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A
doença
holandesa
é
uma
falha
de
mercado
que
afeta
quase
todos
os
países
em
desenvolvimento,
porque,
como
veremos
mais
adiante,
se
aplica
também
aos
países
com
mão-‐de-‐obra
barata
e
elevado
diferencial
de
salários
em
relação
ao
diferencial
existente
nos
países
ricos.
Neutralizada
através
da
administração
da
taxa
de
câmbio,
ela
é
uma
benesse
para
o
país;
não
neutralizada,
ela
obstrui
permanentemente
sua
industrialização
se
esse
país
ainda
não
se
industrializou,
ou
causar
sua
desindustrialização
se
o
país
houver
antes
a
neutralizado,
se
industrializado,
e,
em
seguida,
liberalizar
suas
contas
externas
e,
assim,
deixar
de
proceder
sua
neutralização.
É
uma
falha
muito
grave
porque
ela
é
compatível
a
longo
prazo
com
o
equilíbrio
em
conta
corrente
do
país,
de
forma
que
a
sobreapreciação
cambial
pode
permanecer
ao
longo
do
tempo
sem
que
haja
uma
crise
de
balanço
de
pagamentos
–
algo
que
não
ocorre
com
a
outra
fonte
de
sobreapreciação:
as
entradas
de
capital
justificadas
pela
equivocada
política
de
crescimento
com
poupança
externa,
porque
estas
causam
endividamento
crescente,
provocam
vulnerabilidade
financeira
externa,
e
tendem
a
terminar
em
crise
do
balanço
de
pagamentos.
A
doença
holandesa
é
uma
falha
de
mercado
que
gera
externalidades
negativas
nos
outros
setores
de
bens
e
serviços
comercializáveis
da
economia
impedindo
esses
setores
de
se
desenvolverem
não
obstante
usem
a
melhor
tecnologia
e
as
melhores
práticas
administrativas.
É
uma
falha
de
mercado
que
implica
a
existência
de
uma
diferença
entre
a
taxa
de
câmbio
que
equilibra
intertemporalmente
a
conta
corrente
do
país
e
a
taxa
de
câmbio
que
permite
a
existência
de
setores
econômicos
eficientes
de
bens
e
serviços
comercializáveis
além
daqueles
beneficiados
por
rendas
ricardianas.
Somente
quando
a
doença
holandesa
for
neutralizada
o
mercado
estará
apto
a
tornar
a
taxa
de
câmbio
de
mercado
próxima
do
segundo
equilíbrio
e,
assim,
alocar
eficazmente
os
recursos
e
de
encorajar
o
investimento
e
a
inovação.
ε = px# / px$
Mas
podemos
pensar
a
taxa
de
câmbio
também
em
termos
de
valor.
Da
mesma
forma
que
o
valor
de
uma
mercadoria
corresponde
ao
custo
mais
margem
de
lucro
razoável,
satisfatória
para
motivar
as
empresas
eficientes
investirem,
o
valor
da
taxa
de
câmbio
corresponde
à
taxa
de
que
cobre
o
custo
mais
margem
de
lucro
razoável
das
empresas
eficientes
(que
usam
tecnologia
no
estado
da
arte
mundial)
que
produzem
bens
comercializáveis
internacionalmente.
Em
torno
desse
valor
flutua
a
taxa
de
câmbio
de
mercado
em
função
da
oferta
e
da
procura
de
moeda
estrangeira.
Em
termos
de
valor,
o
preço
necessário
para
a
taxa
de
câmbio
que
corresponde
tanto
à
taxa
de
câmbio
de
equilíbrio
corrente
quanto
à
de
equilíbrio
industrial.
Em
relação
às
mercadorias
em
geral,
portanto,
o
preço
necessário
corrente
e
preço
necessário
industrial
são
iguais,
e
correspondem
à
taxa
de
câmbio
de
equilíbrio
corrente,
ε
c.
pxc# = pxi# = ε c
Já
quando
existe
doença
holandesa
é
preciso
distinguir
dois
preços
em
termos
de
valor:
o
preço
necessário
corrente,
pxc#,
que
é
o
preço
necessário
e
satisfatório
para
as
empresas
que
produzem
e
exportam
a(s)
commodity(ies)
que
originam
a
doença
holandesa,
enquanto
que
o
preço
necessário
industrial,
pxi#,
é
o
preço
necessário
e
satisfatório
para
as
demais
empresas
eficientes,
que
utilizam
tecnologia
no
estado
da
arte
mundial,
produtoras
de
bens
comercializáveis.
Ao
preço
necessário
corrente
corresponde
a
taxa
de
câmbio
de
equilíbrio
corrente,
que
é,
portanto
um
conceito
de
taxa
de
câmbio
em
termos
de
valor,
da
mesma
forma
que
ao
preço
necessário
industrial
corresponde
a
taxa
de
câmbio
de
equilíbrio
industrial.
Pxc# = εc
Pxi# = εi
Como
a
taxa
de
câmbio
de
mercado
flutuará
em
torno
do
equilíbrio
corrente,
as
demais
empresas
produtoras
de
bens
comercializáveis
(aquelas
que
não
se
beneficiam
de
rendas
ricardianas)
se
revelarão
inviáveis
economicamente
embora
utilizem
tecnologia
no
estado
da
arte
mundial,
porque
seu
preço
necessário
industrial
é
maior
(mais
depreciado)
do
que
o
preço
necessário
corrente.
Tanto
o
preço
necessário
corrente
quanto
o
preço
necessário
industrial
são
preços
representativos
da
média
das
mercadorias;
são
iguais
quando
não
há
doença
holandesa,
e
são
compatíveis
com
a
taxa
de
equilíbrio
corrente
(que
não
é
a
mesma
coisa
que
o
equilíbrio
efetivo
da
conta
corrente
dada
a
oferta
e
a
demanda
de
moeda
estrangeira).
Estivemos
até
agora
supondo
que
os
fluxos
de
capitais
estejam
próximos
de
zero,
e
que
as
contas
externas
(exportações
e
importações
inclusive
serviços)
estão
equilibradas,
e,
por
isso,
o
preço
necessário
corrente
e
a
taxa
de
câmbio
de
equilíbrio
corrente
correspondem
a
uma
taxa
de
câmbio
nominal
que
zera
o
déficit
em
conta
corrente
do
país.
Entretanto
se
não
for
assim,
se
o
país
estiver
tentando
crescer
com
poupança
externa,
e
tiver
um
déficit
em
sua
conta
corrente
coberto
por
entradas
de
capitais,
a
taxa
de
câmbio
nominal
será
mais
apreciada
(ou
mais
baixa)
do
que
a
taxa
de
câmbio
de
equilíbrio
corrente,
e
teremos
déficit
em
conta
corrente,
porque
para
um
determinado
déficit
em
conta
corrente
corresponde
uma
taxa
de
câmbio
mais
apreciada
do
que
aquela
que
prevaleceria
fosse
zero
o
déficit
em
conta
corrente.
O
fluxo
de
capitais
entra,
portanto,
no
modelo
como
forma
de
financiamento
líquido
dos
déficits
em
conta
corrente.
Por
que
varia
a
diferença
entre
as
duas
taxas
e,
portanto,
a
gravidade
da
doença
holandesa?
Essa
diferença
será
tanto
maior
quanto
maior
for
a
renda
ricardiana
envolvida.
Ora,
as
rendas
ricardianas
obtidas
variam
de
momento
para
momento,
dependendo
do
preço
internacional
do
bem,
e
diferem
de
país
para
país,
dependendo
do
custo
de
explorar
o
recurso
natural
(na
indústria
do
petróleo
esses
custos
variam
enormemente).
Por
isso,
a
doença
holandesa
afeta
os
países
em
diferentes
graus
ou
intensidades
dependendo
dessas
duas
variáveis:
o
preço
internacional
e
o
custo
de
produção.
Para
se
compreender
melhor
o
que
estamos
afirmando,
suponhamos
três
países
que
exploram
e
exportam
petróleo,
em
um
momento
em
que
o
preço
internacional
do
barril
de
petróleo
é
de
US$
100.00
por
barril,
o
preço
industrial
necessário
é
#200.00,
e
a
taxa
de
câmbio
de
equilíbrio
industrial
necessária
para
que
as
empresas
produzam
e
exportem
ou
enfrentem
a
concorrência
estrangeira
é
#2.00.
Se
as
empresas
não
tivessem
rendas
ricardianas
e,
portanto,
não
tivessem
custos
diferentes,
taxa
de
câmbio
corrente
seria
também
#2.00,
igual
à
industrial.
Mas,
no
nosso
exemplo,
no
país
A,
o
custo
mais
margem
de
lucro
razoável
para
as
empresas
exportadoras
de
commodities
é
#140.00,
no
país
B,
#100.00,
e
no
país
C,
#40.00;
as
correspondentes
rendas
ricardianas
são
#60.00,
#100.00
e
#160.00.
Sendo
assim,
os
exportadores
de
commodities
no
país
A
estarão
satisfeitos
com
uma
taxa
de
câmbio
de
equilíbrio
corrente,
$1.60;
os
exportadores
do
país
B,
com
uma
taxa
de
$1.00;
e
os
do
país
C,
com
uma
taxa
de
equilíbrio
corrente
de
#40.00.
Assim,
nesses
três
países
as
taxas
de
câmbio
girarão
em
torno
dessas
três
taxas.
No
segundo
e
no
terceiro
país,
a
indústria
manufatureira
será
praticamente
inviável
a
não
ser
que
haja
tarifas
muito
altas
ou
a
simples
proibição
de
se
importar
determinadas
mercadorias;
as
exportações
industriais
estarão
inviabilizadas.
No
país
A
tarifas
moderadas
poderão
permitir
a
sobrevivência
de
empresas
eficientes;
apenas
empresas
manufatureiras
incrivelmente
eficientes,
ou
cujo
conteúdo
importado
seja
muito
grande
poderão
exportar.
Neste
terceiro
caso,
o
país
tem
abundantes
recursos
naturais
e
os
exporta,
mas
mesmo
assim
alcançou
a
industrialização
e,
portanto,
neutralizou
a
doença
holandesa.
Alternativa
ou
adicionalmente
à
política
de
neutralização
da
doença
holandesa
através
de
taxas
múltiplas
de
câmbio,
os
países
adotam
altas
tarifas
de
importação
(que,
em
parte
são
medidas
de
proteção
à
indústria
infante,
em
parte,
de
neutralização
da
doença
holandesa
do
ponto
de
vista
das
importações).
Quando,
além
das
tarifas
de
importação
adotam
subsídios
à
exportação
de
manufaturados,
como
fizeram
o
Brasil
e
o
México
principalmente
nos
anos
1970,
temos
uma
sistema
de
neutralização
completo,
alternativo
às
taxas
múltiplas
de
câmbio,
no
qual
se
pode
ver,
inclusive,
como
um
imposto
implícito
sobre
a
exportação
das
commodities
faz
parte
dele,
como
veremos
no
próximo
capítulo.
A
razão
pela
qual
bens
com
elevado
conteúdo
tecnológico
são
mais
afetados
pela
doença
holandesa
só
ficará
clara
à
luz
do
conceito
de
doença
holandesa
“ampliada”
discutido
anteriormente.
Só
os
setores
industriais
com
elevada
participação
de
mão-‐de-‐obra
barata
continuam
competitivos
a
partir
do
momento
em
que
o
país
deixa
de
neutralizar
a
doença
holandesa.
Podemos
atribuir
esse
fato
a
um
processo
mais
geral,
que
é
a
divisão
do
trabalho
em
nível
internacional,
mas
isto
é
um
equívoco.
Através
desse
processo,
as
tarefas
com
maior
valor
agregado
per
capita
e
que
requerem
mão-‐de-‐obra
mais
qualificada,
constituída
principalmente
por
administradores
e
comunicadores,
são
executadas
em
países
ricos,
que
possuem
esse
tipo
de
mão-‐de-‐obra
em
abundância,
enquanto
tarefas
padronizadas
ou
codificadas
são
transferidas
para
trabalhadores
com
baixos
salários
nos
países
em
desenvolvimento.
É
esse
processo
de
divisão
do
trabalho
que
dá
origem
às
"empresas
maquiladoras"
que
há
muito
se
instalaram
na
fronteira
entre
o
México
e
os
Estados
Unidos,
resulta
da
baixa
qualificação
da
mão-‐de-‐obra
disponível
no
país.
No
caso
da
desindustrialização
prematura
que
ocorre
em
país
que
há
se
industrializou
o
problema
é
outro.
O
processo
de
transformação
da
indústria
manufatureira
do
país
em
uma
grande
maquila
mexicana
é
consequência
do
fato
de
que
o
país
deixou
de
neutralizar
a
doença
holandesa.
No
período
de
industrialização
acelerada
o
país
havia
logrado
melhorar
a
qualidade
técnica
de
sua
mão-‐de-‐obra.
Mas
agora,
quando
a
liberalização
comercial
e
financeira
termina
com
o
controle
do
país
sobre
sua
taxa
de
câmbio,
e,
portanto,
o
país
deixa
de
neutralizar
sua
doença
holandesa,
essa
mão-‐de-‐obra
mais
qualificada
não
encontrará
emprego.
A
desindustrialização
prematura
e
a
transformação
do
país
em
uma
grande
maquila
implicam
em
baixas
taxas
de
crescimento
e
subemprego
de
pessoal
qualificado.
Na
medida
em
que
a
doença
holandesa
não
é
neutralizada,
os
salários
deveriam
ser
artificialmente
altos
no
país
com
doença
holandesa.
Altos,
porque
seriam
mais
baixos
se
a
taxa
de
câmbio
estivesse
no
equilíbrio
industrial.
Entretanto,
o
que
vemos
são
salários
muito
baixos.
Salários
de
subsistência.
Porque,
na
medida
em
que
a
mão-‐de-‐obra
nacional
é
abundante
e
desorganizada,
os
salários
não
são
definidos
pela
oferta
e
pela
demanda,
mas
pelo
custo
de
reprodução
da
mão-‐de-‐
obra.
Para
onde
vão,
então,
as
rendas
ricardianas
da
doença
holandesa?
Vão
para
as
elites
que
se
aproveitarão
da
sobreapreciação
cambial
para
consumir
bens
de
luxo
na
metrópole.
Sua
distribuição
será
diferente
de
país
para
país,
dependendo
da
capacidade
de
busca
de
rendas
dos
vários
grupos.
Quando
a
especialização
em
recursos
naturais
ocorre
em
um
país
pobre
porque
a
doença
holandesa
torna
economicamente
inviável
implementar
atividades
econômicas
diferentes
daquelas
que
a
originam
estamos
na
presença
de
uma
doença
porque,
nesse
caso,
o
país
está
limitando
sua
capacidade
de
criar
empregos
e
renunciando
à
produção
de
qualquer
bem
com
valor
agregado
per
capita
maior
do
que
aquele
existente
nas
commodities
que
ele
produz
e
exporta.
Quando
um
país
de
renda
média
que,
para
se
industrializar,
neutralizou
a
doença
holandesa,
mas
em
seguida,
em
nome
de
um
liberalismo
econômico
equivocado,
deixa
de
fazê-‐lo,
ele
entra
em
processo
de
desindustrialização
prematura.
Por
que
mão-‐de-‐obra
barata
mais
a
large
difference
between
salaries
and
wages
causa
doença
holandesa?
Não
porque
o
valor
adicionado
per
capita
na
indústria
é
mais
elevado
do
que
no
setor
primário,
mas
porque,
dentro
da
indústria
manufatureira
há
setores
com
maior
e
com
menor
valor
adicionado
per
capita.
Ora,
quando
a
taxa
de
câmbio
é
deixada
livre
em
um
país
de
mão-‐de-‐obra
barata,
havendo
nesse
país
um
wage-‐salary
span
muito
maior
do
que
nos
países
ricos,
a
taxa
de
câmbio
será
determinada
pelas
setores
manufatureiros
que
utilizam
pouca
mão-‐de-‐obra
especializada
e
poucos
engenheiros,
setores
de
baixo
valor
adicionado
per
capita,
e
os
setores
de
maior
valor
adicionado
per
capita,
que
utilizam
tecnologia
mais
complexa
e
pagam
melhores
salários
serão
inviabilizados.
No
caso
da
doença
holandesa
em
sentido
restrito
um
valor
adicionado
per
capita
maior
na
indústria
do
que
na
produção
de
commodities
não
era
estritamente
necessária,
uma
vez
que
os
bens
que
dão
origem
à
doença,
em
particular
a
indústria
do
petróleo,
não
são
necessariamente
produzidos
com
menor
intensidade
científica
e
tecnológica
do
que
os
outros.
Nesse
caso
só
existe
doença
porque
o
setor
petroleiro
não
tem
capacidade
de
absorver
a
mão-‐de-‐obra
do
país.
Já
no
caso
da
doença
holandesa
ampliada,
só
existe
a
doença
porque
ela
impede
a
transferência
de
mão-‐de-‐obra
para
setores
com
maior
valor
adicionado
per
capita
entre
as
empresas
produtoras
de
bens
comercializáveis.
Só
haverá
problema
de
doença
holandesa
originado
nesse
tipo
de
bem
se
o
leque
salarial
existente
no
país,
ou
seja,
a
diferença
média
entre
o
ordenado
de
um
engenheiro
e
o
salário
de
um
peão
de
fábrica
for
substancialmente
maior
do
que
o
existente
nos
países
ricos.
Essa
condição
é
importante
porque
se
os
salários
forem
igualmente
baixos
em
todos
os
setores
não
haveria
problema
de
doença
holandesa.
Mas
o
desenvolvimento
econômico
implica
transferência
de
mão-‐de-‐
obra
para
setores
cada
vez
sofisticados
tecnologicamente,
com
maior
valor
adicionado
per
capita
e
maiores
salários.
Neste
caso
a
taxa
de
câmbio
será
determinada
pelo
setor
de
menor
sofisticação
tecnológica
e
menores
salários
médios,
e
inviabilizará
a
produção
de
bens
mais
sofisticados,
que
tenha
valor
adicionado
per
capita
maior.
Em
outras
palavras,
como
os
setores
que
usam
principalmente
mão-‐de-‐obra
barata
têm
um
custo
marginal
menor
do
que
o
custo
marginal
dos
setores
mais
sofisticados
tecnologicamente,
a
taxa
de
câmbio
será
determinada
pelos
primeiros,
e
os
demais
setores
não
terão
condições
de
se
desenvolver.
Os
salários
pagos
nas
indústrias
mais
sofisticadas
são
necessariamente
maiores,
pois
elas
usam
mão-‐de-‐obra
mais
qualificada.
Se
no
país
em
desenvolvimento
a
diferença
salarial
entre
um
engenheiro
de
fábrica
e
um
trabalhador
não
qualificado
fosse
de
aproximadamente
quatro
vezes,
como
é
nos
países
ricos,
o
país
produziria,
com
mão-‐de-‐obra
barata,
todo
tipo
de
bens
sem
qualquer
dificuldade,
a
não
ser
as
técnicas
e
administrativas.
No
entanto,
se
esse
leque
salarial
for
mais
amplo,
for,
como
é
muito
comum
em
países
em
desenvolvimento,
de
12
vezes,
estaremos
diante
do
caso
da
doença
holandesa
em
sentido
amplo,
que,
se
não
for
neutralizado,
inviabilizará
os
setores
industriais
com
maior
conteúdo
tecnológico.
Neste
caso
não
temos
rendas
ricardianas
como
origem
da
doença
holandesa,
mas
o
diferencial
de
salários
maior
do
que
nos
países
ricos.
O
conceito
ampliado
da
doença
holandesa
não
é
a
única
razão,
mas
é
certamente
a
razão
fundamental
pela
qual
os
países
asiáticos
dinâmicos
administram
tão
firmemente
suas
taxas
de
câmbio,
impedindo
sua
apreciação.
A
China,
por
exemplo,
nunca
estaria
exportando
produtos
cada
vez
mais
sofisticados
como
o
está
fazendo
se
não
administrasse
sua
taxa
de
câmbio.
Ao
fazer
isso,
ela
mantém
a
taxa
de
câmbio
no
nível
necessário,
isto
é,
no
nível
da
taxa
de
câmbio
de
equilíbrio
industrial.
Para
evitar
erros
grosseiros
desse
tipo
rejeitamos
a
diferença
entre
a
doença
holandesa
e
a
maldição
de
recursos
naturais.
São
o
mesmo
fenômeno,
vistos
de
dois
ângulos:
o
econômico
e
o
moral.
Quando
o
país
é
pobre,
sua
sociedade
é
desestruturada,
suas
instituições
são
fracas,
e
seus
padrões
de
moral
pública,
baixos,
suas
elites
corruptas,
geralmente
associadas
aos
interesses
dos
países
ricos,
se
apropriarão
de
parte
das
rendas
ricardianas
através
do
rent-‐seeking.
Teremos
doença
holandesa
e
maldição
de
recursos
naturais.
Quanto
mais
pobre
for
um
país
e
mais
exposto
estiver
ele
ao
capitalismo
global,
mais
desorganizada
será
sua
sociedade,
mais
fracas
serão
suas
instituições,
mais
difícil
será
governá-‐
lo.
Por
outro
lado,
entre
os
países
pobres,
quanto
mais
rico
for
esse
país
em
recursos
minerais,
maior
será
a
probabilidade
de
ele
ficar
à
mercê
da
corrupção
e
das
guerras
civis.
Os
estudos
de
Collier
e
Hoeffler
(2004)
e
de
Collier
(2007)
são
conclusivos
nesse
sentido.
Quando
o
país
afinal
logra
neutralizar
a
doença
holandesa
e
se
industrializar,
isto
é
sinal
que
também
neutralizou
a
maldição
de
recursos
naturais.
A
doença
holandesa
é
um
fenômeno
essencialmente
econômico
que
tem,
naturalmente,
consequências
políticas
e
éticas.
Distinguir
doença
holandesa
e
maldição
de
recursos
naturais
implica
apenas
desviar
a
atenção
do
problema
econômico
fundamental.
Mesmo
que
acreditássemos
que
os
grandes
problemas
dos
países
pobres
são
de
ordem
ética,
que
ignorássemos
o
caráter
endógeno
das
instituições,
e
que
acreditássemos
que
a
decisão
de
realizar
reformas
institucionais
resolveria
os
problemas
éticos
de
um
país,
mesmo
que
adotássemos
esse
non-‐sense
muito
comum
entre
as
elites
educadas
dos
países
ricos,
e
lográssemos
graças
a
ele
“moralizar”
o
país,
o
país
objeto
dessas
crenças
e
políticas
não
se
desenvolveria
porque
não
estaria
resolvendo
sue
problema
econômico
real:
a
sobreapreciação
crônica
da
taxa
de
câmbio
causada
pela
doença
holandesa.
A
doença
holandesa
é
uma
grave
doença
em
meio
à
abundância.
Na
maioria
dos
países
ela
surge
quando
o
país
ainda
é
muito
pobre,
sua
sociedade
mostra
pouca
coesão
e
suas
instituições
são
fracas.
No
começo,
parece
um
maná
vindo
dos
céus:
seus
aspectos
negativos
ainda
não
estão
evidentes,
pois
o
país
ainda
não
tem
possibilidade
de
diversificar
sua
economia.
À
medida
que
o
tempo
passa,
porém,
o
país
gradualmente
se
vê
numa
armadilha.
Em
lugar
de
seus
recursos
naturais
provocarem
crescimento,
eles
se
transformam
no
grande
obstáculo
ao
crescimento:
um
obstáculo
que,
como
veremos,
é
muito
difícil
de
ser
superado,
tendo
em
vista
os
problemas
econômicos
e
políticos
envolvidos.
Desde
a
descoberta
e
início
da
exploração
dos
recursos
naturais
a
nova
riqueza
de
um
lado
aprecia
a
moeda
nacional
e,
de
outro,
causa
busca
de
rendas,
e
se
torna
uma
grande
fonte
de
corrupção.
O
problema
é
diferente
quando
um
país
rico,
como
os
Países
Baixos
ou
a
Noruega,
descobre
recursos
naturais.
Como
esses
países
têm
mais
recursos
políticos
para
enfrentar
o
problema
e
o
neutralizam
devidamente,
a
moeda
não
se
torna
sobrevalorizada
nem
os
salários
se
tornam
artificialmente
altos.
E
o
país
também
não
se
torna
engolfado
pela
corrupção.
Quanto ao orçamento público, não é tão óbvio que deva ser superavitário
quando o país neutraliza sua doença holandesa. O modelo dos déficits gêmeos
nos oferece uma primeira explicação para o fato. Se um país apresenta um
superávit em conta corrente, isto significa que realizou uma poupança em
relação ao resto do mundo, mas não significa que tenha sido o Estado que a
realizou nas contas externas. Significaria isto se todo o imposto usado para
neutralizar a doença holandesa houvesse sido aplicado no aumento de reservas
ou no aumento do fundo soberano do país. O governo não terá necessidade de
atrair capital para financiar déficits em transações correntes, já que estes não
existirão; também não precisará, por consequência, elevar demasiadamente as
taxas de juros sobre seus títulos; adicionalmente, se criar o fundo soberano, não
terá que realizar operações de esterilização para reduzir a oferta de moeda, e,
portanto, não receberá uma pressão oriunda do setor externo para elevar sua
dívida pública. Entretanto, nos países em desenvolvimento, os políticos
dificilmente concordarão em dar esse destino para todo o valor do imposto.
Usarão uma parte senão toda a receita do imposto sobre as exportações para
realizar despesas públicas demandadas pela sociedade. E, portanto, não haverá
superávit público, mas o governo terá as condições necessárias para manter o
déficit público em nível baixo e de manter a dívida pública sob controle.
Em
relação
às
contas
externas,
porém,
não
há
dúvida
que
um
superávit
em
conta
corrente
é
condição
para
que
haja
neutralização
da
doença
holandesa.
A
falta
de
um
superávit
em
conta
corrente
em
um
país
que
tem
doença
holandesa
é
sinal
seguro
que
esse
país
não
está
neutralizando
esta
falha
de
mercado
e,
portanto,
que
está
aceitando
um
obstáculo
maior
ao
seu
desenvolvimento
econômico.
Em
relação
aos
países
pobres
sem
doença
holandesa,
o
problema
é
mais
grave,
mas
são
poucos
os
países
nessas
condições,
porque
se
um
país
nessas
condições
não
tiver
recursos
naturais
abundantes
e
baratos
para
exportar,
terá
mão-‐de-‐
obra
barata
e
uma
grande
dispersão
salarial
–
e,
terão,
portanto,
como
definimos
anteriormente,
doença
holandesa
em
sentido
amplo
que
poderão
neutralizar
administrando
a
taxa
de
câmbio
(como
fazem
geralmente
os
países
asiáticos)
e,
assim,
também
alcançar
superávit
em
conta
corrente
ou,
pelo
menos,
equilíbrio.
Ao
que
tudo
indica,
os
países
com
doença
holandesa
estão
aos
poucos
atentando
ao
seu
problema
e
à
solução
necessária
envolvendo
a
taxação
das
commodities
que
originam
a
doença
holandesa.
Por
isso
deixam
de
contabilizar
déficits
em
conta
corrente,
e
passam
a
ter
superávits.
De
fato,
já
é
possível
ver
sinais
de
que
algo
nessa
direção
começa
a
ocorrer.
Por
enquanto,
a
doença
holandesa
está
neutralizada
apenas
parcialmente
em
muitos
países
exportadores
de
commodities.
Como
desconhecem
essa
doença,
adotam
o
imposto
de
exportação
somente
por
razões
fiscais,
mas
em
consequência
também
reduzem
a
sobreapreciação
de
sua
moeda,
já
que
as
empresas
exportadoras
que
pagam
o
imposto
passam
a
necessitar
de
uma
taxa
de
câmbio
mais
depreciada
para
poderem
exportar
com
lucro.
Mas,
mesmo
assim
já
estamos
vendo
nos
países
produtores
de
petróleo
grandes
superávits
em
conta
corrente
e
a
formação
de
grandes
fundos
de
investimento
soberanos.
i
Neste segundo caso estão países de renda média como o Brasil. Este industrializou-se entre
1930 e 1980 através do uso de diversos mecanismos de neutralização da doença holandesa,
geralmente envolvendo taxas múltiplas de câmbio. Entretanto, a partir de 1990 liberou sua
conta comercial e financeira, e a desindustrialização prematura instalou-se no país (Bresser-
Pereira 2009: chap.6).
ii
Conforme assinalou Gabriel Palma (2013: 51-52) nesse mesmo paper, na América Latina, a
partir dos anos 1990, a doença ou síndrome da holandesa “foi basicamente o resultado de um
programa radical (extremadamente rígido e sem qualquer pragmatismo) de liberalização
comercial y financeira, empreendido no contexto de um processo geral de mudança
institucional”.
iii
As "maquiladoras" são originalmente as empresas manufatureiras que foram criadas na
fronteira do México com os Estados Unidos para aproveitar a mão-de-obra barata. O processo
produtivo transferido para o México era muito simples, não exigindo mão-de-obra qualificada
nem contribuindo para o desenvolvimento tecnológico.
iv
Observe-se que não estamos levando em conta um grande número de outros efeitos
negativos decorrentes da especialização na commodity que dá origem à doença holandesa
como concentração de poder político e econômico ou aumento da vulnerabilidade da
economia – assim como questões distributivas entre os vários setores da sociedade.
v
Sachs e Warner (1999), Baland e François (2000, 2001), Torvik (2001) Larsen (2004).