Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
vilas.
OBJETIVOS
1
Professora do Curso de Graduação em História (UECE-Fortaleza) e do Mestrado Acadêmico em História
(MAHIS); Doutora em História Social (Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ); Pós-Doutora pela
Indiana University (USA).
2
Doutora em História das Ciências e da Saúde (Casa de Oswaldo Cruz – FIOCRUZ); Bolsista do Programa
Nacional de Pós-Doutoramento ( PNPD –MAHIS\ UECE) sob supervisão da Prof. Dra. Zilda Maria
Menezes Lima.
2
INTRODUÇÃO
3
A resistência dos povos nativos na Capitania do Ceará estendeu-se, grosso modo, de 1679, data de doação
das primeiras cartas de sesmarias até por volta de 1713, quando uma confederação de povos indígenas,
partindo da ribeira do Jaguaribe, invadiu a Vila de Aquiraz, a capital da capitania, fazendo muitos mortos
e destruindo fazendas de gado. (PINHEIRO, Francisco José. Os Povos Nativos do Cearâ: uma síntese
possível. In CHAVES, Gilmar (org). Ceará de Corpo e Alma: um olhar contemporâneo de 53 autores sobre
a terra da luz. Fortaleza: Relume Dumará, 2002, pgs 21-25)
3
Segundo Teixeira da Silva, citado por Almir Leal de Oliveira6, o principal fator
da introdução das charqueadas foi a concorrência que as boiadas do Piauí e Ceará tinham
com áreas mais próximas do Recife, como as dos sertões do São Francisco. Segundo
aquele “por volta de 1740, todo o sistema de comercialização sofreria uma mudança
4
GIRÃO, Valdelice Carneiro. As Oficinas ou Charqueadas no Ceará. Fortaleza: Secretaria de Cultura e
Desporto, 1995.
*Fazemos referência à pesquisa que a historiadora citada desenvolveu acerca da importância da atividade
criatória para a ocupação das terras da capitania do Ceará. Tal pesquisa resultou na sua dissertação de
mestrado e em capítulos de livros e artigos publicados na revista do Instituto do Ceará: Histórico,
Geográfico e Antropológico.
5
PINHEIRO, Francisco José. O Vale do Jaguaribe: de um espaço livre dos povos indígenas para uma região
da Pecuária. Proposta: Fortaleza, vol 6, n.6, 1999.
6
OLIVEIRA, Almir Leal de. As Carnes Secas do Ceará e o Mercado Atlântico no século XVIII. Temas
Setecentistas. Humanas, Curitiba: UFPR, sd.
4
radical [...] havia uma mercadoria a ser transposta até os centros consumidores de Recife,
Olinda e Salvador”7.
7
TAKEYA, Denise Monteiro. Europa, França, Ceará: origens do capital estrangeiro no Brasil. São Paulo,
Natal: Hucitec-UFRN, 1995. p. 102.
8
ABREU, Capistrano. Capítulos da História Colonial (1500-1800). Editora Belo Horizonte: Itatiaia; São
Paulo: Publifolha, 2000.
9
http://revistas.com.br/reads/arquitextos. Acesso em 25.10.2017.
5
Como podemos observar, para o Ceará, confluem duas trilhas: a da Bahia que
penetra no território através do Piauí e a de Pernambuco, que genericamente, circunda o
litoral e adentra o Ceará vinda do Rio Grande do Norte. A corrente advinda da Bahia,
teria transposto a serra da Ibiapaba e se estabelecido na bacia do alto Poti (onde hoje situa-
se Crateús). Já a corrente pernambucana teria alcançado as nascentes do Jaguaribe, e
ampliando-se em direção ao Acaráu (norte da capitania).
A ocupação pecuária cearense se deu, não há dúvida, com o gado trazido das
capitanias vizinhas, principalmente Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte,
por colonizadores que requerendo as primeiras sesmarias interioranas, vieram
ocupar de início, o vale do Jaguaribe10.
10
GIRÃO, Valdelice Carneiro. As Oficinas ou Charqueadas no Ceará. Fortaleza: Secretaria de Cultura e
Desporto, 1995.
6
No primeiro momento desta atividade, o gado era levado, margeando os rios até
as principais vilas baianas e pernambucanas, onde era comercializado nas feiras a baixo
preço, em virtude das grandes distâncias percorridas e das dificuldades encontradas na
longa travessia.
O gado, evidentemente, chegava às feiras com peso muito baixo, tendo assim na
negociação, seu preço muito reduzido. Em virtude da baixa margem de lucro e do
exaustivo deslocamento, passou-se a abater o gado na própria fazenda, fazendo uso da
técnica de salgar e secar a carne. Após todo o processo, era vendida para outras
localidades, suprindo a necessidade de abastecimento de carne, das regiões destinadas ao
cultivo da cana de açúcar12. Assim, encerramos este tópico com as seguintes questões
para reflexão:
11
REGIS, Luciana Meire Gomes. Esquadrinhando a Vila de Limoeiro nos Inventários Post-Morten ( 1875-
1880). In CHAVES, José Olivenor (org). Vale do Jaguaribe: Janelas para o passado. Fortaleza: EDUECE,
2014.
12
PINHEIRO, Francisco José. Mundos em Confronto: povos nativos e europeus na disputa pelo território.
In SOUZA, Simone (org) Uma Nova História do Ceará. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2004.
7
Na primeira metade do século XVIII, a fazenda de gado foi a sede das sesmarias,
da unidade familiar, da atividade produtiva e também onde se encontraram as condições
propícias para os primeiros sinais de acumulação de renda no sertão. Assim, para Clóvis
Ramiro Jucá Neto14, a fazenda foi sede da vida política local, de toda autarquia sertaneja
e suas famílias, com poderes quase absolutos, e da rede de mandos e desmandos que
pautou a organização territorial. Cumpriu ainda o papel de defesa diante da população
indígena ou perante outros sesmeiros na luta pela posse das terras
A violência foi o elemento mais comum no avanço da ocupação dos sertões para
que fossem consolidados os caminhos das boiadas e as instalações das fazendas de gado.
A hostilidade atribuída aos indígenas mascara os métodos adotados pelos colonizadores
no sentido de garantir a posse do território.
13
NETO, Clóvis Romero Jucá. Os primórdios da organização do espaço territorial e da vila cearense –
algumas notas. In Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material. Vol. 20, n.1. São Paulo. Jan-Jun,
2012.
14
NETO, Clóvis Romero Jucá. Os primórdios da organização do espaço territorial e da vila cearense –
algumas notas. In Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material. Vol. 20, n.1. São Paulo. Jan-Jun,
2012.
8
15
PINHEIRO, Francisco José. Mundos em Confronto: povos nativos e europeus na disputa do território. In
SOUZA, Simone. Uma Nova História do Ceará. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2000.
16
GIRÂO, Valdelice Carneiro. Da Conquista à Implantação dos primeiros núcleos urbanos na Capitania
do Siará Grande. In SOUZA, Simone. História do Ceará. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 1994.
17
BEZERRA, Antônio. Algumas Origens do Ceará. Fortaleza: Tipografia Minerva, 1918, p 62.
9
1435 vacas paridas, 190 novilhotas, 277 garrotas, 308 bezerras, 46 bois de
carro, 20 bois de lote, 20 novilhos pais, 148 boiotes, 31 novilhotes, 490
garrotes, 300 bezerros. 276 Bestas solteiras, 63 poldrinhas, 113 cavalos
capados, 50 cavalos pais de bestas, 6 cavalos de sela. 20 ovelhas, 40
cabras19.
18
http://revistas.com.br/reads/arquitextos. Acesso em 25.10.2017.
19
PAIVA, Manoel de Oliveira. Dona Guidinha do Poço. São Paulo: Ática, 1981. p12. Neste romance do
escritor cearense Oliveira Paiva, o cenário da trama consiste numa grande fazenda fictícia denominada Poço
da Moita. O pesquisador Ismael Pordeus, no entanto, observou inúmeras coincidências entre a ficção
imaginada por Paiva e uma trágica história ocorrida numa fazenda, próxima a cidade de Quixeramobim.
10
Em muitos casos, o proprietário podia não residir na fazenda e ter uma espécie de
empregado um pouco mais qualificado, para administrar suas terras e rebanhos. Porém,
quando residia
Para Otaviano Vieira Jr22, tal estrutura familiar e domiciliar - composta por graus
tão diversos de parentesco, se coadunava com o seminomadismo observado na sociedade
do sertão cearense, em que predominavam as dificuldades de sobrevivência, expressa
mesmo na precariedade de alimentos e que faziam da coabitação entre parentes uma
poderosa estratégia de sobrevivência. Porém, destaca o autor citado, que a família não era
sempre um grupo coeso. Esta, através da violência poderia consolidar ou tornar frágil sua
unidade, de acordo com o cumprimento ou não de determinados códigos de convivência.
Citamos o mencionado romance, porque defendemos que a literatura pode ser tratada como fonte pelo
historiador, desde que não tomemos seu discurso como verdadeiro e sim como verossímil.
20
NOBRE, Geraldo da Silva. As Oficinas de Carne do Ceará. Solução Local para uma pecuária em crise.
Fortaleza: Gráfica Editorial Cearense, 1979, p 16.
21
Idem
22
VIEIRA JR. Antonio Otaviano. Entre Paredes e Bacamartes: História da Família no Sertão (1780-1850).
Fortaleza: Edições Demócrito Rocha/Hucitec, 2004.
11
espaço colonial cearense. Ana Cecília Farias de Alencar, analisou cerca de 30 inventários
entre os anos de 1748 a 1791 que atestam a existência de mulheres proprietárias e
administradoras de seus bens23.
Segundo a autora citada, tal prática foi possível porque na América Portuguesa,
ocorreu uma adaptação do processo de sucessão das terras e outros bens aos herdeiros,
quando comparado ao mesmo processo em Portugal, conforme se pode observar
Desse modo, as mulheres poderiam herdar terras e bens na morte de seus esposos,
desde que reivindicassem a posse dos mesmos em seu nome. Em vários processos
analisados por Alencar, foram também encontradas, variadas solicitações de registros de
sesmarias partindo de mulheres bem como vários inventários e testamentos em que
aparecem como detentoras de bens variados25. Assim, para os padrões econômicos da
época, tais mulheres eram consideradas ricas e poderosas.
23
ALENCAR, Ana Cecília farias de. Declaro que sou cabeça de casal, dona e viúva: arquétipos femininos
no Ceará Colonial. Dissertação de Mestrado – Mestrado Acadêmico em História – UECE, 2014.
24
SALGADO, Graça. Fiscais e Meirinhos: administração no Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1985.
25
Solicitação de Datas de Sesmarias de Teresa Freire de Carvalho, Francisca Ferrreira Dinis, Catarina
Ribeiro de Moraes, Joana Theodósia de Jesus e os Inventários de Ignácia Ribeira de Freitas e Ana Lopes
Cabreira são analisadas pormenorizadamente por Ana Cecilia Farias de Alencar na dissertação já citada.
12
OURO
PRATA
Jarros d’agua de mãos - 224 oitavas
Bacia – 312 oitavas
Leiteira – 112 oitavas
Tigela de lavar – 80 oitavas
Cafeteira – 288 oitavas
COBRE
Tacho
Bacias de cozer
Bacia de barba
Um sino
BENS MÒVEIS
23 escravos
Cinco prédios na Vila
As terras de seis fazendas
Rebanho de mais de duas mil cabeças de gado28
26
PAIVA, Manoel de Oliveira. Dona Guidinha do Poço. São Paulo, Ática, 1981, p 12.
27
Um romance, uma obra literária, pode ser usada como fonte histórica? Sim. Desde que lhe seja aplicada
os procedimentos teóricos e metodológicos usados em qualquer outra fonte, salvas as suas peculiaridades.
28
Idem.
13
1. Por que afirmamos que a violência foi um dos traços mais marcantes da
ocupação dos sertões cearenses?
2. Como entender a formação da família patriarcal e suas estratégias de poder
nesse contexto?
29
GIRÃO, Valdelice. As Charqueadas. In SOUZA, Simone (org). História do Ceará. Fortaleza: Fundação
Demócrito Rocha.
30
Op cit. p 65
15
31
GIRÂO, Raimundo. História Econômica do Ceará. Fortaleza: UFC, 1984.
32
GIRÂO, Raimundo. História Econômica do Ceará. Fortaleza: UFC, 1984.
33
LEMENHE, Maria Auxiliadora. As razões de uma cidade.
16
Bahia e Rio de Janeiro. O não atendimento àqueles negociantes não significou uma
diminuição do interesse nos produtos pastoris34. Interessante informar que nesse
momento, esse tipo de carne chegava aos mercados consumidores por via marítima,
levadas em sumacas.
34
SALGADO, Graça. Fiscais e Meirinhos: administração no Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1985.
35
GIRÂO, Valdelice Carneiro. As Oficinas ou Charqueadas no Ceará Fortaleza: Secretaria de Cultura e
Desporto, 1995.
36
ARAÚJO, Nicodemus. Almofala e os Tremembés. Fortaleza: Imprensa Oficial, 1981.
37
BRAGA, Renato. Um Capítulo esquecido da economia pastoril do Nordeste. Revista do Instituto do
Ceará. Vol 61. Janeiro-Dezembro de 1947, p 149-160.
17
de Granja, que domina a foz do rio Camossi, tem sim, hum grande comércio e carne [...]
que atrai pelo seu comodo muitas embarcações das capitanias vizinhas. Porém, para
Valdelice Girão, Granja possuía modesta importância nesse contexto. Vamos agora às
reflexões
1. Por que a fazenda de gado e atividade criatória foram escolhidas para promover a
“real” ocupação do território cearense?
2. Por que o texto sugere que muitas vezes as relações sociais ali desenvolvidas foram
pautadas na violência?
38
FUNES, Euripedes. Os Negros no Ceará. In SOUSA, Simone. Uma Nova História do Ceará.
Fortaleza:Fundação Demócrito Rocha, 2000.
18
Para cumprir bem com seu oficio vaqueiral [...] deixa poucos noites de
dormir nos campos ou ao menos nas madrugadas não o acham em casa,
especialmente no inverno, sem atender às maiores chuvas e trovoadas,
porque nesta ocasião costuma nascer a maior parte dos bezerros e pode nas
malhadas observar o gado antes de espalhar-se ao romper do dia, como
costumam, marcar as vacas que estão próximas a ser mães e trazê-las quase
como à vista, para que parindo, não escondam os filhos de forma que
fiquem bravos ou morram de varejeiras40.
39
BARBOSA, Lindemberg Segundo de Freitas. A Escravidão na Freguesia de Limoeiro. In CHAVES, José
Olivenor de Sousa (ORG). Vale do Jaguaribe: Histórias e Culturas. Fortaleza: Luxprint Of Set, 2008.
40
ABREU, Capistrano de. Capítulos da História Colonial (1500-1800). Editora Belo Horizonte: Itatiaia;
São Paulo: Publifolha, 2000.
19
Embora não recebessem pagamento de salário, com o passar dos anos, era
possibilitado a eles – quando administradores da fazenda, criar o seu próprio rebanho
através do sistema de quarta e desse modo, poderiam se transformar em fazendeiros,
porém, a longo prazo.
O “pagamento” era realizado ao final de cada inverno quando o gado era recolhido
para a ferra e permaneceu em uso até meados do século XX. Segundo Girão, com a
melhoria do rebanho, principalmente nas criações não extensivas onde foram introduzidas
raças bovinas importadas, os fazendeiros passaram a realizar pagamentos dos seus
vaqueiros mensalmente41.
41
GIRÃO, Valdelice. As Oficinas ou Charqueadas no Ceará Fortaleza: Secretaria de Cultura e Desporto,
1995.
20
Porém, é necessário reafirmar que a agricultura, nesse contexto, bem como seus
trabalhadores, estiveram expostos a inúmeras dificuldades: preparar a terra para o plantio
– que exigia devastar a caatinga; o clima difícil – secas e enchentes; inexistência de
ferramentas adequadas, entre outras limitações. Após essas informações acerca dos
trabalhadores da fazenda de criar, reflita:
1. Por que afirmamos que o vaqueiro “era símbolo de status” naquele contexto ?
2. Como você avalia o fato dos moradores/trabalhadores das fazendas não receberem
salários?
A ocupação da região sul do Ceará não foi efetuada, efetivamente, pelo pastoreio.
Ali teria prevalecido a agricultura baseada no cultivo da cana de açúcar, porem,
inicialmente, seus principais exploradores buscavam jazidas de metais preciosos,
vejamos:
42
Op, cit. p 34.
21
[...] em vários lugares, e distantes huns dos outros, e achey que havia em
todos ouro, porém, de nenhuma conta, porque em três dias de trabalho [...]
sendo oyto os trabalhadores, se não tirou mais de treze ou quatorze léguas
de grãos de pezo [...] olho d’agua dos Oytiz não me mostrou couza [...] no
riacho das Aningas também não me mostrou cousa alguma [...]43.
43
Para a História das Minas do Cariri. Documentos da Coleção Studart. Instituto do Ceará; Histórico,
Geográfico e Antropológico.
44
Para a História das Minas do Cariri. Carta de Luis Joseph Correia e Sá, 10 de março de 1754.
Documentos da Coleção Studart. . Instituto do Ceará: Histórico, Georgráfico e Antropológico.
22
Desse modo, deram-se por findas as explorações dos metais tantas vezes
malgradas da região do Cariri. Como complemento, foi expedida em 30 de junho de 1766,
pelo Marquês de Pombal, ordem régia suprimindo o oficio de ourives no Brasil46.
Segundo Figueiredo Filho
45
Carta de Jerônimo de Mendes Paz, Comandante e Intendente das Minas de São Jose dos Cariris aThomé
Joaquim da Costa Corte Real, Governador e Capitão Geral de Pernambuco. Coleção Studart. Instituto do
Ceará: Histórico, Geográfico e Antropológico.
46
STUDART, Guilherme. O Ceará nos tempos de Miranda Henriques, Lobo da Silva e as Missôes do
Cariri, p 144. Coleção Studart. Instituto do Ceará: Histórico, Geográfico e Antropológico.
23
47
FIGUEIREDO FILHO, José Alves. História do Cariri. Vol 1. Instituto Superior do Cariri. Sd.
24
O movimento dos rebanhos das fazendas, levados para a venda nas feiras em
Pernambuco, esquadrinharam, inicialmente o Ceará. Muitos desses caminhos serviram
como centros catalisadores na formação dos adensamentos populacionais48. Com a
proliferação das fazendas que margeavam o rio Jaguaribe no início do século XVIII,
formou-se a conhecida Estrada Geral do Jaguaribe, que partia da Vila do Icó e subia o
Rio Salgado e suas nascentes.
Assim, as rotas comerciais que se formaram a partir dos movimentos das boiadas
bem como as oficinas, possibilitaram o surgimento e crescimento de algumas vilas.
Porém, como destaca Vieira Junior, as Vilas são reconhecidas na medida em que é
48
GIRÃO, Valdelice. Da Conquista à Implantação dos Primeiros Núcleos Urbanos do Siará Grande. In
SOUZA, Simone. História do Ceará. Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha/Multigraf, 1994.
49
VIEIRA JUNIOR, Antônio Otaviano. APUD STUDART, FILHO, Carlo. Vias de Comunicação do Ceará
Colonial in Páginas de História e Pre-História. Fortaleza: Insstituto do Ceará, 1966.
50
VIEIRA JUNIOR, Antônio Otaviano. p 35
51
GIRÃO, Raimundo. História Econômica do Ceará. Fortaleza: Instituto do Ceará, 1947, p 252.
25
Nesse sentido, a Coroa Portuguesa ampliou seus agentes na capitania, dando início
a um processo de administração e policiamento, no território ocupado pelos maiores
agrupamentos populacionais da capitania, principalmente aqueles ligados à
comercialização do gado e congêneres.
52
OLIVEIRA, Adriana Santos de. Pecuária, Agricultura e Comércio: dinâmica das relações econômicas
no termo da Vila de Sobral. Dissertação de Mestrado. UFC. Fortaleza, 2015.
53
PINHEIRO, Francisco José. PINHEIRO, Francisco José. Mundos em Confronto: povos nativos e
europeus na disputa do território. In SOUZA, Simone. Uma Nova História do Ceará. Fortaleza: Edições
Demócrito Rocha, 2000.
26
do espaço. Do Alinhamento das ruas até a demarcação das áreas para a construção de
cada habitação, diziam respeito à padronização exigida pelos poderes instituídos.
Segundo Jucá54, apesar do meio físico e social da capitania não ser tão atraente à
fixação, funcionários do reino seguiram os caminhos traçados pelos vaqueiros e
instalaram-se no território. A primeira Vila, como é possível observar foi criada em 1713.
Porém, a primeira vila da área da Pecuária foi criada somente em 1736, pela ordem régia
de criação da Vila do Icó, mas sendo erigida a partir de uma povoação já existente.
Antônio Bezerra identificou as vilas cearenses abaixo com suas respectivas datas de
fundação:
54
JUCA NETO, Clóvis Romeiro. Para este autor, as vilas foram fundadas, em sua maioria, onde já existiam
paróquias, evidenciando assim a precedência da organização religiosa, quanto à organização politico-
administrativa. Este autor afirma que durante o século XVIII o número de freguesias criadas superou o
número de vilas. A capitania teria alcançado o século XIX com 17 freguesias e 14 vilas.
27
Deste modo, a criação das vilas deve ser entendida no âmbito das estratégias
políticas e administrativas da Coroa Portuguesa, no sentido das tentativas de ampliar o
seu lucro nesta parte da sua colônia. As Vilas cumpririam, então, dois objetivos: o
primeiro: transformar os indígenas em súditos do Rei de Portugal convertendo as aldeias
de índios em Vilas e o segundo, aquelas poderiam possibilitar um maior controle da
população pobre e mestiça que vivia vagando pela colônia sem atividade laborial definida
e sem lugar fixo para morar. Segundo OLIVEIRA,
[...] no ano de 1790 principiou uma seca tão horrível e rigorosa que
dourou quatro annos [...] os prejuízos se avolumaram a tal ponto
que os fazendeiros que recolhiam mil bezerros, não ficaram com
20 nos annos seguintes [...] destruiu e matou quasi todos os gados
dos sertões e por isso veio desaparecer o commércio das carnes
secas [...]56
55
OLIVEIRA, Adriana Santos de. Pecuária, Agricultura e Comércio: dinâmica das relações econômicas
no termo da Vila de Sobral. Dissertação de Mestrado. UFC. Fortaleza, 2015. p 14.
56
BRASIL, Thomaz Pompeu de Sousa. O Ceará no Começo do Século XX. Fortaleza: Tipografia
Lithográfica, 1909, p 253.
57
Historiadores que pesquisaram SECAS no Ceará: José Olivenor de Souza Chaves, Frederico Neves,
Wendell Guedes, Kênia Sousa Rios, Tyrone Apolo, entre outros.
29
CONSIDERAÇÕES FINAIS
58
GIRÂO, Valdelice Carneiro. As Oficinas ou Charqueadas no Ceará Fortaleza: Secretaria de Cultura e
Desporto, 1995.
59
BOSI, Alfredo. Dialética da Colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p 15.
30
60
GIRÂO, Valdelice Carnero. As Oficinas ou Charqueadas no Ceará Fortaleza: Secretaria de Cultura e
Desporto, 1995.
61
TAKEYA, Denise Monteiro. Europa, França, Ceará: origens do capital estrangeiro no Brasil. São Paulo,
Natal: Hucitec-UFRN, 1995. p. 102)
31
FONTES
62
Fonte: NA, série F12, cartoon 2699, Relatório do Consul Francês na Bahia, datada de 1º. de março de
1844 ( apud TAKEYA, Denise Monteiro. Europa, França, Ceará: origens do capital estrangeiro no Brasil.
São Paulo, Natal: Hucitec-UFRN, 1995. p. 102)
32
BIBLIOGRAFIA