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Uma Revisão dos Argumentos Keynesianos sobre os Determinantes do

Equilíbrio de Longo Prazo com Desemprego Involuntário.

Fabrício J. Missio*
José Luís Oreiro**

Resumo: Após a publicação da Teoria Geral, do Emprego do Juro e da Moeda (TG), estabeleceu-se um
intenso debate na literatura econômica sobre a principal proposição de que o equilíbrio de longo-prazo
das economias capitalistas se caracteriza pela existência de desemprego involuntário da força de trabalho.
A visão consensual que emergiu desse debate - conhecida como síntese neoclássica - acabou por
determinar o triunfo da teoria clássica, ou seja, a visão segundo a qual o equilíbrio de longo-prazo das
economias capitalistas se carateriza pelo pleno-emprego da força de trabalho. A TG foi vista como um
caso particular da teoria classica, um caso no qual o desemprego involuntário emerge como resultado da
rigidez de preços e salários nominais. Nesse sentido, o objetivo do presente trabalho é retomar os
argumentos da TG buscando mostrar que a interpretação convencional da TG, ao fazer uma interpretação
equivocada da referida obra, obscurece as contribuições e interpretações inovadoras contidas nela e que,
do ponto de vista desta, o equilíbrio com sub-utilização da capacidade não depende da existência de
qualquer tipo de rigidez.
Palavras-chave: Convergência, Flexibilidade e Desemprego Involuntário.

Abstract: After the publication of The General Theory of Employment, Interest and Money (hereafter,
GT), an intense debate about its main preposition – that the long-run equilibrium of the economy is a
position of involuntary unemployment – was established. The consensus view that emerged from it,
known as neoclassical synthesis, established the triumph of the classical theory, according to which the
long-run equilibrium of the economic system is characterized by full-employment of the labor force.
According to the neoclassical synthesis, GT was a special case of the classical theory, the one where
nominal wages and/or nominal prices are rigid. The objective of the present paper is to restate the original
arguments of the GT in order to show that the conventional interpretation went wrong and that there is
enough elements if GT to show that a long-run equilibrium with involuntary unemployment may exist
even if nominal wages and prices are flexible.
Key Words: Convergence, Flexibility, Involuntary Employment,

Área ANPEC: Escolas pensamento econômico, metodologia e Economia Política.

JEL Classification: B13, B30, C61, C63.

*
Professor do Curso de Economia da UEMS, Doutorando em Economia pelo CEDEPLAR e Bolsista Fundect. E-mail:
fabriciomissio@gmail.com.
**
Doutor em Economia (IE/UFRJ), Professor do Departamento de Economia da UnB e Pesquisador do CNPq. E-mail:
joreiro@ufpr.br. Página Pessoal: www.joseluisoreiro.ecn.br.
1 Introdução
Após a publicação da Teoria Geral, do Emprego do Juro e da Moeda - doravante TG - houve um
intenso debate sobre as (novas) preposições teóricas e de política econômica que estavam sendo
defendidas nesta obra, em especial, aquela que identificava como característica natural de uma economia
de mercado operar, no longo prazo, com sub-utilização da capacidade produtiva. Neste caso, justifica-se a
intervenção governamental através do uso da política fiscal e monetária a fim de estimular o produto e o
emprego desta economia.
A questão central, contudo, está na identificação de que uma economia de mercado não possui
mecanismos endógenos capazes de garantir que no longo prazo ela opere sobre um equilíbrio em que a
plena capacidade produtiva dos recursos disponíveis esta sendo utilizada, como defendia o pensamento
clássico convencional até então. Ou seja, na TG Keynes defendeu que este equilíbrio era apenas “um”
entre os “n” casos possíveis sendo, portanto, o equilíbrio com pleno emprego um caso particular de uma
teoria mais geral, qual seja, aquela que defendia que é característica natural (de longo prazo) de uma
economia permanecer com sub-utilização desses recursos.
O pensamento convencional, no entanto, não aceitou as conclusões da macroeconomia Keynesiana.
Como tentaram mostrar uma série de autores (Hicks-1939; Modigliani - 1944; Patinkin – 1948, 1956;
Tobin - 1969; entre outros), no que mais tarde seria chamado de síntese neoclássica, as proposições da
economia – no que tange a determinação do nível da capacidade produtiva a ser empregada - ainda
poderiam ser descritas pelo pensamento econômico clássico, em que, segundo estes, garantido as
condições normais (leia-se, a flexibilidade de preços e salários) a economia tenderia a sua posição de
equilíbrio com pleno emprego.
Tendo em vista a evolução deste debate, o objetivo do presente artigo é retomar os argumentos de
Keynes em relação aos determinantes da posição de equilíbrio da economia, buscando revisar e mostrar
que a interpretação convencional da Teoria Geral, que se consolidou na literatura através da síntese
neoclássica, ao fazer uma interpretação equivocada da referida obra, obscurece as contribuições e
interpretações inovadoras contidas nela e que, do ponto de vista desta, o equilíbrio com sub-utilização da
capacidade não depende da existência de qualquer tipo de rigidez. Nesse sentido, apesar deste debate já
ter se estendido na literatura, o trabalho busca sintetizar os argumentos e estabelecer uma linha de
raciocínio, a partir da Teoria Geral e de algumas contribuições de autores Pós-Keynesianos, que esclarece
a linha de argumentação que foi defendida na obra em questão.
Cabe ressaltar que para atender esse objetivo, o trabalho primeiramente demonstra que o
desemprego involuntário é característica de uma economia capitalista a luz dos argumentos expostos na
TG para, posteriormente, a partir do arcabouço neoclássico, em que se integra o pensamento de Keynes a
essa estrutura analítica, demonstrar que a posição de equilíbrio com desemprego involuntário existe, é
estável e não depende da hipótese de rigidez nominal ou de imperfeições de mercado. Neste caso, embora
já existam trabalhos que de outras maneiras já comprovam a existência desse equilíbrio, como aqueles
elaborados a partir da teoria de escolha dos ativos ou aqueles que incorporam na análise as características
especificas da moeda – como elasticidade de produção nula -, o modelo a ser formalizado não incorpora
nenhum tipo de hipótese “nova” a aquelas utilizadas pela síntese; ou seja, o resultado do modelo é obtido
a partir da construção do mesmo sob as hipóteses definidas e utilizadas pela síntese neoclássica.
A fim de atender os objetivos o trabalho encontra-se dividido em quatro seções, além desta
introdução e das considerações finais. A seção 2 apresenta o conceito de demanda efetiva proposto no
capítulo 3 da TG onde, a partir de sua formalização, demonstra-se os argumentos keynesianos que
fundamentam a existência de um equilíbrio com desemprego involuntário na referida teoria; a terceira
seção sintetiza os argumentos propostos no capítulo 2 da TG e busca integrá-los com o princípio da
demanda efetiva, com o intuito de mostrar que os ajustamentos no mercado de trabalho são endógenos, ou
seja, dependentes do nível de produção. A quarta seção apresenta uma discussão sobre o processo de
formação de expectativas e de determinação do equilíbrio, destacando os distintos métodos de análise (e
os distintos conceitos de equilíbrio) utilizados por Keynes na TG, segundo a interpretação de alguns
autores pós keynesianos; e, quinta seção apresenta um modelo matemático onde demonstra-se a
existência e a estabilidade do ponto de equilíbrio com desemprego involuntário, sem recorrer a hipótese
da existência de qualquer imperfeições de mercado.

1
2 O Princípio da Demanda Efetiva em Keynes
Para entender a teoria da produção e do emprego na análise keynesiana deve-se começar pela
análise do mercado de trabalho, mais especificamente, pelas críticas feitas ao pressuposto clássico de que
a oferta de trabalho estaria associada ao nível do salário real. Assim, nega-se a condição de equilíbrio
proposta pelos clássicos de que o salário real deve ser igual à desutilidade marginal do trabalho, uma vez
que nada garante que essa condição seja válida.
Mais especificamente, Keynes ao identificar a economia capitalista como uma economia
essencialmente monetária, mostra que os contratos existentes e firmados nessa economia são fixados em
termos nominais o que estabelece que o salário também será estabelecido em termos nominais. Contudo,
deve-se considerar que os preços não são estabelecidos na barganha salarial, o que impede os
trabalhadores decidirem os níveis de salário real e emprego, uma vez que, a um dado nível de salário
nominal, corresponderiam diversos níveis de salário real. Desse modo, várias funções de oferta estariam
associadas a um determinado nível de salário nominal, mostrando que, na falta de uma unicidade de
equilíbrio, ele não pode ser determinado. Essa é a principal crítica que destrói o mercado de trabalho
clássico.
A “nova” teoria do emprego, elaborada por Keynes, passa a ser apresentada e determinada,
necessariamente, pelo princípio da demanda efetiva. Este, por sua vez, é definido pelo ponto onde a
procura global é igual à oferta global. Mais especificamente, seguindo a metodologia proposta pelo autor
no capítulo 3 da TG, onde são definidos a função de oferta global Z (onde Z é o preço de oferta agregada
que resulta do emprego de N trabalhadores) e a função de procura global D (onde D é o montante que
os empresários esperam receber ao empregar N trabalhadores), tem-se que, toda vez que D for maior
que Z , haverá estímulo para aumentar o emprego acima de N e, em caso contrário, para reduzi-lo.
Portanto, segundo o autor “o volume de emprego fica determinado pelo ponto de interseção da
função de procura global e da função de oferta global, pois é neste ponto que as previsões de lucro dos
empresários serão maximizadas” (Keynes, 1982, p. 38). Esse ponto, por sua vez, passa a depender dos
fatores que determinam as funções Z e D , que são: a eficiência marginal do capital, a propensão a
consumir e a preferência pela liquidez.
2.1 A Formalização do Princípio da Demanda Efetiva e a Determinação do Ponto de Lucro Máximo
Em termos macroeconômicos, o princípio da demanda efetiva enuncia que o nível de produção
como um todo e o volume de emprego a ele associado são determinados pelo cruzamento de duas funções
elaboradas a partir do nível de emprego, N , a saber, a oferta agregada Z (N ) e as estimativas de
demanda agregada das firmas D (N ) . A função oferta agregada - que está associada ao conceito de preço
de oferta global, ou simplesmente função de oferta global - constitui-se na soma das receitas mínimas que
justificam exatamente o emprego de tais fatores, ou seja, o que os empresários desejam receber para
cobrir os custos salariais e o custo de oportunidade. A demanda agregada revela, para cada nível de
emprego, o rendimento que as firmas esperam pela venda da produção derivada do emprego desse
volume de mão de obra.
O ponto de demanda efetiva, que determina o nível de produção e emprego, é estabelecido no
ponto em que as expectativas de lucro dos empresários são maximizadas. Para efetuar esta análise
assume-se que a economia é descrita pelas seguintes características: i) As firmas atuam em mercados nos
quais prevalecem à concorrência perfeita, sendo assim tomadoras de preço. Dessa forma, não há nenhum
tipo de diferenciação de produtos e os mercados são caracterizados pela atomização dos produtores; ii) A
produção é um processo que se desenvolve no tempo calendário, ou seja, as firmas decidem quanto
produzirão antes de conhecerem a demanda pelos seus produtos; e iii) As firmas determinam o nível de
produção e de emprego de forma a maximizar os seus lucros esperados.
2.1.1 A curva de Demanda Agregada
A função de demanda agregada é aquela função que relaciona a receita que as firmas, no seu
conjunto, esperam obter pela venda de cada volume possível de produção no mercado com o nível de
emprego correspondente a esse volume produzido. Para tanto, a função de demanda agregada tem dois
componentes fundamentais: i) o preço pelo qual a firma espera ser capaz de vender cada unidade
produzida no mercado; ii) a função que relaciona a quantidade produzida com o nível de emprego
requerido para a obtenção dessa produção.
2
Com efeito, dadas às expectativas das firmas quanto ao preço que elas esperam obter pela venda de
sua produção acabada no mercado, a receita total esperada pode ser obtida pela multiplicação do nível
realizado de produção com o preço esperado. Sabendo que a quantidade produzida é uma função da
quantidade empregada de trabalho, pode-se construir uma função que relaciona a receita total esperada
pelas firmas com o nível de emprego por elas oferecido. Essa função estabelece que, para um dado nível
esperado de preços, a receita total esperada pelas empresas é uma função crescente do nível de emprego.
Essa relação é um simples reflexo de que em mercados nos quais prevalece a concorrência perfeita, as
firmas podem vender quaisquer quantidades ao preço de mercado (Dutt, 1991; pág. 206-07).
Sendo assim, a função de demanda agregada pode ser expressa por intermédio da seguinte
equação: D( N )  Pe F ( N ) (2.1), onde: P e é o preço de venda esperado pelas firmas; F(N) é a função que
relaciona o nível de produção com o emprego requerido para a sua obtenção.
A função de demanda agregada tem inclinação positiva (figura 2.1), sendo que sua posição é
determinada pelas expectativas das firmas quanto ao preço que podem obter pela venda de sua produção
acabada no mercado. Se essas expectativas mudarem, então a posição da função de demanda agregada
também mudará.
Figura 2.1 A Curva de Demanda Agregada

2. 1.2 A curva de Oferta Agregada


Para derivar a curva de oferta agregada, supõem-se como dados os salários nominais, a técnica de
produção e o estoque de capital das empresas. Nesse sentido, pode-se definir a chamada função de oferta
agregada como sendo a função que relaciona o nível de emprego com a receita que é exatamente
suficiente para induzir os empresários a oferecerem o dado nível de emprego. Em outras palavras, em
cada ponto da função de oferta agregada, as firmas estarão maximizando os seus lucros.
Segundo Chick (1983, p. 66) a construção da função de oferta agregada pode ser feita da seguinte
forma: as firmas maximizadoras de lucro irão atuar em mercados nos quais prevalece a concorrência
perfeita expandindo a produção até o ponto em que o custo marginal de produção seja igual ao preço, ou
W
seja:  P (2.2), onde: W é a taxa nominal de salários, F´(N ) é o produto marginal do trabalho, P
F ´( N )
é o preço de venda no mercado. Multiplicando-se ambos os lados de (2.2) pelo nível de produção Q,
 W 
obtêm-se  Q  PQ  Z (2.3), onde: Z é a receita mínima necessária para induzir os
 F´( N ) 
empresários a oferecer o volume de emprego N.
Q
Definindo A  como o produto médio do trabalho e substituindo essa variável na equação
N
 W 
(2.3), obtém-se finalmente que  A  N  Z ( N ) (2.4). Esta equação apresenta o formato final da
 F´(N ) 
função de oferta agregada, conforme mostrado na figura (2.2):
A função de oferta agregada será representada por uma curva linear positivamente inclinada, porque
os empresários só estarão dispostos a oferecer um volume maior de emprego se puder obter um volume
maior de receita e de lucros do que o obtido com o nível corrente de emprego. A posição da curva de
oferta agregada é determinada pelo nível dos salários nominais. Nesse contexto, uma elevação dos
salários nominais resultará em um aumento da receita mínima necessária para as empresas oferecerem
cada nível possível de emprego.

3
Figura 2.2: A Curva de Oferta Agregada

2.1.3 O Ponto de Demanda Efetiva


O nível de emprego efetivamente oferecido pelas firmas é determinado no ponto em que as funções
de demanda e de oferta agregada se interceptam, ou seja, no ponto em que D(N) se iguala a Z(N). Esse
ponto foi denominado como o ponto de demanda efetiva e sua visualização pode ser feita por intermédio
da figura (2.3).
Na figura 2.3, N  é o nível de emprego que as firmas estarão dispostas a oferecer, dadas as suas
expectativas quanto ao preço pelo qual será capaz de vender a sua produção acabada no mercado e dado o
nível de salário nominal. O chamado ponto de demanda efetiva corresponde, portanto, apenas à receita
que as firmas esperam obter da venda da produção, por elas decididas, no mercado. Observa-se que, à
esquerda de N  , as empresas esperam obter uma receita pela venda da produção resultante do emprego,
por elas oferecido, maior do que a receita mínima que elas exigem para oferecer esse nível de emprego.
Daqui se segue que as empresas podem aumentar o seu lucro se aumentarem o nível de emprego até N  .
Por outro lado, à direita de N  , a receita que as empresas esperam obter é menor do que a receita mínima
que elas exigem para oferecer esse nível de emprego. Neste caso, as empresas podem aumentar o seu
lucro se reduzirem o nível de emprego até N  . Logo, o ponto de demanda efetiva (ponto A ) é o ponto de
lucro máximo.
Figura 2.3: Determinação do ponto de Demanda Efetiva

Segundo Possas (2003), devem-se fazer, em relação a este ponto, duas observações: i) em primeiro
lugar, que ambas as curvas não são definidas convencionalmente em termos de valores unitários, mas sim
de valor agregado no sentido de Keynes, em que tanto a receita esperada (curva de demanda) quanto o
preço de oferta são calculados deduzindo-se o custo de uso1. Segundo o autor, entre outras conseqüências,
este procedimento faz com que a curva de oferta, tanto individual como agregada, possa ser crescente
com o nível de produção e emprego, sem que isso implique em qualquer hipótese de rendimentos
decrescentes; e, ii) a segunda e mais importante, segundo o autor, é que a demanda é definida ex-ante,
fazendo com que a sua interseção com a curva de oferta – que define o ponto de demanda efetiva –
também seja ex-ante. Nesse sentido, conclui-se que o conceito de equilíbrio – dado pela interseção das
curvas de oferta e demanda – tem na obra de Keynes um sentido especial e de que, o próprio conceito de
demanda efetiva, exposto na Teoria Geral é, portanto, um conceito ex-ante2.

1
Para uma definição exata deste conceito, ver Keynes (1936, p. 69).
2
Neste caso o autor considera que a curva de oferta também é definida ex-ante. No entanto, sendo a curva de oferta o montante
da soma mínima que justifica exatamente o emprego dos fatores de produção - neste caso o trabalho - e sendo o salário,
portanto, o principal componente dos custos, é plausível admitir que os empresários saibam qual é o rendimento/custo de
empregar um volume N de trabalho. Neste caso, a idéia de curva de oferta como um conceito ex-ante perde o sentido.

4
Sendo o ponto de demanda efetiva um ponto definido ex ante, ou seja, correspondente a uma dada
rentabilidade esperada por parte das empresas, a questão que se coloca é o que acontece se esse resultado
esperado diferir do resultado efetivamente observado (demanda realizada). Na Teoria Geral, Keynes
admite que as expectativas são sempre realizadas3, de forma que a partir desta suposição ele passa a
examinar os determinantes da demanda realizada que, supondo uma economia fechada e sem governo,
são os gastos em consumo e os gastos em investimento. A hipótese implícita nesta suposição é de que se a
receita realizada diferir da receita esperada, as firmas buscarão ajustar a sua produção. Esse ajustamento
se daria através de um processo de “tentativa e erro”, de tal forma que, eventualmente, seria alcançado
uma posição de equilíbrio de curto período.
Mais especificamente, deve-se levar em consideração que a quantidade produzida por cada firma
foi definida no início do período de produção, sendo esta um dado no momento em que é posta a venda
no mercado. Se as receitas provenientes das vendas dessa produção forem menores que a receita que as
empresas esperam obter, então elas serão obrigadas a vender a sua produção a um preço mais baixo do
que haviam antecipado no início do período de produção. Isso fará com que, no início do próximo período
de produção, as firmas sejam levadas a revisar para baixo as suas expectativas quanto ao preço pelo qual
podem vender a sua produção acabada no mercado. Nas palavras de Keynes:
“Entrepreneurs have to endeavour to forecast demand. They do not, as a rule, make wildly wrong forecasts of the
equilibrium position. But, as the matter is very complex, they do not get it just right; and they endeavour to
approximate to the true position by a method of trial and error. Contracting where they find that they are overshooting
their market, expanding where the opposite occurs. It correspond precisely to the haggling of the market by means of
which buyers and sellers endeavour to discover the true equilibrium position of supply and demand” (CWJMK, Vol.
XIV: p.182)
A questão fundamental levantada por Keynes é de que não há nenhum motivo pelo qual a posição
de equilíbrio de curto-período seja caracterizada pelo pleno-emprego da força de trabalho, ou seja, por
uma situação em que todos os trabalhadores dispostos a trabalhar ao nível de salário real prevalecente no
mercado conseguirão encontrar emprego. Para demonstrar a validade dessa afirmação, convém admitir,
assim como pressupõem-se implicitamente no capítulo 5 da TG, que os empresários acertam
continuamente as suas expectativas a respeito do preço pelo qual podem vender a sua produção acabada
no mercado. Nesse contexto, o ponto de demanda efetiva implica, dadas às condições técnicas de
produção e a taxa de salário nominal, em uma dada taxa de salário real, uma vez que as firmas
__
maximizam lucros e, portanto, é verdade que W P  F ´ ( N  ) . No entanto, cabe ressaltar, que a essa taxa
de salário real é possível que a quantidade de trabalho ofertada supere o nível de emprego efetivo. O
desemprego resultante é essencialmente involuntário, uma vez que ocorre em um contexto onde existem
mais trabalhadores querendo trabalhar ao salário vigente do que as vagas de trabalho disponíveis. Essa
situação é descrita na figura (2.4).
Figura 2.4: O nível de emprego de equilíbrio de curto-período

3
Essa é uma interpretação pós-Keynesiana, defendida principalmente por Kregel (1976). Segundo esta interpretação, na TG
(18 primeiros capítulos) Keynes utiliza como hipóteses a idéia de que as expectativas de curto prazo são sempre realizadas e
que as de longo prazo são constates para, logo em seguida (cap. 19), mudar radicalmente. Neste caso, quando as expectativas
são sempre confirmadas, a hipótese de path dependence perde o sentido. No entanto, no intuito de relaxar esta hipótese, inclui-
se na análise a possibilidade de frustração de expectativas e a interação dessas no que tange ao curto e ao longo prazo. Nesse
sentido, a análise que aqui se segue busca, em um primeiro momento, revisar os argumentos inclusos nos “18 primeiros
capítulos” da TG para, posteriormente, incluir na análise a possibilidade de path dependence entre as variáveis.

5
Observa-se que, embora os trabalhadores estejam dispostos a aceitar uma redução dos salários
nominais, as empresas só estarão dispostas a oferecer esse emprego adicional se estiverem confiantes que
haverá um aumento suficiente de vendas e das receitas que torne lucrativa essa expansão do emprego.
Caso contrário, o nível de emprego continuará sendo N  , e uma redução dos salários nominais terá como
efeito uma redução proporcional dos preços.
A figura (2.5) apresenta os possíveis efeitos de uma redução no salário nominal. Supondo-se que a
função demanda agregada continue na mesma posição, esse deslocamento da curva de oferta determinará
uma nova posição de equilíbrio de curto prazo, caracterizada por um novo nível de emprego N   superior
ao nível de emprego inicial. Como se supõem que as expectativas das firmas estão sendo confirmadas, a
função demanda agregada deve ser estimulada por essa redução dos salários nominais. Isso significa que
as empresas esperam (corretamente) que uma redução dos salários nominais irá atuar no sentido de
aumentar a receita obtida pela venda de seus produtos no mercado (Oreiro, 2006b).
Entretanto, vale ressaltar que na verdade uma redução dos salários nominais pode, pelo contrário,
produzir uma queda significativa da demanda agregada. Desta forma, os empresários vão esperar uma
redução em suas receitas, tal como mostrado pelo deslocamento da curva D(N )0 para D(N )1 na figura
(2.5). Neste caso, o novo nível de emprego seria dado por N   .
Figura 2.5: O Efeito de uma queda nos Salários Nominais

Assim, ao estabelecer o princípio da demanda efetiva, Keynes demonstrou que existe um limite à
expansão lucrativa da produção. Conforme se demonstrou, o par produção e emprego é definido pelo
princípio da demanda efetiva. Este, por sua vez, depende das expectativas quanto à rentabilidade esperada
por parte das firmas no início do processo de produção. Logo, a existência de desemprego involuntário
não depende da hipótese de que existe algum tipo de rigidez no mercado de trabalho e, também, não pode
ser eliminado por uma redução no salário nominal, pois nada garante que essa redução ampliará o nível
de emprego oferecido pelas firmas. Conforme demonstrado no capítulo 19 da TG, existe uma série de
efeitos – provocados pela redução salarial – que a priori não permite que se conclua que esta redução
possa provocar um aumento da demanda agregada e do emprego (este ponto será retomado na quinta
seção). Independentemente disso, como será visto na sessão a seguir, os ajustamentos no mercado de
trabalho são endógenos, ou seja, dependentes do nível de produção.
3 O Mercado de Trabalho No Modelo Keynesiano
Para apresentar o comportamento do mercado de trabalho no modelo keynesiano e, para que seja
possível compará-lo ao modelo clássico, apresenta-se resumidamente a estrutura do último.
O mercado de trabalho no modelo clássico é definido a partir de dois pressupostos, que são: (i)
salário é igual ao produto marginal do trabalho, na ausência de imperfeições de concorrência e de
mercados; e, (ii) a utilidade do salário, quando se emprega determinado volume de trabalho, é igual à
desutilidade marginal desse mesmo volume de emprego. O primeiro postulado representa a curva de
demanda por trabalho e o segunda a curva de oferta.
O importante, no entanto, é entender o papel (lógica) deste mercado dentro do modelo clássico:
neste, no curto prazo, a quantidade de trabalho é determinada, primeiramente, no mercado de trabalho; na
função de oferta de trabalho, os assalariados maximizam a utilidade total igualando salário real à
desutilidade do trabalho e, na função de demanda por trabalho, os empresários maximizam lucro pelo fato
de igualar a produtividade marginal do trabalho com seu custo marginal. Na ausência de imperfeições, a

6
quantidade de trabalho corresponderá a pleno-emprego4 (Herscovici, 2006; pág. 34). Em um segundo
momento, uma vez definida a quantidade de trabalho que será empregada no mercado de bens e serviços,
será determinado o nível de produção, ou seja, este depende do nível de emprego determinado
previamente no mercado de trabalho (pela negociação de trabalhadores e empresários). Dessa forma, o
desemprego no modelo clássico contempla tão somente o desemprego friccional e o desemprego
voluntário.
Segundo o pensamento ortodoxo, a existência de desemprego involuntário não se constituiria em
uma situação de longo prazo em um contexto onde preços e salários fossem flexíveis. Isto porque, desde
que os trabalhadores aceitassem uma redução do salário nominal, o emprego seria estimulado de tal forma
a alcançar o equilíbrio com pleno-emprego. O argumento apresentado era de que uma redução nos
salários nominais estimularia, ceteris paribus, a demanda ao fazer baixar o preço dos produtos acabados,
aumentando a produção e o emprego até o ponto em que a redução dos salários nominais ficasse
compensada pela eficiência marginal decrescente do capital à medida que a produção aumenta5.
Em sua análise sobre o mercado de trabalho, Keynes nega a condição de equilíbrio proposta pelos
clássicos de que o salário real deve ser igual à desutilidade marginal do trabalho, ou seja, o “segundo
postulado” da escola clássica, uma vez que nada garante, segundo o autor, que essa condição seja válida.
No entanto, o autor aceita o primeiro postulado e a função neoclássica baseada nos rendimentos
decrescentes.
Deve-se deixar claro que a função determinada pela igualdade entre a produtividade marginal do
trabalho e o salário real, correspondente ao primeiro postulado clássico, exerce um papel diferenciado no
modelo keynesiano. No modelo clássico, essa função é interpretada como uma função de demanda por
trabalho por parte das firmas. Em contraposição, no modelo keynesiano, essa função tem simplesmente o
papel de determinar qual será o salário real a ser pago pelas firmas dado aquele nível de emprego. Como
visto anteriormente, a demanda por emprego no modelo keynesiano é determinado pelas expectativas dos
empresários (ponto de demanda efetiva).
A crítica ao segundo postulado pode ser dividida em dois argumentos: (i) a primeira refere-se ao
comportamento efetivo do trabalhador; e, (ii) a segunda quanto ao pressuposto de que o salário real é
diretamente determinado pelo caráter das negociações sobre salários (ou seja, que as negociações salariais
entre trabalhadores e empresários determinam o salário real).
No que se refere ao primeiro argumento, Keynes busca demonstrar que hipótese de desigualdade
entre salário real e a desutilidade marginal do trabalho não é verdadeira em uma economia de mercado.
Isso porque, uma redução dos salários reais, em decorrência de um aumento dos preços, não
acompanhada da elevação dos salários nominais, não determina uma diminuição da oferta de mão-de-
obra. Em outras palavras, a redução do salário real, dado pela elevação do nível de preços, não induziria o
conjunto de trabalhadores a diminuir a quantidade ofertada de trabalho. Nas palavras do autor:
“(...) pode acontecer que, dentro de certos limites, as exigências da mão-de-obra tendam a um
mínimo de salário nominal e não a um mínimo de salário real. (...) Ora, a experiência comum ensina-
nos, sem a menor sombra de dúvida, que, em vez de mera possibilidade, a situação em que a mão-de-
obra estipula (dentro de certos limites) um salário nominal, em vez de um salário real, constitui o caso
normal. Se bem que o trabalhador resista, normalmente, a uma redução do seu salário nominal, não
costuma a abandonar o trabalho ao se verificar uma alta de preços dos bens de consumo salariais”
(1936, pág. 27, grifo nosso).

4
O ponto a ressaltar, segundo Ferreira e Fracalanza (2006, pág 258) é o pressuposto “pré-analítico” que está na base desse
modelo: que o mercado de trabalho pode ser tratado como um mercado qualquer. Assim, em sua análise, parte-se da
compreensão de que, em primeiro lugar, a explicação do desemprego deva ser encontrada no âmbito do mercado no qual a
mercadoria força de trabalho é transacionada e, em segundo lugar, de que este mercado é formado por agentes com
racionalidade substantiva que se guiam pelos sinais de preços. Desta forma, compradores e vendedores se defrontam no
mercado e decidem conjuntamente quantidade e preço das mercadorias transacionadas. Se há excesso de demanda ou de oferta
da mercadoria transacionada, este resulta de uma falha nos mecanismos auto-equilibradores – basicamente, uma falha no
mecanismo de preços.
5
Na verdade, deve-se deixar claro quer o argumento defendido pelo pensamento ortodoxo é de que a flexibilidade do salário
real (e não nominal) é que levaria a economia ao pleno-emprego.

7
Deve-se observar que, neste caso, os trabalhadores não estão sofrendo de ilusão monetária. O ponto
argumentado é de que os trabalhadores estão interessados na proteção de seus salários reais relativos e,
portanto, são resistentes à redução do salário nominal. Em outras palavras, qualquer indivíduo ou grupo
de indivíduos que consinta numa redução dos seus salários nominais em relação a outros sofre uma
redução relativa do salário real, o que não era desejado pelos trabalhadores. Por outro lado, seria
impraticável opor-se a qualquer redução dos salários reais que resultasse de alteração no poder aquisitivo
do dinheiro e que afetasse igualmente a todos os trabalhadores, a não ser que isso venha a atingir níveis
extremos (Keynes, 1936).
O segundo argumento, considerado como fundamental, baseia-se na rejeição da hipótese de que os
salários reais emergem da negociação de salários entre trabalhadores e empresários. De acordo com este
argumento, os trabalhadores não dispõem de nenhum meio de fazer coincidir o equivalente do nível geral
de salários nominais com a desutilidade marginal do volume de emprego existente. Para o autor, as
negociações se realizam efetivamente, em termos monetários, e os salários reais considerados aceitáveis
pelos trabalhadores não são, de certo modo, independentes do nível de salário nominal correspondente
(Keynes, 1936). Nesse sentido, o que o autor está propondo é que, no máximo, os trabalhadores têm
alguma influência sobre o salário nominal.
No entanto, deve-se considerar que os preços não são estabelecidos na barganha salarial, o que
impede de os trabalhadores decidirem os níveis de salário real e de emprego, uma vez que, a um dado
nível de salário nominal, corresponderiam diversos níveis de salário real. Em outras palavras, a um
determinado nível de salário nominal, haveria múltiplas funções de oferta (de trabalho), de forma que a
determinação do equilíbrio neste mercado ficaria indeterminado. Desse modo, postular que exista uma
tendência à igualdade entre o salário real e a desutilidade marginal do trabalho equivale a assumir,
erroneamente, que os trabalhadores estão em condições de decidir o salário real pelo qual trabalham.
A partir das críticas feitas ao mercado de trabalho clássico, o autor apresenta seu modelo onde a
lógica é totalmente diferente: a construção da demanda efetiva ressalta o fato de que o nível efetivo de
emprego é determinado a partir das expectativas de curto e de longo prazo elaboradas pelos empresários:
(a) à medida que os empresários elaboram as expectativas e que as decisões econômicas são
implementadas na base dessas expectativas, os assalariados não têm nenhuma influência sobre o mercado
de trabalho (Herscovici, 2006); (b) as políticas econômicas, visando aumentar o emprego, são aquelas
capazes de induzir uma modificação nas expectativas e não sobre a redução dos salários reais. No caso
em que não há mudanças de expectativas e, considerando que a economia encontra-se em um ponto de
equilíbrio determinado pela demanda efetiva abaixo da condição de pleno-emprego, a economia
permanecera nesta situação, com desemprego involuntário.
Neste ponto, cabe uma definição sobre o conceito de desemprego involuntário. Na teoria Geral,
Keynes define este conceito em diferentes passagens:
“Existem desempregados involuntários quando, no caso de uma ligeira elevação dos preços dos bens de consumo
assalariados relativamente aos salários nominais, tanto a oferta agregada de mão-de-obra disposta a trabalhar pelo
salário nominal corrente quanto a procura agregada da mesma ao dito salário são maiores que o volume de emprego
existente” (Keynes, 1936, pág. 32).
ou ainda,
“Outro critério, aliás, equivalente a que chegamos agora é o da situação em que o emprego agregado é inelástico
diante de um aumento na demanda efetiva relativamente ao nível de produto correspondente àquele nível de
emprego” (Keynes, 1936, pág. 39).
Como demonstraram Darity e Young (1997), a primeira definição pode gerar certa confusão
quando aplicada sob restrições não explicitadas na Teoria Geral. A segunda definição, por sua vez,
identifica o ponto de pleno-emprego como sendo a situação correspondente ao máximo nível de emprego
que pode ser alcançado com o crescimento da demanda agregada. Assim, a condição de market clearing
no mercado de trabalho não é condição necessária e nem suficiente para que a economia possa alcançar o
pleno-emprego. A variável relevante, neste caso, é a demanda agregada.
Nesse sentido, a definição de desemprego involuntário, implícito ao longo da Teoria Geral e
sugerido por Darity e Young (1997, pág. 26), é dada por aquela que define a presença do mesmo quando
a elasticidade do emprego (e do produto) for maior que zero com respeito ao crescimento da demanda
agregada.

8
Ressalta-se que não há oposição à idéia de que uma queda no salário real está correlacionada com o
aumento do nível de emprego. A questão colocada pelo autor era de que a lógica estabelecida pelo
pensamento ortodoxo com relação a este ponto é que estava incorreta. A análise agora proposta defende
que, em termos “gerais”, uma expansão do investimento - ao provocar o crescimento do nível de preços
acima do nível de preços esperado – acaba determinando uma redução do salário real e, portanto, um
aumento no nível de emprego e da renda6. Observa-se, também, que esta formulação, além de inverter a
causalidade da determinação lógica entre as variáveis, desloca para as flutuações da demanda efetiva e
para a variação dos seus determinantes (propensão a consumir, eficiência marginal do capital e taxa de
juros) a origem casual das flutuações do nível de emprego.
A figura (3.1) sintetiza os argumentos os argumentos apresentados. Observa-se que o equilíbrio no
mercado de trabalho é alcançado quando interseção entre a curva de oferta e a curva de demanda por
trabalho ocorrer no ponto D. No entanto, como neste modelo o que determina a demanda por trabalho é a
demanda efetiva, é plenamente possível que associado ao ponto de equilíbrio A, a demanda por trabalho
seja aquela em que apenas L0 trabalhadores estão empregados. Logo, a diferença L  L0 representa a
quantidade de trabalhadores que se encontram desempregados.
Figura 3.1: O Mercado de Trabalho
W
ND NS
P

W  E F
 
 P 0
D

L
L0 L
Observe que o desemprego não é conseqüência de alguma imperfeição do mercado de trabalho - tal
como rigidez de salário ou pelo fato de o mesmo estar acima de um suposto salário de equilíbrio - uma
vez que o que determina o nível de emprego neste caso é a demanda efetiva. Como mostra a figura, o
salário pago pelas empresas é superior ao salário mínimo ao quais aqueles trabalhadores que se encontram
empregados estariam dispostos a trabalhar. No entanto, o que se deve ressaltar é que as empresas não têm
incentivos para mudar de posição, uma vez neste ponto as mesmas estão maximizando seus lucros.
Alguns autores discordam deste argumento à medida que identificam como fundamental a
operação do chamado efeito Keynes. Ou seja, dada uma deflação de preços, haverá uma queda na renda
nominal e, consequentemente, na demanda de moeda para fins transacionais. Esta queda na demanda por
moeda faz diminuir a taxa de juros, ampliando os investimentos que, por sua vez, amplia o nível de
emprego. Entretanto, conforme Keynes argumentou no capítulo 19 da Teoria Geral, não há nada que
garante que uma deflação de preços possa ampliar a demanda agregada, uma vez que existem uma série
de outros efeitos que atuam em sentido contrário.
Nesse sentido, no contexto da teoria keynesiana, o nível de emprego não pode mais ser
determinado como uma função dos salários reais que emerge da negociação entre trabalhadores e

6
A dinâmica dos preços em Keynes é uma questão relativamente ambígua. Isso porque, primeiramente, na TG, Keynes afirma
que os preços vão aumentar quando a demanda efetiva aumenta, apenas, perto da posição de pleno emprego (capítulo 21);
segundo, neste mesmo capítulo, Keynes mostra que os preços podem subir antes de alcançar o pleno emprego, à medida que
aparecem zonas de “estrangulamentos” dos fatores de produção (p.233), e ele aplica este mecanismo ao preço do trabalho (p.
234). Neste caso, se os preços sobem assim como a unidade de salário, isto não se traduz, obrigatoriamente, por uma redução
do salário real. Entretanto, isso não invalida a análise que esta sendo proposta, pois a questão que a ser ressaltada é a relação
entre aumento no emprego e queda nos salários reais destacando, contudo, que a lógica agora é de que o salário real é a variável
dependente, ou seja, ele é determinado pelo ponto de demanda efetiva. Neste caso, uma queda “por si só” dos salários reais não
necessariamente ampliará o nível de emprego, como defendiam os autores da síntese clássica.

9
empresários7 em um contexto em que os salários nominais são flexíveis à baixa – que, segundo a
ortodoxia, constitui-se em condição suficiente para que a economia elimine automaticamente o
desemprego – dado que eles passaram a ser função da demanda efetiva. Desse modo, a partir desta
interpretação o exame de uma redução salarial deve, em última instância, reportar-se aos efeitos
esperados da redução destes sobre a demanda agregada.
Conclui-se, portanto, uma vez que os salários não são os determinantes do emprego, que a rigidez
dos salários não pode ser o responsável pelo desemprego involuntário, assim como a flexibilidade dos
mesmos não garante a automaticidade da economia à posição de pleno-emprego. Isto significa que a
posição “normal” de uma economia capitalista corresponde ao ponto em que prevalece o desemprego
involuntário8.
4 O Processo de Formação de Expectativas e Determinação do Equilíbrio
Tendo em vista que o equilíbrio com desemprego involuntário é conseqüência da insuficiência de
demanda efetiva, e que esta, por sua vez, depende das expectativas dos empresários, busca-se enfatizar o
papel desempenhado pelas expectativas ao longo de todo o processo econômico. Mais especificamente, o
que se segue busca analisar a “passagem” do equilíbrio de curto prazo, no qual as expectativas de curto-
prazo são realizadas, para o equilíbrio de longo prazo, no qual as expectativas de longo-prazo
permanecem constantes ao longo do tempo.
Neste caso, deve-se observar que embora Keynes não tenha explicitado na TG com maiores
detalhes como ocorre este processo, uma vez que sua análise priorizava o primeiro equilíbrio em
detrimento ao segundo, é possível identificar com “algum esforço” uma linha de interpretação nesse
sentido. Na análise keynesiana o par produção-emprego como demonstrado anteriormente depende do
ponto de demanda efetiva que determina um equilíbrio de curto prazo, obtido a partir das definições
adotadas na formalização das curvas de demanda e oferta agregadas. A passagem para um equilíbrio de
longo prazo, neste caso, ocorre de duas formas: a) definido o ponto de demanda efetiva de curto prazo e
considerando que as expectativas dos empresários (de curto e de longo prazo) sejam constantes, este
equilíbrio será “automaticamente” o equilíbrio de longo prazo; e, b) definido o ponto de demanda efetiva
de curto prazo e considerando que as expectativas dos empresários (de curto ou de longo prazo) estejam
se modificando, haverá alterações no ponto de equilíbrio, sendo que a economia tende a convergir para o
“novo” equilíbrio determinado pelas “novas” expectativas.
Da análise anterior, duas questões merecem um destaque maior. A primeira delas é de que
continua válida a interpretação de que o ponto de equilíbrio com pleno emprego no longo prazo é uma
dentre as “n” possibilidades que existem e que a produção com capacidade ociosa não depende da
hipótese de qualquer imperfeição de mercados. A segunda e mais importante, refere-se à questão que
agora deve ser explicada: como se definem as novas expectativas! Na análise de Keynes, existem as
expectativas de curto e de longo prazo. Logo, as “novas” expectativas podem referir-se a uma
modificação em uma das duas ou nas duas sucessivamente, caracterizando com isso um processo de
interação entre elas.
Como já explicitado, as mudanças de expectativas de curto prazo geram um processo de tentativa e
erro que conduz a economia a um equilíbrio de curto prazo. A partir desse equilíbrio, mantidas as
expectativas de longo prazo constantes, a passagem para o equilíbrio de longo prazo será automática,
como descrito anteriormente9. O que deve ser explicado agora é a questão aparentemente controversa que
emerge: como ocorre a passagem do equilíbrio de curto prazo para o equilíbrio de longo prazo quando as

7
Davidson (1998, pág. 825, 826) ilustra este ponto na seguinte passagem: “Numa economia monetária, trabalhadores
desempregados não têm mecanismos disponíveis para induzir empreendedores a modificarem suas decisões de produção, de
fixação de preço, de demissão e de contratação de trabalhadores adicionais, enquanto as expectativas de maximização de lucro
dos empreendedores estiverem sendo satisfeitas. (...) Trabalhadores desempregados desapontados, podem, portanto, reduzir
salários monetários até que estejam à míngua [blue in the face] sem alterar um iota a “correta” decisão de contratação do
empreendedor que maximiza lucro, a menos que os salários monetários induzam um aumento (deslocamento para cima) da
função D denominada em unidades de salário”.
8
Em outras palavras, o pleno-emprego é apenas uma das “n” posições possíveis de equilíbrio do sistema econômico.
9
Na verdade, o que tem buscado se argumentar é que o ponto de equilíbrio de curto prazo corresponde ao próprio ponto de
equilíbrio de longo prazo, uma vez que os determinantes desses - que são expectativas dos empresários - são tidos como
constantes.

10
expectativas de longo prazo estão mudando? Este equilíbrio será o mesmo do equilíbrio de curto prazo?
Ou ainda, as mudanças nas expectativas de longo prazo podem determinar mudanças no equilíbrio de
curto prazo? Isso não traz a tona uma incoerência lógica, haja vista que o equilíbrio de curto prazo resulta
do principio da demanda efetiva que é determinado pelas expectativas de curto prazo?
Em primeiro lugar, deve-se deixar claro que as decisões de quanto produzir e empregar (e que,
portanto, definem o equilíbrio da economia), referem-se a decisões de curto prazo. Contudo, deve-se
considerar também que esta decisão por parte das empresas é feita a partir de uma determinada
capacidade produtiva (estoque de capital) e a partir de uma expectativa de demanda, onde os projetos de
investimento constituem um determinante importante desta. Em segundo lugar, é verdade que quando
definiu-se as funções de oferta e demanda agregada e, da intersecção dessas curvas o ponto de demanda
efetiva, trabalhou-se estritamente com as expectativas de curto prazo e, portanto, o equilíbrio obtido
também refere-se a este espaço de tempo (seção 2). No entanto, deve-se considerar que a formalização
considerou o estoque de capital das empresas como uma variável constante, o que em outras palavras
significa dizer que as expectativas de longo prazo que estão associadas aos projetos de investimento das
empresas também foram consideradas como constantes.
No entanto, se as expectativas de longo prazo se modificarem e estas mudanças alterarem os
projetos de investimento e, consequentemente, a capacidade produtiva das empresas, o equilíbrio desta
economia também irá mudar, haja vista que as decisões tomadas pelas empresas com o intuito de
maximizar o lucro agora devem levar em consideração essa “nova” conjuntura. Portanto, o equilíbrio de
curto prazo irá modificar-se e, consequentemente, o equilíbrio de longo prazo. Este processo pode
determinar um único ponto de “equilíbrio” sob o qual a economia permanecerá, ou desencadear
sucessivamente processos dinâmicos, a partir da mudança de expectativas, em que a economia passa de
um ponto de equilíbrio para outro constantemente ao longo do tempo.
Essas últimas questões tem sido alvo de estudos de alguns pesquisadores Pós-Keynesianos, em
especial, à medida que os mesmos estendem as análises da não realização das expectativas de curto prazo.
Como afirmado anteriormente, em Keynes isso desencadeia um processo de “tentativa e erro”, em que a
economia converge para um ponto de equilíbrio de curto prazo. Os autores pós-Keynesianos ampliam a
análise uma vez que permitem que a não realização das expectativas de curto prazo possam influenciar as
expectativas de longo prazo e, consequentemente, o equilíbrio associado a elas. Ou seja, estes autores
analisam a possibilidade de path dependence nesta economia. Nesse sentido, a seção que se segue
apresenta uma dessas análises do processo de interação entre as expectativas e a sua influência sobre a
determinação do ponto de equilíbrio.
4.1 O Processo de Formação de Expectativas e Determinação do Equilíbrio: uma interpretação Pós-
Keynesiana.
Como argumentado anteriormente, o desemprego involuntário não é um fenômeno de desequilíbrio
que surge em conseqüência (ou como resultado) de expectativas empresariais inadequadas, mas sim, pelo
fato de que as expectativas (previsões) que os empresários fazem com relação ao ponto de produção
(demanda efetiva) que lhes é lucrativo não necessariamente corresponde ao ponto de pleno-emprego.
No entanto, o processo de revisão das expectativas de curto prazo e sua influência sobre o ponto de
demanda efetiva tem causado constantemente confusão na literatura econômica. Isso se deve, em grande
parte, aos diferentes métodos aplicados por Keynes ao longo da TG, conforme destacam alguns autores
pós keynesianos, como Kregel (1976) e Dutt (1991), entre outros. Para se entender este ponto, segundo
estes autores, primeiramente é necessário salientar que para Keynes as expectativas (sobretudo as de
longo prazo) referem-se a previsões feitas em relação à rentabilidade de determinado nível de produção
em um ponto futuro de tempo que é, eminentemente, incerto. Ou seja, as expectativas informam decisões
econômicas tomadas em situação de incerteza, porque o futuro é simplesmente desconhecido. Essas
expectativas estão sujeitas a revisão repentina, tornando a economia capitalista instável (neste caso,
associado principalmente à instabilidade do investimento).
Neste contexto, a primeira questão colocada por estes autores é no sentido de questionar como será
o comportamento destas expectativas quando as expectativas de curto prazo não se realizarem. Mais
especificamente, o ponto é saber se a não realização das expectativas de curto prazo faz com que ocorram
mudanças no ponto de “equilíbrio” de longo prazo desta economia. Essa questão surge pelo fato de

11
Keynes utilizar em sua análise diferentes formas de interação entre as expectativas de curto e de longo
prazo o que, consequentemente, requer também distintas definições sobre o conceito de equilíbrio.
Entretanto, destaca-se que é consensual que a noção de equilíbrio utilizada pelo autor difere da idéia
clássica, sendo utilizada sempre no sentido de ser um equilíbrio suscetível de se realizar, pois este se
relaciona com as expectativas que os empresários formam ao decidirem produzir e empregar determinada
força de trabalho, em relação ao comportamento esperado da demanda. Além disso, o equilíbrio no
sentido Keynesiano é definido como um conceito ex ante que está relacionado à possibilidade ou não de
que ele venha a ocorrer.
Tendo em vista estas dificuldades e no sentido de buscar esclarecer este ponto - tendo em mente,
no entanto, que a questão fundamental levantada é de que não há motivos pelos qual a posição de
equilíbrio seja caracterizada pelo pleno-emprego da força de trabalho - apresenta-se a seguir a
formalização proposta por Dutt (1991) das diversas interações possíveis das expectativas de curto e de
longo prazo, por um lado, para enfatizar que o desemprego não é conseqüência da não realização das
expectativas e, por outro, para mostrar que o conceito de equilíbrio que Keynes se referia (e que é
relevante para o entendimento de sua teoria) é diferente do conceito de equilíbrio preconizado pelo
pensamento clássico.
4.1.1 Interação entre Expectativas de Curto e de Longo Prazo: a Formalização de Dutt (1991)
Primeiramente, considera-se uma economia formada por famílias e empresas. Admita-se que as
empresas trabalhem com uma dada tecnologia e com um dado estoque de capital, tendo a seguinte função
de produção: Y  F (N ) (4.1).
A condição de maximização de lucros da empresa requer que, considerando mercados
W
competitivos;  F ` ( N ) (4.2) , onde e  preço de venda esperado pelas empresas. A função
e
investimento, por sua vez, está relacionada às expectativas de longo prazo das empresas, ou seja;
I  I (E ) 10 (4.3).
No que se referem às famílias, estas se encontram divididas em duas classes: trabalhadores e
capitalistas. Os trabalhadores recebem um salário monetário e gastam parte de sua renda ( WN )
enquanto os capitalistas gastam uma determinada proporção fixa, C0 .
Ao estabelecer a condição de equilíbrio, deve-se fazer a distinção entre duas noções dele:
i) primeiro, no período de mercado, as firmas tomam e (expectativas de curto prazo) e
E (expectativas de longo prazo) como dadas e, em equilíbrio, o preço ( P ) se ajusta no mercado de bens
W 
(modelo flex-price). Logo, Y     N  C0  I (4.4) que, após algumas manipulações algébricas pode
P
WN (e)
ser reescrita como; P  (4.5) onde, N (e) é a solução da equação (4.2) dado W .
F ( N ( E ))  C0  I ( E )
ii) No equilíbrio de curto prazo não somente a equação (4.5) é satisfeita, mas também as
expectativas de curto prazo são plenamente realizadas, isto é, e  P (4.6).
Dado isso, o autor identifica a possibilidade de três modelos distintos, considerando as distintas
interações possíveis entre as expectativas de curto e de longo prazo, a saber:
a) Modelo Estático: neste caso as expectativas de longo prazo ( E ) são tomadas como constante
enquanto que as expectativas de curto prazo ( e ) são sempre realizadas, sendo, entretanto, ambas
independentes uma da outra. Esse modelo é a forma mais fácil de separar os efeitos do conjunto de
expectativas na determinação do nível de emprego do desapontamento das mesmas sobre esse nível de
emprego. Como as expectativas de longo prazo são constantes, os determinantes da demanda agregada
são estáveis. O ponto de demanda efetiva é sempre realizado no curto prazo e corresponde ao ponto que
iguala demanda e oferta agregada instantaneamente.

10
Deve-se observar que esta formalização não incorpora a taxa de juros como determinante do investimento. Neste caso, a
formalização parece ser “incompleta”, tendo em vista que Keynes deixa explicito que o investimento depende da diferença
entre a eficiência marginal do capital e a taxa de juros, sendo cada um desses determinados independentemente (O autor
agradece a um parecêntista anônimo por ter chamado a atenção a este ponto).

12
Formalmente, a noção de equilíbrio neste modelo requer como condição a satisfação das equações
(4.5) e (4.6). Diferenciando (4.5) com respeito à ( e ), obtêm-se;
dP WN e [ F ( N )  C 0  I ( E )  NF  N ]
´ ´
 (4.7), que após alguns algebrismos pode ser reescrita
de F ( N )  C 0  I ( E )2
dP   1   WN , eNF N 
como :11
 (4.8).
de F ( N )  C0  I ( E)2
Ilustradamente pode-se representar este resultado como na figura a seguir;
Figura 4.1: Equilíbrio no Modelo Estático.

Observa-se que acima da linha de 45º (onde P  e ), P  e de tal forma que W P  W e  F ´ ( N )


e, portanto, dp de  0 . Quando P  e a curva tem sinal ambíguo. No entanto, sabe-se que à medida que
e cresce, N também cresce. Neste caso, F ´ diminui. Logo, a curve dp de tende a tornar-se positiva.
Como mencionado anteriormente, este modelo sugere que as expectativas de curto prazo sempre se
realizam o que significa que a economia está sempre em equilíbrio de curto prazo dado, em termos da
figura, no ponto A (onde e  P ).
b) Modelo Estacionário: neste caso as expectativas de longo prazo são constantes e independentes das
expectativas de curto prazo que podem ser desapontadas. Este modelo é o mais comum na TG (utilizado
nos dezoito primeiros capítulos), onde assume-se que as expectativas de curto prazo podem ser
desapontadas sem proporcionar nenhuma alteração na expectativa de longo prazo. Assim, neste modelo, a
demanda agregada continua sendo uma função estruturalmente estável, mas o equilíbrio não é gerado de
forma instantânea como no modelo de equilíbrio estático, porque as vendas esperadas dos produtos
produzidos podem não ocorrer no ponto de demanda efetiva prevista pelos empresários.
Para um dado nível de e , se P for diferente deste, deve-se esperar que as empresas revisem suas
expectativas ( e ). Neste caso, pode-se assumir um processo de revisão de expectativas que segue um
de
processo adaptativo, tal como;   [ P  e] onde   0 .
dt
Neste caso, o processo de ajustamento ocorrerá de maneira estável e alcançará seu equilíbrio de
curto prazo, o ponto A em termos da figura (4.1). Observa-se que neste caso o equilíbrio do modelo
estático e do modelo estacionário é o mesmo, embora o processo de ajustamento, ou seja, a forma de
alcance deste equilíbrio seja diferente. O importante é observar que a trajetória do ajustamento não afeta o
equilíbrio final.
C) Modelo com equilíbrio móvel: neste caso admite-se que as expectativas de curto prazo podem não se
realizar e que essas tendem a afetar as expectativas de longo prazo. Dessa forma, os agentes mudam
constantemente as curvas de demanda e oferta fazendo com que o sistema persiga sempre o ponto de
equilíbrio, não existindo garantia de que ele será alcançado. Uma forma simples de formalizar este ponto
é dado por: E  E (e) onde E ´  0 (4.9).

11
No equilíbrio de mercado a equação (4.5) é satisfeita, logo é possível escrever a equação como:
dp de  WN (e) N{ [(W P)  F ´( N )]  (1   ) F ´( N )} [ F ( N )  C 0  I ( E )] . Agora, sabe-se que quando
´ 2

e  P , da equação (4.2) W P  F ´ ( N ) . Substituindo essa condição na equação anterior chega-se na forma resumida da
equação (4.8).

13
As condições de equilíbrio continuam sendo aquelas enunciadas anteriormente. Nesse sentido,
substituindo a equação (4.9) na equação (4.5) e diferenciando com respeito a e obtém-se:
 
dP WN N ´  W p   F ´  1   F ´  IE ´ 
 (4.10)
de F ( N )  C0  I 2
Observe que na equação (4.10), quando P  e , tem-se que W P  F ´ ( N ) . Sabendo que E ´  0 ,
I ´  0 tem-se que dp de  0 quando a linha P(e) interceptar a linha de 45º. No entanto, segue-se que
dp de pode interceptar a linha de 45º de duas diferentes formas, como mostrado na figura abaixo:
Figura 4.2: O Modelo Com Equilíbrio Móvel.

Isso significa que o equilíbrio assumido pela economia neste caso pode ser estável e/ou instável.
Além disso, existe a possibilidade de ocorrência de equilíbrios múltiplos (pontos I e II da figura
4.2. A ). Nesse sentido, segundo Dutt (1991), três observações devem ser feitas com relação a este
modelo: i) o equilíbrio de curto prazo pode ser instável; ii) em caso de equilíbrios múltiplos estáveis, a
posição de equilíbrio de curto prazo vai depender do ponto de partida dessa economia; e, iii) se o
equilíbrio estável for único, então a posição de equilíbrio vai ser independente da dinâmica seguida por
essa economia até o equilíbrio.
Observa-se que as duas primeiras observações, claramente, deixam indeterminada a noção de
equilíbrio. Se por um lado o equilíbrio for instável, a noção de equilíbrio com desemprego involuntário
perde sua relevância – porque, neste caso, as variáveis assumem valores no sence em espaço finito de
tempo12 - e se, por outro lado, existirem vários equilíbrios estáveis, o equilíbrio final, assumido pela
economia, não vai ser conhecido sem saber a posição que a economia assume antes de alcançar este
referido equilíbrio.
Cabe-se ressaltar, conforme destaca Dutt (1991), que o alcance do ponto de equilíbrio
independentemente da trajetória assumida pela economia depende da hipótese formulada anteriormente,
ou seja, de que as expectativas passadas não afetam as expectativas de logo prazo (observa-se que a
hipótese antes definida era de que as expectativas de longo prazo correntes dependiam das expectativas de
curto prazo correntes). Se assumirmos, por hipótese, que as firmas têm algum tipo de “memória”, pode-se
definir E como dependente dos diversos lag’s de e . Isso pode ser formalizado como; Et  0 K t i et i
T

(4.11) onde, K j são os pesos e T é o comprimento da “memória” da firma.


Nesse sentido, a partir da equação (4.7), a situação e  P pode estar ocorrendo de forma que e
tende a não mudar. No entanto, desde que os e' s sejam diferentes, ao longo do tempo E deve mudar,
violando a condição de que E torna-se constante quando e  P . Essa suposição claramente mostra que o
equilíbrio torna-se path-dependent, porque E passa a depender dos e' s passados, embora isso não
signifique que E seja o mesmo do ponto de partida inicial.
Segundo Dutt (1991), essa interdependência entre as expectativas faz com que o método de
equilíbrio perca o sentido neste caso, uma vez que, segundo o autor: “we cannot know where the economy
will end up in short-period equilibrium unless we study the path of the economy outside equilibrium.
History matters, and determines the position of the economy in equilibrium” (1991, p. 216). Logo, se as
expectativas de longo prazo (equação 4.11) mudam ao longo do tempo (de forma imprevista), ou se a
12
Ou seja, a argumentação de que no longo prazo a economia opera com subutilização da capacidade produtiva não fica
demonstrada no modelo.

14
velocidade de ajustamento dos coeficientes muda ao longo do tempo (de forma imprevista) na revisão da
função que descreve as expectativas de curto prazo (equação 4.8), a posição final de equilíbrio não pode
ser conhecida sem o conhecimento completo da dinâmica seguida por essa economia, o que, dado o
pressuposto da imprevisibilidade (incerteza), é logicamente impossível (Dutt, 1991).
Segundo Kregel (1976), Keynes utilizou em sua TG tanto o modelo estacionário como o modelo
com equilíbrio móvel, muito embora ele tenha centrado a atenção de sua análise no primeiro deles,
assumindo, portanto, que as expectativas de longo prazo são dadas13. Isso justifica-se pelo fato de o autor
buscar demonstrar que sua teoria da demanda efetiva é substancialmente a mesma se assumirmos que as
expectativas de curto prazo são sempre realizadas.
A partir desta interpretação e da maneira como Keynes utiliza os diferentes conceitos de equilíbrio,
deve-se ressaltar que a natureza e o uso deste conceito, na TG, é diferente do conceito neoclássico: os
dois universos são, igualmente, diferentes, pelo fato do universo definido na TG caracterizar-se pela
existência de incerteza e pelo fato das expectativas não serem sistematicamente realizadas, mesmo no
longo prazo. O equilíbrio keynesiano é determinado pela demanda efetiva e não pelo resultado de um
processo de tâtonnement walrasiano (Hersovici, 2005).
Uma observação que deve ser feita com relação a esta última formalização proposta por Dutt
(1991), é a seguinte: faz sentido que as expectativas de longo período sejam influenciadas por erros de
previsões de curto período? A formalização da idéia de path dependence proposta não está sendo feita de
forma arbitrária? Na Teoria Geral, Keynes não assume explicitamente que a não realização das
expectativas de curto-período possam influenciar as expectativas de longo-prazo. Sabe-se que as
expectativas de longo período correspondem às expectativas com relação à rentabilidade esperada de
determinado nível de produção - leia-se, de um determinado estoque de capital - em um ponto futuro de
tempo. Nesse sentido, uma vez tomada a decisão de investir é questionável a hipótese de que a não
realização das expectativas de curto prazo possa influenciar as de longo período, porque existem custos
intrínsecos não desprezíveis na reversão deste processo. Além disso, definir as expectativas de longo
prazo como um somatório das expectativas de curto prazo (equação 4.11) não parece ser uma abordagem
correta, uma vez que elas são expectativas relacionadas a decisões distintas por parte dos empresários.
5 A Formalização dos Argumentos Keynesianos no Arcabouço Neoclássico
O modelo matemático que será apresentado nesta seção tem, dentre outras, duas importantes
implicações: a primeira delas refere-se à utilização em sua formalização de equações que descrevem
relações dinâmicas não-lineares e, a segunda, de um ponto de vista dos resultados alcançados, estabelece
uma crítica aos (resultados) que haviam sido propostos pela síntese neoclássica. A dinâmica não linear
refere-se ao formato da curva de demanda, tendo em vista que na mesma foi incorporada os efeitos de
uma deflação de preços sobre o produto propostos por Keynes ao longo do capítulo 19 da TG.
O modelo é desenvolvido seguindo a tradição convencional, onde a partir de duas equações
dinâmicas de ajustamento, uma para o nível de preços e outra para o produto, determina-se um ponto de
equilíbrio e, posteriormente, analisam-se as propriedades desse equilíbrio. Como será demonstrado, o
modelo caracteriza-se por ser ciclo limite.
5.1 O Modelo
4.1.1 A Não Linearidade da curva de Demanda agregada
Os argumentos apresentados por Keynes no capítulo 19 da TG (ver sessão 3.4), resumidos nos
efeitos Keynes, efeito Keynes – Kalecki, efeito Keynes – Fischer, efeito Keynes – Mundell- Tobin,
juntamente com o efeito liquidez real, ou efeito Pigou – Patinkin, preconizado pelos autores da síntese
neoclássica, mostra claramente que uma deflação de preços e salários tem efeitos ambíguos sobre o nível
de produto e, conseqüentemente, sobre o nível de emprego14.

13
Uma possível justificativa por Keynes ter utilizado essa metodologia, deriva do entendimento que este autor tinha do
processo econômico como um processo que ocorre ao longo do tempo (tempo calendário). Isso significa, em outras palavras,
que a estabilidade das expectativas em relação ao investimento só pode ser aplicada no caso dos investimentos planejados no
passado, ou seja, à medida que ele representa um custo irreversível, mesmo se ele depende de expectativas incertas, não é
possível rever esta decisão.
14
Uma passagem em Keynes esclarece a visão distinta quanto ao formato da curva da demanda de uma firma individual da
curva de demanda agregada é a que se segue: “Para traçar (...) a curva de demanda em indústrias em particular, é

15
Entretanto, cabe ressaltar que embora os efeitos sejam antagônicos, é possível observar que os
mesmos estão associados a dois movimentos distintos, quais sejam: i) um positivo, no sentido de que os
efeitos de uma deflação de preços (efeito Keynes e efeito liquidez real) atuam aumentando a demanda
agregada e, com isso, o nível de produto; e, ii) um negativo, no sentido de que os efeitos (todos os
demais) de uma deflação atuam diminuindo a demanda agregada e, portanto, o nível de produto e
emprego.
Nesse sentido, há de se considerar também que os efeitos atuam ao mesmo tempo e que, portanto,
o resultado sobre o produto (e o emprego) dependerá de qual desses efeitos (positivo ou negativo) é mais
forte em determinado intervalo de tempo. Isso não significa dizer, contudo, que essa situação perdure
necessariamente, ou seja, se mantenha de forma estática. Em outras palavras, significa dizer que podem
existir intervalos em que o efeito positivo supere o efeito negativo e, portanto, uma deflação de preços
leve ao aumento da demanda agregada, sendo que, para outros intervalos, o contrário também pode ser
verdadeiro, de tal forma que essa deflação de preços gere efeitos recessivos sobre a economia.
Em termos da representação formal desse comportamento, a utilização de modelos lineares não
permite que se capte essa possível mudança de efeito sobre a demanda agregada, de tal forma que os
resultados (ambíguos) encontrados só podem ser resolvidos quando assume-se algum grau de
discricionariedade, ou seja, assume ah hoc que um dos efeitos é superior ao outro. Nesse contexto, o
resultado que se assume prevalece ao longo de todo o período. Por outro lado, ao se utilizar-se de relações
não lineares, o problema da ambigüidade é resolvido, de tal forma que os efeitos sobre a demanda são
mensurados sem o uso da discricionariedade e, ainda, as possíveis reversões desses efeitos passam a ser
contempladas na formalização.
Nesse sentido, existem elementos econômicos suficientes para mostrar que a representação formal
da curva de demanda agregada, levando-se em consideração principalmente os efeitos propostos por
Keynes ao longo do capítulo 19 da TG, deve utilizar-se de relações não-lineares. Isso permite, como
mencionado anteriormente, maior aproximação à realidade econômica.
No caso especifico do modelo que será desenvolvido a seguir, utilizar-se-á uma curva de demanda
não linear de terceiro grau, do tipo d ( p)  a0 p 3  a1 p 2  a 2 p  a3 . A opção feita por este tipo de não
linearidade busca, como discutido anteriormente, incorporar na função demanda os possíveis efeitos que
uma deflação de preços. Mais especificamente, busca-se nesta função representar os seguintes efeitos: o
efeito liquidez real, o efeito Fischer/Keynes -Mundell - Tobin e o Efeito Keynes.
Num primeiro momento, admite-se que os efeitos Keynes Fischer/ Keynes -Mundell – Tobin,
representados pelo elemento de segunda ordem na equação, é um efeito (em termos de magnitude)
intermediário ao efeito Keynes e ao Efeito Liquidez Real. No entanto, a partir de determinado ponto este
efeito tende a perder força e ser superado pelo efeito liquidez real, o que é explicado pela intuição
econômica que será apresentada a seguir. Observe ainda que, escrita dessa forma, e considerando
a0  a1  a 2 , a curva de demanda permaneceria decrescente no plano preço e quantidade. Para formalizar
a idéia proposta anteriormente – de que uma deflação de preços possa gerar efeitos depressivos sobre a
demanda – deve-se escrever a curva de demanda agregada de tal forma que a0  a1  a 2 . Mais
especificamente, o que se busca representar formalmente é a seguinte intuição econômica:
i) uma deflação de preços, mantida a taxa nominal de juros, provoca uma queda na taxa de juros real
estimulando, assim, o investimento. No entanto, esse efeito tende a ser um efeito relativamente fraco. Isso
porque, seguindo a tradição Keynesiana, o investimento depende da Eficiência marginal do capital, ou
seja, da rentabilidade esperada e, portanto, variações na taxa de juros reais não constituem o fator
determinante para a expansão do investimento. De um lado, o investidor ao reformular suas expectativas
– dado a variação na taxa de juros – deve levar em consideração que as oportunidades de investimento
lucrativas tendem a se tornarem mais escassas e, por outro, que o preço de oferta dos bens de

indispensável adotar certas hipóteses fixas quanto à forma das curvas de oferta e da procura nas outras indústrias e quanto ao
montante da demanda agregada efetiva. Não é válido, portanto, aplicar o argumento [de uma indústria particular] à indústria
em conjunto, a não ser que lhe transfiramos também a nossa hipótese de que a demanda efetiva agregada é fixa”. (Keynes,
1936 – tradução brasileira 1988:176 apud Chick, 2002:64)

16
investimento – dado o aumento da demanda – tende aumentar, podendo diminuir, assim, o retorno
esperado15. Nesse sentido, uma queda na taxa de juros não necessariamente garante uma maior
rentabilidade. Além disso, é possível, por um lado, que os empresários reformulem suas expectativas de
tal modo a esperarem novas quedas de preços (salários) de tal forma que, se isso acontecer, eles poderão
obter maior taxa de retorno para os investimentos em capital fixo se os mesmos forem adiados (efeito
Keynes – Mundel – Tobin) e, por outro, eles podem observar que o investimento antigo entrará em
concorrência com o novo, este último permitindo produzir à preços menores. Isso significa dizer, em
outras palavras, que variações do nível de preços pode afetar as expectativas quanto a rentabilidade do
investimento, de tal forma que novas variações mudem a expectativa (negativamente) em relação a
eficiência marginal do capital. Contudo, a mercê dos argumentos apresentados, considera-se que uma
deflação de preços – dado a taxa nominal de juros – tem um efeito positivo sobre o investimento. Em
termos da formalização, este efeito é mensurado pelo termo de primeira ordem da equação de demanda.
ii) uma deflação de preços gera um efeito riqueza crescente, ou seja, à medida que essa deflação de
preços tende a se prolongar, esse efeito tende a ganhar força. Isso ocorre porque a base sobre o qual opera
este efeito é dada pelo estoque de riqueza que os agentes do setor privado consideram como um direito
líquido sobre o governo, ou seja, o estoque de papel-moeda em poder do público mais o estoque da dívida
pública retida pelas instituições privadas. Neste caso, uma deflação de preços tende a aumentar o estoque
de papel-moeda em poder do público e, com isso, ampliar o efeito “riqueza real” da sociedade à medida
que os preços diminuam continuamente, de tal forma a aumentar, portanto, a demanda agregada. O
importante é observar que este efeito ganha força somente quando a deflação de preços se prolongar, pois
só assim as pessoas estarão dispostas a manterem maior quantidade de papel moeda. Em termos formais,
este efeito esta associado ao elemento de terceira ordem na equação de demanda agregada; e,
iii) uma deflação de preços desencadeia o efeito Fischer, qual seja, a deflação pode aumentar o peso
real das dívidas, podendo provocar uma onda de insolvências. Além disso, um maior valor real para as
dívidas reduzirá a propensão a consumir dos devedores e, se esta for maior do que a propensão a
consumir dos credores, segue-se que este efeito será depressivo sobre a demanda agregada. Entretanto,
esse efeito pode ocorrer de forma mais intensa para um período intermediário da deflação de preços. –
Isso porque, uma pequena deflação de preços não provoca um aumento muito significativo no peso
relativo da dívida dos devedores, de tal forma que seu impacto sobre a propensão a consumir tende a ser
pequeno. No entanto, a medida que esta deflação de preços continua, esse efeito de ajustamento
(redução) na propensão a consumir estabelece uma nova situação em que os ajustes tornam-se mais
significativos. A medida que esse processo tem continuidade, e a medida que a propensão a consumir já
encontra-se em valores baixos, o ajustamento torna-se cada vez mais problemático, de tal forma que seu
impacto sobre a demanda agregada tende a ser diminuído. Em termos da formalização, este argumento é
representado pelo termo de segunda ordem na equação de demanda.
A intuição econômica que de que uma deflação de preços pode provocar uma redução na demanda
agregada por ser encontrada, entre outros, em Fischer (1933, pág. 341-342):
Assuming, accordingly, that, at some point of time, a state of over-indebtedness exists, this will tend to lead to
liquidation, though the alarm either of debtors or creditors or both. Then we may deduce the following chain of
consequences in nine links: (1) Debt liquidation leads to distress selling and to (2) Contraction of deposit
currency, as bank loans are paid off, and to a slowing down of velocity of circulation. This contraction of
deposits and of their velocity, precipitated by distress selling, causes (3) A fall in the level of prices, in other
works, a swelling of the dollar. Assuming, as above stated, that this fall of prices is not interfered with by
reflation or otherwise, there must be (4) a still greater fall in the net worths of business, precipitating
bankruptcies and (5) a like fall in profits, which in a “capitalistic”, that is, a private-profit society, leads the
concerns which are running at a loss to make (6) a reduction in output, in trade and in employment of labor.
The losses, bankruptcies, and unemployment, lead to (7) pessimism and loss of confidence, which in turn lead to
(8) Hoarding and slowing down still more the velocity of circulation. The above eight changes cause (9)
Complicated disturbances in the rates of interest (…) (grifo nosso).
Nesse sentido, a idéia que aqui se busca representar é a de uma economia composta por uma
parcela considerável de firmas que possuem elevado grau de endividamento. Nessa economia,
inicialmente uma pequena deflação de preços vem acompanhada de um aumento da demanda agregada

15
Deve-se observar, também, que o investimento pode ser pouco sensível a taxa de juros, o que deve se confirmar,
principalmente, para baixos níveis da mesma.

17
(em especial, pela atuação do efeito Keynes). No entanto, a medida que deflação de preços continua, o
valor (peso) real das dívidas mantidas pelas firmas elevam-se significativamente, a tal ponto que grande
parte das mesmas são obrigadas a encerarem suas atividades. Ao encerarem suas atividades, as firmas
demitem funcionários, deixam de produzir e de realizar investimentos. Nesse caso, a não realização de
investimentos pode ser uma característica assumida por todas as firmas, mesmo aquelas que não se
encontram endividadas, uma vez que, conforme afirmou Fischer (1933), nesse ambiente de “falências”
ocorre uma queda no estado de confiança dos negócios. Isso significa que, somando os efeitos da redução
da demanda por parte dos trabalhadores demitidos aos da não realização de investimentos, a tendência é
de que haja uma redução da demanda agregada.
Posteriormente, quando as firmas que tinham que “encerrar suas atividades” já saíram do
mercado, ou seja, depois que as firmas endividadas “fecharam as portas”, a deflação de preços será
acompanhada novamente de uma elevação na demanda agregada. Isso ocorre porque, por um lado, o
efeito Fischer deixa de operar e, por outro, o efeito liquidez real ganha uma maior intensidade.
Observe que existe neste caso um intervalo intermediário em que o efeito Keynes-Fischer supera
os efeitos Keynes e o efeito liquidez real, de tal forma que (neste intervalo) a curva de demanda torna-se
positivamente inclinada no plano preço e produto. Em outras palavras, uma deflação de preços gera uma
queda na demanda agregada.
Existem ainda outras razões para supor que o efeito Keynes-Fischer seja maior ao efeito liquidez
real, pelo menos no que tange a algum intervalo intermediário de demanda 16. Segundo Oreiro (1997, pág.
31-32), duas considerações devem ser feitas com relação a este ponto:
i) Em primeiro lugar, o efeito liquidez-real, que é tese quem garantira a inclinação decrescente da
curva de demanda no plano preço e produto, opera somente sobre aquela parte do estoque de riqueza que
os agentes do setor privado consideram como um direito líquido sobre o governo, ou seja, o estoque de
papel-moeda em poder do público mais o estoque da dívida pública retida pelas instituições privadas.
Contudo, existem motivos para desconsiderar o estoque de dívida pública como parte da riqueza líquida
dos indivíduos. Isso porque, com base na hipótese de equivalência Ricardiana, o endividamento do
governo deverá dar lugar, mais cedo ou mais tarde, à um aumento de impostos 17. Nesse caso, os
indivíduos podem considerar que os títulos do tesouro são, em todo ou em parte, necessários para pagar o
aumento futuro dos mesmos; não fazendo parte de sua riqueza líquida. Sendo assim, a base de operação
do efeito liquidez-real fica restrita ao papel-moeda em poder do público. Por outro lado, o efeito Keynes-
Fisher opera sobre a totalidade dos débitos existentes entre os agentes do setor privado. Esses débitos
incluem os depósitos a vista e a prazo nos bancos comerciais, os empréstimos concedidos pelos agentes
financeiros não-bancários e etc. Tais estoques são, em qualquer economia capitalista moderna, muito
superiores ao estoque de papel-moeda em poder do público. Em outras palavras, a base de operação do
efeito liquidez-real é muito inferior a base de operação do efeito Keynes-Fisher.
ii) Em segundo lugar, o efeito Keynes-Fisher opera sobre a diferença entre as propensões a consumir
sobre o estoque de riqueza de devedores e credores; ao passo que o efeito liquidez-real opera sobre a
totalidade da propensão a consumir a partir da riqueza.
Ressalta-se, novamente, que considera-se que o efeito positivo ocorre apenas para um intervalo
intermediário de demanda, dado que o efeito liquidez real tende a aumentar com a queda do nível de
preços. Tendo em vista, portanto, estas considerações, a curva de demanda formalizada e que será
utilizado no modelo é dado por: d ( p)  0,02 p 3  0,8 p 2  9 p  50 . A calibração dos parâmetros nessa
equação busca descrever a discussão anterior.
Ilustradamente, esta curva de demanda pode ser apresentada como a seguir:
Figura 4.1: A curva de Demanda não Linear.

16
Neste caso, por simplicidade, estamos supondo que os efeitos Keynes e o efeito Keynes – Mundel – Tobin se anulam.
17
Nas palavras de Blanchard e Fischer (1989, pág. 56): " A decrease in taxes, and thus a larger deficit today, must according
to the government budget constraint lead to an increase in taxes later. According to the family budget constraint, the current
decrease and the anticipated future increase exactly offset each other in present value, leaving the budget constraint
unaffected. Families thus not modify theirs paths of consumption”.

18
q

Onde:
demanda
Agregada
p= nível de
preços
q= produto real

5.1.1 Dos Aspectos Genéricos Formais p


O modelo é formalizado a partir de duas equações diferenciais, onde se pressupõe que o
ajustamento de equilíbrio segue um processo de tâtonnement seguindo a tradição Walrasiana de
ajustamento dinâmico da produção na economia18.
As equações diferenciais que descrevem o modelo proposto são:
 
 
p  Bp d  p)  Y  Bp  0 (5.1) Y  B y p  L´ (Y ) By  0 (5.2)
A equação (5.1) mostra que os preços são ajustados em decorrência da discrepância entre oferta e
demanda no mercado de bens, enquanto a equação (5.2) mostra que a oferta de bens é ajustada seguindo a
discrepância entre o preço corrente dos bens e o seu custo marginal. Em outras palavras, considera-se que
o equilíbrio no mercado ocorre quando a demanda é igual à oferta e o preço é igual ao custo marginal;
d ( p )  Y  (5.3) L´ (Y  )  p  (5.4)
 
A economia descrita pelas equações (5.1)-(5.2) estará, portanto, em steady-state quando p  Y  0 .
O sistema de equações diferenciais apresentado em (5.1)- (5.2) é um sistema de equações não-
linear. Para simplificar a análise de estabilidade, lineariza-se o mesmo em torno de sua posição de
equilíbrio, utilizando como recurso o primeiro termo da expansão de Taylor. Deve-se destacar, nesse
caso, que a análise de estabilidade refere-se à estabilidade local da posição de equilíbrio. Logo, a matriz
jacobiana do sistema pode ser apresentada como;
Bp d p  Bp
J
By  By L´´ (Y )
A Análise de estabilidade mostra que o determinante e o traço da matriz assumem os seguintes
valores: Det J  Bp d p L´´ (Y ) By  By Bp , TR J  B p d p  By L´´ (Y )
A análise de estabilidade requer que se avalie o sinal de dois parâmetros d p e L´´ (Y ) . No caso em
que d p  0 e L´´ (Y )  0 , o Det J  0 e o TR J  0 , o sistema será estável. Em outras palavras, a
estabilidade é garantida quando a curva de demanda for negativamente inclinada e os custos marginais
forem estritamente crescentes.
Entretanto, ao admitir-se que a partir de um determinado ponto o parâmetro d p assume um valor
positivo, a instabilidade do ponto de equilíbrio no steady state prevalecerá, considerando que B y e L``
sejam suficientemente pequenos e/ou no caso em que L`` seja nulo. Essa última situação é descrita na
figura (5.2) a seguir. Observa-se o emprego de uma função demanda não linear do terceiro grau e uma
função custo linear (na verdade uma função oferta agregada), do tipo L(Y )  c1  c2Y , o que implica
que L´  c2 e L´´  0 . O equilíbrio é o ponto de demanda efetiva de Keynes.
Como mostra o diagrama de fases, o ponto de equilíbrio é um ponto de equilíbrio instável.
Entretanto, o que deve ser feito é estudar a instabilidade do referido sistema, ou seja, como Det J  0 e o

18
Segundo Serrano (2003, pág. 153), o processo de ajustamento em desequilíbrio é chamado walrasiano quando os preços
aumentam sempre que existe um excesso de demanda e caem na presença de excesso de oferta. Por outro lado, no assim
chamado processo de ajustamento marshalliano, as quantidades produzidas aumentam sempre que o preço de demanda está
acima do preço de oferta e diminuem quando o preço de demanda está abaixo do preço de oferta.

19
TR J  0 , para o caso em que d p  0 e L´´  0 , têm-se a observância da condição necessária (embora
não-suficiente) para a existência dos ciclos. Por conseguinte, é possível que o sistema seja localmente
instável e globalmente estável (neste caso, o teorema de Poincaré – Bendixson seria aplicável). Essa
situação é representada na figura (5.3).
Figura 5.2: Diagrama de fases do Modelo Figura 5.3: A Existência de um Ciclo – Limite

Se o modelo descrever o comportamento apresentado na figura 5.3, isso significa que a


instabilidade refere-se ao ponto de equilíbrio, mas não ao sistema como um todo, pois este é globalmente
estável.
Observa-se, no entanto, que a questão principal é de que nada garante que o ponto de equilíbrio do
modelo seja um ponto de equilíbrio com pleno-emprego. Essa é uma possibilidade dentre tantas outras,
porque no ponto de intersecção entre as duas curvas a única condição que está sendo estabelecido é o
primeiro postulado da economia clássica, qual seja, de que a produtividade marginal é igual ao salário
real. Isso não implica dizer que o mercado de trabalho esteja necessariamente em equilíbrio. Para
esclarecer este ponto, observe a figura (5.5):
Na figura (5.5), o equilíbrio determinado pelo modelo refere-se ao ponto A. No entanto, o ponto
de equilíbrio com pleno-emprego pode ser simplesmente o ponto B, de tal forma que o equilíbrio do
modelo é um equilíbrio que prevalece o desemprego involuntário. Observa-se que este ponto B nunca
será alcançado pela economia, uma vez que esta fica flutuando (ciclo) em torno do ponto A. Ou seja, a
economia não converge necessariamente para sua posição de pleno-emprego, como propunham os
economistas clássicos, podendo ficar – como norma geral, tal como propunha Keynes – presa em
equilíbrio com subutilização de recursos.
De forma alternativa, supondo-se que a economia está inicialmente no ponto de pleno-emprego (C)
na figura (5.6) a seguir, e ocorre um choque de oferta - mudança na produtividade do trabalho - tal que a
curva de custo marginal seja deslocada para a direita (figura 5.6). Neste caso, o que o modelo mostra é
que não existem forças endógenas capazes de fazer com que a economia retorne ao ponto de equilíbrio
com pleno-emprego, porque ela converge para o ciclo (e a partir daí fica flutuando) em torno do ponto A.
Neste caso, o equilíbrio é caracterizado pela subutilização de recursos.

5.1.2 Do Modelo Matemático


Para verificar a existência de um ciclo-limite é necessário que a análise de estabilidade do modelo
matemático atenda aos critérios estabelecidos pelos teoremas de Bendixon e Poincaré. Nesse sentido, o

20
modelo aqui proposto será formalizado a partir da equação de demanda
d ( p)  0,02 p  0,8 p  9 p  50 e da função custo: L (Y )  c1  c2Y . A análise que segue busca mostrar
3 2 '

se o modelo atende ou não aos critérios acima mencionados, de tal forma que se possa verificar a
veracidade da existência de um ciclo-limite (observe que o modelo matemático proposto relaxa a hipótese
de que L´´  0 e, portanto, admite perfeita flexibilidade de preços e salários).
Como demonstrado anteriormente, a matriz jacobiana do sistema é dada por:
Bp d p  Bp
J
By  By L´´ (Y )
onde o determinante e o traço da matriz assumem os seguintes valores: Det J  Bp d p L´´ (Y ) By  By Bp e
TR J  B p d p  By L´´ (Y ) .
Observa-se que, se L´´  0 , a condição de estabilidade passa a depender dos valores assumidos
pelos distintos parâmetros. Para o caso em que L´´  0 , ou seja, supondo uma curva de custo marginal
crescente, a estabilidade global do sistema requer que duas condições sejam satisfeitas, quais sejam:
1º - Condição: d p L´´ (Y )  1 , 2º - Condição: Bp d p  By L`` (Y )
Para prosseguir com a análise é necessário que se definam os valores para os parâmetros, como
segue: B p  1 , B y  0.75 . Observa-se que, neste caso, supõe-se velocidade de ajustamento de preços
instantânea, enquanto que para a produção esse ajustamento será mais demorado, isto é, leva um
determinado tempo para ocorrer. Também, para que se satisfaçam simultaneamente as duas condições
mencionadas anteriormente, o essencial é de que o valor assumido pelo parâmetro L´´ seja relativamente
pequeno. Por exemplo, para que a primeira condição seja atendida, o valor do parâmetro L´´ não pode ser
superior a 0,6 (neste caso o valor do parâmetro d p é igual a 1,66)19. A figura (5.7) apresenta simulações
para o modelo com distintos parâmetros:
Em síntese, o desenvolvimento deste modelo permite concluir que, a partir da formalização de uma
curva de demanda não linear resultante da incorporação dos distintos efeitos de uma deflação de preços
sobre o produto propostos por Keynes, é possível que a economia fique presa (flutuando) em torno de um
equilíbrio de longo prazo que é estável globalmente e caracterizada pela presença do desemprego
involuntário. Logo, este resultado estabelece uma crítica aos resultados propostos pela síntese neoclássica
e tem a vantagem de que esta é estabelecida dentro do mesmo aparato analítico utilizados por seus
defensores, uma vez que não incorpora na análise nenhuma característica “nova”. O resultado é obtido
apenas incorporando os efeitos propostos por Keynes ao longo do capítulo 19 da TG, que eram de
conhecimento dos autores da síntese, embora tenham sido negligenciados nas suas análises.
Figura 5.7: Simulações do Modelo
ValValor dos parâmetros: d p  1,66 , B p  1 , B y  0,75 Função custo marginal: L (Y )  4  c 2 Y
´

c 2  0,23 c 2  0,4

19
Observe que d p é a derivada da função demanda. Como se refere ao um ponto muito próximo do equilíbrio (linearização

pelo primeiro termo da expansão de Taylor) o mesmo foi calculado utilizando o valor do preço de equilibro ( p E  13 ).

21
Valor dos parâmetros: d p  1,66 , B p  1, B y  0,75 Função custo marginal:

L (Y )  6  c2Y
´

c2  0.12 c2  0.29

6 Considerações Finais
O objetivo do presente trabalho foi o de retomar os argumentos de Keynes em relação aos
determinantes da posição de equilíbrio de longo prazo da economia. Nesse sentido, a primeira seção,
buscou-se demonstrar a determinação do par produto e emprego do ponto de vista da teoria Keynesiana.
Para tanto, apresentou-se o princípio da demanda efetiva mostrando que a decisão de quanto produzir e,
consequentemente, de quanto empregar, depende das expectativas dos empresários em relação quantidade
que será possível de ser vendida no mercado a determinado preço esperado. Observa-se que, neste caso,
nada garante que este ponto de equilíbrio (de demanda efetiva) seja correspondente ao ponto de pleno-
emprego. Na verdade, a possibilidade de que isso ocorra é uma entre “ n ” casos possíveis. Logo, de
acordo com essa interpretação, a condição normal da economia capitalista é aquela em que prevalece o
desemprego involuntário.
A análise das criticas de Keynes aos postulados clássicos que determinavam o mercado de trabalho
teve por objetivo evidenciar que, do ponto de vista do autor, havia duas incoerências na determinação
clássica deste mercado: a primeira, de ordem mais empírica, era de que não havia evidências de que uma
redução dos salários reais, ocasionado pelo aumento de preços, seria acompanhado pelo aumento do
desemprego em virtude do abandono por parte dos trabalhadores de seus postos de trabalho; e, segundo,
da hipótese de que salário real surge como conseqüência da livre negociação entre trabalhadores e
empresários. Segundo o autor, os trabalhadores não dispõem de meios que garantam a determinação do
salário real ao valor desejado.
A formalização dos argumentos Keynesianos no arcabouço neoclássico foi proposta através do
desenvolvimento de um modelo matemático. Nesse sentido, a partir de duas equações diferenciais que
descrevem um ajustamento marshalliano, o modelo caracterizou-se por apresentar uma dinâmica definida
com sendo um ciclo-limite. Em outras palavras, o modelo caracterizou-se por ter um ponto de equilíbrio
localmente instável, porém globalmente estável.
A formalização deste modelo com preços e salários flexíveis permite a obtenção de dois resultados:
o primeiro, é no sentido de ampliar as conclusões de trabalhos pós Keynesianos, como Amadeo (1988) e
Oreiro (1997), entre outros, que mostraram que caso os efeitos negativos de uma deflação de preços sobre
a demanda agregada fossem maiores que os efeitos positivos, o ponto de equilíbrio seria um ponto
instável. A contribuição está em mostrar, ao contrário do que foi proposto por estes, de que essa
instabilidade é não explosiva. A segunda contribuição, refere-se a demonstração de que existe, num
contexto de preços e salários flexíveis, um ponto de equilíbrio com desemprego involuntário ao qual a
economia pode ficar presa ao longo do tempo.
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