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ANÁLISE DO FILME “NÃO SOU EU, EU JURO!

A partir do filme, pretende-se conceituar e descrever, com base na luz de


teorias psicanalíticas, a personalidade e os comportamentos de Leon, protagonista e
narrador da história. Evidenciando a estrutura psíquica e observando os aspectos da
conduta de Leon e suas relações, questiona-se a possibilidade de uma estrutura
psicótica, conhecida como uma dissolução do Eu, conforme foi proposto por Lacan.
Observe-se durante a trajetória da narrativa do filme, uma serie de disfunções
relacionais no circuito familiar exposto, o que deriva de inúmeras questões
subjacentes à perspectiva matrimonial do casal, mais sendo direcionada e pautada a
partir das tentativas de suicídio do personagem Léon Doré e de como a Mãe,
Madeleine Doré, conduz e cuida desse acontecimento.
Quando questionada pelo Marido, Philippe Doré, sobre a situação do filho, a
mãe acaba por mentir e resguarda para si a problemática, o que já demonstra nesta
cena uma comunicação familiar turvada e sem nenhuma abertura para um cuidado
mutuo, já que:

Na realidade, a função materna é fundamental no desenvolvimento


saudável da criança; é uma tarefa difícil que exige amor, respeito e
companheirismo das pessoas que a cercam e que compõem este
grupo chamado família. O novo ser que nasce nesse ambiente
necessita de condições básicas para ter um bom desenvolvimento e
conseguir saúde. (MACEDO, COSTA, p. 47 2009)

Sobre a Privação da mãe, questiona-se sobre a relação entre a mãe e Leon,


durante o seu primeiro ano de vida. Leon mesmo aos dez anos apresentava-se em
busca do olhar da mãe ou até mesmo de seu toque. O que põe em questão a
relação da mãe com o filho desde seu nascimento.
Assim sendo, considera-se a possibilidade de ocorrência de uma Privação
parcial, enquanto bebê. Por mais que a mãe estivesse presente fisicamente, ela
estava em sofrimento psíquico podendo não corresponder às expectativas de Leon
sobre ela. Conforme aponta Bolwby (1990), a privação da mãe e compromete a
qualidade dos cuidados parentais no primeiro ano de vida e seus efeitos à formação
da personalidade.
E com o desenvolver do longa, podemos observar o comportamento
inadequado e incorreto de Madeleine sobre a conduta de Leon, já que, ao defendê-
lo de sua vizinha de um ato que ele realmente havia cometido, trás a legitimidade,
ao ensiná-lo como proceder quando descoberto em atos incoerentes, e
consequentemente proporciona a formação da personalidade de forma conturbada,
deixando claro que ela é uma mãe insuficientemente boa, pois:
[...] a saúde mental é algo que só existe como fruição de um
desenvolvimento anterior. A saúde mental de cada criança é
estabelecida pela mãe durante a preocupação com o cuidado de seu
bebê. [...] A saúde mental, portanto, é um produto do cuidado
contínuo que torna possível uma continuidade do crescimento
emocional pessoal (WINNICOTT, 2000, p. 376).

A teoria de apego de Bowlby (1990), na qual ele considera que a relação


precoce entre cuidador e bebê será a base para as relações futuras, sendo o apego
não inerente nem ao cuidador, e nem ao bebê, mas uma construção de interação de
ambos, logo para se formar é necessário que esse cuidador no caso mãe, disponha
da vontade de cuidar, e atender as solicitações do bebê; sendo este predisposto a
reconhecer seu cuidador (mãe) como um protetor, um porto seguro.
A manifest
ação atual dos sintomas, por Leon, pode estar relacionada à relação mãe-
bebê, sendo que as experiências vivenciadas entre mãe-bebê serão o alicerce das
características emocionais do adulto, todas as memórias vivenciadas e gravadas,
tornam-se registros para a forma como o sujeito agirá, e se relacionará no futuro.
A privação parcial, segundo a Teoria do apego (BOWLBY, 1990) consiste na
pouca satisfação da mãe às necessidades da criança, podendo ocasionar na criança
angustia, exagerada necessidade de amor, fortes sentimentos de vingança,
consequentemente culpa e depressão.
Este aspecto se confirma nas ações de Leon, que rouba, danifica e invade a
casa de vizinhos, os quais o provocaram em relação às ações de sua mãe
(vingança). E em seguida, ao observar a bagunça, ele manifesta o sentimento de
culpa e passa a querer consertar os danos causados. Ou quando ele se vê a não
fazer algo errado diante de um crucifixo.
E ainda, questiono se o sentimento de culpa de Leon não estaria presente
também nas suas ações autodestrutivas, como, tentativas de suicídio, em que se
culpa não somente pelos seus atos, mas pela separação dos pais e a partida de sua
mãe, que por mais que ele tentasse cessar as brigas, colocando fogo na casa, ele
não foi “capaz” de impedir a separação dos pais.
Conforme a teoria winnicottiana, por exemplo, é apenas por meio da presença
da mãe continente e flexível que a criança pode iniciar um processo de
desenvolvimento saudável. Essa concepção ilustra a relevância do papel materno no
desenvolvimento saudável do bebê. Para esse autor, quando esse cuidado
apresenta falhas que estabeleçam carências que não são corrigidas, o bebê poderá
ter um comprometimento na constituição de sua subjetividade graças a essa
deficiente relação materna. (BORSA, NUNES, 2011, P. 33)
Sendo que com a saída da Madeleine da casa, mudando-se para a Grécia e
deixando os filhos sobre os cuidados do pai, elencando um estado sintomático da
angustia dos filhos, que confusos, por desconhecer o novo endereço da mãe e se a
veria novamente, resulta em um sentimento de abandono. Conforme a teoria
winnicottiana:
[...] é apenas por meio da presença da mãe continente e flexível que
a criança pode iniciar um processo de desenvolvimento saudável.
Essa concepção ilustra a relevância do papel materno no
desenvolvimento saudável do bebê. Para esse autor, quando esse
cuidado apresenta falhas que estabeleçam carências que não são
corrigidas, o bebê poderá ter um comprometimento na constituição
de sua subjetividade graças a essa deficiente relação materna.
(BORSA, NUNES, 2011, P. 33)

Por outro lado, a agressividade de Leon pode ser uma forma de buscar por
visibilidade. A mãe, agora longe, poderia vir até ele caso algo acontecesse, mas
infelizmente isso não acontece. Inclusive ele questiona o pai se ela sabe de quando
ele se machucou e porque não veio vê-lo.
Considera-se sobre a segurança do apego na primeira infância, sendo esta a
base para os aspectos de desenvolvimento emocional e social no futuro. Acredita-se
que no caso de Leon, tenha ocorrido um apego inseguro, o que fortaleceu os
resultados negativos em seu desenvolvimento.
Sendo ainda que ao se separar da mãe, aos dez anos, Leon acreditava que a
mãe iria voltar, contando os dias com pedrinha, ou ainda na facilidade que ele teria
em ir até ela em outro país, quando planeja fugir com Lea.
Além da importância da mãe, Winnicott identifica o ambiente em que a
criança cresce como sendo fator importante para esse desenvolvimento, atribuindo
aos pais, a responsabilidade por esse ambiente, mantendo-o harmonioso e seguro
para a criança. (WINNICOTT,1983, p 4-19).
A convivência familiar conflituosa, e a família dispõe-se de uma estrutura
disfuncional, incluindo a situação de violência intrafamiliar e alcoolismo. O que pode
infuenciar no desenvolvimento dos filhos, conforme Winnicott (1971, p. 95), aponta:
[...] um bebê privado de algumas coisas correntes, mas necessárias,
como um contato afetivo, está votado, até certo ponto, a
perturbações no seu desenvolvimento emocional que se revelarão
através de dificuldades pessoais, à medida que crescer.

Cabe ressaltar também o complexo de Édipo conceito introduzido por Freud.


No caso de Léon percebemos como ele é afetado pela ação de sua mãe,
principalmente quanto à possessividade. Quando o próprio Édipo é mal resolvido,
tendências psicóticas, agressivas e até mesmo suicidas se evidenciam. É possível
notar as limitações dessa paixão materna, na medida em que desenvolvem em Léon
certas atitudes, como a angústia sentida após o vandalismo e até mesmo o
despertar de um amor, por Léa.
O que me leva a indagar sobre o sentimento por Lea não ser uma
transferência do sentimento que Leon sentia pela mãe, ou seja, a partir da saída da
mãe, Leon substitui a presença materna por Lea, por quem ele desenvolve tamanha
afeição. Inclusive as curiosidades sexuais de Lea, pelas quais ele em uma cena
pede que ela retire “suas roupas de baixo” de modo que ao abaixar, a menina,
expõe sem perceber seu órgão genital.
Apesar do Édipo mal sucedido, no caso de León também existe a formação
da tríade edípica formada, Léon vê na figura do pai um ideal a ser seguido, no
entanto o pai não representa um modelo a ser seguido para se conquistar a mãe,
uma vez que Madeleine não demonstra admiração pelo marido e vivem em um
casamento instável.
O pai assume um papel secundário o que se evidencia na relação de Leon
com a mãe, como por exemplo, os dois dormirem juntos. Leon acaba assumindo a
posição de objeto de desejo da mãe. A representação mental da mãe é uma
representação fundida, em que a mãe como objeto de desejo é o próprio filho.
Posteriormente, com as exigências do processo de separação-individuação
Leon vê-se completamente desorganizado, reorganizando-se em um estado
psicótico. Após a saída da mãe o pai procura desenvolver sua função paterna até
então não exercida, o que ocasiona o pai tornar-se alvo também das mentiras de
Leon.
A psicose na criança pode aparecer de três formas segundo Volnovich (1993,
p.92) sendo a forma que mais se assemelha de Leon possivelmente seja a seguinte:
No relacionamento imaginário com a mãe, onde esta priva a criança
da função paterna, que, como significante da falta, permite que a
criança supere a alienação no desejo materno, estruturando seu
narcisismo em função de uma ausência e não de um excesso.

Leon, aparentemente não reconhece a castração e não introjeta o superego.


Por mais que impere o sentimento de culpa em Leon, ele tem uma dificuldade em
lidar com a realidade. Por exemplo, a saída da mãe, acabou sendo uma castração
forçada a qual ele não estava preparado, reagindo com agressividade, inclusive
culpando-se.
Discute-se que a mãe do psicótico entende-se como incapaz de transmitir a
lei que rege a cultura que eles se encontram, pois lhe falta a percepção desse meio.
Como no reforço da mãe nas mentiras de Leon. Para Aulagnier (1990), essas
mulheres são diferentes da mãe fálica, potencializando uma aliança com o filho cujo
destino psíquico será o da potencialidade polimorfa.
No caso de Léon, ele se vê preso a culpas e medos, a tudo que é relacionado
à mãe, desde as mentiras até os desejos para uma realização de vida. E quando a
mãe não corresponde a sua expectativa ele sente-se abandonado, culpando-se por
não ter sido bom o suficiente a ponto de ela ficar, temendo a perda do amor que a
mãe sentia por ele, o que gera uma atmosfera muito mais psicótica na mente de
Leon. Assim é possível explicitar que o psicótico encara o conjunto Eu-corpo-outro
como um só, sem estar restringido a limites, buscando uma própria concepção
ajustada diretamente com o outro, nesse caso, sua mãe.
Ao assumir-se como inexistente, buscando concretizar isto em determinadas
tentativas de suicídio, Leon assume a culpa que acredita ter da separação dos pais
e ainda da infelicidade do irmão que não “possui um família normal”.
Sobre o papel da frustração no desenvolvimento da Criança Spitz (1996, p.
108) aponta que:
Prazer de desprazer têm um papel igualmente importante na
formação do sistema psíquico e da personalidade. Coibir qualquer
um dos afetos é transtornar o equilíbrio do desenvolvimento. É por
isso que criar os filhos de acordo com uma doutrina de
permissividade indiscriminada leva a resultados deploráveis. [...] A
frustração está incorporada no desenvolvimento.
Nesse sentido, nota-se a necessidade da frustração para o desenvolvimento,
questionando-se a falta dela para Leon. Uma vez que a dificuldade da mãe em impor
limites e o papel de secundário assumido pelo pai, impediram a frustração de fato.
Que só pôde ocorrer após a separação do casal, quando Leon não estava
capacitado para introjetá-la.
A dificuldade de Leon em lidar com a frustração estava nas vivências
familiares que teve, quer seja por uma possível permissividade ou por um
distanciamento da mãe não correspondendo às expectativas do filho, uma vez que
essa correspondia as expectativas do filho de relação objetal.
A principal forma de León se livrar da culpa então, é mentindo, negando seus
comportamentos negativos. Para Freud (2006), a mentira é uma representação do
discurso do inconsciente, clivado de simbologia. Leon, busca pela mentira recriar a
situação em que agiu mal, de forma que essa não lhe traga punições. Até porque é
normal a repreensão dos pais diante da mentira, diferente de Leon que sua mãe
reforça o comportamento: “é melhor não mentir, mas é pior mentir mal”.
Quando Leon vê-se censurado por essa prática, após a saída da mãe e a
descoberta do pai de suas mentiras e dissimulações sobre o uso de óculos e outros
acontecimentos como o vandalismo na casa dos vizinhos, sente-se culpado.
Dessa forma, observa-se que o garoto se apega às próprias mentiras e fica
cada vez mais apto a estruturá-las, uma vez que estas estão postas a ele como sua
própria realidade.
Questionei-me várias vezes sobre a possibilidade de uma estrutura perversa
em Leon. Em vista da agressividade, mentiras elaboradas com facilidade e furtos
que ele apresenta ao longo do filme. No entanto, conforme salienta Volnovich (1993,
p. 131) a criança psicótica apresenta muitas vezes condutas bizarras,
extemporâneas, inclusive antissociais. [...] a conduta não aparece como resultado de
um ordenamento natural nem como evolução da instância egoica, mas
essencialmente, como ato no lugar de uma palavra não dita.
A saída da mãe é marcada por um contexto de situações não explicadas,
Leon não sabe os reais motivos da ida da mãe à Grécia, entrando em contato com o
“não dito”, tanto sobre o porquê de a mãe ter ido embora quanto do porquê de não
poder manter contato, entre os outros conflitos familiares e questionamentos da mãe
vivenciados até então.
Ao entrar em contato com Melanie Klein, tem-se a angustia de perder e a
angustia de ser percebido, angustias vivenciadas claramente por Leon. Sendo que
Klein aponta a posição esquizo–paranóide e posição depressiva. Estes são períodos
normais do desenvolvimento vivenciados por todas as crianças, devido às suas
necessidades.
O bebê nasce imerso na posição esquizo–paranóide, cujas principais
características são: a fragmentação do ego; a divisão do objeto externo (a mãe),
sendo mais concreta, de seu seio, já que este é o primeiro órgão com o qual a
criança estabelece contato. Podendo ser bom quando gratifica infinitamente ou mau
enquanto apenas causa frustrações.
A partir da elaboração e superação destes sentimentos provocados pela
relação com o objeto (mãe e seio) surge a posição depressiva. Nesta acontecem: a
integração do ego e do objeto externo (mãe/ seio), sentimentos afetivos e defesas
relativas à possível perda do objeto em decorrência dos ataques realizados na
posição anterior.
Estas posições continuam presentes pelo resto da vida, no entanto na psicose
sabe-se que a posição esquizo-paranoide predomine em detrimento da posição
depressiva. O que nota-se em:
Klein (1975), ao também dissertar sobre a personalidade, mas dessa
vez vinculada à agressividade, refere que à medida que o bebê se
desenvolve, ele consegue organizar suas emoções e percepções,
separando os objetos bons dos maus, por meio dos processos de
divisão, projeção e introjeção, em que ele se sente confrontado
comum “objeto ideal” que ele ama, tenta adquirir e preservar,
buscando identificar-se com ele e, com um “objeto mau”, o qual ele
percebe como uma ameaça a si, bem como em relação ao objeto
ideal, em que ele passa a projetar seus impulsos agressivos.
Podemos observar que nos vários momentos que León tenta o suicídio,
ocorrem quando seus objetivos não são alcançados, sendo eles atos infratores e
condutas incoerentes, e devido ao medo da punição o faz tomar medidas
autodestrutivas, sendo essa mais uma forma de manipulação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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