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CORPO, ALMA E ESPÍRITO

O homem como um ser trino: Corpo, alma e espírito

A) Corpo, alma e espírito são partes distintas do ser humano

Embora exista o conceito popular (e até científico) de que o homem é formado por alma e corpo, a
Palavra de Deus é clara em afirmar que na verdade o homem é composto de corpo, alma e espírito.
Em Gn 2.7 lemos que “formou o SENHOR Deus o homem do pó da terra (corpo) e lhe soprou nas
narinas o fôlego de vida (espírito), e o homem passou a ser alma vivente”. De fato, tanto no AT como
no NT existem outros versículos que fazem distinção entre alma entre e espírito, usando palavras
diferentes para “alma” (nephesh, em hebraico, e psuke em grego) e “espírito” (ruach, em hebraico
e pneuma, em grego): Is 26.9; 1Ts 5.23; Hb 4.12. Portanto, partindo do princípio de que a Bíblia
Sagrada é extremamente precisa e não usa palavras à toa, podemos concluir que corpo, alma e
espírito são três aspectos integrais – porém distintos – que compõem a própria natureza e estrutura
humana.

Não há dificuldade alguma em aceitar que o corpo físico tangível é distinto dos demais componentes
intangíveis (alma e espírito). Mas para o cristão é muito importante dar um passo além e fazer a
distinção e separação entre alma e espírito, caso contrário toda a nossa vida como discípulo de Cristo
estará seriamente limitada, pois seremos incapazes de perceber nosso próprio espírito!

B) A importância de perceber nosso próprio espírito

Desenvolver a capacidade de perceber o nosso espírito é simplesmente fundamental para:

1. Adorar a Deus (Jo 4.24). Qualquer esforço carnal de adoração (a alma humana tentando ser
“espiritual”, como ocorre no formalismo religioso) é totalmente inútil e até abominável aos olhos de
Deus (Is 1.14; 64.6).

2. Adquirir conhecimento espiritual (1Co 2.14). O conhecimento mental ou racional, embora


necessário e útil, é completamente insuficiente e incapaz de obter revelação verdadeira e profunda
das coisas espirituais.

3. Gerar vida (Jo 6.63; Rm 8.13). É somente no espírito e pelo espírito que a verdadeira vida é gerada.
Embora a alma humana deva colaborar no processo, ela é totalmente incapaz de gerar vida por si
mesma, nem para nós e nem para as pessoas ao nosso redor.

4. Andar no espírito (Gl 5.16, 25; Rm 8.4). A Palavra nos exorta a “andar no espírito”. Isso significa ser
guiado a todo o tempo pelo Espírito Santo que habita em nosso espírito. Mas como poderemos ser
guiados pelo Espírito se não soubermos perceber nosso espírito? O espírito do cristão está sempre
“funcionando”, em contato permanente com Deus, tentando nos revelar coisas espirituais. Mas, por
estarmos restringidos a uma vida exterior, quase nunca damos crédito à voz interior do espírito. Como
veremos mais adiante no curso, é somente após a separação entre alma e espírito que teremos o
espírito liberado para permanecer em contínua oração e conexão com Deus, não importa o local, a
hora ou o tipo de atividade que estivermos realizando. De fato, passagens como 1Ts 5.17, Ef 6.18 e Lc
21.36 não podem sequer ser compreendidas sem o quebrantamento da alma e a liberação do espírito.

Portanto, precisamos perceber nosso próprio espírito para poder receber revelação de Deus. É por isso
que o apóstolo Paulo nunca registrou em suas cartas uma oração sequer pela expansão da igreja, pela
prosperidade, por novos líderes ou outros temas. As orações de Paulo pela igreja tinham um único
foco: que cada crente recebesse conhecimento espiritual; revelação no espírito! (Ef 1.17, Fp 1.9, Cl
1.9). Esse deve ser seu principal objetivo neste curso, e em todo o estudo e prática do evangelho:
receber revelação de Deus e de sua Palavra, no espírito. Se isso acontecer, e quanto mais isso
acontecer, todo o restante “vem de embrulho”.
C) Definindo corpo, alma e espírito

Como vimos, desde sua criação o homem é um ser trino, no qual espírito, alma e corpo são partes que
compõem um todo integral, e sempre estarão presentes em seu ser. Mas como são partes distintas, é
conveniente definir cada uma separadamente. Também vamos mencionar as diferentes funções de
cada elemento, as quais detalharemos mais adiante.

Corpo é a parte do nosso ser pela qual percebemos o mundo exterior, através dos sentidos. É a nossa
“carcaça” ou “homem exterior” (2Co 4.16). As funções específicas do corpo são: recepção, instinto e
expressão.

Alma é a parte do nosso ser pela qual percebemos nós mesmos, através da nossa personalidade. É o
nosso “eu” (Sl 42.5). As funções específicas da alma são: mente, vontade e emoção. No NT, a alma
decaída, junto com o corpo, são frequentemente chamados de “carne” (grego sarx), significando nossa
natureza adâmica, inclinada ao pecado (p.ex.: Mt 26.41; Rm 7.5,18, 8.13; Ef 2.3; Gl 5.17, 19, 24). Mas
às vezes a mesma palavra “carne” também significa o corpo físico (p.ex.: Ef 5.29; Fp 1.22,24).

Espírito é a parte do nosso ser pela qual percebemos Deus, através do Espírito Santo. É o nosso
“homem interior” (Ef 3.16). As funções específicas do espírito são: intuição, consciência e comunhão.
No “homem natural” ou carnal, pela presença do pecado, o espírito humano está morto, separado de
Deus (Is 59.2; Ef 2.1,5; Cl 2.13), pois a função de comunhão (com Deus) está “desconectada”.

Conforme lemos em Gn 2.7, a alma foi formada pela conjunção do corpo com o espírito de vida
soprado por Deus, tornando cada homem uma “alma vivente” com personalidade única. Por isso, com
frequência a Bíblia também usa a palavra “alma” para significar todo o ser humano (p. ex.: Ez 18.20; At
2.43). Por envolver a conjunção de alma e corpo e constituir nossa personalidade individual, onde
reside a vontade e o livre-arbítrio, a alma é o elemento central, o “quartel-general” do nosso ser. Mas
o espírito é o nosso componente mais profundo, mais sublime e mais nobre, porque nele habita o
próprio Deus!

Como está sujeito ao livre-arbítrio ou vontade da alma, o espírito não pode se manifestar sozinho (1Co
14.32). Podemos dizer então que a alma “envolve” o espírito. Da mesma forma, a alma necessita do
corpo para se expressar exteriormente, e podemos dizer que o corpo “envolve” a alma. É possível
então representar o nosso ser através do diagrama ao lado.

D) O cristão como santuário de Deus

Em 1Co 3 Paulo chama a atenção da igreja para a realidade de que cada um de nós é santuário de
Deus (e que, portanto, não deveríamos nos distrair em discussões carnais sobre a que homem
seguimos): “será que vocês ainda não sabem que são santuário de Deus, e que o Espírito de Deus
habita dentro de vocês?” (1Co 3.16). De fato, existe um paralelo maravilhoso entre o santuário do
Tabernáculo e o nosso ser. Como introdução a este estudo, leia Ex 25.40.16-30 (disposição do
tabernáculo) e 2Co 5.1,4; 2Pe 1.13.14 (o corpo do cristão comparado ao tabernáculo).
Nosso espírito equivale ao Lugar Santíssimo, onde se manifesta a presença de Deus (Ex 25.10-22) e
onde Deus ministra ao sacerdote (ou seja: você, que é sacerdote real segundo a Palavra de Deus).
Nossa alma corresponde ao Lugar Santo, e é onde o sacerdote ministra a Deus. Nosso corpo equivale
ao Átrio (pátio), e é onde o sacerdote ministra diante da congregação. A tabela seguinte revela mais
detalhes importantes. Medite sobre eles e procure aplicá-los à sua vida como discípulo de Cristo!

O TABERNÁCULO O CRISTÃO

Cada componente tinha o seu


lugar determinado por Deus,
tudo tinha que estar em
ordem, tudo era feito segundo A vida do cristão tem que estar em ordem,
a ordem estabelecida por Deus segundo a vontade de Deus

No tabernáculo, Deus habitava Em nós habita o Espírito de Cristo (Rm


(Ex 25.8) 8.11, Tg 4.5, Cl 1.27)

No tabernáculo não podia


entrar nada imundo (ritual da O cristão deve se afastar de todo tipo de
expiação) impureza (2Co 6.17; 1Pe 1.16)

A porta do tabernáculo estava


voltada para o oriente, onde O cristão deve estar voltado para Cristo, o
nasce o Sol sol da nossa justiça

O tabernáculo era movido ou


ficava parado, de acordo com o
movimento ou repouso da O cristão é movido pelo Espírito (Jo 3.8);
nuvem (Nm 9.15-23) andamos por fé, e não por vista

Vários componentes eram


feitos de acácia revestida com Somos frágeis, porém revestidos de Cristo
ouro (Gl 3.27)

No Lugar Santíssimo (arca):


Em nosso espírito:a. Temos a lei escrita
a. Tábuas da lei nas tábuas do coração (2Co 3.3)

b. Maná do céu, que sustentou b. Recebemos alimento e poder espiritual


o povo na sua caminhada (Ef 3.16)
O TABERNÁCULO O CRISTÃO

c. Vara de Arão, sacerdote c. Somos filhos e sacerdotes eleitos de


eleito de Deus Deus (Rm 8.16; 1Pe 2.9; Ap 1.6)

d. Querubins simbolizavam a d. De nosso espírito provém a verdadeira


adoração a Deus adoração a Deus (Jo 4.23)

e. Da arca saía a nuvem de e. De nosso espírito sai a glória de Deus,


glória que se estendia sobre que abrange nossa alma e corpo e
todo o tabernáculo, manifestando a luz de Deus ao mundo (Mt
manifestando a presença de 5.14)
Deus ao povo

Em nossa alma:a. Cristo, a nossa Luz,


ilumina nosso entendimento e nos livra
das trevas espirituais (2Co 4.6)
No Lugar Santo:
b. Cristo, o pão da vida, nos alimenta e
a. A luz do candelabro
nos sustenta (Jo 6.51); a Palavra de Deus é
iluminava todo o interior,
alimento diário para o cristão (Dt 8.3; Mt
continuamente
4.4)
b. Os pães da proposição
c. Cristo, nosso Intercessor, nos ajuda em
alimentavam os sacerdotes
nossas orações diárias no entendimento
c. Do altar do incenso saía (Rm 8.34); nossa oração diária sobre como
continuamente o aroma incenso à presença de Deus (Sl 141.2; Ap
agradável a Deus 5.8; 8.3-4)

No átrio (pátio):

a. No altar eram oferecidos os


sacrifícios

b. Na pia o sacerdote era


Em nosso corpo:a. Oferecemos nossos
purificado com água, antes de
corpos como sacrifício vivo ao Senhor (Rm
cobrir-se com as vestes santas
12.1)
e poder entrar no Lugar Santo
para comer a carne e o pão da b. Recebemos a Palavra de Deus, somos
oferta, e ministrar diante de purificados (Jo 15.3) e santificados por ela
Deus e da congregação (Lv 7.6, (Jo 17.17), podendo então manter nossa
22.6) comunhão com Deus e com os irmãos

E) As funções do corpo, alma e espírito

E.1) Funções do corpo. O corpo possui três funções básicas: recepção, instinto, expressão.

Recepção é a capacidade do corpo de captar informações do mundo exterior, através dos cinco
sentidos (visão, audição, tato, olfato e paladar).
Instinto é a capacidade do corpo de reagir automaticamente em resposta aos estímulos externos. Por
exemplo: instinto de sobrevivência, o instinto de autodefesa, o instinto sexual, etc. Nosso corpo tem
vários sistemas orgânicos instintivos, cada qual cumprindo uma função específica, mas
também trabalhando de maneira maravilhosamente harmoniosa, a fim de manter-nos vivos (por
exemplo, os sistema respiratório, o sistema digestivo, o sistema circulatório).

Os instintos são automáticos e em si mesmo não são pecaminosos. Deus criou instintos bons, mas a
queda do homem os degenerou. O instinto de sobrevivência, que inclui comer e beber, pode se
degenerar em glutonaria e alcoolismo. O instinto de defesa, que inclui esquivar-se e proteger-se, pode
se degenerar em ira e todo tipo de violência. O instinto sexual, que inclui reprodução e prazer com o
cônjuge, pode se degenerar em adultério, prostituição, homossexualismo e sodomia.

Expressão é a capacidade de o corpo externar os pensamentos, os sentimentos e as decisões da alma.


Inclui a fala e a linguagem corporal.

E.2) Funções da alma. A alma possui três funções básicas: mente, vontade e emoção.

Mente é a sede do entendimento racional, nossa “central de processamento de dados”. É onde reside
nossa capacidade intelectual, nossa habilidade para pensar, ponderar sobre informações e chegar a
conclusões lógicas a partir das mesmas, através do pensamento.

Vontade é a sede das nossas decisões, nosso poder de escolha, nosso livre-arbítrio, nossa “central de
comando”. Corpo e espírito estão sujeitos à vontade da alma. A vontade nos impulsa à ação, nos
motiva a tomar certas atitudes e comportamentos. Através dela podemos decidir nos submeter à
direção do espírito ou resistir a ele e sufocá-lo completamente. Podemos optar por nos sujeitar aos
impulsos carnais ou resistir aos mesmos. Talvez a atitude mais nobre e também a mais difícil para um
cristão é renunciar à vontade própria e decidir cumprir a vontade de Deus, ainda que tenha que sofrer
por tomar tal decisão (Jo 5.30; Lc 22.42). Isso é crucificar o ego.

Emoção é a sede dos sentimentos, o “tempero” ou “colorido” da nossa vida. É a forma como reagimos
a certos estímulos externos ou internos, que podem ser pensamentos, imagens mentais ou
circunstâncias e acontecimentos da vida. As emoções definem nosso estado de ânimo e normalmente
repercutem tanto no corpo (alteração da respiração, circulação e transpiração) como também na
mente (estado mental de empolgação ou depressão). As emoções mais intensas podem desorganizar e
até bloquear as funções intelectuais e a razão. Portanto, é preciso estar sempre atento, voltado para o
espírito (de onde provém a verdadeira sabedoria) para não tomar decisões com base nas emoções
apenas.

E.3) Funções do espírito. O espírito possui três funções básicas: intuição, consciência e comunhão.

Intuição é a capacidade de o espírito conhecer algo sem qualquer influência exterior, da mente ou da
emoção. As revelações de Deus e todas as ações do Espírito Santo nos são transmitidas por meio da
intuição no espírito (1Jo 2.20, 27). A intuição normalmente se manifesta como uma “impressão”, isto
é, uma sensação ou pensamento no nosso íntimo, uma “voz suave”, muito sutil. “Eu só sei que sei, mas
não sei como sei…” (Jo 3.8) Mas é preciso que a alma esteja aquietada e atenta para poder perceber a
intuição que vem do Espírito Santo para o nosso espírito. A intuição se manifesta através de dois
mecanismos:

a) O impulso para que façamos algo, ainda que a nossa mente não entenda ou não se agrade daquilo;

b) O constrangimento para não fazermos algo, ainda que à nossa mente lhe pareça razoável e até
goste da idéia.
Consciência é a capacidade de o espírito discernir entre o certo e o errado, independentemente dos
critérios da mente (Is 30.21). É o senso de moralidade que Deus inculcou em todo ser humano. É o que
leva o criminoso a ocultar seus atos, ainda que estes o beneficiem, e o que leva a pessoa honesta a
corrigir algo, ainda que lhe seja prejudicial. Há muita coisa que a nossa mente aprova, mas a
consciência reprova

Comunhão é intimidade com Deus; é ser um com Ele (1Co 6.17; Ef 2.18,22). Deus não pode ser
percebido pelos nossos pensamentos ou emoções. É somente na comunhão do espírito que podemos
nos unir a Deus e adorá-lo (Rm 1.9). A verdadeira adoração a Deus só pode expressar-se quando a
alma se submete às ações da comunhão em nosso espírito. Em Lc 1.46-47 vemos que Maria pode
adorar a Deus porque, antes, seu espírito se havia alegrado nEle (note a mudança do tempo verbal:
“engrandece”, “se alegrou)”. Qualquer tentativa de adorar a Deus pelas emoções e esforços da alma é
pura hipocrisia religiosa que em vez de agradar a Deus, desperta sua indignação (Is 1.14; Am 5.21; Ap
3.16).

F) Algumas aplicações práticas importantes sobre o conhecimento do corpo, alma e espírito

Até aqui simplesmente definimos conceitos relativos a espírito, alma e corpo. Vejamos agora algumas
aplicações práticas e importantes sobre isso:

F.1) Estágios da salvação. A salvação é um processo que envolve três estágios, os quais ocorrem no
passado, no presente e no futuro. Cada estágio ocorre numa parte específica do nosso ser:

1. Regeneração do espírito (evento passado, definitivo): Ef 1.13, 2Co 5.17, Mt 26.41. Nosso espírito foi
de uma vez por todas restaurado e conectado a Deus, pelo Espírito Santo que veio habitar dentro de
nós. Ele não pode e não vai sair da vida de um cristão salvo, a menos que este entre em um processo
de apostasia e aí permaneça até o ponto “calcar aos pés o Filho de Deus, profanar o sangue da aliança
e ultrajar o Espírito da graça (Hb 10.26-29,39).

2. Transformação da alma (processo presente, em andamento): Rm 12.2, Ap 22.14, Hb 12.14. No céu


não teremos uma nova alma. Nossa personalidade individual será preservada, embora não o nosso
caráter, o qual devemos transformar segundo o caráter de Cristo. Esse processo de quebrantamento e
transformação da alma requer nossa colaboração ativa, em parceria com o Espírito Santo, como será
detalhado mais adiante na Parte 2 deste curso.

3. Glorificação do corpo (evento futuro, ansiosamente esperado): Fp 3.21. Nosso corpo natural não
tem conserto nem salvação. No céu receberemos um novo corpo, semelhante ao de Jesus.

F.2) A revelação no espírito. Revelação espiritual não é, como muitos entendem, apenas “receber um
recado específico de Deus para sua vida”. Isso é somente um aspecto da revelação divina,
expressando-se através do dom da palavra de conhecimento. Na verdade, “revelação é, simplesmente,
ver do ponto de vista de Deus. É saber algo que talvez nossa mente até já saiba, mas que passa a ser
visto e entendido sob a luz do Espírito Santo. É quando as letras da Bíblia saltam aos nossos olhos e
fazem com que aquilo que já sabíamos pela mente adquira agora uma nova intensidade e assuma uma
realidade antes desconhecida.” [ref. 1, pág. 21]. Por exemplo, podemos durante muitos anos ler e
conhecer pela mente que “somos templo do Espírito Santo”, sem que isso produza qualquer
transformação de vida. Mas quando em nosso espírito recebemos revelação dessa tremenda e
poderosa verdade, quando compreendemos a realidade da habitação do Deus Todo-Poderoso e Santo
em nós, então tudo muda! Passamos a andar em um novo nível de santidade, no qual cada palavra,
cada gesto e cada passo importa, para que manifestemos a luz do Senhor através de nós.

Por si só, a mente não pode ter revelação de Deus; só o nosso espírito tem essa função: 1Co 2.9-14;
2Co 5.16. A revelação ocorre primeiro no espírito (Mc 2.8, At 20.22, Ap 1.10). O Espírito Santo
transmite uma verdade ao nosso espírito, e este a comunica à mente, desde que esta esteja
quebrantada, calma, sensível e atenta ao espírito. Caso contrário, a alma abafará o espírito e não
receberá revelação nenhuma.

E sem revelação no espírito é impossível conhecer e fazer a vontade de Deus. Fazer a nossa vontade, a
vontade da alma sem a revelação e direção do espírito, ainda que seja com a melhor das intenções,
não somente é inútil como também perigoso. A questão não é “fazer para Deus”, mas sim fazer o que
Deus quer que façamos. Aquelas palavras de Jesus em Mt 7.23 infelizmente serão ditas a pessoas que
acham que estão servindo a Deus (“em Teu nome”), mas na verdade estavam apenas fazendo a obra
pela sua própria mente, isto é, pela carne. Mas aos olhos de Deus isso é iniquidade. O resultado trágico
será ouvir as palavras de Jesus: “Nunca vos conheci! Apartai-vos de mim!”.

Portanto, devemos buscar e pedir a Deus o conhecimento espiritual que vem através desse processo
de revelação, o qual sempre começa pela intuição divina no espírito e em seguida ilumina e renova a
mente de uma alma quebrantada diante de Deus.

F.3) Entendendo nossa natureza carnal. Quando nascemos de novo pela fé em Cristo, nosso espírito
foi imediatamente regenerado e definitivamente capacitado, com todo poder e autoridade para
assumir a direção da nossa nova vida. Mas nossa alma, não! Nela ainda habita a natureza pecaminosa
de Adão, além da herança acumulada pelo “velho eu” durante toda uma vida. As feridas e
deformações da alma causadas pelas experiências da velha criatura podem ser curadas e restauradas
pela Palavra de Deus e pelo Espírito Santo (de fato, a maioria delas fica na cruz, quando nos
convertemos ao Senhor Jesus), mas é importante entender que a nossa natureza carnal não pode ser
“expulsa”! Se isso não fosse verdade, não haveria necessidade de a Palavra nos exortar a crescer e
viver em santidade. Mesmo o mais consagrado servo de Deus está sujeito “às mesmas paixões” de
todo ser humano (At 14.15; Tg 5.17) e deve continuamente mortificar sua natureza carnal, pelo
espírito (Rm 8.13). Pois a natureza carnal da alma resistirá sempre contra o espírito.

Esta é uma guerra diária, cujo campo de batalha ocorre na mente (mente carnal vs. mente de Cristo) e
na vontade (vontade do ego vs. vontade de Deus): Rm 7.22-23, Gl 5.17, 1Pe 2.11. O resultado de cada
batalha faz a diferença entre ser um crente carnal ou um crente espiritual. Ser carnal não significa
(necessariamente) pecar, porque mesmo o servo de Deus mais consagrado peca (1Jo 1.10). Também
não significa andar em pecado, porque quem vive no pecado ainda nem mesmo é convertido (1Jo 3.9).

O crente carnal é aquele que sinceramente tenta conhecer e fazer a vontade de Deus, mas o faz
exercitando sua alma, independentemente do espírito! Ao não buscar a transformação da alma pela
Palavra e pelo tratamento do Espírito Santo, o crente carnal tende a seguir aquela função da alma mais
predominante em seu caráter problemático e não tratado, e isso dá origem a algumas “categorias” de
carnalidade:

O carnal emotivo (governado pelas emoções). Se sente fortes arrepios consegue fazer a obra de Deus,
mas se as emoções se vão, perde o ânimo (e se justifica dizendo: “Não estou sentindo”).

O carnal intelectual (governado pela mente). Considera-se muito sábio a seus próprios olhos. Tende a
ser extremamente crítico. Racionaliza e evita as coisas sobrenaturais (e se justifica dizendo: “Não sou
infantil”).

O carnal volitivo (governado pela vontade). É o crente “oba-oba”. Está sempre aberto a novidades,
mas não tem perseverança: quando passa a empolgação deixa tudo de lado (e se justifica dizendo:
“Deus não quer sacrifício”).

Embora os comportamentos acima sejam diferentes, há um ponto comum entre eles, que é a marca
registrada da carnalidade: a busca da gratificação do ego. O que motiva todo crente carnal é que o
seu “eu” (o seu “reizinho interno”) seja reconhecido, elogiado e exaltado. Quando isso não acontece,
ele perde a motivação e até entra em crise.

Para nos tornarmos crentes espirituais, é preciso antes receber revelação sobre a total incapacidade de
a carne gerar qualquer fruto para Deus (Is 64.6). Todo fruto da carne é fruto podre. Paulo era um
homem de alta posição social e com muitos recursos intelectuais, mas renunciou a tudo isso para
poder “andar no espírito” (Fp 3.4-8). Como veremos em mais detalhe adiante no curso, o tratamento
para a carne é a cruz (Gl 2.20, 5.24). Somente a cruz é suficientemente poderosa para expulsar aquele
“reizinho” carnal do seu pequeno palácio e entronizar Cristo em seu lugar!

F.4) O “mecanismo da carne”. Já vimos que a natureza carnal (alma+corpo afetados pela queda
adâmica) continua latente em nós, mesmo após a conversão. Ainda que a carne tenha sido enviada à
cruz e esteja mortificada pelo espírito, ela sempre estará pronta a “ressurgir”. De fato, dos três
inimigos que temos (Satanás, o mundo e a carne), a carne é o mais poderoso, pois nossa própria
concupiscência pode nos levar a pecar (Tg 1.14-15). Usando como referência 2Sm 11, veja como
funcionam os quatro passos do “mecanismo carnal”:

Os sentidos trazem uma informação externa, normalmente através da visão (“… viu do terraço a uma
mulher…”).

A informação desperta um instinto (“…que se estava banhando…”). Nesse exemplo, a nudez despertou
o instinto sexual. Até aqui, “tudo bem”: Davi poderia ter simplesmente desviado os olhos e bloqueado
qualquer pensamento impuro (que tal pegar a harpa e entoar um belo salmo?)

A mente carnal processa os dados e os transforma em desejo ou tentação (“… e era esta mulher
mui formosaà vista…”). As coisas começam a se complicar… Mas Davi ainda tinha todas as condições
para resistir à tentação (1Co 10.13), pois sendo ele “um homem segundo o coração de Deus”, o
Espírito Santo certamente falou em sua consciência, procurando impedi-lo de pecar. Entretanto, nesse
momento tudo dependia da decisão que Davi tomaria em sua alma.

A concupiscência da carne aceita a tentação e a transforma em intenção do coração, que já é pecado


(“e perguntou, …e enviou mensageiros, …e a mandou trazer, …”). A decisão foi tomada no coração; o
pecado já havia sido concebido, antes mesmo de deitar-se com aquela mulher!

F.5) Como evitar o pecado, e o que fazer se cairmos. Como antídoto para o mecanismo da
carne, precisamos estar alertas e sensíveis ao alarma que o Espírito Santo vai disparar em nossa
consciência, quando chegarmos ao “passo 3” explicado acima. Precisamos, então, bloquear o pecado
na fonte. Isso implica dois movimentos:

a) Com firmeza e serenidade, interromper e rejeitar o pensamento pecaminoso, não deixando que
sejam desenvolvidas imagens impuras em nossa mente, e

b) Imediatamente, voltar-se para Deus, no espírito, orando e refugiando-se no Senhor, suplicando-Lhe


que não nos deixe cair em tentação.

Quanto mais atrasarmos estes dois movimentos, mais a mente carnal vai ganhando espaço, e o nível
de tentação aumentará, ficando mais difícil resistir. Mas se praticarmos isso já no primeiro olhar,
primeiro pensamento ou primeira imagem mental, será muito mais fácil encontrar graça para
continuar caminhando em santidade diante do Senhor. Instantes depois, constataremos que a
tentação foi vencida, e que nosso coração e mente continuam puros. Portanto, devemos ser absolutos
em obedecer a nossa consciência: sempre que ela recusar algo, devemos parar imediatamente!

Porque “o salário do pecado é a morte” (Rm 6.23). O pecado entristece o Espírito Santo, ofende o Pai
Celestial e trai o Senhor Jesus. O pecado anestesia o espírito e embrutece a alma. E se alguém se
“acostuma” com ele, poderá se desviar dos caminhos do Senhor e lentamente iniciar um perigoso
processo de apostasia pessoal. Ou então, poderá tentar manter uma aparência de santidade, passando
a viver uma religiosidade hipócrita que causa náuseas a Deus (Mt 23.13-33).

Mas se eventualmente cairmos em pecado, devemos atender ao apelo de arrependimento que o


Espírito Santo gerará em nosso espírito, confessando imediatamente o pecado a Deus e confiando no
perdão que a Sua Palavra garante (1Jo 1.9). A partir daí, não devemos aceitar qualquer acusação do
inimigo em nossa mente, pois Deus já nos perdoou o pecado e não se lembra mais dele (Jr 31.34; Hb
8.12, 10.17). E mesmo que sejamos infiéis por um algum tempo, e um certo tipo de pecado se torne
repetitivo em nossa vida, ainda assim podemos confiar que Deus jamais desiste de nós (Is 49.15; 2Tm
2.13; Jo 6.37). Nesse caso devemos buscar ajuda de um irmão confiável (seu líder, discipulador ou
pastor), crendo na promessa de que “se confessarmos os nossos pecados uns aos outros, seremos
curados” (Tg 5.16).

F.6) Entendendo a ação do inimigo. O objetivo do inimigo é destruir a criação máxima de Deus: você,
ovelha do Senhor! (Jo 10.10a). Para atingir tal objetivo, sua estratégia é o engano, induzindo o homem
a pecar (2Co 11.3, 2Jo 1.7). E para concretizar essa estratégia ele faz uso de duas táticas: a) ataques
diretos à mente, e b) ataques indiretos usando funções do corpo (para “acelerar” o mecanismo da
carne exposto anteriormente). Satanás conhece esse mecanismo muito bem (até mais do que o
próprio crente desavisado) e procura “dar um empurrãozinho” para que caiamos nesse laço:

A tática de ataque do inimigo, usando funções do nosso corpo. Gn 3.6 ilustra bem a tática de Satanás
usar o “mecanismo da carne”:

 Chamar a atenção, pelos sentidos. “A mulher viu que a árvore era bonita…”.

 Despertar um instinto. “… e que suas frutas eram boas de se comer”.

 Produzir um desejo (tentação). “E ela pensou como seria bom ter entendimento.”

 Concretizar uma intenção (pecado). “Aí apanhou uma fruta e comeu; …”

Para evitar essa armadilha, o corpo deve ser disciplinado, isto é, submetido à vontade da alma, a qual,
por sua vez, deve ser transformada pelo Espírito, de modo a não dar ocasião à carne.

F.7) Disciplinando o corpo. Disciplinar o corpo envolve três “frentes de batalha”:

Vigiar para que os instintos do corpo não sejam usados pela carne e pelo inimigo para nos levar ao
pecado(Sl 101.3a, Rm 6.13). Precisamos estar atentos a todo instante sobre o que o que é que estamos
fazendo com o nosso corpo, especialmente sobre o quê fixamos os nossos olhos (Mt 6.22-23),
discernindo se isso traz luz ou trevas para dentro de nós. Por exemplo, se um homem deixar seus olhos
se fixarem sobre uma mulher que se veste sensualmente, isso certamente será uma brecha para que a
mente comece a desenvolver pensamentos impuros e formar imagens obscenas. O mesmo pode
acontecer vendo televisão, assistindo a um filme, lendo uma revista, vendo um “outdoor” na rua,
acessando a Internet, etc.

Manter o corpo em boas condições de saúde. Por ignorância da Palavra, no meio cristão é popular o
conceito equivocado de que a “carne” (referindo-se ao corpo) para nada serve. Isso leva a um
completo desleixo em relação ao corpo, frequentemente envolvendo o consumo excessivo de
alimentos e a falta de exercícios físicos, com toda uma série de consequências negativas para a saúde.
Mas o fato de que o nosso corpo é templo do Espírito Santo e que precisamos dele para poder servir a
Deus já deveriam ser motivos mais do que suficientes para cuidar da nossa saúde com zelo,
alimentando-nos de maneira sadia e fazendo algum tipo de atividade física ou esporte regularmente.

Submeter o corpo no serviço ao Reino de Deus. Isso requer força de vontade, ou seja, o domínio da
alma sobre o corpo, sob a direção do espírito. Implica a prática de disciplinas espirituais, entre as quais
as mais importantes são o devocional diário (oração e leitura da Palavra) e o jejum. Tais disciplinas,
além de mortificarem a natureza carnal, também fortalecem o espírito. E então teremos poder
espiritual para nos dedicarmos com afinco em servir a Deus e ao próximo. Mas também devemos
evitar o extremo oposto, caindo no ativismo religioso a ponto de prejudicar a saúde.

Cabe aqui uma nota importante: a disciplina do corpo (incluindo o jejum) não é algo que fazemos para
Deus! Não é para adquirirmos bênçãos de Deus e muito menos para sermos aceitos por Ele (isso seria
legalismo ou ascetismo). Qualquer tentativa legalista de usar o sacrifício físico para obter de Deus
graça ou justificação não é apenas inútil, como também herético. O legalismo anula a graça de Deus
(Gl 5.4).

Para quê, então, devemos disciplinar o corpo? O corpo deve ser disciplinado primeiramente para nós
mesmos, de modo a melhor servirmos a Deus, apresentando-Lhe nosso corpo de maneira santa (Rm
12.1), e em segundo lugar para os outros, de modo a servirmos de exemplo e engrandecermos a Cristo
em nosso corpo (Fp 1.20). Mas como já mencionamos, o pré-requisito para disciplinar o corpo é ter
uma alma transformada.

F.8) A absoluta necessidade de transformação da alma. Recapitulemos alguns princípios sobre


frutificação espiritual:

 Somente o espírito pode gerar vida espiritual (2Co 3.6b).

 O espírito não se manifesta independentemente, mas somente através da alma.

 A alma não se manifesta independentemente, mas somente através do corpo.

Portanto, se a alma não estiver transformada, quebrantada e submetida ao espírito, jamais poderemos
produzir verdadeiros frutos espirituais. Não será possível trazer uma pregação ungida, com revelação
da Palavra de acordo com a necessidade de quem nos ouve; não poderemos salvar e transformar
vidas, ministrando e tocando o espírito das pessoas ao nosso redor; não haverá manifestação de poder
espiritual, para glória de Deus e edificação da igreja. Ser um crente espiritual é operar nos outros a
vontade de Deus, através de uma alma quebrantada e submissa à direção do espírito, e de um corpo
submisso à disciplina da alma.

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