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Motrivivência Ano XXI, Nº 32/33, P. 71-88 Jun-Dez.

/2009

O legado EDUCATIVO DOS


MEGAEVENTOS ESPORTIVOS

Katia Rubio1

Resumo Abstract
Quando no final do século When in the late nineteenth century
XIX foi celebrada a primeira edição was celebrated for the first Olympic
dos Jogos Olímpicos da Era Moderna Games of the Modern Age and the
e a cidade de Atenas acolheu a city of Athens hosted the competition
competição pouco se esperava de
little was expected of an event that
um evento que reunia algumas
centenas de pessoas que praticavam brought together hundreds of people
esporte como atividade de tempo who practice sports as leisure-time
livre e sem nenhuma outra finalidade activity and for no other purpose than
senão a competição em si mesma. the competition itself. Throughout
Ao longo do século XX os Jogos the twentieth century the Olympics
Olímpicos se transformaram em um have become a major cultural events
dos principais eventos culturais do of the planet and your organization
planeta e sua organização demanda
demands the direct involvement of
envolvimento direto do poder público
e da iniciativa privada. De um sonho public and private initiative. From a
multicultural e multiétnico a um multicultural and multiethnic dream
dos maiores negócios do planeta os to a one of the biggest business on
Jogos Olímpicos, a maior realização the planet the Olympics, the greatest
do Comitê Olímpico Internacional, achievement of the International

1 EEFE-USP
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tornaram-se uma fonte inesgotável de Olympic Committee, became an


reprodução de valores culturais e de inexhaustible source of reproduction
projeção da dinâmica social. Este artigo of cultural values and projection of
propõe-se a discutir os valores olímpicos social dynamics. This article proposes
inicialmente apregoados, identificados to discuss the Olympic values initially
em princípio como valores éticos
touted as identified in principle as
universais, e a proposta de educação
olímpica como forma de resgate desses universal ethical values, and the pro-
valores e de reflexão sobre os rumos que posed Olympic education as a way
o movimento como um todo toma em to rescue these values and reflection
um mundo marcado pelas diferenças on the direction the movement as a
não apenas culturais, mas também whole takes on a world marked by
econômicas e sociais. differences not only cultural but also
Palavras-chave: Jogos Olímpicos; economic and social.
Valores olímpicos; Educação Keywords: Olympic Games; Olympic
olímpica. values; Olympic education.

cebeu que em diferentes lugares do


Os Jogos Olímpicos como mega- mundo, mesmo sem falar o mesmo
eventos dos séculos XX e XXI idioma, as pessoas eram capazes
de jogar e competir. Ou seja, o es-
O Movimento Olímpico porte era uma linguagem universal.
contemporâneo tem como principal Coubertin começou a freqüentar a
ideólogo Pierre de Freddy, conhe- École Supérieure des Sciences Po-
cido pelo título nobiliárquico de litiques na qual teve contato com a
Barão de Coubertin. Educador, pen- pessoa e a obra de Hipólito Taine
sador e historiador, empenhou-se na e com um núcleo anglófilo que
reorganização dos Jogos. Sua preo- buscava compreender a dinâmica
cupação fundamental era valorizar cultural inglesa onde se originava
a competição leal e sadia, o culto o modelo de esporte moderno. De
ao corpo e à atividade física. acordo com Tavares (2003) duas
Após conhecer as escolas características da sociedade inglesa
inglesas, onde o esporte moderno interessavam a Coubertin e iriam
foi organizado e se desenvolveu, influenciar sobremaneira sua obra e
Pierre de Coubertin visitou diversos suas ações: uma delas era o ‘espírito
países para saber como o esporte de associação’ da sociedade ingle-
era praticado e como ele se estru- sa corporificado nas associações
turava. Depois de vários anos per- privadas de patronato; o segundo
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foi o sistema educacional inglês, atenção em virtude da resistência


onde se educava para a vida numa que os países de cultura puritana
sociedade. ofereciam à idéia dos jogos Olím-
Embora Coubertin encon- picos, relacionando-os com uma
trasse em Taine o eco necessário festa pagã, extinta pelo imperador
para a reflexão sobre um modelo Teodósio, um católico fervoroso,
pedagógico foi em Frédéric Le Play a pedido do bispo de Milão, San
que a reforma social por meio de Ambrosio, no ano de 394 (Guttman,
uma pedagogia esportiva encontrou 1992; 1978).
sua principal referência (Mangan, Foi, sobretudo, o renasci-
1986). Coubertin começou a se mento do interesse pelos estudos
preocupar em desenvolver um clássicos, fazendo reviver na inte-
modelo de reforma social por meio lectualidade de então a fascinação
da educação e do esporte em uma que a cultura helênica exercia
perspectiva internacionalista de- sobre a cultura européia, além
pois de obter pouco sucesso com das descobertas de sítios arqueo-
programas de caráter educacional lógicos que permitiam desvendar
em seu país, a França. MacAloon acontecimentos relacionados aos
(1984) aponta que durante os idos Jogos Olímpicos da Antiguidade,
de 1880 visitou inúmeras escolas que levou Pierre de Coubertin a
inglesas, uma verdadeira peregri- tomar para si a tarefa de organizar
nação, em busca de referência para uma instituição de caráter interna-
seu projeto esportivo-pedagógico, cional com a finalidade de cuidar
deslocando, entretanto esse micro daquilo que seria uma atividade
sistema – a educação – do macro capaz de transformar a sociedade
sistema – a sociedade – no qual daquele momento: o esporte. Tava-
ele estava inserido e situado. Não res (2003) aponta que o estabele-
satisfeito com isso, em 1889, partiu cimento do Movimento Olímpico
para os Estados Unidos para conhe- nos idos de 1894 coincide com a
cer de perto o modelo educacional criação e proliferação de um amplo
americano. Nessa oportunidade espectro de organizações de cunho
Coubertin mostrou-se surpreso internacionalista, cujo principal
com os ‘sentimentos democráticos objetivo era a promoção da paz.
do catolicismo americano’ que se- Isso porque, embora durante o sé-
parava igreja do Estado e tolerava culo XIX tivesse ocorrido um gran-
a liberdade de culto, fato menos de desenvolvimento das ciências
comum na Inglaterra. Talvez essa humanas e da produção de idéias,
questão tenha lhe chamado tanta os conflitos ainda eram resolvidos
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de forma brutal por meio da guerra. a primeira edição dos Jogos Olím-
As organizações internacionalistas picos na capital francesa em 1900,
buscavam a resolução de conflitos, como parte das comemorações da
tanto de ordem interna como ex- virada do século que ocorreria em
terna, pelo uso da razão e das leis, seis anos. Entretanto, diferentemen-
e não pelas armas. Dentro dessa te do que havia sugerido o propo-
lógica a competição esportiva era nente, a competição foi antecipada
uma forma racionalizada de confli- para o ano de 1896, para Atenas,
to, sem o uso da violência. como uma deferência aos criadores
O projeto de restauração dos jogos originais (Rubio, 2006).
dos Jogos Olímpicos como na A missão e intenção do COI era
Grécia Helênica veio a público em organizar os Jogos Olímpicos bem
25 de novembro de 1892 quando como a normatizar as modalidades
da ocasião do 5° aniversário da disputadas, muitas delas recém-
União das Sociedades Francesas de criadas e sem um corpo de regras
Esportes Atléticos, que teve como universalizadas. A idéia inicial, e
paraninfo o Barão de Coubertin. que posteriormente foi perpetuada,
Naquela ocasião ele manifestaria era da celebração de uma com-
seu desejo e intenções com relação petição de caráter internacional,
os Jogos: É preciso internacionalizar com realização quadrienal, cujos
o esporte. É necessário organizar participantes estariam vinculados a
novos Jogos Olímpicos (López, representações nacionais.
1992:21). A tarefa audaciosa de pro- De acordo com Tavares
mover uma competição esportiva (1999.a) os Jogos Olímpicos eram
de âmbito internacional, espelhada para Coubertin a institucionalização
nos Jogos Olímpicos gregos, com de uma concepção de práticas de
caráter educativo e permanente, atividades físicas que transformava
demandava a criação de uma insti- o esporte em um empreendimento
tuição que desse o suporte humano educativo, moral e social, destinado
e material para a realização de tal a produzir reflexos no plano dos
empreitada. E assim, em junho de indivíduos, das sociedades e das
1894, na Sorbonne, em Paris, teve nações. A definição de Olimpismo
início o congresso esportivo-cultu- contida nos Princípios Fundamen-
ral, no qual Coubertin apresentou tais da Carta Olímpica (2001) é
a proposta de recriação dos Jogos pouco precisa ou, como afirma
Olímpicos e da criação do Comitê DaCosta (1999), uma filosofia em
Olímpico Internacional (COI). Ini- processo durante o tempo de vida
cialmente o Barão intentava realizar de Coubertin – o que tem levado
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estudiosos do tema a discussões desejava Pierre de Coubertin.


extensas e inconclusivas (Grupe, A educação olímpica como
1992; Sagrave, 1988). Vale ressaltar legado dos Jogos Olímpicos
que o termo Olimpismo refere-se ao
conjunto de valores pedagógicos e
Desde que Pierre de Cou-
filosóficos do Movimento Olímpico,
bertin deu início ao Movimento
e não aos aspectos formais e/ou
burocráticos que sustentam a insti- Olímpico no final do século XIX, ele
tuição e o fenômeno olímpico. não desejava apenas criar uma com-
As modernas Olimpíadas, petição esportiva. Alguns princípios
ou seja, o período em que ocorrem éticos, pedagógicos e morais nortea-
as edições dos Jogos Olímpicos, vam essa prática, que hoje represen-
dividem-se em Jogos de inverno e tam a face pública do Olimpismo.
de verão, ocorrem de quatro em Dentre esses valores encontram-se
quatro anos, como na Antigüidade, o estímulo à participação da mulher
alternando-se a cada dois anos entre no esporte, a proteção ao atleta,
os Jogos de Verão e os de Inverno. o desenvolvimento sustentável, o
Diferentemente da dificuldade para respeito à Trégua Olímpica, a pro-
definição da sede ocorrida nas edi- moção da cultura e da educação
ções iniciais, na atualidade, a reali- olímpica e a organização dos Jogos
zação das competições é disputada Olímpicos.
por grandes metrópoles dos cinco Esses valores funcionam
continentes, em um processo que como um Código de Conduta do
demanda alguns anos.
Movimento Olímpico e buscam
Para os gregos, os Jogos
nortear as atitudes e ações de todos
representavam um momento de tré-
os envolvidos nas atividades olímpi-
gua nas guerras e conflitos de qual-
quer ordem para que competidores cas, sejam elas competitivas, admi-
e espectadores pudessem chegar a nistrativas ou voluntárias. Para tanto
Olímpia. Ao longo desse um século busca combinar esporte, educação
de competições os Jogos Olímpicos e cultura a partir da harmonia entre
da Era Moderna já sofreram inter- o corpo e a mente, da excelência
rupção por causa das duas Grandes em si mesmo, da integridade nas
Guerras e boicotes promovidos por ações, do respeito mútuo e da ale-
Estados Unidos e União Soviética gria no esforço (Rubio, 2009). Cabe
na década de 1980, indicando que ressaltar que o termo Olimpismo
o Movimento Olímpico não está refere-se ao conjunto de valores
alheio às questões sociais e políticas pedagógicos e filosóficos do Movi-
do mundo contemporâneo como mento Olímpico, e não apenas os
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Jogos Olímpicos. educação de Coubertin devem


Conforme aponta Futada ser compreendidas dentro de uma
(2007) enquanto as dúvidas e críti- perspectiva histórica, que, como já
cas quanto a eficácia e a validade mencionado, tinha suas influências
de um modelo educacional pautado significativas para que o mosaico do
na formação de valores estão pre- Olimpismo fosse construído dessa
sentes nas discussões atuais sobre forma. Essa abordagem defende
educação, a perspectiva idealizada que deve haver uma busca por
de ser humano como produto e uma formação do indivíduo na sua
produtor de uma conduta ética e totalidade, sem fragmentação de
justa já contempla outras questões domínios biológicos, psicológicos
como o real sentido de justiça e e sociais, entendendo o esporte e
ética e as relações de poder. Muito a atividade física como elementos
embora já se tenha pensado sobre fundamentais para essa realização.
condições mínimas necessárias Dentro dessa perspectiva Coubertin
para que todos tenham acesso e já defendia ao final no século XIX
garantia de qualidade de vida, a existência da Educação Física no
conforme a Declaração Universal ambiente escolar como disciplina
dos Direitos Humanos, sabe-se dos obrigatória. Sua abordagem, no en-
conceitos distintos e, talvez ainda tanto, não afirmava o esporte como
mais importante, compreendidos especialização, mas como a possibi-
sobre questões como justiça, ética lidade de intervenção educacional,
e valores para diferentes grupos dialogando com outras manifesta-
sociais. Diante disso apresenta as ções como a arte e a música.
principais questões a serem deba- A idéia de perfeição huma-
tidas em um projeto de educação na compreende que os Jogos Olím-
para os valores olímpicos a partir picos são a maior demonstração
das idéias de Muller (2004). de façanhas, auto-superação e de
estabelecimento de recordes possí-
A busca da perfeição e do de- veis dentro do universo esportivo se
comparados a outras competições, e
senvolvimento harmonioso que esse caráter de transcendência
dos Jogos está presente no próprio
O conceito de desenvolvi-
conceito de Olimpismo onde a
mento integral pode sugerir inúme-
busca de desenvolvimento é uma
ras dúvidas quanto a seus objetivos
constante. Esta ideologia pode ter
e amplitude. As críticas com relação
sido em grande parte influenciada
a essa visão de ser humano e de
pelos valores presentes no modelo
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da agonística grega. O princípio da da agonística como manifestação


agonística é caracterizado, segundo presente nas situações esportivas
Durantez (1977), como toda ativida- está diretamente vinculado ao con-
de em que exista confronto ou mú- ceito de areté.
tua oposição entre os protagonistas Segundo Brandão (1999)
que dela participem, apresentada areté é a expressão daquilo que se
em forma de disputa pacífica ou poderia definir como excelência ou
amistosa, própria e característica da superioridade que se revelam par-
prática esportiva, mantendo respei- ticularmente no campo de batalha
to ao competidor que associava o e nas assembléias, por meio da arte
próprio desempenho às virtudes do da palavra. A areté, no entanto, é
adversário, valorizando o respeito e uma outorga de Zeus: é diminuída,
dignidade da competição. quando se cai na escravatura, ou é
A interdependência desses severamente castigada, quando o
conceitos significa uma necessida- herói comete uma hýbris, uma vio-
de recíproca do enfrentamento do lência, um excesso, ultrapassando
obstáculo, pois é somente dessa sua medida, o métron, desejando
forma que os próprios limites e igualar-se aos deuses. Conseqüên-
capacidades podem ser superados. cia lógica da areté é a timé, a honra
O competidor compreende ser que se presta ao valor do herói, que
parte de um ciclo transformador e, se constitui na mais alta compensa-
portanto, comporta-se com a citada ção do guerreiro. É a dike, a justiça,
ética esportiva, participando de for- que não permite crescer a hýbris ou
ma justa, respeitando o adversário, o descomedimento.
as regras de competição e o valor A disputa individual na su-
onipresente do embate. peração de limites e aperfeiçoamen-
Essa perspectiva é cabível to físico e espiritual era realizada
não somente ao atleta em situações tanto nos campos de batalha quanto
competitivas de alta performance, nas celebrações mítico-religiosas em
mas a qualquer indivíduo que se homenagem aos deuses mitológicos
engaja na prática de um esporte ou (Jogos Olímpicos, Jogos Fúnebres,
atividade física e busca melhoras etc.). Nessas ocasiões eram reali-
em seu desempenho, novamente zadas diversas provas esportivas e
sempre pautadas nos princípios de culturais e, dentro desse contexto,
honestidade e justiça. Novamente surgia no participante a busca pela
buscando um paralelo com as influ- areté não por doutrina imposta, mas
ências do modelo de educação da pela incessante busca de valores
Paidéia Grega, esse entendimento e princípios vivos adquiridos na
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convivência com aqueles que já se atitude social foi idealizada e em-


mostravam diferenciados (Munguia, pregada desde o surgimento do Mo-
1992 ; Rubio, 2001). vimento Olímpico contemporâneo,
afirmando a relação de projeção
que há entre sociedade-cultura e
A ética na atividade esportiva movimento olímpico-esporte. Em-
bora hegemônica, a cultura inglesa
Sob essa idéia espera-se não era universal, portanto, é de se
desenvolver um dos conceitos ba- esperar que o fair play também não
silares do Olimpismo, conhecido representasse uma unanimidade.
como fair play. O fair-play presu- Tavares (1999.b) endossa
me uma formação ética e moral essa afirmação apontando que as
daquele que pratica e se relaciona implicações do fair play enquanto
com os demais integrantes de uma um conjunto de valores normativos
competição, e que esta pessoa não dos comportamentos no ambiente
fará uso de outros meios que não a da competição reflete a formulação
própria capacidade para superar os de um ambiente cultural específico.
oponentes. Nessas condições não Sendo assim, ainda que o Olim-
há espaço para formas ilícitas que pismo, e o fair play em particular,
objetivem a vitória, suborno ou uso tenham adquirido alguma expres-
são hipoteticamente universal, é
de substâncias que aumentem o
altamente recomendável que se
desempenho.
examine o significado atual do fair
De acordo com Turini play a partir de um cenário cultural
(2002) o fair play é entendido como multidimensional. (p. 178)
a ética do esporte moderno cujo Em outro trabalho Tavares
propósito é orientar a conduta do (2003) cita o filósofo alemão Gunter
competidor na prática esportiva. Gebauer para discutir o paradoxo
Dentre os valores culturais ingleses inerente ao esporte que associa a
com os quais Pierre de Coubertin ‘liberdade de excesso’ (altius, citius,
teve contato, o fair play foi sem fortius) e o cavalheirismo (fair play)
dúvida aquele que mais influência por serem dificilmente compatíveis
exerceu sobre sua concepção de diante das codificações éticas e prin-
Olimpismo. A gênese do fair play cípios morais em um campo onde o
está fincada no cavalheirismo, base que prevalece são as ações práticas.
do comportamento que definia Há condições objetivas que levam
o ideal de homem na sociedade a essa conclusão.
inglesa do século XIX. A transposi-
ção para o âmbito esportivo dessa Mesmo quando as regras não
mudam ou mudam pouco, o
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desenvolvimento da prepara- estudiosos do Olimpismo preocu-


ção física, o aumento da ‘se- pados com as transformações que
riedade’ da competição e toda vêm ocorrendo nas regras e conduta
a carga de mudanças competi- dos praticantes das diversas moda-
tivas trazida pela crescente ló- lidades esportivas, bem como do
gica profissional do esporte, de- avanço dos estudos culturais (Lenk,
terminam uma dinâmica e um 1986; Loland, 1995; Mangan, 1996;
sentido novos que fazem um Marivoet, 1998; Tavares, 1999.a).
mesmo esporte se tornar um Isso porque o próprio Movimento
jogo bastante diferente. A busca Olímpico criou padrões, normas e
pela vantagem, por sua chance, orientações que norteiam e influen-
é o que determina a perspec-
ciam a prática e o entendimento do
tiva interna que um atleta tem
esporte, tanto por parte de quem o
na situação competitiva, a ma-
pratica como de quem o assiste.
neira como organiza ações e a
A compreensão e aplica-
quantidade e a qualidade dos
ção do fair play envolvem elemen-
recursos que ele mobiliza para
tos emocionais e cognitivos que
atingir seus objetivos. (p.102)
levaram Lenk (1986) a postular duas
Diante do universalismo manifestações possíveis:
sugerido e desejado pelo Olimpis- - o fair-play formal que está
mo seria de se esperar que o multi- relacionado diretamente
culturalismo fosse contemplado em ao cumprimento de regras
respeito aos diversos atores sociais e regulamentos escritos e
que protagonizam os Jogos Olím- formalizados que o partici-
picos, a principal manifestação do pante da competição deve
Movimento Olímpico. Entretanto, cumprir, em princípio, sen-
assim como o ideal de amadorismo, do considerado como uma
o fair play foi concebido a partir ‘norma obrigação’ (must
de uma perspectiva cultural domi- norm). É o comportamento
nante, e como decorrência natural normatizado, caracterizado
eurocêntrica (ou anglocêntrica), em como um comportamento
um momento em que a estrutura e objetivo.
organização olímpica restringiam-se - o fair-play não formal
a um grupo restrito de pessoas que – relaciona-se ao com-
tinham a si próprios como referên- portamento pessoal e aos
cia para a criação de regras. valores morais do atleta e
Os estudos sobre o fair- daqueles envolvidos com
play têm recebido a atenção de o mundo esportivo. Não
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está limitado por regras uma linguagem de reconhecimento


escritas e é legitimado cul- universal, o que favorece a busca da
turalmente. A ausência de paz e o reconhecimento de igualda-
uma regulamentação oficial de entre os povos. Quando Pierre
confere a ele um caráter de Coubetin desenvolveu a idéia
subjetivo. É o comporta- do Olimpismo acreditava que o
mento efetivo influenciado Movimento Olímpico se justificava
pelos estados emocionais e como promotor do entendimento
motivacionais. intercultural e que o esporte era
Apesar de caracterizado uma linguagem universal a todos os
por uma abordagem normativa e povos e que, portanto, todas as pes-
conservadora do comportamento soas do mundo poderiam praticá-lo
atlético, o fair-play serviu durante independente do lugar onde estives-
longo período como orientação sem. Naquele momento histórico
para os protagonistas do espetáculo pouco se estudava a respeito das
esportivo, ainda que não fosse se- diferenças entre os grupos sociais,
guido durante todo o tempo. principalmente porque os países
europeus dominavam grande parte
Multiculturalismo, interna- do mundo e impunham sua cultura
cionalismo e alteridade como melhor e mais correta.
Diante de seu valor socia-
Ao longo do século XX o lizante, o esporte favorece a coo-
esporte constituiu-se como um es- peração e a amizade internacional,
paço privilegiado para a construção permitindo aos povos respeitarem-
de identidades e de desenvolvimen- se mutuamente. Entende-se a partir
to da alteridade, não apenas no dessa perspectiva a necessidade do
Brasil como na maioria dos países adversário para que a competição
Ocidentais. Concebo a alteridade se dê de forma justa e honesta e
como a consideração e o respeito para que o indivíduo se descubra
às diferenças entre os indivíduos a si mesmo.
(Rubio & Daolio, 1997). Müller (2004) atribui ao
A amizade e a fraternidade Movimento Olímpico, ao Olim-
são consideradas o coração do Movi- pismo e principalmente ao forte
mento Olímpico. Isso porque levam exemplo dos Jogos Olímpicos, um
à convivência social, ao entendimen- potencial estímulo tanto à com-
to e a amizade, à compreensão inde- preensão internacional através do
pendente da nacionalidade. Por isso esporte, como à prática de relações
o Olimpismo se apresenta como de respeito e tolerância interpessoal
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entre os indivíduos envolvidos na gregação, onde as disputas de poder


prática esportiva. Independente- ou as atitudes e intencionalidades de
mente do nível em que seja feita diferenciação negativa não deveriam
a análise, espera-se que o esporte existir. Muito embora essa fosse uma
pautado por ideais filosóficos e preocupação inicial de Coubertin na
comportamentais traga consigo toda construção do Olimpismo, estudos
uma gama de exemplos e geração mostram que as dinâmicas do jogo
de oportunidades para a melhora de poderes e formas de comparação
dessas competências. sempre estiveram presentes no Mo-
Para Futada (2007) essa vimento Olímpico.
tomada de atitude, que pode ser A formação do caráter
compreendida inclusive como uma dentro desses preceitos se dá pelo
transcendência da questão do con- autoconhecimento, pelo autocon-
viver, está diretamente relacionada trole e pela auto-realização. Isso
à construção do indivíduo na sua porque o esporte permite a manifes-
subjetividade e, no caso do inter- tação da liberdade, da espontanei-
nacionalismo, na construção da dade, da fantasia criadora e o desejo
identidade cultural de determinado de identificação com as condições
grupo. Essa organização prévia da reais da vida. E por meio dessa ação
identidade pessoal e social seria con- educadora se dá a formação do ca-
dição para que os envolvidos nessa ráter. Ao conjunto de diferentes ma-
dinâmica educacional identificas- nifestações culturais e a convivência
sem o que de fato lhes confere sua com muitas formas de cultura é
subjetividade e só então passassem dado o nome de multiculturalismo,
a reconhecer o que lhes é diferente, cujo foco central é o respeito e a
numa demonstração de alteridade. valorização das diferenças, o que
Nesse conceito Coubertin significa a negação do racismo ou
já aponta para a distinção entre pa- de qualquer outra forma de precon-
triotismo e nacionalismo. O Barão ceito ou discriminação. No esporte
defenderia o espírito de sociedade isso representa o respeito às diversas
presente no Movimento Olímpico manifestações corporais, sejam elas
estimulando o amor à pátria. Por ou- olímpicas ou não.
tro lado entendia que o pensamento Coubertin entendia que
nacionalista deveria ser execrado o Olimpismo, principalmente por
uma vez que junto dele poderiam meio dos Jogos Olímpicos, poderia
estar presentes atitudes xenofóbicas estimular a compreensão interna-
e preconceituosas. Os Jogos Olím- cional, como o desempenho de
picos seriam um momento de con- relações de respeito e tolerância
82

interpessoal entre os indivíduos Da mesma forma que a


envolvidos na prática esportiva. regra facilita a competição entre
Acreditava que o esporte pautado atletas de diferentes países ela não
por esses ideais filosóficos po- permite que se manifestem outras
deria fornecer exemplos e gerar formas de praticar a modalidade
oportunidades para o exercício esportiva. Essa é a marca do esporte
da cordialidade entre pessoas de olímpico: ser praticado da mesma
diferentes países, a inclusão e a forma, com as mesmas regras e os
paz. Essa atitude de respeito à dife- mesmos equipamentos em qualquer
rença está diretamente relacionada país participante da instituição que
à construção do indivíduo na sua regule a modalidade.
subjetividade, ou seja, naquilo que
há de mais particular e específico da Emancipação, ambientalismo
sua existência. Considerando que e autonomia
essa subjetividade é construída na
relação com o grupo social ao qual A dinâmica que subjaz ao
o indivíduo pertence, estaria assim esporte e suas manifestações deveria
formada as bases da identidade ser construída sobre um forte senti-
cultural em diferentes países. mento de responsabilidade social.
No século XIX o esporte Para isso seria necessário atentar
era uma prática de identidade sobre as questões de igualdade de
cultural na Inglaterra. Isso porque direitos na prática do esporte, com
muitas das modalidades esportivas o devido respeito às diferenças
que conhecemos hoje foram origi- individuais. Portanto, questões rela-
nadas dos jogos e das brincadeiras cionadas a temas como os direitos
realizadas pelas crianças e jovens humanos, gênero, diferenças sociais
nas festas populares. Mais tarde, e etnia no esporte, devem ser não
para que os estudantes das escolas ignoradas, mas explicitadas e traba-
inglesas pudessem praticar as mo- lhadas valendo-se do próprio esporte
dalidades e competir entre si foi como ferramenta de desmistificação
preciso sistematizar um conjunto e transformação de alguns pressu-
de regras, o que depois facilitou a postos, eliminando preconceitos e
mesma prática em outros países do estereótipos que trabalhem no sen-
mundo. Isso permitiu a idéia dos Jo- tido oposto desta proposta.
gos Olímpicos, uma vez que atletas Pode-se observar que o es-
de vários países podiam competir porte olímpico não é a única prática
sob o mesmo sistema de regras. de cultura corporal de movimento.
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Há ainda muitas modalidades es- O Movimento Olímpico


portivas como forma de identidade demonstrou ao longo dos anos gran-
cultural, como é o caso dos Jogos In- de preocupação com as questões
dígenas, no Brasil ou a pelota basca relacionadas ao patriotismo e ao
na Espanha. A atividade corporal é nacionalismo. Desde Coubertin se
uma maneira de um grupo social ou entendia que o pensamento patrió-
uma nação apresentar sua história e tico não deveria ser exaltado porque
suas tradições construídas a partir da isso poderia gerar atitudes xenofóbi-
vivência de várias gerações. cas (preconceito contra o diferente,
A idéia de que a geogra- o estrangeiro) e preconceituosas.
fia esportiva não coincide com a Os Jogos Olímpicos deveriam ser
geografia política resultou em um um momento de confraternização,
movimento internacional deno- onde as disputas pelo poder ou as
minado Países Desportivos. Isso atitudes de discriminação não de-
porque hoje em dia há países com veriam existir.
território delimitado, apesar de não
Mais recentemente a
ser reconhecido como Estados Na-
questão ambiental ganhou espaço
cionais. É o caso de Barcelona e País
na agenda olímpica. O desenvolvi-
Basco, na Espanha; País de Gales,
mento sustentável parte da noção
Irlanda do Norte e Escócia, no Reino
de que a preservação a longo prazo
Unido; Porto Rico, Alaska e Havaí,
nos Estados Unidos da América; dos recursos naturais e ambientais
Taiwan, Hong Kong e Macau, na não pode ser feita sem que haja,
China e ainda Palestina, Kosovo, simultaneamente, um desenvol-
Flandres, Ilhas Norfolk e Quebec. vimento econômico, social e po-
Esses territórios são delimitados lítico que beneficie em particular
geograficamente por produções os mais desfavorecidos. Durante
culturais e sociais que lhes confe- a Conferência das Nações Unidas
rem identidades próprias. Enten- sobre Meio Ambiente e Desenvol-
dem a atividade física e o esporte vimento (CNUMAD), denominada
como atividades livres que devem Rio 92, as nações do mundo intei-
ser promovidas e organizadas por ro assumiram o compromisso de
instituições que atuam de acordo fazer com que o desenvolvimento
com valores culturais e sociais mais econômico se processe de maneira
significativos de cada território e de a proteger o meio ambiente e os
cada momento histórico. E assim recursos não renováveis do plane-
promovem as várias manifestações ta. A noção de desenvolvimento
esportivas do local, sejam elas olím- sustentável foi acatada como o
picas ou não. conceito central que deve ser
84

respeitado na implementação dos A Agenda 21 é um plano


planos de desenvolvimento para o de ação para ser adotado global, na-
século XXI. cional e localmente, por governos
A aplicação do conceito de ou pela sociedade civil, em todas
desenvolvimento sustentável é res- as áreas em que a ação humana
ponsabilidade do conjunto de pes- interfere no meio ambiente. Esta é
soas ou instituições de importância a tentativa mais abrangente já reali-
reconhecida no desenvolvimento e zada no sentido de orientar para um
na proteção ambiental. Entendendo novo padrão de desenvolvimento
que essa questão está em conformi- para o século XXI, onde se busca
dade com a filosofia do Olimpismo, uma relação entre a sustentabilida-
com a Carta Olímpica, particular- de ambiental, social e econômica
mente em seus parágrafos terceiro e (DaCosta, 1997). A Agenda 21 do
sexto dos Princípios Fundamentais, Movimento Olímpico tem por ob-
e com o fato da sua universalidade,
jetivo incentivar os membros desse
o Movimento Olímpico entende
Movimento a participar ativamente
que lhe cabe a responsabilidade
do desenvolvimento sustentável de
especial de participar da aplicação
nosso planeta. Além disso, propõe
do conceito de desenvolvimento
às instâncias dirigentes campos de
sustentável. A agenda 21 foi o do-
cumento produzido nesse evento integração do desenvolvimento
que busca implementar o conceito sustentável as suas políticas. Às
de desenvolvimento sustentável pessoas, indica formas de ação que
O Movimento Olímpico as converterão em agentes desse
que tem por objetivo contribuir desenvolvimento sustentável graças
para a construção de um mundo à maneira com que vivem o esporte
de paz e melhor, compartilha a e também ao seu modo de ser.
análise levada a cabo pela Rio 92 e Diante do desafio de im-
insere sua ação na perspectiva do plementar as ações propostas para
desenvolvimento sustentável. Pelo o desenvolvimento sustentável o
fato de o Movimento Olímpico ter, Movimento Olímpico pensou em
graças sobretudo à universalidade um programa de ação que deve
do esporte, a capacidade de par- permitir a melhoria das condições
ticipar ativamente da implantação sócio-econômicas, a preservação
de mediadas em defesa do desen- do meio ambiente e dos recursos
volvimento sustentável, o Comitê naturais e o fortalecimento do papel
Olímpico Internacional decidiu de seus membros na implantação
dotar o Movimento Olímpico de dessas ações. Esses programas de
sua própria Agenda 21. ação abrangem a melhoria das
Ano XXI, n° 32/33, junho e dezembro/2009 85

condições sócio-econômicas, a regionais sobre o esporte e o meio


conservação e gestão dos recursos ambiente. Isso porque a realização
para um desenvolvimento sustentá- de uma edição de Jogos Olímpicos
vel e o fortalecimento do papel dos altera profundamente a vida da cida-
principais grupos envolvidos. de sede que passa por uma grande
A luta contra a exclusão reformulação, alterando o cotidiano
está presente nesse documento. de seus moradores. Por isso, quando
Entende o Movimento Olímpico da construção ou remodelação de
a prática do esporte tem um papel instalações ou do planejamento de
essencial na luta contra a pobreza. eventos desportivo de envergadura,
Por isso entende que as instituições seus responsáveis cuidarão de rea-
esportivas devem apoiar priorita- lizar um estudo prévio do impacto
riamente o desenvolvimento da ambiental que permita assegurar o
prática desportiva nas zonas de respeito ao meio ambiente cultural,
menos recursos financeiros. Por isso social e natural.
as organizações esportivas devem É por causa dessa preo-
ajudar a incentivar as instituições cupação que as atividades e ins-
públicas relacionadas com o esporte talações esportivas bem como as
a promover a prática desportiva competições deverão ser realizadas
pelos grupos humanos que, por ra- com a preocupação de preservar
zões econômicos e de gênero, raça os lugares, as paisagens, os bens
ou casta, dela se acham excluídos. culturais e o conjunto das riquezas
Tais instituições devem favorecer naturais de onde elas se realizam.
o desenvolvimento prioritário de A escolha dos locais para realizá-las
infra-estrutura e equipamentos es- também deverá ser feita com o cui-
portivos nas zonas mais carentes ou dado de minimizar o impacto sobre
marginalizadas. o meio ambiente produzido pelas
Há vários anos o Movi- infra-estruturas que lhes serão incor-
mento Olímpico considera o meio poradas, como vias de circulação,
ambiente como o terceiro pilar do redes de comunicações e de forne-
Olimpismo, depois do esporte e cimento de eletricidade, construção
da cultura. Para tanto, desenvolveu de alojamentos, abastecimento de
uma política de defesa do meio am- água e de alimentos, lançamento e
biente expressa no “Pacto da Terra”, tratamento do lixo.
bem como as ações de colaboração Para assegurar o sucesso
com a Rio 92, a organização de do desenvolvimento sustentável no
Jogos Olímpicos “verdes” e a rea- Movimento Olímpico é indispensá-
lização de conferências mundiais e vel que o conjunto dos grupos que
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constituem esse Movimento sejam originalmente, o que impede que o


agentes ativos na construção de Olimpismo de então seja entendido
um mundo melhor. A prática de- e praticado na atualidade da mesma
mocrática requer o acesso às fontes maneira. Transformado em produto
de informação. Sob essa ótica, o de consumo o esporte, de maneira
Movimento Olímpico pode prestar genérica, e o olímpico, mais espe-
uma contribuição concreta no for- cificamente, tiveram que se adequar
talecimento dos papéis sociais das para satisfazer às exigências de um
mulheres e dos jovens, bem como mercado consumidor ávido por li-
das comunidades indígenas que re- mites e movimento, premido ainda
presentam uma parcela significativa pelo veículo máximo de exposição
da população humana e o fato de desses feitos: os diversos meios de
que elas são com freqüência objeto comunicação de massa. Não se
de exclusão social. pode negar que a televisão trans-
formou a audiência do esporte em
Considerações finais todo o mundo, e na medida que
começou a perder a capacidade de
Superado o romantismo subsistir enquanto espetáculo ao
inicial que moveu e motivou a vivo, tornou-se dependente de pa-
criação do Movimento Olímpico, trocínios gerados pela abrangência
assistimos na atualidade a uma com- das transmissões televisivas. Essa
plexa trama de interesses a mover situação provocou o incremento
ideais e ações no campo olímpico. do profissionalismo no esporte,
De um sonho multicultural e mul- tanto no que se refere à possessão
tiétnico a um dos maiores negócios do espetáculo pela televisão como
do planeta os Jogos Olímpicos, a em relação àquele que protagoniza
maior realização do Comitê Olím- o espetáculo, o atleta.
pico Internacional, tornaram-se uma O distanciamento gra-
fonte inesgotável de reprodução de dativo dos valores inicialmente
valores culturais e de projeção da apregoados tem levado à promoção
dinâmica social. de ações identificadas com valores
O esporte contemporâ- éticos universais e, portanto, de am-
neo, bem como o Movimento pla aceitação, como foi a proposta
Olímpico, deve ser entendido den- olímpica inicial. Discutir a função
tro da dinâmica social dos séculos da educação olímpica surge em um
XX e XXI. Isso porque tem-se visto momento de crise desses valores e
uma ruptura da estrutura do espor- de reflexão sobre os rumos que o
te atual com os valores propostos movimento como um todo toma
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em um mundo marcado pelas di- DURANTEZ, C. Las Olimpíadas


ferenças não apenas culturais, mas Gregas. Pamplona: Comitê
também econômicas e sociais. Olímpico Espanhol, 1977.
Resgatar a dimensão ética FUTADA, F. Educação Olímpica:
e moral das práticas culturais e cor- Conceito e Modelos. In.: K.
porais de movimento nos mobiliza Rubio (org.) Educação olímpica
na construção de caminhos que cor- e responsabilidade social. São
rem para além das práticas educati- Paulo: Casa do Psicólogo, 2007.
vas formais. A proposta que se fez GRUPE, O. The sport culture and the
ao longo desse texto vem no sentido sportization of culture: identity,
de apontar direções sobre os temas legitimacy, sense and nonsense
caros aos valores olímpicos, sem, of modern sports as a cultural
contudo ditar as formas como fazê- phenomenon. In: F. Landry
lo. Isso porque em outros momentos et alii (eds) Sport... the third
históricos os conteúdos foram uni- millennium. Quebec: Les Presses
versalizados e circunscritos a práti- de l’Université Laval, 1992.
cas hegemônicas, desprezando as GUTTMANN, A. History of
especificidades das culturas locais. the modern games. Illinois:
Sendo assim, ficam aqui apontados University of Illinois, 1992.
os temas gerais que norteiam essa GUTTMANN, A. From ritual to
proposta e um convite a resgatar de record. New York: Columbia
seu grupo social os elementos a se- University Press, 1978.
rem desenvolvidos e interpretados LENK, H. Toward a social philosophy
dentro desse conjunto de valores of the Olympics: values, aims and
que se dizem olímpicos. reality of the modern Olympic
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