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VEGETAL
FISIOLOGIA VEGETAL
Fortaleza-Ceará
Setembro de 2007
CONTEÚDO
UNIDADE PÁGINA
Fotossíntese -----------------------------------------------------------------------------------------102
Respiração ------------------------------------------------------------------------------------------155
Fotomorfogênese ----------------------------------------------------------------------------------285
Frutificação ----------------------------------------------------------------------------------------319
“A convivência do homem com as plantas é muito antiga, sendo que primitivamente ele
as utilizava na fabricação de seus instrumentos de caça e de pesca e na alimentação por meio
do extrativismo e de pequenos plantios. No entanto, o crescimento populacional e os
problemas a ele associados, proporcionaram mudanças na postura do homem de puramente
extrativista para descobridor, em níveis cada vez mais profundos, do vasto mundo vegetal.
Essas descobertas envolveram uma gama de ciências inter-relacionadas, dentre as quais a
Fisiologia Vegetal, ciência que estuda o funcionamento das plantas, teve e continua tendo o
seu lugar de destaque. O ensino dessa disciplina na UFC, como na maioria das universidades
brasileiras, tem enfrentado dificuldades, dentre as quais destaca-se a inexistência de livros-
textos atualizados em língua portuguesa” (Azevedo & Lacerda, Anais do X Encontro de
Iniciação à Docência, UFC, p. 159, 2002). Essa apostila, portanto, foi construída com o
objetivo de atender as necessidades dos estudantes da disciplina Fisiologia Vegetal do
Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular/UFC.
Esse trabalho contempla, nas suas 356 páginas, o programa completo da disciplina
Fisiologia Vegetal, dividido em treze unidades. Ele engloba um pouco das nossas
experiências com os mais diversos assuntos abordados e, evidentemente, foi concebido a
partir da leitura de diversos trabalhos científicos e dos principais livros que citamos a seguir:
Relações Hídricas (Ferreira, 1992), Water Relations of Plants and Soils (Kramer and
Boyer, 1995), Mineral Nutrition of Higher Plants (Marschner, 1995), Fisiologia Vegetal
(Ferri, 1985), Plant Physiology (Salisbury & Ross, 1991), Plant Physiology (Taiz & Zeiger,
1991, 1998, 2002), Introduction to Plant Physiology (Hopkins, 2000), Ecofisiologia
Vegetal (Larcher, 2000), Seeds (Bewley & Black, 1994). A elaboração desse texto teve as
importantes contribuições do Prof. José Tarquínio Prisco (Introdução à Fisiologia Vegetal e
informações obtidas de suas notas de aula, notadamente na área de Relações Hídricas) e do
Pesquisador da Embrapa/CNPAT Dr. Marlos Aves Bezerra (Transformação Genética de
Plantas e informações pessoais sobre Fotossíntese e Relações Hídricas de Plantas). Essa nova
versão da Apostila, sua 3a Edição, teve também a valiosa contribuição do Prof. Joaquim Enéas
Filho, que fez uma revisão completa do texto. Além disso, não posso esquecer do apoio da
Instituição Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular que me acolheu durante a
realização desse trabalho, na condição de Professor Substituto.
A utilização da Apostila Fisiologia Vegetal tem tido boa aceitação por parte dos
estudantes, o que foi revelado por um estudo qualitativo que coletou opiniões dos estudantes
do semestre 2001.2 (Guilherme, Azevedo & Lacerda, trabalho enviado para XI Encontro de
Iniciação à Docência/UFC, 2002). Assim, espero que esse trabalho continue sendo útil para os
estudantes dos Cursos de Agronomia e de Ciências Biológicas e também para os futuros
profissionais que dele necessitarem. E, se o tempo não nos for ingrato ou se nós não formos
ingratos com ele, é possível que um dia essas letras estejam preenchendo as páginas de um
livro de fácil leitura e de grande utilidade pública.
Claudivan F. Lacerda
UNIDADE I
O estudo das plantas desperta interesse, não só por simples curiosidade, mas,
principalmente, devido ao fato de serem essenciais e imprescindíveis ao homem. A história do
Homo Sapiens em nosso planeta é uma demonstração inequívoca de que desde os primórdios
de sua existência, ele depende direta ou indiretamente, das plantas que vivem na superfície
terrestre, nos oceanos, nos lagos e nos rios. É por esta razão que muitos afirmam que a
história da Botânica confunde-se com a história da humanidade. As populações primitivas se
interessaram pelas plantas, não só porque forneciam madeira que era utilizada para fabricar
suas moradias, seus instrumentos de caça e de pesca, mas, principalmente, devido às
propriedades alimentícias, tóxicas e medicinais dos vegetais.
O homem contemporâneo continua estreitamente dependente das plantas.
Considerando-se apenas as plantas possuidoras de sistema vascular (pteridófitas,
gimnospermas e angiospermas), verifica-se que elas fornecem: alimentos para o homem e
animais; madeira para moradia e mobiliário; fibras para vestimenta; medicamentos para
prevenção e cura de doenças em animais e no homem; papel, borracha, temperos, bebidas
alcoólicas (aguardente, whisky, gim, rum, vodka, vinho, licor, cerveja, etc.) e não alcoólicas
(sucos, chá, café, chocolate, etc.); combustíveis e seus derivados (madeira, álcool, querosene,
gasolina, asfalto, plásticos, fertilizantes, etc.). Além disto, as plantas contribuem para o
embelezamento do meio físico e manutenção do oxigênio atmosférico em níveis que
permitem a vida animal em nosso planeta. Esta dependência gerou o interesse no estudo dos
diversos aspectos do vegetal, tais como: sua estrutura (morfologia) e a origem dos diferentes
tecidos e órgãos que compõem o corpo da planta (morfogênese); como as características do
vegetal são transmitidas de geração em geração (genética); como as plantas são classificadas e
quais as suas relações filogenéticas (taxonomia e sistemática); como as plantas estão
distribuídas na superfície terrestre (fitogeografia); como as plantas interagem com o ambiente
que as cerca (ecologia); e, finalmente, como os vegetais crescem e se multiplicam
(Fisiologia).
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No estudo dos seres vivos a relação entre estrutura e função, apesar de complexa, pode
ser visualizada como interdependente, ou seja, a função depende da estrutura e esta última é
criada (gerada) pela função. A Figura 1 ilustra estas inter-relações, partindo-se do nível
organizacional mais simples para o mais complexo.
ASPECTO ASPECTO
ORGANIZACIONAL FUNCIONAL
ORGANISMOS CRESCIMENTO
M F E
DESENVOLVIMENTO
ÓRGÃO O I
S R S
F I
TECIDOS O O
L L
O O ATIVIDADE FÍSICA E
CÉLULAS G G QUÍMICA DOS
I I COMPONENTES CELULARES
(METABOLISMO)
A A
ORGANELAS
MOLÉCULA
F Q
S U
Í
S Í
M ATIVIDADE FÍSICA E QUÍMICA
ÁTOMOS I E DOS COMPONENTES DA
C I MATÉRIA
A C
PRÓTONS, A
ELÉTRONS,
3
A análise mais acurada deste esquema (Figura 1) mostra que as plantas possuem
moléculas inertes, as quais são formadas de átomos, que, por sua vez, são constituídos de
prótons, elétrons, nêutrons, etc. Por outro lado, a matéria inanimada encontrada no ambiente
que nos rodeia e representada por rochas, areia, barro, atmosfera, solução aquosa de rios,
lagos, lagoa e oceanos, também é constituída dos mesmos componentes. Quando estas
moléculas, proveniente dos vegetais ou da matéria inanimada, são isoladas e examinadas
individualmente, elas obedecem às leis da física e da química que descrevem o
comportamento (atividade) da matéria inanimada. Apesar de serem constituídos dos mesmos
componentes encontrados na matéria não viva, os vegetais são bem mais complexos e
altamente organizados. A matéria inanimada consiste de uma mistura ao acaso de
compostos químicos, que são relativamente simples, enquanto que nos vegetais as moléculas
são agrupadas em organelas bem estruturadas e que são componentes celulares. Estas, por sua
vez, estão organizadas em tecidos, que se agrupam para formar os diferentes órgãos da planta.
As atividades físicas e químicas dos componentes da matéria são objeto de estudo da
física e da química, respectivamente. Entretanto, o comportamento (atividade) físico (a) e
químico (a) dos componentes celulares, conhecido como metabolismo, é estudado na
Bioquímica e na Fitofisiologia (Fisiologia Vegetal). Os efeitos do metabolismo no
crescimento e no desenvolvimento das plantas, bem como os efeitos das variações ambientais
no metabolismo e por via de conseqüência, no crescimento e desenvolvimento, são também
objeto de estudo da Fisiologia vegetal.
Pode-se ainda concluir que a organização estrutural das macromoléculas, organelas,
células, tecidos e órgãos do vegetal é fundamental para um crescimento e
desenvolvimento equilibrados (Figura 1). Portanto, mudanças no ambiente que redundem
em alterações estruturais, quase sempre, resultam em efeitos sobre o metabolismo e, por via
de conseqüência, sobre o crescimento e desenvolvimento do indivíduo. Em resumo, o
perfeito funcionamento do vegetal depende, basicamente, de sua organização estrutural
e da atividade física e química dos componentes celulares. A conseqüência disto é que os
fitofisiologistas, além dos conhecimentos de anatomia e de citologia, devem possuir uma boa
base de física e de química, pois o estudo da Fisiologia Vegetal fundamenta-se e utiliza
metodologias próprias destas ciências.
Quando se analisa o efeito das variações ambientais sobre o crescimento e
desenvolvimento do vegetal verifica-se que isto depende, em grande parte, do genótipo do
indivíduo. Para que se possa entender isto se deve ter em mente que o crescimento e
desenvolvimento dependem das atividades físicas e químicas dos componentes celulares, que,
por sua vez, são regulados graças a interação entre o patrimônio genético do indivíduo –
potencial hereditário - e o meio ambiente (Figura 2). Outra conclusão que pode ser extraída
desta figura é que quando qualquer fator ambiental afeta o crescimento e desenvolvimento de
um indivíduo ele só poderá fazê-lo através de mudanças no metabolismo do indivíduo. Isto
significa que para que se possa entender claramente como o crescimento e desenvolvimento
do vegetal são afetados por determinado fator ambiental, precisa-se saber como ele afeta as
atividades físicas e químicas dos componentes celulares deste indivíduo.
Visualiza-se melhor o significado da interação genótipo-ambiente quando se semeia, em
determinada área, um grupo de sementes de arroz e outro de feijão. O patrimônio genético
contido no genoma de cada uma destas espécies garantirá que as plantas produzidas a partir
das sementes de cada uma delas tenham as características morfológicas (fenótipo) do arroz ou
do feijão. Entretanto, é o ambiente que irá determinar se as plantas serão vigorosas ou
raquíticas, turgescentes ou murchas, se irão florescer ou permanecer em estado vegetativo, e
assim por diante. Como será visto posteriormente, dos fatores ambientais que afetam o
crescimento e desenvolvimento das plantas, a luz (intensidade, qualidade e duração), a
umidade (do solo e da atmosfera), a temperatura (do solo e do ar), a concentração de sais
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solúveis no solo (ânions: cloretos, sulfatos, carbonatos e bicarbonatos – raramente nitratos;
cátions: sódio, magnésio e cálcio – raramente potássio) e de gases na atmosfera (O2, CO2,
C2H4, O3, CO, SO2, H2S, HF, NO, NO2 e compostos orgânicos voláteis) são os mais
importantes. Apesar de muitos dos efeitos destes fatores ambientais no crescimento e
desenvolvimento já serem conhecidos, ainda falta muito para que se possa explicar o que
ocorre a nível celular e molecular. A compreensão do que ocorre a este nível poderá fornecer
ao homem os conhecimentos básicos indispensáveis ao desenvolvimento de métodos e
técnicas de manejo capazes, não só de otimizar a produção agrícola como também evitar
possíveis efeitos deletérios de certos fatores ambientais sobre o crescimento e
desenvolvimento dos vegetais.
CRESCIMENTO
E
DESENVOLVIMENTO
PROCESSOS E FUNÇÕES DO
ORGANISMO
POTENCIAL MEIO
HEREDITÁRIO AMBIENTE
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3. Aplicações da Fisiologia Vegetal
Além dos aspectos teóricos, que ajudam o homem a entender como as plantas nascem,
crescem e se reproduzem, os estudos da Fisiologia Vegetal fornece conhecimentos que
possibilitam um manejo mais adequado dos indivíduos e das populações vegetais cultivadas e
nativas, como se acabou de discutir.
Apesar da fitofisiologia ter aplicações na ecologia, no paisagismo e jardinagem, na
farmacologia e na fitoquímica, foi na agricultura (olericultura, fruticultura, silvicultura,
floricultura, forragicultura, e agricultura propriamente dita) onde os conhecimentos oriundos
desta ciência causaram maior impacto. Uma boa produção agrícola é conseqüência de um
crescimento e desenvolvimento adequados, os quais dependem da operação equilibrada dos
diversos processos e funções do vegetal. Examinando-se as altas produtividades observadas
na chamada agricultura moderna verifica-se que isto se deve, basicamente, a utilização de
cultivares mais produtivos (contribuição da Genética e do Melhoramento), ao uso de
fertilizantes (contribuição da Fisiologia e da Ciência do Solo), ao uso de pesticidas
(contribuição da Fitopatologia e da Entomologia), ao uso de irrigação e de máquinas
agrícolas (contribuição da Engenharia Agrícola, da Ciência do Solo e da Ecofisiologia), ao
uso de técnicas de propagação vegetativa (contribuição da Fisiologia) e, finalmente, ao uso
de técnicas de armazenamento e de transporte de sementes, de frutos e de hortaliças
(contribuição da Engenharia Agrícola e da Fisiologia). Estes fatos, por si só, demonstram
quão importante tem sido a contribuição desta ciência para o desenvolvimento da agricultura.
Convém salientar, entretanto, que a utilização inadequada de algumas destas tecnologias
tem provocado, não só o aumento exagerado no consumo de energia e de fertilizantes
provenientes de fontes não renováveis, como também tem se constituído em ameaça para a
vida em nosso planeta. Os exemplos mais conspícuos disto são a salinização e poluição dos
solos e das águas e a poluição dos alimentos decorrente do uso inadequado de defensivos
agrícolas. Além disto, o aumento constante da população de nosso planeta vai nos forçar, cada
vez mais, a utilizar áreas que hoje são consideradas inadequadas para a agricultura, devido a
falta ou excesso de água, problemas de salinidade, de sodicidade, de acidez e alcalinidade dos
solos, e, finalmente, temperaturas altas ou baixas.
Mais uma vez, os fitofisiologistas estão sendo chamados para colaborar na solução
destes problemas, através de estudos que visam:
a) O esclarecimento dos mecanismos envolvidos na absorção e transporte de
nutrientes, bem como dos de fixação simbiótica do nitrogênio atmosférico,
encontrado em algumas espécies vegetais; estas descobertas, por certo, contribuirão
para otimizar o uso de fertilizantes e poderão fornecer subsídios para que se transfira
a característica de fixar nitrogênio para espécies que não a possuem; a consecução
destes objetivos possibilitará uma grande economia de fertilizantes originados de
fontes não renováveis;
b) A compreensão dos mecanismos envolvidos na resistência aos diversos tipos de
estresses sofridos pelas plantas, a fim de que se possa desenvolver métodos e
técnicas de manejo que sejam capazes de minorar os efeitos deletérios do estresse;
informações deste tipo, quando acopladas ao trabalho de biologistas moleculares e
de melhoristas podem redundar no desenvolvimento de cultivares que sejam
produtivos e menos susceptíveis aos diferentes tipos de estresse;
c) O estudo dos mecanismos fisiológicos e bioquímicos envolvendo a relação
patógeno/planta e inseto/planta; uma melhor compreensão do que ocorre na
fisiologia das plantas susceptíveis e daquelas que são resistentes ao ataque do
patógeno ou inseto poderá fornecer dados fundamentais para o controle biológico
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das doenças e pragas, e, até mesmo possibilitar a descoberta de “medicamentos
curativos”.
LEITURAS RECOMENDADAS
RAVEN, P. H., EVERT, R. F. & EICHHORN, S. E. Biology of Plants. 5th ed., Worth
Publishers, Inc., New York, USA, 791p.
AUTORES DIVERSOS: Annual Review of Plant Physiology. Publicação anual que teve seu
primeiro volume publicado em 1950 e em 1988 (vol. 39) passou a denominar-se de Annual
Review of Plant Physiology and Plant Molecular Biology. Ann. Ver., Inc. (ed.), Palo Alto,
California, USA.
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UNIDADE II
1. INTRODUÇÃO
Átomos (C, H, O e N)
⇓
Moléculas (aminoácidos, glicose, ácidos graxos, etc.)
⇓
Macromoléculas (proteínas, celulose, lipídios, etc.)
⇓
Células (membranas, paredes, organelas, etc.)
⇓
⇓
Tecidos ⇒ Órgãos ⇒ Organismo
Em todos os casos citados acima, a estrutura está apta a realizar uma ou mais funções ou
processos específicos, os quais, normalmente, não podem ser realizados por outra estrutura
vegetal distinta. Por exemplo, não podemos imaginar, como algo natural, que a fotossíntese
seja realizada pelas células das raízes. Isso sugere a existência de uma especificidade entre a
estrutura e a função, podendo a necessidade em realizar determinada função ter,
evolutivamente, gerado ou moldado uma determinada estrutura. Em outras palavras, “A
ESTRUTURA parece ter sido gerada pela FUNÇÃO”. Por exemplo, a evolução das
plantas terrestres a partir de aquáticas e o aumento do tamanho das plantas geraram a
necessidade de sistemas para aquisição e transporte de água e minerais a longa distância
(funções). A partir da necessidade destas funções ocorreu a evolução dos sistemas de
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absorção e de condução de água (estruturas). Hoje sabemos que o crescimento das raízes
(estrutura) dentro do solo é fundamental para a absorção de água e nutrientes (função) e que o
xilema (estrutura) é fundamental para o transporte desses materiais para as folhas (função).
Neste capítulo serão abordados os seguintes itens:
• Classificação dos organismos vivos e os princípios básicos da vida vegetal;
• Estrutura da célula vegetal e as funções desempenhadas por cada uma de suas partes;
• Os tecidos vegetais e suas funções;
• As estruturas básicas e funções de raízes, caules e folhas;
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(A) Bacteria Archeae Eucarya
(B) Eubacteria
Archeae – Archeae–
Protista (protozoa) Chromista Plantae Fungi Animalia
bacteria zoa
Golden algae
Dinoflagellates
Archaebacteria
Zooflagellates
Brown algae
Water molds
Green Algae
Archezoans
Red Algae
Euglenoids
Eubacteria
Animals
Diatms
Plants
Ciliates
Fungi
X
C
C X
X C
X
C
Loss of chloroplasts
C
Chloroplast derived from
eukaryotic cell (probaly red alga)
Endosymbiotic events
Universal
(C) ancestor
Figura 1 – Esquema de classificação natural e filogenia dos organismos vivos. (A) os três
domínios de vida; (B) divisão dos organismos em dois reinos procarióticos e seis
reinos eucarióticos; (C) Filogenias hipotéticas, mostrando a origem dos principais
grupos de eucariotos. O aparecimento do núcleo, mitocôndria e cloroplasto e a
perda do cloroplasto, são indicados (Campbell, 1996, citado por Taiz & Zeiger,
1998).
O reino Plantae, que nos interessa mais diretamente, inclui as algas vermelhas e verdes,
bem como as como plantas. Dentro da perspectiva da fisiologia vegetal esta classificação é
interessante, visto que as algas verdes têm sido amplamente utilizadas como modelos no
estudo de processos fisiológicos, como fotossíntese, nutrição mineral, fotomorfogênese, etc.
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As plantas terrestres, por sua vez, incluem as briatas (musgos, hepáticas e anterófitas),
pteridófitas (plantas vasculares, como as samambaias) e as plantas produtoras de sementes
(gimnospermas e angiospermas).
Como o grupo de plantas dominante sobre a terra e por causa da sua importância
econômica e ecológica, as Angiospermas têm sido estudadas muito mais intensivamente do
que outros tipos de plantas, portanto este curso de Fisiologia Vegetal será direcionado para
elas.
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3. OS PRINCÍPIOS BÁSICOS QUE NORTEIAM A VIDA VEGETAL
4. A CÉLULA VEGETAL
PAREDE CELULAR
Citosol – é a solução hidrofílica dentro da célula, onde estão mergulhadas as organelas, rico
em moléculas orgânicas;
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Organelas – Mitocôndrias, Plastídios, Retículo endoplasmático, complexo de Golgi,
Vacúolos, Peroxissomos (Glioxissomos), Oleossomos;
Figura 2 – Representação diagramática de células típicas, animal e vegetal. Note que o maior
tamanho, e as presenças de parede celular, cloroplastos e grandes vacúolos
diferenciam as células vegetais das células animais (Alberts, 1994)
As células são caracterizadas não somente pelo seu conteúdo e organização interna, mas
também por uma complexa mistura de materiais extracelulares que, nas plantas é referida
como parede celular (a parede celular diferencia as células vegetais das células animais). Esta
parede é constituída, principalmente, de carboidratos, proteínas e de algumas substâncias
complexas (Tabela 1). Estes componentes são sintetizados dentro da célula e transportados
através da membrana plasmática para o local onde eles se organizam.
A parede celular possui diversas funções:
• Atua como um exoesqueleto celular, possibilitando a formação de uma pressão
positiva dentro da célula (turgescência) e, consequentemente, a manutenção da
forma da célula;
• Por resistir à pressão de turgescência, ela se torna importante para as relações
hídricas da planta;
• A parede celular permite a junção de células adjacentes;
• Determina a resistência mecânica das estruturas do vegetal, permitindo que muitas
plantas cresçam e se tornem árvores de grandes alturas;
• A resistência mecânica das paredes do xilema também permite que as células
resistam às fortes tensões criadas dentro dos vasos, o que é fundamental para o
transporte de água e minerais do solo até as folhas;
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• Em sementes, os polissacarídeos da parede das células do endosperma ou dos
cotilédones funcionam como reservas metabólicas. Na maioria das paredes
celulares, isso não ocorre;
• Alguns oligossacarídeos presentes na parede celular podem atuar como moléculas
de sinalização, durante a diferenciação celular e durante o reconhecimento de
patógenos e simbiontes.
• Embora a parede celular seja permeável para pequenas moléculas, ela atua como
uma barreira à difusão de macromoléculas, sendo a principal barreira à invasão de
patógenos.
Pectinas Homogalacturonano
Ramnogalacturonano
Arabinano
Galactano
Estruturalmente, pode-se dividir a parede celular, de fora para dentro, em: Lamela
Média, Parede Primária e Parede Secundária.
A Lamela Média é uma fina camada de material, considerada o cimento que promove
a junção de paredes primárias de células adjacentes. É constituída de substâncias pécticas
(ácido péctico, pectato de cálcio e de magnésio) e de proteínas (não são as mesmas
encontradas no restante da parede celular). A lamela média juntamente com a parede primária
origina-se da placa celular que é formada durante a divisão celular (telófase).
As Paredes Primárias são formadas em células jovens em crescimento. Algumas
paredes primárias, tais como aquelas do parênquima de bulbos de cebola, são muito finas (100
nm) e possuem arquitetura simples. Outras paredes primárias, tais como aquelas encontradas
em colênquima ou em epidermes, podem ser bem mais espessas e conter múltiplas camadas.
A parede primária é constituída de celulose, hemiceluloses, pectinas, proteínas e
compostos fenólicos (Tabela 2). A celulose é uma molécula longa, não ramificada, formada
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de resíduos de glicose unidos por ligação β-1,4, sendo sintetizada na membrana plasmática
pelo complexo enzimático contendo a celulose sintase. Uma única molécula de celulose,
sintetizada por esse complexo enzimático, pode conter acima de 3.000 unidades de glicose. A
junção, através de pontes de hidrogênio, de 20 a 40 cadeias individuais de celulose formam as
Microfibrilas (Figura 3), as quais possuem espessura de 5 a 12 nm.
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A parede primária da célula também contém aproximadamente 10% de glicoproteínas
(proteínas contendo açúcares ligados), as quais são ricas no aminoácido hidroxiprolina. Estas
glicoproteínas são conhecidas como Extensinas. Embora não se conheça a precisa função das
extensinas, acredita-se que elas contribuem para a rigidez da parede celular, ou seja, elas são
proteínas estruturais (Figura 3).
As paredes secundárias são formadas após a célula parar de crescer. Elas são ricas em
celulose e lignina (Tabela 2). No entanto, elas podem conter polissacarídeos não celulósicos
(principalmente aqueles classificados como hemiceluloses) e proteínas. A parede secundária
pode tornar-se altamente especializada em estrutura e função, refletindo o estado de
especialização celular. As células do xilema de árvores, por exemplo, apresentam paredes
secundárias bastante espessas, que são reforçadas pela presença de lignina. Isto é fundamental
para o transporte de água a longa distância.
Depois da celulose, a lignina é a substância orgânica mais abundante nas plantas. Trata-
se de um composto fenólico, formado a partir de três álcoois: coniferil, cumaril e sinapil, os
quais são sintetizados, dentro da célula, a partir do aminoácido fenilalanina. As moléculas dos
três álcoois, uma vez na parede celular, sofrem a ação de enzimas que os convertem para a
forma de radicais livres. Estes radicais livres são altamente reativos e se unem ao acaso,
produzindo a lignina (Figura 4). Esta é a grande diferença entre a lignina e outros
biopolímeros, como amido e celulose, ou seja, nestes últimos as ligações não são ao acaso.
Figura 4 – estrutura parcial de uma molécula de lignina (Taiz & Zeiger, 1998)
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Do exposto acima, vê-se que a estrutura da parede celular varia consideravelmente,
dependendo da função exercida pela célula (Figura 5). Células que têm a função de
sustentação, como fibras e esclereides, possuem parede secundária altamente lignificada. Este
também é o caso dos vasos do xilema. Por outro lado, células com elevada atividade
metabólica e células em crescimento possuem apenas parede primária. Outras células podem
possuir espessamento da parede primária, como é o caso de células epidérmicas de caules.
Nas folhas, as células-guarda (que são células epidérmicas diferenciadas) possuem
espessamento diferencial da parede celular, o que está relacionado a sua função (mudanças no
volume destas células permite a abertura ou fechamento do estômato e, consequentemente, as
trocas gasosas).
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4.2.1 Membrana plasmática
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glicerol que se liga de um lado a um grupo fosfato e do outro a dois ácidos graxos. Ligados ao
grupo fosfato pode aparecer colina, serina, etanolamina ou inositol, constituindo os diversos
tipos de fosfolipídios. Os ácidos graxos contêm entre 14 e 24 átomos de carbono, sendo
geralmente, um saturado e outro insaturado. Diferenças no comprimento da cadeia e no grau
de saturação dos ácidos graxos influenciam diretamente a estrutura da membrana. A presença
de duplas ligações provoca dobras na cadeia de carbono acarretando, um aumento na
permeabilidade da membrana.
4.2.2.1 Citosol
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4.2.2.2 Organelas
• Plastídios
• Mitocôndrias
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associada aos ribossomos é conhecida como RE liso. O RE liso é o principal local de
biossíntese de lipídios para a formação de membranas (Figura 7).
• Oleossomos
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molécula de glicerol esterificada com três ácidos graxos) durante o desenvolvimento da
semente. Estes óleos são estocados em organelas conhecidas como oleossomos (também
chamadas de corpos lipídicos ou esferossomos). Estas organelas são as únicas que são
circundadas por uma meia membrana.
Os triacilgliceróis contidos nos oleossomos de sementes, não são móveis na planta e,
portanto, precisam ser degradados para uma forma orgânica móvel (sacarose), durante a
germinação. Neste processo, os triacilgliceróis são inicialmente degradados pela enzima
Lipase, liberando o glicerol e os três ácidos graxos. Os ácidos graxos vão para o glioxissomo,
onde é dada continuidade no processo de conversão de lipídio para sacarose. A sacarose é em
seguida transportada para o eixo embrinário, servindo como fonte de energia para o
crescimento da plântula.
• Vacúolos
Os vacúolos são organelas circundadas por uma única membrana conhecida como
tonoplasto. As células meristemáticas têm numerosos vacúolos pequenos. Já nas células
maduras, o vacúolo é um compartimento único que pode ocupar de 80 a 90% do volume
celular.
Os vacúolos são responsáveis pelo balanço hídrico celular, além de ter outras deferentes
funções e propriedades, dependendo do tipo de célula em que ele ocorre:
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• Microcorpos
Catalase
2 H2 O2 H2 O + O2 (o peróxido de hidrogênio é tóxico e precisa ser
degradado pela planta)
4.2.3. Núcleo
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Transcrição Tradução
DNA mRNA Proteínas
Replicação
DNA
4.3 O Citoesqueleto
A conexão de células vizinhas através dos plasmodesmas, cria uma rede contínua de
citoplasmas em toda a planta, conhecida como Simplasto. De maneira similar, estas células
produzem uma rede de espaços extracelulares, conhecida como Apoplasto. O apoplasto
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Figura 9 – Plasmodesma. (A) micrografia eletrônica mostrando os plasmodesmas conectando
células adjacentes; (B) diagrama mostrando o relacionamento entre a membrana
plasmática, retículo endoplasmático e o desmotúbulo (Raven, 2001)
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dicotiledôneas e gimnospermas. No corpo secundário destes órgãos encontramos, de fora
para dentro, periderme, floema secundário, xilema secundário.
c) Tecido vascular
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de açúcares e outras substâncias no floema. Diferente das células condutoras do xilema, as
células condutoras do floema são vivas quando funcionais. No entanto, elas não possuem
núcleo e vacúolos centrais, e possuem relativamente poucas organelas citoplasmáticas.
No corpo vegetativo de uma planta podemos distinguir três órgãos: folha, caule e raiz
(Figura 10).
Estudos da anatomia desses órgãos, em cortes transversais, permitem as seguintes
observações:
a) Folhas
As folhas são estruturas tipicamente laminares, presas aos caules através do pecíolo,
sendo o principal órgão fotossintetizante. Os locais de inserção de folhas no caule são
conhecidas como nó e a região entre dois nós é conhecida como entrenó. A lâmina foliar,
também conhecida como limbo, possui uma epiderme superior (adaxial) e uma epiderme
inferior (abaxial). Entre as duas epidermes é onde se localizam os tecidos fotossintéticos,
conhecidos como mesofilo, que significa meio da folha (Figura 10A). Uma cutícula cerosa
cobrindo as duas epidermes, principalmente a adaxial, também é observada.
O mesofilo é constituído de células de parênquima, podendo ser distinguido, na maioria
das dicotiledôneas, o parênquima paliçádico, uma a três camadas de células alongadas
localizadas abaixo da epiderme adaxial, e o parênquima esponjoso, células com formatos
irregulares e que permitem a formação de grandes espaços intercelulares (Figura 10A). Nas
folhas de monocotiledôneas, não se observa essa distinção.
As folhas também possuem uma rede de feixes vasculares (Figura 10A), contendo
xilema e floema, que são contínuos, através do pecíolo, com o tecido vascular do caule. Em
folhas de dicotiledôneas, observa-se um sistema de feixes (conhecidos como nervuras)
interconectados e de diâmetro decrescente, que asseguram o transporte de água e minerais
para cada célula fotossintética e a remoção dos produtos da fotossíntese. Em folhas de
monocotiledôneas, as nervuras são distribuídas paralelamente ao longo do limbo foliar.
b) Caules
28
cilindros vasculares e a medula (no centro). Os feixes usualmente contêm fibras
(esclerênquima), as quais contribuem para a resistência mecânica destes caules. Por outro
lado, em caules mais velhos de dicotiledôneas, que apresentam crescimento secundário,
ocorre formação de floema secundário para fora e xilema secundário para dentro, a partir do
câmbio vascular. Nestes caules, a epiderme é substituída pela periderme.
29
Figura 11 – Diagrama mostrando uma seção transversal de um caule de
monocotiledônea (A) e de caule jovem de uma dicotiledônea (B)
(Hopkins, 2000)
c) Raízes
As raízes fixam a planta no solo, absorvem e transportam água e minerais do solo, além
de armazenar reservas. Nas raízes de dicotiledôneas podemos distinguir a raiz principal e
inúmeras raízes laterais.
Um diagrama de uma seção transversal de uma raiz primária (raiz que apresenta
crescimento primário) mostra uma disposição bem diferente daquela observada em caules
(Figura 10C e Figura 12). Neste diagrama podemos distinguir, de fora para dentro, as
seguintes camadas de células: epiderme, córtex, endoderme e cilindro central (estelo). No
cilindro central é que são encontrados os feixes vasculares, sendo que o xilema se localiza
mais internamente e o floema mais externamente. Também se observa uma camada de células
abaixo da endoderme, conhecida como periciclo, a partir da qual se desenvolvem as raízes
laterais.
30
Além da atividade do meristema apical, os desenvolvimentos dos caules e do sistema
radicular de gimnospermas e de dicotiledôneas dependem, também, da atividade de
meristemas laterais (ou secundários). Estes meristemas são o câmbio vascular e o felogênio,
os quais vão produzir o crescimento em diâmetro destes órgãos (Figura 13). Muitas
monocotiledôneas não formam câmbio vascular, e o pequeno crescimento radial deve-se ao
aumento em diâmetro de células não meristemáticas.
31
BIBLIOGRAFIA
FAHN, A. Plant Anatomy. 4th ed. Oxford: Pergamon Press, Inc., 1990, 588p.
HOPKINS, W. G. Introduction to Plant Physiology. 2nd ed. New York: John Wiley & Sons,
Inc., 2000, 512p.
RAVEN, P. H. Biologia Vegetal. 6ª edição. Editora Guanabara Koogan S.A. 2001, 905p.
32
ESTUDO DIRIGIDO No 01
1 – Indique as principais diferenças entre uma célula animal e uma célula vegetal.
3 – Faça uma descrição detalhada sobre a parede celular. Quais as suas funções?
Plasmalema Núcleo
Retículo Endoplasmático Vacúolo
Aparelho de Golgi Glioxissomos
Mitocôndria Peroxissomos
Cloroplasto Oleossomos
33
UNIDADE III
RELAÇÕES HÍDRICAS
RELAÇÕES HÍDRICAS
INTRODUÇÃO
A água executa papéis cruciais na vida da planta. Para cada grama de matéria orgânica
feita pela planta, cerca de 500 gramas de água são absorvidas pelas raízes, transportada
através do corpo da planta e perdida para a atmosfera. Ela representa de 80 a 95% da massa
dos tecidos em crescimento, sendo, portanto, o principal constituinte do protoplasma. É neste
ambiente aquoso que as reações metabólicas ocorrem, com a água sendo reagente ou produto
de muitas destas reações.
A alta capacidade da água de absorver calor (alto calor específico) contribui para que as
plantas não sofram tanto com as flutuações de temperatura do ambiente. É também o solvente
em que os nutrientes minerais penetram nas raízes e são transportados através da planta e em
que os fotoassimilados e outros compostos orgânicos são translocados. A entrada de água na
célula é responsável pela manutenção da turgescência e, portanto, do crescimento e, também,
pela forma e estrutura dos tecidos que não possuem rigidez.
De todos os recursos que a planta necessita para o seu desenvolvimento, a água é o mais
abundante e, ao mesmo tempo, o mais limitante para a PRODUTIVIDADE AGRÍCOLA. Isto
torna de grande importância a prática da irrigação, principalmente nas regiões de climas árido
e semi-árido. Além disso, a disponibilidade de água também limita a PRODUTIVIDADE DE
ECOSSISTEMAS NATURAIS. Assim, o entendimento dos mecanismos de absorção,
transporte e perda de água pelas plantas tornam-se muito importante.
35
Muitas das propriedades físicas e químicas da água dependem do arranjo espacial dos
átomos de hidrogênio e oxigênio. Algumas serão apresentadas abaixo:
A propriedade mais simples e, talvez, a mais importante da água, é que ela é líquida na
faixa de temperatura compatível com a vida. Em geral, os pontos de fusão e ebulição se
relacionam com o tamanho molecular e, as mudanças de estado físico para pequenas
moléculas ocorrem em temperaturas menores do que para as grandes. Isto é observado em
algumas moléculas, como amônia e hidrocarbonetos (metano e etano), as quais são agrupadas
através das fracas forças de Van der Waals e a energia requerida para mudança de estado é
relativamente pequena. Estas moléculas são encontradas como gases em temperaturas
ambientes. Com base somente no seu tamanho, era de se esperar que a água também ocorresse
na forma de vapor nas temperaturas encontradas na maior parte da terra, o que não ocorre na
realidade. Estas diferenças estão associadas à presença do oxigênio na molécula de água, o
qual introduz a polaridade e a oportunidade de formação de pontes de hidrogênio. Outras
moléculas que contêm oxigênio, como etanol e metanol, também possuem pontos de ebulição
próximos ao da água (Tabela 1).
O montante de energia requerido para converter uma substância do estado sólido para o
líquido é conhecido como calor de fusão. No caso da água, 335 J são requeridos para
converter 1 grama de gelo para 1 grama de água líquida em 0oC (Tabela 1). Este alto calor de
36
fusão da água é atribuído à grande quantidade de energia necessária para sobrepujar as forças
intermoleculares associadas às pontes de hidrogênio.
A densidade do gelo é outra importante propriedade da água. Em 0oC, a densidade do
gelo é menor do que a da água líquida. Assim, a água, diferente de outras substâncias, alcança
sua máxima densidade no estado líquido (cerca de 4oC) e não no estado sólido. Isto ocorre por
que as moléculas de água no estado líquido estão mais agrupadas (cada molécula é circundada
por cinco ou mais moléculas) do que no estado sólido (cada molécula é circundada por quatro
outras, formando um tetraedro) (Figura 2). Consequentemente, o gelo flutua na superfície de
lagos ao invés de descer para o fundo. Isto é extremamente importante para a sobrevivência
de organismos aquáticos de todos os tipos.
A B
AGREGADO
Assim como as pontes de hidrogênio aumentam a energia requerida para fundir o gelo,
elas também aumentam a energia requerida para evaporar a água. O calor de vaporização da
água, ou seja, a energia requerida para converter 1 mol de água líquida para um mol de água
na forma de vapor, é cerca de 44 kJ mol-1 em 25oC. Este alto calor de vaporização da água
significa que as plantas podem perder uma substancial quantidade de calor quando a água se
evapora das superfícies foliares. Tal perda de calor é um importante mecanismo para
regulação da temperatura em folhas de plantas terrestres que estão expostas, freqüentemente,
à luz do sol intensa.
A água pode dissolver um número de substâncias bem maior do que qualquer outro
líquido comum. Isto se deve ao caráter dipolar de suas moléculas, evidenciada pela elevada
constante dielétrica (os valores da constante dielétrica da água, metanol, etanol e benzeno, em
25oC, são 78,4, 33,6, 24,3 e 2,3, respectivamente). Esta constante dielétrica mede a
capacidade de uma substância para neutralizar a atração entre cargas elétricas. Assim, as
37
camadas de hidratação (uma ou mais camadas de moléculas de água orientadas) que
circundam os íons (ou moléculas) em solução, reduzem a possibilidade de que os íons se
recombinem para formar cristais (Figura 3).
Figura 3 – A orientação das moléculas de água em torno dos íons sódio e cloreto
(Hopkins, 2000)
e) Coesão e aderência
A forte atração mútua entre moléculas de água resultante das ligações de hidrogênio, é
também conhecida como coesão. Uma conseqüência da coesão é que a água tem uma elevada
tensão superficial, a qual é mais evidente nas interfaces entre a água e o ar. A tensão
superficial surge por que as forças coesivas entre as moléculas de água são muito mais fortes
do que a interação entre a água e o ar (Figura 4). O resultado é que as moléculas de água na
superfície são constantemente “puxadas” para dentro da massa de água. A alta tensão
superficial explica a forma esférica das gotas de água e, também, o fato de que a superfície da
água pode suportar o peso de pequenos insetos. A coesão é diretamente responsável, também,
pela capacidade de colunas de água de resistirem (sem quebrar) a elevadas tensões (pressão
negativa).
38
As mesmas forças que atraem as moléculas de água entre si, também atraem as
moléculas de água para superfícies sólidas, um processo conhecido como aderência. A água
possui grande aderência por outras substâncias que têm em sua molécula grande quantidade
de átomos de oxigênio e nitrogênio (vidro, celulose, argila, proteínas, etc.).
As propriedades de coesão e aderência, combinadas, são excepcionalmente importantes
na manutenção da continuidade de colunas de água nas plantas. Elas também explicam por
que a água ascende em tubos capilares.
2. Processos de Transporte de Água
a) Fluxo em Massa
O fluxo em massa ocorre quando uma força externa, tal como gravidade ou pressão, é
aplicada. Como resultado, todas as moléculas da substância se movem como uma massa
única. Um exemplo clássico é a água que recebemos nas torneiras de nossas casas, nas quais a
água flui em resposta a uma pressão hidrostática estabelecida pela gravidade. Como veremos
posteriormente, movimento de água por fluxo em massa é comum nos solos e no xilema de
plantas.
b) Difusão
A difusão pode ser interpretada como um movimento de uma substância, de uma região
de alta concentração para uma região de baixa concentração, acompanhado de movimentos ao
acaso de moléculas individuais. Assim, enquanto o fluxo em massa é impulsionado pela
pressão, a difusão é impulsionada pela diferença de concentração. Por exemplo, o cheiro de
um perfume ou de éter poderá se espalhar rapidamente em uma sala, se o recipiente for
deixado aberto. Isto ocorre por diferença de concentração.
A difusão é explicada pela Lei de Fick:
Js = A .Ds . ∆Cs/∆x
39
O movimento de água líquida, por diferença de concentração, é lento, de modo que a
difusão somente se torna importante para as plantas, quando se trata de transporte a curta
distância (dentro da célula ou, quando muito, de uma célula para outra). Em particular, a
difusão é um importante fator no suprimento de CO2 para a fotossíntese bem como para a
perda de vapor d’água durante a transpiração na folha.
c) Osmose
A B
A B
Nível SOLUTOS
original
40
Portanto, podemos definir OSMOSE como o movimento de água através de uma
membrana com permeabilidade seletiva devido a um gradiente de potencial hídrico.
OBS: Em geral, dizemos que o transporte de água ocorre a favor de um gradiente, ou
seja, de uma região de maior pressão e, ou concentração para uma de menor. O transporte a
favor de um gradiente é denominado de transporte passivo.
3. O Potencial Hídrico
a) Definição
41
potencial químico pelo volume de um mol de água (Vw = volume molal parcial da água). Isso
permitiu transformar a unidade para pressão, a qual é mais facilmente mensurável.
106 dina x cm-2 = 1 bar = 0,987 atm (atmosfera) = 0,1 MPa (megapascal)
Ψw = µw - µow
Vw
Em geral, a energia livre da água pode ser influenciada por quatro principais fatores:
concentração, pressão, forças de superfície e coloidais e gravidade. Assim, podemos
representar o potencial hídrico (Ψw ) com os seguintes componentes:
Ψ w = Ψs + Ψp + Ψ m + Ψg
42
xilema de plantas transpirando, ou pode ser igual a zero, como nas células em estado de
plasmólise incipiente.
Ψg = ∂w . g . h
É importante destacar que o potencial hídrico representa a força total que determina a
direção do movimento da água. Isto quer dizer que a direção do movimento de água é
determinada somente pela diferença de Ψw entre dois pontos (células adjacentes, por
exemplo), e não pela diferença de um dos seus componentes isolado (Figura 6).
ΨS = - 0.5
43
OBS 1: Em muitas situações o valor do Ψg é desprezível e o Ψw pode ser expresso
como:
Ψw = Ψp + ·s
OBS 2: Quando uma solução tem Ψs = - 0,5 MPa a π = 0,5 MPa , ou seja, o potencial
osmótico é negativo e a pressão osmótica é positiva.
a) Componentes
Ψ w = Ψs + Ψp
TC = m (P – Y)
44
TC = taxa de crescimento; m = módulo de elasticidade da parede celular; P ou Ψp representa o
potencial de turgescência e Y representa a pressão limite.
• Para manter a rigidez das células e a forma dos tecidos não lignificados. Por exemplo, as
folhas podem murchar se a pressão de turgescência for igual a zero.
Enquanto a solução dentro da célula pode ter um valor positivo de pressão, fora dela
pode ter valor negativo. Por exemplo, no xilema de plantas transpirando, desenvolve-se uma
pressão negativa que pode atingir valores de –1,0 MPa ou menor. A magnitude dessa pressão
negativa nas paredes celulares e no xilema varia consideravelmente, dependendo da taxa de
transpiração e da altura da planta. Ao meio dia, quando a transpiração é máxima, a pressão
negativa no xilema alcança o menor valor (mais negativo). Durante a noite, quando a
transpiração é baixa e a planta se reidrata, o valor tende a ser relativamente maior.
b) Diagrama de Höfler
Em 1920, o fisiologista austríaco K. Höfler mostrou em um diagrama como variam Ψw,
Ψs e Ψp quando uma célula sai da situação de célula em plasmólise incipiente até completa
turgescência (Figura 7).
Ψw = Ψs + Ψp + Ψm + Ψg
Ψw = - 0,4 + 0 + 0 + 0
Ψw = - 0,4 MPa
A solução externa na qual a célula está submersa tem um potencial osmótico de – 0,1
MPa. O Ψm será igual a zero em virtude de ser uma solução verdadeira e não apresentar
partículas coloidais. Por ser uma solução aberta, está necessariamente em equilíbrio com a
pressão atmosférica reinante, e Ψp = 0. Assim o Ψw da solução externa será:
Ψw = Ψs + Ψp + Ψm + Ψg
45
Pressure (arbitrary units)
Quando a célula entra em contato com a solução, a água desloca-se para o seu interior
seguindo o gradiente de potencial hídrico (∆Ψw) favorável. A entrada de água induz um
aumento do Ψp até que o Ψw da célula seja igual ao da solução externa, alcançando o
equilíbrio dinâmico. O Ψs da célula não será modificado em virtude desta célula hipotética ter
paredes totalmente rígidas e não experimentar qualquer modificação de volume e, portanto,
nenhuma alteração na concentração da solução celular. O volume da solução externa é
considerado como sendo muito grande em relação ao volume celular, de tal maneira que o Ψs
não sofre alteração com o movimento de água.
Na situação de equilíbrio, a célula terá um Ψw = - 0,1 MPa, o mesmo da solução
externa. Como o Ψs da célula não se altera, temos:
Ψw = Ψs + Ψp
- 0,1 = - 0,4 + Ψp
Ψp = 0,3 MPa
46
É importante destacar que as discussões acima tratam de uma célula hipotética. As
paredes celulares, na realidade, não são totalmente rígidas, mas elásticas, o que implica numa
variação de volume celular em função da pressão de turgescência. A modificação no volume
celular induz uma variação no Ψs, uma vez que há entrada de água e a concentração da
solução da célula é alterada.
a) Uma célula em estado de plasmólise incipiente (Ψp = 0 MPa) com o volume igual a 1,0 é
colocada em água pura, alcançando posteriormente o equilíbrio, e ficando com o volume
final igual a 1,5. Considerando o Ψs = - 0,9 MPa, calcule:
- O Ψw inicial.
- O Ψs final
(Ψs )i.Vi = (Ψs )f.Vf ⇒ (-0,9).(1,0) = (Ψs )f. 1,5 ⇒ (Ψs )f = - 0,6 MPa
- O Ψp da célula no equilíbrio
Como a célula está em equilíbrio dinâmico com a água pura, o Ψw da célula deverá ser
igual a zero. Assim,
47
c) Uma célula com Ψs = - 1,5 MPa e Ψp = 0,1 MPa foi imersa em uma solução de volume
infinito, cujo Ψs = - 0,3 MPa. No momento do equilíbrio a célula havia aumentado de ¼.
Qual era o Ψp da célula no momento do equilíbrio?
RESOLVA:
48
d) Métodos de determinação do potencial hídrico em tecidos vegetais
49
Na prática, amostras de tamanho uniforme são preparadas, pesadas, e colocadas em
soluções de conhecida molalidade (Figura 8A). Preferencialmente, devem-se utilizar solutos
que não sejam absorvidos pelas células (sorbitol, polietileno glicol, manitol, etc) para que não
ocorram alterações significativas do potencial osmótico do tecido. Após suficiente tempo para
que ocorra o equilíbrio entre o tecido e a solução, os tecidos são retirados, secos com papel e
novamente pesados. O ganho ou perda de peso é calculado como uma percentagem do peso
inicial e relacionado graficamente com a concentração da solução (Figura 8B).
Ψs = - C.R.T
50
Nesta técnica, o órgão a ser medido tem que ser cortado e colocado na câmara, de acordo
com a figura 9. Antes do corte, a coluna de água no xilema está sob tensão. Quando a coluna
de água é cortada, a água é puxada para dentro dos capilares do xilema (Figura 9A). Para
fazer a medição, a câmara é pressurizada com gás comprimido até que a água retorne para a
superfície do corte (Figura 9B). O observador, quando notar o umedecimento da superfície do
corte, deve parar a pressurização e anotar a pressão marcada no manômetro. Este valor
negativo corresponde ao Ψw do órgão. Esta determinação deve ser feita, preferencialmente,
nas primeiras horas do dia.
- 2,27 MPa = Ψs
1,86 oC ∆f
51
1995), é possível se calcular o Ψs do órgão ou tecido. Medições menos trabalhosas podem ser
obtidas com aparelhos mais modernos (osmômetros), os quais permitem a determinação direta
da osmolalidade da solução. Neste caso, o Ψs pode ser calculado por uma regra de três
simples.
52
PARTE II - RELAÇÃO HÍDRICA NO SISTEMA SOLO-PLANTA-ATMOSFERA
1. Água no Solo
Ψw = Ψs + Ψp (Ψm)
O potencial osmótico (Ψs) de solos é geralmente desprezível, isso por que a
concentração sais na solução do solo é baixa. Um típico valor é - 0,02 MPa. Para solos
salinos, no entanto, a elevada concentração de sais produz Ψs da ordem de –0,2 ou menores.
Já o Ψp de solos úmidos é próximo de zero. Quando o solo desidrata, a pressão torna-se
negativa e é referida como potencial mátrico (Ψm ).
Na prática, o Ψw dos solos normais é geralmente medido como sendo aproximadamente
igual ao Ψm , desprezando-se o Ψs .
Em solos secos, o valor de Ψm na água do solo torna-se completamente negativo por que
o raio de curvatura na superfície ar–água torna-se muito pequeno.
53
facilmente entre eles, permanecendo somente nas superfícies das partículas e nos interstícios
entre partículas. Nos solos de textura argilosa, os canais são estreitos e a água não drena
facilmente. Este fenômeno é refletido na capacidade de retenção de umidade ou capacidade
de campo. A capacidade de campo é o conteúdo de água do solo após ele ter sido saturado
com água e o excesso ter sido drenado pela ação da gravidade. Ela é maior em solos argilosos
e solos que possuem alto conteúdo de húmus e muito menor nos solos arenosos.
O movimento de água no solo, por sua vez, ocorre predominantemente por fluxo em
massa, ou seja, por diferença de pressão aqui representada por diferença no potencial mátrico
(Ψm = - Ψp). Quando a planta absorve água do solo, ocorre uma redução no Ψm próximo à
superfície da raiz, ficando estabelecido um gradiente de pressão em relação às regiões
vizinhas. Como os poros estão cheios de água e são interconectados, a água move-se para a
superfície da raiz por fluxo em massa, através dos canais a favor do gradiente de pressão.
A taxa de fluxo de água no solo depende do tamanho do gradiente de Ψm estabelecido e,
também, da condutividade hidráulica do solo (mede a facilidade com que a água se move no
solo). A condutividade hidráulica depende do tipo de solo (é maior em solos arenosos) e é
grandemente influenciada pelo conteúdo de água do solo. Quando o conteúdo de água
decresce a condutividade hidráulica decresce drasticamente, em decorrência da substituição
da água pelo ar nos poros do solo (Figura 10). Por essa e outras razões, não se deve esperar
muito tempo para aplicar água às plantas.
54
Em solos muito secos, o Ψw pode cair até o conhecido valor do ponto de murcha
permanente, quando não existe mais água disponível para as plantas. Neste ponto, o Ψw do
solo é tão baixo que a planta não pode manter a turgescência, mesmo que toda a transpiração
seja parada. A planta permanece murcha mesmo à noite, quando a transpiração cessa quase
inteiramente. Isso significa que o Ψw do solo é igual ao Ψs da folha (neste caso Ψp = 0 e Ψw
= Ψs ). Em muitos estudos considera-se o valor de – 1,5 MPa para o potencial hídrico do solo,
correspondente ao ponto de murcha permanente. No entanto, visto que o Ψs varia com a
espécie vegetal, o ponto de murcha permanente (PMP) depende não apenas do solo, mas,
também, da espécie em estudo. Então, o PMP é a situação em que o Ψw do solo = Ψw da
folha = Ψs da folha (Tabela 2).
OBS: não confundir Ponto de Murcha Permanente com Ponto de Murcha Temporário
ou Incipiente. Este último ocorre em algumas espécies durante o meio dia, quando a
quantidade de água transpirada excede a absorvida. Neste caso, a planta se recupera já no final
da tarde, pois o Ψw do solo é maior do que o Ψw da folha.
O contato entre a superfície das raízes e o solo fornece a área superficial para a absorção
de água, a qual é maximizada pelo crescimento das raízes e dos pêlos radiculares dentro do
solo (Figura 11). O íntimo contato entre o solo e as raízes é facilmente rompido quando o solo
é revolvido. É por esta razão que plântulas transplantadas precisam ser protegidas da perda de
água nos primeiros dias do transplante. As novas raízes crescendo restabelecem o contato
solo–raiz, e a planta pode melhor resistir ao estresse hídrico.
A água penetra nas raízes principalmente na parte apical que inclui a zona dos pêlos
radiculares. Regiões mais maduras das raízes freqüentemente têm uma camada externa
protetora, exoderme ou hipoderme, que contém materiais hidrofóbicos nas suas paredes que
são relativamente impermeáveis à água (suberina).
OBS 1: Os pêlos radiculares são microscópicas extensões das células epidérmicas que
aumentam grandemente a superfície de absorção de íons e de água.
55
Figura 11 – Desenho dos pêlos radiculares em íntimo contato com as partículas do solo
(Taiz & Zeiger, 1998).
- Via apoplasto – a água move-se continuamente na região das paredes celulares e nos
espaços intercelulares até a endoderme.
- Via simplasto – o simplasto consiste de uma rede contínua de citoplasmas de células
interconectados pelos plasmodesmas. Neste caso, a água move-se de célula em célula,
através dos plasmodesmas.
- Via transmembranar – neste caso, a água move-se de célula em célula cruzando a
membrana plasmática e podendo cruzar, também, a membrana do vacúolo (tonoplasto). O
transporte de água através das membranas pode ocorrer pela bicamada fosfolipídica ou
através de canais. As proteínas que formam canais para o transporte de água são
chamadas de AQUAPORINAS.
OBS 2: Apesar da importância relativa destas três rotas não ter sido ainda completamente
estabelecida, experimento com sonda de pressão indicam que a rota apoplástica é
particularmente importante em raízes jovens de milho.
OBS 3: Uma outra forma de tratar o movimento de água através da raiz é considerá-la como
uma rota única, tendo uma única condutividade hidráulica. Tal abordagem levou ao
desenvolvimento do conceito de Condutividade hidráulica radicular.
56
Figura 12 – Movimento de água nas raízes via apoplasto, simplasto e transmembranar (Taiz &
Zeiger, 1998)
Os elementos dos vasos e traqueídes são células longas que estão envolvidos
diretamente com o transporte de água. Estas células são mortas quando funcionais, com
paredes secundárias lignificadas e não apresentam membranas e organelas (Figura 13). Os
elementos de vaso são encontrados nas Angiospermas e em um pequeno grupo de
57
Gimnospermas; e os traqueídes estão presentes tanto nas Angiospermas como nas
Gimnospermas.
O movimento de água das raízes para a folha, via xilema, pode ocorrer devido a uma
pressão positiva na sua base (raiz) ou a uma pressão negativa (tensão) desenvolvida na parte
aérea (folha)
Algumas plantas exibem um fenômeno conhecido como pressão radicular. Esta pressão
radicular pode ser entendida como uma pressão hidrostática positiva no xilema. As raízes
absorvem íons da solução diluída do solo e os transportam para dentro do xilema. O acúmulo
de solutos no xilema produz um decréscimo no potencial osmótico e consequentemente, no
potencial hídrico do xilema. Este Ψw menor no xilema produz a força que impulsiona a
absorção de água. A entrada de água, por sua vez, produz uma pressão positiva no xilema.
Esta pressão positiva na raiz provoca a ascensão da seiva para a parte aérea. VER FIGURA 5,
SOBRE OSMOSE.
A pressão radicular é mais proeminente em plantas de pequeno porte bem irrigadas e
sob condições de alta umidade relativa do ar, quando a transpiração é muito baixa. A pressão
radicular assume valores entre 0,05 e 0,2 MPa. Sob condições de alta demanda evaporativa do
ar, quando as taxas de transpiração são altas, a água é absorvida e transportada tão
rapidamente para as folhas e perdida para a atmosfera que uma pressão positiva no xilema
nunca se desenvolve.
Plantas que desenvolvem pressão radicular freqüentemente exibem exsudação de
líquido da folha, um fenômeno conhecido como gutação. A pressão positiva no xilema
provoca exsudação da seiva através dos hidatódios, estruturas localizadas nas extremidades
das nervuras na margem das folhas. As gotas de água da gutação podem ser vistas nos ápices
de folhas, principalmente quando a umidade relativa do ar é alta, tal como ocorre durante as
primeiras horas do dia. OBS: cuidado para não confundir com Orvalho.
58
b) Pressão Negativa (explica a transpiração)
Quando as plantas estão transpirando, o fluxo de água desde o solo, através da planta,
para a atmosfera é diretamente proporcional ao gradiente de Ψw e inversamente proporcional
ao somatório das resistências. Utilizando-se valores típicos de Ψw para os diversos
compartimentos envolvidos (solo, raiz, caule, folha e atmosfera), obtém-se que a resistência
ao movimento de água das paredes celulares (na folha) para a atmosfera exterior é bem maior
que o somatório das demais resistências. Na realidade, a maior resistência coincide com a
maior diferença de potencial hídrico que existe entre as paredes das células do mesofilo foliar
e o ar exterior (Figura 14).
Do exposto acima, conclui-se que o fator limitante para o movimento de água através da
planta é a resistência ao movimento de água das paredes celulares para os espaços
intercelulares, câmara sub-estomática, ostíolo e camada de vapor d’água adjacente à folha.
Portanto, a transpiração (perda de água na forma de vapor) deve desempenhar papel
fundamental no movimento de água através do sistema solo-planta-atmosfera.
As idéias expostas acima levaram à teoria de coesão-tensão, proposta originalmente por
Dixon & Joly (1894). De acordo com essa teoria, a evaporação da água das paredes celulares,
devido ao gradiente de Ψw entre a folha e o ar exterior, torna a superfície ar-água curvada nos
poros das paredes celulares, formando meniscos microscópicos, e a tensão superficial da água
produz uma tensão, ou pressão negativa, no sistema (Figura 15). Quanto maior for a retirada
de água, menor será o raio de curvatura do menisco e mais negativa é a pressão (P = - 2T/r).
Como conseqüência disto, as células do mesofilo (principalmente o apoplasto), retiram água
do xilema, deixando-o, então, sob tensão. Esta tensão na parte superior do xilema é
transmitida até o xilema das raízes devido às propriedades de coesão da água em vasos de
dimensões capilares. Este Ψw bastante negativo é transferido, finalmente, para as raízes e solo,
fazendo com que as raízes absorvam mais água.
59
Figura 15 – Diagrama ilustrando a formação de tensão superficial pela evaporação da água e
redução no raio de curvatura do menisco (Taiz & Zeiger, 1991)
60
4.Transferência de Água da Folha para a Atmosfera
4.1. Transpiração
Dicotiledôneas Herbáceas
Helianthus (girassol) 120 175
Medicago (alfafa) 169 188
Pelargonium (gerânio) 29 179
Dicotiledôneas Arbóreas
Aesculus (castanha-da-índia) - 210
Quercus (carvalho) - 340
Tilia - 370
61
Figura 17 – A estrutura da folha mostrando a presença da cutícula e de estômatos na
superfície abaxial (Taiz & Zeiger, 1998).
62
Tabela 4 – Relação entre a concentração de vapor de água (Cwv), a pressão de vapor d’água
(e), a umidade relativa (RH) e o potencial hídrico (Taiz & Zeiger, 1998)
Cwv e RH Ψw
(mol m-3) (kPa) (%) (MPa)1
0,961 2,34 1,00 0,00
0,957 2,33 0,996 -0,54
0,951 2,32 0,990 -1,36
0,923 2,25 0,960 -5,51
0,865 2,11 0,900 -14,20
0,480 1,17 0,500 -93,60
0 0 0 -infinito
1
O ψw foi calculado de acordo com a equação: Ψw = RT ln (RH)
Vw
O segundo fator que controla a perda de água por transpiração é formado pelas
resistências ao fluxo de vapor. A primeira, e mais importante, é a resistência associada à
difusão através dos estômatos, a RESISTÊNCIA ESTOMÁTICA (rs). A segunda resistência
está associada a uma camada de ar saturado e não sujeito a turbulências que surge na interface
da folha. Esta camada é conhecida como camada limítrofe e, por conseguinte, diz-se a
RESISTÊNCIA DA CAMADA DE AR LIMÍTROFE (rb). A espessura dessa camada é
definida, principalmente, pelo tamanho da folha, pela velocidade do vento e pela umidade. Ela
aumenta com o aumento do tamanho da folha e com o aumento da umidade e diminui quando
a velocidade do vento aumenta.
63
estômatos e armazenam o CO2 durante a noite, prevenindo as perdas de água durante o dia,
quando os estômatos permanecem fechados.
A comparação das plantas em relação às perdas de água via transpiração pode ser obtida
calculando-se a razão de transpiração (RT) dada por:
As plantas C3, exemplos são o feijão, a soja, arroz, etc., são as menos eficientes, com
valores de RT variando de 450 a 950; nas plantas C4 a RT varia de 250 a 350 e nas plantas
CAM de 18 a 125.
Figura 18 – Um diagrama mostrando dois tipos de células-guarda (Taiz & Zeiger, 1998)
64
As células-guarda funcionam como uma válvula hidráulica multi-sensorial. Fatores
ambientais, tais como, intensidade e qualidade de luz, temperatura, velocidade do vento,
umidade do solo, umidade relativa do ar e concentração interna de CO2, são sentidos por estas
células e, estes sinais, são integrados em uma resposta estomática bem definida. A figura 19
resume os efeitos dos fatores ambientais sobre a abertura estomática.
Quando a temperatura e o suprimento de água são adequados, a luz induz a abertura dos
estômatos (exceto nas plantas CAM - suculentas) e o escuro, seu fechamento:
Assim, para esta e outras respostas, a abertura estomática parece depender da concentração
interna de CO2. Por exemplo, no escuro, ar livre de CO2 causa abertura e, na luz, alta
concentração de CO2 causa o fechamento estomático.
O mecanismo fisiológico que provoca a abertura estomática está ligado diretamente à
absorção de água pelas células-guarda. Quando as folhas são expostas à luz ou ao ar livre de
CO2, ocorre um aumento significativo na concentração de K+ nestas células (Figura 20).
Paralelamente, outros solutos, inclusive solutos orgânicos sintetizados nestas células, também
se acumulam. Isto causa um decréscimo no Ψs e, consequentemente no Ψw. Com isso, a água
move-se para dentro das células-guarda provocando aumento na sua turgescência. O aumento
na turgescência, associado ao espessamento diferenciado das paredes celulares e ao arranjo
radial das microfibrilas de celulose, leva à abertura estomática.
65
Figura 20 – Um modelo simplificado para o fluxo de íons associado com as células-
guarda durante a abertura do estômato (Hopkins, 2000)
De modo contrário, quando as plantas são submetidas a estresse hídrico, ocorre o efluxo
(saída) de K+ e de outros íons das células-guarda, produzindo um aumento no Ψs e,
consequentemente no Ψw destas células. Com isso, as células-guarda perdem água para a sua
vizinhança levando a um decréscimo na sua turgescência e, finalmente, o estômato fecha. Este
processo parece ser regulado pelo ácido abscísico (hormônio vegetal). O papel do ABA no
fechamento estomático, em plantas sob deficiência hídrica, será discutido na unidade IX deste
curso.
5. Déficit Hídrico
Na natureza ocorrem flutuações diárias no “status” interno de água das plantas. Isto
acontece mesmo quando as plantas estão com suas raízes mergulhadas em um solo com
bastante umidade.
Em 1937, Paul J. Kramer demonstrou o que acabamos de afirmar. Durante o dia,
embora a taxa de absorção de água seja alta ela é menor que a taxa de transpiração, ou seja, a
planta experimenta um déficit hídrico durante o dia. Isto também indica que a alta taxa de
transpiração é que está sendo responsável pela absorção durante o dia, como já discutimos
anteriormente (Figura 21).
66
Hora do dia
Hora do dia
Figura 22 – Flutuação no conteúdo de umidade de caules, folhas e raízes de girassol,
durante um claro dia de verão (Wilson et al., 1953)
67
Durante a noite a planta praticamente não transpira e a taxa de absorção de água,
embora seja pequena, mantém-se maior que a transpiração, promovendo a re-hidratação dos
tecidos. Isto é aparentemente confirmado nos resultados mostrados na figura 22. Note que o
conteúdo de água nos caules, folhas e raízes variam durante o dia, sendo menor nas horas
mais quentes e maior durante a noite e início do dia.
BIBLIOGRAFIA
FERREIRA, L. G. R. Fisiologia Vegetal: Relações Hídricas. 1st ed. Fortaleza: Edições UFC,
1992, 138p.
FERRI, M. G. (Coord.) Fisiologia Vegetal, v. 1. 2nd ed. São Paulo: EPU, 1985, 361p.
HOPKINS, W. G. Introduction to Plant Physiology. 2nd ed. New York: John Wiley & Sons,
Inc., 2000, 512p.
68
ESTUDO DIRIGIDO No 02
1 – Quais são os componentes do potencial hídrico (Ψw)? Analise o significado de cada um.
2 – Duas células A e B estão em contato. A célula A tem Ψs = - 0,4 MPa e Ψp = 0,1 MPa. A
célula B tem Ψs = - 0,7 MPa e Ψp = 0,5 MPa. Qual a direção da difusão da água?
3 – Uma célula com Ψs = - 1,5 MPa e Ψp = 0,1 MPa foi imersa em uma solução de volume
infinito, cujo Ψw = - 0,3 MPa. No momento do equilíbrio, o volume da célula havia
aumentado de ¼. Qual era o Ψp da célula no momento do equilíbrio?
4 – Duas células A e B estão em contato. A célula A tem Ψs = - 0,8 MPa e Ψp = 0,3 MPa. A
célula B tem Ψs = - 1,2 MPa e Ψp = 0,4 MPa. As duas células foram colocadas em um
recipiente contendo 2,0 litros de uma solução de sacarose cujo potencial osmótico (Ψs)
era de – 0,2 MPa. No momento do equilíbrio, a célula A teve seu volume aumentado de
1/6, enquanto a célula B teve seu volume aumentado de 1/3. Qual o Ψp das células A e B
no momento do equilíbrio?
6 – Como ocorre a absorção de água e seu movimento desde o solo até o xilema radicular?
7 – A absorção de água pelas plantas pode ser reduzida pela adição ao solo de grandes
quantidades de sais. Qual será a causa deste fenômeno?
9 – Descreva as interações da água com as partículas do solo. Explique o que significa ponto
de murcha permanente (PMP) e capacidade de campo (CC).
69
UNIDADE IV
1 –INTRODUÇÃO
As plantas são organismos autotróficos que vivem entre dois ambientes inteiramente
inorgânico, retirando CO2 da atmosfera e água e nutrientes minerais do solo. Os nutrientes
minerais são adquiridos primariamente na forma de íons inorgânicos e entram na biosfera
predominantemente através do sistema radicular da planta. A grande área superficial das
raízes e sua grande capacidade para absorver íons inorgânicos em baixas concentrações na
solução do solo, tornam a absorção mineral pela planta um processo bastante efetivo. Além
disso, outros organismos, como os fungos (micorrízicos) e as bactérias fixadoras de
nitrogênio, freqüentemente contribuem para a aquisição de nutrientes pelas plantas. Depois de
absorvido, os íons são transportados para as diversas partes da planta, onde são assimilados e
utilizados em importantes funções biológicas.
O estudo de como as plantas absorvem, transportam, assimilam e utilizam os íons é
conhecido como NUTRIÇÃO MINERAL. Esta área do conhecimento busca o entendimento
das relações iônicas sob condições naturais de solo (salinidade, acidez, alcalinidade, presença
de elementos tóxicos, como Al3+ e metais pesados, etc), porém, o seu maior interesse está
ligado diretamente à agricultura e à produtividade das culturas. Alta produção agrícola
depende fortemente da fertilização com elementos minerais. No entanto, as plantas cultivadas,
tipicamente, utilizam menos da metade dos fertilizantes aplicados. O restante pode ser
lixiviado para os lençóis subterrâneos de água, tornar-se fixado ao solo ou contribuir para a
poluição do ar. Assim, torna-se de grande importância aumentar a eficiência de absorção e de
utilização de nutrientes, reduzindo os custos de produção e contribuindo para evitar prejuízos
ao meio ambiente.
2 – ELEMENTOS ESSENCIAIS
a) Definição e Classificação
71
entanto, que a concentração de determinado nutriente pode estar acima ou abaixo daquela
requerida para o crescimento normal da planta. Assim, é melhor classificar macro e
micronutrientes de acordo com o requerimento dos nutrientes para o crescimento adequado da
planta (Tabela 1)
72
ou os que são essenciais somente para certas espécies ou sob condições específicas, são
denominados de BENÉFICOS. Entre eles pode-se citar o cobalto, o sódio, o silício, o selênio
e o alumínio.
73
no entanto, as raízes das plantas são colocadas em valas (canos de PVC cortados ao meio) e a
solução nutritiva flui em uma fina camada ao longo da vala, alimentando as raízes. Este
sistema garante um amplo suprimento de oxigênio às plantas.
A solução nutritiva deve fornecer os elementos essenciais em concentrações que
permitam o rápido crescimento da planta, devendo-se ter o cuidado para que os mesmos não
atinjam níveis tóxicos. Soluções com altos níveis de nutrientes permitem que a planta cresça
por maior período de tempo sem a necessidade de troca da solução. A solução de Hoagland
(original), por exemplo, tem uma concentração de fósforo que pode ser até 1.300 vezes maior
do que a concentração observada na solução do solo. Estas soluções concentradas têm sido
preteridas na maioria das pesquisas modernas, as quais utilizam soluções bem diluídas e que
são trocadas freqüentemente para diminuir as flutuações nas concentrações de nutriente
(Tabela 2). O acompanhamento da concentração de K+ tem sido utilizado para indicar o
momento em que a solução deve ser trocada. Uma queda de 40 a 50% na concentração de K+
pode indicar a necessidade de troca.
74
formam complexos solúveis com cátions, como Fe2+ e Ca2+. O Fe2+ parece ser liberado do
complexo na superfície da raiz, onde ele é absorvido.
120
Zona de Zona Adequada Zona de
100
Deficiência Toxicidade
Crescimento ou Produtividade
80
(% do Máximo)
60
40
Concentração Crítica
20
0
0 10 20
Concentração 30
do Nutriente 40
no Tecido 50 60
-1
(mmol kg Matéria Seca)
75
complexa, por que mais de um elemento pode estar em níveis inadequados ao mesmo tempo,
o excesso de um elemento pode induzir deficiência de outros (competição) e alguns vírus de
plantas produzem sintomas similares àqueles de deficiências nutricionais. Além disso, é
importante destacar que o sintoma é a expressão final da desordem metabólica, ou seja, antes
do aparecimento do sintoma o metabolismo vegetal e o crescimento da planta já podem estar
comprometidos. Para contornar estes problemas deve-se proceder, periodicamente, a análise
de solo e, em muitos casos, a análise da planta (análise foliar).
Quando se faz a relação entre os sintomas de deficiência com o papel do elemento
essencial, é importante considerar a extensão na qual um elemento pode ser reciclado das
folhas velhas para as novas (Tabela 3). Alguns elementos como N (na forma orgânica), P, Mg
e K podem mover-se facilmente de uma folha para outra. Outros como Ca, B e Fe são
relativamente imóveis na maioria das plantas. Assim, deficiência de um elemento móvel
poderá tornar-se evidente primeiramente nas folhas velhas. Enquanto que a deficiência de
elementos imóveis aparece primeira nas folhas novas da planta.
Tabela 3 – Elementos minerais classificados com base na sua mobilidade dentro da planta
(Taiz & Zeiger, 1998)
76
aminoácidos cisteína e metionina). Assim, muitos dos sintomas são semelhantes aos
apresentados pela deficiência de N, incluindo clorose, redução no crescimento e
acúmulo de antocianina. A clorose, no entanto, aparece primeiro nas folhas mais
jovens, o que é conseqüência da baixa mobilidade do S na planta. Todavia, em
algumas plantas a clorose ocorre ao mesmo tempo em todas as folhas ou pode até
iniciar nas folhas mais velhas.
• Potássio – O potássio está presente na planta como cátion monovalente (K+) e executa
importante papel na regulação do potencial osmótico de células de plantas. É também
requerido para a ativação de muitas enzimas da respiração e da fotossíntese. O
primeiro sintoma de deficiência de K é a clorose marginal, a qual se desenvolve como
necrose a partir do ápice, inicialmente nas folhas maduras (velhas).
• Cobre – Como o Fe, o cobre está associado a algumas enzimas envolvidas nas reações
redoxes (Cu2+ + e- ⇔ Cu+). O principal exemplo é o complexo citocromo oxidase
da cadeia de transporte de elétrons mitocondrial (respiração). Outro exemplo é a
plastocianina, a qual está envolvida na transferência de elétrons durante as reações de
luz da fotossíntese. O sintoma inicial de deficiência de cobre é a produção de folhas
verde-escuras, que podem conter manchas necróticas. Sob deficiência severa as folhas
podem cair prematuramente.
77
biossíntese de clorofila em algumas espécies. Deficiência de zinco é caracterizada pela
redução no crescimento internodal. Este sintoma pode ser resultado da perda da
capacidade da planta para produzir suficiente auxina (fitohormônio). Algumas
evidências disponíveis indicam que o zinco pode ser requerido para a biossíntese do
triptofano, o qual é um dos precursores da auxina natural, ácido indol-3-acético (AIA).
• Boro – Embora a precisa função do boro (B) no metabolismo não esteja clara,
evidências sugerem que ele executa papéis importantes no alongamento da célula, na
síntese de ácidos nucléicos, nas respostas a hormônios e na integridade estrutural da
parede celular. As plantas deficientes em boro exibem uma variedade de sintomas,
dependendo da espécie e da idade da planta. Um sintoma característico é a necrose de
folhas jovens e gemas terminais, o que reflete a sua baixa mobilidade na planta. A
dominância apical pode também ser perdida e a planta pode ficar altamente
ramificada. Além disso, estruturas como frutos e tubérculos podem exibir necroses ou
anormalidades relacionadas com a degradação de tecidos internos.
• Cloro – O elemento cloro é encontrado nas plantas como cloreto (Cl-). Ele é requerido
na etapa da fotossíntese em que O2 é produzido (foto-oxidação da H2O). Em face de
sua alta solubilidade e distribuição nos solos, a deficiência de Cl- em plantas crescendo
no campo não tem sido verificada. Ao contrário, em ambientes salinos as plantas
podem acumular cloreto nas folhas em níveis tóxicos, produzindo a necrose de tecidos
foliares.
• Níquel – A urease é a única enzima que necessita de Ni como cofator enzimático nas
plantas superiores. Então, plantas deficientes em Ni acumulam uréia nas folhas, o que
pode causar necrose no ápice. Em face das minúsculas concentrações de Ni requeridas
pelas plantas, a deficiência raramente é observada em condições de campo. Por outro
lado, alguns microrganismos fixadores de N2 requerem Ni para a enzima hidrogenase,
a qual re-processa o H2 gerado durante a fixação simbiótica. Os microrganismos que
possuem esta enzima dependente de níquel (como os rizóbios que nodulam a soja) são
energeticamente mais eficientes.
78
• Silício – Apenas membros da família Equisitaceae, chamados juncos de polimento
porque suas cinzas, ricas em sílica granulosa, eram usadas para polir panelas,
requerem silício para completar seu ciclo de vida. No entanto, muitas outras espécies
acumulam silício em seus tecidos e apresentam melhoria no seu crescimento e na
fertilidade, quando supridas com quantidades adequadas de silício (Epstein, 1999).
Plantas deficientes em silício são mais suscetíveis ao acamamento e à infecção
fúngica. O silício é depositado principalmente no retículo endoplasmático, paredes
celulares e espaços intercelulares como sílica amorfa hidratada (SiO2.nH2O). Ele
também forma complexos com polifenóis e serve como alternativa à lignina no reforço
de paredes celulares. Além disso, o silício pode aliviar a toxicidade de muitos metais
pesados.
• Sódio – A maioria das espécies que utiliza as rotas C4 e CAM de fixação de carbono
requerem íons sódio para a regeneração do fosfoenolpiruvato. Sob deficiência de
sódio, essas plantas exibem clorose e necrose ou deixam de florescer. Muitas espécies
C3 se beneficiam de uma exposição a baixos níveis de sódio. O sódio estimula o
crescimento por meio de uma maior expansão celular, além de poder parcialmente
substituir o potássio como um soluto osmoticamente ativo.
De acordo com a Lei de Fick, o movimento de moléculas por difusão poderá ocorrer a
favor de um gradiente de concentração (gradiente químico), até que o equilíbrio seja atingido.
Este tipo de movimento é chamado de transporte passivo. No entanto, a difusão através de
membranas biológicas é bastante restrita, devido à baixa permeabilidade da bicamada lipídica
para moléculas polares, com exceção da água. Na realidade, poucas substâncias de
importância biológica apresentam natureza apolar e somente três (O2, CO2 e NH3) parecem
atravessar a membrana por difusão simples através da bicamada lipídica. Portanto, as
substâncias polares e iônicas devem atravessar as membranas biológicas através de outros
mecanismos e por outras regiões e não por simples difusão.
Além da concentração, o transporte de solutos através de membranas biológicas pode
ser impulsionado por outras forças: pressão hidrostática, gravidade (desprezível) e campos
elétricos. Estas diversas fontes de energia potencial definem o potencial químico de um
determinado soluto. A equação abaixo leva em consideração as principais forças associadas
com o transporte através de membranas:
79
O potencial químico soma todas as forças que podem agir sobre a molécula durante o
seu transporte. A soma dos termos da equação do potencial químico depende do soluto em
estudo. O termo VjP tem pouca importância no movimento de solutos através de membranas.
No caso de solutos polares sem carga, como a sacarose, o potencial químico é aproximado ao
do termo referente a concentração. Neste caso teremos:
• Potencial químico dentro da célula
µji = µ*j + RTlnCji
• Potencial químico fora da célula
µjo = µ*j + RTlnCjo
• Calculando-se a diferença, temos
∆µj = µji - µjo = RT (lnCji - lnCjo) = RT ln Cji/Cjo
Se a concentração externa (Cjo) for maior que a concentração interna (Cji) este termo
será negativo, indicando que a sacarose poderá mover-se passivamente para dentro da célula.
Quando os solutos possuem carga elétrica (íons), o componente elétrico do potencial
químico deve ser considerado. Para o K+ podemos escrever:
∆µj = µji - µjo = RT ln [Ki]/[Ko] + zF (Ei – Eo) em que z=1 (valência)
Esta equação mostra que íons, como o K+, difundem em resposta a seu gradiente de
concentração [Ki]/[Ko] e a diferença de potencial elétrico (Ei – Eo) entre os dois
compartimentos. Nestes casos, nos referimos ao POTENCIAL ELETROQUÍMICO.
Em relação ao transporte através de membranas biológicas, podemos definir (Figura 3):
TRANSPORTE PASSIVO – É o transporte que ocorre a favor do gradiente de
potencial químico ou eletroquímico.
TRANSPORTE ATIVO – É o transporte que ocorre contra o gradiente de potencial
químico ou eletroquímico.
80
b) Mecanismos de Transporte de Íons Através da Membrana Celular
High permeability
P
Artificial membrane values
Biological membrane
10-2 H2O
H2O
10-4
Glicerol Glycerol
10-6
K+-
10-8 Cl
Na+
10-10
Cl+-
K
Na+
Low permeability
81
Figura 5 – As três classes de proteínas de transporte através de membranas (Taiz &
Zeiger, 1998)
82
acoplar o transporte do soluto contra o seu gradiente de potencial eletroquímico com o
transporte de outro soluto a favor do seu gradiente (transporte ativo secundário).
O transporte mediado por BOMBAS é conhecido como transporte ativo primário.
Este tipo de transporte é acoplado diretamente a uma fonte de energia metabólica, tal como
hídrólise de ATP (Figura 6). Muitas destas bombas protéicas transportam íons, tais como H+ e
Ca2+. As bombas iônicas podem ser caracterizadas, também, como eletrogênicas ou
eletroneutras. Em geral, o transporte eletrogênico refere-se ao movimento líquido de carga
através da membrana. Por exemplo, a H+-ATPase de células de plantas bombeia H+ para o
meio externo (parede celular) e gera um gradiente de cargas sobre a membrana. Já a H+/K+-
ATPase da mucosa gástrica de animais permite a troca de um H+ por um K+, não produzindo
movimento líquido de cargas através da membrana. Esta última bomba é eletroneutra.
Na membrana plasmática de plantas, de fungos e de bactérias, bem como no tonoplasto
e outras endomembranas, o H+ é o principal íon que é transportado eletrogenicamente através
da membrana. A H+-ATPase da membrana plasmática cria o gradiente de potencial
eletroquímico de H+ entre o meio externo e o citosol. Como os H+ são transportados para o
meio externo, o potencial de membrana no lado interno fica negativo e no lado externo fica
positivo. Medições realizadas com microeletrodos, colocados nos lados interno e externo de
células vegetais, indicam que a H+-ATPase da plasmalema produz um excesso de voltagem
variando de -60 a -240 mV. Por outro lado, a H+-ATPase vacuolar e a H+-Pirofosfatase
bombeiam H+ eletrogenicamente no lúmem do vacúolo, gerando um gradiente eletroquímico
de H+ entre o citosol e o vacúolo.
Na membrana plasmática de plantas somente H+ e Ca2+ parecem ser transportados pelas
bombas, sendo que a direção do bombeamento é para o meio externo. Isto significa que outro
mecanismo é necessário para a absorção ativa de muitos nutrientes minerais e também de
moléculas orgânicas. Este outro mecanismo envolve o acoplamento do transporte contra
gradiente de um soluto com o transporte de outro soluto a favor de seu gradiente (Figura 7).
Este cotransporte mediado por carreador é denominado transportes ativos secundário, sendo
impulsionado indiretamente pelas bombas.
83
Quando os H+ sofrem extrusão do citosol (colocados para o meio externo ou para o
vacúolo) pelas H+-ATPases, um potencial de membrana (componente elétrico) e um gradiente
de pH (componente químico) são criados nas membranas plasmática e vacuolar, às expensas
da hidrólise de ATP. O gradiente de potencial eletroquímico, conhecido como força motiva de
prótons, ∆p, representa a energia livre estocada na forma de gradiente de H+ que pode ser
utilizada para o transporte de outros íons e moléculas.
A força motiva de prótons gerada pela bomba eletrogênica é usada para impulsionar o
transporte de muitas outras substâncias contra seu gradiente de potencial eletroquímico, no
transporte ativo secundário. O carreador é uma proteína transmembranar com um sítio de
ligação no lado externo da membrana que permite a ligação do H+. O próton ligado ao
carreador modifica a conformação da proteína, que expõe um outro sítio, o de ligação, ao qual
se liga o soluto a ser transportado. Com as duas substâncias ligadas, a proteína muda de
conformação e expõe os sítios no lado oposto da membrana, onde as substâncias são
liberadas. Este tipo de co-transporte é conhecido como simporte, pois as duas substâncias
movem-se na mesma direção. Quando o movimento de um H+ impulsiona o transporte ativo
de um soluto na direção oposta, o co-transporte é chamado de antiporte (Figura 7).
Nos dois tipos de co-transporte, o soluto que está sendo transportado simultaneamente
com o H+, se move contra o seu gradiente de potencial eletroquímico, ficando claro que se
trata de transporte ativo.
Em plantas e fungos, açúcares e aminoácidos são absorvidos via simporte com prótons
(exemplo, H+- Sacarose). O Na+ é transportado para fora da célula no antiporte Na+-H+ e os
ânions Cl-, NO3- e H2PO4- são absorvidos via simporte. O K+ em baixas concentrações pode
ser tomado ativamente via simporte, porém, em altas concentrações, pode ser absorvido
passivamente via canais. O Ca2+ é absorvido passivamente via canais, porém, sua
concentração no citosol é mantida em valores muito baixos (0,15-0,50 µM) devido a atividade
de uma Ca2+- ATPase na membrana plasmática, que transporta o Ca2+ para o espaço
extracelular, e de um antiporte Ca2+- H+ no tonoplasto, que transporta o Ca2+ para dentro do
84
vacúolo. Além disso, uma Ca2+- ATPase na membrana do retículo endoplasmático pode
promover o armazenamento de Ca2+ no interior dessa organela.
160
Absorção
140
120
Taxa de Absorção do Íon
100
80
60
40
Difusão
20
0
0 20 40 60 80 100
Concentração do Íon
85
4 – ABSORÇÃO DE ÍONS PELAS RAÍZES
a) Seletividade da Absorção
86
maior superfície de cargas expostas e, portanto, maior CTC. Um solo que tem alta CTC
possui maior reserva de nutrientes minerais. A fertilidade deste solo será completa se esta
maior CTC for devida a elevada percentagem de saturação de bases (Ca2+, Mg2+, K+, NH4+).
Presença de elementos tóxicos, como alumínio (Al3+), pode acarretar problemas para o
crescimento das plantas.
Ânions como NO3- e Cl- são repelidos pelas cargas negativas das partículas do solo e
permanecem dissolvidos na solução do solo, ficando sujeitos à lixiviação. Já os fosfatos
(H2PO4- e HPO42-) podem permanecer fixados ao solo contendo Al3+ e Fe3+, por que formam
sais insolúveis, tais como AlPO4 e FePO4. O sulfato (SO42-), na presença de Ca2+ forma o
gesso (CaSO4), o que limita a mobilidade deste ânion no solo.
Figura 9 – O processo de troca de cátions nas superfícies das partículas do solo(Taiz &
Zeiger, 1998).
A capacidade das plantas para obter água e nutrientes minerais do solo está relacionada
com sua capacidade para desenvolver um extensivo sistema radicular. O desenvolvimento do
sistema radicular de mono e de dicotiledôneas depende, em grande parte, da atividade do
meristema apical das raízes. Na região apical das raízes é possível observar três regiões
distintas: a zona meristemática, a zona de alongamento e a zona de maturação (Figura 10).
Abaixo da zona meristemática encontra-se uma região conhecida como coifa, a qual
protege o meristema e parece ser fundamental na percepção da gravidade (gravitropismo). Na
coifa ocorre também a produção de mucilagem que parece evitar a dessecação do ápice
radicular. Na zona meristemática propriamente dita, encontra-se um centro quiescente (pouca
divisão celular) logo acima da coifa. Mais acima do centro quiescente tem outra região de
rápida divisão celular.
Na região de alongamento ocorre a formação da endoderme, com as estrias de Caspary.
Em seção transversal observa-se que a endoderme divide a raiz em duas partes: o córtex para
fora e o cilindro central para dentro. O cilindro central contém os tecidos vasculares: floema
(transporta metabólitos da parte aérea para as raízes) e xilema (transporta água e solutos para
a parte aérea). É interessante notar que o floema se desenvolve antes do xilema, o que pode
ser fundamental para “alimentar” o ápice, favorecendo o crescimento da raiz.
87
Os pêlos radiculares, que são extensões das células da epiderme da raiz, aparecem na
zona de maturação, e aumentam grandemente a superfície para absorção de água e nutrientes.
É, também, na zona de maturação que o xilema apresenta-se mais desenvolvido, com
capacidade para transportar quantidades substanciais de água e de solutos para a parte aérea.
A absorção de íons é mais pronunciada em raízes jovens. Nestas raízes, tem sido
observado, em geral, uma queda na taxa de absorção de íons a medida que se distancia do
ápice radicular. No entanto, esta tendência varia bastante, dependendo de fatores, como tipo
de íon (nutriente), estado nutricional e espécie vegetal estudada. Em raízes de milho, por
exemplo, observou-se que a taxa de absorção de K+ variou pouco ao longo das raízes jovens
(Tabela 5). Neste mesmo estudo se observou uma redução considerável na absorção de Ca2+
nas zonas mais distantes do ápice.
Figura 10 – Diagrama de uma seção longitudinal da região apical da raiz (Taiz & Zeiger, 1998).
Tabela 5 - Taxa de absorção de 42K e 45Ca supridos a diferentes zonas de raízes seminais de
milho, em meq (24 horas)-1 por 12 plantas (Marschner, 1995)
88
Em adição, as raízes de mais de 80% de todas as plantas estudadas, incluindo
praticamente todas as espécies de importância econômica, formam associações conhecidas
como micorrizas (fungo-planta). Uma micorriza é uma associação simbiótica entre um fungo
não patogênico e as células de raízes jovens, particularmente as células epidérmicas e
corticais (Figura 11). O fungo recebe nutrientes orgânicos (carboidratos) da planta e, em
contrapartida, melhora a capacidade das raízes para absorver água e nutrientes minerais do
solo. As hifas de alguns fungos formam uma manta na superfície da raiz e penetram entre as
células do córtex (micorriza ectotrófica). As hifas de outros fungos se desenvolvem nos
espaços intercelulares do córtex e penetram em algumas células individuais, formando
vesículas (micorriza vesicular arbuscular). Nos dois tipos de associação, as hifas do fungo
crescem também para o meio externo (solo), aumentando grandemente a capacidade para
absorver alguns nutrientes encontrados em baixas concentrações na solução do solo, como
fosfato e alguns micronutrientes (Zn, Cu)
A B
89
Ao chegar na superfície da raiz o íon pode seguir diferentes caminhos. Em termos de
transporte de pequenas moléculas, a parede celular é uma treliça aberta de polissacarídeos
através do qual os elementos minerais se difundem livremente. O contínuo de paredes
celulares e espaços intercelulares é conhecido como apoplasto. Similarmente, os citoplasmas
de células vizinhas, conectadas através dos plasmodesmas, formam um contínuo,
coletivamente conhecido como simplasto, por onde os íons e moléculas podem também se
mover. O apoplasto forma um contínuo que engloba as células da epiderme e do córtex. Entre
o córtex e o cilindro central existe uma camada de células especializadas, a endoderme.
Nessa camada de células se formam as estrias de Caspary (deposição de uma substância
hidrofóbica, a suberina, nas paredes radiais das células da endoderme), que bloqueiam
efetivamente a entrada de água e de íons minerais no cilindro central, via apoplasto. Assim,
podemos resumir (Figura 12):
• Na raiz, um íon pode entrar via simplasto imediatamente na membrana plasmática
das células epidérmicas (inclusive nos pêlos radiculares) ou ele pode se difundir
entre as células da epiderme e córtex, via apoplasto.
• Do apoplasto do córtex, um íon pode difundir-se radialmente para a endoderme ou
entrar via membrana da célula cortical, no simplasto.
• Em todos os casos, o íon deve entrar no simplasto, antes que ele chegue ao cilindro
central, devido a presença das estrias de Caspary nas células da endoderme.
OBS: Alguns livros se referem ao espaço livre aparente. Este pode ser definido como
o volume radicular, constituído pelas paredes celulares, espaços intercelulares e superfícies
externas à plasmalema, limitado pelas Estrias de Caspary presentes na endoderme. O íon no
espaço livre aparente ainda não está absorvido pela planta e pode se difundir facilmente para o
meio externo.
Após o íon ter entrado no cilindro central através do simplasto, ele continua a se difundir
de célula para célula. Finalmente, o íon retorna para o apoplasto (do cilindro central) e
difunde-se para dentro do xilema. Novamente, as estrias de Caspary evitam que o íon retorne
para o apoplasto do córtex (espaço livre aparente). Assim, a planta pode manter uma maior
concentração iônica no xilema do que no meio em que a raiz está crescendo (solução do solo).
Figura 12 – Diagrama mostrando o movimento radial de íons através da raiz (Hopkins, 2000)
Os nutrientes minerais, uma vez no xilema, são carreados para a parte aérea pelo fluxo
transpiratório. Algumas vezes, a ascensão da seiva xilemática é promovida pela pressão
radicular, particularmente em algumas espécies, quando os solos estão úmidos e a umidade
relativa do ar é alta, tal como ocorre durante as primeiras horas do dia (transpiração
praticamente ausente).
90
Na parte aérea, alguns nutrientes minerais podem ser redistribuídos pelo floema,
particularmente, os que são móveis.
5 – AS PLANTAS E O NITROGÊNIO
a) O ciclo do Nitrogênio
Atmospheric N2
Soil N Pool
(Ammonification) (Uptake)
Animal biomass
91
ou Nitrococcus. O nitrito é posteriormente oxidado para nitrato por bactérias do gênero
Nitrobacter. Estes dois grupos de microorganismos são conhecidos como bactérias
nitrificantes e o processo que resulta das suas atividades é conhecido como nitrificação.
Um outro processo que ocorre nos solos é a desnitrificação (170 milhões de toneladas
por ano). Neste caso, algumas bactérias reduzem o nitrato para nitrogênio gasoso (N2, NO,
N2O e NO2), o qual é perdido para a atmosfera. Estas bactérias utilizam NO3-, no lugar de O2,
como receptor final de elétrons para a respiração. Este processo é comum em ambientes
pobres em oxigênio (solos inundados ou compactados, etc.), podendo acarretar perdas
consideráveis de nitrogênio.
b) Assimilação de Nitrogênio
92
• Redução do Nitrato
A forma mais comum da Redutase do Nitrato usa NADH como doador de elétrons.
Outras formas encontradas predominantemente em tecidos não verdes, como raízes, podem
usar NADH e NADPH.
A Redutase do Nitrato de plantas superiores é um dímero, composto de duas sub-
unidades idênticas com massas moleculares de 100 kDa (Figura 14). Cada subunidade contém
três grupos prostéticos: FAD, um grupo Heme e um complexo molibdênico (é por isso que
deficiência de Mo pode causar acúmulo de NO3-). O FAD recebe elétrons do NADH. Em
seguida, os elétrons passam pelo grupo Heme, chegam ao complexo molibdênico, de onde são
transferidos para o nitrato que é reduzido para nitrito.
• Redução do Nitrito
93
As folhas e as raízes contêm diferentes formas da enzima, porém, ambas transferem
elétrons da ferredoxina para o nitrito. Nas folhas, a ferredoxina reduzida tem origem no
transporte de elétrons fotossintético nos cloroplastos e nos tecidos não verdes, a partir do
NADPH (gerado na via da Pentose – Fosfato).
A Redutase do Nitrito consiste de um único polipeptídio com massa molecular de 63
kDa e contém dois grupos prostéticos: um centro Fe-S e um grupo Heme. Os elétrons são
transferidos na seqüência mostrada no esquema abaixo (Figura 15)
• Assimilação de Amônio
A reação envolve um cátion divalente (Mg2+, Mn2+ ou Co2+) como cofator. A GS tem
massa molecular de 350 kDa e é composta de oito sub-unidades aproximadamente idênticas.
As plantas possuem duas classes de GS, uma no citosol e outra nos plastídios. As formas
citosólicas são expressas em sementes germinando ou feixes vasculares de raízes e de parte
aérea e produzem glutamina como forma de transporte de nitrogênio. A GS no plastídio da
raiz gera amidas para consumo local e a GS do cloroplasto assimila o NH4+ liberado na
fotorrespiração.
Elevados níveis de glutamina nos plastídios estimula a atividade da sintase do
glutamato, enzima que é conhecida como GOGAT (glutamina: 2-oxoglutarato amino
transferase). A GOGAT transfere o grupo amida da glutamina para o 2-cetoglutarato,
produzindo duas moléculas de glutamato.
94
As plantas contêm duas GOGAT, uma recebe elétrons do NADH e a outra da
ferredoxina reduzida. A enzima que usa NADH está localizada nos plastídios de tecidos não
fotossintéticos, como raízes e feixes vasculares de folhas em desenvolvimento. A GOGAT
dependente de ferredoxina é encontrada nas folhas e participa do metabolismo do NH4+
produzido na fotorrespiração. As raízes, particularmente aquelas supridas com NO3-,
possuem, também, uma GOGAT dependente de ferredoxina, a qual participa da incorporação
da glutamina gerada durante a assimilação de nitrato.
Alternativamente, o NH4+ poderia ser incorporado pela atividade da Desidrogenase do
Glutamato (GDH), que catalisa a seguinte reação:
As enzimas GDH – NADH e GDH – NADPH são encontradas nas mitocôndrias e nos
cloroplastos, respectivamente. A enzima GDH não parece substituir a passagem GS-GOGAT,
pois um inibidor da GS, o composto metionina sulfoximina, bloqueia toda a assimilação de
amônio em glutamato e glutamina. Assim, a GDH pode ser mais importante na desaminação
do glutamato, ou seja, a reação no sentido inverso.
Uma vez assimilado em glutamato e glutamina, o nitrogênio é incorporado em outros
aminoácidos, nas reações de transaminação catalisadas pelas aminotransferases. Exemplo:
aminotransferase do aspartato (AAT)
95
Figura 16 - Estruturas dos compostos e reações envolvidas na assimilação do amônio (Taiz &
Zeiger, 1998)
96
c) Fixação Biológica de Nitrogênio
97
7 – As duas massas de células em divisão (o meristema primário do nódulo e parte do
periciclo) se fundem e o cordão de infecção continua a crescer;
8 – O nódulo alonga-se e diferencia-se, incluindo as conexões vasculares com o sistema
vascular das raízes. Note que os nódulos se desenvolvem próximos aos pólos do xilema, o que
facilita as conexões e as transferências de materiais.
O complexo da nitrogenase pode ser separado em dois componentes: uma Fe-Proteína e uma
MoFe-Proteína, sendo que nenhum do dois componentes possui atividade catalítica
isoladamente. Na reação de redução, a ferredoxina reduzida serve como doador de elétrons
para a Fe-Proteína, a qual hidrolisa ATP e reduz a MoFe-Proteína. Esta última reduz o
substrato N2 para NH3 e H2 (Figura 18)
A nitrogenase pode reduzir um número razoável de substratos (N2, H+, N2O, N3-,
acetileno, ATP). Uma destas reações, a redução do acetileno para etileno, é usada para
estimar a atividade da enzima. Sob condições naturais, no entanto, a nitrogenase reage
somente com N2 e H+. A redução de H+ para H2 pode representar uma perda considerável de
elétrons que poderiam ser utilizados na redução do N2. Em rizóbios, estima-se que de 30 a
98
60% da energia suprida para a nitrogenase pode ser perdida como H2, diminuindo a eficiência
da fixação biológica. Alguns rizóbios, no entanto, contêm uma HIDROGENASE, enzima que
pode oxidar o H2 para 2H+, regenerando os prótons e elétrons e aumentando a eficiência da
fixação.
Um ponto importante a ser considerado é que o oxigênio atua na inativação da enzima
nitrogenase, agindo, principalmente, sobre a Fe-Proteína. Assim, o processo de fixação de N2
deve ocorrer sob condições anaeróbicas. Na simbiose leguminosa–rizóbio, como já
comentamos, as reações ocorrem no interior dos nódulos. O nódulo se desenvolve, parte como
um sistema vascular que permite a troca do N2 fixado pelo microorganismo pelos nutrientes
fornecidos pela planta e parte como uma camada de células que reduz o influxo de O2 para o
local das reações de fixação (interior do nódulo). Além disso, os nódulos são ricos em uma
proteína conhecida como leghemoglobina, a qual contém um grupo Heme que se liga ao
oxigênio. A presença dessa proteína é indicada pela cor rósea no interior dos nódulos (a cor
rósea pode ser um indicativo de que o nódulo está ativo). Esta leghemoglobina funciona como
um transportador de O2 no nódulo necessário à respiração, sem afetar a atividade da
nitrogenase.
O processo de fixação, ou seja, a reação catalisada pela nitrogenase, ocorre dentro de
uma organela endossimbiótica conhecida como bacteróide (bactéria “madura” capaz de fixar
o N2). Como já comentamos anteriormente, estes bacteróides são encontrados em grupos, os
quais são separados de outros grupos de bacteróides e do citosol da célula hospedeira pela
membrana peribacteroidal.
O NH3 gerado dentro do bacteróide, a partir do N2, é rapidamente incorporado no
glutamato, no citosol da célula hospedeira, por ação da GS, produzindo glutamina. Esta
glutamina pode ser transportada para a parte aérea, via xilema, ou pode ser convertida em
outros compostos orgânicos. Com base na composição da seiva do xilema, as plantas podem
ser divididas em exportadoras de amidas e exportadoras de ureídeos. As leguminosas de
clima temperado (ervilha, vicia, etc.) tendem a exportar amidas (glutamina e asparagina)
enquanto as leguminosas tropicais (soja, feijão-de-corda, amendoim) exportam o nitrogênio
na forma de ureídeos (Figura 19)
Figura 19 – Estrutura dos principais ureídeos encontrados em plantas que fixam N2.
Os principais ureídeos são alantoina, ácido alantóico e citrulina (Figura 19). Como
mencionamos anteriormente, a GS incorpora o NH3 no glutamato, produzindo a glutamina no
citosol da célula infectada. A glutamina é, então, convertida para ácido úrico, o qual é
translocado para células vizinhas não infectadas (Figura 20). Nestas células, a alantoina é
sintetizada nos peroxissomos a partir do ácido úrico e o ácido alantóico é sintetizado a partir
da alantoina no retículo endoplasmático. A citrulina é sintetizada a partir da ornitina. Os
ureídeos, uma vez na parte aérea, são rapidamente catabolizados e liberam NH4+, o qual é
assimilado na rota GS-GOGAT.
99
A vantagem dos ureídeos está relacionada à eficiência de transporte de nitrogênio para a
parte aérea, com grande economia de carbono. Por exemplo, alantoina e ácido alantóico
possuem relação 4N/4C e a citrulina 3N/6C. As amidas asparagina e glutamina têm relações
de 2N/4C e 2N/5C, respectivamente.
NH+4 Glutamine
PLASTID MICROBODY
Uric Uric
Purine acid Allantoin
acid
BIBLIOGRAFIA
FERRI, M. G. (Coord.) Fisiologia Vegetal, v. 1. 2nd ed. São Paulo: EPU, 1985, 361p.
MARSCHNER, H. Mineral Nutrition of Higher Plants. 2nd ed. London: Academic Press,
1995, 889p.
HOPKINS, W. G. Introduction to Plant Physiology. 2nd ed. New York: John Wiley & Sons,
Inc., 2000, 512p.
TAIZ, L., ZEIGER, E. Plant Physiology. 2nd ed. Massachusetts: Sinauer Associates, 1998,
792p.
TAIZ, L., ZEIGER, E. Fisiologia Vegetal. 3ª edição. Editora Artmed, 2004, 719p.
100
ESTUDO DIRIGIDO No 03
2 – Como se explica ser o cloro um elemento essencial, se o mesmo não entra na composição
de nenhum composto orgânico tido como essencial?
8 – Indique como ocorre a absorção de íons e o transporte desde o solo até o xilema radicular.
101
UNIDADE V
FOTOSSÍNTESE
FOTOSSÍNTESE
1. INTRODUÇÃO
103
experiências até aqui relatadas eram qualitativas, mas o suíço Nicholas de Saussure (1804)
deu um cunho mais quantitativo aos seus experimentos, podendo, assim, chegar a conclusão
de que a água era também um reagente da fotossíntese. Além disto, ele demonstrou
claramente que na presença de luz as plantas absorviam CO2 e liberavam O2 e que no escuro
acontecia o inverso.
Durante o restante do século XIX as contribuições dos alemães Julius Robert Meyer
(1842) e Julius von Sachs (1864) permitiram entender a fotossíntese, não só como um
processo de trocas gasosas mas, também, como um processo em que há síntese de matéria
orgânica e transformação de energia luminosa em energia química.
Em 1905, o fisiologista inglês F. F. Blackman, estudando os efeitos da temperatura, da
concentração de CO2 e da intensidade luminosa sobre a fotossíntese, chegou à importante
conclusão de que este processo consistia de dois tipos de reações: as que dependiam da luz e
aquelas que ocorriam no escuro. As reações da luz eram rápidas e a temperatura não as
afetava, já as reações do escuro eram lentas e dependiam da temperatura, ou seja, as reações
da luz eram fotoquímicas e as do escuro eram bioquímicas.
Durante a década de 1920, o microbiologista holandês C. B. van Niel observou que
existiam bactérias que eram capazes de fotossintetizar, mas que não liberavam O2 durante este
processo. Ele observou também que estes microorganismos, ao invés de H2O usavam H2S
como reagente da fotossíntese, ou seja nestes organismos a equação da fotossíntese era:
Bactérias sulfurosas
CO2 + 2H2S + Luz (CH2O) + H2O + 2S
Organismos Fotossintetizantes
CO2 + 2H2A + Luz (CH2O) + H2O + 2A
Além disso, ele postulou que o O2 liberado na fotossíntese provém da água e não do
CO2, como se imaginava na época. Foi também este cientista holandês que lançou a idéia de
que a luz é que produz o agente redutor (H) e o agente oxidante (oxigênio) era produzido a
partir da água, processo que ele denominou de fotólise da água.
Folhas ou Cloroplastos
2H2O + 4Fe3+ + Luz 4Fe2+ + 4H+ + O2
Esta reação (liberação de O2 na presença de luz) ficou conhecida como reação de Hill.
Infelizmente, ele não conseguiu demonstrar naquela época, que o CO2 funcionava como
aceptor de elétrons ou de hidrogênio.
104
No início da década de 1940, o fisiologista americano Robert Emerson postulou que na
fotossíntese deveriam existir, pelo menos, duas reações luminosas (dois sistemas de
pigmentos). Sua conclusão baseou-se nos estudos por ele realizados sobre eficiência
fotossintética em função do comprimento de onda da luz incidente. Os resultados de seus
estudos, realizados com algas, podem ser assim resumidos:
• A luz mais eficiente para a fotossíntese era a que se encontrava nas faixas do
vermelho e do azul;
• A atividade fotossintética caía drasticamente quando era aplicada luz de
comprimento de onda maior que 680 nm. Isto ficou conhecido como QUEDA NO
VERMELHO (Figura 1A);
• A soma da atividade fotossintética em luz de comprimento de onda de 650 nm e 700
nm, aplicados isoladamente, era inferior à obtida quando os dois comprimentos de
onda eram aplicados simultaneamente. Isto ficou conhecido como EFEITO DE
INTENSIFICAÇÃO DE EMERSON (Figura 1B). Este resultado constituiu-se na
principal evidência de que a fotossíntese dependia de dois fotossistemas, que
trabalhavam em série.
100 120
A B
Fotossíntese (valores relativos)
80
60
60
40
40
20
20
0 0
400 500 600 700 650 700 650 + 700
Comprimento de Onda (nm) Comprimento de Onda (nm)
105
demonstraram: qual era o composto aceptor de CO2, como o CO2 era fixado, qual era o
primeiro composto formado na fotossíntese, como o composto aceptor de CO2 era regenerado
e como os carboidratos, aminoácidos e outros compostos orgânicos eram sintetizados durante
este processo fisiológico. Como reconhecimento pela elucidação do ciclo de redução do
carbono na fotossíntese o professor M. Calvin recebeu o Prêmio Nobel da Química de 1961.
Na década de 1960, os americanos liderados por H. P. Kortshak da Estação
Experimental de Cana-de-açúcar do Hawai e os australianos M. D. Hatch e C. R. Slack
demonstraram que o ciclo elucidado por Calvin não era o único encontrado em plantas
superiores. A este novo ciclo deu-se o nome de Ciclo dos Ácidos Dicarboxílicos e as plantas
que o possuem foram denominados de plantas do tipo C4 para distinguí-las das plantas tipo
C3, as quais possuem somente o ciclo de Calvin.
O estudo da fotossíntese ao longo de quase 300 anos, que acabamos de descrever, é um
exemplo de como evolui o conhecimento científico. Pesquisadores de diferentes
nacionalidades e com formação a mais diversificada, conseguiram construir uma doutrina
coerente, através do trabalho paciente e organizado, em que foram sendo agrupados diversos
conhecimentos como se fossem peças de um quebra-cabeça.
Resumindo tudo o que foi visto até aqui podemos afirmar que a fotossíntese é o
resultado de uma série de reações fotoquímicas e bioquímicas. A energia luminosa ao ser
absorvida pela clorofila provoca uma reação fotoquímica que resulta na retirada de elétrons da
água (causando liberação de O2) e consequentemente elevação dos mesmos (elétrons) para
níveis energéticos mais elevados (através dos dois fotossistemas), que possibilitam a síntese
de ATP (energia) e NADPH (poder redutor). A energia química e o poder redutor assim
formado são utilizados para reduzir o CO2 a compostos orgânicos, durante as reações
bioquímicas da fotossíntese.
3. REAÇÕES FOTOQUÍMICAS
106
Figura 2 – Esquema mostrando a organização estrutural dos cloroplastos (Taiz & Zeiger,
1998)
Clorofila a + b
0,4
Carotenóides
0,3
Absorvância
0,2
0,1
0,0
400 450 500 550 600 650 700 750
Comprimento de Onda (nm)
107
A luz proveniente do sol tem características tanto de onda como de partícula. A onda é
caracterizada pelo seu comprimento e pela freqüência, sendo que o comprimento de onda tem
relação inversa com a energia (Tabela 1). Já a luz como partícula é conhecida como fóton.
Cada fóton contém um montante de energia conhecido como quantum (plural quanta). A
energia (E) de um fóton depende do comprimento de onda de acordo a Lei de Plank;
E=h.c ou E = hν
λ
E = hν
É importante destacar que um fóton não pode ser subdividido nem um elétron pode ser
parcialmente excitado. Em outras palavras, “um fóton pode excitar apenas um elétron” (Lei de
Einstein- Stark). O nível que o elétron no estado vai atingir depende da energia do fóton, ou
seja, depende do comprimento de onda.
108
Figura 4 – Um típico espectro de ação da fotossíntese (B) comparado com o espectro de
absorção de um extrato foliar (A) (Hopkins, 2000).
A absorção da luz é representada pela equação abaixo, na qual a clorofila no seu estado
de menor energia (estado fundamental) absorve um fóton de luz e passa para um estado de
maior energia (estado excitado):
chl + hν → chl∗
A absorção da luz azul excita a clorofila para um estado de maior energia do que o vermelho
excitaria, isto porque o azul tem menor comprimento de onda e, consequentemente, maior
energia do que o vermelho (Figura 5).
Figura 5 – A excitação da molécula de clorofila pela luz (Taiz & Zeiger, 1998)
109
A clorofila excitada é extremamente instável e ela pode retornar para o estado
fundamental através dos seguintes processos:
O processo mais rápido será o mais provável para retirar a clorofila do estado excitado.
Medições do RENDIMENTO QUÂNTICO (Φ) indicam que na maioria das moléculas de
clorofila excitada predomina a reação fotoquímica (95%), contra 5% da fluorescência.
OBS: O somatório dos rendimentos quânticos dos vários processos é sempre igual a
unidade.
Todos os pigmentos ativos na fotossíntese são encontrados nos cloroplastos. Nas plantas
superiores são encontrados as clorofilas (a e b), os carotenos e as xantofilas (Figura 6). As
clorofilas a e b são os principais pigmentos relacionados com a fotossíntese. Todas as
clorofilas possuem uma estrutura em anel, quimicamente relacionada ao grupo das porfirinas,
contendo um Mg2+ no centro. Em adição, uma longa cauda hidrofóbica ancora a clorofila na
porção hidrofóbica do seu ambiente. Já os carotenos e as xantofilas são tetraterpenos
formados pela junção de unidades de isopreno.
110
Figura 6 – Estrutura molecular de pigmentos fotossintéticos (Taiz & Zeiger, 1998)
A maioria dos pigmentos serve como uma antena, coletando a luz e transferindo a
energia, por ressonância induzida, para o centro de reação, onde a reação fotoquímica ocorre
(Figura 7). Isto é necessário porque uma molécula de clorofila absorve poucos fótons por
segundo. O sistema de antena, portanto, é importante, pois torna o processo ativo a maior
parte do tempo (dia).
111
Figura 7 – O sistema em antena transferindo a excitação para o centro de reação (Taiz &
Zeiger, 1998).
O mecanismo pelo qual a energia de excitação é passada da clorofila que absorve a luz
para o centro de reação, é conhecido como transferência por ressonância induzida. Não se
trata de uma re-emissão de fótons, mas de uma transferência de energia de excitação de
molécula para molécula por um processo não radioativo. O resultado final é que 95 a 99% de
fótons absorvidos pelos pigmentos antena são transferidos para os centros de reação, onde
podem ser usados na reação fotoquímica.
A luz é absorvida nos centros de reação de duas unidades conhecidas como
fotossistemas. O centro de reação de uma dessas unidades absorve preferencialmente a luz de
comprimento de onda maior que 680 nm, precisamente em 700 nm, sendo denominada de
fotossistema I (P700). A outra unidade absorve a luz preferencialmente em 680 nm, sendo
chamada de fotossistema II (P680). Estes dois fotossistemas trabalham simultaneamente e em
série, como foi demonstrado inicialmente por Emerson (Efeito de Intensificação de Emerson,
ver figura 1).
Os pigmentos que absorvem a luz não estão distribuídos de forma desordenada nas
membranas dos tilacóides. Na realidade, em cada fotossistema, existe pelo menos um
complexo coletor de luz (antenas) formado por proteínas e pigmentos a elas associados (ver
figura 8). O complexo coletor de luz do fotossistema II (LHC II) e o do fotossistema I (LHC
I). O fotossistema II e o seu complexo coletor de luz estão localizados predominantemente nas
lamelas dos grana (regiões empilhadas). Já o fotossistema I e o seu complexo coletor de luz e,
também, o sistema de síntese de ATP, são encontrados quase que exclusivamente nas lamelas
do estroma (regiões não empilhadas) e nas bordas externas das lamelas dos grana.
112
d) Mecanismos de Transporte de Prótons e de Elétrons
Todas as etapas que constituem as reações dependentes de luz são realizadas por quatro
complexos protéicos (Figura 8): fotossistema II (PS II), complexo protéico do citocromo b6f,
fotossistema I (PS I) e ATP sintase. Estes complexos possuem proteínas transmembranares
orientadas vetorialmente nas membranas dos tilacóides, de modo que a H2O é oxidada a O2
no lúmem do tilacóide (o sistema de oxidação da água é formado por proteínas periféricas
que parecem estar associadas ao PS II, no lado do lúmem do tilacóide), NADP+ é reduzido
para NADPH no lado estromal e ATP é liberado no estroma pelo movimento de H+ do lúmem
para o estroma.
Figura 8 – O transporte vetorial de prótons e elétrons nas membranas dos tilacóides (Hopkins,
2000)
Nas reações fotoquímicas pode se distinguir dois tipos de fluxos de elétrons: fluxo não
cíclico e fluxo cíclico (Figura 9).
O fluxo de elétrons não cíclico inicia-se no fotossistema II (PS II). O centro de reação
do PS II consiste de duas proteínas de membrana conhecidas como D1 e D2, as quais possuem
massas moleculares de 32 e 34 kDa, respectivamente. Associado a estas proteínas tem a
clorofila a680 (P680) e muitas clorofilas adicionais, carotenóides, feofitina e plastoquinonas.
A luz excita a molécula de clorofila (P680) no centro de reação, o que a torna um forte
agente redutor (Figura 9). Este centro de reação pode, então, transferir um elétron para uma
molécula aceptora. Estudos indicam que a feofitina (uma molécula de clorofila em que o
Mg2+ é substituído por dois H+) é o primeiro aceptor de elétrons no PS II, seguido de duas
quinonas. Um elétron é transferido de P680 para feofitina, desta para uma primeira quinona
(Quinona A) e desta última para uma segunda quinona (Quinona B), onde permanece.
O P680 oxidado é paralelamente reduzido pelo doador de elétrons conhecido como Yz
(um intermediário, identificado como um resíduo de tirosina na proteína D1), que transfere os
elétrons da água para o P680. O P680 recebe outro fóton de luz e, uma vez excitado, transfere
um segundo elétron para feofitina. Esta transfere o segundo elétron para a Quinona A, que
transfere para a Quinona B. Esta quinona recebe dois H+ do meio (no lado do estroma)
ficando reduzida (QH2). Esta hidroquinona dissocia-se do complexo PS II, migra na porção
hidrofóbica da membrana, onde ela transfere seus elétrons para o complexo citocromo b6f e
113
libera os prótons no lúmem do tilacóide. Os elétrons do citocromo b6f são então transferidos
para uma proteína móvel contendo cobre, a plastocianina. Esta proteína movimenta-se até o
P700, provocando a redução do mesmo.
O fluxo de elétrons não cíclico continua no fotossistema I. O P700, após ser reduzido
pela plastocianina, fica apto ao processo de excitação pela luz. O centro de reação do PS I é
formado por duas proteínas com massas moleculares de 66 a 70 kDa. Associadas a estas
proteínas encontram-se além da clorofila a700 (P700), outras moléculas de clorofila e
carreadores de elétrons, como as ferredoxinas. O P700 na forma excitada pela luz transfere
elétrons, via carreadores específicos, para o NADP+, reduzindo-o para NADPH.
Em (volts)
e) A Oxidação da Água
114
O sistema de formação de oxigênio ou de foto-oxidação da água inclui três proteínas
periféricas com massas moleculares de 16, 23 e 33 kDa, que parecem estar associadas ao PS
II, no lado do lúmem do tilacóide. Este sistema inclui ainda os íons Mn2+, Ca2+ e Cl-, como
cofatores.
O modelo de foto-oxidação da água consiste de uma série de cinco estados de oxidação
do sistema, conhecidos como S0, S1, S2, S3 e S4 (Figura 10). O aumento no grau de oxidação
do sistema parece representar o aumento no grau de oxidação da enzima contendo 4 átomos
de Mn. Estes átomos estão ligados a aminoácidos na proteína D1 (PS II) e a átomos de O, Cl e
Ca.
Cada excitação de P680 é seguida pela retirada de um elétron do cacho de Mn, o qual
armazena a carga positiva residual. Quando quatro cargas positivas são acumuladas, o
complexo oxida duas moléculas de água e libera uma molécula de O2. Os prótons (H+)
produzidos pela oxidação da água são liberados no lúmem, contribuindo para a produção de
ATP, via gradiente de H+. Estes resultados indicam que QUATRO FÓTONS DE LUZ são
necessários para oxidar uma molécula de água (Lembre-se que cada fóton pode excitar apenas
um elétron - Lei de Einstein- Stark)
Os elétrons da água são transferidos, via átomos de Mn, para um carreador identificado
como Yz, o qual transfere os elétrons para o P680. Este carreador Yz tem sido identificado
como um resíduo de tirosina da proteína D1, no PS II. Assim, a água é o doador inicial de
elétrons para a fotossíntese e o Yz seria o intermediário para transferir os elétrons da molécula
de H2O para o P680.
115
f) A Síntese de ATP
116
4. CICLO DE REDUÇÃO DO CARBONO
Recentes estimativas indicam que cerca de 200 bilhões de toneladas de CO2 são
convertidas para a biomassa a cada ano. As reações que catalisam a redução de CO2 para
carboidratos são acopladas ao consumo de ATP e NADPH gerados no fluxo de elétrons
fotossintético (Figura 12). Esta redução de CO2 ocorre no estroma, a fase solúvel do
cloroplasto, onde estão localizadas as enzimas que catalisam tais reações.
a) Ciclo de Calvin
Todos os eucariotos fotossintéticos, desde a mais primitiva alga até a mais avançada
Angiosperma, reduzem CO2 para carboidratos, via o ciclo de Calvin, descrito originalmente
para espécies C3.
O ciclo da Calvin consiste de três fases: carboxilação, redução e regeneração (Figura
13)
• Carboxilação
117
DNA do cloroplasto. Esta enzima é a principal proteína encontrada em folhas verdes,
correspondendo a até 40% da proteína total deste órgão.
A rubisco, como o próprio nome indica, tem atividade carboxilásica e oxigenásica,
embora a afinidade pela carboxilação assegure a ocorrência da fotossíntese mesmo que a
concentração de CO2 seja muito menor que a de O2, como ocorre normalmente na natureza.
118
• Redução
• Regeneração
Situação 1:
↓[ortofosfato no citosol] ⇒ ↓ exportação de triose-fosfato ⇒ ↑ síntese de amido
para o citosol no cloroplasto
119
Situação 2:
Cinco enzimas do ciclo de Calvin são reguladas pela luz: rubisco (fase de carboxilação);
NADP: desidrogenase do gliceraldeído-3-fosfato (fase de redução); frutose-1,6-bisfosfatase,
sedoheptulose-1,7-bisfosfatase e quinase ribulose-5-fosfato (fase de regeneração).
A enzima da fase de redução (desidrogenase do gliceraldeído-3-fosfato) e as três
enzimas da fase de regeneração são controladas pelo sistema ferredoxina-tiorredoxina. Estas
quatro enzimas possuem um ou mais grupos dissulfeto (SS). No escuro estes resíduos estão
na forma oxidada, deixando a enzima inativa ou subativa. Na luz, os elétrons da ferredoxina,
via tiorredoxina, são utilizados para reduzir o grupo SS para o estado sulfidrila (SH). A
mudança promove a ativação da enzima.
120
A rubisco, por sua vez, é regulada pela carbamilação (Figura 15). Quando os
cloroplastos são submetidos à luz, ocorre um aumento no pH do estroma. Este aumento no
pH do estroma provoca a desprotonação do grupamento amino (ε-NH3+) de um resíduo de
lisina no sítio ativo da enzima. Este grupamento passa de NH3+ para NH2. Este resíduo
desprotonado reage com uma molécula de CO2 (que não é a mesma molécula substrato)
ficando a enzima com uma carga negativa (NHCOO-). A ativação final da enzima depende
da atração eletrostática desta carga negativa com íons Mg2+. A concentração deste íon no
estroma também aumenta em folhas expostas à luz.
Figura 15 – Mecanismo de regulação da atividade da rubisco pela luz (Taiz & Zeiger,
1998)
d) O Ciclo Fotorrespiratório
121
Figura 16 – O ciclo fotorrespiratório (Taiz & Zeiger, 1998)
122
Assim, duas moléculas de fosfoglicolato (2x2 = 4 carbonos), geradas pela atividade
oxigenásica da rubisco, produzem uma molécula de 3-fosfoglicerato (3C) e uma molécula de
CO2. Neste caso, 75% do carbono gerado pela oxigenase é recuperado e retorna para o ciclo
de Calvin. No entanto, o grau de perdas de carbono pela fotorrespiração depende das
concentrações de CO2 e O2, das propriedades cinéticas da rubisco e da temperatura, e tende a
ser maior que 25% em condições normais do ambiente.
Em geral, nas temperaturas elevadas de regiões tropicais as perdas pela fotorrespiração
podem ser bem maiores. O aumento na temperatura diminui a solubilidade dos gases, sendo
que a temperatura afeta mais a solubilidade do CO2 do que a do O2. Assim temos:
↑ Temperatura ⇒ ↓ [CO2]/[O2]
↑ Temperatura ⇒ ↑ FOTORRESPIRAÇÃO
123
I – O Ciclo C4 - SEPARAÇÃO ESPACIAL
• Na primeira etapa ocorre a fixação de CO2 (como HCO3-) pela enzima carboxilase
do fosfoenolpiruvato (PEP-carboxilase) no citosol das células do mesofilo,
formando oxaloacetato. Este ácido orgânico é convertido para malato ou aspartato,
dependendo da espécie, nos cloroplastos das células do mesofilo.
• Estes ácidos de quatro átomos de carbono são então descaboxilados nas células da
bainha do feixe vascular, liberando CO2 e produzindo piruvato ou alanina. O CO2 é
então fixado pela RuBisCO, que nestas plantas é encontrada somente nas células da
bainha do feixe.
124
• Finalmente, ocorre o transporte do composto de três carbonos, piruvato ou alanina,
de volta para o mesofilo, onde ocorre a regeneração do fosfoenolpiruvato (PEP) com
gasto de duas moléculas de ATP. Esta última reação é catalisada pela enzima
diquinase do piruvato ortofosfato.
125
Figura 18 – Esquema do Metabolismo Ácido das Crassuláceas (Hopkins, 2000)
126
f) Fisiologia Comparada de Plantas C3, C4 e CAM
A tabela 2 mostra as diferenças na fotossíntese das plantas C3, C4 e CAM. Nota-se que as
adaptações nas C4 permitem que elas fotossintetizem em altas taxas, mesmo em altas
temperaturas (o mecanismo de concentração de CO2 praticamente elimina a fotorrespiração).
Estas plantas conseguem altas produtividades nas condições tropicais. As adaptações
fisiológicas das plantas CAM permitem a sua sobrevivência em condições de climas áridos e
semi-áridos. Estas plantas são pouco produtivas (baixas taxas fotossintéticas). Já as
características das plantas C3 permitem que elas sejam mais eficientes em condições de climas
temperados (note que estas plantas consomem menos ATP por molécula de CO2 fixado). A
redução na produtividade das plantas C3 deve-se ao aumento da fotorrespiração com o
aumento da temperatura.
Parâmetro C3 C4 CAM
Taxa de Fotossíntese 10 a 20
20 a 40 0,6 a 2,4
Líquida sob (µmol de CO2 m-2 s-1)
(µmol de CO2 m-2 s-1) (µmol de CO2 m-2 s-1)
Saturação de luz exemplo: soja
exemplo: milho Agave americana
Razão de 250 a 350 18 a 125
450 a 1000 gH2O/gMS
transpiração gH2O/gMS gH2O/gMS
Conteúdo de N na
6,5 a 7,5 3,0 a 4,5
folha/máxima _
(% na matéria seca) (% na matéria seca)
fotossíntese
Saturação na Luz
400 – 500 Não saturável _
µmol m-2 s-1)
(µ
127
5. ASPECTOS FISIOLÓGICOS E ECOLÓGICOS – FATORES QUE AFETAM A
FOTOSSÍNTESE
5.1 LUZ
Aproximadamente 1,3 kW m-2 da energia radiante solar atinge a terra, porém somente
cerca de 5% desta energia é convertida em carboidratos pela fotossíntese (Figura 19). Uma
das razões para esta percentagem tão baixa é que a maior fração da luz incidente é de
comprimento de onda muito curto (por exemplo, ultravioleta) ou muito longo (infravermelho)
e não são absorvidos pelos pigmentos fotossintéticos. Em adição, muito da energia absorvida
é perdida como calor e um menor montante é perdido como fluorescência. A região do
espectro compreendida entre 400 e 700 nm (região do visível) possui a radiação útil para a
fotossíntese, sendo denominada de radiação fotossinteticamente ativa (PAR). Cerca de 85 a
90% da PAR é absorvida pela folha, sendo o restante refletido na sua superfície ou
transmitido através da folha. Como a clorofila, principal pigmento da fotossíntese, absorve
muito fortemente a luz nas regiões do vermelho e do azul, as radiações refletidas e
transmitidas são enriquecidas em verde, produzindo a coloração verde da vegetação.
A morfologia, a anatomia e as propriedades óticas das folhas são feitas para interceptar
e canalizar eficientemente a luz para os cloroplastos, ou seja, onde a fotossíntese ocorre.
A anatomia de uma folha de dicotiledônea mesófila é descrita a seguir: A folha é
coberta com uma epiderme superior (adaxial) e uma inferior (abaxial). Os tecidos
fotossintéticos são localizados entre as duas epidermes e, consequentemente, são chamados de
mesofilo (meso = meio e filo = folha). A camada superior do mesofilo consiste de uma a três
camadas de células, conhecidas como parênquima paliçádico (vem de paliçada). As células do
parênquima paliçádico são alongadas e cilíndricas com o seu maior eixo ficando
perpendicular à superfície da folha. Abaixo da camada paliçádica encontra-se o mesofilo
esponjoso, assim denominado por causa dos grandes espaços entre as células. A forma destas
células é, em geral, irregular, porém tende para a forma isodiamétrica. A estrutura de uma
folha de monocotiledôneas é similar à de dicotiledôneas. Nas monocotiledôneas, no entanto,
não se observa distinção entre parênquima paliçádico e esponjoso.
128
Figura 19 – Conversão de energia solar em energia química (carboidratos) pelas folhas
(Taiz & Zeiger, 1998).
129
Figura 20 – Diagrama simplificada mostrando a redistribuição de luz na folha (Hopkins,
2000).
Nem todas as folhas são desenhadas como uma típica folha mesomórfica de
dicotiledônea, como descrito acima. As folhas de muitas espécies apresentam modificações,
associadas a adaptações às diferentes condições ambientais. Folhas de pinheiro, por exemplo,
são mais circulares quando vistas em uma seção transversal. Sua capacidade para absorção de
luz tem sido comprometida em favor de uma reduzida relação superfície/volume, uma
modificação que evita a dessecação quando estas plantas são expostas ao ar seco do inverno.
Em outros casos, tais como as espécies de regiões semi-áridas e áridas, as folhas são
muito mais espessas, que permite o acúmulo de água. Em casos extremos, tais como os
cactos, as folhas têm sido reduzidas para espinhos e o caule exerce uma dupla função: estoque
de água e fotossíntese.
As folhas absorvem o máximo de luz quando o limbo está perpendicular à luz incidente.
Muitas espécies vegetais (alfafa, algodão, soja, feijão, espécies selvagens de Malvaceae,
130
Lupinus succulentus, dentre muitas outras) controlam a absorção de luz ajustando a orientação
do seu limbo de tal forma que ele fique perpendicular aos raios solares (Solar Tracking,
ajustamento solar). Assim, estas espécies conseguem manter a máxima taxa fotossintética
permitida ao longo do dia, inclusive pela manhã e no final da tarde (Figura 21). Isto é
importante, pois permite que a planta fotossintetize em taxas aceitáveis nas horas mais
amenas do dia (no início e no final do período de luz), o que pode ser uma vantagem para
plantas de regiões áridas ou semi-áridas. De modo contrário, algumas outras plantas movem
suas folhas para evitar a exposição completa à luz do sol, minimizando, desta forma, a
absorção de calor e a perda de água. Este movimento de folhas induzido pelo sol é conhecido
como “heliotropismo”. As folhas que maximizam a absorção de luz são conhecidas como
diaheliotrópicas e as que minimizam são paraheliotrópicas.
Um caso especial de adaptação é visto quando comparamos “Plantas (ou folhas) de Sol”
com “Plantas (ou folhas) de Sombra”. As plantas de sombra são aquelas que se desenvolvem
em habitats sombreados, como no interior das florestas. Estes habitats sombreados recebem,
em geral, menos de 1% da radiação fotossinteticamente ativa que é disponível nos habitats
“abertos”. Comparando com as plantas de sol, as plantas de sombra apresentam as seguintes
características:
131
de proteínas no estroma, incluindo a rubisco, e também menor proporção de proteínas de
transporte de elétrons. Isto indica, que as folhas de sombra investem mais energia na produção
de pigmentos coletores de luz, os quais permitem a absorção e utilização de praticamente toda
a luz que atinge a folha.
SOL
SOMBRA
Pode uma planta de sol (ou folha de sol) se adaptar à sombra ou uma planta de
sombra (ou folha de sombra) se adaptar ao sol?
132
maioria é facultativa. Muitas espécies C3 e C4, são plantas de sol facultativas e se adaptam até
certo ponto à sombra, produzindo características morfológicas e fotossintéticas semelhantes às
plantas de sombra. Elas diminuem seu ponto de compensação de CO2 (pela redução na
respiração), reduzem a taxa fotossintética e apresentam saturação da fotossíntese em baixa
irradiância. Estas plantas desenvolvem a habilidade para crescer na sombra, porém, seu
crescimento é lento.
A adaptação reversa, ou seja, da sombra para o sol, é menos comum. As plantas de
sombra (ou folhas de sombra) usualmente não podem ser expostas à radiação solar direta sem
exibir inibição drástica da fotossíntese e morte de folhas maduras dentro de poucos dias. As
folhas destas plantas não possuem a morfologia adequada e os mecanismos fisiológicos de
proteção contra o excesso de luz, que estão presentes nas folhas que normalmente são
expostas aos raios solares.
133
de crescimento. Plantas de sombra, por exemplo, possuem ponto de compensação de luz bem
menor do que as plantas de sol. Para entender isto veja a equação:
Figura 24 – Curva de resposta à luz para assimilação de CO2 de uma planta de sol e
outra de sombra (Taiz & Zeiger, 1998)
134
C4 (milho, sorgo, cana-de-açúcar, etc.), adaptadas a ambientes de elevada intensidade
luminosa, não apresentam a referida saturação (Figura 25). Algumas espécies C3, como
amendoim e girassol não apresentam saturação até quase completa luz do sol.
135
Em geral, a produtividade aumenta com o aumento do IAF, até certo ponto. Se o valor
do índice aumenta demais significa que a área foliar é muito grande em relação a área
ocupada pela planta (cultura), ou seja, muitas folhas estão sombreadas. O excesso de folhas
sombreadas representa áreas de pouca produção ou de baixa taxa fotossintética. As áreas
sombreadas funcionam como ramos “ladrões" (drenos).
OBS 1: O IAF ótimo para um dado conjunto de plantas depende do ângulo entre as folhas e o
caule. Folhas na horizontal, como as de feijão, absorvem a luz mais eficientemente, porém,
provoca maior sombreamento. De modo contrário, folhas eretas, como as de gramíneas (como
o milho), absorvem menos luz, porém, produzem pouco sombreamento. As folhas eretas
podem permitir melhor distribuição de luz na planta, aumentando a eficiência fotossintética.
OBS 2: Árvores de florestas possuem valor de IAF em torno de 12, sendo que muitas folhas
sombreadas recebem menos de 1% da luz solar. Valores de IAF em ecossistemas agrícolas
são menores, variando de 3 a 8, dependendo da espécie e da densidade de plantio.
136
Como se vê, os carotenóides convertem o oxigênio singleto em oxigênio tripleto (forma
pouco ativa), e ficam no estado excitado. Os carotenóides retornam espontaneamente para o
seu estado fundamental, liberando calor.
Já os superóxidos (O2-) formados pelo forte poder redutor da ferredoxina, na região do
fotossistema I, podem ser eliminados pela ação de enzimas, incluindo a Superóxido
Dismutase e Ascorbato Peroxidase:
dismutase do superóxido
2 O2- (tóxico) + 2 H2O 2 H2O2 (tóxico) + O2
peroxidase do ascorbato
H2O2 (tóxico) + ascorbato 2 H2O + desidroascorbato
reduzido
Caso esta segunda linha de defesa não seja suficiente, os produtos tóxicos, formados
pelo excesso de energia, pode danificar certas moléculas alvo que são susceptíveis,
especialmente a proteína D1 do fotossistema II. Este processo produz a conhecida
fotoinibição. No entanto, as plantas possuem um sistema de reparo que envolve a remoção,
a degradação e a “síntese de novo” da proteína D1, que é novamente inserida no centro de
reação do fotossistema II. As outras partes do centro de reação do fotossistema II parecem ser
recicladas. Assim, a proteína D1 é o único componente que necessita ser sintetizado de novo.
- O aumento na concentração de CO2 pode contribuir para o efeito estufa. Isto decorre
da absorção da radiação infravermelha refletida pela terra pelos gases da atmosfera
(aí entra o CO2), produzindo o aquecimento do planeta.
137
Sob condições ambientes (O2 = 21% e CO2 = 0,036%), e nas condições TROPICAIS
(altas temperaturas), temos:
Plantas C3
Fotossíntese líquida = fotossíntese total – (respiração + fotorrespiração)
Plantas C4
Fotossíntese líquida = fotossíntese bruta – respiração
OBS: Em condições de clima temperado as plantas C3 podem ser mais eficientes (ver
figura 27).
Outro ponto a ser considerado é a saturação da fotossíntese pelos níveis de CO2. As
plantas C4, apresentam saturação em baixas concentrações de CO2, o que se deve ao fato de
que estas plantas já possuem um mecanismo eficiente de concentração deste gás nas células
da bainha do feixe. Por outro lado, em plantas C3, aumentando-se a concentração de CO2
acima do ponto de compensação estimula-se a fotossíntese, sem saturação, até valores
relativamente altos deste gás na atmosfera. Estes resultados indicam que as plantas C3 podem
ser beneficiadas pelo aumento na concentração de CO2 atmosférico, enquanto que a maioria
das plantas C4 é saturada pelos níveis deste gás existente atualmente no nosso planeta.
138
5.3 TEMPERATURA
139
5.4 IDADE DA FOLHA E TRANSLOCAÇÃO DE CARBOIDRATOS
Quando as folhas crescem, sua capacidade para fotossintetizar aumenta até elas
atingirem a sua maturidade, ou seja, seu crescimento final. A partir de então, a taxa de
fotossíntese começa a decrescer. Folhas velhas e senescentes eventualmente tornam-se
amarelas e são incapazes de realizar a fotossíntese, pois a clorofila é degradada e o cloroplasto
perde sua função.
Um controle interno da fotossíntese é a taxa na qual os produtos da fotossíntese, como a
sacarose, podem ser translocados da folha produtora (fonte) para o órgão de utilização ou
armazenamento (dreno). Em geral, a remoção de tubérculos, sementes ou frutos em
desenvolvimento (drenos), inibe a fotossíntese após uns poucos dias, especialmente nas folhas
adjacentes que normalmente translocam substâncias para estes órgãos. Além disso, espécies
que fotossintetizam em taxas mais elevadas também apresentam maiores taxas de
translocação de assimilados via floema. Estes resultados mostram que existe um controle
entre a produção (fotossíntese), a translocação via floema e a utilização dos fotoassimilados
(respiração e, ou armazenamento).
BIBLIOGRAFIA
FERREIRA, L. G. R. Fisiologia Vegetal: Relações Hídricas. 1st ed. Fortaleza: Edições UFC,
1992, 138p.
MARSCHNER, H. Mineral Nutrition of Higher Plants. 2nd ed. London: Academic Press,
1995, 889p.
HOPKINS, W. G. Introduction to Plant Physiology. 2nd ed. New York: John Wiley & Sons,
Inc., 2000, 512p.
TAIZ, L., ZEIGER, E. Fisiologia Vegetal. 3ª edição. Editota Artmed, 2004, 719p.
140
ESTUDO DIRIGIDO No 04
ASSUNTO: FOTOSSÍNTESE
1 – Sabe-se que a fotossíntese consta de duas fases. Diga quais são elas, onde ocorrem e o que
produzem?
3 – Todas as etapas que constituem as reações dependentes de luz, são realizadas por quatro
complexos protéicos: fotossistema II (PS II), citocromo b6f, fotossistema I (PS I) e a
sintase do ATP. Além destes também se encontra o complexo de foto-oxidação da água.
Em relação a essa fase da fotossíntese descreva:
a) O fluxo acíclico de elétrons;
b) O fluxo cíclico de elétrons;
c) O processo de foto-oxidação da água;
d) O processo de síntese de ATP (fotofosforilação);
e) Mostre a distribuição de H+, O2, ATP e NADPH, ou seja, indique onde cada um desses
produtos é liberado (no estroma ou no lúmen dos tilacóides). JUSTIFIQUE.
12 – Faça comentários sobre o aumento dos níveis de CO2 na atmosfera, “efeito estufa” e
produtividade das plantas.
141
UNIDADE VI
1 – INTRODUÇÃO
A evolução das plantas terrestres, a partir de plantas aquáticas, criou inicialmente uma
série de novos problemas, muitos deles relacionados com a aquisição e retenção de água. Em
resposta a essas pressões ambientais, as raízes das plantas evoluíram e passaram a fixar a
planta e absorver água e nutrientes do solo. Já, as folhas, permitiram a absorção de luz e a
realização das trocas gasosas. Com o aumento no tamanho das plantas, as raízes e as folhas se
tornaram cada vez mais separadas umas das outras. Assim, sistemas para transporte à longa
distância evoluíram, permitindo a eficiente troca de produtos de absorção e de assimilação
entre as raízes e a parte aérea.
O xilema, como já vimos nas unidades III e IV, é o tecido que transporta água e sais
minerais das raízes para a parte aérea, enquanto o floema é o tecido que transloca os produtos
da fotossíntese das folhas maduras para as áreas de crescimento e de estoque (como raízes,
frutos, folhas jovens, etc.). O floema também redistribui água e vários compostos orgânicos
na planta. Alguns destes compostos chegam na folha madura via xilema e podem ser
redistribuídos para as demais regiões da planta sem sofrer qualquer modificação metabólica.
No xilema também são encontrados solutos orgânicos, como os produtos da assimilação
do nitrogênio (os aminoácidos, glutamina e asparagina, e os ureídeos, ácido alantóico,
alantoína e citrulina), dentre outros. Nesta unidade, no entanto, estudaremos apenas a
estrutura do floema e suas funções na translocação e distribuição de fotoassimilados.
2 – VIAS DE TRANSLOCAÇÃO
Figura 1 – O tronco de uma árvore antes e após o anelamento (Taiz & Zeiger, 1998)
140
As células do floema que translocam açúcares e outras substâncias orgânicas e
inorgânicas são conhecidas como “elementos crivados”. Este termo é geral e inclui os
altamente diferenciados elementos de tubo crivado, típicos das Angiospermas, e as células
crivadas, características das Gimnospermas. Em adição, o tecido do floema contém células
companheiras, outras células de parênquima, fibras, esclereídeos e laticíferos. No entanto,
somente os elementos crivados atuam diretamente no processo de translocação.
Os elementos crivados são tipos raros de células vivas, dentre as encontradas nas
plantas (Figura 2). Por exemplo, os elementos crivados perdem seu núcleo e tonoplasto
durante o desenvolvimento. Além disso, microfilamentos, microtúbulos, complexo de Golgi e
ribossomos também estão ausentes nestas células maduras. Estas células mantêm a membrana
plasmática e algumas organelas em menor número (mitocôndrias, plastídios, retículo
endoplasmático). A parede celular não é lignificada, embora possa apresentar um
espessamento em alguns casos. Desta forma, os elementos crivados são diferentes dos
elementos traqueais do xilema, os quais são mortos na maturidade, não possuem membrana
plasmática e apresentam parede celular secundária, lignificada. Estas diferenças estão
relacionadas com o mecanismo de transporte à longa distância utilizado. Lembre-se que o
xilema está quase sempre submetido a uma forte tensão, o que requer que suas paredes sejam
rígidas.
Figura 2 – Esquema mostrando um elemento crivado maduro (Taiz & Zeiger, 1998)
141
membranas e são geralmente encontradas na parede final do elemento de tubo, onde as células
individuais se juntam para formar uma séria longitudinal conhecida como tubo crivado.
Os elementos de tubo crivado possuem mecanismos que, sob determinadas condições,
permitem a obstrução dos poros nas placas crivadas, evitando a perda da seiva pela planta.
Isto ocorre, geralmente, em casos de estresse mecânico (injúria) e também quando a planta é
submetida a algum tipo de estresse fisiológico. Um destes mecanismos consiste no acúmulo
da proteína do floema, o qual ocorre em todas as dicotiledôneas e muitas monocotiledôneas,
mas é ausente nas Gimnospermas. Estas proteínas do floema parecem ser sintetizadas nas
células companheiras e transportadas para o citosol do elemento de tubo, onde elas se
associam para formar os filamentos ou corpos das proteínas do floema (P-proteína). Quando a
planta sofre um dano, o conteúdo é despejado no poro, obstruindo-o e evitando a perda da
seiva.
Um outro mecanismo que parece ocorrer mais em longo prazo, e que também contribui
para a obstrução dos poros das placas crivadas, é a produção e acúmulo do polissacarídeo
calose. A calose é uma β-1,3-glucana que é sintetizada vetorialmente na membrana
plasmática do elemento de tubo crivado, pela enzima sintase da calose, sendo o substrato
suprido no lado citosólico e o produto sendo depositado na superfície da parede celular.
Quando o elemento crivado recupera-se do dano, a calose desaparece dos poros.
Cada elemento de tubo crivado é associado com uma ou mais células companheiras,
sendo que estes dois tipos de células se originam a partir da divisão de uma mesma célula
mãe. As numerosas conexões intercelulares (Plasmodesma), entre os elementos de tubo
crivado e as células companheiras, sugerem um estreito relacionamento funcional entre estas
células. A célula companheira pode ajudar em funções metabólicas críticas que o elemento de
tubo crivado perdeu, total ou parcialmente, durante o processo de diferenciação. Dentre estas,
poderíamos destacar a síntese de proteínas e o suprimento de energia na forma de ATP (as
células companheiras apresentam inúmeras mitocôndrias). As células companheiras podem
contribuir, também, para o transporte de fotoassimilados das células maduras para os
elementos de tubo crivado nas nervuras secundárias da folha.
Nas gimnospermas, células albuminosas, que não se originam da mesma célula mãe da
célula crivada, parecem executar as funções das células companheiras.
Em algumas espécies de dicotiledôneas herbáceas, as células companheiras, apresentam
numerosas invaginações da parede celular, as quais ampliam a área superficial da membrana.
Estas células são conhecidas como células de transferência, e podem aumentar o potencial
de transferência de fotoassimilados produzidos nas células do mesofilo para os elementos de
tubo crivado.
Tabela 1 – Características dos dois tipos de elementos crivados de plantas.
Elemento de Tubo Crivado Célula Crivada
• Encontrado nas Angiospermas • Encontradas nas Gimnospermas
• Algumas áreas crivadas são diferenciadas • Não apresenta placas crivadas, ou seja,
em forma de placa todas as áreas crivadas são similares
• Os poros da placas crivadas são canais • Poros nas áreas crivadas aparecem
abertos bloqueados com membranas
• A proteína do floema está presente em • Não apresentam a proteína do floema
todas as dicotiledôneas e muitas
monocotiledôneas
• Células companheiras são fontes de • Células albuminosas parecem
energia e de compostos orgânicos. Em desempenhar funções semelhantes às das
algumas espécies pode-se observar a células companheiras
presença de células de transferência
142
3 – PADRÕES DE TRANSLOCAÇÃO: da Fonte para o Dreno
143
glutamina e asparagina. Os níveis de aminoácidos e ácidos orgânicos são variáveis e, em
geral, bem menores que os de carboidratos.
144
Figura 3 – Compostos que não são translocados no floema (A) e compostos que são
translocados no floema (B) (Taiz & Zeiger, 1998)
145
Outros solutos tais como os íons minerais móveis no floema, são redistribuídos a partir
de folhas senescentes, de maneira similar ao nitrogênio orgânico.
É importante relembrar que o nitrogênio na forma inorgânica (NO3-) não é transportado
via floema. Como vimos na unidade IV (Nutrição Mineral), o NO3- e algumas formas
orgânicas de nitrogênio (amidas e ureídeos) são transportadas das raízes para as folhas, via
xilema. Na parte aérea, o NO3- é assimilado e os compostos orgânicos formados podem ser
translocados via floema.
146
totalmente pelo simplasto, via plasmodesmas, ou pode ocorrer parte via simplasto e parte via
apoplasto (Figura 5). O modo de carregamento, via simplasto ou apoplasto, depende da
espécie vegetal.
Na terceira etapa, os açúcares são transportados para dentro dos elementos de tubo
crivado e células companheiras, onde eles se tornam mais concentrados do que no mesofilo.
Esta absorção pode ocorrer via plasmodesma (simplasto) ou, no caso da via apoplástica,
através de um simporte sacarose-H+ na membrana plasmática.
1 Plasmodesmata
S Sucrose
U (symplast)
C
R
O Sucrose
S 2
E Sucrose Sucrose
Uma vez no floema, sacarose e outros solutos são translocados da fonte, um processo
conhecido como exportação. A translocação através do sistema vascular, da fonte para o
dreno, é referida como transporte à longa distância.
Muitas outras substâncias, tais como, ácidos orgânicos e hormônios vegetais, são
encontradas na seiva do floema em concentrações bem inferiores às dos carboidratos. Estas
substâncias devem ser absorvidas diretamente pelos elementos crivados e células
companheiras, via difusão pelo simplasto ou por transporte passivo através da membrana.
147
6 – DESCARREGAMENTO DO FLOEMA - transporte de substâncias do elemento de
tubo crivado para o órgão dreno
1 Plasmodesmata
S
U (symplast)
C
R Glucose
2
O Sucrose
S Frutose
E 3
Sucrose
148
b) Transporte à curta distância
c) Metabolismo ou Armazenamento
Uma vez dentro da célula dreno, os solutos podem ser metabolizados ou armazenados.
O metabolismo pode incluir produção de energia (respiração) ou fornecimento de esqueletos
de carbono (também está associado à respiração) para vias metabólicas associadas com o
crescimento do tecido.
O armazenamento ocorre principalmente em sementes, frutos e muitos órgãos
subterrâneos. O soluto pode ser armazenado como tal ou pode ser convertido para outra forma
de armazenamento. Por exemplo, em muitos tecidos (raízes tuberosas, tubérculos, etc.) a
sacarose pode ser convertida para amido, o qual é armazenado nos amiloplastos.
7 – TRANSLOCAÇÃO NO FLOEMA
149
xilema, a água tende a deixar o floema em resposta a este gradiente de Ψw , causando um
decréscimo no potencial de pressão Ψp no elemento crivado do dreno.
Como se vê, ocorre um aumento no Ψp nos elementos de tubo crivado do tecido fonte e
uma redução no Ψp nos elementos de tubo crivado do tecido dreno. Assim, o movimento da
solução na translocação à longa distância é impulsionado pelo gradiente de pressão e não pelo
gradiente de potencial hídrico. Trata-se de um fluxo passivo (fluxo em massa) que, entretanto,
depende dos transportes ativos à curta distância, envolvidos no carregamento e
descarregamento do floema.
150
8 – ALOCAÇÃO E PARTIÇÃO DE FOTOASSIMILADOS
a) Alocação
151
armazenamento, o carbono transportado pode ser acumulado como sacarose ou hexoses nos
vacúolos ou como amido nos amiloplastos. A sacarose pode ser convertida, também, para
outras formas de estoque, como proteínas e lipídios (nestes casos, os açúcares entram no
processo de respiração e produzem esqueletos de carbono para a síntese de aminoácidos e
ácidos graxos, os quais vão produzir proteínas e lipídios, respectivamente). Nos tecidos em
crescimento, de maneira similar, os solutos podem ser utilizados para respiração e para a
síntese de outras moléculas requeridas para o crescimento.
b) Partição
152
BIBLIOGRAFIA
FERREIRA, L. G. R. Fisiologia Vegetal: Relações Hídricas. 1st ed. Fortaleza: Edições UFC,
1992, 138p.
FERRI, M. G. (Coord.) Fisiologia Vegetal, v. 1. 2nd ed. São Paulo: EPU, 1985, 361p.
HOPKINS, W. G. Introduction to Plant Physiology. 2nd ed. New York: John Wiley & Sons,
Inc., 2000, 512p.
MARSCHNER, H. Mineral Nutrition of Higher Plants. 2nd ed. London: Academic Press,
1995, 889p.
TAIZ, L., ZEIGER, E. Fisiologia Vegetal. 3ª edição. Editora Artmed, 2004, 719p.
153
ESTUDO DIRIGIDO No 05
1 – Em uma planta por onde é feito o transporte de açúcar e qual o principal açúcar
transportado?
154
UNIDADE VII
RESPIRAÇÃO
RESPIRAÇÃO
1 – INTRODUÇÃO
12 O2 + 48 H+ + 48 e- → 24 H2O
Neste caso, sacarose é oxidada até CO2 e O2 é reduzido para água. Parte da energia
livre, liberada por esta reação, é utilizada para síntese de ATP, a função primária da
respiração. Além disso, muitos intermediários envolvidos nas reações da respiração são
utilizados como fontes de carbono para a síntese de muitos outros compostos de planta (por
exemplo, aminoácidos).
É importante destacar, que a energia proveniente da oxidação de sacarose não é liberada
de uma única vez. Para evitar danos na estrutura da célula, a energia resultante da oxidação de
sacarose, é liberada passo a passo, mediante uma série de reações em sequência. Estas reações
podem ser divididas em três fases: a Glicólise, o Ciclo do Ácido Tricarboxílico (Ciclo de
Krebs) e a Cadeia de Transporte de Elétrons.
2 – A RESPIRAÇÃO CELULAR
a) Os Substratos da Respiração
156
QR = Moles de CO2 liberado
Moles de O2 consumido
Embora o valor do QR seja útil em alguns casos, deve-se ter cuidado quando da sua
interpretação. Por exemplo, é possível que mais de um substrato esteja sendo respirado ao
mesmo tempo e, neste caso, o QR representa um valor médio. Além disso, quando a célula
está realizando a fermentação nenhum O2 é consumido e o valor do QR torna-se bastante
elevado.
Finalmente, é importante destacar que os principais substratos da respiração são os
carboidratos. Assim, valor de QR em torno de 1,0 parece ser o mais comum. Valores de QR
menores que 1,0 podem indicar deficiência de carboidratos (fome), sendo associados ao
consumo de proteínas.
b) Glicólise
157
hidrolítica, pode deixar o plastídio através de um transportador de hexoses. A glucose-1-
fosfato, o produto da via fosforolítica, é primeiro convertido para triose-fosfato (gliceraldeído-
3-fosfato), a qual deixa o plastídio através de um transportador que troca uma triose-fosfato
(para o citosol) por um fosfato inorgânico (entra no plastídio)
A sacarose, principal substrato para a respiração vegetal, é degradada por ação de duas
enzimas: sintase da sacarose e a invertase (invertase alcalina e a invertase ácida). A sintase da
sacarose e a invertase alcalina são localizadas principalmente no citosol, enquanto a invertase
ácida é encontrada associada às paredes celulares e aos vacúolos (locais em que o pH fica
próximo de 5,0). As equações catalisadas são:
(Phosphorolytic) (Hidrolytic)
Glucose Fructose
Glucose-1-P ATP
1
ATP
ADP 3
Glucose-6-P ADP
2
Fructose-6-P
ATP
4
ADP
Fructose-1,6 BP
158
OBS: Células de plantas possuem uma Fosfofrutoquinase dependente de pirofosfato,
que, ao contrário da Fosfofrutoquinase dependente de ATP, permite que a reação 4 (Figura 1)
seja reversível. Isto pode ser importante na conversão de lipídios em glucose
(gluconeogênese).
Na etapa seguinte da glicólise, a frutose-1,6-bisfosfato é inicialmente clivada e produz
duas moléculas de três carbonos, Dihidroxiacetona-fosfato e Gliceraldeído-3-fosfato (Figura
2). A molécula de dihidroxicetona-fosfato é prontamente convertida para gliceraldeído-3-
fosfato e vice-versa. Isto indica que uma molécula de frutose-1,6-bisfosfato (6 C) poderá
produzir duas moléculas de piruvato (3 C), considerando que as moléculas de
dihidroxicetona-fosfato são convertidas para gliceraldeído-3-fosfato, que continuam no ciclo.
Uma importante função da glicólise é a produção de energia, que pode ocorrer de duas
maneiras. A primeira é a formação de poder redutor na forma de NADH. Na reação 3 (Figura
2), duas moléculas de NADH são produzidas quando gliceraldeído-3-P é oxidado para 1,3-
bisfosfoglicerato. Esta oxidação parcial não requer O2 e também não resulta na liberação de
CO2. O NADH gerado pode ser usado como poder redutor para a síntese de outras moléculas
(principalmente na fermentação) ou, na presença de oxigênio, pode ser metabolizado na
mitocôndria para produzir ATP (respiração aeróbica).
P = phosphate group = PO3H-
Fructose -1,6 - bisphosphate
1
Dihydroxyacetone - P Glyceraldehyde – 3 – P
2 Pi
3 NAD-
NADH
1,3 - Biphosphoglycerate
ADP
4
ATP
3 - Phosphoglycerate
3 - Phosphoglycerate
6
Phosphoenolpyruvate
ADP
7
ATP
PYRUVATE
159
A energia contida nas moléculas de hexoses é também conservada na forma de ATP,
nas reações 4 e 7 (Figura 2). A formação de ATP ocorre em um tipo de reação referida como
FOSFORILAÇÃO AO NÍVEL DO SUBSTRATO, por que envolve a transferência direta de
um grupo fosfato da molécula substrato para o ADP. Os compostos 1,3-bisfosfoglicerato e
fosfoenolpiruvato armazenam energia livre suficiente para gerar uma molécula de ATP. Em
geral, para cada molécula de sacarose que entra na glicólise, 8 ATP são formados (dois para
cada triose). Como na fase inicial da glicólise ocorre o gasto de 4 ATP, o SALDO é de 4
ATP para cada molécula de sacarose convertida para quatro moléculas de piruvato.
Fosfatase do PEP
PEP + H2O →→→→→ Piruvato + Pi (a enzima se localiza nos vacúolos e sua atividade
aumenta sob condições de deficiência de fósforo)
160
mobilização e sob condições de estresse hídrico e salino. Nestes casos, ocorre uma mudança
no metabolismo e o processo respiratório predominante é a fermentação (Figura 3). Nas
plantas predomina a fermentação alcoólica, em que as enzimas descarboxilase do piruvato e
desidrogenase alcoólica convertem o piruvato em etanol e CO2 e o NADH (produzido na
reação 3 da Figura 2) é oxidado, regenerando o NAD+. Na fermentação láctica (comum em
animais e também presente nas plantas), a enzima desidrogenase do lactato usa o NADH para
reduzir piruvato a lactato, regenerando o NAD+. Acredita-se que o etanol é um produto menos
tóxico do que o lactato, pois o acúmulo deste último promove acidificação do citosol.
161
Para que o piruvato formado na glicólise (citosol) seja utilizado na respiração aeróbica é
necessário, portanto, que ele seja transportado para a matriz mitocondrial. Isto ocorre através
de um translocador localizado na membrana interna da mitocôndria, o qual catalisa uma troca
eletroneutra de piruvato por OH-. Na matriz mitocondrial, o piruvato é oxidativamente
descarboxilado pela enzima desidrogenase do piruvato e produz NADH, CO2 e acetil-CoA. O
acetil-CoA é combinado com um ácido de 4 carbonos (Oxaloacetato), reação catalisada pela
sintase do citrato, produzindo um ácido tricarboxílico de 6 carbonos (ácido cítrico). Esta
reação inicia a série de reações conhecida como ciclo do ácido cítrico ou ciclo do ácido
tricarboxílico ou ciclo de Krebs (Figura 5). Este ciclo de reações representa o segundo
estágio da respiração e ocorre na matriz mitocondrial.
162
O ciclo de Krebs mostrado anteriormente apresenta algumas diferenças entre a
respiração dos vegetais e a dos animais. Por exemplo, na etapa em que o composto Succinil-
CoA é convertido para Succinato, ocorre produção de ATP em plantas (Figura 5), enquanto
que nos animais ocorre inicialmente a produção de GTP.
Outra feição característica do ciclo de Krebs de plantas é a atividade da enzima málica
dependente de NAD+. A atividade desta enzima permite a completa oxidação de ácidos
orgânicos, na ausência do substrato normal do ciclo, o piruvato. Por exemplo, o
fosfoenolpiruvato no citosol pode ser convertido para oxaloacetato e fosfato inorgânico (Pi)
por ação da carboxilase do PEP. Ainda no citosol, a desidrogenase do malato converte
oxaloacetato em malato, consumindo NADH (As reações mostradas abaixo são chamadas
de Reações Anapleróticas). O malato é transportado para a matriz mitocondrial através de
um translocador de dicarboxilatos, na membrana interna da mitocôndria. Na mitocôndria, por
ação da enzima málica dependente de NAD+ (presente nas plantas), o malato é convertido
para piruvato, o qual pode ser oxidado no ciclo de Krebs (ver reações abaixo).
No citosol:
Fosfoenolpiruvato + CO2 → Oxaloacetato + Pi + NADH Malato + NAD+
Na Mitocôndria:
enzima málica
Malato + NAD+ Piruvato + CO2
163
mitocôndria (ciclo de Krebs). A CTE catalisa o fluxo de elétrons do NADH e FADH2 para o
oxigênio, o aceptor final de elétrons da respiração, regenerando o NAD+ e FAD+.
FADH2 + ½ O2 →→ FAD+ + H2O ∆G o’ = - 169 KJ/mol
NADH + H+ + ½ O2 →→ NAD+ + H2O ∆Go’ = - 220 KJ/ mol
164
• Complexo III: Complexo do Citocromo bc1 (Ubiquinol:citocromo c óxido -
redutase) – Este complexo oxida ubiquinol e transfere os elétrons via uma centro Fe-
S, dois citocromos b e um citrocomo c1 ligado à membrana, para o citocromo c. O
citocromo c é uma proteína da CTE que não é integral, e serve como um carreador
móvel que transfere os elétrons do Complexo III para o Complexo IV.
165
e) Síntese de ATP acoplada ao fluxo de elétrons
166
Estes compostos dissipam o gradiente eletroquímico de prótons. Desta forma, o fluxo de
elétrons pode continuar ocorrendo sem concomitante síntese de ATP. Isto explica por que as
plantas não podem acumular NH3 em suas células (Figura 7).
4 FADH2 = 6 ATP
A glicólise não é a única rota disponível para oxidação de glucose em plantas. A via
oxidativa das pentoses-fosfato (Figura 8) pode também realizar esta tarefa, usando enzimas
que são solúveis no citosol, podendo contribuir com 5 a 20% do fluxo de carbono respiratório.
As duas primeiras reações são irreversíveis e representam os eventos de oxidação desta
via, convertendo glucose-6-fosfato (6C) em ribulose-5-fosfato (5C), com perda de um CO2 e
geração de duas moléculas de NADPH (Figura 8). O restante da via das pentoses-fosfato
167
consiste de uma série de interconversões metabólicas, que convertem a ribulose-5-fosfato em
dois intermediários da glicólise (Frutose-6-fosfato e Gliceraldeído-3-fosfato).
168
ácidos nucléicos, proteínas, celulose, lipídios e outras moléculas celulares requerem, além de
energia (ATP e poder redutor), os esqueletos de carbono que formam as unidades estruturais
básicas destas macromoléculas. Os mais importantes esqueletos de carbono, formados a partir
de intermediários da glicólise e Ciclo de Krebs, são mostrados na figura 9.
169
transferem moléculas da glicólise para o Ciclo de Krebs, garantindo o funcionamento normal
da respiração (Estas reações são mostradas nas páginas 160 e 163).
Figura 10 – Taxas de respiração em função da idade. Esta curva aplica-se à maioria das
plantas herbáceas, tecidos e órgãos (Hopkins, 2000).
170
b) Taxa de Respiração e Economia no Uso do Carbono
Um aspecto importante a ser considerado é que, na maioria das plantas, uma proporção
significativa do carbono fotoassimilado é alocado para a respiração. Um levantamento feito
com espécies herbáceas mostrou que 30 a 60% do ganho diário com a fotossíntese são
consumidos pela respiração, e este valor decresce com a idade da planta. Em árvores lenhosas
jovens as perdas podem chegar a um terço do carbono assimilado, podendo dobrar nas plantas
adultas devido ao aumento na proporção de tecidos não fotossintéticos. Em áreas tropicais, a
respiração pode consumir de 70 a 80% dos fotoassimilados, por causa da alta respiração
noturna associada às elevadas temperaturas desta região.
Em um esforço para melhor entender o impacto da respiração sobre a economia no uso
de carbono nas plantas, alguns fisiologistas têm tentado distinguir entre os gastos com o
crescimento (carbono e energia) e os gastos com a manutenção das atividades e estruturas
celulares (carbono e energia). Assim, têm sido propostos os termos Respiração de
Crescimento e Respiração de Manutenção. A respiração de CRESCIMENTO inclui o carbono
realmente incorporado (produção de esqueletos de carbono para a formação de parede celular,
macromoléculas, etc.) mais o carbono respirado para produzir a energia, na forma de ATP e
poder redutor (NADPH, NADH, FADH2), necessária para as reações de biossíntese e para o
crescimento. A RESPIRAÇÃO DE MANUTENÇÃO, por outro lado, fornece a energia para
os processos que não resultam em incremento de matéria seca (crescimento), tais como:
“turnover” de moléculas orgânicas, manutenção das estruturas de membranas e troca de
solutos, dentre outros. Esta respiração de manutenção é baixa em plantas e órgãos jovens que
estão em processo de rápido crescimento (Figura 11). No entanto, em órgãos que terminaram
o seu crescimento, a respiração de manutenção pode corresponder a uma elevada percentagem
da respiração total. Em folhas maduras, por exemplo, ela aproxima-se de 100% de toda a
respiração.
Relative Respiration Rate
Growth
component
Maintenance
component
171
energia útil. Visto que, esta última situação representa uma perda de carbono pela planta, tem-
se assumido que uma menor taxa de respiração pode favorecer uma maior economia de
carbono, resultando em maior crescimento e produtividade. Corroborando com esta
afirmação, alguns estudos têm mostrado a existência de correlação inversa entre a taxa de
respiração e a taxa de crescimento (Figura 12). De acordo com estes estudos, os genótipos
mais produtivos foram os que apresentaram menor taxa de respiração de manutenção nos
tecidos maduros. Em outras palavras, quanto menor o consumo de carbono na respiração de
manutenção, maior proporção do carbono estará disponível para o crescimento.
a) Disponibilidade de substrato
A respiração depende da disponibilidade de substratos. Plantas pobres em amido,
frutanas ou açúcares de reserva, respiram em taxas consideravelmente baixas. Plantas
deficientes em açúcares aumentam sensivelmente suas taxas de respiração quando supridas
com os referidos substratos. De fato, a taxa de respiração de folhas é maior no início da noite,
quando os níveis de açúcares são altos, do que antes de iniciar o dia, quando os níveis de
substratos são baixos. Além disso, folhas sombreadas (no interior da copa de uma árvore, por
exemplo) apresentam menores taxas de respiração do que folhas expostas ao sol. Isto se deve,
provavelmente, à menor taxa de fotossíntese e, consequentemente, menor produção de
substratos nas folhas sombreadas.
É interessante que, quando ocorre uma forte deficiência de açúcares, as proteínas podem
ser utilizadas como substrato para respiração. Estas proteínas são primeiramente hidrolisadas
produzindo aminoácidos, os quais são degradados nas reações da glicólise e ciclo de Krebs.
172
b) Luz
Os efeitos da luz sobre a respiração mitocondrial têm sido motivos de considerável
discussão. Alguns consideram que a respiração mitocondrial decresce na luz, porém não se
conhece ao certo a intensidade deste efeito. Na realidade, a tentativa para estudar a respiração
em folhas verdes tem levado as conclusões conflitantes. Estas variam desde completa inibição
da atividade mitocondrial, operação parcial do ciclo de Krebs, ou até estímulo da respiração
pela luz. O problema reside na dificuldade de se medir a respiração em um período em que a
troca de gases é dominada pelo fluxo de CO2 e O2 devido a fotossíntese, a reciclagem de CO2
dentro da folha e a troca de metabólitos entre cloroplastos e mitocôndrias. Alguns acreditam
que pelo menos uma operação parcial do ciclo de Krebs é necessária, para fornecer
esqueletos de carbono para a síntese de compostos durante o dia.
OBS: Mutantes sem o complexo respiratório em folhas fotossintetizantes sofrem inibição do
desenvolvimento foliar de da fotossíntese.
c) Temperatura
O coeficiente de temperatura (Q10) é usado para descrever o efeito da temperatura sobre
a respiração.
Q10 = Taxa de Respiração em (t + 10oC)
Taxa de Respiração em toC
Em temperaturas entre 5 e 25 ou 30oC, a respiração aumenta exponencialmente com a
temperatura e o valor do Q10 fica em torno de 2,0. Nesta faixa de temperatura, a taxa de
respiração dobra para cada aumento de 10oC, o que está de acordo com o comportamento
típico das reações enzimáticas. Em temperaturas acima de 30oC, o valor de Q10 na maioria
das plantas começa a cair. Quando a temperatura aproxima-se de 50 a 60oC, a desnaturação
térmica das enzimas respiratórias e danos sobre as membranas, praticamente paralisam a
respiração mitocondrial.
d) Oxigênio
Como aceptor final de elétrons, a disponibilidade de O2 é, obviamente, um fator
determinante da taxa respiratória. No entanto, sob condições normais, o oxigênio raramente é
um fator limitante.
Porém, existem algumas situações onde a disponibilidade de O2 pode tornar-se um fator
limitante. Por exemplo, em tecidos com baixa relação superfície/volume, como tubérculos de
batata, a lenta difusão de O2 pode restringir a respiração no interior destes órgãos. O
suprimento de O2 é também comprometido em cultivos inundados, onde a respiração
mitocondrial torna-se comprometida, principalmente em espécies não adaptadas.
Nestes casos, pode-se verificar aumento na respiração anaeróbica (principalmente a
fermentação alcoólica). Este tipo de respiração, por ser menos eficiente (produz pouco ATP)
pode levar a um maior consumo de carboidratos (Efeito Pasteur).
173
BIBLIOGRAFIA
174
ESTUDO DIRIGIDO No 06
ASSUNTO: RESPIRAÇÃO
12. Mostre graficamente a relação entre a taxa de respiração e a idade de um órgão vegetal.
14. Mostre como a temperatura pode afetar a respiração vegetal. Avalie possíveis efeitos
sobre a produtividade.
175
UNIDADE VIII
DESENVOLVIMENTO
1. INTRODUÇÃO
O desenvolvimento de uma planta requer uma seqüência de eventos que deve ocorrer de
forma precisa e ordenada. A partir de um zigoto, os processos de crescimento, diferenciação e
morfogênese, operando conjuntamente, irão produzir um indivíduo adulto. A planta adulta
poderá, então, florescer, produzir frutos com sementes, senescer e, eventualmente, morrer.
Todos estes eventos constituem o desenvolvimento da planta. O entendimento do
desenvolvimento e dos fatores que o controlam (fatores ambientais, fatores endógenos, etc.) é
um dos principais objetivos da Fisiologia Vegetal.
O propósito desse capítulo é servir como uma introdução ao desenvolvimento vegetal,
incluindo os seguintes itens:
• Breve apresentação dos conceitos de crescimento, diferenciação e morfogênese, que
representam o desenvolvimento;
• Apresentação dos padrões de crescimento e desenvolvimento das plantas;
• Análise cinética do crescimento;
• Uma breve discussão sobre as condições, endógenas e exógenas, que regulam o
desenvolvimento vegetal.
2. CONCEITOS
a) Crescimento
176
Figura 1 – Mudanças no peso da matéria fresca e no peso da matéria seca de sementes
de ervilha germinando no escuro (Salisbury & Ross, 1991)
177
b) Diferenciação
178
Figura 2 – Os padrões axial e radial de tecidos são estabelecidos durante a embriogênese
(Taiz & Zeiger, 1998).
Embora uma grande variedade de formas vegetais seja produzida pelo crescimento e
desenvolvimento (existem cerca de 285 mil espécies diferentes), todas elas estão associadas a
três simples eventos ao nível celular. O primeiro é a divisão celular, no qual uma célula
madura se divide em duas células filhas que, em muitos casos, são diferentes uma da outra. O
segundo evento é a expansão celular, no qual uma ou ambas células filhas aumentam de
volume. O terceiro evento é a diferenciação celular, no qual a célula tendo alcançado o seu
volume final, torna-se especializada para executar uma determinada função. As diferentes
maneiras pelas quais as células se dividem, crescem e se especializam, produzem as diferentes
espécies vegetais e os diferentes tipos de tecidos e órgãos na planta.
A divisão celular consiste de algumas etapas que constituem o Ciclo Celular. O ciclo
celular consiste de uma série de eventos relacionados com o tempo de replicação do DNA em
relação à divisão nuclear (Figura 3). As fases do ciclo são: mitose; período de crescimento da
célula (G1); período de replicação do DNA (S); segundo período de crescimento da célula,
quando ela se prepara para a divisão (G2); mitose.
179
diferenciação
desdiferenciação
crescimento e
diferenciação celular
C. diploide
In
te
rfa
G1 período de
Célula poliploide
se
crescimento
celular antes do S período em
DNA ser que o DNA é
replicado replicado
telofase
ase
anaf fase
ta G2 período após
se
me
se
to
a replicação do
a
of
Mi
DNA; células
pr
preparadas para
divisão
Após a mitose e a citocinese, uma das células filhas poderá não continuar no ciclo e, ao
invés de se dividir, irá se expandir e se diferenciar. Como o diagrama ilustra, células
diferenciadas de plantas podem algumas vezes entrar novamente no ciclo, um processo
conhecido como desdiferenciação (já discutido anteriormente). Esta célula desdiferenciada
ganha novamente a habilidade para se dividir, ou seja, ela se torna novamente uma célula
meristemática.
A célula pode se dividir em diferentes planos. Este processo de divisão celular
(citocinese) começa com a produção da placa celular, a qual surge pela fusão de centenas de
vesículas, contendo polissacarídeos (como as pectinas e hemiceluloses), provenientes do
complexo de Golgi. Estas vesículas se fundem nos dois lados da placa celular, liberando o seu
conteúdo para formar a lamela média e parede primária e a junção das membranas das
vesículas produzem as novas membranas das células filhas (Figura 4).
180
polissacarídeos (hemiceluloses). Os microtúbulos parecem guiar as vesículas para formar a
placa celular durante a citocinese. Quando a nova parede (que se forma na placa celular) entre
as células filhas está em um plano aproximadamente paralelo à superfície da planta, a divisão
é dita periclinal. Alternativamente, se a nova parede é formada perpendicularmente à
superfície, a divisão é anticlinal (Figura 4).
Não somente a direção da divisão celular é determinante para a formação das várias
estruturas. A direção do crescimento celular á também crítico. O crescimento celular depende
da absorção de água, como será mostrado posteriormente. Em órgãos com formatos
alongados, como caules e raízes, o processo de crescimento ocorre principalmente em uma
determinada direção. Neste caso, nos referimos ao alongamento celular. É claro, as novas
células formadas pela divisão crescem normalmente nas três dimensões, porém nos caules e
raízes o crescimento torna-se um “alongamento”. Isto ocorre também nas folhas de
gramineas.
Por que uma célula alonga principalmente em uma dimensão e não se expande
igualmente em todas as direções? Como já vimos na unidade II, a parede primária de células
em crescimento consiste de microfibrilas de celulose que formam uma matriz semicristalina
com polissacarídeos não celulósicos (hemiceluloses) embebida em uma matriz de gel
(pectinas) e algumas proteínas.
Se a orientação das novas microfibrilas é ao acaso, o crescimento tende a ser igual em
todas as direções (como é o caso de frutos frescos e células do mesofilo esponjoso). Em
muitos casos, no entanto, a orientação das microfibrilas não é completamente ao acaso,
ocorrendo predominantemente ao longo de um eixo. O crescimento é, então, favorecido na
direção perpendicular a este eixo, produzindo o alongamento de raízes, caules e pecíolos
(Figura 5). Os microtúbulos parecem guiar o processo de deposição e orientação das
microfibrilas de celulose.
181
Como a célula é a unidade básica da vida, pode-se dizer que o crescimento do
organismo reflete o crescimento de suas células individuais. Assim, antes de entendermos
como o organismo cresce torna-se necessário conhecermos como as células crescem. O
crescimento como um aumento irreversível em tamanho (volume) ou em massa. Visto que a
maioria do volume da célula é ocupado por água, pode-se admitir que para uma célula
aumentar seu volume ela precisa absorver água. Caso uma célula não possa absorver água ela
não poderá crescer. Por exemplo, se colocamos uma célula em uma solução isotônica ela não
apresenta absorção líquida de água e não se expande. Como já mostramos em exercícios
anteriores (unidade III), uma célula poderá aumentar seu volume se colocada em uma solução
hipotônica ou em água pura (estas soluções apresentam potencial hídrico maior do que o da
célula). Assim, nós podemos concluir que a força para a expansão celular é a absorção de
água.
Como mostramos na unidade III a absorção de água pelas células ocorre por osmose. A
maior concentração de solutos dentro da célula decresce o seu potencial osmótico e
consequentemente o seu potencial hídrico, permitindo a entrada de água na célula. Nas nossas
discussões sobre relações hídricas de células temos mostrado, também, que a entrada de água
na célula produz uma pressão interna, conhecida como pressão ou potencial de turgescência
(P ou Ψp), a qual expande o protoplasto contra a parede celular (Figura 6). Para resistir a tal
pressão, a parede celular precisa ser rígida o que pode restringir o crescimento da célula. Nós
podemos então admitir que para que ocorra o crescimento da célula, a rigidez da parede
celular deve ser de alguma maneira modificada. Vale lembrar que as células em crescimento
possuem apenas parede primária.
Visto que a expansão requer um aumento em volume, então, a expansão celular também
requer um aumento na superfície da parede celular, ou seja, a extensão da parede (Figura 6).
Os pesquisadores sabem que a extensão da parede é impulsionada pela pressão de
turgescência e isto tem sido demonstrado empiricamente. Por exemplo, quando a pressão de
turgescência é reduzida, a taxa de expansão celular também declina. Além disso, a extensão
da parede e o crescimento celular não ocorrem em células com pressão de turgescência igual a
182
zero (plasmólise incipiente) ou menor que zero (plasmólise), mesmo que a célula permaneça
metabolicamente ativa e que os estímulos de crescimento estejam presentes.
dV/dt = m (P - Y)
183
QUANTO À ORIGEM
RAIZ CAULE
Primária Secundária Primário Secundário
Raízes
184
Figura 7 – Diagrama de uma raiz primária mostrando a coifa, zona meristemática, zona
de alongamento, zona de maturação e o aparecimento de raízes laterais
(Taiz & Zeiger, 1998).
Abaixo da zona meristemática encontra-se uma região conhecida como coifa, a qual
protege o meristema e parece ser fundamental na percepção da gravidade (gravitropismo). Na
coifa ocorre a produção de mucilagem que parece evitar a dessecação do ápice radicular. Na
zona meristemática propriamente dita, encontra-se um centro quiescente (local de pouca
divisão celular) logo acima da coifa. Mais acima do centro quiescente tem outra região de
rápida divisão celular. As células produzidas pela divisão neste meristema desenvolvem-se
em epiderme, córtex, endoderme, periciclo, floema e xilema (corpo primário).
Na região de alongamento ocorre a formação da endoderme, com as estrias de Caspary.
Em seção transversal observa-se que a endoderme divide a raiz em duas partes: o córtex para
fora e o cilindro central para dentro. O cilindro central contém os tecidos vasculares: floema
(transporta metabólitos da parte aérea para as raízes) e xilema (transporta água e solutos para
a parte aérea). É interessante notar que o floema se desenvolve antes do xilema, o que pode
ser fundamental para “alimentar” o ápice, favorecendo o crescimento da raiz.
Os pêlos radiculares, que são extensões das células da epiderme da raiz, aparecem na
zona de maturação, e aumentam grandemente a superfície para absorção de água e nutrientes.
185
É, também, na zona de maturação que o xilema apresenta-se mais desenvolvido, com
capacidade para transportar quantidades substanciais de água e de solutos para a parte aérea.
O desenvolvimento do sistema radicular também depende da formação de raízes
laterais. Estas raízes laterais aparecem, geralmente, a partir de uma certa distância do ápice da
raiz principal, variando de alguns milímetros até poucos centímetros (Figura 7). Elas se
originam no periciclo e crescem atravessando o córtex e a epiderme. A expansão das raízes
laterais depende da atividade de um meristema apical semelhante aos observados nas demais
raízes.
Além da atividade do meristema apical, o desenvolvimento do sistema radicular de
gimnospermas e de dicotiledôneas depende, também, da atividade de meristemas laterais.
Estes meristemas são o câmbio vascular e o felogênio, os quais vão produzir o crescimento
em diâmetro das raízes. A tabela 1 mostra as diferenças entre raízes com crescimento primário
e com crescimento secundário. Muitas monocotiledôneas não formam câmbio vascular, e o
pequeno crescimento radial de sua raízes deve-se ao aumento em diâmetro de células não
meristemáticas.
Caules
Figura 8 – Seção longitudinal de um ápice da parte aérea (Taiz & Zeiger, 1998).
186
Cada entrenó consiste de células maduras na sua parte superior e de células jovens próximas
da base, derivadas do meristema intercalar.
De forma semelhante às raízes, os caules de muitas plantas (principalmente árvores e
arbustos de gimnospermas e de dicotiledôneas) apresentam crescimento em diâmetro devido à
ação dos meristemas laterais. Os corpos primário e secundário de caules são mostrados na
tabela 1.
Folhas
187
OBS: Lígula: apêndice membranáceo ou piloso localizado entre o limbo e a bainha, nas folhas
das gramíneas.
Nestas folhas, a parte mais velha fica no ápice e a parte mais jovem na base, ou seja, próximo
ao meristema. Esse meristema permanece potencialmente ativo por longos períodos, mesmo
após a maturação da folha. Ele pode ser estimulado pela desfolhação causada pelo animais ou
por máquinas cortadeiras. A distribuição do crescimento em folhas de gramíneas é mostrada
na figura 9.
OBS: A lígula (ligule), referida na figura 9, é uma estreita porção que separa o limbo da
bainha de folhas de gramíneas.
188
perpetuação e, em seguida, senescem (Ex: milho). No entanto, plantas da espécie Agave
americana podem existir por uma década ou mais antes de florescer uma vez e morrer. Este
tipo de espécie monocárpica é conhecido como perene, pois ela vive por mais de duas
estações de crescimento. A Agave americana e muitos bambus (gênero Bambusa e outros),
os quais vivem mais de meio século antes de florescer e senescer, são excelentes exemplos de
hábito de crescimento monocárpico.
As espécies policárpicas, perenes por definição, não convertem todos os seus
meristemas vegetativos em estruturas reprodutivas de crescimento determinado. Algumas
espécies perenes (arbustos e árvores) podem utilizar apenas as gemas axilares para a formação
de flores, mantendo a gema terminal vegetativa. Alternativamente, a gema terminal pode
florescer enquanto as axilares permanecem vegetativas. Nos primeiros anos de vida, estas
espécies permanecem no estádio juvenil (JUVENILIDADE) e tornam-se reprodutivas
somente após atingir uma certa idade (a duração da fase juvenil varia de acordo com a
espécie). Muitos são os exemplos de arbustos e árvores com esse tipo de crescimento (acerola,
cajueiro, mangueira, juazeiro, ipê, pau-d’arco, etc.).
Muitas espécies que vivem em climas frios (regiões de clima temperados) ou secos
(cerrado brasileiro e caatinga nordestina) perdem a sua folhagem durante a estação
desfavorável ao crescimento, porém mantém gemas dormentes que se desenvolverão na
estação favorável. Algumas dicotiledôneas herbáceas (perenes) perdem toda a sua parte aérea
durante a estação desfavorável ao crescimento (seca ou frio). Estas espécies, no entanto,
formam bulbos, tubérculos ou rizomas, os quais permanecem dormentes no solo durante a
estação seca (ou fria). As reservas contidas nestes órgãos serão utilizadas para produzir uma
nova parte aérea quando as condições forem favoráveis ao crescimento.
É interessante notar, que algumas espécies anuais, como o feijão-de-corda (Vigna
unguiculata), podem continuar crescendo vegetativamente, mesmo após o florescimento.
Neste caso, é comum se referir a esta espécie como de crescimento indeterminado. De modo
contrário, as plantas de crescimento determinado produzem um certo número de folhas,
florescem e, então, morrem. Um exemplo típico é o milho (Zea mays L.).
Na fase logarítmica, o tamanho (V) aumenta exponencialmente com o tempo (t). Isto
significa que a taxa de crescimento (dV/dt) é lenta inicialmente, porém aumenta
continuamente. A taxa é proporcional ao tamanho do organismo; quanto maior o organismo,
189
mais rapidamente ele cresce. A fase de crescimento logarítmica é também exibida por uma
simples célula, tal como a célula gigante da alga Nitella, e por populações de organismos
unicelulares, tais como bactérias, nas quais cada produto da divisão é capaz de crescer e
dividir.
Na fase linear, o aumento em tamanho continua constante, usualmente em taxa máxima
por algum tempo. A taxa de crescimento constante é indicada pela curvatura constante na reta
das figuras 10A e 11A (crescimento absoluto), e pela parte horizontal das figuras 10B e 11B
(taxa de crescimento). Não é muito claro por que a taxa de crescimento nesta fase é constante
e não proporcional ao incremento no tamanho do organismo. No entanto, quando se analisa
um simples caule não ramificado, esta fase linear pode representar a atividade constante do
seu meristema apical.
Figura 10 – Uma curva de crescimento sigmóide (A) e outra curva mostrando a taxa de
crescimento (B) de plantas de milho (Salisbury & Ross, 1991).
190
(Figura 11A e 11B), porém a curva de taxa de crescimento apresentou um patamar mais
achatado, devido à maior duração da fase linear.
50 60 70 80
Figura 11 – Curvas de crescimento obtidas com duas variedades de ervilha (Salisbury &
Ross, 1991).
191
Figura 12 – Curvas de crescimento de algumas espécies arbóreas durante uma estação
de crescimento (Salisbury & Ross, 1991).
192
uma seqüência programada de ativação gênica de modo a se obter os produtos gênicos
necessários, isto é, as proteínas, em tempo apropriado. A célula deve também ter a capacidade
para responder a estes produtos gênicos. Os estudos utilizando técnicas modernas de biologia
molecular têm apresentado evidências de que a expressão gênica é um dos principais fatores
na regulação do desenvolvimento em nível intracelular.
A expressão gênica em organismos eucariotos pode ser convenientemente dividida em
cinco estágios principais: ativação gênica; transcrição (síntese de mRNA); processamento do
RNA; tradução (síntese de proteínas); e processamento das proteínas. Alguns destes processos
genéticos básicos são apresentados na figura 13. Estas etapas são requeridas para o sucesso na
expressão gênica e cada etapa representa um ponto potencial no qual a expressão do gen pode
ser regulada durante o desenvolvimento. Existem evidências para transcrição diferencial bem
como para o controle da tradução e do processamento pós-traducional de proteínas durante o
desenvolvimento da planta. Alguns exemplos poderão ser apresentados nas próximas
unidades.
Transcrição Tradução
DNA mRNA Proteínas
Replicação
DNA
193
Estes sinais podem induzir a produção de hormônios em determinados locais da planta.
Moléculas receptoras específicas correspondentes para cada um dos hormônios de planta,
estão presentes nas células alvo (onde o hormônio vai atuar) e, a ligação hormônio-receptor
parece desencadear as respostas.
194
ESTUDO DIRIGIDO No 07
6. Quais são os locais de crescimento nas plantas? Explique, resumidamente, como ocorre o
crescimento de raízes, caules e folhas.
BIBLIOGRAFIA
ALBERTS, B. Molecular Biology of the Cell. 3rd ed. New York: Garland Publishing, 1994,
1294p.
FERRI, M. G. (Coord.) Fisiologia Vegetal, volumes 1. e 2. 2nd ed. São Paulo: EPU, 1985,
361p.
HOPKINS, W. G. Introduction to Plant Physiology. 2nd ed. New York: John Wiley & Sons,
Inc., 2000, 512p.
TAIZ, L., ZEIGER, E. Plant Physiology. 1st ed. California: The Benjamin/Cummings
Publishing Company, Inc., 1991, 559p.
195
UNIDADE IX
1. INTRODUÇÃO
Figura 1 – Estrutura dos cinco hormônios clássicos de plantas (Kende & Zeevaart,
1997).
215
2. CONCEITOS DE HORMÔNIO E DE REGULADORES DE CRESCIMENTO
3. IDENTIFICAÇÃO DE HORMÔNIOS
a) Bioensaios
O bioensaio precisa ser escolhido de acordo com a substância que está sendo estudada.
Assim, se estivermos estudando giberelinas, precisamos utilizar um teste específico para
216
giberelinas. Além disso, toda vez que um extrato vegetal é testado, deve-se montar uma
curva-padrão com doses conhecidas da substância padrão (por exemplo, ácido giberélico).
A figura 2 ilustra um bioensaio típico que relaciona a concentração de auxina (AIA -
ácido indol acético) com o crescimento de segmentos de caule de ervilha. Note que o
crescimento aumenta com o aumento da concentração de AIA, atingindo um ótimo.
Concentrações acima do ótimo resultam na redução da taxa de crescimento, ou seja, se a
concentração de auxina for muito alta pode ocorrer inibição do crescimento. Quando este teste
é usado para determinar a quantidade de auxinas em um extrato vegetal, deve-se trabalhar na
faixa em que a resposta é linear (observe no gráfico que o crescimento é linear quando as
concentrações estão na faixa de zero a 0,1 mg L-1 de AIA).
b) Análise Instrumental
217
c) Imunoensaios
Outra técnica que tem ganhado considerável importância para a análise de hormônio é o
imunoensaio, incluindo Radioimunoensaio e o teste ELISA. Imunoensaios, disponíveis para
os quatro grupos de hormônios não gasosos (auxinas, giberelinas, citocininas e ácido
abscísico), empregam anticorpos (produzidos em animais, como ratos) que reagem com o
hormônio (antígeno). A quantificação pode ser feita pela diferença na radioatividade do
precipitado entre um controle e a amostra desconhecida (Radioimunoensaio). No caso do teste
ELISA, uma enzima, a fosfatase alcalina, é ligada ao anticorpo e, a reação da enzima é usada
para quantificar o imunoprecipitado (Consultar Davies, 1988).
218
a) A percepção do sinal
O Sinal a que nos referimos pode ser alguma mudança no ambiente (alteração na
umidade do solo, na temperatura do ar, na concentração de íons, respostas à luz, etc.) ou no
desenvolvimento da planta (germinação ou dormência, passagem do desenvolvimento
vegetativo para o reprodutivo, formação de sementes e frutos, senescência, queda de folhas,
amadurecimento de frutos, etc.). Estes sinais podem induzir a produção de hormônios.
A percepção do sinal envolve a reação do hormônio com o receptor. O hormônio de
planta pode difundir-se de célula para célula através do simplasto ou do apoplasto. Em cada
evento a célula destinada a responder ao hormônio, conhecida como célula alvo, deve ser
capaz de detectar a presença do hormônio, o que é feito através de receptores.
A detecção é acompanhada pela interação entre o hormônio e o receptor celular, o qual
é específico para o hormônio e característico da célula alvo. Estes receptores são
glicoproteínas que se ligam reversivelmente com o hormônio. A formação do complexo ativo
hormônio-receptor, completa o estágio de percepção do sinal.
Um exemplo:
• a raiz percebe a redução na umidade no solo (SINAL) produzindo o hormônio ácido
abscísico - ABA (mensageiro primário).
• ABA é translocado para as folhas, onde altera a concentração de mensageiros secundários
(Ca2+ e IP3) no citosol das células-guardas.
• Esses mensageiros secundários vão amplificar o sinal, através de três vias específicas, as
quais produzem o fechamento estomático (Resposta Final).
c) A Resposta Final
A resposta de cada célula para sinais identificados pelos hormônios, depende de dois
principais fatores: (1) seu programa de desenvolvimento, isto é, os tipos de genes que estão
sendo expressos no tempo de exposição ao sinal; (2) a concentração de outras moléculas de
sinalização (mensageiros secundários).
Dependendo da velocidade da resposta, as vias de transdução de sinal podem provocar
ou não alterações na expressão gênica. Em alguns casos, a resposta envolve alteração na
atividade de enzimas pré-existentes ou na abertura de canais de íons. Em outros casos, a
resposta envolve a ativação ou inibição de fatores de transcrição, os quais alteram a expressão
gênica.
Os resultados mais recentes sobre o modo de ação dos hormônios, inclusive para
respostas específicas, serão descritas posteriormente.
219
PARTE II - INFORMAÇÕES ESPECÍFICAS SOBRE AS PRINCIPAIS CLASSES
DE HORMÔNIOS
1.1A Descoberta
20
Curvature (degrees)
15
10
0
0,1 0,2 0,3 0,4
IAA Concentration (mg L-1)
Figura 4 – Estudos realizados por Went, demonstrando a relação entre a curvatura do
coleóptilo e a concentração de AIA no lado sombreado (Hopkins, 1998).
220
mais relevante do ponto de vista fisiológico (Figura 5). Em face da estrutura relativamente
simples do AIA (IAA na figura), os laboratórios foram capazes de sintetizar várias moléculas
com atividade de auxina, as quais são conhecidas como auxinas sintéticas (Ácido Indol-3-
Propílico – AIP ou IPA; Ácido Naftaleno Acético – ANA ou NAA; Ácido 2,4
diclorofenoxiacético – 2,4 D, dentre outros).
A
Figura 5 – Estruturas de auxinas naturais (A) e de algumas auxinas sintéticas (B) (Taiz
& Zeiger, 1998).
Embora a estrutura das auxinas ativas sejam quimicamente diversas, uma comparação
destas em pH neutro revela que todas as estruturas possuem uma carga negativa forte no
grupo carboxílico (da cadeia de carbono) e uma carga positiva fraca na estrutura do anel.
Estas cargas são sempre separadas por uma distância de 0,5 nm, independente do tipo de
auxina (Figura 6). Esta separação de carga pode ser um requerimento estrutural essencial para
que a molécula tenha atividade de auxina.
221
Figura 6 – Formas dissociadas de auxinas naturais e sintéticas, mostrando a separação
de cargas nas moléculas (Taiz & Zeiger, 1998).
222
qual sofre descaboxilação, produzindo o Indol-3-Acetaldeído. Este é finalmente oxidado por
uma desidrogenase específica, produzindo o AIA (Figura 7).
223
Embora o AIA na forma livre seja a forma biologicamente ativa do hormônio, a maioria
de auxinas em plantas é encontrada na forma conjugada, em um estado covalentemente
ligada. Estas auxinas conjugadas têm sido identificadas em todas as plantas superiores e são
geralmente inativas. O AIA forma conjugados com compostos de baixa massa molecular
(glicose, mio-inositol e amidas) e de alta massa molecular (glicoproteínas).
Como já comentamos anteriormente, a maior concentração de auxinas livre nas plantas
é encontrada nos meristemas apicais da parte aérea, folhas jovens e frutos em
desenvolvimento, visto que eles são os sítios primários da síntese de auxinas. No entanto,
como a auxina é amplamente distribuída na planta, o metabolismo do AIA conjugado pode
contribuir na regulação dos níveis de auxina livre. Por exemplo, durante a germinação de
sementes de milho, o conjugado AIA-mio-inositol é translocado do endosperma para o
coleóptilo, via floema, e, parte do AIA livre produzido no coleóptilo pode derivar da hidrólise
desse AIA conjugado.
Como a biossíntese, a degradação enzimática de AIA parece envolver mais de uma via.
Uma dessas vias pode envolver a oxidação do AIA por enzimas peroxidases, produzindo o 3-
metilenooxidol, via descarboxilação. No entanto, um processo de oxidação, sem que ocorra
descaboxilação, parece ser a principal via de degradação do AIA, a qual produz o Ácido
Oxidol-3-Acético. Assim, o “pool” de AIA no citosol é metabolisado, tanto via conjugação
como pelo catabolismo puramente oxidativo (sem descarboxilação). O “pool” de AIA nos
cloroplastos é protegido desses processos, sendo regulado pela quantidade de AIA no citosol,
com o qual ele está em equilíbrio.
Há mais de 50 anos foi descoberto que, em seções de coleóptilos isolados, o AIA move-
se preferencialmente do ápice para a base (basipetalmente). Esse tipo de transporte tem sido
chamado de TRANSPORTE POLAR BASÍPETO. A auxina é o único fitohormônio que é
transportado desta forma. Visto que o ápice da parte aérea serve como a principal fonte de
auxina para a planta inteira, o transporte polar contribui para a formação de um gradiente
decrescente de auxina da parte aérea para as raízes. Esse gradiente longitudinal de auxina
parece controlar alguns processos na planta, incluindo o alongamento do caule, a dominância
apical, a cicatrização de ferimentos e a senescência de folhas.
A elucidação do mecanismo quimiosmótico para o transporte de solutos na década de
1960 (Mitchel), permitiu a criação de um modelo para explicar o transporte polar de auxinas
(Figura 8). A primeira etapa no transporte polar é o influxo da auxina (1). Esta absorção
pode ser passiva ou ativa. Essa dupla possibilidade depende fortemente do pH do apoplasto. A
forma não dissociada do AIA (AIAH), na qual o grupo carboxílico está protonado, é lipofílica
e difunde-se livremente através da bicamada lipídica. Visto que a H+-ATPase da membrana
plasmática mantém normalmente a solução na parede celular (apoplasto) com pH em torno de
5,0, cerca de metade das moléculas de AIA (que tem pKa = 4,75) no apoplasto poderá estar na
forma não dissociada e, portanto, poderá difundir-se passivamente para dentro da célula, a
favor do seu gradiente de concentração. O restante da auxina na forma dissociada (AIA-) é
absorvida ativamente, via um transporte ativo secundário (cotransporte), mediado por um
simporte AIA-1 /2 H+.
Uma vez que auxina entra no citosol, o qual tem um pH em torno de 7,2, quase todo o
AIA poderá estar na forma dissociada (AIA-1). Esse AIA dissociado deixa a célula, efluxo (2),
via um carreador que utiliza a diferença de potencial de membrana que é negativo dentro da
célula. Uma feição crucial desse modelo é que o efluxo de AIA-1 ocorre preferencialmente na
membrana basal de cada célula, onde o carreador de efluxo de AIA parece estar localizado.
224
De acordo com esse modelo, a repetição da absorção (influxo) de AIA na parte apical da
célula (1) e a preferencial saída (efluxo) na base de cada célula (2), garante a ocorrência do
transporte polar.
Figura 8 – Modelo quimiosmótico para o transporte polar de auxinas (Taiz & Zeiger,
1998).
Por outro lado, o AIA que é sintetizado nas folhas maduras parece ser transportado para
o resto da planta, via floema. Nesse transporte, a auxina pode mover-se em diferentes direções
e em velocidades muito maiores do que aquelas observadas no transporte polar. Algumas
evidências sugerem que o transporte de auxinas a longa distância via floema é importante para
controlar alguns processos, como a divisão nas células do câmbio vascular e a formação de
raízes laterais. Em algumas situações, o AIA na forma conjugada parece ser transportado via
floema, para as regiões de crescimento.
Do exposto acima, vê-se que o nível de AIA livre no citosol é determinado por alguns
processos interconectados (Figura 9). A soma total desses processos em um dado local na
planta determina a quantidade de AIA livre disponível para a célula.
225
Tryptophan-dependent Tryptophan-independent
biosynthesis biosynthesis
IAA Conjugation
Transport
Oxidation
Descarboxylation
Compartimentation
in chloroplast
Figura 9 – Fatores que influenciam os níveis de AIA livre (representada pelo ácido
indol acético - AIA ou IAA) em células de plantas (Taiz & Zeiger, 1998).
a)Alongamento celular
226
na célula produz um aumento no potencial de turgescência, que atua sobre a parede celular.
Quando o valor de Ψp supera a pressão limite (Y), a parede se distende e a célula cresce.
Alternativamente, alterações nos valores de m (extensibilidade da parede celular)
podem alterar os valores de Y. Células com paredes mais extensíveis crescem com maior
facilidade. Muitas evidências indicam que a auxina causa um aumento na extensibilidade da
parede (m), ou seja, na presença de auxina a parede celular se distende mais facilmente e,
consequentemente, a célula se expande.
A hipótese aceita para explicar o efeito da auxina no alongamento celular é conhecida
como HIPÓTESE DO CRESCIMENTO ÁCIDO. Esta hipótese estabelece que a auxina
causa um aumento no efluxo de H+, com conseqüente queda no pH do apoplasto. Isto ativa
inicialmente as expansinas (grupo de proteínas) que atuam quebrando a spontes de hidrogênio
das ligações cruzadas entre as microfibrilas de celulose e as hemiceluloses. Após, outras
enzimas são ativadas (hidrolases, pectinases, celulases e hemicelulases) que podem atuar
sobre os componentes da parede celular, provocando seu afrouxamento e aumentando sua
extensibilidade.
De acordo com essa hipótese, a auxina poderia aumentar a taxa de efluxo de H+ através
da membrana plasmática agindo sobre os seguintes processos: aumentando a atividade da H+-
ATPase ou aumentando a síntese da H+-ATPase. Evidências para ambos os mecanismos têm
sido obtidas (Figura 10).
É importante destacar que a acidificação da parede celular não é a única maneira pela
qual a auxina induz o alongamento de células de plantas. A auxina deve afetar outros
importantes processos relacionados ao crescimento celular, tais como, absorção e produção de
solutos osmóticos, além de controlar o crescimento e a manutenção da estrutura da parede
227
celular. A absorção de solutos, como já vimos, depende, em grande parte, da atividade da H+-
ATPase, a qual é induzida pela auxina. A auxina também aumenta a atividade de certas
enzimas envolvidas na biossíntese de polissacarídeos. Esses polissacarídeos podem ser
utilizados na síntese de novos materiais da parede celular, contribuindo para a continuação do
crescimento celular.
b) Tropismo e Nastismos
• Nictinásticos (do grego “nyctos” = noite + nastos = fechar) – São mais típicos de folhas
que apresentam uma posição diferente na noite, em relação àquela observada durante o
dia. Tipicamente, folhas e folíolos permanecem na posição horizontal, ou abertos, durante
o dia e assumem uma posição mais vertical, ou fechada, durante a noite. Este movimentos
nictnásticos dependem de mudanças reversíveis de turgescência nas células do pulvino.
Estes movimentos nictinásticos parecem estar sob o controle do fitocromo (veremos isto
na Unidade X)
228
fenômeno é conhecido como Sismonastia. Visto que respostas sismonásticas respondem
ao toque, elas são algumas vezes consideradas como respostas tigmonásticas (movimento
em respostas ao toque, que envolve mudança de turgescência de células). No entanto,
respostas sismonásticas respondem a uma variedade de estímulos incluindo, ventos,
ferimentos, chuvas, calor intenso, etc. A resposta final, ou seja, o movimento da folha,
envolve, também, mudanças na turgescência das células do pulvino.
229
TIGMOTROPISMO
Um tipo de tropismo é o Tigmotropismo, ou crescimento em resposta a um toque. O
tigmotropismo permite o crescimento de raízes em torno de rochas e é também responsável
pela habilidade da parte aérea de plantas trepadeiras para se desenvolver em torno de
estruturas de suporte.
FOTOTROPISMO
Fototropismo, ou crescimento em relação à luz, é expresso em toda a parte aérea e em
algumas raízes. Ele assegura que as folhas poderão ser supridas com a luz do sol e, portanto,
serão capazes de realizar a fotossíntese.
De acordo com o clássico modelo Cholodny – Went para o fototropismo, os ápices de
coleóptilos de gramíneas teriam três funções especializadas:
• Produção de AIA livre;
• Percepção do estímulo de luz unilateral. Uma Flavoproteína (FMN) parece ser o
fotossensor do fototropismo (ela percebe a luz azul) – fototropina;
• Transporte lateral de AIA em resposta ao estímulo fototrópico.
Assim, em resposta ao estímulo direcional da luz, a auxina produzida no ápice, ao invés de ser
transportada basipetalmente (do ápice para a base), é transportada lateralmente para o lado
sombreado. Uma vez que a auxina alcança o lado sombreado, ela é transportada
basipetalmente para a zona de alongamento, onde ela estimula o crescimento da célula. A
aceleração do crescimento no lado sombreado e a diminuição do crescimento no lado
iluminado (Figura 12), conhecido como crescimento diferencial, produz a curvatura em
direção à luz (ver Figura 4).
Figura 12 – O crescimento dos lados sombreado (shaded side) e iluminado (irradiated side) de
coleóptilos (Taiz & Zeiger, 1998).
230
GRAVITROPISMO
Gravitropismo, crescimento em reposta à gravidade, capacita a raiz para crescer para
dentro do solo e a parte aérea para crescer para cima, contra a ação da gravidade, sendo isto
especialmente crítico durante os estádios iniciais de germinação e de desenvolvimento da
plântula. Este alinhamento da planta é conhecido como Ortogravitrópico. A raiz primária que
cresce para o centro da terra, exibe Gravitropismo Positivo. A parte aérea que cresce para
cima, contra a ação da gravidade, exibe Gravitropismo Negativo. Alguns órgãos, tais como
estolões, rizomas e alguns ramos laterais, os quais crescem formando um ângulo reto em
relação à força da gravidade, são denominados de Diagravitrópicos. Órgãos orientados em
ângulos intermediários (0 a 90o) em relação à força da gravidade são denominados
Plagiogravitrópicos. Ramos e raízes laterais são geralmente Plagiogravitrópicos (Figura 13).
(negative orthogravitropic)
(plagiogravitropic)
(diagravitropic)
231
celulares ricos em amido), que nesse caso são conhecidos como Estatólitos. Esses grandes
amiloplastos (estatólitos) são localizados nos estatócitos, no cilindro central ou na coifa da
raiz.
Em uma raiz colocada na posição horizontal, os estatolitos sedimentam, por ação da
gravidade, no lado inferior das células da coifa e dirigem o transporte polar de auxina para o
lado inferior da coifa (Figura 14). A maioria da auxina na coifa é então transportada
basipetalmente (do ápice da raiz para a base) no lado inferior da raiz. A alta concentração de
auxinas no lado inferior da raiz inibe o crescimento neste lado, enquanto o decréscimo na
concentração de auxina no lado superior estimula o crescimento neste lado. Como resultado
desse crescimento diferencial, a raiz curva para baixo.
c) Dominância apical
232
dominância apical foi acompanhada de aumento na concentração de auxinas nas gemas
laterais. Este resultado indica que a dominância apical não seria um efeito direto da auxina na
inibição do crescimento da gema lateral.
Alguns resultados mostram que outros hormônios parecem estar envolvidos com a
dominância apical. Por exemplo, boa correlação entre o nível de citocininas e o crescimento
de gemas laterais tem sido verificada. A retirada do ápice aumenta o acúmulo de citocininas
na gema axilar e aplicação de auxinas na região apical decapitada, reduz esse acúmulo.
Assim, a auxina parece tornar o ápice da parte aérea um forte dreno para a citocinina
proveniente das raízes, e isto poderia ser um fator envolvido na dominância apical. Além
disso, remoção do ápice provoca redução nos níveis de ácido abscísico – ABA (um inibidor
do crescimento da parte aérea) nas gema laterais. Assim, altos níveis de AIA na região apical
da parte aérea podem atuar mantendo altos níveis de ABA nas gemas laterais, inibindo o
crescimento de tais gemas e favorecendo a dominância apical.
Embora o alongamento da raiz seja inibido por concentrações de auxinas maiores que
10-8 M, a iniciação de raízes laterais e adventícias é estimulada por altos níveis de auxinas.
Com base em alguns estudos, os pesquisadores acreditam que o AIA é requerido para, pelo
menos, duas etapas na formação de raízes laterais:
AIA transportado no floema é requerido para iniciar a divisão celular nas células do
câmbio vascular;
Além disso, o AIA é requerido para promover a divisão celular e a manutenção da
viabilidade celular nas raízes laterais em desenvolvimento.
Do ponto de vista prático, soluções de auxinas podem ser utilizadas para induzir a
formação de raízes adventícias em pedaços de caules e de folhas. Como veremos quando
estudarmos as CITOCININAS, a formação de raízes e de parte aérea em cultura de tecidos
depende da relação auxinas/citocininas.
e)Abscisão foliar
f) Desenvolvimento de frutos
233
sementes em desenvolvimento. Acredita-se que o estímulo inicial para o desenvolvimento do
fruto resulta da polinização. Havendo sucesso na polinização, inicia-se o crescimento do
óvulo, um processo conhecido como Estabelecimento do Fruto. Após a fertilização, o
crescimento do fruto pode depender da auxina produzida nas sementes em desenvolvimento.
Em algumas espécies, frutos sem sementes podem ser produzidos naturalmente ou
pode-se induzir a produção desses frutos nessas espécies pelo tratamento de flores não
polinizadas com auxinas. Esta produção de frutos sem sementes é conhecida como
Partenocarpia. A Auxina parece induzir primariamente o estabelecimento do fruto. O
desenvolvimento do fruto parece envolver, também, outros hormônios. Por exemplo, o etileno
pode influenciar o desenvolvimento de muitos frutos e, alguns efeitos da auxina na
frutificação podem ser mediados pela promoção da síntese de etileno.
As auxinas também participam na regulação do desenvolvimento de gemas florais e,
juntamente com as citocininas, induzem a diferenciação vascular.
234
ESTUDO DIRIGIDO No 08
1 – Cite as cinco principais classes de hormônios vegetais. Comente sobre suas estruturas
químicas.
6 – Quais o requerimento estrutural essencial para que um composto tenha atividade auxínica
(segundo as pesquisas atuais)?
9 – O que você entende por tropismo e nastismo? Cite os principais tipos de respostas trópicas
e násticas.
235
2. GIBERELINAS: REGULADORES DA ALTURA DAS PLANTAS
2.1 A Descoberta
As giberelinas (GAs) são amplamente distribuídas no reino vegetal. Elas estão presentes
em toda a planta, podendo ser detectadas em folhas, caules, sementes, embriões e pólens.
As giberelinas constituem uma grande família de ácidos diterpênicos e são sintetizadas
por um ramo da via dos terpenóides. Um terpenóide é um composto feito pela junção de
unidades de 5 carbonos, o isopreno:
H3C
C CH CH2
H2C
236
esteróis; a outra via que é independente do ácido mevalônico, é localizada nos plastídios e
leva à síntese de carotenóides e compostos relacionados. No plastídio, o IPP é sintetizado a
partir de piruvato e de 3-fosfoglicerato e não do ácido mevalônico. Visto que as etapas iniciais
da biossíntese de GAs ocorrem nos proplastídios, o IPP usado na sua biossíntese pode ser
derivado da via independente do ácido mevalônico.
Independente da origem do IPP, as próximas etapas são comuns às vias citosólica e
plastídial da biossíntese de terpenos: as unidades de isopreno (IPP) são adicionadas
sucessivamente para produzir Geranil-Difosfato (10 átomos de carbono), Farnesil-Difosfato
(15 átomos de carbono) e Geranil-Geranil-Difosfato (20 átomos de carbono).
A biossíntese de GAs ocorre a partir do composto de 20 átomos de carbono (geranil-
geranil-difosfato) em uma via com três estágios diferentes, cada um deles residindo em um
diferente compartimento celular (Figura 15):
237
hidroxilase). Finalmente, a β hidroxilação do carbono 2, inativa a GA1, produzindo a GA8.
Esta hidroxilação pode ocorrer diretamente na GA20, produzindo a GA29.
238
Inibidores desse terceiro estágio interferem com as enzimas que utilizam o α-
cetoglutarato como co-substrato. Um desse inibidores, o composto pró-hexadiona (BX –112)
é especialmente útil, pois inibe especificamente a 3β-hidroxilase, a enzima que converte a
forma inativa, GA20, para a forma ativa, GA1.
Diversas observações têm confirmado que, dentre as muitas giberelinas (cerca de 125),
a GA1 é a forma ativa que controla o crescimento do caule. No entanto, há possibilidade que
outras poucas GAs tenham também participações nesse controle. Por exemplo, a GA3, a qual
difere da GA1 somente por ter uma dupla ligação, é relativamente rara nas plantas, porém,
parece ser capaz de substituir a GA1 em muitos bioensaios. Outras giberelinas, como a GA4,
têm mostrado atividade em Arabidopsis e Curcubitáceae, por exemplo.
Figura 16 – Crescimento da parte aérea de plantas de espinafre mantidas em dias curtos (SD),
em dias curtos e tratadas com GA3 (SD + GA3) e em dias longos (LD) (Taiz &
Zeiger, 1998).
239
Trabalhos com plantas de ervilha indicam que as GAs ocorrem primariamente nas
folhas jovens, gemas ativas e entrenós da parte aérea da planta. Estes sítios parecem ser,
também, os locais de síntese da GAs. Na realidade, as GAs sintetizadas na parte aérea podem
ser transportadas para o resto da planta, via floema. De fato, as etapas iniciais da biossíntese
de GAs podem ocorrer em um tecido e a conversão para a forma ativa, em outro. Cloroplastos
maduros, por exemplo, não podem realizar as reações do estágio 1 da biossíntese de GAs.
Assim, células do mesofilo de folhas maduras (que contêm cloroplastos maduros) são também
incapazes de realizar as reações do estágio 1, embora elas sejam capazes de realizar as reações
do estágio 3. Estas diferenças sugerem que intermediários da biossíntese de GAs podem ser
transportados dos tecidos meristemáticos da parte aérea para as folhas verdes, onde são
convertidas para formas ativas de GAs. As giberelinas têm sido identificadas, também, em
exsudatos do xilema e extratos de raízes, sugerindo que as raízes podem, também, sintetizar
GAs. No entanto, evidências conclusivas para a síntese de GAs pela raízes ainda estão
faltando.
Muitas sementes e frutos em desenvolvimento mostram, também, altos níveis de
giberelinas. Na realidade, o nível de giberelinas ativas decresce para valores próximos de zero
nas sementes maduras. Por outro lado, estas sementes maduras contêm GA12-aldeído,
precursora de todas as GAs, a qual pode ser convertida para as formas ativas de GAs, durante
os estágios iniciais de germinação.
Uma variedade de glicosídeos de giberelinas é formada pela ligação covalente entre a
GA e um monossacarídeo. Estas GAs conjugadas ocorrem particularmente em algumas
sementes. O açúcar é usualmente a glucose que pode se ligar a giberelina via o grupo
carboxílico (formando um éster) ou via um grupo hidroxila (formando um éter de glucosil).
De fato, quando GAs são aplicadas às plantas, uma certa proporção torna-se glicosilada
(conjugada). A conjugação pode, todavia, representar outra forma de inativação das
giberelinas. Por outro lado, Glicosídeos de giberelinas aplicados às plantas podem ser
metabolizados para formar GAs livres. Neste caso, os conjugados constituem uma fonte de
estoque de GAs.
Os vários fatores que regulam o nível de giberelinas ativas na planta são sumariados na
figura abaixo (Figura 17).
A síntese da giberelina ativa, GA1, é promovida por fatores ambientais, tais como frio e dias
longos, e ela pode inibir a sua própria síntese via feedback (Figura 16). O nível de GA ativa
240
pode ser reduzido pelo catabolismo (inativação) ou pela conjugação com açúcares. Em alguns
casos, a GA ativa pode ser gerada pela liberação a partir da forma conjugada. Finalmente, o
transporte de GAs (ou precursores de GAs) para o tecido (ou desde o tecido), pode também
afetar o nível da giberelina ativa, GA1.
As GAs podem substituir dias longos ou frio, que são fatores requeridos por muitas
plantas, especialmente as de hábito de crescimento em roseta, para a promoção do
florescimento. Assim, as GAs podem substituir os estímulos ambientais para o florescimento
em algumas espécies.
As flores de angiospermas consistem, usualmente, de quatro partes (verticílos): sépalas,
pétalas, estames e pistilo. Quando as partes feminina (pistilo) e masculina (estame) são
encontradas na mesma flor, ela é denominada hermafrodita ou perfeita. Certas espécies, no
entanto, produzem flores unissexuais ou imperfeitas. O processo no qual as flores unissexuais
são formadas é denominado de “determinação do sexo”. Em plantas monóicas, tais como
pepino e milho, flores macho e fêmea são encontradas na mesma planta. Já nas plantas
dióicas, como espinafre e Cannabis sativa, estas flores estão em indivíduos separados.
O processo de determinação do sexo é geneticamente regulado, porém pode sofrer
influência de fatores ambientais, tais como fotoperíodo, temperatura e estado nutricional e,
estes efeitos ambientais podem ser mediados pelas GAs. Em milho, por exemplo, flores
masculinas são restritas ao pendão e as femininas às espigas. No entanto, exposição destas
plantas a dias curtos ou frio durante a noite aumenta o nível de GA endógena e,
simultaneamente, isto causa a feminilização das folhas do pendão. Essa formação de flores
unissexuais depende do aborto de uma das partes no estádio inicial de desenvolvimento.
Assim, o papel primário da GA na determinação do sexo em milho, parece ser a supressão do
desenvolvimento do estame. No entanto, as giberelinas parecem interagir com outros
hormônios (por exemplo, o etileno), na regulação da determinação do sexo.
b) Crescimento do caule
241
Figura 18 – Efeito da aplicação de giberelinas sobre o crescimento do milho normal e de
um mutante anão (Taiz & Zeiger, 1998).
Muitas plantas perenes não florescem até que elas alcancem um certo estádio de
maturidade. Os estádios juvenil e maduro destas plantas possuem, freqüentemente, diferentes
formas de folhas. Aplicação de GAs parece regular a mudança de juvenil para adulto e vice-
242
versa, dependendo da espécie. Em algumas coníferas, aplicação de uma mistura de GA4 +
GA7 promove a passagem do estádio juvenil para o maduro. Em Hedera helix, aplicação de
GA3 promove a passagem do estádio maduro para o juvenil.
d) Estabelecimento do fruto
e) Germinação de sementes
243
crescimento radicular. Essas alterações levam à modificação da relação raiz/parte aérea
em favor do crescimento das raízes.
Os retardantes de crescimento têm aplicações bastantes práticas em termos
agronômicos, bem como no melhoramento genético, podendo, por exemplo, ser utilizados na
redução do acamamento de plantas, na redução do crescimento de árvores, na tolerância a
estresses ambientais e na indução do florescimento.
Diversos retardantes de crescimento que têm sido utilizados comercialmente atuam
inibindo, de algum modo, a síntese de giberelinas (Ancimidol, Paclobutrazol, fosfon D, etc.).
O paclobutrazol bem como os demais triazóis interagem com o citocromo P - 450. A
interação faz com que essas proteínas transportadoras de elétrons, que catalisa diversas
reações oxidativas do metabolismo vegetal, seja inativada, interrompendo diversas rotas
metabólicas, especialmente o metabolismo dos terpenóides (como as giberelinas). O
paclobutrazol bloqueia, especificamente, as reações de oxidação entre o ent-caureno e o ácido
ent-caurenóico (ver Figura 15, estágio 2 da biossíntese de giberelinas).
A aplicação do paclobutrazol reduz drasticamente o alongamento do caule e a
pulverização com GA3 reverte tal efeito (Figura 19) De acordo com dados técnicos da ICI
(Imperial Chemical Industries), o paclobutrazol pode ser aplicado em injeções no tronco de
árvores e arbustos, diretamente no solo ou por meio de pulverizações diretas nas folhas. Esta
última forma permite que o paclobutrazol atinja diretamente os meristemas apicais e entrenós,
reduzindo o crescimento da planta. Quando aplicado no solo, o paclobutrazol é absorvido
pelas raízes e, via corrente xilemática, é transportado para a parte aérea das plantas.
Sem GA3
50,0 Com GA3
Crescimento Total (cm)
40,0
30,0
20,0
10,0
0,0
0,00 0,10 0,25 0,50 1,00
Paclobutrazol (ug/vaso)
244
2.4 Mecanismo de Ação
Certos grãos (os conhecidos cariopses de cereais, como milho, trigo, cevada, sorgo,
etc.), podem ser divididos em três partes: o tegumento, o embrião diplóide e o endosperma
triplóide. O embrião se associa a um órgão especializado para a absorção, o Escutelo. Já o
endosperma amiláceo é tipicamente não vivo na maturidade e consiste de células ricas em
grânulos de amido. Este tecido é circundado pela Camada de Aleurona, uma camada de
células citológica e bioquimicamente distintas das células do endosperma. Esta camada de
células vivas contém corpos protéicos e oleossomos.
Durante a germinação e o estágio inicial de crescimento da plântula, amido e proteínas
são degradados por uma série de enzimas hidrolíticas, produzindo açúcares solúveis,
aminoácidos e outros produtos, os quais são transportados para o eixo embrionário em
crescimento (Figura 20). Uma das principais enzimas responsáveis pela degradação do amido
é a α-amilase. A camada de aleurona é o principal sítio de síntese desta enzima hidrolítica.
Estudos realizados na década de 1960 mostraram que a secreção de enzimas hidrolíticas
pela camada de aleurona, dependia da presença do embrião. O embrião produzia uma
substância difusível que estimulava a produção de α-amilase na camada de aleurona.
Posteriormente foi descoberto que a GA3 poderia substituir o embrião no estímulo da
degradação de amido. Estes e outros estudos levaram à conclusão que a substância produzida
pelo embrião que estimulava a função digestiva da camada de aleurona, seria a giberelina
(Figura 20).
245
Figura 20 – A estrutura da semente de cevada e as funções dos vários tecidos durante a
germinação (Taiz & Zeiger, 1998).: (1) As giberelinas são sintetizadas no embrião e
transportadas para o endosperma; (2) No endosperma as giberelinas se difundem para a
camada de aleurona; (3) A camada de aleurona é induzida para sintetizar e secretar α-
amilase e outras enzimas hidrolíticas; (4) Amido e outros compostos são degradados
para substâncias solúveis de baixa massa molecular (açúcares, aminoácidos, etc.); (5)
Finalmente, estas substâncias solúveis são transportadas para o eixo embrionário em
crescimento
246
Figura 21 – Mecanismo de ação das giberelinas na produção e secreção da enzima α-
amilase, durante o processo de germinação. Observe a numeração na figura e compare com o
que está escrito no texto (Taiz & Zeiger, 1998).
247
ESTUDO DIRIGIDO No 09
6 – O que são substâncias retardantes de crescimento? O que elas podem causar na planta?
• Determinação do sexo
• Crescimento do caule e de raízes
• Germinação de sementes
248
3. CITOCININAS: REGULADORES DA DIVISÃO CELULAR
249
A cinetina não é um hormônio de plantas de ocorrência natural e, também, não é
constituinte da molécula de DNA. No entanto, alguns anos após a descoberta da cinetina,
pesquisadores demonstraram que extrato de endosperma imaturo de milho continha uma
substância que causava os mesmos efeitos biológicos da cinetina. Esta molécula foi
identificada como 6-(4-hidroxi-3metilbut-2-enilamino) purina, e recebeu o nome de Zeatina.
A estrutura molecular da zeatina é similar à da cinetina (Figura 21). Ambas são
derivadas da adenina (aminopurina). No entanto, elas possuem diferentes cadeias laterais que
se encontram ligadas ao nitrogênio 6 da adenina. Devido a cadeia lateral da zeatina ter uma
dupla ligação, ela pode existir nas configurações cis e trans. A zeatina natural, que ocorre nas
plantas superiores, é a que apresenta configuração trans, embora as duas formas possuam
atividade biológica. A atividade de uma isomerase tem sido demonstrada em tecidos de
plantas, de modo que a cis-zeatina, quando aplicada a tecidos, pode ser convertida para a
forma trans.
Outras citocininas de ocorrência natural são a Dihidrozeatina e a Isopentenil Adenina.
As citocinas naturais (zeatina, dihidrozeatina e isopentenil adenina) podem ser encontradas na
forma livre, como ribosídeo (uma molécula de ribose ligada ao nitrogênio 9 da adenina),
como ribotídeo (a ribose ligada ao N-9 é esterificada com ácido fosfórico) ou como glicosídeo
(uma molécula de glicose é ligada ao N-7 ou N-9 da adenina ou ainda, ao oxigênio da zeatina
ou dihidrozeatina).
As citocininas são definidas como compostos que possuem atividades similares àquelas
da trans-zeatina. Estas atividades incluem:
• Induzir a divisão celular em callus, na presença de auxinas;
• Promover a formação de parte aérea ou raízes em cultura de tecidos, quando
aplicada em proporção adequada com auxinas;
• Retardar a senescência de folhas;
• Promover a expansão de cotilédones em dicotiledôneas;
250
3.2 Ocorrência, Metabolismo e Transporte
H3C
C CH CH2
H2C
251
Os meristemas apicais das raízes são os principais sítios de síntese de citocininas livres
na planta. As citocininas sintetizadas nas raízes parecem que são transportadas para a parte
aérea via xilema. Algumas evidências confirmam este tipo de transporte:
Quando a parte aérea é cortada próximo à superfície do solo, a seiva do xilema pode
continuar fluindo na região do corte. Este exsudato do xilema contém citocininas;
Se o solo é mantido úmido, o fluxo do xilema na região cortada pode continuar por
alguns dias. Alguns resultados mostram que, mesmo nesse caso, o conteúdo de
citocininas no exsudato não diminui, indicando que a mesma está sendo sintetizada
nas raízes;
Além disso, alguns fatores ambientais que afetam o funcionamento das raízes, como
estresse hídrico e salino, reduzem o conteúdo de citocininas no exsudato do xilema.
252
A figura 26 mostra os diversos fatores que controlam os níveis de citocinas na forma
ativa. Lembre-se que as formas ativas das citocininas naturais são: trans-zeatina,
dihidrozeatina e isopentenil adenina.
BIOSSÍNTESE
IPT
CATABOLISMO
A seguir serão descritos alguns papéis fisiológicos atribuídos, pelo menos em parte, às
citocininas:
253
a) A relação auxina/citocinina regula a morfogênese em cultura de tecidos
254
Figura 28 – Galhas produzidas sobre o caule de plantas de Bryophyllum. O tumor é
conseqüência da infecção com Agrobacterium tumefasciens. As células da
planta hospedeira foram geneticamente modificadas, isto é, os gens que
causam a superprodução de auxinas e citocininas foram incorporados no
genoma da célula hospedeira (Hopkins, 2000).
255
c) Quebra da dominância apical e indução do crescimento de gemas (ver auxinas e ABA)
A B
Apesar desses estudos bastante esclarecedores, relacionados aos papéis das auxinas (ver
auxinas) e das citocininas no controle da dominância apical, outros estudos ainda são
necessários. Acredita-se que outros sinais, promotores ou inibidores, podem estar envolvidos
no desenvolvimento das gemas laterais e, portanto, no controle da dominância apical.
256
folhas. Este processo de envelhecimento programado que leva à morte recebe o nome de
senescência. Este processo parece estar sob o controle das citocininas.
O tratamento de folhas isoladas de muitas espécies com citocininas retarda o processo
de senescência. Este efeito pode ser marcante, particularmente quando a citocinina é aplicada
diretamente sobre a planta intacta. Os efeitos podem também ser localizado dentro de uma
mesma folha, se a aplicação for feita de forma localizada (aplicando-se citocinina apenas em
uma das metades da folha, observa-se o retardamento da senescência somente na região
tratada).
Embora evidências sugiram que folhas jovens podem produzir citocininas, as folhas
maduras não podem. As folhas maduras dependem da citocinina proveniente das raízes, via
xilema. A produção de citocininas nas raízes e o seu transporte para a parte aérea podem ser
influenciados por fatores ambientais e pelo próprio estádio de desenvolvimento da planta. Por
exemplo, estresses hídrico e salino afetam a produção de citocininas nas raízes e aceleram a
senescência de folhas. Já em folhas de soja, a senescência é iniciada pela maturação da
semente, um fenômeno conhecido como Senescência Monocárpica. Esta senescência pode
ser retardada pela remoção da semente no início do seu desenvolvimento. Neste caso, a
retirada da semente controla o transporte de citocininas das raízes para as folhas. As
citocininas envolvidas no retardamento da senescência são primariamente os ribosídios de
zeatina e de dihidrozeatina, os quais são transportados das raízes para as folhas pela corrente
transpiratória (via xilema). Nas folhas, essas formas conjugadas são convertidas para as
formas livres, que são ativas.
As evidências mais convincentes sobre os papéis das citocininas no controle da
senescência têm sido obtidas com a utilização de transgênicos (Figura 30). Por exemplo, a
senescência de folhas é retardada em plantas transgênicas de fumo que possuem um gen que
controla a biossíntese de citocininas.
257
O mecanismo pelo qual as citocininas são capazes de retardar a senescência não é claro,
porém, algumas evidências indicam que as citocininas exercem importante papel na
mobilização de nutrientes. As citocininas influenciam o movimento de nutrientes (orgânicos e
inorgânicos) de outras partes da planta para as folhas, um fenômeno conhecido como
mobilização de nutrientes induzido pelas citocininas.
A participação das citocininas na mobilização de nutrientes tem sido revelada quando
nutrientes marcados radioativamente são fornecidos às plantas, após o tratamento de uma
folha ou parte dela com citocininas (Figura 31). As plantas são, posteriormente,
autorradiografadas para verificar a mobilização dos nutrientes. Os resultados destes estudos
mostram que os nutrientes são preferencialmente transportados para os tecidos tratados com
citocininas, onde eles se acumulam.
Como sabemos, os nutrientes são translocados via floema, do sítio de produção (fonte)
para o sítio de utilização (dreno). Assim, é possível que a citocinina provoque alguma
alteração no relacionamento fonte-dreno. Algumas linhas de evidências também mostram que
as citocininas estimulam o metabolismo nas áreas tratadas, ou seja, as citocininas aumentam a
atividade do dreno e consequentemente, a força do dreno (ver partição de assimilados, na
Unidade VI).
258
e) Maturação de cloroplastos
Embora a maioria das sementes de plantas possam germinar no escuro, a morfologia das
plântulas crescendo no escuro é muito diferente daquelas que crescem na luz. As plantas no
escuro são estioladas, tendo hipocótilo e entrenós alongados, cotilédones e folhas não
expandidos, e cloroplastos não maturos.
Ao invés de maturar como cloroplastos, os proplastídios de plântulas crescendo no
escuro desenvolvem-se em etioplastos. Nos etioplastos, a membrana interna forma um treliça
compacta e altamente regular, conhecido como corpo prolamelar. Os etioplastos também
possuem alguns carotenóides, sendo esta a razão para a coloração amarelada das plantas
estioladas. Porém, os etioplastos não possuem clorofila nem as enzimas e as proteínas
estruturais requeridas para a formação da maquinaria fotossintética. Quando as plantas
germinam na luz, os cloroplastos maturam diretamente dos proplastídios presentes no
embrião, porém, etioplastos podem também gerar cloroplastos quando as plantas estiolados
são iluminadas.
Quando as folhas estioladas são tratadas com citocininas, antes de serem iluminadas,
elas formam cloroplastos com extenso sistema de membrana interna e com maiores taxas de
biossíntese de clorofila e de enzimas fotossintéticas. Também, plântulas de Arabidopsis (não
mutantes) germinando no escuro e na presença de citocininas, desenvolvem características de
plântulas que germinam na luz (Figura 32).
Cytokinin (µM)
0 3 15 30 60 75
259
As características das plantas tratadas com citocininas e mostradas na figura 32 são:
• Encurtamento do caule;
• Expansão dos cotilédones;
• Iniciação de folhas no meristema apical;
• E, também, se observa parcial desenvolvimento dos cloroplastos, incluindo a síntese
de algumas enzimas da fotossíntese.
260
um “screen” de mutantes resistentes à citocinina, sugerindo que etileno e citocininas têm em
comum alguns componentes de suas vias de transdução de sinais.
As citocininas têm profundo efeito sobre a de síntese de proteínas e sobre os tipos de
proteínas feitas pela planta. Em particular, a citocinina estimula a síntese de proteínas
específicas do cloroplasto que são codificadas por genes nucleares.
De modo geral, o aumento na síntese de uma proteína significa um aumento na
expressão do gen que codifica tal proteína. As citocininas aumentam a estabilidade de alguns
mRNAs específicos, mediante aumento na transcrição ou através de efeitos pós-
transcricionais. Por exemplo, o aumento da expressão de proteínas do complexo coletor de luz
em Lemma gibba (pequena planta aquática), parece estar associado a um controle pós-
transcricional, possivelmente um aumento na estabilidade do mRNA.
261
4. ETILENO: O HORMÔNIO GASOSO
4.1 A Descoberta
Durante o século XIX, quando um gás, produzido pelo carvão era utilizado na
iluminação de ruas, observou-se que árvores nas vizinhanças das lâmpadas desfolhavam-se
mais extensivamente do que as que se encontravam mais distantes. Tornou-se aparente que o
gás e poluentes do ar danificavam o tecido vegetal e, em 1901, o etileno foi identificado como
o componente ativo do gás que provocava tal efeito. Posteriormente, observou-se que
plântulas de ervilha crescendo no escuro, no laboratório, mostrava reduzido alongamento do
caule, aumento no crescimento lateral e um anormal crescimento horizontal, o que ficou
conhecido como “tripla resposta”. Quando o ar do laboratório era purificado, as plantas
voltavam a crescer em taxas normais. O etileno, o qual estava presente no ar contaminado do
laboratório, foi identificado como a molécula causadora da resposta.
A primeira indicação que o etileno era um produto natural de tecidos vegetais foi
reportada por H. H. Cousins, em 1910. Ele mostrou que emanações de laranjas estocadas em
uma câmara provocavam o amadurecimento prematuro de bananas. No entanto, visto que nós
sabemos agora que frutos de laranja sintetizam relativamente pouco etileno, comparado com
outros frutos (maçã, por exemplo), é provável que as laranjas utilizadas por Cousins
estivessem contaminadas com o fungo Penicillium, o qual produz copiosos montantes de
etileno.
Em 1934, R. Gane e colaboradores identificaram quimicamente o etileno como um
produto natural do metabolismo da planta e, devido aos seus efeitos sobre as plantas, ele foi
classificado como um hormônio.
Apesar da sua descoberta, a maioria dos fisiologistas não reconheceu o etileno como um
hormônio vegetal, principalmente por que se acreditava que os efeitos do etileno poderiam ser
mediados pela auxina. Assim, acreditava-se que a auxina era o principal hormônio de plantas
e que o etileno tinha somente um insignificante e indireto papel fisiológico. Trabalhos com
etileno eram, também, difíceis de serem feitos pela falta de técnicas para sua quantificação.
No entanto, em 1959, quando a cromatografia gasosa foi introduzida nas pesquisas, o etileno
foi re-descoberto como hormônio e a sua importância no desenvolvimento da planta foi
reconhecida.
O etileno é uma molécula simples (Figura 34) que é mais leve do que o ar sob condições
fisiológicas. Ele é inflamável e pode ser facilmente oxidado. O etileno pode ser oxidado para
óxido de etileno e este pode ser hidrolisado para etileno glicol. Em muitos tecidos de plantas,
o etileno pode ser completamente oxidado até CO2 (Figura 34).
262
Figura 34 – Estrutura e processos de oxidação do etileno (Taiz & Zeiger, 1998).
263
foram obtidos com aplicação exógena de ACC (aplicação de ACC aumentava
substancialmente a síntese de etileno).
A Sintase do ACC, a enzima que catalisa a conversão de S-adenosilmetionina para
ACC, tem sido caracterizada em muitos tecidos de várias plantas. A sintase do ACC é uma
enzima citosólica e sua síntese é regulada por fatores internos (como auxinas, senescência de
flores, amadurecimento de frutos, etc.) ou fatores externos (ferimentos, injúrias pelo frio,
estresse hídrico, encharcamento, etc.). Todos estes fatores promovem a síntese de etileno
(Figura 35). Alguns compostos, como o aminoetoxivinil glicina (AVG), inibem a atividade
dessa enzima e, portanto, a síntese de etileno.
Figura 35 – Etapas da biossíntese de etileno e o ciclo de Yang (Taiz & Zeiger, 1998).
264
A última etapa na biossíntese de etileno, a conversão de ACC para etileno, é catalisada
pela enzima Oxidase do ACC, uma enzima que requer Fe2+ e ascorbato como cofatores. Esta
enzima não é, geralmente, o ponto limitante da biossíntese de etileno, embora tecidos que
mostram altas taxas de produção de etileno (como frutos em amadurecimento e flores
senescentes), mostram aumento na atividade da oxidase do ACC e de seu mRNA.
O aminoácido metionina é encontrado em concentrações muito baixas nos tecidos
vegetais, em valores mais ou menos constantes, inclusive naqueles tecidos que produzem
copiosos montantes de etileno (alguns frutos amadurecendo, por exemplo). Visto que a
metionina é o único precursor do etileno nas plantas superiores, pode-se afirmar que os
tecidos que produzem etileno requerem um contínuo suprimento deste aminoácido. Este
suprimento é assegurado pela reciclagem da metionina via o Ciclo de Yang (Figura 35). Na
reação catalisada pela sintase do ACC, S-adenosilmetionina é convertido para ACC e 5’-
metiltio-adenosina. Este último composto é convertido para metionina através de 4 reações
que completam o Ciclo de Yang.
O ACC produzido no tecido não é convertido totalmente para etileno (Figura 35). O
ACC pode ser convertido, também, para uma forma conjugada não volátil, N-malonil-ACC, a
qual não é degradada e parece se acumular no tecido. Uma segunda forma de conjugação de
ACC, o ácido 1-(L-glutamil-amino) ciclopropano carboxílico (GACC), tem sido também
identificada. A conjugação de ACC pode ter um importante papel no controle da biossíntese
de etileno, em uma maneira análoga à conjugação de auxinas e citocininas.
Os pesquisadores têm estudado, também, o catabolismo do etileno, suprindo 14C2H4
(etileno) aos tecidos de plantas e acompanhando os compostos radioativos produzidos. Estes
estudos mostraram que CO2, óxido de etileno e etileno glicol (este último livre ou conjugado
com glicose) são produtos do catabolismo do etileno (ver Figura 34).
Em alguns sistemas, auxina e etileno podem causar respostas similares em plantas, tais
como a indução do florescimento em abacaxi e a inibição do alongamento do caule. Estas
respostas similares se devem à capacidade das auxinas (em altas concentrações) de promover
a biossíntese de etileno, pelo aumento na conversão de S-adenosilmetionina para ACC.
Alguns estudos têm mostrado que os níveis do mRNA que codifica a sintase do ACC
aumentam em resposta à aplicação de AIA, sugerindo que um aumento na transcrição do gen
é responsável, pelo menos em parte, pelo aumento na produção de etileno em resposta à
auxina. Estas observações indicam que algumas respostas previamente atribuídas às auxinas
(AIA), são de fato mediadas pelo etileno produzido em resposta à auxina.
A utilização de alguns inibidores da biossíntese e da ação do etileno permite discriminar
entre a ação da auxina e do etileno. Por exemplo, aminoetoxivinil glicina (AVG) e
aminooxiacetato (AOA) bloqueiam a conversão de S-adenosilmetionina para ACC, ou seja, a
reação catalisada pela sintase do ACC. O cobalto (Co2+) é também um inibidor da biossíntese
de etileno, bloqueando a conversão de ACC para etileno, na última etapa da biossíntese
catalisada pela oxidase do ACC (anaerobiose age de modo similar). Íons prata (Ag+),
aplicados como nitrato de prata (AgNO3) ou como tiossulfato de prata [Ag(S2O3)2-3], são
potentes inibidores da ação do etileno. O gás carbônico (CO2) em altas concentrações (5 a
10%) também inibe muitos efeitos do etileno (por exemplo, amadurecimento do fruto),
embora seja menos eficiente que os íons Ag+. O transocteno, um composto volátil, é um forte
inibidor competitivo da ligação do etileno. E, recentemente foi descoberto um novo inibidor
da ação do etileno, o MCP (1-metilciclopropeno), que age ligando-se irreversivelmente ao
receptor de etileno. O MCP apresenta um extraordinário potencial de uso comercial.
Estudos com esses compostos mostraram que, em alguns casos, o etileno é o efetor
primário e que a auxina age indiretamente, promovendo a produção de etileno. Nestes casos, a
aplicação de auxinas não promove a resposta se, ao mesmo tempo, forem aplicados inibidores
da síntese ou da ação do etileno.
265
4.3 Papel Fisiológico
a) Amadurecimento de frutos
Frutos como, maçã, banana, abacate e tomate, são exemplos de frutos climatéricos. Em
contraste, frutos como Citrus, abacaxi e uva, não exibem aumento nem na produção de etileno
nem na respiração, e são conhecidos como frutos não climatéricos. Quando frutos
climatéricos não maduros são tratados com etileno, a iniciação do aumento no climatério é
acelerada. Por outro lado, quando frutos não climatéricos são tratados da mesma maneira, o
aumento na taxa respiratória é proporcional à concentração de etileno. No entanto, o
tratamento não induz a produção de etileno endógeno e também não acelera o
amadurecimento.
266
A relação causal entre o nível endógeno de etileno e o amadurecimento do fruto tem
sido estudada através da aplicação de inibidores da biossíntese (AVG e AOA) ou da ação
(Ag+ e CO2) do etileno. O uso destes inibidores retarda ou evita o amadurecimento de frutos
climatéricos. Estudos com mutantes também confirmam o papel do etileno no
amadurecimento de frutos. Por exemplo, estudos com plantas transgênicas de tomate
deficientes em etileno (esses mutantes são incapazes de produzir etileno devido alterações na
expressão das enzimas sintase do ACC e oxidase do ACC), mostraram completo bloqueio no
amadurecimento do fruto e, o amadurecimento foi promovido pela aplicação exógena de
etileno. Estes experimentos mostraram, inequivocamente, o papel do etileno no
amadurecimento do fruto.
A elucidação do papel do etileno no amadurecimento de frutos climatéricos tem
resultado em muitas aplicações práticas que objetivam uniformizar, acelerar ou retardar o
amadurecimento.
b) Epinastia de folhas
A curvatura para baixo de folhas, que ocorre quando o lado superior (adaxial) do
pecíolo cresce mais rápido do que o lado inferior (abaxial), é denominada epinastia. O etileno
e altas concentrações de auxinas induzem epinastia (Figura 37) e, sabe-se agora, que a auxina
age indiretamente, promovendo a síntese de etileno.
267
c) Expansão celular horizontal e o crescimento lateral do caule
O tipo de crescimento horizontal, que ocorre após exposição ao etileno, pode executar
importante papel durante a germinação, particularmente sob determinadas condições de solo.
Por exemplo, quando barreira física impede a emergência da plântula, ocorre um aumento na
produção de etileno, induzindo então o crescimento horizontal, o que permite à plântula
encontrar condições no solo para propiciar a sua emergência.
268
e) Florescimento em abacaxi
Embora o etileno iniba o florescimento na maioria das espécies, ele induz florescimento
em abacaxi (e em outras espécies taxonomicamente relacionadas ao abacaxi), sendo usado
comercialmente no cultivo de abacaxi para a sincronização da floração e estabelecimento do
fruto.
O etileno pode mudar o sexo de flores em espécies que apresentam flores unisexuais. A
promoção de flores fêmeas em pepino é um exemplo. Este processo de determinação do sexo
está associado principalmente às giberelinas (ver giberelinas)
As evidências descritas acima sugerem que a senescência é regulada pelo balanço entre
citocininas e etileno. Em adição, o ácido abscísico (ABA) tem sido implicado, também, no
controle da senescência foliar.
269
g) Abscisão
270
h) Uso comercial do etileno
271
Nos últimos anos, muitas das descobertas à cerca do mecanismo de ação do etileno têm
sido obtidas através de estudos com mutantes de Arabdopsis. De acordo com esses estudos,
um modelo de sinalização celular envolvendo o etileno pode ser proposto (Figura 41):
• Algum fator estimula a síntese de etileno e ele liga-se ao receptor ETR1 (receptor de
etileno), o qual é uma proteína integral de membrana;
• A ligação do etileno ao receptor ETR1, resulta na inativação de um regulador
negativo, CTR1 (constitutive triple response);
• A inativação de CTR1 permite que a proteína transmembranar EIN2 torne-se ativa.
Essa proteína transmembranar pode agir como um poro ou canal;
• Uma substância, possivelmente um íon, pode difundir-se através do canal (EIN2) e
ativar um fator de transcrição (EIN3). Este EIN3 é uma proteína reguladora.
• O fator de transcrição EIN3 age na regulação da expressão de genes nucleares que
vão especificar uma determinada resposta fisiológica.
Figura 41 - Modelo de
Figura 40– Modelo
sinalização
de sinalização
envolvendo o etileno
envolvendo o etileno
como mensageiro
como mensageiro
primário em
primário em
Arabidopsis (Taiz &
Arabidopsis (Taiz &
Zeiger,
Zeiger,1998)
1998).
272
5. ÁCIDO ABSCÍSICO: UM SINAL PARA A MATURAÇÃO DE SEMENTES E
ANTIESTRESSE
5.1 Descoberta
O ABA tem sido detectado amplamente nas plantas vasculares e em musgos (menos em
hepáticas). Dentro da planta, o ABA tem sido detectado em todos os órgãos e tecidos vivos,
desde a coifa da raiz até a gema apical da parte aérea. Ele é sintetizado em quase todas as
células que possuem cloroplastos ou amiloplastos. O ABA pode ser encontrado na forma livre
ou conjugado com monossacarídeos. Essa forma conjugada se acumula principalmente nos
vacúolos. O ABA na forma livre é encontrado no citosol, podendo uma parte ficar localizada
nos plastídios.
A estrutura química do ABA assemelha-se à porção terminal de algumas moléculas de
carotenóides. Os 15 átomos de carbono do ABA formam (Figura 42):
• Um anel alifático com uma dupla ligação e três grupos metil;
• Uma cadeia lateral insaturada que possui um grupo carboxílico.
273
longo prazo, tal como mudanças na síntese de proteínas, ambos enantiômeros são ativos. É
importante destacar que, ao contrário dos isômeros cis e trans, as formas S e R não são
interconvertidas no tecido vegetal. Isto significa dizer que em trabalhos com respostas de
curto prazo ao ABA (como, fechamento estomático), deve-se aplicar o dobro da concentração
do ABA comercial para se ter a concentração desejada de ABA ativo (S).
274
Figura 43 – Metabolismo do ABA em plantas superiores (Taiz & Zeiger, 1998).
275
O metabolismo do ABA é particularmente interessante por que seus níveis são alterados
de forma abrupta em determinados tecidos, durante o desenvolvimento ou em resposta às
mudanças nas condições ambientais. Em sementes em desenvolvimento, por exemplo, os
níveis de ABA podem aumentar cerca de 100 vezes em poucos minutos e, depois declinam
para níveis baixos quando a maturação ocorre. Já em plantas submetidas a estresse hídrico, os
níveis de ABA nas folhas podem aumentar cerca de 50 vezes após 4 a 8 horas de estresse.
Após 4 a 8 horas do retorno da irrigação se observa um declínio nos níveis de ABA para
valores iniciais.
A biossíntese não é o único fator que regula a concentração de ABA no tecido. Como
ocorre com outros hormônios, a concentração de ABA livre no citosol é também regulada
pela degradação, transporte e compartimentalização. Por exemplo, o aumento na concentração
de ABA nas células-guarda durante o estresse hídrico ocorre como resultado da síntese na
folha, redistribuição dentro do mesofilo e importação do ABA produzido nas raízes. Já o
declínio nos níveis de ABA após a re-irrigação é conseqüência da degradação e do transporte
para outras partes da planta, bem como de um decréscimo na taxa de síntese.
A principal causa de inativação de ABA livre é a oxidação (Figura 43), produzindo um
intermediário instável (6-hidroximetil-ABA), o qual é rapidamente convertido para ácido
faséico (PA) e ácido dihidrofaséico (DPA). O ácido faséico é usualmente inativo. No entanto,
ele pode induzir fechamento estomático em algumas espécies e atua na inibição da produção
da enzima α-amilase (induzida por giberelinas) na camada de aleurona de sementes de
cereais, durante a germinação.
O ABA livre pode também ser inativado pela conjugação covalente com outras
moléculas, principalmente monossacarídeos (Figura 43). A conjugação inativa o ABA como
hormônio e altera sua polaridade e distribuição na célula. Um exemplo comum de conjugado
é o do Éster ABA-β-D-glicosil (ABA-GE). O ABA na forma livre é encontrado
principalmente no citosol, enquanto o ABA-GE se acumula no vacúolo, podendo servir como
uma forma de estoque de ABA.
O transporte de ABA pode ocorrer tanto via xilema como via floema, porém, ele é
normalmente mais abundante no floema. Quando ABA marcado radioativamente é aplicado
em folhas, ele é transportado para caules e raízes via floema. Já o ABA produzido nas raízes
parece ser transportado principalmente via xilema. Isto ocorre quando as plantas são
submetidas a estresse hídrico (Figura 44). Acredita-se que as raízes percebem a falta de água e
sintetizam o ABA que é transportado para as folhas. É provável que o ABA funcione como
um sinal enviado pelas raízes, que reduz a taxa de transpiração (perda de água) promovendo o
fechamento estomático.
O interessante é que, embora a concentração de apenas 3 µM de ABA no apoplasto das
folhas seja suficiente para fechar o estômato, nem todo o ABA no xilema realmente alcança
as células-guarda. Boa parte do ABA do xilema é absorvido e metabolisado nas células do
mesofilo. No entanto, durante o estágio inicial de estresse hídrico, o pH da seiva do xilema
aumenta de 6,3 para 7,2. Essa alcalinização do apoplasto favorece a formação do ABA
dissociado (representado como ABA-COO- ou ABA-), o qual não atravessa facilmente a
membrana celular. Com isso, menos ABA penetra nas células do mesofilo e,
consequentemente, mais ABA alcança as células-guardas (Figura 44). Assim, o aumento no
pH do apoplasto funciona como um sinal que provoca a redistribuição do ABA nas folhas,
favorecendo o acúmulo desse hormônio nas células-guarda e, consequentemente, o
fechamento estomático.
276
Os fatores que afetam os níveis de ABA citosólico de plantas são os seguintes:
Biossíntese
(plastídios)
Oxidação
degradação
277
5.3 Papel Fisiológico
a) Desenvolvimento de sementes
b) Dormência de sementes
A dormência imposta pela casca (tegumento) ou por outros tecidos, pode ocorrer por
alguns mecanismos:
Impedimento da absorção de água;
Dureza mecânica;
Interferência nas trocas gasosas;
Retenção de inibidores;
278
Produção de inibidores – Alguns tegumentos de sementes podem conter
concentrações relativamente altas de inibidores de crescimento (como o ABA), os
quais podem suprimir a germinação do embrião.
c) Fechamento estomático
A elucidação dos papéis do ABA nos estresses por frio, salinidade e hídrico, levaram à
caracterização do ABA como o hormônio do estresse. Como já comentamos anteriormente, a
concentração de ABA nas folhas pode aumentar cerca de 50 vezes em plantas submetidas a
estresse hídrico. O ABA é muito efetivo no fechamento estomático e sua acumulação nas
folhas de plantas estressadas executa um importante papel na redução das perdas de água pela
transpiração, sob condições de seca (Figura 45). Por outro lado, alguns estudos têm mostrado
decréscimo na abertura estomatal antes que ocorra um aumento no conteúdo total de ABA na
folha. Esta aparente inconsistência é explicada por estudos que mostram que a resposta inicial
do fechamento estomático é causada pela redistribuição de ABA dentro da folha (Figura 44).
279
Note, na figura 45, que a interrupção da aplicação de água provocou uma queda no
potencial hídrico do solo a partir do dia 2, com conseqüente acúmulo de ABA e fechamento
estomático. Com o retorno da irrigação, no dia 5, o potencial hídrico do solo aumentou, os
níveis de ABA decresceram e os estômatos se abriram (a menor resistência estomática indica
maior abertura).
O ABA tem diferentes efeitos sobre o crescimento da raiz e da parte aérea, e os efeitos
dependem fortemente do “status” hídrico da planta. Sob condições de baixo potencial hídrico
(estresse hídrico), quando os níveis de ABA são altos, o hormônio endógeno exerce um efeito
positivo sobre o crescimento da raiz e inibe o crescimento da parte aérea. O resultado é que
plantas estressadas apresentam um aumento na relação raiz/parte aérea.
280
g) Dormência de gemas
281
O íon K+ também deixa a célula em resposta à despolarização da membrana causada pelo
efluxo de Cl-;
A saída dos íons leva a um aumento no Ψs e, consequentemente, no Ψw das células-
guardas. Com isso, a célula-guarda perde água para a sua vizinhança e, consequentemente,
ocorre diminuição da sua turgescência e, finalmente, o estômato fecha.
282
BIBLIOGRAFIA
FERRI, M. G. (Coord.) Fisiologia Vegetal, volumes 1. e 2. 2nd ed. São Paulo: EPU, 1985,
361p.
HOPKINS, W. G. Introduction to Plant Physiology. 2nd ed. New York: John Wiley & Sons,
Inc., 2000, 512p.
KENDE, H., ZEEVAART, J. A. D. The five “classical” plant hormones. The Plant Cell,
9:1197-1210, 1997.
TAIZ, L., ZEIGER, E. Plant Physiology. 1st ed. California: The Benjamin/Cummings
Publishing Company, Inc., 1991, 559p.
283
ESTUDO DIRIGIDO No 10
284
UNIDADE X
FOTOMORFOGÊNESE
FOTOMORFOGÊNESE
1. INTRODUÇÃO
2. DESCOBERTA DO FITOCROMO
286
• O alongamento do caule é inibido pela luz;
• O desenvolvimento da raiz é promovido pela luz.
287
Mais notável, no entanto, foi a descoberta da fotorreversibilidade, uma resposta
potencializada pela luz vermelha poderia ser inibida se o tratamento com luz vermelha fosse
seguido imediatamente pela luz vermelha distante.
Fv Vermelho Fve
(600nm) (730nm)
(inativo) Vermelho (ativo)
extremo
Reversão no
escuro
Destruição
288
pesquisadores sugeriram que o pigmento agiria cataliticamente e seria, provavelmente, uma
proteína.
Todas essas predições foram, posteriormente, comprovadas.
A predita mudança de absorbância (vermelho para vermelho distante) durante a
fotorreversibilidade, foi demonstrada em plântulas de milho crescendo no escuro por Butler et
al. (1959). Pouco tempo depois, Siegelman & Firer (1964), usando técnicas de purificação de
proteínas disponíveis na época, isolaram e purificaram o pigmento de plântulas de cereais
crescendo no escuro. Eles demonstraram a fotorreversibilidade do fitocromo “in vitro” bem
como os espectros de absorção das duas formas do pigmento (Fv e FVD) purificadas. Nos anos
seguintes, se demonstrou a ampla distribuição do fitocromo em algas, briófitas e plantas
superiores.
Algumas linhas de evidências agora confirmam que o fitocromo em plântulas verdes é
distinto daquele de plântulas crescendo no escuro. O fitocromo de tecidos de aveia crescendo
na luz é ligeiramente menor (118 kDa) do que o da mesma espécie crescendo no escuro (124
kDa). O primeiro também apresenta picos máximos de absorção em 652 e 724 nm, os quais
são ligeiramente menores do que os do segundo (667 e 730 nm). O fitocromo de plantas
crescendo na luz é também mais estável do que o fitocromo de plântulas crescendo no escuro.
A forma do fitocromo que predomina nas plântulas crescendo no escuro é referida como
Tipo I, enquanto a forma do fitocromo encontrada nas plantas verdes é conhecida como Tipo
II. Esse último parece existir em múltiplas formas.
OBS: NO caso de algumas figuras, a legenda está em inglês.
Fv (fitocromo vermelho) = Pr (phytochrome red); V (luz vermelha) = R (red)
FVD (fitocromo vermelho distante) = Pfr (phytochrome far-red)
VD (vermelho distante ou vermelho extremo) = Fr (far red)
289
O fitocromo parece existir in vivo como um dímero, com um cromóforo para cada
monômero. Massas moleculares para monômeros nativos variam de 120 (Zuchini) a 127 kDa
(milho). A massa molecular do fitocromo de aveia, o qual tem sido mais extensivamente
estudado, é de 124 kDa (em plantas estioladas). Alguns resultados experimentais têm indicado
que o pigmento é fortemente associado com membranas celulares. No entanto, os estudos com
fitocromo de aveia mostraram que a proteína é relativamente hidrofílica, a qual é mais
consistente com o modelo de uma proteína globular solúvel do que uma proteína intrínseca de
membrana.
Como mencionado anteriormente, é geralmente aceito que o fitocromo vermelho (Fv) é
biologicamente inativo e que a formação do Fve inicia uma ativa resposta fisiológica. A
questão que surge naturalmente concentra-se nas diferenças estruturais entre Fv e FVD e se
essas diferenças explicam a atividade biológica. Infelizmente, a exata natureza da
fototransformação não é clara, embora se acredite que tanto o cromóforo como a apoproteína
devam sofrer mudanças de conformação.
Após a absorção da luz, o fitocromo vermelho (Fv) sofre uma isomerização cis-trans
pela rotação em torno da dupla ligação entre os átomos de carbono 15 e 16, entre os anéis C e
D (Figura 3). Esta mudança resulta em uma conformação mais estendida do tetrapirrrol, o que
é consistente com a observação de que o cromóforo é mais acessível às sondas químicas
quando o fitocromo está na forma de Fve (mais instável).
290
4. DISTRIBUIÇÃO (ESPÉCIES, TECIDOS E CÉLULAS) E FOTOCONVERSÃO.
Φ = FVD / FTot
291
converte 97% do FVD para Fv. O fotoequilíbrio estabelecido pela luz solar é de 0,6. E, o
fotoequilíbrio estabelecido pela luz azul é 0,4.
OBS: As lâmpadas fluorescentes brancas são ricas em radiação no vermelho (Figura 6).
Isso produz alta relação luz vermelha/luz vermelha distante (V/VD = 2,28) que produz um
aumento no fotoequilíbrio, ou seja, favorece a formação do fitocromo ativo Fve. As lâmpadas
incandescentes, ao contrário, produzem pouco vermelho e muita radiação vermelha distante.
292
5. RESPOSTAS FISIOLÓGICAS CONTROLADAS PELO FITOCROMO
• Germinação de sementes
As sementes em que a luz estimula o processo de germinação são conhecidas como
fotoblásticas positivas. Aquelas cuja germinação é inibida pela luz são fotoblásticas negativas.
Muitas outras, incluindo a maioria das espécies cultivadas, não são afetadas pela luz, ou seja,
elas germinam na luz ou no escuro.
Sementes, tais como as de alface, podem requerer somente breve exposição à luz,
medida em segundos ou minutos (Tabela 1), enquanto outras podem requerer algumas horas
ou mesmo dias de constantes ou intermitentes irradiância. Em todos os casos, o pigmento
responsável parece ser o fitocromo. Quando a luz requerida é de baixa fluência e as respostas
são fotorreversíveis (ver Tabela 1), as respostas são classificadas como LFRs.
293
• Desenvolvimento da plântula
Plântulas crescendo no escuro mostram excessivo alongamento do caule, as folhas
permanecem pequenas (principalmente nas dicotiledôneas), os cloroplastos não se
desenvolvem completamente e não ocorre síntese de clorofila. Após a iluminação com luz de
baixa fluência, a taxa de crescimento do caule diminui (Figura 1), as folhas se expandem
(principalmente em dicotiledôneas), os cloroplastos se desenvolvem a partir de etioplastos e
as folhas tornam-se verdes com o acúmulo de clorofila. No caso de gramíneas, se observa
inibição do crescimento do entrenó, inibição do crescimento do coleóptilo e promoção do
desenrolamento das folhas. Note que nos dois casos, o fitocromo inibe o crescimento do caule
(Fv → FVD, que inibe o crescimento).
A significância ecológica destas respostas não é difícil para perceber. No escuro, as
reservas limitadas da semente são usadas para o crescimento em extensão do eixo,
maximizando a possibilidade da plúmula, composta de folhas jovens, alcançar a luz e ser
capaz de realizar a fotossíntese antes que as reservas sejam exauridas.
• Respostas fotoperiódicas
A inibição do florescimento em plantas de dias curtos (PDC), pela interrupção do
período noturno, foi um dos primeiros processos fisiológicos que se mostrou estar sob o
controle do fitocromo. Em muitas plantas de dias curtos, a interrupção do período noturno
somente é efetiva quando a dose de luz vermelha é suficiente para fotoconverter o fitocromo
vermelho (Fv) para o vermelho distante (Fve). Uma subsequente exposição das plantas à luz
vermelha distante, a qual fotoconverte o fitocromo ativo (Fve) para a forma inativa (Fv),
restaura a resposta do florescimento.
A reversibilidade do vermelho e vermelho distante têm sido demonstrados, também, em
algumas plantas de dias longos (PDL). Nestes casos, a interrupção do período noturno pela
luz vermelha promove o florescimento e uma subsequente exposição ao vermelho distante
previne a resposta (Veremos fotoperiodismo na unidade XI).
294
b) Respostas de muito baixa fluência (VLFRs – Very Low Fluence Responses)
Alguns estudos têm indicado que plântulas crescendo no escuro são capazes de
responder a níveis muitos baixos de luz. A luz vermelha, por exemplo, promove um aumento
na sensibilidade de plântulas de cereais a um subsequente estímulo fotoperiódico. Porém, a
fluência da luz vermelha requerida para saturar a resposta foi, pelo menos, 100 vezes menor
do que a requerida para induzir uma mensurável conversão de Fv para FVD.
Em plântulas de aveia foi estimada que menos de 0,01% de FVD foi requerido para
elicitar a inibição do alongamento do mesocótilo. Visto que a luz vermelha distante, que
poderia normalmente reverter os efeitos da luz vermelha, converte 97% do FVD para a forma
Fv, em torno de 3% do fitocromo permanece na forma ativa (FVD). Essa percentagem seria
mais que suficiente para induzir as VLFRs. Estas respostas, portanto, não são fotorreversíveis.
O espectro de ação das VLFRs exibe picos nas regiões do azul e do vermelho. O pico no
vermelho sugere que o fitocromo é o fotorreceptor para as VLFRs. O pigmento responsável
pelo pico no azul pode ser tanto o fitocromo como o criptocromo.
No ambiente natural, as plantas são expostas a longos períodos de luz do sol em altas
taxas de fluência. Sob tais condições, caracterizadas pela relativamente alta energia por longo
período de tempo, o programa morfogenético alcança a expressão máxima e respostas, tais
como a expansão foliar e a inibição do alongamento do caule são mais impressionantes. Estas
respostas são conhecidas como reações de alta irradiância (HIRs).
As reações de alta irradiâncias mostram as seguintes características:
A completa expressão da resposta requer prolongada exposição a altas irradiâncias;
A magnitude da resposta é uma função da taxa de fluência e da duração (não seguem a
lei da reciprocidade);
Em contraste com as LFRs, as HIRs não são fotorreversíveis.
As HIRs têm sido implicadas em um grande número de respostas que também são
qualificadas como LFRs, incluindo: crescimento do caule, expansão foliar e germinação de
sementes. Por exemplo, a supressão da germinação em sementes fotoblásticas negativas, tal
como em aveia, requer geralmente longo tempo de exposição em alta fluência. Neste caso, as
luzes vermelhas distante e azuis são mais efetivas.
As HIRs diferem das LFRs por exibirem diferentes espectros de ação, dependendo da
espécie e das condições de crescimento. Em plantas crescendo no escuro as HIRs mostram
picos no vermelho distante e nas regiões correspondentes ao azul e UV–A do espectro. Nestes
casos, é possível que pelo menos dois fotorreceptores estejam envolvidos: o fitocromo e um
fotorreceptor azul-UV-A. Em plantas crescendo na luz, em geral, o espectro de ação das HIRs
exibe um pico bem maior no vermelho, similar ao espectro de ação das LFRs (estímulo),
exceto que as HIRs não são fotorreversíveis.
295
Quando sementes germinantes alcançam a superfície do solo, a luz pode converter uma
grande proporção do Fv para a forma FVD, o qual pode inibir o crescimento do caule, evitando
o estiolamento. Porém, a luz do sol também contém comprimentos de onda na faixa do
vermelho distante, ou seja, parte do fitocromo ativo (FVD) pode ser convertida para a forma
inativa (Fv). Isto aumenta a questão de como o fitocromo funciona, e se de fato ele tem algum
papel, em plantas verdes que são expostas à luz contínua (dia) em altas taxas de fluência.
Muitos estudos sobre plantas crescendo na luz indicam que a extensão do crescimento é
determinada pelo fotoequilíbrio (FVD /FTot). Uma dessas observações foi obtida em estudos
com Phaseolus, Helianthus e Pharbitus, manipulando-se a fonte de luz no final do
fotoperíodo (Figura 8). Quando se aplicavam 5 minutos de luz vermelha no final do
fotoperíodo, a qual estabelece uma alta proporção de FVD no começo do período de escuro,
resultou numa forte inibição do crescimento do caule. Quando o tratamento era com luz
vermelha distante (converte o FVD para Fv) o caule crescia consideravelmente, ou seja, ocorria
o estiolamento (Figura 8). Esses resultados parecem indicar que o crescimento do caule foi
determinado pela proporção do FVD presente no começo do período de escuro.
Figura 8 – Efeitos do tratamento de plantas (no final do dia) com luz vermelha distante
(coluna do centro) ou com luz vermelha distante seguida de luz vermelha
(coluna da direita) sobre o comprimento do entrenó de Helianthus (A),
Phaseolus (B) e Pharbitus (C). Os tratamentos, com duração de 5 minutos
foram aplicados no final do dia, após 8 horas de luz fluorescente branca. A
coluna da esquerda, o controle, não sofreu nenhum tratamento (Hopkins,
2000)
296
Experimentos tais como o descrito acima tem despertado a atenção para o
comportamento do fitocromo em plantas verdes e sobre os possíveis papéis do fitocromo nas
estratégias de sobrevivência de plantas. A maioria desses estudos se relaciona ao crescimento
de plantas sob florestas ou plantações (sombreadas), visto que nestas condições se observa
uma alteração na qualidade da luz (além da diminuição na quantidade de luz). A radiação no
interior das florestas é marcadamente deficiente em luz vermelha e azul, as quais são
absorvidas em grandes quantidades pelas clorofilas e outros pigmentos (fotossíntese). Isto
influencia a relação luz vermelha/luz vermelha distante (V/VD). Em geral, essa relação para a
luz do sol não filtrada é de 1,05 a 1,25. O valor de V/VD em áreas sombreadas é reduzido,
sendo que o grau de redução pode depender do tipo e da densidade da vegetação (Tabela 2).
Tabela 2 – Valores aproximados da relação V/VD para a luz filtrada por diferentes tipos
de vegetação (Hopkins, 2000)
Tipo de Cobertura Vegetal V/VD
Trigo 0,50
Milho 0,20
Mata de carvalho 0,12 a 0,17
Floresta Tropical 0,22 a 0,30
297
Existem agora boas evidências de que as plantas podem, de fato, detectar essas
diferenças entre luz na região sombreada (no interior da vegetação) e a luz não filtrada pela
vegetação (no topo das copas das plantas). Este sombreamento pode ser reproduzido em
laboratório ou câmara de crescimento, adicionando além de uma lâmpada fluorescente branca
(V/VD = 2,28), vária quantidades de luz vermelha distante ao longo do dia. Isto é feito sem
alterar a taxa de radiação fotossinteticamente ativa (PAR). As diferenças no crescimento e
morfogênese são atribuídas ao fotoequilíbrio do fitocromo, o qual pode ser estimado pela
relação V/VD de cada tratamento. Os resultados indicam que quanto maior a relação V/VD
(Figura 10B) ou quanto maior o fotoequilíbrio (Figura 10A) menor será o crescimento. Ou
seja, maior relação V/VD implica em maior proporção do fitocromo na forma ativa (FVD), o
qual inibe o crescimento. De modo contrário, nas áreas sombreadas, onde a relação V/VD é
baixa, ocorre uma menor proporção do FVD, e as plantas tendem ao estiolamento.
298
BIBLIOGRAFIA
FERRI, M. G. (Coord.) Fisiologia Vegetal, volumes 1. e 2. 2nd ed. São Paulo: EPU, 1985,
361p.
HOPKINS, W. G. Introduction to Plant Physiology. 2nd ed. New York: John Wiley & Sons,
Inc., 2000, 512p.
TAIZ, L., ZEIGER, E. Plant Physiology. 1st ed. California: The Benjamin/Cummings
Publishing Company, Inc., 1991, 559p.
299
ESTUDO DIRIGIDO No 11
ASSUNTO: FOTOMORFOGÊNESE
3 – Dê as características do fitocromo.
300
UNIDADE XI
1. INTRODUÇÃO
A reprodução é uma das mais importantes características dos seres vivos. A própria
existência das espécies evidencia a eficiência dos mecanismos de reposição de indivíduos que
morrem.
As plantas superiores desenvolveram, pelo menos, dois mecanismos distintos de
reprodução: assexual e sexual.
Um tipo de reprodução assexual é a propagação vegetativa. Nesse tipo de reprodução,
uma parte, usualmente multicelular, separa-se da “planta mãe” para dar origem a uma nova
planta. Esta nova planta é geneticamente idêntica à planta mãe. Outro tipo de reprodução
assexual é encontrado em algumas espécies que se reproduzem por apomixia. Nesse tipo de
reprodução a formação do zigoto ocorre sem concomitante meiose e fertilização
(desenvolvimento de células diplóides do óvulo sem ter ocorrido meiose. Ex: Compositae,
dente-de-leão).
A reprodução sexual é encontrada em praticamente todas as plantas superiores. Neste
tipo de reprodução, o novo organismo tem constituição genética que pode ou não diferir da
constituição genética dos pais. A produção de gametas nas plantas envolve a formação de
órgão reprodutivo especializado, a flor. Em geral, o aparecimento da flor é considerado como
o início da reprodução sexual.
2. REPRODUÇÃO VEGETATIVA
a) Mecanismos
302
Do ponto de vista prático, a reprodução vegetativa tem grande importância para a
horticultura, jardinagem e fruticultura. Pedaços de caules isolados de muitas espécies são
capazes de produzir raízes adventícias, dando origem a novos indivíduos (propagação por
estacas). Atualmente, técnicas como a enxertia e diversas técnicas de cultura de tecido
(cultura de ápices caulinares, microenxertia, cultura de raízes, micropropagação, etc.) têm
importante emprego no melhoramento genético de plantas, na obtenção de plantas livres de
patógenos, na obtenção de plantas uniformes em um tempo relativamente curto e em muitos
outros estudos científicos.
Na natureza, os mecanismos de reprodução vegetativa em plantas superiores apresentam
um alto grau de diversificação. Diferentes órgãos estão adaptados à reprodução vegetativa.
Muito freqüentemente, novas plantas são originadas a partir de caules. Em muitas cactáceas,
partes do caule se quebram, formam raízes quando em contato com o solo e se estabelecem
como uma nova planta. Em muitas plantas herbáceas, como Bidens pilosa (picão), os caules
podem formar raízes quando em contato com o solo. Outros tipos de caules, tais como
estolões, tubérculos, rizomas e bulbos, são exemplos de meios de propagação vegetativa em
muitas plantas como morango, batatinha, tiririca, bananeira, samambaias e algumas
gramíneas.
As folhas podem também servir como órgãos reprodutivos. Em muitas crassuláceas,
como Bryophyllum calicynum, a folha possui gemas nas margens, as quais originam muitas
novas plantas quando a folha é destacada da planta. Já em espécies do gênero Kalanchoe, as
novas plântulas são formadas nas margens do limbo da folha, mesmo antes da queda da folha.
Ao atingir certo estádio, estas novas plântulas caem no solo e desenvolvem-se em novas
plantas independentes.
Em muitas espécies do cerrado, as raízes produzem gemas que podem se desenvolver e
formar novas plantas.
As flores e inflorescências podem, em alguns casos, sofrer modificações na sua
estrutura, passando a funcionar como órgão de reprodução vegetativa. A flor, parcialmente
desenvolvida, pode se modificar e formar uma plântula com capacidade de enraizar. Esses
casos de viviparidade são comuns em monocotiledôneas, como no caso de certas espécies de
agave.
A maioria dos métodos de reprodução vegetativa (naturais ou artificiais) torna possível
uma rápida proliferação das plantas, quando as condições são favoráveis. Na reprodução
vegetativa, toda uma população oriunda de uma única planta apresenta a mesma constituição
genética (clone). Isto pode ser altamente vantajoso para a espécie, desde que o seu genótipo
esteja bem adaptado ao seu meio ambiente.
303
positivos (estolões), favorecendo a formação de raízes adventícias e permitindo o
desenvolvimento de novos indivíduos. Em morango, dias longos e temperaturas altas, também
favorecem a formação de estolões, os quais poderão originar novas plantas.
Dos mecanismos internos que controlam a reprodução vegetativa, os hormônios
parecem desempenhar papel importante. Muitas evidências para isto têm sido obtidas em
cultura de tecido. Por exemplo, a formação de raiz, parte aérea ou callus é regulada pela
disponibilidade e interação de auxinas e citocininas. Estes dois hormônios são importantes na
estimulação da divisão celular. Altas relações auxinas/citocininas estimulam a formação de
raízes, enquanto baixas relações auxinas/citocininas favorecem a formação de parte aérea.
Uma relação intermediária promove o crescimento de um callus (ver citocininas).
Em estudos com plantas decapitadas de Solanum andigena, a aplicação de AIA ou ácido
giberélico pode modificar o desenvolvimento de gemas axilares, fazendo com que estas
cresçam como ramos plagiogravitrópicos positivos (estolões). Em morango, o GA3 estimula a
formação de estolões. Em Kalanchoe, o GA3 inibe e as citocininas estimulam a formação de
plântulas nos limbos foliares. Em muitas destas respostas, os hormônios (mensageiro
primário) parecem mimetizar as condições do ambiente (sinal original), sugerindo que os
mesmos podem mediar as respostas induzidas pelo ambiente sobre a reprodução vegetativa.
3. REPRODUÇÃO SEXUAL
a) Aspectos genéticos
304
Figura 1 – O ciclo de vida de milho (Zea Mays), uma angiosperma monocotiledônea
(Taiz & Zeiger, 1998)
305
b) Aspectos fisiológicos
c) Sincronização da reprodução
Há duas fases no ciclo de vida de muitas plantas em que as variações sazonais atuam
seletivamente através de respostas fisiológicas:
Uma destas fases é a sobrevivência às condições desfavoráveis. Em regiões climáticas
onde o crescimento é limitado por condições desfavoráveis de temperatura ou falta de água
em certas estações, a sobrevivência das espécies ocorre através de uma fase resistente de
dormência (dormência de sementes, dormência de gemas na parte aérea, dormência de gemas
em órgãos subterrâneos). Assim, as respostas fisiológicas que induzem ou removem a
dormência são de grande valor seletivo, pois permitem que muitas espécies resistam, em
estado de dormência, às condições climáticas desfavoráveis ao crescimento.
A outra fase é encontrada durante o processo de reprodução sexual. A sincronização da
floração aumenta a possibilidade de polinização e de fertilização cruzadas e também assegura
o desenvolvimento posterior das sementes em condições climáticas favoráveis. Assim,
306
ocasionalmente, certas plantas como bambus e agaves, com ocorrência de poucos indivíduos
em vastas áreas, após muitos anos de crescimento vegetativo, florescem simultaneamente
(isso permite a polinização, a fecundação e a perpetuação das espécies). Embora não se
conheçam precisamente as causas dessa sincronização, acredita-se que seja devido a uma
combinação de fatores. Ou seja, as plantas da mesma espécie devem apresentar respostas
fisiológicas semelhantes às variações do ambiente.
A duração da fase juvenil depende da espécie, variando de poucos dias nas plantas
herbáceas até 30 ou 40 anos em algumas espécies arbóreas. Uma vez que a fase adulta tenha
sido atingida, ela permanece relativamente estável até ocorrer o florescimento. Esta
estabilidade é mantida durante a propagação vegetativa. Por exemplo, em manga (Mangifera
indica), plantas juvenis (mudas) podem ser induzidas ao florescimento, enxertando-as com
ramos de uma árvore madura (adulta).
A transição de uma fase para outra, depende de fatores ambientais e, ou de sinais
associados ao desenvolvimento da planta (hormônios?). Discutiremos abaixo os efeitos de
alguns fatores ambientais na promoção do florescimento e, também, o envolvimento de
fatores bioquímicos (como os hormônios) no controle do florescimento.
a) Estresse hídrico
Irrigação
Antese Floral
307
eficiente na quebra da dormência das gemas, é necessário que a planta esteja sob déficit
hídrico. Assim, embora o aumento do potencial hídrico do solo (pela chuva ou irrigação) seja
necessário para a antese (abertura da flor), isto somente ocorre se as plantas tiverem sido
submetidas previamente a um déficit de água (Ferri, 1985).
Alvim sugeriu que, em condições tropicais, o déficit de água teria um efeito comparável
ao resfriamento que rompe a dormência de plantas de zonas temperadas. O termo
HIDROPERIODISMO foi proposto pelo autor, para designar a relação planta-água, na qual a
transição de seca para umidade tem um papel decisivo não somente na floração, como
também no crescimento de algumas espécies.
O déficit hídrico pode também acelerar ou sincronizar o florescimento em algumas
árvores frutíferas.
b) Temperatura
Em regiões tropicais, onde NÃO há grandes variações de temperatura, algumas plantas
desenvolveram uma certa sensibilidade às mudanças de temperatura, a qual age como agente
modulador da floração. Assim, em algumas orquídeas, como Dendrobium crumenatum, uma
queda de temperatura de cerca de 5oC, que pode ser causada por chuva induz rápido
desenvolvimento de flores.
Em outras espécies, o número de inflorescências pode ser influenciado pela alternância
de temperaturas noturna e diurna, sendo que altas temperaturas noturnas parecem afetar
negativamente, diminuindo o número de flores. Na década de 1940, F. Went e colaboradores
mostraram que plantas de tomate (Lycopersicum esculentum), mantidas em temperatura
constante (18 ou 26oC) durante as 24 horas do dia, não cresciam bem e não produziam frutos
na temperatura mais elevada (26oC). As plantas mantidas sob temperaturas alternadas (26oC
durante o dia e 18oC durante a noite) cresciam vigorosamente e produziam um número
máximo de flores e de frutos. Para ser efetiva, a diferença de temperatura deveria coincidir
com o ciclo dia-noite. Quando o ciclo de temperatura era invertido, ou seja, a maior
temperatura ocorria durante o período noturno, as plantas cresciam menos que em temperatura
constante (26oC) durante as 24 horas. Para descrever esse fenômeno, Went propôs o nome de
TERMOPERIODISMO, o qual se refere à resposta de plantas aos diferentes regimes de
temperatura diurna e noturna.
É agora reconhecido que muitas plantas se desenvolvem melhor com um regime de
temperatura diferencial entre o dia e a noite. Vale salientar que esse efeito do regime de
temperatura ocorre, primariamente, sobre o crescimento vegetativo. O que influencia mais o
florescimento é o fotoperiodismo (veremos abaixo).
c) Queimadas
308
encontrado no Planalto Central, na Amazônia e em parte do Nordeste). Nesse
ecossistema, a seca severa e o fogo podem ser fatores que controlam a vegetação. Na
vegetação do cerrado tem sido observado o efeito da queimada sobre a floração de muitas
espécies (ver Ferri, 1985). Por exemplo, o sapé (Imperata brasiliensis) floresce em qualquer
época do ano, desde que a planta seja submetida à queimada. Alguns autores acreditam que o
fogo causaria a eliminação de um inibidor da floração e ao mesmo tempo estimularia a síntese
de um promotor da floração, por ação térmica ou por gases oriundos da combustão.
d) Fotoperiodismo
- Winninpeg, Canadá
(50º)
- Guatemala (15º)
309
O fotoperiodismo reflete, quase certamente, a necessidade da planta para sincronizar o
seu ciclo de vida em relação às estações do ano. Não surpreendentemente, as respostas
fotoperiódicas são mais importantes para plantas de regiões subtropicais e temperadas (altas
latitudes), onde as variações sazonais no comprimento do dia são pronunciadas (Figura 2).
As respostas fotoperiódicas geralmente são divididas dentro de três categorias
fundamentais:
Plantas de dias curtos (PDC) – Plantas de dias curtos são aquelas que florescem
somente em resposta a um determinado valor de comprimento do dia (período de luz) que é
menor do que um certo valor crítico, dentro de um período de 24 horas.
Plantas de dias longos (PDL) – As plantas de dias longos são aquelas que florescem
somente em resposta a um determinado valor de comprimento do dia (período de luz) que é
maior do que um certo valor crítico, dentro de um período de 24 horas.
Plantas neutras (PN) – plantas que florescem e são indiferentes ao comprimento do dia.
OBS: NO caso de algumas figuras, a legenda está em inglês –
PDC (plantas de dias curtos) = SDP (short-day plants);
PDL (plantas de dias longos) = LDP (long-day plants)
PN (plantas neutras ou indiferentes) = DNP (day-neutral plants)
Um ponto importante a ser entendido é que a distinção entre plantas de dias curtos
(PDC) e plantas de dias longos (PDL) não é baseada sobre o comprimento absoluto do dia
(período de luz). Como descrito acima, a classificação de PDC e PDL depende do
comportamento das plantas em relação ao seu fotoperíodo crítico (Figura 3). Plantas que
florescem quando o comprimento do dia é menor que o comprimento máximo crítico, são
classificadas como PDC. Aquelas que florescem em resposta a um comprimento do dia maior
que um valor mínimo crítico são classificadas como PDL. Considere, por exemplo, que tanto
Xanthium strumarium (PDC) como Hyoscyamus niger (PDL) poderão florescer com 12 a 15
horas de luz por dia. O fotoperíodo crítico para Xanthium strumarium (PDC) é 15,5 horas,
indicando que ela poderá florescer se o comprimento do dia é menor que 15,5 horas em um
período de 24 horas. O fotoperíodo crítico para Hyoscyamus niger (PDL) é 11,0 horas,
indicando que ela poderá florescer quando o comprimento do dia (período de luz dentro de 24
horas) excede esse valor.
310
As PDC e as PDL podem ser reconhecidas, também, como qualitativas (ou obrigatórias)
ou quantitativas (facultativas). Plantas de Xanthium strumarium, por exemplo, são qualitativas
de dias curtos e não florescem a menos que recebam um fotoperíodo adequado. Por outro
lado, muitos cereais de primavera, como trigo e centeio, são quantitativos de dias longos,
tendo o florescimento acelerado sob dias longos. Vale salientar que a distinção entre respostas
qualitativas e quantitativas não é sempre fácil de ser observada em determinada espécie. O
requerimento fotoperiódico é freqüentemente modificado por condições externas, como a
temperatura. A planta pode, por exemplo, ter um requerimento qualitativo em uma
temperatura, porém, responde quantitativamente em outra temperatura.
Em adição às três categorias básicas, existem outras respostas que correspondem a
combinações de plantas de dias curtos e longos. Várias espécies do gênero Bryophyllum, por
exemplo, são plantas de dias longos e curtos (PDLC) e poderão florescer somente se um certo
número de dias curtos é precedido de um certo número de dias longos. O contrário é
observado para plantas de dias curtos e longos (PDCL) como Trifolium repens, a qual
somente floresce quando um certo número de dias longos é precedido de um certo número de
dias curtos. Uma poucas plantas possuem um especial requerimento por comprimentos de
dias intermediários. Estas plantas florescem somente quando o comprimento do dia
permanece em valor intermediário (12 a 14 horas) e permanecem vegetativas quando o dia é
muito longo ou muito curto. Um outro comportamento é o anfifotoperiodismo, observado em
Madia elegans. Neste caso, o florescimento é retardado em dias intermediários (12 a 14 horas
de luz), porém ocorre rapidamente quando o comprimento do dia é de 8 ou de 18 horas.
Muitos experimentos iniciais sobre fotoperiodismo procuraram estabelecer qual a etapa
do ciclo diário, luz ou escuro, controlava o florescimento. Os primeiros resultados mostraram
que o florescimento de plantas de dias curtos (PDC) era determinado pela duração do período
de escuro. Estas plantas não florescem quando a noite longa, após um dia curto, era
interrompida com um “flash” de luz (Figura 4). Similarmente, PDC não floresciam quando
dias curtos eram seguidos por noites curtas. Posteriormente foi demonstrado que a duração do
período de escuro era também determinante no florescimento de PDL. Estas plantas
floresciam em dias curtos seguidos de noites curtas, porém, dias longos seguidos de noites
longas não estimulavam o florescimento nestas plantas (PDL).
311
A percepção do fotoperiodismo parece ter o fitocromo como principal fotorreceptor. A
inibição do florescimento em muitas plantas de dias curtos (PDC), pela interrupção do
período noturno, foi um dos primeiros processos fisiológicos que se mostrou estar sob o
controle do fitocromo. Em muitas PDC, a interrupção do período noturno somente é efetiva
quando a dose de luz vermelha é suficiente para fotoconverter o fitocromo vermelho (Fv) para
o vermelho distante (FVD). Uma subseqüente exposição das plantas à luz vermelha distante, a
qual fotoconverte o fitocromo ativo (FVD) para a forma inativa (Fv), restaura a resposta do
florescimento (Figura 5). A reversibilidade do vermelho e vermelho distante têm sido
demonstrados, também, em algumas plantas de dias longos (PDL). Nestes casos, a interrupção
do período noturno pela luz vermelha promove o florescimento e uma subsequente exposição
ao vermelho distante previne a resposta (Figura 5).
Figura 5 – Controle do florescimento pela luz vermelha (R) e vermelha distante (FR) em
plantas de dias longos e plantas de dias curtos (Taiz & Zeiger, 1998)
312
Figura 6 – O papel da folha na percepção do estímulo fotoperiódico em Perilla, uma
planta de dias curtos. (A) A planta permanece sem florescer quando o ápice
é protegido e mantido sob dias curtos e as folhas são mantidas sob dias
longos; (B) A planta floresce quando as folhas são submetidas a dias curtos,
mesmo que o ápice permaneça sob dias longos; (C) O florescimento pode
também ocorrer quando uma única folha é mantida sob dias curtos
(Hopkins, 2000)
Outros experimentos, com PDC e PDL, têm confirmado que o fotoperíodo percebido
pelas folhas determina a resposta no ápice (florescimento). Assim, na resposta ao fotoperíodo,
a folha transmite um sinal desconhecido que regula a transição para o florescimento no ápice.
Os processos que ocorrem na folha, regulados pelo fotoperíodo, e que resultam na transmissão
do estímulo floral para o ápice, são referidos coletivamente como INDUÇÃO
FOTOPERIÓDICA. Esse estímulo do florescimento parece ser transportado via floema e
parece ser de natureza química. Alguns tratamentos que restringem o transporte via floema,
impedem o movimento do sinal floral e o florescimento.
O fisiologista russo M. Chailakhyan, em 1936, foi o primeiro a sugerir que o estímulo
floral poderia ser um hormônio, para o qual ele propôs o nome de FLORÍGENO.
Infelizmente, tentativas para isolar e caracterizar tal hormônio tem fracassado e a maioria das
evidências para a existência do florígeno é baseada em experimentos fisiológicos. Por
exemplo, numerosos estudos têm mostrado que o estímulo pode ser transmitido enxertando-se
plantas que foram induzidas ao florescimento com plantas não induzidas (Figura 7).
313
Figura 7 – Transmissão do estímulo floral em plantas enxertadas. Note que uma única
folha foi submetida ao tratamento fotoperiódico adequado e todas as plantas
floresceram, indicando que o estímulo floral foi transmitido dentro da
mesma planta e para outras plantas enxertadas (Hopkins, 2000).
A despeito das fortes evidências circunstanciais para a existência do florígeno, ele não
foi ainda isolado e caracterizado. Alguns pesquisadores têm sugerido que o florígeno poderia
ser uma giberelina. Na realidade, dentre as classes de hormônios, praticamente somente as
giberelinas parecem estar envolvidas na promoção do florescimento em várias espécies. Em
muitas plantas, o florescimento é acompanhado pelo aumento nos níveis de giberelinas. Além
disso, as giberelinas podem substituir o requerimento por dias longos (Figura 8) em algumas
espécies e o requerimento por frio (vernalização) em outras.
314
De acordo com alguns autores, seria melhor considerar o florígeno como um conceito e
não como uma substância específica que promove o florescimento. O florígeno poderia
representar, por exemplo, um balanço de vários hormônios. Pesquisas futuras poderão
esclarecer o conceito de florígeno e estabelecer a base hormonal para o florescimento.
315
da duração do tratamento. Para esta espécie, o tratamento na temperatura de 1oC é mais
efetivo após sete semanas de duração do tratamento (Figura 9). Por outro lado, a vernalização
pode ser revertida se o tratamento de frio for seguido imediatamente por um tratamento de
alta temperatura, ou seja, ocorre a desvernalização.
A vernalização somente é efetiva quando aplicada em plantas crescendo ativamente ou
em sementes embebidas. Assim, cereais anuais de inverno podem ser vernalizados tão logo o
embrião esteja embebido em água e o processo de germinação tenha iniciado. Neste caso, é
possível que os estados induzidos, estabelecidos em poucas células meristemáticas (no
embrião), possa ser mantido em todo o desenvolvimento da planta. Muitas bianuais, no
entanto, não podem ser vernalizadas pela exposição das sementes ao frio. Estas plantas devem
alcançar um tamanho mínimo antes que elas possam ser vernalizadas. Nestes casos, o ápice da
parte aérea é que percebe o estímulo, embora existam algumas evidências sugerindo que
folhas ou mesmo raízes isoladas podem ser susceptíveis, também, ao frio (pelo menos em
alguns casos).
316
não vernalizadas) isso não ocorria. Isto poderia ser devido a translocação da vernalina de uma
planta para outra ou de um hipotético hormônio do florescimento (FLORÍGENO), ou mesmo
de giberelinas (como comentamos anteriormente, estas substâncias parecem substituir o
requerimento por frio de algumas plantas vernalizáveis e o requerimento por dias longos em
algumas plantas de dias longos (PDL). Até o momento, a existência da vernalina não foi
completamente comprovada).
Alguns outros estudos com embriões isolados têm mostrado que tratamentos de
vernalização somente são efetivos quando o embrião é suprido com carboidratos e oxigênio
durante o tratamento, indicando que se trata de um processo metabólico dependente de
energia.
BIBLIOGRAFIA
FERRI, M. G. (Coord.) Fisiologia Vegetal, volumes 1. e 2. 2nd ed. São Paulo: EPU, 1985,
361p.
HOPKINS, W. G. Introduction to Plant Physiology. 2nd ed. New York: John Wiley & Sons,
Inc., 2000, 512p.
TAIZ, L., ZEIGER, E. Plant Physiology. 1st ed. California: The Benjamin/Cummings
Publishing Company, Inc., 1991, 559p.
317
ESTUDO DIRIGIDO No 12
2 – Que órgãos das plantas superiores estão adaptados à reprodução vegetativa? Dê exemplos.
4 – Por que a reprodução sexual é mais vantajosa para a espécie do ponto de vista genético?
5 – Sob o ponto de vista fisiológico, porque a reprodução sexual é considerada também mais
vantajosa?
8 – O que é fotoperiodismo?
318
UNIDADE XII
FRUTIFICAÇÃO
FRUTIFICAÇÃO
1. INTRODUÇÃO
Figura 1 – Esquema mostrando uma flor perfeita de angiosperma (Taiz & Zeiger, 1998).
320
As diferentes partes florais afetam diferentemente o crescimento da flor. Remoção dos
estames do botão floral provoca redução na mobilização de açúcares para a flor e parada da
atividade mitótica do ovário. O ovário, por sua vez, tem importante papel no desenvolvimento
da flor, sendo uma rica fonte de auxina. Geralmente, remoção do ovário durante o
desenvolvimento da flor provoca a abscisão desse órgão. Em Coleus, a remoção do estigma
causou abscisão da flor e, neste caso, nem aplicação de auxina nem de pólen (rico em
auxinas) foi efetiva em prevenir essa abscisão. Entretanto, em muitos casos, aplicação de
auxinas ou de giberelinas, em concentrações adequadas, retardam a abscisão floral.
O crescimento do pedicelo, em muitas espécies, está diretamente relacionado a
estímulos produzidos pelo botão floral. Em Fritillaria e Cyclamem ocorrem dois máximos de
crescimento: o crescimento mais rápido ocorre antes da abertura da flor; há então uma parada
no crescimento que corresponde à abertura da flor; e outra fase de crescimento que ocorre
simultaneamente ao estabelecimento do fruto. As duas etapas de rápido crescimento
coincidem com os períodos de máxima produção de auxinas pela flor (Figura 2).
Além de grandes quantidades de auxinas produzidas pelo pólen e pelo ovário, há provas
de que as pétalas de algumas flores também produzem auxinas durante sua abertura. Acredita-
se que as auxinas produzidas nessas partes florais atuem no retardamento da abscisão da flor.
A formação de flores unissexuais, por sua vez, parece envolver a supressão do
crescimento de uma das partes florais, visto que, numa flor feminina são encontrados
rudimentos das partes masculinas e em flores masculinas são encontrados rudimentos do
pistilo. Esse processo de determinação do sexo é geneticamente regulado, porém, ele é
também influenciado por fatores ambientais, tais como fotoperíodo e “status” nutricional, e
estes efeitos ambientais podem ser mediados por giberelinas, auxinas e etileno. Em milho, por
exemplo, flores masculinas são restritas ao pendão e as femininas às espigas. Exposição
321
dessas plantas a dia curto ou frio durante a noite provoca aumento de cerca de 100 vezes no
nível de giberelinas endógenas e, simultaneamente, isto causa feminilização das flores do
pendão. Por outro lado, aplicações de auxinas, em concentrações relativamente altas, também
estimulam a formação de flores femininas em pepino e abóbora. Como as concentrações de
auxinas utilizadas estimulam a produção de etileno endógeno, é provável que as auxinas
atuem indiretamente, estimulando a síntese de etileno. Nestes casos, o papel primário dos
hormônios vegetais parece ser a supressão do desenvolvimento do estame.
3. POLINIZAÇÃO
322
proporciona uma alta probabilidade de autopolinização, a não ser que ocorram mecanismos
que facilitem a polinização e a fecundação cruzada. Dentre estes mecanismos podemos
destacar: autoesterilidade masculina, protandria (dicogamia na qual os órgãos sexuais
masculinos se desenvolvem antes dos femininos), protoginia (órgãos sexuais femininos
amadurecem antes dos masculinos), heterostilia, monoicia (flores unissexuais na mesma
planta) e dioicia (flores unissexuais em plantas diferentes).
Os mecanismos que facilitam a polinização cruzada e, consequentemente, a fecundação
cruzada, está relacionada com agentes polinizadores, como vento, insetos, etc. Por exemplo,
as espécies polinizadas pelo vento produzem enormes quantidades de pólen, os quais podem
apresentar projeções em formas de asas que facilitam sua flutuação no ar, e também podem
apresentar adaptações do pistilo, o qual pode ser longo e filamentoso.
A polinização por insetos, por sua vez, é restrita às angiospermas. Os insetos são
atraídos pela forma, pela cor e pelo odor da flor. Em membros de Aracea, por exemplo,
justamente antes da polinização, os tecidos da inflorescência exibem um dramático aumento
na taxa de respiração via oxidase alternativa (rever RESPIRAÇÃO). Esse tipo de respiração
provoca aumento de temperatura e, como conseqüência, a liberação de compostos voláteis,
cujos odores servem como atraentes para insetos.
Em muitos casos, mesmo que ocorra a autopolinização, a autofecundação pode ser
evitada por reações de incompatibilidade que ocorrem entre o pólen ou o tubo polínico e as
partes do gineceu (estigma, estilete e ovário). Muitas vezes, o ovário inibe a germinação e o
crescimento do tubo polínico. Em pólens trinucleados é comum a auto-incompatibilidade por
inibição da germinação do pólen. Inibidores no estilete podem, também, evitar o crescimento
do tubo polínico, se a germinação de um pólen da mesma planta ocorrer. Mesmo que o tubo
polínico cresça, a fertilização pode ser prevenida, podendo o óvulo ser outro local de
incompatibilidade.
Por outro lado, existem alguns mecanismos que podem favorecer a autopolinização e,
consequentemente, a autofecundação. Por exemplo, em certas espécies de Epilobium, o
estilete cresce continuamente e, caso não ocorra a polinização cruzada, ele acaba entrando em
contato direto com as anteras da mesma flor. Nas plantas clistogâmicas, a autopolinização é a
regra. Em violeta, por exemplo, o pólen germina dentro da antera, atravessando as paredes e
atingindo o estilete, ainda quando o botão floral é bem jovem.
5. RECEPTIVIDADE DO ESTIGMA
323
6. ESTABELECIMENTO DO FRUTO (Desenvolvimento inicial do ovário)
Na maioria das plantas com flores acredita-se que o estímulo inicial para o
desenvolvimento do fruto resulte da polinização. Havendo sucesso na polinização, inicia-se o
crescimento do óvulo, um processo conhecido como Estabelecimento do Fruto. A polinização
e não a fertilização é que corresponde ao estímulo inicial.
Não se sabe exatamente como a polinização estimula o desenvolvimento inicial do
fruto. No entanto, o pólen é uma excelente fonte de auxinas e, é provável que as auxinas
produzidas no pólen atuem no estabelecimento do fruto. Por exemplo, em algumas espécies,
frutos sem sementes podem ser produzidos naturalmente ou elas podem ser induzidas a
produzir tais frutos pelo tratamento de flores não polinizadas com auxinas
(PARTENOCARPIA). Em adição, o ovário em desenvolvimento também produz auxina, a
qual juntamente com outros hormônios (giberelinas e etileno) contribuem para a regulação do
desenvolvimento do fruto.
OBS: A produção de frutos partenocárpicos pode ocorrer por três diferentes maneiras:
• Desenvolvimento do ovário sem que ocorra polinização (variedades de Citrus,
banana, abacaxi, tomate, pimentão, abóbora, pepino, etc.);
• Ocorrendo polinização sem fertilização (orquídeas);
• Através do aborto de embriões (uvas, pêssego, cereja).
324
Na fase linear, o aumento em tamanho continua constante, usualmente em taxa máxima
por algum tempo. Não é muito claro por que a taxa de crescimento nesta fase é constante e
não proporcional ao incremento no tamanho do organismo.
A fase de declínio é caracterizada pela queda na taxa de crescimento e ocorre quando o
fruto atinge o estágio final de maturação.
Figura 3 – Curva de crescimento de um fruto do tipo baga, representada por uma típica
curva sigmóide (Ferri, 1985)
Outros frutos, tais como uva, figo, oliva, groselha, e os frutos simples com caroço
(cereja, damasco, pêssego, ameixa) apresentam uma interessante curva dupla-sigmóide, na
qual a primeira fase de crescimento lento (período quiescente) é seguida por uma fase
logarítmica, produzindo uma segunda parte sigmóide da curva (Figura 4). Em parte, este
aparente período quiescente corresponde ao período de rápida maturação da semente e pode
ser o resultado da competição por nutrientes entre o desenvolvimento do ovário (fruto) e o
desenvolvimento dos óvulos (sementes).
325
Como mencionado anteriormente, o desenvolvimento inicial do fruto é correlacionado
com a auxina produzida no pólen. Em adição, os frutos durante a maturação produzem etileno
e giberelinas, os quais, juntamente com as auxinas produzidas nas sementes em
desenvolvimento, contribuem para a maturação do fruto.
Um aspecto importante da maturação do fruto é a intensidade de mobilização de
fotoassimilados das folhas para os frutos. Durante o desenvolvimento vegetativo, os ápices da
raiz e da parte aérea são os principais drenos da planta. Durante o desenvolvimento
reprodutivo, os frutos tornam-se os principais drenos para a importação de carboidratos,
aminoácidos e outros materiais translocados pelo floema. Isso ocorre devido a alta atividade
nos frutos (lembre-se que a força do dreno é função do tamanho e da atividade do dreno)
O tamanho final do fruto é limitado pela característica genética da espécie vegetal,
porém, ele varia dentro de um amplo limite, dependendo dos fatores ambientais e de certos
fatores endógenos. Em parte, o tamanho do fruto é uma função do número de células. Em
vários tipos de frutos, como morango e maçã, o tamanho do fruto é proporcional ao número
de sementes (Figura 5). No caso do morango, os aquênios têm um papel extremamente
importante no desenvolvimento do pseudofruto (o receptáculo). A remoção total das sementes
(aquênios) paralisa o crescimento do pseudofruto e a remoção parcial altera a sua forma.
b) Amadurecimento de frutos
326
fruto. Tais mudanças incluem o amolecimento devido a quebra enzimática da parede celular,
hidrólise de amido e de outras macromoléculas, acúmulo de açúcares e redução nos teores de
ácidos orgânicos e compostos fenólicos, incluindo tanino. Também se observa degradação de
clorofila e acúmulo de outros pigmentos, como carotenóides (nos cromoplastos) e antocianina
(nos vacúolos), nas células da epiderme desses frutos. Além disso, é comum a produção de
compostos voláteis (ésteres aromáticos, aldeídos, etc.), os quais dão o cheiro característico de
cada fruto.
Por muitos anos, o etileno tem sido reconhecido como o hormônio que acelera o
amadurecimento de frutos comestíveis. No entanto, nem todos os frutos respondem ao etileno.
Os frutos que amadurecem em resposta ao etileno são aqueles que exibem o climatério. Tais
327
frutos mostram um pico de produção de etileno imediatamente antes do aumento na
respiração. Frutos como, maçã, banana, abacate e tomate, são exemplos de frutos
climatéricos. Em contraste, frutos como Citrus, abacaxi e uva, não exibem aumento nem na
produção de etileno nem na respiração, e são conhecidos como frutos não climatéricos.
Quando frutos climatéricos não maduros são tratados com etileno, a iniciação do
aumento no climatério é acelerada. Por outro lado, quando frutos não climatéricos são tratados
da mesma maneira, o aumento na taxa respiratória é proporcional à concentração de etileno.
No entanto, o tratamento não induz a produção de etileno endógeno e também não acelera o
amadurecimento. A elucidação do papel do etileno no amadurecimento de frutos climatéricos
tem resultado em muitas aplicações práticas que objetivam uniformizar ou retardar o
amadurecimento.
A relação causal entre o nível endógeno de etileno e o amadurecimento do fruto tem
sido estudada através da aplicação de inibidores da biossíntese (AVG e AOA) ou da ação
(Ag+ e CO2) do etileno. O uso destes inibidores retarda ou previne o amadurecimento de
frutos climatéricos. Estudos com mutantes também confirmam o papel do etileno no
amadurecimento de frutos. Por exemplo, estudos com plantas transgênicas de tomate
deficientes em etileno (esses mutantes são incapazes de produzir etileno devido alterações nas
enzimas sintase do ACC e oxidase do ACC), mostraram completo bloqueio no
amadurecimento do fruto e, o amadurecimento foi promovido pela aplicação exógena de
etileno. Estes experimentos mostraram, inequivocamente, o papel do etileno no
amadurecimento do fruto.
a) Tipos de frutos
328
b) Crescimento diurno e noturno
Quando mudanças no diâmetro dos frutos são seguidas continuamente, observa-se que o
crescimento não é uniforme durante as 24 horas. Por exemplo, em maçã a taxa de aumento em
volume durante a noite foi cerca de 25 vezes maior do que a observada durante o dia. Esse
fenômeno ocorre também em outras espécies (abacate, cereja, pêssego, e muitos frutos de
espécies não cultivadas). As menores taxas de crescimento ocorrem quando a capacidade de
evaporação do ar e as taxas de transpiração são altas. Nestas condições, o movimento de água
para os frutos é reduzido e pode-se observar, em casos extremos, encolhimento dos frutos
durante o meio dia.
OBS: lembre-se que para haver crescimento celular é necessário que a pressão de
turgescência atue sobre as paredes celulares.
TC = m (P – Y)
d) Conteúdo de água
Em geral, o conteúdo de água dos frutos é mais alto do que o de folhas vizinhas na
mesma planta. Por exemplo, em maçã e pêra, o conteúdo de água nas folhas é de cerca de
60%, enquanto que nos frutos é de 85%.
e) Composição química
329
de ácidos orgânicos aumenta durante o amadurecimento, ocorrendo um decréscimo no pH e o
fruto permanece azedo.
OBS: A maioria dos frutos contém vários ácidos orgânicos, embora, freqüentemente,
um dos ácidos seja o predominante, como o ácido málico em maçã, o ácido cítrico em laranjas
e o ácido tartárico em uvas.
f) Conteúdo mineral
BIBLIOGRAFIA
FERRI, M. G. (Coord.) Fisiologia Vegetal, volumes 1. e 2. 2nd ed. São Paulo: EPU, 1985,
361p.
HOPKINS, W. G. Introduction to Plant Physiology. 2nd ed. New York: John Wiley & Sons,
Inc., 2000, 512p.
TAIZ, L., ZEIGER, E. Plant Physiology. 1st ed. California: The Benjamin/Cummings
Publishing Company, Inc., 1991, 559p.
330
ESTUDO DIRIGIDO No 13
ASSUNTO: FRUTIFICAÇÃO
6 – Qual o tipo de curva de crescimento de um fruto simples com caroço? Descreva essa
curva.
9 – Por que o crescimento de frutos durante o período diurno é normalmente menor do que
durante o período noturno?
331
UNIDADE XIII
DORMÊNCIA E GERMINAÇÃO
DORMÊNCIA E GERMINAÇÃO
1. INTRODUÇÃO
a) Sementes e plântulas
333
As sementes possuem ainda reservas armazenadas, as quais são utilizadas pelo embrião
durante o processo de germinação ou são utilizadas no consumo animal. Estas reservas podem
ser encontradas no endosperma ou nos cotilédones (Figura 1). O endosperma pode ocupar
grande parte da semente, como nos cereais (arroz, milho, trigo, cevada, sorgo), ser
relativamente pequeno (Cruciferae), ou pode não existir (sementes não endospérmicas –
Orchidaceae). Ocorre também na forma de tecido acelular cenocítico, como o endosperma
líquido de Cocus nucifera. Em sementes de cereais, o endosperma (tecido morto) é
circundado por uma camada de células vivas, a camada de aleurona. Durante a germinação, a
camada de aleurona fornece as enzimas hidrolíticas que digerem as reservas presentes no
endosperma (rever giberelinas). O escutelo atua absorvendo os materiais degradados no
endosperma, os quais podem ser parcialmente metabolizado e depois translocados para o eixo
embrionário.
OBS: Nas sementes de Gimnospermas não ocorre fusão de um núcleo generativo com
os núcleos polares, a qual produz o endosperma triplóide em Angiospermas. Nas
gimnospermas o tecido de armazenamento de reservas é haplóide, sendo um megagametófito
modificado (Figura 1). No entanto, este tecido de reserva é funcionalmente similar ao
endosperma.
Em muitas espécies, como em algumas leguminosas (feijão, ervilha, lentilha, soja, etc.),
as reservas são armazenadas nos cotilédones, o qual, diferente do endosperma, é um tecido
vivo que faz parte do embrião.
A germinação pode ser epígea (Figura 2A), em que os cotilédones ou o endosperma
ficam acima do solo e podem se tornar verdes e fotossintetizantes (feijão, mamona, cebola,
etc.), ou hipógea (Figura 2B), em que os cotilédones ou o grão permanecem sob o solo e não
se tornam fotossintetizantes (milho, sorgo, seringueira, etc.).
334
Hipocótilo
Raiz Principal
Raízes laterais
Epicótilo
Hipocótilo
335
Note na figura 2 que as plântulas de feijão e ervilha (dicotiledôneas) apresentam as
seguintes partes, de baixo para cima: raízes (principal e laterais), hipocótilo, cotilédones,
epicótilo e folhas. A estrutura acima (Figuras 2A e 2B) é diferente daquela observada em
plântulas de milho (monocotiledônea), por exemplo, (Figura 3). Nesta espécie podemos
encontrar as seguintes partes, de baixo para cima: raízes, grão, mesocótilo, raízes adventícias,
coleóptilo e folhas.
grão
b) Gemas
336
Figura 4 – Uma gema axilar da espécie Laurus noblis. Note a proeminência das escamas
que protegem os primórdios (Hopkins, 2000)
Órgãos subterrâneos gemíferos são usualmente produzidos pelas plantas cujas partes
aéreas morrem a cada ano, com a aproximação do inverno ou da estação seca e servem como
local de armazenamento de reservas.
Um rizoma é um tipo de caule subterrâneo que apresenta gemas e escamas foliares. Os
fotoassimilados são translocados das folhas senescentes para o rizoma, no final da estação de
crescimento. Quando as condições se tornam desfavoráveis o rizoma entra no período de
dormência. As reservas acumuladas serão utilizadas para o rápido rebrotamento no final do
período de dormência. Os rizomas são encontrados em importantes espécies, como a
bananeira, gengibre, bambu, etc.
Algumas estruturas geminíferas como bulbos, bulbos sólidos e xilapódios, são
encontradas em espécies do cerrado e são típicas de comunidades de gramíneas. Nestes
locais, a seca severa e o fogo podem ser fatores que controlam a vegetação. Enquanto as
estruturas jovens acima do solo podem ser facilmente destruídas pela seca e pelo fogo, essas
estruturas geminíferas contendo reservas armazenadas, se mantêm em estado de dormência, e
podem rapidamente recolonizar a região quando as condições tornam-se favoráveis.
337
Em algumas espécies, raízes modificadas podem também servir como órgãos dormentes
e fonte de alimentação, como em mandioca, batata-doce e os vários inhames das zonas
tropicais.
Esse é o tipo de dormência imposta sobre o embrião pelo tegumento da semente ou por
outros tecidos que o circunda, tais como endosperma, pericarpo ou órgãos extraflorais. Essa
dormência é também referida como dormência física ou tegumentar. O embrião de tais
sementes germina prontamente na presença de água e oxigênio, desde que o tegumento ou
outros tecidos que o circundam sejam removidos ou, de alguma forma, danificados
(escarificação química com ácidos ou física com lixas).
A dormência imposta pela casca (tegumento) ou por outros tecidos, pode ocorrer por
alguns mecanismos:
Dureza mecânica
O primeiro sinal visível da germinação é, geralmente, a emergência da radícula através do
tegumento da semente. Em alguns casos, no entanto, o tegumento da semente pode ser tão
rígido que não permite a passagem da radícula. Cascas sólidas e lignificadas são fatores
responsáveis pela dureza mecânica. Tais tecidos devem ser quebrados por forças bióticas ou
ambientais para que a semente possa germinar.
Muitos tecidos não lignificados tais como os de endosperma de sementes de alface,
podem suprimir a expansão do embrião. Nesse caso, para que ocorra a germinação, as paredes
celulares do endosperma devem ser quebradas por enzimas degradantes da parede celular.
338
Retenção de inibidores
O tegumento da semente pode evitar a saída de inibidores do interior da semente. Por
exemplo, quando embriões de Xanthium são isolados, os inibidores de crescimento difundem-
se no meio e ocorre a germinação. Em sementes intactas, os inibidores permanecem no
embrião e a semente não germina.
Produção de inibidores
O tegumento da semente e os pericarpos de frutos podem conter altas concentrações de
inibidores de crescimento que podem suprimir a germinação do embrião. O ABA é um
inibidor de germinação que pode ser encontrado nesses tecidos maternos. Em certos casos, a
repetida lavagem da semente promove a lixiviação de compostos inibidores e retira a semente
do estado de dormência.
No caso de sementes que possuem arilo (película que fica em torno da semente, a qual
contém inibidores de crescimento), como mamão e tomate, a retirada do arilo ou a lavagem
podem eliminar os inibidores e promover a germinação.
339
4. FISIOLOGIA DA DORMÊNCIA EM SEMENTES E EM GEMAS
a) Dormência de sementes
340
de 10%. Esses resultados confirmam a importância desses fitohormônios no processo de
quebra de dormência fisiológica de sementes de Stylosanthes, o que tem sido demonstrado por
outros autores.
80
% de Germinação
70 pH = 6,0
60
50
40
30
0
20
10
0
Controle Etrel BA Etrel + BA Etrel + BA
Tratamentos
b) Dormência de gemas
341
simplesmente resultam da redução no crescimento. Em algumas espécies, declínio nos níveis
de auxinas e de giberelinas pode ser detectado antes da cessação do crescimento da gema e no
início da fase de dormência. Também, boa correlação entre o nível de citocininas e o
crescimento de gemas laterais tem sido verificada. De modo contrário, muitas outras
observações indicam que o ABA causa a dormência de gemas, visto que ele se acumula nas
gemas dormentes e diminui após a saída da dormência (o contrário do que se observa para
citocininas, GAs e AIA). Acredita-se que, em muitos casos, as interações entre o ABA e
outros hormônios, resultem em um processo, no qual a dormência e o crescimento da gema
são regulados pelo balanço entre inibidores do crescimento da gema, como o ABA, e
substâncias promotoras do crescimento, como citocininas, giberelinas e auxinas.
b) Água
342
A primeira fase (fase I) da germinação de sementes quiescentes é a absorção de água,
denominada de EMBEBIÇÃO. Durante a embebição, moléculas de água entram na semente,
ocupando os espaços livres do tecido e os espaços intermicelares dos colóides, causando
aumento de volume. O potencial hídrico de sementes maduras secas, devido às forças
mátricas (rever potencial mátrico), é muito menor que o do substrato úmido e o gradiente
pode chegar a 100 MPa ou maior. A fase I, ou embebição, é, portanto, um processo físico que
ocorre em conseqüência das forças mátricas (forças coloidais). A absorção de água nessa fase
pode ocorrer tanto em sementes viáveis como em sementes mortas (não viáveis).
Os tipos de macromoléculas coloidais encontradas em sementes são geralmente
hidrofílicas, possuindo grande número de grupos iônicos, como as proteínas. Outros
componentes também aumentam de volume, como a celulose, hemicelulose e as pectinas. Já o
amido, comum nos cereais contribui pouco para a embebição, exceto em condições de alta
temperatura e baixo pH (em valores que não ocorrem normalmente na natureza). Assim,
espera-se que sementes com maior conteúdo de proteínas (exemplo, feijão) apresentem um
maior aumento de volume do que sementes ricas em amido (exemplo, o milho), após a
embebição.
Embora sementes dormentes (dormência do embrião) ou sementes não viáveis possam
chegar à fase II (uma etapa onde praticamente não se observa absorção de água), somente as
sementes que germinam entram na fase III, a qual coincide com o alongamento e emergência
da radícula. Nessa fase III, ocorre grande incremento na absorção de água, influenciado pelo
decréscimo no potencial osmótico, resultante da produção de substâncias osmoticamente
ativas de baixa massa molecular (como glicose, sacarose, frutose, aminoácidos, ácidos
orgânicos, etc.), a partir da hidrólise das macromoléculas (amido, proteínas, etc.).
c) Gases
d) Temperatura
343
ESTRATIFICAÇÃO. Esse tratamento de frio é comum em climas temperados, sob condições
naturais. Nesse caso, as sementes são submetidas ao frio do inverno e germinam na
primavera.
e) Luz
OBS: Em geral, sementes secas não apresentam sensibilidade à luz, sugerindo que
mudanças bioquímicas podem estar envolvidas na resposta.
a) Respiração
344
A respiração de sementes maduras, secas, é extremamente baixa comparada àquela de
sementes germinando. Quando as sementes secas são colocadas em meio aquoso, se observa
uma imediata liberação de gases, a qual não se deve à respiração e sim à liberação de gases
presos nos espaços entre as macromoléculas coloidais. O consumo de O2 ligado à respiração
segue um padrão básico que envolve três fases, quando se avalia o embrião, ou quatro fases,
quando se avalia o tecido de reserva (Figura 7).
→ Fase IV – Esta fase mostra uma queda na taxa de respiração e ocorrem somente nos
tecidos de reserva, coincidindo com sua senescência pela exaustão das reservas estocadas.
Figura 7 – Padrão de consumo de oxigênio pelo embrião (A) e pelos tecidos de reserva
(B) de sementes durante o processo de germinação (Bewley & Black, 1994)
345
b) Degradação e mobilização de reservas
346
DEGRADAÇÃO DE AMIDO
347
A enzima desramificadora, também chamada de dextrinase limite, atua clivando as
ligações α,1→6 nos pontos de ramificação, permitindo que as amilases (α-amilase e β-
amilase) continuem degradando o amido até maltose.
DEGRADAÇÃO DE PROTEÍNAS
348
DEGRADAÇÃO DE LIPÍDIOS
A composição de ácidos graxos nos lipídios de sementes varia de espécie para a espécie
(Tabela 2). Note que as diferenças estão associadas ao grau de insaturação (número de duplas
ligações). O ácido palmítico é um ácido graxo saturado, composto de 16 átomos de carbono e
nenhuma dupla ligação (16:0). O ácido linoléico é insaturado, com 18 átomos de carbono e 2
duplas ligações (18:2).
As plantas não são capazes de transportar lipídios. Por exemplo, durante o processo de
germinação de sementes oleaginosas, o lipídio contido no endosperma ou nos cotilédones
precisa ser convertido para uma forma móvel de carbono no floema, a qual é geralmente a
sacarose. Essa conversão de lipídio em sacarose ocorre através de algumas etapas que são
localizadas em diferentes compartimentos celulares (Figura 9):
349
hidrolisa o triacilglicerol liberando as três moléculas de ácidos graxos e o glicerol. Esta
enzima pode estar localizada na meia membrana do oleossomo, como ocorre em semente de
mamona e de milho, ou na superfície do glioxissomo, como ocorre em semente de soja e de
amendoim. É importante destacar que durante a degradação de lipídios os oleossomos e os
glioxissomos estão geralmente próximos uns dos outros.
350
→ β-Oxidação dos Ácidos Graxos – Após a hidrólise do triacilglicerol, os ácidos
graxos são seqüencialmente quebrados formando moléculas de dois átomos de carbono
associadas à coenzima-A, o acetil-CoA, mediante uma série de reações conhecida como β-
Oxidação. Em tecidos animais, as enzimas associadas à β-Oxidação estão presentes na
mitocôndria; Nas sementes, particularmente nos tecidos de armazenamento, elas estão
localizadas exclusivamente nos glioxissomos; Nas folhas a β-Oxidação ocorre nos
peroxissomos.
RESERVAS MINERAIS
Em adição às reservas orgânicas descritas acima, o embrião em crescimento requer
nutrientes minerais como K+, Ca2+, Mg2+ e P, necessários para a síntese de ATP, Co-enzimas
e ácidos nucléicos (dentre muitas outras funções). O problema é que a semente no início da
germinação não possui raiz para retirar tais nutrientes do solo. Sementes de muitas espécies
(aveia, cevada, milho, trigo, algodão, alface, etc.) acumulam ácido fítico, o qual é a principal
reserva de P. Este ácido acumula-se formando uma mistura de sais, conhecida como FITINA,
a qual é também a principal fonte de macronutrientes catiônicos (K+, Ca2+, Mg2+) em
sementes (Tabela 3).
Tabela 3 – O conteúdo de nutrientes minerais na fitina de algumas sementes de plantas,
expresso como percentagem do peso seco (Bewley & Black, 1994)
Espécie Mg Ca K P Fe Mn Cu
Aveia 0,40 0,19 1,10 0,96 0,035 0,008 0,005
Soja 0,22 0,13 2,18 0,71 - - -
Algodão 0,40 0,13 2,18 0,79 0,059 0,003 0,005
Cevada 0,16 0,03 0,56 0,043 - - -
Girassol 0,40 0,20 1,00 1,01 - - -
351
A enzima fitase aumenta em atividade durante a germinação, liberando estes minerais
(Figura 10). Esta enzima parece ser pré-existente na semente, numa forma inativa,
concentrada, principalmente, na camada de aleurona (no caso dos cereais).
BIBLIOGRAFIA
FERRI, M. G. (Coord.) Fisiologia Vegetal, v. 1. 2nd ed. São Paulo: EPU, 1985, 361p.
HOPKINS, W. G. Introduction to Plant Physiology. 2nd ed. New York: John Wiley & Sons,
Inc., 2000, 512p.
TAIZ, L., ZEIGER, E. Plant Physiology. 2nd ed. Massachusetts: Sinauer Associates, 1998,
792p.
352
ESTUDO DIRIGIDO No 14
7 – Defina germinação e faça a distinção entre uma semente quiescente e uma semente
dormente. Diga por que a maioria das plantas cultivadas não estão aptas a sobreviver na
natureza?
353