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São Paulo, SP
2016
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São Paulo, SP
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FICHA CATALOGRÁFICA
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Aprovado em ____/____/____
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Mestre
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Mestre
São Paulo, SP
2016
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AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por essa vitória que é a conclusão do curso de Psicologia. A minha
amada família que sempre me incentivou, não deixando que eu desistisse desse
sonho, mesmo com as dificuldades que surgiram no caminho.
Angela Barbosa Felicete.
Agradeço pelo carinho e paciência do meu marido e meus filhos, que puderam
entender e respeitar esse momento único em minha vida.
Luzinete Alves.
Por fim, nosso profundo agradecimento a todos os mestres que estiveram conosco
durante essa trajetória, em especial ao professor Fábio.
A prestimosa contribuição de cada um encontra-se contida nos tópicos deste
trabalho, entrelaçada em nossas palavras através do conhecimento e da orientação
que tão afetuosamente compartilharam conosco, e que hoje se transforma na
conquista desse ideal por nós almejado.
Angela e Luzinete.
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RESUMO
ABSTRACT
This study is a literature about the theoretical aspects of man's relationship to work.
Based on social psychology, this research aims to present some relevant concepts
for the reflection of this delicate relationship that is established from the beginning
of human life. Thus, considering the work as an activity essential to the full
development of man, it is contemplated that review relevant matters at the source
of the work and the sense of this man. The proposal is to promote examine the
literature for an analysis of possible failure mechanisms that lead to stagnation of
man against an alienating social system, the conditions and removes its power to
criticality and choice. Thus, starting from the Philosophy and Sociology
contributions, the study addresses the subjectivity that permeates the formation of
individual identity and social elements involved in this constitution, especially the
understanding of ideology and capitalism before the intertwining subverted values
that is established with their links. This brings to the understanding of underlying
psychological processes that make up the human structure in its ability to transform
and change the direction of intrinsic and extrinsic values, as notoriously troubled in
net and ephemeral societies contemporary, for a symbolic dimension that fits their
psychosocial integration today, which sometimes do not result in a satisfactory
balance to the individual psyche.
Sumário
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 11
1.1 – OBJETIVOS .................................................................................................. 15
1.1.1 – Objetivo geral .......................................................................................... 15
1.1.2 – Objetivos específicos .............................................................................. 15
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................... 16
2.1 – O HOMEM E O TRABALHO ......................................................................... 16
2.1.1 – A relação do desenvolvimento humano com o trabalho ......................... 16
2.1.2 – O trabalho humano ................................................................................. 18
2.1.3 – Sociedade capitalista .............................................................................. 27
2.1.4 – O trabalho no capitalismo ....................................................................... 32
2.2 - PELOS CAMINHOS DA PSICOLOGIA .......................................................... 38
2.2.1 – O começo ............................................................................................... 38
2.2.2 – As origens filosóficas da Psicologia ........................................................ 41
2.2.3 – A Psicologia através dos tempos ............................................................ 47
2.2.4 – A Psicologia Científica ............................................................................ 51
2.2.4.1 – Behaviorismo .................................................................................... 53
2.2.4.2 – Gestalt .............................................................................................. 55
2.2.4.3 – Psicanálise ....................................................................................... 58
2.3 – ENTENDENDO A SUBJETIVIDADE HUMANA ............................................ 64
2.3.1 – O homem pelo olhar da Psicologia Social .............................................. 64
2.3.2 – Os elementos sociais constituintes da personalidade humana ............... 67
2.3.2.1 – A cultura ........................................................................................... 67
2.3.2.2 – A linguagem ...................................................................................... 68
2.3.3 – Os grupos sociais ................................................................................... 75
2.3.3.1 – Socialização primária........................................................................ 75
2.3.3.2 – Socialização secundária ................................................................... 83
2.3.4 – Identidade social ..................................................................................... 89
2.3.5 – Representações sociais .......................................................................... 95
2.4 – O UNIVERSO PSÍQUICO DO HOMEM CONTEMPORÂNEO .................... 101
2.4.1 – Novos desafios, antigos conflitos .......................................................... 101
2.4.2 – Em busca de novos caminhos .............................................................. 105
2.4.3 – A identidade do homem contemporâneo .............................................. 112
ix
Lista de Figuras
1. INTRODUÇÃO
Ao longo dos cinco anos de estudo no curso de Psicologia tivemos muitas vivências,
dentro e fora do ensino acadêmico, que concomitantemente fizeram parte dessa
transformação que o aprendizado nos incita a realizar. Experiências que antes
passava-se desapercebida ou com um outro significado. Contudo, como estudantes
de psicologia ganharam um olhar diferente, como um objeto antigo já por nós
conhecido vestindo uma nova roupagem, destacando-se e ganhando uma forma
relevante. Foi este novo olhar que nos fez refletir sobre uma antiga situação, também
vivenciada por nossas experiências particulares, e desejar compreender o sofrimento
do trabalhador de frente com a impossibilidade de um trabalho formal, levando-o a
estagnação ou submissão de suas ações.
Vemos em Lane (2006) que o indivíduo se constitui através de suas relações,
porém observamos que o significado destas relações sobre nós nem sempre são
claros ou como gostaríamos que fossem.
Alguns eventos e situações trazem implicações em nossas vidas que nos
coloca em xeque diante das nossas escolhas, defrontando com conceitos e valores,
que, segundo Moscovici (2000), não os questionamos mais por estarem arraigados
em nós como caminhos certos a seguir, mesmo quando essa bússola interna parece
estar quebrada.
Lane (2006) também convida a pensar sobre inúmeras situações que podem
empregar uma marca nociva em nossas vidas, muitas dependendo da forma como
são estabelecidas as relações interpessoais, e da maneira como cada pessoa percebe
a sua realidade.
Essa incongruência entre o sentir e o agir é passível em todo o tipo de relações
que construímos. Algumas contradições ainda por forças externas que estão além de
nossa vontade, e, conforme Bauman (2005), provocam grandes abalos em nossa
identidade, podendo desnortear esse fluxo natural que seguimos e nos deixar a mercê
de nossas fraquezas, sem encontrarmos um meio criativo e adequado para
retomarmos a marcha.
Por todos estes mecanismos psíquicos endógenos e exógenos, é possível
entender que um mesmo evento pode ser simples e corriqueiro para alguns, mas
complicado e angustiante para outros, como, por exemplo, a falta de um emprego.
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Entende-se por trabalho uma atividade humana que possui relevância não
apenas para suprir as necessidades básicas de sobrevivência do homem, mas como
uma das principais atividades humana que auxilia o homem em seu desenvolvimento
integral, tanto físico quanto psíquico e mental (ARANHA; MARTINS, 1993).
Segundo Codo (1989), a visão capitalista do sentido de “produção de trabalho”
da nossa sociedade traz uma conotação estereotipada que reflete num impacto
negativo ao psiquismo de muitas pessoas, vendo-se como um pária social, sem valor
e significado em sua vida quando não possuem um emprego formal.
Acredita-se que o homem é um ser produtivo não só pelo fruto do seu trabalho
capital à sociedade, mas também por meio de suas relações. Dessa forma, é preciso
entender quais os significados que perpassam entre o homem e seu trabalho para o
auxiliar na busca de uma vivência construtiva, gerindo sua vida com autonomia
financeira, cooperando consigo e com os outros.
De uma forma geral a relação do homem com o trabalho é um processo
histórico, que vem se construindo ao longo dos tempos e hoje, mais que antigamente,
levando em conta o conceito que vivemos em nossas relações de liquidez, cunhado
por Bauman (2009), esse processo vem sendo transformado a todo instante trazendo
mudanças velozes não só ao ambiente de trabalho, como também em vários
desdobramentos que repercutem e implicam em todo o nosso contexto social.
Moscovici (2000) afirma que a maioria das relações são definidas por
representações sociais que internalizamos sem darmos conta do seu real valor e
significado.
Por essa concepção adquirida pode-se inferir que ao vermos uma pessoa
trabalhando num serviço informal, como vendedor ambulante em vagões de trens,
automaticamente atribuímos um papel social insignificante dentro do contexto de
trabalho, sem pararmos para analisar que esta pessoa pode ser extremamente eficaz
em sua atividade, estando satisfeita tanto com seus ganhos econômicos quanto com
sua realização pessoal.
Geralmente atribuímos sentido de valor ao sucesso profissional somente a
padrões de trabalho já reconhecidos socialmente, como, por exemplo, relacionar um
funcionário executivo de uma multinacional bem vestido com uma pessoa realizada
em seu sucesso profissional, podendo essa percepção inicial ser contrária a realidade
sentida por esta pessoa.
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1.1 – OBJETIVOS
1.1.1 – Objetivo geral
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Engels (1999) evidencia a relação do corpo humano com o trabalho, salientando que
o homem ao utilizar suas mãos para o trabalho torna-se ereto, depois passa a produzir
instrumentos de caça, utensílios para a sua preservação e manutenção que o tornou
mais resistente e astuto, chegando a criação da linguagem para a mediação de suas
relações, um meio de comunicação efetiva e mais complexa que o conduziram a
civilização e dominação dos outros seres.
Os autores Marx (1996) e Engels (1999) demonstram o quanto a evolução do
homem foi seguida pela evolução de seu trabalho, sendo posteriormente seus
conceitos servindo de base para a elaboração de outros estudiosos.
Aprimorando suas técnicas de trabalho que preservassem melhor sua espécie
e o mantivesse a salvo dos predadores, os estudos revelam que o homem seguiu
criando sua história que o conduziu paulatinamente ao progresso, sempre em
conjunto com o seu trabalho de acordo com as suas ideias e necessidades. Desejos
e ideais que foram se complexando com o passar dos tempos, exigindo-lhe também
atividades mais complexas.
Em seus estudos sobre o papel do trabalho na formação humana, Engels
(1999) afirma que as práticas contínuas de trabalho rudimentares foram
primeiramente modificando o corpo do homem primitivo, aprimorando seu corpo para
obter melhores condições em suas atividades, o adaptando para que se tornasse mais
resistente e apto para o trabalho, com consequentes realizações e conquistas de seus
fins.
Com pensamentos mais abstratos e complexos, o homem foi criando ideias
procedidas de sua evolução física, colocando-as em prática através de atividades
mais engenhosas, conseguindo alcançar pelo trabalho condições que o elevaram ao
patamar do animal mais inteligente e criativo da Terra, o do ser humano (ENGELS,
1999).
A priori eram atividades que visavam apenas a mediação com a natureza para
a sua sobrevivência, sendo o trabalho apontado inicialmente por Marx (1996) como:
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“um processo, em que o homem, por sua própria ação, media, regula e controla seu
metabolismo com a Natureza”.
Apesar de sabermos que os animais também exercem influência e mudanças
sobre a natureza, suas atividades não são ações coordenadas que possuem um
padrão intencional de atuação sobre ela, pois diferente da atividade humana: “só o
que podem fazer os animais é utilizar a natureza e modifica-la pelo mero fato de sua
presença nela. O homem, ao contrário, modifica a Natureza e a obriga a servir-lhe,
domina-a” (ENGELS, 1999).
É por esta condição que o homem se diferencia do animal, não pelo trabalho
que executa, mas pela forma intencional que o faz.
Engels (1999) explica que por estas necessidades naturais o trabalho se tornou
parte integrante do homem, já que estas dificuldades iniciais do meio exigiram
mudanças no homem primitivo para alcançar os seus objetivos que só puderam ser
alcançados por intermédio de seu trabalho, afirmando, portanto, que o
desenvolvimento humano está estreitamente ligado com o seu trabalho.
Essa afirmação também está contida em Marx (1996) ao esclarecer que através
de suas atividades naturais o homem influencia e é influenciado pela natureza, pois
ao manipula-la ele a modifica, e este resultado sob o homem acaba por também
modificá-lo, num processo simultâneo de forças internas e externas que se
desenvolvem por essa relação.
Assim toda essa prática trouxe ao homem o seu enriquecimento psicossocial,
pois por meio dessas atividades naturais a humanidade construiu suas relações
sociais, seja na elaboração de materiais que o auxiliavam em sua sobrevivência ou
pela formação de agrupamentos, como as famílias, que contribuíram para o seu
desenvolvimento tanto psíquico quanto moral.
Contudo, saindo de um pequeno grupo para a civilização o homem foi criando
sistemas de trabalho para suprir essa demanda de trabalho. Inicialmente de atividades
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naturais para a sua preservação até chegar a esquemas grandiosos como, por
exemplo, a construção de pirâmides, que pelo conceito de cooperação simples em
grande escala de Marx (1996), este já era um princípio de trabalho que: “baseia-se
em relações diretas de domínio e servidão, na maioria das vezes na escravidão”.
Para Engels (1999) a civilização e sua crescente necessidade de atividades
mais complexas levou o homem ao entendimento de organizar suas atividades,
separando-as de quem as idealizava para quem as executassem, o que também
fomentou as relações de dominação pelo trabalho daqueles que sabiam mais e, com
isso, mantinham o poder sob os demais.
encontra em seu enorme potencial lógico e criativo transformador, mas que excede
os limites de sua dominação ao prescindir dos mais fracos pela ambição dos mais
fortes.
Ao evoluir o homem expande seus horizontes. Saindo em busca de novas
moradias o homem vai se adequando as novas exigências de clima, alimentação e
segurança, instrumentalizando-se e criando utilitários para servir as suas
necessidades. Percebe a possibilidade de construir melhores condições condizentes
com a sua nova realidade, capacitando-se na construção de novas ferramentas que
utiliza para a adaptação do novo mundo (ENGELS, 1999)
Em sua civilização, a atividade humana não é mais somente para subsidiar a
sobrevivência do homem, passando a auxiliá-lo muito mais em seu desenvolvimento
biopsicossocial. Abstraindo suas necessidades o homem passa a representa-la
através dos objetos que constrói, servindo-lhe de instrumento de trabalho,
transcendendo o tempo com a sua evolução (CODO, 1989).
É a natureza que fornece ao ser humano os elementos necessários para a
construção destes instrumentos, além dos subsídios primordiais para a sua
sobrevivência, utilizado numa atividade de trabalho para criar e recriar a realidade,
conforme as suas necessidades.
Em uma visão filosófica sobre o trabalho, Aranha e Martins (1993) explicitam
que o trabalho é uma forma do homem atuar sobre o mundo em que vive. As
dificuldades encontradas pelo homem em seu desenvolvimento primitivo, foram
superadas pela necessidade de satisfazer os seus desejos, através de uma ação
deliberada que resultou em uma atividade transformadora de si e de seu meio.
Ao cortar um pedaço de madeira para a construção de uma casa, o homem
está modificando a paisagem natural e alterando o fluxo da natureza, ao mesmo tempo
em que se modifica ao transformar a sua condição anterior de moradia. Isto lhe
confere uma mudança em seu mundo, que irá marcar sua passagem no espaço e
tempo, trazendo-lhe satisfação por meio do trabalho ao produzir algo que supre seus
desejos e necessidades.
Para as autoras, o trabalho humaniza o homem pois o remete a desafios que
irão transcender suas necessidades, mobilizando recursos internos e externos para a
realização dos objetivos que se propõe a conquistar, em uma ação planejada que
desenvolve processos mentais e psíquicos, impulsionando o seu crescimento.
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Figura 1: Tripalium
Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/sobre-palavras/curiosidades-etimologicas/trabalho-tortura-e-outras-
lutas-viva-o-primeiro-de-maio/
econômicos, comprando a sua liberdade. Cresce o interesse pelo trabalho e pela arte
mecânica, que irá aumentar a produtividade e levar o homem a comercialização e a
produção manufaturada. Dá-se o início a uma nova ordem econômica, antes
provindas apenas do setor primário, a agricultura, passando agora para o setor
secundário, o industrial (ARANHA; MARTINS, 1993).
Essa nova classe econômica provém dos burgos, que saem do campo para
vender o seu produto na cidade, aumentando o comércio das capitais e estimulando
as navegações em busca de novos mercados. Por esta expansão do comércio os
camponeses passam a procurar trabalho nas cidades, criando uma nova força
produtiva de trabalho pela sociedade burguesa, surgindo as manufaturas para o
exercício do trabalho artesão, culminado para o fim do feudalismo e o início da forma
de produção econômica do capitalismo (HERMISDORFF, s.d).
O autor verifica que embora os burgueses se assemelhassem na forma de
dependência e exploração de trabalho dos artesões, eles possuíam objetivos em
comum, o interesse de acabar com o poder feudal e expandir o desenvolvimento
econômico e social.
Contudo, o trabalho manufaturado irá gerar uma nova ordem de exploração,
em que o artesão venderá sua força de trabalho em troca de salário, tornando-se
novamente escravo daquele que possui a matéria prima e os instrumentos de
trabalho, agora não mais o feudo e sim o burguês (ARANHA; MARTINS, 1993).
Essa transição do feudalismo pelo capitalismo teve sua ascensão após a
revolução industrial no século XVIII, antes predominada pelos burgueses na forma de
produção de trabalho gradativamente passada ao capitalismo, porém mantendo suas
características em seu meio de produção.
Aranha e Martins (1993) ressaltam essa semelhança na forma de produção,
pois enquanto a humanidade se desenvolvia, cresciam os barracões de trabalho para
maior produtividade econômica, aumentando o capital burguês pela exploração da
força de trabalho.
No século XIX, o resplendor do progresso não oculta a questão
social, caracterizada pelo recrudescimento da exploração do
trabalho e das condições subumanas de vida: extensas jornadas
de trabalho, de dezesseis a dezoito horas, sem direitos a férias,
sem garantias para velhice, doença e invalidez; arregimentação
de crianças e mulheres, mão de obra mais barata; condições
insalubres de trabalho, em locais mal-iluminados e sem higiene;
mal pagos, os trabalhadores também viviam mal alojados e em
promiscuidade (ARANHA; MARTINS, 1993, p.28).
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40 36,6
30 Masculino
20 Feminino
10
0
População em População População não População População
idade ativa economicamente economicamente ocupada desocupada
ativa ativa
40
30
20
20
8 8,5
10
3,9
0
Empregados com Empregados sem Funcionários públicos Empregadores Trabalhadores por
carteira assinada carteira assinada conta própria
de troca de mercadorias, em que um produto vale mais pelo o seu consumo do que
por sua necessidade (MARX, 1996).
Codo (1989) revela que por este advento é possível perceber uma separação
no sentido do trabalho para o homem, pois:
O homem ao contribuir com o seu trabalho não está empregando apenas sua
força de trabalho nele, está empregando muito mais, a sua força psíquica. É por esta
razão que a atividade humana modifica a natureza e é modificado por ela ao utilizar
desses instrumentos criados pela força de seu trabalho, podendo ser tanto utilitário
manual, como um utensílio, quanto intelectual, como a linguagem ou o pensamento
(LANE, 2006).
Com isto se evidencia o quanto uma sociedade capitalista não se interessa
pelas forças psíquicas integradas no processo de trabalho humano que não possam
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ser consumidas pelo capital. As relações de trabalho que interessam ao capital são
apenas quantitativas, de ordem financeira, abstraindo-se da complexidade que se
desdobram dessas relações para o homem.
Por este motivo é que o trabalho está além do consumo capitalista. O valor do
trabalho humano é mais do que apenas sua sobrevivência, está na permanência de
sua condição humana enquanto ser social.
Contudo, Lane (2006) demonstra que através da alienação de consumo contida
na ideologia dominante do capitalismo, a ação do trabalho capitalista pode inverter o
significado do objetivo da atividade humana e subverter suas necessidades.
As autoras Aranha e Martins (1993) revelam que atualmente o homem padece
de um consumismo desenfreado estimulado pela sociedade capitalista,
principalmente através da comunicação de massa.
O homem possui necessidades que são inatas à sua condição humana. Desde
necessidades básicas ligadas a preservação do organismo para suprir condições
fisiológicas, como proteção e segurança, até a uma escala de necessidades
complexas ligadas ao equilíbrio emocional por suas relações intrapessoais e
interpessoais, para o seu bem-estar biopsicossocial (CARPIGIANI, 2014).
Por essa relação de trabalho com o capitalismo, o homem deixaria de atuar
diretamente por seus interesses diante da sociedade e, com isso, suas necessidades
básicas não seriam atendidas a partir de seus princípios, mas reguladas por normas
e convenções da sociedade.
Assim, no capitalismo o trabalho deixa de ser uma atividade prioritária à vida
humana, que lhe serve como instrumento para o seu crescimento e desenvolvimento
individual, como nos primórdios, em que o homem exercia o trabalho como uma
atividade natural para suprir necessidades de interesses próprios. Na sociedade
capitalista a atividade de trabalho humano torna-se uma atividade social, voltada para
suprir as necessidades do capital.
Esta distinção entre a atividade humana e a atividade social é apresentada por Codo
(1989) como diferenças provindas do processo de trabalho capitalista. Para o autor, o
capitalismo modifica a atividade laboral do homem num trabalho social, vinculando-
as, sendo que: “a ação do homem passa a pertencer à sociedade, a ser regulada
pelas leis de oferta e procura, acumulada como capital”.
Antes o trabalho que era uma ação humana para a produção de maior
desenvolvimento do homem, se torna pelos meios de produção capitalista uma ação
social, que, portanto, deve ser controlada por normas sociais (CODO, 1989).
O trabalho humano é como um patrimônio inigualável que sustenta todo o
mecanismo capitalista, pois a cooperação no processo de trabalho fomenta a
produtividade levando a maiores ganhos de capital. Um grupo de pessoas trabalhado
num mesmo fim, aumenta sua produção e consequente formação de valor do produto,
que fatalmente o conduzirá ao consumo (MARX, 1996).
O sistema de industrialização veio edificar essa realidade ao trazer em seu
processo de trabalho a máquina, instrumento de trabalho que, segundo Codo (1989):
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Carpigiani (2014) relembra que foi entre os povos antigos, como na Grécia e
em Roma, que o mito ganhou forças se manifestando em todas as esferas da vida
humana, com a expressão do sobrenatural e dos deuses, o que “representa a tentativa
de organização e compreensão da desconhecida e assustadora força da natureza,
por meio do poder de divindades”.
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Com o mito o homem passa a se relacionar com a realidade que o cerca dentro
de suas possibilidades psíquicas, atuando sobre o mundo sem prejuízos à sua psique.
(assim denominados por iniciar essa linha de pensamento antes de Sócrates), essas
questões começaram a ser repensadas pelo povo, iniciando uma dissociação mítica
e religiosa do homem natural (BOCK;FURTADO;TEIXEIRA, 2002).
A partir desse movimento, conforme Carpigiani (2014), deu-se início a uma
linha de pensadores pré-socráticos que começaram a esboçar o corpo dessa ciência
através da percepção. Esses filósofos pensavam nessa relação do homem com o
mundo e como isso acontece; de forma idealista, sendo as ideias humanas que
formam o mundo dando-lhe origem e sentido; ou materialista, o mundo já formado
pela matéria que o homem sente e vê.
Porém, o marco da Filosofia está ligado a personalidade de um filósofo que a
impulsionou, Sócrates, tendo logo depois seu desenvolvimento mais aprofundado por
outros dois pensadores, Platão e Aristóteles, que contribuíram enormemente para a
evolução dessa nova ciência, e futuramente da Psicologia (CARPIGIANI, 2014).
Sócrates, homem simples, não deixou nada escrito sobre os seus
pensamentos, sendo o primeiro dos filósofos, portanto o responsável por essa linha
de pensamento que trouxe uma ciência nova, a Filosofia. Também por sua
metodologia, Sócrates é considerado por muitos o responsável pelo surgimento
posterior da Psicologia (BOCK;FURTADO;TEIXEIRA, 2002).
Através de um método de raciocínio que trazia o homem para mais perto de si,
colocando-o de frente com sua realidade e se abrindo para novas ideias que
permitissem uma interação maior com seu meio, Sócrates contribuiu para a
transformação social da Grécia. Sua teoria era simples, porém bastante arrojada para
a sua época que possuíam homens presos a dogmas e conceitos, acostumados a
serem conduzidos por deuses imortais que lhes retiravam o poder de discernir sobre
suas escolhas (BOCK;FURTADO;TEIXEIRA, 2002).
Segundo Carpigiani (2014), o que Sócrates propunha era que ao analisar uma
questão o homem limpasse sua mente de quaisquer outros conceitos que tinha
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Platão foi um dos discípulos de Sócrates, e esteve presente até o final de seu
julgamento e morte. Era de uma família aristocrática, descendente de políticos e reis.
Tinha conhecimentos políticos, deixou muitos escritos de sua obra e formou sua
própria escola de investigação filosófica, chamada de Academia, a primeira
universidade do mundo (BOCK;FURTADO;TEIXEIRA, 2002).
Baseado no pensamento socrático, segundo Carpigiani (2014), Platão
constituiu suas próprias teorias e as deixou escrita em duas linhas de pensamentos:
uma que fala sobre o conhecimento da alma e os sentidos com suas subjetividades,
e outra que diz sobre o conhecimento do corpo e suas relações político-sociais.
Aranha e Martins (1993), ainda afirmam que para Platão o homem viveu como
espírito puro no mundo das ideias, porém esquecem de tudo ao serem prisioneiros do
corpo, considerado o “túmulo da alma”, recordando-se dessas lembranças
adormecidas da alma pelos sentidos, sendo esta a sua teoria da reminiscência.
Platão constrói seus pensamentos na ideia da alma tripartida, sendo: razão,
moral e desejo atributos da alma. Suas outras linhas de pensamentos, como a política
e o funcionamento do organismo, também são constituídas nesse conceito tripartido
(BOCK;FURTADO;TEIXEIRA, 2002).
Os autores esclarecem que o pensamento platonista deriva da imortalidade da
alma e, que, para Platão, a alma antes de unir-se ao corpo já tem suas ideias e
conceitos, sua moral, independente do corpo. Dessa forma, o corpo serve como abrigo
para a alma que sofre por ter consciência de sua condição eterna. Não podendo
usufruir com as paixões do corpo por já possuir sua moral, a alma busca na razão,
seu outro atributo divino, conciliar e harmonizar esse estado do corpo-alma.
O pensamento platônico revela um estado conflitante entre corpo e alma.
Segundo Platão, a alma é soberana ao corpo devendo este se submeter a ela, porém,
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isso apenas será possível se o homem souber conciliar os atributos divinos da alma
pelo conhecimento de si, através da contemplação das ideias, para chegar a um bem-
estar psíquico e corpo saudável (CARPIGIANI, 2014).
Aristóteles foi outro grande nome da Filosofia. Discípulo de Platão, também de
família aristocrática, porém mais ligada a medicina e política. Foi preceptor do filho do
rei Filipe, Alexandre, e fundou mais tarde sua própria escola denominada Liceu
(BOCK;FURTADO;TEIXEIRA, 2002).
Por ser um estudioso de métodos investigativos, Aristóteles mesmo sendo
amigo de Platão, não concordava integralmente com suas teorias, pois acreditava que
eram necessárias metodologias que oferecessem bases científicas a elas. Com seus
métodos e teorias, foi Aristóteles que deu ao homem bases para elaboração de um
corpo científico aos seus conhecimentos (CARPIGIANI, 2014).
Segundo a autora, suas teorias foram sistematizadas, organizadas e
elaboradas dentro de um método mais científico investigativo, sendo sua obra
numerosa, constituída de forma clara e objetiva quanto aos seus pensamentos e
métodos, o que por “tal visão de construção do conhecimento individual facilitou a
expansão do caminho filosófico em direção ao naturalismo e ao empirismo”.
Aristóteles pensava a relação alma-corpo de forma diferente de Sócrates e
Platão, entendendo a alma como mortal, sendo um veículo que se unia ao corpo para
assegurar-lhe a harmonia de vida.
Assim na Idade Média o império do povo grego foi dominado pelos romanos,
surgindo uma nova potência que iria monopolizar o poder pela religião, instituindo uma
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nova política com bases religiosas da Igreja Católica, e caracterizando esse período
da História da humanidade como a Era Cristã (BOCK;FURTADO;TEIXEIRA, 2002).
Os autores salientam que na Era Cristã todas as ciências, a política e a
economia ficavam sob a custódia da Igreja, tendo esta instituição o poder absoluto
das coisas por conhecer e estudar sobre a divindade, o ser superior que comandava
a raça humana. Dessa forma, todo o saber era monopolizado por uma única
instituição, a Igreja, que o distribuía da maneira que entendesse ser a mais adequada
para a redenção humana (BOCK;FURTADO;TEIXEIRA, 2002).
Com isso, também o estudo da mente teve sua relação com os estudos da fé
cristã, estando ligado aos pensamentos de alguns religiosos como São Francisco de
Assis, Santa Clara, São Geraldo D’Avillac, entre outros, destacando-se dois filósofos
importantes para a Psicologia: Santo Agostinho e São e São Tomás de Aquino
(CARPIGIANI, 2014).
Santo Agostinho baseou seus pensamentos pela teoria de Platão, defendendo
a imortalidade da alma. Para este religioso a alma seria a sede da razão e que liga o
homem ao divino, a Deus, portanto os pensamentos humanos passam a serem
estudados pela igreja, já que são interpretados como uma manifestação divina no
homem (BOCK;FURTADO;TEIXEIRA, 2002).
Já em São Tomás de Aquino, segundo os autores, houve uma mudança na
maneira de pensar a relação entre o homem e Deus, pois este filósofo baseou-se nas
teorias de Aristóteles para distinguir o conceito entre essência e existência. O
pensamento tomista, ao contrário de Aristóteles, considera que para se obter a
igualdade entre alma e essência somente Deus poderia reuni-las, tornando o homem
perfeito (BOCK;FURTADO;TEIXEIRA, 2002).
Dessa forma, ele considerava a existência do homem como uma busca pela
essência para se alcançar a perfeição, encontrada apenas através de Deus. Com esse
argumento, São Tomás de Aquino consegue contemporizar o descrédito do povo com
a Igreja diante do seu autoritarismo, manifestado pelo surgimento do protestantismo,
num momento em que também surgia a revolução francesa e industrial
(BOCK;FURTADO;TEIXEIRA, 2002).
Mesmo diante desse quadro social caótico e com muitos adversários, a igreja
católica consegue manter ainda por um tempo seu monopólio científico, político e
49
para a Filosofia, que estimula a nova ciência em bases mais rigorosas e empíricas e
impulsiona o conhecimento pelas ciências naturais, mais propriamente pela Física
(BOCK;FURTADO;TEIXEIRA, 2002).
Os autores explicitam que toda essa movimentação no campo da ciência
moderna possibilitou novos horizontes também para a Psicologia, que sai
gradativamente do campo filosófico para o campo científico, mais especificamente da
Fisiologia e Neurofisiologia, que compreende o sistema nervoso central como chave
para o conhecimento da psique, pois “o pensamento, as percepções e sentimentos
humanos eram produtos desse sistema” (BOCK;FURTADO;TEIXEIRA, 2002, p.39).
Carpigiani (2014) confirma esse início da Psicologia atrelada ao campo da
Física e Biologia, lembrando que na época as discussões voltadas à descoberta do
átomo, moléculas e células, deram o impulso necessário para os primeiros passos da
Psicologia Científica nascer entre os laboratórios das universidades de Medicina e
Fisiologia.
Foi nesse cenário novo e conturbado da ciência moderna que a Psicologia surge como
ciência. Paulatinamente saindo da área da Filosofia ganha autonomia e passa a ser
conceituada como uma ciência nova e única para os estudos dos processos psíquicos
do homem.
Dessa forma, Bock, Furtado e Teixeira (2002) esclarecem que no início do
século XIX, outros estudiosos chegaram à conclusão de que a Psicologia não poderia
ser definida como sendo apenas estudo da alma por não ter um objeto concreto de
estudo e, a partir disso, passaram a estudar e desenvolver outras teorias para a
definição de um objeto de estudo para a Psicologia, pois “ para se conhecer o
psiquismo humano passa a ser necessário compreender os mecanismos e o
funcionamento da máquina de pensar do homem, o cérebro”. Assim:
2.2.4.1 – Behaviorismo
O Behaviorismo nasceu como uma reação aos teóricos defensores do estudo da
introspecção e da psicanálise, que buscavam explicações sobre o funcionamento
interior, e não observável, da mente.
Essa corrente contrária as teorias que se preocupavam principalmente com a
consciência, da maneira como esta era estudada pelas outras escolas da época,
buscava compreender o homem segundo o seu comportamento, analisando-o por
suas ações dentro de um tempo e espaço, modificando inteiramente o objeto atual de
estudo da Psicologia. John Broadus Watson foi seu principal estudioso, instituindo o
termo Behaviorismo para denominar essa nova corrente teórica, originário do termo
inglês Behavior, que significa comportamento (BOCK;FURTADO;TEIXEIRA, 2002).
Por seu pensamento a Psicologia se fortalece enquanto ciência, pois com sua
metodologia ela rompe com seu status de uma ciência da alma, por objetos de estudos
imensuráveis e com poucos recursos para uma observação consistente
empiricamente. Dessa forma, Watson volta-se exclusivamente para o estudo do
comportamento objetivo, levando em conta certas variáveis do meio que
54
Bock, Furtando e Teixeira (2002), revelam que a partir dos estudos de métodos
experimentais aplicáveis, os behavioristas definiram o comportamento humano
segundo dois conceitos principais: o comportamento reflexo ou respondente, quando
reagimos de forma involuntária a um estímulo, e; o comportamento operante, quando
reagimos a um estímulo por meio da vontade consciente, compreendendo que toda
ação humana opera sobre o meio e influência ou é influenciado por ela.
Após Watson, o mais importante behaviorista foi Burrhus Frederich Skinner, e
sua linha de estudo ficou conhecida como Behaviorismo Radical. Enquanto a principal
preocupação de outros teóricos estava voltada para os métodos das ciências naturais,
a teoria de Skinner voltava-se para a explicação científica, definindo como prioridade
para a ciência do comportamento o desenvolvimento de termos e conceitos que
permitissem explicações verdadeiramente científicas (BOCK;FURTADO;TEIXEIRA,
2002).
O conceito do comportamento operante foi a principal linha teórica de Skinner,
desenvolvendo a partir dela diversos outros conceitos de aprendizagem que
abrangem todos os tipos de comportamento, podendo seu método ser aplicado em
qualquer atividade da área humana (BOCK;FURTADO;TEIXEIRA, 2002).
Conforme Carpigiani (2014), “para Skinner, o homem deveria ser entendido em
função e como consequência das influências ou forças existentes no meio”, tendo,
portanto, desenvolvido diversos conceitos relacionados ao ensino-aprendizagem que
permitissem técnicas apropriadas ao controle e preservação do comportamento
humano. Para tal, Skinner utilizou-se da Lei do Efeito (estímulo e resposta),
55
2.2.4.2 – Gestalt
De origem alemã, nasce uma nova teoria com os teóricos Max Wertheimer, Wolfgang
Kohler e Kurt Koffka, baseados em estudos psicofísicos, na busca de seus estudiosos
em construir uma teoria forte da psicologia que perdurasse suas bases teóricas, se
contrapondo à teoria do Behaviorismo americano (BOCK;FURTADO;TEIXEIRA,
2002).
56
Quando o indivíduo tem uma compreensão imediata da forma, esse evento para a
Gestalt é designado pelo termo insight (BOCK;FURTADO;TEIXEIRA, 2002).
Ao contrário da teoria behaviorista que isola seu objeto de estudo, para a
Gestalt ao estudar o comportamento humano de forma isolada sem considerar sua
história social e cultural, acaba-se perdendo o seu significado e possível controle das
variáveis, já que cada indivíduo percebe o meio por uma realidade diferente das
demais pessoas, devendo, portanto, estudar o comportamento de forma global,
levando em consideração as condições que alteram a percepção do estímulo
(BOCK;FURTADO;TEIXEIRA, 2002).
Os gestaltistas, segundo Bock, Furtado e Teixeira (2002), compreendem que o
comportamento humano é determinado pela percepção do estímulo, ficando
submetido a lei da boa-forma, sendo o campo psicológico do indivíduo entendido
como se fosse um imã que o conduz a procurar a boa-forma, denominando esse
conceito como força do campo psicológico.
Carpigiani (2014) confirma que na Psicologia da Gestalt, a organização
perceptual é a sua base de estudo para a compreensão do comportamento humano,
e a qualidade da percepção dependerá tanto de fatores internos quanto de fatores
externos, que se inter-relacionam na composição da subjetividade humana.
2.2.4.3 – Psicanálise
O termo Psicanálise é usado tanto para se referir a uma teoria, quanto a um método
de investigação ou a uma prática profissional. Sua teoria foi concebida no início do
século XX por Sigmund Freud, médico e estudioso de Viena, que compreende o
comportamento humano com base em sua vida psíquica, daquilo que está oculto e
não observável, mas que se manifesta no comportamento do sujeito em decorrência
aos traumas vividos durante a sua infância (BOCK;FURTADO;TEIXEIRA, 2002).
Segundo Carpigiani (2014), Freud possuía especialização em neurologia, e por
seus estudos realizados em sua prática clínica, percebeu pela análise de seus
pacientes que todos temos problemas mentais, construindo a partir desse fato a
pisque humana. Através da sintomatologia da histeria, Freud descobre que sua causa
está ligada com a sexualidade humana, e sua tese revoluciona a ciência na área da
saúde mental.
Grande parte de suas pesquisas estão baseadas em suas experiências
pessoais. Em sua trajetória profissional ele trabalhou com psiquiatras de renome,
como Jean Charcot e Josef Breuer. Ambos utilizavam o método da hipnose, sendo
59
Para os autores, na sua teoria a libido é fonte de energia sexual e essa energia
é construída pelo prazer da satisfação de realização dos desejos presentes no
indivíduo. Portanto, a sexualidade de Freud é a constituição de tudo aquilo que seja
prazeroso e proporcione satisfação ao inconsciente, sendo o objeto libidinal um objeto
que satisfaça esse prazer.
Em sua tese, conforme Bock, Furtado e Teixeira (2002), o ser humano passa
desde os primeiros anos de vida até a puberdade por um processo de
desenvolvimento psicossexual, ao qual “tem a função sexual ligada à sobrevivência e,
portanto, o prazer é ligado ao próprio corpo”. Com isso, Freud postula as cinco fases
do desenvolvimento psicossexual do ser humano:
Fase oral (0 a 1 ano e meio) - é considerada a erotização pela boca.
Fase anal (1 ano e meio a 3 anos) - a zona de erotização é o ânus.
Fase fálica (3 a 6 anos) - ocorre o descobrimento dos órgãos sexuais.
Período de latência (6 anos até a puberdade) – considerado como um intervalo
na evolução da sexualidade.
Fase genital (puberdade em diante) – quando a zona de erotização está fora
do corpo.
Por este olhar psicossocial, Lane (2006) alerta ser necessário apreender o
significado que contém esses elementos, para compreender a realidade interna do
homem, ou seja, a sua subjetividade, e consequente maneira de se relacionar
externamente no mundo. Elementos que são considerados como fenômenos sociais,
66
Por esta perspectiva, entendendo o homem como um ser social, pela Psicologia
Social é imprescindível abranger a historicidade do indivíduo, não sendo possível
compreender as emoções humanas de forma atemporal, como um ser estático,
tampouco por um único ângulo, sem considerar os elementos sociais implicados em
sua história (BOCK;FURTADO;TEIXEIRA, 2002).
Com isso, para a compreensão da totalidade humana é preciso conhecer os
aspectos individuais desses elementos sociais que fazem parte da constituição da
67
Por outra análise, Chauí (2000) faz uma distinção sobre o significado ambíguo
do conceito de cultura atualmente, em que é possível entende-la tanto como um
processo de transformação da natureza pela aquisição de novos costumes, quanto do
aperfeiçoamento educacional humano.
A autora esclarece que a palavra cultura vem do verbo cultivar, de origem latim,
e que a princípio estava ligado ao cuidado com o desenvolvimento do homem num
sentido amplo, da sua alma e essência. Era o cuidado que os mais velhos tinham com
o espírito da criança, para torna-los homens virtuosos moralmente, aperfeiçoando sua
natureza instintiva. Mais tarde, a partir do século XVIII, a cultura se ligou aos
resultados desses cuidados humanos, passando a compreender a formação do
homem em seus princípios educativos, nos diversos conhecimentos humanos da arte,
religião, filosofia e ciência, ligado mais especificamente ao entendimento do homem
eruditamente culto.
2.3.2.2 – A linguagem
69
Para Lane (1989), essa nova forma de sentir o mundo coloca o homem em um
outro universo, num mundo determinado socialmente por convenções, regras e leis,
um local onde o pensar e falar podem ser realizados separadamente do agir, conforme
os interesses do indivíduo. O homem materializa o seu pensamento na ação, e o
subjetivo se torna objetivo, subordinado à sua vontade e interesses.
Segundo a autora, ao atribuir significados diferentes a um mesmo objeto, o
homem descobre que pelas relações simbólicas pode discriminar o falar da ação e
direciona-los conforme sua vontade, pois “para o indivíduo as palavras terão um
sentido pessoal decorrente da relação entre pensamento e ação, mediadas pelos
outros significativos”.
Assim as palavras ganham força e peso, e seu valor torna-se variável, atribuído
conforme o sentido que se queira dar a ele. Com isso, nem sempre o que se pensa
72
ou diz condiz com a realidade concreta, mas com o que se deseja que ela seja. Por
poder ser utilizada de forma arbitrária, distinta do objeto a que se refere, a linguagem
pode se tornar um instrumento de dominação quando é usada de forma intencional,
manipulada ou deturpada em seu significado (LANE, 2006).
Por outro lado, o poder da linguagem explicita uma análise filosófica, pois a
força da linguagem é vista por Chauí (2000) como um instrumento de comunicação
para disseminar tanto o conhecimento como o desconhecimento, dependendo dos
significados atribuídos a ela. Com isso as palavras ganham poder conforme as
diversas situações em que são pronunciadas, ganhando valor por estes contextos
históricos, podendo estes conter significados mágicos, míticos, divinos, solenes e de
direitos indiscutíveis, segundo a situação ao qual estão designadas.
É por suas significações variadas que para muitas pessoas algumas palavras
se tornam tabus (como sexo ou diabo) ou leis divinas (como o “sim” em casamentos
religiosos), enquanto para outros elas nada significam, pois não conhecem ou
compreendem o valor atribuído a elas. Porém, dependendo da pessoa que a
pronuncia a palavra ganha sentido e força, conforme outorga concedida ao outro
(CHAUÍ, 2000).
Numa perspectiva social Lane (2006) salienta que nas sociedades mais
complexas, a linguagem serve como meio de alienação por aqueles que detém o
conhecimento e poder sob as demais pessoas, pois o uso do poder das palavras por
meio da sedução, criam condições para o homem usurpar o sentido particular dado a
elas. Retirando o seu valor singular, as palavras tornam-se soltas e moldáveis a outro
73
escolha por seus interesses, com isso torna-se apenas meio para conquista de
outrem, nunca de seus próprios ideais.
O autor informa que este modelo de grupo familiar centrado para fora de si,
prevaleceu até o período inicial da industrialização. Depois a família camponesa foi
cedendo seus costumes para um novo modelo de família, adequando-se com as
novas normas socioeconômicas do regime capitalista.
78
Por essa nova relação familiar Reis (1989), aponta que o homem passou a
possuir ascendência sob a mulher, já que o seu trabalho se tornou mais valorizado
por seu poder econômico, ficando a esposa e os demais membros do grupo familiar
dependentes emocional e financeiramente do marido. A mulher se desconecta dos
outros grupos sociais que lhe davam suporte nos modelos anteriores de família,
vendo-se na família burguesa “a mercê do marido”. Seu sucesso agora depende do
sucesso profissional do marido, e dessa forma passa a servi-lo e apoia-lo para o tornar
cada vez mais “livre e autônomo, segundo o ideal burguês”.
Com isso institui-se uma nova forma nas relações familiares regida pelo ideal
individualista das sociedades capitalistas. Pela ideologia dominante, através da
80
aliança do casamento com outros núcleos, diferente das formas pretéritas de união
conjugal pelos antigos modelos de família, as instituições familiares agregam mais
propriedades mantendo a hegemonia de poder na posse de seus bens. Também pela
autoridade do poder masculino sob a mulher, no modelo de família burguesa o pai é
visto como o soberano da família, e o primogênito seu sucessor. Em casos de família
extensa, os avós mantem o poder na ausência do pai, e a criança desde cedo aprende
em suas relações sociais a obedecer e respeitar dentro dessa autoridade vertical
(LANE, 2006).
A autora ressalta que dessa forma a sociedade passa a universalizar
comportamentos familiares construídos socialmente, ditos agora como naturais.
Institui-se as relações de monogamia, a mulher torna-se “rainha do lar” e o homem o
“chefe de família”, inculcando valores como fundamentais para se obter esta estrutura
social da família. É por esta lógica da ideologia dominante que a virgindade passa a
ser um bem sagrado para o casamento, pois através dela o homem garante a
legitimidade de seus filhos, perpetuando suas posses e propriedades privadas dentro
do núcleo familiar.
Chauí (2000) reforça que nas sociedades capitalistas a instituição familiar, além
de auxiliar na transmissão do capital pelos herdeiros, também produz alguns conceitos
considerados como crime ou antinatural pela concepção da ideologia dominante, os
quais são transmitidos e mantidos pelos grupos sociais.
A autora aponta como exemplo o adultério, considerado em nossa sociedade
um crime, por vezes não só pela perda da honra, porém, talvez mais ainda pela perca
da legalidade da procriação, e, consequente, capital. Também assinala que as
relações homoafetivas trazem ao imaginário social diversos preconceitos, sendo visto
por muitos como uma perversão ou doença.
81
(ECA), que garantam a sua prática, a qual na falta do grupo familiar a criança deverá
ser acolhida por uma “família substituta” ou em núcleos institucionais que cumpram a
sua função (BOCK;FURTADO;TEIXEIRA, 2002).
É desta forma que a instituição familiar atua como um processo de socialização
primária para o indivíduo, sendo o primeiro contato que a criança tem com um grupo
social, portanto, passível de se moldar e controlar segundo princípios ideológicos
sociais.
Lane (2006) analisa essa relação balizadora da família entre os outros grupos
sociais, como sendo uma generalização dos conceitos ideológicos que passivamente
internalizamos como naturais. São os hábitos e costumes aprendidos no grupo familiar
e, por estarem ligados aos princípios de sobrevivência, se tornam fortemente
vinculados ao indivíduo, reproduzido inconscientemente como um processo natural
por todos os âmbitos de sua vida, aos quais se desdobram em respostas categóricas
afirmativas do tipo: é assim que as coisas sempre foram e continuarão sendo.
É por este motivo que Lane (2006) afirma ser a família uma instituição
extremamente conservadora, pois tem por base princípios que foram definidos
secularmente como naturais, e não discriminados como historicamente construídos
para a produção de papeis nas relações sociais. Essa falta de discernimento impede
o homem de perceber qual ação seria melhor para as suas necessidades, ou qual
serviria apenas para a reprodução de seu papel social, levando-o por vezes a
alienação pelo jugo da ideologia dominante.
Ao mudar sua ideologia, passando para uma escola sem distinção de classes,
ocorre uma mudança e o ensino começa a ser direcionado para uma educação da
classe trabalhadora, voltada para o conhecimento mais técnico da mão de obra
industrial. Toda a dedicação e cuidado que havia no início dos educadores para obter
uma educação esmerada, privilegiando um ensino mais erudito que desperte a
reflexão maior sobre o conhecimento humano, se transformou em repasse de
informações para que os alunos obtenham melhor posição e desempenho no trabalho
(MOSÉ, 2013).
A escola adotou critérios aparentemente neutros na avaliação de desempenho
dos alunos, estimulando os mais aptos e reforçando as desvantagens dos menos
predispostos ou preparados para o processo de aprendizagem escolar, num sistema
de seletividade que contribuiu para as desigualdades educacionais, além de relacionar
o nível de escolaridade com o sucesso no trabalho profissional (GOUVEIA, 1993).
Com isso se enaltece a individualidade na educação, estimulando a
competividade e rivalidade entre seus alunos, colaborando com o lema das
sociedades capitalistas e difundir sua ideologia dominante. Na escola o que se
propaga não é a dominação pelo poder da autoridade, esta será apenas reforçada
pois já foi articulada no seio da família, e sim a reprodução nas relações sociais de
valores que defina qual é o melhor, o mais apto, para a manutenção e crescimento de
uma sociedade de produção-consumo (LANE, 2006).
Lane (2006) salienta que a instituição escolar serve como um canal mediador
das relações sociais entre o indivíduo e a sociedade, pois por meio da transmissão de
valores, culturas e conhecimentos, ela desempenha sua função de reprodução social
através de seu sistema educacional.
Ao estudar o sistema educacional, Aranha e Martins (1993) analisam os
conceitos ideológicos implícitos nos textos didáticos que são veiculados ao ensino da
primeira série, os quais estão carregados de representações normativas à valores
alienantes, com o intuito de adequar o comportamento do indivíduo conforme os
padrões vigentes da sociedade.
Segundo os autores são concepções universalistas que encobrem um discurso
idealizado de uma sociedade utópica. Por estes parâmetros cria-se uma realidade
distante da experiência concreta vivida pela criança, na qual essa lacuna formará uma
distorção na visão de mundo em sua fase adulta.
86
Bock, Furtado e Teixeira (2002), confirmam que desde seu sistema pedagógico
ao seu método de ensino, a instituição escolar se tornou um veículo formador de
padrões sociais, uma criação da sociedade para suas necessidades, distanciada da
realidade vivida por muitos de seus educandos.
Os autores salientam que muito desta incongruência é concebida por meio de
seu sistema ideológico que naturaliza a diversidade social, levando a ideia de que
somos todos iguais, portanto, o ensino poderá ser igual para todos. Com isso
compreende-se que o aluno que não aprendeu se deve exclusivamente à sua
responsabilidade, a sua falta de empenho e esforço em buscar aprender como o seu
colega de classe.
Lane (2006) adverte que essa tese do esforço individual estimula a
competividade e rivalidade, não só entre os alunos, como também entre os
professores que passa a selecionar os bons dos maus. A equipe escolar passa a
reconhecer e valorizar aqueles que se destacam por seu “esforço individual”, por
vezes sem levar em consideração os demais aspectos implicados no processo ensino-
aprendizagem.
Em uma crítica ao conservadorismo estéril da instituição escolar, Cortella
(2014) afirma que não existe uma norma didática para todos os alunos, e algumas
crianças fogem ás regras por diversos fatores alheios aos anseios do professor, que
seguem padrões de dominação e poder imposto pelo próprio sistema educacional-
pedagógico seletivo.
87
O autor revela que por entre essa gama de semelhanças e contrários o sujeito
vai construindo sua identidade. Entretanto antes de nascer já é dado ao indivíduo
características próprias, herdadas de seu grupo para a sua identificação como cidadão
de uma sociedade. Inicialmente informações gerais pertinentes ao grupo social que
lhe são atribuídas sem o questionar, como, por exemplo, a cultura; religião; orientação
sexual. Porém, conforme o seu desenvolvimento, essas características vão sendo
confirmadas ao longo do tempo, ou, modificadas, num processo de
identificação/rejeição com os outros indivíduos de seu grupo (CIAMPA, 1989).
A esse processo Bock, Furtado e Teixeira (2002) se referem a um estágio de
diferenciação entre o “eu” (sujeito) e o outro. É nesse intercâmbio que o indivíduo irá
se perceber como sujeito, uno e diferente das demais pessoas que o cerca, sendo,
portanto, imprescindível as relações sociais para a construção da sua identidade.
Por esta perspectiva, Ciampa (1989) afirma que “diferença e igualdade é uma
primeira noção de identidade”. São pelos relacionamentos, o contato com o outro, que
o indivíduo se descobre e descobre o mundo em que vive. E por este reconhecimento
o homem constrói sua identidade, o qual será fornecido primeiramente por sua
socialização primária.
Em nossa sociedade, segundo Bock, Furtado e Teixeira (2002), será no grupo
familiar que a criança irá se deparar com as primeiras diferenciações de si, através do
contato dos pais ou cuidadores. Um toque, um olhar, um cuidado com o “bebê que vai
dando a ele o seu valor como pessoa”. É por meio desse contato em suas primeiras
relações que a criança vai aprendendo a reconhecer suas necessidades físicas e
emocionais, e aquele que as supri terá um peso maior de referência para que ela o
siga como modelo de identificação.
Por isso, o espaço familiar é de suma importância para o crescimento da
criança, pois ele deve fornecer um espaço seguro para o descobrimento de sua
identidade, com medidas de continência para o seu desenvolvimento físico, psíquico
e emocional.
91
Isto porque, o que quero como mulher, por exemplo, tem como
referência várias mulheres que foram importantes para mim, ao
longo de minha vida: é um amálgama de características de
minha mãe, daquela professora tão especial, da heroína de um
romance e da mãe de uma amiga minha. Este é um modelo com
o qual me identifico e vou procurando construir minha identidade
(BOCK;FURTADO;TEIXEIRA, 2002, p.203).
Por este motivo Ciampa (1989) confirma que o homem constrói sua identidade
ao longo da vida, não sendo algo imutável e definido por um único momento, pois será
a multiplicidade de experiências e vivências acumuladas que darão subsidio para esse
processo que é contínuo, podendo ser confirmado, porém também negado, a todo
instante.
O autor alerta que uma pessoa mantém sua identidade quando esta é
reconhecida pelo grupo ao qual pertence ou se identifica. Com isso, essa identificação
terá validade mediante o reconhecimento de seu grupo, pois isso o iguala e confirma
seu pertencimento pelas mesmas características de seus membros. No entanto, a
falta deste reconhecimento determina ao indivíduo o contrário, que não faz parte do
grupo, já que suas características não se igualam aos demais.
Por isso Ciampa (1989) alega que este senso de pertencimento é que dá
sentindo ao homem, pois no mesmo tempo que o iguala também o nomeia, dando-lhe
substância, um ser próprio e individual. Sem este reconhecimento perde-se a
singularidade, por se perder as referências e o conteúdo que preenchiam a substância
contida na representação do nome dado.
Contudo, serão as ações do indivíduo que irão manter o reconhecimento de
sua identidade diante de seu grupo, e não apenas a nomeação de um ato. Uma
pessoa pode se tornar um advogado, porém será por suas atividades profissionais
que ele será reconhecido como tal, e não apenas por sua formação em Direito que lhe
conferiu essa identidade. Isso porque, caso não exerça a profissão de advogado terá
apenas o nome e não o conteúdo, impossibilitando que sua ação profissional seja
reforçada, o que provocaria a perda deste reconhecimento profissional (CIAMPA,
1989).
Para o autor será por meio “de comportamentos que reforcem sua conduta”
que se realiza esse processo de reconhecimento da identidade do sujeito. Sem esse
reconhecimento do grupo a identidade se torna rasa de conteúdo, sem reforçadores
que a sustentem e a torne válida. Dessa forma, o movimento incessante de suas
atividades de “agir, trabalhar, fazer, pensar, sentir, etc., já não mais substantivo, mas
verbo”, presentifica e constitui o homem enquanto ser, pertencente de uma identidade
que até mesmo o precede.
Nesse sentido Ciampa (1989) esclarece que, por vezes, o sujeito possui uma
identidade que lhe foi dada no desdobramento de suas ações, concedida sem que ele
próprio tenha intencionalmente a constituído. São os predicados da ação do sujeito
que propaga a sua identidade, isso porque “a não ser por gozação, você chamaria
“trabalhador” alguém que não trabalhasse?”
Por esta perspectiva Bock, Furtado e Teixeira (2002) compreendem a
identidade do sujeito como mutável, modificada por estes movimentos que são
variáveis, pois não dependem apenas do indivíduo, e sim da inconstância relacional a
qual tanto se influencia quanto se é influenciado pelo outro. É por este viés das
relações sociais que o indivíduo irá moldar a sua identidade social, confirmando a
93
Bock, Furtado e Teixeira (2002), observam esse dado ao confirmar que o senso
comum se aproxima da ciência por uma visão de mundo particular. Isso acontece
quando as pessoas se apropriam de termos científicos para denominar fatos ou
situações similares, sem se preocuparem com a explicação técnica e correta desses
conceitos. É por esse intermédio que o senso comum se apropria de termos dados
pela ciência através de um estudo rigoroso, passando a denomina-los rotineiramente.
Passa assim a circular indiscriminadamente por entre as pessoas, um conceito antes
técnico e científico na forma popular de denominações como neurótico, surtado,
bipolar, etc.
Essa forma de apreender um dado novo e representá-lo no cotidiano
genericamente, é denominado por Moscovici (2000) como um processo de
ancoragem. Por ser fundamental a familiarização das representações simbólicas para
o convívio social, esse mecanismo do senso comum analisa e classifica uma ideia
nova e a reconfigura por uma ideia familiar, catalogando-a dentro de modelos
existentes para que seja assimilada, e assim mantida nas rodas de conversas.
Segundo Moscovici (2000), quando uma palavra não possui uma imagem
atribuída para a sua representação ela é comparada por uma outra que possa dar-lhe
substância, tornando o abstrato em tangível por meio de símbolos que possam liga-lo
ao seu conteúdo. Por esse mecanismo uma palavra ganha sentido e se torna
concreta, sendo disseminada pelo senso comum até ser absorvido seu conhecimento
como algo real e familiar, passando do plano desconhecido para o comum e natural.
Contudo, o autor alerta ser necessária a familiarização do termo com crenças
e conceitos já preexistentes, para que possa ser possível sua ancoragem, como, por
exemplo, a figura de pai (conceito conhecido) com a figura de Deus (conceito novo).
Após esse processo de adequação, o novo vai ganhando espaço paulatinamente pela
remodelagem do velho.
Quando o conceito é aceito pelo senso comum, as palavras se descolam das
imagens primordiais e ficam soltas, podendo ser enquadradas na vida comum. É
dessa forma que palavras não convencionais depois de um tempo passam a ser
utilizadas de forma ordinária, para descrever situações ou fazer comparações com
outros termos similares, tornando-se até mesmo gírias ou ditos populares: “a luta é
grande, mas Deus é maior” (MOSCOVI, 2000).
Esse processo é denominado pelo autor de objetivação, quando o conceito
incorpora a realidade cotidiana do homem comum, fazendo sentido e integrando em
sua rotina. O que era estranho torna-se familiar, fazendo parte da vida do sujeito pela
apreensão de termos conciliáveis com a sua realidade.
passa a ter maior empoderamento na relação, perdendo seu papel de “rainha do lar”
e, por conseguinte, da identidade pertinente apenas ao privado nas relações sociais
(VAITSMAN, 1994).
A autora sinaliza que a liberdade de escolha levou ao declínio a antiga união
matrimonial mantida “até que a morte os separe”, por vezes, a custas de sacríficos.
Por essa nova dinâmica conjugal, ao escolher livremente por seus parceiros, o
casamento torna-se uma decisão apenas do casal, e não como antes, por escolha da
família. Assim, se a união não der certo a próxima escolha será a separação, não sem
antes gerar uma carga excessiva de culpa para encontrar o erro, ou, o responsável,
por este declive, que se tornou uma responsabilidade exclusivamente do casal.
Sem a submissão feminina os casamentos burgueses entraram em conflito, e,
com ele, os papeis e identidade de gêneros, antes bem marcados e definidos, se
desestabilizam.
Nas circunstâncias históricas atuais, a noção de eternidade das
relações e dos sentimentos foi abalada e isto manifesta-se no
fato de que lá onde o indivíduo encontrava maior estabilidade e
segurança, casamentos e famílias passaram a desfazer-se e
refazer-se continuamente. O tipo moderno de família e
casamento entrou em crise porque foram abalados seus
fundamentos: a divisão sexual do trabalho e a dicotomia entre
público e privado atribuída segundo o gênero [...]
Desempenhando múltiplos papeis na esfera pública e em sua
vida cotidiana, muitas mulheres deixaram de restringir suas
aspirações ao casamento e aos filhos. Desafiaram a dicotomia
entre público e privado, conquistaram direitos como cidadãs,
constituíram-se como indivíduos. O individualismo patriarcal foi
abalado e a igualdade entre homens e mulheres colocou-se
como possibilidade social (VAITSMAN, 1994, p.35-36).
Por este mesmo ideal de livre escolha propagado pela sociedade pós-moderna,
Cortella (2014) observa que as relações familiares se diluíram progressivamente,
advertindo que podem trazer sérias complicações ao psiquismo da nova geração. O
novo modo de convivência familiar alterou-se e as pessoas possuem maior liberdade
de ir e vir dentro do lar. Isso influenciou na apenas a maneira de pais e filhos se
relacionarem, mas modificou também até mesmo o espaço dentro de casa. Com a
frequente ausência dos pais pelo trabalho, a casa se tornou um espaço transitório, em
que a família circula entre os ambientes, sem se deterem para a conversação e troca
de ideias.
Não há tempo para encontros de conversa ou diálogos demorados. A sala,
antes um espaço social privilegiado da casa, passou a ser um espaço vazio,
105
Para Bauman (2009), a Era digital em que vivemos, estimulada pelo capitalismo
exacerbado, fomenta esse torvelinho na atualidade. Segundo o autor, a sociedade
atual se caracteriza pela rapidez das informações que chegam ao domínio público
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promovida pelo avanço tecnológico, e uma informação que é atual hoje, amanhã
poderá já estar ultrapassada, sem dar tempo ao indivíduo digerir a notícia para refletir
com calma e assertividade sobre uma tomada de decisão.
Esse mundo tecnológico e digital é visto por Cortella (2014), como um novo
paradigma que causa confusão na sociedade. Segundo o autor, a geração atual vive
num momento de muita informação e possibilidades, e a velocidade que ela chega
exige da sociedade cautela e discernimento para não cair na armadilha de acolherem
o novo não de forma veloz, mas apressadamente.
Dentro desse contexto, Bauman (2009) observa que a cultura incorporou uma
“síndrome consumista”, tornando-se o consumo um hábito comum a todos, que se
desdobram para conseguir manter o padrão cultural vigente. Contudo, essa nova
maneira de agir e pensar tem consequências psíquicas que não são apuradas por
uma análise superficial ao nível individual, porém, sentidas no âmbito social.
Nesse sentido, Vaitsman (1994) aponta que para alguns pensadores as
transformações da sociedade contemporânea reverteram-se em uma lógica cultural
do capitalismo, em que pela flexibilidade do giro do capital dá-se um novo sentido aos
valores culturais e morais, estimulando o comportamento do homem pós-moderno a
procura do novo, do volátil, do efêmero, em oposição aos rígidos e sólidos valores
morais da sociedade moderna.
sempre condizentes com o seu caráter, o “eu” de sua essência que se encontra nos
escaninhos inconscientes da psique.
No intuito de alcançar essa condição social, o sujeito cria máscaras para
desempenhar seu papel ideal diante da sociedade, ocultando-se por trás delas como
um ator que representa seu papel no teatro. Essa condição provém de um arquétipo
do inconsciente coletivo, denominado pelo autor como persona, justamente por ter
esse significado de atuação artística através de máscaras. Dessa forma, diante das
relações sociais será a persona do sujeito que estará atuando, mediando seus
conteúdos inconscientes e conscientes (JUNG, 2008).
Jung (2008) ao mencionar a influência do social nos processos psíquicos,
analisa que o ego se identifica com a persona, pois seus desejos se localizam no
consciente que perfazem as expectativas e atitudes concretas da realidade externa,
da vida social, da qual o arquétipo da persona molda suas imagens ideais. Dessa
forma, por vezes a persona se cristaliza em máscaras adaptadas em um certo
contexto social, para manter o ego seguro dentro da perspectiva limitada de sua
constituição, ocorrida em seu desenvolvimento psíquico e emocional durante sua
socialização.
Essa cristalização da persona pode levar muitos indivíduos a compensar a falta
de uma identidade sólida por um papel social que se identifique, vinculando-se
inflexivelmente as regras institucionais, como um abrigo seguro as fragilidades
psíquicas oriundas da sociedade líquido-moderna que incita o medo e a insegurança.
Como vimos, o homem para manter a sua condição humana necessita das relações
sociais, contudo, conforme Bauman (2005), quando o homem contemporâneo não
encontra um nível de qualidade segura para seus relacionamentos, assim como no
consumo líquido, ele passa a buscar nas relações líquidas apenas quantidades,
tentando com isso aplacar o problema da ambivalência gerado na sociedade pós-
moderna, ou, ao menos, conter a necessidade inerente do contato humano.
Bauman (2009) observa que contrariamente ao imediatismo vigente, as
relações afetivas precisam de tempo para se construir, para se formar laços afetivos
mais fortes que resistam aos desafios e percalços comum a qualquer convivência.
113
confere uma compensação em seu inconsciente individual, nem sempre benéfica para
o conjunto de sua psique.
Bauman (2005) acredita que os valores que nos ligava a antigas tradições
foram perdidos na onda consumista da cultura pós-moderna globalizada, sucateado e
descartado para abrir espaço a novos modelos e padrões de consumo. Isso levou o
indivíduo da sociedade líquido-moderna a reinventar novos papeis para suprimir os
antigos incompatíveis com a nova era.
Contudo, alguns hábitos culturais são tradições que deveriam ainda fazer parte
da sociedade pós-moderna, não por um costume incipiente, mas por seu valor aos
processos da psique que favorecem a integridade emocional e psíquica ao indivíduo.
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3. MÉTODO
Esta pesquisa trata-se de uma revisão bibliográfica acerca dos aspectos teóricos da
relação do homem com o trabalho. Tomando por base a Psicologia Social,
direcionamos esse estudo a partir dos conceitos de identidade social e representações
sociais, além da compreensão sobre a ideologia e do capitalismo que compõe a
subjetividade da sociedade ocidental, e remete o homem contemporâneo a
mecanismos psíquicos idiossincráticos para a formação de sua psique.
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4. DISCUSSÃO
O trabalho sempre foi uma atividade presente ao homem desde seu primitivismo.
Inicialmente por suas atividades físicas o trabalho se torna relevante à evolução
humana, não apenas biológica como, também, cognitiva e socialmente (ENGELS,
1999).
Essa percepção do trabalho sobre a condição humana nem sempre esteve
presente de forma clara para a humanidade. Em sua civilização o homem se deparou
com vários desafios e confrontos, tendo o trabalho acompanhado essa trajetória
justamente por sua condição inerente à humanização (ARANHA; MARTINS, 1993).
Esse fato se faz observável pela historicidade do trabalho humano, que por
suas atividades paralela a sobrevivência torna-se um dos veículos essências para a
manutenção da vida humana, de tal modo que as sociedades passam a se organizar
conforme suas formas de produção do trabalho (ARANHA; MARTINS, 1993).
Contudo, ao longo da história percebe-se como outros elementos foram sendo
incorporados ao sentido de trabalho, não mais apenas uma atividade inerente à
sobrevivência e desenvolvimento humano, como, também, uma ferramenta disponível
para controle, exploração e dominação de massa (ARANHA; MARTINS, 1993).
Ao conceito de trabalho são associados outros valores que irão fornecer meios
para uma pequena parcela da sociedade manter o seu domínio sob os demais. Dessa
forma, se utilizando da força de trabalho para manter o poder, foram se entrelaçando
a ele conceitos religiosos e morais no entendimento humano sobre a atividade laboral,
ganhando um sentido nocivo de dor, sacrifício e honra. Com isso, por meio dessa luta
de forças outros significados se associaram ao trabalho, como a exploração e o poder
(ARANHA; MARTINS, 1993).
Entretanto, foram pelas vias do trabalho que a humanidade progrediu e
avançou em todas as áreas das atividades humanas, principalmente social e
intelectualmente. É através das diversas formas de produção de trabalho que as
sociedades paulatinamente superaram obstáculos e venceram desafios. Mesmo que
a grande população não tenha clara noção de sua importância dentro desse contexto,
isso somente foi possível pelo desempenho e esforço desta massa em suas atividades
de trabalho, fazendo girar a roda do capital em seus diversos setores econômicos dos
países.
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Quando moro numa casa que eu sei que vai desabar sobre a
minha cabeça nos próximos dez dias, todas as minhas funções
vitais são afetadas por estes pensamentos; mas se me sinto
seguro, posso viver nela de maneira normal e confortável
(JUNG, 2000, p.168).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho possui um significado forte para a vida do ser humano, pois através da
atividade profissional o homem passa a ser economicamente independente, tendo
subsídios para se desenvolver e prosseguir com sua vida. Esse valor atribuído ao
trabalho possui um significado maior que o seu valor econômico, pois a independência
concedida pelo trabalho confere ao homem também poder de ação, dando-lhe
empoderamento sobre a sua vida para agir conforme as suas necessidades.
Porém, nas sociedades capitalistas o valor do trabalho se restringe apenas ao
seu valor econômico, sobressaindo-se acima dos outros valores advindos do trabalho
que influenciam sobremaneira seu mundo íntimo. Cresce o consumo junto com o
trabalho ao lado de mecanismos sociais e políticos que empobrecem o poder de
criticidade e escolha do homem, passando a pensar de forma alienada sem se dar
conta do engessamento social que o cativa.
As ideologias a que é exposto desde seu nascimento o prende numa rede de
pré-conceitos idealizados que subvertem os valores essenciais para o seu
desenvolvimento psíquico-emocional. Por vezes, a realidade passa a conviver em
segundo plano, encoberta pelas inúmeras informações apreendidas subjetivamente
em sua socialização que reforçam um sistema de controle social mantido pelo
alheamento de seu comportamento.
Com isso, atrelado a essa rede distorcida do conceito de trabalho, percebe-se
o quanto é difícil para o homem compreender a função primordial dessa atividade
essencial ao seu desenvolvimento, principalmente nos tempos atuais em que o
consumo desenfreado do capitalismo acirra a rivalidade e exacerba o individualismo,
ao contrário de promover a cooperação entre os indivíduos que o levaria a desenvolver
processos externos menos incisivo ao seu mundo interno, pois ao cooperar com
outros isso poderia se reverter numa reflexão e discussão das necessidades coletivas,
levando o sujeito a um entendimento mais próximo de sua realidade externa e interna.
Há ainda que se pensar nos estímulos hedonistas que a sociedade de consumo
produz, no qual muitos se frustram em não encontrar no exterior as respostas que
deveriam ser procuradas em seu íntimo. Nota-se com isso um aumento homérico de
pessoas insatisfeitas, sensíveis e irritadas com o meio, buscando cada vez mais o
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isolamento no menor esforço de suas ações, evitando assim o contato com essa
realidade imperfeita e frustrante.
Centrado no individualismo o homem se engessa em seus papeis sociais,
alheio aos mecanismos psíquicos tão caros para a sua vida emocional, que o
condiciona ou o impulsiona a atitudes irrefletidas. Essa cristalização de papeis fica
mais acentuada nos tempos atuais, em que vivemos numa sociedade que
supervaloriza o consumo de produtos prontos e perfeitos, sendo cada vez melhor o
próximo do que o anterior, sem dar chance de apreciarmos ou corrigirmos seu
antecessor.
Por esses fenômenos é possível pensar na correlação com a forma do homem
manter-se passivo diante de muitas dominações do sistema social, submetido e
dominado por ditames e regras sociais sem vontade de romper com essa rede que o
engessa, pois para sair desse entrelaçamento é necessário resistência para lutar
contra o domínio de suas fraquezas, virtudes que na atualidade não são promovidas
ou enaltecidas pelos interesses da sociedade de consumo.
Assim, o antigo torna-se rapidamente velho, inútil e descartável. As identidades
que eram certas e seguras na modernidade, passam a ser incertas, necessitando
serem recicladas ou repostas por novas e mais dinâmicas. Isso também produz no
indivíduo um senso de insegurança pelo temor de não se encaixar em um novo papel
social, e, com isso, também ser excluído e descartado como os produtos que
consome.
A certeza da qual muitos foram educados antigamente, como, por exemplo, de
que a identidade profissional provinha da durabilidade do cargo e do tempo de serviço,
hoje são quimeras, mal vistas pelo mundo corporativo que apostam no acumulo de
conhecimento rápido e na instantaneidade da adaptação de várias funções.
Essa contradição vivida pode gerar conflitos e angústias em muitos
trabalhadores, que ao preferir uma colocação formal de trabalho, talvez, garantam
uma estabilidade não só profissional, mas também psíquica, já que por meio deste
papel social é possível ao indivíduo manter-se seguro com sua persona, identificado
com seu ego e submetido ao social em benefício da inclusão que esta identificação
aparentemente garante com o seu grupo. Ao contrário de um trabalho informal que os
colocaria na margem não apenas social, mas, talvez, também de sua psique ao
aproxima-lo mais do inconsciente coletivo, descompensado pelo consciente com a
134
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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