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Público • Sexta-feira 1 Outubro 2010 • 43

Este Governo não tem autoridade, nem competência para cortar despesas, pelo que é de esperar o pior

O terceiro pacote já está. O quarto vem a caminho

S
PEDRO CUNHA
e tivesse de escolher apenas duas frases E é assim, porque este Governo nunca seria capaz
que sintetizassem o ponto de desgoverno de evitar a tentação de subir os impostos (impostos
a que chegámos, optaria por uma de José mais altos criam receitas a que o Estado se habitua,
Sócrates – “Estas medidas só são tomadas mesmo quando a aflição passa…), porque é incapaz
quando um político entende em consciên- de pensar em modelos alternativos de organiza-
cia que não há alternativa: foi essa a conclusão a que ção da máquina administrativa e de Estado social.
cheguei agora, não em Maio” – e outra de Almeida É por isso que é uma falácia afirmar que não há
José Santos – “O povo tem que sofrer as crises como o alternativa à subida do IVA, por exemplo. Marvão
Manuel Governo as sofre”. Elas condensam o autismo, a Pereira, no texto que já citámos, mostra que existe:
Fernandes arrogância, a incompetência e a prosápia dos que se cortando apenas 10 por cento na aquisição de bens
tomam por senhores do país – e traduzem também e serviços do Estado e nas despesas de 50 institutos
Extremo o nosso desamparo. não relacionados com a saúde e com a educação
ocidental Pouco haverá a dizer sobre o insulto – que outro obter-se-iam mais do que os 900 milhões de recei-
nome lhe posso dar? – de Almeida Santos. Já o desa- tas extra que trará o aumento do IVA. E são apenas
bafo de Sócrates tem mais que se lhe diga. Primeiro, duas ideias, que ficam ainda longe da sempre adiada
pelo que revela sobre a forma como entende o seu reestruturação do Estado.

É
papel como político. Depois, por mostrar até que
ponto esteve, se é que ainda está, desligado da rea- bom não ter ilusões: um governo que tem
lidade, vivendo num mundo cor-de-rosa que só ele na pasta das Obras Públicas um fanático
via e que, por isso, não exigia medidas de correcção do TGV, que tem no Ministério da Segu-
draconianas. Por fim, por deixar claro que ele não rança Social uma funcionária sindical, que
é, de forma alguma, a pessoa indicada para levar tem no Ministério da Cultura uma criatura
por diante as políticas de rigor. que lembra um OVNI, que entregou a pasta da Edu-
Ao contrário do que diz, em Maio, como em Mar- cação a uma senhora que é apenas bem-intencio-
ço, como em Setembro do ano passado, como bem nada e a da Saúde a uma profissional que ninguém
antes disso, era mais do que evidente que o rumo respeita no sector, e por aí adiante, só poderá pegar
seguido era o errado. Não faltou quem, há mais de nas medidas anunciadas para conspirar contra elas,
um ano, alertasse para o carácter explosivo da dívida de preferência de braço dado com as corporações
e para a necessidade de a tratar prioritariamente respectivas. Um ministro das Finanças fraco como
– mas Sócrates sempre desvalorizou. Também não só Teixeira dos Santos sabe ser fraco e um primeiro-
tem faltado quem venha a alertar, há anos, para a ministro que estará a governar a contragosto nunca
progressão insustentável dos gastos do Estado, in- porão este trupe na ordem.
cluindo em áreas como a saúde, a educação e a se- Infelizmente – desgraçadamente – o que a expe-
gurança social – mas Sócrates sempre preferiu falar riência recente nos tem mostrado é que os falhan-
de investir. Inúmeras foram as vozes que alertaram ços no controlo das contas públicas se acabam por
para os erros de sucessivos orçamentos do Estado pagar, com juros, alguns meses mais tarde. Pelo
que, mesmo conseguindo fazer diminuir o défice, que, mesmo sendo duras as medidas anunciadas,
o foram fazendo graças ao aumento das receitas e nada garante que sejam as últimas. Ao PECIII pode
não à diminuição das despesas. suceder um PECIV, até porque nada, nas medidas

A
anunciadas, vai no sentido de algumas da medidas
o longo dos últimos cinco anos Sócrates que o recente relatório da OCDE identificava como
pôde aprovar como quis os seus orça- necessárias para ultrapassar certos constrangimen-
mentos do Estado, primeiro com maioria tos ao desenvolvimento (refiro-me às medidas que
absoluta, depois graças à abstenção de Sócrates e os seus terão “tudo para encobrir a verdadeira Ángel Gurría omitiu na sua conferência de imprensa
um PSD com a direcção (de Ferreira Lei- situação das contas públicas por- com Teixeira dos Santos).
te) de saída. Ninguém lhe impôs condições, fez o que de beber até à última gota tuguesas”. Este economista fez, Mesmo assim, face ao irreal calendário eleito-
quis. Por isso é sua, é do seu ministro das Finanças e de resto, questão de não isentar ral que temos pela frente, não resta senão espe-
é do PS a responsabilidade por estarmos no estado
o veneno que destilaram. Teixeira dos Santos de responsa- rar que Sócrates e os seus (com Almeida Santos
em que estamos. Primeiro, pelo que não fizeram de Depois será necessário bilidades. Afinal foi ele que reviu à frente) bebam até à última gota o veneno que
reestruturação e redução da máquina do Estado, três vezes o défice de 2009, como destilaram. Depois, mal possa a democracia vol-
pois deixaram o PRACE a meio e regressaram mes- chamar os portugueses é ele que já vai no terceiro pacote tar a funcionar, deverão ser removidos por ra-
mo ao alegre festim da multiplicação de institutos a julgar a sua de medidas para 2010. É ele que zões patrióticas. E também higiénicas. Jornalista
e empresas públicas. Depois, pela insistente recusa tem desorçamentado, é ele que tem (www.twitter.com/jmf1957)
em enfrentarem as debilidades nacionais, pela es- (des)governação inventado contabilidade criativa, é
tratégia errada de promoção do desenvolvimento ele que agora recorre ao fundo de P.S.1 – Muita gente tem criticado o PSD por este
económico com base no compadrio e nas redes de
nas urnas. Até por uma pensões da PT (para pagar os sub- dizer que não viabilizaria um orçamento que con-
“amigos”, pela criação de ilusões estatísticas e por questão de higiene marinos, disse, como se quando fez sagrasse um aumento de impostos sem, ao mesmo
uma estratégia política autoritária que começou o Orçamento não tivesse a obriga- tempo, se esforçar sobretudo por reduzir a des-
sempre por hostilizar, de forma por vezes irracio- ção de saber que ia ter de pagar os submarinos!) e pesa. Devo dizer que não só acho essa exigência o
nal, os grupos de interesse, e acabou por regra em é ele que ainda esta semana foi desautorizado pelas mínimo dos mínimos para um partido da oposição,
recuos em toda a linha. Por fim por uma gestão cri- empresas públicas que não cumprem o tecto do como compatível com a abstenção num orçamento
minosa do calendário eleitoral que se traduziu em endividamento. Como é ele que anuncia a suspen- medíocre. O que não compreendo, e condeno, é
medidas populistas que afundaram o país, desde o são dos investimentos até ao fim do ano, mas não a a surrealista iniciativa de um grupo de deputados
aumento de 2,9 por cento aos funcionários públicos suspensão do TGV também em 2011. do PSD (sendo um deles José Luís Arnaut) de pro-
à multiplicação de prestações sociais insustentáveis As medidas anunciadas não traduzem apenas in- por a criação de um “Centro para a Promoção e
e impossíveis de fiscalizar, passando por programas competência e irresponsabilidade: são ao mesmo Valorização dos Bordados de Tibaldinho” que terá
de investimento sumptuários e pelo total laxismo tempo um sinal de que esta maioria, este ministro como receitas “as dotações para o efeito previstas
no controlo orçamental. das Finanças e este primeiro-ministro nunca con- no Orçamento do Estado”. É isto que é o centrão
De facto, como ontem notou o economista Álvaro seguirão debelar os problemas que o país já tinha e clientelar no seu pior.
Marvão Pereira, o conjunto de medidas anunciado os problemas que lhe criaram. É assim, porque não
quarta-feira “deve-se exclusiva e totalmente à ina- há, no conjunto de medidas anunciado, uma réstia P.S.2 – É altura dos que andaram meses, anos, no
creditável irresponsabilidade e à incompetência de uma ideia transformadora; apenas há a aflição PSD e fora dele, a tratar como “velha” e “louca”
atroz deste primeiro-ministro e deste ministro das de quem já queimou todas as pontes e agora grita Manuela Ferreira Leite reconhecerem que ela, ao
Finanças” que, por razões eleitorais, fizeram exacta- “salve-se quem puder”. Infelizmente milhões de menos, sabia fazer contas. E que “falar verdade” era
mente o contrário do que se fez nos restantes países portugueses vão sofrer por causa desta aflição e mesmo importante. Pena foi que tantos preferissem
europeus: adiaram os cortes na despesa e fizeram das medidas ditas “inevitáveis”. embarcar numa ilusão criminosa.

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