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TRANSTORNO DO
DÉFICIT DE ATENÇÃO
COM HIPERATIVIDADE -
TDAH
2
3 UNIDADE 1 - Introdução
5 UNIDADE 2 - TDAH: Uma Visão Geral
8 UNIDADE 3 - Epidemiologia, Etiologia e Histórico do TDAH
8 3.1 Epidemiologia
8 3.2 Etiologia
SUMÁRIO
14 4.2 Sintomas
16 5.2 Comorbidades
22 6.2 Avaliação
27 7.2 A escola
39 8.3 Comorbidades
41 8.5 Avaliação
UNIDADE 1 - Introdução
de perder seus pertences com facilidade e rados fatores causais, mas podem contribuir
se distrair facilmente com estímulos do am- para a persistência dos sintomas.
biente.
Autores que estudam os processos psi-
Os mesmos autores acima descrevem a copatológicos, a neurobiologia e a neurop-
hiperatividade como atividade motora in- sicologia do TDAH sugerem que a disfunção
tensa, sendo demonstrada pelos seguintes no córtex pré-frontal e suas conexões com
comportamentos: a circuitaria subcortical e com o córtex pa-
rietal possam ser responsáveis pelo quadro
agitar as mãos ou os pés ou se remexer
clínico. Tais danos levam a déficits na ma-
na cadeira;
nutenção da atenção, inibição, regulação da
não conseguir permanecer sentado; emoção, motivação, capacidade de organi-
zação e planejamento do comportamento
correr em demasia;
futuro (VASCONCELOS, 2002) e das funções
falar muito; executivas (que capacitam o sujeito no de-
sempenho de suas ações voluntárias, autô-
não conseguir envolver-se em ativida- nomas e orientadas para metas específicas),
des de lazer de modo silencioso; incluindo memória de trabalho, planejamen-
parecer “estar a mil por hora”; to, autorregulação de motivação e do limiar
para ação dirigida a um objetivo definido e in-
não conseguir controlar seu próprio cor- ternalização da fala (BARKLEY, 1997, 2000;
po e não manter o foco na atividade cogniti- STRAYHORN, 2002 apud ROSSI; RODRIGUES,
va, gerando uma produção intelectual pobre. 2009).
Para eles, os comportamentos impulsi- O TDAH tem sido considerado um dos
vos são manifestados por dificuldade em maiores problemas clínicos e de saúde pú-
aguardar a vez, responder à pergunta antes blica, gerando grande impacto na socie-
de seu término e intrometer-se na conver- dade pelo alto custo, estresse envolvido,
sa dos outros. Junto à impulsividade, pode- dificuldades acadêmicas, problemas com-
-se observar também instabilidade, apatia, portamentais e pela baixa autoestima gera-
irritabilidade, agressividade, baixo limiar a da nas crianças (ROTTA et al., 2006).
frustrações e reações catastróficas. Assim,
o TDAH é considerado um distúrbio do de- A escola é a primeira instância fora do
senvolvimento com início na primeira infân- âmbito familiar que julga as potencialidades
cia, podendo se prolongar até a idade adulta e possibilidades das crianças, e também é o
(BARKLEY, 1998; ROHDE, 2003; CONDEMA- lugar onde se tornam mais evidentes seus
RÍN et al., 2006; BROWN, 2007 apud ROSSI; problemas atencionais e suas condutas dis-
RODRIGUES, 2009). ruptivas.
Uma variada etiologia tem sido estudada Esses sintomas geram problemas para os
nos últimos tempos. Fatores neurológicos e professores, em especial quando os meios
genéticos parecem contribuir significativa- com que se conta são escassos ou quando se
mente para a explicação dos sintomas e a deve atender a classes que sejam numero-
ocorrência do transtorno. Por outro lado, fa- sas (CONDEMARÍN et al., 2006).
tores ambientais e sociais não são conside-
7
ses (COUTO; MELLO JUNIOR; GOMES, 2010). que se comportavam de maneira excessi-
vamente emocional, desafiadora, passional
Esses estudos foram realizados por Fein-
e agressiva e que mostravam resistentes a
gold (1975 apud COUTO; MELLO JUNIOR;
qualquer tipo de ação com o objetivo de tor-
GOMES, 2010) que retratou que as crianças
nar o comportamento delas mais aceitável.
hiperativas tinham uma melhora em seu
O grupo tinha uma proporção de 3 meninos
comportamento quando eram excluídos de
para cada menina e era composto de crian-
sua dieta corantes artificiais, conservantes e
ças que não tinham indícios de maus tratos
salicilatos naturais como amêndoas, moran-
pelos pais. Still especulou que devido à au-
gos, tomates entre outros alimentos. Estas
sência de maus tratos, os problemas destas
pesquisas foram questionadas por outros
crianças deveriam ser de origem biológica.
cientistas que não encontraram respaldo
A hipótese ganhou mais força ainda quando
que confirmasse que a diminuição de tais
Still notou que alguns membros das famílias
produtos na dieta produzisse algum efeito
das crianças eram portadores de problemas
no desenvolvimento do TDAH.
psiquiátricos como depressão, alcoolismo,
Desta forma, como podemos perceber, as problemas de conduta, etc.
causas do TDAH podem ter um sintoma isola-
O simples fato que Still propôs: uma base
do ou um conjunto de fatores. Devido a isso,
biológica para o problema, demorou ainda
torna-se imperioso um diagnóstico detalha-
mais algumas décadas para se tornar evi-
do por diferentes profissionais, como: psicó-
dência. Antes disso, as crianças e os pais
logos, psicopedagogos e neuropsicólogos.
eram considerados responsáveis pela “falha
Contudo, apesar dos variados fatores que
moral” e o tratamento era frequentemente
influenciam o desenvolvimento do TDAH,
feito através do uso de castigos e punições
cada vez mais se constata que a etiologia
físicas. Os manuais de pediatria da época
do transtorno é neuro-genético-ambiental
eram repletos de explicações de como bater
(COUTO; MELLO JUNIOR; GOMES, 2010).
em crianças e afirmavam necessidade deste
tipo de tratamento.
3.3 Evolução do conheci-
As observações e deduções de Still in-
mento e estudos sobre a fluenciaram o “pai” da psicologia Norte-A-
TDAH mericana, Willian James que especulou que
Suruagy e Botto (2009) apresentam no estes distúrbios de comportamento seriam
site Psiqueweb (2009) um breve histórico do devidos a problemas na função inibitória do
TDAH, reportando que problemas com com- cérebro em relação a estímulos ou a algum
portamentos de agitação e falta de aten- problema no córtex cerebral onde o intelec-
ção em crianças e até adultos está longe de to acabava se dissociando da “vontade” ou
ser uma novidade, haja vista que são feitos conduta social.
trabalhos científicos sobre o assunto desde Em 1934, Eugene Kahn e Louis H. Cohen
o começo do século XX, como um trabalho publicaram um artigo no famoso “The New
feito pelo médico George Frederic Still, em England Journal of Medicine” afirmando que
1902. havia uma base biológica para a hiperativi-
Still descreveu um grupo de 20 crianças dade baseado em um estudo feito com pa-
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não enxerga detalhes ou faz erros por Não específico – a pessoa apresenta
falta de cuidado; algumas dificuldades, mas número insufi-
dificuldade em manter a atenção; ciente de sintomas para chegar a um diag-
nóstico completo. Esses sintomas, no entan-
parece não ouvir; to, desequilibram a vida diária.
dificuldade em seguir instruções;
4.2 Sintomas
dificuldade na organização; Pode parecer redundante falar em ca-
evita / não gosta de tarefas que exigem racterísticas e sintomas, pois ambos podem
um esforço mental prolongado; parecer ter o mesmo significado, mas a in-
tenção é que seja reforçado o entendimento
frequentemente perde os objetos ne- para que haja um diagnóstico o mais próximo
cessários para uma atividade; possível do correto.
distrai-se com facilidade; A ponto de ser considerado como trans-
esquecimento nas atividades diárias. torno de déficit de atenção, os seguintes
sintomas precisam ocorrer na maior parte do
Hiperativo / impulsivo – quando exi- tempo nas seguintes atividades:
ge-se que a pessoa apresente pelo menos
seis das seguintes características. frequentemente deixa de prestar aten-
ção a detalhes ou comete erros por descuido
inquietação, mexendo as mãos e os pés em atividades escolares, de trabalho ou ou-
ou se remexendo na cadeira; tras;
dificuldade em permanecer sentada; com frequência tem dificuldades para
manter a atenção em tarefas ou atividades
corre sem destino ou sobe nas coisas
recreativas;
excessivamente (em adulto, há um senti-
mento subjetivo de inquietação); com frequência não segue instruções
e não termina seus deveres escolares, tare-
dificuldade em engajar-se numa ativi-
fas domésticas ou deveres profissionais, não
dade silenciosamente;
chegando ao final das tarefas;
fala excessivamente;
frequentemente tem dificuldade na or-
responde a perguntas antes de elas se- ganização de suas tarefas e atividades;
rem formuladas;
com frequência evita, antipatiza ou re-
age como se fosse movida a motor; luta em envolver-se em tarefas que exijam
esforço mental constante (como tarefas es-
dificuldade em esperar sua vez;
colares ou deveres de casa);
interrompe e se interrompe.
frequentemente perde coisas necessá-
Combinado – é caracterizado pela rias para tarefas ou atividades;
pessoa que apresenta os dois conjuntos de
é facilmente distraído por estímulos
critérios dos tipos: desatento e hiperativo /
alheios à tarefa principal que está executan-
impulsivo.
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frequentemente interrompe ou se
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UNIDADE 5 - Consequências e
Comorbidades
5.1 Consequências pessoais é bem direto, gerando frustrações,
raiva, rebaixamento da estima e insatisfação
Como vimos, o TDAH é um transtorno com
geral (AMORIM, 2013).
estudos recentes, apesar de ser reconheci-
do desde o início do século. Não existe até o A mesma autora ressalta que na infância,
momento uma causa específica para o pro- compromete o desenvolvimento em muitos
blema. Alguns genes têm sido descobertos aspectos. Na área social, prejudica os relacio-
e descritos como possíveis causadores do namentos com outras crianças. Uma criança
transtorno. Lesões neurológicas mínimas que não saiba esperar, atropelando os ou-
(impossíveis de serem vistas em exames) tros; não saiba ouvir instruções, explicações
que ocorreriam durante a gestação ou nas ou orientações até o final; que não tenha
primeiras semanas de vida, também são le- controle sobre suas explosões emocionais;
vantadas como possíveis causas. Alterações que não siga regras em jogos e brincadeiras,
das substâncias químicas cerebrais (neuro- terá certamente problemas em conquistar
transmissores) também estão sendo suge- e manter amizades. Muitas vezes, o relacio-
ridas como causadores dos sintomas (PSI- namento com adultos é mais fácil, por serem
QUEWEB, 2005). estes mais compreensivos (ou permissivos).
Já o convívio prejudicado com outras crianças
Supõe-se que todos esses fatores for-
deve ser visto como um sinal de alerta.
mem uma predisposição básica (orgânica) do
indivíduo para desenvolver o problema, que
pode vir a se manifestar quando a pessoa
5.2 Comorbidades
sofre ação de eventos psicológicos estres- Alguns autores constataram que indi-
santes, como uma perturbação no equilíbrio víduos com TDAH têm altas taxas de co-
familiar, ou outros fatores geradores de an- morbidade, sendo que as mais comuns são
siedade. Além disso, as exigências da socie- os Transtornos Ansiosos, Transtornos do
dade por uma forma rotinizada de compor- Humor, abuso ou dependência de drogas e
tamento e desempenho podem interferir no Transtornos de Personalidade (BIEDERMAN
diagnóstico deste transtorno (PSIQUEWEB, et al., 1993; BARKLEY, MURPHY e KWASNIK,
2005). 1996b apud BENCZIK; SCHELINI; CASELLA,
2010).
O baixo desempenho escolar; dificulda-
des de relacionamento; baixo autoestima; Segundo Mattos e colaboradores (2005)
interferências no desenvolvimento educa- e Gomes e colaboradores (2007), além dos
cional e social e, predisposição a distúrbios sintomas do transtorno, em mais de 50%
psiquiátricos são apenas algumas das conse- dos casos existem comorbidades, destacan-
quências a que se sujeitam os portadores de do-se entre elas:
TDAH. a) Transtorno desafiante de oposição
Se pensarmos na impulsividade excessi- (TOD), que se caracteriza por comportamen-
va, os impactos negativos sobre o desenvol- to desafiador e opositivo (conforme o nome
vimento pessoal e relacionamentos inter- sugere) em relação a figuras de autoridade.
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b) Transtorno de conduta (TC), que se Esta avaliação deve conter uma anamne-
caracteriza pelo padrão de comportamento se minuciosa, um exame físico abrangente,
no qual se desrespeita os direitos básicos uma avaliação do neuro-desenvolvimento e
dos outros (mentiras, roubo, crueldade com a realização de exames que tem por objeti-
animais entre outros). vo avaliar o rendimento pedagógico, através
de dados recolhidos com professores e sua
c) Abuso de substâncias psicoativas e
interação social com adultos que interagem
álcool – em geral o abuso destas substân-
com a pessoa que está sendo avaliada (COU-
cias relaciona-se com o comprometimento
TO; MELLO JUNIOR; GOMES, 2010).
funcional nas áreas acadêmicas, social e pro-
fissional.
mas algumas vezes bastante semelhantes que se instalam definitivamente antes dos
ao quadro de TDAH. Ressalte-se que uma sete anos, portanto, o diagnóstico do TDAH
avaliação rápida, superficial, não evolutiva é clínico, embora seus sinais possam ser de-
ou baseada em relatos confusos impede a tectados precocemente pelo pediatra que
correta avaliação dessa patologia (COELHO acompanha a criança; sendo essencial o co-
et al., 2010). nhecimento da história do sujeito, a partir da
observação dos pais e dos professores. As
Para Capovilla (2006), o distúrbio TDAH
características gerais da história da criança
é caracterizado por comportamentos crôni-
com TDAH aparecem resumidas na tabela
cos, com duração de no mínimo seis meses,
abaixo:
Fases Características
Fonte: Rhode et al. (2004 apud COUTO, MELLO-JUNIOR e GOMES, 2010, p. 245)
Pelo menos 6 sintomas ÍMPARES e menos que 6 sintomas PARES: TDAH Tipo Predomi-
nantemente Desatento
Pelo menos 6 sintomas PARES e menos que 6 sintomas ÍMPARES: TDAH Tipo Predomi-
nantemente Hiperativo-Impulsivo
FONTE: Manual de Diagnóstico e Estatística – IV Edição (DSM-IV) da Associação Psiquiátrica Americana (1995).
Obs.: O diagnóstico definitivo só pode ser fornecido por um profissional.
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de quem vê a conduta como problemática dos. Há muitas escalas americanas que têm
e de como diferenças percebidas em graus como objetivo avaliar os sintomas de TDAH,
de desvios variam em função dos efeitos do como por exemplo: a Attention Deficit Sca-
ambiente (EDELBROCK, 1983 apud BENCZIK; les for Adults – ADSA (TRIOLO e MURPHY,
SCHELINI; CASELLA, 2010). Dentro do pro- 1996), a Self-Report Rating Form (MCCAR-
cesso de avaliação, as escalas de verificação NEY, 1996) e a Copeland Symptom Checklist
de comportamentos tornam-se muito úteis for Adult Attention Deficit Disorders (COPE-
como “ferramentas auxiliares” no processo LAND, 1989). Porém, o mesmo não acontece
diagnóstico. no Brasil. O único questionário denominado
ASRS-18 (versão 1.1) - Adult Self-Report Sca-
Cabe, entretanto, salientar que o objeti-
le foi desenvolvido por Kessler et al. (2006),
vo da avaliação nos casos do TDAH não é de
juntamente com a Organização Mundial de
qualquer forma rotular indivíduos ou estig-
Saúde. Este questionário consta de 18 per-
matizá-los, mas sim avaliar e determinar a
guntas, em que o examinando deve respon-
extensão na qual os problemas de atenção e
der com que frequência os itens ocorrem. Os
hiperatividade interferem em suas habilida-
itens contidos contemplam os critérios esta-
des acadêmicas, afetivas e sociais e, a partir
belecidos pelo DSM-IV para o diagnóstico do
desta avaliação, fornecer um plano apropria-
TDAH em crianças, sendo adaptado para o
do de intervenção (MONTAGUE, MCKINNEY
contexto da vida adulta.
e HOCCUTT, 1994 apud BENCZIK; SCHELINI;
CASELLA, 2010).
6.3 Tratamento ou conduta
Uma avaliação bem conduzida, utilizando
instrumentos adaptados e com evidências
terapêutica
de validade e precisão, permite a tomada O tratamento envolve o uso de medica-
de decisões adequadas, tendo em vista um ção, geralmente algum psico-estimulante
melhor funcionamento em termos da saúde específico para o sistema nervoso central,
mental do adolescente e do adulto. Em rela- uso de alguns antidepressivos ou outras me-
ção à validade de instrumentos psicológicos, dicações. Deve haver um acompanhamento
sejam estes inventários, escalas ou testes, do progresso da terapia, através da família e
tradicionalmente são caracterizados três da escola. Além do tratamento medicamen-
tipos: validade de conteúdo, de critério e de toso, uma psicoterapia deve ser mantida, na
construto. Dentre as formas mais frequen- maioria dos casos, pela necessidade de aten-
tes de se verificar a validade de construto, ção à criança (ou adulto) devido à mudança
destacam-se as correlações com outros tes- de comportamento que deve ocorrer com a
tes que meçam o mesmo construto, a consis- melhora dos sintomas, por causa do aconse-
tência interna dos itens, mudanças desen- lhamento que se deve fazer aos pais e para
volvimentais, análise fatorial e intervenções tratamento de qualquer problema específico
experimentais (ANASTASI e URBINA, 2000). do desenvolvimento que possa estar asso-
ciado (ABC da Saúde, 2005).
À medida que se apresentam mais estu-
dos a respeito de diferentes tipos de validade Um aspecto fundamental desse trata-
sobre um determinado instrumento, maior a mento é o acompanhamento da criança, de
segurança na interpretação de seus resulta- sua família e de seus professores, pois é pre-
ciso auxílio para que a criança possa reestru-
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turar seu ambiente, reduzindo sua ansieda- bastante otimistas. A Fluoxetina (Prozac®,
de. Uma exigência quase universal consiste Verotina®, Daforim®, Fluxene®, Eufor®, Nor-
em ajudar os pais a reconhecerem que a per- tec®, Deprax®) tem sido usada com sucesso
missividade não é útil para a criança, mas que na dose de 0,5 a 1mg/Kg/dia.
utilizando um modelo claro e previsível de
Existem ainda os antipsicóticos como
recompensas e punições, baseado em tera-
Neuleptil®, Melleril®.
pias comportamentais, o desenvolvimento
da criança pode ser mais bem acompanhado No tratamento do TDAH, a utilização de
(ABC da Saúde, 2005). psicoestimulantes e a terapia comporta-
mental são comumente utilizadas e reco-
Segundo a Associação Brasileira do Déficit
nhecidamente eficazes. O Food and Drug
de Atenção (ABADA), o tratamento farma-
Administration (FDA) aprovou o uso das se-
cológico pode envolver estimulantes como
guintes anfetaminas: metilfenidato, dex-
o Metilfenidato (Ritalina®), a d-anfetamina
troanfetamina e magnésio de pemolina. No
(Biphetamine® - EUA); a Pemolina (Cylert® -
Brasil, a única anfetamina disponível no mer-
EUA). Apenas a Ritalina® se encontra dispo-
cado para o tratamento do TDAH é o metilfe-
nível no Brasil.
nidato (COELHO et al., 2010).
Nos EUA, a cafeína tem sido muito pouco
Os mesmos autores citam que mais de
utilizada para o tratamento do Transtorno de
1500 estudos comprovaram a eficácia clí-
Déficit de Atenção e Hiperatividade devido
nica do metilfenidato, nos últimos 40 anos.
às facilidades para a prescrição do Metilfeni-
Apresenta excelente absorção oral, sendo
dato (Ritalina®), no Brasil a Ritalina® é muito
que a ingestão alimentar altera a velocidade
mais difícil de ser prescrita. Há necessidade
de absorção. Atravessa livremente a barreira
de receituário especial para entorpecentes
hematoencefálica e o início da ação se dá em
que só a secretaria da saúde fornece.
30 minutos, com a meia-vida sérica em torno
Segundo a Associação Brasileira de Défi- de quatro horas.
cit de Atenção (ABADA), não existem estu-
O metilfenidato, uma anfetamina deriva-
dos comprovando a eficácia da cafeína em
da da piperidina de ação simpaticomimética,
crianças com TDAH. Os poucos estudos cien-
tem revelado eficácia superior, seguido pe-
tíficos mostram que o efeito é semelhante
los antidepressivos tricíclicos, no tratamen-
ao do placebo (substância sem efeito) e não
to do TDAH. A ação do metilfenidato seria o
é superior ao efeito dos estimulantes. A ca-
bloqueio da recaptação das catecolaminas
feína só demonstrou ter algum efeito posi-
(dopamina e noradrenalina) nos neurônios
tivo sobre a atenção em indivíduos normais
pré-sinápticos, com uma maior disponibili-
que não eram portadores de TDAH.
dade destas substâncias na fenda sináptica,
Existem também os antidepressivos tricí- predominantemente sobre o sistema reticu-
clicos como a Imipramina (Tofranil®, Imipra®); lar ativador do tronco encefálico e o córtex
a Nortriptilina (Pamelor®) e antidepressi- cerebral (CORREA; PASTURA, 2003).
vos ISRS, mas a experiência é nova com os
O principal efeito, em curto prazo, do me-
antidepressivos inibidores seletivos da re-
tilfenidato seria a insônia e a redução do
ceptação da serotonina para o tratamento
apetite e, ainda, a dor abdominal e cefaleia.
do TDAH, entretanto as perspectivas são
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Os pais devem compreender que a puni- Pais e professores devem manter uma co-
ção sozinha não irá reduzir os sintomas de municação frequente. Os professores tam-
TDAH. Punir deve ser uma atitude direta- bém precisam estar atentos à qualidade de
mente relacionada apenas a um comporta- reforço negativo do seu comportamento. As
mento declaradamente desobediente. No expectativas devem ser adequadas ao nível
entanto, a punição só trará modificação de de habilidade da criança e deve-se estar pre-
comportamento para crianças com TDAH se parado para mudanças (ABDA, 2005).
acompanhada de uma estratégia de contro-
Os professores devem ter conhecimento
le.
do conflito incompetência x desobediência,
9. Construir ilhas de competência: e aprender a discriminar entre os dois tipos
de problema. É preciso desenvolver um re-
O que realmente importa para o sucesso pertório de intervenções para poder atuar
dessa criança na vida é o que existe de cer- eficientemente no ambiente da sala de aula
to com ela e não o que está errado. Cada vez de uma criança com TDAH. Essas interven-
mais, a área da saúde mental focaliza seu ções minimizam o impacto negativo do tem-
trabalho em aumentar os pontos fortes em peramento da criança.
vez de tentar diminuir os pontos fracos. Uma
das melhores maneiras de criar pontos for- Constata-se assim, que existem várias
tes é uma boa relação dos pais com seu filho. ferramentas e linhas de atuação que profes-
sores e escola podem utilizar para contribuir
7.2 A escola na minimização dos problemas de alunos
Uma sala de aula eficiente para crianças com TDAH, além de manter um bom rela-
desatentas deve ser organizada e estrutura- cionamento com os pais, sempre trocando
da. A estrutura supõe regras claras, um pro- ideias para um diagnóstico antecipado pro-
grama previsível e carteiras separadas. piciando um ambiente adequado, sem sofri-
mento para todos os envolvidos.
Os prêmios devem ser coerentes e fre-
quentes. Um programa de reforço baseado Na idade escolar, crianças com TDAH
em ganho e perda deve ser parte integral do apresentam uma maior probabilidade de re-
petência, evasão escolar, baixo rendimento
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elas já possuem uma autoestima baixa e de odo curto, para que elas as concluam antes
que não devem ser julgadas como um exem- de perder o interesse (ARAÚJO; SILVA, 2003).
plo negativo aos demais alunos, e muito
Rohde e Benczik (1999, p. 85) sugerem
menos taxadas como “burras” ou preguiço-
que o professor dialogue com a criança, bus-
sas, elogiá-las sempre que tiverem um bom
cando a opinião dela de como poderia ser a
resultado ajudará muito a motivá-las (REIS;
aula, para que ela se interesse pela mesma
SANTANA, 2009).
e aprenda melhor. As explicações durante a
Crianças com TDAH têm capacidade de fi- aula devem ser pausadas para que elas en-
car atentas diante de uma televisão, jogan- tendam, ao término da explicação pergunte
do videogame ou navegando na internet, a ela se entendeu, e peça que repita o que
isso se dá pelo estímulo dessas atividades e explicou.
por serem individualizadas. Rohde e Benczik
Trabalhar o relacionamento da criança
(1999, p. 42) afirmam que “em atividades em
com TDAH e os outros colegas é de funda-
que a motivação é muito grande e os estímu-
mental importância, já que ela precisa se
los são mais individualizados, estas crianças
sentir segura no ambiente para realizar suas
podem parar quietas e concentrar-se”. Por
tarefas, e muita das vezes ela é excluída das
isso é necessário intervenções no ambien-
atividades em grupo.
te da sala de aula e intervenções pedagógi-
cas para que se estimule a atenção e ajude Araújo e Silva (2003) recomendam igno-
a desenvolver as habilidades deficientes da rar pequenos incidentes. O material didático
criança. deve ser adequado às habilidades da criança.
Estratégias cognitivas que facilitem a auto-
Em sala de aula, o professor deve lembrar-
correção, e que melhorem o comportamento
-se de pontos importantes que podem aju-
nas tarefas, devem ser ensinadas. As tarefas
dar na melhora quanto à atenção da criança,
devem variar, mas continuar sendo interes-
como exemplo Araújo e Silva (2003) citam
santes para o aluno, assim como a criativi-
um fato importante como colocar a criança
dade e habilidade do professor mediante as
sentada perto da mesa do professor, para
tarefas. Os horários de transição (mudanças
que o espaço entre eles sejam pequeno e
de tarefas) das crianças devem ser supervi-
que ela consiga focar sua atenção no que o
sionados. A comunicação entre pais e pro-
professor fala, não se dispersando a estímu-
fessores deve ser frequente. Os professores
los exteriores. Como também não colocá-la
também precisam ficar atentos ao quadro
sentada perto da porta ou janela, pois, ela se
negativo de seu comportamento. As expec-
interessará pelo que se passa fora da sala de
tativas devem ser adequadas ao nível de ha-
aula.
bilidade da criança e deve-se estar prepara-
Ela necessita de atividades que a estimu- do para mudanças.
lem. Ao contrário, a formação de grupos com
É necessário mostrar limites de forma se-
muitas crianças para a realização dessas ati-
gura e tranquila, sem entrar em atrito, pois
vidades podem fazê-la perder o foco, já que
crianças hiperativas têm dificuldade em en-
muito estímulo ao seu redor reduz a capaci-
tender regras, por esse motivo é importan-
dade de focar a atenção e controlar sua hipe-
te trabalhar, e sempre lembrá-las das regras
ratividade. As atividades devem ter um perí-
dentro de sala de aula. Quando cometem er-
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ros deve permitir que ela se desculpe, e res- refas de meia hora.
saltar os limites sem gritar ou repreendê-las
j) adaptar suas expectativas quanto à
de forma agressiva, isso não funciona nem
criança, levando em consideração as dife-
com alunos “normais”.
renças e inabilidades decorrentes do TDAH.
Vale a pena conferir algumas interven-
k) recompensar os esforços, a persis-
ções, citadas por Araújo e Silva (2003), para
tência e o comportamento bem sucedido ou
que o professor desempenhe seu papel de
bem planejado.
maneira que contribua com o aluno a desen-
volver suas habilidades deficitárias, ou seja, l) proporcionar exercícios de consciên-
ajudar a criança com TDAH a se ajustar me- cia e treinamento dos hábitos sociais da co-
lhor à sala de aula: munidade. Uma avaliação frequente sobre o
comportamento da criança consigo mesma e
a) proporcionar estrutura, organização
com os outros, ajudará bastante.
e constância (sempre a mesma arrumação
das cadeiras, programas diários e regras cla- m) estabelecer limites claros e objetivos.
ramente definidas).
n) facilitar o frequente contato aluno/
b) colocar a criança perto de colegas que professor, pois auxilia em um controle extra
não o provoquem, perto da mesa do profes- sobre a criança e possibilita oportunidades
sor, na parte de fora do grupo. de reforço positivo e incentivo a um compor-
tamento mais adequado.
c) elogiar, encorajar e ser afetuoso, por-
que essas crianças desanimam facilmente. o) permanecer em constante comunica-
ção com o psicólogo ou orientador da escola.
d) dar responsabilidades que elas pos-
Este é o melhor ponto de ligação entre a es-
sam cumprir, fazendo com que se sintam ne-
cola, os pais e o médico.
cessárias e valorizadas.
As propostas citadas são dicas e não re-
e) proporcionar um ambiente acolhedor,
gras a serem seguidas como afirmam as au-
demonstrando calor e contato físico de ma-
toras, pois o professor deve utilizar-se de
neira equilibrada.
intervenções que acreditem que possa dar
f) nunca provocar constrangimento ou resultado, e ao notar que suas propostas
menosprezar o aluno. falharam, deve repensá-las se utilizando de
novas intervenções e levando o aluno a de-
g) favorecer oportunidades sociais e
senvolver suas habilidades e se interessar
proporcionar trabalho de aprendizagem em
pela aula, isso serve para alunos com TDAH
grupos pequenos, pois em grupos menores
e alunos “normais”, todos precisam de uma
as crianças conseguem melhores resultados.
aula com qualidade e objetivos.
h) comunicar-se com os pais da criança
Essas são algumas dicas de como lidar em
porque, geralmente, eles sabem o que tem
sala de aula com uma criança com TDAH, que
melhor funcionamento com seu filho.
normalmente é muito inteligente e só preci-
i) ir devagar com o trabalho e parcelar a sa de uma ajuda para que desenvolva suas
tarefa. Doze tarefas de cinco minutos cada habilidades deficitárias. Elas não são melho-
trazem melhores resultados do que duas ta- res nem piores, são iguais às outras crianças
31
Relatos sobre adultos com TDAH mostra- renças encontradas nas taxas de remissão
ram que eles enfrentam problemas sérios de mais bem atribuídas às diferentes definições
comportamento antissocial, desempenho de TDAH ao longo do tempo do que ao curso
educacional e profissional pouco satisfató- do transtorno ao longo da vida (BIEDERMAN
rio, depressão, ansiedade e abuso de subs- et al., 2000 apud MATTOS et al., 2006).
tâncias. Infelizmente, muitos adultos de hoje
Embora o diagnóstico de TDAH em adul-
não foram diagnosticados como crianças
tos ainda seja motivo de embates, conside-
com TDAH. Cresceram lutando com uma de-
ra-se que ele possa ser realizado de modo
ficiência que, frequentemente, passou sem
confiável quando são utilizados critérios bem
diagnóstico, foi mal diagnosticada ou, então,
definidos, tais como os empregados pelo sis-
incorretamente tratada.
tema DSM (SPENCER et al., 1994; 1998 apud
A maioria dos adultos com TDAH apresen- MATTOS et al., 2006).
ta sintomas similares aos apresentados pe-
Dentre os estudiosos do TDAH, encon-
las crianças. São frequentemente inquietos,
tramos em Paulo Mattos e colaboradores,
facilmente distraídos, lutam para conseguir
muitos estudos sobe o transtorno. O ilustre
manter o nível de atenção, são impulsivos e
professor doutor é membro do Centro de
impacientes. Suas dificuldades em manejar
Neuropsicologia Aplicada (CNA), clínica es-
situações de “stress” levam a grandes de-
pecializada em avaliação de crianças, ado-
monstrações de emoção. No ambiente de
lescentes e adultos e coordenador do Grupo
trabalho, é possível que consigam alcançar
de Estudos do Déficit de Atenção (GEDA) da
boa posição profissional ou status compatí-
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
vel com sua educação familiar ou habilidade
intelectual.
8.1 Critérios para diagnósti-
A forma adulta do TDAH foi oficialmente
reconhecida pela Associação Americana de
co em adultos
Psiquiatria em 1980, por ocasião da publi- Os sintomas que compõem a base dos
cação do Diagnostic and Statistical Manual sistemas CID-10, da Organização Mundial de
- 3rd edition (DSM-III), persistindo este diag- Saúde, e do DSM-IV para o diagnóstico de
nóstico na edição atual (DSM-IV). A Classifi- TDAH em crianças e adolescentes são se-
cação Internacional de Doenças (CID-10), em melhantes. Entretanto, o CID-10 apresenta
uso oficial no Brasil, não lista a forma adulta diferenças importantes, que culminam num
em seus critérios. Ainda hoje, o diagnóstico diagnóstico mais restritivo:
de TDAH em adultos é motivo de alguns em- a) exige concomitância de sintomas de
bates (MATTOS et al., 2006). desatenção, hiperatividade e impulsividade.
Estudos longitudinais demonstraram que b) exclui o diagnóstico na presença de co-
o TDAH persiste na vida adulta em torno de morbidade com ansiedade e depressão.
60% a 70% dos casos (BARKLEY et al., 2002
apud MATTOS et al., 2006), sendo as dife- c) exige que os critérios sejam atendidos
33
no(s) psiquiátrico(s), que deve(m) ser investi- Além disso, existem ainda sintomas que
gado(s) durante a avaliação clínica do indiví- permitem a identificação de TDAH, mas não
duo (MATTOS et al., 2006a). são considerados “oficiais”. É preciso lembrar,
conforme Mattos (2003), que estes devem
8.2 Os sintomas em adultos aparecer de forma exacerbada: baixa auto-
Os estudos atuais têm identificado estima; sonolência diurna (dormir como uma
vários sintomas em adultos com diag- pedra); “pavio curto” (mistura de impulsivida-
nóstico de TDAH. Eles podem apresen- de e irritabilidade); necessidade de ler mais
tar: de uma vez para “fixar” o que leu; dificuldade
de levantar de manhã, de se “ativar” no iní-
dificuldades com relações afetivas ins- cio do dia; adiamento constante das coisas;
táveis (separações, divórcios); mudança de interesse o tempo todo; intole-
instabilidade profissional que persiste rância a situações monótonas e repetitivas;
ao longo da vida; busca constante por coisas estimulantes ou
diferentes e variações frequentes de humor.
rendimentos abaixo de suas reais capa-
cidades no trabalho e na profissão; Os sintomas listados no DSM-IV para o
falta de capacidade para manter a aten- diagnóstico de crianças e adolescentes fo-
ção por um período longo; ram adaptados para adultos na escala Adult
Self-Report Scale (ASRS, versão 1.1, dispo-
falta de organização (carente de disci- nível em http://www.hcp.med.harvard.edu/
plina); ncs/asrs.php), cuja calibração foi realizada
insuficiente capacidade para cumprir o durante o National Comorbidity Survey-Re-
que se comprometem; plication (Kessler et al., 2005b), um recen-
te estudo epidemiológico norte-americano
incapacidade para estabelecer cumprir
(MATTOS et al., 2006a).
uma rotina;
esquecimentos, perdas e descuidos im- A escala ASRS possui 18 itens que con-
portantes; templam os sintomas do critério A do DSM-IV
modificados para o contexto da vida adulta,
depressão e baixa autoestima;
uma vez que vários itens dizem respeito a
dificuldades para pensar e se expressar comportamentos próprios da infância ou da
com clareza; adolescência (por exemplo, “correr e esca-
tendência a atuar impulsivamente e in- lar”).
terromper os outros; Algumas perguntas que endereçavam
dificuldades de escutar e esperar sua mais de um aspecto ou sintoma (double bar-
vez de falar; rel, em inglês) foram transformadas (por
exemplo, “não seguir instruções até o final e
frequentes acidentes automobilísticos
deixar suas tarefas sem terminar”). A ASRS
devido à distração; frequente consumo de
oferece cinco opções de resposta de fre-
álcool e abuso de substância (ROIZBLATT,
quência: nunca, raramente, algumas vezes,
BUSTAMENTE; BACIGALUPO, 2003 apud LO-
frequentemente e muito frequentemente,
PES; NASCIMENTO BANDEIRA; 2005).
conforme mostra a tabela a seguir.
35
Embora haja controvérsias sobre o nú- timento globais. Dada a única evidência de
mero de sintomas necessários para o diag- comprometimento acadêmico significativo
nóstico da forma adulta do TDAH, uma vez de TDAH, deve-se esperar, entre muitas ou-
que o limite do DSM-IV foi estabelecido com tras, uma miríade de medições de resultados
base em amostras de indivíduos entre 6 e 16 piores para crianças com a doença (PASTU-
anos, a maioria dos estudos clínicos utiliza RA; MATTOS; PRUFFER, 2005).
esses critérios (MATTOS et al., 2011).
Várias evidências cumulativas nos últimos
Em dois estudos com amostras não clíni- anos revelaram altos níveis de comprome-
cas, a validade do diagnóstico de TDAH em timento funcional associado ao TDAH, que
adultos demonstrou que indivíduos com tem influência potencialmente negativa
maior número de sintomas apresentaram na qualidade de vida (QoL). Apesar dessas
indicadores piores de função e comprome- descobertas, até recentemente não foram
36
desenvolvidos instrumentos para captar in- a terapia empregada, mas não indicam alte-
dicadores de qualidade de vida em pacientes rações ocorridas no impacto de interrupção
adultos com TDAH. Estudos que adotam es- sobre diferentes áreas da vida do paciente.
calas amplamente utilizadas, como a SF-36, Portanto, o propósito deste estudo é exe-
têm indicado que apenas certas subescalas cutar uma validação semântica na língua
estavam relacionadas a remissão de sinto- portuguesa do instrumento Questionário de
mas de TDAH, sugerindo que são necessá- Qualidade de Vida em Adulto com TDAH (AA-
rios instrumentos mais específicos para es- QoL) em uma amostra de pacientes adultos
ses pacientes (MATTOS et al., 2011). com TDAH.
nos critérios diagnósticos do DSM-IV, que Tal como em outros transtornos, a dose
os estudiosos no assunto adaptaram para inicial da medicação deve ser mais baixa,
a vida adulta. Contudo, os estudos mos- sendo ajustada gradualmente conforme a
tram avanços que, espera-se, sejam consi- resposta clínica do paciente. Deve-se bus-
derados na próxima edição deste manual. car a remissão total do TDAH (e comorbida-
Trata-se de um processo complexo e tra- des) ou chegar à maior dose tolerada pelo
balhoso visto que muitas comorbidades se paciente (WEISS E WEISS, 2004 apud LOU-
apresentam com a mesma sintomatologia ZÃ; MATTOS, 2007).
do TDAH. É uma avaliação multifatorial
O tratamento farmacológico do TDAH
que visa coletar uma série de informações,
em adultos é feito com três grupos de
analisar as mais pertinentes com o TDAH
medicamentos: os psicoestimulantes, os
para poder chegar num diagnóstico final.
antidepressivos e a atomoxetina. Os psi-
Os sintomas apresentados referentes às
coestimulantes são considerados como a
comorbidades não devem ser desconside-
primeira escolha.
rados, pois um adulto com TDAH pode ser
tratado concomitantemente com outros Embora não existam estudos controla-
transtornos. dos de imipramina ou nortriptilina no tra-
tamento de TDAH adulto (WILENS et al.,
Os adultos que são encaminhados para
1995 apud LOUZÃ; MATTOS, 2007), esses
avaliação muitas vezes se apresentam
antidepressivos, juntamente com a de-
com um quadro “florido”, isto é, demons-
sipramina (não disponível no Brasil), têm
tram uma série de sintomas que são per-
sido utilizados no tratamento de adultos
tinentes também a outros transtornos
com TDAH. Sua eficácia é inferior a dos psi-
dificultando a identificação e, consequen-
coestimulantes, mas podem ter seu em-
temente, o processo de avaliação. Para o
prego experimentado naqueles pacientes
psicólogo, então, é de grande valia o uso de
que não responderam aos psicoestimulan-
testes psicológicos nessa avaliação clínica
tes ou não toleraram seus efeitos colate-
(LOPES; NASCIMENTO; BANDEIRA, 2005).
rais (SPENCER et al., 2004b apud LOUZÃ;
MATTOS, 2007). A bupropiona também
8.6 Tratamento farmacoló- foi investigada no tratamento de adultos
gico com TDAH, porém sua eficácia revelou-se
As estratégias de tratamento do TDAH inferior a dos estimulantes (SEGENREICH e
em adultos derivam em parte da extrapo- MATTOS, 2004; WILLENS et al., 2005 apud
lação dos estudos feitos em crianças e, em LOUZÃ; MATTOS, 2007). Outro antidepres-
parte, dos estudos clínicos realizados em sivo estudado foi a venlafaxina, cuja eficá-
amostras de adultos. É importante definir cia também se revelou inferior à dos psico-
os alvos do tratamento, que muitas ve- estimulantes (GUITMAN et al., 2001 apud
zes ultrapassam os sintomas primários do LOUZÃ; MATTOS, 2007).
TDAH, especialmente se tratando de indi- A atomoxetina (ainda não disponível no
víduos adultos: o longo histórico de com- Brasil, exceto por importação) é um medi-
prometimento funcional pode se associar camento não-psicoestimulante, potente
a diversos aspectos que não são aborda- inibidor da recaptura de noradrenalina,
dos por farmacoterapia isoladamente.
43
licas: compreensão auditiva, fala, leitura, As DA não verbais (DANV) são efetiva-
escrita e cálculo. mente caracterizadas por um padrão es-
pecífico de dificuldades acadêmicas, ou
Diversos autores: MYKLEBUST (1975);
seja, adequada leitura e escrita, mas reve-
DENCKLA (1991); FOSS (1991); MATIE &
lando problemas de aprendizagem mate-
BOLASKI (1998); ROURKE (2005, 1995a,
mática, e, paralelamente, de dificuldades
1995b, 1994, 1993, 1989, 1988, 1987,
de aprendizagem social consubstanciada
1985, 1975), entre os quais FONSECA
no uso mais eficiente das funções verbais
(2004), incluem no conceito das DA, não
do que das funções não verbais em situ-
só as DA verbais e simbólicas, mas igual-
ações sociais, configurando dificuldades
mente um espectro diversificado de DA
de comportamento adaptativo e psicos-
não verbais ou não simbólicas, envolvendo
social.
combinações de problemas de orientação,
posição e visualização espacial, de aten- Ao contrário, o padrão das DA verbais
ção e concentração, de psicomotricidade, (DAV) sugere, dificuldades acadêmicas
de integração, de imitação, de percepção mais na leitura e na escrita do que na
e de competência social, etc., reforçan- matemática, e dificuldades não verbais
do a explicação filogenética e neurofun- ilustrando mais eficiência no uso da infor-
cional dos dois hemisférios cerebrais em mação não verbal do que da informação
qualquer tipo de aprendizagem humana. verbal em situações sociais.
Neste contexto, o elo mais fraco que são intelectual das DA proposto pela National
os alunos (clientes do sistema), e a razão Joint Commitee on Learning Disabilities -
de ser da instituição escolar, não pode con- NJCLD (LERNER, 2003) só pode ser consi-
tinuar a ser o único componente indicador derado em termos de QI = ou > a 80, isto
na definição. é, quando se situa ligeiramente abaixo de
um desvio-padrão negativo da média (QI =
2) Ilustram um perfil de discrepância en-
85) ou acima da média da inteligência (QI >
tre o potencial de aprendizagem intelectu-
100 - 145) .
al normal e o rendimento ou o desempenho
escolar abaixo do normal. Estamos de acor- Em resumo, as DA em nenhum critério
do que o critério do Quociente Intelectual de diagnóstico confiável podem ser cono-
(QI) seja utilizado, logo valorizamos o papel tadas com deficiência mental; constituem
do exame psicológico. Para evitar confu- em termos de necessidades especiais por
sões com o limite intelectual superior me- essa característica um grupo completa-
dido por testes estandardizados (WISC), mente distinto.
a definição de deficiência mental de fron-
As DA podem ocorrer mesmo em crian-
teira (borderline) equivale a um QI 68-80,
ça, ou jovem e também em jovens sobredo-
segundo a Associação Americana de Defi-
tados, pois há muitos exemplos de figuras
ciência Mental (CORREIA, 1997; CORREIA &
eminentes da cultura, da economia, da arte
MARTINS, 1999; RAPOSO, 1995, 1998).
e da ciência que foram identificados com
Em contrapartida, a definição do nível DA na sua infância e adolescência (Agatha
56
Uma das razões das dificuldades na lei- com DA não aprendem normal ou harmonio-
tura e na escrita pode ser encontrada no samente, mas não são portadores de defi-
PINP atrás focado, ou seja, na integridade ciência visual, auditiva, mental, motora ou
e na especialização dos dois hemisférios. socioemocional, nem as DA podem resultar
Ler, por exemplo, exige: a descodificação e ou emergir, num contexto social de privação
consciencialização de fonemas; um rápido afetiva, de miséria, de pobreza, de abando-
processamento sequencial de optemas; um no ou desvantagem socioeconômica ou so-
mapeamento cognitivo compreensivo, etc., cioafetiva.
isto é, processos neurológicos componen-
4) A definição de DA, por último, deve
tes do ato da leitura, que ocorrem e são diri-
conter fatores de inclusão, que efetivamen-
gidos pelo hemisfério esquerdo. A sua lesão
te as caracterizem psicoeducacionalmente
provoca a alexia, ou seja, uma incapacidade
como necessidades ou características in-
de leitura.
vulgares, e que se enfocam essencialmen-
Como inúmeras investigações têm pro- te nos problemas de processamento de in-
vado, para Galaburda (1989, 1985; Galabur- formação que são a essência do processo
da e col. 2005,1979, 1978 apud FONSECA, da aprendizagem, que envolve a interação
2009), as crianças ou os jovens DA, sobre- entre o ser aprendente (ex.: o aluno, o estu-
tudo disléxicas, possuem um hemisfério di- dante, o formando, o sujeito, etc.) e a tarefa
reito mais potente que o esquerdo, por isso (ex.: ler, escrever, contar, etc.).
tendem a apresentar talentos nas compe-
O papel do cérebro na aprendizagem –
tências visuoespaciais, visuoconstrutivas e
processando ou não a informação
visuográficas, nas competências de reso-
lução de problemas, nas competências ho- Independentemente de qualquer proces-
lísticas de pensamento, nas competências so de aprendizagem ser diferente para cada
musicais, etc. As funções analíticas, como criança ou jovem ou também jovem com DA,
as fonológicas e sequenciais da leitura, ao dado o seu perfil de característica ser único
contrário das globais, são-lhes mais difíceis e individual como falamos atrás, a aprendi-
de dominar. zagem envolve sempre uma interação entre
o sujeito e a tarefa, ou seja, quando alguém
Muitos dos disléxicos chegam a ser consi-
aprende qualquer coisa, como ler ou escre-
derados pensadores espaciais, cujos talen-
ver, está sempre em jogo um processo de
tos no âmbito da criatividade, da computa-
informação entre o sujeito aprendente (o
ção e da arte fazem parte já da história das
aluno) e a tarefa, neste exemplo, a leitura ou
DA.
a escrita.
3) A definição de DA deve conter fato-
A aprendizagem é, portanto, uma mudan-
res de exclusão, não devendo relacionar-se
ça de comportamento provocada por uma
com qualquer tipo de deficiência como vi-
experiência: há um momento inicial quando
mos atrás, implicando consequentemente
a tarefa não é dominada e um momento final
a integridade bio-psico-social do indivíduo
quando essa tarefa passa a ser dominada e
(sensorial, socioemocional, mental, motora,
temos também nessa equação: o sujeito ou
cultural, etc.).
aluno que aprende e a tarefa, os recursos
A criança ou o jovem e também o jovem usados para aprender.
58
A informação uma vez integrada, depois Ela não tem acesso à informação porque
de devidamente descodificada, terá de ser o seu processamento é frágil e fragmenta-
retirada e armazenada, a fim de gerar a com- do, porque o seu cérebro não opera de for-
59
Além desses distúrbios, há outros que teral, tendo a parte posterior inibida.
também têm sintomas parecidos com os
Diante desses resultados, constata-
da dislexia e isso acaba confundindo pais,
ram-se evidências neurobiológicas de que
professores e até profissionais mal in-
existe uma interrupção subjacente nos
formados. É preciso tomar muito cuidado
sistemas neuronais associados à leitura
antes de diagnosticar uma dislexia, que é
em crianças com dislexia. Os dados indi-
bem mais complexa do que a maioria dos
caram que isso já é evidente desde muito
distúrbios relatados.
cedo, concluíram os autores, em artigo
O que acontece com o disléxico é que, publicado na revista Biological Psychiatry.
na maioria dos casos, ele não identifica
DISGRAFIA
sinais gráficos, letra ou qualquer código
que caracterize um texto. Portanto, ele Desordem de integração visual-moto-
não troca letras, porque seu cérebro se- ra, ou seja, não há coordenação entre os
quer identifica o que seja uma letra. dois. É a dificuldade ou a ausência na aqui-
sição da escrita.
Se inverter letras e sílabas, é simples-
mente porque nem sabe o que são letras O indivíduo fala, lê, mas não consegue
e sílabas e não porque "troca letras", como transmitir informações visuais ao sistema
se insiste em divulgar. Existem muitos motor. Resumindo: lê, mas não escreve,
distúrbios que fazem realmente a pessoa além de, possivelmente, ter graves pro-
trocar letras, um deles é a dislalia que ve- blemas motores e de equilíbrio (OLIVIER,
remos mais adiante e outros que, em mo- 2008).
mento oportuno serão citados. Enfim, a
dislexia não causa a troca de letras. É algo Características do sujeito com dis-
muito mais complexo que isso. grafia:
Ainda sobre essa visão, deve-se lem- O indivíduo não possui dificuldades
brar que a equipe de G. Reid Lyon, do Ins- visuais nem motoras, mas não consegue
tituto Nacional de Saúde Infantil Desen- transmitir as informações visuais ao sis-
volvimento Humano dos Estados Unidos, tema motor. Deficiência de "transmissão".
em Bethesda (Maryland), avaliou exames Fala e lê, mas não encontra padrões
de imagens do cérebro em funcionamen- motores para a escrita de letras, números
to de 144 pessoas, sendo 70 disléxicas e e palavras.
74 não disléxicas, todas com idade entre
sete a 18 anos. Não possui senso de direção, falta-
-lhe equilíbrio.
Enquanto realizavam várias tarefas de
leitura e de compreensão de sons, eles fo- Pode soletrar oralmente, mas não
ram submetidos a um exame cerebral cha- consegue expressar ideias, por meio de
mado ressonância magnética funcional. símbolos visuais, pois não consegue es-
Foi observado que as pessoas com leitura crever.
normal, ou seja, sem dislexia, ativaram a Acima de tudo, necessita de avaliação
parte posterior do cérebro, enquanto as multidisciplinar e acompanhamento psi-
disléxicas ativaram as regiões frontal e la- copedagógico.
66
distúrbio, é necessário avaliar muito bem atitudes e palavras, desesperado para fa-
todos os sintomas, realizar exames e, em zer tudo já;
caso de dúvida, consultar colegas na área
6 - Envolve-se em situações perigosas
e/ou professores (caso o profissional seja
sem avaliar riscos e consequências.
recém-formado), enfim, ouvir outras opi-
niões antes de fechar o diagnóstico. O paciente desatento pode ser de-
tectado analisando-se as seguintes
Ainda sobre o transtorno, deve-se ana-
reações e características:
lisar também que, apesar de a maioria dos
indivíduos apresentar um conjunto de 1 - Parece sempre, ou quase sempre,
sintomas e características de desatenção, ausente;
hiperatividade, impulsividade, existem al-
gumas predominâncias e variações que os
2 - Demora muito a encontrar uma res-
posta ou não chega a responder a uma
classificam em subtipos:
pergunta;
Combinado – quando os sintomas
igualam-se em desatenção, hiperativida-
3 - Parece não entender bem uma ques-
tão e não faz nenhuma questão de esfor-
de e impulsividade.
çar-se para entendê-Ia;
Desatento – quando os sintomas
pendem para a desatenção, variando des-
4 - Pode dividir-se em duas tarefas
que exigem atenção, por exemplo, es-
de simples desatenção até grande aliena-
crever enquanto escuta alguém falar-lhe
ção.
e pode até justificar-se dizendo prestar
Hiperativo-lmpulsivo – quando os mais atenção desta forma, mas, na reali-
sintomas aliam-se à hiperatividade-im- dade, não desenvolve satisfatoriamen-
pulsividade. te nenhuma das atividades, ou seja, nem
escreve coerentemente nem responde às
Além dos sintomas já relatados em
questões que lhe fazem durante a con-
DDA, pode-se detectar a hiperatividade-
versa.
-impulsividade, característica do trans-
torno, analisando-se o seguinte no com- O paciente combinado mostrará carac-
portamento (constante) do paciente: terísticas dos dois quadros relatados aci-
ma, além dos sintomas já citados anterior-
1 - Costuma dar respostas precipitadas
mente.
antes de as perguntas terem sido comple-
tadas, correndo o risco de falar uma gran- ATENÇÃO: O TDAH também pode estar
de bobagem; associado ao Transtorno Obsessivo Com-
pulsivo (TOC) ou à Síndrome de Tourette
2 - Tem dificuldade para aguardar sua
(ST). Por isso deve-se cuidar muito do seu
vez;
diagnóstico, para não prejudicar o pacien-
3 - Interrompe ou se mete em assuntos te (OLIVIER, 2008).
(conversas, brincadeiras etc.) de colegas;
DISCALCULIA
4 - Toma decisões sem raciocinar;
Está aí mais um dos distúrbios que po-
5 - Frequentemente precipita-se em dem ser causados por anoxia perinatal ou
71
por outros acidentes, que acabam afetan- numerá-Ias aqui. Essas causas devem
do o funcionamento normal do cérebro. ser tratadas por um psicopedagogo, ge-
Alguns profissionais desinformados ne- ralmente em parceria com um psicólogo,
gam-se a aceitar que a discalculia atinja após analisar todo o histórico de vida e es-
crianças em idade escolar, alegam que só colaridade da criança. As dificuldades cau-
é possível "adquirir" por meio de um Aci- sadas pela deficiência do ensino também
dente Vascular Cerebral (popular derra- são muitas e sua solução depende de uma
me) ou traumatismo crânio-encefálico. nova visão da matemática.
indivíduo com enorme capacidade para dos usados, seguem por cursos de "adul-
aprendizado, mas com grandes dificul- tos" achando que já aprenderam tudo,
dades para linguagem escrita ou falada. pulando etapas que Ihes farão falta cedo
Pode ainda ser classificada como apenas ou tarde. Têm mais facilidade no apren-
distúrbio de linguagem. dizado cinestésico (experimentação) e
apresentam impaciência, impulsividade,
Alguns autores chegam a classificar a
agressividade, incapacidade para prestar
hiperlexia como integrante do quadro de
atenção a qualquer ensinamento.
Transtornos lnvasivos do Desenvolvimen-
to (TlD) ou como subcategoria da Desor- Assim como a dislexia, que ainda hoje é
dem Profunda do Desenvolvimento, o que vista de forma generalizada pela maioria
acaba, de certa forma, igualando o indiví- dos profissionais, gerando inúmeros mal-
duo com hiperlexia aos autistas e aos por- -entendidos e até erros de diagnósticos,
tadores de síndromes como Rett e Asper- a hiperlexia também caminha assim. Por
ger. isso, os profissionais das áreas que aten-
dem a este distúrbio devem estar atentos
Tudo isso tem sentido e deve, obvia-
aos sintomas e às características princi-
mente, ser aceito, mas o que não se pode
pais.
fazer é generalizar e deixar de lado outras
características tão importantes quanto As características e os sintomas da
estas e que também sinalizam a hiperle- hiperlexia basicamente são: (conside-
xia. São elas: rar distúrbio a partir de duas ou mais
características no mesmo indivíduo)
Conforme Olivier (2008), crianças com
aprendizado acelerado de leitura e de 1 - Aprendizado precoce da leitura e da
escrita podem até se autoalfabetizar e escrita (antes dos cinco anos e sem ne-
tornarem-se autodidatas, com excelente nhum estímulo aparente);
memória e capacidade para cálculos com-
2 - Alterações em um ou mais proces-
plicados. Há casos até de crianças, consi-
sos básicos, tais como: sociais, motores,
deradas como "gênios", aprendendo vários
cognitivos, afetivos ou linguagem;
idiomas sem sequer estudá-los, parecen-
do aprender sozinhas, ingressando em 3 - Dificuldades em associações (uso in-
cursos para adultos ou faculdades muito devido de regras pragmáticas, semânticas
antes da idade prevista ou formando-se e sintáticas);
em cursos considerados complicados de-
mais ou ainda solucionando questões ma-
4 - Facilidade para receber e armazenar
quantidades isoladas de informações de
temáticas consideradas impossíveis de se
maneira mecânica, mas com dificuldades
resolver ou fazendo qualquer outra coisa
em organizar e/ou utilizar a informação
fora do comum, demonstrando uma capa-
de forma útil;
cidade extrema para aprendizado.
zar crianças com distúrbios de aprendiza- pécie de ritual. Para entender-se melhor,
gem e o psicopedagogo, por sua vez, não pode-se resumir a compulsão como sendo
trata dos distúrbios de conduta. uma consequência da obsessão. Pode-se
detectar o TOC por atitudes consideradas
Quando estas áreas profissionais cons-
"manias" excessivas nas seguintes situa-
cientizarem-se de suas funções e junta-
ções: colecionar ou acumular coisas, lim-
mente com outros profissionais de áreas
par ou lavar (mãos, objetos etc.), contar
correlatas, tais como psicomotricistas,
ou repetir (atitudes, superstições, etc.),
arteterapeutas, musicoterapeutas e ou-
questionar ou verificar (portas, luzes,
tros, resolverem juntar conhecimentos,
etc.), arranjar ou organizar (arrumar um
trabalhando em conjunto, será certamen-
mesmo armário todos os dias, no mesmo
te muito mais fácil, rápido e prático tratar,
horário, por exemplo).
encaminhar e, em muitos casos, curar pa-
cientes (OLIVIER, 2008). O que é e o que não é TOC?
TRANSTORNO OBSESSIVO COMPUL- Montar uma coleção de revistas e gas-
SIVO – TOC tar bastante tempo e dinheiro com elas,
mas divertindo-se em organizá-Ias de
De uma forma simplista, pode-se defi-
acordo com datas, assuntos etc., não deve
nir o TOC como um transtorno que faz o
ser considerado TOC. Mas passar a vida
emocional sobrepor-se à razão.
toda armazenando revistas, jornais, pa-
Desta forma, mesmo o paciente to- péis, enfim, algo do gênero, sem nenhum
talmente consciente do ridículo de suas tipo de arquivamento, provavelmente
atitudes, parece não ter forças para con- será diagnosticado como TOC.
trolar seus impulsos. A melhor definição
Fechar a porta de casa e voltar para ve-
parece ser de Shapiro (1978): "Ter TOC/ST
rificar se está, de fato, bem trancada, ain-
é como dirigir um carro sem freio, sabe-se
da que se verifique por duas vezes, não é
que está correndo muito ou fazendo um
TOC, mas ficar verificando se a porta está
movimento ridículo e/ou repetitivo, mas o
mesmo bem trancada por inúmeras vezes,
freio falha e não se consegue parar o mo-
indo e voltando à porta até perder a hora
vimento".
de ir para o trabalho, poderá ser diagnos-
É preciso esclarecer que a simples pre- ticado como TOC.
sença de alguma(s) obsessão(ões) e com-
Exemplo claro: Uma pessoa acredita
pulsão(ões) não caracterizam TOC, visto
frequentemente que poderá contrair um
que estes sintomas podem enquadrar ou-
vírus qualquer (desde uma simples gripe
tros distúrbios mentais (depressões, de-
até HIV), pensará tanto nisso que criará
mências, etc.). Também pode haver, basi-
um ritual, ou seja, imaginado que qualquer
camente, três tipos de TOC: só obsessivo,
pessoa ou objeto do qual ela se aproximar
só compulsivo ou, o mais comum, obsessi-
irá lhe contaminar, passará a se recusar
vo compulsivo.
a beijar, a abraçar e até a tocar a mão de
Entenda-se por obsessão uma ideia outra pessoa para um cumprimento; ao
fixa, mania, e por compulsão algo a que se ver-se obrigada a tocar em algum objeto
obriga a fazer de forma contínua, uma es- seja qual for, pensará logo que pode es-
78
mentos reduzem os sintomas de TOC. Isso Podem ainda ser fechados e distan-
demonstra que pode haver um distúrbio tes, presos a comportamentos restritos
neuroquímico do cérebro envolvendo o e a rígidos padrões de comportamento.
funcionamento das vias nervosas que uti- Às vezes, podem desenvolver rituais em
lizam a serotonina (substância que existe outros distúrbios, como balançar-se, agi-
naturalmente no cérebro) para transmitir tar as mãos e os braços, entre outros. Há
seus impulsos. Pode-se dizer que certas também casos raros de autistas com inte-
zonas cerebrais são hiperativas em porta- ligência extrema, geralmente para cálcu-
dores de TOC, e podem localizar-se na par- los matemáticos ou rápida memorização
te frontal – região periorbital, em regiões de muitas informações, mas isso parece
mais profundas do cérebro – nos gânglios ocorrer de forma mecânica, ou seja, ape-
ou nos núcleos da base. nas decoram ou desenvolvem mecanica-
mente essas habilidades não tendo uma
Esta hiperatividade tende a se norma-
real compreensão do que relatam (OLI-
lizar tanto com o tratamento farmacoló-
VIER, 2008).
gico, bem como com a terapia cognitivo-
-comportamental e outros métodos. Mas, O autismo é entendido como um distúr-
quanto aos medicamentos, devem-se bio que pode variar do grau leve ao seve-
analisar reações e benefícios. Até porque ro, sendo considerado como Iimitrofia, em
a resposta de muitos pacientes aos me- casos leves. Alguns podem ser diagnosti-
dicamentos inibidores da recaptação da cados como indivíduos com traços autís-
serotonina é parcial ou muitas vezes nula, ticos e, entre outros, também podem ser
talvez em virtude das diferentes causas e vistos como portadores da Síndrome de
dos tipos de distúrbios. E ainda há o risco Asperger, que é considerada por muitos
de o paciente, antes dinâmico, tornar-se como um tipo de autismo com inteligência
apático e/ou outros sintomas considera- normal.
dos positivos de TOC/ST serem alterados
Como se pode ver, o autismo, atual-
pela medicação (OLIVIER, 2008).
mente, pode ser associado a diversas sín-
AUTISMO dromes, mas isso deve ser visto com cui-
dado, levando-se em conta a margem de
Pode ser definido como uma alteração
erro de diagnóstico e as características de
cerebral, afetando a comunicação do indi-
cada síndrome. Os sintomas podem variar
víduo com o meio externo. Isso atrapalha
amplamente, por isso, prefere-se definir
ou impede a capacidade de estabelecer
o autismo como um espectro de transtor-
relacionamentos, reconhecer pessoas e/
nos, onde a característica básica é a tríade
ou objetos, tornando o indivíduo alienado
de comprometimentos que confere uma
em relação ao ambiente.
característica comum a todos eles. Além
Alguns autistas apresentam normali- destes sintomas, existem diversas sín-
dade na inteligência e fala, enquanto ou- dromes identificáveis geneticamente ou
tros apresentam também retardo mental, que apresentam quadros de diagnósticos
mutismo ou outros retardos no desenvol- característicos, que também estão englo-
vimento da linguagem. badas no espectro do autismo.
80
de do autismo é que torna difícil até a mais Então, o primeiro passo para o trata-
simples troca de afeto, pois a criança não mento é a conscientização dos pais e a
reconhece nem retribui manifestações procura de um bom profissional que de-
de afeto, como abraços, carinhos, beijos, verá fazer e solicitar vários testes e exa-
enfim, não há receptividade por parte do mes com a finalidade de descartar outros
autista em relação ao afeto. Da mesma distúrbios e, em seguida, fazer o diagnós-
forma, não há nenhuma manifestação tico clinicamente, levando-se em conta a
de felicidade ao ver os pais ou desagrado anamnese e o histórico do paciente, di-
quando estes saem. Para a criança, essas ferenciando-o de indivíduos com surdez,
situações são igualmente inertes. retardos ou problemas neurológicos iso-
lados.
Alguns autistas demoram muito para
aprender sobre sentimentos e reações Além disso, para detectar o autismo,
comuns aos seres humanos, outros se- devem-se reunir, no mesmo indivíduo, as
guem alienados sempre, ou seja, nunca três características acima. Alguns autores
percebem isso. insistem que esses sintomas devem apa-
recer antes dos três anos de idade, mas
E, quanto à agressividade que parece
ocorrendo após essa idade, não se pode
mais comum do que a afetividade no au-
descartar a hipótese de um autismo, ain-
tista, esta pode ser agravada pela mudan-
da que com manifestações tardias (OLI-
ça repentina de ambiente ou de situação,
VIER, 2008).
ou mesmo, se, por qualquer motivo, o au-
tista sentir-se contrariado, Tratamentos disponíveis
Como detectar o autismo? Apesar de não se conhecer uma cura
definitiva, já é possível conseguir bons
Ao perceber que um bebê apresenta as
tratamentos que podem tornar o autis-
características acima descritas, deve-se
ta independente e, em alguns casos, até
encaminhá-lo o mais rápido possível a um
produtivo. O diagnóstico e o tratamento
profissional especializado que se encar-
precoce, a educação especial e, em alguns
regará de diagnosticar e orientar os pais
casos, as medicações podem integrar ou
quanto aos tratamentos e aos acompa-
reintegrar o indivíduo autista na socie-
nhamentos disponíveis, de acordo com o
dade. O apoio dos pais, aliado à educação
caso.
especial, pode colaborar muito para que o
É muito importante que os pais man- autista consiga expandir suas capacida-
tenham-se calmos e aptos a ouvir o pro- des de aprendizado, comunicação e rela-
fissional para que o diagnóstico e o trata- cionamento com a sociedade e, em para-
mento sejam bem desenvolvidos, pois o lelo, diminuir a frequência das crises de
que ocorre, na maioria dos casos, é os pais agitação e/ou agressividade, melhorando
negarem o distúrbio no filho, alegando a qualidade de vida do autista e de sua fa-
que ele é temperamental, mimado, esqui- mília.
sitão e outros termos usados para fugir da
Vale lembrar que não há medicações
realidade e isso só atrasa o diagnóstico e o
específicas para tratar o autismo. Quando
tratamento (OLIVIER, 2008).
usadas, servem para amenizar ou comba-
83
REFERÊNCIAS
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SILVA, Paulo Oliveira Guimarães da. Ca-
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G.V. Etiologia. Em: Rohde, L.A. e Mattos, P. tação de Mestrado. Disponível em: http://
Princípios e práticas em TDAH. Proto Alegre: w w w.lume.ufrgs.br/bitstream/hand-
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ce=1
RONCHI, Mariana. O trabalho do professor
dos anos iniciais diante das características do SILVARES, Edwiges Ferreira de Mattos
aluno com transtorno de Déficit de Atenção/ (org.). Estudos de caso em Psicologia Clínica
Hiperatividade – TDAH. Criciúma: Universi- Comportamental infantil. Editora Papirus,
dade do Extremo Sul Catarinense, 2010. 2000.
ANEXO
Uma pesquisa realizada por Rossi e Ro- cativo de acertos que demonstre domínio
drigues (2009) procurou descrever como em identificar e diferenciar o TDAH.
professores de ensino fundamental iden-
A análise da quantidade de acertos por
tificam e definem TDAH.
questão mostrou que não há um conjun-
O Inventário para Identificação de Sin- to expressivo de comportamentos sobre
tomas de TDAH constou de duas partes: na TDAH ou ainda sobre outras patologias
primeira, havia um espaço para os dados que os professores dominem. Variaram
demográficos do professor e, na segunda, muito os acertos para cada questão. Das
cinquenta afirmações, sendo trinta sobre questões, em apenas três delas os pro-
sintomas de TDA, TDH e TDAH e vinte de fessores apresentaram consenso.
outras patologias, contendo espaço para
Analisando em separado as questões
a anotação da resposta pelo professor
referentes à TDA, TDH, TDAH e outras pa-
(questionário abaixo). Esse inventário foi
tologias, observou-se que os professores
elaborado especialmente para essa pes-
acertaram mais sobre TDH e menos sobre
quisa a partir dos comportamentos des-
TDAH. Os da Escola 1 foram mais compe-
critos no DSM-IV (2002) e contou com a
tentes que os professores da Escola 2 ao
participação de um professor da disciplina
identificar os sintomas de TDA, que iden-
de Psicopatologia da Unesp-Bauru.
tificaram melhor “outras patologias”.
A aplicação do Inventário para Iden-
A análise das definições de TDAH foi
tificação de Sintomas de TDAH para os
feita para o conjunto dos professores (39)
professores de duas escolas de Ensino
sem especificar as escolas. Observa-se
Fundamental de uma cidade paulista de
que as definições se referem aos exces-
pequeno porte mostrou que os profes-
sos comportamentais (exemplo: “agita-
sores, no geral, sabem muito pouco dife-
do, inquieto...”), consequências destes
renciar os sintomas para TDAH. Conside-
na aprendizagem ou em relacionamentos
rando o desempenho dos professores das
sociais (exemplo: “prejudica o relaciona-
duas escolas no Inventário, percebe-se
mento social e irrita os colegas”) e com-
um melhor desempenho dos professores
portamentos diretamente relacionados
da Escola 1, pois 50% deles acertaram de
com a aprendizagem (exemplo: “não pres-
71% a 80% das questões. Já na Escola 2,
ta atenção”). Nas definições, observou-se
a maioria dos professores (58%) acertou
que, pelo menos parcialmente, a maioria
de 61% a 70% das questões do Inven-
dos professores define o TDAH. Porém,
tário. Em ambas as escolas, apenas um
ainda são definições incompletas, que de-
professor de cada (5%) acertou acima de
monstram conhecimento da questão pau-
80%. Os resultados parecem indicar que
tando-se pelo senso comum.
os professores da Escola 1 são mais infor-
mados e confundem menos o TDAH com Nota-se neste estudo que os profes-
outras psicopatologias, porém, em ambas sores da Escola 2 são mais jovens e parti-
as escolas não houve um número signifi- cipam mais de cursos rápidos (99%) e de
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especialização (47%) do que os professo- a incidência é inferior a 5%. Por outro lado,
res da Escola 1. Apesar de mostrarem-se nos Estados Unidos e Canadá, Szatmari et
mais ativos e empenhados na busca de al. (1989 apud ROSSI; RODRIGUES, 2009)
conhecimentos, os professores da Escola afirmaram que o problema ocupa cerca de
2 mostraram piores desempenhos em to- 30% das consultas de saúde infantil.
dos os instrumentos neste estudo.
Apesar de existirem prevalências tão
Os autores ainda enfatizam que o TDAH diferentes, em geral, há algum consenso
permanece mal compreendido e contro- de que a prevalência está próxima de 5%
verso nas informações do público em ge- da população infantil, com um predomínio
ral e das autoridades educacionais. de 3:1 (meninos para meninas), embora
isso varie segundo a idade e nível socioe-
Para eles, a dificuldade começa na
conômico (CONDEMARÍN et al., 2006).
identificação e encaminhamento adequa-
do dos alunos com TDAH, principalmente Fica aqui a dica para vocês: o ponto
porque o transtorno não está descrito de partida, então, é informar, ensinar e
de maneira objetiva quanto à sua delimi- orientar o professor sobre o que é TDAH,
tação e ao uso de critérios para se fazer suas causas, diagnóstico, prevalência, en-
o diagnóstico, influenciando os dados da fim, tudo o que esclareça o professor so-
prevalência (que variam nos diferentes bre o assunto e, tão importante quanto,
países: EUA, Nova Zelândia, Alemanha, In- fornecer subsídios, por meio de técnicas
glaterra, Taiwan, Itália, dentre outros). cognitivo-comportamentais, para que
ele possa atuar (fornecer ajuda, incenti-
Jensen (2000 apud ROSSI; RODRIGUES,
vo e apoio) com esse aluno que apresenta
2009), ao descrever os obstáculos que di-
comportamentos inadequados e/ou difi-
ficultam sua apropriada identificação e a
culdades escolares.
obtenção de dados cientificamente váli-
dos sobre sua evolução, etiologia, preva-
lência e tratamento, questiona: será que
o TDAH deve ser conceitualizado como
transtorno ou faz parte do extremo de
um continuum do desenvolvimento nor-
mal? Condemarín et al. (2006) relataram
que, ainda hoje, não há um consenso en-
tre profissionais que trabalham no campo
da psicopatologia infantil a respeito da
prevalência exata do TDAH na população,
apesar de ser considerado um dos trans-
tornos mais comuns da infância. A autora
relata que os dados variam segundo o in-
vestigador, o local, os critérios diagnós-
ticos empregados, as fontes de informa-
ção, bem como o conceito e definição de
TDAH. Segundo a autora, no Reino Unido,
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