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NUVEM
ARTE | FILOSOFIA | TECNOLOGIA | EDUCAÇÃO
49 169
ESPERANDO GAIA. ARTESANATOS
A COMPOSIÇÃO DE RECENTES
UM MUNDO EM ABRAHAM CRUZVILLEGAS
COMUM POR MEIO DA
ARTE E DA POLÍTICA 177
BRUNO LATOUR POR QUE
MEDIAR A ARTE?
75 MARIA LIND
AS REVOLUÇÕES
COMO MUDANÇAS 191
DE CONCEPÇÃO ENTREVISTA COM
DE MUNDO EDUARDO VIVEIROS
THOMAS KUHN DE CASTRO
REVISTA SEXTA-FEIRA
APRESENTAÇÃO
PATRICIA FOSSATI DRUCK
7
referência na educação da arte e na formação de público
SOBRE NUVENS
E PERTURBAÇÃO
no Brasil. Nas oito edições realizadas, atendeu
mais de 1 milhão de estudantes. Nesta edição, ocupa
especial espaço. ATMOSFÉRICA
Em português, o título da 9a Bienal é Se o clima for
favorável. Tenho certeza de que o tempo será favorável, SOFÍA HERNÁNDEZ CHONG CUY
sim, e teremos uma mostra realmente memorável – dando
continuidade ao excelente trabalho desenvolvido pela
Fundação Bienal de Artes Visuais do Mercosul em
outras edições –, que acolherá todos os porto-alegrenses –
e todos os que aqui estejam – abaixo da Nuvem e que
enviará, como um vendaval, as boas-novas da arte latino-
-americana aos quatro cantos do mundo.
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extremas de tempo também provocam diferentes tipos O título do livro refere-se a duas espinhas dorsais
de efeitos. Furacões desalojam comunidades. Chuvas intrínsecas, ainda que intangíveis, desta Bienal. Em
torrenciais causam enchentes, lançando sonhos para primeiro lugar “nuvem” (Cloud, em inglês) é o nome
longe. Secas limitam colheitas. Terremotos destroem casual dado ao servidor digital no qual a pesquisa curato-
áreas construídas. É algo pessoal – físico e psicológico. rial é arquivada, catalogada e acessada por qualquer
Tendemos a chamar o segundo tipo de efeito de desastre; membro da equipe, a qualquer hora, onde quer que ele
o tempo é um fenômeno natural. É social – ecológico esteja. Ele é, podemos dizer, um lugar para informação
e econômico. compartilhada, um tesouro em comum. Em segundo
O tempo também funciona como linguagem, como lugar, o título A nuvem também se refere à chuva como
ideias expressas em imagens ou articuladas em figuras condensação de informação de forma conhecível, trans-
de linguagem que expressam atmosferas emocionais e formada em ideias por meio dos prazeres de brainstorm-
climas políticos. São esses tipos de perturbações atmosfé- ing ¹ – uma atividade praticada recorrentemente, mais
ricas – que vêm com suas próprias forças interiores e que um método rigoroso, pela equipe da Bienal. Surpreenden-
exteriores, seja como posições singulares ou como temente, nos primeiros estágios da organização da Bienal –
movimentos sociais – que influenciam, impulsionam a que inaugura suas exposições meses depois do lança-
9a Bienal do Mercosul | Porto Alegre. O título desta mento de A nuvem –, muitas das sessões de brainstorm
edição da Bienal é, em português, Se o clima for favorável; centraram-se no lugar da informação na apresentação
em espanhol, Si el tiempo lo permite; em inglês, Weather pública da arte. Se de início essa preocupação pareceu
Permitting. Esses títulos, usados coloquialmente como demasiadamente introspectiva, olhando agora, em retro-
locuções e não como nomes próprios, são um convite cesso, ela faz todo sentido; afinal, se a expressão e a comuni-
para refletir sobre quando e como, por quem e por que cação são princípios do fazer artístico, compartilhar e
certos trabalhos de arte e ideias ganham ou perdem levar a público são as bases da produção de exposições.
visibilidade em um dado momento no tempo. A nuvem é apenas uma das instâncias pelas quais
O título deste livro, A nuvem, também traz uma esta Bienal convida o público a refletir sobre os meca-
história em seu nome, mas primeiro algumas palavras nismos de apresentação e os ambientes espaciais nos quais
para você, o seu leitor. Este livro é especialmente criado descobertas e insights são criados, comunicados e com-
para educadores, mediadores e todos os futuros aficiona- partilhados publicamente. Este livro e as publicações,
dos da 9a Bienal do Mercosul | Porto Alegre. É uma exposições e iniciativas vindouras que, juntas, compõem
antologia de textos (narrativas e ensaios, tratados filosófi- a 9a Bienal do Mercosul | Porto Alegre, dão atenção a
cos e declarações de artistas) que influenciaram a con- culturas de trabalho existentes e imaginadas. Isso envolve
ceituação da Bienal e, mais importante, que podem observar e pensar sobre aspectos de reclusão e abertura,
inspirar modos de vivenciar e articular a arte contempo- assim como sobre o privado ou o público, em processos
rânea e a cultura em geral. que envolvem experimentação, seja no campo da arte ou
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em outras áreas. Em cada uma de suas interações, a 9a Bienal do Mercosul | Porto Alegre. Para fazer este
9a Bienal do Mercosul | Porto Alegre aborda a arte e as início possível, para reunir este material e torná-lo
ideias como portais, como ferramentas e disparadores público para você, leitor, agradeço à equipe curatorial da
para vivenciar nossa contemporaneidade de forma mais 9a Bienal do Mercosul | Porto Alegre – Raimundas
consciente e sensual. Malašauskas, Mônica Hoff, Bernardo de Souza, Sarah
A promessa da 9a Bienal do Mercosul | Porto Alegre Demeuse, Daniela Pérez, Júlia Rebouças e Dominic
é identificar, propor e modificar sistemas de convicções Willsdon. Agradeço, também, aos artistas participantes
em transformação e o modo como avaliamos a experi- que inspiraram nossas leituras ou sugeriram autores e
mentação e a inovação. Ela pretende levantar questões textos aqui incluídos. Agradeço, especialmente, a Mônica
ontológicas e tecnológicas por meio da prática artística, Hoff, por assumir a liderança na tarefa de reunir esta
da fabricação de objetos e de nós de experiência. Esta antologia, e a Luiza Proença e Ricardo Romanoff, pela
edição da Bienal pode ser considerada um ambiente para atenção e cuidado editorial. Finalmente, este livro e,
encontrar recursos naturais e cultura material sob em última análise, a 9a Bienal do Mercosul | Porto Alegre
uma nova luz, e para especular sobre as bases que marca- como um todo, não seriam possíveis sem o incansável
ram as distinções entre descobertas e invenções, assim apoio de Patricia Fossati Druck, presidente da Fundação
como os valores da sustentabilidade e da entropia. Bienal de Artes Visuais do Mercosul, e o trabalho dedi-
Para que isso ocorra, a 9a Bienal do Mercosul | Porto cado dos membros de seu conselho e equipe. Juntos, eles
Alegre junta a arte de artistas visuais às vozes de outros formam um time dos sonhos que me deixa, e deixaria
que se dedicam aos pontos de encontro da cultura e da você, ou qualquer um, flutuando agradavelmente como
natureza. Ela reúne trabalhos considerando diferentes uma nuvem.
tipos de perturbações atmosféricas que impelem desloca-
mentos de viagem e deslocamentos sociais, avanços
tecnológicos e o desenvolvimento mundial, expansões
verticais no espaço e explorações transversais pelo tempo. NOTA
Esta Bienal envolve olhar para os sentimentos que 1 A expressão, utilizada para referir-se
esses movimentos provocam, olhar para os afetos que se a processos que exploram a criati-
vidade por meio da elaboração e da
manifestam. Ela requer habitar, garimpar, investigar troca de ideias em grupo, significa, em
e explorar o que está abaixo e acima da esfera social – português, “tempestade cerebral” ou
“chuva de ideias”. [N.T.]
o que é palpável e tênue, o que está no fundo do mar e na
atmosfera, o que está subterrâneo e no espaço sideral.
A nuvem não é apenas um ponto de início para
considerar e tratar dessas questões. A publicação deste
livro também marca o início das atividades públicas da
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DE UMA CHUVA conta o que pode vir depois. Chuva de verão, intensa e
DE IDEIAS ÀS
torrencial, lava a alma e refresca o dia, mas não manda
o calor embora. Garoa fina no inverno amplifica a
REDES DE FORMAÇÃO sensação de frio e avisa que a noite será de forte geada.
Chuvas fortes favorecem a colheita, mas em demasia
MÔNICA HOFF acabam com a lavoura. O que poderia anunciar, então,
uma chuva de ideias? Seria o prenúncio de uma
grande tormenta, seria a garantia de uma boa safra?
Com o fim primeiro de servir como material de
investigação, leitura e deleite para educadores, mediado-
res, artistas e público curioso e aficionado da arte, a
presente antologia constitui uma intensa chuva de ideias.
Consiste numa viagem científico-literária – da lua à
cosmologia indígena; da natureza às telecomunicações;
Toda antologia é, por excelência, uma chuva de ideias. das revoluções da ciência às éticas da curiosidade; dos
A nuvem não é diferente. Concebida com um fim imediato satélites à crise ecológica; dos desastres naturais à arte –
e outro a longo prazo, ela não versa sobre um único que anuncia o campo de pensamento com o qual se
tema, não corresponde a uma única voz, nem impõe uma relaciona a 9a Bienal do Mercosul | Porto Alegre.
leitura linear ao seu leitor. Como uma nuvem que se Entendida como uma rede, materializa-se como uma
forma no céu para preparar a chuva que regará a terra, a publicação de caráter transversal com muitos inícios,
presente antologia é um conjunto de ideias-partículas inúmeros meios e infindáveis fins.
condensadas a partir de um dado fenômeno, a 9a Bienal Para isso, toma como ponto de partida o espaço sideral.
do Mercosul | Porto Alegre. O texto que inaugura esta antologia, “O romance da
Assim como as ideias, a formação das nuvens anuncia Lua”, foi escrito em 1865 por Júlio Verne. Nele, o grande
uma mudança de clima e as mudanças, como sabemos, escritor francês, um dos pais da ficção científica, “desnuda”
podem ser sutis – como uma garoa de outono – ou arreba- a lua minuciosamente como se fora um objeto de desejo.
tadoras – como uma chuva de granizo no verão. Com uma linguagem ora científica, ora poética que
“Andorinhas a mil braças, céu azul sem jaça; andori- toma o leitor pela riqueza de detalhes, Verne anuncia um
nha rente ao chão, muita chuva com trovão”, “Março projeto de conquista do território lunar que, na prática,
ventoso, abril chuvoso”, “Névoa no lodo, chuva de novo”, vingaria exatamente um século depois. Na sequência, e
diz o dito popular. ainda em tom literário, partimos do espaço sideral rumo
Da mesma forma que a nuvem, a chuva nunca ao campo da ciência a da linguagem. O segundo texto,
representa apenas um fim em si mesma, mas algo que publicado no Brasil em 1979 por Vilém Flusser, versa
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sobre a lua como construção cultural. A partir de um mais que o cidadão, que o agricultor ou que o ecologista –
bem-humorado ensaio e com uma inteligência multicul- ou que uma minhoca, não nos esqueçamos dela”,
tural, o autor traça uma rede de relações para discutir afirma Latour.
a existência da lua como elemento da natureza e como E o que hoje é uma minhoca, amanhã pode ser um
produto da cultura. pato, provavelmente argumentaria Thomas Kuhn ao ler
Em “A medição do mundo”, Annette Hornbacher o comentário de Latour. Em “As revoluções como mudan-
discute as dimensões culturais da chamada crise ças de concepção do mundo”, sexto texto a compor esta
ecológica a partir do questionamento da concepção imensa nuvem, o físico e filósofo da ciência norte-ameri-
moderna de ciência – e consequente processo de industria- cano nos regala com uma preciosa reflexão acerca das
lização – e do conceito ocidental de natureza, colocando revoluções científicas e de como elas não mudam nossa
em xeque o lugar da própria crise. Como um atravessa- percepção sobre o mundo, mas o mundo em si. Ao passo
mento poético ao ensaio de Hornbacher, mas não menos que se o mundo já não é mais o mesmo, tampouco nós o
político se o analisarmos a fundo, no texto seguinte, o somos. E se nós já não somos, o mundo tampouco o é. Ao
artista Walter De Maria nos presenteia com uma breve usar como exemplo uns óculos com lentes invertidas,
reflexão sobre a beleza e a importância dos desastres Kuhn discorre sobre a ‘construção da percepção’ e atesta
naturais. “Devemos ser gratos por eles”, nos diz De Maria. que as revoluções científicas são também revoluções
Bruno Latour, por sua vez, em “Esperando Gaia”, dos sentidos. Além de necessário, o pensamento de Kuhn
quinto texto desta antologia, nos arremessa, com certo é um importante portal para compreendermos as relações
sarcasmo e sabedoria, no olho do furacão das discussões de similitude entre arte e ciência.
sobre a crise ecológica, tomando como ponto de partida o A paixão dos artistas pela ciência, como sabemos, não
que ele chama de uma série de desconexões acerca da é recente. Tem como marco inicial o século XIV, com os
relação moral que estabelecemos com a natureza (ou com experimentos renascentistas, e apogeu conceitual, pós-
a noção que temos dela). Como uma espécie de elogio ao -Revolução Industrial, na primeira metade do século XX,
desaparecimento do sublime (aquilo que nos faz infi- com os futuristas, amantes das máquinas, da aventura, da
nitamente menor que a “Natureza” e que nos possibilita a velocidade e das alturas. Desde então, a relação entre arte
melancolia), Latour ironiza a culpa (e a falta dela tam- e ciência tem se estreitado a olhos nus. Em “O satélite e a
bém) e sugere que estejamos atentos à medida das (e a obra de arte na era das telecomunicações”, publicado em
como se medem as) coisas. Mais que compreender a 1986, Eduardo Kac reflete sobre como artistas passaram a
escala, é preciso entender como ela é produzida. Para ele, se relacionar e se valer dos sistemas de telecomunicações
a natureza é uma montagem de entidades contraditórias via satélite em suas práticas. A construção de um foguete,
que precisam ser compostas conjuntamente. “Ninguém a manipulação de códigos de DNA e o envio de objetos,
encara a Terra globalmente e ninguém enxerga um mensagens e imagens para o espaço tornaram-se ações
sistema ecológico a partir do Nada, o cientista não presentes no processo de criação de muitos artistas.
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Para Sundar Sarukkai, o ponto de conexão entre esses conceito ocidental – tomando em conta a produção
dois campos de conhecimento historicamente separados material e imaterial de uma comunidade, um grupo, uma
é a curiosidade. Para o físico e filósofo indiano, a curiosi- etnia? Em “Artesanatos recentes”, o artista e educador
dade é um catalisador do conhecimento. No texto “A mexicano Abraham Cruzvillegas, descendente de
ciência e a ética da curiosidade”, Sarukkai nos diz: “por purépechas, parte de binômios tradicionais como o
estarmos insatisfeitos com as respostas que obtemos, individual e o massivo, o manual e o industrial, e arte e
bolamos novas maneiras de pensar. Por sermos curiosos, artesanato para refletir sobre a sobrevivência do
descobrimos métodos. Descobrimos a ciência”. Estudos artesanato no contexto capitalista contemporâneo. Para
recentes têm comprovado que crianças e cientistas têm construir sua reflexão, Cruzvillegas questiona sua
uma maneira de pensar e aprender muito semelhante. funcionalidade, sua cientificidade (natural ou social) e sua
Acredita-se que as crianças, mais que os adultos, sejam pureza cultural. Ao longo do texto, ele parece nos per-
capazes de inventar teorias incomuns para resolver guntar a todo momento: como mediar essa relação?
problemas. Ao pensar de forma hipotética, “os pequenos” Maria Lind, crítica e curadora sueca, muda o foco e
são tão astutos e inovadores em seus argumentos e o sujeito da questão e nos pergunta: “Por que mediar a
questões quanto os cientistas. Mas, por que, quando se arte?” Em seu ensaio, Lind ressalta que deve haver maior
trata da arte, a maior parte das experiências educacionais empenho e responsabilidade por parte de artistas e
ainda orbitam galáxias localizadas a bilhões de quilôme- curadores em pensar sobre como comunicar o seu
tros da ciência? ‘objeto’, sua mensagem, seu pensamento em detrimento
Lindy Joubert atribui essa distância física ao pensa- de um possível “excesso de didatismo” proveniente da
mento contemporâneo que busca separar arte e ciência educação (da arte) no contexto das instituições culturais
em duas esferas distintas de aprendizado. Em “Ciência e atuais. Lind nos diz: “Estamos diante de um paradoxo
arte: novos paradigmas na educação e resultados pro- evidente: um excesso de didatismo e, simultaneamente,
fissionais”, a artista e educadora australiana propõe uma uma necessidade renovada de mediação”. Então, me
revisão e um realocamento dos modelos educacionais pergunto: como mediar diferentes perspectivas?
atuais à luz das conexões entre arte e ciência. Para tanto, Por fim, fechando a rede de vozes que orientam esta
constrói seu ensaio a partir do relato de experiências antologia e, portanto, o pensamento da 9a Bienal, temos
que têm nessa relação sua condição de existência. Assim a mediação em si. Ou a “desmediação”. Na entrevista
como Sarukkai, Joubert acredita na curiosidade como realizada com o antropólogo brasileiro Eduardo Viveiros
força motriz por trás da inteligência humana, logo, como de Castro sobre sua trajetória como pesquisador das
mola propulsora das experiências científicas e artísticas. sociedades indígenas situadas no norte do Brasil, ao
E se, em vez da relação com a arte, estivéssemos mesmo tempo descemos às profundezas do que nos
falando da relação entre ciência e artesanato? Faria constitui como seres vivos – humanos e não humanos –
alguma diferença? Como estabelecer o que é ciência – e subimos aos céus para reposicionar mais uma vez nosso
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entendimento de natureza e cultura. E se o que Viveiros A nuvem é a nossa maneira discursiva e carinhosa de
de Castro (nos) faz parece ser uma mediação a priori, dar início a tudo isso!
por outro lado, ela é uma desmediação completa. Diz-nos De uma chuva de ideias a uma efetiva rede de
o pesquisador que, diferentemente da lógica binária formação de conhecimento e afetos – isso é tudo o que
de construção do pensamento à qual estamos acostumados podemos desejar. Se o clima for favorável, é claro.
na cultura ocidental e, portanto, afeita a constantes
mediações, nas sociedades indígenas, sobretudo do Alto
Xingu, há uma espécie de interação entre as dimensões
física e moral, natural e cultural, orgânica e sociológica.
Tudo faz parte de um só corpo, e esse corpo é tanto
individual como coletivo. Ou seja, é corpo-corporal e
corpo-social, ao mesmo tempo. Viveiros de Castro se vale
da sua teoria do perspectivismo ameríndio para, nessa
entrevista, colocar-nos constantemente no lugar do outro –
vendo o outro – animal, humano ou coisa – sempre como
sujeito. Logo, como algo que tem uma intenção, como
algo que se relaciona.
Possibilitar encontros, ativar relações, atuar como
corpo-corporal e corpo-social é o que propõe o projeto
pedagógico da 9a Bienal do Mercosul | Porto Alegre com o
programa Redes de Formação. Como uma iniciativa
de formação integrada para educadores, mediadores e
público curioso e aficionado da arte, a educação na
9a Bienal se amplia no espaço e no tempo a fim de colocar
em diálogo, numa única rede, agentes comumente situa-
dos em redes isoladas. Assim, se o clima for favorável, de
maio a novembro de 2013, através de diálogos abertos,
laboratórios, oficinas, intercâmbios universitários,
residências de educadores e mediadores, e viagens de
campo, o projeto pedagógico da 9a Bienal estará “fun-
dindo” Porto Alegre com Manaus, Osório com Montevidéu,
a Vila Mário Quintana com Roterdã, para citar alguns,
numa grande rede de conhecimento e afetos.
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Vento 10 Km/h
(1865)
O ROMANCE DA LUA
JÚLIO VERNE
Umidade 66%
Temp 10°C
23
gravitando em torno da estrela central, na forma de sofridas pelos corpos celestes, desde os primeiros dias
inúmeras estrelas. Estava formada a nebulosa. do mundo.
A uma dessas nebulosas, com milhões de estrelas, o Mesmo sendo uma estrela de quarta grandeza, o Sol,
homem deu o nome de Via Láctea. centro do nosso Universo, é enorme. Em volta dele
Se o observador examinasse uma das mais modestas gravitam os planetas, saídos das entranhas do grande
e menos brilhantes dessas estrelas – uma estrela de astro. E, entre esses servos que giram em torno do rei em
quarta grandeza que orgulhosamente chamamos de Sol –, órbitas elípticas, alguns possuem satélites. A Terra
teria visto todos os fenômenos da formação do Universo tem apenas um satélite, a Lua. E é esse satélite que o
se repetirem. gênio audacioso dos americanos pretendia conquistar.
De fato, o Sol, em estado gasoso e composto de O astro noturno, pela sua rotatividade próxima,
moléculas móveis, também iniciou um movimento de sempre dividiu com o Sol a atenção dos habitantes da
rotação. Esse movimento, fiel às leis da Mecânica, Terra. No entanto, o esplendor da luz do Sol nos obriga a
foi se acelerando com a diminuição do volume e chegou baixar os olhos.
um momento em que a força centrífuga prevaleceu A loura Febe, mais humana, se deixa contemplar
sobre a força centrípeta, que tende a empurrar as molécu- na sua graciosidade modesta; ela é doce ao olhar, pouco
las para o centro. ambiciosa.
Então, outro fenômeno teria sido visto pelo observa- Os primeiros povos dedicaram um culto particular a
dor. As moléculas situadas no plano do equador escapa- essa casta deusa. Os egípcios chamavam-na de Ísis; os
ram, como a pedra de um estilingue cuja correia arre- fenícios, de Astarteia; e os gregos a adoraram com o nome
bentasse subitamente, e formaram vários anéis de Febe, explicando seus eclipses pelas visitas misterio-
concêntricos em torno do Sol, como os de Saturno. Por sas de Diana ao belo Endimião.
sua vez, esses anéis de matéria cósmica, tomados por um Mesmo que os antigos tenham compreendido as
movimento de rotação em torno da massa central, se qualidades morais da Lua do ponto de vista mitológico,
teriam quebrado e formado os planetas. eles nada conheciam da selenografia, que é a parte da
Se o observador concentrasse a atenção nos plane- Astronomia que estuda a Lua, especialmente em relação
tas, veria que eles se comportaram exatamente como aos seus aspectos físicos.
o Sol, também formando anéis cósmicos, dando origem a Vários astrônomos de épocas distintas descobri-
astros de ordem inferior que chamamos de satélites. ram certas particularidades, confirmadas hoje em dia
Portanto, do átomo para a molécula, da molécula pela ciência.
para o aglomerado nebuloso, do aglomerado nebuloso Entre eles podemos citar Tales de Mileto, que viveu
para a nebulosa, da nebulosa para a estrela principal, da muitos séculos antes de Cristo e foi o primeiro a afirmar
estrela principal para o Sol, do Sol para o planeta e do que a Lua era iluminada pelo Sol. Muito depois, Copérnico,
planeta para o satélite, temos a série de transformações no século XV, e Tycho Brahe ¹, no século XVII, explicaram
haviam sido quase todos explicados, mas pouco se sabia 2 O mapa da Lua mais exato e mais
sobre sua constituição física. Galileu explicou os fenôme- detalhado do período pré-fotográfico
foi feito por Wilhelm Beer (1797–1850),
nos de luz produzidos em certas fases, pela existência de banqueiro e astrônomo amador,
e Johann Heinrich Von Mädler
montanhas. Houve grande discussão entre vários astrô- (1794–1874), astrônomo profissional
nomos em relação à altura dessas montanhas. Mas foram e diretor do Observatório de Dorpat.
(N. T. da edição original.)
os pacientes estudos de Beer e Mädler ² que resolveram
a questão. Graças a eles, a altura das montanhas da Lua é
perfeitamente conhecida hoje em dia.
Também se chegou à conclusão de que não havia
atmosfera na Lua. Portanto, os selenitas, para viverem
nessas condições, deveriam ser bem diferentes dos
habitantes da Terra.
Enfim, graças a novos métodos e a instrumentos
aperfeiçoados, os cientistas levaram bem mais longe as
prodigiosas observações sobre a superfície lunar.
No entanto, ainda havia muitos pontos obscuros que os
americanos esperavam poder esclarecer algum dia.
Quanto à intensidade da luz da Lua, não havia mais
nada a aprender sobre esse aspecto. Sabia-se que é
trezentas mil vezes mais fraca do que a do Sol e que seu
calor não tem influência nos termômetros.
O Clube do Canhão tinha a intenção de completar
esses conhecimentos sobre a Lua e acrescentar outros,
em todos os seus aspectos: cosmográfico, geológico,
político e moral.
(1979)
A LUA
VILÉM FLUSSER
Umidade 66%
Temp 10°C
29
que a outra: a Lua será ficção ou realidade? Menos formigas? Não será antropomorfismo dizer que a Lua é
razoável, porque é menos razoável duvidar da cultura que vista por formigas? Se eu construir uma lente estrutural-
da natureza. Duvidar da natureza é razoável, se for feito mente idêntica ao olho da formiga, verei a Lua? Ou
metodicamente, porque resulta nas ciências da natureza. haverá senso comum apenas aos olhos humanos, o qual
Mas duvidar da cultura (da TV e dos jornais) aparente- manda aos homens verem a Lua? Haverá doença de vista
mente em nada resulta. Já que a Lua passou (conforme ocidental que me manda ver “fases da Lua”, e outra
TV e jornais) do campo da natureza para o da cultura, doença mais geralmente humana que manda ver a Lua?
melhor é não mais duvidar dela. Passou da competência Quando olho a Lua em noites claras não vejo o
dos astrônomos, poetas e mágicos para a dos políticos, satélite da NASA, embora saiba que o que vejo é satélite da
advogados e tecnocratas. E quem pode duvidar destes? NASA. Continuo vendo satélite natural da Terra, a
A Lua é doravante propriedade imobiliária (embora minha visão não integra o meu conhecimento. Tal falta
móvel) da NASA. Pode haver maior prova de realidade? de integração do conhecimento pela visão caracteriza
A Lua é “real estate” = estado real, e todas as dúvidas a determinadas situações, as chamadas “crises”. É provável
seu respeito cessaram. Mas, ainda assim, há certos que os gregos do helenismo sabiam que a Lua é bola,
problemas. Relativos, não tanto à própria Lua, mas ao mas continuavam a ver uma deusa nela. É provável que
nosso estar-no-mundo. Problemas confusos. Falarei em os melanésios saibam ser a Lua satélite da NASA,
alguns dentre eles. mas continuam vendo símbolo de fertilidade nela. Em
Quando olho a Lua em noites claras, não vejo um situação de crise a cosmovisão não consegue integrar
satélite da NASA. Vejo um C, ou um D ou um círculo o conhecimento.
luminoso. Vejo “fases da Lua”. A Lua muda de forma. Para ver a Lua, preciso olhá-la. Não preciso escutar o
Aprendi que tal mudança é aparente, que a Lua mesma vento para ouvi-lo. Posso, mas não preciso. Para ver,
não muda de forma. Por que “aparente”? A sombra da preciso gesticular com os olhos e com a cabeça. “Levar os
Terra não será tão real quanto o é a Lua? O senso comum olhos para o céu.” Preciso fazer o que os cachorros fazem
manda que eu veja mudanças não da “Lua em si”, mas para ouvir ou cheirar: gesticulam com o nariz e os
da “minha percepção da Lua”. Tal senso comum não se ouvidos. Seu mundo deve ser diferente do nosso. Para
estende a povos primitivos. Tais povos veem a Lua nós, sons e cheiros são dados, mas luzes são provocadas
nascendo, morrendo e renascendo. Vejo a lua, não apenas pela atenção (gesticulação) que lhes damos. Para cachor-
com os olhos, mas também com o senso comum à minha ros, sons e cheiros são igualmente provocados. Vivemos
cultura. Tal senso comum me manda ver “fases da Lua”, em dois mundos: um dado e outro provocado pela aten-
mas não (ainda), “propriedade da NASA”. ção que lhe damos. Nisto a vista se parece com o tato:
Será a visão o sentido mais comum que o senso dirige-se para o fenômeno a ser provocado. A explicação
comum, isto é, comum a todos os que têm olhos? Todos os “objetiva” que a vista é recepção de emissões de ondas
que têm olhos podem ver a Lua? Máquinas fotográficas e eletromagnéticas (como o ouvido é recepção de ondas
19:27
como sabemos que ela é: objeto de uma cultura que visa
transformá-la em plataforma.
Resposta perturbadora esta. A Lua é vista como
objeto de natureza, isto é, como derradeiro produto da
nossa cultura. Como, em tal situação, engajar-me em
cultura, se ela tende a transformar-se em sua própria
traição, em romântica natureza? Tal pergunta, no
entanto, não toca a Lua. Ela continua imperturbável em
seu caminho necessário e por enquanto dispensável.
Perguntar assim nada adianta. Nada adianta levar até ela
os olhos. “Lift not your eyes to it, for it moves impotently
just as you and I.”
Temp 10°C
Umidade 66%
Vento 10 Km/h
36 A LUA
(2008)
38 39
incontrolável mudança climática, será preciso, portanto, técnica. A tentativa de atingir um estágio de falta total de
mais do que uma solução técnica – talvez uma mudança sofrimento humano através da conquista racional da
do paradigma da visão eurocêntrica de mundo e de estilo natureza gera precisamente aquele conceito cultural que
de vida que, em última análise, dissesse respeito ao continua sobrevivendo na dinâmica da industrialização
próprio conceito de natureza? global e cuja promessa se constitui em “humanizar” a
Num primeiro momento, limitemo-nos a perguntar natureza, transformando-a em paraíso terrestre.
de que visão cultural de mundo nasceu a moderna De lá para cá, este ideal já se espatifou nos efeitos
industrialização e em que esta se diferencia das condi- indesejados e incontroláveis da industrialização, e foi
ções de vida de sociedades não europeias. assim que as sociedades industriais passaram a perceber
É comum definir-se a visão de mundo europeia a mudança irreversível do clima, antes de tudo, como
moderna pela sua compreensão objetiva e metódica da crise profunda de sua identidade cultural.
natureza. É importante ressaltar, porém, que esta não Não é um acaso, portanto, que, neste contexto, tenham
se fundamenta em nenhuma cognição racional, mas que sido descobertas tribos pré-industriais nas selvas da
reflete em primeiro lugar um programa cultural que só América Latina até o Sudeste Asiático consideradas
reconhece como sendo real o que é passível de explicação “guardiãs da Terra” e cuja forma de vida é vista como
e manipulação racional, quer dizer, com uma relação alternativa “ecocêntrica” à dominação técnica e “antropo-
de causa e efeito. Portanto, desde os primórdios a ciência cêntrica” da natureza. Mas essa alternativa romântica
empírica tem um fundamento ideológico e, ao mesmo se baseia em premissas questionáveis: pressupõe que a
tempo, utópico, pois o controle racional exigido é um falta de industrialização equivalha à adaptação a um
projeto interminável. Esta utopia se torna especialmente equilíbrio ecológico atemporal e exclua interferências
nítida na fábula Nova Atlântida, escrita no início da humanas maciças. Essa visão não apenas ignora as
Era Moderna pelo fundador da ciência empírica, Francis diferenças fundamentais entre o conceito moderno de
Bacon. Dor, doenças e colheitas perdidas desaparecem natureza e projetos de mundo extraeuropeus, mas
do mundo ideal de Bacon, marcado pela ciência e regu- também pressupõe prematuramente que a crise ecológica
lado pela técnica, porque a natureza dentro do homem deva ser pensada como alienação da sociedade humana
e à sua volta é controlada sem brechas com o objetivo “da” natureza.
de servir em seu benefício e à sua felicidade. O cientista Na verdade, a utopia de Bacon sugere mais a conclu-
assume o lugar do santo e substitui ademais decisões são oposta, a de que a crise ecológica não se fundamenta
políticas ao eliminar, com ajuda da técnica, todos os tanto no distanciamento do homem em relação à natu-
conflitos humanos potenciais causados por doenças, reza, e sim, pelo contrário, na vontade especificamente
escassez de recursos e catástrofes naturais. moderna de humanizar totalmente a natureza como
O que torna a fábula de Bacon tão interessante é a nunca antes. O conceito moderno de natureza se destaca
clareza com que ressalta o caráter utópico da ciência e da principalmente pelo fato de oscilar entre dois extremos, o
19:27
ponto atemporal ou a base, e sim um aspecto ambiva-
lente da história humana. Só na sequência desse experi-
mento revelar-se-á se o conceito ocidental de natureza
ainda oferece uma saída para as contradições insolúveis
da industrialização global, ou se ele deve ser mudado
no confronto com outros conceitos, mais próximos
da realidade.
Temp 10°C
Umidade 66%
Vento 10 Km/h
44 A MEDIÇÃO DO MUNDO
(1960)
IMPORTÂNCIA DOS
Mas é nos desastres imprevisíveis que as mais altas
formas têm lugar.
DESASTRES NATURAIS Eles são raros e devemos ser gratos por eles.
WALTER DE MARIA
46 47
Vento 10 Km/h
(2011)
ESPERANDO GAIA.
A COMPOSIÇÃO DE
UM MUNDO EM COMUM
Umidade 66%
BRUNO LATOUR
49
demasiadamente humana? O que fazer quando nos em grande parte, essa desconexão e o que fazemos em
dizem, dia após dia, e de maneiras cada vez mais estri- relação a isso.
dentes, que a civilização atual está condenada, e que a Existe alguma maneira de fazer uma ponte entre a
própria Terra vem sendo tão manipulada com isso tudo escala dos fenômenos de que ouvimos falar e o minúsculo
que não há meios de retomar nenhum de seus vários Umwelt de dentro do qual testemunhamos, tal e qual um
estados de estabilidade do passado? O que fazer quando peixe dentro do aquário, esse oceano de catástrofes que
se lê, por exemplo, um livro como o de Clive Hamilton, está para eclodir? Como podemos nos comportar de
intitulado Requiem for a Species: Why We Resist the Truth maneira sensata quando não dispomos de nenhuma
about Climate Change ¹ – no qual a espécie em questão não estação de controle de solo para a qual possamos enviar a
é o dodô nem a baleia, mas sim nós, você e eu? Ou então mensagem de socorro “Houston, temos um problema”?
o livro Guerras climáticas: Por que mataremos e seremos O mais estranho dessa distância abismal entre
mortos no século XXI, de Harald Welzer, que é agradavel- nossas pequenas preocupações egoístas de humanos e as
mente dividido em três partes: como matar ontem, como grandes questões da ecologia é o fato de ela ser exata-
matar hoje e como matar amanhã! A cada capítulo, mente aquilo que foi tão valorizado por tanto tempo em
para somar os mortos, é preciso acrescentar diversas tantos poemas, sermões e palestras edificantes sobre as
ordens de magnitude à sua calculadora! maravilhas da natureza. Se todo esse aparato era tão
O tempo das grandes narrativas já ficou para trás, sei maravilhoso assim, isso acontecia justamente por causa
disso, e pode até parecer ridículo abordar uma questão dessa desconexão: sentir-se impotente, maravilhado e
tão grande a partir de uma porta de entrada tão pequena. totalmente dominado pelo espetáculo da “natureza” é boa
Mas esse é justamente o motivo pelo qual desejo fazer parte daquilo que passamos a apreciar, pelo menos desde
isso: o que podemos fazer quando as perguntas são o século XIX, dentro do conceito de sublime.
grandes demais para todos, e especialmente quando são Vale relembrar Shelley:
grandes demais para o escritor, ou seja, para mim?
Um dos motivos pelos quais nos sentimos tão Nos bosques selvagens, por entre as montanhas
impotentes quando solicitados a nos preocupar com a solitárias,
crise ecológica, o motivo pelo qual eu, para início de Onde as cachoeiras dos arredores lançam-se para
conversa, me sinto tão impotente, é por causa da total a eternidade,
desconexão entre o alcance, a natureza e a escala dos Onde a mata e os ventos rivalizam, e um amplo rio
fenômenos, além do conjunto de emoções, hábitos de Rebenta e divaga incessantemente sobre suas rochas ².
pensamento e sentimentos que seriam necessários para
lidar com essas crises – nem mesmo para reagir a elas, Como adorávamos nos sentir pequeninos quando éramos
mas simplesmente para dedicar algo mais que um abarcados pelas forças portentosas das Cataratas do
simples ouvido distraído. Por isso, este ensaio vai abordar, Niágara ou a imensidão impressionante das geleiras do
nais da arte e da ciência – tanto social quanto natural – 1 Réquiem para uma espécie: por que
para essa tarefa tripla de representação científica, polí- resistimos à verdade sobre a mudança
climática, em tradução livre. [N. T.]
tica e artística.
2 “In the wild woods, among the
mountains lone,/Where waterfalls
around it leap forever,/Where woods
and winds contend, and a vast river/
Over its rocks ceaselessly bursts
and raves”, tradução nossa.
(1962)
AS REVOLUÇÕES COMO
MUDANÇAS DE
CONCEPÇÃO DE MUNDO
Umidade 66%
THOMAS KUHN
Temp 10°C
75
Na medida em que seu único acesso a esse mundo dá-se mundo de suas pesquisas parecerá, aqui e ali, incomen-
através do que veem e fazem, poderemos ser tentados a surável com o que habitava anteriormente. Esta é uma
dizer que, após uma revolução, os cientistas reagem a um outra razão pela qual escolas guiadas por paradigmas
mundo diferente. diferentes estão sempre em ligeiro desacordo.
As bem conhecidas demonstrações relativas a uma Certamente, na sua forma mais usual, as experiências
alteração na forma (Gestalt) visual demonstram ser muito com a forma visual ilustram tão-somente a natureza das
sugestivas, como protótipos elementares para essas transformações perceptivas. Nada nos dizem sobre o
transformações. Aquilo que antes da revolução aparece papel dos paradigmas ou da experiência previamente
como um pato no mundo do cientista transforma-se assimilada ao processo de percepção. Sobre este ponto
posteriormente num coelho. Aquele que antes via o existe uma rica literatura psicológica, a maior parte da
exterior da caixa desde cima passa a ver seu interior qual provém do trabalho pioneiro do Instituto Hanover.
desde baixo. Transformações dessa natureza, embora Se o sujeito de uma experiência coloca óculos de proteção
usualmente sejam mais graduais e quase sempre irrever- munidos de lentes que invertem as imagens, vê inicial-
síveis, acompanham comumente o treinamento cientí- mente o mundo todo de cabeça para baixo. No começo,
fico. Ao olhar uma carta topográfica, o estudante vê seu aparato perceptivo funciona tal como fora treinado
linhas sobre o papel; o cartógrafo vê a representação de para funcionar na ausência de óculos e o resultado é uma
um terreno. Ao olhar uma fotografia da câmera de desorientação extrema, uma intensa crise pessoal. Mas
Wilson, o estudante vê linhas interrompidas e confusas; logo que o sujeito começa a aprender a lidar com seu novo
o físico, um registro de eventos subnucleares que lhe são mundo, todo o seu campo visual se altera, em geral após
familiares. Somente após várias dessas transformações um período intermediário durante o qual a visão se
de visão é que o estudante se torna um habitante do encontra simplesmente confundida. A partir daí, os
mundo do cientista, vendo o que o cientista vê e respon- objetos são novamente vistos como antes da utilização
dendo como o cientista responde. Contudo, este mundo das lentes. A assimilação de um campo visual anterior-
no qual o estudante penetra não está fixado de uma vez mente anômalo reagiu sobre o próprio campo e modifi-
por todas, seja pela natureza do meio ambiente, seja pela cou-o ¹. Tanto literal como metaforicamente, o homem
ciência. Em vez disso, ele é determinado conjuntamente acostumado às lentes invertidas experimentou uma
pelo meio ambiente e pela tradição específica de ciência transformação revolucionária da visão.
normal na qual o estudante foi treinado. Consequen- Os sujeitos da experiência com cartas anômalas,
temente, em períodos de revolução, quando a tradição discutida no Cap. 5 ², experimentaram uma transformação
científica normal muda, a percepção que o cientista tem bastante similar. Até aprenderem, através de uma
de seu meio ambiente deve ser reeducada – deve apren- exposição prolongada, que o universo continha cartas
der a ver uma nova forma (Gestalt) em algumas situações anômalas, viam tão-somente os tipos de cartas para as
com as quais já está familiarizado. Depois de fazê-lo, o quais suas experiências anteriores os haviam equipado.
1 As experiências originais foram 8 Thomas S. Kuhn, The Copernican 19 Nelson Goodman, The Structure of 25 Andrew Norman Meldrum, “The
realizadas por George M. Stratton, Revolution (Cambridge, Mass., 1957), Appearance (Cambridge, Mass., 1951), Development of the Atomic Theory:
“Vision without Inversion of the pp. 206–209. pp. 4–5. A passagem merece uma (6) Reception Accorded to the Theory
Retinal Image”, Psychological Review, citação extensa: “Se todos os Advocated by Dalton”. In: Manchester
IV, pp. 341–360, 463–481 (1897). 9 Duane Roller & Duane H. D. Roller, The indivíduos (e somente esses) Memoirs, LV, (1911), pp. 1–10.
Uma apresentação mais atualizada é Development of the Concept of Electric residentes de Wilmington em 1947
fornecida por Harvey A. Carr, An Charge (Cambridge, Mass., 1954), que pesam entre 175 e 180 libras têm 26 Quanto a Proust, ver Meldrum, op. cit.,
Introduction to Space Perception pp. 21–29. cabelos ruivos, então ‘o residente de nota 23, p. 8. A história detalhada das
(Nova York, 1935), pp. 18–57. Wilmington em 1947 que tem cabelos mudanças graduais nas medições da
10 Galileo Galilei, Dialogues concerning ruivos’ e ‘o residente de Wilmington composição química e dos pesos
2 No texto, o autor faz referência a Two New Sciences (Evanston, Ill., em 1947 que pesa entre 175 e 180 atômicos ainda está por ser escrita,
capítulos anteriores do livro A 1946), pp. 80–81, 162–166, trad. H. libras’ podem ser reunidos numa mas Partington, op. cit., nota 22,
estrutura das revoluções científicas, Crew e A. de Salvio. definição construída (constructional fornece muitas indicações úteis.
no qual foi publicado originalmente. definition)… A questão de saber se
Aqui, especificamente, o autor se 11 Id., pp. 91–94, 244. ‘pode ter havido’ alguém a quem se
refere ao capítulo “A anomalia e a aplica um desses predicados, mas não
emergência das descobertas 12 Marshall Clagett, The Science o outro, não tem sentido… uma vez
científicas”, onde comenta o expe- of Mechanics in the Middle Ages que tenhamos determinado que tal
rimento psicológico das cartas de (Madison, Wisc., 1959), indivíduo não existe… É uma sorte de
baralho anômalas. (N. E. desta edição.) pp. 537–538, 570. que nada mais esteja em questão;
pois a noção de casos ‘possíveis’, de
3 Para exemplos, ver Albert H. Hastorf, 13 [Jacques] Hadamard, Subconscient casos que não existem, mas poderiam
“The Influence of Suggestion on the intuiton et logique dans la recherche ter existido, está longe de ser clara”.
Relationship between Stimulus Size scientifique (Conférence faite au
and Perceived Distance”, Journal of Palais de la Découverte le 8 Décembre 20 Hélène Metzger, Newton, Stahl,
Psychology, XXIX, pp. 195–217 (1950); 1945 [Alençon, s.d.]), pp. 7–8. Um Boerhaave et la doctrine chimique
e Jerome S. Bruner, Leo Postman e relato bem mais completo, embora (Paris, 1930), pp. 34–68.
John Rodrigues, “Expectations and restrito a inovações matemáticas,
the Perception of Colour”, American encontra-se no livro do mesmo autor 21 Id., pp. 124–129, 139–148. No tocante
Journal of Psychology, LXIV, The Psychology of Invention in the a Dalton, ver Leonard Nash, “The
pp. 216–227 (1951). Mathematical Field (Princeton, 1949). Atomic-Molecular Theory” (Harvard
Case Histories in Experimental Science,
4 Norwood Russell Hanson, Patterns 14 Thomas S. Kuhn, “A Function for Case 4; Cambridge, Mass., 1950),
of Discovery (Cambridge, 1958), Cap. I. Thought Experiments”. In: Mélanges pp. 14–21.
Alexandre Koyré, editado por R. Taton
5 Peter Doig, A Concise History of e I. B. Cohen, publicado por Hermann 22 J. R. Partington, A Short History
Astronomy (Londres, 1950), (Paris) em 1963. of Chemistry (2. ed.; Londres, 1951),
pp. 115–116. pp. 161–163.
15 Alexandre Koyré, Etudes Galiléennes
6 Rudolph Wolf, Geschichte der (Paris, 1939), I, 46–51; e “Galileo and 23 Andrew Norman Meldrum, “The
Astronomie (Munique, 1877), Plato”, Journal of the History of Ideas, Development of the Atomic Theory:
pp. 513–515, 683–693. Note-se IV, pp. 440–428 (1943). (1) Berthollet’s Doctrine of Variable
especialmente como os relatos de Proportions”. In: Manchester Memoirs,
Wolf dificultam a explicação dessas 16 Kuhn, op. cit., nota 14. LIV (1910), pp. 1–16.
descobertas como sendo uma
consequência da Lei de Bode. 17 Koyré, op. cit., II, pp. 7–11. 24 Leonard K. Nash, “The Origin of
Dalton’s Chemical Atomic Theory”,
7 Joseph Needham, Science and 18 Clagett, op. cit., caps. IV, VI e IX. Isis, XLVII, pp. 101–116 (1956).
Civilization in China (Cambridge,
1959), III, pp. 423–429, 434–436.
(1986)
O SATÉLITE E A
OBRA DE ARTE NA ERA DAS
TELECOMUNICAÇÕES
Umidade 66%
EDUARDO KAC
Temp 10°C
111
as pessoas que dependem deles para o trabalho ou Telecultura, videofone, nova arte
o lazer. Por quê? De um lado, satélites são invisíveis.
Quando uma pessoa faz uma ligação telefônica, não Hoje o uso criativo das telecomunicações é discutido
está preocupada se a conversa será transmitida por de duas maneiras: o acesso dos artistas aos meios de
cabo, micro-onda ou satélite, desde que seja bem massa do gênero teledifusão (broadcast) ou teledistri-
realizada. De outro, o custo de operação do satélite é buição (a cabo) – Arte versus Dallas – de um lado, e as
pulverizado entre tantos usuários que nenhum deles mágicas high tech – tipo Buck Rogers e Guerra nas
parece ter direito de propriedade sobre ele. O design, o Estrelas – do outro. A oposição Arte/Dallas peca pela
lançamento e a manutenção de um satélite estão além unidirecionalidade do sistema, uma vez que este não é
dos recursos de qualquer um, a não ser das grandes especificamente interativo ou “comunicativo”. O
corporações ou instituições públicas, daí as pessoas material flui em uma direção apenas, do produtor do
se sentirem alheias ao empreendimento e provavel- programa ao telespectador, elemento passivo que
mente admiradas de que alguém possa entendê-lo serve aos canais de televisão à medida que estes
(Glatzer, 1983). possam mensurar e controlar o consumo. Neste caso,
pouco importa o tipo de emissão difundida (Arte =
De fato, a compreensão total do mecanismo de funciona- Dallas): a relação entre as partes permanece a mesma,
mento de um engenho espacial escapa ao conhecimento uma vez que a hierarquia não é questionada pela
leigo. Não é difícil entender, contudo, que os sinais são simples alteração do tipo de material transmitido
emitidos das estações terrestres, amplificados no interior (Adrian X, 1984).
do satélite e recebidos na Terra em outra estação.
Pairando sem gravidade a 36 mil quilômetros de altura, O uso do satélite artificial em arte, portanto, aprofunda
os satélites soltam diariamente sobre nossas cabeças um os problemas levantados por outros gêneros de arte
enorme contingente de informações que abrangem toda a telemática. Se a memória dos computadores introduz as
gama de interesses e atividades dos homens. Notícias, questões do acesso (o espectador observa apenas as
conversas pessoais, novelas, programas educativos, obras que deseja e na ordem que opta) e do armazena-
documentos, anúncios, fenômenos naturais, competições mento (centenas de obras podem ser guardadas em um
esportivas, filmes, catástrofes, serviços bancários, disquete), o satélite possibilita ao artista gerar um fluxo
música, conferências, dados digitais, guerras, espetácu- bidirecional de signos em tempo real; em outras pala-
los, tudo é recebido via satélite, em âmbito público ou vras, criar um fato estético que é consumido simultane-
particular, nacional ou internacional. amente com a mesma carga informacional em dois
locais distantes, em decorrência de uma troca e não de
uma consulta. A supressão do espaço (físico) em função
do tempo (real) estabelece uma relação transmaterial
-inventado clarinete, o artista que trabalha com satélite ADRIAN X, Robert. “Die Kunst der
deve compor sua arte de acordo com determinadas Kommunikation/Communicating/
L’art de communiquer”. In: Art +
condições físicas e gramaticais. A artesat, no sentido Telecommunication, Western Front,
Canadá & Blix, Áustria, 1984.
superior, não é apenas a transmissão de sinfonias e
óperas para outras regiões. Ela deve saber como atingir GLATZER, Hal. The birds of Babel:
satellites for a human world. Indianápolis:
uma conexão em mão dupla entre pontos opostos da Howard W. Sams & Co., 1983.
Terra; como dar uma estrutura conversacional à arte;
McMAHON, Terrence. “Suborbital art”,
como controlar diferenças no tempo; como jogar com Light works, nº 17, Michigan, 1985.
improviso, indeterminação, ecos, feedbacks e espaços
PAIK, Nam June. “Satelliet/Kunst/Art/
vazios; e como operar, instantaneamente, com precon- Satellite”. In: Het Lumineuze Beeld/The
Luminous Image. Amsterdã: Stedelijk
ceitos e diferenças culturais existentes entre várias Museum, 1984.
nações. A artesat deve empregar esses elementos,
enfraquecendo ou reforçando-os, na criação de uma
sinfonia multiespacial, multitemporal (Paik, 1984).
(2009)
A CIÊNCIA E A ÉTICA
DA CURIOSIDADE
Umidade 66%
SUNDAR SARUKKAI
Temp 10°C
123
seus governos. Ao fazer isso, é reiterado o fato de que as sobre a intervenção no mundo. Em outras palavras, a
verdades da ciência são de ordem transcendental, ciência entende o mundo para intervir nele, para “re-
estando além dos interesses humanos e, consequente- -formar” o mundo de modo a adequá-lo a nossas necessi-
mente, das preocupações éticas. dades e desejos. Muitas discussões contemporâneas
Filósofos dão ainda mais munição para esse posicio- sobre ética e ciência – por exemplo, a questão da ética na
namento assinalando a diferença entre fatos e valores, clonagem e em pesquisas com células-tronco – orbitam
uma distinção que tem um uma longa história intelec- ao redor dessa estratégia intervencionista da ciência.
tual. Essa distinção filosófica oferece um caminho Ao intervir no mundo, cientistas desviam a questão
possível para argumentar a independência da ciência em da ética do domínio “puro” ao “aplicado”. A criação
relação à ética. A ciência é o discurso dos fatos – fatos dessas duas categorias de puro e aplicado é, por si só,
sobre o universo. A ética diz respeito a valores – valores uma movimentação interessante dentro das ciências. A
sustentados pelos humanos. Os fatos e a verdade cientí- ciência pura geralmente é posicionada em “oposição” à
fica não são centrados nos humanos. Na verdade, seu ciência aplicada (o que inclui a engenharia). O privilégio
status elevado surge primariamente por serem conside- concedido às ciências puras teve impacto significativo no
rados independentes de sujeitos humanos e, por isso, é crescimento de instituições científicas. A hierarquia que
razoável esperar que não digam respeito à ética. Essa posiciona o puro “sobre” o aplicado reflete-se com fre-
distinção é reforçada pelo que os filósofos chamam de quência na prática científica ainda nos dias hoje.
“falácia naturalista”. Essa falácia surge a partir da Como essa distinção é defensável? Uma maneira de
confusão do mundo dos fatos com o mundo dos valores, o entendê-la é invocando a ideia de “desinteresse”, que foi
que “é” e o que “deveria ser” – considerando o mundo do utilizada por filósofos de maneiras eficazes. Kant, por
“é” como o mundo dos fatos, e o mundo do “deveria ser” exemplo, usa essa ideia como marcador definitivo em seu
como o da ética normativa. A maneira como alguém deve conceito de arte. O desinteresse é outra maneira de
se comportar é uma questão ética, ao passo que o mundo expressar a ausência de interesse humano em qualquer
é assunto para a ciência. crença ou afirmação. Ele também sugere uma falta de
No entanto, mesmo se concordarmos com a visão de motivação prévia, os “motivos ulteriores” que levam a
que os fatos e valores não deveriam se confundir, ainda fazer algo. A afirmação é que a ciência pura reflete esse
existe um problema nessa relação entre ética e ciência. desinteresse. Suas descobertas versam sobre a maneira
A ciência não é uma iniciativa meramente descritiva. Ela como o mundo é e, portanto, não podem ser influenciadas
não consiste apenas da listagem de fatos do universo. por interesses e desejos humanos. A ciência pura capta
A ciência diz respeito à intervenção tanto quanto diz esse caráter da ciência a partir do qual revela uma série
respeito à descrição ¹. Na verdade, a explanação, que é uma de verdades independentes do ser humano. A ciência
categoria importante para a ciência moderna, é privile- aplicada é a aplicação dessas descobertas, e os cientistas
giada na ciência porque dispõe de um controle maior não têm muita dificuldade em aceitar que tais aplicações
19:27
Burlington: Ashgate, 2005.
2 Bunge, M. “The Ethics of Science and
the Science of Ethics”. Science and
Ethics (ed. Kurtz, P.). Nova York:
Prometheus Books, 2007.
4 www.asl-associates.com/
einsteinquotes.htm, em inglês.
Temp 10°C
vol. 56, pp. 147–166.
Umidade 66%
Studies, 2005, no. 108, pp. 48–59.
Vento 10 Km/h
144 A CIÊNCIA E A ÉTICA DA CURIOSIDADE
(2002)
PARADIGMAS NA
ensinadas estão sendo desenvolvidas. Não há dúvida
de que a era da tecnologia transformou nossas vidas e
EDUCAÇÃO E RESULTADOS afetará nossos futuros. Em breve, a maior parte do
146 147
linguagens artísticas. Os artistas geralmente expressam pobre de países em desenvolvimento, correm maior risco
seus sentimentos (conscientes ou subconscientes), indo de ser deixados completamente para trás na corrida pelo
além de suas próprias observações. Essas qualidades avanço econômico. Preocupações éticas sobre o ensino
expressivas da arte apelam para as sensações, para a da ciência no futuro demandam que uma boa educação
imaginação e também para as mais altas capacidades da seja assegurada para todos.
mente. Cientistas como Newton e Einstein, em sua
época, corroboraram o conceito deste artigo ao reconhe- RECONHECIMENTO DO CAMPO
cer a importância do imaginário vívido que provém de As evidências atuais no campo da educação, das ciências,
experiências visualmente criativas para atingir resulta- das artes e das humanidades indicam que áreas especia-
dos científicos. lizadas de conhecimento melhoram consideravelmente
Para estabelecer conexões geralmente ausentes na em um ambiente de aprendizagem multidisciplinar
prática educacional contemporânea, é preciso desafiar os quando associadas a áreas de habilidade até então
modelos educacionais atuais, ampliar os horizontes e isoladas. Essa abordagem holística permite que a inteli-
estimular o novo pensamento. Mudanças na visão de gência humana atinja um maior potencial. O treina-
mundo atual, por parte de alguns setores, favorecem a mento especializado em uma área pode, de fato, levar a
aproximação entre as ciências e as artes. Muitos exem- uma habilidade reduzida de se adequar a um mundo
plos foram apresentados, nos quais a maneira como em acelerada transformação. Essa teoria está na linha de
percebemos essas disciplinas foi melhorada, revelando a frente do novo pensamento em educação, ligando disci-
unidade subjacente entre esses dois campos. Cientistas plinas que permaneciam separadas na maioria das grades
e artistas que trabalham colaborativamente em diferentes curriculares ao redor do mundo.
áreas concordam que essa parceria traz resultados mais Este artigo não só examina as questões relacionadas
produtivos. A prática educacional atual direciona os ao aprendizado multidisciplinar e o ensino das ciências
alunos para um campo ou outro, diminuindo a possibili- e das artes, mas também enfoca a aplicação dessas teorias.
dade de desenvolvimento do campo que não é escolhido. Ele prossegue com estudos sobre formação profissional,
O propósito deste artigo é identificar novos desenvol- destacando resultados práticos. Minha pesquisa nos
vimentos das ciências no contexto da aprendizagem Estados Unidos, na Europa e na Austrália resultou na
multidisciplinar, assim como as conexões entre as ciências compilação de dados sobre os últimos desenvolvimentos
e as artes. Outras questões relacionadas ao assunto nas ciências e nas artes. Quando os alunos completam
também são apresentadas, com o objetivo de maximizar sua formação, é necessário chamar atenção para a
o potencial humano. Aspectos políticos, econômicos, natureza limitada de suas áreas de especialização. Isso se
espirituais e sociais são igualmente importantes quando aplica aos campos da engenharia, medicina, ciência,
consideramos o papel do ensino da ciência para o futuro. matemática etc. Os exemplos a seguir fornecem alterna-
Grupos marginalizados da sociedade, como a população tivas viáveis para alcançar resultados mais produtivos
– investigar o alcance dos resultados atribuíveis ao Para entender os benefícios das novas formas de
ensino das artes em escolas de nível básico e secun- ensino de ciências que incorporam as artes, é preciso
dário, considerando particularmente a hipótese de examinar os resultados dos estudos de caso dos princi-
que o envolvimento com a arte pode alavancar o pais programas de pesquisa descritos aqui. Questões
1 John Graham-Pole, doutor em 4 O relatório completo desse estudo do DAVIS, J. “The History of the Arts at
medicina, membro do Royal College NFER, intitulado Arts Education in Harvard Project Zero”. Artigo elaborado
of Physicians (MRCP), professor de Secondary Schools: Effects and para o Annual Meeting of the American
pediatria, é referência na área de arte Effectiveness [Educação artística em Psychological Association, Division 10,
e saúde nos Estados Unidos e diretor escolas secundárias: efeitos e Washington, DC. [Disponível através
do Centre for Arts and Health eficácia], foi disponibilizado pela do Project Zero da universidade de
Research and Education [CAHRE – Publications Unit, The Library, NFER Harvard], 1992.
Centro de Pesquisa e Educação em The Mere, Upton Park, Slough,
Artes e Saúde], University of Florida: Berkshire SL1 2DQ, United Kingdom. GARDNER, H. “Problem Solving in the
www.arts.ufl.edu/main/cahre/ Solicitações de pesquisa devem ser Arts and Sciences”. Journal of Aesthetic
homepage.html. O European Forum on enviadas a John Harland, através do Education (Champaign, IL), vol. 5,
the Arts in Hospitals and Healthcare e-mail: jbh3@york.ac.uk. pp. 93–113, 1971.
[Fórum Europeu sobre Arte em
Hospitais e Assistência Médica] GOLEMAN, D. Emotional Intelligence.
ocorreu em Estrasburgo, França, em Nova York: Bantam Books, 1995.
fevereiro de 2001, atraindo artistas,
médicos, profissionais da saúde, KORNHABER, M.; Gardner, H. “Critical
arquitetos e pessoas de toda a Europa Thinking across Multiple Intelligences”.
que trabalham para promover as artes Artigo apresentado na CERI Conference,
na área da saúde. ‘The Curriculum Redefined (Learning to
Think, Thinking to Learn)’, OECD, Paris,
2 Esse trabalho foi apresentado na França, 1989.
terceira International Conference on
Flow Interaction of Science and Art KRECHEVSKY, M.; Seidel, S. “Minds at
[SCART – Conferência Internacional Work: Applying Multiple Intelligences in
sobre Interação de Fluxos em Ciências the Classroom”. In: Sternberg, R. J.;
e Artes], em Zurique, 2000. Seu Williams, W. (eds.). Intelligence, Instruction
objetivo era promover o diálogo entre and Assessment. Mahwah, NJ: Lawrence
um grupo internacional de cientistas, Erlbaum Associates, 1998.
principalmente especialistas em
dinâmica de fluidos, e artistas. PERKINS, D. N. Smart Schools: From
Training Memories to Educating Minds.
3 O REAP, do Project Zero, da universi- Nova York: The Free Press, 1992.
dade de Harvard, analisa os dados
coletados por inúmeros estudos a
respeito dos efeitos do ensino em
artes (arte multimídia, artes plásticas,
música, artes cênicas e dança) sobre
a cognição e o aprendizado em
domínios não artísticos.
(2006)
ARTESANATOS RECENTES
ABRAHAM CRUZVILLEGAS
Umidade 66%
Temp 10°C
169
borracha, pedra, ferro, barro e cobre. Fiz também objetos 2. Por outro lado, é evidente que, a partir do ponto de
que não obedecem nem à pureza da técnica nem ao tema. vista estritamente econômico, a produção artesanal
Talvez esses sejam os mais interessantes, já que são filhos não pode competir com a produção industrial.
não planejados, ou melhor, os híbridos do projeto origi- Nesse sentido, a possibilidade de sobrevivência do
nal: são autônomos. Essas obras são produto do choque artesanato indígena residiria, precisamente, em
entre minha experiência cotidiana na cidade e a esquizo- um incremento de suas qualidades – tanto esté ticas
frenia intermitente da vida camponês-turística, india- como materiais –, dos insumos que utiliza e em
nista-exploradora-familiar que tive na região onde eles poder assumir a característica, já existente em
foram desenvolvidos. alguns países, de ter seu valor intrínseco relacionado
Partindo de binômios tradicionais como o individual a seu caráter expressivo único. Esta é uma tendên-
e o massivo (a identidade), ou o manual e o industrial cia acentuada em certas nações capitalistas como,
(a impressão e o readymade) e, talvez por último, a arte na Itália, com o cristal de Murano; na Espanha
versus o artesanato (Ocidente em cima da periferia), esse e na França, com a cerâmica; ou na antiga Checos-
projeto tomou rumos que o levaram a reflexões bem lováquia, com o cristal cortado.
diferentes dessas articulações e suas premissas.
3. A estrutura econômica do artesanato e seu contexto
1. Como afirma o antropólogo colombiano Andrés (a troca e o mercado) implicam, sob a perspectiva
Ortiz, deve-se planejar uma apreciação social do e a lógica do desenvolvimento capitalista, não só um
valor dos artesanatos em relação a seu uso cotidi- retrocesso, mas também grupos sociais completa-
ano, uso, por assim dizer, normal. O consumo dos mente excluídos dos benefícios que significam a
artesanatos em nossa sociedade é puramente mobilidade social e a acumulação de capital e de
contemplativo: o artesanato não tem função, por bens, aspirações novas em numerosas etnias ainda
isso, não tem vida. Esse consumo notável e contem- muito atrasadas (vale a pena recordar os ianomâmis
plativo do artesanato evidentemente o desnaturaliza, da Venezuela e do Brasil, grupo nativo de quase
porque, entre seus produtores, esse artesanato 10 mil anos, cujas habilidades manuais se reduzem
teria um uso direto e prático. Seria necessária uma a arcos, flechas, redes e cabanas, e que só consome
campanha de promoção cultural permanente o que produz com base na endogamia e na economia
que reivindicasse não só o caráter estético-cultural familiar, unicamente para satisfazer suas necessi-
do artesanato, mas também a possibilidade de seu dades mais básicas, que não incluem, naturalmente,
uso direto e cotidiano. Em outras palavras, isso luz, telefone ou roupa). Mas essas peças sempre
significa promover o desaparecimento do artesanato. acabam por ser algo pitoresco e exportável na forma
de uma imagem docilizada da miséria.
reativação de um saber acumulado, mais além de sua 1 Corunda e atole são, respectivamente,
cientificidade (natural ou social) ou de sua pureza cultural. uma comida e uma bebida típicas
pré-hispânicas à base de milho. [N. T.]
Evidentemente, não é o indianismo o que anima uma
provável reabilitação dos ofícios herdados (quem sabe até 2 Dança tradicional do estado mexicano
de Michoacán. A danza de los Viejitos
que ponto) por Vasco de Quiroga aos índios do estado se realizava em bailes em homena-
gem ao Dios viejo [Deus velho] ou
de Michoacán. É mais uma conjuntura que tenta se abrir, Dios del fuego [Deus do fogo]. [N. T.]
em meio ao caos visual e discursivo contemporâneo, para
trazer questionamentos, mais que respostas ou reivindi-
cações de qualquer tipo.
É possível valorizar de maneira justa e sem breguice
ou chantagem tais técnicas e ofícios? Se é, inclusive
rebaseando as ideias de integração ou de adaptação
comumente trazidas a esses casos em espacial.
Agustín Jacinto Zavala, pesquisador purépecha,
considera que “é bem possível que a linguagem com
a qual a técnica moderna se veste seja apenas em parte
indispensável para seu transplante a outros grupos
humanos, assim como parece que a assimilação da
(2011)
MARIA LIND
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comunidade profissional. A segunda, por sua vez, é mais visual e espacial que discursiva. As pinturas eram
pouco discutida, passando até mesmo despercebida pelo penduradas ao nível dos olhos em paredes brancas, e
radar da maioria dos praticantes. Refiro-me às aborda- numerosas divisões criavam mais espaço de parede.
gens educacionais e pedagógicas que acontecem na Tanto a seleção das obras quanto as estratégias de exibi-
maioria das instituições artísticas. Por um lado, podem ção eram cruciais. Argumentos eram elaborados nas
ser exageradas, chegando até mesmo a obscurecer a arte. exposições, como a mostra Cubism and Abstract Art
Por outro, temos a crescente bifurcação entre a arte e a [Cubismo e a arte abstrata], de 1936, que identificava
curadoria de cunho experimental e inovador, e a ambição fontes visuais históricas e não ocidentais para a abstração
das instituições artísticas em romper barreiras sociais e geométrica ocidental do século XX.
econômicas. Um efeito desta última condição é a O fato de o MoMA ter, desde o início, situado a si
crescente sensação de isolamento entre as esferas de próprio como mediador entre produtores e distribuidores
interesse e atuação nas artes, sem falar, nas arenas mais industriais (um poderoso grupo de interesse com forte
experimentais, em uma quase absoluta falta de mediação presença no conselho diretor) e um público repleto de
que consiga ir além de círculos relativamente fechados. compradores em potencial não pode ser subestimado. O
A instituição que desempenhou o principal papel no MoMA utilizou abertamente técnicas de exibição inspira-
estabelecimento dos parâmetros para a educação em das em lojas de departamento e outros estabelecimentos
museus foi o Museum of Modern Art de Nova York – comerciais. Os visitantes eram considerados não só
MoMA. Em vez de acrescentar a pedagogia ao final do consumidores, que depois de percorrer as exposições
processo de criação de uma exposição, como a cereja em poderiam comprar os objetos de design expostos na loja
um bolo, o modelo que seu diretor fundador Alfred Barr do museu, mas também formadores de gosto, que deve-
promoveu na década de 1930 integrava-a a cada exposi- riam se tornar membros responsáveis da emergente
ção. No brilhante livro Spaces of Experience: Art Gallery sociedade de consumo. Assim, estratégias de mercado e
Interiors from 1800 to 2000 ¹, a historiadora da arte interesses de negócios se misturaram para moldar novos
Charlotte Klonk demonstra que as exposições do MoMA ideais de relação entre público e arte. Dada a posição
sempre foram conscientemente didáticas, promovendo a influente do MoMA, sua abordagem acabou sendo ado-
visão de arte formalista de Barr. O principal objetivo dele tada em inúmeras instituições de arte ao redor do
era refinar a sensibilidade estética dos visitantes e mundo. A ideia de “conquistar as pessoas”, de persuadi-
moldar um espectador ² baseado no que ela chama de “o -las, foi central para a didática do museu desde o início,
consumidor educado”, em contraste com o ideal do assim como o foi para a indústria de propaganda con-
século XIX do “cidadão responsável”. Apesar dos famosos temporânea, que, por sua vez, amadurecia e se transfor-
gráficos de Barr sobre desenvolvimentos estilísticos e de mava para a nova era moderna. Dentro desse esquema
seus textos de catálogo bem escritos e acessíveis, a amplamente comercial, a arte pouco convencional
abordagem educativa de suas exposições tendia a ser e “inovadora” só era aceita contanto que as inovações
(1998)
ENTREVISTA COM
EDUARDO VIVEIROS
DE CASTRO
Umidade 66%
REVISTA SEXTA-FEIRA
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Amazônia existisse como possibilidade de trabalho. Em
o foco é o Brasil, os índios são interessantes em relação ao parte, porque estava lendo maciçamente teses e livros
Brasil, na medida em que são parte do Brasil. Nada a dos meus professores, e associados deles, que eram todos
objetar, esta sociologia do Brasil indígena é uma empresa sobre grupos Jê, Bororo e tal. Todo o meu trabalho
altamente respeitável e resultou em trabalhos extrema- posterior foi muito marcado por um “escrever contra” a
mente importantes. Mas esta não era a minha. A minha etnologia centro-brasileira – “contra” não no sentido
era a malchamada “sociedade primitiva”, meu foco eram polêmico ou crítico, mas contra como a partir de, como
as sociedades indígenas, não o Brasil: o que me interes- figura que se desenha contra um fundo: contra a paisa-
sava eram as sociologias indígenas. A minha era Lévi- gem em que se deu minha formação.
-Strauss, Pierre Clastres, as antropologias de Malinowski,
de Evans-Pritchard… O que mais o impressionou no campo com os
Yawalapíti do Alto Xingu, então sua primeira experiên-
Em que pé estavam os estudos sobre a Amazônia cia de pesquisa em uma sociedade indígena?
indígena na época de suas primeiras investigações A primeira coisa que me chamou a atenção, no Xingu,
etnológicas? era que aquele sistema social era diferente dos regimes
É preciso não esquecer que boa parte da Amazônia que do Brasil Central. Uma preocupação que me acompanha
veio a ser estudada nos anos 70 não existia do ponto desde então tem sido a de como descrever uma forma
de vista geopolítico, tendo sido incorporada à sociedade social que não tem como esqueleto institucional qualquer
nacional a partir do boom desenvolvimentista iniciado espécie de dispositivo dualista, considerando que minha
naquela década. Não era a Amazônia, mas o Brasil imagem básica de sociedade indígena era a de uma
Central que estava então na berlinda, graças aos trabalhos sociedade com metades etc. Aquele era um tempo em que
de Curt Nimuendaju das décadas de 30 e 40, que tinham as oposições binárias eram consideradas a grande chave
sido discutidos por Robert Lowie e Claude Lévi-Strauss. de abertura de qualquer sistema de pensamento e ação
Este último – estava-se no apogeu do estruturalismo, indígenas. Ficou claro para mim que o que acontecia no
nas décadas de 60–70 – colocou o Brasil Central na pauta Xingu não podia ser reduzido à oposição entre o físico e o
teórica da antropologia. O grupo que estudou o Brasil moral, o natural e o cultural, o orgânico e o sociológico.
Central, ligado a David Maybury-Lewis, foi o que teve o Ao contrário, havia uma espécie de interação entre essas
maior número de pessoas trabalhando coordenadamente dimensões muito mais complexa do que os nossos dualis-
em uma mesma área da América do Sul; uma área, aliás, mos. O que me chamou a atenção foi o complexo da
exclusivamente brasileira. Quando eu era estudante, reclusão pubertária do Alto Xingu, em que os jovens têm
nos anos 70, a impressão que se tinha era que a única o corpo literalmente fabricado, imaginado por meio
coisa interessante que restava em etnologia indígena era de remédios, de infusões e de certas técnicas como a
o Brasil Central. Eu não tinha nem muita clareza que a escarificação. Em suma, ficava claro que não havia
BIBLIOGRAFIA
213
LIND, Maria. “Por que mediar a arte?”.
Do original “Why Mediate Art?”, Ten
Fundamental Questions of Curating,
capítulo IV. Revista Mousse (Milão):
23 de abril de 2011. Republicação e
tradução por autorização da autora.
Traduzido por Camila Schenkel.
214
PATROCINADOR MASTER PATROCINADOR DO PROJETO PEDAGÓGICO PATROCINADOR SMARTER
PATROCINADOR DE PORTAIS, PATROCINADOR DE MATINÊS PATROCINADOR DO PROGRAMA REDES DE FORMAÇÃO APOIADOR DO PROJETO PEDAGÓGICO
PREVISÕES E ARQUIPÉLAGOS DA 9ª BIENAL DO MERCOSUL | PORTO ALEGRE
FINANCIAMENTO REALIZAÇÃO
216 217
FUNDAÇÃO BIENAL DE ARTES VISUAIS Conselho Fiscal Secretaria Produção Executiva
DO MERCOSUL Geraldo Toffanello Mariana Vieira Vargas – Coordenação Gabriela Saenger Silva
Jairo Coelho da Silva Andriele Viana
Os princípios norteadores da Fundação José Benedicto Ledur Camilla Rossatto Collao Invenções Caseiras
Bienal de Artes Visuais do Mercosul são: Mário Fernando Fettermann Espíndola Tatiana Machado Madella Luciane Bucksdricker – Produção
o foco na contribuição social, buscando Ricardo Russowsky Francesco Settineri – Assistência
reais benefícios para seus públicos, par- Wilson Ling Gestão de Parcerias
ceiros e apoiadores; a contínua aproxima- Michele Loreto Alves – Coordenação Redes de Formação
ção com a criação artística contemporânea Potira Preiss – Polinizadora das Redes
e seu discurso crítico; a transparência DIRETORIA Marketing Diana Kolker Carneiro da Cunha –
na gestão e em todas as suas ações; a Luciana Braun – Coordenação Formação Mediadores da Terra
prioridade de investimento em educação Presidente Manoela Carvalho Guariglia - Estagiária Gabriela Bon – Formação Mediadores
e consolidação da exposição como refe- Patricia Fossati Druck da Nuvem
rência nos campos da arte, da educação Imprensa Juliana Peppl – Produção
e da pesquisa nessas áreas. A instituição Vice-Presidente Ariela Dedigo – Coordenação Liege Ferreira – Produção
trabalha pela universalização do acesso Renato Nunes Vieira Rizzo Julia Franz – Estagiária Andressa Duarte – Assistência
à arte e para contribuir de forma efetiva
para o exercício da cidadania garantindo Diretores Núcleo de Documentação e Pesquisa Viagens de Campo
o acesso à cultura e à arte a milhares de André Jobim de Azevedo – Jurídico e Vanessa Silveira Fagundes Carla Borba – Produção
pessoas, de forma gratuita. Relações Institucionais
Claudia Helena Plass – Logística Consultoria Jurídica em Propriedade
Egon Kroeff – Comunicação e Marketing Intelectual PRODUÇÃO
CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO Heron Charneski – Sustentabilidade e Rodrigo Azevedo - Silveiro Advogados
Núcleo de Documentação e Pesquisa Coordenação de Produção
Presidente José Paulo Soares Martins – Gestão André Severo
Jorge Gerdau Johannpeter de Parcerias Germana Konrath
Maria Cecília Medeiros de Farias Kother –
Vice-Presidente Diretora-Conselheira 9a BIENAL DO MERCOSUL | PORTO ALEGRE Produção
Justo Werlang Mathias Kisslinger Rodrigues SE O CLIMA FOR FAVORÁVEL Adauany Zimovski
Administrativo-Financeiro e Gabriela Geier
Conselheiros Governança Jaqueline Beltrame
Adelino Raymundo Colombo CURADORIA Marco Mafra
Beatriz Bier Johannpeter Conselheiros-Facilitadores Mariana Bogarín
Elvaristo Teixeira do Amaral Beatriz Bier Johannpeter Direção Artística e Curadoria Geral Natasha Jerusalinsky
Evelyn Berg Ioschpe Justo Werlang Sofía Hernández Chong Cuy
Hélio da Conceição Fernandes Costa Renato Malcon Assistência de Produção
Horst Ernst Volk Curadores Carolina Garcia
Ivo Abrahão Nesralla Raimundas Malašauskas – Curador Gaston Santi Kremer
Jayme Sirotsky ADMINISTRAÇÃO do Tempo Juliana Bittencourt
Jorge Polydoro Mônica Hoff – Curadora de Base Leandro Engelke
Julio Ricardo Andrighetto Mottin Administrativo-Financeira Bernardo de Souza – Curador do Espaço Luiza Mendonça
Liliana Magalhães Volmir Luiz Gilioli - Coordenação Sarah Demeuse – Curadora da Nuvem Paola Santi Kremer
Luiz Carlos Mandelli Cléofas Sates Manfio Daniela Pérez – Curadora da Nuvem Taís Cardoso
Patricia Fossati Druck Jordan de Souza dos Santos Júlia Rebouças – Curadora da Nuvem
Paulo César Brasil do Amaral Luisa Schneider Dominic Willsdon – Curador Pedagógico
Péricles de Freitas Druck Pedro Paulo da Rocha Ribeiro da Nuvem MUSEOGRAFIA
Raul Anselmo Randon Rodrigo Silva Brito
Renato Malcon Teresinha Abruzzi Pimentel Eduardo Saorin – Coordenação Geral
Ricardo Vontobel PROJETO PEDAGÓGICO e Projeto Museográfico
Sérgio Silveira Saraiva TI Michelle Sommer – Planejamento Geral
William Ling Diego Poschi Vergottini – Coordenação Coordenação Geral e Projeto Museográfico
André Henrique Jochims Mônica Hoff Alberto Gomez – Projeto Museográfico
Bruna Bailune – Produção Executiva
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A NUVEM: Gráfica
UMA ANTOLOGIA PARA PROFESSORES, Pallotti, São Leopoldo–RS
MEDIADORES E AFICIONADOS DA
9a BIENAL DO MERCOSUL | PORTO ALEGRE Papel
Reciclato 75g, Duplex 300g
Este livro foi publicado pela Fundação
Bienal de Artes Visuais do Mercosul, Tiragem
na ocasião da 9a Bienal do Mercosul | 1800
Porto Alegre, de 13 de setembro a
10 de novembro de 2013. Edição © 2013, Fundação Bienal de Artes Visuais
do Mercosul
Organização
Textos © os autores, exceto quando outra indicação
Sofía Hernández Chong Cuy
Mônica Hoff Seleção e tradução dos textos que compõem esta
antologia autorizadas pelos seus respectivos
Coordenação autores ou representantes legais; as fontes origi-
Luiza Proença nais e suas respectivas traduções encontram-se
indicadas no final da antologia.
Revisão e Preparação
Dados Internacionais de Catalogação na
Regina Stocklen Publicação (CIP):
220
organizadas. Os campistas
[continuação da capa]