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ariasen sy ao) By & CIDADE Te ete a CRO ICs ty Cee MCC rt Coordenado por Catherine Bidou-Zachariasen, com a colaboragao de Daniel Hiernaux-Nicolas e Héleéne Riviére d’ Arc DE VOLTA A CIDADE Dos processos de gentrificagao as politicas de “revitalizagao” dos centros urbanos Tradugao Helena Menna Barreto Silva This one QBQR-P25-7YGA Retours en ville: des processus de “gentrification” urbaine aux politiques de “revitalisation” des centres Sous la direction de Catherine Bidou-Zachariasen avec Daniel Hiernaux-Nicolas et Héléne Riviere d’Are © Editions Descartes & Cia, 2003 Cet ouvrage, publié dans le cadre du programme d'aide a 1a publication, bénéficie du soutien du Ministére frangais des Affaires Etrangeres. Este livro, publicado no ambito do programa de participagdo 4 publicagao, contou com 0 apoio do Ministério francés das Relagdes Exteriores. Centro de Documentagio e Informagio Polis Instituto de Estudos, Formacio e Assessoria em Politicas Sociais B484 Bidou-Zachariasen, Catherine, Coord. De volta a cidade: dos processos de gentrificagao As politicas de “revitalizagio” dos centros urbanos. Coordenado por Catherine Bidou-Zachariasen com a colaboragao de Daniel Hiernaux-Nicolas e Héléne Rivére d’Arc — So Paulo : Annablume, 2006. 294 p., 14 x 21 em ISBN 85-7419-622-3 1. Urbanismo. 2. Politica Urbana. 3. Cidades. 4. Revitalizagio de Centros Urbanos. 5. Gentrificagao. 6. Experiéncias de Gentrificagao. 1. Titulo. I. Hiernaux-Nicolas, Daniel. III D'Arc, Héléne Riviere. cpu 7114 cDD_ 301.6 DE VOLTA A CIDADE Coordenagdo editorial Joaquim Antonio Pereira Diagramacao Ray Lopes ‘Capa Carlos Clémen I" edigdo: junho de 2006 I* reimpressio: abril de 2007 CONSELHO EDITORIAL ANNABLUME editora . comunicagio Eduardo Peiiuela Caftizal Norval Baitello Junior Rua Padre Carvalho, 275 . Pinheiros Maria Odila Leite da Silva Dias 0427-100 . Sdo Paulo . SP . Brasil Celia Maria Marinho de Azevedo Tel. e Fax. (11) 3812-6764 ~ Gustavo Bernardo Krause Televendas 3031-9727 Maria de Lourdes Sekeff Cecilia de Almeida Salles www.annablume.com.br Pedro Jacobi Sumario Apresentagao .... Introdugao — Catherine Bidou-Zachariasen.... A gentrificagdo generalizada: de uma anomalia local a “regeneracao” urbana como estratégia urbana global =Neil Smith SD A cidade renasce! Formas, politicas e impactos da revitalizagao resi: ic Bi — Mathieu van Criekingen A gentrificagao do bairro Saint-Geoi em Ly a convivéncia de mobilidades diferenciadas =Sean-Yves Authied ....ccsssccscccssssssssccccssssnscscssssssssscsesssssnsssee 121 A Ciutat Vella de Barcelona: renovagao ou gentrificagao Nuria Chavet ossssscssessssssecsessssnsescessssssnssccesssssssssesssssnseee 145 A reapropriagao do patriménio simbélico do centro de Napoles (Rejinvestir nos espacos centrais das cidades mexicanas = Patrice Melé........ voces esses 197 A reapropriacgao de bairros da Cidade do México pelas classes médias: em diregao a uma gentrificagao? ~ Daniel Hi Ni 229 Requalificar 0 século XX: projeto para o centro de Sao Paulo ~— Héléne Riviére d’Are o. 265 Apresentagao Helena Menna Barreto Silva* A exemplo de cidades americanas e européias, nos ultimos anos vem aumentando o nimero de cidades brasileiras que pro- poem intervir nos seus centros antigos para recuperar qualidades ou fungdes que estariam sendo perdidas. No principio eram pe- quenas interveng6es voltadas principalmente para a revitalizagao do patriménio, mas hoje as propostas sao mais complexas e arti- culam projetos de transformagées das fungées, do uso e do valor do solo. Varios pesquisadores, na Europa, Estados Unidos e América Latina, estio preocupados com os efeitos que as intervengdes de requalificagao podem causar nas areas centrais, pois existem mui- tos casos em que as familias moradoras mais pobres foram subs- * Urbanista, doutora pela FAU-USP, Helena Menna Barreto Silva tem se dedicado nos tiltimos anos a problematica dos centros urbanos, como pesquisadora ¢ consultora. Foi coordenadora do programa Morar no Centro, da prefeitura de Sio Paulo, entre 2001-2004. Atualmente coordena um projeto para desenvolver um “Observatorio do centro de Sdo Paulo”, junto ao Labhab da FAU-USP. De volta @ cidade tituidas por outras de classe média superior, fendémeno que tem sido chamado de gentrificagao. Também no Brasil essa preocu- pagao tem sido levantada no meio académico e pelos setores po- pulares ligados a projetos habitacionais ou sociais nas areas centrais. Alguns autores consideram que a gentrificagdo é inevitavel nas grandes cidades cujos centros antigos permaneceram ‘esque- cidos’ pelas classes médias altas durante algumas décadas e, por isso mesmo, permitiram e estimularam 0 desenvolvimento de ati- vidades populares e mesmo a moradia de familias de menor ren- da. Esse fenémeno tenderia a ocorrer por influéncia de dois processos, que podem ser combinados ou nao. Pelo lado da demanda, as estratégias das classes médias de (re)conquista de territérios e de volta a cidade depois de décadas de encantamento pelos conjuntos e loteamentos fechados, esti- muladas pelo setor imobilidrio. Mas nao seria a classe média tra- dicional, mas sim outro tipo: ou os yuppies; ou familias jovens, com maior escolaridade. Pelo lado da oferta e das decisdes dos produtores de espagos ~as estratégias dos governantes, em acordo com 0 setor privado, para tornar as cidades competitivas, dotando os centros de carac- teristicas que o tornariam atrativo para aquelas classes, seja para moradia ou para consumo e lazer. Neste livro, organizado por Catherine Bidou-Zachariasen e publicado em 2003 na Franga, se discutem os efeitos dos proces- sos de requalificagdo em centros antigos e desvalorizados de al- gumas grandes cidades do mundo. A autora faz uma introdugdo sobre o estado atual do debate e explica que fez um desafio para varios pesquisadores no sentido de confirmar se os processos de outras cidades correspondiam 4s andlises tradicionais, bastante marcadas sobre estudos de cidades anglo-saxénicas. O préprio termo “gentrification” foi criado para explicar 0 repovoamento Apresentagao (nesta altura expontaneo) de bairros desvalorizados de Londres por familias de renda média, nos inicio dos anos sessenta. Uma primeira questdo foi colocada para os diferentes autores: os pro- cessos de gentrificagao que estdo entre os mais marcantes dos centros de cidades dos paises mais desenvolvidos, estéo também presentes em outros contextos e segundo que variantes? Que ou- tros tipos de recomposig6es urbanas os acompanham? O pesquisador americano Neil Smith é 0 autor do primeiro artigo do livro, sobre Nova Iorque, e quase todos os outros autores fazem referéncia a seus trabalhos anteriores, seja para questionar suas afirmagGes ou para situar os estagios dos processos nas di- ferentes cidades. Smith nos conta que o processo de Nova lorque comega de forma pontual e esporadica, por artistas que instalam seus ateliés e passam a viver em bairros como Greenwich Village e Soho des- de os anos cingiienta e setenta (primeira onda).E posteriormente assumido pelos promotores imobilidrios, que obtém enormes lu- cros (segunda onda). E, finalmente, se torna uma estratégia da cidade, atingindo todos os antigos bairros populares (terceira onda). A gentrificagao deixa de ser uma anomalia local do mercado imo- bilidrio de uma grande cidade para se desenvolver como um com- ponente residencial especifico de uma ampla reformulagao econémica, social e politica do espago urbano. Essa renovagao representa a gentrificagéo da cidade como uma conquista alta- mente integrada do espago urbano, na qual o componente residencial nao pode ser dissociado das transformagées das paisagens do emprego, do lazer e do consumo. Segundo Smith, a “regeneragdo urbana” hoje representa uma estratégia central na competig4o global entre as diferentes aglo- meragées urbanas. O novo papel representado pela globalizagao do capital é também decisivo na sua generalizagao, incluindo a presenga das mesmas empresas internacionais nos grandes pro- De volta a cidade jetos urbanos. O desenvolvimento imobiliario urbano — a gentrificagéo em sentido amplo—tornou-se agora um motor cen- tral da expansdo econémica da cidade, um setor central da eco- nomia urbana. Os projetos imobiliarios se tornam a pega central da economia produtiva da cidade, um fim em si, justificado pela criagdo de empregos, pela geragdo de impostos, pelo desenvol- vimento do turismo e pela construgao de grandes complexos culturais. De um modo inimagindvel nos anos sessenta, a cons- trugdo de novos complexos de gentrificagdo nas dreas centrais, ao redor do mundo, tornou-se cada vez mais uma inatacavel es- tratégia de acumulagao de capital para economias urbanas em competigao. Examinada através desse quadro geral de uma estratégia ur- bana global, a generalizagao da gentrificagdo posterior aos anos noventa aparece para Neil Smith como associada ao abandono das politicas urbanas progressistas do século XX (Estado provi- déncia) e a vit6ria das politicas neo-liberais. Ele explica que a gentrificagado passa a ser apresentada, por alguns planejadores e urbanistas como “natural”. Mas sua critica se dirige também a um certo eufemismo presente nos discursos e planos a partir dos anos noventa, que esconderia o carater gentrificador dos projetos de “regeneragado” urbana. Por outro lado, Smith enfoca a questio da resisténcia contra a gentrificagao. O alto grau de repressao a que foram expostos os movimentos anti-gentrificagdo nos anos oiten- ta e noventa seria uma prova do carater central dos programas imobiliarios na nova economia urbana. Liga também o processo de gentrificagao ao crescimento da repressdo a grupos que atuam nos centros, incluindo o programa de “tolerancia zero”, fartamen- te exportado. Para Catherine Bidou, o livro mostra que, no contexto europeu, algumas cidades francesas, espanholas, belgas, italianas, conhe- ceram ou conhecem transformagées de seus centros que questio- 10 Apresentagado nam 0 debate sobre a gentrificagao tal como é atualmente coloca- do. Também na América Latina, a problematica é bastante pre- sente, se bem que dificilmente aplicavel ao pé da letra. Uma das cidades analisadas no livro é Sio Paulo, em estudo feito por Héléne Riviére d’ Arc em 2002, o qual traz interessantes reflexGes sobre as iniciativas da prefeitura do PT e as da Associ- agdo Viva o Centro, assim como sobre os movimentos sociais atuantes na regiao central. Ela coloca em diivida o interesse das classes médias paulistanas por voltar ao centro, mas sobretudo pondera que nao ha estudos sobre as aspiragdes desses setores € tampouco anilises sobre quais séo os segmentos que estao aban- donando 0 centro. Por outro lado, o quadro de pobreza do centro e, ao mesmo tempo, a forga dos movimentos sociais e das ativida- des que hoje ocorrem, nao Ihe parecem deixar lugar para uma perspectiva de um espago gentrificado. Deixa como questdo se isso representa “uma chance que pode permitir a Sio Paulo evitar os excessos da competi¢ao pela reapropriagao estratégica do es- paco urbano, tal como a vé Neil Smith”. Comentando sobre os dilemas da esquerda diante das opgdes de planejamento urbano, Héléne Riviére d’Arc chama atengao para as semelhangas entre as recomendagées do programa do comego da administragdo Marta Suplicy (“Reconstruir o Centro”) e as da Cidade do México, ambos propondo a diversidade social (por meio da atragdo de classes médias), mas incluindo medidas para garantir a inclusao social'. De fato, 0 centro da Cidade do México apresenta caracteristicas bastante parecidas com as de Sao Paulo (forte presenga de atividades, poluigdo, problemas so- 1. Essas consideragdes so anteriores a definigdo do programa “Agio Centro”, parcialmente financiado pelo BID, e 4 mudanga politica na administragdo, em 2005, que trouxe uma alteragdo radical no discurso ¢ nas propostas para a area central, de forte acento higienista e contrario a continudade ao programa de morada social 11 De volta a cidade ciais, ambulantes, inseguranga, ruas de comércio especializado, concentragao de empregos), mas com a significativa diferenga de ser a capital federal e de ter um patriménio muito mais importan- te. Nesse espago, os edificios coloniais em bom estado convivem com as “vecindades”, ou seja, mansées coloniais transformadas em moradias coletivas baratas, muitas vezes encortigadas. O comércio ocupa geralmente os térreos dos iméveis, dificultando a passagem aos andares superiores, abandonados ou utilizados como depésitos. No entanto, as diferengas no comportamento da socie- dade e do mercado imobiliario séo enormes, e poderemos ver que © que esta ocorrendo na Cidade do México nao é o mesmo que em Sao Paulo. Se as diferengas entre as cidades latinoamericanas sao enor- mes, quando consideramos seus processos de formagao, de ex- pansao, insergao na economia mundial, distribuigao da renda, estratégias de sobrevivéncia dos pobres, 0 que dizer do que nos diferencia do conjunto das cidades européias estudadas, sem falar de Nova Iorque! Poderiamos entdo nos perguntar: em que as experiéncias de cidades tao diferentes poderiam interessar aos brasileiros? Me parece que ha algumas semelhangas no que se refere ao proces- sos dos centros, mas, principalmente, muitos aspectos comuns nas propostas e discursos para sua transformagao. E isto traz aspec- tos a refletir para (re)construir nossos projetos ou nossas criticas aos programas de reabilitagao que hoje aparecem na ordem do dia em varias cidades. Guardadas as grandes diferengas entre as cidades brasileiras —devidas ao quadro fisico-ambiental, ao nivel de desenvolvimento econdmico e ao funcionamento especifico do mercado imobiliario — 0s centros antigos (tradicionais) eram o local dos poderes (Exe- cutivo, Legislativo, Judiciario) das diferentes esferas, do comércio e do lazer mais importante, e moradia mesmo das familias abasta- 12 Apresentagao das, sendo por isso considerado “centro da cidade” e “de todos”. Eles foram perdendo moradores e atividades, sobretudo as mais modernas ou aquelas ligadas 4 proximidade com as elites; em al- guns casos, a propria administracdo se deslocou, reforgando ou- tras centralidades. Paralelamente, os centros antigos foram recebendo outras pessoas e atividades, que ocuparam 0 espago deixado e se desenvolveram como zonas de comércio popular ou especializado, freqiientemente de importancia regional. Sao chei- os de vitalidade e concentram oportunidades, mas refletem o des- cuido do poder publico com a qualidade dos espagos, os quais também permitem a visibilidade da pobreza e as diversas formas de sobrevivéncia buscadas pelos pobres. Desde ha alguns anos, as areas centrais comegam a ser vistas pelo governo federal e pelos governos municipais como locais de oportunidades para geragao de atividades e receitas, assim como produgao habitacional. O discurso atual da reabilitagao mistura motivagGes e propostas diversas, que incluem a requalificagao (in- cluindo a recuperagao do patrim6nio, atragdo de novos tipos de ati- vidades e moradores, melhoria ambiental, algumas vezes a “limpeza social”), 0 repovoamento (inclusive como contraponto 4 expansao urbana) e, mais recentemente, os projetos integrados que aprovei- tam grandes terrenos publicos junto as orlas maritimas ou fluviais. Em muitas cidades, a permanéncia e promogao da moradia social esta prevista, mas faltam instrumentos urbanisticos e linhas de fi- nanciamento que garantam o atendimento na escala necessaria. No Brasil, comegamos a falar e a implementar a reabilitagao de centros mais tarde do que em outros paises. E isso nos da a vantagem de poder aprender com as experiéncias anteriores. Embora a preocupagao maior seja com os discursos claramen- te gentrificadores, no sentido que lhes da Neil Smith, considero importante nos preocuparmos também com as armadilhas e os efeitos perversos de politicas baseadas em falsos pressupostos, 13 De volta a cidade ou dos objetivos sociais que se inviabilizam a partir do éxito dos econémicos, ou ainda a transposigao de modelos fora de seus con- textos e sem critica. Nesse sentido, é interessante que o leitor aproveite os diferentes textos para refletir sobre aspectos direta- mente ligados aos programas de areas centrais que so propostos ou desenvolvidos atualmente no Brasil. Elenco em seguida alguns conceitos que podem ser titeis nesta relexio. Diversidade social — esse conceito aparece ligado ao objeti- vo de que o centro nio permanega como territério exclusivamen- te de pobres, seja como simbolo, moradia ou lugar de consumo. Por outro lado, expressa a rejeigéo da proposta de gentrificagao, que excluiria os pobres. Neil Smith nos provoca, perguntando por que nado se prope também a ida de pobres para os bairros onde habitam apenas os ricos. A diversidade garantiria também os re- cursos privados para recuperagao e manutengiio de edificios e espacgos coletivos. Mas em muitas cidades, como Sao Paulo, Ci- dade do México e outras, nao ha apenas pobres nos centros e poderiamos falar de uma classe media baixa, o que talvez ja signi- fique uma diversidade interessante a manter. De qualquer modo, se aceitamos que a diversidade (incluindo as classes médias altas) é desejavel, a experiéncia nos mostra que so necessarios instru- mentos para garanti-la. Quando se traz pessoas que podem pagar mais (pela moradia, pelo cinema, pelo café...), isso vai provocar 0 aumento do prego dos iméveis, criando uma situagdo em que a competigdo é desigual para moradores e atividades que necessi- tam aluguéis mais baratos. O caso de Barcelona nos mostra que a prefeitura rejeita explicitamente o termo “gentrificagado”, mas suas politicas culturais no centro e a falta de programas de moradia social (subsidiada) colaboram para acentuar aquele processo. Por outro lado, a idéia do convivio entre classes sociais nao pode ex- cluir a realidade dos conflitos de interesses e praticas das quais 0 territério é objeto, como nos mostra 0 caso de Napoles. 14 Apresentagdo Parece que nossas classes médias nao sao iguais as ameri- canas ou as européias (mas nao as conhecemos bem, segundo Riviére d’Arc) e nossas cidades oferecem opgdes diferentes para elas e para o setor imobilidrio, nao sendo provavel um grande movimento em diregao ao centro. De certo modo, o mercado ja vai produzindo ‘gentrificagao’ quando a cidade brasileira se re- constréi sobre antigos bairros populares, por conta da facilidade de demolir e de remembrar lotes para criar conjuntos de aparta- mentos ou escritérios (exemplos da Vila Madalena e do Campo Limpo, em Sao Paulo). Por outro lado, entre as familias pobres e as de renda média alta, temos 0 segmento formado pelas familias de renda média baixa, que o setor imobilidrio hoje nao atende, e que também vio competir pelo espaco central. Nas cidades de Bruxelas, Lyon e Barcelona, entre outras, pessoas s6s ou casais jovens, com bom nivel de instrugao e bom poder de compra, apa- recem como a demanda que mais tem vindo morar nos centros, em razio de suas opgdes de consumo e da qualidade de vida que © centro oferece. Essa possibilidade também parece existir no caso brasileiro. A politica habitacional (entendida como financiamento a demanda ou a oferta, apoiada em instrumentos de gestao) apare- ce em varios casos como o grande motor da reabilitagao. Levan- ta-se que 0 processo nao se desenvolve nas cidade mexicanas, nem para atrair classes médias nem para melhorar a moradia po- pular por falta de financiamentos populares. Por outro lado, em Nova Iorque, Barcelona, Lyon, Bruxelas sao os financiamentos para aquisigao da casa propria que permitem a chegada de jovens das classes médias e outras familias mais abastadas aos bairros reabilitados”. Sao os financiamentos (e subsidios) 4 reabilitagao 2. E também 0 caso dd Santiago do Chile, tendo sido sugerido pelo BID para Sdo Paulo, no contexto da formatagio do projeto Acdo Centro, aprovado em 2004. 15 De volta a cidade que permitem aos proprietarios encerrar contratos de aluguel com familias de menor renda, e vender as unidades a pessoas de mai- or renda, depois das reformas. Ja em Lyon, os proprietarios, para receber subsidios, fazem um convénio, pelo qual aceitam aplicar durante nove anos os valores de aluguel determinados pelo Esta- do, cujos montantes sdo geralmente bem inferiores aos estabele- cidos pelas leis do mercado. Mas, e depois? Em Barcelona, Nuria Claver comenta que as medidas de ajuda a reabilitagio de imé- veis privados sao insuficientes e favorecem os grandes proprieta- trios. Os proprietarios de iméveis situados nas zonas que foram revalorizadas comegaram a vender seus bens as grandes empre- sas imobiliarias. Muitas vezes, os promotores imobilidrios adqui- rem iméveis ocupados, e em seguida recorrem a diferentes estratagemas legais para obrigar os moradores a partir. A falta de oferta de habitacao social nos centros de reabilitagao é ressaltada para Barcelona e para as cidades mexicanas. A gestaéo dos programas e os planos estratégicos — os bair- ros ‘desejados’ pelos “gentrificadores” precisam apresentar de- terminadas caracteristicas apropriadas a uma reciclagem mais ou menos rapida (etapa dos pioneiros, da gentrificagdo expontanea). A abrangéncia de bairros ‘naturalmente atrativos’ parece ser pe- quena, sé envolvendo alguns trechos das dreas centrais, como revelam os casos de Bruxelas e das cidades mexicanas. Por outro lado, os investidores s6 chegam quando percebem a possibilidade de obter lucros significativos (maiores que nas suas zonas habitu- ais de atuagao). Isso vai exigir investimentos na melhoria do espa- go ptiblico, assim como controle das atividades exercidas, com recursos publicos, de parcerias ou incentivos. Em Barcelona, em meados dos anos oitenta, a situagao de degradagao do bairro mu- dou em razio das politicas do governo local, incluindo um plano para controlar as atividades de bares e pensdes, e a criagdo de uma empresa de capital misto que faz, em nome da municipalidade, 16 Apresentagdo toda a gestdo. A prefeitura baseou sua estratégia na localizagao das atividades econémicas consideradas “regeneradoras”, assim como nos equipamentos culturais em pontos estratégicos. Outra estratégia das cidades é produzir novas urbanizagGes nos centros, reproduzindo os padrées de moradia e consumo ja adotados pelas classes médias altas, a partir de grandes terrenos, a exemplo das Docklands (Londres), Battery Park (Nova Iorque), Puerto Madero, etc. Modelos cujos pressupostos e resultados devem ser exami- nados com cuidado antes de implementar nossos grandes projetos em orlas. Outros financiamentos e seus riscos — embora em algumas experiéncias relatadas os recursos para a reabilitagdo tenham vindo da combinagao de financiamentos habitacionais com investimen- tos locais, algumas experiéncias, mais ou menos eficazes, de re- curso a parcerias ou financiamentos privados sao citadas, com 0 destaque para 0 papel do milionario Carlos Slim, do México. Aqui no Brasil, assim como a cidade de Sao Paulo, sabemos que os municipios tém poucos recursos e tendem a buscar recursos ex- ternos. Além do endividamento, 0 risco dos financiamentos inter- nacionais é sua influéncia sobre as agendas de reabilitagdo. Sao conhecidas as tendéncias de aplicar um receituario de experiénci- as supostamente exitosas, sendo que o principal critério (indica- dor) de sucesso é sempre a valorizagao imobilidria. A questao do patriménio — a experiéncia de Napoles é inte- ressante como proposta de valorizag4o simbélica do centro anti- go, a partir da mobilizagao da cidadania e da adequacao dos espagos puiblicos (incluindo desobstrugao por retirada de veiculos e adequacao do transporte publico) para o convivio de todas as classes e a fruigéo do conjunto urbano e dos monumentos. A manutengao da populagio residente é explicitada como objetivo, dentro da idéia de conservar a complexidade social do centro. Ja no caso das cidades mexicanas, Patrice Melé observa que, nao 17 De volta a cidade obstante os discursos dos militantes, pesquisadores e certos re- presentantes dos organismos de protegao, que se referem 4 ma- nutengao das fungées tradicionais e das formas especificas da cultura popular dos bairros centrais, a politica de patriménio sé considera os edificios e a imagem urbana. As propostas de utilizar a legislagao do patrimGnio para proteger 0 que se chama no Méxi- co de “patrim6nio intangivel”, nao para invocar uma intangibilidade das construgGes, mas para destacar a existéncia de elementos de patrim6nio que nao sao fisicas, constituidas pela forma de rela- ges sociais especificas dos bairros populares e da “vecindad”, aparecem desconectadas da realidade das agdes de protegao do patriménio. Nao ha bons modelos e as situagées sGo especificas — ja estamos habituados a ouvir o exemplo de Barcelona ser citado como exemplar, por alguns, ou ser muito criticado, por outros. O livro coloca em questdo modelos e instrumentos geralmente vistos como “virtuosos”. A experiéncia de Lyon, onde a OPAH (Opera- cao Programada de Melhoria do Habitat, discutida com a comuni- dade local, prevendo instrumentos de protegdo da populagio mais pobre...) reforga o processo de valorizagao do setor. A leitura pode nos ajudar a olhar mais criticamente o papel dos bons proje- tos arquiteténicos pontuais de reabilitagao de algumas unidades populares, “impotentes” diante de um quadro geral de gentrificagao e perda de espago dos segmentos populares. As resisténcias a gentrificagao — 0 papel de movimentos so- ciais organizados e mesmo o de atores econ6micos dos centros, seja como enfrentamento direto ou como portadores de propostas capazes de contrapor-se as tendéncias e propostas de gentrificacdo, é colocado por Neil Smith (para Nova Iorque), por Héléne Riviére d’ Arc (caso de Sao Paulo) e por Daniel Hernioux (Cidade do México). Este ultimo observa que a gentrificagao — embora apresente 0 risco de se impor como modelo na cidade — 18 Apresentagao nao é, sem nenhuma diivida, uma tendéncia sem volta, porque é possivel que os revezes econdmicos ou a forga dos setores popu- lares ponham freio a esse processo. Enfim, fica a idéia de que a gentrificagao dos centros é um risco importante para o qual é preciso estar alerta, mas que nao é inelutavel. A diferenga também pode estar em um movimento forte dos que querem permanecer e numa sociedade civil atenta e par- ticipante nas politicas publicas para os centros e para a cidade. Sao Paulo, junho de 2006 19 Introdugao Catherine Bidou-Zachariasen CNRS, Paris Depois de décadas de desconcentragdo e suburbanizagao, as cidades dos paises mais desenvolvidos conhecem outras formas de evolugdo que nao excluem as anteriores.' Os coragdes das cidades sao hoje objeto de dinamicas miltiplas e de reinvestimentos importantes, tanto de parte dos atores politicos e econédmicos, como dos atores sociais. A cidade agora esta no coragao da economia mundial. Longe de ter feito desaparecer os efeitos da localizagao, o desenvolvimento das redes de comunicagao multiplicou os es- pagos onde circulam os bens, pessoas, servigos e capitais. Todos os observadores reconhecem que esta evolugao favoreceu antes de tudo as grandes metrépoles. Parece que a idade de ouro das cidades voltou. 1. Na Franga, por exemplo, 0 censo de 1999 revelou que apesar da continuagdo do desenvolvimento periurbano, um novo movimento de repovoamento das cidades- centro se anuncia (Paris deixou de perder habitantes; Lyon, Toulouse, Montpellier ¢ Nantes ganharam varias dezenas de milhares. Cf. Le retour des villes-centres. Alternatives Economiques, n. 173, set 1999). De volta a cidade No nivel social, os processos de povoamento urbano conhe- cem também novas dinamicas. Os processos de “gentrificagao”, perceptiveis em inumeras cidades, participam dessas dinamicas. Atualmente a gentrificagaio é reconhecida como um elemento que se destaca na transformacio dos centros urbanos (Smith, 1999). Algumas cidades dos paises emergentes, por sua vez, conhecem dindmicas bastante préximas. De que se trata isso? Na Franga, parece que nem existem palavras para designar essas transfor- magoes, a0 mesmo tempo materiais, sociais e simbdlicas dos cen- tros de cidades. As ciéncias sociais anglo-saxénicas utilizam a palavra “gentrification”. Uma tentativa de definigao Otermo gentrification foi utilizado pela primeira vez por Ruth Glass, no inicio dos anos sessenta (Glass, 1963) para descrever 0 processo mediante o qual familias de classe média haviam povoa- do antigos bairros desvalorizados do centro de Londres, ao invés de se instalarem nos suburbios residenciais, segundo o modelo até entdo dominante para essas classes sociais. Por essa nogao, a autora compreendia, ao mesmo tempo, a transformagao da com- posicgao social dos residentes de certos bairros centrais, por meio da substituigao de camadas populares por camadas médias assa- lariadas; e um processo de natureza diferente: o de investimento, reabilitagao e apropriagao, por estas camadas sociais, de um esto- que de moradias e de bairros operarios ou populares. Numerosos autores retomaram esse termo, mesmo que alguns nao vissem ai mais que um fendmeno limitado no tempo, e que dizia respeito apenas a um numero muito restrito de cidades anglo- sax6nicas (Bourne, 1993). Outros 0 empregaram de modo mais amplo: 22 Introdugao A gentrificagao é um fendmeno ao mesmo tempo fisico, econémico, social e cultural. Ela implica nado apenas uma mudanga social, mas também uma mudanga fisica do estoque de moradias na escala de bairros; enfim, uma mudanga econémica sobre os mercados fundidrio e imo- bilidrio. E esta combinagdo de mudangas sociais, fisicas e econémicas que distingue a gentrificagdo como um processo ou conjunto de processos especificos (Hamnet, 1984). Mais recentemente, o sentido do termo se alargou e foi utiliza- do por alguns para designar os segmentos superiores das classes médias residindo nos condominios de luxo no centro das grandes cidades (Sassen, 1996). Durante muito tempo, esse processo de reencontro dos cen- tros permaneceu um mistério para a teoria econémica da localiza- ¢4o residencial, que considerava que os bairros centrais se tornavam, ao longo do tempo, cada vez menos atrativos para as familias abastadas. Depois, por conta de sua persisténcia e de sua extensdo, outras explicagdes foram propostas. A literatura que se dedicou a esse processo urbano — 4 imagem da maioria dos traba- Ihos em ciéncias sociais — se organiza em duas tendéncias: uma parte opta por um quadro explicativo derivado do estrutural (peso econémico da promogio imobilidria, por exemplo, e o papel da rent gap ou “renda diferencial”: Smith, 1979, 1982, 1987a e 1987b). Uma outra parte coloca o fenémeno em relagao a uma estratégia de atores, mesmo de atores individuais (Ley, 1981 e 1986), cor- respondente a uma atragao por modos de vida e de consumo que 2. N.T.: Optamos por aportuguesar 0 termo e seus derivados (“gentrificado”, “gentrificadores”, etc.) originalmente cunhados em inglés, ¢ utilizados fartamente, € ao longo de todo o livro, pelos autores. 23 De volta a cidade permitem habitar o centro da cidade. Mas todos os que trataram da gentrificagao a colocam também no contexto da transforma- go das formas familiares, o aumento do numero de mulheres que trabalham, a freqiiéncia de casais com duplo salario, e 0 cresci- mento da individualizagao dos modos de vida. Sao também nume- Tosos Os que vinculam esse processo urbano — e de modo central — a ascensao das classes médias superiores,’ ascensio esta que remonta ao inicio do século XX nos paises industrializados e se acelera na fase de pés-industrializagdo (Goldthorpe, 1982; Lash & Urry, 1987). Uma parte desta literatura utiliza o termo pés- fordismo. De todo modo, segundo um certo numero de autores que trata- ram dos fenémenos de gentrificagdo, deve-se considerdé-los ainda mais globalmente, isto é, no quadro de desenvolvimento de um novo regime de acumulagdo nas economias em mutagao (este, por sua vez, também relacionado—uma vez que esse determinismo ocorre em duplo sentido — com a evolugao dos modelos de consu- mo dos lideres na matéria que representa a new middle-class: Harvey, 1991; Swyngedouw & Kesteloot, 1989). Os “novos pélos de crescimento” correspondem, freqiientemente, a espagos urbanizados suscetiveis de atrair — em razao da oferta de equipa- mentos culturais, lazer, consumo e concentragao de oportunida- des de emprego que eles representam — camadas altamente qualificadas, muito solicitadas por essas novas formas de desen- volvimento nos paises primeiramente industrializados, mas tam- bém nos paises emergentes. As grandes aglomeragGes, ou redes de cidades, so capazes de produzir sobre seu territ6rio novas sinergias de desenvolvimen- to a partir de setores como os servigos (de todo o tipo: bancos, 3. Aquelas que correspondem ao que os sociélogos britinicos chamam de service class, ¢ que agrupam os professionals ¢ os managers. 24 Introdugdo seguros, turismo, etc.), novas tecnologias e produgio de bens cor- respondentes a nichos bem precisos (lazer, cultura, luxo, etc.). Os bairros gentrificados podem se inscrever nesses novos processos de crescimento. Pelo menos essa é a hipétese de numerosos au- tores (entre os quais os citados acima: Harvey; Lash e Urry), mas também de Butler (1995), assim como Scott e Storper (1989). Sao ainda Swyngedouw e Kesteloot (1989) que estimam que esta reorganizagao socioeconémica da sociedade em fun- ¢ao de um novo regime de acumulagao provoca a emer- géncia de um novo modo de via urbano e de novos tipos de consumo. Esta nova ideologia se exprime na individualizagao da vida social e cultural, mas também na reestruturagao do quadro construido. Grosso modo, ela valoriza o patriménio histérico representado nas edificagées dos centros urbanos, mas este é adaptado para ser ocupado por uma nova classe média de residen- tes... Os “gentrificadores” das cidades globais As grandes cidades tém atualmente menos a fungiio de serem centros de servigos para suas industrias regionais, localizadas no interior das fronteiras nacionais. Elas agora representam centros de comando e de controle para os grupos transnacionais, produ- zindo servigos (gestéo, consultoria, seguro), constituindo-se em centros de “produgao financeira”. As relagGes entre essas cida- des se fortalecem, em detrimento daquelas com os seus paises de origem. Os trés primeiros grandes centros desta economia global sao Nova Iorque, Londres e Téquio. Pelo menos, essa é a tese de Sassen (1996). A forga desta andlise é que ela propde um quadro 25 De volta a cidade para a ascensao da gentrificagao. Os “gentrificadores” sio aque- les que servem a nova economia mundial e que, ainda que bem Ppagos, nado correspondem aos muito ricos no sentido das classes dominantes ou as burguesias tradicionais. A outra face da tese da cidade global é a marginalizagao da classe operaria urbana — cujo consumo havia constituido o motor das economias do pés-guerra —e sua substituigdo por uma classe de pequenos empregados de servigos, que correspondem ds necessidades da nova economia (empregados de restaurantes, zeladores, pessoal de limpeza, etc). Essa visao foi criticada por afirmar uma bi-polarizagio da estrutu- ra social nessas cidades, a qual nao foi demonstrada pelas estatis- ticas (Hamnet, 1995). Para além das verificagdes empiricas que essas teses necessi- tariam, esse debate sublinha bem a ligagio, ou a atragdo, entre as middle classes, no sentido anglo-saxdo, e as cidades globais. O ponto central da argumentagao sobre as world cities é a necessi- dade de proximidade fisica entre os diversos atores humanos dos servicos da nova economia mundial. No coragao dessas cidades, eles precisam minimizar as distancias entre as diversas seqiiénci- as de suas vidas cotidianas (trabalho, educagdo, satide, cultura, etc.), e precisam estar constantemente em contato. Mas é tam- bém a esfera econdmica que pode tirar proveito desse contato social, porque ele favorece as dinamicas de inovacao. Butler (1995) ensina que o termo gentrificagao, tal como utili- zado no debate sobre as cidades globais, na verdade cumpre o papel de metafora para designar as mudangas recentes das cida- des, economias, classes sociais e sociedades capitalistas, e que seria preferivel reservar-Ihe uma acepgao mais restrita. Para além dessas tomadas de posicéo, os processos de gentrificagfio apre- sentados pela literatura que utiliza o termo se apresentam sob duas formas. A primeira concerne as edificagées antigas, desvaloriza- das e reabilitadas sobretudo por iniciativa individual; a outra resul- 26 Introdugao ta da promogao imobilidria sobre terrenos em processo de valori- zagao fundiaria: Duas visdes do mesmo fenémeno caracterizam a cidade capitalista do fim do segundo milénio. Os académicos 0 chamam ironicamente de gentrificagéo, enquanto que os atores das grandes agéncias multinacionais do setor imobilidrio encontraram um termo mais nobre: “prime housing” (Petsimeris, 1994). Enfim, para fechar esta exposigao do estado do debate, parece que, de modo geral, 0 conjunto desses trabalhos esta de acordo em enxergar na gentrificagéo essencialmente um fendmeno das cidades anglo-sax6nicas. Hamnet (1984) estima que isso provém do fato de que as outras cidades européias ou latinas sempre tive- ram bairros burgueses ou aristocraticos nos centros, e nao haviam conhecido (ou conhecido pouco) os fenémenos de suburbanizagao que marcaram as cidades inglesas e americanas a partir dos anos cingiienta. Outros casos tipos de gentrificagao Para além das diferengas hist6ricas, bem manifestas entre as fungées reciprocas dos centros e periferias das cidades da Euro- pa continental e anglo-sax6nica, e considerando também que os centros das cidades latinas efetivamente acolheram, durante sé- culos, as residéncias das classes privilegiadas, e foram igualmente menos marcadas pelo modelo residencial da suburbanizagao, as coisas nfo sdo assim tao esquematicas. Numerosas cidades ame- ricanas também tiveram bairros “chiques” edificados no centro, como Nova York, Boston ou Filadélfia — aqueles que servem de 27

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