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CAPÍTULO IV

ORIGEM E EVOLUÇÃO DO DIREITO


DO TRABALHO NO BRASIL

I. INTRODUÇÃO

$V SURSRVLo}HV GH PpWRGR FRORFDGDV QR PRPHQWR GR H[DPH GD
formação histórica do Direito do Trabalho nos países de capitalismo central
FDStWXOR DQWHULRU  WDPEpP DX[LOLDP D FRPSUHHQVmR GR SURFHVVR FRUUHODWR
ocorrido no Brasil. Nessa linha, a busca da categoria básica em torno da qual
se construiu o ramo justrabalhista — a relação empregatícia — é o ponto
fundamental a delimitar a pesquisa da evolução histórica desse ramo jurídico
na realidade brasileira.
Em país de formação colonial, de economia essencialmente agrícola,
com um sistema econômico construído em torno da relação escravista de
WUDEDOKR²FRPRR%UDVLODWp¿QVGRVpFXOR;,;²QmRFDEHVHSHVTXLVDU
D H[LVWrQFLD GHVVH QRYR UDPR MXUtGLFR HQTXDQWR QmR FRQVROLGDGDV DV
SUHPLVVDV PtQLPDV SDUD D D¿UPDomR VRFLRHFRQ{PLFD GD FDWHJRULD EiVLFD
GRUDPRMXVWUDEDOKLVWDDUHODomRGHHPSUHJR6HDH[LVWrQFLDGRWUDEDOKR
livre (juridicamente livre) é pressuposto histórico-material para o surgimento
do trabalho subordinado (e, consequentemente, da relação empregatícia),
não há que se falar em ramo jurídico normatizador da relação de emprego
sem que o próprio pressuposto dessa relação seja estruturalmente permitido
QD VRFLHGDGH HQIRFDGD 'HVVH PRGR DSHQDV D FRQWDU GD H[WLQomR GD
escravatura (1888) é que se pode iniciar uma pesquisa consistente sobre a
formação e consolidação histórica do Direito do Trabalho no Brasil.

II. PERIODIZAÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO


DO TRABALHO BRASILEIRO

Embora a Lei Áurea não tenha, obviamente, qualquer caráter


justrabalhista, ela pode ser tomada, em certo sentido, como o marco
inicial de referência da História do Direito do Trabalho brasileiro. É que ela
FXPSULXSDSHOUHOHYDQWHQDUHXQLmRGRVSUHVVXSRVWRVjFRQ¿JXUDomRGHVVH
novo ramo jurídico especializado. De fato, constituiu diploma que tanto
eliminou da ordem sociojurídica relação de produção incompatível com o
ramo justrabalhista (a escravidão), como, em consequência, estimulou a
incorporação pela prática social da fórmula então revolucionária de utilização
&ඝකඛ඗ඌඍ'එකඍඑග඗ඌ඗7කඉඊඉඔඐ඗ 115

da força de trabalho: a relação de emprego. Nesse sentido, o mencionado


GLSORPDVLQWHWL]DXPPDUFRUHIHUHQFLDOPDLVVLJQL¿FDWLYRSDUDDSULPHLUDIDVH
do Direito do Trabalho no País do que qualquer outro diploma jurídico que se
possa apontar nas quatro décadas que se seguiram a 1888.
5HVVDOWHVHTXHQmRVHWUDWDGHVXVWHQWDUTXHLQH[LVWLVVHQR%UDVLODQWHV
GHTXDOTXHUH[SHULrQFLDGHUHODomRGHHPSUHJRTXDOTXHUH[SHULrQFLD
de indústria ou qualquer traço de regras jurídicas que pudessem ter vínculo,
ainda que tênue, com a matéria que, futuramente, seria objeto do Direito
do Trabalho. Trata-se, apenas, de reconhecer que, nesse período anterior,
marcado estruturalmente por uma economia do tipo rural e por relações de
SURGXomRHVFUDYLVWDVQmRUHVWDYDHVSDoRVLJQL¿FDWLYRSDUDRÀRUHVFLPHQWR
das condições viabilizadoras do ramo justrabalhista.
Não havia, à época, espaço sensível para o trabalho livre, como fórmula
de contratação de labor de alguma importância social; para a industrialização,
FRPRSURFHVVRGLYHUVL¿FDGRFRPWHQGrQFLDjFRQFHQWUDomRHFHQWUDOL]DomR
inerentes ao capitalismo; para a formação de grupos proletários, cidades
proletárias, regiões proletárias, que viabilizassem a geração de ideologias
de ação e organização coletivas, aptas a produzirem regras jurídicas; não
havia espaço, em consequência, para a própria sensibilidade do Estado,
de absorver clamores vindos do plano térreo da sociedade, gerando regras
regulatórias do trabalho humano.
Tais condições vão reunir-se, com maior riqueza e diversidade, apenas
DFRQWDUGR¿QDOGDHVFUDYDWXUDHP¿QVGRVpFXOR;,;

1. Manifestações Incipientes ou Esparsas


2SULPHLURSHUtRGRVLJQL¿FDWLYRQDHYROXomRGR'LUHLWRGR7UDEDOKRQR
%UDVLOHVWHQGHVHGHDLGHQWL¿FDQGRVHVRERHStWHWRGHfase de
PDQLIHVWDo}HVLQFLSLHQWHVRXHVSDUVDV
Trata-se de período em que a relação empregatícia se apresenta, de
modo relevante, apenas no segmento agrícola cafeeiro avançado de São
3DXOR H SULQFLSDOPHQWH QD HPHUJHQWH LQGXVWULDOL]DomR H[SHULPHQWDGD QD
capital paulista e no Distrito Federal (Rio de Janeiro), a par do setor de
serviços desses dois mais importantes centros urbanos do País(1).

  1R VHWRU GH VHUYLoRV R VHJPHQWR SRUWXiULR ² REYLDPHQWH H[FOXtGD D FLGDGH PHGLWHU-
rânea de São Paulo — tradicionalmente também sempre teve importância na organização do
PRYLPHQWR RSHUiULR$ HVVH UHVSHLWR LOXVWUDWLYDPHQWH H[S}H R KLVWRULDGRU %yULV )DXVWR ³$V
docas de Santos reuniram o primeiro grupo importante de trabalhadores em todo o Estado,
FXMDVOXWDVVHLQLFLDUDPHP¿QVGRVpFXORHSHUPDQHFHUDPFRQVWDQWHVQRFRUUHUGRVDQRV´
In: 7UDEDOKR8UEDQRH&RQÀLWR6RFLDO  . São Paulo: Difel, 1976. p. 13. O mesmo
autor comenta: “O setor serviços (ferrovias e portos) é estrategicamente o mais relevante,
GHOHGHSHQGHQGRRIXQFLRQDPHQWREiVLFRGDHFRQRPLDDJURH[SRUWDGRUDDVVLPFRPRRTXH
representa o maior grau de concentração de trabalhadores”. In: ob. cit., p. 122.
116 0ඉඝකඑඋඑ඗*඗ඌඑඖඐ඗'ඍඔඏඉඌ඗

É característica desse período a presença de um movimento operário


ainda sem profunda e constante capacidade de organização e pressão, quer
pela incipiência de seu surgimento e dimensão no quadro econômico-social
GDpSRFDTXHUSHODIRUWHLQÀXrQFLDDQDUTXLVWDKHJHP{QLFDQRVHJPHQWRPDLV
mobilizaGRGHVXDVOLGHUDQoDVSUySULDV1HVVHFRQWH[WRDVPDQLIHVWDo}HV
autonomistas e de negociação privada vivenciadas no novo plano industrial
QmR WrP DLQGD D VX¿FLHQWH FRQVLVWrQFLD SDUD ¿UPDUHP XP FRQMXQWR
GLYHUVL¿FDGRHGXUDGRXURGHSUiWLFDVHUHVXOWDGRVQRUPDWLYRVRVFLODQGRHP
FLFORVHVSDUVRVGHDYDQoRVHUHÀX[RV(2).
Paralelamente a essa incipiência na atuação coletiva dos trabalhadores,
WDPEpP LQH[LVWH XPD GLQkPLFD OHJLVODWLYD LQWHQVD H FRQWtQXD SRU SDUWH GR
Estado em face da chamada TXHVWmRVRFLDO. É que prepondera no Estado
brasileiro uma concepção liberal não intervencionista clássica, inibidora da
atuação normativa heterônoma no mercado de trabalho. A esse liberalismo
associa-se um férreo pacto de descentralização política regional — típico
da República Velha —, que mais ainda iria restringir a possibilidade de
VXUJLPHQWRGHXPDOHJLVODomRKHWHU{QRPDIHGHUDOWUDEDOKLVWDVLJQL¿FDWLYD(3).
Nesse quadro, o período se destaca pelo surgimento ainda assistemático
e disperso de alguns diplomas ou normas justrabalhistas, associados a
outros diplomas que tocam tangencialmente na chamada TXHVWmR VRFLDO.
Ilustrativamente, pode-se citar a seguinte legislação: Decreto n. 439, de
31.5.1890, estabelecendo as “bases para organização da assistência à
infância desvalida”; Decreto n. 843, de 11.10.1890, concedendo vantagens
ao “Banco dos Operários”; Decreto n. 1.313, de 17.1.91, regulamentando o
trabalho do menor(4). Nesse primeiro conjunto destaca-se, ainda, o Decreto n.
GHTXHGHUURJRXDWLSL¿FDomRGDJUHYHFRPRLOtFLWRSHQDO
mantendo como crime apenas os atos de violência praticados no desenrolar
do movimento(5). Werneck Vianna aponta ainda como determinações legais
desse período a concessão de férias de 15 dias aos ferroviários da Estrada
de Ferro Central do Brasil, acrescida, em seguida, de aposentadoria (Decreto
n. 221, de 26.2.1890), que logo se estenderá a todos os ferroviários (Decreto n.
565, de 12.7.1890)(6).

 2VDXWRUHVDSRQWDPSRUH[HPSORDJUHYHSHODVRLWRKRUDVGHWUDEDOKRDEUDQJHQGR6mR
Paulo, Santos, Ribeirão Preto e Campinas, em 1907, e a conjuntura de intensos movimentos
WUDEDOKLVWDVSDVVDGDGHDFRPRDOJXQVGRVSRQWRVPDLVVLJQL¿FDWLYRVGDDWXDomR
coletiva obreira nessa fase inicial do Direito do Trabalho. A respeito, ver FAUSTO, Bóris, ob.
cit., p. 146-150 e 157-217.
(3) Apenas com a reforma constitucional de 1926 é que passaria à União a competência priva-
tiva para legislar sobre Direito do Trabalho (Emenda 22, conferindo nova redação ao art. 34,
n. 29, da Constituição de 1891).
(4) A respeito desses três diplomas federais, ver VIANNA, Luiz Werneck. Liberalismo e Sindi-
cato no Brasil, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989. p. 45. O autor aponta que o decreto concernente
DRVPHQRUHVHPERUDSXEOLFDGRQR'LiULR2¿FLDOMDPDLVHQWURXHPYLJRU
(5) VIANNA, Luiz Werneck, ob. cit., p. 46.
(6) Conforme VIANNA, Luiz Werneck, ob. cit., p. 46.
&ඝකඛ඗ඌඍ'එකඍඑග඗ඌ඗7කඉඊඉඔඐ඗ 117

Já transposto o século, surge o Decreto Legislativo n. 1.150, de 5.1.1904,


concedendo facilidades para o pagamento de dívidas de trabalhadores
rurais, benefício posteriormente estendido aos trabalhadores urbanos
(Decreto Legislativo n. 1.607, de 29.12.1906). O Decreto Legislativo n. 1.637,
GH  SRU VXD YH] IDFXOWDYD D FULDomR GH VLQGLFDWRV SUR¿VVLRQDLV H
sociedades cooperativas(7). Em 1919, surge a legislação acidentária do
WUDEDOKR /HLQGH DFROKHQGRRSULQFtSLRGRULVFRSUR¿VVLRQDO
embora com inúmeras limitações(8). Em 1923, surge a Lei Elói Chaves (n.
 GH   LQVWLWXLQGR DV &DL[DV GH$SRVHQWDGRULDV H 3HQV}HV
para os ferroviários. Tais benefícios foram estendidos, posteriormente, às
empresas portuárias e marítimas pela Lei n. 5.109, de 20.12.1926(9). Ainda
em 1923, institui-se o Conselho Nacional do Trabalho (Decreto n. 16.027, de
30.4.1923). Em 1925, concedem-se férias (15 dias anuais) aos empregados
de estabelecimentos comerciais, industriais e bancários (Lei n. 4.982, de
24.12.1925). Em 12.10.1927, é promulgado o Código de Menores (Decreto
n. 17.934-A), estabelecendo a idade mínima de 12 anos para o trabalho,
a proibição do trabalho noturno e em minas aos menores, além de outros
preceitos. Em 1928, o trabalho dos artistas é objeto de regulamentação
(Decreto n. 5.492, de 16.7.1928). Finalmente, em 1929, altera-se a lei de
falências, conferindo-se estatuto de privilegiados aos créditos de “prepostos,
empregados e operários” (Decreto n. 5.746, de 9.12.1929)(10).
+i DLQGD XPD VLJQL¿FDWLYD OHJLVODomR HVWDGXDO GH 6mR 3DXOR VREUH D
área justrabalhista. Em 27.12.1911, promulga-se a Lei n. 1.299-A, instituidora
GR³SDWURQDWRDJUtFRODFRPDLQFXPErQFLDHVSHFt¿FDGHUHVROYHUSRUPHLRV
suasórios, quaisquer dúvidas surgidas entre os operários agrícolas e seus
patronos”(11). Em 14.11.1911, pelo Decreto n. 2.141, tratando do Regulamento
do Serviço Sanitário do Estado, lançaram-se “dispositivos sobre condições
de higiene nas fábricas, proibindo-se também a atividade dos menores de
10 anos e o serviço noturno dos menores de 18; no mesmo ano, criou-se
o Departamento Estadual do Trabalho (Decreto n. 2.071, de 5.7.1911),
encarregado do estudo, informação e publicação das condições de trabalho
no Estado”(12)(P¿QDOPHQWHD/HLQFULRXRVWULEXQDLV
rurais naquele Estado(13).

(7) FAUSTO, Bóris.7UDEDOKR8UEDQRH&RQÀLWR6RFLDO  . São Paulo: Difel, 1976. p.


223-224.
(8) FAUSTO, Bóris, ob. cit., p. 233.
(9) MORAES FILHO, Evaristo de. Tratado Elementar de Direito do Trabalho. v. I. Rio de Ja-
neiro: Freitas Bastos, 1960. p. 313.
(10) A respeito, ver MAGANO, Octavio Bueno. Manual de Direito do Trabalho (Parte Geral),
4. ed. São Paulo: LTr, 1991. p. 40-42. Também MORAES FILHO, Evaristo de, ob. cit., p. 314.
(11) MAGANO, O. B., ob. cit., p. 36-39.
(12) FAUSTO, Bóris, ob. cit., p. 224.
(13) MAGANO, O. B., ob. cit., p. 41.
118 0ඉඝකඑඋඑ඗*඗ඌඑඖඐ඗'ඍඔඏඉඌ඗

2. Institucionalização do Direito do Trabalho


O segundo período a se destacar nessa evolução histórica será a fase
GDLQVWLWXFLRQDOL]DomR (ou R¿FLDOL]DomR) do Direito do Trabalho. Essa fase tem
VHXPDUFRLQLFLDOHP¿UPDQGRDHVWUXWXUDMXUtGLFDHLQVWLWXFLRQDOGHXP
QRYRPRGHORWUDEDOKLVWDDWpR¿QDOGDGLWDGXUDJHWXOLVWD  7HUiSRUpP
o condão de manter seus plenos efeitos ainda sobre quase seis décadas
seguintes, até pelo menos a Constituição de 1988.
A fase de institucionalização do Direito do Trabalho consubstancia, em
seus primeiros treze a quinze anos (ou pelo menos até 1943, com a Consoli-
dação das Leis do Trabalho), intensa atividade administrativa e legislativa do
Estado, em consonância com o novo padrão de gestão sociopolítica que se
LQVWDXUDQR3DtVFRPDGHUURFDGDHPGDKHJHPRQLDH[FOXVLYLVWDGR
VHJPHQWRDJURH[SRUWDGRUGHFDIp
O Estado largamente intervencionista que ora se forma estende sua
atuação também à área da chamada TXHVWmRVRFLDO. Nesta área implementa
XP YDVWR H SURIXQGR FRQMXQWR GH Do}HV GLYHUVL¿FDGDV PDV QLWLGDPHQWH
combinadas: de um lado, através de rigorosa repressão sobre quaisquer
manifestações autonomistas do movimento operário; de outro lado, através
de minuciosa legislação instaurando um novo e abrangente modelo de
organização do sistema justrabalhista, estreitamente controlado pelo Estado.
Essa evolução sofreu pequeno — e pouco consistente — interregno de
PHQRVGHGRLVDQRVHQWUHHFRPD7H[WR&RQVWLWXFLRQDOGH
RQGH YROWRX D ÀRUHVFHU PDLRU OLEHUGDGH H DXWRQRPLD VLQGLFDLV D SUySULD
pluralidade sindical foi acolhida por esta Constituição)(14). Entretanto, logo
imediatamente o governo federal retomou seu controle pleno sobre as ações
trabalhistas, através do estado de sítio de 1935, dirigido preferencialmente
jV OLGHUDQoDV SROtWLFDV H RSHUiULDV DGYHUViULDV GD JHVWmR R¿FLDO 0DLV
que isso, com o estado de sítio de 35, continuado pela ditadura aberta de
1937, pôde o governo federal eliminar qualquer foco de resistência à sua
HVWUDWpJLDSROtWLFRMXUtGLFD¿UPDQGRVROLGDPHQWHDODUJDHVWUXWXUDGRPRGHOR
justrabalhista, cujas bases iniciara logo após o movimento de outubro de 1930.
O modelo justrabalhista mencionado forma-se a partir de políticas
integradas, administrativamente dirigidas em pelo menos seis direções.
Todas essas políticas mostraram-se coerentemente lançadas e estruturadas
nos quinze anos do governo instalado em 1930.

(14) Ressalte-se, porém, que mesmo a Constituição de 1934 já se encontrava fortemente


LQÀXHQFLDGDSHORFRUSRUDWLYLVPRSUR¿VVLRQDOHVLQGLFDOTXHVHULDDPDUFDGRQRYRPRGHORMXV-
WUDEDOKLVWD1RFDVRR³JRYHUQRSURYLVyULR´FXLGRXGHODQoDUSRUH[HPSORQDUHSUHVHQWDomR
componente do Parlamento, como meio de contrabalançar a representação política dos dois
JUDQGHV(VWDGRV0LQDVH6mR3DXORD³UHSUHVHQWDomRSUR¿VVLRQDO´HVWUHLWDPHQWHKDUP{QLFD
jGLUHomRGRH[HFXWLYRIHGHUDO
&ඝකඛ඗ඌඍ'එකඍඑග඗ඌ඗7කඉඊඉඔඐ඗ 119

A primeira área contemplada pela ação governamental seria a própria


administração federal, de modo a viabilizar a coordenação das ações
institucionais a serem desenvolvidas nos anos seguintes. Criou-se, assim,
o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, pelo Decreto n. 19.443, de
26.11.1930. Meses após, em 4.2.1931, instituiu-se o Departamento Nacional
do Trabalho (Decreto n. 19.671-A)(15).
A área sindical seria também imediatamente objeto de normatização
federal, por meio do Decreto n. 19.770, de 19.3.1931, que cria uma estrutura
VLQGLFDOR¿FLDOEDVHDGDQRVLQGLFDWR~QLFR HPERUDDLQGDQmRREULJDWyULR 
submetido ao reconhecimento pelo Estado e compreendido como órgão
colaborador deste(16). Passado o interregno da Constituição de 1934, apro-
IXQGRXVHRPRGHORVLQGLFDOR¿FLDOFRUSRUDWLYLVWDDWUDYpVGD&DUWDGH
e do Decreto n. 1.402, de 5.7.1939. A essa altura já se tornara juridicamente
H[SOtFLWRRTXHIRUDSUiWLFDLQVWLWXFLRQDOGHVGHDLQYLDELOLGDGHGHFRH-
[LVWrQFLDGHTXDOTXHURXWURVLQGLFDWRFRPRVLQGLFDOLVPRR¿FLDO
&RPR WHUFHLUD iUHD GH GHVHQYROYLPHQWR GD SROtWLFD WUDEDOKLVWD R¿FLDO
FULRXVH XP VLVWHPD GH VROXomR MXGLFLDO GH FRQÀLWRV WUDEDOKLVWDV (VVH
sistema seria instaurado, inicialmente, mediante a criação das Comissões
Mistas de Conciliação e Julgamento (Decreto n. 21.396, de 21.3.1932), em
TXH Vy SRGHULDP GHPDQGDU RV HPSUHJDGRV LQWHJUDQWHV GR sindicalismo
R¿FLDO (Decreto n. 22.132, de 25.11.1932). A Constituição de 1937 (não
aplicada, é verdade), referindo-se a uma “Justiça do Trabalho”, induziria,
alguns anos após, ao aperfeiçoamento do sistema, à medida que elevava
VHXSDWDPDULQVWLWXFLRQDO$-XVWLoDGR7UDEDOKRVHULDSRU¿PHIHWLYDPHQWH
regulamentada pelo Decreto-lei n. 1.237, de 1.5.1939, sendo instalada e
passando a funcionar em 1.5.1941(17).
O sistema previdenciário, também de formação corporativa, vinculado
jV UHVSHFWLYDV iUHDV SUR¿VVLRQDLV H DRV FRUUHVSRQGHQWHV VLQGLFDWRV
R¿FLDLV FRPHoRX D VHU HVWUXWXUDGR ORJR DSyV  GR PHVPR PRGR TXH
as demais instituições do modelo justrabalhista. Nesse caso, a estruturação
SURFHGHXVH D SDUWLU GD DPSOLDomR H UHIRUPXODomR GDV DQWLJDV &DL[DV GH
Aposentadoria e Pensões, vindas da época precedente e ainda organizadas
essencialmente por empresas (a Lei Elói Chaves é de 1923, relembre-se).
Já em 1931, pelo Decreto n. 20.465, de 1.10.31, o novo governo promoveu

(15) MORAES FILHO, Evaristo de, ob. cit., p. 316.


(16) VIANNA, L. Werneck, ob. cit., p. 146-147.
(17) Apenas a Constituição de 1946 é que iria integrar, contudo, a Justiça do Trabalho no seg-
mento do Poder Judiciário. Sobre a instalação, estrutura no país e crescimento da Justiça do
Trabalho, desde 1941 até os dias atuais, consultar DELGADO, M. G.; DELGADO, G. N. Estru-
turação e desenvolvimento da justiça do trabalho no Brasil. In: DELGADO, M. G.; DELGADO,
G. N. &RQVWLWXLomR GD 5HS~EOLFD H GLUHLWRV IXQGDPHQWDLV — dignidade da pessoa humana,
justiça social e direito do trabalho. São Paulo: LTr, 2012.
120 0ඉඝකඑඋඑ඗*඗ඌඑඖඐ඗'ඍඔඏඉඌ඗

D SULPHLUD UHIRUPD DPSOLDWLYD GR DQWHULRU VLVWHPD SUHYLGHQFLiULR ¿UPDQGR


contudo, a FDWHJRULD SUR¿VVLRQDO como parâmetro(18). O núcleo essencial
do novo sistema reformulado e ampliado seriam os diversos Institutos de
$SRVHQWDGRULDV H 3HQV}HV DEUDQJHQGR FDWHJRULDV HVSHFt¿FDV H WHQGR
âmbito nacional. Com essa nova denominação, o primeiro desses órgãos
a ser instaurado foi o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos
(IAPM), mediante o Decreto n. 22.872, de 29.6.1933. Inúmeros outros órgãos
semelhantes se seguiram nos anos subsequentes.
$OHJLVODomRSUR¿VVLRQDOHSURWHWLYDFRPRPDLVXPDiUHDGHDWXDomRGD
política trabalhista do novo governo, desponta por toda essa época. Citem-se,
ilustrativamente, alguns dos inúmeros diplomas justrabalhistas: Decreto
n. 21.471, de 17.5.1932, regulamentando o trabalho feminino; Decreto n.
 GH  ¿[DQGR D MRUQDGD GH RLWR KRUDV SDUD RV FRPHUFLi-
rios, preceito que seria, em seguida, estendido aos industriários (Decreto n.
21.364, de 4.5.1932); Decreto n. 21.175, de 21.3.1932, criando as carteiras
SUR¿VVLRQDLV'HFUHWRQGHHVWDEHOHFHQGRIpULDVSDUDRV
bancários, e diversos outros diplomas que se sucederam ao longo da década
de 30 até 1943.
$~OWLPDGDVGLUHo}HVVHJXLGDVSHODSROtWLFDR¿FLDOWHQGHQWHDLPSODQWDU
o modelo trabalhista corporativista e autocrático da época traduzia-se nas
distintas ações voltadas a sufocar manifestações políticas ou operárias
DXWRQRPLVWDV RX VLPSOHVPHQWH DGYHUVDV j HVWUDWpJLD R¿FLDO FRQFHELGD 2
primeiro marco dessas ações combinadas residiria na Lei de Nacionalização
do Trabalho, reduzindo a participação de imigrantes no segmento obreiro do
País (Decreto n. 19.482, de 12.12.1930, estabelecendo um mínimo de 2/3 de
trabalhadores nacionais no conjunto de assalariados de cada empresa). A essa
PHGLGDHVWUXWXUDOVHJXLUDPVHRVGLYHUVRVLQFHQWLYRVDRVLQGLFDOLVPRR¿FLDO
PRQRSyOLRGHDomRMXQWRjV&RPLVV}HV0LVWDVGH&RQFLOLDomRH[FOXVLYLVPR
de participação nos Institutos de Aposentadorias e Pensões, etc.), incentivos
TXH VHULDP WUDQVIRUPDGRV ORJR DSyV HP H[SUHVVR PRQRSyOLR MXUtGLFR GH
organização, atuação e representação sindical. Finalmente, por quase todo
o período getulista, uma contínua e perseverante repressão estatal sobre as
lideranças e organizações autonomistas ou adversas obreiras.
O modelo justrabalhista então estruturado reuniu-se, anos após,
em um único diploma normativo, a Consolidação das Leis do Trabalho
(Decreto-lei n. 5.452, de 1.5.1943). Embora o nome reverenciasse a obra
legislativa anterior (FRQVROLGDomR), a CLT, na verdade, também alterou

(18) A respeito de tais fases e reformulações previdenciárias, ver ALLY, Raimundo Cerqueira.
Normas Previdenciárias no Direito do Trabalho. São Paulo: IOB — Informações Objetivas,
1989. p. 25-26. Consultar, ainda, a obra de DELGADO, Ignacio Godinho. Previdência Social e
Mercado no Brasil — A Presença Empresarial na Trajetória da Política Social Brasileira. São
Paulo: LTr, 2001.
&ඝකඛ඗ඌඍ'එකඍඑග඗ඌ඗7කඉඊඉඔඐ඗ 121

H DPSOLRX D OHJLVODomR WUDEDOKLVWD H[LVWHQWH DVVXPLQGR GHVVH PRGR D


natureza própria a um código do trabalho.
Análise Comparativa — $ UHÀH[mR FRPSDUDWLYD HQWUH DV GXDV
primeiras fases do Direito do Trabalho no País evidencia que se passou, de
um salto, da fase de manifestações incipientes e esparsas para a fase da
institucionalização do ramo jurídico trabalhista, sem a essencial maturação
político-jurídica propiciada pela fase da sistematização e consolidação (à
GLIHUHQoDGRVH[HPSORVHXURSHXVPDLVVLJQL¿FDWLYRV 
&RQVWUXLQGRVH HVVD LQVWLWXFLRQDOL]DomRR¿FLDOL]DomR DR ORQJR GH XP
demorado período político centralizador e autoritário (de 1930 a 1945), o
ramo justrabalhista veio a se institucionalizar, consequentemente, sob uma
matriz corporativa e intensamente autoritária. A evolução política brasileira
não permitiu, desse modo, que o Direito do Trabalho passasse por uma
IDVH GH VLVWHPDWL]DomR H FRQVROLGDomR, em que se digladiassem (e se
PDWXUDVVHP SURSRVWDVGHJHUHQFLDPHQWRHVROXomRGHFRQÀLWRVQRSUySULR
âmbito da sociedade civil, democratizando a matriz essencial do novo ramo
MXUtGLFR$¿UPDQGRVHXPDLQWHQVDHORQJDDomRDXWRULWiULDR¿FLDO SyV 
VREUH XP VHJPHQWR VRFLRMXUtGLFR DLQGD VHP XPD HVWUXWXUD H H[SHULrQFLD
largamente consolidadas (como o sistema anterior a 30), disso resultou
um modelo fechado, centralizado e compacto, caracterizado ainda por
incomparável capacidade de resistência e duração ao longo do tempo.
Efetivamente, o modelo justrabalhista construído nesse período
manteve-se quase intocado nas décadas posteriores a 1930. A fase
de institucionalização autoritária e corporativista do Direito do Trabalho
estende-se, assim, de 1930 até pelo menos a Constituição de 1988. Sobre
essa continuidade comenta o cientista político Leôncio Martins Rodrigues:
“Um dos fatos que chama a atenção na história do sindicalismo brasileiro
pDH[WUDRUGLQiULDSHUVLVWrQFLDGRWLSRGHVLQGLFDWRHVERoDGRDSyVDYLWyULD
de Vargas e completado durante o Estado Novo. Atribuiu-se sua criação
j LQÀXrQFLD GDV GRXWULQDV IDVFLVWDV HQWmR HP PRGD SULQFLSDOPHQWH j
Carta do Trabalho italiana. No entanto, depois de 1945, com a chamada
redemocratização do país, o modelo de organização sindical que parecia ter
VLGR XPD LPSRVLomR DUWL¿FLDO GD GLWDGXUD YDUJXLVWD VRE LQÀXrQFLD IDVFLVWD 
não sofreu alterações que afetassem sua essência”(19).
Na realidade, o FRQMXQWR do modelo justrabalhista oriundo do período
HQWUHHpTXHVHPDQWHYHTXDVHLQWRFDGR¬H[FHomRGRVLVWHPD
previdenciário que, na década de 60, foi afastado da estrutura corporativa
sindical e dissociado desse tradicional modelo justrabalhista, não se assiste,
quer na fase democrática de 1945-1964(20), quer na fase do regime militar

(19) RODRIGUES, Leôncio Martins. 7UDEDOKDGRUHV6LQGLFDWRVH,QGXVWULDOL]DomR. São Paulo:


Brasiliense, 1974. p. 94. A observação em parênteses está no original.
(20) No período da República Democrático-Desenvolvimentista (1945-1964), esse modelo
trabalhista viu-se acrescentar de uma instituição de nítido caráter político-eleitoral: o Partido
122 0ඉඝකඑඋඑ඗*඗ඌඑඖඐ඗'ඍඔඏඉඌ඗

LPSODQWDGR HP  j LPSOHPHQWDomR GH PRGL¿FDo}HV VXEVWDQWLYDV QR


modelo justrabalhista corporativo imperante no país.(21)

3. Transição Democrática do Direito do Trabalho Brasileiro: a


Constituição de 1988

A persistência do modelo justrabalhista tradicional brasileiro sofreu seu


mais substancial questionamento ao longo das discussões da Constituinte
de 1987/88 e na resultante Constituição de 1988.
$ H[LVWrQFLD H D IRUoD GHVVH TXHVWLRQDPHQWR FRP DV PRGL¿FDo}HV
LQFUHPHQWDGDVSHORQRYR7H[WR0i[LPRGD5HS~EOLFDpTXHSHUPLWHFRQ-
cluir-se estar-se diante de nova fase do Direito do Trabalho no País: a da
superação democrática das linhas centrais do antigo modelo corporativo de
décadas atrás.
A compreensão dessa nova fase de transição democrática do Direito do
7UDEDOKRH[LJHSRUpPTXHVHSHUFHEDTXHRWH[WRoriginal da Constituição
preservou algumas FRQWUDGLo}HVDQWLGHPRFUiWLFDV, ou seja, alguns institutos
LQDGHTXDGRVSDUDDSUySULDD¿UPDomRHGHVHQYROYLPHQWRGD'HPRFUDFLDQR
âmbito da sociedade civil e do mercado de trabalho brasileiros.
Trata-se, em suma, do preceito que mantém a unicidade e o sistema
de enquadramento sindical (art. 8º, II, CF/88); do preceito que reconhece
a validade da contribuição sindical obrigatória, de origem legal (art. 8º, IV,
LQ ¿QH, CF/88); dos preceitos originais de 1988 que mantinham — e até
reforçavam — a representação corporativa classista na Justiça do Trabalho
(antiga redação dos artigos 111, 112, 113, 115 e 116, CF/88); do preceito
constitucional original de 1988 que mantinha amplo poder normativo judicial
FRPRFRQFRUUHQWHHVWDWDOSDUDDQHJRFLDomRFROHWLYDWUDEDOKLVWD DQWLJRWH[WR
do art. 114, § 2º, CF/88).
Contudo, houve avanços constitucionais no período seguinte à promul-
gação da Constituição da República que tiveram o condão de aperfeiçoar e

Trabalhista Brasileiro. A respeito, ver DELGADO, Lucilia de Almeida Neves. PTB: do Getulismo
DR5HIRUPLVPR  . São Paulo: Marco Zero, 1989.
(21) Cabe ressaltar, de todo modo, que no início da década de 1960 o modelo tradicional
implantado em 1930/40 recebeu um aperfeiçoamento de caráter democrático e inclusivo, que
VHHYLGHQFLRXSHODH[WHQVmRGDOHJLVODomRHFRQ{PLFRSUR¿VVLRQDOWUDEDOKLVWDSDUDRFDPSR
EUDVLOHLURRQGHDLQGDUHVLGLDJUDQGHSDUWHGDSRSXODomRGR3DtV(VVDH[WHQVmRDFRUUHXSRU
força da Lei n. 4.214/63, que entrou em vigor em 2.6.1963 (“Estatuto do Trabalhador Rural”).
Na verdade, mostrou-se, na época, tão impactante esse aperfeiçoamento democrático e inclu-
VLYRQRFRQWH[WRGDVSROtWLFDVVRFLDLVEUDVLOHLUDVTXHpFRPXPVHFRQVLGHUDUDVXDRFRUUrQFLD
como um dos fatores que conduziu à derrubada do Governo João Goulart poucos meses
depois, em março/abril de 1964.

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