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RELATÓRIO
SUSTENTAÇÃO ORAL
VOTO
“Art. 299. Dar, oferecer, prometer, solicitar ou receber, para si ou para outrem, dinheiro, dádiva,
ou qualquer outra vantagem, para obter ou dar voto e para conseguir ou prometer abstenção,
ainda que a oferta não seja aceita.
Pena - reclusão até quatro anos e pagamento de cinco a quinze dias-multa.”
“[...] que por orientação do proprietário do posto de gasolina em tela, JAIME LOPES BITTI, para
que houvesse o abastecimento mediante apresentação das autorizações do posto TREVÃO
supramencionadas, bastaria que o condutor, primeiro, apresentasse tal autorização preenchida
com data, placa do veículo e do condutor e em segundo, que tivesse adesivo do candidato colado
no veículo [...].”
“[...] que trabalha no Posto Trevão desde 1999 até hoje; que em se tratando de empresas, é
comum que os abastecimentos ocorram por meio de documentos (vales), o mesmo não ocorrendo
com relação a pessoas físicas; [...] que na época da política, a maioria dos candidatos mandavam
abastecer no posto Trevão [...]; que na época da política era comum pessoas aparecerem para
abastecer veículos [...].”
“[...] que esclarece que o procedimento de abastecimento com autorização em tela, no que tange
ao cidadão comum, ou seja, que não tinha vínculo com nenhuma empresa conveniado com o
posto em foco, só se deu no período pré-eleitoral [...].”
Por conseguinte, o Recorrente aduz que os supostos corruptores eleitorais passivos firmaram
contrato de cessão de uso dos veículos com o candidato, tendo como finalidade a adesivagem de
propaganda eleitoral e a participação em eventos nas Eleições 2008, motivo pelo qual não se
justificaria a condenação.
Senão vejamos:
“[...] que não trabalhou na campanha do então candidato a vereador para o município de Aracruz
no ano de 2008, Anderson Ghidete; que, todavia, reconhece que de fato abasteceu o veículo supra
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citado, durante o período de campanha eleitoral no Posto de Gasolina denominado Trevão,
localizado no Município de Aracruz; que esclarece que tal abastecimento se deu após ter recebido
requisição do comitê eleitoral do candidato supra citado; que desta forma, após ter colado seu
adesivo de campanha teve garantido, no posto em questão o abastecimento gratuito de seu
veículo, após apresentação desta requisição; que na época não participou de nenhuma carreata do
candidato em tela [...].”
“[...] que esclarece que em nenhum momento laborou na campanha do candidato a vereador para
o município retro citado ANDERSON SEGATTO GHIDETTI; que no entanto ficou sabendo, na
época dos fatos, que no comitê deste candidato localizado em frente ao Posto Central do mesmo
Município, o candidato em tela estava distribuindo tais autorizações de abastecimento com a
condição de que o depoente adesivasse a sua propaganda eleitoral em seu veículo; que se fizesse
isso teria o direito a abastecer 5 litros de gasolina por semana [...] que se recorda que o
movimento no comitê das pessoas que chegavam com o fim de obtenção da autorização em
questão era bastante intenso; que destaca quando esteve no comitê supra mencionado e recebeu a
autorização de abastecimento em tela foi solicitado pelas pessoas que trabalhavam no local que o
depoente votasse no candidato ANDERSON GHIDETTE [...].”
VOTO DIVERGENTE
A norma penal tutela o livre exercício da liberdade de voto. O delito do art. 299 do
Código Eleitoral constitui crime comum, tendo como sujeito ativo qualquer pessoa.
É indispensável para a caracterização do delito que a vantagem, a promessa, o
benefício vise à obtenção de voto. O tipo penal pune tanto a conduta de compra de voto como a
de compra de obtenção ou promessa de abstenção de voto.
Não se exige a comprovação de pedido explícito ou direto de voto1. No entanto, é
indispensável à configuração da corrupção eleitoral a existência de elementos que indiquem,
satisfatoriamente, a negociação do voto ou da abstenção através do oferecimento, promessa ou
doação de alguma vantagem ou benefício para o eleitor.2 Nesse sentido, tem se posicionado a
Corte Superior, senão vejamos:
O tipo penal exige uma finalidade específica, qual seja, o fim de obter ou dar voto
ou promessa da abstenção. De sorte que o fim especial da conduta constante no tipo penal
1
Ação penal. Corrupção eleitoral.
[...]
3. O pedido expresso de voto não é exigência para a configuração do delito previsto no art. 299 do Código Eleitoral, mas sim a
comprovação da finalidade de obter ou dar voto ou prometer abstenção.
4. A circunstância de a compra de voto ter sido confirmada por uma única testemunha não retira a credibilidade nem a validade
da prova.
Embargos de declaração recebidos como agravo regimental e não provido.
(Embargos de Declaração em Recurso Especial Eleitoral nº 58245, Acórdão de 02/03/2011, Relator(a) Min. ARNALDO
VERSIANI LEITE SOARES, Publicação: DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Tomo 89, Data 12/05/2011, Página 31 RJTSE -
Revista de jurisprudência do TSE, Volume 22, Tomo 2, Data 02/03/2011, Página 92 )
2
ZILIO, Rodrigo López. Crimes Eleitorais. Ed. JusPodivm. Ano 2014. Pg. 105.
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previsto no art. 299, do Código Eleitoral deve estar presente, sob pena de não restar configurado
o ilícito penal em comento.3
Feitas tais considerações acerca da norma estatuída no art. 299, do Código
Eleitoral, passo a apreciar o conjunto probatório colacionado aos presentes autos.
Da análise do Demonstrativo de Vendas por Cliente referente à nota fiscal nº
12372, no valor de R$ 1.054,52 (Um mil, cinquenta e quatro reais e cinquenta e dois centavos)
emitida pela VESCOVI & BITTI LTDA (POSTO TREVÃO), na qual consta o Recorrente como
responsável financeiro (fls. 120/122 do IP nº. 740/2008), verifico que, à exceção do veículo com
Placa MPI 4343, todos os demais veículos abastecidos foram declarados na prestação de contas
de campanha do Recorrente, alguns foram adesivados e utilizados em eventos da campanha
eleitoral, outros foram utilizados na divulgação de propaganda eleitoral, sendo acordado que os
abastecimentos dos veículos era encargo do Recorrente, consoante se infere dos contratos de
cessão e de prestação de serviços acostados aos autos às fls. 61/115 e 232 e 237, que foram parte
integrante da prestação de contas do Recorrente, referente às eleições de 2008.
Inclusive, verifico que José Nilson de Jesus Barros e Josemar Miranda de Jesus,
testemunhas arroladas pela acusação, cederam seus veículos para adesivagem e participação em
eventos de campanha (fls. 76 e 83/84 e 81/82 e 89). E, Marilha Vescovi Gadioli Castoldi,
testemunha, também arrolada pelo Parquet, confirmou que seu marido, Jocimar Foresti Castoldi
também cedeu seu veículo para adesivagem e participação em eventos da campanha eleitoral do
Recorrente (fl. 87/88).
Não me parece razoável concluir, como entendeu o douto magistrado, que os
contratos foram simulados e realizados em data posterior aos fatos narrados na exordial como
forma de justificar os abastecimentos visando dar aparência de legalidade à conduta de
distribuição de “vales combustível”, consoante se extrai de parte da sentença que ora destaco:
(TSE - RHC: 142354 GO, Relator: Min. LAURITA HILÁRIO VAZ, Data de Julgamento: 24/10/2013, Data de Publicação: DJE -
Diário de justiça eletrônico, Tomo 232, Data 05/12/2013, Página 67/68)
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A uma, por que verifico que os termos/contratos foram assinados pelas
testemunhas e apresentados juntamente com a prestação de contas, por ocasião da entrega à
Justiça Eleitoral, em data que antecedeu às declarações prestadas na esfera policial, inclusive
verifico que para cada contrato foram emitidos os respectivos recibos eleitorais que, frise-se,
estão assinados pelos respectivos contratados, consoante podemos atestar da peça que deve
integrar a prestação de contas denominada “Demonstrativo dos Recursos Arrecadados”, às fls.
120/129 e da documentação acostada aos autos, às fls. 158/160. E, a duas, por que na esfera penal
não pode o julgador basear-se em conjecturas para exarar decisão condenatória.
Destaco que das 07 (sete) testemunhas arroladas pela acusação, 06 (seis) foram
ouvidas em juízo, a saber, José Lima dos Santos, Francivaldo Abílio de Sousa, José Nilson de
Jesus Barros, Josemar Miranda de Jesus, Marilha Vescovi Gadioli Castoldi e Dionel Elias
Monteiro. Dessas testemunhas, José Nilson de Jesus Barros e Josemar Miranda de Jesus
confirmaram terem assinado os termos de cessão (fls.282/285); Marilha Vescovi Gadioli Castoldi
confirmou que a assinatura aposta no contrato era de seu marido (Jocimar Foresti Castoldi) (fls.
289/290); Dionel Elias Monteiro afirmou que nunca esteve no comitê eleitoral do denunciado
(fls. 280/281) e José Lima dos Santos e Francivaldo Abílio de Sousa, respectivamente, frentista e
comandante dos frentistas, à época dos fatos, em nada contribuíram para atestar os fatos narradas
na exordial (fls. 286/288).
“[...] que trabalha no posto Trevão desde 1999 até hoje; [...] que na época
da política, a maioria dos candidatos mandavam abastecer no posto
Trevão; [...] que os abastecimentos ocorriam tanto durante o dia como a
noite; que ao receber a autorização, levava para o rapaz do caixa para
conferir o documento e depois fazia o abastecimento; [...] que não
consegue recordar se a documentação apreendida no posto era de um
candidato específico ou de vários; que não se lembra se, nesta
documentação, havia documentos do Anderson Guidetti.[...]
[Depoimento de Jose Lima dos Santos (fls. 286/287)]
“[...] que na época trabalhava como chefe de fiscalização da pista,
comandando os frentistas; que na época de política haviam as requisições
de abastecimentos;[...] que não tem como afirmar, com certeza, que as
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pessoas que iriam abastecer eram ou não funcionários de campanha; que
verificavam a requisição e o adesivo de campanha e não questionavam
mais nada;[...] que outros candidatos também apresentavam requisições
de abastecimentos no posto, e não apenas o ora denunciado;[...]
[Depoimento de Francivaldo Abílio de Sousa (fl. 288)]
A meu ver, não há nos autos qualquer prova de que o Recorrente tenha
efetivamente distribuído combustível em troca de sufrágio a configurar o dolo específico exigido
pelo tipo penal.
As provas são frágeis não se revelando robustas para assentar que o Recorrente
ofereceu a benesse em troca de sufrágio, de maneira a configurar o dolo específico estabelecido
pelo tipo penal a ensejar o decreto condenatório.
Não é demais lembrar que “[...] Nenhuma acusação penal se presume provada.
Não compete ao réu demonstrar a sua inocência. Cabe ao Ministério Público comprovar, de
forma inequívoca, a culpabilidade do acusado. Já não mais prevalece, em nosso sistema de direito
positivo, a regra, que, em dado momento histórico do processo político brasileiro (Estado Novo),
criou, para o réu, com a falta de pudor que caracteriza os regimes autoritários, a obrigação de o
acusado provar a sua própria inocência (Decreto-Lei nº 88, de 20/12/37, art. 20, n. 5). [...]” 4
4
STF. HC 73338, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Primeira Turma, julgado em 13/08/1996, DJ 19-12-1996 PP-51766
EMENT VOL-01855-02 PP-00270)
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Destarte, diante da precariedade das provas acostadas aos autos, faz-se mister
absolver o Recorrente, ante a ausência do dolo específico a configurar o crime de corrupção
eleitoral, nos termos do art. 299, do Código Eleitoral.
Por tais razões, dou provimento ao recurso, para reformar a sentença e absolver o
Recorrente, nos termos do artigo 386, VII, do Código de Processo Penal.
É como voto.
PEDIDO DE VISTA
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SESSÃO ORDINÁRIA
24-01-2017
VOTO-VISTA
Da análise do dispositivo supra, tem-se que nas três primeiras hipóteses (dar,
oferecer e prometer) o crime de corrupção ativa, ou seja, aquela praticada por candidato (ou de
alguém por ele) para com o eleitor, enquanto nas duas últimas (solicitar ou receber), verifica-se a
corrupção passiva, cometida pelo eleitor para com o candidato ou seus cabos eleitorais.
De qualquer modo, trata-se de tipo penal eleitoral misto alternativo, de forma que a
ocorrência de crime de corrupção será verificada quando da prática de qualquer um dos verbos
que compõem o dispositivo supratranscrito. Além disso, dado a sua natureza formal, para que
ocorra sua consumação, basta a oferta (independente de aceitação), a promessa (independente de
cumprimento), ou a solicitação (ainda que não seja atendido), de modo que a entrega concreta,
efetiva, e real da coisa, bem ou produto, ou mesmo a transferência de sua propriedade, posse ou
detenção, configura mero esgotamento da ação delituosa.
Além disso, para a configuração do crime de corrupção eleitoral, exige-se a
comprovação de dolo específico, ou seja, exige-se que reste comprovada a intenção do agente em
obter o voto ou, ainda, em conseguir ou prometer abstenção, como propósito único da ação.
Nesse sentido é a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral:
1
GOMES. Jairo José. Crimes e Processo Penal Eleitorais. São Paulo: Atlas. 2015. Pg. 3.
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Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 183, Data 30/09/2014, Página
487/488)”
PEDIDO DE VISTA
*
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Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo
DECISÃO: Adiada em virtude de pedido de vista formulado pelo Dr. Aldary Nunes Júnior.
VOTO-VISTA
1
Art. 299. Dar, oferecer, prometer, solicitar ou receber, para si ou para outrem, dinheiro, dádiva, ou
qualquer outra vantagem, para obter ou dar voto e para conseguir ou prometer abstenção, ainda que a
oferta não seja aceita:
Pena - reclusão até quatro anos e pagamento de cinco a quinze dias-multa.
2
GOMES, Suzana de Camargo, Crimes Eleitorais, 4ª ed. Revista, atualizada e ampliada. Ed. Revista dos
Tribunais, pág. 198.
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Depoimento da Testemunha JOSEMAR MIRANDA DE JESUS (fls. 282/283):
PEDIDO DE VISTA
DECISÃO: Adiada em virtude de pedido de vista formulado pelo dr. José Eduardo Nascimento.
3
Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça:
[...]
VII – não existir prova suficiente para a condenação. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008).
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SESSÃO ORDINÁRIA
29-03-2017
VOTO–VISTA
P E D I D O de V I S T A
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Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo
SESSÃO ORDINÁRIA
10-04-2017
VOTOVISTA
Art. 299. Dar, oferecer, prometer, solicitar ou receber, para si ou para outrem, dinheiro, dádiva,
ou qualquer outra vantagem, para obter ou dar voto e para conseguir ou prometer abstenção,
ainda que a oferta não seja aceita:
A referida norma penal tutela o livre exercício da liberdade dos direitos político,
especificamente do direito ao voto. A regra incrimina tanto a denominada corrupção eleitoral
ativa (nas modalidades dar, prometer e oferecer) como a corrupção eleitoral passiva (nas
modalidades solicitar e receber).
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Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo
No que se refere ao elemento subjetivo do tipo, consoante leciona Rodrigo López
Zilio, “exige-se um elemento específico ou uma finalidade específica: o fim de obter ou dar o
voto e de promessa ou concretização da abstenção 1”. Trata-se, portanto de crime doloso, em
qualquer de suas modalidades, no qual o dolo genérico é insuficiente.
Assim, para que haja condenação baseada no art. 299 do Código Eleitoral, é
necessária a comprovação do dolo especifico consistente em "obter ou dar voto e para
conseguir ou prometer abstenção", sem o qual não se configura a conduta típica.
É essa a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral, vejamos:
In casu, analisando atentamente o que consta dos autos, bem como os votos que
me antecederam, verifico que o ponto controvertido neste julgamento versa sobre a possibilidade
de se considerar a distribuição de combustível pelo então candidato ANDERSON SEGATTO
GHIDETTI, ora Recorrente, ato ilícito, consubstanciado na promoção de vantagem indevida em
troca de votos, ou ato lícito, mediante o abastecimento de veículos adesivados para realização de
propaganda eleitoral.
Com efeito, apreciando o conjunto probatório colacionado aos autos, a meu sentir,
entendo que não há a prova robusta capaz de levar à conclusão de que o Recorrente tenha
efetivamente distribuído combustível em troca de votos, nem mesmo de que de os contratos de
cessão de veículos juntados às fls. 61/115 e 232 e 237, possam ser considerados simulados,
visando dar aparência de legalidade da suposta corrupção eleitoral ventilada na denúncia.
Pelo contrário, a análise da prova testemunhal colhida em juízo leva a crer que o fornecimento de
combustível estava condicionado à colocação de adesivos de campanha do recorrente nos
veículos a serem abastecidos e não à obtenção de voto em seu favor.
Como bem ressaltado no voto do Eminente Magistrado Juiz Aldary Nunes Junior, as testemunhas
assim se manifestaram:
1
ZILIO, Rodrigo Lopez. Crimes Eleitorais. 2ªed. Jus Podium: 2016. p. 115
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“Depoimento da Testemunha JOSEMAR MIRANDA DE JESUS (fls. 282/283):
[...] que chegou a abastecer o seu veículo em poucas vezes, acreditando que umas 03 ou 04 vezes,
nos finais de semana; que o trabalho voluntário na campanha consistia em ficar fazendo
propaganda com o carro como adesivo; [...] que na época da campanha, o depoente procurou o
denunciado, em seu comitê para adesivar o seu automóvel, sendo que lá apenas é que ficou
sabendo que quem adesivasse o veículo ganhava combustível; [...] que nunca recebeu qualquer
proposta do denunciado no sentido de tentar comprar-lhe o voto.
[...] que era feita a identificação por meio um adesivo do candidato; [...] que verificavam a
requisição e o adesivo de campanha e não questionavam mais nada; na época da campanha, o
depoente procurou o denunciado, em seu comitê para adesivar o seu automóvel, sendo que lá
apenas é que ficou sabendo que quem adesivasse o veículo ganhava combustível; [...].
[...] que recebiam o vale combustível pelo fato de adesivarem o automóvel; que a partir do
momento em que adesivarem o carro, recebiam semanalmente o combustível; [...] que jamais
recebeu qualquer abordagem do denunciado no sentido de tentar comprar-lhe o voto”.
Desta feita, resta demonstrado pelos depoimentos de JOSEMAR MIRANDA DE JESUS, JOSÉ
NILSON DE JESUS BARROS, FRANCIVALDO ABÍLIO de SOUZA e MARILHA VESCOVI
GADIOLI CASTOLDI, todos colidos em juízo e sob o crivo do contraditório, que o recebimento
dos vales combustíveis era fornecido àqueles que adesivassem seus veículos.
Com efeito, entende o Colendo Tribunal Superior Eleitoral, que a distribuição de combustível
para abastecer veículos adesivados com propaganda de eleitoral não caracteriza o crime de
corrupção eleitoral, porquanto ausente o especial fim de agir, consubstanciado na captação ilícita
de votos. In verbis:
ELEIÇÕES 2008. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO PENAL.
IMPROCEDÊNCIA. CORRUPÇÃO ELEITORAL. DISTRIBUIÇÃO DE VALE-
COMBUSTÍVEL EM TROCA DA AFIXAÇÃO DE ADESIVOS. DOLO ESPECÍFICO DE
CAPTAR VOTOS. AUSÊNCIA. ATIPICIDADE DA CONDUTA. PROVIMENTO.
1. Segundo a jurisprudência desta Corte, para a configuração do crime descrito no art. 299 do
CE, é necessário o dolo específico que exige o tipo penal, isto é, a finalidade de "obter ou dar
voto" e "conseguir ou prometer abstenção" (RHC nº 142354, Rel. Min. Laurita Vaz, DJe de
5.12.2013).
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2. Na espécie, o recebimento da vantagem - materializada na distribuição de vale
combustível -, foi condicionado à fixação de adesivo de campanha em veículo e não à
obtenção do voto. Desse modo, o reconhecimento da improcedência da ação penal é medida
que se impõe.
3. Agravo regimental provido para conhecer e prover o recurso especial e julgar improcedente a
ação penal, afastando a condenação do agravante pela prática do crime de corrupção eleitoral.
(Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral nº 291, Acórdão de 03/02/2015, Relator(a)
Min. MARIA THEREZA ROCHA DE ASSIS MOURA, Relator(a) designado(a) Min.
LUCIANA CHRISTINA GUIMARÃES LÓSSIO, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico,
Tomo 42, Data 04/03/2015, Página 220).
Mais a mais, verifico que, à exceção do veículo com Placa MPI 4343, cujo recibo
de abastecimento consta o Recorrente como responsável financeiro, todos os demais automóveis
abastecidos foram declarados na prestação de contas de campanha do Recorrente em 2008,
acompanhada dos devidos contratos de cessão e de prestação de serviços acostados às fls. 61/115
e 232 e 237.
A referida prestação de contas foi devidamente aprovada pela Justiça Eleitoral em
2008, e, portanto, em data anterior ao inquérito policial que acompanha o presente processo.
Logo, não vislumbro indícios mínimos para concluir que tais contratos foram simulados visando
dar aparência de legalidade da suposta corrupção eleitoral narrada na denúncia.
Assim, em face da fragilidade do conjunto probatório produzido pela acusação, faz-se necessário
absolver o Recorrente, ante a ausência do dolo específico a configurar o crime de corrupção
eleitoral, nos termos do art. 299, do Código Eleitoral.
Por tais razões, acompanhando o Revisor, dou provimento ao recurso, para
reformar a sentença e absolver o Recorrente, nos termos do artigo 386, VII, do Código de
Processo Penal.
É como voto.
*
P E D I D O de V I S T A
*
Presidência do Desembargador Sérgio Luiz Teixeira Gama.
Presentes o Desembargador Samuel Meira Brasil Júnior e os Juízes Helimar Pinto, Aldary Nunes
Júnior, Cristiane Conde Chmatalik, Adriano Athayde Coutinho e Rodrigo Marques de Abreu
Júdice.
Presente também o Dr. Carlos Vinícius Soares Cabeleira, Procurador Regional Eleitoral.
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SESSÃO ORDINÁRIA
26-04-2017
VOTO de MINERVA
Compulsando os autos e feita a devida análise fática das provas produzidas, assim
com da sentença recorrida, entendo que o recurso sob análise deve ser conhecido e desprovido,
pois em meu sentir, após analisar os fatos e provas colhidas na instrução processual, considerando
a conduta do agente, a forma de execução do delito e o meio empregado, entendo que o
recorrente agiu com finalidade de obter o voto angariando a simpatia dos eleitores, o que
desequilibrou a disputa eleitoral.
Relembro aos dignos pares que nos presentes autos o recorrente foi denunciado
por, supostamente, ter realizado doações de combustíveis a eleitores do referido município às
1
Embargos de Declaração em Recurso Especial Eleitoral nº 58245, Acórdão de 02/03/2011, Relator(a) Min.
ARNALDO VERSIANI LEITE SOARES, Publicação: DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Tomo 89, Data 12/05/2011,
Página 31 RJTSE - Revista de jurisprudência do TSE, Volume 22, Tomo 2, Data 02/03/2011, Página 92.
2
TSE, AgR-AI nº 20903/MT, Relator Min. Gilmar Ferreira Mendes, DJE de 05.03.2015.
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vésperas da data das eleições, a qual ocorreu em 05 de outubro de 2008, visando a obtenção de
votos em seu favor, enquanto candidato a vereador no Município de Aracruz/ES.
Destaca a denúncia que, “...os eleitores destinatários dos abastecimentos quando
inquiridos em sede policial afirmaram que sequer trabalharam diretamente na campanha do
denunciado, contudo, sentiam-se por vezes convencidos a direcionar-lhe o voto nas urnas.”
Saliento que, a averiguação do dolo específico no presente caso deve ser realizada
de modo indireto, em consonância com o entendimento já manifestado pelo E. Tribunal Superior
Eleitoral.
Segundo consignou o eminente Desembargador Samuel Meira Brasil Júnior em
seu voto condutor, ficou comprovado nos autos deste processo que o recorrente promoveu o
fornecimento de vales combustíveis para terceiros, que não detinham vinculação com a sua
campanha eleitoral, restando comprovada a doação de combustível com a finalidade de obter
votos.
Registrou sua Excelência que “No período compreendido entre 25/09/08 a
04/10/08, 24 (vinte e quatro) veículos foram abastecidos no Posto Trevão, mediante a
apresentação de 26 (vinte e seis) autorizações de abastecimento, fornecidos pelo Recorrente,
conforme atestado pela Nota Fiscal nº 12372 (fl. 120) e Demonstrativo de Vendas por Cliente de
fls. 120/122, vinculados ao Inquérito Policial nº 740/2008. Tais documentos comprovam, com
efetividade, a materialidade delitiva e autoria do Recorrente.”
Muito embora a testemunha JOSEMAR MIRANDA DE JESUS não tenha
confirmado o conteúdo do seu depoimento na fase do Inquérito Policial, alegando que “deve ter
ficado nervoso”, destaco trecho do seu depoimento colhido na fase policial, que revela que o
recorrente, por meio dos trabalhadores de sua campanha, solicitou expressamente voto para sua
candidatura, o que evidencia o dolo específico exigido pelo art. 299, do Código Eleitoral, a
conferir:
Não bastasse isso, saliento, ainda, não prosperar a alegação da defesa de que os
supostos beneficiários das doações de combustível firmaram contrato de cessão de uso dos
veículos com o candidato, tendo como finalidade a adesivagem de propaganda eleitoral e a
participação em eventos nas Eleições 2008, conforme demonstrarei a seguir.
Conforme bem registrou o eminente e culto Des. Samuel Meira Brasil Júnior em
seu voto condutor, não obstante as contradições indicadas nos depoimentos judiciais de algumas
testemunhas, as mesmas admitiram, em sede de interrogatório policial, que não trabalharam na
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campanha do denunciado e que a doação de combustível ocorria sem qualquer vínculo com a
atividade eleitoral típica, desqualificando os respectivos contratos juntados pela defesa (fls. 71,
76, 78, 79/80, 81/82, 83/84, 85/86, 87/88, 89 e 91). A conferir: