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O fluxo natural dos esgotos é por gravidade, isto é, os esgotos fluem naturalmente dos pontos mais
altos para os pontos mais baixos. As águas residuárias provenientes das habitações,
estabelecimentos comerciais e industriais, instituições e edifícios públicos e hospitais, são conduzidas
pelas redes coletoras aos coletores tronco e interceptores.
Pelo fato do escoamento dos esgotos ser por gravidade, as canalizações necessitam de uma
determinada declividade que possibilite o transporte das águas residuárias até o seu destino final. O
escoamento dos esgotos deverá ocorrer sem problemas que impliquem em obstruções das
tubulações ou demais danos que prejudiquem o perfeito funcionamento de todas as unidades que
compõem o sistema de esgotos sanitários.
O dimensionamento hidráulico das canalizações é feito de forma que o esgoto não chegue a ocupar
todo o espaço interno da tubulação. O líquido atinge apenas um determinado nível, inferior ao
diâmetro interno da tubulação, possibilitanto então, seu escoamento por gravidade, sem exercer
pressões sobre a parede interna do tubo.
Existem basicamente dois tipos de sistemas como soluções para o esgotamento de uma determinada
área:
• sistema individual
• sistema coletivo
Sistemas adotados para atendimento unifamiliar. Consistem no lançamento dos esgotos domésticos
gerados em uma unidade habitacional, usualmente em fossa séptica seguida de dispositivo de
infiltração no solo (sumidouro, irrigação sub-superficial).
Em áreas urbanas, a solução coletiva mais indicada para a coleta dos esgotos pode ter as seguintes
variantes:
• Sistema unitário ou combinado: os esgotos sanitários e as águas de chuva são conduzidos ao seu
destino final, dentro da mesma canalização.
• Sistema separador os esgotos sanitários e as águas de chuva são conduzidos ao seu destino final,
em canalizações separadas.
Neste sistema, as canalizações são construídas para coletar e conduzir as águas residuárias
juntamente com as águas pluviais.
Os sistemas unitários não têm sido utilizados no Brasil, devido aos seguintes inconvenientes:
Algumas cidades que já contavam com um sistema unitário ou combinado, há décadas atrás,
passaram a adotar o sistema que separa as águas residuárias das águas pluviais, procurando
converter pouco a pouco o sistema inicial ao novo sistema.
Outras cidades que ainda não tinham sido beneficiadas por serviços de esgotos, adotaram desde o
início o sistema separador absoluto, no qual procura-se evitar a introdução das águas pluviais nas
canalizações sanitárias.
• o afastamento das águas pluviais é facilitado, pois pode-se ter diversos lançamentos ao longo do
curso d’água, sem necessidade de seu transporte a longas distâncias;
• possibilidade do emprego de diversos materiais para as tubulações de esgotos, tais como tubos
cerâmicos, de concreto, PVC ou, em casos
especiais, ferro fundido;
• possível planejamento de execução das obras por partes, considerando a importância para a
comunidade e possibilidades de investimentos;
• não ocorrência de extravasão dos esgotos nos períodos de chuva intensa, reduzindo-se a
possibilidade da poluição dos corpos d’água.
As seguintes considerações são também importantes nos sistemas de esgotamento:
• Ligações clandestinas
• Plano Diretor
Uma localidade, ao estudar seu plano urbanística, deve necessariamente levar em consíderação as
possíveis soluções a serem dadas aos seus esgotos. A elaboração de um Plano Diretor viabilizará o
atendimento planejado, considerando-se as prioridades da comunidade compatibilizadas com os
recursos disponíveis da administração pública. A reserva ou desapropriação de áreas ou faixas para
as unidades do sistema de esgotamento, previstos no planejamento proposto, garantirá a
implantação adequada de todas as unidades componentes do sistema de esgotos sanitários.
• Sistema convencional
• Sistema condominial
3. Sistema convencional
3.1 Concepção
As figuras 8 e 9 apresentam o exemplo de uma zona urbana que ocupa uma área com dois rios (ou
córregos), os quais convergem a um rio principal, definindo duas bacias hidrográficas. As duas bacias
sanitárias (esgotos) coincidem aproximadamente com as bacias hidrográficas (águas de chuva). As
figuras apresentam soluções diferentes para a mesma área.
Para a coleta, condução e destinação adequada dos esgotos sanitários gerados na área em estudo,
deverão ser estudadas alternativas diferentes. As soluções de tratamento dos esgotos coletados, seja
em estações localizadas em pontos diferentes ou mesmo uma única estação de tratamento para
atendimento a toda a população, deverão ser concepções cuja solução mais adequada deverá ser
selecionada após criterioso estudo técnico-econômico de alternativas possíveis para as diversas
partes do sistema.
Figura 8. Bacias sanitárias distintas com estações de tratamento de esgotos separados
A Figura 10 apresenta uma ampliação de parte do sistema convencional que atende uma área
urbana e ilustra as unidades, órgãos e acessórios que compõem o mesmo.
Ramal predial - Os ramais prediais são os ramais domiciliares, que transportam os esgotos para a
rede pública de coleta.
Interceptor - Os interceptores correm nos fundos de vale, margeando cursos d’água ou canais. Os
interceptores são responsáveis pelo transporte dos esgotos gerados na sua sub-bacia, evitando que
os mesmos sejam lançados nos corpos d’água. Em função das maiores vazões transportadas, os
diâmetros são usualmente maiores que os dos coletores-tronco.
Emissário - Os emissários são similares aos interceptores, com a diferença de que não recebem
contribuições ao longo do percurso. A sua função é transportar os esgotos até a estação de
tratamento de esgotos.
Elevatória - Quando as profundidades das tubulações tornam-se demasiado elevadas, quer devido à
baixa declividade do terreno, quer devido à necessidade de se transpor uma elevação, torna-se
necessário bombear os esgotos para um nível mais elevado. A partir desse ponto, os esgotos podem
voltar a fluir por gravidade. As unidades que fazem o bombeamento são denominadas elevatórias, e
as tubulações que transportam o esgoto bombeado são denominadas linhas de recalque.
Disposição final - Após o tratamento, os esgotos podem ser lançados ao corpo d’água receptor ou,
eventualmente, aplicados no solo. Em ambos os casos, há que se levar em conta os poluentes
eventualmente ainda presentes nos esgotos tratados, especialmente os organismos patogênicos e
metais pesados. As tubulações que transportam estes esgotos são também denominadas de
emissários.
Figura 10. Partes constitutivas de um sistema de esgotamento convenconal
• Diâmetro mínimo: depende das condições locais e do consumo de água dos habitantes.
Para os coletores prediais, que são as tubulações que recebem todos os esgotos sanitários
gerados em uma edificação, conduzindo-os ao coletor da via pública, o diâmetro mínimo
adotado é igual a 100 mm. Para os coletores públicos, o diâmetro mínimo deverá ser avaliado
pelo projetista, após diagnóstico das condições da região que se deseja atender. O diâmetro
mínimo é também igual a 100 mm, desde que as vazões de esgotos sejam compatíveis com
este diâmetro. As condições da região e os valores de consumo de água de cada habitante
serão elementos que conduzirão à definição do projeto.
• Os coletores devem ser assentados, de preferência, do lado da rua no qual ficam os terrenos mais
baixos.
• A existência de estrutura ou canalizações de serviços públicos, tais como águas pluviais, redes de
distribuição de água, adutoras, cabos elétricos, telefônicos, etc., poderá, entretanto, determinar o
deslocamento dos coletores de esgotos para posições mais convenientes.
•Para vias públicas com largura superior a 18 m ou 20 m, deverão ser executados dois coletores (um
de cada lado), de forma a viabilizar o atendimento dos domicílios de ambos os lados com
profundidades convenientes.
• vias sanitárias
• fundos de vale tratados
3.5.1 Vias sanitárias
Como os esgotos fluem por gravidade no sistema de coleta, os interceptores se situam nos pontos
mais baixos, ou seja, nos fundos de vale, correndo paralelos aos córregos de cada bacia. Sua
construção tem sido tradicional- mente feita em conjunto com as obras de canalização dos cursos
d’água e com a implantação de vias sanitárias.
• Aplicação
Áreas já urbanizadas, cuja reserva de faixas marginais e de eventual implantação de áreas verdes ao
longo do córrego é de difícil concretização
• Vantagens
A implantação de vias sanitárias não deve ser encarada como a única forma de se poder executar
interceptores de esgotos. Existem soluções ainda mais econômicas para implantação dos mesmos,
que não exigem que se executem obras em concreto ou mesmo abertura de vias públicas ao longo
dos corpos d’água naturais, proporcionando as vantagens:
Estas soluções somente poderão ser adotadas em áreas preservadas ou ainda não ocupadas por
grande número de edificações, cujas desapropriações são frequentemente caras e difíceis. A
preservação das margens do curso d’água com áreas verdes ou matas ciliares é uma forma bastante
atrativa de tratamento de fundo de vale.
Figura 13. Localização de interceptores em fundos de vale tratados
O sistema condominial de esgotos tem sido apresentado como uma alternativa a mais no elenco de
opções disponíveis, ao alcance do projetista, para que o mesmo faça a escolha quando do
desenvolvimento do projeto.
No entanto, o sistema condominial é muito mais do que isto. O sistema condominial de esgotos é, na
realidade, uma nova forma de ver a relação entre a população e o poder público, tendo como
características uma importante cessão de poder e a ampliação da participação popular. O sistema
condominial representa, portanto, um novo enfoque na prestação de serviços públicos, que vem
alterar a forma tradicional de atendimento à comunidade. Devido a essa concepção inovadora,
descreve-se neste manual não apenas o arranjo físico do sistema condominial, mas também os
aspectos conceituais que lhe dão suporte.
Os pontos importantes para a compreensão do sistema condominial são: (a) fundamentos, (b)
diretrizes, (c) forma de agir e (d) modelo físico.
3.6.1 Fundamentos
3.6.2. Diretrizes
As diretrizes do sistema condominial funcionam como pano de fundo orientador de todas as ações,
inclusive da busca de soluções técnicas para o equacionamento da melhor forma de atender a uma
dada comunidade. Elas se apoiam, no mínimo, nos seis pontos listados a seguir:
• Mudança nos padrões. Os padrões técnicos e valores vigentes no Brasil estão muitas vezes
associados a sofisticações ou a um elevado nível de segurança, o que traz, em decorrência, maiores
custos. É portanto indispensável que uma nova cultura, voltada para o efetivo atendimento do
conjunto da população brasileira encontre campo para se desenvolver, e isto não poderá ser
alcançado sem que haja uma significativa mudança nos padrões. Deve ficar claro que não se trata de
um saneamento de segunda categoria para uma população de segunda classe, mas sim de encarar
de frente a realidade nacional, e assumir que não será possível atender a todos, mantendo os atuais
padrões.
• Adequação à realidade. A ampla adequação à realidade local é uma das diretrizes básicas da
concepção do programa, devendo orientar todas as fases do processo.
• Municipalização. A questão central para o sistema condominial não é passar o serviço para o
condomínio, mas sim, pelo condomínio. Desta forma, torna-se uma discussão secundária a de quem
vai prestar o serviço, uma vez que é garantido ao município sua efetiva participação em todas as
fases do processo. É importante que a análise destes temas seja objeto de debate no âmbito
municipal, deslocando-se a execução dos trabalhos para o campo da eficiência, menores custos e
melhor prestação dos serviços, sem uma definição a priori do melhor agente.
A forma de agir do sistema condominial é baseadano pacto comunitário, que deve regular o acordo
entre as partes, prever as divisões de responsabilidade, e definir os agentes principais do processo.
Através desta sistemática é possível se ter a situação de que um sistema concebido, implantado e
operado comunitariamente será sempre mais econômico. Desta torma, o poder público, dispondo de
uma solução tecnicamente ótima e mais barata, poderá definir o limite de participação do recurso
público no sistema, cabendo à comunidade ajustar-se na busca de um acordo interno que viabilize
suas conveniências, O resultado final será sempre um sistema mais harmônico que o convencional,
com um investimento inicial mais barato, e com participação de menor aporte de recursos por parte
do poder público.
Este acordo é materializado pela criação de condomínios, que passam a ser tratados como a menor
unidade de planejamento e preocupação do órgão encarregado da execução e manutenção do
sistema. Desta forma, as soluções que antes eram marcadas pelo atendimento individualizado,
tomam a forma de soluções coletivas, passando a ser equacionadas quadra a quadra. De forma
figurativa, o sistema funciona como se as quadras, na horizontal, pudessem ser entendidas como um
prédio deitado.
Esta forma de agir é continuamente monitorada pelos resultados de campo. Os resultados finais
obtidos serão sempre particulares e incorporarão as especificidades da comunidade onde se está
trabalhando. Não existe, portanto, uma solução, mas um método de resolução de problemas.
As partes integrantes do sistema condominial podem ser divididas em (a) ramal intramuros, (b) rede
básica e (c) tratamento e disposição final.
• Ramal intramuros. Entende-se por ramal intramuros a parte do sistema que, por acordo comunitário,
será executada no interior de uma quadra, ficando os moradores que a ele contribuem responsáveis,
tanto pela sua execução, quanto pela sua correta operação e manutenção.
• Rede básica. Por rede básica compreende-se a parcela do sistema indispensável para a reunião de
vários condomínios e, portanto, de responsabilidade do agente promotor, o qual pode ser uma
prefeitura, um órgão municipal, uma companhia estadual de saneamento, ou outra entidade. Trata-se
da menor extensão de rede que pode ser imputada como necessária ao equacionamento sanitário da
comunidade, e nesta situação assume caráter coletivo. Esta é a razão pela qual se diz que qualquer
extensão superior à rede básica não pode ser arcada pela coletividade, devendo seus custos ser
suportados por quem demandou o acréscimo. Percebe-se assim que o sistema condominial não é
uma imposição de uma solução única, arbitrária, mas a busca do menor investimento público, aqui
compreendido como coletivo, O que se estabelece, por uma questão de justiça, é que os custos
adicionais, advindos de soluções mais onerosas, sejam suportados pelos beneficiários.
As estações elevatórias de esgotos sanitários são instalações algumas vezes obrigatórias nos
sistemas de esgotamento de uma localidade. Os esgotos são bombeados para que adquiram cota
elevada, possibilitando seu lançamento em estações de tratamento ou corpos d’água, ou para
reiniciar novo trecho de escoamento por gravidade, quando se tem elevadas profundidades dos
coletores.
As elevatórias devem ser utilizadas, portanto, nos trechos em que, por razões técnicas e economicas,
o esgotamento por gravidade não se mostrar possível ou recomendável. Tais instalações, além de
apresentarem um custo inicial elevado, exigem despesas de operação e, sobretudo, manutenção
permanente e cuidadosa.
Figura 18. Estações elevatórias