulo externo aos triân-
gulos ABD e ACD.)

10. Calcule a soma dos ângulos nos vértices A, B , C , D e E da estrela de


cinco pontas da gura abaixo.

C E

B
A

(Sugestão: sejam X o ponto de interseção de AB e CD e Y o ponto


de interseção de AE e CD. Aplique o teorema do ângulo externo aos
triângulos BCX e DEY .)

11. * Dado um n−ágono convexo, faça os seguintes itens:


(a) Prove que o polígono pode ser particionado em n − 2 triângulos,
utilizando-se para tanto n − 3 diagonais que só se intersectam em
vértices do mesmo.
(b) Conclua que a soma dos ângulos internos do polígono é 180◦ (n − 2).
(c) Conclua que a soma de seus ângulos externos (um por vértice) do
polígono é 360◦ .

(Sugestão: use (a) e a Proposição 5 para provar (b) e, em seguida, (b)


para provar (c).)

12
Paralelismo Unidade 3

12. * Em um triângulo ABC , seja M o ponto médio do lado BC . Se


AM = 12 BC , mostre que B AC
b = 90◦ . (Sugestão: use o fato de
que os triângulos ABM e ACM são ambos isósceles para concluir que
ABM
b = B AMb = α e ACMb b = β . Em seguida, some os
= C AM
ângulos de ABC .)

13. * Se I é o ponto de interseção das bissetrizes internas traçadas a partir dos


vértices B e C de um triângulo ABC , prove que B IC b .
b = 90◦ + 1 B AC
2
(Sugestão: faça B
b = 2β , C
b = 2γ . Em seguida, use a Proposição 5 para
calcular B IC
b e B AC
b em termos de β e γ .)

14. Em um triângulo ABC , sabemos que Ab é igual à oitava parte da medida


do ângulo obtuso formado pelas bissetrizes internas dos vértices B e C .
Calcule a medida do ângulo ∠A. (Sugestão: use o resultado do problema
anterior.)

15. * Em um triângulo ABC , seja Ia o ponto de interseção das bissetrizes


externas relativas aos vértices B e C . Prove que B Iba C = 90◦ − 21 B AC
b .
(Sugestão: adapte a sugestão do penúltimo problema ao caso em questão.)

16. Um triângulo ABC é isósceles de base BC . Os pontos D sobre BC e


E sobre AC são tais que AD = AE e B AD b = 48◦ . Calcule C DEb .
(Sugestão: faça Bb=C b = α e C DE
b = θ. Em seguida, use o teorema
do ângulo externo para calcular ADE
b e AED
b em termos de α e θ. Por
m, use o fato de ADE
b = AED b .)

17. O triângulo ABC é isósceles de base BC . Os pontos D e F sobre o lado


AB e E sobre o lado AC são tais que BC = CD = DE = EF = F A.
Calcule a medida do ângulo ∠BAC . (Sugestão: denote Ab = α. Em
seguida, use a Proposição 2.13 da Unidade 2 e o teorema do ângulo
externo várias vezes para calcular os ângulos dos triângulos AEF , DEF ,
CDE e BCD em termos de α. Por m, aplique a Proposição 5 ao
triângulo ABC .)

18. (Torneio das Cidades.) ABCDEF é um hexágono tal que as diagonais


AD, BE e CF passam todas por um mesmo ponto M , que as divide
ao meio. Prove que Ab + B b = 180◦ . (Sugestão: mostre que os
b+C

13
Unidade 3 Problemas

pares de triângulos AM B e DM E , AM F e DM C , BCM e EM F são


congruentes. Em seguida, use tais congruências para mostrar que Ab = D
b,
Bb =E b eC b = Fb. Por m, aplique o resultado do Problema 11 desta
seção.)

19. * Dados, no plano, uma reta r e um ponto A, prove que há exatamente


uma reta s tal que r⊥s e A ∈ s. (Sugestão: considere separadamente os
casos A ∈ / r e A ∈ r. Para o caso A ∈ / r, suponha que haja duas retas
distintas s e t, ambas perpendiculares a r e passando por A. Sendo B e
C , respectivamente, os pontos de interseção das retas s e t com r, calcule
a soma dos ângulos do triângulo ABC para chegar a uma contradição.)

20. Em um triângulo ABC , isósceles de base BC , as alturas relativas aos


lados iguais medem 10cm cada.

(a) Sendo P um ponto qualquer sobre a base BC , calcule a soma das


distâncias de P aos lados AB e AC .
←→
(b) Sendo Q um ponto qualquer sobre a reta BC mas não situado sobre
←→
a base BC , calcule a diferença das distâncias de Q às retas AB e
←→
AC .

(Sugestão: para o item (a), trace por B a reta r paralela a AC . Sendo Q


e R, respectivamente, os pés das perpendiculares baixadas de P às retas
←→
r e AC , mostre primeiro que a soma pedida é igual a QR.)

21. No triângulo ABC , o ponto D ∈ BC é o pé da bissetriz interna relativa


a A. Prove que ADC
b − ADB b = B b−C b. (Sugestão: faça B ADb =
b = α. Em seguida, use o teorema do ângulo externo para calcular
C AD
b e ADB
ADC b em termos de α, BbeC b.)

22. O triângulo ABC , isósceles de base BC , é tal que B AC


b = 20◦ . Mar-
camos pontos D ∈ AC e E ∈ AB tais que DBC b = 60◦ e E CB
b = 50◦ .
Calcule B DE
b . (Sugestão: trace DG k BC , com G ∈ AB , e marque, em
seguida, o ponto F de interseção de CG com BD. Calcule B EC
b e con-
clua, com o auxílio do Problema 2 desta seção, que BE = BC = BF .
Conclua, daí, que E FbG = 40◦ = E GF b . Por m, use tais fatos para
mostrar que os triângulos EGD e EF D são congruentes.)

14
Referências Bibliográcas

[1] AKOPYAN, A. V. e ZASLAVSKY A. A. (2007). Geometry of Conics. Amer-


ican Mathematical Society.

[2] DE BARROS, A. A. e ANDRADE, P. F. DE A. (2009). Introdução à Geo-


metria Projetiva. Sociedade Brasileira de Matemática. 4

[3] BARBOSA, J. L. M. (2004). Geometria Euclidiana Plana. Sociedade


Brasileira de Matemática.

[4] BARBOSA, J. L. M. (1995). Geometria Hiperbólica. Instituto Nacional de


Matemática Pura e Aplicada. 4

[5] CAMINHA, A. (2012). Temas de Matemática Elementar, Volume 1.


Números Reais. Sociedade Brasileira de Matemática.

[6] COXETER, H. S. M. e GREITZER, S. L. (1967). Geometry Revisited. The


Mathematical Association of America.

[7] HEATH, T. L. (1956). The Thirteen Books of Euclid's Elements. Dover.

[8] HONSBERGER, R. (1995). Episodes in Nineteenth and Twentieth Century


Euclidean Geometry. The Mathematical Association of America.

[9] JOHNSON, R. (2007). Advanced Euclidean Geometry. Dover.

[10] YAGLOM, I. M. (1962). Geometric Transformations I. The Mathematical


Association of America.

[11] YAGLOM, I. M. (1968). Geometric Transformations II. The Mathematical


Association of America.

[12] YAGLOM, I. M. (1973). Geometric Transformations III. The Mathematical


Association of America.

[13] YAGLOM, I. M. e SHENITZER, A. (2009). Geometric Transformations IV.


The Mathematical Association of America.

15
4
Desigualdade Triangular
Sumário
4.1 A desigualdade triangular . . . . . . . . . . . . . . . 2

4.2 Problemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

1
Unidade 4 A desigualdade triangular

4.1 A desigualdade triangular

O objetivo principal desta breve seção é provar que, em todo triângulo, os


comprimentos dos lados guardam uma certa relação, descrita na Proposição 3).
Comecemos, contudo, estabelecendo uma relação entre os comprimentos dos
lados e as medidas dos ângulos a eles opostos, a qual tem interesse indepen-
dente.

Proposição 1 Se ABC é um triângulo tal que B b, então AC > AB .


b>C

−→
Demonstração Como B b >C b, podemos traçar (cf. Figura 4.1) a semirreta BX , inter-
sectando o interior de ABC e tal que C BX
b = 1 (B
2
b . Sendo P o ponto de
b − C)
−→
interseção de BX com o lado AC , segue do teorema do ângulo externo que

APbB = C BP b = 1 (B
b + B CP b − C) b = 1 (B
b +C b + C).
b
2 2

Mas, como ABP b − 1 (B


b =B
2
b = 1 (B
b − C)
2
b , segue que o triângulo ABP
b + C)

P X

B C

Figura 4.1: ordem dos lados e ângulos de um triângulo.

é isósceles de base BP . Portanto,

AB = AP < AC.

Corolário 2 Se ABC é um triângulo tal que Ab ≥ 90◦ , então BC é seu maior lado.
Em particular, num triângulo retângulo a hipotenusa é o maior lado.

2
Desigualdade Triangular Unidade 4

Basta observar que, se Ab ≥ 90◦ , então Ab é o maior ângulo de ABC , de Demonstração


modo que BC é, pela proposição anterior, o maior lado.

A proposição a seguir é conhecida como a desigualdade triangular.

Em todo triângulo, cada lado tem comprimento menor que a soma dos Proposição 3
comprimentos dos outros dois lados.

Seja ABC um triângulo tal que AB = c, AC = b e BC = a. Mostremos Demonstração


que a < b + c, sendo a prova das demais desigualdades totalmente análoga.
−→
Marque (cf. Figura 4.2) o ponto D sobre a semirreta CA tal que A ∈ CD e
AD = AB .
D

B C

Figura 4.2: a desigualdade triangular.

Uma vez que

CD = AC + AD = AC + AB = b + c,

pela Proposição 1 é suciente mostrarmos que B DC b . Mas, desde que


b < DBC
B DA
b = DBA b , basta observarmos que

B DC
b = B DA
b = DBA
b < DBA
b + ABC
b = DBC.
b

Sendo a, b e c os comprimentos dos lados de um triângulo, segue da de-


sigualdade triangular que

a < b + c, b < a + c, c < a + b.

3
Unidade 4 A desigualdade triangular

Reciprocamente, dados segmentos cujos comprimentos a, b e c satisfazem as


desigualdades acima, não é difícil provar que é sempre possível construirmos um
triângulo tendo tais segmentos como lados.
Terminamos esta seção colecionando duas consequências interessantes da
desigualdade triangular.

Exemplo 4 Se P é um ponto situado no interior de um triângulo ABC , então:

(a) P B + P C < AB + AC .

(b) P A + P B + P C < AB + AC + BC .

Demonstração −→
(a) Prolongue a semirreta BP até que a mesma encontre o lado AC no ponto
Q (cf. Figura 4.3). Aplicando a desigualdade triangular sucessivamente aos
triângulos CP Q e ABQ, obtemos

PB + PC < P B + ( P Q + CQ) = BQ + CQ
< ( AB + AQ) + CQ = AB + AC.

Q
P

B C

Figura 4.3: consequências da desigualdade triangular.

(b) Argumentando de modo análogo à prova do item (a), temos P A + P B <


AC + BC e P A + P C < AB + BC . Somando ordenadamente essas duas
desigualdades com aquela do item (a), obtemos

2( P A + P B + P C) < 2( AB + AC + BC).

4
Desigualdade Triangular Unidade 4

Na Figura 4.4, construa com régua e compasso o ponto P ∈r para o qual Exemplo 5
a soma PA + PB seja a menor possível.

Se A0 é o simétrico de A em relação a r (cf. Problema 4, Seção 2.2), Solução


armamos que o ponto P desejado é o ponto de interseção de A0 B com r.
Para provar este fato, seja Q outro ponto qualquer de r. (Faça uma gura para

Figura 4.4: menor percurso que toca uma reta.

acompanhar o raciocínio.) O fato de A0 ser o simétrico de A em relação a r


garante que AQ = A0 Q e, analogamente, AP = A0 P . (Prove isto!) Tais
igualdades, juntamente com a desigualdade triangular, fornecem sucessivamente

AP + BP = A0 P + BP = A0 B
< A0 Q + BQ = AQ + BQ.

5
Unidade 4 Problemas

4.2 Problemas

1. Se dois lados de um triângulo isósceles medem 38cm e 14cm, calcule seu


perímetro. (Sugestão: use a desigualdade triangular para mostrar que o
terceiro lado não pode medir 14cm.)

2. Encontre o intervalo de variação de x no conjunto dos reais, sabendo que


os lados de um triângulo são expressos em centímetros por x + 10, 2x + 4
e 20 − 2x. (Sugestão: adapte a sugestão dada ao problema anterior.)

3. Em um triângulo ABC , o lado AB tem por comprimento um número


inteiro de centímetros. Calcule o maior valor possível para AB , sabendo
que AC = 27cm, BC = 16cm e que Cb < Ab < B b . (Sugestão: use a
desigualdade triangular, em conjunção com o resultado da Proposição 1.)

4. Em um triângulo ABC , escolhemos aleatoriamente pontos P ∈ BC ,


Q ∈ AC e R ∈ AB , todos diferentes dos vértices de ABC . Prove que
o perímetro do triângulo P QR é menor que o perímetro do triângulo
ABC . (Sugestão: aplique a desigualdade triangular aos triângulos AQR,
BP R e CP Q. Em seguida, some ordenadamente as desigualdades assim
obtidas.)

5. Se a, b e c são os comprimentos dos lados de um triângulo, prove que


|b − c| < a.

6. (Torneio das Cidades.) Se a, b, c são os comprimentos dos lados de um


triângulo, prove que a3 + b3 + 3abc > c3 . (Sugestão: fatore a3 + b3 e use
que a + b > c duas vezes.)

7. Dado um quadrilátero convexo ABCD, prove que o ponto P do plano


para o qual a soma P A + P B + P C + P D é mínima é o ponto de
concurso das diagonais de ABCD. (Sugestão: aplique a desigualdade
triangular aos triângulos P AC e P BD.)

8. Seja n ≥ 3 um inteiro dado. Prove que, em todo n−ágono convexo,


o comprimento de cada lado é menor que a soma dos comprimentos de
n − 1 lados restantes. (Sugestão: argumente por indução sobre n ≥ 3.
O caso inicial é fornecido pela desigualdade triangular. Para o passo de

6
Desigualdade Triangular Unidade 4

indução, seja dado um polígono convexo A1 A2 . . . Ak Ak+1 , com k ≥ 3;


aplique a hipótese de indução a A1 A2 . . . Ak e a desigualdade triangular
a A1 Ak Ak+1 .)

9. Na gura abaixo, as semirretas r e s são perpendiculares. Construa com


régua e compasso os pontos B ∈ r e C ∈ s para os quais a soma
AB + BC + CD seja a menor possível.

D
s

(Sugestão: se A0 e D0 denotam, respectivamente, os simétricos dos pon-


tos A e D com respeito às retas r e s, sejam B e C as interseções de
A0 D0 com r e s, também respectivamente. Se B 0 ∈ r e C 0 ∈ s são tais
que B 0 6= B ou C 0 6= C , argumente de maneira análoga à solução do
Exemplo 5 para concluir que AB + BC + CD < AB 0 + B 0 C 0 + C 0 D.
Para tanto, utilize o resultado do problema anterior.)

10. Seja ABC um triângulo retângulo em B e tal que AB > BC . Dado um


ponto P no interior de ABC , prove que P A + P B + P C < AB + AC .
(Sugestão: trace, por P , o segmento QR paralelo a BC , com Q ∈ AB
e R ∈ AC . Em seguida, use a Proposição 1 e a desigualdade triangular
para provar que AP < AR e BP + P C < BQ + QR + CR.)

11. (União Soviética). Em um país, certo dia, um avião partiu de cada cidade
com destino à cidade mais próxima. Se as distâncias entre as cidades
são duas a duas distintas, prove que em nenhuma cidade aterrissaram
mais de cinco aviões. (Sugestão: se, na cidade A, aterrissaram aviões
provenientes das cidades B e C , use a Proposição 1 para concluir que
b > 60◦ . Em seguida, use este fato para mostrar, por contradição,
B AC
que não podemos ter seis aviões aterrissando em uma mesma cidade.)

7
Referências Bibliográcas

[1] AKOPYAN, A. V. e ZASLAVSKY A. A. (2007). Geometry of Conics. Amer-


ican Mathematical Society.

[2] DE BARROS, A. A. e ANDRADE, P. F. DE A. (2009). Introdução à Geo-

metria Projetiva. Sociedade Brasileira de Matemática.

[3] BARBOSA, J. L. M. (2004). Geometria Euclidiana Plana . Sociedade


Brasileira de Matemática.

[4] BARBOSA, J. L. M. (1995). Geometria Hiperbólica . Instituto Nacional de


Matemática Pura e Aplicada.

[5] CAMINHA, A. (2012). Temas de Matemática Elementar, Volume 1.


Números Reais. Sociedade Brasileira de Matemática.

[6] COXETER, H. S. M. e GREITZER, S. L. (1967). Geometry Revisited . The


Mathematical Association of America.

[7] HEATH, T. L. (1956). The Thirteen Books of Euclid's Elements . Dover.

[8] HONSBERGER, R. (1995). Episodes in Nineteenth and Twentieth Century

Euclidean Geometry. The Mathematical Association of America.

[9] JOHNSON, R. (2007). Advanced Euclidean Geometry . Dover.

[10] YAGLOM, I. M. (1962). Geometric Transformations I . The Mathematical


Association of America.

[11] YAGLOM, I. M. (1968). Geometric Transformations II. The Mathematical


Association of America.

[12] YAGLOM, I. M. (1973). Geometric Transformations III. The Mathematical


Association of America.

[13] YAGLOM, I. M. e SHENITZER, A. (2009). Geometric Transformations IV.


The Mathematical Association of America.

8
5

Quadriláteros Notáveis
Sumário
5.1 Quadriláteros notáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

5.2 Problemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

1
Unidade 5 Quadriláteros notáveis

5.1 Quadriláteros notáveis

Iniciamos, nesta seção, o estudo sistemático da geometria dos quadriláteros.


Dentre os vários tipos particulares de quadriláteros que vamos considerar aqui,
os principais são, certamente, os paralelogramos, qualicados na denição a
seguir.

Definição 1 Um quadrilátero convexo é um paralelogramo se possuir lados opostos


paralelos.

D C

A B
←→ ←→ ←→ ←→
Figura 5.1: ABCD paralelogramo ⇔ AB k CD e AD k BC .

No que segue, vamos enunciar várias maneiras equivalentes de denir para-


lelogramos. O leitor deve guardar tais resultados como propriedades notáveis
dessa classe de quadriláteros, a serem usadas oportunamente.

Proposição 2 Um quadrilátero convexo é um paralelogramo se, e só se, seus ângulos


opostos forem iguais.

Demonstração
Suponha, primeiro, que o quadrilátero convexo ABCD é um paralelogramo
←→ ←→
(Figura 5.1). Então AD k BC e, como os ângulos ∠A e ∠B do paralelogramo
←→
são colaterais internos em relação à reta AB , temos Ab + Bb = 180◦ . Analoga-
mente, Bb+C b = 180◦ e, daí, A
b = 180◦ − B b=C b. Do mesmo modo, B b=D b.
Reciprocamente, seja ABCD um quadrilátero convexo tal que Ab = Cb e
Bb=D b (Figura 5.2). Então A b+ Bb=C b+D b e, como Ab+ B b+C b+D b = 360◦
(cf. Problema 11, Unidade 3), temos Ab + B b=C b+D b = 180◦ . Analogamente,
Ab+D b = B b+C b = 180◦ . Agora, como A b+B b = 180◦ , o Corolário 3.4 da
←→ ←→
Unidade 3 garante que AD k BC . Da mesma forma, B b+C b = 180◦ nos dá

2
Quadriláteros Notáveis Unidade 5

D C

A B

Figura 5.2: Ab = Cb e Bb = D
b ⇒ ABCD paralelogramo.

←→ ←→
AB k CD, de maneira que ABCD tem lados opostos paralelos, i.e., é um
paralelogramo.

Um quadrilátero convexo é um paralelogramo se, e só se, seus pares de Proposição 3

lados opostos forem iguais.

Suponha, primeiro, que o quadrilátero convexo ABCD é um paralelogramo Demonstração


←→ ←→
(Figura 5.3). Então, já sabemos que Ab = Cb. Por outro lado, como AD k BC ,
temos ADBb = C BD b . Portanto, os triângulos ABD e CDB são congruentes
por LAAo e segue, daí, que AB = CD e AD = BC .

D C

A B

Figura 5.3: ABCD paralelogramo ⇒ AB = CD e AD = BC .

Reciprocamente, seja ABCD um quadrilátero convexo tal que AB = CD


e AD = BC (Figura 5.4). Então, os triângulos ABD e CDB são congruentes
por LLL, donde segue que ADBb = C BD b e ABD b = C DB b . Mas tais igual-
←→ ←→
dades, juntamente com o Corolário 3.4 da Unidade 3, acarretam em AD k BC
←→ ←→
e AB k CD.

3
Unidade 5 Quadriláteros notáveis

D C

A B

Figura 5.4: AB = CD e AD = BC ⇒ ABCD paralelogramo.

A proposição anterior nos permite apresentar uma construção simples da


paralela a uma reta dada por um ponto fora da mesma, conforme ensina o
exemplo a seguir.

Exemplo 4 Dados, no plano, uma reta r e um ponto A∈


/ r, construa com régua e

compasso a reta paralela a r e passando por A.

Demonstração

Descrição dos passos.

1. Com o compasso centrado em A, trace um círculo α, que intersecte a


reta r nos pontos distintos B e C .

2. Ainda com o compasso centrado em A, trace o círculo β de raio igual a


BC .

3. Com o compasso centrado em C , trace o círculo γ de raio igual ao raio


de α.

4. Marque o ponto D de interseção de β e γ , situado no mesmo semiplano


que A em relação à reta r.

5. Pela
←→
proposição anterior, ABCD é um paralelogramo; portanto, a reta
AD é paralela à reta r.

4
Quadriláteros Notáveis Unidade 5

Os dois exemplos a seguir trazem aplicações úteis da construção delineada


no exemplo acima.

Construa com régua e compasso um paralelogramo, conhecendo os com- Exemplo 5

primentos a e b de seus lados e o ângulo α entre dois de seus lados.

Solução

a b α

Descrição dos passos.

1. Trace uma reta r e marque sobre a mesma um segmento AB de compri-


mento igual a b.

2. Construa um ângulo ∠BAX , de medida igual a α.


−→
3. Marque, sobre a semirreta AX , o ponto D tal que AD = a.
←→ ←→
4. Trace por D a paralela a AB e por B a paralela a AD; em seguida,
marque o ponto C de interseção das duas retas traçadas.

5. ABCD é, claramente, um paralelogramo que satisfaz as condições do


enunciado.

Construa o triângulo ABC , dados o comprimento a do lado BC e as Exemplo 6

medidas α e β, respectivamente dos ângulos internos A


beB
b.

5
Unidade 5 Quadriláteros notáveis

Solução

a β
α

Descrição dos passos.

1. Trace uma reta r e marque, sobre a mesma, um segmento BC de com-


primento igual a a.

2. Construa um ângulo ∠CBX , de medida igual a β .

3. Construa o ângulo ∠BXY , de medida igual a α e←→


tal que Y esteja situado
no mesmo semiplano que C em relação à reta BX .
←→
4. Trace, pelo ponto C , a paralela à reta XY ; em seguida,
←→
marque A como
o ponto de interseção dessa paralela com a reta BX .

Voltando à discussão geral de paralelogramos, o resultado a seguir traz mais


uma caracterização útil desses quadriláteros.

Proposição 7 Um quadrilátero convexo é um paralelogramo se, e só se, suas diagonais


se intersectam nos respectivos pontos médios.

Demonstração
Primeiramente, seja ABCD um paralelogramo e M o ponto de interseção
←→ ←→
de suas diagonais (Figura 5.5). De AB k CD, segue que B AM b = DCM b e
ABM
b = C DM b . Como já sabemos que AB = CD, segue que os triângulos
ABM e CDM são congruentes por ALA. Logo, AM = CM e BM = DM .
Reciprocamente (veja, ainda, a Figura 5.5), seja ABCD um quadrilátero tal
que suas diagonais AC e BD se intersectam em M , o ponto médio de ambas.
Então, M A = M C , M B = M D e AM cB = C M cD (ângulos OPV), de modo
que os triângulos ABM e CDM são congruentes, por LAL. Analogamente,
BCM e DAM também são congruentes por LAL. Tais congruências nos dão,

6
Quadriláteros Notáveis Unidade 5

D C
M

A B

Figura 5.5: ABCD paralelogramo ⇒ AM = CM e BM = DM .

respectivamente, AB = CD e BC = AD, o que já sabemos ser equivalente


ao fato de ABCD ser paralelogramo.

Para o que segue, denimos uma base média de um triângulo como um


segmento que une os pontos médios de dois de seus lados. Assim, todo triângulo
possui exatamente três bases médias. Nas notações da Figura 5.6, as bases
médias do triângulo ABC são os segmentos M N , N P e M P . Dizemos, ainda,
que M N é a base média relativa ao vértice A (ou ao lado BC ); analogamente,
N P e M P são, respectivamente, as bases médias de ABC relativas aos vértices
B e C (ou aos lados AB e AC , também respectivamente). Por m, o triângulo

M N

B P C

Figura 5.6: bases médias de um triângulo.

M N P (i.e., o triângulo que tem por lados as bases médias do triângulo ABC )
é o triângulo medial de ABC .
As propriedades de paralelogramos obtidas anteriormente nos permitem
provar, na proposição a seguir, um importante resultado sobre as bases mé-
dias de um triângulo, conhecido como o teorema da base média.

7
Unidade 5 Quadriláteros notáveis

Proposição 8 Seja ABC um triângulo qualquer. Se M N é a base média de ABC


←→ ←→
relativa a BC , então M N k BC . Reciprocamente, se pelo ponto médio M do
lado AB traçarmos a paralela ao lado BC , então tal reta intersecta o lado AC
em seu ponto médio N . Ademais, em um qualquer dos casos acima, temos
1
MN = BC.
2

−→
Demonstração
Para a primeira parte, nas notações da Figura 5.7, tome M 0 sobre M N tal
que M N = N M 0 . Como N é o ponto médio de AC e AN bM = CN b M 0 (ân-
gulos OPV), os triângulos AM N e CM 0 N são congruentes por LAL. Portanto,
M 0 C = M A e M 0 CN b = M AN b , donde segue (via Corolário 3.4 da Unidade
←→ ←→
3) que M 0 C k AM . Assim,
←→ ←→ ←→ ←→ ←→ ←→
BM = AM = M 0 C e BM = AM k M 0 C.

Tendo dois lados opostos iguais e paralelos, o Problema 1, página 20 garante


que o quadrilátero M BCM 0 é um paralelogramo. Mas, como em todo parale-
logramo os lados opostos são iguais e paralelos, temos
←→ ←→ ←→
BC k M M 0 = M N e BC = M M 0 = 2 M N .

M N M′

B C

Figura 5.7: medida da base média de um triângulo.

Reciprocamente, seja r a reta que passa pelo ponto médio M do lado AB


←→
e é paralela ao lado BC . Como M N também passa por M e é paralela a
BC , segue do quinto postulado de Euclides (Postulado 3.3, Unidade 3) que r
←→
coincide com M N ; em particular, N ∈ r.

8
Quadriláteros Notáveis Unidade 5

O exemplo a seguir traz uma primeira aplicação do teorema da base média.

Construa o triângulo ABC , conhecidas as posições dos pontos médios M , Exemplo 9

N e P dos lados BC , CA e AB , respectivamente.

Solução

P N

Descrição dos passos.

←→
1. Trace por M a reta r, paralela à reta N P .
←→
2. Trace por N a reta s, paralela à reta M P .
←→
3. Trace por P a reta t, paralela à reta M N .

4. De acordo com a proposição anterior, temos s ∩ t = {A}, r ∩ t = {B} e


r ∩ s = {C}.

Para o que segue, recorde que uma mediana de um triângulo é um segmento


que une um vértice do mesmo ao ponto médio do lado oposto a esse vértice.
Evidentemente, todo triângulo possui, exatamente, três medianas. Por outro
lado, como aplicação do teorema da base média e das propriedades de paralelo-
gramos, mostraremos, na proposição a seguir, que as medianas de um triângulo
intersectam-se em um único ponto, denominado o baricentro do triângulo.

Em todo triângulo, as três medianas passam por um único ponto, o bari- Proposição 10

centro do triângulo. Ademais, o baricentro divide cada mediana, a partir do


vértice correspondente, na razão 2 : 1.

9
Unidade 5 Quadriláteros notáveis

Demonstração
Sejam N e P , respectivamente, os pontos médios dos lados AC e AB , e
seja BN ∩ CP = {G1 } (Figura 5.8). Sejam, ainda, S e T os pontos médios
dos segmentos BG1 e CG1 , respectivamente. Observe, agora, que N P é
base média de ABC relativa a BC e ST é base média de BCG1 relativa a
BC ; logo, pelo teorema da base média, tanto N P quanto ST são paralelos
a BC e têm comprimento igual à metade de BC . Portanto, N P = ST e
←→ ←→
N P k ST , de modo que, novamente pelo Problema 1, página 20, N P ST é um
paralelogramo. Segue, pois, da Proposição 7 que P G1 = G1 T e N G1 = G1 S .
Mas, como BS = SG1 e CT = T G1 , segue que BS = SG1 = G1 N e
CT = T G1 = G1 P , igualdades que, por sua vez, fornecem BG1 = 2 G1 N e
CG1 = 2 G1 P .

P N

G1
S T
B C

Figura 5.8: as medianas e o baricentro.

Agora, se M for o ponto médio de BC e G2 for o ponto de interseção das


medianas AM e BN , concluímos, analogamente, que G2 divide AM e BN na
razão 2 : 1 a partir de cada vértice. Mas, daí, segue que os pontos G1 e G2
são tais que BG1 = 2 G1 N e BG2 = 2 G2 N ; isso implica, claramente, em
G1 ≡ G2 . Por m, chamando de G o ponto G1 ≡ G2 , segue que AM , BN e
CP concorrem em G e que G divide cada uma das medianas na razão 2 : 1, a
partir do vértice correspondente.

Doravante, salvo menção em contrário, denotaremos o baricentro de um


triângulo ABC por G.
Conforme observamos anteriormente, o Problema 1, página 20, garante que
um quadrilátero com dois lados opostos paralelos e iguais é um paralelogramo.
Pode ocorrer, entretanto, que saibamos somente que dois lados opostos de um

10
Quadriláteros Notáveis Unidade 5

quadrilátero são paralelos, podendo ou não ser iguais. Neste caso, dizemos que
tal quadrilátero é um trapézio (Figura 5.9). Assim, todo paralelogramo é, em
particular, um trapézio, mas é fácil nos convencermos de que a recíproca não é
verdadeira.

D C

A B
←→ ←→
Figura 5.9: um trapézio ABCD, com AB k CD.

Em todo trapézio, os dois lados sabidamente paralelos são suas bases, sendo
o maior (resp. menor) deles a base maior (resp. base menor); os outros dois
lados (sobre os quais em princípio nada sabemos, mas que podem também ser
paralelos, caso o trapézio seja, em particular, um paralelogramo) são os lados
não paralelos1 do trapézio. Nas notações da Figura 5.9, AB e CD são as
bases e BC e AD os lados não paralelos do trapézio ABCD.
Ao lidarmos com problemas envolvendo construções geométricas em um
trapézio ABCD, como o da Figura 5.9, é frequentemente útil observarmos (cf.
←→
Figura 5.10) que, se E e F são os pontos sobre a reta AB tais que ADCE e
BDCF são paralelogramos, então:

i. O triângulo BCE é tal que BE = AB − CD, CE = AD e B CE b =


ângulo entre as retas suportes dos lados não paralelos AD e BC .

ii. O triângulo ACF é tal que AF = AB + CD, CF = BD e ACF


b =
ângulo entre as diagonais AC e BD.

Utilizaremos a discussão acima no exemplo a seguir.


1 Essa nomenclatura é bastante infeliz, uma vez que sugere que, ao considerarmos um
paralelogramo como trapézio, chamemos os outros dois lados de não paralelos, violando
assim a própria denição de paralelogramo! Entretanto, nos ateremos a ela pelo fato de a
mesma ser consagrada pelo uso. Na prática, tal convenção não resultará em confusão, uma
vez que, o mais das vezes, os trapézios que consideraremos aqui não serão paralelogramos.

11
Unidade 5 Quadriláteros notáveis

D C

A E B F

Figura 5.10: paralelogramos associados ao trapézio ABCD.

Exemplo 11 Construa um trapézio ABCD, de bases AB e CD, sabendo que as

diagonais AC BD formam um ângulo de 135◦ uma com a outra e conhecendo


e

os comprimentos AB = a, AC = d1 e BD = d2 .

Solução

a
d1
d2

Descrição dos passos.

1. Inspirado pela Figura 5.10, construa um triângulo ACF tal que AC = d1 ,


CF = d2 e ACF
b = 135◦ .
−→
2. Marque o ponto B sobre a semirreta AE , tal que AB = a.
←→
3. Trace,←→por B , a reta r paralela à reta CF e, por C , a reta s paralela à
reta AF .

4. Marque D como o ponto de interseção das retas r e s.

Antes de prosseguir, precisamos de mais algumas convenções acerca de


trapézios, quais sejam: o segmento que une os pontos médios dos lados não

12
Quadriláteros Notáveis Unidade 5

paralelos de um trapézio é a base média do mesmo, ao passo que o segmento


que une os pontos médios das diagonais de um trapézio é sua mediana de
Euler2 . A proposição a seguir nos ensina como calcular os comprimentos de
tais segmentos em termos dos comprimentos das bases do trapézio.

Seja ABCD um trapézio de bases AB e CD e lados não paralelos AD Proposição 12

e BC . Sejam, ainda, M e N os pontos médios dos lados não paralelos AD


e BC , respectivamente, e P e Q os pontos médios das diagonais AC e BD,
também respectivamente (cf. Figura 5.11). Então:
←→ ←→ ←→
(a) M , N , P e Q são colineares e M N k AB, CD.

(b) M N = 12 ( AB + CD) e P Q = 12 | AB − CD|.

D b C

M N
P Q

A a B

Figura 5.11: base média e mediana de Euler de um trapézio.

Nas notações da Figura 5.11, como M P é base média do triângulo DAC , Demonstração
←→ ←→
segue da Proposição 8 que M P k CD e M P = 2b . Por outro lado, como
M Q é base média do triângulo ADB , a Proposição 8 também nos diz que
←→ ←→ ←→ ←→
M Q k AB e M Q = a2 . Mas, como AB k CD, segue do quinto postulado de
←→ ←→
Euclides que M P = M Q, i.e., M , P e Q são colineares. Ademais,
a b a−b
P Q = MQ − MP = − = .
2 2 2
Agora, argumentando analogamente com as bases médias N Q e N P dos
triângulos CBD e ABC , respectivamente, concluímos que P , Q e N são
2 Após Leonhard Euler, matemático suíço do século XVIII.

13
Unidade 5 Quadriláteros notáveis

colineares e N Q = 2b . Portanto, segue do que zemos acima que

a b a+b
MN = MQ + NQ = + = .
2 2 2

A m de completar nosso estudo dos tipos particulares mais elementares de


quadriláteros, vamos estudar, agora, retângulos e losangos. Um quadrilátero
(convexo, como sempre) é um retângulo se todos os seus ângulos internos
forem iguais. Como, pelo Problema Problema 11, Unidade 3, a soma dos ângu-
los internos de um quadrilátero é sempre igual a 360◦ , segue que um quadrilátero
é um retângulo se, e só se, todos os seus ângulos internos forem iguais a 90◦ . Um
quadrilátero é um losango se todos os seus lados forem iguais. A Figura 5.12
mostra exemplos de um retângulo e de um losango.

H
D C
E G
A B
F

Figura 5.12: o retângulo ABCD e o losango EF GH .

Como os lados opostos de um retângulo são sempre paralelos (uma vez que
são ambos perpendiculares a um qualquer dos outros dois lados), todo retângulo
é um paralelogramo. Por outro lado, a Proposição 3 garante que todo losango

também é um paralelogramo.

A discussão acima permite denir a distância entre duas retas paralelas.


Para tanto, observe, inicialmente, que se r e s são retas paralelas, então (cf.
Corolário 3.4 da Unidade 3) uma reta t é perpendicular a r se, e só se, for
perpendicular a s.

Definição 13 Se r e s são retas paralelas, a distância entre r e s é o comprimento de


←→
qualquer segmento P Q tal que P ∈ r, Q ∈ s e P Q⊥r, s.

14
Quadriláteros Notáveis Unidade 5

Para ver que a denição acima tem sentido, tome P, P 0 ∈ r e sejam Q, Q0 ∈


←→ ←→
s tais que P Q, P 0 Q0 ⊥r (cf. Figura 5.13). Então, P QQ0 P 0 é um quadrilátero
com quatro ângulos iguais a 90◦ , logo um retângulo. Portanto, P Q = P 0 Q0 .

s Q Q′

r P P′

Figura 5.13: distância entre duas paralelas.

Ainda em relação à denição anterior, o exemplo a seguir mostra como


construir as paralelas a uma reta r dada e situadas a uma distância de r também
dada.

Construa com régua e compasso as retas paralelas à reta r e situadas à Exemplo 14

distância d de r.

Solução

d r

Descrição dos passos.

1. Marque um ponto A sobre r e construa, por A, a reta t⊥r.


2. Marque sobre t os pontos B e B 0 tais que AB = AB 0 = d.
3. Trace, por B e B 0 , respectivamente as retas s e s0 , paralelas à reta r. As
retas s e s0 são as retas desejadas.

Voltando à discussão geral de retângulos e losangos, colecionamos nas


proposições 15 e 18 a seguir caracterizações úteis de tais quadriláteros.

15
Unidade 5 Quadriláteros notáveis

Proposição 15 Um paralelogramo é um retângulo se, e só se, suas diagonais tiverem


comprimentos iguais.

Demonstração
Se ABCD é um retângulo de diagonais AC e BD (Figura 5.12), então
DAB = ADC
b b = 90◦ e (por ABCD também ser paralelogramo) AB = DC .
Mas, como os triângulos DAB e ADC partilham o lado AD, os mesmos são
congruentes por LAL. Em particular, AC = BD.
Reciprocamente, suponha que ABCD é um paralelogramo tal que AC =
BD (Figura 5.14). Como também temos AB = DC , os triângulos DAB

D C

A B

Figura 5.14: ABCD paralelogramo tal que AC = BD.

e ADC (que partilham o lado AD) são novamente congruentes, agora por
LLL. Logo, DAB
b = ADC b . Mas, uma vez que ABCD é um paralelogramo,
temos DAB
b + ADCb = 180◦ e, daí, DAB
b = ADC b = 90◦ . Analogamente,
ABC
b = DCB b = 90◦ e ABCD é um retângulo.

O corolário a seguir traz uma consequência extremamente útil da proposição


anterior.

Corolário 16 A mediana relativa à hipotenusa de um triângulo retângulo é igual à metade


da mesma.

Demonstração
Seja ABC um triângulo retângulo em A (Figura 5.15). Trace, por B , a
paralela a AC e, por C , a paralela a AB ; seja, ainda, D o ponto de interseção de
tais retas. Como B AC
b + ABD b = 180◦ e B AC b = 90◦ , segue que ABD b = 90◦ .
Analogamente, ACD b = 90◦ e, como a soma dos ângulos de ABDC é 360◦ ,
segue, daí, que B DC
b = 90◦ . Portanto, o quadrilátero ABDC é um retângulo,

16
Quadriláteros Notáveis Unidade 5

C D

A B

Figura 5.15: a mediana relativa à hipotenusa de um triângulo retângulo.

donde AD = BC e o ponto M de interseção de AD e BC é o ponto médio


de ambos tais segmentos. Logo, BC = AD = 2 AM .

Construa um triângulo retângulo ABC , conhecendo os comprimentos m e Exemplo 17

h, respectivamente da mediana e da altura relativas à hipotenusa BC .

Solução

m h

Descrição dos passos.

1. De acordo com o corolário anterior, temos BC = 2m. Construa, pois,


um tal segmento BC e marque seu ponto médio M .
←→
2. Trace (cf. Exemplo 14) uma reta r, paralela à reta BC e situada à
distância h de r.

3. Obtenha as possíveis posições do vértice A como os pontos de interseção


da reta r com o círculo de centro M e raio m.

17
Unidade 5 Quadriláteros notáveis

Voltemo-nos, agora, à caracterização prometida dos losangos.

Proposição 18 Um paralelogramo é um losango se, e só se, tiver diagonais perpendiculares.

Demonstração
Suponha, primeiro, que EF GH é um losango de diagonais EG e F H
(Figura 5.12). Como EF = EH e GF = GH , os triângulos EF G e EHG
são congruentes por LLL. Portanto, sendo M o ponto de interseção das diago-
nais EG e F H , temos

F EM
b = F EG
b = H EG
b = H EM.
b

Assim, EM é bissetriz do ângulo ∠F EH do triângulo EF H , o qual é isósceles


de base F H , e o Problema 8, Seção 2.2 da Unidade 2, garante que EM também
←→ ←→ ←→
é altura relativa a F H . Logo, F H⊥ EM = EG.
Reciprocamente, seja EF GH um paralelogramo de diagonais perpendicula-
res EG e F H (Figura 5.16). Como EG e F H se intersectam no ponto médio
M de ambas (pois EF GH é paralelogramo), segue que, no triângulo EHG, o
segmento HM é mediana e altura relativamente ao lado EG. Portanto, pelo
Problema 8, Seção 2.2 da Unidade 2, temos que EH = GH . Mas, como
EH = F G e EF = GH , nada mais há a fazer.

E G
M

Figura 5.16: EG⊥F H ⇒ EF GH losango.

Há um último tipo de quadrilátero que desejamos estudar, o quadrado.


Um quadrilátero é um quadrado quando for simultaneamente um retângulo
e um losango (Figura 5.17). Assim, quadrados são quadriláteros de ângulos e
lados iguais; ademais, suas diagonais são também iguais e perpendiculares, se

18
Quadriláteros Notáveis Unidade 5

D C

A B

Figura 5.17: o quadrado ABCD.

intersectam ao meio e formam ângulos de 45◦ com os lados do quadrilátero.


(Prove esta última armação!)

Sejam T o conjunto dos trapézios, P o conjunto dos paralelogramos, R Observação 19

o conjunto dos retângulos, L o conjunto dos losangos e Q o conjunto dos

quadrados. Segue do que vimos nesta seção que

(
R∪L⊂P ⊂T
,
R∩L=Q

todas as inclusões sendo estritas.

19
Unidade 5 Problemas

5.2 Problemas

1. * Se dois segmentos são iguais e paralelos, prove que suas extremidades


são os vértices de um paralelogramo. (Sugestão: sejam AB e CD os
segmentos, nomeados de tal forma que o quadrilátero em questão seja
ABCD. Se AC ∩ BD = {M }, mostre que os triângulos ABM e CDM
são congruentes. Em seguida, aplique a Proposição 7.)

2. Seja ABCD um quadrilátero qualquer. Mostre que os pontos médios


de seus lados são os vértices de um paralelogramo. (Sugestão: use o
teorema da base média quatro vezes, para concluir que o quadrilátero
que tem por vértices os pontos médios dos lados de ABCD tem pares
de lados opostos iguais.)

3. Uma reta r passa pelo baricentro G de um triângulo ABC e deixa o


vértice A de um lado e os vértices B e C do outro. Prove que a soma das
distâncias de B e C à reta r é igual à distância de A a r. (Sugestão: sejam
M o ponto médio de BC e P e Q os pés da perpendiculares baixadas
de A e M à reta r, respectivamente. Pela Proposição 12, é suciente
mostrarmos que AP = 2 M Q. Para tanto, marque os pontos R e S , tais
que R é o ponto médio de AG e S o pé da perpendicular baixada de R
à reta r; em seguida, use a Proposição 10 para mostrar que os triângulos
RSG e M QG são congruentes.)

4. Construa com régua e compasso o triângulo ABC , conhecendo os com-


primentos a do lado BC , bem como os comprimentos ma e mb , respec-
tivamente das medianas relativas aos lados BC e AC . (Sugestão: sejam
M o ponto médio do lado BC e G o baricentro de ABC . A Proposição
10 e o Exemplo 2.6 da Unidade 2 garantem que podemos construir o
triângulo BGM . A partir daí, é imediato obtermos o vértice C . Por m,
−→
marque sobre M G o ponto A, tal que G ∈ AM e AG = 2 GM .)

5. Prove que, em todo triângulo, a soma dos comprimentos das medianas é


menor que 23 do perímetro e maior que 43 do perímetro do triângulo. (Sug-
estão: sejam G o baricentro e Ma e Mb os pontos médios dos lados BC e
AC , respectivamente. Sejam, ainda, AB = c, AC = b e BC = a. Para

20
Quadriláteros Notáveis Unidade 5

a primeira parte, aplique item (b) do Exemplo 4.4 da Unidade 4, junta-


mente com a Proposição 10. Para a segunda, comece aplicando a de-
sigualdade triangular ao triângulo Ma GMb , juntamente com a Proposição
10, pra concluir que 23 (ma + mb ) > 2c ; em seguida, argumente de modo
análogo para concluir que 23 (mb + mc ) > a2 e 23 (ma + mc ) > 2b . Somando
membro a membro essas três desigualdades, obtemos a desigualdade de-
sejada.)

6. (Inglaterra.) Considere um círculo de centro O e diâmetro AB . Prolongue


uma corda qualquer AP até um ponto Q, tal que P seja o ponto médio
de AQ. Se OQ ∩ BP = {R}, calcule a razão entre os comprimentos
dos segmentos RQ e RO. (Sugestão: observe que R é o baricentro do
triângulo AQB e aplique a Proposição 10.)

7. Seja ABCD um trapézio de bases AB = 7cm e CD = 3cm e lados não


paralelos AD e BC . Se Ab = 43◦ e B b = 47◦ , calcule a distância entre
os pontos médios das bases do trapézio. (Sugestão: sejam M e N os
pontos médios de CD e AB , respectivamente. Trace por M as paralelas
aos lados não paralelos e marque os pontos P e Q, de interseção de tais
←→ ←→
retas com AB . Supondo, sem perda de generalidade, que M P k AD,
conclua que AP M D e BCM Q são paralelogramos. Em seguida, use esse
fato para mostrar que M M cQ = 90◦ , calcular P Q e mostrar que M N é
a mediana relativa à hipotenusa do triângulo P M Q. Por m, aplique o
Corolário 16.)

8. São dados no plano um paralelogramo ABCD, de diagonais AC e BD, e


uma reta r não intersecta ABCD. Sabendo que as distâncias dos pontos
A, B e C à reta r são respectivamente iguais a 2, 3 e 6 centímetros,
calcule a distância de D a r. (Sugestão: sendo M o ponto de interseção
das diagonais de ABCD, use o teorema da base média de trapézios duas
vezes, para mostrar que a soma das distâncias de A e C a r é igual à
soma distâncias de B e D a r.)

9. As bases AB e CD de um trapézio têm comprimentos a e b, respec-


tivamente, com a > b. Se os lados não paralelos são AD e BC e
∠BCD = 2∠DAB , prove que BC = a−b. (Sugestão: trace CE k AD,

21
Unidade 5 Problemas

com E ∈ AB . Em seguida, conclua que o quadrilátero AECD é um pa-


ralelogramo e use esse fato para mostrar que o triângulo BCE é isósceles
de base CE .)

10. Seja ABCD um trapézio no qual o comprimento da base maior AB é


igual ao comprimento da base menor CD somado ao comprimento do
lado não paralelo BC . Se o ângulo em A medir 70◦ , calcule o ângulo
C . (Sugestão: marque o ponto E sobre AB , tal que BE = BC . Em
seguida, mostre que o quadrilátero AECD é um paralelogramo.)

11. Construa com régua e compasso um trapézio, conhecidos os comprimen-


tos a e b de suas bases, e c e d de seus lados não paralelos. (Sugestão:
seja ABCD um trapézio de bases AB e CD e lados não paralelos BC e
AD, tais que AB = a, BC = b, BC = c e AD = d. Trace, por C , a
paralela ao lado AD e suponha que tal reta intersecta a base AB em E .
Em seguida construa o triângulo EBC com o auxílio do Exemplo 2.6 da
Unidade 2.)

12. * (OCM.) Um triângulo ABC é retângulo em A e tal que BC = 2 AB .


Calcule as medidas em graus de seus ângulos. (Sugestão: Se M é o ponto
médio de BC , use o Corolário 16 para concluir que o triângulo ABM é
equilátero.)

13. Em um triângulo ABC , sejam M o ponto médio do lado BC e Hb e


Hc , respectivamente, os pés das alturas relativas a AC e AB . Prove que
o triângulo M Hb Hc é isósceles. (Sugestão: aplique o Corolário 16 aos
triângulos BCHc e BCHb .)

14. Sejam ABCD um quadrado de diagonais AC e BD e E um ponto sobre o


lado CD, tal que AE = AB+ CE . Sendo F o ponto médio do lado CD,
prove que E AB b . (Sugestão: marque os pontos G e H , sendo
b = 2 · F AD
−→ −→
G o médio de BC e H o ponto de interseção das semirretas EG e AB .
Estabeleça a congruência dos triângulos BGH e CGE e, em seguida, use
a condição do enunciado para concluir que o triângulo AEH é isósceles
de base EH . Por m, aplique o resultado do Problema 8, Seção 2.2 da
Unidade 2, juntamente com a congruência entre os triângulos ABG e
ADF .)

22
Referências Bibliográcas

[1] AKOPYAN, A. V. e ZASLAVSKY A. A. (2007). Geometry of Conics. Amer-


ican Mathematical Society.

[2] DE BARROS, A. A. e ANDRADE, P. F. DE A. (2009). Introdução à Geo-

metria Projetiva. Sociedade Brasileira de Matemática.

[3] BARBOSA, J. L. M. (2004). Geometria Euclidiana Plana . Sociedade


Brasileira de Matemática.

[4] BARBOSA, J. L. M. (1995). Geometria Hiperbólica . Instituto Nacional de


Matemática Pura e Aplicada.

[5] CAMINHA, A. (2012). Temas de Matemática Elementar, Volume 1.


Números Reais. Sociedade Brasileira de Matemática.

[6] COXETER, H. S. M. e GREITZER, S. L. (1967). Geometry Revisited . The


Mathematical Association of America.

[7] HEATH, T. L. (1956). The Thirteen Books of Euclid's Elements . Dover.

[8] HONSBERGER, R. (1995). Episodes in Nineteenth and Twentieth Century

Euclidean Geometry. The Mathematical Association of America.

[9] JOHNSON, R. (2007). Advanced Euclidean Geometry . Dover.

[10] YAGLOM, I. M. (1962). Geometric Transformations I . The Mathematical


Association of America.

[11] YAGLOM, I. M. (1968). Geometric Transformations II. The Mathematical


Association of America.

[12] YAGLOM, I. M. (1973). Geometric Transformations III. The Mathematical


Association of America.

[13] YAGLOM, I. M. e SHENITZER, A. (2009). Geometric Transformations IV.


The Mathematical Association of America.

23
6

Lugares Geométricos
Sumário
6.1 Lugares geométricos básicos . . . . . . . . . . . . . 2

6.2 Problemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

6.3 Pontos notáveis de um triângulo . . . . . . . . . . . 11

6.4 Problemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

1
Unidade 6 Lugares geométricos básicos

O conceito de lugar geométrico, desenvolvido nesta unidade, resulta essen-


cial para uma compreensão mais profunda da abordagem aqui desenvolvida da
Geometria Euclidiana, usualmente conhecida como o método sintético. De
posse de tal noção, estaremos aptos a discutir várias propriedades notáveis de
triângulos e quadriláteros, ressaltando-se, dentre elas, o problema de inscritibi-
lidade dos mesmos em círculos.

6.1 Lugares geométricos básicos

Começamos esta seção apresentando o conceito de lugar geométrico, na


denição a seguir.

Definição 1 Dada uma propriedade P relativa a pontos do plano, o lugar geométrico


(abreviamos LG) dos pontos que possuem a propriedade P é o subconjunto L
do plano que satisfaz as duas condições a seguir:

(a) Todo ponto de L possui a propriedade P .

(b) Todo ponto do plano que possui a propriedade P pertence a L.

Em outras palavras, L é o LG da propriedade P se L for constituído exata-


mente pelos pontos do plano que têm a propriedade P , nem mais nem menos.
No que segue, vamos estudar alguns lugares geométricos elementares, assim
como algumas aplicações dos mesmos.

Exemplo 2 Dados um real positivo r e um ponto O do plano, o LG dos pontos do


plano que estão à distância r do ponto O é o círculo de centro O e raio r:

AO = r ⇐⇒ A ∈ Γ(O; r).

Exemplo 3 Conforme vimos no Exemplo 5.14, o LG dos pontos do plano, situados à


distância d de uma reta r é a união das retas s e s0 , paralelas a r e situadas,
cada uma, à distância d de r.

2
Lugares Geométricos Unidade 6

A
r

Figura 6.1: círculo como LG.

Para o próximo exemplo, dados os pontos A e B no plano, denimos a


mediatriz do segmento AB como sendo a reta perpendicular a AB e que
passa por seu ponto médio.

Construa, com régua e compasso, a mediatriz do segmento AB dado a Exemplo 4

seguir.

Solução

Descrição dos passos.

1. Com uma mesma abertura r > 21 AB , trace os círculos de raio r, centra-


dos em A e em B ; se X e Y são os pontos de interseção de tais círculos,
←→
então XY é a mediatriz de AB .

De fato, sendo M o ponto de interseção dos segmentos XY e AB , vimos no


Exemplo 2.10 que M é o ponto médio de AB . Por outro lado, como o triângulo
XAB é isósceles de base AB e XM é mediana relativa à base, o Problema 8,
Seção 2, Unidade 2, garante que XM também é altura de XAB . Portanto,
←→
XY passa pelo ponto médio de AB e é perpendicular a AB , logo coincide com
a mediatriz de AB .

A proposição a seguir caracteriza a mediatriz de um segmento como LG.

3
Unidade 6 Lugares geométricos básicos

Proposição 5 Dados os pontos A e B no plano, a mediatriz do segmento AB é o LG


dos pontos do plano que equidistam de A e de B .

Demonstração
Sejam M o ponto médio e m a mediatriz de AB (Figura 6.2). Se P ∈ m,
então, no triângulo P AB , P M é mediana e altura e, daí, o Problema 9, Seção
2, Unidade 2, garante que o triângulo P AB é isósceles de base AB . Logo,
P A = P B.

B
M
A

Figura 6.2: P ∈ (mediatriz de AB) ⇒ P A = P B .

Reciprocamente, seja P um ponto no plano tal que P A = P B (Figura 6.3).


Então, o triângulo P AB é isósceles de base AB , donde segue que a mediana
e a altura relativas a AB coincidem. Mas, como a mediana de P AB relativa a
AB é o segmento P M , segue que P M ⊥AB , o que é o mesmo que dizer que
←→
P M é a mediatriz de AB .
P

B
M
A

Figura 6.3: P A = P B ⇒ P ∈ (mediatriz de AB ).

O papel da bissetriz de um ângulo como LG está essencialmente contido na


proposição a seguir.

4
Lugares Geométricos Unidade 6

Seja ∠AOB um ângulo dado. Se P é um ponto do mesmo, então Proposição 6

−→ −→
d(P, AO) = d(P, BO) ⇐⇒ P ∈ (bissetriz de ∠AOB).

Suponha, primeiro, que P pertence à bissetriz de ∠AOB (Figura 6.4) e Demonstração


sejam M e N , respectivamente, os pés das perpendiculares baixadas de P às
←→ ←→
retas AO e BO. Os triângulos OM P e ON P são congruentes por LAAo,
uma vez que M OPb = N OP b , OMcP = ON b P = 90◦ e OP é lado comum aos
←→ ←→
mesmos. Daí, P M = P N , ou seja, d(P, AO) = d(P, BO).

M A

O P

N B
−→ −→
Figura 6.4: P ∈ bissetriz de ∠AOB ⇒ d(P, AO) = d(P, BO)

Reciprocamente, seja P um ponto no interior do ângulo ∠AOB , tal que


P M = P N , onde M e N são os pés das perpendiculares baixadas de P
←→ ←→
respectivamente às retas AO e BO. Então, os triângulos M OP e N OP
são novamente congruentes, agora pelo caso CH (haja vista termos OP como
hipotenusa comum e P M = P N  veja o Problema 1, Unidade 3. Mas aí,
M OP
b = N OP b , de forma que P pertence à bissetriz de ∠AOB .

Dadas, no plano, retas r e s, concorrentes em O, vimos, na proposição Exemplo 7

anterior, que um ponto P do plano equidista de r e s se, e só se, P estiver


sobre uma das retas que bissectam os ângulos formados por r e s (em negrito,
na Figura 6.5). Assim, o LG dos pontos do plano que equidistam de duas retas
concorrentes é a união das bissetrizes dos ângulos formados por tais retas.

Após termos estudado os LG's mais básicos, vale a pena discorrermos um


pouco sobre o problema geral da construção com régua e compasso de uma
gura geométrica satisfazendo certas condições. De outro modo, o tratamento

5
Unidade 6 Lugares geométricos básicos

Figura 6.5: as bissetrizes de duas retas concorrentes como LG.

padrão para um tal problema consiste, basicamente, na execução dos dois passos
seguintes:

1. Supor o problema resolvido: construímos um esboço da gura possuidora


das propriedades desejadas, identicando na mesma os dados do problema
e os elementos que possam nos levar à solução.

2. Construir os pontos-chave para a solução: um ponto-chave é todo ponto


que, uma vez construído, torna imediatas as construções subsequentes
necessárias e, em última análise, a solução do problema em questão.
Para construir o(s) ponto(s)-chave de um determinado problema, cumpre
examinarmos as propriedades geométricas da situação em estudo com
bastante cuidado, tentando identicar, em cada caso, dois LGs aos quais
o ponto pertença. Devendo pertencer simultaneamente a dois LGs, o
ponto ca determinado pelas interseções dos mesmos.

Vejamos, em um exemplo simples, como funciona a execução do programa


acima.

Exemplo 8 Construa, com régua e compasso, um círculo passando pelos pontos A e


B e tendo seu centro sobre a reta r.

Demonstração

A
B

6
Lugares Geométricos Unidade 6

Descrição dos passos.

1. Supondo o problema resolvido, queremos um círculo como o da gura a


seguir:

A
B

r
O

2. Nosso ponto-chave será o centro O do círculo, uma vez que, encontrada


sua posição, bastará centrarmos o compasso nele, com abertura OA, a
m de construir o círculo pedido. A m de construir O, precisamos de
dois LG's aos quais O pertença. Um deles é a própria reta r, pois é pedido
que O pertença a r; por outro lado, como OA e OB são raios, temos
OA = OB e, assim, O também deve pertencer à mediatriz do segmento
AB , que, por conseguinte, é nosso segundo LG.

Feita a análise acima, resta construir a mediatriz do segmento AB , obter


sua interseção O com a reta r e, em seguida, traçar o círculo solução, que é
aquele de centro O e raio OA = OB .

7
Unidade 6 Problemas

6.2 Problemas

1. Construa um círculo de raio dado r, que passe por dois pontos dados
A e B . Sob que condições há solução? (Sugestão: o centro do círculo
desejado deve distar r do ponto A e pertencer à mediatriz do segmento
AB . Mostre que há uma solução se AB = 2r e duas soluções se AB <
2r.)

2. Identique e construa, com régua e compasso, o LG do vértice A de um


segmento AB , conhecida a posição do vértice B e o comprimento c de
AB .

3. Construa com régua e compasso um triângulo ABC , conhecidos os com-


primentos c do lado AB , a do lado BC e a medida α do ângulo ∠BAC .
(Sugestão: uma vez construído um segmento AB de comprimento c, o
←→
vértice C deve pertencer ao círculo de centro B e raio a e à reta AX ,
tal que B AX
b = α.)

4. Identique o LG do vértice A do triângulo ABC , conhecidas as posições


dos vértices B e C e o comprimento ma da mediana relativa ao lado BC .

5. Identique e construa com régua e compasso o LG dos pontos do plano


equidistantes de duas retas paralelas dadas r e s.

6. Construa, com régua e compasso, o triângulo ABC , conhecidos os com-


primentos AB = c, BC = a e ha da altura baixada a partir de A.
(Sugestão: uma vez construído o lado BC , o vértice A é obtido como
←→
a interseção da paralela a BC , situada à distância ha da mesma, com o
círculo de centro B e raio c.)

7. Construa o triângulo ABC conhecendo as retas concorrentes r e s, su-


portes dos lados AB e AC , respectivamente, e os comprimentos hb e hc
das alturas respectivamente relativas aos vértices B e C .

8. São dados, no plano, uma reta r, um ponto A ∈/ r e dois segmentos, de


comprimentos a e b. Construa, com régua e compasso, todos os pontos
B do plano tais que AB = a e d(B, r) = b. Sob que condições sobre a e
b há solução? (Sugestão: os eventuais pontos B pertencem, claramente,

8
Lugares Geométricos Unidade 6

a dois lugares geométricos: o círculo de centro A e raio a e o LG dos


pontos do plano que estão à distância b da reta r (cf. Exemplo 3).)

9. Construa com régua e compasso um triângulo ABC , conhecidos os com-


primentos a do lado BC , ha da altura relativa a A e hb da altura relativa
a B . (Sugestão: comece traçando uma reta r (que será a reta suporte do
lado AC ) e marcando, sobre a mesma, um ponto C . Em seguida, obtenha
o vértice B do triângulo como a interseção de dois lugares geométricos:
o círculo de centro C e raio a, bem como a união das paralelas à reta r,
situadas à distância hb de r.)

10. São dados no plano uma reta r e um ponto A, com A ∈/ r. O ponto B


varia em r. Encontre, com justicativa, o LG descrito pelo ponto médio
do segmento AB . (Sugestão: se B1 e B2 são dois pontos distintos sobre a
reta r e M1 e M2 são, respectivamente, os pontos médios dos segmentos
AB1 e AB2 , então M1 M2 é base média do triângulo AM1 M2 . Aplique,
agora, a Proposição 5.8, juntamente com o resultado do problema ante-
rior.)

11. Em uma folha de papel está desenhado um círculo α, mas seu centro
não está marcado. Mostre como obter a posição do mesmo com régua
e compasso. (Sugestão: use o resultado do Problema 10 da Seção 2,
Unidade 2, juntamente com a Proposição 5.)

12. Temos no plano do papel um círculo Γ, de centro O, e uma reta r que


não intersecta Γ. Identique e construa, com régua e compasso, o LG
dos pontos médios das cordas de Γ que são paralelas à reta r. (Sugestão:
use o resultado do Problema 10 da Seção 2, Unidade 2.)

13. Construa o triângulo ABC , conhecendo o semiperímetro p do mesmo e


as medidas β e γ dos ângulos ∠B e ∠C , respectivamente. (Sugestão:
←→
supondo o problema resolvido, marque, sobre a reta BC e exteriormente
ao lado BC , os pontos B 0 e C 0 tais que B ∈ B 0 C , C ∈ BC 0 e BB 0 =
c, CC 0 = b. Então, B 0 C 0 = 2p e, pelo teorema do ângulo externo,
ABb 0 C = β e AC
b0 B = γ .)
2 2

9
Unidade 6 Problemas

14. (Holanda.) É dado no plano um segmento AB e um ponto P sobre ele.


←→
De um mesmo lado da reta AB , construímos os triângulos retângulos
isósceles AP Q e BP R, de hipotenusas AP e BP , respectivamente. Em
seguida, marcamos o ponto médio M do segmento QR. Encontre o
LG descrito pelo ponto M , à medida que P varia sobre o segmento AB .
(Sugestão: comece mostrando que, em um triângulo retângulo e isósceles,
a altura relativa à hipotenusa mede metade da hipotenusa. Em seguida,
use o teorema da base média de um trapézio para mostrar que a distância
←→
de M à reta AB é constante.)

10
Lugares Geométricos Unidade 6

6.3 Pontos notáveis de um triângulo

Nesta seção, aplicamos o conceito de lugar geométrica para estudar mais


alguns pontos notáveis de um triângulo, quais sejam, o circuncentro, o orto-
centro e o incentro. Lembre-se, ainda, de que já denimos e estudamos as
propriedades do baricentro na Proposição 5.10.

Em todo triângulo, as mediatrizes dos lados passam todas por um mesmo Proposição 9

ponto, o circuncentro do mesmo.

Sejam ABC um triângulo qualquer, r, s e t, respectivamente, as media- Demonstração


trizes dos lados BC , CA e AB , e O o ponto de interseção das retas r e s
(Figura 6.6).
Pela caracterização da mediatriz de um segmento como LG, temos OB =
OC (pois O ∈ r) e OC = OA (pois O ∈ s). Portanto, OB = OA e segue,
novamente da caracterização da mediatriz como LG, que O ∈ t.

t s

B C
r

Figura 6.6: o circuncentro de um triângulo.

Construa, com régua e compasso, o circuncentro do triângulo ABC dado Exemplo 10

na gura abaixo.

11
Unidade 6 Pontos notáveis de um triângulo

Solução

A C

Descrição dos passos.

1. Trace as mediatrizes dos segmentos AB e AC .


2. O circuncentro de ABC é o ponto de interseção das mesmas.

Como corolário da discussão acima, podemos estudar o problema da con-


corrência das alturas de um triângulo. Note primeiro que, caso o triângulo
seja obtusângulo (Figura 6.7), as alturas que não partem do vértice do ângulo
obtuso são exteriores ao mesmo.
A

Ha C
Hb

Figura 6.7: alturas de um triângulo obtusângulo.

Proposição 11 Em todo triângulo, as três alturas se intersectam em um só ponto, o


ortocentro do triângulo.

Demonstração
Seja ABC um triângulo qualquer. Há três casos a considerar:

(a) ABC é retângulo (Figura 6.8): suponhamos, sem perda de generalidade,


que B AC
b = 90◦ . Então, A é o pé das alturas relativas aos lados AB e AC .

12
Lugares Geométricos Unidade 6

C
Ha

A B

Figura 6.8: ortocentro de um triângulo retângulo.

Como a altura relativa ao lado BC passa (por denição) por A, segue que as
alturas de ABC concorrem em A.
(b) ABC é acutângulo (Figura 6.9): trace, respectivamente por A, B e C ,
retas r, s e t paralelas a BC , CA e AB (também respectivamente), e sejam
r ∩ s = {P }, s ∩ t = {M }, t ∩ r = {N }. Então, os quadriláteros ABCN e
ABM C são paralelogramos, de sorte que CN = AB = CM e, daí, C é o
ponto médio de M N . Analogamente, B é o ponto médio de M P e A o ponto
médio de N P .

C t
N M
r
B
A
s

Figura 6.9: ortocentro de um triângulo acutângulo.

Por outro lado, a altura relativa a BC também é perpendicular a N P , já


←→ ←→
que BC e N P são paralelas. Do mesmo modo, as alturas relativas a AC e
AB são respectivamente perpendiculares a M P e M N . Segue que as alturas
do triângulo ABC são as mediatrizes dos lados do triângulo M N P . Mas já
provamos que as mediatrizes dos lados de um triângulo são concorrentes, de
modo que as alturas de ABC devem ser concorrentes.

13
Unidade 6 Pontos notáveis de um triângulo

(c) ABC é obtusângulo: a prova é totalmente análoga à do caso (b).

Coletamos, no corolário a seguir, uma consequência interessante da demon-


stração acima. Para o enunciado do mesmo, recorde que o triângulo medial de
um triângulo ABC é aquele que tem por vértices os pontos médios dos lados
de ABC .

Corolário 12 O circuncentro de um triângulo é o ortocentro de seu triângulo medial.

Demonstração
Nas notações do item (b) na prova acima, ABC é o triângulo medial do
triângulo M N P e as mediatrizes dos lados de M N P são as alturas de ABC ;
portanto, o circuncentro de M N P coincide com o ortocentro de ABC . Os
demais casos são totalmente análogos.

Exemplo 13 Construa, com régua e compasso, o ortocentro do triângulo ABC dado a


seguir.

Solução

Descrição dos passos.


←→
1. Trace a reta r, perpendicular a BC e passando pelo vértice A.
←→
2. Trace a reta s, perpendicular a AC e passando pelo vértice B .
3. O ortocentro de ABC é o ponto de interseção das retas r e s.

Examinemos, por m, o ponto de concurso das bissetrizes internas.

14
Lugares Geométricos Unidade 6

As bissetrizes internas de todo triângulo concorrem em um único ponto, Proposição 14

o incentro do triângulo.

Sejam r, s e t, respectivamente, as bissetrizes internas dos ângulos ∠A, Demonstração


∠B e ∠C do triângulo ABC (Figura 6.10) e I o ponto de interseção das retas
r e s. Como I ∈ r, segue da caracterização das bissetrizes como LG, dada à
Proposição 6, que I equidista dos lados AB e AC de ABC . Analogamente,
I ∈ s garante que I equidista dos lados AB e BC . Portanto, I equidista
de AC e BC e, usando novamente a referida caracterização das bissetrizes,
concluímos que I pertence à bissetriz do ângulo ∠C , ou seja, à reta t. Assim,
r, s e t concorrem em I .

I t
s
B C

Figura 6.10: incentro de um triângulo.

Construa, com régua e compasso, o incentro do triângulo ABC dado a Exemplo 15

seguir.

Solução

15
Unidade 6 Pontos notáveis de um triângulo

Descrição dos passos.

−→
1. Trace a semirreta AX , bissetriz interna de ABC relativa ao vértice A.
−→
2. Trace a semirreta BY , bissetriz interna de ABC relativa ao vértice B .
−→ −→
3. O incentro de ABC é o ponto de interseção das semirretas AX e BY .

Terminamos esta seção com uma observação notacional importante: via de


regra, ao estudarmos a geometria de um triângulo ABC , salvo menção em
contrário denotaremos por G seu baricentro, por H seu ortocentro, por I seu
incentro e por O seu circuncentro.

16
Lugares Geométricos Unidade 6

6.4 Problemas

1. De um triângulo ABC , conhecemos as posições dos vértices B e C e


do circuncentro O. Explique porque a posição do vértice A não ca
determinada.

2. De um triângulo ABC , conhecemos as posições dos vértices B e C e do


incentro I . Construa, com régua e compasso, o vértice A. (Sugestão:
marque o vértice A como a interseção de dois lugares geométricos: a
−→ −→
semirreta BX , tal que X BI b , e a semirreta CY , tal que Y CI
b = I BC b =
b .)
I CB

3. De um triângulo ABC , conhecemos as posições dos vértices B e C e do


ortocentro H . Construa, com régua e compasso, o vértice A. (Sugestão:
marque o vértice A como a interseção de dois lugares geométricos: a
←→ ←→
perpendicular à reta BC passando por H e a perpendicular à reta BH
passando por C .)

4. Numa folha de papel estão desenhadas duas retas concorrentes r e s.


Ocorre que, devido ao tamanho da folha, o ponto de interseção de r e s
não pode ser marcado no papel. Seja P um ponto no papel, tal que as
perpendiculares baixadas de P respectivamente às retas r e s intersectem
as retas s e r (também respectivamente) em pontos situados na folha
do desenho. Mostre como construir, com régua e compasso, uma reta t,
passando por P e concorrente simultaneamente com r e s. (Sugestão:
sendo A o ponto de interseção de r e s, veja o ponto P como ortocentro
de um triângulo que tem A como um de seus vértices.)

5. Seja ABC um triângulo de ortocentro H , incentro I e circuncentro O.


Mostre que ABC é equilátero se, e só se, dois quaisquer dos pontos H ,
I e O coincidirem. (Sugestão: para a recíproca, suponha, inicialmente,
que H e I coincidem. Se Ha é o pé da altura relativa a BC , observe que
Ha ∈ BC ; a soma dos ângulos de ABHa fornece, então, 12 A b+ B b = 90◦ ;
mostre, analogamente, 12 A
b+Cb = 90◦ e 1 B
2
b+C b = 90◦ , de forma que
Ab= B b = Cb = 60◦ . Suponha, agora, que H e O coincidem. Use as
←→ ←→ ←→
relações AO⊥ BC e BO = CO para concluir que AO é mediatriz de

17
Unidade 6 Problemas

BC , de sorte que AB = AC ; conclua, analogamente, que AB = BC .


Por m, suponha que I e O coincidem. Então AI = BI , de sorte que
1 b b ; mostre, analogamente, que 1 A
A = 12 B b = 1Cb.)
2 2 2

18
Referências Bibliográcas

[1] AKOPYAN, A. V. e ZASLAVSKY A. A. (2007). Geometry of Conics. Amer-


ican Mathematical Society.

[2] DE BARROS, A. A. e ANDRADE, P. F. DE A. (2009). Introdução à Geo-


metria Projetiva. Sociedade Brasileira de Matemática.

[3] BARBOSA, J. L. M. (2004). Geometria Euclidiana Plana. Sociedade


Brasileira de Matemática.

[4] BARBOSA, J. L. M. (1995). Geometria Hiperbólica. Instituto Nacional de


Matemática Pura e Aplicada.

[5] CAMINHA, A. (2012). Temas de Matemática Elementar, Volume 1.


Números Reais. Sociedade Brasileira de Matemática.

[6] COXETER, H. S. M. e GREITZER, S. L. (1967). Geometry Revisited. The


Mathematical Association of America.

[7] HEATH, T. L. (1956). The Thirteen Books of Euclid's Elements. Dover.

[8] HONSBERGER, R. (1995). Episodes in Nineteenth and Twentieth Century


Euclidean Geometry. The Mathematical Association of America.

[9] JOHNSON, R. (2007). Advanced Euclidean Geometry. Dover.

[10] YAGLOM, I. M. (1962). Geometric Transformations I. The Mathematical


Association of America.

[11] YAGLOM, I. M. (1968). Geometric Transformations II. The Mathematical


Association of America.

[12] YAGLOM, I. M. (1973). Geometric Transformations III. The Mathematical


Association of America.

[13] YAGLOM, I. M. e SHENITZER, A. (2009). Geometric Transformations IV.


The Mathematical Association of America.

19
7

Triângulos e
Circunferências
Sumário
7.1 Tangência e ângulos no círculo . . . . . . . . . . . . 2

7.2 Círculos associados a um triângulo . . . . . . . . . . 22

1
Unidade 7 Tangência e ângulos no círculo

7.1 Tangência e ângulos no círculo

Comecemos esta seção estudando uma das mais importantes noções da


Geometria Euclidiana, qual seja, a de reta e círculos tangentes.
Dizemos que um círculo Γ e uma reta r são tangentes ou, ainda, que a
reta r é tangente ao círculo Γ, se r e Γ tiverem exatamente um ponto P em
comum. Nesse caso, P é denominado o ponto de tangência de r e Γ.
A proposição a seguir ensina como construir uma reta tangente a um círculo
dado e passando por um ponto do mesmo.

Proposição 1 Sejam Γ um círculo de centro O e P um ponto de Γ. Se t é a reta que


←→
passa por P e é perpendicular a OP , então t é tangente a Γ.

Demonstração
Seja R o raio de Γ. Se Q 6= P é outro ponto de t (Figura 7.1), temos
QO > P O = R, uma vez que QPbO = 90◦ é o maior ângulo do triângulo
OP Q. Portanto, Q ∈
/ Γ e, assim, P é o único ponto comum a t e a Γ.

Figura 7.1: círculo e reta tangentes.

O próximo exemplo exercita a construção explicitada na demonstração acima.

Exemplo 2 Nas notações da gura abaixo, construa, com régua e compasso, uma reta
r, tangente a Γ em P .

2
Triângulos e Circunferências Unidade 7

Solução

Descrição dos passos.


←→
1. Trace a reta OP .
←→
2. Construa, pelo ponto P , a reta r, perpendicular a OP .

Não é difícil provar (cf. Problema 1, página 15) que a reta tangente a
um círculo Γ por um ponto P do mesmo é única. Por outro lado, se P for
exterior ao círculo, provaremos na Proposição 11 que há exatamente duas retas
tangentes a Γ e passando por P .
Voltemo-nos, agora, ao estudo de certos ângulos em um círculo. Dado,
no plano, um círculo Γ de centro O, um ângulo central em Γ é um ângulo
de vértice O e tendo dois raios OA e OB por lados. Em geral, tal ângulo
central será denotado por ∠AOB e o contexto tornará claro a qual dos dois
ângulos ∠AOB estamos nos referindo. Por denição, a medida do ângulo
_
central ∠AOB é igual à medida do arco AB correspondente. O exemplo a
seguir mostra que ângulos centrais iguais subentendem cordas também iguais.

Se A, B , C e D são pontos sobre um círculo Γ, tais que os ângulos centrais Exemplo 3

∠AOB e ∠COD são iguais, então AB = CD.

Suponha (cf. Figura 7.2) que AOB b < 180◦ (o caso AOB
b = C OD b =
Demonstração
b > 180◦ pode ser tratado de modo análogo). Como AO = CO, BO =
C OD
DO e AOB b = C ODb , os triângulos AOB e COD são congruentes por LAL,
de sorte que AB = CD.

Outra importante classe de ângulos em um círculo é aquela formada pelos


ângulos inscritos. Por denição, um ângulo inscrito num círculo é um ângulo

3
Unidade 7 Tangência e ângulos no círculo

A O

D
C

Figura 7.2: cordas de ângulos centrais iguais.

cujo vértice é um ponto do círculo e cujos lados são duas cordas do mesmo. A
proposição a seguir nos ensina a calcular sua medida.

Proposição 4 Se AB e AC são cordas de um círculo de centro O, então a medida do


ângulo inscrito ∠BAC é igual à metade da medida do ângulo central ∠BOC
correspondente.

Demonstração
Consideremos três casos separadamente:

(a) O ângulo ∠BAC contém o centro O em seu interior (Figura 7.3): como
os triângulos OAC e OAB são isósceles, de bases respectivamente AC e AB ,
temos OACb = OCA b = α e OAB b = OBA b = β , digamos. Segue, pois, que
b = α + β e, pelo teorema do ângulo externo (Corolário 3.7, Unidade 3),
B AC
que C OA
b 0 = 2α e B OA
b 0 = 2β . Daí,

B OC b 0 + C OA
b = B OA b 0 = 2(α + β) = 2B AC.
b

(b) O ângulo ∠BAC não contém o centro O (Figura 7.4): uma vez mais, temos
OAC e OAB isósceles de bases AC e AB . Ademais, sendo OACb = OCA b =α
e OAB
b = OBA b = β , temos B ACb = β − α e, novamente pelo teorema do
ângulo externo, C OA
b 0 = 2α e B OA
b 0 = 2β . Logo,

B OC b 0 − C OA
b = B OA b 0 = 2(β − α) = 2B AC.
b

4
Triângulos e Circunferências Unidade 7

O
A A′

Figura 7.3: ângulo inscrito quando o centro pertence ao mesmo.

A A′
O

Figura 7.4: ângulo inscrito quando o centro não pertence ao mesmo.

(c) O centro O está sobre um dos lados de ∠BAC : a análise deste caso é
análoga àquela dos dois casos anteriores e será deixada como exercício para o
leitor.

Dados um círculo Γ de centro O e uma corda AB de Γ, um caso particular


importante da proposição anterior é aquele em que AB é um diâmetro de Γ
(Figura 7.5). Sendo P um ponto de Γ distinto de A e de B , segue da referida
proposição que
1
APbB = · 180◦ = 90◦ .
2
O caso limite de um ângulo inscrito é aquele de um ângulo de segmento
(Figura 7.6): seu vértice é um ponto do círculo e seus lados são um uma corda
e o outro a tangente ao círculo no vértice do ângulo. A proposição a seguir
mostra que podemos calcular a medida de ângulos de segmento de maneira

5
Unidade 7 Tangência e ângulos no círculo

A B
O

Figura 7.5: ângulo inscrito em um semicírculo.

análoga ao cálculo das medidas de ângulos inscritos.


C B

A
O

Figura 7.6: medida de um ângulo de segmento.

Proposição 5 Nas notações da Figura 7.6, a medida do ângulo de segmento ∠BAC é


igual à metade do ângulo central ∠AOB correspondente.

←→ ←→
Demonstração
Seja B AC
b = α. Como AC⊥ AO, temos ABO b = 90◦ − α e, daí,
b = B AO

b = 180◦ − 2(90◦ − α) = 2α = 2B AC.


B OA b

Outra maneira útil de generalizarmos ângulos inscritos é considerar ângulos


ex-cêntricos mas, nesse caso, há dois tipos distintos, quais sejam, os interiores
e os exteriores. Um ângulo ex-cêntrico interior (Figura 7.7) é um ângulo
formado por duas cordas de um círculo que se intersectam no interior do mesmo;

6
Triângulos e Circunferências Unidade 7

um ângulo ex-cêntrico exterior é um ângulo formado por duas cordas de um


círculo que se intersectam no exterior do mesmo.

B
C

O
D
A

Figura 7.7: medida de um ângulo ex-cêntrico interior.

A proposição a seguir ensina como calcular medidas de ângulos ex-cêntricos.


A esse respeito, veja também o Problema 16, página 18.

Sejam AB e CD duas cordas de um círculo, cujas retas suportes se Proposição 6

intersectam em um ponto E .

(a) Se E for interior ao círculo, então a medida do ângulo ex-cêntrico interior


_ _
∠AEC é igual à média aritmética das medidas dos arcos AC e BD
subentendidos.

(b) Se E for exterior ao círculo, então a medida do ângulo ex-cêntrico exterior


_
∠AEC é igual ao módulo da semidiferença das medidas dos arcos BD
_
e AC subentendidos.

Demonstração
(a) Basta aplicar sucessivamente o teorema do ângulo externo (Corolário 3.7,
Unidade 3) e o resultado da Proposição 4:
1 _ 1 _
AEC
b = ADC
b + B AD
b = AC + BD.
2 2
(b) Exercício.

7
Unidade 7 Tangência e ângulos no círculo

Exemplo 7 Sejam A, B , C e D pontos sobre um círculo Γ, tais que as cordas AC e BD


se intersectam no interior de Γ. Se M , N , P e Q denotam, respectivamente, os
_ _
pontos médios dos arcos AB (que não contém C ), BC (que não contém D),
_ _ ←→ ←→
CD (que não contém A) e AD (que não contém B ), prove que M P ⊥ N Q.

_ _
Demonstração
Nas notações do enunciado e da gura abaixo, sejam AB = 2α, BC = 2β ,
_ _ _
CD = 2γ e AD = 2δ . Então α + β + γ + δ = 180◦ e M N = α + β e
_
P Q = γ + δ . Portanto, sendo E o ponto de concurso de M P e N Q, temos

b = 1 ( M N + P Q) = 1 ((α + β) + (γ + δ)) = 90◦ .


_ _
M EN
2 2

N C
B
P
E
M
D
A
Q

A proposição a seguir estabelece a existência e explica como construir um


importante lugar geométrico, o arco capaz de um ângulo dado.

Proposição 8 Dados um segmento AB e um ângulo α, com 0◦ < α < 180◦ , o LG dos


pontos P do plano tais que APbB = α é a reunião de dois arcos de círculo,
←→
simétricos em relação à reta AB e tendo os pontos A e B em comum. Tais
arcos são os arcos capazes de α em relação a AB .

Demonstração
Primeiramente, analisemos o caso 0◦ < α < 90◦ . Seja (cf. Figura 7.8)
←→
/ AB tal que APbB = α. Se P 0 é o simétrico de P em relação à reta
P ∈
←→ ←→
AB (cf. Problema 4 da Seção 2, Unidade 2), então AB é a mediatriz de P P 0

8
Triângulos e Circunferências Unidade 7

A B

P′

Figura 7.8: APbB = APb0 B .

e, daí, AP = AP 0 e BP = BP 0 . Portanto, os triângulos ABP e ABP 0


são congruentes por LLL, de sorte que APb0 B = APbB = α. Analogamente,
APb0 B = α acarreta APbB = α, de forma que, para estudar o LG pedido,
podemos nos restringir somente aos pontos P situados em um dos semiplanos
←→
que a reta AB determina. Doravante, suporemos que tal semiplano é aquele
←→
situado acima da reta AB (cf. Figura 7.9).

P
P′

A B

Figura 7.9: arco capaz (superior) de α sobre AB .

Em tal semiplano, seja O o ponto tal que AOB é um triângulo isósceles de


base AB , com AOB b = 2α (note que 0◦ < 2α < 180◦ no caso que estamos
considerando). Sendo OA = OB = R, seja Γ o arco de círculo, de centro O
←→
e raio R, situado acima da reta AB . Sendo P um ponto qualquer de Γ, temos
pelo teorema do ângulo inscrito que
1 b
APbB = AOB = α,
2
de modo que P pertence ao LG procurado.
Seja, agora, P 0 um ponto do semiplano superior, tal que P 0 ∈
/ Γ; mostremos
que P não pertence ao LG desejado. Sendo R a região limitada do plano,
0

9
Unidade 7 Tangência e ângulos no círculo

delimitada por Γ e AB , há duas possibilidades: P 0 ∈ R ou P ∈ / R ∪ Γ.


Analisemos o caso em que P ∈ R, sendo a análise do outro caso totalmente
0

análoga. Nas notações da Figura 7.9, segue do teorema do ângulo externo e


da discussão do parágrafo anterior que

APb0 B = APbB + P AP
b 0 > APbB = α,

de sorte que P 0 não pertence ao LG procurado.


Voltemo-nos, agora, ao caso em que α = 90◦ , observando inicialmente que,
como no caso anterior, um argumento de simetria reduz o problema aos pontos
←→
do semiplano situado acima da reta AB . Agora, a discussão do parágrafo
imediatamente posterior à prova da Proposição 6.54 garante que todo ponto
do semicírculo de diâmetro AB situado no semiplano superior pertence ao LG
em questão (Figura 7.10).
P

A O B

Figura 7.10: arco capaz (superior) de 90◦ sobre AB .

Reciprocamente, se P é um ponto do semiplano superior, tal que APbB =


90◦ , e O é o ponto médio de AB , então o Corolário 5.16, da Unidade 5,
garante que P O = 12 AB = AO. Assim, P pertence ao semicírculo de centro
O e diâmetro AB .
Por m, para o caso 90◦ < α < 180◦ , remetemos o leitor ao Problema 17,
página 18.

A prova da proposição anterior também ensina como construir os arcos


capazes de um ângulo α sobre AB , quando 0◦ < α ≤ 90◦ : se α = 90◦ , temos
somente de construir o círculo de diâmetro AB . Suponha, pois 0◦ < α < 90◦ .
Nas notações da prova da referida proposição, como OAB
b = OBA b , temos

OAB
b = OBA b = 1 (180◦ − 2α) = 90◦ − α;
b = 1 (180◦ − AOB)
2 2

10
Triângulos e Circunferências Unidade 7

assim, obtemos o centro O do arco capaz superior como sendo a interseção


das semirretas que partem de A e de B , estão situadas em tal semiplano e
formam ângulos de 90◦ − α com o segmento AB . Observamos, por m, que
o caso 90◦ < α < 180◦ pode ser tratado de modo análogo (cf. Problema 17,
página 18).

Construa com régua e compasso o arco capaz superior de α sobre AB . Exemplo 9

Demonstração

A B

Descrição dos passos.

1. De acordo com
−→
a discussão acima, construa, no semiplano superior, as
−→
semirretas AX e BY tais que B AX b = 90◦ − α.
b = ABY

2. Marque o centro
−→
O do arco capaz pedido como o ponto de interseção das
−→
semirretas AX e BY .

O próximo exemplo mostra que há uma relação simples (e, conforme veremos
nos problemas desta seção, útil) entre os arcos capazes de um ângulo e de sua
metade.

A gura abaixo mostra um dos arcos capazes do ângulo α sobre o seg- Exemplo 10

mento AB . Construa, com régua e compasso, o arco capaz de 12 α sobre AB ,


correspondente ao arco capaz dado.

Solução

11
Unidade 7 Tangência e ângulos no círculo

A B

Descrição dos passos.

1. Trace a mediatriz do segmento AB e marque seu ponto O0 de interseção


com o arco capaz dado.

2. Use o teorema do ângulo inscrito para mostrar que o arco de centro O0 e


raio OA = OB , contido no mesmo semiplano que o arco dado é o arco
pedido.

Dentre outros problemas interessantes, podemos usar arcos capazes para


examinar o problema de traçar as tangentes a um círculo por um ponto exterior
ao mesmo, conforme ensina nosso próximo resultado.

Proposição 11 Dados, no plano, um círculo Γ e um ponto P exterior ao mesmo, há


exatamente duas retas tangentes a Γ e passando por P .

Demonstração
Sejam O o centro do círculo dado e A e B os pontos de interseção do
mesmo com aquele de diâmetro OP (Figura 7.11). Pelas discussões anteriores,
os semicírculos superior e inferior do círculo traçado podem ser vistos como
os arcos capazes de 90◦ sobre OP e, daí, OAP b = OBP b = 90◦ . Portanto,
←→ ←→ ←→ ←→
OA⊥ AP e OB⊥ BP , de sorte que, pela Proposição 2, as retas AP e BP
são tangentes ao círculo dado.
Reciprocamente, se r é uma reta passando por P e tangente ao círculo
←→
dado em X , digamos, então OX⊥ XP , ou, o que é o mesmo, OXP b = 90◦ .
Logo, X pertence a um dos arcos capazes de 90◦ sobre OP , i.e., X pertence
ao círculo de diâmetro OP . Mas aí, X está sobre a interseção do círculo dado
com aquele de diâmetro OP e, portanto, X = A ou X = B .

12
Triângulos e Circunferências Unidade 7

A
Γ

P
O

Figura 7.11: tangentes a um círculo por um ponto exterior.

Conforme ensina o próximo exemplo, a demonstração da proposição acima


pode ser facilmente formatada em passos que, uma vez executados, fornecem a
construção, com régua e compasso, das tangentes a um círculo dado, passando
por um ponto também dado e exterior ao mesmo.

Nas notações da gura a seguir, construa, com régua e compasso, as retas Exemplo 12

tangentes a Γ e passando por P .

Demonstração

P
O

Descrição dos passos.

1. Marque o ponto médio M do segmento OP .

2. Trace o círculo γ , de centro M e raio OM = M P .

3. Marque os pontos A e←→B , de←→


interseção dos círculos γ e Γ; as tangentes
pedidas são as retas AP e BP .

13
Unidade 7 Tangência e ângulos no círculo

A proposição a seguir estabelece duas propriedades bastante úteis das tan-


gentes traçadas a um círculo a partir de um ponto exterior ao mesmo.

Proposição 13 Sejam Γ um círculo de centro O e P um ponto exterior ao mesmo. Se


←→ ←→
A, B ∈ Γ são tais que P A e P B são tangentes a Γ (Figura 7.12), então:

(a) P A = P B .
←→
(b) P O é a mediatriz de AB .
←→
(c) P O é a bissetriz dos ângulos ∠AOB e ∠AP B .
←→ ←→
(d) P O⊥ AB .

O P

Figura 7.12: propriedades das tangentes por um ponto exterior.

Demonstração
Como OA = OB e P AO b = P BO b = 90◦ , os triângulos P OA e P OB
são congruentes, pelo caso especial CH de congruência de triângulos retângulos
(cf. Problema 1, Unidade 3); em particular, P A = P B , APbO = B PbO e
AOP
b = B OP b .
Agora, como P e O equidistam de A e de B , segue da Proposição 6.5
←→ ←→ ←→
(Unidade 6) que P O é a mediatriz do segmento AB . Logo, P O⊥ AB .

14
Triângulos e Circunferências Unidade 7

1. * Dados no plano um círculo Γ e um ponto P sobre o mesmo, mostre


que a reta tangente a Γ em P é única. (Sugestão: seja s uma reta que
passa por P , distinta da tangente t construída na Proposição 1. Sejam
O o centro de Γ e α a medida do ângulo agudo formado pelas retas s e t.
Marque o ponto Q ∈ s, situado no mesmo semiplano que O em relação
a t e tal que P OQ
b = 2α. Mostre que Q ∈ Γ.)

2. São dados, no plano, uma reta r e um ponto A ∈ r. Identique e


construa, com régua e compasso, o LG dos pontos do plano que são
centros dos círculos tangentes à reta r no ponto A. (Sugestão: supondo
o problema resolvido, seja O o centro de um dos círculos pedidos. Então
←→
AO⊥r em A, de forma que O pertence à reta s, perpendicular à reta r
em A.)

3. São dados, no plano, retas concorrentes r e s e um ponto P ∈ r. Cons-


trua, com régua e compasso, os círculos tangentes a r e s, sendo P
o ponto de tangência com a reta r. (Sugestão: supondo o problema
resolvido, seja O o centro de um dos círculos pedidos. Pelo problema
anterior, O pertence à reta perpendicular a r por P . Por outro lado,
como O equidista de r e de s, ele também pertence à bissetriz de um dos
ângulos formados por tais retas. Há duas soluções.)

4. São dados, no plano, um segmento de comprimento R e uma reta r.


Identique e construa, com régua e compasso, o LG dos pontos do plano
que são centros dos círculos de raio R, tangentes à reta r. (Sugestão:
observe que, se O é o centro de um tal círculo, então a distância de O a
r é igual a R.)

5. Temos, no plano, duas retas concorrentes r e s. Dado um real R > 0,


construa todos os círculos de raio R, tangentes simultaneamente a r e
a s. (Sugestão: supondo o problema resolvido, se O é o centro de um
dos círculos pedidos, então O pertence à bissetriz de um dos ângulos
formados por tais retas e está à distância R de r. Há quatro soluções.)

6. Sejam a, b e c três retas dadas no plano, com a k b e c concorrente com


a e b. Construa, com régua e compasso, os círculos tangentes a a, b e
c. (Sugestão: supondo o problema resolvido, se O é o centro de um dos

15
Unidade 7 Tangência e ângulos no círculo

círculos pedidos, então O equidista de a e de b, bem como pertence à


bissetriz de um dos ângulos formados por a e c. Há duas soluções.)

Para os problemas 7 a 9 a seguir, dizemos que dois círculos são:

• exteriores se não tiverem pontos comuns e tiverem interiores dis-


juntos;
• interiores se não tiverem pontos comuns mas o interior de um deles
contiver o outro;
• secantes se tiverem dois pontos em comum;
• tangentes se tiverem um único ponto comum; nesse último caso,
os círculos são tangentes exteriormente se tiverem interiores dis-
juntos e tangentes interiormente caso contrário.

7. * Dados círculos Γ1 (O1 ; R1 ) e Γ2 (O2 ; R2 ), prove que Γ1 e Γ2 são:


(a) exteriores se, e só se, O1 O2 > R1 + R2 .
(b) tangentes exteriormente se, e só se, O1 O2 = R1 + R2 .
(c) secantes se, e só se, |R1 − R2 | < O1 O2 < R1 + R2 .
(d) tangentes interiormente se, e só se, O1 O2 = |R1 − R2 |.
(e) interiores se, e só se, O1 O2 < |R1 − R2 |.

(Sugestão: observe, inicialmente, que P ∈ Γ1 ∩Γ2 se, e só se, P O1 ≤ R1


e P O2 ≤ R2 ; nesse caso, use a desigualdade triangular para concluir que
|R1 − R2 | ≤ O1 O2 ≤ R1 + R2 . Analise, agora, cada um dos itens
separadamente.)

8. São dados, no plano, um círculo Γ de centro O e um ponto A ∈ Γ.


Identique e construa, com régua e compasso, o LG dos centros dos
círculos tangentes a Γ em A. (Sugestão: seja Γ0 um círculo de centro O0
←→
e raio R0 . Se O0 ∈ AO \ {A} e R0 = AO0 , mostre que Γ0 tangencia Γ
em A.)

9. São dados, no plano, um círculo Γ, de centro O e raio R, e um segmento


de comprimento r. Identique e construa, com régua e compasso, o LG

16
Triângulos e Circunferências Unidade 7

dos centros dos círculos de raio r e tangentes a Γ. Em que medida o


LG em questão depende dos valores R e r? (Sugestão: se Γ0 tem centro
O0 e raio r e tangencia Γ, então, pelo Problema 7, página 16, temos
OO0 = R ± r.)

10. São dados, no plano, um círculo Γ e pontos A, P e Q, tais que P, Q ∈ Γ


e os segmentos AP e AQ tangenciam Γ e medem 5cm cada. Escolhemos
pontos B ∈ AP e C ∈ AQ tais que BC também tangencia Γ. Calcule
os possíveis valores do perímetro do triângulo ABC . (Sugestão: sendo
←→
R o ponto de tangência de BC e Γ, temos BR = BP e CR = CQ.
Conclua, a partir daí, que o perímetro de ABC é igual a AP + AQ.)

11. Sejam ABCD um quadrado de lado a e Γ o círculo de centro A e raio


a. Marcamos pontos M e N , respectivamente sobre BC e CD, tais
que M N tangencia Γ. Quais os possíveis valores do ângulo M AN b ?
(Sugestão: sendo P o ponto de tangência, temos, pela Proposição 13,
que M AP b e N AP
b = 1 B AP
2
b = 1 DAP
2
b .)

12. As retas r e s são concorrentes em A e tangentes


←→
a um círculo Γ, de
centro O. Pontos P ∈ r e Q ∈ s são tais que P Q tangencia Γ e deixa A
e O em semiplanos opostos. Se P AQb = 30◦ , calcule P OQ
b . (Sugestão:
←→
sendo B , C e R, respectivamente, os pontos de tangência das retas AP ,
←→ ←→
AQ e P Q com Γ, temos, pela Proposição 13, que P OR b = 1 B OR
2
b e
QOR
b = C OR1 b . Use, agora, o fato de que a soma dos ângulos do
2
quadrilátero ABOC é igual a 360◦ .)

13. Dois círculos Γ e Σ se intersectam em dois pontos distintos A e B .


Escolhemos X ∈ Γ e Y ∈ Σ tais que A ∈ XY . Prove que a medida do
←→
ângulo ∠XBY independe da direção da reta XY . (Sugestão: observe,
inicialmente, que X BY
b = 180◦ − B XY b − B Yb X . Em seguida, use
o teorema do ângulo inscrito para mostrar que as medidas dos ângulos
←→
∠AXB e ∠AY B independem da direção da reta XY .)

14. As cordas AB e CD de um círculo Γ são perpendiculares em E , um


ponto situado no interior do círculo. A reta perpendicular a AC por E
intersecta o segmento BD em F . Prove que F é o ponto médio de

17
Unidade 7 Tangência e ângulos no círculo

BD. (Sugestão: use o teorema do ângulo inscrito para mostrar que os


triângulos DEF e BEF são ambos isósceles.)

15. Sejam
_
A, B e C pontos sobre um círculo Γ, tais que os arcos menores
_ _
AB , AC e BC medem todos 120◦ . Se P é um ponto de Γ situado no
_
arco menor BC , prove que P A = P B + P C . (Sugestão: se O é o ponto
sobre AP , tal que P Q = BP , mostre que o triângulo BP Q é equilátero
e, daí, que AQB
b = 120◦ . Em seguida, use as hipóteses, juntamente com
os fatos já deduzidos e o teorema do ângulo inscrito, para mostrar que os
triângulos ABQ e CBP são congruentes por LAAo.)

16. Prove o item (b) da Proposição 6. Verique, ainda, que as fórmulas para o
cálculo das medidas de ângulos ex-cêntricos permanecem válidas quando
um dos lados do mesmo contiver uma corda do círculo e o outro for
tangente ao círculo. (Sugestão: em ambos os casos, adapte o argumento
da prova do item (a) da Proposição 6.)

17. * Analise a construção dos arcos capazes de um ângulo α sobre o seg-


mento AB , quando 90◦ < α < 180◦ . (Sugestão: mostre que o centro de
cada um de tais arcos é o simétrico do centro de cada um dos arcos de
180◦ − α sobre AB .)

18. Construa o triângulo ABC , conhecendo os comprimentos a do lado BC ,


ha da altura relativa a BC e a medida α do ângulo ∠A. (Sugestão: após
marcar um segmento BC de comprimento a, obtenha o vértice A como a
interseção de dois lugares geométricos: os arcos capazes de α sobre BC
←→
e as paralelas à reta BC , situadas à distância ha .)

19. * Sejam ABC um triângulo e P e M , respectivamente, os pés da bissetriz


interna e da mediana relativas ao lado BC . Se P e M coincidirem,
prove que ABC é isósceles de base BC . (Sugestão: se Ab = α, veja
o vértice A como a interseção de dois arcos capazes de α2 , construídos
respectivamente sobre BM e CM . Em seguida, use a igualdade BM =
CM para concluir que AB = AC .)

20. * Construa um quadrado ABCD, conhecendo o comprimento l de seus


lados e as posições dos pontos M , N e P , situados respectivamente sobre

18
Triângulos e Circunferências Unidade 7

os lados AB , AD e sobre a diagonal AC . (Sugestão: use o fato de que


M AP
b = N AP b = 45◦ para obter A como a interseção de dois arcos
capazes de 45◦ , respectivamente sobre M P e N P . Em seguida, marque
−→ −→
B ∈ AM e D ∈ AN , tais que AB = AD = l.)

21. De um triângulo ABC , conhecemos as posições dos vértices B e C , a


medida α do ângulo ∠BAC e o semiplano β , dentre os determinados pela
←→
reta BC , no qual está situado o vértice A. Quando A descreve o arco
capaz de α sobre BC , situado no semiplano β , encontre o LG descrito
pelo incentro I de ABC . (Sugestão: use o resultado do Problema 13,
Unidade 3.)

22. * São dados, no plano, dois círculos exteriores Γ e Σ. Construa, com


régua e compasso, todas as retas tangentes simultaneamente a Γ e Σ.
(Sugestão: inicialmente, observe que há quatro tangentes comuns aos dois
círculos, as quais se dividem em dois tipos: duas tangentes, ditas externas,
que deixam os dois círculos em um mesmo semiplano e duas outras, ditas
internas, que os deixam em dois semiplanos opostos. Analisemos a con-
strução de uma tangente que deixa os círculos em um mesmo semiplano
(para as tangentes do outro tipo, adapte a construção acima descrita).
Sejam r uma tal tangente, O e O0 os centros e R e R0 os raios de Γ
e Σ, respectivamente, e T e T 0 os pontos de tangência de r com Γ e
Σ, também respectivamente; supondo, sem perda de generalidade, que
R > R0 , trace a reta s, paralela a r e passando por O0 e marque o ponto
S de interseção do raio OT com s. O triângulo OO0 S é retângulo em S
e tal que OS = R − R0 ; construa-o para obter o ponto S e, em seguida,
−→
marque a interseção T da semirreta OS com Γ; por m, trace a tangente
desejada r como a paralela à reta s passando pelo ponto T .)

23. * Dois círculos Γ1 (O1 ; R1 ) e Γ2 (O2 ; R2 ) são secantes, intersectando-se


nos pontos A e B . Dado um segmento de comprimento l, explique
como traçar, com régua e compasso, uma reta passando por A (dita
secante aos círculos), intersectando Γ1 e Γ2 respectivamente em X e em
Y (com X, Y 6= A), e tal que XY = l. Explique sob que condições
há solução. (Sugestão: supondo o problema resolvido, sejam M e N ,
respectivamente, os pontos médios dos segmentos AX e AY , de forma

19
Unidade 7 Tangência e ângulos no círculo

que M N = 2l . Construa, então, um triângulo O1 O2 P , retângulo em P e


tal que O1 P k M N . Mostre que haverá solução se, e só se, O1 O2 ≥ 2l .)

24. Dois círculos Γ1 (O1 ; R1 ) e Γ2 (O2 ; R2 ) são secantes, intersectando-se nos


pontos A e B . Explique como traçar com régua e compasso a secante
aos círculos, passando por A e tendo comprimento máximo. (Sugestão:
analise a solução do problema anterior.)

25. Temos, desenhado no plano, um triângulo ABC . Dado um segmento


de comprimento a, construa, com régua e compasso, um triângulo equi-
látero M N P , de lado a e tal que A ∈ N P , B ∈ M P e C ∈ M N .
(Sugestão: inicialmente, considere os arcos capazes de 120◦ , construídos
sobre os lados e exteriormente ao triângulo ABC . Em seguida, aplique a
construção do Problema 23, página 19.)

26. Temos, desenhado no plano, um triângulo ABC . Construa, com régua


e compasso, um triângulo equilátero M N P , tendo o maior lado possível
e tal que A ∈ N P , B ∈ M P e C ∈ M N . (Sugestão: analise a
solução dos dois problemas anteriores, procurando adaptá-las à condição
de comprimento máximo possível para o lado de ABC .)

27. De um triângulo ABC , conhecemos as posições dos vértices B e C e a


medida α do ângulo ∠A. Conhecendo a soma l dos comprimentos dos
lados AB e AC , construa com régua e compasso a posição do vértice
A. (Sugestão: supondo o problema resolvido, seja A0 o ponto sobre a
−→
semirreta BA, tal que BA0 = l. Mostre, com o auxílio do teorema do
ângulo externo, que B Ab0 C = α2 . Agora, construa A0 como a interseção
de dois lugares geométricos: o círculo de centro B e raio l, juntamente
com os arcos capazes de α2 sobre BC . Por m, A é a interseção de A0 B
com a mediatriz do segmento A0 C .)

O resultado do problema a seguir é conhecido como o teorema da corda


quebrada, sendo devido a Arquimedes.
28. São dados um círculo Γ e pontos A, B e C sobre o_ mesmo, tais que
AB > AC . Marcamos o ponto médio M do arco BC que contém A,

20
Triângulos e Circunferências Unidade 7

bem como o ponto N , pé da perpendicular baixada de M ao segmento


AB . Prove que BN = AN + AC . (Sugestão: marque o ponto A0 ∈
−→
BA \ AB , tal que AA0 = AC . Em seguida, use o teorema do ângulo
externo para mostrar que B Ab0 C = 12 B AC b . Agora, use a solução do
Exemplo 10 para mostrar que o círculo de centro M e raio M B = M C
←→ ←→
passa pelo ponto A0 . Por m, use este fato, juntamente com M N ⊥ A0 B ,
para concluir que BN = A0 N .)

21
Unidade 7 Círculos associados a um triângulo

7.2 Círculos associados a um triângulo

De posse dos conceitos de arcos capazes e tangência de retas e círculos,


retomamos aqui nosso estudo dos pontos notáveis de um triângulo.

Proposição 14 Todo triângulo admite um único círculo passando por seus vértices. Tal
círculo é dito circunscrito ao triângulo e seu centro é o circuncentro do mesmo.

Demonstração
Seja ABC um triângulo de circuncentro O (gura 7.13). Como O é o ponto

C s

A B

Figura 7.13: circuncentro e círculo circunscrito a um triângulo.

de interseção das mediatrizes dos lados do triângulo, temos OA = OB = OC .


Denotando por R tal distância comum, segue que o círculo de centro O e raio
R passa por A, B, C . Existe, portanto, um círculo passando pelos vértices de
ABC .
Reciprocamente, o centro de um círculo que passe pelos vértices de ABC
deve equidistar dos mesmos. Portanto, o centro pertence às mediatrizes dos
lados de ABC , donde coincide com o ponto de interseção das mesmas, que é o
circuncentro O. Por m, o raio do círculo, sendo a distância de O aos vértices,
é igual a R.

22
Triângulos e Circunferências Unidade 7

Se ABC é um triângulo de circuncentro O, então O está no interior (resp. Proposição 15

sobre um lado, no exterior) de ABC se, e só se, ABC for acutângulo (resp.
retângulo, obtusângulo).

[ Sejam Γ o círculo circunscrito a ABC , M o ponto médio de BC . Há três Demonstração


casos a considerar:

(a) O está no interior de ABC (gura 7.14): no triângulo OAB temos AOB
b =
2ACBb . Por outro lado, 0◦ < AOBb < 180◦ , donde 2ACB b < 180◦ ou, ainda,
b < 90◦ . Analogamente, ABC
ACB b < 90◦ e B AC b < 90◦ , donde ABC é
acutângulo.
C

A M B

Figura 7.14: O está no interior de ABC .

(b) O está sobre um lado de ABC (gura 7.15): suponha, sem perda de
generalidade, que O ∈ BC . Nesse caso, BC é diâmetro de Γ e O é o ponto
médio de BC , de maneira que

b = 90◦ = 1 _ 1
B AC BXC = 180◦ = 90◦ .
2 2

(c) O está no exterior de ABC (gura 7.16): suponha, sem perda de generali-
←→
dade, que O e A estão em semiplanos opostos em relação à reta BC . Como
_
a medida do arco BC que não contém A é claramente maior que 180◦ , temos
1 _ 1
B AC
b = BXC > 180◦ = 90◦ ,
2 2

23
Unidade 7 Círculos associados a um triângulo

B O C

Figura 7.15: O está sobre um lado de ABC .

M
B C

Γ
X

Figura 7.16: O está no exterior de ABC .

e ABC é obtusângulo em A.

Corolário 16 Seja ABC um triângulo acutângulo de circuncentro O. Se M é o ponto


médio do lado AB , então AOM
b = B OMb = ACB b .

Demonstração
Imediata a partir da prova do item (a) da proposição anterior, tendo-se em
conta que
AOMb = B OM b = 1 AOB b = ACB. b
2

24
Triângulos e Circunferências Unidade 7

Todo triângulo admite um único círculo contido no mesmo e tangente a Proposição 17

seus lados. Tal círculo é dito inscrito no triângulo e seu centro é o incentro do
mesmo.

Seja I o incentro de um triângulo ABC (gura 7.17). Como I é o ponto Demonstração


de interseção das bissetrizes internas de ABC , temos que I equidista dos lados
de ABC . Sendo r tal distância comum aos lados, segue que o círculo de centro
I e raio r está contido em ABC e tangencia seus lados. A unicidade do círculo

I
B C

Figura 7.17: círculo inscrito em um triângulo.

inscrito pode ser estabelecida mediante um argumento análogo ao da unicidade


do círculo circunscrito, sendo portanto deixada ao leitor.

Construa com régua e compasso os círculos inscrito e circunscrito ao Exemplo 18

triângulo ABC dado a seguir.

Solução

Descrição dos passos.

1. Para o círculo inscrito, comece construindo o incentro I de ABC .

25
Unidade 7 Círculos associados a um triângulo

2. Em seguida, trace a reta r que passa por I e é perpendicular ao lado BC .


3. Se M for o ponto de interseção da reta r com o lado BC , então o círculo
inscrito é aquele de centro I e raio IM .

4. Quando ao círculo circunscrito, construa, inicialmente, o circuncentro O


de ABC .

5. O círculo circunscrito é aquele de centro O e raio OA.

Associados a todo triângulo há, ainda, três outros círculos notáveis, os


círculos ex-inscritos aos lados do triângulo.

Proposição 19 Em todo triângulo ABC , existe um único círculo tangente ao lado BC e


aos prolongamentos dos lados AB e AC . Tal círculo é o círculo ex-inscrito ao
lado BC e seu centro é o ex-incentro de ABC relativo a BC (ou ao vértice
A).

Demonstração
Sejam r e s as bissetrizes externas dos vértices B e C do triângulo ABC e
Ia seu ponto de interseção (o leitor pode checar sem diculdade que as porções
das retas r e s situadas na região angular ∠BAC formam ângulos agudos com
o lado BC , de forma que r e s realmente concorrem em tal região angular).
Como Ia ∈ r e r é bissetriz, segue que
←→ ←→
d(Ia , BC) = d(Ia , AB).
←→ ←→
Do mesmo modo, uma vez que Ia ∈ s, concluímos que d(Ia , BC) = d(Ia , AC).
Denotando por ra a distância comum de Ia às retas suportes dos lados, segue
que o círculo de centro Ia e raio ra tangencia BC e os prolongamentos de AB
e AC (a unicidade do mesmo é deixada ao leitor).

Observações 20.
i. Em geral, dado um triângulo ABC , denotamos o centro e o raio do
círculo circunscrito respectivamente por O e R, do círculo inscrito res-
pectivamente por I e r, e do círculo ex-inscrito a BC respectivamente
por Ia e ra .

26
Triângulos e Circunferências Unidade 7

B
r Ia

A C

Figura 7.18: o círculo ex-inscrito ao lado BC do triângulo ABC .

ii. Todo triângulo ABC admite exatamente três círculos ex-inscritos; con-
soante as notações estabelecidas no item i., denotamos os centros e raios
dos círculos ex-inscritos a AC e AB respectivamente por Ib , Ic e rb , rc .

Uma consequência imediata da prova da proposição acima é o seguinte

Em todo triângulo, a bissetriz interna relativa a um vértice concorre com Corolário 21

as bissetrizes externas relativas aos outros dois vértices no ex-incentro.

Seja ABC um triângulo de lados AB = c, BC = a, CA = b e Proposição 22

semiperímetro p (gura 7.19). Sejam D, E e F os pontos onde o círculo ins-


crito em ABC tangencia os lados BC , CA e AB , respectivamente, e suponha,
ainda, que o círculo ex-incrito a BC tangencia tal lado em M e os prolonga-
mentos de AC e AB respectivamente em N e P . Então:

(a) BD = BF = p − b, CD = CE = p − c, AF = AE = p − a.

(b) AN = AP = p.

(c) BM = BP = p − c, CM = CN = p − b.

(d) EN = F P = a.

(e) O ponto médio de BC também é o ponto médio de DM .

27
Unidade 7 Círculos associados a um triângulo

Demonstração
(a) Denotando AE = AF = x, BD = BF = y e CD = CE = z , obtemos
o sistema 
 x+y =c

y+z =a .

z+x=b

Somando ordenadamente essas igualdades, obtemos x + y + z = 2p e, daí,

x = (x + y + z) − (y + z) = p − a.

Analogamente, y = p − b e z = p − c.

B
F D Ia

M
I

A E C N

Figura 7.19: alguns segmentos notáveis do triângulo ABC .

(b) Sendo AN = AP = u, temos

2u = AN + AP = ( AC + CN ) + ( AB + BP )
= ( AC + AB) + ( CN + BP )
= (b + c) + ( CM + BM )
= b + c + BC = a + b + c = 2p,

de modo que u = p.

(c) É claro que BM = BP e que CM = CN . Por outro lado,

BP = AP − AB = p − c e CN = AN − AC = p − b.

28
Triângulos e Circunferências Unidade 7

(d) Façamos a prova de que EN = a (provar que F P = a é análogo):


EN = AN − AE = p − (p − a) = a.
(e) Basta provar que CM = BD, o que já zemos acima.

Os cálculos da proposição acima são úteis em muitos problemas, valendo


mesmo a pena memorizar pelo menos os resultados dos itens (a), (b), (d) e
(e). Observe, ainda, que os itens (c), (d) e (e) são decorrências praticamente
imediatas dos itens (a) e (b).
Terminemos esta seção com um resultado que fornece outra relação entre
o incentro e os ex-incentros de um triângulo.

Seja ABC um triângulo qualquer, I seu incentro, Ia seu ex-incentro Proposição 23

relativo a BC e M o ponto onde o círculo circunscrito a ABC intersecta o


segmento IIa (cf. gura 7.20). Então, M é o ponto médio do arco BC que
não contém A e
M B = M C = M I = M Ia .

Ia
M
A I

Figura 7.20: incentro, ex-incentro e ponto médio do arco correspondente

Como M AB b = 1A
b = M AC
2
b, segue do teorema do ângulo inscrito que os
Demonstração
_ _
arcos M B e M C que não contêm A são iguais e, portanto, M é seu ponto
médio. Como arcos iguais subentendem cordas iguais, temos M B = M C .
Veja, agora, que B McI = B M
cA = B CA
b =C be

I BM
b = I BC b = 1B
b + C BM b + C AMb
2
1b 1b
= B + A.
2 2

29
Unidade 7 Círculos associados a um triângulo

Portanto,

B IM
b = 180◦ − I BM
b − BM cI
1b 1b b
= 180◦ − B − A−C
2 2
= A
b+B b+C b − 1B b − 1Ab−C
b
2 2
1b 1b
= B + A = I BM,b
2 2
de modo que o triângulo IBM é isósceles de base BM . Assim, IM = BM =
CM .
Deixamos como exercício para o leitor provar a igualdade BM = M Ia ; o
argumento é análogo ao acima.

30
Triângulos e Circunferências Unidade 7

1. Construa o triângulo ABC conhecendo os comprimentos do raio R do


círculo circunscrito e a e b dos lados BC e AC , respectivamente.

2. Sejam ABC um triângulo qualquer e M e N , respectivamente, os pontos


onde as bissetrizes interna e externa relativas ao vértice A intersectam o
círculo circunscrito a ABC . Prove que M N é um diâmetro desse círculo.

3. Seja ABC um triângulo qualquer e sejam M , N e P os pontos onde as


bissetrizes internas de ABC , relativas respectivamente aos vértices A, B
e C , intersectam o círculo circunscrito ao triângulo (M 6= A, N 6= B ,
P 6= C ). Prove que o incentro de ABC é o ortocentro de M N P .

4. Sejam a, b e c três retas do plano, duas a duas concorrentes mas não


passando as três por um mesmo ponto. Construa com régua e compasso
os pontos do plano equidistantes de a, b e c.

5. * Prove que, em todo triângulo, os pontos simétricos do ortocentro em


relação às retas suportes de seus lados estão situados sobre o círculo
circunscrito. (Sugestão: sejam ABC um triângulo acutângulo (a prova
nos demais casos é análoga), H seu ortocentro, Ha o pé da altura relativa
←→ ←→
a A. Como HHa ⊥ BC basta mostrarmos que, sendo P o outro ponto de
←→
interseção da reta AH com o círculo circunscrito a ABC , tem-se HHa =
Ha P . Para tanto, use o teorema do ângulo inscrito para estabelecer a
congruência dos triângulos BHa P e BHa H por ALA.)

6. De um triângulo ABC conhecemos as posições dos vértices B e C , a


medida α do ângulo ∠BAC e o semiplano β , dos determinados pela
reta BC , no qual está situado o vértice A. Quando A descreve o arco
capaz de α sobre BC , situado no semiplano β , encontre o LG descrito
pelo ortocentro H de ABC . (Sugestão: use o resultado do problema
anterior.)

7. De um triângulo ABC conhecemos as posições dos vértices B e C , a


medida α do ângulo ∠BAC e o semiplano β , dos determinados pela reta
BC , no qual está situado o vértice A. Quando A descreve o arco capaz
de α sobre BC situado no semiplano β , encontre o LG descrito pelo ex-

31
Unidade 7 Círculos associados a um triângulo

incentro Ia relativo a BC . (Sugestão: use o resultado do Problema 15


da Unidade 3.)

8. Seja ABC um triângulo retângulo em A e H o pé da altura relativa à


hipotenusa BC . Sejam, ainda, I1 e I2 os incentros dos triângulos ABH
e ACH . Prove que A é o ex-incentro do triângulo I1 HI2 relativo ao lado
I1 I2 . (Sugestão: use o resultado do problema anterior.)

9. Construa o quadrado ABCD, conhecendo as posições de quatro pontos


M, N, P, Q situados respectivamente sobre os lados AB , BC , CD e
DA. (Sugestão: adapte a sugestão dada para o Problema 20, página 18,
utilizando o resultado da Proposição 23.)

10. (OIM.) Em um triângulo ABC , marcamos os pontos Q e R, de tangência


do lado BC respectivamente com o círculo inscrito em ABC e ex-inscrito
a ABC em relação ao lado BC . Se P é o pé da perpendicular baixada de
B à bissetriz interna de ABC relativa ao vértice A, mostre que QPbR =
90◦ . (Sugestão: sendo M o ponto médio do lado BC , use o resultado
do Problema 16 da Unidade 5, para calcular P M em função de AB = c
e AC = b; em seguida, calcule QR em função de a e b com o auxílio da
Proposição 22 e use o resultado do Problema 12 da Unidade 3.)

11. Construa o triângulo ABC , conhecidos os comprimentos p de seu semiperímetro,


a do lado BC e ra do círculo ex-inscrito ao lado BC . (Sugestão: nas
notações da Figura 7.19, observe que o triângulo AN Ia é retângulo em
N e tal que AN = p, N Ia = ra ; portanto, podemos construí-lo. Após
executar tal construção, trace o círculo ex-inscrito ao lado BC (o qual
tem centro Ia e raio ra ), bem como a outra tangente ao mesmo pas-
sando por A. Note, agora, que podemos marcar sobre AN o ponto de
tangência E do círculo inscrito em ABC com o lado AC , uma vez que
AE = a. Após fazê-lo, marque o incentro I de ABC , como a inter-
seção de AIa com a reta perpendicular a AN e passando por E . Por
m, trace o círculo inscrito em ABC (o qual tem centro I e raio IE ) e
uma das tangentes comuns internas aos círculos inscrito e ex-inscrito (cf.
Problema 22, página 19), obtendo os pontos B e C .)

32
Referências Bibliográcas

[1] AKOPYAN, A. V. e ZASLAVSKY A. A. (2007). Geometry of Conics. Amer-


ican Mathematical Society.

[2] DE BARROS, A. A. e ANDRADE, P. F. DE A. (2009). Introdução à Geo-


metria Projetiva. Sociedade Brasileira de Matemática.

[3] BARBOSA, J. L. M. (2004). Geometria Euclidiana Plana. Sociedade


Brasileira de Matemática.

[4] BARBOSA, J. L. M. (1995). Geometria Hiperbólica. Instituto Nacional de


Matemática Pura e Aplicada.

[5] CAMINHA, A. (2012). Temas de Matemática Elementar, Volume 1.


Números Reais. Sociedade Brasileira de Matemática.

[6] COXETER, H. S. M. e GREITZER, S. L. (1967). Geometry Revisited. The


Mathematical Association of America.

[7] HEATH, T. L. (1956). The Thirteen Books of Euclid's Elements. Dover.

[8] HONSBERGER, R. (1995). Episodes in Nineteenth and Twentieth Century


Euclidean Geometry. The Mathematical Association of America.

[9] JOHNSON, R. (2007). Advanced Euclidean Geometry. Dover.

[10] YAGLOM, I. M. (1962). Geometric Transformations I. The Mathematical


Association of America.

[11] YAGLOM, I. M. (1968). Geometric Transformations II. The Mathematical


Association of America.

[12] YAGLOM, I. M. (1973). Geometric Transformations III. The Mathematical


Association of America.

[13] YAGLOM, I. M. e SHENITZER, A. (2009). Geometric Transformations IV.


The Mathematical Association of America.

33
8
Quadriláteros Inscritíveis
e Circunscritíveis
Sumário
8.1 Quadriláteros inscritíveis e circunscritíveis . . . . . . 2

1
Unidade 8 Quadriláteros inscritíveis e circunscritíveis

8.1 Quadriláteros inscritíveis e circunscritíveis

Contrariamente aos triângulos, nem todo quadrilátero (convexo) admite um


círculo passando por seus vértices. Para ver isso, basta tomar um triângulo
ABD e um ponto C não pertencente ao círculo circunscrito a ABD (gura 8.1).
Por outro lado, dizemos que um quadrilátero é inscritível se existir um círculo
B

C
A

Figura 8.1: um quadrilátero não-inscritível.

passando por seus vértices.


É imediato a partir da unicidade do círculo circunscrito a um triângulo que,
se um quadrilátero for inscritível, então o círculo que passa por seus vértices é
único e será doravante denominado o círculo circunscrito ao quadrilátero.
Podemos mostrar (cf. problema 8, página 10) que um quadrilátero é ins-
critível se, e só se, as mediatrizes de seus lados se intersectarem em um único
ponto, o circuncentro do quadrilátero. Porém, nas aplicações que temos em
mente, a caracterização dos quadriláteros inscritíveis dada a seguir mostra-se
em geral mais útil:

Proposição 1 Um quadrilátero convexo ABCD, de lados AB , BC , CD e DA, é inscri-


tível se, e só se, uma qualquer das condições a seguir for satisfeita:

(a) DAB b = 180◦ .


b + B CD

(b) B AC b .
b = B DC

Demonstração Suponhamos, inicialmente, que ABCD seja inscritível (gura 8.2). Então,
pelo teorema do ângulo inscrito, temos B AC b e
b = B DC

b = 1 BCD + 1 BAD = 180◦ .


_ _
DAB
b + B CD
2 2

2
Quadriláteros Inscritíveis e Circunscritíveis Unidade 8

C
A

Figura 8.2: ABCD inscritível ⇒ DAB b = 180◦


b + B CD e B AC
b = B DC
b .

Reciprocamente (gura 8.3), suponhamos primeiro que B AC b .


b = B DC

C
A

Figura 8.3: B AC b ⇒ ABCD


b = B DC inscritível.

Como ABCD é convexo e os vértices de ABCD estão nomeados consecuti-


←→
vamente, segue que A e D estão situados de um mesmo lado da reta BC .
Sendo θ o valor comum dos ângulos B AC
b e B DCb , temos que A e D estão
ambos sobre o arco capaz de θ sobre BC . Logo, o círculo desse arco capaz é
circunscrito a ABCD.
Suponhamos, agora, que DABb + B CDb = 180◦ (gura 8.4) e considere
o círculo α, circunscrito a BAD. Se C estiver no interior do mesmo, seja
←→
BC ∩ α = {E}. Pelo item (a), temos

DAB b = 180◦ = DAB


b + B ED b + B CD
b

e, daí, B ED
b = B CD b , uma contradição ao teorema do ângulo externo. Se C
for exterior ao círculo chegamos a uma contradição análoga.

3
Unidade 8 Quadriláteros inscritíveis e circunscritíveis

E
C
A

Figura 8.4: B AC b = 180◦ ⇒ ABCD


b + B DC inscritível.

No que segue, apresentamos duas aplicações importantes da proposição


acima. Para a primeira delas, precisamos da seguinte nomenclatura: o triân-
gulo órtico (gura 8.5) de um triângulo não-retângulo ABC é o triângulo
formado pelos pés das alturas de ABC .

Hc
Hb
H

C Ha B

Figura 8.5: o triângulo órtico Ha Hb Hc de ABC .

Proposição 2 Em todo triângulo acutângulo, o ortocentro coincide com o incentro do


triângulo órtico.

Demonstração Vamos nos referir à gura 8.5. Como H H b c B = 90◦ +90◦ = 180◦ ,
b a B +H H
segue da proposição 1 que o quadrilátero HHa BHc é inscritível. Portanto,
novamente por aquela proposição, temos

HH
b a Hc = H BH b = 90◦ − A.
b c = Hb BA b

4
Quadriláteros Inscritíveis e Circunscritíveis Unidade 8

Por outro lado, desde que H H b b C = 180◦ temos HHa CHb também
baC + H H
inscritível. Portanto, temos também

HH
b a Hb = H CH b = 90◦ − A.
b b = Hc CA b

Provamos, então, que H H b a Hb , i.e., o segmento HHa é bissetriz


b a Hc = H H
do ângulo ∠Hc Ha Hb do triângulo órtico. Analogamente, HHb e HHc são
bissetrizes dos outros dois ângulos do triângulo órtico, de maneira que seu
ponto de interseção H (o ortocentro de ABC ) é o incentro de Ha Hb Hc .

Nossa segunda aplicação diz respeito à seguinte situação: dados no plano


um triângulo ABC e um ponto P não situado sobre qualquer das retas suportes
dos lados de ABC , marcamos os pontos D, E e F , pés das perpendiculares
baixadas de P respectivamente aos lados BC , CA e AB . O triângulo DEF
assim obtido é o triângulo pedal de P em relação a ABC . Por exemplo, o
triângulo órtico de um triângulo (gura 8.5) é o triângulo pedal do ortocentro
do triângulo.
O resultado a seguir, conhecido como o teorema de Simson-Wallace,
explica quando o triângulo pedal de um ponto é degenerado (i.e., tal que D, E
e F são colineares).

Dados um triângulo ABC e um ponto P não situado sobre as retas Proposição 3


Simson-Wallace
suportes de seus lados, o triângulo pedal de P em relação a ABC é degenerado
se e só se P estiver sobre o círculo circunscrito a ABC .

A m de que P esteja situado sobre o círculo circunscrito a ABC , a única Demonstração


possibilidade é que P esteja situado em uma das regiões angulares ∠BAC ,
∠ABC ou ∠BCA mas seja exterior ao triângulo ABC . Analogamente, a m
de que o triângulo pedal de P em relação a ABC possa ser degenerado, P deve
ser exterior ao triângulo ABC e estar situado em uma de tais regiões angulares.
Portanto, podemos, sem perda de generalidade, supor que P é exterior ao
triângulo ABC e está situado na região angular ∠ABC (gura 8.6).
Sejam respectivamente D, E e F os pés das perpendiculares baixadas de P
às retas suportes dos lados BC , AC e AB . Podemos também supor, sem perda
de generalidade, que D e E estão sobre os lados BC e AC , respectivamente,

5
Unidade 8 Quadriláteros inscritíveis e circunscritíveis

F
P
A

B D C

Figura 8.6: a reta de Simson-Wallace.

mas que F está sobre o prolongamento do lado AB . Como P FbA = P EA b =


90◦ , o quadrilátero P F AE é inscritível. Analogamente, o quadrilátero P EDC
também é inscritível. Segue, daí, que

APbC − DPbF = DPbC − F PbA = DEC


b − F EA,
b

i.e.,

APbC = DPbF ⇔ DEC b ⇔ D, E e F são colineares.


b = F EA

Por m, note que DPbF = 180◦ − ABC


b , de modo que

b = 180◦ ⇔ ABCP é inscritível.


APbC = DPbF ⇔ APbC + ABC

Nas notações da discussão acima, quando P estiver sobre o círculo circuns-


crito a ABC diremos que a reta que passa pelos pontos D, E e F é a reta de
Simson-Wallace de P relativa a ABC .
Voltando à discussão do parágrafo inicial desta seção, observamos agora que
nem todo quadrilátero convexo possui um círculo tangente a todos os seus lados

6
Quadriláteros Inscritíveis e Circunscritíveis Unidade 8

(o leitor pode construir um exemplo facilmente). Quando tal ocorrer, diremos


que o quadrilátero é circunscritível e que o círculo tangente a seus lados é
o círculo inscrito no quadrilátero. O teorema a seguir, conhecido como o
teorema de Pitot1 , dá uma caracterização útil dos quadriláteros inscritíveis.

Um quadrilátero convexo ABCD, de lados AB , BC , CD e DA, é cir- Teorema 4


Pitot
cunscritível se, e só se,

AB + CD = AD + BC.

Suponha, primeiro, que ABCD seja circunscritível e sejam M, N, P, Q Demonstração


respectivamente os pontos de tangência de AB , BC , CD e DA com o círculo
inscrito em ABCD.
A
Q
D
M

P
B N C

Figura 8.7: somas iguais dos lados opostos ⇒ ABCD circunscritível.

AB + CD = ( AM + M B) + ( CP + P D)
= AQ + BN + CN + DQ
= ( AQ + DQ) + ( BN + CN ) = AD + BC.

Reciprocamente, suponhamos que AB + CD = AD + BC . Se ABCD


não for circunscritível, o círculo Γ tangente aos lados AD, AB e BC de ABCD
não tangencia o lado CD.
−→
Seja E o ponto sobre a semirreta AD tal que CE tangencia o círculo
inscrito Γ (na gura 8.8 estamos considerando o caso em que E está situado
1 Após Henri Pitot, engenheiro francês do século XVII.

7
Unidade 8 Quadriláteros inscritíveis e circunscritíveis

A
E D

B C

Figura 8.8: ABCD circunscritível ⇒ somas iguais dos lados opostos.

entre A e D; o outro caso é totalmente análogo). Pelo que zemos acima,


segue que AB + CE = AE + BC . Como AB + CD = AD + BC , segue
que
CD − CE = AD − AE = DE
ou, ainda, que CD = CE + ED, contradizendo a desigualdade triangular no
triângulo CDE .

8
Quadriláteros Inscritíveis e Circunscritíveis Unidade 8

1. Seja ABCD um quadrilátero inscritível e E o ponto de encontro de suas


diagonais. Sejam, ainda, M , N , P e Q respectivamente os pés das
perpendiculares baixadas de E aos lados AB , BC , CD e DA. Prove
que o quadrilátero M N P Q é circunscritível. (Sugestão: use o fato de os
quadriláteros EP CN , ABCD e P EQD serem inscritíveis para mostrar
que N PbE = QPbE ; argumente analogamente para os demais vértices de
M N P Q e use, em seguida, o resultado do problema anterior.)

2. Sobre cada lado do triângulo acutângulo ABC construímos um círculo


tendo o lado por diâmetro. Prove que tais círculos se intersectam dois a
dois em seis pontos, três dos quais são os pés das alturas de ABC .

3. * Seja ABC um triângulo acutângulo de circuncentro O e sejam Ha , Hb


e Hc os pés das alturas respectivamente relativas aos lados BC , CA e
AB . Prove que:

(a) AH b e AH
b b Hc = ABC b .
b c Hb = ACB
←→ ←→
(b) OA⊥ Hb Hc .

4. Considere no plano quatro retas que se intersectam duas a duas e tais que
não há três passando por um mesmo ponto. Prove que os círculos cir-
cunscritos aos quatro triângulos que tais retas determinam passam todos
por um mesmo ponto.

5. ABCD é um quadrilátero inscrito em um círculo Γ de diâmetro BD.


Sejam M ∈ Γ tal que AM ⊥BD e N o pé da perpendicular baixada
←→ ←→
de A a BD. Se a paralela à reta AC por N intersecta CD em P e
←→
BC em Q, prove que o quadrilátero CP M Q é um retângulo. (Sugestão:
note, inicialmente, que B CD
b = 90◦ . Agora, mostre sucessivamente
que M BQb = MN b Q e M N BQ é inscritível; conclua, a partir daí, que
MN b B = 90◦ . Em seguida, mostre sucessivamente que M DP b = MN bP
e M DN P é inscritível; conclua então que M PbD = 90◦ .)

6. Dado um triângulo ABC


_
com círculo circunscrito Γ, sejam P um ponto
situado sobre o arco AC de Γ que não contém o vértice B e D o pé
da perpendicular baixada de P à reta suporte do lado BC . Se Q 6= P
←→
é o outro ponto de interseção da reta DP com o círculo Γ e r denota

9
Unidade 8 Quadriláteros inscritíveis e circunscritíveis

←→
a reta de Simson-Wallace de P em relação a ABC , prove que r k AQ.
(Sugestão: comece observando que P QA
b = P CAb .)

7. Sejam ABC um triângulo


_
com círculo circunscrito Γ, e P e P 0 pontos
situados sobre o arco AC de Γ que não contém o ponto B . Se r e
r0 denotam respectivamente as retas de Simson-Wallace de P e P 0 em
relação a ABC , prove que o ângulo entre r e r0 é igual à metade da
_
medida do arco P P 0 de Γ que não contém o vértice A. (Sugestão: use
o resultado do problema anterior.)

8. * Um polígono convexo é inscritível se existir um círculo passando por


seus vértices, dito o círculo circunscrito ao polígono. Prove que um
polígono convexo é inscritível se, e só se, as mediatrizes de seus lados
concorrem em um único ponto.

9. Seja ABCD um quadrilátero circunscritível. Demonstre que os círculos


inscritos nos triângulos ABC e ACD têm, com a diagonal AC , um
mesmo ponto em comum. (Sugestão: use o teorema de Pitot e os cálculos
da Proposição 7.22, Unidade 7.)

10. Prove que um quadrilátero convexo é circunscritível se, e só se, as bis-


setrizes de seus ângulos internos intersectarem-se em um único ponto,
que, nesse caso, será o centro do círculo inscrito. (Sugestão: imite a
prova da existência de círculos inscritos em triângulos.)

11. * Um polígono convexo é circunscritível se existir um círculo tangente a


seus lados, dito o círculo inscrito no polígono. Prove que um polígono
convexo é circunscritível se, e só se, as bissetrizes de seus ângulos internos
passam todas por um mesmo ponto.

12. Se um hexágono convexo A1 A2 A3 . . . A6 é circunscritível, prove que

A1 A2 + A3 A4 + A5 A6 = A2 A3 + A4 A5 + A6 A1 .

13. (IMO.) Sobre um círculo Γ são dados três pontos distintos A, B e C .


Mostre como construir com régua e compasso um quarto ponto D sobre
Γ, tal que o quadrilátero convexo ABCD seja circunscritível. (Sugestão:

10
Quadriláteros Inscritíveis e Circunscritíveis Unidade 8

sejam AB = a, BC = b. Supondo o problema resolvido, marque D


_
sobre o arco AC de Γ que não contém B e sejam CD = x e AD = y .
Inicialmente, mostre que podemos supor a 6= b, digamos a < b, de sorte
que devamos ter x − y = b − a > 0. Se E ∈ CD for tal que CE = b − a,
então E pertence ao círculo de centro C e raio b − a; use o fato de
ADE ser isósceles e ABCD ser inscritível para mostrar que E também
b sobre AC .)
pertence a um dos arcos capazes de 180◦ − 12 ABC

11
Referências Bibliográcas

[1] AKOPYAN, A. V. e ZASLAVSKY A. A. (2007). Geometry of Conics. Amer-


ican Mathematical Society.

[2] DE BARROS, A. A. e ANDRADE, P. F. DE A. (2009). Introdução à Geo-

metria Projetiva. Sociedade Brasileira de Matemática.

[3] BARBOSA, J. L. M. (2004). Geometria Euclidiana Plana . Sociedade


Brasileira de Matemática.

[4] BARBOSA, J. L. M. (1995). Geometria Hiperbólica . Instituto Nacional de


Matemática Pura e Aplicada.

[5] CAMINHA, A. (2012). Temas de Matemática Elementar, Volume 1.


Números Reais. Sociedade Brasileira de Matemática.

[6] COXETER, H. S. M. e GREITZER, S. L. (1967). Geometry Revisited . The


Mathematical Association of America.

[7] HEATH, T. L. (1956). The Thirteen Books of Euclid's Elements . Dover.

[8] HONSBERGER, R. (1995). Episodes in Nineteenth and Twentieth Century

Euclidean Geometry. The Mathematical Association of America.

[9] JOHNSON, R. (2007). Advanced Euclidean Geometry . Dover.

[10] YAGLOM, I. M. (1962). Geometric Transformations I . The Mathematical


Association of America.

[11] YAGLOM, I. M. (1968). Geometric Transformations II. The Mathematical


Association of America.

[12] YAGLOM, I. M. (1973). Geometric Transformations III. The Mathematical


Association of America.

[13] YAGLOM, I. M. e SHENITZER, A. (2009). Geometric Transformations IV.


The Mathematical Association of America.

12
9

Proporcionalidade, Tales
e bissetrizes

Sumário
9.1 O teorema de Tales . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

9.2 Problemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

1
Unidade 9 O teorema de Tales

Esta unidade desenvolve um conjunto de ferramentas que nos permitirão ini-


ciar o estudo sistemático dos aspectos métricos da geometria Euclidiana plana;
grosso modo, o problema central subjacente, como veremos, é aquele de com-
parar razões de comprimentos de segmentos.
Dentre várias aplicações importantes e interessantes aqui reunidas, ressalta-
mos os teoremas de Tales e Pitágoras, os quais se revelarão quase imprescindíveis
doravante.

9.1 O teorema de Tales

Consideremos a seguinte situação: temos no plano retas paralelas r, s e t


(gura 9.1). Traçamos, em seguida, retas u e u0 , a primeira intersectando r, s

C C′
t
Z′
Z
Y′
Y
B B′
s
X′
X
A A′
r
u u′

Figura 9.1: paralelas cortadas por transversais.

e t respectivamente nos pontos A, B e C , e a segunda intersectando r, s e t


respectivamente em A0 , B 0 e C 0 .
Se fosse AB = BC (o que parece não ser o caso na gura acima), teríamos,
pelo teorema da base média de um trapézio (Proposição 5.12, Unidade 5), que
A0 B 0 = B 0 C 0 . De outra forma, já sabemos que

AB A0 B 0
= 1 ⇒ 0 0 = 1.
BC BC

2
Proporcionalidade, Tales e bissetrizes Unidade 9

Suponha, agora, que BC


AB
seja um número racional, digamos 23 , para exemplicar.
Dividamos, então, os segmentos AB e BC respectivamente em duas e três
partes iguais, obtendo pontos X , Y e Z em u, tais que

AX = XB = BY = Y Z = ZC

(gura 9.1). Se traçarmos por X , Y e Z paralelas às retas r, s e t, as quais


intersectam u0 respectivamente em X 0 , Y 0 e Z 0 , então mais três aplicações do
teorema da base média de um trapézio garantem que

A0 X 0 = X 0 B 0 = B 0 Y 0 = Y 0 Z 0 = Z 0 C 0

e, daí,
AB 2 A0 B 0 2
= ⇒ 0 0 = .
BC 3 BC 3
Prosseguindo com nosso raciocínio, suponha, agora, que fosse BC
AB
=m n
, com
m, n ∈ N. Então, uma pequena modicação do argumento acima (dividindo,
inicialmente, AB e BC em m e em n partes iguais, respectivamente) garantiria
que
AB m A0 B 0 m
= ⇒ 0 0 = .
BC n BC n
De outra forma, a relação
AB A0 B 0
= 0 0
BC BC
é válida sempre que o primeiro (ou o segundo) membro for um racional.
A pergunta natural nesse momento é a seguinte: a igualdade das razões
acima se mantém quando um dos membros da mesma for um número irracional?
A resposta é sim, e, para entender o porquê disso, damos a explicação a seguir.
Suponha que
AB
= x,
BC
com x irracional. Escolha uma sequência (an )n≥1 de racionais positivos, tal que
1
x < an < x +
n
para todo n ∈ N. Em seguida, marque (gura 9.2) o ponto Cn ∈ u tal que

AB
= an .
BCn

3
Unidade 9 O teorema de Tales

C C′
Cn′ tn
Cn
t

B B′
s

A A′
r
u u′

Figura 9.2: razão AB


BC
irracional.

Sejam tn a paralela às retas r, s e t traçada por Cn e Cn0 o ponto onde tn


intersecta u0 . Como an ∈ Q, um argumento análogo ao anterior garante que
A0 B 0
= an .
B 0 Cn0
De outra forma, obtivemos que
AB 1 A0 B 0 1
x< <x+ ⇒x< 0 0 <x+
BCn n B Cn n
ou, ainda,
AB AB AB 1 AB A0 B 0 AB 1
< < + ⇒ < 0 0 < + . (9.1)
BC BCn BC n BC B Cn BC n
Observe, agora, que as desigualdades do primeiro membro acima garantem que,
à medida em que n aumenta, os pontos Cn aproximam-se mais e mais do ponto
C . Mas como tn k t, segue então que os pontos Cn0 aproximam-se mais e mais
0 0
do ponto C 0 , de maneira que a razão BA0 CB0 aproxima-se mais e mais da razão
n
A0 B 0
B0C 0
. Abreviamos isso escrevendo

A0 B 0 A0 B 0
−→ quando n → +∞.
B 0 Cn0 B0C 0

4
Proporcionalidade, Tales e bissetrizes Unidade 9

Por outro lado, utilizando notação análoga à da linha acima, podemos clara-
mente inferir, a partir das desigualdades do segundo membro de (9.1), que

A0 B 0 AB
0 0
−→ quando n → +∞.
B Cn BC
Utilizando, agora, o fato (intuitivamente óbvio, e que será justicado rigorosa-
mente na disciplina Fundamentos de Cálculo (MA22)) de que uma sequência
de reais não pode aproximar-se simultaneamente de dois reais distintos quando
n → +∞, somos forçados a concluir que

AB A0 B 0
= 0 0.
BC BC
A discussão acima provou um dos resultados fundamentais da geometria
Euclidiana plana, conhecido como o teorema de Tales1 , o qual enunciamos
formalmente a seguir:

Sejam r, s, t retas paralelas. Escolhemos pontos A, A0 ∈ r, B, B 0 ∈ s Proposição 1

e C, C 0 ∈ t, de modo que A, B, C e A0 , B 0 , C 0 sejam dois ternos de pontos


colineares. Então
AB A0 B 0
= 0 0.
BC BC

Figura 9.3: Tales de Mileto, matemático e lósofo do século


VII a.C. e o primeiro da Antiguidade clássica grega.

Colecionamos, a seguir, algumas aplicações do teorema de Tales, começando


pelo seguinte

1 Após Tales de Mileto, matemático grego do século VII a.C.

5
Unidade 9 O teorema de Tales

Exemplo 2 Divida o segmento AB , dado a seguir, em cinco partes iguais com régua

e compasso.

Solução

A B

Descrição dos passos.

1. Trace pelo ponto A uma reta arbitrária r.

2. Marque sobre r pontos C0 = A, C1 , C2 , C3 , C4 e C5 tais que, para


0 ≤ i ≤ 4, os segmentos Ci Ci+1 sejam todos iguais.
←→
3. Para 1 ≤ i ≤ 4, trace a paralela à reta C5 B passando por Ci .

4. Se Di é a interseção de tal paralela com o segmento AB , então o teorema


de Tales garante que os pontos D1 , D2 , D3 e D4 dividem AB em cinco
partes iguais.

Para o próximo exemplo, dados reais positivos a, b e c, dizemos que um real


positivo x é a quarta proporcional de a, b e c (nessa ordem) se

a c
= .
b x

Caso a, b e c sejam os comprimentos de três segmentos, diremos também que


um segmento de comprimento x dado como acima é a quarta proporcional dos
segmentos de comprimentos a, b e c (nessa ordem).

Exemplo 3 Construa com régua e compasso a quarta proporcional dos segmentos

dados abaixo.

6
Proporcionalidade, Tales e bissetrizes Unidade 9

Solução

c
a b

Descrição dos passos.

1. Trace duas retas r e s, concorrentes no ponto A.


2. Marque sobre a reta r os segmentos AB e BC tais que AB = a e
BC = c; marque sobre a reta s o segmento AD, tal que AD = b.
←→
3. Trace pelo ponto C a paralela à reta BD, a qual intersecta a reta s no
ponto E . Pelo teorema de Tales, temos DE = bc
a
, conforme desejado.

Tão importante quanto o teorema de Tales, como enunciado acima, é a


recíproca parcial a seguir, também a ele devida.

Sejam dados no plano retas r, s e pontos A, A0 ∈ r, B, B 0 ∈ s, com Corolário 4


←→ ←→
A0 B 0
AB ∩ A B = {C}. Se
0 0 AB
BC
= B0C
, então r k s.

Suponha que B ∈ AC (gura 9.4  os demais casos são análogos). Trace Demonstração
por B a reta s0 k r e marque o ponto B 00 , interseção de s0 com o segmento A0 C .
0 00
Pelo teorema de Tales, temos BC AB
= AB 00BC , de maneira que nossas hipóteses
fornecem
A0 B 0 A0 B 00
= .
B0C B 00 C
Segue, agora, do Problema 2, página 10, que B 0 = B 00 ou, o que é o mesmo,
s = s0 . Logo, s k r.

O resultado a seguir é conhecido como o teorema da bissetriz.

7
Unidade 9 O teorema de Tales

B B ′′
s′

A A′
r
u u′

Figura 9.4: recíproca do teorema de Tales.

Proposição 5 Seja ABC um triângulo tal que AB 6= AC .

(a) Se P é o pé da bissetriz interna e Q é o pé da bissetriz externa relativas


ao lado BC , então
BP BQ BA
= = .
PC QC AC

(b) Sendo AB = c, AC = b e BC = a, temos


( ( ac
ac BQ =
BP = |b−c|
b+c
e
ab ab
PC = b+c
. QC = |b−c|
.

Q B P C

Figura 9.5: o teorema da bissetriz.

Demonstração
O item (b) segue imediatamente de (a): sendo BP = x e P C = y , temos

8
Proporcionalidade, Tales e bissetrizes Unidade 9

x + y = a e, pelo item (a), x


y
= cb . Resolvendo o sistema
(
x+y =a
x
y
= cb

obtemos x = b+c
ac
e y = b+c
ab
. As demais fórmulas do item (b) são provadas de
modo análogo.
Quanto ao item (a), mostremos que BQQC
= BA
AC
, deixando a prova (análoga)
da igualdade BP
PC
= BA
AC
a cargo do leitor (Problema 4, página 10).
←→
Trace, pelo ponto B , a paralela à reta AQ e marque seu ponto B 0 de
←→ ←→ −→
interseção com AC (gura 9.6). Como QA k BB 0 e AQ é bissetriz de

X
A

B′

Q B C

Figura 9.6: prova do teorema da bissetriz.

∠BAX , obtemos

b 0 = B AQ
ABB b = QAX b 0 A.
b = BB

Portanto, o triângulo ABB 0 é isósceles de base BB 0 , de maneira que B 0 A =


←→ ←→
BA. Aplicando agora o teorema de Tales às paralelas QA e BB 0 , intersectadas
←→ ←→
pelas retas QC e AC , obtemos

BQ AB 0 BA
= = .
QC AC AC

9
Unidade 9 Problemas

9.2 Problemas

1. As retas r, s e t são paralelas, com s entre r e t. As transversais u e v


determinam, sobre r, s, t, pontos A, B, C e A0 , B 0 , C 0 , respectivamente,
tais que AB = x + 2, BC = 2y , A0 B 0 = y e B 0 C 0 = (x − 10)/2.
Sabendo que x + y = 18, determine AB .

2. * Sejam P1 e P2 pontos no interior de um segmento AB , tais que


AP1 AP2
= .
P1 B P2 B
Prove que os pontos P1 e P2 coincidem.

3. Dados segmentos de comprimentos a e b, dizemos que um segmento de


comprimento x é a terceira proporcional de a e b (nessa ordem) se
a b
= .
b x
Mostre como construir com régua e compasso tal segmento de compri-
mento x. (Sugestão: use o teorema de Tales.)

4. * Complete a prova do teorema da bissetriz.


5. Em um triângulo ABC , seja P o pé da bissetriz interna relativa a BC .
Construa com régua e compasso o triângulo, conhecendo os comprimentos
P B , P C e AB (sugestão: use o teorema da bissetriz e a construção da
quarta proporcional para construir um segmento de comprimento AC ).
(Sugestão: use o teorema da bissetriz e a construção da quarta propor-
cional para construir um segmento de comprimento AC .)

6. Em um triângulo ABC , sejam P o pé da bissetriz interna relativa a


A. Marcamos respectivamente sobre AB e AC pontos M e N tais que
BM = BP e CN = CP . Prove que M N k BC (sugestão: use o
teorema da bissetriz e a recíproca do teorema de Tales). (Sugestão: use
o teorema da bissetriz e a recíproca do teorema de Tales.)

7. * Sejam ABC um triângulo e P e M respectivamente os pés da bissetriz


interna e da mediana relativas ao lado BC . Se P e M coincidirem, use
o teorema da bissetriz interna para provar que ABC é isósceles de base
BC .

10
Referências Bibliográcas

[1] AKOPYAN, A. V. e ZASLAVSKY A. A. (2007). Geometry of Conics. Amer-


ican Mathematical Society.

[2] DE BARROS, A. A. e ANDRADE, P. F. DE A. (2009). Introdução à Geo-

metria Projetiva. Sociedade Brasileira de Matemática.

[3] BARBOSA, J. L. M. (2004). Geometria Euclidiana Plana . Sociedade


Brasileira de Matemática.

[4] BARBOSA, J. L. M. (1995). Geometria Hiperbólica . Instituto Nacional de


Matemática Pura e Aplicada.

[5] CAMINHA, A. (2012). Temas de Matemática Elementar, Volume 1.


Números Reais. Sociedade Brasileira de Matemática.

[6] COXETER, H. S. M. e GREITZER, S. L. (1967). Geometry Revisited . The


Mathematical Association of America.

[7] HEATH, T. L. (1956). The Thirteen Books of Euclid's Elements . Dover.

[8] HONSBERGER, R. (1995). Episodes in Nineteenth and Twentieth Century

Euclidean Geometry. The Mathematical Association of America.

[9] JOHNSON, R. (2007). Advanced Euclidean Geometry . Dover.

[10] YAGLOM, I. M. (1962). Geometric Transformations I . The Mathematical


Association of America.

[11] YAGLOM, I. M. (1968). Geometric Transformations II . The Mathematical


Association of America.

[12] YAGLOM, I. M. (1973). Geometric Transformations III. The Mathematical


Association of America.

[13] YAGLOM, I. M. e SHENITZER, A. (2009). Geometric Transformations IV.


The Mathematical Association of America.

11
10

Semelhança e Triângulo
Retângulo
Sumário
10.1 Semelhança de triângulos . . . . . . . . . . . . . . . 2

1
Unidade 10 Semelhança de triângulos

10.1 Semelhança de triângulos

Dizemos que dois triângulos são semelhantes quando existe uma corres-
pondência biunívoca entre os vértices de um e outro triângulo, de modo que
os ângulos em vértices correspondentes sejam iguais e a razão entre os compri-
mentos de lados correspondentes seja sempre a mesma (gura 10.1).
A C′
b′
kc′ kb′
a′
A′
B C c′
ka′ B′

Figura 10.1: dois triângulos semelhantes.

Fisicamente, dois triângulos são semelhantes se pudermos dilatar e/ou gi-


rar e/ou reetir e/ou transladar um deles, obtendo o outro ao nal de tais
operações.
Na gura 10.1, os triângulos ABC e A0 B 0 C 0 são semelhantes, com a cor-
respondência de vértices A ↔ A0 , B ↔ B 0 , C ↔ C 0 . Assim, Ab = Ab0 , B b0,
b=B
Cb=C b0 e existe k > 0 tal que

AB BC AC
0 0
= 0 0 = 0 0 = k.
AB BC AC
Tal real positivo k é denominado a razão de semelhança entre os triângulos
ABC e A0 B 0 C 0 , nessa ordem (observe que a razão de semelhança entre os
triângulos A0 B 0 C 0 e ABC , nessa ordem, é k1 ).
Escrevemos ABC ∼ A0 B 0 C 0 para denotar que os triângulos ABC e A0 B 0 C 0
são semelhantes, com a correspondência de vértices A ↔ A0 , B ↔ B 0 , C ↔ C 0 .
Se ABC ∼ A0 B 0 C 0 na razão (de semelhança) k , então k é também a razão
entre os comprimentos de dois segmentos correspondentes quaisquer nos dois
triângulos. Por exemplo, nas notações da gura 10.1, sendo M o ponto médio
de BC e M 0 o ponto médio de B 0 C 0 , temos que
MA a/2 a
= = =k
M 0 A0 a0 /2 a0
(a esse respeito, veja também o problema 3, página 11).

2
Semelhança e Triângulo Retângulo Unidade 10

As três proposições a seguir estabelecem as condições sucientes usuais para


que dois triângulos sejam semelhantes. Por tal razão, as mesmas são conhecidas
como os casos de semelhança de triângulos usuais. Como suas demons-
trações são consequências fáceis da recíproca do teorema de Tales, faremos
a prova do primeiro deles, deixando as demonstrações dos dois demais como
exercícios para o leitor (cf. problema 1).

Sejam ABC e A0 B 0 C 0 triângulos no plano, tais que Proposição 1

AB BC AC
0 0
= 0 0 = 0 0.
AB BC AC
Então ABC ∼ A0 B 0 C 0 , com a correspondência de vértices A ↔ A0 , B ↔ B 0 ,
C ↔ C 0 . Em particular, Ab=A b0 , B
b=B b0 e C
b=C b0 .

A C′
b′
kc′ kb′
a′
A′
B C c′
ka′ B′

Figura 10.2: o caso de semelhança LLL.

Sendo k o valor comum das razões do enunciado, temos AB = k · A0 B 0 , Demonstração


BC = k · B 0 C 0 e AC = k · A0 C 0 . Suponha, sem perda de generalidade, k > 1
e marque (cf. gura 10.3) o ponto B 00 ∈ AB tal que AB 00 = A0 B 0 .

B ′′ C ′′

B D C

Figura 10.3: prova do caso de semelhança LLL.

3
Unidade 10 Semelhança de triângulos

Sendo C 00 a interseção com o lado AC da reta que passa por B 00 e é paralela


ao lado BC , segue do teorema de Tales que

AC 00 AB 00 1
= = ,
AC AB k

de maneira que AC 00 = k1 · AC = A0 C 0 .
Trace, agora, a paralela ao lado AB passando por C 00 , a qual intersecta o
lado BC no ponto D. Então, o quadrilátero B 00 C 00 DB é um paralelogramo, de
sorte que, novamente pelo teorema de Tales, temos

B 00 C 00 BD AC 00 1
= = = .
BC BC AC k

Logo, B 00 C 00 = k1 · BC = B 0 C 0 .
A discussão acima mostrou que

AB 00 = A0 B 0 , AC 00 = A0 C 0 e B 00 C 00 = B 0 C 0 ,

i.e., que os triângulos AB 00 C 00 e A0 B 0 C 0 são congruentes pelo caso LLL de


congruência. Portanto, temos

B
b = ABC b 00 C 00 = A0 B
b = AB b0C 0 = B
b0,

e, analogamente, Ab = Ab0 e Cb = Cb0 .

Proposição 2 Sejam ABC e A0 B 0 C 0 triângulos no plano, tais que

AB BC
0 0
= 0 0 =k e B b0.
b=B
AB BC
Então, ABC ∼ A0 B 0 C 0 , com a correspondência de vértices A ↔ A0 , B ↔ B 0 ,
C ↔ C 0 . Em particular, Ab=A b0 , C
b=C b0 e AC
A0 C 0
= k.

Proposição 3 Sejam ABC e A0 B 0 C 0 triângulos no plano, tais que

A b0 e B
b=A b0.
b=B

4
Semelhança e Triângulo Retângulo Unidade 10

A C′

kc′ a′
A′
B C c′
ka′ B′

Figura 10.4: o caso de semelhança LAL.

Então, ABC ∼ A0 B 0 C 0 , com a correspondência de vértices A ↔ A0 , B ↔ B 0 ,


C ↔ C 0 . Em particular,

AB BC AC
0 0
= 0 0 = 0 0.
AB BC AC

A C′

A′
B C
B′

Figura 10.5: o caso de semelhança AA.

Como corolário dos casos de semelhança acima, estabelecemos na proposição


a seguir as relações métricas em triângulos retângulos.

Seja ABC um triângulo retângulo em A, com catetos AB = c, AC = b e Proposição 4

hipotenusa BC = a. Sendo H o pé da altura relativa à hipotenusa, CH = x,


BH = y e AH = h, temos:

(a) ah = bc.

(b) ax = b2 e ay = c2 .

(c) a2 = b2 + c2 .

(d) xy = h2 .

5
Unidade 10 Semelhança de triângulos

Demonstração
(a) e (b). Como AHB b e ABH
b = C AB b = C BA b (gura 10.6), os triângulos
BAH e BCA são semelhantes pelo caso AA, com a correspondência de vértices
A ↔ C , H ↔ A, B ↔ B . Assim,

BH AB AH AC
= e =
AB BC AB BC
ou, ainda,
y c h b
= e = .
c a c a
A relação ax = b2 é provada de maneira análoga.

C
x a
H
b h y

A c B

Figura 10.6: relações métricas num triângulo retângulo.

(c) Somando membro a membro as relações (b) e (c), obtemos a igualdade


a(x + y) = b2 + c2 . Mas desde que x + y = a, nada mais há a fazer.

(d) Multiplicando membro a membro as duas relações do item (b), obtemos


a2 · xy = (bc)2 ou, ainda,
 2
bc
xy = = h2 ,
a

onde utilizamos o item (a) na última igualdade acima.

O item (c) da proposição acima é o famoso teorema de Pitágoras. Apre-


sentamos, no que segue, algumas consequências importantes do mesmo, a pri-
meira das quais já foi utilizada na seção acima referida.

6
Semelhança e Triângulo Retângulo Unidade 10


As diagonais de um quadrado de lado a medem a 2. Corolário 5

Se ABCD é um quadrado de lado a e diagonais AC e BD (gura 10.7), Demonstração


então o triângulo ABC é retângulo e isósceles. Daí,
√ √
q
2 2
AC = AB + BC = a2 + a2 = a 2.

D C

A a B

Figura 10.7: cálculo da diagonal de um quadrado.


As alturas de um triângulo equilátero de lado a medem a 3
2
. Corolário 6

Sejam ABC um triângulo equilátero de lado a e M o ponto médio de BC Demonstração


(gura 10.8). Como AM ⊥BC , aplicando o teorema de Pitágoras ao triângulo
A

B M a C
2

Figura 10.8: alturas de um triângulo equilátero.

ACM , obtemos
2 2 2
 a 2 3a2
AM = AC − CM = a2 − = ,
2 4

7
Unidade 10 Semelhança de triângulos

donde segue o resultado.

O exemplo a seguir utiliza o item (d) da proposição 4 para resolver geome-

tricamente uma equação do segundo grau de raízes positivas.

Exemplo 7 Dados segmentos de comprimentos s


p, tais que s > 2p,
e construa com

régua e compasso as raízes da equação x − sx + p2 = 0.


2

Solução

Descrição dos passos.

1. Trace uma reta r e marque sobre a mesma pontos B e C tais que BC = s.


Em seguida, construa um semicírculo Γ de diâmetro BC .

2. Trace a reta r0 , paralela à reta r e à distância p de r, a qual intersecta Γ


nos pontos A e A0 (uma vez que p < 2s ).

3. Se H é o pé da perpendicular baixada de A a BC , então BH + CH = s


e o item (d) da proposição 4 garante que BH · CH = p2 . Logo, BH e
CH são as raízes da equação do segundo grau do enunciado.

Para terminar esta seção, estabelecemos a recíproca do teorema de Pitágo-


ras (a esse respeito, veja também a lei dos cossenos na próxima unidade).

Proposição 8 Seja ABC um triângulo tal que AB = c, BC = a e AC = b. Se


a2 = b2 + c2 , então ABC é retângulo em A.

8
Semelhança e Triângulo Retângulo Unidade 10

Seja H o pé da altura relativa a BC . Há dois casos essencialmente distintos: Demonstração

(a) B ∈ CH : nesse caso, o teorema de Pitágoras aplicado ao triângulo AHC


nos dá (gura 10.9)
2 2 2 2
b2 = AH + CH > CH ≥ BC = a2 = b2 + c2

e, daí, 0 ≥ c2 , o que é um absurdo.


A

H B C

Figura 10.9: recíproca do teorema de Pitágoras - caso (a)

(b) H ∈ BC : sejam AH = h, M o ponto médio de BC e BH = x


(gura 10.10). Podemos supor, sem perda de generalidade, que H ∈ BM .
A

B H M C

Figura 10.10: recíproca do teorema de Pitágoras - caso (b)

O teorema de Pitágoras aplicado aos triângulos AHC e AHB nos dá


2 2 2 2
a2 = b2 + c2 = ( AH + CH ) + ( AH + BH ) = 2h2 + (a − x)2 + x2 ,

donde h2 = ax − x2 . Mas aí, aplicando novamente o teorema de Pitágoras


(agora ao triângulo AHM ), obtemos
2 2 2
AM = AH + HM = h2 + ( BM − BH)2
a  2 a2
= (ax − x2 ) + −x = ,
2 4

9
Unidade 10 Semelhança de triângulos

donde segue que AM = a2 = 12 BC . Portanto, M equidista dos vértices de


ABC e a proposição 7.15, Unidade 7, garante que ABC é retângulo em A.

10
Semelhança e Triângulo Retângulo Unidade 10

1. * Prove que os conjuntos de condições elencados em cada uma das pro-


posições 2 e 3 são realmente sucientes para garantir a semelhança dos
triângulos ABC e A0 B 0 C 0 (sugestão: imite a prova da proposição 1).

2. Na gura abaixo, os três quadriláteros mostrados são quadrados e os


pontos X, Y e Z são colineares. Calcule a medida x em centímetros do
lado do quadrado menor, sabendo que os outros dois quadrados têm lados
medindo 4cm e 6cm.

X
Y
Z

3. * Sejam ABC e A0 B 0 C 0 triângulos semelhantes, com razão de semel-


hança k . Sejam, ainda, ma e m0a , ha e h0a , βa e βa0 respectivamente os
comprimentos das medianas, alturas e bissetrizes internas relativas a A e
A0 . Prove que
ma ha βa
0
= 0 = 0 = k.
ma ha βa

4. * O triângulo ABC é retângulo em A e o ponto P ∈ BC é o pé da


bissetriz interna do ângulo ∠BAC . Calcule a distância de P ao lado AC
em função de AB = c e AC = b (sugestão: se Q ∈ AB é tal que
P Q⊥AB , então AQ = P Q e P QB ∼ CAB ).

5. Seja ABC um triângulo retângulo em A e tal que AB = 1. A bissetriz


do ângulo ∠BAC intersecta o lado BC em D. Sabendo que a reta que
passa por D e é perpendicular a AD intersecta o lado AC em seu ponto
médio, calcule o comprimento do lado AC (sugestão: use o resultado do
problema anterior).

6. Seja ABCD um paralelogramo de diagonais AC e BD e lados AB =


10cm, AD = 24cm. Sejam, ainda, E e F respectivamente os pés das
perpendiculares baixadas desde A aos lados BC e CD. Sabendo que
AF = 20cm, calcule o comprimento de AE (sugestão: F AD ∼ EAB ).

11
Unidade 10 Semelhança de triângulos

7. Inscrevemos em um ângulo de vértice A dois círculos de raios r < R,


tangentes exteriormente em P . Calcule AP em termos de r e R.

8. Seja ABC um triângulo tal que BC = a, AC = b e AB = c, e M , N


e P pontos respectivamente sobre AB , BC e CA, tais que AM N P é
um losango.

(a) Calcule, em termos de a, b e c, o comprimento do lado do losango.


(b) Mostre como construir com régua e compasso a posição do ponto
M.

9. Seja ABC um triângulo equilátero de lado a e←→M o ponto médio de


AB . Escolhemos um ponto D sobre a reta BC , com C entre B e
D, de modo que CD = a2 . Se AC ∩ DM = {E}, calcule AE em
←→
termos de a (sugestão: trace por C a paralela a AB e marque seu ponto
F de interseção com DE . Use, em seguida, que CF D ∼ BM D e
CF E ∼ AM E ).

10. Em um trapézio ABCD de bases AB = a e CD = b, os lados não


paralelos são AD e BC . Pelo ponto de concurso P das diagonais AC
e BD de ABCD, traçamos o segmento M N paralelos às bases, com
M ∈ AD e N ∈ BC . Prove que M N = a+b 2ab
, a média harmônica de a
e b.

11. Em um trapézio ABCD, de bases AB e CD e lados não paralelos AD


e BC , seja M o ponto médio da base CD. O segmento AM intersecta
a diagonal BD em F . Traçamos por F a reta r, paralela às bases. Se r
intersecta os segmentos AD, AC e BC respectivamente em E, G e H ,
prove que EF = F G = GH .

12. * Sobre o lado BC de um triângulo ABC marcamos um ponto Z . Em


seguida, traçamos por B e C respectivamente as retas r e s, ambas
←→ ←→ ←→
paralelas a AZ . Se AC ∩ r = {X} e AB ∩ s = {Y }, prove que

1 1 1
+ =
BX CY AZ

12
Semelhança e Triângulo Retângulo Unidade 10

(sugestão: utilize as semelhanças BXC ∼ ZAC e CY B ∼ ZAB para


calcular BX em função de AZ , CZ , BC e AZ , BZ , BC . Em seguida,
use que BZ + CZ = BC ).

13. * (OCM). Seja ABC um triângulo tal que ABC b . Mostre que
b = 2ACB
b2 = c(a + c) (sugestão: se D é o pé da bissetriz interna traçada a partir
de B , mostre inicialmente que ABC ∼ ADB ).

14. (OCM). Um triângulo ABC é tal que Cb = 2Ab e AC = 2 BC . Mostre


que tal triângulo é retângulo (sugestão: use o resultado do problema
anterior).

15. * (OCS - adaptado). Sejam Γ(O; R) o círculo circunscrito ao triângulo


ABC e Ha o pé da altura relativa ao lado BC . Se A0 é o simétrico de
A em relação a O, prove que AA0 C ∼ ABHa . Conclua, a partir daí, que
se AB = c, AC = b e AHa = ha , então
bc
ha = .
2R

16. As retas r e s são tangentes ao círculo circunscrito ao triângulo acutân-


gulo ABC respectivamente em B e em C . Sendo D, E e F os pés das
perpendiculares baixadas de A respectivamente a BC e às retas r e s,
prove que
2
AD = AE · AF

(sugestão: ABD ∼ ACF e ACD ∼ ABE ).

Para o problema a seguir, dizemos que um trapézio ABCD, de bases AB


e CD e lados não paralelos AD e BC , é retângulo em A se DAB
b = 90◦ .

17. Seja ABCD um trapézio de bases AB e CD e lados não paralelos AD


e BC , retângulo em A. Sabendo que AB e CD medem respectivamente
12cm e 4cm, e que ABCD é circunscritível, calcule as distâncias dos
vértices B e C ao centro do círculo inscrito em ABCD.

18. A hipotenusa BC de um triângulo retângulo ABC é dividida em quatro


segmentos congruentes pelos pontos D, E, F . Se BC = 20, calcule a

13
Unidade 10 Semelhança de triângulos

soma AD2 + AE 2 + AF 2 (sugestão: adapte a sugestão do problema 4,


página 11, a este caso).

19. No retângulo ABCD de lados AB = 4m e CD = 3m, marcamos sobre


a diagonal AC o ponto M tal que DM ⊥AC . Calcule o comprimento do
segmento AM (sugestão: use relações métricas em triângulos retângu-
los).

20. Seja ABC um triângulo retângulo de catetos b e c e altura h relativa à


hipotenusa. Prove que
1 1 1
2
= 2 + 2.
h b c
21. * Dados reais positivos a e b, seja AB um segmento no plano de compri-
mento a + b, e H um ponto sobre o mesmo, tal que AH = a e BH = b.
Trace um semicírculo de diâmetro AB e, em seguida, marque o ponto C ,
obtido como a interseção do semicírculo com a reta perpendicular a AB
e passando pelo ponto H .

(a) Calcule o comprimento de CH em função de a e b.


(b) Mostre que a desigualdade (9.6) do volume 1 é essencialmente equi-
valente à desigualdade triangular no triângulo (possivelmente dege-
nerado) CHO, onde O é o ponto médio de AB .

22. * Dados segmentos de comprimentos √


a e b, construa com régua e com-
passo um segmento de comprimento ab (sugestão: use o item (a) do
problema anterior).

23. Sejam M , N e P pontos respectivamente sobre os lados BC , CA e AB


de um triângulo equilátero ABC de lado a, tais que BM = CN =
AP = a3 . Mostre que o triângulo M N P também é equilátero e que seus
lados são perpendiculares aos lados de ABC (sugestão: use a recíproca
do teorema de Pitágoras).

24. Dados segmentos de comprimentos a, b e c, construa com régua e com-



passo um segmento de comprimento a2 + b2 − c2 , admitindo que a ex-
pressão sob o sinal da raiz seja positiva.

14
Semelhança e Triângulo Retângulo Unidade 10

25. Identique e construa com régua e compasso o LG dos pontos médios das
cordas de comprimento l de um círculo Γ(O; R) dado.

26. (OCM). Um pedestre, situado a 25m de um edifício, o visualiza sob um


certo ângulo. Em seguida, ele se afasta mais 50m do edifício e nota que,
ao assim fazer, o novo ângulo de visualização é exatamente a metade do
anterior. Calcule a altura do edifício (sugestão: aplique o teorema do
ângulo externo e, em seguida, use o teorema de Pitágoras duas vezes).

27. (OCM). As retas r, s e t são paralelas, estando s entre r e t, de tal modo


que a distância entre r e s é 3m, ao passo que a distância entre s e t é
1m. O triângulo ABC é equilátero e tem um vértice sobre cada uma das
retas r, s, t. Calcule seu lado (sugestão: aplique o teorema de Pitágoras
três vezes para obter uma equação cuja incógnita é o comprimento do
lado pedido).

28. (OCM). Duas torres, uma com 30m de altura e a outra com 40m de
altura, estão situadas a 50m uma da outra. Entre ambas as torres há uma
fonte, para a qual dois passarinhos partem, em um mesmo instante e com
velocidades iguais, do alto de cada torre. Sabendo que os passarinhos
chegam à fonte simultaneamente, calcule a distância da fonte à torre
mais baixa.

29. Sejam Γ um círculo de centro O e raio R no plano. Prove que o LG


dos pontos P do plano a partir dos quais podemos traçar tangentes de

comprimento l a Γ é o círculo de centro O e raio R2 + l2 .

30. Se os comprimentos de dois dos lados de um triângulo são 7 e 5 2, e se o
ângulo compreendido entre tais lados mede 135◦ , calcule o comprimento
do terceiro lado.

31. Dado um ponto P no interior de um retângulo ABCD de diagonais AC e


2 2 2 2
BD, prove que AP + CP = BP + DP (sugestão: trace as paralelas
aos lados de ABCD passando por P e aplique o teorema de Pitágoras
quatro vezes).

32. ABCD é um quadrado de lado 10 e P é um ponto sobre seu círculo cir-


2 2 2 2
cunscrito. Calcule o valor da soma P A + P B + P C + P D (sugestão:

15
Unidade 10 Semelhança de triângulos

_
se P está sobre o arco menor AD, mostre que APbC = B PbD = 90◦ e
use, em seguida, o teorema de Pitágoras).

33. Se as diagonais de um quadrilátero são perpendiculares, prove que as


somas dos quadrados dos comprimentos dos pares de lados opostos são
iguais.

34. Considere no plano uma reta s e dois círculos de raios R e r, situados


em um mesmo semiplano dos que s determina, e tangentes a s e exteri-
ormente entre si. Considere um terceiro círculo, tangente exteriormente
aos dois primeiros e também tangente a s. Sendo x o raio desse terceiro
círculo, prove que
1 1 1
√ =√ +√ .
x R r

35. Seja s a reta numerada e α um dos semiplanos, dentre os que s determina.


Para cada n ∈ Z, trace o círculo de raio 12 , contido em α e tangente a s
em n. Em seguida, trace (recursivamente) todos os círculos tangentes a
s e a dois dos círculos anteriormente traçados. Prove que o conjunto dos
pontos de tangência de tais círculos com s está contido em Q (sugestão:
use o resultado do problema anterior1 ).

1 Pode ser provado que o conjunto dos pontos de tangência assim obtido coincide com Q.

16
Referências Bibliográcas

[1] AKOPYAN, A. V. e ZASLAVSKY A. A. (2007). Geometry of Conics. Amer-


ican Mathematical Society.

[2] DE BARROS, A. A. e ANDRADE, P. F. DE A. (2009). Introdução à Geo-

metria Projetiva. Sociedade Brasileira de Matemática.

[3] BARBOSA, J. L. M. (2004). Geometria Euclidiana Plana . Sociedade


Brasileira de Matemática.

[4] BARBOSA, J. L. M. (1995). Geometria Hiperbólica . Instituto Nacional de


Matemática Pura e Aplicada.

[5] CAMINHA, A. (2012). Temas de Matemática Elementar, Volume 1.


Números Reais. Sociedade Brasileira de Matemática.

[6] COXETER, H. S. M. e GREITZER, S. L. (1967). Geometry Revisited . The


Mathematical Association of America.

[7] HEATH, T. L. (1956). The Thirteen Books of Euclid's Elements . Dover.

[8] HONSBERGER, R. (1995). Episodes in Nineteenth and Twentieth Century

Euclidean Geometry. The Mathematical Association of America.

[9] JOHNSON, R. (2007). Advanced Euclidean Geometry . Dover.

[10] YAGLOM, I. M. (1962). Geometric Transformations I . The Mathematical


Association of America.

[11] YAGLOM, I. M. (1968). Geometric Transformations II. The Mathematical


Association of America.

[12] YAGLOM, I. M. (1973). Geometric Transformations III. The Mathematical


Association of America.

[13] YAGLOM, I. M. e SHENITZER, A. (2009). Geometric Transformations IV.


The Mathematical Association of America.

17
11
Relações métricas no
triângulo qualquer
Sumário
11.1 A trigonometria do ângulo agudo . . . . . . . . . . 2

11.2 A Lei dos Cossenos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

11.3 A Lei dos Senos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

11.4 O teorema de Menelaus . . . . . . . . . . . . . . . . 9

11.5 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

1
Unidade 11 A trigonometria do ângulo agudo

Depois da semelhança e das relações métricas no triângulo retângulo vamos


tratar das ferramentas principais para resolver problemas com quaisquer outros
triângulos. Para isso, será inevitável alguma trigonometria.

11.1 A trigonometria do ângulo agudo

São conhecidas as razões trigonométricas do ângulo agudo.


Dado um ângulo agudo XOY = α toma-se um ponto P qualquer do lado
OY e traça-se a perpendicular P A ao lado OX .
Y
P

α
O A X

As razões trigonométricas associadas ao ângulo α são:

Seno do ângulo XOY : sen α = AP


OP

Cosseno do ângulo XOY : cos α = OA


OP

Tangente do ângulo XOY : tan α = AP


OA

Observe que essas denições não dependem da escolha do ponto P . De


fato, para um outro ponto P 0 sobre OY e sua perpendicular P 0 A0 sobre OX
0 0
temos que os triângulos OP A e OP 0 A0 são semelhantes e, portanto AOPP0 = OP
AP
,
OA0 A0 P 0
OP 0
= OP e OA0 = OA .
OA AP

Assim, seno, cosseno e tangente são números associados a cada ângulo


agudo de acordo com a denição acima.
Nesta unidade estamos identicando cada ângulo com sua medida para
tornar a linguagem mais simples. Assim, quando falarmos, por exemplo, no
cosseno de 30o (cos 30o ) estaremos nos referindo, na verdade, ao cosseno do
ângulo cuja medida é 30o .

2
Relações métricas no triângulo qualquer Unidade 11

Hoje em dia, é indiferente escrever os símbolos das razões na notação em


português (sen, cos, tg) ou na notação internacional (sin, cos, tan). Tanto
professores quanto alunos leem os livros didáticos brasileiros, mas também usam
calculadoras cujas teclas referentes às razões trigonométricas estão na notação
internacional.
Para que possamos tratar das ferramentas adequadas a qualquer triângulo
é necessário denir seno, cosseno e tangente para ângulos até 180o .
No caso do ângulo reto, denimos: sen 90o = 1 e cos 90o = 0.
Seja agora β um ângulo obtuso. Para denir as razões trigonométricas de
β vamos considerar seu suplemento α = 180o − β .
Denimos:
sen β = sen α
cos β = − cos α
As guras a seguir permitem visualizar o seno e o cosseno de ângulos agudos
ou obtusos. Nelas tomamos OP = 1.

P P
1 1
y y
β
α
O x A A x O

Na primeira gura temos sen α = y e cos α = x.


Na segunda gura temos sen β = y e cos β = −x .

11.2 A Lei dos Cossenos

A Lei dos Cossenos é uma relação muito útil que envolve os três lados do
triângulo e o cosseno de um dos ângulos. A demonstração é bastante simples.
Escolhemos inicialmente um dos ângulos do triângulo ABC . Seja A o ângulo
escolhido.

Caso A < 90o


Seja D a projeção do vértice B sobre a reta AC . Imaginando que o triângulo
ABC não seja retângulo em C (porque se fosse a nossa relação não teria graça

3
Unidade 11 A Lei dos Cossenos

nenhuma) a gura pode ser uma das duas seguintes:

B B

c a
h c a h

A x D C A b C D
b x

Como de hábito, sejam AB = c, AC = b e BC = a.


Como A < 90o então D está na semirreta AC . Seja AD = x. Assim
DC = |b − x|.
No triângulo BDC o teorema de Pitágoras fornece

a2 = h + |b − x|2 = h2 + b2 + x2 − 2bx .

No triângulo BDA temos, pelo mesmo teorema, h2 = c2 −x2 . Substituindo


camos com
a2 = c2 − x2 + b2 + x2 − 2bx
a2 = b2 + c2 − 2bx
Entretanto, em qualquer uma das guras tem-se xc = cos A, ou seja,
x = c cos A. Substituindo esse valor de x na última relação encontramos

a2 = b2 + c2 − 2bc cos A .

Caso A > 90o


Seja D a projeção do vértice B sobre a reta AC . Neste caso, D está na
semirreta oposta à semirreta AC como na gura a seguir.

h c a

D x A b C
4
Relações métricas no triângulo qualquer Unidade 11

Como no caso anterior seja AD = x e seja θ = 180o − A o ângulo externo


de vértice A do triângulo.
A aplicação do teorema de Pitágoras nos triângulos BDC e BDA fornecem
as relações:

a2 = h2 + (b + x)2 = h2 + b2 x2 + 2bx
h2 = c2 − x2

A substituição de h2 na primeira relação dá a2 = b2 + c2 + 2bx.


Porém, neste caso, cos θ = xc e, consequentemente, cos A = − xc , ou seja,
x = −c cos A.
Substituindo na relação anterior camos com a2 = b2 + c2 + 2b(−c cos A),
ou seja,
a2 = b2 + c2 − 2bc cos A
que coincide exatamente com a relação do caso anterior.
Esta é a Lei do Cosseno para o ângulo A (ou para o lado a).
E o que ocorre se o ângulo A for reto?
A relação a2 = b2 + c2 − 2bc cos A continua válida porque, neste caso,
cos A = 0 e o que resta é a2 = b2 + c2 , o teorema de Pitágoras.
As outras versões desta relação são obtidas simplesmente trocando con-
venientemente os nomes das letras que representam os lados e os ângulos do
triângulo. Elas são:

b2 = a2 + c2 − 2ac cos B
c2 = a2 + b2 − 2ab cos C

Dentre as aplicações da Lei dos Cossenos, a mais interessante, na minha


opinião, é que podemos facilmente obter os cossenos dos ângulos de um triân-
gulo quando seus lados são conhecidos. Acompanhe os exemplos a seguir.

Determine o maior ângulo do triângulo cujos lados medem 5, 6 e 7. Exemplo 1

Solução
O maior ângulo do triângulo é oposto ao maior lado. Temos então a situação
da gura a seguir:

5
Unidade 11 A Lei dos Cossenos

θ
5 6

O ângulo θ que queremos calcular é oposto ao lado que mede 7. Aplicando


a Lei dos Cossenos para o ângulo θ temos:

72 = 52 + 62 − 2.5.6. cos θ

As contas fornecem cos θ = 1


5 = 78, 5o .
e uma calculadora dá θ ∼

Exemplo 2 Determine a área do triângulo cujos lados medem 5, 6 e 7.

Solução √
Calculamos cos θ = 15 . Logo, sen θ = 2 5 6 e, como a área do triângulo
ABC é
1
S = AB.AC. sen A
2
√ √
encontramos S = 2 .5.6. 5 = 6 6.
1 2 6

Determinação da natureza de um triângulo


Um triângulo é acutângulo, retângulo ou obtusângulo se seu maior ângulo
for, respectivamente, agudo, reto ou obtuso. Decorre imediatamente da Lei dos
Cossenos no triângulo ABC as seguintes e úteis relações:

A < 90o ⇔ a2 < b2 + c2


A = 90o ⇔ a2 = b 2 + c 2
A > 90o ⇔ a2 > b2 + c2

Em um triângulo de lados a, b e c, se a é o maior lado, a comparação de


a com b2 + c2 fornece a natureza desse triângulo.
2

6
Relações métricas no triângulo qualquer Unidade 11

11.3 A Lei dos Senos

A Lei dos Senos resolverá, principalmente, o caso de obter outros elementos


de um triângulo onde os ângulos são conhecidos e apenas um lado é conhecido.
A Lei dos Senos possui também forte relacionamento com a circunferência
circunscrita ao triângulo, como veremos a seguir.
A gura abaixo mostra o triângulo ABC , com lados a, b e c, inscrito em
uma circunferência de raio R.

A
D

2R

B a C

Como de hábito, o ângulo BAC do triângulo será representado simples-


mente por A. Traçamos o diâmetro BD. Assim, o ângulo BCD é reto e os
ângulos BAC e BDC são iguais, pois subtendem o mesmo arco BC .
O seno do ângulo BDC é igual a BD BC a
= 2R . Então, sen A = 2Ra
, ou seja,
a
sen A
= 2R.
Esta relação mostra que a razão entre um lado do triângulo e o seno do ân-
gulo oposto é igual ao diâmetro da circunferência circunscrita e, naturalmente,
essa relação vale qualquer que seja o lado escolhido.
A Lei dos Senos no triângulo ABC é escrita assim:

a b c
= = = 2R
sen A sen B sen C
onde R é o raio da circunferência circunscrita ao triângulo ABC .
A Lei dos Senos fornece um caminho simples para determinar o raio da
circunferência circunscrita a um triângulo. Acompanhe o exemplo a seguir.

7
Unidade 11 A Lei dos Senos

Exemplo 3 Determine o raio da circunferência circunscrita ao triângulo cujos lados


medem 5, 6 e 7.

Solução √
Já calculamos no primeiro Exemplo cos θ = 1
5
e é imediato calcular sen θ =
2 6
5
.
Assim, a Lei dos senos fornece a relação √7
2 6/5
= 2R e, consequentemente,

35 6 ∼
R= = 3, 57 .
24

Exemplo 4 Duas pessoas A e B estão em uma praia e possuem instrumentos que


permitem medir ângulos no plano horizontal (teodolitos, por exemplo). Ambas
conseguem ver uma pequena ilha C distante da costa mediram os ângulos
BAC = 119o e ABC = 52o . Se a distância entre A e B é de 1km, qual é a
distância aproximada entre A e C ?

Solução Do triângulo ABC dois ângulos são conhecidos. Entretanto, para nossa
felicidade, ninguém precisa atravessar uma parte do oceano para medir o ângulo
C . Como a soma dos ângulos de qualquer triângulo é 180o temos imediatamente
que C = 9o . A Lei dos Senos é a ferramenta ideal para resolver esse caso:

AC 1
o
=
sen 52 sen 9o

Fazendo as contas encontramos AC = 5, 04km.

Obs:
As leis dos senos e dos cossenos sempre estiveram presentes nos cálculos de
distâncias inacessíveis. Mesmo hoje, no interior do GPS elas estão lá.

8
Relações métricas no triângulo qualquer Unidade 11

11.4 O teorema de Menelaus

O teorema de Menelaus é uma relação bem diferente das anteriores. Ele


não envolve ângulo algum, mas é uma especialista em calcular razões.
O enunciado do teorema é o seguinte:
Dado um triângulo ABC uma reta transversal corta as retas AB , BC , e
CA nos pontos L, M e N , respectivamente. Então,
LA M B N C
. . =1.
LB M C N A
Observe o enunciado e a arrumação das letras na relação acima. A beleza
está nessa arrumação. Veja uma demonstração.
s
A
t
Lbc

bc N

bc

B C M P

A gura acima mostra um triângulo ABC e uma transversal t. Seja s uma


reta paralela a t passando por A e seja P a interseção de s com a reta BC .
Vamos agora usar duas vezes o teorema de Tales com essas paralelas s e t.
Com as transversais BA e BP temos: M LA
P
=M LB
B
.
Com as transversais CA e CP temos: N A = N C .
MP MC

Multiplicando membro a membro e simplicando M P temos NLAA = M LB M C


·
B NC
o que é o mesmo que
LA M B N C
· · =1.
LB M C N A
Para dar um exemplo do poder do teorema de Menelaus, vou mostrar uma
questão do Exame de Qualicação de 2012.

No triângulo ABC o ponto P do lado AC e o ponto Q do lado BC são Exemplo 5


tais que AP = 31 AC e BQ = 23 BC . As cevianas AQ e BP cortam-se em J .
Calcule a razão JQ
JA
.

9
Unidade 11 O teorema de Menelaus

Comentário 1
Não é fácil, de início, usar o teorema de Menelaus. Será preciso alguma
prática para decidir, em cada situação qual é o triângulo adequado e qual é a
transversal que deve ser considerada. A solução deste exemplo deve dar uma
dica.

Solução
A situação é a seguinte.

A
b
P

J 2b

B 2a Q a C

Observando com atenção o teorema de Menalaus a decisão correta é con-


siderar o triângulo AQC com a transversal BJP . Ficamos com a gura a
seguir:

A
b
P

J 2b

B 2a Q a C

O teorema aplicado nessa situação fornece:


JA BQ P C
. . =1.
JQ BC P A
JA 2 2 JA 3
Substituindo os dados camos com . . = 1, ou seja, = .
JQ 3 1 JQ 4

10
Relações métricas no triângulo qualquer Unidade 11

Comentário 2
O teorema de Menelaus enunciado aqui é sua versão básica. Nessa versão,
sua recíproca não é verdadeira. Para que a recíproca do teorema de Menelaus
seja verdadeira devemos utilizar razões acrescidas de um sinal (razões orien-
tadas). O que isso signica?
Imagine três pontos colineares P , A e B em qualquer ordem. A razão
orientada PP BA é positiva se os segmentos P A e P B têm mesmo sentido e,
negativa, se tiverem sentidos opostos. Com isso, é verdadeiro o enunciado:
Recíproca do Teorema de Menelaus

Dados os pontos A, B e C , sejam L, M e N pontos das retas AB , BC e


CA, respectivamente tais que LB . M C . N A = 1 (razões orientadas). Então, L,
LA M B N C

M e N são colineares.
A demonstração se apoia no seguinte fato. Dados os pontos A e B e um
número real k então existe um único ponto P da reta AB tal que PP BA = k .
Deixamos os detalhes para o leitor.

11
Unidade 11 Exercícios

11.5 Exercícios

1. No triângulo ABC , BC = 8, AC = 7 e B = 60o . Calcule o lado AB .


Os dois valores que você encontrou são possíveis?

2. Um retângulo tem a base igual ao dobro da altura. Qual é o cosseno do


ângulo entre as diagonais?

3. Em um trapézio isósceles, as bases medem a e b e os outros dois lados



medem c. Mostre que o comprimento de uma diagonal é c2 + ab.
Sugestão: Trace as alturas pelos vértices da base menor e determine o
cosseno de um dos ângulos agudos.

4. Os lados de um triângulo medem 5, 7 e x. Determine para que valores


de x esse triângulo é obtusângulo.

5. Mostre que no triângulo ABC a mediana relativa ao vértice A é dada


por
1p 2
mA = 2(b + c2 ) − a2 .
2
6. Mostre que em qualquer paralelogramo a soma dos quadrados das diago-
nais é igual a soma dos quadrados dos quatro lados.
Sugestão: Use o exercício anterior.

7. No triângulo ABC , AB = 4, AC = 6 e B̂ = 2Ĉ . Calcule o lado BC .


8. Mostre que, em qualquer triângulo ABC tem-se sen A < sen B + sen C .
9. Considere a gura a seguir.
A

P E
1

B 3 D 2 C
PA PB
Calcule as razões e .
PD PE

12
Relações métricas no triângulo qualquer Unidade 11

10. No triângulo ABC as cevianas AM , BN e CL são concorrentes.


A

N
L

B M C

LA M B N C
(a) Mostre que . . = 1 (teorema de Ceva)
LB M C N A
Sugestão 1: Trace por A uma paralela a BC , assinale as inter-

seções dessa paralela com as retas CL e BN e use semelhança de


triângulos.
Sugestão 2: Sendo O o ponto comum às cevianas, use o teorema de
Menelaus nos triângulos AM B e AM C com as transversais LOC
e N OB .
(b) Demonstre a recíproca desse teorema.
Obs: a recíproca do teorema de Ceva é particularmente importante
para vericar se três cevianas de um triângulo são concorrentes ou
não. Em particular ca fácil mostrar que as três alturas de um triân-
gulo são concorrentes.

11. No triângulo ABC , a ceviana AD é a bissetriz interna do ângulo A


(representa-se por βA ).

(a) Calcule os segmentos BD e CD em função dos lados do triângulo.


(b) Sendo p o semiperímetro do triângulo ABC mostre que
2 p
βA = bcp(p − a) .
b+c
12. No triângulo ABC de lados a, b e c considere uma ceviana AD de com-
primento x. Sejam m e n as medidas de BD e DC , respectivamente.

13
Unidade 11 Exercícios

c b
x

B m D n C
a

Mostre que: b2 m + c2 n = x2 a + mna (relação de Stewart).


Sugestão :Lei dos cossenos relativa ao vértice D nos triângulos ADB e
ADC .

13. Seja p o semiperímetro do triângulo ABC de lados a, b e c. Mostre que


a área do triângulo é

S = p(p − a)(p − b)(p − c) (fórmula de Heron) .


p

Sugestão : A área do triângulo ABC é S = 12 bc sen A, ou seja, 4S 2 =


b2 c2 (1 − cos2 A). Use a lei dos cossenos para escrever cos A, substitua
e...

14. Os pontos P , Q e R da gura abaixo são colineares?


P bc

8 bc
Q

6
b

6 4
b b bc

5 15 R

14
Relações métricas no triângulo qualquer Unidade 11

Respostas

1. 3 ou 5. Sim, Há dois triângulos diferentes com esses dados.


3
2. .
5
√ √
4. 0 < x < 2 6 ou 74 < x < 12.
7. 5.
20 15
9. e .
3 8
14. São colineares.

15
Referências Bibliográcas

[1] AKOPYAN, A. V. e ZASLAVSKY A. A. (2007). Geometry of Conics. Amer-


ican Mathematical Society.

[2] DE BARROS, A. A. e ANDRADE, P. F. DE A. (2009). Introdução à Geo-

metria Projetiva. Sociedade Brasileira de Matemática.

[3] BARBOSA, J. L. M. (2004). Geometria Euclidiana Plana . Sociedade


Brasileira de Matemática.

[4] BARBOSA, J. L. M. (1995). Geometria Hiperbólica . Instituto Nacional de


Matemática Pura e Aplicada.

[5] CAMINHA, A. (2012). Temas de Matemática Elementar, Volume 1.


Números Reais. Sociedade Brasileira de Matemática.

[6] COXETER, H. S. M. e GREITZER, S. L. (1967). Geometry Revisited . The


Mathematical Association of America.

[7] HEATH, T. L. (1956). The Thirteen Books of Euclid's Elements . Dover.

[8] HONSBERGER, R. (1995). Episodes in Nineteenth and Twentieth Century

Euclidean Geometry. The Mathematical Association of America.

[9] JOHNSON, R. (2007). Advanced Euclidean Geometry . Dover.

[10] YAGLOM, I. M. (1962). Geometric Transformations I . The Mathematical


Association of America.

[11] YAGLOM, I. M. (1968). Geometric Transformations II. The Mathematical


Association of America.

[12] YAGLOM, I. M. (1973). Geometric Transformations III. The Mathematical


Association of America.

[13] YAGLOM, I. M. e SHENITZER, A. (2009). Geometric Transformations IV.


The Mathematical Association of America.

16
12
Áreas de Polígonos

Sumário
12.1 Áreas de Polígonos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

12.2 Problemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

12.3 Problemas Suplementares . . . . . . . . . . . . . . . 9

1
Unidade 12 Áreas de Polígonos

Intuitivamente, a área de uma região no plano é um número positivo que


associamos à mesma e que serve para quanticar o espaço por ela ocupado.
Referimos o leitor ao excelente livro de E. L. Lima [10] para uma prova de que
é realmente possível associar a cada polígono do plano uma área tal que os
postulados 1. a 4. a seguir sejam satisfeitos.
Nosso propósito nesta unidade é, primordialmente, operacionalizar o cálculo
de áreas, obtendo, a partir daí, algumas aplicações interessantes. Entretanto,
os problemas da denição e do cálculo efetivo de áreas serão retomados na
disciplina Fundamentos de Cálculo (MA22), quando desenvolveremos o Cálculo
Diferencial e Integral.

12.1 Áreas de Polígonos

Para que um conceito qualquer de área para polígonos tenha utilidade, pos-
tulamos que as seguintes propriedades (intuitivamente desejáveis) sejam válidas:

1. Polígonos congruentes1 têm áreas iguais.


2. Se um polígono convexo é em um número nito de outros
particionado

polígonos convexos (i.e., se o polígono é a união de um número nito de


outros polígonos convexos, os quais não têm pontos interiores comuns),
então a área do polígono maior é a soma das áreas dos polígonos menores.

3. Se um polígono (maior) contém outro (menor) em seu interior, então a


área do polígono maior é maior que a área do polígono menor.

4. A área de um quadrado de lado 1cm é igual a 1cm2 .


Valendo as propriedades 1. a 4. acima, particione um quadrado de lado
n ∈ N em n2 quadrados de lados 1 cada. Denotemos a área do quadrado maior
por An , devemos ter An igual à soma das áreas desses n2 quadrados de lado 1,
de maneira que
An = n2 .
1 Apesar de não termos denido formalmente a noção de congruência para polígonos, a
ideia é a mesma que para triângulos: um deles pode ser deslocado no espaço, sem deformá-
lo, até coincidir com o outro. Observe que dois quadrados quaisquer de mesmo lado são
congruentes (justique essa armação!).

2
Áreas de Polígonos Unidade 12

Considere, agora, um quadrado de lado m n


, com m, n ∈ N, e área A mn .
Arranje n cópias do mesmo, empilhando n quadrados de lado m
2
n
por la, em
n las, formando assim um quadrado de lado m n
· n = m. Tal quadrado maior
terá, como já sabemos, área m ; por outro lado, como ele está particionado
2

em n2 quadrados de lado mn
cada, sua área é igual à soma das áreas desses n2
quadrados, i.e.,
m2 = n2 · A mn .
Portanto,
m2  m 2
A mn = = .
n2 n
A discussão acima sugere que a área de um quadrado de lado l deve ser
igual a l2 . Para conrmar tal suposição, argumentemos de maneira análoga à
prova do teorema de Tales: para k ∈ N, tomamos números racionais xk e yk
tais que
1
xk < l < yk e yk − xk < .
k
Em seguida, construímos quadrados de lados xk e yk , o primeiro contido no
quadrado dado e o segundo o contendo. Como já sabemos calcular áreas de
quadrados de lado racional, o postulado 3. acima garante que a área Al do
quadrado de lado l deve satisfazer as desigualdades

x2k < Al < yk2 .

Mas como x2k < l2 < yk2 , concluímos que ambos os números Al e l2 devem
pertencer ao intervalo (x2k , yk2 ), de maneira que

|Al − l2 | < yk2 − x2k = (yk − xk )(yk + xk )


1
< (yk − xk + 2xk )
k 
1 1
< + 2l .
k k
Tendo de satisfazer a desigualdade acima para todo número natural k , temos
que |Al − l2 | = 0 (justique), i.e.,

Al = l2 .

Resumimos a discussão acima na seguinte

3
Unidade 12 Áreas de Polígonos

Proposição 1 Um quadrado de lado l tem área l2 .

D C
D b C
l a

A B A B
A(ABCD) = l2 A(ABCD) = ab

Figura 12.1: áreas de um quadrado e de um retângulo.

Um argumento análogo ao acima permite provar que um retângulo de lados


a e b tem área igual a ab (gura 12.1): começamos com um retângulo de
lados m, n ∈ N, particionando-o em mn quadrados de lado 1 para mostrar que
sua área é mn. Em seguida, tomamos um retângulo de lados m n1
1
e m
n2
2
, com
m1 , m2 , n1 , n2 ∈ N, e, com n1 n2 cópias do mesmo, montamos um retângulo
maior de lados m1 e m2 . Somando áreas iguais, concluímos que a área do
retângulo dado originalmente é igual a
m1 m2 m1 m2
= · .
n1 n2 n1 n2
Por m, tomamos um retângulo de lados a, b > 0 reais, e, para k ∈ N, racionais
xk , yk , uk , vk tais que xk < a < yk , uk < b < vk e yk − xk , uk − vk < k1 . Sendo
A a área do retângulo de lados a e b, um argumento análogo ao feito para
quadrados garante que A e ab pertencem ambos ao intervalo (uk xk , yk vk ) e,
daí, para todo k ∈ N,

|A − ab| < vk yk − uk xk = (vk − uk )yk + uk (yk − xk )


1 1
< (yk + uk ) = ((yk − xk ) + 2xk + (vk − uk ) + 2uk )
k k
1 2
< + 2a + 2b .
k k
Também como antes, a validade da desigualdade acima para todo k ∈ N garante
que A = ab, fato que resumimos na seguinte

4
Áreas de Polígonos Unidade 12

Um retângulo de lado a e b tem área ab. Proposição 2

Calculemos a área de um paralelogramo como corolário da discussão acima.


Para tanto, xado um lado de um paralelogramo, o qual chamaremos de base,
diremos que a distância entre ele e seu lado paralelo é a altura do paralelogramo.

A área de um paralelogramo de base a e altura h é igual a ah. Proposição 3

Sejam respectivamente E e F os pés das perpendiculares baixadas de D e Demonstração


←→
C à reta AB e suponha, sem perda de generalidade, que E ∈ AB (gura 12.2).
É imediato vericar que os triângulos ADE e BCF são congruentes pelo caso

D a C

A E B F

Figura 12.2: área de um paralelogramo.

CH, de modo que AE = BF e A(ADE) = A(BCF ). Então, temos

A(ABCD) = A(ADE) + A(BEDC)


= A(BCF ) + A(BEDC)
= A(EF CD).

Por outro lado, EF CD é um retângulo de altura h e base

EF = EB + BF = EB + AE = AB = a.

Portanto, A(ABCD) = A(EF CD) = ah.

De posse da fórmula acima para o cálculo da área de paralelogramos, pode-


mos facilmente obter uma fórmula correspondente para a área de triângulos
mediante o artifício discutido na seguinte

5
Unidade 12 Áreas de Polígonos

Proposição 4 Seja ABC um triângulo de lados BC = a, AC = b, AB = c e alturas


ha , hb , hc respectivamente relativas aos lados a, b, c. Então,
aha bhb chc
A(ABC) = = = . (12.1)
2 2 2
Em particular, aha = bhb = chc .

←→
Demonstração Seja S = A(ABC) e D a interseção da paralela a BC por A com a paralela
←→
a AB por C (gura 12.3). É imediato vericar que ABCD é um paralelogramo

A a D
ha

B C

Figura 12.3: área de um triângulo.

de área 2S (uma vez que ABC ≡ BCD). Portanto, 2A(ABC) = 2S = aha ,


donde segue a primeira igualdade. As outras duas igualdades podem ser obtidas
de modo análogo.

Agora, calcular áreas de polígonos convexos é, em princípio, uma tarefa fácil:


as diagonais do mesmo traçadas a partir de um de seus vértices o particionam
em triângulos, e basta calcular a área de cada um desses triângulos com a ajuda
da proposição anterior.
Para uso futuro, se dois polígonos tiverem áreas iguais, diremos que são
equivalentes. Por exemplo, de acordo com a proposição 3, um paralelogramo
de base a e altura h é equivalente a um retângulo de lados a e h.

6
Áreas de Polígonos Unidade 12

12.2 Problemas

1. ABCD é um retângulo de lados AB = 32m e BC = 20m. Os pontos E


e F são respectivamente os pontos médios dos lados AB e AD. Calcule
a área do quadrilátero AECF .

2. No paralelogramo ABCD marcamos o ponto E , sobre o lado AD, tal


que BE⊥AD. Se BE = 5cm, BC = 12cm e AE = 4cm, calcule a
área do triângulo ECD.

3. Seja ABC um triângulo qualquer.

(a) Prove que o triângulo formado pelos pontos médios dos lados de
ABC tem área igual a 14 da área de ABC .
(b) Prove que com as medianas de ABC podemos formar um triângulo
DEF .
(c) Calcule a razão entre as áreas dos triângulos ABC e DEF .

4. Seja ABCD um quadrilátero qualquer e M, N, P, Q respectivamente os


pontos médios de AB, BC, CD, DA. Prove que
1
A(M N P Q) = A(ABCD).
2

5. São dados no plano dois quadrados, de lados 1cm e 2cm. Se o centro


do quadrado de lado menor coincide com um dos vértices do quadrado
maior, calcule os possíveis valores da área da porção do plano comum aos
dois polígonos.

6. Sejam ABC um triângulo e ABDE e ACF G paralelogramos construídos


exteriormente a ABC . Sejam, ainda, H o ponto de interseção das retas
←→ ←→ ←→ ←→
DE e F G e BCIJ um paralelogramo tal que CI = AH e CI k AH .
Prove que
A(ABDE) + A(ACF G) = A(BCIJ).

7. Cada diagonal de um quadrilátero convexo o divide em dois triângulos de


mesma área. Prove que o quadrilátero é um paralelogramo.

7
Unidade 12 Problemas

8. (OBM). Seja ABC um triângulo retângulo de área 1m2 . Calcule a área


←→
do triângulo A0 B 0 C 0 , onde A0 é o simétrico de A em relação a BC , B 0
←→
é o simétrico de B em relação a AC e C 0 é o simétrico de C em relação
←→
a AB .

9. Seja ABCD um quadrado de lado 1, E o ponto médio de BC e F o de


CD. Sendo G o ponto de interseção de DE e AF , Calcule a área do
triângulo DF G.

10. * Se ABC é um triângulo



equilátero com lados de comprimento a, prove
que A(ABC) = a 4 3 (sug: comece utilizando√ o teorema de Pitágoras
2

para mostrar que as alturas de ABC medem a 2 3 ).

11. Seja ABCD um quadrado de lado 1cm e E um ponto no interior de


ABCD, tal que o triângulo ABE seja equilátero. Calcule a área do
triângulo BCE .

12. ABCD é um quadrado de lado 1cm e AEF um triângulo equilátero,


com E ∈ BC e F ∈ CD. Calcule a área de AEF .

13. O triângulo ABC tem lados a, b, c. As alturas correspondentes a tais lados


são respectivamente iguais a ha , hb , hc . Se a + ha = b + hb = c + hc ,
prove que ABC é equilátero.

14. Seja ABC um triângulo equilátero.


(a) Mostre, mediante o cálculo de áreas, que as três alturas de ABC
têm comprimentos iguais.
(b) Prove que a soma das distâncias de um ponto escolhido no interior
de ABC a seus lados independe da posição do ponto.

8
Áreas de Polígonos Unidade 12

12.3 Problemas Suplementares

1. (OIM - adaptado).
(a) Se dois triângulos têm alturas iguais, prove que a razão entre suas
áreas é igual à razão entre os comprimentos das bases correspon-
dentes às alturas iguais.
(b) Sejam ABC um triângulo e D, E e F pontos respectivamente
sobre BC , CA e AB , tais que os segmentos AD, BE e CF são
concorrentes em P . Sabe-se que A(BDP ) = 40, A(CDP ) = 30,
A(CEP ) = 35, A(AF P ) = 84. Calcule a área de ABC .

2. (OIM). Seja P um polígono convexo circunscritível. Uma reta r divide


P em dois polígonos de mesma área e mesmo perímetro. Mostre que r
passa pelo centro do círculo inscrito em P .

3. (IMO). Em um quadrilátero convexo de área 32cm2 , a soma dos com-


primentos de dois lados opostos e uma diagonal é 16cm. Calcule todos
os comprimentos possíveis da outra diagonal (sugestão: seja ABCD o
quadrilátero, AC a diagonal e AB = a, CD = b, AC = d, de sorte
que a + b + d = 16. Se h1 e h2 denotam respectivamente as alturas dos
triângulos ABC e ACD relativas a AC , então d(h1 +h2 ) = 64; por outro
lado, pela desigualdade entre as médias temos d(h1 + h2 ) ≤ d(a + b) ≤
1
4
(d + a + b)2 ).

9
Referências Bibliográcas

[1] AKOPYAN, A. V. e ZASLAVSKY A. A. (2007). Geometry of Conics. Amer-


ican Mathematical Society.

[2] DE BARROS, A. A. e ANDRADE, P. F. DE A. (2009). Introdução à Geo-

metria Projetiva. Sociedade Brasileira de Matemática.

[3] BARBOSA, J. L. M. (2004). Geometria Euclidiana Plana . Sociedade


Brasileira de Matemática.

[4] BARBOSA, J. L. M. (1995). Geometria Hiperbólica . Instituto Nacional de


Matemática Pura e Aplicada.

[5] CAMINHA, A. (2012). Temas de Matemática Elementar, Volume 1.


Números Reais. Sociedade Brasileira de Matemática.

[6] COXETER, H. S. M. e GREITZER, S. L. (1967). Geometry Revisited . The


Mathematical Association of America.

[7] HEATH, T. L. (1956). The Thirteen Books of Euclid's Elements . Dover.

[8] HONSBERGER, R. (1995). Episodes in Nineteenth and Twentieth Century

Euclidean Geometry. The Mathematical Association of America.

[9] JOHNSON, R. (2007). Advanced Euclidean Geometry . Dover.

[10] LIMA, E. L. (1997). Medida e Forma em Geometria . Sociedade Brasileira


de Matemática. 2

[11] YAGLOM, I. M. (1962). Geometric Transformations I . The Mathematical


Association of America.

[12] YAGLOM, I. M. (1968). Geometric Transformations II. The Mathematical


Association of America.

[13] YAGLOM, I. M. (1973). Geometric Transformations III. The Mathematical


Association of America.

10
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Unidade 12

[14] YAGLOM, I. M. e SHENITZER, A. (2009). Geometric Transformations IV.


The Mathematical Association of America.

11
13

Aplicações
Sumário
13.1 Aplicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

13.2 Problemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

13.3 Problemas Suplementares . . . . . . . . . . . . . . . 11

1
Unidade 13 Aplicações

13.1 Aplicações

Uma consequência imediata da proposição 12.4, Unidade 12, é o critério a


seguir para equivalência de triângulos.

←→ ←→
Corolário 1 Sejam ABC e A0 BC triângulos tais que AA0 k BC . Então A(ABC) =
A(A0 BC).

←→ ←→
Demonstração
Sendo d a distância entre as retas BC e AA0 (gura 13.1), temos

A A′

B C

Figura 13.1: critério para equivalência de triângulos.

1
A(ABC) = BC · d = A(A0 BC).
2

O corolário anterior pode ser usado para transformar um polígono em outro


equivalente, com menor número de lados. Vejamos como fazer isso no seguinte

Exemplo 2 Em relação à gura dada a seguir, construa com régua e compasso o ponto
←→
E ∈ BC tal que A(ABE) = A(ABCD).

Solução

D
A

B C

2
Aplicações Unidade 13

Descrição dos passos.

←→
1. Trace, pelo ponto D, a reta r, paralela à reta AC .
←→
2. Marque o ponto E de interseção de r com a reta BC .
3. Pelo corolário anterior, os triângulos ACD e ACE têm áreas iguais; logo,
ABE e ABCD também têm áreas iguais.

Outra consequência interessante do corolário 1 é a possibilidade de provar


o teorema de Pitágoras através do cálculo de áreas, conforme atesta o seguinte

Seja ABC um triângulo retângulo em A, com catetos AB = c, AC = b e Exemplo 3

hipotenusa BC = a. Sendo H o pé da altura relativa à hipotenusa, CH = m,


BH = n e AH = h, provemos, mediante o cálculo de áreas, as relações
métricas

(a) ah = bc.

(b) c2 = an e b2 = am.

(c) a2 = b2 + c2 .

(a) Basta ver que ah e bc são duas expressões distintas para o dobro da área
de ABC . De fato,
1 ah 1 bc
A(ABC) = BC · AH = e A(ABC) = AC · AB = .
2 2 2 2
(b) Construa exteriormente a ABC , os quadrados ABDE , BCF G e ACJK
−→
(gura 13.2) e seja I o ponto de interseção da semirreta AH com F G. De
←→ ←→
AI k BG temos
1 an
A(BGA) = A(BGH) = BG · BH = .
2 2

Por outro lado, como BD = AB , BC = BG e DBC b = 90◦ + B b ,


b = ABG
os triângulos BCD e BGA são congruentes por LAL. Portanto, A(BCD) =
←→ ←→
(I). Mas , de modo que A(BCD) = A(ABD) = c2
2
A(BGA) = an 2
AC k BD

3
Unidade 13 Aplicações

G
I

F
D B

H a
c

E A C

K J

Figura 13.2: o teorema de Pitágoras via áreas.

(II). Segue, pois, de (I) e (II) que c2 = an. Provar que b2 = am é análogo.

(c) Somando membro a membro as duas relações do item (b), obtemos

b2 + c2 = am + an = a(m + n) = a2 .

A fórmula para a área de um triângulo também nos dá uma maneira de


calcular áreas de trapézios. Para tanto, diremos doravante que a distância
entre as bases de um trapézio é sua altura.

Proposição 4 Se ABCD é um trapézio de bases AB = a, CD = b e altura h, então


(a + b)h
A(ABCD) = .
2

Demonstração
Suponha, sem perda de generalidade, que a > b (gura 13.3). Se E ∈ AB
for tal que AE = b, então o quadrilátero AECD tem dois lados paralelos e

4
Aplicações Unidade 13

D b C

A b E a−b B

Figura 13.3: área de um trapézio.

iguais, de modo que é um paralelogramo. Como BE = a − b, temos

A(ABCD) = A(AECD) + A(EBC)


(a − b)h (a + b)h
= bh + = .
2 2

Se ABCD é um losango de diagonais AC e BD, então Corolário 5

1
A(ABCD) = AC · BD.
2

Como AC⊥BD (gura 13.4), temos Demonstração

A C
M

Figura 13.4: área de um losango.

A(ABCD) = A(ABC) + A(BCD)


1 1
= AC · BM + AC · DM
2 2
1
= AC · BD.
2

5
Unidade 13 Aplicações

A proposição a seguir ensina qual a relação entre as áreas de triângulos


semelhantes e a razão de semelhança.

Proposição 6 Sejam ABC e A0 B 0 C 0 dois triângulos semelhantes. Sendo k a razão de


semelhança de ABC para A0 B 0 C 0 , temos
A(ABC)
= k2.
A(A0 B 0 C 0 )

Demonstração
Sejam BC = a, B 0 C 0 = a0 e h e h0 as alturas de ABC e A0 B 0 C 0 , res-
pectivamente relativas a BC e B 0 C 0 (gura 13.5). Como a = ka0 e h = kh0

A
A′
h
h′
B C B′ C′
a a′

Figura 13.5: áreas de triângulos semelhantes.

(problema 3, Unidade 10, segue que

A(ABC) ah ka0 · kh0


= = = k2.
A(A0 B 0 C 0 ) a0 h0 a0 h0

Exemplo 7 Em relação à gura abaixo, construa com régua e compasso pontos D ∈


AB e E ∈ AC tais que DE k BC e A(ADE) = A(DBCE).

Solução

6
Aplicações Unidade 13

B C

Supondo o problema resolvido, como A(ADE) = 12 A(ABC) e ADE ∼


ABC , a proposição anterior garante que
s
AE A(ADE) 1
= =√ .
AC A(ABC) 2
Descrição dos passos.

1. Trace o semicírculo Γ de diâmetro AC e exterior a ABC .


2. Sendo M o ponto médio de AC , marque P ∈ Γ tal que P M ⊥AC . O
teorema de Pitágoras aplicado ao triângulo AP C garante que AP =
√1 AC .
2

3. Obtenha E como a interseção de AC com o círculo de centro A e raio


AP .

Terminamos esta seção apresentando três aplicações interessantes da fór-


mula geral (12.1) da Unidade 12 para a área de triângulos, aplicada em con-
junção a alguns dos resultados anteriormente estudados.

Seja ABC um triângulo de lados BC = a, AC = b, AB = c e Proposição 8

semiperímetro p. Se r e ra são respectivamente os raios dos círculos inscrito


em ABC e ex-inscrito a BC , então

A(ABC) = pr = (p − a)ra . (13.1)

Sejam I o incentro e Ia o ex-incentro relativo a BC (gura 13.6). Temos: Demonstração

A(ABC) = A(AIB) + A(AIC) + A(BIC)


cr br ar
= + + = pr.
2 2 2

7
Unidade 13 Aplicações

B
Ia

A C

Figura 13.6: fórmulas para a área de um triângulo.

A(ABC) = A(AIa B) + A(AIa C) − A(BIC)


cra bra ara
= + − = (p − a)ra .
2 2 2

Estamos, agora, em condições de provar outro corolário do teorema de Pto-


lomeu, o teorema de Carnot1 , enunciado a seguir.

Teorema 9 Se ABC é um triângulo acutângulo de circuncentro O, e x, y e z denotam


respectivamente as distâncias de O aos lados BC , AC e AB , então

x + y + z = R + r,

onde r e R denotam respectivamente os raios dos círculos inscrito e circunscrito


a ABC .

Demonstração
Sejam M , N e P respectivamente os pontos médios dos lados BC , CA e
AB , de modo que OM ⊥BC , ON ⊥CA e OP ⊥AB (gura 13.7). Então, os
quadriláteros BM OP , CN OM e AP ON têm, cada um, dois ângulos opostos
retos, sendo portanto inscritíveis. Denotando, por simplicidade, BC = a,
1 Após Lazare Carnot, matemático francês dos séculos XVIII e XIX, o primeiro a utilizar

sistematicamente segmentos orientados em geometria.

8
Aplicações Unidade 13

P N
z Oy
x
B M C

Figura 13.7: distâncias do circuncentro aos lados.

AC = b, AB = c, OM = x, ON = y e OP = z , obtemos então, pelo


teorema de Ptolomeu, as igualdades
c a b
x· +z· =R· ,
2 2 2
b a c
x· +y· =R·
2 2 2
e
c b a
y· +z· =R· ,
2 2 2
onde R denota o raio do círculo circunscrito a ABC .
Por outro lado como os triângulos OBC , OCA e OAB particionam o
triângulo ABC , temos
xa yb zc
A(ABC) = + + .
2 2 2
Mas sendo respectivamente p o semiperímetro e r o raio do círculo inscrito
em ABC , sabemos da proposição anterior que A(ABC) = pr, relação que,
substituída na igualdade acima, nos dá
xa yb zc
+ + = pr.
2 2 2
Por m, somando ordenadamente a última relação acima com as três pri-
meiras, obtemos
(x + y + z)p = (R + r)p,
donde segue o teorema de Carnot.

9
Unidade 13 Problemas

13.2 Problemas

1. Construa, com régua e compasso, um triângulo de área igual à área de


um quadrado dado.

2. (Hungria). Seja ABCD um paralelogramo e EF G um triângulo cujos


vértices estão situados sobre os lados de ABCD. Prove que A(ABCD) ≥
2A(EF G).

3. (Argentina). Três formigas, inicialmente situadas em três dos vértices


de um retângulo, se movem uma por vez e de acordo com a seguinte
regra: quando uma formiga se move, ela se desloca na direção paralela
à formada pelas outras duas formigas. É possível que em algum instante
as formigas estejam situadas nos pontos médios do retângulo original?

4. (Torneio das Cidades). Em um hexágono convexo ABCDEF , temos


AB k CF , CD k BE e EF k AD. Prove que as áreas dos triângulos
ACE e BDF são iguais (sugestão: A(ABC) = A(ABF ), A(CDE) =
A(BCD) e A(AEF ) = A(DEF )).

5. O trapézio ABCD, de bases AB e CD e lados não paralelos AD e BC ,


é retângulo em A. Se BC = CD = 13cm e AB = 18cm, calcule a
altura e a área do trapézio, assim como a distância do vértice A à reta
←→
BC .

6. Para quais inteiros positivos n é possível particionar um triângulo equilá-


tero de lado n em trapézios de lados medindo 1, 1, 1 e 2?

7. ABCD é um trapézio de bases BC e AD e lados não paralelos AB


e CD. Seja E o ponto médio do lado CD e suponha que a área do
triângulo AEB seja igual a 360 cm2 . Calcule a área do trapézio.

8. Seja ABCD um trapézio de bases AB, CD e lados não paralelos AC, BD.
Se as diagonais de ABCD se intersectam em E , prove que
p p p
A(ABCD) = A(ABE) + A(CDE).

9. Por um ponto P no interior de um triângulo ABC traçamos retas paralelas


aos lados de ABC . Tais retas particionam ABC em três triângulos e três

10
Aplicações Unidade 13

paralelogramos. Se as áreas dos triângulos são iguais a 1 cm2 , 4 cm2 e


9 cm2 , calcule a área de ABC .

13.3 Problemas Suplementares

1. Um triângulo ABC é tal que AB = 13cm, AC = 14cm e BC = 15cm.


Um semicírculo de raio R tem seu centro O sobre o lado BC e tangencia
os lados AB e AC do triângulo. Calcule o valor do raio R (sugestão:
imite a ideia da prova da proposição 8).

2. * Sejam ABC um triângulo equilátero de altura h e P um ponto em seu


interior. Se x, y e z denotam as distâncias de P aos lados de ABC ,
prove que x + y + z = h. Generalize para o caso em que P é um ponto
no interior de um polígono regular A1 A2 . . . An .

3. Seja ABC um triângulo de semiperímetro p, r o raio do círculo inscrito


e ra , rb , rc os raios dos círculos ex-inscritos. Prove que
1 1 1 1
= + + .
r ra rb rc

4. Sejam dados um triângulo ABC e pontos A0 , B 0 e C 0 situados respecti-


vamente sobre as retas suportes dos lados BC , CA e AB e distintos dos
←→ ←→ ←→
vértices de ABC . Se as retas AA0 , BB 0 e CC 0 forem concorrentes no
ponto P , mostre que
BA0 A(ABP )
0
= .
AC A(ACP )
Conclua, a partir daí, que
BA0 CB 0 AC 0
· · =1
A0 C B 0 A C 0 B
(sugestão: para a primeira parte, observe inicialmente que

BA0 A(ABA0 ) A(BP A0 )


= = .)
A0 C A(ACA0 ) A(CP A0 )

11
Referências Bibliográcas

[1] AKOPYAN, A. V. e ZASLAVSKY A. A. (2007). Geometry of Conics. Amer-


ican Mathematical Society.

[2] DE BARROS, A. A. e ANDRADE, P. F. DE A. (2009). Introdução à Geo-


metria Projetiva. Sociedade Brasileira de Matemática.

[3] BARBOSA, J. L. M. (2004). Geometria Euclidiana Plana. Sociedade


Brasileira de Matemática.

[4] BARBOSA, J. L. M. (1995). Geometria Hiperbólica. Instituto Nacional de


Matemática Pura e Aplicada.

[5] CAMINHA, A. (2012). Temas de Matemática Elementar, Volume 1.


Números Reais. Sociedade Brasileira de Matemática.

[6] COXETER, H. S. M. e GREITZER, S. L. (1967). Geometry Revisited. The


Mathematical Association of America.

[7] HEATH, T. L. (1956). The Thirteen Books of Euclid's Elements. Dover.

[8] HONSBERGER, R. (1995). Episodes in Nineteenth and Twentieth Century


Euclidean Geometry. The Mathematical Association of America.

[9] JOHNSON, R. (2007). Advanced Euclidean Geometry. Dover.

[10] YAGLOM, I. M. (1962). Geometric Transformations I. The Mathematical


Association of America.

[11] YAGLOM, I. M. (1968). Geometric Transformations II. The Mathematical


Association of America.

[12] YAGLOM, I. M. (1973). Geometric Transformations III. The Mathematical


Association of America.

[13] YAGLOM, I. M. e SHENITZER, A. (2009). Geometric Transformations IV.


The Mathematical Association of America.

12
14
Área do círculo

Sumário
14.1 A Área do círculo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

14.2 O comprimento da circunferência . . . . . . . . . . 3

14.3 Partes do círculo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

14.3.1 A área do setor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

14.3.2 A área do segmento circular . . . . . . . . . . . . 5

14.4 Nota histórica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

14.5 Demonstrações dos teoremas . . . . . . . . . . . . . 7

14.5.1 Demonstração do Teorema 1 . . . . . . . . . . . . 7

14.5.2 Demonstração do Teorema 2 . . . . . . . . . . . . 8

14.6 Problemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

1
Unidade 14 A Área do círculo

14.1 A Área do círculo

Começamos esta unidade dedicada à área do círculo com uma pergunta: o


que é o número π ?
Existem formas diferentes de responder essa pergunta. Na primeira metade
do século XVIII, Euler passou a usar sistematicamente essa letra grega para
representar a razão entre o comprimento da circunferência e seu diâmetro. Mais
recentemente, tornou-se popular a seguinte denição:
π é a área do círculo de raio 1.
Essa é a denição que adotaremos aqui. Ela nos leva quase imediatamente
à fórmula que calcula a área de qualquer círculo. De fato, como dois círculos
são guras semelhantes, um círculo de raio r é semelhante ao círculo de raio 1 e
a razão de semelhança é a razão entre seus raios. Sabemos que a razão entre as
áreas de duas guras semelhantes é igual ao quadrado da razão de semelhança.
Assim, se S é a área de um círculo de raio r, temos que
S  r 2
= .
π 1
Logo, a área do círculo de raio r é

S = πr2 .

O número π é aproximadamente igual a 3,1416 e dele falaremos mais à


frente. O teorema que vem a seguir diz que podemos caracterizar a área do
círculo como limite das áreas dos polígonos regulares nele inscritos quando o
número de lados cresce indenidamente.

Teorema 1 A área do círculo é o número real cujas aproximações por falta são as áreas
dos polígonos regulares nele inscritos.

A demonstração está no nal da Unidade.


Observe, nas guras abaixo, pedaços de quatro polígonos regulares mostrando
aproximações para a área do círculo.

2
Área do círculo Unidade 14

b
b

b
b

b
b b
b

Polígono de 20 lados. Sua área é 98,363% da área do círculo circuns-


b b

Figura 14.1:
crito.
bb
b
b
b

b
b

b
b

b
b

b
b

b
b

b
b

b
b

b
Figura 14.2: Polígono de 80 lados. Sua área é 99,897% da área do círculo circuns-
b

b
crito.
b

b
b
b

b
b

b
b

b
b

b
b

b
b

b
b

b
b

b
Polígono de 200 lados. Sua área é 99,984% da área do círculo circuns-
b

b
Figura 14.3:

b
crito.
b
b

b
b

b
b

b
b

b
b

b
b

b
b

b
b

b
b

Figura 14.4: Polígono de 1000 lados. Sua área é 99,999993% da área do círculo
circunscrito.

14.2 O comprimento da circunferência


b

O comprimento de uma circunferência é o número real cujas aproximações


por falta são os perímetros dos polígonos regulares inscritos nela.
A gura a seguir mostra como obter experimentalmente o comprimento de
uma circunferência de raio r a partir do fato que a área do círculo correspondente

3
Unidade 14 Partes do círculo

é conhecida.
Decompomos o círculo em um número par bastante grande de setores e
arrumamos esses setores na forma sugerida pela gura à direita.

C/2

Sendo C o comprimento da circunferência a gura formada pelos setores


arrumados é aproximadamente um paralelogramo de base C2 e altura r. Igua-
lando as áreas temos C2 · r = π · r2 , ou seja, C = 2πr. Isto sugere o seguinte
teorema:

Teorema 2 O comprimento de uma circunferência de raio r é 2πr.

A demonstração está no nal da Unidade.

14.3 Partes do círculo

14.3.1 A área do setor

θ
O r

4
Área do círculo Unidade 14

A área S de um setor de raio r é proporcional ao ângulo central corres-


pondente, θ. Devemos ter, portanto, S = kθ onde k é uma constante. Para
descobrir essa constante observemos que, quando θ = 2π (radianos) então
S = πr2 .
Assim, πr2 = k · 2π e encontramos k = r2 .
2

A área do setor é
θr2
S= .
2

14.3.2 A área do segmento circular

θ
O r B

Em uma circunferência de centro O e raio r qualquer corda AB divide o


círculo em dois segmentos circulares. O menor deles está assinalado na gura
acima.
Sendo θ o ângulo central AOB a área S do menor dos dois segmentos
circulares é a diferença entre a área do setor AOB e a área do triângulo AOB .
Assim,
θr2 1
S= − r · r · sen θ ,
2 2
ou seja,
r2
S= (θ − sen θ) .
2

14.4 Nota histórica

π∼
= 3,1415926535987932384626433832795028841971693993751058

5
Unidade 14 Nota histórica

O número π tem fascinado diversos matemáticos durante toda a história.


Os antigos babilônios há dois mil anos antes de Cristo, atribuíam ao círculo de
raio 1 o valor 3 18 = 3,125. No século III a.C. Arquimedes calculando polígonos
regulares inscritos e circunscritos a uma circunferência estima o valor de π
entre 223 ∼ 3,1408 e 22 ∼ 3,1428 já com duas decimais exatas. No século V
71 = 7 =
d.C. o chinês Tsu Chung Chih conseguiu como aproximação por falta o valor
3,1415926 com as sete decimais corretas. Depois do período da Idade Média
onde nenhum avanço signicativo foi registrado, o iraniano Jamshid Al-Kashi
encontrou 9 dígitos corretos para 2π no sistema sexagesimal que forneceu, no
sistema decimal, 16 decimais corretas. Cerca de 150 anos depois o alemão L.
Van Ceulen, que dedicou a maior parte da sua vida ao cálculo de π usando o
mesmo método de Arquimedes, conseguiu 35 casas decimais corretas.
Foi Euler que, embora não tenha sido o primeiro a usar, em 1737 consagrou
o uso da letra π para representar essa famosa constante. Nessa época e, pelos
dois séculos seguintes o cálculo de π foi feito por fórmulas como a de J. Machin's
(publicada em 1704):

π = 16 arctan(1/5) − 4 arctan(1/239) .

Usando séries para aproximar a função arctan o cálculo é razoavelmente


simples e a convergência bastante rápida. Em 1824 Gauss conseguiu 200 deci-
mais de π e em 1874 o inglês W. Shanks obteve 527 decimais com essa mesma
fórmula.
Avanços maiores só foram obtidos na segunda metade do século XX quando
os primeiros computadores apareceram. Em 1962 os americanos J. Wrench e D.
Shanks assombraram o mundo acadêmico ao publicar 100.000 casas decimais
de π que tinham calculado usando o recente computador IBM7090.
A mania de obter aproximações com número cada vez maior de casas deci-
mais tem sobrevivido o passar dos séculos e ganhou novo ímpeto com os com-
putadores modernos e com a descoberta de algoritmos teóricos mais ecientes.
Em 2011, A. Yee e S. Kondo calcularam 5 trilhões de casas decimais de π .

6
Área do círculo Unidade 14

14.5 Demonstrações dos teoremas

14.5.1 Demonstração do Teorema 1

Seja Cr a circunferência de centro O e raio r e seja Pn o polígono regular


de n lados inscrito nessa circunferência. A área do círculo de raio r é πr2 e a
área de Pn será representada por A(Pn ).
Queremos provar que, tomando o número n de lados sucientemente grande,
a área de Pn pode ser tão próxima de πr2 quanto se deseje. Mais precisamente,
dado o número positivo α < πr2 provaremos que é possível achar n tal que

α < A(Pn ) < πr2 .

ln ln /
2
an

Como os vértices de Pn dividem a circunferência em n partes iguais, o lado


ln do polígono pode tornar-se tão pequeno quanto se deseje, bastando que n
seja sucientemente grande. No triângulo retângulo formado pela hipotenusa
r cujos catetos são o apótema an e a metade do lado ln tem-se r < an + l2n .
Tomemos s = α/π . Assim α = πs2 e como πs2 = α < πr2 tem-se s < r.
p

Assim o círculo Cs de centro O e raio s tem área A(Cs ) = α e está contido em


Cr . Podemos tomar n tão grande que l2n < r − s. Então
ln
r < an + < an + r − s ⇒ an > s .
2
Portanto o círculo Cs de centro O e raio s está contido no polígono Pn .
Então α = A(Cs ) < A(Pn ) o que mostra que as áreas dos polígonos
regulares inscritos em Cr são aproximações por falta da área de Cr .

7
Unidade 14 Demonstrações dos teoremas

Comentário

É conveniente perceber que podemos raciocinar de forma inteiramente análoga


com polígonos circunscritos. O resultado correspondente ao teorema 1 é o se-
guinte.

Teorema 3 A área do círculo é o número real cujas aproximações por excesso são as
áreas dos polígonos regulares circunscritos a ele.

ln

14.5.2 Demonstração do Teorema 2

Seja C o comprimento da circunferência de raio r. Mostraremos que C não


pode ser menor do que 2πr.
Se C < 2πr teríamos C2 · r < πr2 . Pelo teorema 1 poderíamos obter um
polígono regular Pn inscrito na circunferência Cr tal que C · 2r < A(Pn ).
Seja ∂Pn o perímetro de Pn . A área de Pn é a soma dos n triângulos de
base ln e altura an , ou seja, A(Pn ) = ∂Pn2·an . Portanto, pela hipótese acima,
r C ·r ∂Pn · an a 
n
C · < A(Pn ) ⇒ < ⇒ C < ∂Pn .
2 2 2 r
Como arn < 1 concluímos que C < ∂Pn , um absurdo.
Por raciocínio análogo com polígonos circunscritos conclui-se também que
não se pode ter C > 2πr. Portanto, C = 2πr.
Assim o número π que foi denido inicialmente como a área de um círculo
de raio 1 também satisfaz a igualdade π = 2r C
, ou seja, é a razão entre o
comprimento da circunferência e seu diâmetro.

8
Área do círculo Unidade 14

14.6 Problemas

1. Um polígono regular de 2n lados está inscrito em uma circunferência de


raio 1.

(a) Mostre que a área desse polígono é S2n = n · sen π


.

n

Dica: A área de um triângulo ABC é AB·AC· sen Â


2
.
(b) Utilize uma calculadora cientíca e calcule a área do polígono para
n = 1000, 10000, 100000 e 1000000. Observe as aproximações (por
falta) obtidas para o número π .

2. A gura a seguir mostra três circunferências de raio r tangentes entre


duas a duas. Calcule a área sombreada.

b b

3. No triângulo ABC da gura a seguir, Â = 90o e B̂ = 30o . O ponto


M sobre a hipotenusa é tal que M B = 4 e M C = 2. Calcule a área
sombreada.

B A

9
Unidade 14 Problemas

4. O quadrado da gura ao lado tem área A e as quatro circunferências


no seu interior são iguais. Calcule, em função de A o valor da área
sombreada.

b b

b b

5. Na gura ao lado as três semicircunferências têm diâmetros AB , AC e


CB . O segmento CD é perpendicular à AB .
Dado CD = a, calcule a área da região sombreada em função de a.

A C B

6. Na gura ao lado a circunferência tem raio 1 e os arcos AB e BC medem,


respectivamente 50o e 80o . Determine o valor da área sombreada.

A
b

B b

10
Área do círculo Unidade 14

7. Três semicircunferências foram construídas com diâmetros iguais aos lados


de um triângulo retângulo dado, como mostra a gura. Mostre que a
soma das áreas das duas "luas"é igual a área do triângulo. (Problema de
Hippocrates)

√ √ √ √
8. É curioso que π ∼
= 2 + 3. De fato, 2 + 3 ∼ = 3,146 que é uma
aproximação de π com erro menor que 0,5%. Use este fato para obter com
régua e compasso um segmento aproximadamente igual ao comprimento
de uma semicircunferência de raio R (dado).

11
15
Posições Relativas de
Retas e Planos
Sumário
15.1 Do Plano para o Espaço . . . . . . . . . . . . . . . 2

15.2 Noções Primitivas e Axiomas . . . . . . . . . . . . . 4

15.3 Posição de Retas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

15.4 Posição Relativa de Reta e Plano . . . . . . . . . . 8

15.5 Posição Relativa de Dois Planos . . . . . . . . . . . 10

15.6 Problemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

1
Unidade 15 Do Plano para o Espaço

15.1 Do Plano para o Espaço

O grande desao em ensinar Geometria a alunos do Ensino Médio é fazer

a transição do plano para o espaço. Embora estejamos habituados a guras

geométricas tridimensionais (convivemos todo o tempo com planos, cubos, es-

feras, cones, cilindros, etc) é no Ensino Médio que tais guras são estudadas,

pela primeira vez, de forma sistemática. Esta ampliação de horizontes nem sem-

pre é fácil para o aluno. O início do estudo sistemático de Geometria Plana, em

geral na 7o ou 8o ano do Ensino Médio, vem depois de longos anos nos quais

o aluno se prepara, de certo modo, para estudar guras planas. Ele não as

observa simplesmente no mundo real; ele está constantemente desenhando tais

guras, o que contribui para a criação de modelos mentais para elas. Embora

o aluno possa ter diculdades no aprendizado de Geometria, em geral ele não

tem diculdade de entender as propriedades essenciais das guras geométricas

simples. Conceitos básicos como paralelismo, perpendicularismo e congruência

são bem entendidos pelo aluno. Além disso, em caso de diculdades, é sempre

possível experimentar através de desenhos ou de modelos das guras.

Tais facilidades não ocorrem quando se começa a estudar Geometria Es-

pacial. As relações entre as guras geométricas fundamentais são bem mais

complexas do que na Geometria Plana. O estudo de paralelismo, por exemplo,

que na Geometria Plana se reduz a paralelismo entre retas, agora é compli-

cado pelo fato de existirem, no espaço, retas que não são nem paralelas nem

concorrentes e pelas relações de paralelismo envolvendo planos. Há, também,

uma diculdade muito maior de se fazer este estudo com apoio em modelos

concretos. Além de os alunos do Ensino Médio já não estarem mais, de modo

geral, propensos ao uso de tais modelos, é muito mais difícil construí-los de

modo a serem úteis. Por exemplo, o uso de folhas de cartolina para representar

dois planos pode levar um aluno à conclusão de que a interseção de dois planos

pode ser um ponto... (gura 15.1).

O exemplo acima não deve ser entendido como uma recomendação para

que não sejam usados modelos do mundo real como exemplos de guras espa-

ciais, com o intuito de exemplicar relações entre elas. Mas a limitação de tais

modelos faz com que eles não bastem. É preciso algo mais: ter alguma ima-

ginação, desenvolver alguma habilidade de fazer representações de tais guras

2
Posições Relativas de Retas e Planos Unidade 15

Figura 15.1: Interseção de planos pode resultar em um único ponto?

em papel e, principalmente, adquirir um bom conhecimento das propriedades

fundamentais entre as guras geométricas espaciais, de modo que relações en-

tre elas possam ser deduzidas através de uma argumentação geométrica, já que

raramente tais relações podem ser observadas diretamente em uma gura ou

um modelo. É muito importante, também, desenvolver no aluno a habilidade

de fazer bom proveito de seus conhecimentos de Geometria Plana. Em muitos

problemas, a técnica de resolução consiste em identicar um ou mais planos

onde a ação ocorre, isto é, que contêm os elementos relevantes ao problema,

e aplicar Geometria Plana para obter relações entre esses elementos.

Para que tudo isso seja possível, é importante que os conceitos fundamen-

tais da Geometria Espacial sejam apresentados com cuidado. Uma alternativa é

aproveitar a ocasião para apresentar uma formulação axiomática para a Geome-

tria. Uma formulação axiomática consiste na identicação de um certo conjunto

de noções primitivas, não denidas, e de um conjunto de axiomas ou postula-

dos, que são propriedades aceitas como verdadeiras. As demais propriedades

(os teoremas) são demonstrados a partir destes postulados.

O conjunto de postulados escolhidos para uma teoria matemática deve sat-

isfazer a dois requisitos: ele deve ser consistente (isto é, não deve ser possível

chegar a contradições a partir dos postulados) e suciente (isto é, deve ser

possível determinar a veracidade de uma armativa a partir dos postulados).

Além disso, é desejável que os postulados reitam fatos que indiscutivelmente

correspondam à nossa intuição a respeito dos objetos fundamentais da teoria.

A primeira iniciativa no sentido de criar uma teoria axiomática para a Geome-

3
Unidade 15 Noções Primitivas e Axiomas

tria é de Euclides, mas Hilbert, no início do século passado, foi o primeiro a

propor um conjunto de axiomas para a Geometria ao mesmo tempo consistente

e suciente.

O fato de que foram necessários mais de 2000 anos para se chegar a uma

formulação axiomática correta para a Geometria mostra que tal tarefa é mais

delicada do que pode parecer à primeira vista. O sistema de axiomas não deve

apenas formular propriedades relativas a determinação e incidência de pontos,

retas e planos mas também dar validade a noções intuitivas como ordem, sep-

aração e medida de ângulos e segmentos. Uma discussão mais completa do

que a apresentada aqui sobre os fundamentos da Geometria Espacial pode ser

encontrada no livro Introdução à Geometria Espacial, de Paulo C.P. Carvalho,

da Coleção do Professor de Matemática da SBM. Para os fundamentos da

Geometria Plana, recomendamos Geometria Euclidiana Plana, de João Lucas

Marques Barbosa, da mesma coleção.

15.2 Noções Primitivas e Axiomas

Na nossa opinião, não é apropriado apresentar, no Ensino Médio, uma teoria

axiomática formal para a Geometria Espacial. Mas é importante estabelecer as

regras básicas do jogo, introduzindo as entidades fundamentais (ponto, reta,

plano, espaço) como noções primitivas e apresentando alguns dos axiomas como

propriedades a serem aceitas sem demonstração.

Muitas vezes o aluno recebe com certa surpresa o fato de que a Geome-

tria se baseia em algumas noções para as quais não é apresentada denição e

em algumas propriedades para as quais não é apresentada uma demonstração.

É importante que o professor esclareça que isto ocorre com qualquer teoria

matemática (veja a discussão no capítulo 2 do primeiro volume desta série).

O fato de ponto, reta, plano e espaço serem noções primitivas da Geometria

não signica que não se possa reforçar a intuição do aluno a respeito dessas

noções. De uma certa forma, isto ocorria já nos Elementos de Euclides, em

que, por exemplo, ponto é denido como aquilo que não possui partes (ou

seja, é indivisível), linha é o que possui comprimento mas não largura e reta

é uma linha que jaz igualmente com respeito a todos os seus pontos (isto é,

uma linha onde não existem pontos especiais).

4
Posições Relativas de Retas e Planos Unidade 15

Embora tais descrições não possam ser utilizadas como denições (por uti-

lizarem outros termos não denidos, como comprimento, largura, etc), aju-

dam a correlacionar entidades matemáticas com imagens intuitivas. Deve-se,

porém, esclarecer para o aluno que, do ponto de vista matemático, o que im-

porta é estabelecer uma quantidade mínima de propriedades (postulados) que

sejam capazes de caracterizar o comportamento destas entidades.

Abaixo, são dadas algumas das propriedades essenciais relacionando as noções

de ponto, reta, plano e espaço, e que podem ser utilizadas como postulados da

Geometria Espacial.

Postulado 1. Dados dois pontos distintos do espaço existe uma, e somente

uma, reta que os contém.

Postulado 2. Dados três pontos não colineares do espaço, existe um, e so-

mente um, plano que os contém.

Postulado 3. Se uma reta possui dois de seus pontos em um plano, ela

está contida no plano.

Uma vez tendo estabelecido estas propriedades como axiomas, podemos

utilizá-las na demonstração de outras propriedades, como ilustrado abaixo.

Existe um único plano que contém uma reta e um ponto não pertencente Teorema 1
a ela.

Seja P um ponto não pertencente à reta r. Tomemos, sobre r, dois pontos Demonstração
distintos Q e R (gura 15.2). Os pontos P , Q e R não são colineares (de

fato, pelo Postulado 1, r é a única reta que passa por Q e R e, por hipótese,

P não pertence a r). Pelo Postulado 2, sabemos que existe um único plano α
contendo P , Q e R. Como a reta r tem de dois de seus pontos (Q e R) em

α, o Postulado 3 estabelece que r está contida em α. Logo, de fato existe um


plano contendo r e P . Como este é o único plano que contém P , Q e R, ele é

o único que contém P e r .

5
Unidade 15 Posição de Retas

Figura 15.2: Uma reta e um ponto exterior determinam um plano.

Embora o leitor possivelmente não tenha percebido, na demonstração do

teorema acima zemos uso de uma construção que, a rigor, deveria ser jus-

ticada. A reta r e o ponto P são fornecidos pelo enunciado do teorema.

No entanto, os pontos Q e R foram construídos na demonstração. Nossa ex-

periência nos diz que, dada uma reta, existem uma innidade de pontos que

pertencem a ela (portanto, estamos livres para escolher dois pontos arbitrários

sobre ela) e uma innidade de pontos que não pertencem a ela. O mesmo vale

para um plano. Se quiséssemos fazer uma construção axiomática rigorosa seria

necessário introduzir axiomas referentes a tais propriedades.

Nas seções a seguir procuraremos desenvolver, a partir dos postulados, ou-

tras propriedades relativas a pontos, retas e planos, respondendo a questões

fundamentais como as abaixo:

• Que combinações de pontos e retas determinam um plano?

• Como pode ser a interseção de duas retas no espaço? E de dois planos?

E de uma reta e um plano?

Como veremos, nem todas estas perguntas podem ser respondidas usando

os postulados acima. Utilizaremos nossa procura de respostas a estas perguntas

justamente para motivar a introdução de outros postulados. A mesma estratégia

pode (e deve) ser usada com alunos do Ensino Médio: ao invés de apresentar

propriedades já prontas, é melhor descobri-las juntamente com os alunos.

15.3 Posição de Retas

A partir das respostas às perguntas como pode ser a interseção de duas

retas? e quando duas retas determinam um plano?, obtemos uma importante

classicação para um par de retas distintas do espaço.

6
Posições Relativas de Retas e Planos Unidade 15

Comecemos pela interseção. Pelo Postulado 1, duas retas distintas podem

ter no máximo um ponto comum. De fato, como existe uma única reta que

passa por dois pontos distintos, duas retas que tenham mais de um ponto

comum são obrigatoriamente coincidentes (isto é, são a mesma reta).

Quando duas retas têm exatamente um ponto comum, elas são chamadas

de concorrentes e sempre determinam um plano.

De fato, seja P o ponto de interseção das retas r e s (gura 15.3). Sejam

R e S pontos de r e s, respectivamente, distintos de P. Os pontos P, R e S


são não colineares; portanto, determinam um único plano α, que certamente

contém r e s, já que essas retas têm dois de seus pontos em α.

Figura 15.3: Duas retas concorrentes determinam um plano.

Já quando duas retas não possuem ponto em comum, elas podem ou não

determinar um plano. Consideremos a situação da gura 15.4, que mostra três

pontos não colineares A, B e C , que determinam um plano α, um ponto D


exterior a α, e as retas r e s, denidas por A e B e por C e D , respectivamente.

É claro que não existe nenhum ponto comum a r e s.

Figura 15.4: Retas reversas.

Note que s só tem o ponto C α; se tivesse um outro ponto


em comum com

comum, s teria que estar contida em α, o que é impossível, já que D é exterior a

α. Por outro lado, não existe nenhum plano que contenha, simultaneamente, r
e s. Basta observar que α é o único plano que passa por A, B e C e que D não

7
Unidade 15 Posição Relativa de Reta e Plano

pertence a este plano. Retas como r e s são chamadas de retas não-coplanares


ou reversas.

Retas reversas sempre possuem interseção vazia. Mas duas retas do espaço

podem não ter pontos de interseção e serem coplanares. Neste caso, dizemos

que as retas são paralelas. Sabemos, da Geometria Plana, que por um ponto do

plano exterior a uma reta passa uma única reta paralela a ela. O mesmo ocorre

no espaço. Isto é, por um ponto P exterior a uma reta r do espaço passa uma

única reta s paralela a ela. De fato, seja r uma reta do espaço e seja P um

ponto não pertencente a r (gura ??). Como vimos acima, existe um único
plano α que contém P e r ; nesse plano, existe uma, e somente uma, reta s

paralela a r passando por P . Por outro lado, não existem retas paralelas a r

passando por P que não estão contidas em α, já que todas as retas coplanares

com r passando por P estão contidas em α. Assim, a reta s é a única reta do

espaço que contém P e é paralela a r .

Figura 15.5: Retas paralelas.

Em resumo, duas retas distintas do espaço estão em um dos casos dados

no quadro abaixo:

Posição relativa Interseção r e s


de r e s de r e s são coplanares?

Concorrentes exatamente um ponto Sim

Paralelas vazia Sim

Reversas vazia Não

15.4 Posição Relativa de Reta e Plano

A pergunta relevante agora é: como pode ser a interseção de uma reta

e um plano? Pelo Postulado 3, se uma reta r possui dois ou mais pontos

8
Posições Relativas de Retas e Planos Unidade 15

pertencentes a um plano α, todos os seus pontos estarão em α; isto é r estará

contida em α (gura 15.6).

Figura 15.6: Uma reta contida em um plano.

r tem apenas um ponto em comum


Um outro caso possível é aquele em que

com α (dizemos nesse caso que r é secante a α). A gura 15.7 mostra um

ponto P pertencente a um plano α e um ponto exterior Q. A reta r denida

por P e Q, é secante a α.

Figura 15.7: Uma reta secante a um plano.

Finalmente, uma reta pode não ter pontos em comum com um plano (dize-

mos que a reta e o plano são paralelos). Seja α um plano, r uma reta contida

em α e P um ponto exterior a α (gura 15.8). A reta s, paralela a r passando


por P , é paralela a α. De fato, seja β o plano denido por r e s. Se s não

fosse paralela a α, a interseção de r e α seria um ponto Q não pertencente a

r, já que r e s são paralelas. Mas isto faria com que os planos distintos α e β
tivessem em comum a reta r e o ponto exterior Q, o que é impossível.

Em resumo, uma reta r e um plano α podem estar em um dos casos a

seguir:

Posição relativa de r e α Interseção de r eα


r contida em α a própria reta r

r secante a α um único ponto

r paralela a α vazia

9
Unidade 15 Posição Relativa de Dois Planos

Figura 15.8: Uma reta paralela a um plano.

15.5 Posição Relativa de Dois Planos

Obtemos uma classicação para a posição relativa de dois planos procurando

responder à pergunta: como pode ser a interseção de dois planos distintos?.

A primeira observação é a seguinte:

Se dois planos distintos possuem mais de um ponto em comum, sua inter-

seção é uma reta (neste caso, dizemos que os planos são secantes).

De fato, se os pontos P e Q são comuns a α e β, então, pelo Postulado

3, a reta r denida por P e Q está contida, α e β e,


simultaneamente, em

portanto, em sua interseção. Por outro lado, se houvesse um ponto R comum

a α e β que não pertencesse a r , os planos α e β seriam coincidentes, já que r

e R determinam um único plano. Logo, r é a interseção de α e β .

A gura 15.9 mostra uma situação em que temos dois planos secantes.

plano α é denido pela reta r e pelo ponto exterior A. O ponto B é exterior a


α e dene com r um outro plano β. Os planos α e β têm por interseção a reta

r; são, portanto, secantes.

Figura 15.9: Planos secantes.

A próxima possibilidade a ser considerada é a de dois planos terem ex-

10
Posições Relativas de Retas e Planos Unidade 15

atamente um ponto em comum. Uma consulta a nosso modelo mental para

planos no espaço tridimensional nos convencerá de que essa possibilidade não

existe. Tal impossibilidade, no entanto, não decorre dos postulados anteriores

(na verdade, na Geometria Euclidiana do espaço de dimensão superior a 3, é

perfeitamente possível dois planos terem exatamente um ponto em comum) e

deve ser estabelecida através de mais um postulado.

Postulado 4. Se dois planos possuem um ponto em comum, então eles pos-

suem pelo menos uma reta em comum.

Resta-nos apenas mais uma possibilidade: a de que os planos sejam parale-

los (isto é, não possuam pontos comuns). Mas existem realmente planos que

não tenham ponto em comum? Nossa intuição diz que sim, e o argumento a

seguir fornece uma conrmação, mostrando como construir um plano paralelo

a um outro.

Construção de um plano paralelo a um plano dado. Seja P um ponto

exterior ao plano α (gura 15.10). Tomemos duas retas concorrentes r e s em


0 0
α. Sejam r e s as paralelas a r e s conduzidas por P . Estas retas determinam

um plano β , que é, como vamos provar, paralelo a α.

Figura 15.10: Planos paralelos.

Suponhamos que β não seja paralelo a α. Então α e β possuem uma reta


0 0
de interseção t. As retas r,s e t são coplanares. Por outro lado, as retas r0 e
0
s não podem ser ambas paralelas a t. Logo, pelo menos uma delas (digamos
r0 ) é concorrente com t e, portanto, secante a α. Mas como r0 é paralela a uma
0
reta de α, resulta que r é paralela a α. Temos, portanto, uma contradição, o

que demonstra que α e β são paralelos.

A construção acima mostra como construir um plano paralelo a α passando

11
Unidade 15 Posição Relativa de Dois Planos

pelo ponto exterior P.


O quadro abaixo resume as situações possíveis para a posição relativa de

dois planos distintos α e β:

Posição relativa de α e β Interseção de α e β


secantes uma reta r
paralelos vazia

12
Posições Relativas de Retas e Planos Unidade 15

15.6 Problemas

1. A gura 15.11 abaixo representa uma ponte sobre uma estrada de ferro.

Sejam α e β, respectivamente, os planos da pista da ponte e o do leito

da estrada de ferro e sejam r s as retas que representam o eixo da pista


e

e um dos trilhos. Quais são as posições relativas de α, β , r e s?

Figura 15.11:

2. Quantos são os planos determinados por 4 pontos não coplanares?

3. Quantos planos distintos são determinados por um subconjunto dos vér-

tices do paralelepípedo ABCDEF GH ?

4. Qual a seção determinada em um paralelepípedo ABCDEF GH pelo

plano ABG?

5. Duas retas r e s são concorrentes em um ponto O. Fora do plano deter-


minado por r e s tomamos um ponto P qualquer. Qual é a interseção

do plano denido por r e P com o plano denido por s e P ?

6. Sejam r e s duas retas reversas, A um ponto em r e B um ponto em s.


Qual é a interseção do plano α denido por r e B com o plano β denido

por s e A?

7. Sejam r e s duas retas reversas. Sejam A e B pontos distintos de r e

C eD pontos distintos de s. Qual é a posição relativa das retas AC e

BD?

8. Sejam r e s duas retas reversas e P um ponto qualquer do espaço. Diga

como obter:

(a) um plano contendo r e paralelo a s;

13
Unidade 15 Problemas

(b) um par de planos paralelos contendo r e s, respectivamente;

(c) uma reta passando por P e se apoiando em r e s.

9. Seja r uma reta secante a um plano α e P um ponto exterior a α. É

sempre possível traçar uma reta que passa por P, encontra r e é paralela

a α?

10. Se dois planos são paralelos a uma reta então eles são paralelos entre si.

Certo ou errado?

11. Sejam A, B , C
D pontos quaisquer do espaço (não necessariamente
e

coplanares). Sejam M , N , P e Q os pontos médios de AB , BC , CD e

DA, respectivamente. Mostre que M N P Q é um paralelogramo. Use este


fato para demonstrar que os três segmentos que unem os pontos médios

das arestas opostas de um tetraedro qualquer ABCD se encontram em

um mesmo ponto.

12. Suponha que os planos α, β e γ têm exatamente um ponto em comum.

Existe uma reta que seja simultaneamente paralela a α, β e γ?

14
16
Planos, Teorema de Tales,
Sólidos

Sumário
16.1 Construindo Sólidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

16.2 Descobrindo Relações de Paralelismo . . . . . . . . 6

16.3 Planos Paralelos e Proporcionalidade . . . . . . . . 8

16.4 Problemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

1
Unidade 16 Construindo Sólidos

16.1 Construindo Sólidos

Com as propriedades já estabelecidas, podemos, já nesse ponto, construir


nossos primeiros sólidos. A maior parte dos livros didáticos para o Ensino
Médio adia a apresentação dos sólidos clássicos (prismas, pirâmides, esfera,
etc) para mais tarde, quando se ensina a calcular áreas e volumes desses sólidos.
Nada impede, no entanto, que eles sejam apresentados mais cedo, de modo a
colaborar na xação dos conceitos fundamentais, já que exemplos muito mais
ricos de situações envolvendo pontos, retas e planos podem ser elaborados com
seu auxílio.

Construção de Pirâmides e Cones.

Considere um polígono A1 A2 . . . An em um plano e um ponto V exterior ao


plano do polígono (gura 16.1). Traçamos os segmentos V A1 , V A2 , . . . , V An .
Cada dois vértices consecutivos de A1 A2 . . . An determinam com V um triân-
gulo. Estes triângulos, juntamente com o polígono

A1 A2 . . . An ,

delimitam uma região do espaço, que é a pirâmide de base

A1 A2 . . . An

e vértice V . A região do espaço limitada pela pirâmide é formada pelos pontos


dos segmentos de reta que ligam o vértice V aos pontos do polígono-base. Os
segmentos V A1 , V A2 , . . . , V An são chamados arestas laterais e os triângulos
V A1 A2 , V A2 A3 , . . . , V An A1 de faces laterais da pirâmide. Pirâmides triangu-
lares − ou tetraedros − apresentam a particularidade de que qualquer de suas
faces pode ser considerada a base da pirâmide.
Pirâmides são casos particulares de cones. Em um cone, a base não precisa
ser um polígono, mas qualquer região plana delimitada por uma curva fechada
e simples (isto é, que não corta a si própria). Os cones mais importantes são
os cones circulares, em que a base é um círculo. Em um cone, cada um dos
segmentos que ligam o vértice aos pontos situados sobre a curva que delimita a
base é chamado de geratriz do cone. A união de todos esses segmentos é uma
superfície, chamada de superfície lateral do cone.

2
Planos, Teorema de Tales, Sólidos Unidade 16

Figura 16.1: Uma pirâmide pentagonal, um tetraedro e um cone.

Construção de Prismas e Cilindros.

Seja A1 A2 . . . An um polígono contido em um plano α (gura 16.2). Esco-


lhemos um ponto B1 qualquer, não pertencente a α. Por B1 traçamos o plano
β paralelo a α. Pelos demais vértices A2 , . . . , An traçamos retas paralelas a
A1 B1 que cortam β nos pontos B2 , . . . , Bn (isto implica em que todas estas
retas sejam paralelas entre si;). Tomemos dois segmentos consecutivos assim
determinados: A1 B1 e A2 B2 , por exemplo. O quadrilátero A1 B1 B2 A2 é plano,
já que os lados A1 B1 e A2 B2 são paralelos. Mas isto implica em que os outros
dois lados também sejam paralelos, pois estão contidos em retas coplanares
que não se intersectam, por estarem contidas em planos paralelos. Portanto, o
quadrilátero é um paralelogramo. Os paralelogramos assim determinados, jun-
tamente com os polígonos A1 A2 . . . An e B1 B2 . . . Bn determinam um poliedro
chamado de prisma de bases A1 A2 . . . An e B1 B2 . . . Bn . A região do espaço de-
limitada por um prisma é formada pelos pontos dos segmentos nos quais cada
extremo está em um dos polígonos-base. As arestas A1 B1 , A2 B2 , . . . , An Bn
são chamadas de arestas laterais. Todas as arestas laterais são paralelas e de
mesmo comprimento; arestas laterais consecutivas formam paralelogramos, que
são chamados de faces laterais do prisma. As bases A1 A2 . . . An e B1 B2 . . . Bn
são congruentes. De fato, estes polígonos possuem lados respectivamente iguais
e paralelos (já que as faces laterais são paralelogramos) e, em consequência,
possuem ângulos respectivamente iguais (como na Geometria Plana, ângulos
determinados por retas paralelas do espaço são iguais.).
Um caso particular ocorre quando a base é um paralelogramo. Neste caso,
o prisma é chamado de paralelepípedo. Paralelepípedos são prismas que têm
a particularidade de que qualquer de suas faces pode ser tomada como base
(duas faces opostas quaisquer estão situadas em planos paralelos e são ligadas
por arestas paralelas entre si).

3
Unidade 16 Construindo Sólidos

A generalização natural de prisma é a noção de cilindro, em que a base pode


ser qualquer região plana delimitada por uma curva simples e fechada. Cada um
dos segmentos paralelos que passam pelos pontos da curva e são delimitados
pelos planos paralelos é uma geratriz do cilindro.

Figura 16.2: Um prisma pentagonal, um paralelepípedo e um cilindro.

Aplicações

Vejamos alguns exemplos em que usamos os sólidos denidos acima para


ilustrar situações envolvendo interseções de retas e planos.

Exemplo 1 Consideremos uma pirâmide quadrangular de base ABCD e vértice V


(gura 16.3). As arestas laterais opostas V A e V C determinam um plano α,
enquanto V B e V D determinam um plano β . Qual é a interseção de α e β ?

Os planos α e β são distintos (A, por exemplo, está em α mas não em β )


e têm um ponto comum V . Logo, sua interseção é uma reta r que passa por
V . Para localizarmos um segundo ponto de r, consideremos as interseções de
α e β com o plano da base, que são as diagonais AC e BD, respectivamente,
do quadrilátero ABCD. Logo, o ponto de interseção de AC e BD é comum
aos três planos α, β e ABCD; portanto, está na reta de interseção de α e
β . Assim, α e β se cortam segundo a reta que passa por V e pelo ponto de
interseção de AC e BD.

Exemplo 2 Consideremos um prisma triangular ABCDEF (gura 16.4). Quantos


planos distintos são determinados por um subconjunto dos 6 vértices do par-
alelepípedo?

4
Planos, Teorema de Tales, Sólidos Unidade 16

Figura 16.3:

Figura 16.4: Planos determinados pelos vértices de um prisma trian-


gular.

Se os 6 vértices do prisma estivessem em posição geral seja, dispostos de


forma tal que quatro quaisquer deles não fossem coplanares), cada subconjunto
de 3 pontos determinaria um plano. Teríamos, assim, um total de C63 = 20
planos. No caso do prisma triangular, no entanto, a situação não é esta. Pode-
mos começar a listar os planos denidos pelos vértices a partir das faces: temos
3 faces laterais e 2 bases. Outros planos formados a partir dos vértices terão
necessariamente que ser determinados por 2 vértices de uma base e pelo vértice
da outra base que seja extremo da aresta lateral que não passa por nenhum dos
dois primeiros. Há 6 planos nestas condições, já que este último vértice pode
ser qualquer um dos vértices do prisma. Temos, então, um total de 11 planos.

5
Unidade 16 Descobrindo Relações de Paralelismo

16.2 Descobrindo Relações de Paralelismo

Apresentamos abaixo uma lista de situações nas quais o paralelismo de certas


entidades (planos ou retas) pode ser deduzida a partir do paralelismo de outras
retas e planos.

1. Uma reta é paralela a um plano se e somente se ela é paralela a uma reta


do plano.

2. Dados dois planos secantes, uma reta de um deles é paralela ao outro se


e somente se ela é paralela à reta de interseção dos dois planos.

3. Se um plano α corta o plano β segundo a reta r, então ele corta qualquer


plano paralelo a β segundo uma reta paralela a r.

4. Dois planos são paralelos se e somente se um deles é paralelo a duas


retas concorrentes do outro (alternativamente, dois planos distintos são
paralelos se e somente se um deles contém duas retas concorrentes res-
pectivamente paralelas a duas retas do outro).

Algumas dessas propriedades já foram apresentadas ou aplicadas anterior-


mente, e sua demonstração ca por conta do leitor. A seguir mostramos situ-
ações em que podemos utilizar as propriedades acima para identicar relações
de paralelismo em um sólido simples.

Exemplo 3 Vamos tomar um paralelepípedo ABCDEF GH e observar algumas re-


lações de paralelismo entre as retas e planos lá presentes (gura 16.5)

Figura 16.5:

6
Planos, Teorema de Tales, Sólidos Unidade 16

a) A aresta AE é paralela à face BCGF .

Justicativa. Basta notar que AE é paralela à reta BF de BCGF .

b) A diagonal AH da face ADHE também é paralela à face BCGF .

Justicativa. Os planos das faces opostas de um paralelepípedo são paralelos


(note que as retas AD e AE de ADHE são respectivamente paralelas às retas
BC e BF de BCGF ). Como AH está contida em um plano paralelo à face
BCGF , AH é necessariamente paralela a BCGF .

c) A interseção dos planos α e β determinados pelos pares de arestas laterais


opostas (AE, CG) e (BF, DH) é uma reta que passa pelos pontos Q e R de in-
terseção das diagonais das bases e que é paralela a aquelas arestas (gura 16.6).

Figura 16.6:

Justicativa. Primeiro, observamos que as diagonais AC e BD da base inferior


estão contidas, respectivamente, em α e β . Logo seu ponto Q de interseção
está na reta de interseção. O mesmo argumento se aplica a R.
Por outro lado, AE é paralela a β , já que é paralela à reta BF de β . Por-
tanto, AE é necessariamente paralela à reta r de interseção de α e β .

d) O plano α determinado pelos pontos A, C e H é paralelo ao plano β


determinado pelos pontos B , E e G (gura 16.7).
Justicativa. Tomemos as diagonais faciais AC e EG. As retas AC e EG
são as interseções do plano denido pelas arestas laterais AE e CG com os

7
Unidade 16 Planos Paralelos e Proporcionalidade

Figura 16.7:

planos (paralelos) das bases do paralelepípedo. Logo AC e EG são paralelas.


O mesmo argumento se aplica, por exemplo, a BG e AH . Logo α possui um
par de retas concorrentes que são paralelas a retas de β e, em consequência, α
e β são paralelos.

16.3 Planos Paralelos e Proporcionalidade

Da Geometria Plana trazemos o (bom) hábito de associar retas paralelas


com proporcionalidade, através do Teorema de Tales (que estabelece a pro-
porcionalidade dos segmentos determinados em duas secantes por um feixe de
retas paralelas) e de semelhança de triângulos (ao se cortar um triângulo por
uma reta paralela a uma dos lados se obtém um triângulo semelhante a ele).
Existem propriedades perfeitamente análogas para planos paralelos.

Teorema 1 Um feixe de planos paralelos determina segmentos proporcionais sobre duas


Teorema de Tales para
retas secantes quaisquer.
Planos Paralelos

Demonstração A demonstração consiste em reduzir o teorema ao seu correspondente no


plano, que é o teorema de Tales sobre feixe de retas paralelas. Sejam α, β e γ
três planos paralelos e sejam r1 e r2 duas retas secantes quaisquer (gura ??).

A reta r1 corta os planos nos pontos A1 , B1 e C1 e r2 corta os mesmos planos


nos pontos A1 , B2 e C2 . Pelo ponto A1 de r1 traçamos uma reta r20 paralela a
r2 , que corta os três planos nos pontos A1 , B20 e C20 . As retas r1 e r20 determinam

8
Planos, Teorema de Tales, Sólidos Unidade 16

Figura 16.8: Teorema de Tales para planos paralelos.

um plano, que corta β e γ segundo as retas paralelas B1 B20 e C1 C20 . Logo, pelo
A1 B1 B1 C1 A1 C1
Teorema de Tales para retas paralelas, temos 0
= 0 0 = . Mas
A1 B2 B2 C2 A1 C20
A1 B20 = A2 B2 , B20 C20 = B2 C2 , e A1 C20 = A2 C2 , por serem segmentos
retas paralelas compreendidos entre retas paralelas. Logo, temos
A1 B1 B1 C1 A 1 C1
= = .
A2 B2 B2 C2 A 2 C2

Construção de Pirâmides Semelhantes

Consideremos agora uma pirâmide de base A1 A2 . . . An e vértice V (gura 16.9).


Tracemos um plano paralelo à base, que corta as arestas laterais segundo o
polígono B1 B2 . . . Bn e que divide a pirâmide em dois poliedros: um deles é
a pirâmide de base B1 B2 . . . Bn e o outro é chamado de tronco de pirâmide
de bases A1 A2 . . . An e B1 B2 . . . Bn . Consideremos as duas pirâmides e exam-
inemos suas faces laterais. Na face lateral V A1 A2 , por exemplo, o segmento
B1 B2 é paralelo à base. Em consequência, o triângulo V B1 B2 é semelhante
V B1 V B2 B1 B2
ao triângulo V A1 A2 . Logo, temos = = = k. Aplicando o
V A1 V A2 A1 A2
mesmo raciocínio para as demais faces laterais, concluímos que a razão entre
duas arestas correspondentes das duas pirâmides é sempre igual a k .

9
Unidade 16 Planos Paralelos e Proporcionalidade

Figura 16.9: Seccionando uma pirâmide por um plano paralelo à base.

Na verdade, as duas pirâmides do exemplo são semelhantes na razão k , ou


seja, é possível estabelecer uma correspondência entre seus pontos de modo que
a razão entre os comprimentos de segmentos correspondentes nas duas guras
seja constante.
Esta correspondência é estabelecida da seguinte forma: dado um ponto P
da pirâmide V A1 A2 · · · An , seu correspondente na pirâmide V B1 B2 . . . Bn é o
V P0
ponto P 0 sobre V P tal que = k . O ponto P 0 certamente pertence à
VP
segunda pirâmide. Além disso, tomando um segundo par de pontos correspon-
dentes Q e Q0 , os triângulos V P 0 Q0 e V P Q são semelhantes na razão k , o que
P 0 Q0
implica em = k . Logo, a razão entre segmentos correspondentes nas
PQ
duas pirâmides é sempre igual a k , o que demonstra a sua semelhança.
O que zemos acima pode ser visto de maneira mais geral e transformado
em um método para obter uma gura espacial semelhante a uma gura dada.
Dado um ponto V do espaço e um número real k , a homotetia de centro V e
razão k é a função que associa a cada ponto P do espaço o ponto P 0 sobre
V P tal que V P 0 = kV P (gura 16.10).

Figura 16.10: Figuras homotéticas.

10
Planos, Teorema de Tales, Sólidos Unidade 16

Duas guras F e F 0 são homotéticas quando existe uma homotetia σ tal


que σ(F ) = F 0 . Assim, as duas pirâmides do exemplo anterior são homotéti-
cas. Duas guras homotéticas são sempre semelhantes, pelo mesmo argumento
utilizado acima: dados dois pontos P e Q em F , seus correspondentes P 0 e Q0
em F 0 são tais que os triângulos V P 0 Q0 e V P Q são semelhantes na razão k .

Atividades Na Sala de Aula


Muitas vezes o professor tem diculdades em motivar o aluno para os con-
ceitos iniciais de Geometria no Espaço. Sugerimos a seguir algumas estratégias
para despertar um maior interesse por parte dos alunos.
Uma primeira recomendação é evitar apresentar o assunto já de forma com-
pletamente arrumada para o aluno. É importante construir a classicação da
posição relativa de retas e planos com a participação dos alunos, apresentando
exemplos provocativos como o da gura 16.1.
Deve-se procurar, também, buscar exemplos de planos e retas em diversas
posições no espaço que cerca o aluno. Pode-se, por exemplo, convidar os alunos
a obter exemplos de retas reversas dentro da sala de aula.
A apresentação precoce de guras de interesse é uma outra forma de motivar
o aluno e demonstrar a relevância dos conceitos. O aluno deve ser convidado
a explorar as guras, identicando retas e planos e determinando sua posição
relativa.
É importante ilustrar casos de paralelismo em guras bem conhecidas, como
prismas e pirâmides.
Deve-se explorar bastante o conceito de semelhança, aproveitando para fazer
uma revisão de semelhança de guras planas. Atividades usando homotetia para
reduzir ou ampliar guras são também recomendadas.

11
Unidade 16 Problemas

16.4 Problemas

1. Seja ABCD um paralelogramo. Pelos vértices A, B , C e D são traçadas


retas não contidas no plano ABCD e paralelas entre si. Um plano α
corta estas retas em pontos A0 , B 0 , C 0 e D0 , situados no mesmo semi-
espaço relativo ao plano de ABCD, de modo que AA0 = a, BB 0 = b,
CC 0 = c e DD0 = d. Mostre que a + c = b + d.

2. Por um ponto qualquer da aresta AB de um tetraedro qualquer ABCD


é traçado um plano paralelo às arestas AC e BD. Mostre que a seção
determinada por este plano no tetraedro é um paralelogramo.

3. Considere um paralelepípedo ABCDEF GH . Quais são as diversas for-


mas possíveis para uma seção determinada no sólido por um plano con-
tendo a aresta AB ?

4. Seja ABCDEF GH um paralelepípedo tal que AB = AD = AE = 6.


Estude as seções determinadas neste paralelepípedo pelos planos denidos
pelos ternos de pontos (M, N, P ) abaixo:

(a) M = A, N = ponto médio de CG e P = ponto médio de DH


(b) M = A, N = C , P = ponto médio de F G
(c) M = A, N = ponto médio de CG e P = ponto médio de F G
(d) M = ponto médio de AE , N = ponto médio de BC , P = ponto
médio de GH

5. Mostre que duas retas distintas paralelas a uma mesma reta são paralelas
entre si.

6. Mostre que, por um ponto dado, passa um único plano paralelo a um


plano dado.

7. Sejam r e s retas do espaço concorrentes em P . Sejam r0 e s0 paralelas a


r e s, respectivamente, traçadas por um ponto Q. Mostre que os ângulos
formados por r e s são iguais aos ângulos formados por r0 e s0 .

12
Planos, Teorema de Tales, Sólidos Unidade 16

8. Considere dois planos α e β . Qual é o lugar geométrico dos pontos


médios dos segmentos cujos extremos estão em α e β , respectivamente?
Examine todas as possíveis posições relativas de α e β .

9. Dada uma reta r secante ao plano α e um ponto P exterior a r e a α,


diga como construir um segmento cujos extremos estão em r e α cujo
ponto médio seja P .

10. Dadas as retas reversas duas a duas r, s e t, encontrar uma reta que
as encontre nos pontos R, S e T , respectivamente, de modo que S seja
ponto médio de RT .

11. Uma câmera fotográca rudimentar pode ser construída fazendo um pe-
queno furo em uma caixa, de modo que imagens de objetos sejam for-
madas na parede oposta e registradas em um lme, como ilustrado na
gura 16.11.
Suponha que a câmara da gura tenha 10 cm de profundidade.

(a) Que dimensões terá a fotograa de uma janela de 3 m de compri-


mento e 1,5 m de largura, paralela ao plano do lme e situada a 6
m da câmera?
(b) Se uma pessoa tem 1,75 m de altura e o lme usado é de 35 mm
× 25 mm, a que distância mínima da câmera a pessoa deverá car
para que possa ser fotografada de corpo inteiro?

Figura 16.11:

13
17
Retas e Planos
Perpendiculares
Sumário
17.1 Retas Perpendiculares . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

17.2 Retas e Planos Perpendiculares . . . . . . . . . . . . 2

17.3 Problemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

1
Unidade 17 Retas Perpendiculares

17.1 Retas Perpendiculares

O conceito de perpendicularismo entre retas vem da Geometria Plana. Duas


retas concorrentes são perpendiculares quando se encontram formando quatro
ângulos iguais; cada um deles é chamado de ângulo reto. Naturalmente, esta
denição continua valendo para retas concorrentes do espaço.
Para estender o conceito para um par de retas quaisquer, consideramos duas
retas paralelas a elas conduzidas por um ponto arbitrário (gura 17.1).

Figura 17.1: Retas ortogonais.

Quando essas retas são perpendiculares, dizemos que as retas dadas inicial-
mente são ortogonais. Note que, de acordo com esta denição, retas perpendi-
culares são um caso particular de retas ortogonais.

17.2 Retas e Planos Perpendiculares

A gura 17.2 ilustra o conceito de perpendicularismo entre reta e plano.


Dizemos que uma reta é perpendicular a um plano quando ela é ortogonal a
todas as retas desse plano. Isto equivale a dizer que ela é perpendicular a todas
as retas do plano que passam pelo seu ponto de interseção com ele.
Baseados em nossa experiência, sabemos que por qualquer ponto de um
plano pode-se traçar uma única reta perpendicular a esse plano. Mas será que
é possível mostrar tal fato a partir das propriedades básicas desenvolvidas nos
capítulos anteriores?

2
Retas e Planos Perpendiculares Unidade 17

Figura 17.2: Retas perpendiculares a plano.

A resposta é armativa. O ponto crucial é estabelecer as condições mí-


nimas a serem obedecidas para que uma reta seja perpendicular a um plano.
É interessante deixar que os alunos as descubram por si próprios, através da
seguinte situação. Como conduzir uma reta perpendicular ao plano de uma mesa
utilizando um pedaço de papel que tem pelo menos um bordo reto, conforme
ilustrado na gura 17.3a?
A solução consiste em dobrar o papel ao longo deste bordo reto, desdobrá-lo
parcialmente e repousar os lados do ângulo formado pelo bordo sobre a mesa,
conforme mostra a gura 17.3b. A reta que contém o vinco do papel é perpen-
dicular ao plano da mesa. Vejamos como interpretar esta construção. Quando
dobramos o papel ao longo do bordo, fazemos com que os ângulos formados
pelo vinco e por cada semi-reta determinada no bordo sejam congruentes. Como
os dois ângulos somam 180o , cada um deles é reto. Logo, a reta que contém
o vinco é perpendicular ao bordo do papel. Quando repousamos o papel sobre
a mesa, a reta do vinco torna-se então perpendicular a duas retas concorrentes
do plano da mesa.

(a) (b)

Figura 17.3: Como achar uma reta perpendicular a um plano.


3
Unidade 17 Retas e Planos Perpendiculares

O que a construção acima sugere é o seguinte teorema:

Teorema 1 Se uma reta é ortogonal a duas retas concorrentes de um plano ela é


perpendicular ao plano (ou seja, ela forma ângulo reto com cada reta do plano).

Demonstração Sejam s e t duas retas de α que se encontram em A, ambas ortogonais a r.


Sem perda de generalidade, podemos supor que r passa por A (senão tomamos
uma paralela a r passando por A) (gura 17.4).

Figura 17.4: Condição para perpendicularismo.

Vamos mostrar que toda reta u de α passando por A é perpendicular a


r. Se u coincide com s ou t, então u é certamente perpendicular a r. Senão,
tomemos uma reta v de α tal que seu ponto de interseção U com u esteja entre
os pontos de interseção S e T com s e t. Em cada semiplano determinado por
α tomemos pontos A1 e A2 tais que AA1 = AA2 .
Os triângulos retângulos A1 AS e A2 AS são certamente iguais, já que
A1 A = A2 A e o cateto AS é comum. Logo, A1 S = A2 S . Analogamente,
os triângulos A1 AT e A2 AT são iguais, daí resultando A1 T = A2 T . Exa-
minando, então, os triângulos A1 ST e A2 ST , observamos que o lado ST é
comum e os demais lados são respectivamente iguais. Portanto, estes triângu-
los são iguais. Mas da igualdade de A1 ST e A2 ST resulta também a igualdade
de A1 SU e A2 SU (SU é comum, A1 S = A2 S e os ângulos A1 SU e A2 SU
são iguais). Logo, A1 U = A2 U e, daí, os triângulos A1 AU e A2 AU são iguais,
por possuírem lados respectivamente iguais. Mas isto acarreta a igualdade dos

4
Retas e Planos Perpendiculares Unidade 17

ângulos A1 AU e A2 AU . Como A1 , A e A2 são colineares, cada um daqueles


ângulos é necessariamente reto. Ou seja, u é perpendicular a r.

Assim, provamos que toda reta de α passando por A é perpendicular a r e


portanto, que r e α são perpendiculares. À primeira vista, a estratégia usada
na demonstração do teorema acima pode parecer articial (como saber que
deveríamos começar tomando pontos sobre r simétricos com relação a A?).
Ela reete, no entanto, a íntima relação entre perpendicularismo, congruência
e simetria. O uso de pontos simétricos em relação a A permitiu o uso de
congruência de triângulos para mostrar que r forma ângulos iguais com uma
reta arbitrária do plano, ou seja, que r é perpendicular a essa reta.
Com o auxílio do teorema acima, podemos, então, fazer duas construções
fundamentais:

Construção do plano perpendicular a uma reta por um

de seus pontos.

Seja r uma reta e A um de seus pontos (gura 17.5). Tomemos dois planos
distintos contendo r e, em cada um, tracemos a perpendicular a r passando por
A. Estas duas retas determinam um plano, que certamente é perpendicular a
r, já que r é perpendicular a duas retas concorrentes deste plano.

Figura 17.5: Construção de plano perpendicular a uma reta.

5
Unidade 17 Retas e Planos Perpendiculares

Construção da reta perpendicular a um plano por um de

seus pontos.

Consideremos um plano α e um ponto A em α. Tomemos duas retas con-


correntes s e t, ambas passando por A e contidas em α. Utilizando a construção
anterior, existem planos β e γ , contendo A e respectivamente perpendiculares
a s e t. A reta r de interseção de β e γ é perpendicular a s e a t, por estar
contida em planos respectivamente perpendiculares a cada uma delas. Logo, r
é perpendicular a α.

Figura 17.6: Contrução de reta perpendicular a um plano.

Acima, mostramos como construir um plano perpendicular a uma reta pas-


sando por um de seus pontos. Na verdade, aquele é o único plano perpendicular
à reta passando pelo ponto dado. Da mesma forma, a reta perpendicular a um
plano dado passando por um de seus pontos também é única. Outra observação
é que não é preciso, nos teoremas acima, exigir que o ponto dado pertença à
reta dada ou ao plano dado. Ou seja, por qualquer ponto do espaço passa um
único plano perpendicular a uma reta dada e uma única reta perpendicular a um
plano dado. Tudo isso é consequência dos seguintes fatos a respeito de retas e
planos perpendiculares (veja o exercício 2).
• Se uma reta é perpendicular a um plano, toda reta paralela a ela é também
perpendicular ao mesmo plano.

• Se um plano é perpendicular a uma reta, todo plano paralelo a ele é


também perpendicular à mesma reta.

• Se duas retas distintas são perpendiculares ao mesmo plano, elas são


paralelas entre si.

• Se dois planos distintos são perpendiculares à mesma reta, eles são para-
lelos entre si.
6
Retas e Planos Perpendiculares Unidade 17

17.3 Problemas

1. É verdade que duas retas distintas ortogonais a uma terceira são sempre
paralelas entre si?

2. Demonstre as seguintes propriedades:

(a) Seja r uma reta perpendicular ao plano α. Toda reta paralela a r é


perpendicular a α; todo plano paralelo a α é perpendicular a r.
(b) Duas retas distintas perpendiculares ao mesmo plano são paralelas
entre si. Dois planos distintos perpendiculares à mesma reta são
paralelos entre si.

3. O triângulo ABC , retângulo em A, está contido em um plano α. Sobre a


perpendicular a α traçada por C tomamos um ponto D. Por C traçamos,
por sua vez, as perpendiculares CE e CF a AD e BD, respectivamente.
Mostre que:

(a) AB é perpendicular a AD
(b) CE é perpendicular a EF
(c) DF é perpendicular a EF

4. Seja r uma reta do espaço e P um ponto exterior a r. Qual é o lugar


geométrico dos pés das perpendiculares traçadas de P aos planos que
contém r?

5. Que poliedro tem por vértices os centros das faces de um tetraedro regu-
lar? de um cubo? de um octaedro regular?

6. Sejam V A, V B e V C três segmentos mutuamente perpendiculares. Mostre


que a projeção de V sobre o plano ABC é o ortocentro do triângulo ABC .

7. Mostre que dois planos são perpendiculares se e só se duas retas respec-


tivamente perpendiculares a cada um deles são ortogonais.

8. Se um plano α contém uma reta perpendicular a um plano β , então o


plano β contém uma reta perpendicular ao plano α. Certo ou errado?

7
Unidade 17 Problemas

9. Dada uma reta r e um plano α, diga se é sempre possivel construir um


plano perpendicular a α contendo r.

8
18
Construções, Planos
Perpendiculares

Sumário
18.1 Construções Baseadas em Perpendicularismo de Reta

e Plano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

18.2 Planos Perpendiculares . . . . . . . . . . . . . . . . 8

18.3 Problemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

1
Unidade 18 Construções Baseadas em Perpendicularismo de Reta e Plano

18.1 Construções Baseadas em Perpendicu-


larismo de Reta e Plano

A noção de reta perpendicular a plano permite-nos acrescentar diversas

guras importantes à nossa coleção de guras espaciais.

Como vimos na demonstração do teorema a respeito das condições su-

cientes para perpendicularismo de reta e plano, a ideia de perpendicularismo

está estreitamente relacionada às ideias de simetria e congruência. Por essa

razão, guras construídas com auxílio de retas e planos perpendiculares são

ricas em propriedades a serem exploradas.

Construção de prismas retos.


Prismas retos são prismas obtidos tomando, para as arestas laterais, retas

perpendiculares ao plano da base (gura 18.1). Em consequência, as faces

laterais são retângulos. Há diversos casos particulares importantes. Quando a

base é um polígono regular obtemos um prisma regular. Quando a base é um


retângulo obtemos um paralelepípedo retângulo (ou bloco retangular), no qual
cada face é um retângulo (assim, um paralelepípedo retângulo é um prisma reto

onde qualquer face serve como base). Ainda mais especial é o caso do cubo
− ou hexaedro regular −, paralelepípedo retângulo no qual cada face é um

quadrado.

Figura 18.1: Um prisma hexagonal reto, um paralelepípedo, um cubo e um

cilindro de revolução.

De modo análogo, denimos cilindro reto como um cilindro no qual as ge-

ratrizes são perpendiculares ao plano da base. Um caso particular importante

2
Construções, Planos Perpendiculares Unidade 18

é o cilindro circular reto, no qual a base é um círculo. A reta perpendicular aos

planos das bases passando pelo centro do círculo é chamada de eixo do cilindro.
Um cilindro circular reto também é chamado de cilindro de revolução, pois é
o sólido gerado quando um retângulo faz um giro completo em torno do eixo

dado por um de seus lados.

Construção de pirâmides regulares.


São construídas tomando um polígono regular A1 A2 . . . An como base e es-

colhendo como vértice um ponto V situado sobre a perpendicular ao plano do

polígono conduzida pelo seu centro O (gura 18.2). Os triângulos retângulos

V OA1 , V OA2 , . . . , V OAn são triângulos retângulos iguais, por possuírem cate-
tos respectivamente iguais (V O é comum a todos e OA1 = OA2 = · · · = OAn ,

já que O é o centro do polígono). Em consequência V A1 = V A2 = · · · = V An ,

o que faz com que as faces laterais sejam triângulos isósceles iguais.

Podemos fazer uma construção análoga tomando como base um círculo e

como vértice um ponto situado sobre a perpendicular ao plano da base. A gura

assim obtida é chamada de cone circular reto. A reta que contém o vértice e

o centro da base é chamada de eixo do cone. Um cone circular reto também

é chamado de cone de revolução, por ser gerado pela rotação de um triângulo

retângulo em torno do eixo dado por um dos catetos.

Figura 18.2: Uma pirâmide quadrangular regular e um cone de revolução.

Construção de um tetraedro regular.


Consideremos uma pirâmide triangular regular de base ABC e vértice V.
Um tetraedro regular é obtido escolhendo o vértice V (sobre a perpendicular ao

3
Unidade 18 Construções Baseadas em Perpendicularismo de Reta e Plano

plano da base traçada por seu centro O) de modo que as arestas laterais V A,
VB e VC sejam iguais às arestas AB , AC e BC da base (gura 18.3). As

faces da pirâmide assim obtida são triângulos equiláteros iguais. Além disso,

se por A tomamos a perpendicular ao plano de V BC , que corta este plano


em P, os triângulos retângulos AP B , AP V e AP C são iguais, já que suas
hipotenusas são iguais e o cateto AP é comum a todos os três. Assim, temos

P B = P C = P V. Logo, P é o centro do triângulo equilátero V BC , o que faz

com que a pirâmide seja regular qualquer que seja a face tomada como base.

Figura 18.3: Um tetraedro regular.

A gura sugere que as retas VO e AP (isto é, as retas perpendiculares

a duas faces do tetraedro regular traçadas pelo vértice oposto a cada uma

destas faces) sejam coplanares. De fato isto ocorre. Consideremos o plano α


determinado pela reta V O e pelo vértice A. Este plano corta o plano da base
ABC segundo a reta AO. Mas como ABC é um triângulo equilátero de centro
O, AO corta o lado BC em seu ponto médio M . Logo, a altura V M da face
V BC está contida no plano α; em particular, o ponto P , que é o centro de
V BC , está neste plano. Logo, a reta V P está contida em α, o que mostra que
V P e AO são concorrentes. Como os pontos de V O são equidistantes de A, B
e C e os pontos de AP são equidistantes de V , B e C , o ponto de interseção de

V O e AP é um ponto equidistante dos quatro vértices do tetraedro, chamado


de centro do tetraedro. O argumento acima mostra, na realidade, que as quatro

perpendiculares traçadas de cada vértice à face oposta passam todas pelo ponto

O.

4
Construções, Planos Perpendiculares Unidade 18

Construção de um octaedro regular


Um octaedro regular pode ser construído a partir de três segmentos iguais e

mutuamente perpendiculares AB , CD e EF que se cortam no ponto médio O


de cada um deles (gura 18.4). Os segmentos denidos por estes pares de pon-

tos (exceto os que denem os segmentos originais) são todos iguais. Traçando

todos estes segmentos obtemos um poliedro com oito faces triangulares re-

gulares, chamado de octaedro regular. Um octaedro regular pode ser também

obtido tomando duas pirâmides quadrangulares regulares iguais em que as faces

laterais são triângulos equiláteros e justapondo estas pirâmides através de suas

bases.

Figura 18.4: Um octaedro regular.

O tetraedro regular, o hexaedro regular e o octaedro regular são exemplos de

poliedros regulares. Um poliedro regular é um poliedro em que todas as faces são

polígonos regulares iguais e todos os vértices são incidentes ao mesmo número

de arestas. Como veremos posteriormente, é possível demonstrar que, além

dos três poliedros regulares apresentados acima, existem apenas dois outros: o

dodecaedro regular, com 12 faces pentagonais, e o icosaedro regular, com 20

faces triangulares.

Projeções ortogonais.
A projeção ortogonal de um ponto P do espaço sobre um plano α é o ponto
P0 em que a perpendicular a α traçada por P corta α. A projeção ortogonal

de uma gura qualquer F é obtida projetando-se cada um de seus pontos.

5
Unidade 18 Construções Baseadas em Perpendicularismo de Reta e Plano

Figura 18.5: Projeção ortogonal.

Uma ou mais projeções ortogonais são frequentemente utilizadas como

forma de representar guras espaciais no plano. Em Desenho Técnico, por

exemplo, é comum representar sólidos (que podem ser, por exemplo, peças

mecânicas) através de três vistas ortográcas: frontal, topo e perl, que são

o resultado de projetar as guras em três planos denidos dois a dois por três

eixos mutuamente perpendiculares. A vista frontal, por exemplo, mostra como

um observador situado à frente do objeto e innitamente distante do objeto, o

veria. As demais vistas têm interpretações análogas.

A gura 18.6 mostra um sólido e suas vistas. Nestas vistas são desenhadas

as projeções ortogonais das arestas do sólido. Observe que alguns segmentos são

representados em tracejado. Isto signica que eles são obscurecidos por alguma

face do sólido (isto é, existe algum ponto do objeto, situado mais próximo do

observador, cuja projeção está sobre o segmento).

Figura 18.6: Um sólido e suas vistas.

Pedir que o aluno desenhe vistas de sólidos é uma excelente forma de desen-

volver sua visão espacial. Um exercício ainda mais interessante é o de resgatar

um sólido a partir de suas vistas.

6
Construções, Planos Perpendiculares Unidade 18

Simetria e reexão
O simétrico de um ponto P em relação a um plano α é o ponto P0 obtido

através da seguinte construção (gura 18.7). Conduzimos por P a reta perpen-


0
dicular a α, α em Q. O ponto P é o ponto sobre o prolongamento
que corta
0 0
de P Q tal que QP = P Q (isto é, P é o simétrico de P em relação a Q). O
0
ponto resultante P pode ser interpretado como sendo a imagem do ponto P

reetida em um espelho plano coincidente com α.

Figura 18.7: Simetria em relação a um plano.

Este é um bom momento para observar que também na Geometria (como

em toda a Matemática), podemos fazer bom uso do conceito de função. Se

designamos por E o conjunto dos pontos do espaço, a função R : E → E


0
que associa a cada ponto P do espaço o seu simétrico P em relação a α é

chamada de simetria ou reexão em torno de α. Funções que associam pontos

do espaço a pontos do espaço são muitas vezes chamadas de transformações

do espaço. Reexões são exemplos de isometrias, isto é, de transformações do

espaço que têm a propriedade de que a distância entre as imagens de dois pontos

quaisquer é igual à distância entre os dois pontos (dizemos, por esse motivo,

que isometrias preservam distâncias). O livro Isometrias, de Elon Lages Lima,

da Coleção do Professor de Matemática da SBM, é uma ótima referência para

um estudo da Geometria sob o ponto de vista das transformações do espaço.

Sistema de coordenadas tridimensionais.


Um sistema de coordenadas para o espaço é construído a partir de três eixos

mutuamente perpendiculares e com uma origem comum. Para construir um tal

7
Unidade 18 Planos Perpendiculares

sistema, basta tomar duas retas perpendiculares contidas em um certo plano e

conduzir a reta perpendicular a este plano passando pelo ponto de interseção das

retas. As coordenadas de um ponto P qualquer do espaço são obtidas através

da interseção com cada eixo do plano que passa por P e é perpendicular ao

eixo. Isto também equivale a obter a projeção ortogonal de P sobre os planos

denidos por cada par de eixos e, a seguir, projetar os pontos obtidos sobre

cada eixo.

Figura 18.8: Sistema de coordenadas tridimensionais.

18.2 Planos Perpendiculares

Tomemos dois planos secantes α e β e tracemos um plano γ perpendicular à


sua reta r de interseção, que corta α e β segundo as retas s e t. O ângulo entre s

e t não depende da posição escolhida para γ (todos os planos perpendiculares a

r são paralelos entre si e, portanto, cortam α e β segundo retas respectivamente


paralelas). Quando s e t formam um ângulo reto, dizemos que os planos α e β

são perpendiculares (gura 18.9).

Figura 18.9: Planos perpendiculares.

8
Note que se α e β são perpendiculares então a reta r de α é perpendicular

às retas s e t de β. Logo, r é uma reta de α que é perpendicular a β. Na

verdade, a existência em um plano de uma reta perpendicular a um outro é

condição necessária e suciente para que os planos sejam perpendiculares.

Dois planos α e β são perpendiculares se e somente se um deles contém Teorema 1


uma reta perpendicular ao outro.

Se α e β são perpendiculares então certamente existe uma reta de α Demonstração


perpendicular a β, conforme explicamos no parágrafo anterior. Por outro lado,

suponhamos que uma reta r


α seja perpendicular a β (gura 10). O plano α
de

corta β segundo uma reta t, que é perpendicular a r . Pelo ponto de interseção de

r e t traçamos a reta s, contida em β e perpendicular a t. O plano denido por


r e s é perpendicular a t, já que contém duas retas que lhe são perpendiculares.
Logo, o ângulo formado por α e β é, por denição, o ângulo formado por r e

s. Mas r e s são perpendiculares, já que r é perpendicular a β . Portanto, α e


β são de fato perpendiculares.

Nos exemplos vistos no nal da seção anterior aparecem vários pares de

planos perpendiculares. Em cada caso, o argumento para justicar o perpen-

dicularismo entre os planos consiste em identicar uma reta em um dos planos

que seja perpendicular ao outro e aplicar o teorema anterior.

Assim, as faces laterais de um prisma reto são perpendiculares ao plano

da base, já que cada face lateral contém uma aresta lateral perpendicular à

base. O plano contendo as alturas V O e AP do tetraedro regular V ABC é


perpendicular às faces ABC e V BC , já que as alturas são perpendiculares às
respectivas bases. Os planos denidos por cada par de eixos em um sistema de

eixos ortogonais tridimensional são mutuamente perpendiculares, já que cada

um desses planos contém um eixo que é perpendicular a cada um dos outros

dois e, em consequência, ao plano formado por eles.

9
Unidade 18 Planos Perpendiculares

Figura 18.10: Critério de perpendicularismo de planos.

Na Sala de Aula Atividade

O professor pode explorar o perpendicularismo de retas e planos no mundo

que cerca o aluno: paredes, encontro de paredes, etc.

Devem ser feitos exercícios com vistas de objetos tridimensionais, quer

pedindo aos alunos que desenhem as vistas de um objeto, quer pedindo que

eles reconheçam objetos a partir de suas vistas.

10
Construções, Planos Perpendiculares Unidade 18

18.3 Problemas

1. Mostre que um plano é perpendicular a dois planos secantes se e somente

se ele é perpendicular à reta de interseção dos dois planos.

2. Em um cubo ABCDEF GH mostre que os planos diagonais ABHG e

EF DC são perpendiculares.

3. Desenhe as vistas frontal, superior e de perl dos sólidos abaixo.

Figura 18.11

4. Desenhe um sólido cujas vistas frontal, superior e de perl sejam as dadas

na gura 18.12, abaixo.

Figura 18.12

11
Unidade 18 Problemas

5. A gura 18.13, abaixo, representa as vistas frontal e superior de um sólido.

Que sólidos você consegue imaginar que tenham essas vistas? Para cada

caso, forneça a vista de perl.

Figura 18.13

6. Dizemos que um plano α é um plano de simetria de uma gura F quando


a imagem de F pela reexão em torno de α é igual a F . Encontre os

planos de simetria (se existirem) das seguintes guras

(a) cubo

(b) tetraedro regular

(c) pirâmide quadrangular regular

(d) cilindro de revolução

(e) cone de revolução

7. Dado um ponto P = (x, y, z) em um sistema de coordenadas ortogonais,


encontre as coordenadas:

(a) da projeção de P no plano xy


(b) da projeção de P no eixo Oz
(c) do simétrico de P em relação ao plano xz

8. A gura 18.14, abaixo, mostra a planta de um quarto, com pé direito igual

a 3m. Deseja-se instalar um o conectando uma lâmpada, localizada no

centro do teto, ao interruptor, situado a 80 cm de altura, junto à porta

indicada na planta (cuja altura é 1,95 m).

Determine o comprimento de o necessário nos seguintes casos:

12
Construções, Planos Perpendiculares Unidade 18

Figura 18.14

(a) O o deve se manter, tanto no teto como na parede, paralelo a uma

das três direções principais.

(b) O o, na parede, deve car colocado segundo a vertical.

(c) O o pode car em qualquer posição na parede e no teto.

13
19
Distâncias
Sumário
19.1 Distância Entre Dois Pontos . . . . . . . . . . . . . 2

19.2 Distância de Ponto a Plano . . . . . . . . . . . . . . 3

19.3 Distância de Ponto a Reta . . . . . . . . . . . . . . 5

19.4 Distância Entre Retas Reversas . . . . . . . . . . . 8

19.5 Problemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

1
Unidade 19 Distância Entre Dois Pontos

19.1 Distância Entre Dois Pontos

A distância entre dois pontos AeB é simplesmente a medida do segmento

AB . No plano, a distância entre dois pontos é frequentemente obtida utilizando

o Teorema de Pitágoras. Isto ocorre porque muitas vezes dispomos das medidas

das projeções de um segmento segundo duas direções perpendiculares. Esta

situação frequentemente ocorre também no espaço. Novamente, a ferramenta

a utilizar é o Teorema de Pitágoras.

Diagonal de um paralelepípedo

Consideremos o problema de calcular a diagonal BH = d de um par-


alelepípedo retângulo ABCDEF GH de arestas AB = a, AD = b e AE = c
(gura 19.1). Resolvemos o problema utilizando o Teorema de Pitágoras nos

triângulos retângulos ABD e BDH (este segundo triângulo é retângulo porque

BH é perpendicular ao plano da base e, assim, perpendicular à reta BD que

está contida nesta base).

Temos: BD2 = a2 + b2 (no triângulo ABD) e d2 = BD2 + c2 (no triângulo


2 2 2 2
BDH ). Logo, d = a + b + c .

Em particular, a diagonal de um cubo de aresta a mede d = a 3.

Figura 19.1: Diagonal de um paralelepípedo.

2
Distâncias Unidade 19

Plano mediador

Qual é o lugar geométrico dos pontos do espaço que são equidistantes de

dois pontos dados A e B?

Figura 19.2: O plano mediador.

Sabemos que, no plano, o conjunto dos pontos equidistantes de A e B é a

reta mediatriz de AB ; isto é, a perpendicular a AB passando pelo seu ponto

médio M. A situação é análoga no espaço.

Um ponto P do espaço é equidistante de A eB se e somente se PM é


perpendicular a AB (gura 19.2). De fato, se PM é perpendicular a AB ,

os triângulos retângulos P M A e P M B são iguais, por possuírem um cateto


comum P M e catetos iguais M A e M B ; assim, P A = P B . Por outro lado, se

P A = P B , então os triângulos P AM e P BM são iguais, por possuírem lados


respectivamente iguais; logo, os ângulos P M A e P M B são iguais e, portanto,

retos. Provamos, então, que os pontos do espaço equidistantes de A e B são

todos aqueles pontos P tais que a reta P M é perpendicular a AB . Mas estes

são exatamente os pontos do plano que passa por M e é perpendicular a AB ;

este é o chamado plano mediador de AB .

19.2 Distância de Ponto a Plano

A distância de um ponto P a um plano α é denida como o comprimento

do segmento de perpendicular traçada de P a α. Note que se R é um outro


ponto qualquer do plano, o triângulo P QR é retângulo e tem P Q como cateto

3
Unidade 19 Distância de Ponto a Plano

e PR como hipotenusa. Assim, o comprimento da perpendicular PQ é menor

que o comprimento de qualquer oblíqua P R.

Figura 19.3: Distância de ponto a plano.

Se uma reta r é paralela a um plano (gura 19.4a), todos os seus pontos

estão a igual distância do plano. De fato, se de dois pontos P1 e P2 da reta

r α traçamos as perpendiculares P1 Q1 e P2 Q2 a
paralela a obtemos um α,
retângulo P1 P2 Q2 Q1 . Logo, P1 Q1 = P2 Q2 .

Analogamente, se β é um plano paralelo a α, todos os seus pontos estão à

mesma distância d de α (gura 19.4b). O número d é a distância entre os planos

α e β . Note que d é igual ao comprimento do segmento determinado pelos


planos em qualquer reta perpendicular a ambos. Note também que qualquer

segmento de extremos em α e β tem comprimento maior do que ou igual a d.

(a) (b)

Figura 19.4: Paralelismo e distância.

Exemplo 1 Em um tetraedro regular ABCD de aresta a, qual é a distância do vértice

A ao plano BCD ? (Isto é, qual é altura do tetraedro?)

4
Empregamos, mais uma vez o teorema de Pitágoras. Seja H a projeção de

A sobre o plano BCD (gura 19.5). Já vimos antes que o ponto H é o centro

do triângulo equilátero BCD. Examinemos o triângulo retângulo AHB . O

lado AB é a aresta do tetraedro; logo, AB = a. O lado HB é o raio do círculo

circunscrito no triângulo equilátero de lado a; logo



a 3
HB = .
3
Temos, então:

 √ 2 √
2 a 3 a 6
AH + = a2 e, daí, AH = .
4 3

Figura 19.5: Altura de tetraedro regular.

Na gura representamos não somente o triângulo AHB mas a seção com-

pleta (o triângulo ABM ) determinada no tetraedro regular pelo plano que o


contém. O ponto M é o ponto médio da aresta CD . No triângulo ABM

aparecem quase todos os elementos métricos importantes do tetraedro regular.

Além da altura do tetraedro (que é a altura relativa a A do triângulo ABM ),


nele aparecem o ângulo entre duas faces, o ângulo entre uma aresta e uma face,

a distância entre arestas opostas e os raios das esferas inscrita, circunscrita e

tangente às arestas do tetraedro.

19.3 Distância de Ponto a Reta

Dado um ponto P e uma retar do espaço, o ponto Q em que a reta r corta


o plano perpendicular a r passando por P é chamado de projeção ortogonal

5
de P sobre r (gura 19.6). O comprimento do segmento P Q é a distância
de P a r . Quando P não pertence à reta r , os pontos P e Q são distintos e

P Q é a única reta perpendicular a r traçada por P (P e r denem um único


plano e, neste plano, P Q é a única perpendicular a r passando por P ). Se R é

um outro ponto qualquer de r , o triângulo P QR tem hipotenusa P R e cateto

P Q; logo P Q < P R (isto é, o comprimento da perpendicular é menor que o


comprimento de qualquer oblíqua).

Assim, o cálculo da distância de um ponto a uma reta envolve o traçado

da perpendicular à reta passando pelo ponto. Uma situação muito comum é

aquela onde a reta r esteja situada sobre um plano de referência (por exemplo,

o plano do chão). Nestas situações, é muitas vezes desejável que a construção

da reta perpendicular se apoie em elementos deste plano de referência. Isto se

torna simples com o auxílio do chamado Teorema das Três Perpendiculares.

Figura 19.6: Distância de ponto a reta.

Teorema 1 Se por um ponto P traçamos a perpendicular P P 0 ao plano α e por um


0
ponto qualquer Q de α traçamos a reta r perpendicular a P Q, então a reta

P Q é perpendicular a r.

Demonstração Basta observar que as retas PP0 P 0 Q são ambas ortogonais a r, já que
e

P P 0 é perpendicular a um plano contendo r e P 0 Q é perpendicular a r. Logo, o


plano denido por essas retas é perpendicular a r e, portanto, a reta P Q desse

plano é perpendicular a r .

6
Distâncias Unidade 19

Observe que a distância de P a r (isto é, o comprimento do segmento P Q)


pode ser calculada com o auxílio do Teorema de Pitágoras, uma vez conhecidos

os comprimentos dos segmentos PP0 (distância de P a α) e P 0Q (distância


0
de P à reta r). Em muitos problemas práticos, estas duas últimas distâncias

são fáceis de calcular, bastando escolher sabiamente o plano de referência

contendo r.

Figura 19.7: Teorema das Três Perpendiculares.

Considere um paralelepípedo retângulo ABCDEF GH em que AB = 15, Exemplo 2


AD = 20 e AE = 16 (gura 19.8). Qual a medida do menor segmento que

liga o vértice E a um ponto da reta BD ?

A perpendicular baixada de E ao plano ABCD corta esse plano em A; daí,

AM a BD. Pelo teorema das três perpendiculares,


traçamos a perpendicular

EM é perpendicular a BD e é, portanto, o menor segmento que liga E a BD.


Para calcular seu comprimento, trabalhamos em dois triângulos retângulos. No

triânguloABD, conhecemos os catetos AB = 15 e AD = 20; daí, obtemos a

hipotenusa BD = 25 e a altura

15 × 20
AM = = 12.
25

No triângulo EAM são conhecidos os catetos EA = 16 e AM = 12. Daí,

obtemos a hipotenusa EM = 20.

7
Unidade 19 Distância Entre Retas Reversas

Figura 19.8

19.4 Distância Entre Retas Reversas

Vimos acima diversos casos em que denimos a distância entre duas guras

− isto é, dois conjuntos de pontos − do espaço. Todos estes casos são situações

particulares abrangidas pela seguinte denição: dadas duas guras F1 e F2 ,


denimos a distância entre F1 e F2 como o comprimento do menor segmento
que tem extremos em F1 e F2 . Por exemplo, a distância de um ponto a um
plano foi denida de modo a ser, de fato, o comprimento do menor segmento

com um extremo no ponto dado e outro no plano.

Vamos empregar esta denição para um par de retas do espaço. Segundo

esta denição, a distância entre duas retas concorrentes (ou coincidentes) é

igual a zero. Se as retas são paralelas (logo coplanares), ocorre uma situação

já estudada na Geometria Plana: cada ponto da primeira reta está a uma

distância constante da segunda. Esta distância constante (que é o comprimento

do segmento determinado por qualquer perpendicular a ambas) é a distância

entre as retas.

O caso mais interessante ocorre quando as duas retas são reversas. Também

neste caso o segmento de comprimento mínimo é dado por uma reta perpen-

dicular a ambas; mas agora existe uma só perpendicular comum às duas retas.

Veremos, a seguir, como construir esta perpendicular comum.

8
Construção da perpendicular comum a duas retas rever-
sas.

Começamos por traçar o par de planos paralelos αeβ (gura ??) contendo

cada uma das retas (para obter tais planos basta construir, por um ponto de

cada uma das retas, uma paralela à outra). A seguir, por um ponto A1 qualquer

de r traçamos uma reta t, perpendicular ao plano β , que o corta em B1 . Por


B1 , traçamos a paralela r0 a r. A reta r0 está contida em β e corta s no ponto
B2 . Finalmente, por B2 traçamos a reta t0 paralela a A1 B1 . Note que as retas
t0 , t, r e r0 estão todas em um mesmo plano. Logo, t0 corta r em um ponto
A2 . A reta t0 forma ângulo reto com r e s (por ser perpendicular aos planos α
e β ) e é concorrente com ambas. E, portanto, uma perpendicular comum a r

e s.

Figura 19.9: Perpendicular comum a duas retas reversas.

A perpendicular comum A2 B2 entre as reversas r e s construída acima é

única; basta observar que se existisse outra perpendicular comum CD, ela seria
necessariamente paralela a A2 B2 , por serem ambas perpendiculares aos planos
α e β . Mas assim os pontos C , D, A2 e B2 estariam todos no mesmo plano.
Desta forma, as retas r e s seriam coplanares, o que é uma contradição.

Como a perpendicular comum a r e s é também a perpendicular comum

aos planos α e β, o comprimento do segmento por ela determinado é o menor

comprimento possível de um segmento cujos extremos sejam quaisquer pontos

de α e β. Em particular, como r e s estão respectivamente contidas em α e

β, qualquer segmento com extremos nesta reta terá comprimento maior que

9
Unidade 19 Distância Entre Retas Reversas

o segmento da perpendicular comum. Logo, o comprimento do segmento da

perpendicular comum exprime a distância entre as duas retas.

Exemplo 3 A gura 19.10 mostra uma ilustração de uma sala. A reta AB (determinada
pelo encontro de duas paredes) é a perpendicular comum às retas reversas AC

e BD.

Figura 19.10

10
19.5 Problemas

1. Mostre que as arestas opostas de um tetraedro regular são ortogonais.

2. Considere os pontos médios das arestas BC , CD, BF , DH , EF e EH


de um cubo. Mostre que esses seis pontos estão no mesmo plano.

3. Qual é o lugar geométrico dos pontos equidistantes de três pontos não

colineares?

4. Qual é o lugar geométrico dos pontos equidistantes de dois planos secantes

dados? E se os planos forem paralelos?

5. As moléculas de metano (CH4 ) têm o formato de um tetraedro regular,

com um átomo de hidrogénio em cada vértice, cada um deles ligado ao

átomo de carbono no centro do tetraedro. Calcule o ângulo formado por

duas dessas ligações.

6. Sejam r e s M N o segmento da per-


duas retas reversas ortogonais e

pendicular comum. Tomam-se um ponto A sobre r e um ponto B sobre

s. Calcular o comprimento do segmento AB em função de M A = a,


N B = b e M N = c.

7. Mostre que a reta que une os pontos médios de duas arestas opostas de

um tetraedro regular é a perpendicular comum a elas.

8. Qual é a seção determinada em um tetraedro regular ABCD por um

plano paralelo às arestas AB e CD e passando pelo ponto médio da

aresta AC ?

9. Em um tetraedro regular de aresta a, calcule os raios das esferas circun-

scrita, inscrita e tangente às arestas.

10. Em um octaedro regular de aresta a, calcule os raios das esferas circun-

scrita, inscrita e tangente às arestas.

11. Quatro esferas de raio 1 são tangentes entre si exteriormente três a três

e tangenciam internamente uma esfera de raio R. Determine R.

11
20
Ângulos, Esfera

Sumário
20.1 Ângulo Entre Retas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

20.2 Ângulo Entre Planos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

20.3 Ângulo Entre Reta e Plano . . . . . . . . . . . . . . 3

20.4 A Esfera . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

20.5 Problemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

1
Unidade 20 Ângulo Entre Retas

20.1 Ângulo Entre Retas

Já vimos como podemos medir ângulo entre retas quaisquer no espaço:

basta tomar duas retas paralelas a elas passando por um ponto arbitrário. O

ângulo formado por essas retas concorrentes é o ângulo formado pelas retas

dadas inicialmente. Convém lembrar, da Geometria Plana, que o ângulo for-

mado por duas retas concorrentes é denido como o menor dos quatro ângulos
o
que elas formam; está, portanto, compreendido entre 0 (quando as retas são
o
paralelas ou coincidentes) e 90 (quando as retas são ortogonais).

20.2 Ângulo Entre Planos

Ao denir planos perpendiculares já introduzimos a forma pela qual o ângulo

entre dois planos α e β é medido. Quando α e β são secantes, traçamos um

plano γ perpendicular à reta de interseção de α e β, que corta α e β segundo

as retas r e s, respectivamente (gura 20.1). A medida do ângulo entre os

planos é, por denição, igual à medida do ângulo entre as retas r e s (é, assim,
o o
um valor entre 0 e 90 ). Note que este ângulo é o mesmo qualquer que seja

o plano γ: todos os planos perpendiculares à reta de interseção de α e β são

paralelos entre si, determinando com αeβ retas de interseção respectivamente

paralelas.

Figura 20.1: Ângulo entre planos.

Tomemos agora um ponto A qualquer sobre o plano γ e dele traçamos as


0 0
retas r e s perpendiculares a α e β. Estas retas estão contidas em γ e são

2
Ângulos, Esfera Unidade 20

perpendiculares a r e s, respectivamente. Portanto, o ângulo formado por r0 e s0


é igual ao ângulo formado por r e s, que por sua vez é igual ao ângulo formado

pelos planos. Ou seja, demonstramos que o ângulo formado por dois planos é
igual ao ângulo formado por duas retas respectivamente perpendiculares a estes
planos.
Convém aproveitar a ocasião para falar em medida de um diedro. Um

diedro (ou ângulo diedro) é a gura formada por dois semiplanos − chamados

de faces do diedro − limitados pela mesma reta, chamada de aresta do diedro

(gura 20.2). Para medir um diedro, conduzimos um plano perpendicular à

aresta e medimos o ângulo entre as semirretas determinadas em cada face.


o o
Observe que a medida de um ângulo diedro pode variar entre 0 e 180 . Note

também que o ângulo entre dois planos secantes é igual à medida do menor

diedro formado por eles.

Figura 20.2: Medida de um diedro.

20.3 Ângulo Entre Reta e Plano

Vejamos agora como denir o ângulo entre uma reta e um plano. Natu-
o
ralmente, este ângulo deverá ser igual a 90 quando a reta é perpendicular ao

plano e deverá ser igual a zero quando a reta está contida no plano ou é paralela

a ele. Se uma reta r é oblíqua a um plano α, denimos o ângulo entre r e α


como o ângulo que r α (gura 20.3).
forma com sua projeção ortogonal sobre

Consideremos agora uma reta qualquer s contida no plano α e vamos com-


0
parar o ângulo θ formado por r e s com o ângulo θ formado por r e α. Podemos

supor que s passa pelo ponto O em que r corta α. Por um ponto P de s ex-

terior a α tracemos a perpendicular P Q ao plano α e a perpendicular P R à

3
Unidade 20 Ângulo Entre Reta e Plano

Figura 20.3: Ângulo entre retas e plano.

reta s. Os triângulos retângulos OQP


ORP têm a hipotenusa comum OP ,
e
0
enquanto os catetos opostos aos ângulos θ e θ são tais que P R > P Q. Em
0 0
consequência, sen θ > sen θ e, assim, θ > θ . Além disso, a igualdade só

ocorre quando a reta s é a projeção ortogonal de r sobre α. Portanto, o ângulo

entre uma reta r e um plano é igual ao menor ângulo formado por r e uma reta
qualquer do plano.

Exemplo 1 A gura 20.4 abaixo mostra a planta do telhado de uma casa. Cada plano

contendo uma porção do telhado é chamado de água; o telhado da gura,

portanto, possui 4 águas. Ao longo da reta de interseção de duas águas corre


o
uma calha. Sabendo que cada água é inclinada de 30 em relação à horizontal,

qual é a inclinação em relação à horizontal da calha AM assinalada na gura?

Figura 20.4: Telhado com 4 águas

A gura 20.5 mostra uma vista em perspectiva do telhado, no qual estão

representados os pontos P , Q e R, obtidos, respectivamente, projetando o


ponto M sobre as beiradas AB e AD do telhado e sobre o plano ABCD . Os

ângulos que as águas ABM e ADM N formam com a horizontal são iguais,

4
Ângulos, Esfera Unidade 20

respectivamente, aos ângulos MP R M QR. Como estes ângulos são ambos


e
o
iguais a 30 , os triângulo retângulos M QR e M P R são iguais, já que possuem

um cateto comum M R. Assim, designando a menor dimensão do retângulo

ABCD, por 2a temos:



3
RP = RQ = a e M R = RQ tg 30o = a .
3
O ângulo α que a reta AM forma com o plano horizontal é igual ao ân-

gulo RAM do triângulo retângulo M AR, do qual conhecemos os catetos MR


(calculado acima) e AR (diagonal do quadrado AP RQ). Assim:


a 3

MR 6
tg α= = √3
= e = 22o
α∼
AR a 2 6

Figura 20.5: Vista em perspectiva do telhado

20.4 A Esfera

A superfície esférica (ou simplesmente esfera) de centro O e raio R é o

conjunto dos pontos do espaço cuja distância a O é igual a R. A esfera é o

análogo tridimensional do círculo, inclusive na ambiguidade de terminologia: a

palavra esfera tanto pode ser usada para se referir à superfície esférica quanto

ao sólido por ela determinado.

A posição de um ponto em relação a uma esfera é determinada pela sua

distância ao centro da esfera. Assim, pontos cuja distância ao centro seja menor

5
Unidade 20 A Esfera

que, maior que, ou igual ao raio são, respectivamente, interiores, exteriores ou

estão sobre a superfície da esfera.

Da mesma forma, a posição de uma reta ou plano em relação a uma esfera é

determinada pela distância do centro a esta reta ou plano. Quando a distância

é maior que o raio, temos uma reta ou plano exterior à esfera (ou seja, sem

pontos de interseção com a esfera). Uma reta ou plano cuja distância ao

centro seja exatamente igual ao raio é tangente à esfera; isto é, tem apenas um

ponto em comum com a esfera (gura 20.6). Este ponto é justamente o pé da

perpendicular conduzida do centro da esfera a esta reta ou plano. Finalmente,

se a distância ao centro é menor que o raio, a reta ou plano é secante à esfera.

Figura 20.6: Uma esfera, um plano tangente e duas retas tangente.

A interseção de uma reta secante com a esfera é um par de pontos, enquanto

um plano secante corta a esfera segundo um círculo. De fato, os pontos de

interseção de um plano com uma esfera são os pontos P do plano cuja distância
P O ao centro O da esfera é igual a seu raio R. Seja Q o pé da perpendicular
baixada de O ao plano α (gura 20.7). Qualquer que seja o ponto P em α,
2 2 2
o triângulo P OQ é retângulo em Q. Logo, P O = P Q + OQ e, assim,

P O = R se e somente se P Q2 = R2 − d2 , onde d = OQ é a distância de O a


α. Portanto, quando d < R, os pontos de α que estão na esfera se encontram

em um círculo de centro Q e raio R2 − d2 . Observe que esse raio é máximo
quando d = 0 (isto é, quando o plano contém o centro da esfera). Círculos

assim obtidos são chamados de círculos máximos da esfera e têm o mesmo

centro e o mesmo raio que a esfera.

6
Ângulos, Esfera Unidade 20

Figura 20.7: Plano secante a uma esfera.

Calcule o raio das esferas circunscrita, inscrita e tangente às arestas a um Exemplo 2


cubo de aresta a.

Em qualquer paralelepípedo, todas as diagonais (isto é, os segmentos que

ligam vértices opostos) têm um ponto comum, que é o ponto médio de cada

uma delas (basta observar que as diagonais de um paralelepípedo são, duas a

duas, diagonais de paralelogramos. O ponto de interseção das diagonais é, na

verdade, o centro de simetria do paralelepípedo. Se o paralelepípedo é retângulo,

todas as diagonais têm o mesmo comprimento; logo, existe uma esfera centrada

nesse ponto e que passa por todos os vértices. Essa esfera é chamada de

esfera circunscrita ao paralelepípedo. No caso do cubo, o centro é também

equidistante das 6 faces e equidistante das 12 arestas. Logo, com o mesmo

centro, existe também uma esfera tangente às faces (que é a esfera inscrita no

cubo) e uma esfera tangente às arestas. É fácil ver que os raios das esferas

circunscrita, inscrita e tangente às arestas do cubo têm raios respectivamente

iguais à metade de uma diagonal, à metade da aresta e à metade da diagonal

de uma face (gura 20.8). Logo, esses raios são respectivamente:

√ √
a 3 a a 2
R= , r= e r0 = .
2 2 2

7
Unidade 20 A Esfera

Figura 20.8: As esferas associadas a um cubo.

Na Sala de Aula Atividades

Problemas envolvendo cálculo de ângulos e distâncias são uma ótima forma

de xar as noções fundamentais de Geometria no Espaço. É especialmente in-

teressante formular problemas em que as guras representem objetos do mundo

real ou modelos que os alunos possam construir (veja os exercícios 5 e 6).

Assim como na Geometria Plana o aluno toma contato com as circunfer-

ências inscrita e circunscrita a certos polígonos, é natural estender esse con-

ceito para buscar esferas inscrita e/ou circunscrita aos poliedros estudados. A

denição de esfera pode ser introduzida a qualquer momento. Ela é a mesma

denição de circunferência no plano. Relacionar esferas com os sólidos em es-

tudo é uma excelente forma de desenvolver o raciocínio e a visão espacial dos

alunos, porque, não podendo representá-la de forma conveniente em um de-

senho, serão forçados a utilizar sua denição em situações que não poderão

desenhar. Vejamos as principais situações.

1. No cubo, os alunos devem identicar as 4 diagonais, calcular o compri-

mento e concluir que elas se cortam no centro do cubo, como zemos no

exemplo acima. Esta é uma primeira e natural situação para introduzir

a esfera circunscrita, porque ca claro que esse ponto equidista de todos

os vértices. É também fácil concluir que o centro do cubo equidista de

todas as faces, introduzindo aí a esfera inscrita.

2. No paralelepípedo retângulo, os alunos devem calcular o comprimento de

uma diagonal, concluir que as 4 diagonais têm um ponto comum (o centro

do paralelepípedo) e que esse ponto é médio de cada uma delas. Ficará

8
Ângulos, Esfera Unidade 20

então claro que o paralelepípedo retângulo possui uma esfera circunscrita

cujo raio é a metade de uma diagonal. A existência de uma esfera inscrita

deve ser questionada e os alunos deverão concluir que essa esfera existe

se, e somente se, o paralelepípedo retângulo for um cubo.

3. Ainda falando sobre o paralelepípedo retângulo o professor deve explorar

ângulos: o ângulo de uma diagonal com uma aresta, o ângulo de uma

diagonal com uma face e o ângulo entre duas diagonais. São exercícios

interessantes e que vão requerer uma revisão dos conceitos anteriores. Os

cossenos desses ângulos podem ser facilmente calculados em triângulos

retângulos convenientes e, no caso do ângulo entre duas diagonais, tem-se

uma aplicação da lei dos cossenos.

4. Nos prismas regulares, o professor poderá investigar com seus alunos os

mesmos temas: diagonais, ângulos e existência das esferas inscrita e cir-

cunscrita.

5. As pirâmides regulares (em particular as de bases triangular, quadrangular

e hexagonal) possuem relações métricas interessantes e o professor poderá

mostrar que todas possuem sempre as esferas inscrita e circunscrita.

6. As áreas também devem ser exploradas. Denindo a área de um poliedro

como a soma das áreas de todas as suas faces, os alunos poderão calcular

também as áreas dos poliedros estudados.

7. Todo cilindro reto de base circular possui uma esfera circunscrita. Dado o

cilindro, não é difícil calcular o raio dessa esfera. Para isso, recomendamos

que o aluno imagine o cilindro e a esfera e desenhe uma seção meridiana,

ou seja, uma seção que contém o eixo do cone. Com isso, ele vai perceber

que calcular o raio de uma esfera circunscrita a um cilindro é o mesmo

que calcular o raio de uma circunferência circunscrita a um retângulo.

8. O cilindro reto de base circular só possui uma esfera inscrita se sua altura

for igual ao diâmetro da base. O cilindro que possui uma esfera inscrita

é chamado de cilindro equilátero.

9
Unidade 20 A Esfera

9. O cone reto da base circular sempre possui esferas inscritas e circuns-

critas. Fazendo uma seção meridiana, o problema de calcular os raios

dessas esferas se reduz ao problema de calcular os raios das circunferências

inscrita e circunscrita a um triângulo isósceles. É um bom momento para

recordar elementos de geometria plana.

10. Existem partes da superfície da esfera que os alunos devem conhecer e

associar aos termos usados na Geograa. Um plano que corta a esfera,

divide sua superfície em duas regiões. Cada uma delas se chama uma

calota. Se dois planos paralelos cortam a esfera, a parte da superfície

da esfera compreendida entre eles é uma zona esférica. A geograa usa

esses termos quando se refere às calotas polares, zona equatorial e zona

temperada. Essas regiões são limitadas por circunferências contidas em

planos paralelos ao plano do equador da Terra, chamadas de Trópico de

Câncer, Trópico de Capricórnio e Círculos polares e o professor poderá

buscar nos livros de Geograa a localização dessas circunferências.

Em um outro capítulo, quando estivermos estudando as superfícies de rev-

olução, calcularemos as áreas da zona e das calotas esféricas. As fórmulas

são simples e mesmo que não puderem ser demonstradas, fornecerão el-

ementos para interessantes problemas.

11. Termos como equador, meridiano, pólo norte, etc. devem ser uti-

lizados nos problemas porque são conhecidos e sobretudo úteis para a

localização de pontos sobre a esfera. O professor poderá explicar que

xando um equador e um meridiano, qualquer ponto da superfície da

esfera ca determinado por duas coordenadas: a latitude e a longitude.

12. Dois meridianos delimitam uma região da superfície esférica chamada

fuso esférico. Esses meridianos estão contidos em dois semi-planos cuja

interseção contém um diâmetro da esfera e o ângulo entre eles é o ângulo

do fuso.

Todos conhecem a expressão fuso horário. Teoricamente, a superfície

da Terra está dividida em 24 fusos, correspondendo a cada um, uma

hora do dia. Essa situação sugere o interessante problema de determinar

que horas são em determinada cidade do nosso planeta, no momento

10
Ângulos, Esfera Unidade 20

que essa pergunta estiver sendo feita no Rio de Janeiro. Para responder,

basta saber as longitudes das duas cidades e conhecer como os fusos

horários foram construídos. Essa construção se encontra no exercício 9

dessa unidade.

Imaginamos que essas atividades sejam feitas na forma de exercícios para não

tornar a teoria ainda mais extensa. Isso se justica porque, na verdade, não

há nenhum teorema novo envolvido. Tudo o que se precisa utilizar são os

teoremas iniciais da Geometria Espacial e as propriedades e relações métricas

da geometria plana.

11
Unidade 20 Problemas

20.5 Problemas

1. Um pedaço de papel em forma de um quadrado ABCD é dobrado ao


longo da diagonal AC de modo que os lados AB e AD passem a formar
o
um ângulo de 60 . A seguir, ele é colocado sobre uma mesa, apoiado

sobre esses lados. Nessas condições, calcule o ângulo que a reta AC e o

plano ABC formam com o plano horizontal.

Figura 20.9

2. Um tetraedro pode ser construído a partir de um envelope da forma des-

crita abaixo.

(a) Tome um envelope comum, feche-o e trace as diagonais do retângulo

por ele determinado.

(b) A seguir, corte o envelope como indicado, removendo seu quarto

superior (b).

(c) Agora, dobre o envelope, encaixando uma borda na outra. Pronto!

Temos um tetraedro.

Figura 20.10

12
Ângulos, Esfera Unidade 20

Que propriedades interessantes possui o tetraedro formado? Sob que

condições ele é um tetraedro regular?

3. Considere três retas mutuamente perpendiculares x, y e z , concorrentes


em O. Uma reta r passa por O e forma ângulos iguais a α, β e γ com

x, y e z . Mostre que cos2 α + cos2 β + cos2 γ = 1.

4. Sejam αeβ r qualquer contida


dois planos secantes. Considere uma reta

em α. Mostre que o ângulo entre r e β é máximo quando r é perpendicular

à interseção de α e β (retas de um plano α que são perpendiculares à

sua interseção com o plano β são, por esta razão, chamadas de retas de

máximo declive de α em relação a β .)

5. Considere um octaedro regular de aresta α. Determine:

(a) A distância entre duas faces opostas.

(b) O ângulo diedro formado por duas faces adjacentes.

6. Sejam A e B pontos do espaço. Qual é o lugar geométrico dos pontos

P do espaço tais que o ângulo AP B seja reto?

7. Seja P um ponto exterior a um plano α e Q um ponto de α. Qual é o


lugar geométrico dos pés das perpendiculares traçadas de P às retas de
α que passam por Q?

8. Considere nove esferas de raio R, interiores a um cubo de aresta a, sendo


uma com centro no centro do cubo e cada uma das demais tangentes a

três faces e à esfera central. Calcule R em função de a.

9. O nosso planeta é dividido em regiões chamadas fusos horários de modo

que, em cada uma delas, teoricamente todos os relógios devem marcar a

mesma hora no mesmo instante. Qual é o ângulo central correspondente

a um fuso horário?

10. O fuso horário de referência (chamado GMT-O) é a região compreendida

entre as longitudes −7, 5o e +7, 5o . Abaixo estão as longitudes de seis

cidades:

13
Unidade 20 Problemas

Nova York −74◦


Rio de Janeiro −43◦
Paris 2◦
Atenas 24◦
Bagdá 45◦
Calcutá 88◦

Se são 12 horas no Rio, que horas serão nas outras cinco cidades?

14
21
Poliedros

Sumário
21.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

21.2 As Primeiras Relações . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

21.3 Duas Desigualdades . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

21.4 Problemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

1
Unidade 21 Introdução

21.1 Introdução

No programa de Geometria Espacial, esta unidade é quase independente

das demais. Vamos aqui estudar, de uma forma geral, os sólidos formados por

faces, os chamados poliedros. Antes de mais nada, é preciso estabelecer uma

denição adequada para o nível de estudo que se pretende. Dizer apenas que

poliedros são sólidos formados por faces (partes limitadas de um plano), pode

dar uma ideia do que eles sejam, mas não serve absolutamente como denição.

Aliás, uma das causas da diculdade que os matemáticos do passado tiveram

para demonstrar teoremas sobre poliedros, estava justamente na falta de uma

denição precisa do signicado dessa palavra. Por isso, vamos recomendar

para o estudante do Ensino Médio, uma denição, que não permita grandes

generalidades, mas seja suciente para demonstrar os teoremas e propriedades

importantes.

Uma primeira ideia para denir os poliedros é a seguinte:  Poliedro é uma


reunião de um número nito de polígonos planos, onde cada lado de um desses

polígonos é também lado de um, e apenas um, outro polígono.

Cada um desses polígonos chama-se uma face do poliedro, cada lado comum
a duas faces chama-se uma aresta do poliedro e cada vértice de uma face é

também chamado vértice do poliedro.

Figura 21.1: Um poliedro.

A proposta de denição que demos é simples e bastante compreensível, mas

permite liberdades que, a nosso ver, não deveriam ser objeto de discussão em

um primeiro estudo dos poliedros. Por exemplo, a gura abaixo mostra um

sólido que, de acordo com essa denição, é um poliedro.

2
Poliedros Unidade 21

Figura 21.2: Um poliedro estranho.

É nossa opinião que, no Ensino Médio, não devemos ainda tratar de tais

objetos. Em um primeiro estudo, acreditamos que devemos dirigir nossa atenção

aos poliedros convexos, e é o que faremos aqui. Mesmo assim, por motivos que

o leitor perceberá adiante, será necessário acrescentar na proposta de denição

que demos uma restrição. Adotaremos então a seguinte denição.

Poliedro é uma reunião de um número nito de polígonos planos chamados Definição 1


faces onde:
1. Cada lado de um desses polígonos é também lado de um, e apenas um,

outro polígono.

2. A interseção de duas faces quaisquer ou é um lado comum, ou é um

vértice ou é vazia.

Cada lado de um polígono, comum a exatamente duas faces, é chamado

uma aresta do poliedro e cada vértice de uma face é um vértice do

poliedro.

3. É sempre possível ir de um ponto de uma face a um ponto de qualquer

outra, sem passar por nenhum vértice (ou seja, cruzando apenas arestas).

Todo poliedro (no sentido da denição acima), limita uma região do espaço

chamada de interior desse poliedro. Dizemos que um poliedro é convexo se o


seu interior é convexo. Vamos recordar o que isto signica.

Um conjunto C, do plano ou do espaço, diz-se convexo, quando qualquer


segmento de reta que liga dois pontos de C está inteiramente contido em C .
No caso dos poliedros, podemos substituir essa denição por outra equiva-

lente, que nos será mais útil:

3
Unidade 21 As Primeiras Relações

Um poliedro é convexo se qualquer reta (não paralela a nenhuma de suas

faces) o corta em, no máximo, dois pontos.

Figura 21.3: Um poliedro convexo e um não convexo

21.2 As Primeiras Relações

Dado um poliedro, vamos agora tratar do problema de contar as suas faces,

os seus vértices, e as suas arestas. Representaremos então por A, o número de

arestas, por F, o número de faces e por V o seu número de vértices. Ainda,

como as faces podem ser de gêneros diferentes, representaremos por Fn (n > 3),
o número de faces que possuem n lados. Da mesma forma, como os vértices

também podem ser de gêneros diferentes, representaremos por Vn o número de

vértices nos quais concorrem n arestas, e observe que, pelo item (b) da denição
do poliedro, cada vértice é um ponto comum a três ou mais arestas.

São então evidentes as relações:

F = F3 + F4 + · · ·

V = V3 + V4 + · · ·
Imagine agora que o poliedro foi desmontado e que todas as faces estão em

cima de sua mesa. Quantos lados todos esses polígonos possuem? Fácil. Basta

multiplicar o número de triângulos por 3, o número de quadriláteros por 4, o

número de pentágonos por 5 e assim por diante, e depois somar os resultados.

Mas, como cada aresta do poliedro é lado de exatamente duas faces, a soma

anterior é igual ao dobro do número de arestas, ou seja,

2A = 3F3 + 4F4 + 5F5 + · · ·

Podemos também contar as arestas observando os vértices do poliedro.

Se em cada vértice contarmos quantas arestas nele concorrem, somando os

4
Poliedros Unidade 21

resultados obteremos também o dobro do número de arestas (porque cada

aresta terá sido contada duas vezes: em um extremo e no outro). Logo,

2A = 3V3 + 4V4 + 5V5 + · · ·

21.3 Duas Desigualdades

Dessas primeiras relações entre os elementos de um poliedro podemos de-

duzir duas desigualdades: a) 2A > 3F e b) 2A > 3V . Observe a justicativa

da primeira.

2A = 3F3 + 4F4 + 5F5 + · · ·


2A = 3(F3 + F4 + F5 + · · · ) + F4 + 2F5 + · · ·
2A = 3F + F4 + 2F5 + · · ·
2A > 3F

Repare que a igualdade só vale se F4 = F5 = · · · = 0, ou seja, se o poliedro


tiver apenas faces triangulares. A segunda desigualdade se justica de forma

análoga e, neste caso, a igualdade ocorrerá apenas quando em todos os vértices

concorrerem 3 arestas.

O resultado central deste capítulo é o Teorema de Euler. Seu enunciado,

por sua beleza e simplicidade, costuma fascinar os alunos da escola secundária

quando tomam contato com ele pela primeira vez: V −A+F = 2. A observação

do resultado em desenhos de poliedros ou em objetos do cotidiano é estimulante

e, sobretudo, intrigante. Porque sempre ocorre isso?

Na verdade, a relação de Euler não é verdadeira para todos os poliedros de

acordo com nossa denição. Mas, para os poliedros convexos ela é verdadeira.

Em contextos mais gerais, onde inclusive se adota uma denição de poliedro

menos restritiva que a nossa, o valor de V −A+F é chamado de característica


do poliedro. Não vamos aqui tratar dessas coisas, mas o leitor curioso poderá

encontrar farto material para leitura no livro Meu Professor de Matemática

do professor Elon Lages Lima, editado pela SBM.

O Teorema de Euler foi descoberto em 1758. Desde então, diversas demon-

strações apareceram na literatura e algumas continham falhas (como a de

Cauchy), que foram descobertas muitos anos mais tarde. Essas falhas eram

5
Unidade 21 Duas Desigualdades

devidas à falta de precisão na denição de poliedro. Mesmo Euler nunca se

preocupou em denir precisamente essa palavra.

A demonstração que mostraremos aqui para poliedros convexos segue quase


o
integralmente a que foi publicada na RPM n 3 (1983) pelo professor Zoroastro

Azambuja Filho. Pela elegência e precisão dos argumentos, essa demonstração

merece ser publicada mais uma vez.

Teorema 2 Em todo poliedro com A arestas, V vértices e F faces, vale a relação


Euler
V − A + F = 2.

Demonstração Iniciamos a demonstração calculando a soma dos ângulos internos de todas

as faces de um poliedro convexo P . As faces são numeradas de 1 até F e seja


nk o gênero da k -ésima face (1 6 k 6 F ). Lembrando que a soma dos ângulos
internos de um polígono convexo de gênero n é igual a π(n − 2) e observando

que se um poliedro é convexo então todas as suas faces são polígonos convexos,

teremos para a soma dos ângulos internos de todas as faces de P a expressão:

S = π(n1 − 2) + π(n2 − 2) + · · · + π(nF − 2)

ou ainda,

S = π[(n1 + n2 + · · · + nF ) − (2 + 2 + · · · + 2)].
Ora, no primeiro parêntese, a soma dos números de lados de todas as faces

é igual ao dobro do número de arestas e no segundo parêntese, a soma das F


parcelas é igual a 2F . Assim,

S = π(2A − 2F ) = 2π(A − F ). (21.1)

Vamos agora escolher uma reta r que não seja paralela a nenhuma das

faces de P. Tomamos também um plano H, que não intersecta P e que seja

perpendicular a r. O plano H será chamado plano horizontal e as retas paralelas


a r (logo perpendiculares a H) serão chamadas retas verticais. H divide o

espaço em dois semi-espaços, um dos quais contém o poliedro P. Este será

chamado o semi-espaço superior e diremos que seus pontos estão acima de

H. Para melhor ilustrar o nosso raciocínio, imaginaremos o sol brilhando a

pino sobre o semi-espaço superior de modo que seus raios sejam retas verticais.

6
Poliedros Unidade 21

A cada ponto X do semi-espaço superior corresponde um ponto X0 em H,


chamado sombra de X . A sombra de qualquer conjunto C, contido no semi-

espaço superior é, por denição, o conjunto C 0, contido em H, formado pelas

sombras dos pontos de C.

Figura 21.4: A região iluminada e a região sombria.

Consideremos então a sombra P0 P . Como P é convexo, cada


do poliedro
0
ponto de P é sombra de um ou dois pontos de P (veja a nossa denição
0
alternativa de poliedro convexo). Ora, a sombra P do poliedro P tem como
0
contorno um polígono convexo K , sombra de uma poligonal fechada K formada
0
por arestas de P . Cada ponto de K é sombra de um único ponto de P . A

poligonal K é chamada de contorno aparente do poliedro P. Cada ponto interior


0 0
de P (portanto não pertencente a K )é sombra de exatamente dois pontos de

P . Dados dois pontos de P que têm mesma sombra, ao mais alto (mais distante
de H ) chamaremos ponto iluminado e o mais baixo será chamado sombrio.

Depois dessas considerações, vamos calcular novamente a soma de todos os

ângulos das faces de P, observando que a soma dos ângulos internos de uma

face é a mesma soma dos ângulos internos de sua sombra (ambos são polígonos
de mesmo gênero). Sejam: V1 o número de vértices iluminados, V2 o número

de vértices sombrios e V0 o número de vértices do contorno aparente K. Então,

V = V0 + V1 + V2 . Notemos ainda que V0 é o número de vértices (e de lados)


0 0
da poligonal K , contorno de P .

Consideremos então a sombra das faces iluminadas.

A sombra das faces iluminadas é um polígono convexo com V0 vértices em

seu contorno e V1 pontos interiores, sombra dos vértices iluminados de P. A

7
Unidade 21 Duas Desigualdades

Figura 21.5: A sombra das faces iluminadas.

soma de todos os ângulos da gura anterior é:

S1 = 2πV1 + π(V0 − 2).

Por raciocínio inteiramente análogo, obteríamos para a soma de todos os ângulos

da sombra das faces sombrias,

S2 = 2πV2 + π(V0 − 2).

Somando as duas, obtemos:

S = 2πV1 + 2πV2 + 2π(V0 − 2) (21.2)

S = 2π(V1 + V2 + V0 − 2)
S = 2π(V − 2)

Comparando (1.1) e (1.2) e dividindo por 2π , resulta que A − F = V − 2, ou

seja,

V −A+F =2
Como queríamos demonstrar.

Comentários

1. É fácil encontrar exemplos de poliedros não convexos que satisfazem a

relação de Euler. Por exemplo, se um poliedro P não convexo puder ser

colocado em uma posição de modo que sua sombra seja um polígono

onde cada um de seus pontos seja sombra de no máximo dois pontos de

P, a demonstração que demos continua válida e a relação de Euler se

verica.

8
Poliedros Unidade 21

2. Todas as relações que encontramos são apenas condições necessárias.

Isto quer dizer que não basta que três números A, V e F satisfaçam a

elas para que se tenha certeza da existência de um poliedro com essas

características.

A bola de futebol que apareceu pela primeira vez na Copa de 70 foi inspirada Exemplo 1
em um conhecido poliedro convexo (descoberto por Arquimedes) formado por 12

faces pentagonais e 20 faces hexagonais, todas regulares. Pergunta-se quantos

vértices possui tal poliedro.

De acordo com nossa notação, temos F5 = 12, F6 = 20 e portanto F = 32. Solução


Determinamos em seguida o número de arestas desse poliedro:

2A = 5F5 + 6F6 = 5 · 12 + 6 · 20 = 180


A = 90.

Como o poliedro é convexo, vale a relação de Euler V − A + F = 2, de onde

concluímos que V = 60.

Figura 21.6: A bola de futebol.

Descreva e mostre uma possibilidade para o desenho de um poliedro convexo Exemplo 2


que possui 13 faces e 20 arestas.

Imediatamente antes de concluir a desigualdade 2A 6 3F (volte atrás no


Solução
texto), tínhamos encontrado a relação

2A = 3F + F4 + 2F5 + · · · ,

9
Unidade 21 Duas Desigualdades

ou seja,

2A − 3F = F4 + 2F5 + · · · .
Como A = 20 e F = 13, temos 1 = F4 + 2F5 + · · · , o que só é possível se

F4 = 1 e F5 = F6 = · · · = 0. Isto quer dizer que este poliedro deve possuir

uma única face quadrangular e todas as outras 12 faces triangulares. Como

pela relação de Euler ele deve possuir 9 vértices, um desenho possível é o que

está abaixo.

Figura 21.7: Uma solução do exemplo 2.

10
Poliedros Unidade 21

21.4 Problemas

1. Um poliedro convexo de 20 arestas e 10 vértices só possui faces triangu-

lares e quadrangulares. Determine os números de faces de cada gênero.

2. Diagonal de um poliedro é qualquer segmento que une dois vértices que

não estão na mesma face. Quantas diagonais possui o icosaedro regular?

3. Mostre que para todo poliedro convexo valem as desigualdades

(a) A + 6 6 3F
(b) A + 6 6 3V

4. Mostre que se um poliedro convexo tem 10 arestas então ele tem 6 faces.

5. Descreva todos os poliedros que possuem 10 arestas.

6. Um poliedro convexo P possui A arestas, V vértices e F faces. Com bases

em cada uma das faces constroem-se pirâmides com vértices exteriores a

P. Fica formado então um poliedro P0 que só possui faces triangulares.

Determine os números de arestas, faces e vértices de P 0.

11
22
Teorema de Euler

Sumário
22.1 Poliedros Regulares . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

22.2 O Caso Plano do Teorema de Euler . . . . . . . . . 3

22.3 Uma Outra Demonstração do Teorema de Euler no

Plano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

22.4 Problemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

1
Unidade 22 Poliedros Regulares

22.1 Poliedros Regulares

Desde a antiguidade são conhecidos os poliedros regulares, ou seja, poliedros

convexos cujas faces são polígonos regulares iguais e que em todos os vértices

concorrem o mesmo número de arestas. O livro XIII dos Elementos de Euclides

(cerca de 300 a.C.) é dedicado inteiramente aos sólidos regulares e contém ex-

tensos cálculos que determinam, para cada um, a razão entre o comprimento

da aresta e o raio da esfera circunscrita. Na última proposição daquele livro,

prova-se que os poliedros regulares são apenas 5: o tetraedro, o cubo, oc-

taedro, o dodecaedro e o icosaedro. A importância desse fato ca evidente

quando se percebe que a história dos séculos seguintes é farta em exemplos de

matemáticos, lósofos e astrônomos que tentaram elaborar teorias de explicação

do universo com base na existência desses 5 sólidos regulares. Mesmo Kepler,

19 séculos depois dos Elementos de Euclides, tentou elaborar uma cosmologia

com base nos 5 poliedros regulares.

É natural interesse do professor secundário conhecer não só os poliedros

regulares, como também saber porque existem apenas cinco.

Definição 1 Um poliedro convexo é regular quando todas as faces são polígonos regulares

iguais e em todos os vértices concorrem o mesmo número de arestas.

Teorema 2 Existem apenas cinco poliedros regulares convexos.

Demonstração Para demonstrar, seja no número de lados de cada face e sejap o número
de arestas que concorrem em cada vértice. Temos então 2A = nF = pV , ou

nF nF
A= e V = .
2 p

Substituindo na relação de Euler, obtemos

nF nF
− +F =2
p 2

4p
F = .
2p + 2n − pn

2
Teorema de Euler Unidade 22

Devemos ter 2p + 2n − pn > 0, ou seja

2n
> p.
n−2
Como p > 3, chegamos a n < 6. As possibilidades são então as seguintes:


4p  p = 3 → F = 4 (tetraedro)

n = 3 −→ F = −→ p = 4 → F = 8 (octaedro)
6−p 
p = 5 → F = 20 (icosaedro)

2p
n = 4 −→ F = −→ p = 3 → F = 6 (cubo)
4−p
4p
n = 5 −→ F = −→ p = 3 → F = 12 (dodecaedro)
10 − 3p

Figura 22.1: Os poliedros regulares.

22.2 O Caso Plano do Teorema de Euler

O Teorema de Euler foi demonstrado aqui para poliedros convexos. Mas não

é difícil observar que ele vale também em outras situações. Vamos descrever

3
Unidade 22 O Caso Plano do Teorema de Euler

uma situação em que o Teorema de Euler se aplica em regiões de um plano.

Tomemos um poliedro convexo P e uma esfera S que o contenha. A partir de

um ponto interior ao poliedro, projetamos P sobre S como mostra a gura a

seguir.

Figura 22.2: A projeção P sobre S.

A função f : P → S é denida da seguinte forma. Sendo O um ponto

interior a P, X ∈ P , denimos f (X) como o ponto de


para cada ponto

interseção da semirreta OX com S . A função f é contínua (o que signica

que pontos próximos de P são levados em pontos próximos de S ) e sua inversa

f −1 : S → P é também contínua. Vemos agora a esfera dividida em regiões


limitadas por arcos de circunferência (ou simplesmente linhas). Chamando de

nó a projeção de cada vértice temos cada região limitada por pelo menos 3
linhas e também cada nó como extremidade de pelo menos 3 linhas.

Figura 22.3: A esfera dividida em regiões.

É claro que para as linhas, regiões e nós da esfera S vale a relação de Euler,

porque ela já era válida em P. Tomemos agora um ponto N interior a uma

região de S, um plano Π perpendicular ao diâmetro de S que contém N e uma

4
Teorema de Euler Unidade 22

função p : S − {N } → Π, tal que para cada ponto Y ∈ S − {N }, p(Y ) é a

interseção da semirreta N Y com Π.

Figura 22.4: A projeção das regiões da esfera no plano.

Se o poliedro original P tinha F faces, V vértices e A arestas vemos agora

o plano Π dividido em F regiões por meio de A linhas que se encontram em

V nós. Por comodidade, as linhas podem ser chamadas de arestas os nós de

vértices e as regiões de faces. E claro que das F regiões, uma é ilimitada

(chamada oceano) porque é projeção da região de S que contém o ponto N,


mas relação de Euler continua válida. A gura obtida em Π pode ser agora

continuamente deformada mas a relação de Euler se mantém inalterável.

Observe no desenho a seguir um exemplo onde o plano está dividido em

10 regiões (faces), através de 18 linhas (arestas) que concorrem em 10 nós

(vértices).

Figura 22.5: Observando que V − A + F = 10 − 18 + 10 = 2.

As transformações que zemos são equivalentes a imaginar um poliedro

de borracha e iná-lo injetando ar até que se transforme em uma esfera. Em

seguida, a partir de um furo feito em uma das regiões, esticá-lo até que se trans-

forme em um plano. Isto signica que o Teorema de Euler não é um teorema de

5
Unidade 22 Uma Outra Demonstração do Teorema de Euler no Plano

Geometria, mas sim de Topologia. Não importa se as faces são planas ou não,

ou se as arestas são retas ou não. Tudo pode ser deformado à vontade desde

que essas transformações sejam funções contínuas cujas inversas sejam também

contínuas (chamadas homeomorsmos), ou seja, para cada transformação que

zermos por uma função contínua, deveremos poder voltar à situação original

por meio de uma outra função também contínua.

22.3 Uma Outra Demonstração do Teorema

de Euler no Plano

A demonstração do caso plano do Teorema de Euler pode ser feita direta-

mente, ou seja, sem recorrer ao resultado obtido no espaço. Ainda, o leitor

poderá perceber que a relação de Euler para o plano vale em situações mais

gerais do que as que mostramos antes.

Consideremos então uma região R do plano dividida em outras regiões

justapostas como mostra a gura a seguir.

Figura 22.6: A divisão de uma região em outras justapostas.

Cada região (seja R ou uma da decomposição) é limitada por pelo menos

duas arestas e um vértice é um ponto comum a pelo menos duas arestas.

Devemos enfatizar que aqui, o termo aresta não signica um segmento de reta

mas sim qualquer curva contínua, sem auto-interseções, que liga um vértice a

outro vértice. Uma boa ilustração do que estamos dizendo, consiste em observar

o mapa do Brasil dividido nos seus estados. Cada estado é uma face e cada linha

de fronteira é uma aresta. Devemos ainda exigir (e isso é muito importante) que

6
Teorema de Euler Unidade 22

nenhuma região que completamente dentro de outra. Assim, decomposições

como as que mostramos abaixo estão proibidas.

Figura 22.7: Decomposições proibidas.

É também conveniente considerar o exterior de R como uma região. Ob-

servando novamente a gura 6, temos então o plano dividido em 8 regiões. As

regiões numeradas de I a VII são limitadas e a região VIII é ilimitada, tendo o

contorno de R como sua fronteira. A região ilimitada é comumente chamada

de oceano.
Para ilustrar o que estamos dizendo e ainda observando a gura 6, o contorno

da região R é formado pelas arestas que ligam consecutivamente os vértices

consecutivos de 1 a 8 e depois voltando a 1 (sem passar por 9). A região VIII,

o oceano é formado pelos pelos pontos exteriores ao contorno de R. A região

I é formada pelas arestas que ligam consecutivamente os vértices 1-2-10-9-1 e

a região V é limitada apenas pelas duas arestas que ligam os vértices 9 e 10.

Nas condições que descrevemos, consideremos agora o plano dividido em

F regiões (sendo uma ilimitada), através de A arestas que concorrem em V


vértices. Armamos que

V − A + F = 2.

A fórmula V − A + F = 2 vale no caso simples em que apenas um polígono Demonstração


de n lados está desenhado no plano. Neste caso,

A = V = n, F = 2.

Vamos usar indução para o caso geral, ou seja, vamos mostrar que se a

relação de Euler vale para uma decomposição do plano em F regiões, então

ela ainda vale para uma decomposição em F +1 regiões. Uma determinada

decomposição pode ser construída por etapas onde, em cada uma delas, uma

nova região é acrescentada no oceano das anteriores. Consideremos então uma

7
Unidade 22 Uma Outra Demonstração do Teorema de Euler no Plano

decomposição do plano em F regiões através de A arestas que concorrem em

V vértices (como mostra a parte em linhas cheias da gura 8), satisfazendo

a relação de Euler. Acrescentamos agora uma nova região contida no oceano

das regiões anteriores (como mostra a parte em linhas tracejadas da gura),

desenhando uma sequência de arestas ligando dois vértices do contorno da

divisão anterior. Se acrescentamos r arestas, então acrescentamos r−1 vértices


e uma nova região.

Figura 22.8: Acrescentando uma nova região.

Mas ca claro que a relação de Euler permanece válida porque

V − A + F = (V + r − 1) − (A − r) + (F + 1)

o que conclui a demonstração.

O caso plano do Teorema de Euler é um resultado importante na teoria

dos grafos. Um grafo é apenas um conjunto de pontos com linhas que unem

alguns pares de pontos desse conjunto. É uma coisa simples, mas propicia uma

imagem geométrica de uma relação entre elementos de um conjunto. Para dar

um exemplo elementar, suponha que em uma reunião entre pessoas, alguns

cumprimentos foram feitos. Podemos visualizar gracamente essa situação re-

presentando as pessoas por pontos no plano onde, se a pessoa A cumprimentou


a pessoa B, desenhamos uma linha ligando o ponto A ao ponto B . Pode ser

que uma certa pessoa tenha cumprimentado muitas outras (ou mesmo todas

as outras e pode ter ocorrido que algumas pessoas não tenham cumprimentado

ninguém. A gura que mostra essa relação é um grafo.

8
Teorema de Euler Unidade 22

Grafos são utilizados em inúmeras áreas do conhecimento humano, com o

objetivo de visualizar relações ou conexões entre elementos de um conjunto. Se,

por exemplo, você vê em um mapa, cidades ligadas por estradas, esse desenho

é um grafo, circuitos elétricos são grafos, desenhos de moléculas mostrando

ligação entre átomos são grafos, etc. Mas, isto é outra história. O leitor que

tiver interesse nesse assunto poderá encontrar diversos livros dedicados à teoria

dos grafos. Para citar apenas um, o livro Graphs and their uses de Oystein Ore,

publicado pela MAA (Mathematical Association of America) é uma excelente

referência para uma primeira leitura.

9
Unidade 22 Problemas

22.4 Problemas

1. Um cubo de aresta a é seccionado por planos que cortam, cada um, todas
as arestas concorrentes num vértice em pontos que distam x (x < a/2)

deste vértice. Retirando-se as pirâmides formadas, obtém-se um poliedro

P. Descreva esse poliedro e calcule seu número de diagonais.

2. Considerando o poliedro P do exercício anterior, suponha agora que P


tem todas as arestas iguais. Calcule, em função de a o comprimento de

sua aresta.

Os exercícios a seguir tratam de grafos. Nos dois primeiros pode-se utilizar


o caso plano da relação de Euler. Os três últimos dependem apenas do seu
raciocínio.

3. Veja mapa da América do Sul. Existem 13 países mais o oceano, que

também consideramos um país. Observa-se que não existe nenhum

ponto que pertença a mais de 3 países. Quantas linhas de fronteira

existem na América do Sul?

4. Na gura abaixo, as casas 1, 2 e 3 devem ser conectadas aos terminais

de água (A), luz (L) e telefone (T ). É possível fazer essas ligações sem

que duas conexões se cruzem?

1 2 3
A L T

5. A cidade de Konigsberg está situada nas margens do Mar Báltico, na foz

do rio Pregel. No rio, existem duas ilhas ligadas às margens e uma à

outra por sete pontes como se vê na gura abaixo.

Figura 22.9: Königsberg.

10
Teorema de Euler Unidade 22

O povo, que passeava dando voltas por estas ilhas, descobriu que, partindo

da margem sul do rio, não conseguia planejar um trajeto de modo a cruzar

cada uma das pontes uma única vez. Explique porque isto não é possível.

6. Verique se o desenho na gura 10, abaixo, pode ser feito sem tirar o

lápis do papel e sem passar por cima de uma linha já traçada.

7. Entre pessoas, suponha que a relação conhecer seja simétrica, ou seja,

se A conhece B então B conhece A. Prove que, se 6 pessoas são es-

colhidas ao acaso, ou existem 3 que se conhecem, ou existem 3 que se

desconhecem.

Figura 22.10: Um desao.

11
23
Área e Volumes
Sumário
23.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

23.2 O Paralelepípedo Retângulo . . . . . . . . . . . . . 3

23.3 O Princípio de Cavalieri . . . . . . . . . . . . . . . . 5

23.4 O Prisma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

23.5 A Pirâmide . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

23.6 Problemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

1
Unidade 23 Introdução

23.1 Introdução

Vamos tratar agora dos volumes dos sólidos simples: prismas, pirâmides,

cilindros, cones e a esfera. Intuitivamente, o volume de um sólido é a quantidade

de espaço por ele ocupado. Para exprimir essa quantidade de espaço através

de um número, devemos compará-la com uma unidade; e o resultado dessa

comparação será chamado de volume.

Por exemplo, podemos medir o volume de uma panela tomando como

unidade uma xícara. Enchendo a xícara de água e vertendo na panela sucessivas

vezes até que esta que completamente cheia, estamos realizando uma medida

de volume. É possível que o resultado dessa comparação seja um número in-

teiro − digamos: 1 panela = 24 xícaras − mas é muito provável que na última

operação sobre ainda um pouco de água na xícara. E como determinaremos

essa fração?

O exemplo mostra que esse processo pode ter alguma utilidade em casos

simples onde se necessita apenas de um valor aproximado para o volume, mas

não funciona, mesmo na prática, para inúmeros objetos. Ou porque são muito

pequenos, ou porque são grandes demais, ou simplesmente porque são comple-

tamente sólidos. Ainda, a unidade xícara, que é inclusive muito utilizada nas

receitas da boa cozinha, não é naturalmente adequada a um estudo mais geral.

Vamos então combinar que:

a unidade de volume é o cubo de aresta 1

Para cada unidade de comprimento, temos uma unidade correspondente de

volume. Se, por exemplo, a unidade de comprimento for o centímetro (cm),

então a unidade correspondente de volume será chamada de centímetro cúbico

(cm3 ). Assim, o volume de um sólido S deve ser o número que exprima quantas

vezes o sólido S contém o cubo unitário. Mas, como esse sólido pode ter uma

forma bastante irregular, não ca claro o que signica o número de vezes que

um sólido contém esse cubo. Vamos então tratar de obter métodos que nos

permitam obter fórmulas para o cálculo de volumes dos sólidos simples.

2
Área e Volumes Unidade 23

23.2 O Paralelepípedo Retângulo

O paralelepípedo retângulo (ou simplesmente um bloco retangular) é um

poliedro formado por 6 retângulos. Ele ca perfeitamente determinado por três

medidas: o seu comprimento (a), a sua largura (b) e a sua altura (c).

Figura 23.1

O volume desse paralelepípedo retângulo será representado por V (a, b, c) e

como o cubo unitário é um paralelepípedo retângulo cujos comprimento, largura

e altura medem 1, então V (1, 1, 1) = 1.


Para obter o volume do paralelepípedo retângulo, devemos observar que ele é

proporcional a cada uma de suas dimensões. Isto quer dizer que se mantivermos,

por exemplo, constantes a largura e a altura e se multiplicarmos o comprimento

por um número natural n, o volume cará também multiplicado por n, ou seja,

V (na, b, c) = nV (a, b, c).

Figura 23.2

A gura 23.2 mostra 4 paralelepípedos retângulos iguais e justapostos, co-

lados em faces iguais. Naturalmente, o volume total é 4 vezes maior que o

volume de um deles.

3
Unidade 23 O Paralelepípedo Retângulo

Este fato, constatado para números naturais, também vale para qualquer

número real positivo (veja Notas 1 e 2 no m desta seção) e isto quer dizer

que, mantidas constantes duas dimensões de um paralelepípedo retângulo, seu

volume é proporcional à terceira dimensão. Logo, sendo a, b e c as dimensões

de um paralelepípedo retângulo, temos:

V (a, b, c) = V (a · 1, b, c)
= aV (1, b, c) = aV (1, b · 1, c)
= abV (1, 1, c) = abV (1, 1, c · 1) = abcV (1, 1, 1)
= abc · 1
= abc

Portanto, o volume de um paralelepípedo retângulo é o produto de suas

dimensões. Em particular, se a face de dimensões a e b está contida em um

plano horizontal, chamaremos essa face de base e a dimensão c de altura. Como

o produto ab é área da base, é costume dizer que o volume de um paralelepípedo


retângulo é o produto da área da base pela altura.

Volume do paralelepípedo = (área da base) × (altura).

Nota 1. Utilizamos aqui um fato completamente intuitivo (mas que na

verdade é um axioma) que é o seguinte. Se dois sólidos são tais que possuem

em comum, no máximo pontos de suas cascas, então o volume da união de dois

é a soma dos volumes de cada um.

Para explicar melhor, dizemos que um ponto P é interior a um sólido S


quando existe uma esfera de centro P inteiramente contida em S. Quando P
pertence a S mas não existe tal esfera, dizemos que P está na casca de S (ou

na superfície de S ). Isto é o que nos permite usar termos como justapor ou

colar dois sólidos. Ainda, permite dizer que se um sólido está dividido em

vários outros, então seu volume é a soma dos volumes de suas partes.

Nota 2. O conceito de proporcionalidade é extremamente importante na

Matemática elementar. Em particular na geometria, existem ocasiões em que

certos resultados são facilmente vericados quando as medidas são números

naturais (ou mesmo racionais), mas o que se torna um problema é estender

esses mesmos resultados para números reais. O que resolve essa constrangedora

situação é o teorema fundamental da proporcionalidade, que diz o seguinte:

4
Área e Volumes Unidade 23

Sejam x e y grandezas positivas. Se x ey estão relacionadas por uma Teorema 1


função crescente f tal que para todo natural n, f (nx) = nf (x), então para

todo real r, tem-se que f (rx) = rf (x).

Em palavras mais simples, dizemos que duas grandezas positivas x e y são

proporcionais quando, se a primeira for multiplicada por um número natural n,


então a segunda ca também multiplicada por n. Esse teorema nos garante

que, neste caso, se a primeira grandeza for multiplicada por um número real

r, a segunda grandeza também ca multiplicada por r. A demonstração deste

belo teorema pode ser encontrada no livro Meu Professor de Matemática de

Elon Lages Lima na página 127.

Não estamos aqui estimulando o professor do Ensino Médio que faça essa

demonstração em sala de aula. Muito pelo contrário. Estamos dizendo que se

o professor der, para os estudantes do Ensino Médio, alguma justicativa de

um importante resultado utilizando números naturais, ou mesmo racionais, esse

procedimento não é um erro, deve ser feito dessa forma, e estará sendo adequado

ao nível de desenvolvimento dos seus alunos. Por outro lado, o professor cará

consciente que, mesmo não podendo fazer a demonstração completa, estará

fornecendo argumentos corretos, e deixando a generalização para um estágio

posterior.

23.3 O Princípio de Cavalieri

Conseguimos estabelecer a fórmula do volume de um paralelepípedo retân-

gulo, mas não é fácil ir adiante sem ferramentas adicionais. Uma forma con-

fortável de prosseguir é adotar como axioma um resultado conhecido como o

Princípio de Cavalieri.

Antes de enunciá-lo, observe uma experiência que se pode fazer para os

alunos. Ponha em cima da mesa, uma resma de papel. Estando ainda per-

feitamente bem arrumada, ela é um paralelepípedo retângulo (g. 23.3a) e,

portanto, tem um volume que podemos calcular. Encostando uma régua nas

faces laterais, podemos transformar o paralelepípedo retângulo em um outro

oblíquo (g. 23.3b) ou, usando as mãos, poderemos moldar um sólido bem

diferente (g. 23.3c).

5
Unidade 23 O Princípio de Cavalieri

(a) (b) (c)

Figura 23.3

Sabemos que esses três sólidos têm volumes iguais mas ainda nos faltam

argumentos para explicar esse fato que intuitivamente percebemos. De uma

forma mais geral, suponha que dois sólidos AeB estão apoiados em um plano

horizontal e que qualquer outro plano também horizontal corte ambos segundo

seções de mesma área. O Princípio de Cavalieri arma que o volume de A é

igual ao volume de B.

Figura 23.4

Se imaginarmos os dois sólidos fatiados no mesmo número de fatias muito

nas, todas com mesma altura, duas fatias correspondentes com mesma área

terão, aproximadamente, mesmo volume. Tanto mais aproximadamente quanto

mais nas forem. Sendo o volume de cada sólido a soma dos volumes de suas

fatias, concluímos que os dois sólidos têm volumes iguais. Repare ainda que o

exemplo da resma de papel mostra um caso particular desse argumento, onde

os três sólidos possuem, cada um, 500 fatias, todas iguais.

É claro que os exemplos acima não constituem uma demonstração do Princí-

pio de Cavalieri mas dão uma forte indicação de que ele é verdadeiro. Podemos

então aceitar o axioma seguinte:

6
Área e Volumes Unidade 23

São dados dois sólidos e um plano. Se todo plano paralelo ao plano dado Axioma 2
Princípio de Cavalieri
secciona os dois sólidos segundo guras de mesma área, então esses sólidos têm
mesmo volume.

Esta é a ferramenta que vamos utilizar para encontrar os volumes dos demais

sólidos simples.

Nota 3. No ensino da Geometria existem alguns resultados que não pode-

mos demonstrar de forma satisfatória e que, naturalmente, causam incômodo

ao professor. Os principais são os seguintes: o Teorema de Tales (das parale-

las), a área do quadrado, o volume do paralelepípedo e o Princípio de Cavalieri.

Para os três primeiros temas, o professor poderá oferecer uma demonstração

parcial utilizando números naturais (ou mesmo racionais) que deve satisfazer

a maioria dos alunos. Essa atitude não é condenável, muito pelo contrário.

O professor estará justicando importantes resultados de acordo com o nível

de desenvolvimento dos seus alunos, mas saberá que o resultado geral estará

garantido pelo Teorema Fundamental da Proporcionalidade (veja Nota 2 deste

capítulo). Existem outras opções e uma delas é adotar o Teorema Fundamental

da Proporcionalidade (como fato que poderá ser demonstrado mais tarde) e a

partir dele, demonstrar a área do retângulo, do triângulo e daí o Teorema de

Tales. Para esse caminho, o leitor poderá consultar o artigo Usando Áreas
o
na RPM n 21, pág. 19. Foi esse o caminho que utilizamos aqui para obter

o volume do paralelepípedo e não há dúvida que esse procedimento satisfaz a

nossa necessidade imediata mas transfere a diculdade para outro lugar. Não

tem jeito. Existem obstáculos no percurso do ensino da Geometria e o pro-

fessor, consciente das diculdades, deverá optar pelo rumo a tomar. No caso

do Princípio de Cavalieri a situação é diferente. A sua demonstração envolve

conceitos avançados de Teoria da Medida e portanto só podemos oferecer aos

alunos alguns exemplos. Mas, cremos que esses exemplos sejam sucientes para

que possamos adotar sem traumas o Princípio de Cavalieri como axioma.

23.4 O Prisma

Com o Princípio de Cavalieri, podemos obter sem diculdade o volume de

um prisma. Imaginemos um prisma de altura h, e cuja base seja um polígono de

7
Unidade 23 A Pirâmide

área A, contido em um plano horizontal. Construímos ao lado um paralelepípedo


retângulo com altura h e de forma que sua base seja um retângulo de área A.

Suponha agora que os dois sólidos sejam cortados por um outro plano hor-

izontal, que produz seções de áreas A1 e A2 no prisma e no paralelepípedo,

respectivamente. Ora, o paralelepípedo é também um prisma e sabemos que

em todo prisma, uma seção paralela à base é congruente com essa base. Logo,

como guras congruentes têm mesma área, temos que A1 = A = A2 e, pelo

Princípio de Cavalieri, os dois sólidos têm mesmo volume. Como o volume do

paralelepípedo é Ah , o volume do prisma é também o produto da área de sua

base por sua altura.

Volume do prisma = (área da base) × (altura).

Figura 23.5

23.5 A Pirâmide

Para obter o volume da pirâmide, precisamos de resultados adicionais. Em

particular, o que realmente importa é ter a certeza que se o vértice de uma

pirâmide se move em um plano paralelo à base, o volume dessa pirâmide não

se altera. Para isso, vamos examinar o que ocorre quando uma pirâmide é

seccionada por um plano paralelo à sua base.

A gura 23.6 a seguir mostra uma pirâmide de vértice V, base ABC (tri-

angular apenas para simplicar o desenho) e altura H. Um plano paralelo a

ABC , distando H do vértice V, produziu nessa pirâmide uma seção DEF .


Vamos agora citar dois fatos importantes com respeito à situação acima.

8
Área e Volumes Unidade 23

Figura 23.6

1. A seção e a base da pirâmide são guras semelhantes e a razão de semel-


h
hança é .
H

2. A razão entre áreas de guras semelhantes é o quadrado da razão de

semelhança.

O primeiro fato foi demonstrado na Unidade 16. A demonstração do segundo

pode ser encontrada em diversos livros de Matemática do Ensino Médio. Para

uma referência mais avançada, recomendamos o livro Medida e Forma em

Geometria do professor Elon Lages Lima editado pela SBM, que trata também

dos mesmos assuntos que estamos desenvolvendo aqui. Passamos agora a um

teorema preparatório para o que nos permitirá obter o volume da pirâmide.

Duas pirâmides de mesma base e mesma altura têm mesmo volume. Teorema 3

A gura a seguir mostra suas pirâmides de mesma base ABC (novamente Demonstração
triangular apenas para simplicação do desenho), vértices V1 e V2 e com mesma

altura H . Um plano paralelo ao plano (ABC) e distando h dos vértices das

pirâmides, produziu seções S1 e S2 nas duas pirâmides.

Seja A a área da base ABC e sejam A1 e A2 as áreas das seções S1 e S2 ,

respectivamente. Pelos argumentos que citamos, temos que:


 2
A1 h A2
= =
A H A

9
Unidade 23 A Pirâmide

Figura 23.7

de onde se conclui que A1 = A2 . Pelo Princípio de Cavalieri, as duas pirâmides

têm mesmo volume, como queríamos demonstrar.

O fato que podemos mover o vértice de uma pirâmide em um plano paralelo

à sua base sem alterar o seu volume é a chave para a demonstração do volume

da pirâmide de base triangular. Veremos isto no teorema seguinte.

Teorema 4 O volume de uma pirâmide triangular é igual a um terço do produto da

área da base pela altura.

Demonstração A demonstração deste teorema é elementar mas requer atenção. Para facil-

itar o entendimento, vamos convencionar uma notação especial. Trataremos de

diversos tetraedros e como em um tetraedro qualquer face pode ser considerada

uma base, vamos convencionar o seguinte. Se em um tetraedro de vértices A,


B, C D, imaginamos a face ABC como base e o ponto D como vértice dessa
e

pirâmide, vamos representá-lo por D − ABC . Ainda, o volume desse tetraedro

será representado por

V (D − ABC) = V (B − ACD) = . . . , etc,

dependendo de qual face estamos considerando como base. Consideremos então

um prisma triangular cujas bases são os triângulos ABC e A0 B 0 C 0 , como mostra


a gura 23.8.

Seja A a área de ABC e seja h a altura do prisma. Como sabemos, seu


0 0 0
volume é Ah. Vamos agora, dividir esse prisma em três tetraedros: A−A B C ,

B 0 − ACC 0 e B 0 − ABC , como mostram as guras a seguir.

10
Área e Volumes Unidade 23

Figura 23.8

Sejam V1 , V2 e V3 os volumes respectivos dos três tetraedros citados e seja

V o volume do prisma. Pelo teorema anterior, sabemos que o volume de uma

pirâmide não se modica quando, mantendo a base xa, movemos o vértice em

um plano paralelo a essa base. Tendo isto em mente podemos concluir:

V1 = V (A − A0 B 0 C 0 ) = V (A − A0 BC 0 )
= V (A − A0 BC) = V (A0 − ABC)
V2 = V (B 0 − ACC 0 ) = V (B − ACC 0 )
= V (C 0 − ABC)
V3 = V (B 0 − ABC)

Concluímos então que o volume do prisma é igual à soma dos volumes de

três tetraedros:

A0 − ABC, B 0 − ABC e C 0 − ABC,

com a mesma base do prisma e com alturas iguais a do prisma. Logo, cada um

deles tem volume igual a um terço do volume do prisma. Demonstramos então

que o volume de uma pirâmide de base triangular é igual a um terço do produto

da área da base pela altura.

Estamos agora muito próximos do resultado geral. O teorema a seguir

estende o resultado obtido para qualquer pirâmide.

11
Unidade 23 A Pirâmide

Figura 23.9

Teorema 5 O volume de qualquer pirâmide é igual a um terço do produto da área da

base pela altura.

Demonstração Para justicar, observe que qualquer pirâmide pode ser dividida em pirâ-

mides de base triangular. Essa divisão é feita dividindo-se a base em triângulos

justapostos por meio de diagonais e denindo cada plano de divisão da pirâmide

por uma dessas diagonais da base e pelo vértice da pirâmide.

Figura 23.10

Suponha agora que a pirâmide tenha altura h e que sua base, de área A,
tenha sido dividida em n triângulos de áreas

A1 , A2 , . . . , An .

12
Área e Volumes Unidade 23

Como o volume da pirâmide é a soma dos volumes das pirâmides triangulares,

temos que seu volume é:

1 1 1
V = A1 h + A2 h + · · · + An h
3 3 3
1
V = (A1 + A2 + · · · + An )h
3
1
V = Ah
3
como queríamos demonstrar.

Fica então estabelecido que:

1
volume da pirâmide = (área da base) × (altura).
3
A obtenção dos volumes do prisma e da pirâmide demanda considerável

esforço. É conveniente que após esses resultados, o professor os explore em

diversos sólidos particulares, em particular, prismas e pirâmides regulares. Para

encontrar os elementos necessários para o cálculo do volume de um desses

poliedros, será frequentemente necessário encontrar triângulos convenientes,

aplicar relações métricas e calcular áreas, propiciando uma revisão dos resultados

importantes da geometria plana.

Quando prismas e pirâmides são apresentados ao aluno do Ensino Médio,

a motivação natural é o cálculo dos volumes. Entretanto, paralelamente a

isso, diversas outras relações métricas e propriedades desses poliedros devem

ser estudadas, como zemos na Unidade 19.

13
Unidade 23 Problemas

23.6 Problemas

1. Uma piscina tem 10m de comprimento, 6m de largura e 1,6m de profun-

didade.

(a) Calcule seu volume em litros.

(b) Determine quantos ladrilhos quadrados com 20cm de lado são necessários

para ladrilhar essa piscina.

2. Um tablete de doce de leite medindo 12cm por 9cm por 6cm, está in-

teiramente coberto com papel laminado. Esse tablete é dividido em cubos

com 1cm de aresta.

(a) Quantos desses cubos não possuem nenhuma face coberta com o

papel laminado?

(b) Quantos desses cubos possuem apenas uma face coberta com papel?

(c) Quantos desses cubos possuem exatamente duas faces cobertas com

papel?

(d) Quantos desses cubos possuem três faces cobertas com papel?

3. Determine o volume do maior tetraedro que pode ser guardado dentro de

um cubo de aresta a.

4. Considere um triângulo equilátero ABC de lado a. Pelo centro G do

triângulo, considere um segmento GD perpendicular ao plano do triân-

gulo.

(a) Calcule o comprimento de GD para que os segmentos DA, DB e

DC tenham também comprimento a.


(b) Nas condições do item (a), o tetraedro ABCD é regular. Calcule

então o volume de um tetraedro regular de aresta a.

5. Um cubo de aresta a é seccionado por oito planos. Cada plano contém os

pontos médios das três arestas que concorrem em um vértice. Retirando-

se os tetraedros formados obtemos um poliedro P.

(a) Descreva as faces de P.

14
Área e Volumes Unidade 23

(b) Calcule o volume de P.


(c) Calcule o raio da esfera circunscrita ao poliedro P.

6. Calcule o volume de um octaedro regular de aresta a.

7. Calcule o volume do octaedro cujos vértices são os centros das faces de

um cubo de volume V.

8. (a) Mostre que a soma das distâncias de um ponto interior a um tetrae-

dro regular às suas faces é constante.

(b) A partir do item anterior, calcule o raio da esfera inscrita a um

tetraedro regular de aresta a.

9. Uma pirâmide chama-se regular quando a sua base é um polígono regular

e a projeção do vértice sobre o plano da base é o seu centro.

Uma pirâmide regular de altura 4cm tem por base um quadrado de lado

6cm. Calcule seu volume, sua área e os raios das esferas inscrita e cir-

cunscrita.

15
24
Cilindro, Cone e Esfera

Sumário
24.1 Cilindros e Cones . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

24.2 A Esfera . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

24.3 Problemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

1
Unidade 24 Cilindros e Cones

24.1 Cilindros e Cones

No cilindro, toda seção paralela à base, é congruente com essa base. Esse

fato, permite concluir, pelo Princípio de Cavalieri, que o volume do cilindro é o

produto da área de sua base pela sua altura.

Se o cilindro tem altura h e base de área A contida em um plano horizontal,


imaginamos um prisma qualquer (ou em particular um paralelepípedo retângulo)

de altura h, com base de área A contida no mesmo plano. Se um outro plano

horizontal secciona os dois sólidos segundo guras de áreas A1 e A2 , então

A1 = A = A2 e por consequência, os dois têm mesmo volume. Logo, o volume

do cilindro é também o produto da área da base pela altura.

Figura 24.1

Volume do cilindro = (área da base) × (altura)

A relação entre o prisma e o cilindro é a mesma que entre a pirâmide e o

cone, ou seja, o primeiro é caso particular do segundo. Optamos por demonstrar

o volume do prisma e depois estender o resultado a um caso mais geral, o cilin-

dro, porque esse é o caminho percorrido pela maioria dos professores do Ensino

Médio. E concordamos com eles. O aluno do Ensino Médio, no seu primeiro

contato com a geometria espacial, se sente mais seguro quando compreende

bem resultados obtidos em situações particulares, para depois estendê-los em

casos mais gerais. O matemático prossional gosta, frequentemente, de fazer

o inverso, ou seja, demonstrar um resultado geral e depois citar os casos parti-

culares em que o mesmo vale.

O volume do cone segue o mesmo caminho trilhado anteriormente. Se

um cone tem altura H e base de área A contida em um plano horizontal,

2
Cilindro, Cone e Esfera Unidade 24

consideramos uma pirâmide de altura H e base de área A contida nesse mesmo


plano.

Figura 24.2

Se um outro plano horizontal, distando h do vértice desses sólidos secciona

ambos segundo guras de áreas A1 A2 , então:


e

 2
A1 h A2
= =
A H A

ou seja, A1 = A2 . O Princípio de Cavalieri nos garante que os dois sólidos

têm mesmo volume e portanto concluímos que o volume do cone é igual a um

terço do produto da área da base pela altura.

1
Volume do cone = (área da base) × (altura).
3
Os casos mais interessantes para os alunos são os cilindros e cones retos de

base circular porque eles estão mais relacionados com os objetos do cotidiano.

Ainda, nesses objetos, a superfície lateral pode ser obtida de forma simples.

A superfície lateral de um cilindro reto de raio R e altura h, pode ser


desenrolada e transformada em um retângulo de base 2πr e altura h. A área

lateral do cilindro é igual à área desse retâgulo, que vale 2πRh.

3
Unidade 24 Cilindros e Cones

Figura 24.3

A superfície lateral de um cone reto de raio R e geratriz g, pode ser desen-

rolada e transformada em um setor de raio g cujo arco tem comprimento 2πR.


A área A desse setor é igual à área lateral do cone e para calculá-la, usaremos

apenas uma elementar regra de três. Diremos que a área A desse setor está

para a área do círculo de raio g, assim como o comprimento do arco 2πR está

para o comprimento total da circunferência 2πg . Com isso, concluímos que a

área lateral do cone reto vale πRg .

Figura 24.4

O leitor deve reparar que, ao utilizar a regra de três, estamos usando o fato

que a área de um setor circular é diretamente proporcional ao comprimento do

arco que ele subtende (veja Nota 2 desta unidade).

4
Cilindro, Cone e Esfera Unidade 24

Atividades Na Sala de Aula

Cilindros e cones retos de base circular devem ser associados às suas

esferas inscrita e circunscrita. Além disso, inúmeras embalagens de produtos

são cilíndricas, o que fornece diversos problemas interessantes. Vamos listar

algumas atividades que podem ser desenvolvidas com os alunos.

1. O cilindro equilátero (isto é, o cilindro circular reto em que a altura é igual


ao diâmetro da base) possui uma interessante propriedade. De todos os

cilindros de mesmo volume, o cilindro equilátero é o que possui a menor

área total. Assim, se o industrial deseja comercializar seu produto em

embalagens cilíndricas que gastem um mínimo de material em sua fabri-

cação, ele deve preferir o cilindro equilátero. É o caso, por exemplo das

latas de leite condensado. Elas são cilindros equiláteros. A demonstração

dessa propriedade requer o uso de cálculo e, portanto, não está ainda

acessível aos alunos do Ensino Médio. Entretanto, o professor poderá

calcular a área de um cilindro equilátero e depois calcular a área de um

outro cilindro com mesmo volume, para que os alunos vejam que é maior.

2. Quando se desenrola a superfície lateral de um cone, obtemos um setor. É

interessante investigar o valor do ângulo central desse setor. Esse ângulo

dene a forma do cone. Se o cone tiver um raio pequeno comparado com

sua altura (tipo chapéu de bruxa), o ângulo do setor será pequeno. Se,

por outro lado, o raio do cone for grande quando comparado com sua

altura (tipo chapéu de chinês), o ângulo do setor será também grande. O

professor poderá demonstrar, utilizando também uma regra de três que o

ângulo desse setor é, em radianos, igual a 2πR/g e com isso mostrar que

no cone equilátero (cone que tem a geratriz igual ao diâmetro da base),


o
esse ângulo é de 180 .

5
Unidade 24 A Esfera

24.2 A Esfera

O volume da esfera será obtido também como aplicação do Princípio de

Cavalieri. Para isso, devemos imaginar um certo sólido, de volume conhecido e

tal que seções produzidas por planos horizontais na esfera e nesse sólido tenham

áreas iguais. Repare que em uma esfera de raio R, uma seção que dista h do
2 2
centro é um círculo de área π(R − h ). Mas esta é também a área de uma

coroa circular limitada por circunferências de raios R e h.

Figura 24.5

Consideremos então uma esfera de raio R apoiada em um plano horizontal

e, ao lado, um cilindro equilátero de raio R com base também sobre esse plano.
Do cilindro, vamos subtrair dois cones iguais, cada um deles com base em

uma base do cilindro e vértices coincidentes no centro do cilindro. Este sólido

C (chamado clépsidra) é tal que qualquer plano horizontal distando h do seu

centro (ou do centro da esfera, o que é o mesmo), produz uma seção que é uma

coroa circular cujo raio externo é R e cujo raio interno é h. Logo, o volume da

esfera é igual ao de C.
O volume de C é o volume do cilindro de raio R e altura 2R subtraido de

dois cones de raio R e altura R. Isso dá:

1 4
πR2 2R − 2 πR2 = πR3
3 3
que é o volume da esfera.

4 3
Volume da esfera = πR
3
Adotando o Princípio de Cavalieri, pudemos calcular o volume da esfera.

Entretanto, a área da esfera não pode ser obtida pelo método sugerido para o

6
Cilindro, Cone e Esfera Unidade 24

cilindro e para o cone. A superfície da esfera não é desenvolvível, ou seja, não

é possível fazer cortes nela e depois aplicá-la sobre um plano sem dobrar nem

esticar.

Qualquer que seja o método que imaginarmos para obter a área da esfera,

em algum momento precisaremos de uma passagem ao limite. Entretanto,


2
para justicar o valor 4πR para a área da esfera ao aluno do Ensino Médio,

existem processos que, apesar de não constituírem uma demonstração, tornam

esse resultado bastante aceitável. Um deles, está no livro Medida e Forma em

Geometria, pág. 81. O outro pode ser o seguinte. Suponha a esfera de raio R,
dividida em um número n muito grande de regiões, todas com área e perímetro
muito pequenos. Como se a esfera estivesse coberta por uma rede de malha

muito na. Cada uma dessas regiões, que é quase plana se n for muito grande,
será base de um cone com vértice no centro da esfera. Assim, a esfera cará

dividida em n cones, todos com altura aproximadamente igual a R (tanto mais

aproximadamente quanto menor for a base do cone).

Se A é a área da esfera e A1 , A2 , . . . , An , são as áreas das diversas regiões,

temos:

4 3 1 1 1
πR = A1 R + A2 R + · · · + An R
3 3 3 3
4 3 1
πR = (A1 + A2 + · · · + An )R
3 3
4 3 1
πR = AR
3 3
A = 4πR2

É preciso deixar claro que esses cálculos não demonstram nada. Anal,

usamos a palavra aproximadamente muitas vezes e com signicado pouco

preciso. No Ensino Médio, atitudes desse tipo são corretas. Se não pode-

mos demonstrar resultados, deveremos mostrar argumentos que, pelo menos os

façam plausíveis, aceitáveis, e dizer honestamente aos alunos, que a demon-

stração requer o uso de Cálculo ou de outras ferramentas que eles vão aprender

depois. Anal de contas, a forma de ensinar e os argumentos que podemos

utilizar, dependem do nível de desenvolvimento dos estudantes. Como dizia o

professor Zoroastro, a verdade nem sempre pode ser dita de uma vez só.

7
Unidade 24 A Esfera

Na Sala de Aula Atividades

Utilizamos a palavra esfera com dois signicados. Ora ela representa a

superfície, a casca do sólido. Ora ela representa o interior. Não há problema

nisso. Repare que na geometria plana, o mesmo já ocorria. Por exemplo,

a palavra quadrado era utilizada tanto para representar a união dos quatro

lados (o bordo) quanto para o interior. Os estudantes deverão compreender o

signicado de acordo com a situação que está sendo estudada.

Sugerimos algumas atividades relacionadas com áreas e volumes na esfera.

1. Para praticar as fórmulas de área e de volume, é interessante demonstrar

o seguinte fato descoberto por Arquimedes: se uma esfera está inscrita

em um cilindro (reto) então a razão entre as áreas desses sólidos é igual

à razão entre seus volumes.

2. O professor pode também pedir aos alunos para calcular a área e o volume

de um fuso esférico (isto é, a região delimitada por dois meridianos). É

simples convencê-los de que tanto a área como o volume de um fuso

esférico é proporcional ao ângulo desse fuso. Portanto, se α é a medida

em graus do ângulo de um fuso em uma esfera de raio R, a área desse

fuso será
α
4πR2
360
e seu volume será
α 4πR3
× .
360 3
3. É bom aproveitar as fórmulas da área e do volume da esfera (em que

aparecem, respectivamente, R2 e R3 ) para reforçar o fato de que as razões


entre áreas e volumes de guras semelhantes são iguais, respectivamente,

ao quadrado e ao cubo da razão de semelhança. O professor pode, por

exemplo, perguntar aos alunos que relação existe entre as massas de duas

bolas de gude, uma com raio igual ao dobro do da outra.

8
Cilindro, Cone e Esfera Unidade 24

24.3 Problemas

1. Um cilindro reto possui uma esfera inscrita. Mostre que a razão entre as

áreas desses dois sólidos é igual à razão entre seus volumes (Teorema de

Arquimedes).

2. Um copo cônico de papel foi feito a partir de um setor de 12cm de raio


o
e ângulo central de 120 . Calcule o volume desse copo.

3. Um cone reto tem 3cm de raio e 4cm de altura. Calcule seu volume, área

e os raios das esferas inscrita e circunscrita.

4. Um copo cilíndrico tem 3cm de raio e 12cm de altura. Estando inicial-

mente cheio d'água o copo é inclinado até que o plano de sua base faça
o
45 com o plano horizontal. Calcule o volume de água que permaneceu

no copo.

5. Observe o Teorema a seguir:

Teorema 1 Se dois sólidos são semelhantes com razão de semelhança k, então a

razão entre seus volumes é k3.

Demonstre este teorema em casos particulares utilizando paralelepípedo

retângulo, prisma, pirâmide, cilindro, cone e esfera.

6. Uma garrafa de bebida com 30cm de altura tem uma miniatura perfeita-

mente semelhante com 10cm de altura. Se a miniatura tem 50ml de

volume, qual é o volume da garrafa original?

7. Um cone tem altura h e volume V . Este cone é seccionado por um plano

paralelo à sua base, distando h/3 dessa base. Calcule os volumes das

partes em que esse cone cou dividido.

8. Um tanque subterrâneo tem a forma de um cone invertido com 12m de

profundidade. Este tanque está completamente cheio com 27000 litros de

água e 37000 litros de petróleo. Calcule a altura da camada de petróleo.

9
Unidade 24 Problemas

9. Utilizando um pouco de cálculo (ou de imaginação).

Um fabricante de leite condensado deseja comercializar seu produto em

embalagens cilíndricas de volume V. Determine as dimensões dessa em-

balagem para que seja gasto um mínimo de material em sua fabricação

(ou seja, a superfície da lata deve ser mínima).

10. O professor perguntou ao aluno qual seria o volume gerado pela rotação

de um retângulo em torno de um eixo que contém um de seus lados. O

aluno respondeu corretamente, calculando o volume de um cilindro. Em

seguida o professor traçou a diagonal do retângulo e perguntou ao aluno

quais seriam os volumes gerados pelos dois triângulos formados. O aluno

então dividiu a resposta anterior por dois. Está certo isso?

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