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ISSN 2177-3688
Resumo: A presente reflexão, de caráter metodológico teórico, procura perceber, dentro da possível
dinâmica epistemológica de reconhecimento do pós-estruturalismo dentro dos estudos informacionais,
um conceito que, por vezes, passa silencioso pela construção epistemológico-histórica da Ciência da
Informação. Trata-se do “simbolismo” e sua condição na invenção e na definição de uma ciência para
informação. Ronald Day, em sua revisão sobre o pós-estruturalismo nos estudos informacionais
menciona apenas em dois momentos o discurso sobre o simbólico – ao tratar de questões como
“economia simbólica” e da “construção simbólica do espaço-tempo”. No entanto, as indicações
epistemológico-históricas de Jesse Shera e Paul Otlet escondem em sua condição um panorama
fundamental para se pensar o simbolismo – e, no caso da proposta dayana, a própria questão dos
significados do “pós-estruturalismo” nos estudos informacionais. Este estudo, baseado em uma
epistemologia histórica do pensamento informacional e nos argumentos da filosofia da linguagem
ordinária, propõe uma reflexão filosófica sobre as possibilidades de intrepretação do que abordamos
como um arquidevir simbólico da Ciência da Informação, ou seja, o destino remoto e contemporâneo
do campo articulado pelas questões simbólicas, em geral resultantes, hoje, de categorizações como
“pós-estruturalismo”. Os desdobramentos da reflexão concluem-se no reconhecimento relevância
histórica – uma arqui constituição do campo, diacrônica -, como em uma relevância em recorrente
atualização – um devir permanente, fruto da presence de um “culturalismo linguístico” em diversos
aportes sincrônicos da contemporaneidade.
Abstract: In the generic framework, the notion of "post-structuralism" approach a broad group of
ideas and their authors that put into focus issues such as ordinary language, speech, culture, context,
1
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historicity. Interests us realize, within the possible epistemological dynamic recognition of post-
structuralism in informational studies, a concept that sometimes goes silent for epistemological-
historical construction of Information Science. This is the symbolism and its condition in the invention
and the definition of a information science. Ronald Day mentions only two times the discourse on the
symbolic - to address issues such as "symbolic economy" and "symbolic construction of space-time."
However, the indications of Jesse Shera and Paul Otlet hide in their condition a key pair panorama
think the symbolism - and in the case of dayana proposal, the very question of the meaning of "post-
structuralism" in informational studies. This study, based on a historical epistemology of the
informational studies and a reflection on the philosophy of language, proposes a philosophical
reflection on the possibilities of interpretation of that approach as a symbolic happening of the
Information Science, ie the remote and contemporary destination field articulated by symbolic issues
generally resulting today categorizations as "post-structuralism”.
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Os fatos do acontecer são sempre simbólicos, pois o acontecer é sempre símbolo das
leis universais que o homem, bem ou mal, capta; são símbolos da lei da alternância,
são símbolos, afinal, do cósmico, com o qual, teológica e religiosamente, as religiões
constroem a sua simbólica. (SANTOS, 2007, p. 148)
A relação noética estabelecida entre homem e mundo se constitui, assim, como uma
espécie cassireriana de metaformação simbólica. Em outras palavras, “A construção dos
símbolos tem sua raiz afectiva. A razão, ao trabalhar com símbolos, despoja-os do aspecto
irracional, que é afectivo [...]”. (SANTOS, 2007, p. 145). O complexo processo de
simbolização, dinâmico em sua efetivação, anima o real, o forma, conforma, disforma,
transforma. Resultado imediato de tais processos, os artefatos produzidos pelo homem,
“coisas informacionais” ou “coisas passíveis de informar”, máquinas de dar forma ou de
prever a forma ou, ainda, de transportar a forma, tornam-se objeto de uma ciência que se
estabelece na linguagem, como na visão de Capurro (1992), e se desenvolve do e para o
simbólico.
A construção retórica do real se estabelece aqui, de tal modo, que podemos antever as
posições capurrianas, e abordar a aproximação entre Shera e Cassirer, pontuando a ocorrência
de “economia” dos “valores simbólicos” sob uma filosofia sensualista – ou aplicada ao mundo
das sensibilidades, materialidades, discursos, e, não, dos mentalismos:
É também verificável, esta relação, para aquém de Shera (1973, 1966), no mencionado
pensamento otletiano. Antes da expressão bourdieusiana, o projeto bibliológico do advogado
belga aponta exatamente para a força da “economia dos valores simbólicos” nas práticas de
organização do saberes. Em Otlet (1934, p. 419), o derradeiro objetivo da Bibliologie é a
Cidade Bibliológica, ou Cité mondiale. Esta cidade é estruturada em três objetivos centrais:
Promovida (também) pela organização dos saberes na pólis do Livre, invenção mais
criativa da linguagem na visão otletiana, só existente democracia, em sentido estrito, se
fundada na retórica, ou seja, na coexistência paciência e conciliadora do discurso como
categoria filosófica equivalente ou superior ao “ser”. Em certa medida, a travessia do
pensamento e da vida de Rafael Capurro ilustra esta relação, a partir de um hermes
informacional desvelado, entre discurso, democracia e informação.
No vocabulário de Rafael Capurro, o estrato deste “discurso” que nos interessa, a
“mensagem”, conceito central da Angelética, sua teoria geral para uma ciência para
informação, torna-se um dos elos para uma racionalidade democrática contemporânea. Fruto,
de um lado, de sua travessia filológica à busca da palavra e, por conseguinte, do conceito
“informação” (aqui, de outra lado, já em sua travessia epistemológica), encontramos em
Rafael Capurro o “culturalismo” necessário para iluminar, dentro do escopo informacional, o
pensamento simbólico.
Em nossa visão, temos aqui a raiz epistêmica principal dos estudos simbólicos em
diferentes domínios, a constituição de uma “ciência retórica”. Em 1992, Capurro destaca
a presença de um paradigma hermenêutico-retórico, ligado objetivamente ao que trata como
“virada pragmática” da epistemologia informacional. O paradigma se contrapõe a outros em
uma tentativa de classificação filosófica da CI, a saber, o “paradigma representacional”, o
“paradigma fonte-canal-receptor” e o “paradigma platônico”.
No contexto representacionista, o qual poderíamos tratar como “mentalista”
encontramos os seres humanos como observadores de uma dada realidade exterior, sendo o
conhecimento como aquilo que responde pela assimilação de representações mentais –
homem é aqui abordado quase inteiramente como um processador biológico da informação.
No modelo fonte-canal-receptor, o fenômeno informacional é considerado a partir da
metáfora do canal, ou, em nosso olhar, a uma resposta aos dilemas do tratamento de dados
construída a partir do mecanicismo, ou do desenvolvimento de instrumentos de
processamento de dados, tendo o “usuário” como espécie de “modelo ideal” para
desenvolvimento do canal. Por fim, o “paradigma platônico” busca tudo o que pode ser
considerado “informação” em um estado apriorístico, ou seja, no contexto de uma
objetivação não-humana – neste caso, o conceito de informação se estabelece como uma lei
da lógica, ou seja, a partir de estatutos extramundanos, ou, ainda, como unidade ontológica.
(CAPURRO, 1992)
Os modelos abordados pela classificação capurriana demonstram, em geral, uma forte
figuração do “real” do idealismo ou da “crítica do real” positivista, afugentando o “sujeito” e
suas “formações” fundadas no “social”. É no desdobramento da avaliação sobre estes modelos
que Capurro (1992) antevê uma abordagem tipicamente inter-relacionada com a “cultura”,
tomando o conceito simultaneamente em seu sentido amplo, para além do escopo
informacional, como em seu sentido de fronteira epistemológica, isto é, demarcado pelo ponto
de vista de constituição de uma “cultura informacional” na contemporaneidade.
A hermenêutica da qual nos fala Capurro (1992) sugere uma visão pragmática da
realidade – ou uma construção sócio linguística do real a partir de um relativismo cultural. É
aqui que o epistemólogo define uma “Ciência da Informação” como subdisciplina da
Retórica. Seu foco está exatamente em retomar o pensamento retórico aristotélico e perceber
esta condição nos estudos hoje predicados como “informacionais”.
Reencontramos em Capurro (1992, 2015) o que Todorov (2014) trata como uma
“solidariedade do simbólico e da interpretação” - o “simbólico” e a “interpretação” são duas
vertentes de um mesmo fenômeno, ou, ainda, que “produção” e “recepção” respondem pela
mesma configuração, apesar de estarem ligadas, a princípio, a duas disciplinas diferentes, a
Retórica e a Hermenêutica, respectivamente. Em nosso olhar, trata-se de reconhecer a
diacronia da Retórica na construção histórica dos estudos informacionais, e a sincronia
hermenêutica como método e modo de perceber e tecer o real que constituímos
simbolicamente.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
CAPURRO, R. Translating information. In: ISIS SUMMIT VIENNA 2015. 4. 2015. Viena:
Universidade de Viena, 2015. Disponível em: < http://sciforum.net/conference/isis-summit-
vienna-2015/paper/2972>. Acesso em: 10 jul. 2015.
CASSIRER, Ernst. Ensaio sobre o homem: introdução a uma filosofia da cultura humana.
São Paulo: Martins Fontes, 1994.
CASSIRER, Ernst. A filosofia das formas simbólicas; Segunda Parte: O pensamento mítico.
São Paulo: Martins Fontes, 2004.
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Paulo: Martins Fontes, 2001.
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Tratado de simbólica. São Paulo: É Realizações, 2007. p. 11-42.
OTLET, Paul. Traité de documentation: le livre sur le livre: théorie et pratique. Bruxelas:
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SANTOS, Mário Ferreira dos. Tratado de simbólica. São Paulo: É Realizações, 2007.
SHERA, Jesse. Epistemologia social, semântica geral e Biblioteconomia. Ci. Inf., Rio de
Janeiro, v. 6, n. 1, p. 9-12, 1977.