Vous êtes sur la page 1sur 96

1

TRANSTORNO DO
DÉFICIT DE ATENÇÃO
COM HIPERATIVIDADE -
TDAH
2

3 UNIDADE 1 - Introdução
5 UNIDADE 2 - TDAH: Uma Visão Geral
8 UNIDADE 3 - Epidemiologia, Etiologia e Histórico do TDAH
8 3.1 Epidemiologia

8 3.2 Etiologia

10 3.3 Evolução do conhecimento e estudos sobre a TDAH

13 UNIDADE 4 - Características e Sintomas


13 4.1 Características

SUMÁRIO
14 4.2 Sintomas

16 UNIDADE 5 - Consequências e Comorbidades


16 5.1 Consequências

16 5.2 Comorbidades

18 UNIDADE 6 - Diagnóstico, Avaliação e Tratamento


18 6.1 Diagnóstico

22 6.2 Avaliação

23 6.3 Tratamento ou conduta terapêutica

26 UNIDADE 7 - Os Pais, a Escola e o Portador de TDAH


26 7.1 A participação dos pais

27 7.2 A escola

28 7.3 A atuação dos professores

32 UNIDADE 8 - O TDAH na Fase Adulta


32 8.1 Critérios para diagnóstico em adultos

34 8.2 Os sintomas em adultos

39 8.3 Comorbidades

40 8.4 Transtornos psiquiátricos a serem considerados em adultos

41 8.5 Avaliação

42 8.6 Tratamento farmacológico

46 UNIDADE 9 - Introdução aos Problemas de Aprendizagem e Fracasso Escolar


48 UNIDADE 10 - Problemas, Distúrbios ou Dificuldades de Aprendizagem?
51 UNIDADE 11 - Dificuldades de Aprendizagem – O Papel do Cérebro
61 UNIDADE 12 - Os Distúrbios da Aprendizagem
86 REFERÊNCIAS
91 ANEXO
3

UNIDADE 1 - Introdução

Dificuldade de prestar atenção na aula, maior risco (BARKLEY, MURPHY E KWASNIK,


distrair-se facilmente e ficar com a mente va- 1996 apud BENCZIK; SCHELINI; CASELLA,
gando pelo “mundo da lua” quando o profes- 2010).
sor está falando. Pouca paciência para estu-
Outra consideração que chama atenção: o
dar e fazer os deveres, agitação, inquietude
fato do TDAH não ser identificado e tratado
e uma capacidade incrível de fazer milhões
pode ser devastador para a pessoa, uma vez
de coisas ao mesmo tempo. E quase nenhu-
que, apesar de não plenamente determinan-
ma delas associada à aula. Estas são algumas
te, pode levar o adulto a praticar atos delin-
características de alunos que apresentam o
quentes, tornar-se usuário de substâncias
Transtorno de Déficit de Atenção com Hipe-
psicoativas, em razão do baixo limiar para en-
ratividade, conhecido como TDAH. O proble-
frentar frustração, além de problemas com a
ma atinge um grande número de crianças e
lei, com o trânsito e transtornos de persona-
adolescentes, que veem o seu desempenho
lidade (BARKLEY, 2002; SOIFER,1992).
acadêmico prejudicado pela doença e muitas
vezes sequer sabem que são portadores. Crianças, adolescentes, adultos, família,
escola, todos sofrem quando não conse-
Até os anos 70, o Transtorno do Déficit de
guem diagnosticar e lidar com os portadores
Atenção e Hiperatividade era considerado
de TDAH e, evidentemente, as consequên-
um transtorno limitado à infância, com sinto-
cias, como visto, podem ser bem mais dano-
mas que desapareceriam na vida adulta, no
sas.
entanto, estudos prospectivos e retrospec-
tivos que acompanharam crianças diagnos- Pois bem, partindo das premissas acima,
ticadas com TDAH na infância e acompanha- o arcabouço teórico traçado nesta aposti-
das até a idade adulta mostram que grande la, passa necessariamente por conceitos do
parte delas continua a apresentar sintomas TDAH, a epidemiologia e etiologia; as carac-
significativos, associados a importantes pre- terísticas e os sintomas, as consequências e
juízos em diversas esferas da vida cotidiana comorbidades; o diagnóstico, a avaliação e o
(BENCZIK; SCHELINI; CASELLA, 2010). tratamento.
Outros estudos inferem que sintomas Dedicamos um momento/espaço ao por-
como hiperatividade e impulsividade sofrem tador dessa necessidade no ambiente esco-
maior redução do que a desatenção, no en- lar e a participação dos pais, do professor e da
tanto, a permanência de sintomas na idade escola que podem em muito contribuir para
adulta, concomitante a altas frequências que levem uma vida mais saudável. Há espa-
de transtornos mentais comórbidos, leva a ço também para discutir o TDAH em adultos,
população a apresentar significativos pro- passando pelos critérios para o diagnóstico,
blemas adaptativos como, por exemplo, di- os sintomas, as comorbidades, os transtor-
ficuldades no trabalho, menor escolaridade, nos psiquiátricos a serem considerados, a
maior envolvimento em acidentes de trânsi- avaliação e o tratamento farmacológico.
to, problemas criminais, dificuldades conju-
gais, problemas financeiros e sexualidade de As referências utilizadas se reportam a
4

pesquisas realizadas até hoje, mas sabemos


que a vida de maneira geral é dinâmica, por-
tanto, lembremos que as pesquisas evoluem
e com certeza esperanças, novos métodos,
novos tratamentos e novas soluções pode-
rão surgir a qualquer momento.

Ressaltamos em primeiro lugar que embo-


ra a escrita acadêmica tenha como premissa
ser científica, baseada em normas e padrões
da academia, fugiremos um pouco às regras
para nos aproximarmos de vocês e para que
os temas abordados cheguem de maneira
clara e objetiva, mas não menos científicos.
Em segundo lugar, deixamos claro que este
módulo é uma compilação das ideias de vá-
rios autores, incluindo aqueles que conside-
ramos clássicos, não se tratando, portanto,
de uma redação original e tendo em vista o
caráter didático da obra, não serão expres-
sas opiniões pessoais.

Ao final do módulo, além da lista de refe-


rências básicas, encontram-se outras que
foram ora utilizadas, ora somente consulta-
das, mas que, de todo modo, podem servir
para sanar lacunas que por ventura venham
a surgir ao longo dos estudos.
5

UNIDADE 2 - TDAH: Uma Visão Geral

O Transtorno do Déficit de Atenção com problemas com o período de atenção, com o


Hiperatividade (TDAH) é um comprometi- controle do impulso e com o nível de ativida-
mento neuro-comportamental com início na de” (BARKLEY, 2002, p. 35).
infância, caracterizando-se por um conjun-
Tem como características:
to de sintomas que envolvem hiperativida-
de motora, impulsividade e desatenção. No persiste durante o desenvolvimento da
adulto, as principais características sintoma- criança;
tológicas do TDAH são déficit de atenção,
ocorre em diversas situações;
instabilidade emocional e desorganização.
Nota-se que comparando os sintomas na prejudica a capacidade da criança em
criança e no adulto, a hiperatividade tende responder às demandas solicitadas para sua
a diminuir e a desorganização fica mais evi- idade;
dente (BIEDERMAN et al., 2000 apud AGRA
et al., 2011). não é facilmente explicado por causas
ambientais ou sociais; e,
De acordo com critérios do DSM-IV, o
TDAH é dividido em três subtipos: desaten- relaciona-se a anormalidades no funcio-
to, hiperativo/impulsivo e combinado. Afeta namento ou desenvolvimento cerebral, que
em torno de 5% das crianças com idade in- podem estar associadas a fatores biológicos.
ferior a 18 anos e pode persistir após adoles- Barkley (2002) e Rotta et al. (2006) tam-
cência em até 30% a 70% dos casos, com bém pontuam os três problemas primários
prevalência de 4,4% nos adultos. A grande no TDAH: dificuldade para manter a atenção;
maioria dos estudos observa um predomínio pouco controle ou inibição dos impulsos (im-
2 a 3 vezes maior do transtorno no sexo mas- pulsividade) e atividade excessiva (hiperati-
culino. vidade), que resultam em atraso no desen-
Conforme dados da Associação Médica volvimento da inibição de comportamento,
Americana, o TDAH é um dos transtornos que é o problema central do transtorno.
mais bem pesquisados da medicina e a totali- Rotta et al. (2006) enfatizam a presença
dade dos dados sobre sua validade são muito de um nível inadequado de atenção em re-
mais convincentes do que os da maior parte lação ao esperado para a idade, o que leva a
dos transtornos mentais e inclusive de mui- distúrbios motores, perceptivos, cognitivos
tos problemas médicos. Apesar deste corpo e comportamentais. A desatenção caracte-
de pesquisa robusto que torna o TDAH um riza-se pela dificuldade em prestar atenção
dos “transtornos mais bem pesquisados na a detalhes, o que leva a criança a cometer
medicina”, ainda falta conhecimento acerca erros em atividades escolares, não conse-
desse transtorno no Brasil (GOLDMAN et al., guir acompanhar instruções longas e não
1998 apud POLANCZY et al., 2011). conseguir executar as atividades de forma
O TDAH “é um transtorno do desenvol- adequada. A criança apresenta dificuldade
vimento do autocontrole que consiste em para organizar, planejar, realizar tarefas que
envolvam esforço mental sustentado, além
6

de perder seus pertences com facilidade e rados fatores causais, mas podem contribuir
se distrair facilmente com estímulos do am- para a persistência dos sintomas.
biente.
Autores que estudam os processos psi-
Os mesmos autores acima descrevem a copatológicos, a neurobiologia e a neurop-
hiperatividade como atividade motora in- sicologia do TDAH sugerem que a disfunção
tensa, sendo demonstrada pelos seguintes no córtex pré-frontal e suas conexões com
comportamentos: a circuitaria subcortical e com o córtex pa-
rietal possam ser responsáveis pelo quadro
agitar as mãos ou os pés ou se remexer
clínico. Tais danos levam a déficits na ma-
na cadeira;
nutenção da atenção, inibição, regulação da
não conseguir permanecer sentado; emoção, motivação, capacidade de organi-
zação e planejamento do comportamento
correr em demasia;
futuro (VASCONCELOS, 2002) e das funções
falar muito; executivas (que capacitam o sujeito no de-
sempenho de suas ações voluntárias, autô-
não conseguir envolver-se em ativida- nomas e orientadas para metas específicas),
des de lazer de modo silencioso; incluindo memória de trabalho, planejamen-
parecer “estar a mil por hora”; to, autorregulação de motivação e do limiar
para ação dirigida a um objetivo definido e in-
não conseguir controlar seu próprio cor- ternalização da fala (BARKLEY, 1997, 2000;
po e não manter o foco na atividade cogniti- STRAYHORN, 2002 apud ROSSI; RODRIGUES,
va, gerando uma produção intelectual pobre. 2009).
Para eles, os comportamentos impulsi- O TDAH tem sido considerado um dos
vos são manifestados por dificuldade em maiores problemas clínicos e de saúde pú-
aguardar a vez, responder à pergunta antes blica, gerando grande impacto na socie-
de seu término e intrometer-se na conver- dade pelo alto custo, estresse envolvido,
sa dos outros. Junto à impulsividade, pode- dificuldades acadêmicas, problemas com-
-se observar também instabilidade, apatia, portamentais e pela baixa autoestima gera-
irritabilidade, agressividade, baixo limiar a da nas crianças (ROTTA et al., 2006).
frustrações e reações catastróficas. Assim,
o TDAH é considerado um distúrbio do de- A escola é a primeira instância fora do
senvolvimento com início na primeira infân- âmbito familiar que julga as potencialidades
cia, podendo se prolongar até a idade adulta e possibilidades das crianças, e também é o
(BARKLEY, 1998; ROHDE, 2003; CONDEMA- lugar onde se tornam mais evidentes seus
RÍN et al., 2006; BROWN, 2007 apud ROSSI; problemas atencionais e suas condutas dis-
RODRIGUES, 2009). ruptivas.

Uma variada etiologia tem sido estudada Esses sintomas geram problemas para os
nos últimos tempos. Fatores neurológicos e professores, em especial quando os meios
genéticos parecem contribuir significativa- com que se conta são escassos ou quando se
mente para a explicação dos sintomas e a deve atender a classes que sejam numero-
ocorrência do transtorno. Por outro lado, fa- sas (CONDEMARÍN et al., 2006).
tores ambientais e sociais não são conside-
7

O professor tem como finalidade a apren-


dizagem do aluno. Assim, deve-se compro-
meter com o sucesso deste para que seus
déficits sejam minorados ou neutralizados
(PEREIRA et al., 2004). Cabe aos professores
a tarefa de garantir ao aluno uma formação
que lhe propicie o acesso aos conhecimen-
tos socialmente acumulados e a aquisição
dos comportamentos de autogoverno, ca-
pacitando-o a atuar sob novas contingências
e agir com sucesso em relação ao mundo em
um tempo futuro. Dessa forma, os profes-
sores necessitam de um vasto conjunto de
conhecimentos científicos sobre o mun-
do físico e social e sobre o comportamento
humano, de modo a responder pelo ensino
de forma eficiente (ZANOTTO, 2004), en-
tre eles o comportamento de crianças com
TDAH, de forma que, sabendo identificá-los
e conhecer estratégias para lidar com eles,
possibilitaria a elas acesso ao conhecimento
e ao desenvolvimento pessoal (ROSSI; RO-
DRIGUES, 2009).
8
UNIDADE 3 - Epidemiologia, Etiologia e
Histórico do TDAH
3.1 Epidemiologia de 9:1 de me¬ninos para meninas, em amos-
tras clínicas (Barkley, 2002; Rohde & Halpern,
De pronto, justificamos que os números
2004 apud SANTOS; VASCONCELOS, 2010),
apresentados sobre os portadores de TDAH
e uma proporção de 3:1 em amostras popu-
não são exatos, o que pode ser observado na
lacionais em geral (OFFORD & COLS., 1992;
unidade anterior e em vários momentos ao
BARKLEY, 1998; ROHDE & HALPERN, 2004
longo da apostila, mas a variação está dentro
apud SANTOS; VASCONCELOS, 2010). Vale
de um limite aceitável, como a Associação
ressaltar que os estudos epidemiológicos re-
Americana de Psiquiatria (APA) que estima
ferem-se à faixa etária dos 7 aos 14 anos de
cerca de 3(três) a 5(cinco)% das crianças na
idade (ROHDE & MATTOS, 2003), embora ele
idade escolar (mais ou menos de 5 a 10 anos
possa persistir durante a vida adulta, con-
de idade) apresentando hiperatividade e/ou
forme observado por Biederman e Faraone
déficit de atenção. Antes dos quatro ou cin-
(2005 apud SANTOS; VASCONCELOS, 2010).
co anos é difícil ser feito o diagnóstico, pois
De fato, a persistência do TDAH em adoles-
o comportamento das crianças nessa idade é
centes e adultos vem sendo relatada em al-
muito variável, e a atenção não é tão exigida
guns estudos longitudinais, ainda que a taxa
quanto de crianças mais velhas. Mesmo as-
de prevalência seja inconsistente. A preva-
sim, algumas crianças desenvolvem o trans-
lência do TDAH em adultos na população ge-
torno numa idade bem precoce. Em ado-
ral varia de 2,5% a 8% (Kessler, Chiu, Demler,
lescentes e adultos ainda existem poucos
Merikangas & Walters, 2005; Kooij & cols.,
dados a respeito de qual é a porcentagem da
2005; Rohde & cols., 1998 apud SANTOS;
população afetada, mas é sabido que ambos
VASCONCELOS, 2010). De acordo Barkley
os grupos podem desenvolver o transtorno.
(2002) e Biederman e Faraone (2005), cerca
Em termos de gênero, o sexo masculino é
de 60% a 70% das crianças com TDAH apre-
quatro a nove vezes mais afetado do que o
sentarão o diagnóstico na vida adulta (SAN-
feminino (ANDRADE, 1999).
TOS e VASCONCELOS, 2010).
Estudos epidemiológicos indicam que 3%
a 7% das crianças norte-americanas com 3.2 Etiologia
idade escolar apresentam TDAH (GOLDMAN, Acredita-se que o distúrbio esteja acom-
GENEL, BEZMAN, & SLANETZ, 1998; PASTOR panhado de um quadro de disfunção hor-
& REUBEN, 2002 apud SANTOS; VASCONCE- monal. Tomografias tiradas dos cérebros de
LOS, 2010). No Brasil, alguns estudos em po- pessoas com TDAH registram um comporta-
pulações de crianças brasileiras em idade es- mento diferente de dois neurotransmisso-
colar corroboram estes índices (GUARDIOLA, res – a noradrenalina e a dopamina – que atu-
TERRA, FERREIRA & LONDERO, 1999; ROH- am sobre a atenção e a coordenação motora
DE & COLS., 1998; SOUZA, SERRA, MATTOS, (DIAS, 2004).
& FRANCO, 2001; FREIRE & PONDÉ, 2005
apud SANTOS; VASCONCELOS, 2010). Mais de 40% das crianças com esse défi-
cit têm pais que apresentaram o mesmo pro-
O transtorno apresenta uma prevalência blema na infância.
9

A etiologia do transtorno é multifatorial, rio ou suficiente para o desenvolvimento do


ou seja, enquanto fenótipo, o TDAH resulta transtorno, fato que segundo o autor pode
da interação de vários fatores ambientais e ser explicado pela complexidade clínica do
genéticos que atuam na manifestação de transtorno.
seus diversos quadros clínicos (ROMAN et al.,
Em outro estudo, Faraone e colaborado-
2003).
res (1992 apud COUTO; MELLO JUNIOR; GO-
Em relação à imaturidade emocional, se- MES, 2010) concluíram que 57% das crianças
gundo Riesgo e Rohde (2004), alguns even- com TDAH têm pais afetados com o transtor-
tos pré ou perinatais como, por exemplo, o no, com um risco de 15% entre irmãos. Tam-
baixo peso ao nascer, a exposição ao álcool bém confirmaram esta teoria os estudos fei-
ou cigarros durante a gestação, aumentam o tos com gêmeos monozigotos, nos quais se
risco para o desenvolvimento do TDAH. Eles constatou a concordância de 51%, enquanto
atestam também que existem evidências de em dizigotos a concordância é de 33% com
que o TDAH esteja associado a uma perma- maior incidência de TDAH em familiares de
nência de imaturidade, ou melhor, de ilhas de primeiro grau do indivíduo afetado.
imaturidade, em um curso maturacional nor-
Segenreich e Mattos (2007) afirmam que
mal e progressivo, mas um pouco mais lento
trabalhos recentes encontram evidências de
em determinados setores.
que o TDAH se trata de um distúrbio neuro-
Estudos realizados por Moreno (1995 biológico. Dois grupos de pesquisas atuais
apud COUTO; MELLO JUNIOR; GOMES, 2010), têm resultados que atribuem a este trans-
avaliaram o comportamento das crianças torno duas possíveis causas: uma relaciona-
por meios de distintas etapas evolutivas, da ao déficit funcional do lobo frontal, mais
deixando claro que as complicações pré e precisamente o córtex cerebral; e a outra ao
perinatais não afetam igualmente todas as déficit funcional de certos neurotransmisso-
crianças prematuras ou com baixo peso, o res.
que significa que esses problemas não são
Pesquisadores como Barkley (2002) acre-
suficientes para explicar a futura existência
ditam ainda que o TDAH se evidencia por um
de um TDAH.
déficit básico no comportamento inibitório.
No que se refere aos estudos da genéti- Uma deficiência em determinadas áreas nas
ca do TDAH, estudos epidemiológicos mos- quais o cérebro deveria comandar. Ainda
tram a recorrência familiar e, conforme Todd para este pesquisador, um dos problemas
(2000 apud COUTO; MELLO JUNIOR; GOMES, preponderantes é que a criança com este
2010), o risco da recorrência do TDAH entre transtorno tem dificuldade em manter sua
pais e irmãos é cerca de cinco vezes maior atenção focalizada por um período mais lon-
que a prevalência na população. Estes dados go.
foram obtidos a partir de estudos com famí-
Durante a década de 70, uma teoria este-
lias com gêmeos e adotados.
ve presente em relação aos fatores que oca-
Embora estes trabalhos demonstrem a sionava o TDAH: as questões nutricionais.
existência de uma contribuição genética Acreditava-se que os aditivos presentes nas
substancial para a ocorrência do TDAH, não dietas alimentares das crianças com TDAH
evidenciaram nenhum gene como necessá- estivessem relacionados ao agravo das cri-
10

ses (COUTO; MELLO JUNIOR; GOMES, 2010). que se comportavam de maneira excessi-
vamente emocional, desafiadora, passional
Esses estudos foram realizados por Fein-
e agressiva e que mostravam resistentes a
gold (1975 apud COUTO; MELLO JUNIOR;
qualquer tipo de ação com o objetivo de tor-
GOMES, 2010) que retratou que as crianças
nar o comportamento delas mais aceitável.
hiperativas tinham uma melhora em seu
O grupo tinha uma proporção de 3 meninos
comportamento quando eram excluídos de
para cada menina e era composto de crian-
sua dieta corantes artificiais, conservantes e
ças que não tinham indícios de maus tratos
salicilatos naturais como amêndoas, moran-
pelos pais. Still especulou que devido à au-
gos, tomates entre outros alimentos. Estas
sência de maus tratos, os problemas destas
pesquisas foram questionadas por outros
crianças deveriam ser de origem biológica.
cientistas que não encontraram respaldo
A hipótese ganhou mais força ainda quando
que confirmasse que a diminuição de tais
Still notou que alguns membros das famílias
produtos na dieta produzisse algum efeito
das crianças eram portadores de problemas
no desenvolvimento do TDAH.
psiquiátricos como depressão, alcoolismo,
Desta forma, como podemos perceber, as problemas de conduta, etc.
causas do TDAH podem ter um sintoma isola-
O simples fato que Still propôs: uma base
do ou um conjunto de fatores. Devido a isso,
biológica para o problema, demorou ainda
torna-se imperioso um diagnóstico detalha-
mais algumas décadas para se tornar evi-
do por diferentes profissionais, como: psicó-
dência. Antes disso, as crianças e os pais
logos, psicopedagogos e neuropsicólogos.
eram considerados responsáveis pela “falha
Contudo, apesar dos variados fatores que
moral” e o tratamento era frequentemente
influenciam o desenvolvimento do TDAH,
feito através do uso de castigos e punições
cada vez mais se constata que a etiologia
físicas. Os manuais de pediatria da época
do transtorno é neuro-genético-ambiental
eram repletos de explicações de como bater
(COUTO; MELLO JUNIOR; GOMES, 2010).
em crianças e afirmavam necessidade deste
tipo de tratamento.
3.3 Evolução do conheci-
As observações e deduções de Still in-
mento e estudos sobre a fluenciaram o “pai” da psicologia Norte-A-
TDAH mericana, Willian James que especulou que
Suruagy e Botto (2009) apresentam no estes distúrbios de comportamento seriam
site Psiqueweb (2009) um breve histórico do devidos a problemas na função inibitória do
TDAH, reportando que problemas com com- cérebro em relação a estímulos ou a algum
portamentos de agitação e falta de aten- problema no córtex cerebral onde o intelec-
ção em crianças e até adultos está longe de to acabava se dissociando da “vontade” ou
ser uma novidade, haja vista que são feitos conduta social.
trabalhos científicos sobre o assunto desde Em 1934, Eugene Kahn e Louis H. Cohen
o começo do século XX, como um trabalho publicaram um artigo no famoso “The New
feito pelo médico George Frederic Still, em England Journal of Medicine” afirmando que
1902. havia uma base biológica para a hiperativi-
Still descreveu um grupo de 20 crianças dade baseado em um estudo feito com pa-
11

cientes vítimas da epidemia de encefalite de incerteza, novas descobertas começaram a


1917-1918. Os autores deste artigo foram os ser feitas ligando os problemas associados
primeiros a mostrar uma relação entre uma com a ADD com certos tipos de neurotrans-
doença e os sintomas da ADD - Attencion missores.
Déficit Disorder – (falta de atenção, impulsi-
C. Kornetsky (1970), na década de 70, pro-
vidade e hiperatividade).
pôs a hipótese de que a ADD poderia estar
Em 1937, Charles Bradley mostrou mais ligada a problemas com certos neurotrans-
uma linha de relação da ADD com o biológi- missores como a Dopamina e a Noroepine-
co através da descoberta acidental de que frina. Embora a hipótese seja coerente, as
alguns estimulantes, as anfetaminas, aju- pesquisas realizadas desde então, na ten-
davam crianças hiperativas a se concentrar tativa de comprovar o efeito destes neuro-
melhor. Esta descoberta foi contrária à lógi- transmissores na ADD, ainda não obtiveram
ca tradicional, pois os estimulantes em adul- sucesso.
tos produziam um aumento de atividade no
Lou et al. (s.d apud HALLOWELL e RATEY,
sistema nervoso central enquanto o inverso
2000) acharam evidências de uma deficiên-
acontecia em crianças com ADD. O porquê
cia de circulação sanguínea nos lobos fron-
deste fenômeno ainda iria ficar mais algu-
tais e no hemisfério esquerdo de pessoas
mas décadas sem resposta.
portadoras de ADD. Todos estes achados
Em pouco tempo as pessoas com este foram confirmados em 1990 por ZAME-
problema receberam uma nova e obscura TKIN (s.d apud HALLOWELL e RATEY, 2000),
descrição: “Disfunção Cerebral Mínima” e graças ao desenvolvimento de novas tec-
começavam a serem tratadas com dois es- nologias que mostravam o funcionamento
timulantes (Ritalina e Cyclert) que tinham se do cérebro in vivo. De acordo com as novas
demonstrado muito eficazes no tratamento evidências, ficou claro que a ADD estava re-
do problema. almente associada às alterações do meta-
bolismo cerebral, acabando definitivamente
Nos anos 60, as observações clínicas se
com a dúvida sobre a real existência da sín-
tornaram mais apuradas e ficou cada vez
drome e sua ligação biológica.
mais aparente que a síndrome tinha algu-
ma origem biológica e talvez até genética, Nominalmente, no início do século XX,
absolvendo os pais da culpa pelo problema esse distúrbio foi chamado de ‘distúrbio de
definitivamente na comunidade científica. A disfunção cerebral mínima’, passando poste-
população em geral continuou culpando os riormente a ser chamado de ‘hipercinesia’ ou
pais, como ainda acontece até hoje em popu- ‘hipernicese’. Logo a seguir, ‘hiperatividade’,
lações menos informadas. No final dos anos nome que ficou mais conhecido e perdurou
60, muito já era sabido sobre ADD, mas a fal- por mais tempo. Em 1987 passou a ser cha-
ta de novas evidências ligando a síndrome às mado de ‘distúrbio do déficit de atenção’,
bases biológicas começou a criar discussões sendo que, muitas vezes, utiliza-se somente
sobre a sua existência. Muitos acreditavam a sigla DDA (em português) ou ADD (em in-
que o transtorno era uma tentativa de livrar glês “Attencion Déficit Disorder”). É também
os pais de culpa por seus filhos mimados e eventualmente chamado de ‘síndrome do
mal comportados. Depois deste período de déficit de atenção’ (SILVA, 2004).
12

O TDAH é reconhecido oficialmente por


vários países e pela Organização Mundial da
Saúde (OMS). Em alguns países, como nos
Estados Unidos, portadores de TDAH são
protegidos pela lei quanto a receberem tra-
tamento diferenciado na escola.
13

UNIDADE 4 - Características e Sintomas

4.1 Características (SILVA, 2004).


Segundo Dias (2004), a criança com TDAH Essas crianças frequentemente não aten-
tem dificuldade em focar atenção. É impul- dem a solicitações ou instruções e não con-
siva (reage antes de pensar), atinge os ex- seguem completar os trabalhos escolares,
tremos da emoção com rapidez (tristeza e tarefas domésticas ou outros deveres.
alegria) e não consegue terminar uma tarefa
(cansa-se logo, num efeito chamado de fadi-
As características apresentadas aqui
ga precoce).
de maneira bem didática e mais fre-
quentemente citadas estão em ordem
Reforçando: a característica essencial de frequência:
do TDAH é um padrão persistente de desa-
hiperatividade;
tenção, hiperatividade e alguns sintomas
hiperativo-impulsivos que causam prejuízo comprometimento percepto-motor;
ao relacionamento interpessoal. Para o diag-
nóstico ser satisfeito deve haver clara inter- instabilidade emocional;
ferência no funcionamento social, acadêmi- déficit geral da coordenação;
co ou ocupacional (SILVA, 2004).
distúrbio da atenção;
A desatenção pode tanto manifestar-se
em situações escolares, quanto profissionais impulsividade;
ou sociais. As crianças com este transtorno transtorno da memória e do pensamen-
podem não prestar muita atenção a deta- to;
lhes e podem cometer erros grosseiros por
falta de cuidados nos trabalhos escolares ou deficiências específicas do aprendiza-
em outras tarefas. O trabalho dos portado- do;
res de TDAH frequentemente é confuso e
sinais e irregularidades neurológicas
realizado sem meticulosidade nem precisão
duvidosas ao eletroencefalograma (ABC da
adequada.
Saúde, 2005).
Os indivíduos, com frequência, têm difi-
As características do TDAH aparecem
culdade para manter a atenção em tarefas
bem cedo para a maioria das pessoas, logo
ou atividades lúdicas e consideram difícil
na primeira infância. O distúrbio é caracte-
persistir nas mesmas tarefas até o seu tér-
rizado por comportamentos crônicos, com
mino. Normalmente essas crianças dão a im-
duração de no mínimo seis meses, que se
pressão de estarem com a mente em outro
instalam definitivamente antes dos 7 anos.
local, ou de não estarem escutando o que
Atualmente, quatro subtipos de TDAH foram
está sendo dito. Pode haver frequentes mu-
classificados:
danças de uma tarefa para outra, elas podem
iniciar uma tarefa, passar para outra, depois Desatento – quando exige-se que a
voltar a atenção para outra antes de comple- pessoa apresente pelo menos seis das se-
tarem qualquer uma de suas incumbências guintes características:
14

não enxerga detalhes ou faz erros por Não específico – a pessoa apresenta
falta de cuidado; algumas dificuldades, mas número insufi-
dificuldade em manter a atenção; ciente de sintomas para chegar a um diag-
nóstico completo. Esses sintomas, no entan-
parece não ouvir; to, desequilibram a vida diária.
dificuldade em seguir instruções;
4.2 Sintomas
dificuldade na organização; Pode parecer redundante falar em ca-
evita / não gosta de tarefas que exigem racterísticas e sintomas, pois ambos podem
um esforço mental prolongado; parecer ter o mesmo significado, mas a in-
tenção é que seja reforçado o entendimento
frequentemente perde os objetos ne- para que haja um diagnóstico o mais próximo
cessários para uma atividade; possível do correto.
distrai-se com facilidade; A ponto de ser considerado como trans-
esquecimento nas atividades diárias. torno de déficit de atenção, os seguintes
sintomas precisam ocorrer na maior parte do
Hiperativo / impulsivo – quando exi- tempo nas seguintes atividades:
ge-se que a pessoa apresente pelo menos
seis das seguintes características. frequentemente deixa de prestar aten-
ção a detalhes ou comete erros por descuido
inquietação, mexendo as mãos e os pés em atividades escolares, de trabalho ou ou-
ou se remexendo na cadeira; tras;
dificuldade em permanecer sentada; com frequência tem dificuldades para
manter a atenção em tarefas ou atividades
corre sem destino ou sobe nas coisas
recreativas;
excessivamente (em adulto, há um senti-
mento subjetivo de inquietação); com frequência não segue instruções
e não termina seus deveres escolares, tare-
dificuldade em engajar-se numa ativi-
fas domésticas ou deveres profissionais, não
dade silenciosamente;
chegando ao final das tarefas;
fala excessivamente;
frequentemente tem dificuldade na or-
responde a perguntas antes de elas se- ganização de suas tarefas e atividades;
rem formuladas;
com frequência evita, antipatiza ou re-
age como se fosse movida a motor; luta em envolver-se em tarefas que exijam
esforço mental constante (como tarefas es-
dificuldade em esperar sua vez;
colares ou deveres de casa);
interrompe e se interrompe.
frequentemente perde coisas necessá-
Combinado – é caracterizado pela rias para tarefas ou atividades;
pessoa que apresenta os dois conjuntos de
é facilmente distraído por estímulos
critérios dos tipos: desatento e hiperativo /
alheios à tarefa principal que está executan-
impulsivo.
15

do; mete em assuntos de outros (por exemplo,


intrometendo-se em conversas ou brinca-
Com frequência apresenta esqueci-
deiras de colegas) (ABC da Saúde, 2005).
mento em atividades diárias (ABC da Saúde,
2005).

Uma pessoa pode apresentar o transtor-


no de hiperatividade quando a maioria dos
seguintes sintomas torna-se uma ocorrência
constante em sua vida:

frequentemente agita as mãos ou os


pés ou se remexe na cadeira;

com frequência abandona sua cadeira


em sala de aula ou em outras situações nas
quais se espera que permaneça sentado;

frequentemente corre ou escala em de-


masia, em situações nas quais isso é inapro-
priado (em adolescentes e adultos, isso pode
não ocorrer, mas a pessoa deixa nos outros
uma sensação de constante inquietação);

com frequência tem dificuldade para


brincar ou se envolver silenciosamente em
atividades de lazer;

está frequentemente “a mil” ou muitas


vezes age como se estivesse “a todo vapor”;

frequentemente fala em demasia (ABC


da Saúde, 2005).

Além dos sintomas anteriores referentes


ao excesso de atividade em pessoas com
hiperatividade, podem ocorrer outros sinto-
mas relacionados ao que se chama impulsivi-
dade, à qual estaria relacionada aos seguin-
tes aspectos:

frequentemente dá respostas precipi-


tadas antes de as perguntas terem sido com-
pletadas;

com frequência tem dificuldade para


aguardar sua vez;

frequentemente interrompe ou se
16
UNIDADE 5 - Consequências e
Comorbidades
5.1 Consequências pessoais é bem direto, gerando frustrações,
raiva, rebaixamento da estima e insatisfação
Como vimos, o TDAH é um transtorno com
geral (AMORIM, 2013).
estudos recentes, apesar de ser reconheci-
do desde o início do século. Não existe até o A mesma autora ressalta que na infância,
momento uma causa específica para o pro- compromete o desenvolvimento em muitos
blema. Alguns genes têm sido descobertos aspectos. Na área social, prejudica os relacio-
e descritos como possíveis causadores do namentos com outras crianças. Uma criança
transtorno. Lesões neurológicas mínimas que não saiba esperar, atropelando os ou-
(impossíveis de serem vistas em exames) tros; não saiba ouvir instruções, explicações
que ocorreriam durante a gestação ou nas ou orientações até o final; que não tenha
primeiras semanas de vida, também são le- controle sobre suas explosões emocionais;
vantadas como possíveis causas. Alterações que não siga regras em jogos e brincadeiras,
das substâncias químicas cerebrais (neuro- terá certamente problemas em conquistar
transmissores) também estão sendo suge- e manter amizades. Muitas vezes, o relacio-
ridas como causadores dos sintomas (PSI- namento com adultos é mais fácil, por serem
QUEWEB, 2005). estes mais compreensivos (ou permissivos).
Já o convívio prejudicado com outras crianças
Supõe-se que todos esses fatores for-
deve ser visto como um sinal de alerta.
mem uma predisposição básica (orgânica) do
indivíduo para desenvolver o problema, que
pode vir a se manifestar quando a pessoa
5.2 Comorbidades
sofre ação de eventos psicológicos estres- Alguns autores constataram que indi-
santes, como uma perturbação no equilíbrio víduos com TDAH têm altas taxas de co-
familiar, ou outros fatores geradores de an- morbidade, sendo que as mais comuns são
siedade. Além disso, as exigências da socie- os Transtornos Ansiosos, Transtornos do
dade por uma forma rotinizada de compor- Humor, abuso ou dependência de drogas e
tamento e desempenho podem interferir no Transtornos de Personalidade (BIEDERMAN
diagnóstico deste transtorno (PSIQUEWEB, et al., 1993; BARKLEY, MURPHY e KWASNIK,
2005). 1996b apud BENCZIK; SCHELINI; CASELLA,
2010).
O baixo desempenho escolar; dificulda-
des de relacionamento; baixo autoestima; Segundo Mattos e colaboradores (2005)
interferências no desenvolvimento educa- e Gomes e colaboradores (2007), além dos
cional e social e, predisposição a distúrbios sintomas do transtorno, em mais de 50%
psiquiátricos são apenas algumas das conse- dos casos existem comorbidades, destacan-
quências a que se sujeitam os portadores de do-se entre elas:
TDAH. a) Transtorno desafiante de oposição
Se pensarmos na impulsividade excessi- (TOD), que se caracteriza por comportamen-
va, os impactos negativos sobre o desenvol- to desafiador e opositivo (conforme o nome
vimento pessoal e relacionamentos inter- sugere) em relação a figuras de autoridade.
17

b) Transtorno de conduta (TC), que se Esta avaliação deve conter uma anamne-
caracteriza pelo padrão de comportamento se minuciosa, um exame físico abrangente,
no qual se desrespeita os direitos básicos uma avaliação do neuro-desenvolvimento e
dos outros (mentiras, roubo, crueldade com a realização de exames que tem por objeti-
animais entre outros). vo avaliar o rendimento pedagógico, através
de dados recolhidos com professores e sua
c) Abuso de substâncias psicoativas e
interação social com adultos que interagem
álcool – em geral o abuso destas substân-
com a pessoa que está sendo avaliada (COU-
cias relaciona-se com o comprometimento
TO; MELLO JUNIOR; GOMES, 2010).
funcional nas áreas acadêmicas, social e pro-
fissional.

d) Transtorno de humor – depressão e


transtorno bipolar, sendo que o primeiro ca-
racteriza-se por tristeza, irritação, perda de
interesse por atividades habitualmente pra-
zerosas, fadiga fácil, insônia ou hiperisônia,
enquanto que o transtorno bipolar carac-
teriza-se pela presença de humor exaltado,
euforia alternando-se com momentos de
depressão.

e) Transtornos de ansiedade, que se


caracterizam por medos ou preocupações
excessivas que comprometem a vida acadê-
mica, social e familiar.

f) Transtornos de tiques que se carac-


terizam pela realização de movimentos ou
sons vocais repentinos, rápidos, não rítmi-
cos, estereotipados.

g) transtornos de aprendizado, não


consideradas aqui as dificuldades primárias
decorrentes das próprias características do
TDAH (desatenção e impulsividade) e que
erroneamente são designadas como trans-
torno de aprendizagem.

Por se tratar de um transtorno, que na


maioria das vezes envolve uma multiplicida-
de de sintomas o diagnóstico do TDAH, é um
processo que requer a avaliação de diferen-
tes profissionais como: médicos, psicólogos,
psicopedagogos e neuropsicólogos.
18
UNIDADE 6 - Diagnóstico, Avaliação e
Tratamento
6.1 Diagnóstico tataram a presença de hipofunção cerebelar
(PEREIRA et al., 2003).
Segundo Coelho et al. (2010), o diagnósti-
co para TDAH deve fundamentar-se no qua- As crianças desatentas podem apresen-
dro clínico comportamental, uma vez que tar um nível mais alto de isolamento social
não existe um marcador biológico definido e retraimento, com níveis mais elevados de
para todos os casos. O DMS-IV classifica os ansiedade, depressão e disfunção social;
pacientes com TADH em três grupos: TDAH enquanto crianças com predomínio de sin-
combinado, TDAH predominantemente de- tomas de hiperatividade são mais agressivas
satento, TDAH predominantemente hipera- do que as outras, tendendo a manifestar ele-
tivo/impulsivo. vados índices de rejeição pelos colegas e a se
tornarem impopulares (COELHO et al., 2010).
Os critérios para TDAH, segundo o DSM
IV (1994), são utilizados para avaliação das Frequentemente, a presença de comorbi-
crianças e adolescentes, quando é impor- dade torna o prognóstico ainda pior, ao pas-
tante a presença de seis dos critérios que sar do tempo. Em geral, todas as comorbi-
envolvem sinais de desatenção, hiperativi- dades necessitam ser abordadas, quer com
dade e impulsividade. conduta medicamentosa ou qualquer outra.
Uma intervenção adequada pode melhorar
Uma história familiar positiva de TDAH ou
tanto a qualidade de vida como o prognósti-
outro transtorno comportamental, também,
co desses pacientes. O diagnóstico diferen-
deve ser indagado, pois pode ocorrer recor-
cial com o TDAH deve ser feito com relação
rência familiar significante para tal transtor-
a epilepsia, crises de ausência na infância,
no (GUILHERME et al., 2007). O risco de TDAH
déficits visual ou auditivo, doenças neuro-
parece ser duas a oito vezes maior nas crian-
degenerativas, patologias da tiroide, distúr-
ças de pais afetados do que na população em
bios do sono como dissonias e parassonias,
geral.
doenças psiquiátricas e, de forma particular,
A presença de comorbidades no TDAH causas psicossociais. Deve-se suspeitar des-
torna o diagnóstico mais difícil e exige maior tas etiologias, porque podem levar a sinto-
suspeição em relação aos diversos tipos de
transtornos comportamentais, sendo uma 1- O P300 é um instrumento de investigação do processamento
da informação (codificação, seleção, memória e tomada de
causa frequente de má resposta terapêutica decisão) e permite avaliar a atividade cortical envolvida nas
habilidades de discriminação, integração e atenção do cérebro.
ao tratamento isolado, com drogas psicoati- O potencial cognitivo P300 é um potencial evocado auditivo de
vas. O eletroencefalograma (EEG), o potencial longa latência, gerado a partir da discriminação de um estímu-
lo auditivo raro, dentre outro frequente, de mesma modalidade
evocado 300 1 e estudos de neuroimagem e características físicas diferentes. A resposta a este estímulo
são utilizados para auxiliar no diagnóstico. ocorre por volta de 300 mseg após a apresentação do mesmo.
Ele é um indicador da velocidade do processamento cortical
Avaliações por meio de tomografia por emis- sendo que a sua resposta envolve várias vias do cérebro como
as do tronco cerebral, córtex pré-frontal e temporo-parietal,
são de pósitrons (PET) revelam resultados tálamo, hipocampo e região límbica.
diferentes em adultos e crianças com TDAH. O P300 pode estar anormal em pacientes com demência, AVC
(derrame), sequela de traumatismo de crânio, insuficiência
Nestas, ademais, estudos com ressonância renal, AIDS, esquizofrenia, TDAH e muitas outras patologias que
possam alterar o estado cognitivo do paciente (http://www.
nuclear magnética funcional (FRNM) cons- centrodetomografia.com.br/exame.php?id=75)
19

mas algumas vezes bastante semelhantes que se instalam definitivamente antes dos
ao quadro de TDAH. Ressalte-se que uma sete anos, portanto, o diagnóstico do TDAH
avaliação rápida, superficial, não evolutiva é clínico, embora seus sinais possam ser de-
ou baseada em relatos confusos impede a tectados precocemente pelo pediatra que
correta avaliação dessa patologia (COELHO acompanha a criança; sendo essencial o co-
et al., 2010). nhecimento da história do sujeito, a partir da
observação dos pais e dos professores. As
Para Capovilla (2006), o distúrbio TDAH
características gerais da história da criança
é caracterizado por comportamentos crôni-
com TDAH aparecem resumidas na tabela
cos, com duração de no mínimo seis meses,
abaixo:

Fases Características

Bebê difícil, insaciável, irritado e de difícil consolo, com maior


Lactente
prevalência de cólicas, dificuldades de alimentação e sono.
Atividade aumentada ao usual, dificuldades de ajustamento,
Pré-escolar
teimosia, irritação e extremamente difícil de satisfazer.
Incapacidade de colocar foco, distração, impulsivo, desempe-
Escola elementar
nhoinconsciente, presença ou não de hiperatividade.
Inquieto e com desempenho inconsistente, sem conseguir colo-
Adolescência car foco, dificuldade de memória na escola, abuso de substân-
cia, acidentes.

Fonte: Rhode et al. (2004 apud COUTO, MELLO-JUNIOR e GOMES, 2010, p. 245)

Outras justificativas para se fazer o mizar consequências futuras do problema,


diagnóstico e tratar a criança ou adulto como a propensão ao uso de drogas (o que é
com TDAH são: relativamente frequente em adolescentes e
adultos com o problema), transtorno do hu-
Primeiro, é importante se fazer o trata- mor (depressão, principalmente) e transtor-
mento desse transtorno para que a criança no de conduta.
não cresça estigmatizada como o “bagun-
ceiro da turma” ou como o “vagabundo”, ou O diagnóstico deve ser feito por um pro-
como o “terror dos professores”. fissional de saúde capacitado, geralmente
neurologista, pediatra ou psiquiatra, poden-
Segundo, é importante fazer o trata- do ser auxiliado por alguns testes psicoló-
mento para que a criança não fique durante gicos ou neuropsicológicos, principalmente
anos com o desenvolvimento prejudicado na em casos duvidosos, como em adultos, mas
escola e na sua vida social, atrasada em rela- mesmo em crianças, para o acompanhamen-
ção aos outros colegas numa sociedade cada to adequado do tratamento.
vez mais competitiva.
O guia apresentado abaixo foi extraído
Terceiro, é importante fazer um trata- do Manual de Diagnóstico e Estatística – IV
mento do transtorno para se tentar mini-
Edição (DSM-IV) da Associação Psiquiátrica
20

Americana (1995). diagnóstico é feito.

Ele é utilizado por profissionais especia- Critério A: Assinale com um X na colu-


lizados em TDAH para o diagnóstico clínico. na correta
Aqui daremos apenas uma ideia de como tal
21

CRITÉRIO B: Responda SIM ou NÃO


Alguns desses sintomas estavam presentes antes dos 7 anos de idade?

CRITÉRIO C: Responda SIM ou NÃO


Existem problemas causados pelos sintomas acima em pelo menos 2 contextos diferen-
tes (por ex., na escola, no trabalho, na vida social e em casa)?

CRITÉRIO D: Responda SIM ou NÃO


Há problemas evidentes na vida escolar, social ou familiar por conta dos sintomas?

CRITÉRIO E: Responda SIM ou NÃO


Se existe um outro problema (tal como depressão, deficiência mental, psicose, etc.), os
sintomas podem ser atribuídos a ele?

Como suspeitar do diagnóstico:


1) É necessário haver pelo menos 6 sintomas assinalados na coluna laranja ou vermelha,
no CRITÉRIO A.

Pelo menos 6 sintomas ÍMPARES e menos que 6 sintomas PARES: TDAH Tipo Predomi-
nantemente Desatento

Pelo menos 6 sintomas PARES e menos que 6 sintomas ÍMPARES: TDAH Tipo Predomi-
nantemente Hiperativo-Impulsivo

6 ou mais sintomas ÍMPARES e 6 ou mais sintomas PARES: TDAH Tipo Combinado.

2) Os CRITÉRIOS B, C, D devem obrigatoriamente ter resposta SIM.

3) O CRITÉRIO E necessita da avaliação de um especialista, uma vez que os sintomas do


Critério A ocorrem em muitos outros transtornos da infância e adolescência.

Se os critérios A, B, C, D e E estiverem atendidos de acordo com o julgamento de um es-


pecialista, o diagnóstico de TDAH é garantido.

FONTE: Manual de Diagnóstico e Estatística – IV Edição (DSM-IV) da Associação Psiquiátrica Americana (1995).
Obs.: O diagnóstico definitivo só pode ser fornecido por um profissional.
22

Para se fazer o diagnóstico, 6 (ou mais) dos 6.2 Avaliação


seguintes sintomas de desatenção ou hipe-
Segundo Benczik (2000), as escalas de
ratividade devem persistir por, pelo menos,
verificação de comportamento têm uma im-
6 meses em grau mal-adaptativo e inconsis-
portante tradição na avaliação de estudan-
tente com o nível de desenvolvimento.
tes com déficit de atenção e hiperatividade,
Os distúrbios podem ter início na primeira embora com vantagens e limitações. Elas
infância (crianças excessivamente sensíveis permitem obter informações referentes à
a estímulos e facilmente perturbadas por ru- extensão na qual o indivíduo exibe certas
ídos, luz, temperatura, etc.; ou às vezes o in- características relativas a outros do mesmo
verso: crianças dóceis, sem energia, dormem sexo e idade, entretanto, as escalas não são
a maior parte do tempo, e parecem desen- totalmente suficientes para reunir a singula-
volver-se muito lentamente nos primeiros ridade do indivíduo, de forma que fornecem
meses). informações relevantes, mas essencialmen-
te aquelas relativas a dimensões pré-deter-
Dificuldades na escola, tanto de apren-
minadas, ou seja, avalia apenas as dimensões
dizagem quanto comportamentais são co-
propostas pelo instrumento, não contem-
muns devido à distractibilidade e atenção
plando todas as dimensões e características
flutuante das crianças, que dificultam a aqui-
pertinentes ao indivíduo. Daí o fato desta
sição, retenção e demonstração dos conhe-
técnica ser apontada como incapaz de retra-
cimentos.
tar um quadro completo e acurado do com-
As reações adversas dos professores, a portamento atual da pessoa. Vale ressaltar,
redução da autoestima e comentários ad- no entanto, que essa é uma crítica inerente
versos de outros grupos pode transformar aos instrumentos de avaliação psicológica,
a escola num lugar de infelicidade e frustra- o que justifica a importância do profissional,
ção. Isso pode levar a uma atuação antisso- ao realizar uma avaliação, empregar técnicas
cial e a comportamentos autodestrutivos e complementares (observações, entrevis-
autopunitivos. tas, escalas, testes, técnicas projetivas), de
forma a obter informações diversificadas e
Vale a pena conferir o Documento da Fun- representativas do sujeito, o que vai ao en-
dação Hospitalar do Estado de Minas Gerais contro das noções mais atuais referentes a
(FHEMIG) que contém as Diretrizes Clínicas processos de avaliação psicológica.
– Procedimento Operacional Padrão – Pro-
tocolo Clínico contendo o Diagnóstico, Trata- Muitas das escalas para avaliar o TDAH
mento do TDAH em crianças e adolescentes. voltaram-se aos sintomas primários da de-
Sua última revisão disponível na internet é sordem, mas diversas outras foram ela-
de agosto de 2012. boradas para avaliar outros tipos de com-
portamentos associados, como: agressão,
Disponível em: http://www.fhemig. passividade, imaturidade e conduta não
mg.gov.br/pt/downloads/doc_download/ complacente (MONTAGUE, MCKINNEY E HO-
1016-026-tdah-diagnostico-e-tratamento- CUTT, 1994; BURCHAM E DE MERS, 1995
-do-transtorno-de-deficit-de-atencao-em- apud BENCZIK, 2000). De maneira geral,
-criancas-e-adolescentes esse tipo de instrumento dá ao profissional
de saúde mental uma melhor compreensão
23

de quem vê a conduta como problemática dos. Há muitas escalas americanas que têm
e de como diferenças percebidas em graus como objetivo avaliar os sintomas de TDAH,
de desvios variam em função dos efeitos do como por exemplo: a Attention Deficit Sca-
ambiente (EDELBROCK, 1983 apud BENCZIK; les for Adults – ADSA (TRIOLO e MURPHY,
SCHELINI; CASELLA, 2010). Dentro do pro- 1996), a Self-Report Rating Form (MCCAR-
cesso de avaliação, as escalas de verificação NEY, 1996) e a Copeland Symptom Checklist
de comportamentos tornam-se muito úteis for Adult Attention Deficit Disorders (COPE-
como “ferramentas auxiliares” no processo LAND, 1989). Porém, o mesmo não acontece
diagnóstico. no Brasil. O único questionário denominado
ASRS-18 (versão 1.1) - Adult Self-Report Sca-
Cabe, entretanto, salientar que o objeti-
le foi desenvolvido por Kessler et al. (2006),
vo da avaliação nos casos do TDAH não é de
juntamente com a Organização Mundial de
qualquer forma rotular indivíduos ou estig-
Saúde. Este questionário consta de 18 per-
matizá-los, mas sim avaliar e determinar a
guntas, em que o examinando deve respon-
extensão na qual os problemas de atenção e
der com que frequência os itens ocorrem. Os
hiperatividade interferem em suas habilida-
itens contidos contemplam os critérios esta-
des acadêmicas, afetivas e sociais e, a partir
belecidos pelo DSM-IV para o diagnóstico do
desta avaliação, fornecer um plano apropria-
TDAH em crianças, sendo adaptado para o
do de intervenção (MONTAGUE, MCKINNEY
contexto da vida adulta.
e HOCCUTT, 1994 apud BENCZIK; SCHELINI;
CASELLA, 2010).
6.3 Tratamento ou conduta
Uma avaliação bem conduzida, utilizando
instrumentos adaptados e com evidências
terapêutica
de validade e precisão, permite a tomada O tratamento envolve o uso de medica-
de decisões adequadas, tendo em vista um ção, geralmente algum psico-estimulante
melhor funcionamento em termos da saúde específico para o sistema nervoso central,
mental do adolescente e do adulto. Em rela- uso de alguns antidepressivos ou outras me-
ção à validade de instrumentos psicológicos, dicações. Deve haver um acompanhamento
sejam estes inventários, escalas ou testes, do progresso da terapia, através da família e
tradicionalmente são caracterizados três da escola. Além do tratamento medicamen-
tipos: validade de conteúdo, de critério e de toso, uma psicoterapia deve ser mantida, na
construto. Dentre as formas mais frequen- maioria dos casos, pela necessidade de aten-
tes de se verificar a validade de construto, ção à criança (ou adulto) devido à mudança
destacam-se as correlações com outros tes- de comportamento que deve ocorrer com a
tes que meçam o mesmo construto, a consis- melhora dos sintomas, por causa do aconse-
tência interna dos itens, mudanças desen- lhamento que se deve fazer aos pais e para
volvimentais, análise fatorial e intervenções tratamento de qualquer problema específico
experimentais (ANASTASI e URBINA, 2000). do desenvolvimento que possa estar asso-
ciado (ABC da Saúde, 2005).
À medida que se apresentam mais estu-
dos a respeito de diferentes tipos de validade Um aspecto fundamental desse trata-
sobre um determinado instrumento, maior a mento é o acompanhamento da criança, de
segurança na interpretação de seus resulta- sua família e de seus professores, pois é pre-
ciso auxílio para que a criança possa reestru-
24

turar seu ambiente, reduzindo sua ansieda- bastante otimistas. A Fluoxetina (Prozac®,
de. Uma exigência quase universal consiste Verotina®, Daforim®, Fluxene®, Eufor®, Nor-
em ajudar os pais a reconhecerem que a per- tec®, Deprax®) tem sido usada com sucesso
missividade não é útil para a criança, mas que na dose de 0,5 a 1mg/Kg/dia.
utilizando um modelo claro e previsível de
Existem ainda os antipsicóticos como
recompensas e punições, baseado em tera-
Neuleptil®, Melleril®.
pias comportamentais, o desenvolvimento
da criança pode ser mais bem acompanhado No tratamento do TDAH, a utilização de
(ABC da Saúde, 2005). psicoestimulantes e a terapia comporta-
mental são comumente utilizadas e reco-
Segundo a Associação Brasileira do Déficit
nhecidamente eficazes. O Food and Drug
de Atenção (ABADA), o tratamento farma-
Administration (FDA) aprovou o uso das se-
cológico pode envolver estimulantes como
guintes anfetaminas: metilfenidato, dex-
o Metilfenidato (Ritalina®), a d-anfetamina
troanfetamina e magnésio de pemolina. No
(Biphetamine® - EUA); a Pemolina (Cylert® -
Brasil, a única anfetamina disponível no mer-
EUA). Apenas a Ritalina® se encontra dispo-
cado para o tratamento do TDAH é o metilfe-
nível no Brasil.
nidato (COELHO et al., 2010).
Nos EUA, a cafeína tem sido muito pouco
Os mesmos autores citam que mais de
utilizada para o tratamento do Transtorno de
1500 estudos comprovaram a eficácia clí-
Déficit de Atenção e Hiperatividade devido
nica do metilfenidato, nos últimos 40 anos.
às facilidades para a prescrição do Metilfeni-
Apresenta excelente absorção oral, sendo
dato (Ritalina®), no Brasil a Ritalina® é muito
que a ingestão alimentar altera a velocidade
mais difícil de ser prescrita. Há necessidade
de absorção. Atravessa livremente a barreira
de receituário especial para entorpecentes
hematoencefálica e o início da ação se dá em
que só a secretaria da saúde fornece.
30 minutos, com a meia-vida sérica em torno
Segundo a Associação Brasileira de Défi- de quatro horas.
cit de Atenção (ABADA), não existem estu-
O metilfenidato, uma anfetamina deriva-
dos comprovando a eficácia da cafeína em
da da piperidina de ação simpaticomimética,
crianças com TDAH. Os poucos estudos cien-
tem revelado eficácia superior, seguido pe-
tíficos mostram que o efeito é semelhante
los antidepressivos tricíclicos, no tratamen-
ao do placebo (substância sem efeito) e não
to do TDAH. A ação do metilfenidato seria o
é superior ao efeito dos estimulantes. A ca-
bloqueio da recaptação das catecolaminas
feína só demonstrou ter algum efeito posi-
(dopamina e noradrenalina) nos neurônios
tivo sobre a atenção em indivíduos normais
pré-sinápticos, com uma maior disponibili-
que não eram portadores de TDAH.
dade destas substâncias na fenda sináptica,
Existem também os antidepressivos tricí- predominantemente sobre o sistema reticu-
clicos como a Imipramina (Tofranil®, Imipra®); lar ativador do tronco encefálico e o córtex
a Nortriptilina (Pamelor®) e antidepressi- cerebral (CORREA; PASTURA, 2003).
vos ISRS, mas a experiência é nova com os
O principal efeito, em curto prazo, do me-
antidepressivos inibidores seletivos da re-
tilfenidato seria a insônia e a redução do
ceptação da serotonina para o tratamento
apetite e, ainda, a dor abdominal e cefaleia.
do TDAH, entretanto as perspectivas são
25

Quanto aos sintomas colaterais, a maioria na determinação dos sintomas de TDAH e


melhora dentro de poucos meses e apenas a que estudos para analisar o efeito das DAE
anorexia é dose dependente (COELHO et al., sobre estes sintomas (TDAH) sejam impor-
2010). tantes. Concorda-se que a conduta terapêu-
tica deve-se basear predominantemente no
Na prática clínica, sabe-se que a redução
bom senso e na experiência pessoal de cada
do apetite pode ser importante, a ponto de
profissional, evitando que alterações isola-
a criança perder até sete quilos em quatro
das ao EEG, comum em parte considerável
meses, não cedendo com o uso de dieta ca-
da população e não sugestivas de quadros
lórica, vitaminas ou redução da medicação
epilépticos já reconhecidos, possam ser va-
nos finais de semana. Estratégias como: não
lorizadas (COELHO et al., 2010).
usar metilfenidato após 15 h, dar a maior do-
sagem no período da manhã, administrar a No Brasil, geralmente utiliza-se o metilfe-
medicação juntamente com a alimentação, nidato em crianças, a partir dos seis anos de
reduzir ou cessar temporariamente a dose, idade, quando o diagnóstico de TDAH pode
podem ter êxito no controle dos efeitos co- ser mais concreto e a medicação é mais se-
laterais (COELHO et al., 2010). gura. A dose diária recomendada é de 0,3 a
2,0 mg/kg, entretanto raramente chega-
Quando há agravamento dos efeitos cola-
mos a doses maiores, visto que, nas crianças
terais associado ao pico plasmático da droga,
susceptíveis ao tratamento, doses de 10, 20
a medicação de liberação lenta pode ser uti-
e no máximo 30 mg por dia do metilfenida-
lizada. Em relação aos efeitos colaterais em
to de liberação rápida são eficazes, em sua
longo prazo, os que causam maior apreensão
grande maioria. Mesmo que, a princípio, já se
aos pais são o risco de dependência e a pos-
opte pela medicação de longa ação, o início
sível redução da estatura (PASTURA; MAT-
do tratamento deve ser com medicação de li-
TOS, 2004).
beração rápida, para um melhor controle dos
Vale ressaltar que o benefício do trata- sintomas que eventualmente surjam (PAS-
mento com TDAH em produzir bem-estar e TURA; MATTOS, 2004).
controlar os sintomas cardinais, com melho-
O recomendável mais uma vez é iniciar o
ra da autoestima, é um estímulo para a busca
tratamento o mais cedo possível tendo su-
da terapia adequada, por parte do paciente,
porte e acompanhamento de profissional
e resulta em grandes benefícios psicoemo-
especializado.
cionais em longo prazo, tendendo a afastá-lo
de atitudes disruptivas ou antissociais (COE-
LHO et al., 2010).

O uso de metilfenidato em pacientes por-


tadores de epilepsia não é contraindicado.
Contudo, o médico deve preocupar-se em
reajustar e monitorar doses e nível plasmá-
tico das drogas antiepilépticas (DAE), visto
que tal medicação pode diminuir o limiar de
convulsões. Não existem evidências de que
descargas epileptiformes tenham um papel
26
UNIDADE 7 - Os Pais, a Escola e o
Portador de TDAH
7.1 A participação dos pais cação e desenvolvimento de habilidades. Os
outros são resolvidos de maneira satisfató-
Os pais da criança portadora de TDA me-
ria através de manipulação das consequên-
recem muita consideração. É preciso muita
cias.
paciência e vigor para amar e apoiar a crian-
ça hiperativa em todos os desafios e frus- 3. Dar instruções positivas:
trações inerentes à doença. Os pais dessas
Pais devem cuidar para que seus pedidos
crianças estão sempre preocupados e aten-
sejam feitos de maneira positiva ao invés
tos. Consequentemente é fácil sentirem-se
de negativa. Uma indicação positiva mostra
cansados, abatidos e frustrados. É de impor-
para a criança o que deve começar a ser feito
tância vital para esses pais serem bons con-
e evita que ela focalize em parar o que está
sigo mesmos, descansar quando apropriado,
fazendo.
além de buscar e aceitar apoio para eles e
para os filhos. 4. Recompensar:
Programas de treinamento para pais de Os pais devem recompensar amplamente
crianças com TDAH frequentemente come- o comportamento adequado. Crianças com
çam com ampla divulgação de informação. TDAH exigem respostas imediatas, frequen-
Existe uma grande quantidade de livros, ví- tes, previsíveis e coerentemente aplicadas
deos e fitas disponíveis com dados a respeito ao seu comportamento. Da mesma maneira,
do transtorno em si e de estratégias efetivas necessitam de mais tentativas para apren-
que podem ser usadas por familiares. A lista der corretamente. Quando a criança conse-
que segue revê nove pontos de uma série gue completar uma tarefa ou realiza alguma
de estratégias que podem ajudar os pais de coisa corretamente, deve ser recompensada
crianças portadoras de TDAH (GOLDSTEIN, socialmente ou com algo tangível mais fre-
1998). quentemente que o normal.
1. Aprender o que é TDAH: 5. Escolher as batalhas:
Os pais devem compreender que, para Os pais deveriam escolher quando e como
poder controlar em casa o comportamento gastar suas energias numa batalha, sempre
resultante do TDAH, é preciso ter um conhe- reforçando o positivo, aplicando consequ-
cimento correto do distúrbio e suas compli- ências imediatas para comportamentos que
cações. não podem ser ignorados e usando o siste-
2. Incapacidade de compreensão ver- ma de créditos ou pontos. É essencial que os
sus rebeldia: pais estejam sempre um passo à frente.

Os pais devem desenvolver a capacidade


6. Usar técnicas de “custo de respos-
de distinguir entre problemas que resultam
ta”:
de incapacidade e problemas que resultam Os pais devem entender bem o que seja
de recusa ativa em obedecer ordens. Os pri- “custo de resposta”, uma técnica de punição
meiros devem ser tratados através da edu- em que se pode perder o que se ganhou.
27

7. Planejar adequadamente: trabalho da classe. A avaliação do professor


deve ser frequente e imediata. Interrupções
Os pais devem aprender a reagir aos limi-
e pequenos incidentes têm menores conse-
tes de seu filho de maneira positiva e ativa.
quências se ignorados. O material didático
Aceitar o diagnóstico de TDAH significa acei-
deve estar adequado à habilidade da criança.
tar a necessidade de fazer modificações no
Estratégias cognitivas que facilitam a auto-
ambiente da criança. A rotina deve ser con-
correção, assim como melhoram o compor-
sistente e raramente variar. As regras de-
tamento nas tarefas, devem ser ensinadas.
vem ser dadas de maneira clara e concisa.
As tarefas devem variar, mas continuar sen-
Atividades ou situações em que já ocorreram
do interessantes para os alunos. Os horários
problemas devem ser evitadas ou cuidado-
de transição, bem como os intervalos e reu-
samente planejadas.
niões especiais, devem ser supervisionados
8. Punir adequadamente: (ABDA, 2005).

Os pais devem compreender que a puni- Pais e professores devem manter uma co-
ção sozinha não irá reduzir os sintomas de municação frequente. Os professores tam-
TDAH. Punir deve ser uma atitude direta- bém precisam estar atentos à qualidade de
mente relacionada apenas a um comporta- reforço negativo do seu comportamento. As
mento declaradamente desobediente. No expectativas devem ser adequadas ao nível
entanto, a punição só trará modificação de de habilidade da criança e deve-se estar pre-
comportamento para crianças com TDAH se parado para mudanças (ABDA, 2005).
acompanhada de uma estratégia de contro-
Os professores devem ter conhecimento
le.
do conflito incompetência x desobediência,
9. Construir ilhas de competência: e aprender a discriminar entre os dois tipos
de problema. É preciso desenvolver um re-
O que realmente importa para o sucesso pertório de intervenções para poder atuar
dessa criança na vida é o que existe de cer- eficientemente no ambiente da sala de aula
to com ela e não o que está errado. Cada vez de uma criança com TDAH. Essas interven-
mais, a área da saúde mental focaliza seu ções minimizam o impacto negativo do tem-
trabalho em aumentar os pontos fortes em peramento da criança.
vez de tentar diminuir os pontos fracos. Uma
das melhores maneiras de criar pontos for- Constata-se assim, que existem várias
tes é uma boa relação dos pais com seu filho. ferramentas e linhas de atuação que profes-
sores e escola podem utilizar para contribuir
7.2 A escola na minimização dos problemas de alunos
Uma sala de aula eficiente para crianças com TDAH, além de manter um bom rela-
desatentas deve ser organizada e estrutura- cionamento com os pais, sempre trocando
da. A estrutura supõe regras claras, um pro- ideias para um diagnóstico antecipado pro-
grama previsível e carteiras separadas. piciando um ambiente adequado, sem sofri-
mento para todos os envolvidos.
Os prêmios devem ser coerentes e fre-
quentes. Um programa de reforço baseado Na idade escolar, crianças com TDAH
em ganho e perda deve ser parte integral do apresentam uma maior probabilidade de re-
petência, evasão escolar, baixo rendimento
28

acadêmico e dificuldades emocionais e de nação de TDAH com outros transtornos de


relacionamento social. Supõe-se que os sin- comportamento, especialmente nos jovens
tomas do TDAH sejam catalisadores, tornan- ligados a atitudes criminosas e abuso de
do as crianças vulneráveis ao fracasso nas substâncias, portanto, vale a pena observar
duas áreas mais importantes para um bom e cuidar para que essas atitudes não com-
desenvolvimento – a escola e o relaciona- prometam o desenvolvimento dos mesmos.
mento com os colegas.

À medida que cresce o conhecimento mé-


7.3 A atuação dos professo-
dico, educacional, psicológico e da comunida- res
de a respeito dos sintomas e dos problemas O professor tem papel importante na me-
ocasionados pelo TDAH, um número cada lhora do desempenho escolar e da saúde
vez maior de pessoas está sendo correta- mental da criança, por isso ele deve sempre
mente identificado, diagnosticado e tratado. estar em contato com os pais trocando in-
Mesmo assim, suspeita-se que um grupo sig- formações para que desempenhe seu papel
nificativo de pessoas com TDAH ainda per- com sucesso.
manece não identificado ou com diagnóstico
incorreto. Seus problemas se intensificam e Acredita-se que o professor, antes de ou-
provocam situações muito difíceis no con- vir as propostas, já deve imaginar o quanto é
fronto da vida normal. difícil essa tarefa de educar uma criança com
TDAH, pois fora esse aluno, têm vários ou-
O TDAH é com frequência, apresentado, tros alunos que necessitam da sua atenção
erroneamente, como um tipo específico de e, normalmente, em escola pública, os mate-
problema de aprendizagem. Ao contrário, é riais, o espaço físico, a proposta de trabalho e
um distúrbio de realização. Sabe-se que as outros itens para se ter um trabalho de quali-
crianças com TDAH são capazes de aprender, dade, são limitados. Mas é necessário ajudar
mas têm dificuldade em se sair bem na escola essa criança com distúrbio para que as con-
devido ao impacto que os sintomas do TDAH sequências não sejam negativas.
têm sobre uma boa atuação. Por outro lado,
20% a 30% das crianças com TDAH também É importante lembrar que crianças com
apresentam um problema de aprendizagem, TDAH são muito inteligentes, apenas têm di-
o que complica ainda mais a identificação cor- ficuldade em prestar atenção no que o pro-
reta e o tratamento adequado. Pessoas que fessor explica, e concluir suas tarefas. Será
apresentaram sintomas de TDAH na infância de grande importância um monitor para aju-
demonstraram uma probabilidade maior de dar o professor, já que esse aluno necessita
desenvolver problemas relacionados com de auxílio constante e na sala há vários ou-
comportamento opositivo desafiador, delin- tros alunos que também necessitam de aju-
quência, transtorno de conduta, depressão da, lembrando que atualmente é muito raro
e ansiedade. ter monitores em sala de aula, e o número de
alunos matriculados nelas é muito grande.
Os pesquisadores, no entanto, sugerem
que o resultado desastroso apresentado por O professor que lida com crianças com
alguns adolescentes não é uma consequên- TDAH deve, em primeiro lugar, buscar ter co-
cia apenas do TDAH, mas, antes, uma combi- nhecimento sobre esse distúrbio, muita pa-
ciência e disponibilidade, lembrando-se que
29

elas já possuem uma autoestima baixa e de odo curto, para que elas as concluam antes
que não devem ser julgadas como um exem- de perder o interesse (ARAÚJO; SILVA, 2003).
plo negativo aos demais alunos, e muito
Rohde e Benczik (1999, p. 85) sugerem
menos taxadas como “burras” ou preguiço-
que o professor dialogue com a criança, bus-
sas, elogiá-las sempre que tiverem um bom
cando a opinião dela de como poderia ser a
resultado ajudará muito a motivá-las (REIS;
aula, para que ela se interesse pela mesma
SANTANA, 2009).
e aprenda melhor. As explicações durante a
Crianças com TDAH têm capacidade de fi- aula devem ser pausadas para que elas en-
car atentas diante de uma televisão, jogan- tendam, ao término da explicação pergunte
do videogame ou navegando na internet, a ela se entendeu, e peça que repita o que
isso se dá pelo estímulo dessas atividades e explicou.
por serem individualizadas. Rohde e Benczik
Trabalhar o relacionamento da criança
(1999, p. 42) afirmam que “em atividades em
com TDAH e os outros colegas é de funda-
que a motivação é muito grande e os estímu-
mental importância, já que ela precisa se
los são mais individualizados, estas crianças
sentir segura no ambiente para realizar suas
podem parar quietas e concentrar-se”. Por
tarefas, e muita das vezes ela é excluída das
isso é necessário intervenções no ambien-
atividades em grupo.
te da sala de aula e intervenções pedagógi-
cas para que se estimule a atenção e ajude Araújo e Silva (2003) recomendam igno-
a desenvolver as habilidades deficientes da rar pequenos incidentes. O material didático
criança. deve ser adequado às habilidades da criança.
Estratégias cognitivas que facilitem a auto-
Em sala de aula, o professor deve lembrar-
correção, e que melhorem o comportamento
-se de pontos importantes que podem aju-
nas tarefas, devem ser ensinadas. As tarefas
dar na melhora quanto à atenção da criança,
devem variar, mas continuar sendo interes-
como exemplo Araújo e Silva (2003) citam
santes para o aluno, assim como a criativi-
um fato importante como colocar a criança
dade e habilidade do professor mediante as
sentada perto da mesa do professor, para
tarefas. Os horários de transição (mudanças
que o espaço entre eles sejam pequeno e
de tarefas) das crianças devem ser supervi-
que ela consiga focar sua atenção no que o
sionados. A comunicação entre pais e pro-
professor fala, não se dispersando a estímu-
fessores deve ser frequente. Os professores
los exteriores. Como também não colocá-la
também precisam ficar atentos ao quadro
sentada perto da porta ou janela, pois, ela se
negativo de seu comportamento. As expec-
interessará pelo que se passa fora da sala de
tativas devem ser adequadas ao nível de ha-
aula.
bilidade da criança e deve-se estar prepara-
Ela necessita de atividades que a estimu- do para mudanças.
lem. Ao contrário, a formação de grupos com
É necessário mostrar limites de forma se-
muitas crianças para a realização dessas ati-
gura e tranquila, sem entrar em atrito, pois
vidades podem fazê-la perder o foco, já que
crianças hiperativas têm dificuldade em en-
muito estímulo ao seu redor reduz a capaci-
tender regras, por esse motivo é importan-
dade de focar a atenção e controlar sua hipe-
te trabalhar, e sempre lembrá-las das regras
ratividade. As atividades devem ter um perí-
dentro de sala de aula. Quando cometem er-
30

ros deve permitir que ela se desculpe, e res- refas de meia hora.
saltar os limites sem gritar ou repreendê-las
j) adaptar suas expectativas quanto à
de forma agressiva, isso não funciona nem
criança, levando em consideração as dife-
com alunos “normais”.
renças e inabilidades decorrentes do TDAH.
Vale a pena conferir algumas interven-
k) recompensar os esforços, a persis-
ções, citadas por Araújo e Silva (2003), para
tência e o comportamento bem sucedido ou
que o professor desempenhe seu papel de
bem planejado.
maneira que contribua com o aluno a desen-
volver suas habilidades deficitárias, ou seja, l) proporcionar exercícios de consciên-
ajudar a criança com TDAH a se ajustar me- cia e treinamento dos hábitos sociais da co-
lhor à sala de aula: munidade. Uma avaliação frequente sobre o
comportamento da criança consigo mesma e
a) proporcionar estrutura, organização
com os outros, ajudará bastante.
e constância (sempre a mesma arrumação
das cadeiras, programas diários e regras cla- m) estabelecer limites claros e objetivos.
ramente definidas).
n) facilitar o frequente contato aluno/
b) colocar a criança perto de colegas que professor, pois auxilia em um controle extra
não o provoquem, perto da mesa do profes- sobre a criança e possibilita oportunidades
sor, na parte de fora do grupo. de reforço positivo e incentivo a um compor-
tamento mais adequado.
c) elogiar, encorajar e ser afetuoso, por-
que essas crianças desanimam facilmente. o) permanecer em constante comunica-
ção com o psicólogo ou orientador da escola.
d) dar responsabilidades que elas pos-
Este é o melhor ponto de ligação entre a es-
sam cumprir, fazendo com que se sintam ne-
cola, os pais e o médico.
cessárias e valorizadas.
As propostas citadas são dicas e não re-
e) proporcionar um ambiente acolhedor,
gras a serem seguidas como afirmam as au-
demonstrando calor e contato físico de ma-
toras, pois o professor deve utilizar-se de
neira equilibrada.
intervenções que acreditem que possa dar
f) nunca provocar constrangimento ou resultado, e ao notar que suas propostas
menosprezar o aluno. falharam, deve repensá-las se utilizando de
novas intervenções e levando o aluno a de-
g) favorecer oportunidades sociais e
senvolver suas habilidades e se interessar
proporcionar trabalho de aprendizagem em
pela aula, isso serve para alunos com TDAH
grupos pequenos, pois em grupos menores
e alunos “normais”, todos precisam de uma
as crianças conseguem melhores resultados.
aula com qualidade e objetivos.
h) comunicar-se com os pais da criança
Essas são algumas dicas de como lidar em
porque, geralmente, eles sabem o que tem
sala de aula com uma criança com TDAH, que
melhor funcionamento com seu filho.
normalmente é muito inteligente e só preci-
i) ir devagar com o trabalho e parcelar a sa de uma ajuda para que desenvolva suas
tarefa. Doze tarefas de cinco minutos cada habilidades deficitárias. Elas não são melho-
trazem melhores resultados do que duas ta- res nem piores, são iguais às outras crianças
31

só que com alterações comportamentais,


sem autocontrole sobre suas ações, mas que
podem ser dribladas com o tempo e com aju-
da de pais, professores e especialistas (REIS;
SANTANA, 2009).
32

UNIDADE 8 - O TDAH na Fase Adulta

Relatos sobre adultos com TDAH mostra- renças encontradas nas taxas de remissão
ram que eles enfrentam problemas sérios de mais bem atribuídas às diferentes definições
comportamento antissocial, desempenho de TDAH ao longo do tempo do que ao curso
educacional e profissional pouco satisfató- do transtorno ao longo da vida (BIEDERMAN
rio, depressão, ansiedade e abuso de subs- et al., 2000 apud MATTOS et al., 2006).
tâncias. Infelizmente, muitos adultos de hoje
Embora o diagnóstico de TDAH em adul-
não foram diagnosticados como crianças
tos ainda seja motivo de embates, conside-
com TDAH. Cresceram lutando com uma de-
ra-se que ele possa ser realizado de modo
ficiência que, frequentemente, passou sem
confiável quando são utilizados critérios bem
diagnóstico, foi mal diagnosticada ou, então,
definidos, tais como os empregados pelo sis-
incorretamente tratada.
tema DSM (SPENCER et al., 1994; 1998 apud
A maioria dos adultos com TDAH apresen- MATTOS et al., 2006).
ta sintomas similares aos apresentados pe-
Dentre os estudiosos do TDAH, encon-
las crianças. São frequentemente inquietos,
tramos em Paulo Mattos e colaboradores,
facilmente distraídos, lutam para conseguir
muitos estudos sobe o transtorno. O ilustre
manter o nível de atenção, são impulsivos e
professor doutor é membro do Centro de
impacientes. Suas dificuldades em manejar
Neuropsicologia Aplicada (CNA), clínica es-
situações de “stress” levam a grandes de-
pecializada em avaliação de crianças, ado-
monstrações de emoção. No ambiente de
lescentes e adultos e coordenador do Grupo
trabalho, é possível que consigam alcançar
de Estudos do Déficit de Atenção (GEDA) da
boa posição profissional ou status compatí-
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
vel com sua educação familiar ou habilidade
intelectual.
8.1 Critérios para diagnósti-
A forma adulta do TDAH foi oficialmente
reconhecida pela Associação Americana de
co em adultos
Psiquiatria em 1980, por ocasião da publi- Os sintomas que compõem a base dos
cação do Diagnostic and Statistical Manual sistemas CID-10, da Organização Mundial de
- 3rd edition (DSM-III), persistindo este diag- Saúde, e do DSM-IV para o diagnóstico de
nóstico na edição atual (DSM-IV). A Classifi- TDAH em crianças e adolescentes são se-
cação Internacional de Doenças (CID-10), em melhantes. Entretanto, o CID-10 apresenta
uso oficial no Brasil, não lista a forma adulta diferenças importantes, que culminam num
em seus critérios. Ainda hoje, o diagnóstico diagnóstico mais restritivo:
de TDAH em adultos é motivo de alguns em- a) exige concomitância de sintomas de
bates (MATTOS et al., 2006). desatenção, hiperatividade e impulsividade.
Estudos longitudinais demonstraram que b) exclui o diagnóstico na presença de co-
o TDAH persiste na vida adulta em torno de morbidade com ansiedade e depressão.
60% a 70% dos casos (BARKLEY et al., 2002
apud MATTOS et al., 2006), sendo as dife- c) exige que os critérios sejam atendidos
33

de modo pleno em cada um de pelo menos potencialmente, contribui para diagnóstico


dois contextos (MATTOS et al., 2006a). apenas de casos mais graves e/ou outros
transtornos TDAH-símiles ou comórbidos
Portanto, pacientes com tipo predomi-
(MATTOS et al., 2006a).
nantemente desatento não são diagnostica-
dos pelo CID-10, em uso oficial no Brasil; mais No caso do DSM-IV, os sintomas clínicos
ainda, utilizando-se os critérios desse siste- apresentados foram concebidos a partir de
ma, apenas os casos mais graves (conforme estudos de campo, com crianças e adoles-
o sistema DSM-IV) serão diagnosticados. centes de 7 a 17 anos, utilizando como ponto
de corte seis entre nove sintomas de desa-
Dois sistemas diagnósticos são mais uti-
tenção e/ou seis entre nove sintomas de hi-
lizados no diagnóstico de TDAH em adultos:
peratividade/impulsividade (critério A). Este
o de Wender-Utah e o DSM-IV, da Associa-
ponto de corte é considerado por alguns
ção Americana de Psiquiatria. Os critérios de
como restritivo para uso em adultos. Mesmo
Wender-Utah contribuíram de modo signi-
assim, inúmeros estudos clínicos, farmaco-
ficativo para a consolidação da validade da
lógicos, genéticos e de neuroimagem utili-
forma adulta do TDAH, tendo sua consistên-
zaram o DSM-IV, adaptando os sintomas ali
cia interna recentemente confirmada (MAT-
indicados (MATTOS et al., 2006a).
TOS et al., 2006a).
Para o diagnóstico de TDAH em adul-
Seus principais méritos foram:
tos, recomenda-se, portanto:
a) ter enfatizado a necessidade de de-
a) o emprego de escalas (como a ASRS) e
monstração de sintomas remontando à in-
de entrevistas semiestruturadas adaptadas
fância.
(como o K-SADS-E), que já foram utilizadas
b) encorajar a coleta de dados com tercei- em nosso meio e que são baseadas nos cri-
ros. térios do sistema diagnóstico do DSM-IV.

c) ter enfatizado a necessidade de de- b) a coleta de dados com outras fontes de


monstração da presença de impacto sócio informação (pais, cônjuge, outros familiares,
ocupacional em adultos. etc.).

Apesar disso, os critérios de Utah c) a identificação de um número mais alto


possuem algumas limitações: de sintomas nucleares de TDAH (desaten-
ção, hiperatividade e impulsividade), como
a) não contemplam a forma predominan- também do seu início precoce e sua presen-
temente desatenta.
ça em diferentes contextos da vida do indi-
b) excluem o diagnóstico de TDAH na pre- víduo.
sença de depressão maior ou transtorno de
d) a identificação de comprometimento
personalidade antissocial (que, posterior-
funcional significativo associado aos sin-
mente, demonstrou-se serem encontrados
tomas, investigando diferentes áreas, tais
em comorbidade com TDAH).
como a profissional, social, familiar, etc..
c) incluem os sintomas irritabilidade e e) a decisão clínica dos sintomas não ser
temperamento explosivo, considerados
mais bem justificada por outro(s) transtor-
atualmente independentes do TDAH, o que,
34

no(s) psiquiátrico(s), que deve(m) ser investi- Além disso, existem ainda sintomas que
gado(s) durante a avaliação clínica do indiví- permitem a identificação de TDAH, mas não
duo (MATTOS et al., 2006a). são considerados “oficiais”. É preciso lembrar,
conforme Mattos (2003), que estes devem
8.2 Os sintomas em adultos aparecer de forma exacerbada: baixa auto-
Os estudos atuais têm identificado estima; sonolência diurna (dormir como uma
vários sintomas em adultos com diag- pedra); “pavio curto” (mistura de impulsivida-
nóstico de TDAH. Eles podem apresen- de e irritabilidade); necessidade de ler mais
tar: de uma vez para “fixar” o que leu; dificuldade
de levantar de manhã, de se “ativar” no iní-
dificuldades com relações afetivas ins- cio do dia; adiamento constante das coisas;
táveis (separações, divórcios); mudança de interesse o tempo todo; intole-
instabilidade profissional que persiste rância a situações monótonas e repetitivas;
ao longo da vida; busca constante por coisas estimulantes ou
diferentes e variações frequentes de humor.
rendimentos abaixo de suas reais capa-
cidades no trabalho e na profissão; Os sintomas listados no DSM-IV para o
falta de capacidade para manter a aten- diagnóstico de crianças e adolescentes fo-
ção por um período longo; ram adaptados para adultos na escala Adult
Self-Report Scale (ASRS, versão 1.1, dispo-
falta de organização (carente de disci- nível em http://www.hcp.med.harvard.edu/
plina); ncs/asrs.php), cuja calibração foi realizada
insuficiente capacidade para cumprir o durante o National Comorbidity Survey-Re-
que se comprometem; plication (Kessler et al., 2005b), um recen-
te estudo epidemiológico norte-americano
incapacidade para estabelecer cumprir
(MATTOS et al., 2006a).
uma rotina;
esquecimentos, perdas e descuidos im- A escala ASRS possui 18 itens que con-
portantes; templam os sintomas do critério A do DSM-IV
modificados para o contexto da vida adulta,
depressão e baixa autoestima;
uma vez que vários itens dizem respeito a
dificuldades para pensar e se expressar comportamentos próprios da infância ou da
com clareza; adolescência (por exemplo, “correr e esca-
tendência a atuar impulsivamente e in- lar”).
terromper os outros; Algumas perguntas que endereçavam
dificuldades de escutar e esperar sua mais de um aspecto ou sintoma (double bar-
vez de falar; rel, em inglês) foram transformadas (por
exemplo, “não seguir instruções até o final e
frequentes acidentes automobilísticos
deixar suas tarefas sem terminar”). A ASRS
devido à distração; frequente consumo de
oferece cinco opções de resposta de fre-
álcool e abuso de substância (ROIZBLATT,
quência: nunca, raramente, algumas vezes,
BUSTAMENTE; BACIGALUPO, 2003 apud LO-
frequentemente e muito frequentemente,
PES; NASCIMENTO BANDEIRA; 2005).
conforme mostra a tabela a seguir.
35

Tabela ASRS 18 itens – versão 1.1 – versão final em português

Fonte: Mattos et al. (2006a, p. 192).

Embora haja controvérsias sobre o nú- timento globais. Dada a única evidência de
mero de sintomas necessários para o diag- comprometimento acadêmico significativo
nóstico da forma adulta do TDAH, uma vez de TDAH, deve-se esperar, entre muitas ou-
que o limite do DSM-IV foi estabelecido com tras, uma miríade de medições de resultados
base em amostras de indivíduos entre 6 e 16 piores para crianças com a doença (PASTU-
anos, a maioria dos estudos clínicos utiliza RA; MATTOS; PRUFFER, 2005).
esses critérios (MATTOS et al., 2011).
Várias evidências cumulativas nos últimos
Em dois estudos com amostras não clíni- anos revelaram altos níveis de comprome-
cas, a validade do diagnóstico de TDAH em timento funcional associado ao TDAH, que
adultos demonstrou que indivíduos com tem influência potencialmente negativa
maior número de sintomas apresentaram na qualidade de vida (QoL). Apesar dessas
indicadores piores de função e comprome- descobertas, até recentemente não foram
36

desenvolvidos instrumentos para captar in- a terapia empregada, mas não indicam alte-
dicadores de qualidade de vida em pacientes rações ocorridas no impacto de interrupção
adultos com TDAH. Estudos que adotam es- sobre diferentes áreas da vida do paciente.
calas amplamente utilizadas, como a SF-36, Portanto, o propósito deste estudo é exe-
têm indicado que apenas certas subescalas cutar uma validação semântica na língua
estavam relacionadas a remissão de sinto- portuguesa do instrumento Questionário de
mas de TDAH, sugerindo que são necessá- Qualidade de Vida em Adulto com TDAH (AA-
rios instrumentos mais específicos para es- QoL) em uma amostra de pacientes adultos
ses pacientes (MATTOS et al., 2011). com TDAH.

O Questionário de Qualidade de Vida em A versão final em língua portuguesa en-


Adultos com TDAH (AAQoL) foi desenvolvido contra-se na tabela abaixo.
com base na sistematização de dados sobre
o impacto da doença nas atividades diárias
relatados por pacientes e especialistas e
também em informações coletadas da litera-
tura científica. Na sua versão atual, o AAQoL
é uma escala do tipo Likert constituída por
29 itens distribuídos nas quatro subescalas
seguintes: Produtividade (11 itens), Saúde
Psicológica (6 itens), Perspectivas de Vida (7
itens) e Relacionamentos (5 itens). No estu-
do original de validação da escala, a valida-
de de constructo do AAQoL foi confirmada
em relação ao conjunto total dos seus itens,
bem como em relação as quatro dimensões
(subescalas) do instrumento.

No estudo de validação da escala original,


os pacientes com TDAH apresentaram nú-
mero maior de divórcios, taxas mais altas de
desemprego e renda média mais baixa, em
comparação com o grupo controle pareado,
que são aspectos que ilustram um compro-
metimento mais acentuado nas subescalas:
Produtividade e Relacionamentos (MATTOS
et al., 2011).

As escalas de qualidade de vida são par-


ticularmente importantes para a avaliação
da eficácia de terapias com ou sem medica-
mentos, uma vez que os estudos de eficácia,
de longe os mais comuns, proporcionam in-
formações sobre remissão sintomática com
37

Versão final em português da Adult ADHD Quality of Life Questionnaire (AAQoL)


As perguntas a seguir referem-se ao impacto que o TDAH teve na sua vida nas ÚLTIMAS 2
SEMANAS. Para cada pergunta, circule sua resposta. Não existem respostas certas ou erradas.

Fonte: Mattos et al. (2011, p. 89).


38

Ambas as versões para a língua de ori- listados na DSM-IV, enfatizaram a neces-


gem revelaram boas medições de equiva- sidade de investigar o impacto de tal com-
lência para significado geral e referencial prometimento nos índices de qualidade
comparado com o instrumento original; a de vida de pacientes com esse transtorno.
concordância entre os pares (traduções- O uso de escalas mais genéricas de quali-
-versões para a língua de origem) variou dade de vida – como a SF-36 – em estudos
um pouco na maioria dos 29 itens. As per- com indivíduos com TDAH demonstraram
guntas que apresentaram menor concor- que apenas alguns índices estavam corre-
dância foram discutidas e redefinidas na lacionados com os sintomas desse trans-
etapa 3. Entre elas, o item “Falta de tempo torno, enfatizando a necessidade de ins-
satisfatório” foi o que teve menos concor- trumentos mais específicos (MATTOS et
dância entre a tradução e a versão para al., 2011).
a língua de origem e foi discutido com o
O AAQoL foi selecionado porque é um
autor do documento original. O conceito
instrumento de aplicação fácil e rápida,
de “tempo de qualidade”, no documento
além de ter sido desenvolvido para inves-
original, revelou ser de correspondência
tigar o impacto de sintomas de TDAH na
difícil e optou-se por utilizar a expressão
qualidade de vida de pacientes com essa
“tempo satisfatório”, que tem um sentido
doença. Assim, foram utilizados itens que
mais amplo do que apenas quantidade su-
podem ser divididos em quatro subes-
ficiente de tempo (MATTOS et al., 2011).
calas, avaliando a produtividade, saúde
Na quarta etapa, esse item revelou ter psicológica, perspectivas de vida e rela-
sido bem compreendido pelos pacientes. cionamentos, que são as áreas mais co-
Na quarta etapa, o item “utilizando bem mumente afetadas em pacientes com
sua energia” não foi bem compreendido TDAH e que tem uma relação mais estrei-
por um pequeno número de pacientes, ta com o TDAH do que com as áreas ava-
para quem o questionamento direto pelo liadas pela escala SF-36, tais como saúde
entrevistador (após a autoaplicação) re- física e dor, por exemplo.
velou certa confusão com relação ao sen-
A discussão com um número limitado de
tido pretendido.
indivíduos deve ser sempre considerada
Alguns indivíduos entenderam que os como uma limitação principal de estudos
itens “Sente que você irrita as pessoas” e de validação semântica, levando-se em
“Sente que as pessoas estão frustradas conta a heterogeneidade sociocultural
com você” estavam potencialmente cor- no Brasil. Quanto aos estudos de qualida-
relacionados, mas ambos estavam inclu- de de vida, outras formas de equivalência
ídos no documento original. O mesmo se que não a semântica – como, por exemplo,
pode dizer quanto aos itens “Sente-se so- equivalência funcional – tem sido enfati-
brecarregado” e “Sentiu-se chateado pelo zadas por alguns autores; isso pode ser
fato de estar cansado”. particularmente importante, uma vez que
qualidade de vida é um conceito ampla-
Vários estudos que mostram compro-
mente sujeito a variações em diferentes
metimento significativo associado a sin-
culturas (MATTOS et al, 2011).
tomas de TDAH em adultos, tais como os
39

8.3 Comorbidades 2 Os sintomas de impulsividade também


podem levar ao rompimento de regras fa-
Falamos várias vezes desde o início da
miliares, educacionais e interpessoais, es-
apostila em comorbidades. Em nota de ro-
pecialmente na adolescência.
dapé o significado encontra-se bem elabo-
rado e didático para aqueles que não têm Ao final da infância, os sinais de exces-
domínio do termo. siva atividade motora ampla passam a ser
menos comum, podendo os sintomas de
De uma forma geral, as pesquisas têm
hiperatividade limitar-se à inquietação ou
mostrado o TDAH associado a outros
uma sensação íntima de agitação ou ner-
diagnósticos. Para Rohde, Barbosa e co-
vosismo (LOPES; NASCIMENTO; BANDEIRA,
laboradores (2000), são altos os índices
2005).
de comorbidade entre TDAH e abuso ou
dependência química na adolescência e Há revisões sistemáticas dos eventos
em adultos. Conforme este mesmo au- adversos do metilfenidato em crianças,
tor, o TDAH na infância é um fator de ris- adolescentes e adultos revelando um per-
co para uso ou dependência de drogas na fil seguro (PASTURA e MATTOS, 2004),
adolescência e idade adulta. Além disso, a sendo os eventos mais comuns a insônia,
presença de comorbidades associadas ao a hiporexia com perda ponderal, a irritabi-
TDAH, tais como, transtorno do humor bi- lidade e a cefaleia.
polar, depressão, transtornos de ansieda-
de, abuso de álcool e drogas, aumentam o Os eventos adversos observados com
grau de comprometimento numa significa- o metilfenidato são dose-dependentes e
tiva parcela de pessoas. diminuem ou desaparecem com o tempo

Resultados preliminares de um estudo 2- É um termo médico primeiramente utilizado por Feinstein


com uma amostra considerada pequena, em 1970. A princípio o termo referia-se à ocorrência de duas
doenças distintas em um mesmo indivíduo, “uma doença
frente à prevalência estimada do trans- adicional num paciente com uma doença índice”.
O conceito atual refere-se à associação, mais que informal,
torno na população, indicam que além do mas provavelmente não causal, entre uma doença ou transtor-
comprometimento associado aos sintomas no índice e uma ou mais patologias físicas ou psicológicas.
Comorbidade refere-se a “transtornos” (“problemas comporta-
básicos de desatenção, hiperatividade e mentais e psicológicos que diferem da normalidade”) e/ou “do-
enças” (bem definidas como entidades clínicas), não sintomas
impulsividade, crianças e adolescentes simultâneos, relacionados nas síndromes. Porém, reconhecer
portadores de TDAH com significativa fre- comorbidades pode ser o passo inicial para a identificação de
“novas síndromes”.
quência podem apresentar comorbidade Esclarecer a direção, o significado e o peso das comorbidades
têm implicações fisiopatológicas, evolutivas e terapêuticas.
com outros transtornos psiquiátricos, o No campo de psiquiatria, nós lidamos principalmente com
que aumenta potencialmente o seu com- transtornos e não doenças, assim, a pesquisa e a abordagem
clínica de comorbidades precisam levar em consideração
prometimento funcional (SOUZA et al., vários aspectos.
Primeiramente, é muito importante considerar o fator “tempo”.
2001). A inferência da existência de inter-relações específicas e não
casuais entre dois ou mais transtornos depende da relação
Tendo em vista que o TDAH é mais fre- temporal existente entre esses transtornos, se ocorreu em um
mesmo momento “atual” ou “ao longo da vida” (de forma
quente no sexo masculino e mais facilmen- concorrente ou sucessiva). A comorbidade atual refere-se à
presença simultânea de dois ou mais transtornos num mesmo
te observado em crianças em idade esco- período de tempo. Ao “longo da vida” refere-se à ocorrência de
lar, os sintomas de desatenção afetam o transtornos ao longo de um período de tempo que precisa ser
especificado (seis meses, um ano ou toda a vida). O conceito de
trabalho em sala de aula e o desempenho comorbidade “sucessiva” refere-se à ocorrência de dois trans-
tornos ao longo do tempo e não simultaneamente (GUIDETTI;
acadêmico. GALLI, 2012).
40

ou a diminuição da dose. O metilfenidato com consequências sociais, tolerância e de-


parece ser seguro para utilização em pa- pendência psicológica.
cientes epilépticos e bipolares, desde que
e) Transtornos de Personalidade prin-
adequadamente tratados e com quadro
cipalmente Borderline 3 e Antissocial –
estável (SCHUBERT, 2005; WILENS et al.,
evidenciam como características similares
2002 apud LOUZÃ; MATTOS 2007).
impulsividade e labilidade afetiva e como ca-
racterísticas distintas, histórias judiciais (An-
8.4 Transtornos psiquiátri- tissocial), comportamento auto prejudicial
cos a serem considerados ou suicida (Borderline), falta de reconheci-
mento de que o comportamento é autodes-
em adultos trutivo.
Dentre os transtornos psiquiátricos a se-
rem considerados no diagnóstico diferencial Dos quadros clínicos, o que mais causa
de TDAH em Adultos (SEARIGHT, BURKE & confusão com o TDAH é o transtorno de hu-
ROOTNEK, 2000 apud LOPES; NASCIMENTO; mor bipolar. Lara (2004) explica que vários
BANDEIRA, 2005) apontam os seguintes: sintomas do TDAH podem estar presentes
na bipolaridade, mas há diferenciação, pois
a) Depressão Maior – tem como carac- existem aqueles que não são do déficit de
terísticas similares ao TDAH dificuldade de atenção e da hiperatividade, mas aparecem
concentração, de atenção e de memória e na direção da mania no paciente bipolar.
dificuldade na conclusão das tarefas. Como São eles: intenso envolvimento em ativida-
características distintas do TDAH, o humor des pontuais (sociais, afetivas, do trabalho
disfórico constante ou anedonia, sonolência e criativas), pensamento rápido, diminuição
e perturbação do apetite. da necessidade de sono, humor eufórico ou
b) Transtorno do Humor Bipolar – as irritável, manifestações de grandiosidade,
características similares do TDAH são a hipe- autoestima elevada, comportamentos que
ratividade, dificuldades em manter atenção envolvem riscos. Se pouco desses sintomas
e foco; oscilações de humor. As característi- surgirem sem motivo aparente por mais de
cas distintas são a disforia ou humor eufóri- um dia pode sugerir bipolaridade em vez de
co, insônia e ilusões. déficit de atenção.

c) Transtorno de Ansiedade – demons- Por fim, afirma que a resposta à medica-


tra características similares à excitação e ção é diferente. No caso do TDAH, há signi-
à dificuldade de concentração. Apresenta ficativa melhora do quadro quando se utiliza
como características distintas apreensão remédio estimulante, como o metilfenidato,
exagerada, preocupação e sintomas somáti- semelhante à anfetamina. A mesma medi-
cos de ansiedade. cação em bipolares pode induzir sintomas
de irritabilidade, mania e agitação, e, se o
d) Abuso de Substâncias ou Dependên- paciente apresentar melhora neste caso, é
cia Química – mostram como característi- transitória (LOPES; NASCIMENTO; BANDEI-
cas similares dificuldades com atenção, con-
centração, memória e oscilações de humor. 3- O termo “borderline” (limítrofe) deriva da classificação de
Adolph Stern, que descreveu esta doença, na década de 1930,
Como características distintas apresentam como uma patologia que permanece no limite entre a neurose e
a psicose. Pelo fato de o termo carecer de especificidade, existe
um padrão patológico de uso de substâncias um debate atual sobre se esta doença deva ser renomeada.
41

RA, 2005). depressão, transtorno do humor, dificul-


dades de aprendizagem) e fazer o diagnós-
tico diferencial que justifique os sintomas
apresentados.
8.5 Avaliação
Diante das considerações acima, Galla- A história da pessoa deve ser investiga-
gher e Blader (s.d apud LOPES, NASCIMEN- da cuidadosamente, entrevistando um ou
TO; BANDEIRA, 2005) esboçaram nove mais membros da família, pois é bastante
componentes para uma avaliação global de comum a falta de insight desses pacien-
TDAH em adultos: tes para o próprio comportamento. A vida
escolar deve ser bem examinada, embora
1) revisão de preocupações atuais. não seja raro a pessoa bem dotada inte-
2) avaliação do nível de funcionamento lectualmente compensar o déficit da aten-
na infância e no adulto. ção e ter bom rendimento nos estudos. O
transtorno não impede de forma absoluta
3) história psiquiátrica detalhada. a concentração, alguns indivíduos são ca-
pazes de um bom desempenho na área do
4) avaliação de história de adaptação
trabalho, por exemplo, até em função do
psicossocial.
alto grau de interesse, porém em todos os
5) diagnóstico diferencial e avaliação de outros momentos a atenção pode falhar de
comorbidades. forma desastrosa.
6) avaliação das desordens físicas. Nas entrevistas, o avaliador deve buscar
o maior número possível de dados sobre
7) avaliação intelectual e das funções
a história do desenvolvimento, sendo im-
executivas.
portante confirmar informação com outras
8) avaliação neurológica e avaliação psi- fontes, como os pais, cônjuge e boletins
coeducacional. escolares. Os sintomas devem estar cons-
tantemente presentes desde a infância.
9) avaliação e planejamento do trata-
Ainda nas entrevistas, é necessário inves-
mento.
tigar o impacto dos sintomas do TDAH na
A avaliação adequada consiste no aten- vida profissional e escolar e nos relaciona-
dimento com psicólogo, neurologista ou mentos afetivos. Como muitas das dificul-
psiquiatra. Uma avaliação mais abrangente dades aparecem na área profissional, de-
como o uso de escalas de sintomas e testes ve-se avaliar a atenção, a concentração, a
psicológicos para identificar deficiência distrabilidade e a memória de curto prazo
cognitiva pode colaborar no diagnóstico. analisando o paciente ao executar tarefas
no seu trabalho. E para concluir, avaliar a
Dados de sua história de vida, no senti-
presença de outras desordens psiquiátri-
do de avaliar se as dificuldades persistem
cas e abuso de substância.
desde a infância, também contribuem de
forma significativa nessa avaliação. Como se pode ver, o processo de avalia-
ção do TDAH caracteriza-se, principalmen-
Ainda, é importante verificar a presen-
te, por ser tipicamente clínico. Baseia-se
ça ou não de comorbidades (ansiedade,
42

nos critérios diagnósticos do DSM-IV, que Tal como em outros transtornos, a dose
os estudiosos no assunto adaptaram para inicial da medicação deve ser mais baixa,
a vida adulta. Contudo, os estudos mos- sendo ajustada gradualmente conforme a
tram avanços que, espera-se, sejam consi- resposta clínica do paciente. Deve-se bus-
derados na próxima edição deste manual. car a remissão total do TDAH (e comorbida-
Trata-se de um processo complexo e tra- des) ou chegar à maior dose tolerada pelo
balhoso visto que muitas comorbidades se paciente (WEISS E WEISS, 2004 apud LOU-
apresentam com a mesma sintomatologia ZÃ; MATTOS, 2007).
do TDAH. É uma avaliação multifatorial
O tratamento farmacológico do TDAH
que visa coletar uma série de informações,
em adultos é feito com três grupos de
analisar as mais pertinentes com o TDAH
medicamentos: os psicoestimulantes, os
para poder chegar num diagnóstico final.
antidepressivos e a atomoxetina. Os psi-
Os sintomas apresentados referentes às
coestimulantes são considerados como a
comorbidades não devem ser desconside-
primeira escolha.
rados, pois um adulto com TDAH pode ser
tratado concomitantemente com outros Embora não existam estudos controla-
transtornos. dos de imipramina ou nortriptilina no tra-
tamento de TDAH adulto (WILENS et al.,
Os adultos que são encaminhados para
1995 apud LOUZÃ; MATTOS, 2007), esses
avaliação muitas vezes se apresentam
antidepressivos, juntamente com a de-
com um quadro “florido”, isto é, demons-
sipramina (não disponível no Brasil), têm
tram uma série de sintomas que são per-
sido utilizados no tratamento de adultos
tinentes também a outros transtornos
com TDAH. Sua eficácia é inferior a dos psi-
dificultando a identificação e, consequen-
coestimulantes, mas podem ter seu em-
temente, o processo de avaliação. Para o
prego experimentado naqueles pacientes
psicólogo, então, é de grande valia o uso de
que não responderam aos psicoestimulan-
testes psicológicos nessa avaliação clínica
tes ou não toleraram seus efeitos colate-
(LOPES; NASCIMENTO; BANDEIRA, 2005).
rais (SPENCER et al., 2004b apud LOUZÃ;
MATTOS, 2007). A bupropiona também
8.6 Tratamento farmacoló- foi investigada no tratamento de adultos
gico com TDAH, porém sua eficácia revelou-se
As estratégias de tratamento do TDAH inferior a dos estimulantes (SEGENREICH e
em adultos derivam em parte da extrapo- MATTOS, 2004; WILLENS et al., 2005 apud
lação dos estudos feitos em crianças e, em LOUZÃ; MATTOS, 2007). Outro antidepres-
parte, dos estudos clínicos realizados em sivo estudado foi a venlafaxina, cuja eficá-
amostras de adultos. É importante definir cia também se revelou inferior à dos psico-
os alvos do tratamento, que muitas ve- estimulantes (GUITMAN et al., 2001 apud
zes ultrapassam os sintomas primários do LOUZÃ; MATTOS, 2007).
TDAH, especialmente se tratando de indi- A atomoxetina (ainda não disponível no
víduos adultos: o longo histórico de com- Brasil, exceto por importação) é um medi-
prometimento funcional pode se associar camento não-psicoestimulante, potente
a diversos aspectos que não são aborda- inibidor da recaptura de noradrenalina,
dos por farmacoterapia isoladamente.
43

com eficácia demonstrada em estudos ação mais prolongada. A formulação de


controlados com adultos (MICHELSON et liberação imediata exige o uso de várias
al., 2003 apud LOUZÃ; MATTOS, 2007), tomadas ao longo do dia, por causa de sua
embora esta seja inferior a dos psicoesti- rápida metabolização e eliminação.
mulantes. Seu uso pode estar indicado nos
As formulações de liberação prolonga-
casos em que exista histórico ou grande
da facilitam a posologia, tendo sua farma-
potencial de abuso dos estimulantes.
cocinética em humanos sido extensiva-
O grupo dos psicoestimulantes é com- mente estudada (WOLRAICH e DOFFING,
posto de sais de anfetaminas (ainda não 2004; LYSENG-WILLIAMSON e KEATING,
disponíveis no Brasil) e do metilfenidato, 2002; VOLKOW et al., 1998; SPENCER et
sendo esta a substância mais frequente- al., 2006 apud LOUZÃ; MATTOS, 2007).
mente utilizada no tratamento de TDAH, As duas formulações de liberação prolon-
seja na infância e adolescência, seja na vida gada disponíveis no país não têm perfis
adulta (FARAONE et al., 2006 apud LOUZÃ; farmacocinéticos semelhantes, sendo as
MATTOS, 2007). curvas de concentração sérica e duração
de ação diferentes entre si, conforme Ta-
No Brasil, o metilfenidato está dispo-
bela abaixo.
nível em três formulações, sendo duas de
Formulação de metilfenidato disponíveis no Brasil

Fonte: LOUZÃ; MATTOS (2007, p. 54).

As formulações de liberação prolonga- O Transtorno do Déficit de Atenção com


da são consideradas, além de mais práti- Hiperatividade (TDAH) é um transtorno
cas, mais seguras, pois diminuem o risco neurobiológico, de causas genéticas, que
do efeito de reforço causado por súbitos aparece na infância e frequentemente
aumentos do nível plasmático de metil- acompanha o indivíduo por toda a sua vida.
fenidato, reduzindo o potencial de abuso Ele se caracteriza por sintomas de desa-
ao mesmo tempo que mantém a ação te- tenção, inquietude e impulsividade. Às ve-
rapêutica (VOLKOW, 2006 apud LOUZÃ; zes chamado de DDA (Distúrbio do Déficit
MATTOS, 2007). de Atenção) e em inglês, também é chama-
do de ADD, ADHD ou de AD/HD (SILVARES,
Vale Guardar...
2000).
44

Esse transtorno envolve a apresenta- cia do Instituto de Psiquiatria do Hospi-


ção de níveis acima da média de desaten- tal das Clínicas Ênio Roberto de Andrade
ção (pessoa muito distraída), impulsivida- (2000), explica que 30% a 70% dos indiví-
de e hiperatividade (pessoa muito ativa, duos que sofrem dessa doença tomam me-
por vezes agitada, bem além do comum). É dicamentos por toda a vida. “Como as cau-
um transtorno de início precoce, ou seja, os sas e os efeitos são de difícil diagnóstico,
sintomas geralmente se apresentam antes o tratamento não é voltado para a cura da
dos sete anos, e são notáveis na maioria doença, mas para a remissão”, diz. Quando
dos ambientes como lar, escola e comuni- se pensa em TDAH, a responsabilidade so-
dade. bre a causa recai sobre toxinas, problemas
no desenvolvimento, alimentação, feri-
Além disso, as crianças com esse trans-
mentos ou malformação, problemas he-
torno têm um risco acima da média de
reditários e familiares. Já foi sugerido que
apresentarem problemas educacionais,
essas possíveis causas afetam o funciona-
comportamentais e sócio emocionais.
mento do cérebro e, como tal, o TDAH pode
Ansiedade, inquietação, euforia e dis- ser considerado um distúrbio funcional do
tração frequentes podem significar mais cérebro.
do que uma fase na vida de uma criança:
Pesquisas mostram diferenças signifi-
os exageros de conduta diferenciam quem
cativas na estrutura e no funcionamento
vive um momento atípico daqueles que so-
do cérebro de pessoas com TDAH, particu-
frem de TDAH, doença precoce e crônica
larmente nas áreas do hemisfério direito
que provoca falhas nas funções do cérebro
do cérebro, no córtex pré-frontal, gânglios
responsáveis pela atenção e memória.
da base, corpo caloso e cerebelo. Esses es-
De origem genética, o TDAH tem como tudos estruturais e metabólicos somados
fatores predominantes, e não necessaria- a estudos genéticos e sobre a família, bem
mente simultâneos, a desatenção, a impul- como as pesquisas sobre reação a drogas,
sividade e a hiperatividade, além de influ- demonstram claramente que o TDAH é um
ências externas relevantes, como traumas transtorno neurobiológico. Apesar da in-
inclusive cerebrais, infecções, desnutrição tensidade dos problemas enfrentados pe-
ou dependência química dos pais. los portadores do TDAH variar de acordo
com suas experiências de vida, está claro
No caso das crianças, o TDAH pode apa-
que a genética é o fator básico na deter-
recer desde a gravidez, quando o bebê se
minação do aparecimento dos sintomas do
mexe além do normal, ou durante o cresci-
TDAH.
mento, no máximo até os sete anos de ida-
de. Se a pessoa não for tratada desde cedo O diagnóstico do TDAH é um processo
à base de estimulantes, antidepressivos e de múltiplas facetas. Diversos problemas
terapias, na fase adulta poderá ter sinto- biológicos e psicológicos podem contribuir
mas de distração, falta de concentração e para a manifestação de sintomas simila-
deficiência na coordenação de ideias ainda res apresentados por pessoas com TDAH.
mais acentuadas. Por exemplo: a falta de atenção é uma das
características do processo de depressão.
O psiquiatra da infância e da adolescên-
Impulsividade é uma descrição típica de
45

delinquência. agitado diante de situações novas, isto é,


não consegue controlar seus sintomas. Já
O diagnóstico de TDAH pede uma avalia-
o mal-educado, primeiro avalia bem o ter-
ção ampla. Não se pode deixar de conside-
reno e manipula situações buscando obter
rar e avaliar outras causas para o problema,
vantagens sobre os outros.
assim é preciso estar atento à presença de
distúrbios concomitantes. O aspecto mais Diagnósticos apressados e equivo-
importante do processo de diagnóstico é cados têm feito pessoas mal-educa-
um cuidadoso histórico clínico e desenvol- das ficarem à vontade para serem mal
vimental. A avaliação do TDAH inclui, fre- educadas sob o pretexto de que estão
quentemente, um levantamento do fun- dominadas pelo TDAH. O fato de serem
cionamento intelectual, acadêmico, social consideradas doentes facilita a aceita-
e emocional. O exame médico também é ção de seu comportamento impróprio
importante para esclarecer possíveis cau- (TIBA, 2002, p. 152).
sas de sintomas semelhantes aos do TDAH
(por exemplo: reação adversa à medicação,
É mais fácil agir sem a necessária ade-
problema de tireoide, etc.).
quação de ser humano e cair na escala ani-
O processo de diagnóstico deve incluir mal liberando tudo o que se tem vontade
dados recolhidos com professores e outros de fazer “[...] Concentrar-se dá trabalho.
adultos que de alguma maneira, interagem Exige esforço mental” (TIBA, 2002, p.152).
de maneira rotineira com a pessoa que está Como a criança não suporta isso, começa a
sendo avaliada. Embora se tenha tornado se agitar, a prestar atenção em outra coisa.
prática popular testar algumas habilidades
Antes dos pais lidarem com o filho como
como resolução de problemas, trabalhos
apenas um mal-educado, ou como um por-
de computação e outras, a validade dessa
tador do TDAH, é importante que consulte
prática, bem como sua contribuição adicio-
um médico e recebam a orientação corre-
nal a um diagnóstico correto, continuam a
ta, base fundamental da boa educação.
ser analisadas pelos pesquisadores.
“Tanto o portador de TDAH como o mal-
No diagnóstico de adultos com TDAH,
-educado são irritáveis por falta de capaci-
mais importante ainda é conseguir o histó-
dade de esperar. A espera é um exercício”
rico cuidadoso da infância, do desempenho
(TIBA, 2002, p. 153).
acadêmico, dos problemas comportamen-
tais e profissionais. À medida que aumenta
o reconhecimento de que o transtorno é
permanente durante a vida da pessoa, os
métodos e questionários relacionados com
o diagnóstico de um adulto com TDAH es-
tão sendo padronizados e tornados cada
vez mais acessíveis.

Há algumas diferenças notáveis entre


um portador de TDAH e um, mero mal-
-educado. O portador de TDAH continua
46
UNIDADE 9 - Introdução aos Problemas
de Aprendizagem e Fracasso Escolar
Uma vez que o papel do Psicopedagogo ou psicopedagógica, ou até mesmo, aqueles
passa pelo trabalho com alunos que têm pro- que o problema pode ser resolvido dentro
blemas de aprendizagem ou que fazem par- do contexto escolar, por meio de programas
te do processo que poderíamos chamar “não individualizados de ensino e práticas peda-
aprendizagem”, que, por conseguinte, levam gógicas diferenciadas. Dessa forma a avalia-
ao fracasso escolar, dedicamos esta apostila ção torna-se um elemento muito importante
ao aprofundamento destas questões: escla- para traçarmos o caminho a seguir. Avaliar
recer o que é distúrbio, problema e dificulda- não para classificar, para rotular, mas para
de de aprendizagem; o papel do cérebro no promover alternativas.
processo da aprendizagem; sendo o nosso
Vamos refletir um pouco, sobre como
foco maior as dificuldades de aprendizagem.
agimos diante das dificuldades de aprendi-
Passaremos minuciosamente por cada uma
zagem de nossos alunos. É comum prestar-
delas, as possíveis causas, os sintomas, as
mos mais atenção às dificuldades, pois elas
consequências e o tratamento, além, evi-
saltam aos olhos com muito mais evidências
dentemente, dos esforços que podem ser
que as potencialidades. Podemos começar a
realizados pelo psicopedagogo.
pensar sobre a dificuldade de aprendizagem
Sara Paín (1992, p. 32) destaca que, na pelos acertos dos alunos. Assim, experimen-
concepção de Freud, os problemas de apren- tando alguns sucessos, podemos abrir uma
dizagem não são erros: “[...] são perturba- porta para a construção de um vínculo posi-
ções produzidas durante a aquisição e não tivo com as demais áreas da aprendizagem
nos mecanismos de conservação e disponi- que nosso aluno necessita compreender e
bilidade [...]”; é necessário procurar compre- aprimorar.
ender os problemas de aprendizagem não
Mas o que quer dizer compreender e
sobre o que se está fazendo, mas sim sobre
aprender significativamente?
como se está fazendo.
Compreender significa captar o sentido
Ainda sobre o problema de aprendizagem,
ou apreender uma rede de significações. Por
Patto (1990 apud SILVA, 2002) destaca que
exemplo, podemos compreender uma pa-
o fracasso escolar acontece pela falta de co-
lavra por causa do contexto significativo da
nhecimento, pelo menos em seus aspectos
frase e da série de pensamentos. Isto signi-
fundamentais, da realidade social na qual se
fica que o aluno é capaz de apreender cada
enquadrou uma determinada versão sobre
passo do processo mental (abstração) de
as diferenças de rendimento escolar exis-
cada conteúdo quando o assunto ou o tema
tentes entre crianças de diferentes origens
abordado for aceitável, for razoável, isto é,
sociais.
fizer sentido para ele.
Ao avaliarmos os alunos que apresentam
Como a busca pelo sentido passa pela
dificuldades de aprendizagem, vamos en-
variante dos significantes, temos que um
contrar diversas categorias. Haverá aqueles
mesmo objeto pode possuir múltiplos sig-
que necessitam da intervenção psicológica
nificados, dependendo do contexto que o
47

significa. Por exemplo, quando utilizamos a padrões da academia, fugiremos um pouco


palavra "operação", ela pode adquirir signi- às regras para nos aproximarmos de vocês
ficados distintos, dependendo dos signifi- e para que os temas abordados cheguem
cantes a ela atribuídos. Para um médico, será de maneira clara e objetiva, mas não menos
uma cirurgia; para um matemático, será a científica. Em segundo lugar, deixamos cla-
efetuação de uma conta; para um operador ro que este módulo é uma compilação das
da bolsa de valores, dirá respeito a uma apli- ideias de vários autores, incluindo aqueles
cação feita. que consideramos clássicos, não se tratan-
do, portanto, de uma redação original.
Falar na aprendizagem significativa equi-
vale, antes de tudo, a pôr em relevo o pro- Ao final do módulo, além da lista de refe-
cesso de construção de significados como rências básicas, encontram-se muitas ou-
elemento central do processo ensino-apren- tras que foram ora utilizadas, ora somente
dizagem. O aluno aprende um conteúdo consultadas e que podem servir para sanar
qualquer [...] quando é capaz de atribuir-lhe lacunas que por ventura surgirem ao longo
um significado (COLL, 1993, p. 79). dos estudos.

Portanto, a utilização do pensamento sig-


nificativo deverá ser explorada no proces-
so ensino-aprendizagem muito próximo da
vinculação conteúdo com a vida prática ou
cotidiana, principalmente no caso da apren-
dizagem infantil. Já na adolescência e com o
adulto, o aprendizado significativo viabiliza o
aprofundar-se nas questões do mundo, bem
como nas questões pessoais, favorecendo
um encontro com o sentido da própria exis-
tência e com os valores éticos necessários à
sustentação da cultura e civilização huma-
nas, onde são valorizados os "porquês" das
ações e dos acontecimentos.

A possibilidade de explorar o aprendi-


zado significativo tem seu lugar quando o
profissional – no nosso caso, o psicopedago-
go – se vê diante de alunos com problemas,
dificuldades ou distúrbios da aprendizagem,
podendo utilizar essas dificuldades para tra-
balhar com o aluno, mas lembremos que as
dificuldades podem ser tanto do aprendente
quanto do ensinante.

Ressaltamos em primeiro lugar que, em-


bora a escrita acadêmica tenha como pre-
missa ser científica, baseada em normas e
48
UNIDADE 10 - Problemas, Distúrbios ou
Dificuldades de Aprendizagem?
Existe uma grande confusão entre o que é distúrbio, já é motivo para atenção especial
problema e o que é distúrbio e, em meio aos a esta criança e, certamente, o pediatra irá
dois, afinal, o que é normal. Para elucidar um avaliar suas características e encaminhá-Ia,
pouco o assunto, veremos, a seguir, algumas se necessário, a outros profissionais. Se reu-
características do considerado normal, pro- nir todos os sintomas de distúrbio, deverá
blemático ou tendendo ao distúrbio. certamente ser encaminhada ao psiquiatra
(OLIVIER, 2008).
O normal, o problemático e o distúr-
bio do nascimento aos 7 anos Dos seis aos 24 meses, o desenvolvimen-
to normal inclui maior estabilidade fisiológi-
No recém-nascido e até os seis meses de
ca, mais paciência e tolerância e certo con-
vida, o normal é que ele tenha domínio sobre
trole dos instintos e da atividade motora,
os reflexos, chore ao sentir algum descon-
o que faz com que a criança consiga brincar
forto, reaja aos estímulos, como som, luz,
bastante, distraindo-se com os brinquedos
carinho, etc., consiga sugar durante a ama-
por períodos longos sem tornar-se irritadi-
mentação, tenha boa digestão, bom funcio-
ça ou chorona. Nesta fase, demonstra uma
namento intestinal e durma de forma tran-
forte ligação com a mãe, distinguindo-a dos
quila. Essas são as principais características
demais parentes e sabendo separar quem é
do bebê considerado normal.
conhecido e quem é desconhecido, inicia sua
Torna-se problemático quando o bebê fase de imitação e desenvolvimento da lin-
apresenta dificuldades para alimentar-se e/ guagem que, aos 18 meses, já tem um bom
ou apresenta constantes vômitos e/ou diar- número de palavras utilizadas, ainda que
reias ou quando tem dificuldades no sono, simples ou até monossilábicas.
excesso de sucção, choro e irritabilidade ex-
O problemático começa quando a crian-
cessivos e sem motivo aparente. O proble-
ça demonstra irritação, raiva ou chora em
mático se torna em distúrbio quando o bebê
excesso e continuamente, torna-se total-
mostra-se apático ou indiferente, chora mui-
mente intolerante por qualquer motivo, tem
to e de forma monótona, grita sem motivo,
dificuldades no controle de evacuações, ali-
não suga nem reage a qualquer estímulo.
mentação e sono. Tem tiques e/ou balança-
Todas essas características juntas assina- -se muito quando contrariada, chupa cons-
lam o normal e o problemático. Apresentan- tantemente o dedo e/ou objetos diversos.
do uma ou duas características do problemá-
O distúrbio é considerado quando a criança
tico, não há motivo para pânico, pois pode ser
apresenta crises temperamentais frequen-
apenas uma característica da personalidade
tes, perde o fôlego com facilidade, apresen-
do bebê, mesmo assim, vale a pena consultar
ta convulsões, demonstra isolamento e/ou
um pediatra para avaliar seu desenvolvimen-
apatia, inclusive sem grandes ligações com a
to. Aliás, o acompanhamento pediátrico é es-
mãe. Passa a maior parte do tempo chupan-
sencial mesmo em bebês considerados com
do o dedo e/ou objetos e balançando-se e/
desenvolvimento normal. No caso de a crian-
ou batendo a cabeça em algum objeto (ber-
ça apresentar uma ou mais características do
49

ço, paredes etc.). Consegue autonomia nas funções corporais


(comer, beber, evacuar) e identifica-se com
Nesta idade, além do pediatra, a criança
pais, irmãos, amigos, colegas. Demonstra co-
já pode e deve ser levada a um psicopeda-
ordenação em exercícios que envolvem pu-
gogo para alguns testes de aprendizagem.
los, corridas, etc. Já consegue fazer pinturas,
Se os testes demonstrarem normalidade no
desenhos, recortes e pequenos trabalhos
desenvolvimento da aprendizagem, o acom-
manuais. Ainda demonstra dependência
panhamento posterior poderá ser somente
materna e medo de separar-se da mãe, mas
pelo pediatra. Sendo uma criança proble-
também presta atenção às outras pessoas
mática, deve-se levá-Ia ao psicopedagogo e
que a rodeiam. Torna-se mais sociável, curio-
a um psicólogo para que eles a atendam em
sa, inclusive quanto à sexualidade e pergun-
conjunto. Será melhor se um for indicado
ta muito para satisfazer sua extrema curiosi-
pelo outro para evitar divergências de méto-
dade (OLIVIER, 2008).
dos e linhas de tratamentos (OLIVIER, 2008).
Torna-se problemática quando demons-
Crianças com características de distúrbios
tra pouca ou nenhuma coordenação moto-
de aprendizagem podem ser atendidas pelo
ra, problemas na linguagem, gagueira, troca
psicopedagogo.
excessiva de letras. Demonstra dificuldades
Crianças com alguns distúrbios, como para dormir, fazer sua higiene pessoal, insis-
Down, limitrofia, entre outros, depois de te em usar chupeta e/ou recusa-se a largar a
avaliação psiquiátrica e neurológica, podem mamadeira, preferindo-a a outros alimentos.
ser atendidas por um arteterapeuta. Ideal Está sempre irritada, tem frequentes crises
será se o psicopedagogo for também artete- temperamentais, mostra-se impossibilitada
rapeuta para atender a esses casos. O psico- de separar-se da mãe e, se o faz, entra em
pedagogo que não tenha também formação pânico, mostra medo excessivo de estra-
e especialização em Artes ou Arteterapia nhos e desinteresse por crianças da mesma
dificilmente conseguirá atender e tratar sa- idade. Geralmente estes problemas podem
tisfatoriamente esses distúrbios que não só ser resolvidos em um tratamento em con-
demonstram sintomas de dificuldades na junto com psicopedagogo, fonoaudiólogo e
aprendizagem e na concentração como tam- psicólogo.
bém outros sintomas que a Arteterapia tem
O distúrbio ocorre quando a criança de-
como tratar (OLIVIER, 2008).
monstra hiperatividade ou passividade ex-
Além do arteterapeuta, dependendo do trema, muita sonolência, fala pouco ou não
caso, é aconselhável o acompanhamento fala, não se expressa, não reage às pessoas,
neurológico e/ou psiquiátrico. Obviamente, nem responde às perguntas, não controla
o pediatra deve ser visitado constantemen- fezes e urina, masturba-se com muita fre-
te para acompanhar a criança, independen- quência ou nunca se masturba, demonstra
temente do tipo de desenvolvimento apre- comportamento destrutivo, como cortar,
sentado por ela. rasgar, queimar brinquedos e objetos diver-
sos, age de forma cruel com animais ou ir-
No período entre os dois e os cinco anos,
mãos mais novos, parecendo sentir prazer
a criança desenvolve bem a fala, conse-
nisto. Nestes casos, o distúrbio passa a ser
guindo expressar-se com frases completas.
considerado e deve ser diagnosticado por
50

um psicólogo que, dependendo do caso, en- Aprendizagem simples – Entrou em


caminhará a criança a um neurologista, fono- contato com o assunto, prestou atenção,
audiólogo, otorrino e/ou a um psicomotricis- mas não memorizou.
ta e/ou a um arteterapeuta (OLIVIER, 2008).
Superaprendizagem ou aprendiza-
Bem, até o momento pincelamos compor- gem ideal – Entrou em contato com o as-
tamentos que podem denotar desenvolvi- sunto, prestou atenção, assimilou e memo-
mento saudável, comportamento proble- rizou.
mático e distúrbio, mas antes de falar sobre
Os dois primeiros casos necessitam de
problemas e distúrbios especificamente,
acompanhamento psicopedagógico e análi-
vamos explicar o que é aprendizagem, que
se (exames e testes) para detectar onde há
ocorre basicamente em três estágios:
e qual é a falha existente.
Subaprendizagem – Entrou em conta-
Neste ponto, vêm as dificuldades, os pro-
to com o assunto, mas não prestou atenção,
blemas e os distúrbios, que também podem
portanto não assimilou.
ocorrer basicamente de três formas:

Causas Causas Causas do


Psicológicas Orgânicas Sistema

Traumas, Desnutrição, Inadequação dos métodos


problemas familiares, anemia ou distúrbios, aplicados em aprendizagem,
problemas financeiros, como dislexia, disgrafia despreparo dos professores,
etc. etc. etc.

Analisados todos esses fatores, devem-


-se então avaliar os sintomas para identificar
o distúrbio (OLIVIER, 2008).
51
UNIDADE 11 - Dificuldades de
Aprendizagem – O Papel do Cérebro
O conceito de dificuldades de aprendi- andar de bicicleta, a desenhar, a pintar, a
zagem (DA) introduzido por Samuel Kirk, interagir socialmente com os seus pares,
em 1963, não é ainda hoje consensual, etc.
quer em termos de elegibilidade quer de
As DA podem criar obstáculos e impe-
identificação (PORTO, 2009).
dimentos inexplicáveis para aprender a
Todavia a condição de DA é amplamen- falar, a ouvir, a ler, a escrever, a raciocinar,
te reconhecida como um problema que a resolver problemas matemáticos, etc., e
tende a provocar sérias dificuldades de podem prolongar-se ao longo da vida.
adaptação à escola, e frequentemente
Trata-se de um tema de reflexão inter-
projeta-se ao longo da vida adulta.
disciplinar complexa, exatamente porque
Apesar das grandes e rápidas mudanças o sujeito (aluno, estudante, formando,
operadas na fundamentação teórica, da etc.) quando aprende uma dada tarefa
explosão incomensurável da investigação (ler, escrever, contar, pensar, etc.) apre-
produzida nas últimas décadas, das me- senta uma combinação única e original de
didas políticas e educacionais avançadas talentos (áreas fortes) e de vulnerabili-
para responder ao crescimento preocu- dades (áreas fracas), ou seja, um perfil de
pante do insucesso e do abandono esco- aprendizagem muitas vezes não detectá-
lar, das fracas performances dos estudan- veis pelos instrumentos de diagnóstico
tes em exames nacionais e internacionais, habitualmente mais utilizados.
das várias tentativas para aumentar a
Os próprios testes formais de inteligên-
qualidade de formação dos professores,
cia (que apuram o Quociente Intelectual
das pressões exercidas pelos pais etc., as
- QI) não são suficientes para identificar
DA continuam a gerar inúmeras contro-
DA, pois há crianças ou jovens e também
vérsias.
jovens sobredotados, logo, com QIs su-
Os indivíduos com DA, portadores de periores à média, que revelam dislexias,
um potencial intelectual dito médio, sem disortografias e discalculias, ou seja, difi-
perturbações visuais ou auditivas, moti- culdades específicas na aprendizagem.
vados em aprender e inseridos num pro-
Pesquisas internacionais têm con-
cesso de ensino eficaz para a maioria, re-
vergido em alguns consensos sobre o
vela dificuldades inesperadas em vários
fenômeno das DA, como por exem-
tipos de aprendizagem, sejam:
plo:
de índole escolar e/ou acadêmica,
a sua diversificação, embora cerca de
isto é, simbólica ou verbal, como aprender
80% se enfoquem na dislexia e na disor-
a ler, a escrever e a contar;
tografia;
de índole psicossocial e/ou psicomo-
a sua ocorrência em todos os níveis
tora, isto é, não simbólica ou não verbal,
de QI e em todos os níveis socioeconômi-
como aprender a orientar-se no espaço, a
cos;
52

o seu envolvimento genético e a sua neurocientífica, é por si só concludente,


constatação em várias gerações na mes- resolve? A questão das DA ultrapassa-se
ma família; a sua comorbilidade, espe- puramente com uma visão sociocultu-
cialmente com a epidemia silenciosa dos ral, sócio-histórica ou pedagógica? As DA
déficits de atenção com ou sem hiperati- são intrínsecas ao indivíduo ou ao siste-
vidade; ma educacional, ou resultam das suas in-
terações complexas? O diagnóstico tem
os seus sinais de discrepância, entre o
fornecido explicações sobre as causas?
potencial de aprendizagem normal e o seu
Porque é que o diagnóstico tradicional
aproveitamento escolar abaixo do normal;
não proporciona estratégias de interven-
as suas estruturas cerebrais atípicas ção reeducativas eficazes? As DA serão
(assimetrias hemisféricas, etopias, displa- recuperáveis com intervenções unitera-
sias, etc.); pêuticas ou unirreabilitativas milagrosas
(psicofarmacológicas, visuais, posturais,
os seus pré-requisitos linguísticos
fonológicas, metodológicas, etc.), ou de-
(fonológicos, morfológicos, semântico-
verão ter em vista uma intervenção multi-
-sintáxicos, léxicos, etc.);
disciplinar e mais coterapêutica?
os seus pré-requisitos cognitivos (co-
Quantos questionamentos! E não te-
nhecimento básico e processamento de
mos a pretensão de esgotar as dúvidas
informação: input - integração/ planifica-
acima, mas lançamos mão de subsídios
ção - output - feedback) com fraca auto-
teóricos que podem ajudá-los a refletir e
matização descodificativa e codificativa
focar nas respostas que lhe sejam mais in-
(hipótese de disfuncionamento cerebelo-
teressantes.
so e vestibular), entre outros (FONSECA,
2009, p. 141). Devido a muitas opiniões, geralmente
controversas e pouco conhecimento por
Apesar da constatação de vários con-
parte de vários profissionais (médicos
sensos, as controvérsias subsistem e as
a psicólogos, professores, formadores,
discussões não terminam, porque muitas
terapeutas, investigadores, sociólogos,
perguntas ainda geram muita incerteza.
etc.) que não se aprofundam no assunto,
Será que as DA ilustram um fluxo contí-
acreditamos como Fonseca a dificuldade
nuo de dificuldades, desde a comunicação
de uma definição consensual.
não verbal à verbal? Desde os déficits da
linguagem falada à linguagem escrita e Uma definição geral para DA é proposta
quantitativa? Os problemas na aprendiza- por Fonseca (2004) como sendo um con-
gem são fenômenos distintos? As crian- junto heterogêneo de desordens, pertur-
ças ou os jovens e jovens disléxicos são di- bações, transtornos, discapacidades, ou
ferentes das crianças ou dos jovens maus outras expressões de significado similar
leitores? As DA sutis e severas são discu- ou próximo, manifestando dificuldades
tíveis na sua natureza? Que nível de análi- significativas, e ou específicas, no pro-
se queremos dedicar às DA? Basta o nível cesso de aprendizagem verbal, isto é, na
psicológico com os testes de inteligência? aquisição, integração e expressão de uma
A abordagem médica, seja genética ou ou mais das seguintes habilidades simbó-
53

licas: compreensão auditiva, fala, leitura, As DA não verbais (DANV) são efetiva-
escrita e cálculo. mente caracterizadas por um padrão es-
pecífico de dificuldades acadêmicas, ou
Diversos autores: MYKLEBUST (1975);
seja, adequada leitura e escrita, mas reve-
DENCKLA (1991); FOSS (1991); MATIE &
lando problemas de aprendizagem mate-
BOLASKI (1998); ROURKE (2005, 1995a,
mática, e, paralelamente, de dificuldades
1995b, 1994, 1993, 1989, 1988, 1987,
de aprendizagem social consubstanciada
1985, 1975), entre os quais FONSECA
no uso mais eficiente das funções verbais
(2004), incluem no conceito das DA, não
do que das funções não verbais em situ-
só as DA verbais e simbólicas, mas igual-
ações sociais, configurando dificuldades
mente um espectro diversificado de DA
de comportamento adaptativo e psicos-
não verbais ou não simbólicas, envolvendo
social.
combinações de problemas de orientação,
posição e visualização espacial, de aten- Ao contrário, o padrão das DA verbais
ção e concentração, de psicomotricidade, (DAV) sugere, dificuldades acadêmicas
de integração, de imitação, de percepção mais na leitura e na escrita do que na
e de competência social, etc., reforçan- matemática, e dificuldades não verbais
do a explicação filogenética e neurofun- ilustrando mais eficiência no uso da infor-
cional dos dois hemisférios cerebrais em mação não verbal do que da informação
qualquer tipo de aprendizagem humana. verbal em situações sociais.

As DA envolvem deste modo subti- As crianças ou os jovens com DANV


pos relacionados com os dois hemis- abaixo dos 4 anos geralmente acusam li-
férios: geiros déficits no funcionamento psicos-
social, porém mais tarde, por volta do pri-
o esquerdo mais centrado nos subti-
meiro ano de escolaridade, revelam sinais
pos verbais, fonológicos ou psicolinguísti-
de externalização psicopatológica, que
cos (dificuldades de leitura e de escrita);
podem muito bem evocar hiperativida-
o direito nos subtipos não verbais ou de e inatenção. O quadro pode evoluir na
psicossociais. adolescência para sinais de internalização
com traços de isolamento, ansiedade, de-
Não sendo mutuamente exclusivos,
pressão, comportamento atípico e défi-
mas intimamente conectados, os diferen-
cits nas competências sociais (FONSECA,
tes subtipos decorrem de investigações,
2009).
com cerca de 40 anos, que colocam dois
aspectos da definição das DA: a geral e a Emerge desta recente subdivisão das
subtípica. DA um axioma crucial para a sua compre-
ensão, ou seja, a relação intrínseca entre a
A definição geral sugere subtipos for-
aprendizagem e a integridade do cérebro,
mais relacionados com o aproveitamento
ou entre as DA e as disfunções cerebrais,
escolar, e também subtipos informais re-
consubstanciado no seu processo neuro-
lacionados com o comportamento social,
maturacional e neurofuncional dinâmico,
cabendo em cada um deles, respectiva-
quer na criança ou no jovem, quer também
mente, outros subtipos mais específicos.
no jovem DA, a expressão de múltiplas re-
54

lações e interações intra e inter-hemisfé- competência pedagógica e instrucional


ricas que a sustentam. dos professores. Caso contrário, as difi-
culdades de aprendizagem podem refletir
Conforme Rourke (2005 apud FONSE-
dificuldades de ensino ou dispedagogia.
CA, 2009), vários estudos de neuroima-
gem e de eletroencefalografia envolvendo O processo de ensino-aprendizagem
respostas evocadas tem nos demonstra- encerra um paradigma complexo de inte-
do sistematicamente que muitos déficits ração entre três componentes: o profes-
neuropsicológicos detectados num varia- sor, o currículo (conjunto de tarefas) e os
do conjunto de doenças neuropediátricas alunos, que podem em síntese ser equa-
(síndrome de Asperger, hidrocefalia pre- cionados em dois modelos: o isósceles e o
coce, síndrome de Williams, etc.) apontam equilátero.
sinais do fenótipo das DANV, sugerindo,
O modelo isósceles sugere que o pro-
para tais casos, o mesmo modelo de pro-
fessor mantém com o currículo (ou com
gramas de intervenção e enriquecimento
o método de aprendizagem), dito "oficial"
psicoeducacional.
ou tradicional, estreito respeito com a
Em síntese, as DA deverão abranger operacionalidade das suas práticas peda-
no futuro um enquadramento teórico e gógicas, ignorando ou negligenciando o
desenvolvimental mais alargado do que estilo de aprendizagem, as competências
o habitual, enquadramento que as tem li- de processamento de informação e o nível
mitado às questões sociais mais premen- dos pré-requisitos (nível de prontidão) dos
tes como são as aprendizagens escolares. alunos. A tendência deste modelo é gerar
Independentemente de muitas investiga- por falta de coibição entre as suas compo-
ções terem contribuído com muitos dados nentes mais DA e mais insucesso escolar.
e com várias explicações teóricas para o
Em contrapartida, o modelo equilátero
esclarecimento das DA, ainda subsistem
sugere que o professor, além de dominar
muitos abismos para as compreendermos
o currículo, pode estruturá-lo e geri-lo por
na sua complexidade e diversidade, daí a
vários níveis de aprendizagem: lenta, nor-
ineficácia reconhecida, ao longo de mui-
mal ou rápida, e também toma em consi-
tos anos, dos instrumentos de diagnósti-
deração as características do potencial de
co e de intervenção.
aprendizagem, a diversidade e a hetero-
Os axiomas 4 de definição mais dis- geneidade do perfil cognitivo (áreas for-
cutidos devem ter em consideração que tes e fracas) dos seus alunos. A tendência
as DA: deste modelo é promover uma interação
sistêmica e flexível entre os três compo-
1) Ocorrem num contexto educacional
nentes, promovendo assim modificabi-
adequado com condições e oportunida-
lidade e sustentabilidade dos processos
des de ensino suficientes, ditas eficien-
de ensino-aprendizagem envolvidos, mi-
tes, consequentemente não atípicas ou
nimizando, consequentemente, as DA e o
irregulares, isto é, sugerem que a criança
insucesso escolar.
ou o jovem está, ou foi, integrada num sis-
tema de ensino adequado para a maioria,
quer no ajustamento do currículo, quer na 4- Sentença ou proposição que não é provada ou demonstrada,
mas considerada como óbvia e um consenso.
55

Fonte: Fonseca (2009, p. 146)

Neste contexto, o elo mais fraco que são intelectual das DA proposto pela National
os alunos (clientes do sistema), e a razão Joint Commitee on Learning Disabilities -
de ser da instituição escolar, não pode con- NJCLD (LERNER, 2003) só pode ser consi-
tinuar a ser o único componente indicador derado em termos de QI = ou > a 80, isto
na definição. é, quando se situa ligeiramente abaixo de
um desvio-padrão negativo da média (QI =
2) Ilustram um perfil de discrepância en-
85) ou acima da média da inteligência (QI >
tre o potencial de aprendizagem intelectu-
100 - 145) .
al normal e o rendimento ou o desempenho
escolar abaixo do normal. Estamos de acor- Em resumo, as DA em nenhum critério
do que o critério do Quociente Intelectual de diagnóstico confiável podem ser cono-
(QI) seja utilizado, logo valorizamos o papel tadas com deficiência mental; constituem
do exame psicológico. Para evitar confu- em termos de necessidades especiais por
sões com o limite intelectual superior me- essa característica um grupo completa-
dido por testes estandardizados (WISC), mente distinto.
a definição de deficiência mental de fron-
As DA podem ocorrer mesmo em crian-
teira (borderline) equivale a um QI 68-80,
ça, ou jovem e também em jovens sobredo-
segundo a Associação Americana de Defi-
tados, pois há muitos exemplos de figuras
ciência Mental (CORREIA, 1997; CORREIA &
eminentes da cultura, da economia, da arte
MARTINS, 1999; RAPOSO, 1995, 1998).
e da ciência que foram identificados com
Em contrapartida, a definição do nível DA na sua infância e adolescência (Agatha
56

Cristhie, Nelson Rockefeller, Leonardo da a cognição (input-integração/planifica-


Vinci, Rodin, Walt Disney, Tom Cruise, Al- ção-output);
bert Einstein, Edison, Faraday, etc.).
a expressão verbal (elaboração, articu-
A questão do potencial de discrepância lação, etc.);
sugere a colocação de um outro axioma
a psicomotricidade (tonicidade, equili-
das DA, o potencial de integridade neu-
bração, lateralização, somatognosia, praxia
ropsicológica (PINP). Estimado e diagnos-
global e fina), etc.
ticado normalmente por neuropsicólogos,
deverá aqui ser também respeitado, não As áreas mais vulneráveis estão parti-
sendo identificável qualquer deficiên- cularmente relacionadas com o domínio e o
cia ou patologia nas crianças, ou jovens e uso da linguagem escrita (descodificação e
também jovens DA, seja sensorial (visão codificação), podendo integrar problemas
ou audição), mental, neurológica ou mo- de notação alfabética, numérica ou outra.
tora (FONSECA 2009).
As DA podem resultar, portanto, da com-
Apesar do PINP ser invulnerável e in- binação de déficits de processamento, quer
tacto à luz dos diagnósticos mais comuns fonológico, quer visual ou auditivo, com
e familiares, a maioria das crianças ou jo- reflexos na rechamada lenta ou na recu-
vens e também jovens DA acusam uma peração pouco automatizada de dados da
combinação de habilidades e dificuldades informação, daí a razão de alguns déficits
(disfunções, distúrbios, dificuldades, pro- cognitivos que têm sido associados a deter-
blemas, etc.) que afetam o processo de minadas causas de ordem neurológica.
aprendizagem onde necessariamente o
O conjunto destes déficits que podem ter
funcionamento do cérebro (dos dois he-
várias causas, principalmente ocorridas no
misférios e das três unidades funcionais
desenvolvimento neurológico precoce, po-
lurianas) está implicado, como o órgão da
dem produzir dificuldades na aquisição da
aprendizagem por excelência que é, cuja
leitura, da escrita, do ditado, da resolução
transformação neurofuncional é mais
de problemas, etc., que só podem ser ultra-
acelerada e ocorre exatamente durante
passados com métodos de aprendizagem
os anos iniciais da escolaridade.
alternativas. É fundamental compreender
O perfil de aprendizagem (áreas fra- que cada criança, ou jovem ou também jo-
cas) pode ser identificado em áreas vem DA, é um ser aprendente diferente, e,
como: por esse fato, deve ser avaliado e habilitado
como um indivíduo total, único e evolutivo.
a atenção voluntária e a concentração;
Muitas crianças ou jovens e também jo-
a velocidade de processamento simul-
vens com dificuldades na literacidade po-
tâneo ou sequencial da informação visual,
dem revelar competências e talentos in-
auditiva ou táctilo-quinestésica;
teressantes noutras áreas e apresentar
a discriminação, a análise e a síntese aproveitamento escolar adequado; muitos
perspectiva nas várias modalidades; deles chegam mesmo a concluir cursos su-
periores.
a memória de curto termo;
57

Uma das razões das dificuldades na lei- com DA não aprendem normal ou harmonio-
tura e na escrita pode ser encontrada no samente, mas não são portadores de defi-
PINP atrás focado, ou seja, na integridade ciência visual, auditiva, mental, motora ou
e na especialização dos dois hemisférios. socioemocional, nem as DA podem resultar
Ler, por exemplo, exige: a descodificação e ou emergir, num contexto social de privação
consciencialização de fonemas; um rápido afetiva, de miséria, de pobreza, de abando-
processamento sequencial de optemas; um no ou desvantagem socioeconômica ou so-
mapeamento cognitivo compreensivo, etc., cioafetiva.
isto é, processos neurológicos componen-
4) A definição de DA, por último, deve
tes do ato da leitura, que ocorrem e são diri-
conter fatores de inclusão, que efetivamen-
gidos pelo hemisfério esquerdo. A sua lesão
te as caracterizem psicoeducacionalmente
provoca a alexia, ou seja, uma incapacidade
como necessidades ou características in-
de leitura.
vulgares, e que se enfocam essencialmen-
Como inúmeras investigações têm pro- te nos problemas de processamento de in-
vado, para Galaburda (1989, 1985; Galabur- formação que são a essência do processo
da e col. 2005,1979, 1978 apud FONSECA, da aprendizagem, que envolve a interação
2009), as crianças ou os jovens DA, sobre- entre o ser aprendente (ex.: o aluno, o estu-
tudo disléxicas, possuem um hemisfério di- dante, o formando, o sujeito, etc.) e a tarefa
reito mais potente que o esquerdo, por isso (ex.: ler, escrever, contar, etc.).
tendem a apresentar talentos nas compe-
O papel do cérebro na aprendizagem –
tências visuoespaciais, visuoconstrutivas e
processando ou não a informação
visuográficas, nas competências de reso-
lução de problemas, nas competências ho- Independentemente de qualquer proces-
lísticas de pensamento, nas competências so de aprendizagem ser diferente para cada
musicais, etc. As funções analíticas, como criança ou jovem ou também jovem com DA,
as fonológicas e sequenciais da leitura, ao dado o seu perfil de característica ser único
contrário das globais, são-lhes mais difíceis e individual como falamos atrás, a aprendi-
de dominar. zagem envolve sempre uma interação entre
o sujeito e a tarefa, ou seja, quando alguém
Muitos dos disléxicos chegam a ser consi-
aprende qualquer coisa, como ler ou escre-
derados pensadores espaciais, cujos talen-
ver, está sempre em jogo um processo de
tos no âmbito da criatividade, da computa-
informação entre o sujeito aprendente (o
ção e da arte fazem parte já da história das
aluno) e a tarefa, neste exemplo, a leitura ou
DA.
a escrita.
3) A definição de DA deve conter fato-
A aprendizagem é, portanto, uma mudan-
res de exclusão, não devendo relacionar-se
ça de comportamento provocada por uma
com qualquer tipo de deficiência como vi-
experiência: há um momento inicial quando
mos atrás, implicando consequentemente
a tarefa não é dominada e um momento final
a integridade bio-psico-social do indivíduo
quando essa tarefa passa a ser dominada e
(sensorial, socioemocional, mental, motora,
temos também nessa equação: o sujeito ou
cultural, etc.).
aluno que aprende e a tarefa, os recursos
A criança ou o jovem e também o jovem usados para aprender.
58

Fonte: Fonseca (2009, p. 152)

No ser aprendente, a aprendizagem en- preensão, o nexo e a sequência de eventos


volve inevitavelmente o cérebro, o órgão da da informação escrita. A criança ou o jovem
aprendizagem (e da civilização), que tem de para ler terá de envolver o seu cérebro em
processar informação para que ela se veri- funções psíquicas superiores, como: a aten-
fique. Quando se aprende, o cérebro neces- ção e a concentração; a discriminação, a aná-
sita de processar o material a ser aprendido, lise e síntese de letras e sons; a compreen-
independentemente de cada sujeito o reali- são do sentido do texto; a rememorização
zar de forma diferente, de acordo com a pre- das suas conexões e relações narrativas; a
ferência do seu estilo de aprendizagem. recordação dos atores, das personagens e
dos locais referidos; a rechamada dos por-
A leitura, por exemplo, implica processar
menores e detalhes do texto; o desenvolvi-
letras que têm categorizações fonológi-
mento de conclusões; etc.
cas específicas para serem descodificadas
e compreendidas. De um processo de cap- A criança ou o jovem que tem proble-
tação visual, o cérebro tem em seguida de mas de atenção, de percepção analítica, de
categorizar formas de letras com sons, por memorização e rechamada de dados de in-
meio de processos auditivos complexos a fim formação, para além de outros, terá dificul-
de inferir significações cognitivas contidas dades de reconto e de compreensão de sig-
em palavras que compõem um texto. nificações na leitura.

A informação uma vez integrada, depois Ela não tem acesso à informação porque
de devidamente descodificada, terá de ser o seu processamento é frágil e fragmenta-
retirada e armazenada, a fim de gerar a com- do, porque o seu cérebro não opera de for-
59

ma harmoniosa, eficaz e integrada, pois a Aprender, portanto, envolve três unida-


interação entre ela e a tarefa não se verifica; des funcionais do cérebro em perfeita inte-
consequentemente poderão emergir disle- ração e se essa dinâmica neurofuncional não
xias, disortografias ou discalculias, ou seja, for harmoniosa, o indivíduo pode então ex-
as célebres DA. perimentar DA.

O cérebro não causa lesões, está intacto,


mas as DA emanam por vulnerabilidade sistê-
mica dos seus processos de informação. A le-
são cerebral grave, por exemplo, pode impli-
car diversas incapacidades de aprendizagem
(afasias, agnosias, apraxias, alexias, agra-
fias, acalculias, etc.); em contrapartida, as
lesões cerebrais mínimas, que estiverem na
fase de fundação do estudo das DA, podem
implicar não incapacidades, mas dificulda-
des de aprendizagem (disfasias, disgnosias,
dispraxias, dislexias, disgrafias, discalculias, Desse modo, as crianças ou os jovens
etc.), embora nem sempre sejam detectadas disléxicos, por exemplo, podem:
com os processos de diagnóstico neurológi-
experimentar dificuldades ao nível do
co mais avançados, como por exemplo: a ele-
input, quer com problemas de atenção sus-
troencefalografia, a ressonância magnética,
tentada, quer de discriminação de fonemas;
a emissão de pósitrons, etc., técnicas estas
ou
que ajudaram imensamente a compreender
a natureza neurofuncional das DA (GALA- experimentar dificuldades ao nível da
BURDA, 2005 apud FONSECA, 2009). cognição, quando envolve processos de
compreensão ou de retenção e rechamada
A aprendizagem compreende assim,
de dados de informação contidos no texto,
um processo funcional dinâmico que
o que requer estratégias de recuperação e
integra quatro componentes cognitivos
criação de esquemas, planos internos ou en-
essenciais:
quadramentos ideacionais; e concomitante-
1. input (auditivo, visual, táctilo-quinesté- mente,
sico, etc.);
experimentar igualmente dificuldades
2. cognição (atenção, memória, integra- ao nível do output, quando lhes é solicitada
ção, processamento simultâneo e sequen- a produção de um resumo escrito ou falado
cial, compreensão, planificação, autorregu- do mesmo.
lação, etc.);
A não ocorrência desta arquitetura cog-
3. output (falar, discutir, desenhar, obser- nitiva sistêmica que obviamente preside à
var, ler, escrever, contar, resolver problemas, aprendizagem pode gerar nas crianças ou jo-
etc.); vens e também nos jovens DA muita confu-
são e frustração, razão pela qual elas estão
4. retroalimentação (repetir, organizar,
na origem de muitos problemas motivacio-
controlar, regular, realizar, etc.).
60

nais e emocionais, muitas vezes acrescidos


por falta de sensibilidade do envolvimento
educacional e clínico (FONSECA, 2009).

A apresentação da informação, às crian-


ças ou jovens e também aos jovens com DA,
assume assim um papel muito relevante, po-
dendo não só minimizar a confusão no seu
processo de informação, como promover
as suas funções cognitivas e implicar uma
aprendizagem com sucesso.

Enfim, aprender é, inequivocamente, a ta-


refa mais relevante da escola. Muitas crian-
ças ou jovens aprendem sem dificuldades,
porém outras, apesar do seu potencial de
aprendizagem normal, não aprendem por
meio de uma instrução convencional.

A diversidade das DA é imensa conforme


veremos na próxima unidade. Provavelmen-
te, no âmbito da educação inclusiva, a sua
população é a que acusa maior amplitude de
recursos e serviços.

Ter consciência dos problemas das crian-


ças ou jovens e também dos jovens com DA
passa por respeitar os dados de investiga-
ção, na medida em que tais dados têm im-
plicações para a sua identificação precoce
e diagnóstico psicoeducacional (FONSECA,
2009).
61
UNIDADE 12 - Os Distúrbios da
Aprendizagem
Dentre as várias classificações para zagem e por uma questão didática opta-
agrupamentos dos distúrbios da aprendi- mos pelo seguinte:

Grupo Característica Tipos


TDAH – transtorno do déficit
de atenção com hiperativida-
Grupo 1 de
Distúrbios da Retrata os comportamentos das DDA – desordem de déficit de
concentração e crianças com e sem hiperatividade atenção
atenção e impulsividade Limitrofia
TOC - Transtorno Obsessivo
Compulsivo
ST – Síndrome de Tourette
Grupo 2 Diz respeito à competência lin-
Problemas recep- guística, como as atividades de
Disgrafia / disortografias
tivos e de proces- escrita, distinção de sons e de
Disfasia / afasia
samento da infor- estímulos visuais, aquisição de
Dislalia
mação léxico, compreensão e expressão
verbal.
Manifestada pela aquisição das
competências básicas relaciona-
Grupo 3
das a fase de decodificação, como
Dificuldades de
sendo a compreensão e interpre- Dislexia
leitura
tação de textos, as dificuldades
de escrita e presença de erros
ortográficos em geral.
Dificuldades que se revelam na
aquisição da noção de números,
no lidar com quantidades e rela-
Grupo 4 ções espaços-temporais e proble-
Discalculia
Dificuldades na mas de aquisição e utilização de
Acalculia
matemática ou no estratégias para aprender, mani-
raciocínio festados na falta de organização
e utilização de funções metacog-
nitivas, comprometendo o suces-
so na aprendizagem.
62

DISLEXIA de discriminação visual, coordenação vi-


somotora, noção têmporo-espacial. As
Desordem do aprendizado que afeta a
causas subjacentes revelam-se com in-
leitura, a ortografia e a linguagem escrita,
terferência no desenvolvimento percep-
podendo ser acompanhada de problemas
to-motor.
com os números, uma memória de curto
prazo pobre e falta de aptidão. A seguir iremos expor as definições de
dislexia de acordo com a Neuropsicologia
Embora a dislexia afete principalmente
e Psicopedagogia.
o domínio dos símbolos gráficos, como le-
tras, números e notas musicais, ela tam- Uma definição neuropsicológica da dis-
bém pode trazer dificuldades para a lin- lexia é de que se encontram alterados os
guagem falada. processamentos periférico e central. As
Dislexias Periféricas são causadas por um
De acordo com a Associação Brasilei-
comprometimento no sistema de análise
ra de Dislexia (2011), ao contrário do que
visuo-perceptiva, enquanto que as cen-
muitos pensam, a dislexia não é o resul-
trais são causadas por comprometimento
tado de má alfabetização, desatenção,
do processamento linguístico dos estímu-
desmotivação, condição socioeconômica
los.
ou baixa inteligência. Ela é uma condição
hereditária com alterações genéticas, Dentro das Dislexias Centrais, en-
apresentando ainda alterações no padrão contram-se subdivisões que são:
neurológico.
Dislexia de Superfície – Caracteriza-
Por esses múltiplos fatores é que a -se basicamente pela falha de leitura de
dislexia deve ser diagnosticada por uma palavras irregulares, em um comprometi-
equipe multidisciplinar. Esse tipo de ava- mento da via lexical. Segundo estudos de
liação dá condições de um acompanha- casos únicos e múltiplos e usando-se PET
mento mais efetivo das dificuldades após (Tomografia por Emissão de Pósitrons)
o diagnóstico, direcionando-o às particu- em indivíduos normais convergem para o
laridades de cada indivíduo, levando a re- acordo sobre o papel de estruturas loca-
sultados mais concretos. lizadas nas regiões temporal média e pós-
tero superior do hemisfério esquerdo na
Segundo Tomaso, Thomas e Stanley
leitura pela via lexical.
(2007 apud CHAMAT, 2008), ela é uma pa-
tologia de cunho neurológico, não resul- Dislexia Fonológica – Caracteriza-
tando de audição ou visão pobres ou de -se pela incapacidade para leitura de "não
baixa inteligência. palavras" e habilidade para leitura de pa-
lavras reais, sugerindo danos ou lesões na
Segundo os mesmos autores, uma em
via de conversão de grafema para fone-
cada 20 crianças é disléxica (três vezes
ma. Os estudos realizados na intenção de
mais meninos que meninas) e, se um dos
correlacionar esta dislexia com substratos
pais foi disléxico, a criança terá 17 vezes
neuroanatômicos ainda não são conclusi-
mais probabilidade de sofrer da doença.
vos.
As causas aparentes são os déficits
Dislexia Profunda – Assemelha-se
63

à dislexia fonológica, com igual bloqueio tipos básicos de dislexia são:


para leitura de não palavras, mas a dife-
rença é que, nesta dislexia, há presença 1. Dislexia Congênita ou Inata – É a
de paralexias semânticas e maior facili- dislexia que nasce com o indivíduo. Pode
dade em leitura de palavras concretas e ter as mais variadas causas e tem carac-
frequentes. Alguns pesquisadores creem terísticas próprias, como, por exemplo,
que, nesta dislexia, existam lesões múlti- uma comprovada alteração hemisférica
plas no hemisfério esquerdo. Outros cre- cerebral, onde os hemisférios encontram-
em na possibilidade de habilidades residu- -se invertidos ou em igualdade ou até por
ais do hemisfério direito no contexto de uma alteração de alguns cromossomos.
extensa lesão no hemisfério dominante. Em consequência desta(s) alteração(ões),
o indivíduo disléxico tem pouca ou nenhu-
Nas Dislexias Periféricas, encontra- ma habilidade para a aquisição de leitura e
mos também três subdivisões: de escrita e, geralmente, não chega a ser
alfabetizado, mas, quando o é, não con-
Dislexia Atencional – O indivíduo lê
segue ler e escrever por muito tempo e,
palavras isoladas, mas encontra dificulda-
quando termina de ler e escrever, já não se
de ou barreiras para ler várias palavras si-
lembra de nada. Exceto pela alteração he-
multaneamente. Esse tipo de dislexia foi
misférica, este tipo de dislexia é, de cer-
encontrado em pacientes com lesões no
ta forma, irreversível, mas pode ser bem
lobo parietal esquerdo.
controlada e bem direcionada se for tra-
Dislexia por Negligência – É atribu- tada por uma junta de profissionais, o que
ída à lesão na região da artéria cerebral chamamos de tratamento Multidisciplinar,
média do hemisfério direito (lobos fron- envolvendo sempre psicopedagogo, neu-
tal, parietal e temporal) e caracteriza-se rologista e/ou psiquiatra, dependendo da
por ausência ou dificuldade de leitura no gravidade do caso. Em casos onde haja
campo visual contralateral à lesão cere- também distúrbios de fala ou audição, ne-
bral. cessita-se de um Fonoaudiólogo ou de um
otorrino, caso tenha dificuldades motoras
Dislexia Literal ou Pura – O indiví-
e/ou de lateralidade, de um psicomotricis-
duo consegue ler letras individuais, mas
ta e, neste caso, também é aconselhável
apresenta dificuldade em ler palavras (su-
que um psicólogo acompanhe o tratamen-
bentendido). Esta dislexia está relaciona-
to e desenvolva atendimento paralelo.
da a lesões occipitais inferiores extensas
à esquerda. 2. Dislexia Adquirida – É a dislexia que
vem por meio de um acidente qualquer.
Em resumo, pela visão da Neuropsico-
Como exemplo, temos "Anoxia5 Perinatal",
logia, todas as dislexias, assim como ou-
"Anoxia" por afogamento. Acidente Vascu-
tros distúrbios de aprendizagem, partem
lar Cerebral (o popular derrame) e outros
de uma lesão, sendo cada tipo em um pon-
acidentes e distúrbios que podem causar
to do cérebro e, a partir daí, o tratamento
uma Dislexia Adquirida. No caso da anoxia
deverá ser voltado ao controle desta le-
perinatal, a criança poderá apresentar di-
são (OLIVIER, 2008).

Dentro da Psicopedagogia, os três 5- Anoxia é a diminuição ou ausência de oxigenação no cérebro.


64

ficuldades significativas no aprendizado 3. Dislexia Ocasional – É a dislexia


em vários níveis e, consequentemente, causada por fatores externos e que apa-
apresentar dislexia ao ser alfabetizada. rece ocasionalmente. Pode ser causada
Provavelmente necessitará de tratamen- por esgotamento do Sistema Nervoso/es-
to multidisciplinar, que deverá iniciar-se tresse, excesso de atividades e, em alguns
por um psicopedagogo, o qual avaliará o casos, considerados raros, por Tensão Pré
caso e indicará outros profissionais para o Menstrual (TPM) e/ou hipertensão. Se
sucesso do tratamento. Em casos de ano- este tipo de dislexia for diagnosticado,
xia por afogamento, AVC e outros aciden- não haverá a necessidade de tratamento.
tes que possam deixar sequelas, o indiví- Apenas repouso, talvez umas boas férias,
duo que antes lia e escrevia normalmente uma mudança de horários e/ou da rotina e
passa a apresentar dislexia, geralmente tudo voltará ao normal.
com falhas de memória e muita dificulda-
Olivier (2008) fala da existência de um
de em ler e escrever.
quarto tipo com características disléxicas.
O tratamento deverá ser decidido após É quando o indivíduo tem algumas carac-
analisar-se todo o histórico do paciente e terísticas consideradas próprias da dis-
do acidente que lhe deixou esta sequela. lexia, mas que, isoladas, nada significam
Pode acontecer também de o paciente ou podem ser causadas por outros distúr-
acidentado passar por períodos e fases de bios, às vezes, bem mais simples de curar.
dislexia. Nestes períodos, ele não conse- É nestes casos que alguns profissionais
gue ler e escrever ou o faz com muita di- despreparados acabam confundindo-se
ficuldade, tem falhas de memória e pode ou, até mesmo de propósito, acabam diag-
também apresentar problemas de latera- nosticando como dislexia um distúrbio
lidade. Dependendo do grau de dificulda- que provavelmente se cure até sozinho.
de que o indivíduo apresente, é também
Dentro destes tipos, existem variações
necessário um tratamento multidiscipli-
que parecem tornar cada caso em um caso
nar, mas, neste caso, é bem provável que
e cada disléxico em único. Portanto, não
somente o psicopedagogo e o neurologis-
dá mais para admitir generalizações.
ta e/ou psiquiatra sejam solicitados.
E finalizando esta explanação, Olivier
Caso o acidente tenha afetado também
(2008) chama atenção que é preciso pa-
a lateralidade, um psicomotricista ou um
rar, definitivamente, de imaginar que a
fisioterapeuta será necessário. Se a fala
dislexia faça trocar letras (p/b, t/d, etc.).
ou a audição estiver comprometida, ne-
cessita-se também de um fonoaudiólo- Segundo ele, crianças com perdas au-
go ou de um otorrino e assim por diante. ditivas leves ou moderadas também cos-
Neste caso, se o indivíduo já tinha uma tumam trocar e confundir fonemas, es-
profissão, deverá apenas adaptar-se para pecialmente, "t" por "d", "f" por "v", "p" por
enfrentar os períodos em que estiver dis- "b", "q" por "g", quando falam e até quando
léxico e seguir seu tratamento, podendo escrevem, principalmente na fase de alfa-
obter cura ou boa melhora, já que sua dis- betização. Isso acaba sendo confundido
lexia não envolve alterações hemisféricas com dislexia, quando, na verdade, é ape-
nem dos cromossomos. nas uma falha auditiva.
65

Além desses distúrbios, há outros que teral, tendo a parte posterior inibida.
também têm sintomas parecidos com os
Diante desses resultados, constata-
da dislexia e isso acaba confundindo pais,
ram-se evidências neurobiológicas de que
professores e até profissionais mal in-
existe uma interrupção subjacente nos
formados. É preciso tomar muito cuidado
sistemas neuronais associados à leitura
antes de diagnosticar uma dislexia, que é
em crianças com dislexia. Os dados indi-
bem mais complexa do que a maioria dos
caram que isso já é evidente desde muito
distúrbios relatados.
cedo, concluíram os autores, em artigo
O que acontece com o disléxico é que, publicado na revista Biological Psychiatry.
na maioria dos casos, ele não identifica
DISGRAFIA
sinais gráficos, letra ou qualquer código
que caracterize um texto. Portanto, ele Desordem de integração visual-moto-
não troca letras, porque seu cérebro se- ra, ou seja, não há coordenação entre os
quer identifica o que seja uma letra. dois. É a dificuldade ou a ausência na aqui-
sição da escrita.
Se inverter letras e sílabas, é simples-
mente porque nem sabe o que são letras O indivíduo fala, lê, mas não consegue
e sílabas e não porque "troca letras", como transmitir informações visuais ao sistema
se insiste em divulgar. Existem muitos motor. Resumindo: lê, mas não escreve,
distúrbios que fazem realmente a pessoa além de, possivelmente, ter graves pro-
trocar letras, um deles é a dislalia que ve- blemas motores e de equilíbrio (OLIVIER,
remos mais adiante e outros que, em mo- 2008).
mento oportuno serão citados. Enfim, a
dislexia não causa a troca de letras. É algo Características do sujeito com dis-
muito mais complexo que isso. grafia:

Ainda sobre essa visão, deve-se lem- O indivíduo não possui dificuldades
brar que a equipe de G. Reid Lyon, do Ins- visuais nem motoras, mas não consegue
tituto Nacional de Saúde Infantil Desen- transmitir as informações visuais ao sis-
volvimento Humano dos Estados Unidos, tema motor. Deficiência de "transmissão".
em Bethesda (Maryland), avaliou exames Fala e lê, mas não encontra padrões
de imagens do cérebro em funcionamen- motores para a escrita de letras, números
to de 144 pessoas, sendo 70 disléxicas e e palavras.
74 não disléxicas, todas com idade entre
sete a 18 anos. Não possui senso de direção, falta-
-lhe equilíbrio.
Enquanto realizavam várias tarefas de
leitura e de compreensão de sons, eles fo- Pode soletrar oralmente, mas não
ram submetidos a um exame cerebral cha- consegue expressar ideias, por meio de
mado ressonância magnética funcional. símbolos visuais, pois não consegue es-
Foi observado que as pessoas com leitura crever.
normal, ou seja, sem dislexia, ativaram a Acima de tudo, necessita de avaliação
parte posterior do cérebro, enquanto as multidisciplinar e acompanhamento psi-
disléxicas ativaram as regiões frontal e la- copedagógico.
66

Usar microespaços e macroespaços necessita de exames e de testes especí-


para a aprendizagem (entenda-se macro ficos para detectar a causa e os melhores
= espaço físico qualquer e micro = sulfite, tratamentos. Vale lembrar que, antes de
caderno etc.). qualquer teste e exame, é preciso analisar
a classe social e a forma como o indivíduo
O Balé desenvolve o equilíbrio e aju-
foi ou está sendo educado e alfabetiza-
da o desenvolvimento da letra cursiva
do. Em uma casa onde todos pronunciam
(letra pequena, traçada de modo rápido e
e escrevem incorretamente as palavras, é
corrente).
muito difícil a criança aprender de forma
Na maioria dos casos, está ligado a dis- correta na escola.
túrbios neurológicos. E necessita de tra-
Se não for esse o problema, então, de-
tamento e de acompanhamento neuroló-
ve-se pensar em falhas no sistema de en-
gico e psicopedagógico, em conjunto.
sino ou, finalmente, em distúrbio.
DISORTOGRAFIA
O planejamento do tratamento envolve
Dificuldade na expressão da linguagem trabalho focal e divisão da sessão, sendo
escrita, revelada por fraseologia incor- que na primeira parte deve-se oferecer
retamente construída e/ou por palavras atividades mais criativas, mais livres, po-
escritas de forma errada, associada geral- rém dirigidas.
mente a atrasos na compreensão e/ou na
DESORDEM DE DÉFICIT DE ATENÇÃO
expressão da linguagem escrita (OLIVIER,
(DDA)
2008).
Para Olivier (2008), geralmente não
Tem sido definida erroneamente como
tem ligação com disfunções neurológicas
letra feia ou letra de médico. Na verdade,
e não deve ser confundida com Transtor-
trata-se de algo mais complexo do que
no do Déficit de Atenção e Hiperatividade,
apenas letra feia.
este deve ser tratado pela psiquiatria. A
Para Chamat (2008), a disortografia DDA caracteriza-se por baixo desempe-
caracteriza-se pelos seguintes sintomas: nho escolar, deficiência ou ausência de
trocas, inversões, omissões. É diferente memória ou ainda, tendo um aprendizado
de erros na escrita que correspondem ou satisfatório, o indivíduo pode ser disper-
não ao som da palavra, podendo ter cau- so, desatento, meio alienado ou alternan-
sa endógena, exógena ou as duas ocasio- do hiperatividade com alienação.
nadas por alteração emocional afetiva e
Em contrapartida, Chamat (2008) diz
cognitiva.
que geralmente são neurológicas e a
O balé clássico, além de desenvolver o criança apresenta dificuldades na aten-
equilíbrio e ser útil no tratamento de di- ção e concentração, culminando em de-
versos distúrbios, desenvolve também a sinteresse e indisciplina em tarefas que
letra cursiva, o que pode ser útil para so- requeiram responsabilidade. Quando não
lucionar a letra feia, quando não é fruto de neurológica, sendo consequência da de-
nenhum distúrbio. sorganização psíquica, necessita da in-
tervenção dos pais quanto aos limites e à
A disortografia, por ser mais complexa,
67

vinculação da realidade. tas duas características;

O transtorno difere-se porque o indiví- 9 - Durante os primeiros anos escola-


duo está hiperativo 24 horas por dia. res, não consegue permanecer ocupado
com sua tarefa por, ao menos, uma hora;
Detecta-se também pelo sujeito ser
disperso, alheio e/ou desmotivado, sem 10 - Pode passar horas diante de uma
envolvimento com o conteúdo escolar. tarefa sem conseguir completá-Ia;
Mesmo no brinquedo não há concentra-
11 - Distrai-se com qualquer aconteci-
ção. Sua atenção volta-se a todo instante
mento alheio às suas atividades.
para outros estímulos (CHAMAT, 2008).
Se a criança ou o adolescente apresen-
Principais sintomas
ta, no mínimo, oito destes sintomas, então
Os sintomas relatados não são có- tem fortes características da DDA e preci-
pia fiel do DSM (Diagnostic and Sta- sa ser encaminhada a um psicopedagogo
tistical Manual), São adaptados à e, em casos mais sérios, também a um
realidade dos casos atendidos, res- psicólogo e/ou a um neurologista. O trata-
peitando-se a diferença entre DDA e mento, entre outras atividades, inclui jo-
TDAH: gos de memória, xadrez, ditados aliados a
objetos, nunca só auditivos. O tratamento
1 - Parece não ouvir ou não entender o
clínico é multidisciplinar e, dependendo
que ouve;
do caso, poderá ser medicamentoso.
2 - Não consegue terminar uma tarefa,
Origem do problema
inicia uma atividade e logo passa para ou-
tra, sem terminar nada do que começa; Baseando em pesquisas teóricas e prá-
ticas, a DDA pode ser causada por anoxia
3 - Tem dificuldade em seguir regras,
perinatal e por outros fatores que acabam
esperar sua vez no grupo. Não lê nem
provocando uma grande descarga elétrica
ouve uma pergunta antes de respondê-Ia;
no cérebro.
4 - Não consegue brincar sozinho e, em
Antigamente, supunha-se que pudesse
grupo, pode tornar-se agressivo;
ser amenizada na adolescência, em virtu-
5 - Perde ou esconde materiais e ins- de das mudanças físicas próprias da idade,
trumentos importantes para realização mas hoje já se fala de forma mais realista,
das tarefas; classificando-se não só a DDA, mas outros
distúrbios com aproximadamente um ter-
6 - Não mantém amizades por muito ço dos portadores com possibilidade de
tempo ou não chega a iniciá-Ias;
cura na adolescência, mais um terço apre-
7 - Tem dificuldade em aceitar a perda sentando os mesmos sintomas e o terço
(em jogos, brincadeiras etc.) e não conse- restante com pioras, à medida que vão
gue pensar em longo prazo; tornando-se adultos (CHAMAT, 2008).

8 - Fala excessivamente, se for hipera- Daí a necessidade de um bom trata-


tivo, ou mostra-se retraído e isolado, caso mento a fim de que se evitem transtornos
seja extremamente tímido, ou alterna es- futuros para estes dois terços dos pacien-
68

tes que têm sintomas mais difíceis de re- aptidões;


mover. E, mesmo os que têm condições de
8. Incentivar sua autoestima, elogiá-
melhorar o quadro após a adolescência,
-Io quando houver progresso, por mínimo
precisarão de um bom acompanhamento
que seja.
terapêutico para evitar sequelas psicoló-
gicas que complicarão seu quadro. LIMITROFIA
Este relato serve também para outros Anomalia do sistema nervoso causa-
distúrbios, já que cada paciente reage de da por anoxia perinatal ou síndromes não
uma forma ao tratamento e à medicação, identificadas.
é preciso entender que nem todos rea-
Caracteriza-se por dificuldades de con-
gem de forma satisfatória, curando-se,
centração, falta de equilíbrio e/ou coor-
independentemente do tratamento esco-
denação motora, problemas de articula-
lhido.
ção para fala e dificuldades na aquisição
O Psicopedagogo pode sugerir an- de leitura.
tes de iniciar um tratamento, que o
Há também uma certa alienação e, por
professor ou os pais ajudem da se-
vezes, o indivíduo parece se bastar a si
guinte forma:
mesmo, não se relaciona com colegas,
1. Acompanhar as tarefas do aluno, brinca sozinho e tem dificuldade em ex-
ajudando-o a identificar e resolver suas pressar-se.
dificuldades;
É importante frisar que a Psicopeda-
2. Fazer a criança entender e aceitar gogia parece ignorar totalmente este dis-
sua condição de aprendiz, sua necessida- túrbio, deixando-o sob responsabilidade
de de aprender e porque tem de aprender, da Neurologia e/ou Psiquiatria, quando o
sentindo-se motivada; correto seria unir os conhecimentos des-
tas às outras áreas para melhor tratar es-
3. Escola e pais devem trabalhar em
tes pacientes (OLIVIER, 2008).
conjunto para orientar o aluno, observan-
do que não deve haver contradição entre DISLALIA
ambos;
Má pronúncia das palavras, omitindo
4. Deve haver, em casos mais seve- ou acrescentando fonemas, trocando um
ros, além do tratamento multidisciplinar, fonema por outro ou distorcendo-os, ou
o medicamentoso; ainda trocando sílabas. Assim sendo, os
sintomas da dislalia consiste em omissão,
5. Treinar o aluno para dedicar-se a
substituição, acréscimo ou deformação
atividades cada vez mais longas (xadrez,
dos fonemas. Exemplo prático é o Ceboli-
jogos da memória, por exemplo);
nha, do escritor Maurício de Souza, que é
6. Estabelecer horários claros para o uma típica criança com dislalia, trocando o
aluno dormir, comer, estudar, brincar, etc; som da letra R pelo da letra L.

7. Estimular o aluno a participar de As causas podem ser desde malforma-


esportes e de artes, de acordo com suas ções ou de alterações na boca, na língua
69

e no palato (malformações congênitas ou Variações no tamanho e na morfologia


como consequência de traumatismos dos do cérebro, inibição ou excitação podem
órgãos fonadores). Por outro lado, certas estar presentes desde a tenra idade com
dislalias são causadas por enfermidades anormalidades no circuito fronto estria-
do sistema nervoso central ou pode não do/cerebelo, principalmente no hemisfé-
haver nenhuma alteração orgânica, a que rio direito, considerado responsável pela
chamamos de Dislalia Funcional. maioria dos distúrbios de coordenação
motora e por um programa subnormal
Pode ser causada por hereditariedade,
sensório-motor (a dopamina parece ser
imitação ou alterações emocionais. Até os
a principal alteração neuroquímica subli-
quatro anos, os erros na linguagem são
nhando essas alterações morfológicas),
considerados normais. Depois dessa fase,
além de outras causas possíveis, mas não
se a criança continuar falando errado, pre-
muito divulgadas.
cisará passar por exames específicos para
detectar as causas e os possíveis trata- Estudos demonstram diminuição no
mentos. metabolismo na região frontal/orbital.
Este distúrbio, além dos sintomas descri-
A dislalia, troca de fonemas (sons das
tos na DDA, é caracterizado por uma hipe-
letras), pode afetar também a escrita.
ratividade exagerada, tornando a criança
O psicopedagogo, ao detectar a dislalia,
irritada, impaciente para brincar, inclusive
deve encaminhar a criança para um fono-
quebrando constantemente seus brin-
audiólogo para tratamento específico e,
quedos, muito chorona e com sono irregu-
caso apresente também falhas de escrita
lar.
e de leitura, tratá-lo em conjunto (fono-
audiólogo e psicopedagogo) e com outros Ao ser detectado, este distúrbio deve
profissionais que, acaso, se façam neces- ser analisado por um psiquiatra. Mas, an-
sários. tes de procurar o psiquiatra, o ideal é que
a criança seja encaminhada a um psico-
TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATEN-
pedagogo para avaliar se ela apresenta
ÇÃO COM HIPERATIVIDADE – TDAH
apenas uma hiperatividade natural para
Pode também ser definido como DAAH sua idade, ou a DDA, que pode ser tratada
(Déficit de Atenção e Aprendizagem com pelo próprio psicopedagogo. Se o caso for
Hiperatividade). Apresenta basicamente mais grave (TDAH), necessitará de avalia-
os mesmos sintomas da DDA, mas é cau- ção psiquiátrica.
sado provavelmente por alterações no
Neste ponto, Olivier (2008) alerta que
desenvolvimento neuroemocional. Acre-
deve-se ter extremo cuidado com a linha
dita-se que possa ser genético/ heredi-
tênue entre um e outro distúrbio, pois
tário e/ou seja por alterações nos neu-
realmente confundem até os mais expe-
rotransmissores, afetando a atenção e a
rientes profissionais. Ultimamente andam
coordenação motora.
confundindo estes sintomas até com a hi-
Pode também ser definido como trans- perlexia que nada tem a ver com TDAH e,
torno multifatorial associado a fatores muito menos, com DDA.
ambientais e genéticos.
Portanto, antes de diagnosticar um
70

distúrbio, é necessário avaliar muito bem atitudes e palavras, desesperado para fa-
todos os sintomas, realizar exames e, em zer tudo já;
caso de dúvida, consultar colegas na área
6 - Envolve-se em situações perigosas
e/ou professores (caso o profissional seja
sem avaliar riscos e consequências.
recém-formado), enfim, ouvir outras opi-
niões antes de fechar o diagnóstico. O paciente desatento pode ser de-
tectado analisando-se as seguintes
Ainda sobre o transtorno, deve-se ana-
reações e características:
lisar também que, apesar de a maioria dos
indivíduos apresentar um conjunto de 1 - Parece sempre, ou quase sempre,
sintomas e características de desatenção, ausente;
hiperatividade, impulsividade, existem al-
gumas predominâncias e variações que os
2 - Demora muito a encontrar uma res-
posta ou não chega a responder a uma
classificam em subtipos:
pergunta;
Combinado – quando os sintomas
igualam-se em desatenção, hiperativida-
3 - Parece não entender bem uma ques-
tão e não faz nenhuma questão de esfor-
de e impulsividade.
çar-se para entendê-Ia;
Desatento – quando os sintomas
pendem para a desatenção, variando des-
4 - Pode dividir-se em duas tarefas
que exigem atenção, por exemplo, es-
de simples desatenção até grande aliena-
crever enquanto escuta alguém falar-lhe
ção.
e pode até justificar-se dizendo prestar
Hiperativo-lmpulsivo – quando os mais atenção desta forma, mas, na reali-
sintomas aliam-se à hiperatividade-im- dade, não desenvolve satisfatoriamen-
pulsividade. te nenhuma das atividades, ou seja, nem
escreve coerentemente nem responde às
Além dos sintomas já relatados em
questões que lhe fazem durante a con-
DDA, pode-se detectar a hiperatividade-
versa.
-impulsividade, característica do trans-
torno, analisando-se o seguinte no com- O paciente combinado mostrará carac-
portamento (constante) do paciente: terísticas dos dois quadros relatados aci-
ma, além dos sintomas já citados anterior-
1 - Costuma dar respostas precipitadas
mente.
antes de as perguntas terem sido comple-
tadas, correndo o risco de falar uma gran- ATENÇÃO: O TDAH também pode estar
de bobagem; associado ao Transtorno Obsessivo Com-
pulsivo (TOC) ou à Síndrome de Tourette
2 - Tem dificuldade para aguardar sua
(ST). Por isso deve-se cuidar muito do seu
vez;
diagnóstico, para não prejudicar o pacien-
3 - Interrompe ou se mete em assuntos te (OLIVIER, 2008).
(conversas, brincadeiras etc.) de colegas;
DISCALCULIA
4 - Toma decisões sem raciocinar;
Está aí mais um dos distúrbios que po-
5 - Frequentemente precipita-se em dem ser causados por anoxia perinatal ou
71

por outros acidentes, que acabam afetan- numerá-Ias aqui. Essas causas devem
do o funcionamento normal do cérebro. ser tratadas por um psicopedagogo, ge-
Alguns profissionais desinformados ne- ralmente em parceria com um psicólogo,
gam-se a aceitar que a discalculia atinja após analisar todo o histórico de vida e es-
crianças em idade escolar, alegam que só colaridade da criança. As dificuldades cau-
é possível "adquirir" por meio de um Aci- sadas pela deficiência do ensino também
dente Vascular Cerebral (popular derra- são muitas e sua solução depende de uma
me) ou traumatismo crânio-encefálico. nova visão da matemática.

Essa afirmação é segundo Chamat e Vários estudos apontam que é ne-


Olivier (2008), no mínimo, incompleta. Na cessário conhecer melhor a matemática
verdade, qualquer acontecimento anor- inerente às atividades da vida diária das
mal que desencadeie uma descarga elé- crianças e construir, a partir dessa mate-
trica no cérebro pode causar um distúrbio, mática real, pontes e/ou ligações efetivas
seja ou não de aprendizagem. Outros es- para a matemática abstrata que a escola
pecialistas chegam a incluir os sintomas pretende ensinar. Isso quer dizer que uma
da discalculia na "lista" de sintomas carac- criança, cujo pai é vendedor ambulante ou
terísticos da dislexia, o que é, de fato, um feirante, por exemplo, um vendedor de
imenso equívoco. pastéis, geralmente sabe fazer contas,
somar, multiplicar, dar trocos, "ajudando o
Primeiramente, é preciso distinguir a
pai".
discalculia (que é basicamente um dis-
túrbio neurológico, com causas diversas) Essa mesma criança pode perder-se
da simples dificuldade no aprendizado da totalmente nas contas e nas equações
matemática, que afeta a maioria dos estu- propostas em sala de aula. A explicação é
dantes e que, geralmente, é gerada pela muito simples: ao acompanhar o pai, ven-
deficiência do próprio sistema de ensino. dendo pastéis, a criança "vê" o pastel, o di-
nheiro do freguês, o troco, tudo é real. Na
As causas biológicas e psiconeurológi-
lousa, os números são apenas sinais que a
cas devem ser diagnosticadas e tratadas
criança vê, mas não distingue.
por meio de exames específicos feitos por
profissionais das respectivas áreas. Exemplo: A adição 4 + 3 = 7, escrita na
lousa quer dizer o quê?
Após todos os testes e os exames, se fi-
car comprovado que a criança não tem ne- Para a criança, é apenas um conjunto de
nhuma disfunção neurológica, nenhuma símbolos numéricos, totalmente abstra-
deficiência causada por anemia ou des- tos. No fundo, ela não entende o porquê
nutrição, enfim, se a criança estiver bem desta conta, não entende "o que" é 4 ou
física e mentalmente, restarão as causas 3 ou 7 não sabe quantas unidades estão
psicológicas e a deficiência do sistema de "dentro" dos números 4,3,7... , Uma forma
ensino para justificar o fracasso com os de fazer a criança assimilar as operações é
números. tornar tudo o mais real possível.
As causas psicológicas são muitas e Exemplo: Usar palitos, figurinhas, boli-
por demais complexas, por isso não cabe nhas, enfim, qualquer material "palpável"
72

e separá-Ios em "montinhos" ou "grupi- lia, analisando-se os seguintes sinto-


nhos": 4 palitos + 3 palitos é igual a ... Após mas:
contar os palitos, a criança chegará ao re-
sultado 7, sabendo exatamente o que é Parece não reconhecer números nem
e, acima de tudo, quanto é 7. Os números, distingui-los;
então, deixarão de ser apenas sinais na Confunde-se, achando que todos os
lousa e terão um significado real. números são iguais;
São muitas as técnicas que podem ser Não consegue dizer com exatidão
usadas para solucionar as falhas no ensi- quantos anos tem, nem mesmo mostran-
no da matemática "abstrata" das escolas. do nos dedos;
Com um pouco de criatividade, o professor
encontrará inúmeras formas de ensinar e Não sabe distinguir o número de sua
despertar na criança o interesse pelos nú- residência nem a data de seu aniversário;
meros, facilitando assim o aprendizado da Não consegue contar em sequência
matemática. lógica;
Principais dificuldades do aluno: Não consegue fazer contas básicas,
1 - Dificuldade de passar do texto para mesmo usando objetos concretos;
linguagem matemática; Não reconhece símbolos matemáti-
2- Falta de vivências concretas; cos;

3- Inadequação dos temas com o de- Não consegue "escrever" os números;


senvolvimento. Demonstra nervosismo, quando ex-
"Problemas" de matemática vêm sem- posto às aulas de matemática.
pre carregados de emoção negativa, pois, Ao apresentar esses sintomas, pode-
sempre que os adultos referem-se aos -se pensar em discalculia, que poderá ser
problemas, é com um significado de algo comprovada por meio de exames e de tes-
abstrato, difícil de resolver e que preci- tes.
sa ser eliminado. Para crianças que não
aprendem matemática por problemas psi- HIPERLEXIA
cológicos, basta mudar o nome do "proble- A hiperlexia é um dos mais complexos
ma" para: "Vamos descobrir o resultado" distúrbios, não só pela variação de sinto-
ou algo assim. Apesar de simples, esta es- mas e características como também pela
tratégia melhora sensivelmente o apren- dificuldade no diagnóstico, visto que a
dizado. Isto, aliado à matemática concreta pouca literatura existente tende a gene-
descrita anteriormente, melhora em mui- ralizar o distúrbio em alguns aspectos.
to o aprendizado da matemática. Sua definição mais usada é "desordem de
Como detectar uma possível Discalcu- linguagem com preciosa habilidade para a
lia? leitura" (OLIVIER, 2008).

Entre os três e os seis anos, já se Pode ser definida também como um


pode detectar uma possível discalcu- espelho da dislexia ou como específico do
73

indivíduo com enorme capacidade para dos usados, seguem por cursos de "adul-
aprendizado, mas com grandes dificul- tos" achando que já aprenderam tudo,
dades para linguagem escrita ou falada. pulando etapas que Ihes farão falta cedo
Pode ainda ser classificada como apenas ou tarde. Têm mais facilidade no apren-
distúrbio de linguagem. dizado cinestésico (experimentação) e
apresentam impaciência, impulsividade,
Alguns autores chegam a classificar a
agressividade, incapacidade para prestar
hiperlexia como integrante do quadro de
atenção a qualquer ensinamento.
Transtornos lnvasivos do Desenvolvimen-
to (TlD) ou como subcategoria da Desor- Assim como a dislexia, que ainda hoje é
dem Profunda do Desenvolvimento, o que vista de forma generalizada pela maioria
acaba, de certa forma, igualando o indiví- dos profissionais, gerando inúmeros mal-
duo com hiperlexia aos autistas e aos por- -entendidos e até erros de diagnósticos,
tadores de síndromes como Rett e Asper- a hiperlexia também caminha assim. Por
ger. isso, os profissionais das áreas que aten-
dem a este distúrbio devem estar atentos
Tudo isso tem sentido e deve, obvia-
aos sintomas e às características princi-
mente, ser aceito, mas o que não se pode
pais.
fazer é generalizar e deixar de lado outras
características tão importantes quanto As características e os sintomas da
estas e que também sinalizam a hiperle- hiperlexia basicamente são: (conside-
xia. São elas: rar distúrbio a partir de duas ou mais
características no mesmo indivíduo)
Conforme Olivier (2008), crianças com
aprendizado acelerado de leitura e de 1 - Aprendizado precoce da leitura e da
escrita podem até se autoalfabetizar e escrita (antes dos cinco anos e sem ne-
tornarem-se autodidatas, com excelente nhum estímulo aparente);
memória e capacidade para cálculos com-
2 - Alterações em um ou mais proces-
plicados. Há casos até de crianças, consi-
sos básicos, tais como: sociais, motores,
deradas como "gênios", aprendendo vários
cognitivos, afetivos ou linguagem;
idiomas sem sequer estudá-los, parecen-
do aprender sozinhas, ingressando em 3 - Dificuldades em associações (uso in-
cursos para adultos ou faculdades muito devido de regras pragmáticas, semânticas
antes da idade prevista ou formando-se e sintáticas);
em cursos considerados complicados de-
mais ou ainda solucionando questões ma-
4 - Facilidade para receber e armazenar
quantidades isoladas de informações de
temáticas consideradas impossíveis de se
maneira mecânica, mas com dificuldades
resolver ou fazendo qualquer outra coisa
em organizar e/ou utilizar a informação
fora do comum, demonstrando uma capa-
de forma útil;
cidade extrema para aprendizado.

No entanto, quase sempre são hipera-


5 - Uso de muitas gírias ou jargões, não
por vício de linguagem, mas por não con-
tivas, têm dificuldades de relacionamen-
seguir construir frases perfeitas ou até
tos, abandonam a escola tradicional muito
mesmo para substituir um discurso;
cedo e, por não se adaptarem aos méto-
74

6 - Ecolalia, que pode, com o passar do colaborando para o isolamento e, conse-


tempo, ser espaçada, amenizada ou elimi- quentemente, dificuldade em estabele-
nada; cer amizades, até porque o indivíduo hi-
perléxico não sabe mesmo lidar com as
ATENÇÃO: Este também pode ser um
brincadeiras em grupo. Pode até tornar-se
sintoma de TOC e ST, que serão relatados
agressivo e machucar colegas e amigos na
posteriormente. Portanto, a ecolalia iso-
intenção de apenas brincar, o que pode
lada deve ser avaliada e entendida como
ser chamado de comportamento autista;
possibilidade/hipótese de outros distúr-
bios. 12 - Pode apresentar boa memória au-
ditiva para música, artes em geral, alfabe-
7 - Também se consideram característi- to e números;
ca da hiperlexia crianças que aprendem a
ler e a escrever precocemente, mas falam 13 - Hipersensibilidade diante de sons
tardiamente. A partir do momento em que e barulhos específicos ou não, sendo no-
desenvolvem a linguagem falada, passam tado por volta dos dois anos de idade;
a ter fluência. Neste caso, a linguagem se-
14 - Aprendizado muito acelerado,
gue as descrições atribuídas à Síndrome
passando por várias etapas do ensino de
de Asperger. A característica básica desta
forma acelerada, chegando muito cedo à
síndrome, além da fala tardia, mas fluen-
faculdade ou parando de estudar logo no
te, é o monólogo e não um diálogo, como
início do aprendizado, por julgar que "já
se espera do indivíduo que desenvolve
aprendeu tudo", ninguém mais tem algo
uma conversa;
de útil a lhe ensinar;
8 - Grande habilidade e necessidade
15 - Pode apresentar excelente memó-
de ler tudo o que encontra, desde outdo-
ria para idiomas, podendo tornar-se facil-
ors, placas, até revistas e jornais. Mas, em
mente um poliglota;
muitas vezes, sem entender o significado
do que se lê e/ou se escreve, o que carac- 16 - Extrema capacidade para cálculos
teriza um distúrbio de aprendizagem; matemáticos inclusive resolvendo solu-
ções complicadas "de cabeça": sem recur-
9 - Uma característica bastante inte-
so da escrita ou de calculadoras;
ressante e própria de muitos hiperléxi-
cos é que, se aprendem a ler em jornais, Se o indivíduo apresentar dez ou mais
somente conseguem ler e escrever em sintomas acima relatados, é sério candi-
letras de imprensa, se aprendem a ler em dato a portar a hiperlexia.
letras de forma, somente leem e reprodu-
ATENÇÃO: Este número (dez) é uma
zem letras maiúsculas e assim por diante.
base para detectar-se este distúrbio,
Demoram muito para assimilar outros ti-
pode haver um hiperléxico com sete ou
pos de letras;
oito desses sintomas ou com cinco des-
10 - Superioridade da linguagem escri- tes, e outros cinco sintomas não relatados
ta em relação à oral; aqui. Atente-se para o fato de que cada
paciente pode ter características próprias
11 - Fascínio por televisão ou compu-
e deve ser analisado exaustivamente até
tador ou algum jogo solitário, o que acaba
75

que se confirme um diagnóstico. Se, além destes sintomas, o indivíduo


apresenta facilidade para as artes em ge-
Apesar de todas estas e outras carac-
ral, será bom que também tenha o acom-
terísticas atribuídas à hiperlexia, vale
panhamento de um arteterapeuta.
lembrar que o aspecto neuromotor cor-
responde aos padrões considerados nor- Se o hiperléxico, desde cedo, lê tudo o
mais de evolução. Não há ou não deve ha- que vê, mas não assimila e escreve apenas
ver sinais de alterações neurológicas, mas como cópia, não tendo consciência do que
não se afasta a possibilidade de alguns escreve, então deve ser encaminhado a
pacientes apresentarem alterações nes- um psicopedagogo que, sem dúvida, é, ou
tes aspectos, visto que cada paciente é ao menos deveria ser, o profissional mais
único, desenvolveu o distúrbio por deter- indicado e melhor preparado para tratar
minadas causas e pode, evidentemente, este caso específico de hiperlexia.
apresentar variações de sintomas, causas
Quando o indivíduo hiperléxico apre-
e características.
senta distúrbios de fala (aquisição lenta,
Mas, afinal, quais são os principais sin- tardia de linguagem, se lê, mas não fala
tomas e qual é o profissional indicado para corretamente, expressa-se de forma in-
tratar a hiperlexia? compreensível, caracterizando incapaci-
dade de expressão etc.), então deve ser
Na ânsia de se definir um distúrbio e/ou
encaminhado a um fonoaudiólogo.
rotular um paciente, passa-se por cima de
vários fatores que serão descritos a se- Mas, se há tantas variantes, tantas
guir. características e tantas opções de trata-
mentos, por que insistir em definir o dis-
Primeiramente, nem todos os hiperlé-
túrbio como basicamente "desordem de
xicos apresentam dificuldades de lingua-
linguagem"? Ou como "capacidade extre-
gem. Esses indivíduos podem expressar-
ma para leitura e escrita, mas Distúrbios
-se muito bem tanto na escrita quanto na
de Aprendizagem e de Comportamento
leitura e fala e, no entanto, apresentarem
sempre há dificuldade de linguagem"?
hiperatividade, agressividade no convívio
com outras crianças e com a família, de- Porque, simplesmente, é difícil, senão
satenção e/ou dispersão em atividades impossível, unir áreas que trabalhem de
diversas, instabilidade de sentimentos e forma multidisciplinar e assumam suas
ideias. E, podem tornar-se extremamen- limitações abrindo mão do paciente em
te magros pelo excesso de atividades que favor de outro profissional mais habilita-
lhes impedem de alimentarem-se ade- do para tratar o caso. Porque há anos, dé-
quadamente ou, ao contrário, obesos, cadas e décadas, há uma declarada guerra
pois também é comum que determinadas entre fonoaudiólogos, psicólogos e psi-
crianças com hiperlexia passem a alimen- copedagogos, cada um insistindo e ten-
tar-se em grande quantidade e durante o tando mostrar que suas referidas áreas
dia todo, como uma espécie de compen- são mais aptas a tratar este ou outros dis-
sação para suas frustrações. E, nestes ca- túrbios. Isso, quando não aparece algum
sos, devem ser encaminhados também a profissional de áreas correIatas caindo de
um psicólogo. "pára-quedas" nesta guerra e tumultuan-
76

do mais ainda o já tumultuado campo de uniu-se à música iniciando, com ótimos


batalha ... E, nesta guerra, quem perde é resultados, a Musicoterapia. É lamentável
o paciente que, quase sempre, é submeti- que, até os dias de hoje, ainda haja tanta
do a longos e ineficazes tratamentos, com ignorância em relação à Musicoterapia e,
métodos ultrapassados e sem valor tera- ainda, seja tão difícil entender que é uma
pêutico na atualidade (OLIVIER, 2008). das técnicas mais sérias e satisfatórias
dentro destes tratamentos. E tantos a
Parece não passar pela cabeça desses
confundam com tocar música pura e sim-
profissionais que seria muito mais produ-
plesmente.
tivo unir uma equipe para tratar um dis-
túrbio complexo do que cada um tentar A Medicina também há tempos aliou-
impor sua área como a melhor, sendo que, -se à Psicologia, criando-se uma área que
na prática, uma única área acaba sendo podemos considerar a mais perfeita na
incompleta para tratar a maioria dos dis- avaliação e no tratamento dos distúrbios
túrbios. cerebrais, pois analisa o comportamento
humano e o funcionamento cerebral, bus-
Quando um paciente procura um pro-
cando o equilíbrio entre os dois e funda-
fissional de saúde, seja em que área for,
mentando-se em uma base multidiscipli-
ele quer ser tratado e, se não puder ser
nar.
curado, quer ao menos encontrar alívio e
controle para seus distúrbios. Quem irá Atualmente a Medicina Comportamen-
ganhar dinheiro com isso não vem ao caso. tal se "molda" mais ainda à Psicologia e ca-
minham cada vez mais unidas. Esperamos
Então, cabe aos profissionais se cons-
que a Psicopedagogia e a Fonoaudiologia
cientizarem e cuidarem dos casos que re-
sejam assim sociáveis e busquem conjun-
almente lhe dizem respeito, abrindo mão
tamente diagnósticos e tratamento para
do paciente em favor de outro profissional
os distúrbios da aprendizagem.
mais preparado e habilitado para tratá-Io,
caso o primeiro já não tenha condições de A Psicologia trata distúrbios e sintomas
fazê-Io. psicológicos, influências do meio, distúr-
bios de conduta, entre outros nesta linha.
Na Medicina, é comum um paciente pro-
curar um clínico geral e este encaminhá-Io A Fonoaudiologia trata dos distúrbios
a especialistas de acordo com suas neces- da fala e da audição, que influenciam na
sidades de tratamento. O psicopedagogo aquisição de linguagem, seja ela lenta ou
deveria funcionar como uma espécie de não, dislalias e outros distúrbios nesta li-
clínico geral, avaliando inicialmente, tra- nha.
tando o que fosse distúrbio de aprendiza-
A Psicopedagogia trata dos distúrbios
gem e encaminhando o paciente a outros
diversos de aprendizagem, memorização,
profissionais, de acordo com as necessi-
problemas na alfabetização e outros dis-
dades de tratamentos.
túrbios nesta linha.
Justiça seja feita, algumas áreas mais
Então, deve finalmente ficar claro que
abertas já estão associando-se há tem-
o psicólogo não trata dos distúrbios da
pos. A Medicina, como a de Pitágoras,
fala, o fonoaudiólogo não pode alfabeti-
77

zar crianças com distúrbios de aprendiza- pécie de ritual. Para entender-se melhor,
gem e o psicopedagogo, por sua vez, não pode-se resumir a compulsão como sendo
trata dos distúrbios de conduta. uma consequência da obsessão. Pode-se
detectar o TOC por atitudes consideradas
Quando estas áreas profissionais cons-
"manias" excessivas nas seguintes situa-
cientizarem-se de suas funções e junta-
ções: colecionar ou acumular coisas, lim-
mente com outros profissionais de áreas
par ou lavar (mãos, objetos etc.), contar
correlatas, tais como psicomotricistas,
ou repetir (atitudes, superstições, etc.),
arteterapeutas, musicoterapeutas e ou-
questionar ou verificar (portas, luzes,
tros, resolverem juntar conhecimentos,
etc.), arranjar ou organizar (arrumar um
trabalhando em conjunto, será certamen-
mesmo armário todos os dias, no mesmo
te muito mais fácil, rápido e prático tratar,
horário, por exemplo).
encaminhar e, em muitos casos, curar pa-
cientes (OLIVIER, 2008). O que é e o que não é TOC?
TRANSTORNO OBSESSIVO COMPUL- Montar uma coleção de revistas e gas-
SIVO – TOC tar bastante tempo e dinheiro com elas,
mas divertindo-se em organizá-Ias de
De uma forma simplista, pode-se defi-
acordo com datas, assuntos etc., não deve
nir o TOC como um transtorno que faz o
ser considerado TOC. Mas passar a vida
emocional sobrepor-se à razão.
toda armazenando revistas, jornais, pa-
Desta forma, mesmo o paciente to- péis, enfim, algo do gênero, sem nenhum
talmente consciente do ridículo de suas tipo de arquivamento, provavelmente
atitudes, parece não ter forças para con- será diagnosticado como TOC.
trolar seus impulsos. A melhor definição
Fechar a porta de casa e voltar para ve-
parece ser de Shapiro (1978): "Ter TOC/ST
rificar se está, de fato, bem trancada, ain-
é como dirigir um carro sem freio, sabe-se
da que se verifique por duas vezes, não é
que está correndo muito ou fazendo um
TOC, mas ficar verificando se a porta está
movimento ridículo e/ou repetitivo, mas o
mesmo bem trancada por inúmeras vezes,
freio falha e não se consegue parar o mo-
indo e voltando à porta até perder a hora
vimento".
de ir para o trabalho, poderá ser diagnos-
É preciso esclarecer que a simples pre- ticado como TOC.
sença de alguma(s) obsessão(ões) e com-
Exemplo claro: Uma pessoa acredita
pulsão(ões) não caracterizam TOC, visto
frequentemente que poderá contrair um
que estes sintomas podem enquadrar ou-
vírus qualquer (desde uma simples gripe
tros distúrbios mentais (depressões, de-
até HIV), pensará tanto nisso que criará
mências, etc.). Também pode haver, basi-
um ritual, ou seja, imaginado que qualquer
camente, três tipos de TOC: só obsessivo,
pessoa ou objeto do qual ela se aproximar
só compulsivo ou, o mais comum, obsessi-
irá lhe contaminar, passará a se recusar
vo compulsivo.
a beijar, a abraçar e até a tocar a mão de
Entenda-se por obsessão uma ideia outra pessoa para um cumprimento; ao
fixa, mania, e por compulsão algo a que se ver-se obrigada a tocar em algum objeto
obriga a fazer de forma contínua, uma es- seja qual for, pensará logo que pode es-
78

tar contaminado com o tal vírus, então, na Arteterapia, englobando-se Psicodrama,


sequência, irá lavar suas mãos repetidas teatro terapêutico, Biodança e outras téc-
vezes, digamos dez vezes seguidas, para nicas adaptadas a cada paciente.
certificar-se de que se livrou do tal vírus
O tratamento pode ocorrer de forma
(fruto de sua imaginação). Temos aí uma
individual, grupal ou mista, sendo esta
descrição do paciente com TOC, com pen-
última opção a que mais apresenta bons
samentos obsessivos desencadeando ri-
resultados.
tuais compulsivos.
As causas do TOC/ST e as descober-
Também é preciso entender que, em
tas recentes
alguns casos, o TOC pode estar associa-
do à Síndrome de Tourette (transtorno Ainda é difícil especificar as verdadeiras
de tiques, ST). Esta, por sua vez, pode es- causas de TOC/ST. Pensa-se em aspectos
tar associada ao Transtorno de Déficit de genéticos, neuroquímica cerebral, lesões
Atenção e Hiperatividade (TDAH). Pode ou infecções cerebrais, envolvendo as di-
haver também associação do TOC com ficuldades de aprendizagem.
TDAH, neste caso, os pacientes parecem
Sabe-se que o TOC pode ocorrer após
ter dificuldades em controlar a agressivi-
traumatismos, lesões ou infecções ce-
dade, ainda mais associada à ST.
rebrais. É muito comum em uma mesma
Voltamos ao tópico que fala de DDA família existirem vários indivíduos por-
e TDAH. Verifica-se que o diagnóstico é tadores do distúrbio, o que sugere uma
muito mais sério do que pensamos. Afi- predisposição genética. Talvez dê lógica à
nal, um pequeno erro no diagnóstico, ima- pesquisa polêmica divulgada na Holanda,
ginando-se ser uma simples DDA, pode onde foi detectada uma mutação de gene,
esconder um distúrbio grave que, se não uma espécie de inserção, onde o cromos-
detectado e tratado, poderá desencadear somo 2 transpassa-se com o 7 e destrói
crises até violentas e inconsequentes. um gene no cromossomo 7, chamado CNT-
NAP2. Mas até agora, o gene só foi detec-
Desta forma, entende-se que existem
tado em uma única família californiana.
vários tipos em se tratando destes trans-
tornos e, consequentemente, várias op- O pai tem TOC, dois dos seus filhos
ções de tratamentos, sejam tradicionais apresentam tiques e outros problemas
ou alternativos. físicos e mentais, mas isto não quer dizer
que esta mutação de gene esteja em to-
TOC ou ST isolados parecem mais ame-
dos que têm a síndrome. Até porque CNT-
nos e com maiores opções de tratamentos
NAP2 não está em uma região do genoma
alternativos. Os transtornos associados
que tenha ligação com genes ligados ao
descritos acima requerem maior atenção
Tourette. Esta pesquisa foi divulgada em
e menos opções de tratamentos, geral-
2003 e, após, não se divulgou a continui-
mente preferindo-se os tradicionais.
dade, o que pode significar que não se te-
Tanto os casos de transtornos isolados nham encontradas novas bases para sua
quanto os associados geralmente res- conclusão.
pondem muito bem ao tratamento com
Sabe-se que determinados medica-
79

mentos reduzem os sintomas de TOC. Isso Podem ainda ser fechados e distan-
demonstra que pode haver um distúrbio tes, presos a comportamentos restritos
neuroquímico do cérebro envolvendo o e a rígidos padrões de comportamento.
funcionamento das vias nervosas que uti- Às vezes, podem desenvolver rituais em
lizam a serotonina (substância que existe outros distúrbios, como balançar-se, agi-
naturalmente no cérebro) para transmitir tar as mãos e os braços, entre outros. Há
seus impulsos. Pode-se dizer que certas também casos raros de autistas com inte-
zonas cerebrais são hiperativas em porta- ligência extrema, geralmente para cálcu-
dores de TOC, e podem localizar-se na par- los matemáticos ou rápida memorização
te frontal – região periorbital, em regiões de muitas informações, mas isso parece
mais profundas do cérebro – nos gânglios ocorrer de forma mecânica, ou seja, ape-
ou nos núcleos da base. nas decoram ou desenvolvem mecanica-
mente essas habilidades não tendo uma
Esta hiperatividade tende a se norma-
real compreensão do que relatam (OLI-
lizar tanto com o tratamento farmacoló-
VIER, 2008).
gico, bem como com a terapia cognitivo-
-comportamental e outros métodos. Mas, O autismo é entendido como um distúr-
quanto aos medicamentos, devem-se bio que pode variar do grau leve ao seve-
analisar reações e benefícios. Até porque ro, sendo considerado como Iimitrofia, em
a resposta de muitos pacientes aos me- casos leves. Alguns podem ser diagnosti-
dicamentos inibidores da recaptação da cados como indivíduos com traços autís-
serotonina é parcial ou muitas vezes nula, ticos e, entre outros, também podem ser
talvez em virtude das diferentes causas e vistos como portadores da Síndrome de
dos tipos de distúrbios. E ainda há o risco Asperger, que é considerada por muitos
de o paciente, antes dinâmico, tornar-se como um tipo de autismo com inteligência
apático e/ou outros sintomas considera- normal.
dos positivos de TOC/ST serem alterados
Como se pode ver, o autismo, atual-
pela medicação (OLIVIER, 2008).
mente, pode ser associado a diversas sín-
AUTISMO dromes, mas isso deve ser visto com cui-
dado, levando-se em conta a margem de
Pode ser definido como uma alteração
erro de diagnóstico e as características de
cerebral, afetando a comunicação do indi-
cada síndrome. Os sintomas podem variar
víduo com o meio externo. Isso atrapalha
amplamente, por isso, prefere-se definir
ou impede a capacidade de estabelecer
o autismo como um espectro de transtor-
relacionamentos, reconhecer pessoas e/
nos, onde a característica básica é a tríade
ou objetos, tornando o indivíduo alienado
de comprometimentos que confere uma
em relação ao ambiente.
característica comum a todos eles. Além
Alguns autistas apresentam normali- destes sintomas, existem diversas sín-
dade na inteligência e fala, enquanto ou- dromes identificáveis geneticamente ou
tros apresentam também retardo mental, que apresentam quadros de diagnósticos
mutismo ou outros retardos no desenvol- característicos, que também estão englo-
vimento da linguagem. badas no espectro do autismo.
80

Tríade Está aí o que leva a erros de diagnósti-


co, pois, em alguns casos, o autista parece
Resumidamente, pode-se dizer que a
ser afetivo, até aproxima-se das pessoas,
tríade é reconhecida por falhas ou dificul-
podendo até abraçá-Ias, mexer em seus
dades (qualitativas) na comunicação, na
cabelos, acariciá-Ias ou beijá-Ias, mas o
interação social e na imaginação e, como
que para as pessoas parece uma normali-
consequência, vêm as dificuldades com-
dade, para o autista, é um ato mecânico.
portamentais.
Na verdade, o autista apenas repete ges-
Como falha e dificuldade qualitativa da tos que viu outras pessoas fazendo, mas
comunicação, pode-se dizer que é a difi- não diferencia as pessoas que abraça, não
culdade em utilizar, com sentido, todos demonstra sentimento, parece não dife-
os aspectos da comunicação verbal e não renciar sequer o momento ou o lugar. É
verbal (isto inclui gestos, expressões fa- apenas um padrão repetitivo, sem trocas
ciais, linguagem corporal, ritmo e modula- ou sentimentos e, por mais cruel que pa-
ção na linguagem verbal). reça a colocação, na realidade do autista,
seria a mesma sensação abraçar a mãe,
Dentro da grande variação neste trans- um bicho de pelúcia ou um poste.
torno, podem se encontrar autistas sem
linguagem verbal e com dificuldades na Como falhas e dificuldades qualitativas
comunicação (ausência ou falha de uso na imaginação, pode-se caracterizar por
de gestos, ausência de expressão facial, rigidez e inflexibilidade, estendendo-se
entre outros), como também é possível às várias áreas do pensamento, da lin-
encontrar autistas com linguagem verbal, guagem e do comportamento do autista,
mas sem fluência, ou então, de forma re- podendo apresentar comportamentos
petitiva e/ou não comunicativa, ou ainda, obsessivos e ritualísticos (o que o asse-
apenas repetindo o que Ihes foi dito. O melha ao TOC), incompreensão ou pouca
que é conhecido como ecolalia imediata. compreensão da linguagem, irritabilidade
Ou podem também repetir frases ouvidas diante de mudanças desde as mais sim-
em momentos anteriores (horas ou dias), ples até as mais severas e falhas ou difi-
o que é chamado de ecolalia tardia. Há ou- culdades em processos criativos.
tras variações que também integram-se
Isso pode ser percebido muito cedo, já
ao autismo e, por isso, tornam-no em uma
na forma como a criança brinca, de forma
síndrome complexa.
mecânica, sem exploração ou criativida-
Como falha e dificuldade qualitativa na de, podendo até quebrar seus brinquedos
sociabilização são os pontos cruciais no por choques ou movimentos de batida. Na
autismo, pode-se estar sujeito a gerar fal- escola, pode jogar seus brinquedos nos
sas interpretações. A falha ou a dificulda- colegas ou bater neles (ou em si mesmo)
de está na relação com outras pessoas, na usando os brinquedos. Ou então, poderá
incapacidade do autista de compartilhar passar muitas horas seguidas explorando
sentimentos, emoções, gestos, gostos e a textura e o formato de um brinquedo,
em não conseguir diferenciar as pessoas sem, contudo, brincar, apenas usando-o
uma das outras e, em alguns casos, pes- como um ritual.
soas de objetos.
81

Algumas crianças autistas, com a in- rente;


teligência mais desenvolvida, podem
6 - Não responde a nenhum estímulo e
demonstrar uma grande fixação por de-
é inacessível diante de tentativas de co-
terminados assuntos, geralmente não
municação das outras pessoas, mesmo
relacionados à sua idade, quase sempre
sendo seus pais ou parentes muito próxi-
assuntos de difícil entendimento ou até
mos;
mesmo uma rapidez para cálculos ou rá-
pida e grande capacidade para memoriza- 7 - Costuma passar longos períodos pa-
ção, que pode ser confundida com extre- rado ou fixando o olhar em um determina-
ma superioridade no nível de inteligência. do ponto ou, no máximo, fixando-se em
poucos pontos e não como, normalmente,
Portanto, deve-se verificar bem esta
as crianças fazem, querendo tocar e co-
característica que, quando se apresenta,
nhecer tudo à sua volta;
não deixa de ser uma superioridade de
inteligência, mas apenas para camuflar o 8 - Parece desenvolver alguns rituais
aspecto autista de alienação. que repete constantemente, principal-
mente o mais característico que é o gesto
As características mais divulgadas
de balançar as mãos e os braços ou balan-
do autismo são:
çar-se;
1 - Olhos inexpressivos. Parece não
9 - Ao invés de reconhecer e brincar
enxergar ou não conseguir fazer nenhum
com seus brinquedos, geralmente os lam-
contato com o meio exterior por meio dos
be, cheira, morde ou os atira longe sem
olhos;
sequer ver o que são;
2 - Age como surdo, parece não ouvir
10 - Parece insensível à dor e pode até
nada e pode gritar inesperadamente;
ferir-se de forma intencional e até cons-
3 - Não aprende a falar, chega aos cinco tante.
ou seis anos sem conseguir nunca expres-
Como se manifesta?
sar-se verbalmente ou, então, pode co-
meçar a desenvolver a linguagem falada, É comum um bebê parecer normal, es-
mas há uma interrupção desse processo tabelecendo contato visual, reconhecen-
sem nenhum motivo aparente, e a lingua- do pais e parentes próximos, tendo habili-
gem adquirida parece apagada irreversi- dade para segurar objetos, reconhecer de
velmente; onde vem uma voz ou som (olhando nesta
direção), chorar e sorrir de forma normal
4 - Age de forma alienada ou desaten-
e, de repente, sem nenhum motivo apa-
ta, parece não ver nem sentir nada e age
rente, regredir até a alienação do autismo.
sem demonstrar interesse pelo que acon-
Mas também pode ser comum, em outros
tece à sua volta, com ele mesmo ou com
casos, o bebê apresentar, desde o nasci-
os outros;
mento, as características do autismo.
5 - Pode tornar-se agressivo, inclusive
De uma forma ou de outra, mostrando
atacando e/ou ferindo a si mesmo ou a
as características desde o início ou depois
outras pessoas, sem nenhum motivo apa-
de um período de normalidade, a realida-
82

de do autismo é que torna difícil até a mais Então, o primeiro passo para o trata-
simples troca de afeto, pois a criança não mento é a conscientização dos pais e a
reconhece nem retribui manifestações procura de um bom profissional que de-
de afeto, como abraços, carinhos, beijos, verá fazer e solicitar vários testes e exa-
enfim, não há receptividade por parte do mes com a finalidade de descartar outros
autista em relação ao afeto. Da mesma distúrbios e, em seguida, fazer o diagnós-
forma, não há nenhuma manifestação tico clinicamente, levando-se em conta a
de felicidade ao ver os pais ou desagrado anamnese e o histórico do paciente, di-
quando estes saem. Para a criança, essas ferenciando-o de indivíduos com surdez,
situações são igualmente inertes. retardos ou problemas neurológicos iso-
lados.
Alguns autistas demoram muito para
aprender sobre sentimentos e reações Além disso, para detectar o autismo,
comuns aos seres humanos, outros se- devem-se reunir, no mesmo indivíduo, as
guem alienados sempre, ou seja, nunca três características acima. Alguns autores
percebem isso. insistem que esses sintomas devem apa-
recer antes dos três anos de idade, mas
E, quanto à agressividade que parece
ocorrendo após essa idade, não se pode
mais comum do que a afetividade no au-
descartar a hipótese de um autismo, ain-
tista, esta pode ser agravada pela mudan-
da que com manifestações tardias (OLI-
ça repentina de ambiente ou de situação,
VIER, 2008).
ou mesmo, se, por qualquer motivo, o au-
tista sentir-se contrariado, Tratamentos disponíveis
Como detectar o autismo? Apesar de não se conhecer uma cura
definitiva, já é possível conseguir bons
Ao perceber que um bebê apresenta as
tratamentos que podem tornar o autis-
características acima descritas, deve-se
ta independente e, em alguns casos, até
encaminhá-lo o mais rápido possível a um
produtivo. O diagnóstico e o tratamento
profissional especializado que se encar-
precoce, a educação especial e, em alguns
regará de diagnosticar e orientar os pais
casos, as medicações podem integrar ou
quanto aos tratamentos e aos acompa-
reintegrar o indivíduo autista na socie-
nhamentos disponíveis, de acordo com o
dade. O apoio dos pais, aliado à educação
caso.
especial, pode colaborar muito para que o
É muito importante que os pais man- autista consiga expandir suas capacida-
tenham-se calmos e aptos a ouvir o pro- des de aprendizado, comunicação e rela-
fissional para que o diagnóstico e o trata- cionamento com a sociedade e, em para-
mento sejam bem desenvolvidos, pois o lelo, diminuir a frequência das crises de
que ocorre, na maioria dos casos, é os pais agitação e/ou agressividade, melhorando
negarem o distúrbio no filho, alegando a qualidade de vida do autista e de sua fa-
que ele é temperamental, mimado, esqui- mília.
sitão e outros termos usados para fugir da
Vale lembrar que não há medicações
realidade e isso só atrasa o diagnóstico e o
específicas para tratar o autismo. Quando
tratamento (OLIVIER, 2008).
usadas, servem para amenizar ou comba-
83

ter características, como agressividade, culdades (qualitativas) na comunicação,


comportamentos repetitivos, entre ou- na interação social e na imaginação e,
tras. como consequência, vêm as dificuldades
comportamentais, como um indivíduo
O tratamento é, na realidade, um trei-
pode apresentar a tríade e manter a total
namento para o desenvolvimento de uma
normalidade no que se refere ao desen-
vida tão independente quanto possível.
volvimento da fala e do cognitivo?
Basicamente a técnica mais usada é a
comportamental, além dela, a Musicote- Seguindo esta linha de raciocínio, a
rapia pode funcionar perfeitamente. Síndrome de Asperger deveria ser vista
como uma síndrome independente, com
Os profissionais que querem saber mais
características próprias e desvinculada do
sobre o diagnóstico do autismo e de todos
autismo. A partir do momento em que se
os distúrbios relacionados acima pode-
coloca como uma variação, torna-se falha,
rão encontrar informações em: Manual
visto que a descrição dos sintomas englo-
de Diagnóstico e Estatística de Distúrbios
ba os já descritos exaustivamente como
Mentais (DSM-IV), da Associação Psiquiá-
próprios do autismo e acrescenta outros
trica Americana; Classificação Internacio-
próprios somente do Asperger.
nal de Doenças (CID-10), publicada pela
Organização Mundial de Saúde. Semelhanças (e diferenças) com o
autismo
SÍNDROME DE ASPERGER
Aparentemente existem várias formas
Tem essa denominação porque foi des-
de autismo e a Síndrome de Asperger é
crita primeiramente, em 1944, pelo mé-
uma delas, mas, levando-se em conta suas
dico alemão Hans Asperger, Isso ocorreu
principais características, percebe-se que
aproximadamente um ano após Leo Kan-
foge em alguns aspectos das caracterís-
ner divulgar seu primeiro trabalho sobre
ticas citadas como próprias dos autistas.
autismo. O Dr. Asperger relatou nesta
Na verdade, seria apenas uma variação do
descrição alguns indivíduos que apresen-
autismo, com características próprias, da
tavam comportamentos considerados es-
mesma forma que se classifica o grau leve
tranhos.
de autismo como limitrofia. As variações,
Segundo os estudos, as pessoas com com sintomas específicos, que serão rela-
esse distúrbio possuem as dificuldades ou tados a seguir, denominam-se Asperger.
as falhas consideradas na tríade do autis-
Principais sintomas
mo, mas não apresentam nenhum atraso
significativo de desenvolvimento da fala Em relação à linguagem:
ou no cognitivo, podendo ser considera-
Fluência verbal antes da idade de qua-
das apenas excêntricas ou estranhas para
tro anos, apresentando gramática e vo-
os padrões considerados normais de com-
cabulário muito bons, mas, por vezes, de
portamento.
maneira formal e repetitiva, a voz tende a
Somente por esta descrição, já se en- ser monótona e sem emoção e os diálogos
contra uma certa contradição, pois se a giram em torno do ego.
tríade é caracterizada por falhas ou difi-
84

Esta é uma semelhança com as carac- Apresenta tendência a movimentos


terísticas do autismo, mas não é regra, desajeitados, ao contrário do autismo, o
visto que já foi citado que o autista pode indivíduo com a Síndrome de Asperger
demonstrar sintomas desde os seus pri- não tem tanta acentuação nos problemas
meiros momentos de vida de bebê. Esta sensórios, ou seja, não tem tanta dificul-
fluência descrita na Síndrome de Asper- dade em entender as sensações, pode
ger é, portanto, semelhante a um tipo de ser socialmente atento, mas apresentar
autismo, mas não a todos os outros. falhas na reciprocidade. Em outras pala-
vras, pode aceitar as pessoas e até convi-
Em relação à aprendizagem e à
ver com elas, mas sem integrar-se inteira-
cognição:
mente.
Mostra-se obcecado com tópicos com-
Podem apresentar frequentemente
plexos, pode ser considerado um indi-
depressão e desordem bipolar, entre ou-
víduo excêntrico, o QI pode variar entre
tras características, porém, no autismo, é
muito abaixo do normal na habilidade ver-
mais comum a associação com o TOC.
bal e acima da média em outras habilida-
des como desempenho. Alguns pesquisadores defendem que
a Síndrome de Asperger é possivelmente
Quanto a isso, pode-se assemelhar ao
hereditária pelo fato de muitas famílias
que se refere ao autismo, mas, na sequ-
citarem vários parentes estranhos. Tam-
ência, descreve-se que o indivíduo porta-
bém aqui está uma diferença, pois, no au-
dor de Síndrome de Asperger, em muitos
tismo, a hereditariedade não é significati-
casos, pode apresentar dislexia e proble-
va.
mas de escrita, discalculia ou dificuldade
com matemática, falta de bom senso, pre- Tratamento
ferência pelo pensamento concreto em
No momento, não há nenhum trata-
detrimento do abstrato.
mento específico para indivíduos com a
Aqui está uma grande diferença do au- Síndrome de Asperger. Podendo-se citar
tismo, pois as dificuldades ou os distúr- a TCC (Terapia Cognitiva Comportamen-
bios de aprendizagem são características tal) ou a Arteterapia como boas opções.
da limitrofia (grau leve de autismo) e do Apesar das poucas opções disponíveis
Asperger, entre outros. Mas as semelhan- para tratamentos, estes não devem ser
ças terminam aqui, visto que tantos ou- negligenciados, e percebe-se que os indi-
tros graus de autismo acabam eliminando víduos tratados, acabam tendo uma vida
esses distúrbios pelo simples fato de a produtiva, conseguindo viver de forma in-
criança alienar-se de tal forma que tornam dependente, trabalhando, estudando, en-
os estudos ineficazes e até nulos, ou seja, fim, tendo uma vida considerada normal.
acaba não assimilando o aprendizado não
Um bom tratamento, tanto para autis-
por causa de algum distúrbio de aprendi-
mo quanto para Asperger, deve conside-
zagem, mas principalmente pelo próprio
rar os aspectos bioquímicos (aceitação
autismo que o limita.
ou alergias a tipos de alimentos, medica-
Em relação ao comportamento: mentos etc.), neurossensorial (integração
85

sensorial, desenvolvimento de padrões,


estimulação e integração auditiva, facili-
tação da comunicação em diversos níveis,
terapias relacionadas com a vida diária, de
acordo com a rotina do paciente), psicodi-
nâmico (terapia de abraços, Psicoterapia
e Psicanálise, além das já citadas, como
TCC, Arteterapia e Musicoterapia), entre
outros aspectos. Estes são os principais
a serem considerados para um bom trata-
mento (OLIVIER, 2008).
86

REFERÊNCIAS

REFERÊNCIAS BÁSICAS torno de déficit de atenção ehiperatividade


(TDAH) – uma revisão da literatura Journal of
BARKLEY, Russell A. Transtorno de Déficit Biodentistry and Biomaterials - Universida-
de Atenção/Hiperatividade: guia completo de Ibirapuera, São Paulo, n. 1, p. 22-30, mar./
para pais, professores e profissionais da saú- ago. 2011. Disponível em: http://www.unib-
de. Porto Alegre: Artmed, 2002. journal.com.br/pdf/revista1-artigo3.pdf
CONDEMARÍN, M. et al. Transtorno do Dé- AMORIM, Cacilda. Impulsividade traz con-
ficit de Atenção e Hiperatividade: estraté- sequências negativas (2013). Disponível em:
gias para o diagnóstico e a intervenção psi- http://www.dda-deficitdeatencao.com.br/
co-educativa. São Paulo: Ed. Planeta, 2006. artigos/consequencias-impulsividade.html
MATTOS, Paulo. No mundo da lua. São ANASTASI, A.; URBINA, S. Testagem psico-
Paulo: Casa Leitura Médica, 2008. lógica. Porto Alegre: ArtMed, 2000.
ROTTA, N. T. et al. Transtornos da apren- ANDRADE, Ênio Roberto de. Atenção Re-
dizagem: abordagem neurobiológica e multi- dobrada. Revista Viver, São Paulo, 10-12, fe-
disciplinar. Porto Alegre: Artmed, 2006. vereiro 1999.
OLIVIER, Lou. Distúrbios de aprendizagem ARAUJO, Mônica; SILVA, Sheila Aparecida
e de comportamento. 4 ed. Rio de Janeiro: Pereira dos Santos. Comportamentos indi-
Wak, 2008. cativos do transtorno de déficit de atenção e
PORTO, Olivia. Bases da Psicopedagogia: hiperatividade em crianças: alerta para pais
diagnóstico e intervenção nos problemas e professores (2003). Disponível em: <ht-
de aprendizagem. 4 ed. Rio de Janeiro: Wak, tp:www.efdeportes.com/efd62/atenção.
2009. htm

BARKLEY R.A. Transtorno de Déficit de


REFERÊNCIAS Atenção/Hiperatividade: guia completo para
pais, professores e profissionais da saúde.
COMPLEMENTARES
Porto Alegre: Artmed, 2002.
ABC da saúde. TRANSTORNO DO DÉFI-
BENCZIK, Edyleine Bellini Peroni. Escala
CIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE. Data
para o Transtorno de Déficit de Atenção/Hi-
de Publicação: 01/11/2001 - Revisão:
peratividade – Versão para Professores. São
02/01/2004. Disponível em:<www.abcda-
Paulo: Casa do Psicólogo, 2000.
saude.com.br
BENCZIK, Edyleine Bellini Peroni; SCHELI-
ABDA – Associação Brasileira do Déficit de
NI, Patrícia Waltz; CASELLA, Erasmo Barban-
Atenção. Diagnóstico e tratamento. Disponí-
te. Instrumento para avaliação do transtor-
vel em <www.tdah.org.br
no de déficit de atenção e hiperatividade em
AGRA, Carlos Martins et al. O bruxismo adolescentes e adultos. Bol. psicol [online].
do sono em pacientes portadores de trans- 2009, vol.59, n.131, pp. 137-151. Disponível
87

em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/bolpsi/ Mario Ribeiro de; GOMES, Cláudia Roberta de


v59n131/v59n131a02.pdf Araújo. Aspectos neurobiológicos do trans-
torno do déficit de atenção e hiperatividade
CAPOVILLA, A.G.S. Desenvolvimento e va-
(TDAH): uma revisão. Ciências & Cognição
lidação de instrumentos neuropsicológicos
2010; Vol 15 (1): 241-251 http://www.cien-
para avaliar funções executivas. Aval. Psic.,
ciasecognicao.org
2006, 5(2), 239-241
DIAS, Vânia Porto Ribeiro. No mundo da
COELHO, Liana et al. Transtorno do défi-
lua. Revista Vida e Saúde, agosto de 2004,
cit de atenção e hiperatividade (TDAH) na
p.19-21.
criança: aspectos neurobiológicos, diagnós-
tico e conduta terapêutica. Acta Med Port. DSM-IV – TR. American Psychiatric Asso-
2010; 23(4):689-696. Disponível em: http:// ciation: manual de diagnóstico e estatístico
www.actamedicaportuguesa.com/revista/ de transtornos mentais. 4.ed. Porto Alegre:
index.php/amp/article/view/686/364 Artes Médicas, 2002.

CONDEMARÍN, M. et al. Transtorno do Dé- GOLDSTEIN, Sam: Compreensão, Ava-


ficit de Atenção e Hiperatividade: estraté- liação e Atuação: Uma Visão Geral sobre o
gias para o diagnóstico e a intervenção psi- TDAH. Disponível em:<www.hiperatividade.
co-educativa. 1.ed., Ed. Planeta, 2006. com.br

CORREIA AG FILHO, PASTURA G: As medi- GUIDETTO, Vincenzo; GALLI, Federica. Co-


cações estimulantes. In ROHDE LA, MATTOS morbidade psiquiátrica (2012). Sociedade
P: (Eds). Princípios e práticas em transtorno BrasIleira de Cefaléia. Disponível em: http://
do déficit de atenção/hiperatividade. Porto www.sbcefaleia.com/associados/index.
Alegre: Artmed 2003:161-173. php?option=com_k2&view=item&id=55:-
comorbidade-psiqui%C3%A1trica&Ite-
COSTA, Célia Regina Carvalho Machado da;
mid=567
MAIA FILHO, Heber de Souza; GOMES, Mar-
leide da Mota. Avaliação Clínica e Neurop- GUILHERME, P.R, et al. Conflitos conjugais
sicológica da Atenção e Comorbidade com e familiares e presença de transtorno de dé-
TDAH nas Epilepsias da Infância: Uma revi- ficit de atenção e hiperatividade (TDAH) na
são sistemática. J Epilepsy Clin Neurophysiol prole: revisão sistemática. J Bras Psiquiatr
2009;15(2):77-82. Disponível em: http:// 2007;56(3):201-207.
www.scielo.br/pdf/jecn/v15n2/a06v15n2.
HALLOWELL, Edward e RATEY, John. Ten-
pdf
dência à Distração. RJ: Rocco, 2000.
COSTA, Nathalia Santos da; BARROS, Del-
LARA, D. Temperamento Forte e Bipola-
ba Teixeira Rodrigues. Orientação profissio-
ridade. Porto Alegre: Armazém de Imagens,
nal com portadores de TDAH: informações e
2004.
adaptações necessárias. Rev. bras. orientac.
prof [online]. 2012, vol.13, n.2, pp. 245-252. LOPES, Regina Maria Fernandes; NASCI-
Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/ MENTO, Roberta Fernandes Lopes do e BAN-
pdf/rbop/v13n2/11.pdf DEIRA, Denise Ruschel. Avaliação do trans-
torno de déficit de atenção/hiperatividade
COUTO, Taciana de Souza; MELO-JUNIOR,
em adultos (TDAH): uma revisão de literatu-
88

ra. Aval. psicol. [online]. 2005, vol.4, n.1, pp. pt_v34n4a23.pdf


65-74. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.
PASTURA G.; MATTOS P. Efeitos colaterais
org/pdf/avp/v4n1/v4n1a08.pdf
do metilfenidato. Rev Psiq Clin, 31(2):100-4,
LOUZÃ, Mário R.; MATTOS, Paulo. Ques- 2004.
tões atuais no tratamento farmacológico do
PASTURA, G.; MATTOS, P.; PRUFFER, A.
TDAH em adultos com metilfenidato. J. Bras.
Desempenho escolar e transtorno do deficit
Psiquiatr. 56, supl 1; 53-56, 2007 Disponível
de atencao. Rev Psiq Clin. 2005;32(6):324-9.
em: http://www.scielo.br/pdf/jbpsiq/v56s1/
a12v56s1.pdf PEREIRA, J.R.; REIS, A.M.; MAGALHÃES,
Z: Neuroanatomia funcional anatomia das
MARINOTTI, M. (Orgs.). Análise do com-
áreas activáveis nos usuais paradigmas em
portamento para a educação. Contribuições
ressonância magnética funcional. Acta Med
recentes. Santo André, SP: ESETec Editores
Port 2003;16:107-116.
Associados, p.11-32, 2004.
PEREIRA, M. E. M. et al. O compromisso
MATTOS, Paulo et al. Adaptação transcul-
do professor com a aprendizagem do aluno:
tural para o português da escala Adult Self-
contribuições da Análise do Comportamento.
-Report Scale para avaliação do transtorno
In: HUBNER, M. M. C.; MARINOTTI, M. (Orgs.).
de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH)
Análise do comportamento para a educação.
em adultos. Rev. Psiq. Clín. 33 (4); 188-194,
Contribuições recentes. Santo André, SP:
2006. Disponível em: http://www.scielo.br/
ESETec Editores Associados, p.11-32, 2004.
pdf/rpc/v33n4/a03v33n4.pdf
POLANCZYK, Guilherme V. et al. Trans-
MATTOS, Paulo et al. Painel brasileiro de
torno de déficit de Atenção / hiperativi-
especialistas sobre diagnóstico do trans-
dade: Uma perspectiva científica. CLINI-
torno de déficit de atenção/hiperatividade
CS 2012;67(10):1125-1126 Disponível em:
(TDAH) em adultos. Rev Psiquiatr RS jan/
http://www.guiaclinico.com.br/artigos/ar-
abr 2006;28(1):50-60 Disponível em: http://
quivo-2013-07-13-18-35-51.pdf
www.scielo.br/pdf/rprs/v28n1/v28n1a07.
pdf REIS, Giselle Vieira Reis; SANTANA, Maria
Silvia Rosa. Transtorno de Déficit de Aten-
MATTOS, Paulo et al. Validação semântica
ção e Hiperatividade (TDAH) – o que é isso.
da versão em língua portuguesa do Ques-
Disponível em: http://periodicos.uems.br/
tionário de Qualidade de Vida em Adultos
novo/index.php/anaispba/article/viewFi-
(AAQoL) que apresentam transtorno de
le/255/187
déficit de atenção/ hiperatividade (TDAH).
Rev Psiq Clín. 2011;38(3):87-90. Disponível RIESGO, R.; ROHDE, L.A. Transtorno de
em: http://www.scielo.br/pdf/rpc/v38n3/ déficit de atenção/hiperatividade. Em:
a01v38n3.pdf Kapczinski, F.; Quevedo, J. e Izquierdo, I (Ed.).
Bases biológicas dos transtornos psiquiátri-
MATTOS, Paulo; ROHDE, Luis Augusto;
cos. Porto Alegre: Artmed, 2004.
POLANCZYK, Guilherme V.. O TDAH é subtra-
tado no Brasil. Rev. Bras. Psiquiatr. [online]. RODHE, L.A., BARBOSA, G. Transtorno de
2012, vol.34, n.4, pp. 513-514. Disponível déficit de atenção/hiperatividade. Revista
em: http://www.scielo.br/pdf/rbp/v34n4/ Brasileira de Psiquiatria, 2000, 22(II), 7-11.
89

ROHDE, Luís Augusto P.; BENCZIK, Edylei- Mundo Jovem. Ano XLII, nº 347, Junho/2004.
ne B. P. Transtorno de déficit de atenção /
SILVA, Paulo Oliveira Guimarães da. Ca-
hiperatividade: o que é? Como ajudar?. Porto
racterísticas neuropsicológicas e de per-
Alegre: Artmed, 1999.
sonalidade e idade de início do TDAH em
ROMAN, T.; SCHMITZ, M. E,; POLANCZYK, adultos. Porto Alegre: UFRGS, 2012. Disser-
G.V. Etiologia. Em: Rohde, L.A. e Mattos, P. tação de Mestrado. Disponível em: http://
Princípios e práticas em TDAH. Proto Alegre: w w w.lume.ufrgs.br/bitstream/hand-
Artmed, 2003. le/10183/53130/000851911.pdf?sequen-
ce=1
RONCHI, Mariana. O trabalho do professor
dos anos iniciais diante das características do SILVARES, Edwiges Ferreira de Mattos
aluno com transtorno de Déficit de Atenção/ (org.). Estudos de caso em Psicologia Clínica
Hiperatividade – TDAH. Criciúma: Universi- Comportamental infantil. Editora Papirus,
dade do Extremo Sul Catarinense, 2010. 2000.

ROSSI, Liene Regina; RODRIGUES, Olga SOIFER, R. Psiquiatria infantil operativa.


Maria Piazentin Rolim. Concepções dos Porto Alegre: Artmed, 1992.
professores do ensino fundamental sobre
SOUZA, I., et al. Comorbidade em crianças
TDAH. In: VALLE, Tânia Gracy Martins do
e adolescentes com transtorno de déficit
(org). Aprendizagem e desenvolvimento
de atenção. Arquivos de Neuropsiquiatria,
humano: avaliações e intervenções [online].
2001, 59(2-B), 401-406.
São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009. 222 p.
Disponível em: <http://books.scielo.org> SURUAGY, Simone Mello; BOTTO, Ana
Suruagy. PSIQUEWEB. Histórico (2009).
ROTTA, N. T. et al. Transtornos da apren-
Disponível em: http://www.psique.med.br/
dizagem: abordagem neurobiológica e multi-
content/index.php?option=com_content&-
disciplinar. Porto Alegre: Artmed, 2006.
view=article&id=224:historico&catid=66:-
SANTOS, Letícia de Faria; VASCONCE- transdefiatencao2&Itemid=91
LOS, Laércia Abreu. Transtorno do Déficit de
TIBA, Içami. Quem ama educa. 6. ed. São
Atenção e Hiperatividade em Crianças: Uma
Paulo: Gente, 2002.
Revisão Interdisciplinar. Psicologia: Teoria e
Pesquisa. Out-Dez 2010, Vol. 26 n. 4, pp. 717- Tratamento da Hiperatividade Infantil e
724. Disponível em: http://www.scielo.br/ Déficit de Atenção. Disponível em <www.
pdf/ptp/v26n4/15.pdf psiqueweb.med.br/trat/
SEGENREICH, D.; MATTOS, P. Atualização VASCONCELOS, L. A. Análise comporta-
sobre comorbidade entre transtorno do dé- mental do Transtorno de Déficit de Atenção
ficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e e Hiperatividade: implicações para avaliação
transtornos invasivos do desenvolvimento e tratamento. In: GUILHARDI, H. J. (Org.). So-
(TID). Rev. Psiquiatr Clin., 2007, 34 (4),184- bre comportamento e cognição. Santo An-
90. dré, São Paulo: ESETec, v.10, cap.15, p.144-
154, 2002.
SILVA, Maria de Lourdes Rufino Leal. “Uma
atitude diante de alunos hiperativos” Revista ZANOTTO, M. L. Subsídios da Análise do
90

Comportamento para a formação de pro- copedagógica. Lisboa: Ancora, 2004.


fessores. In: HUBNER, M. M. C.; MARINOTTI,
PAÍN, Sara. Diagnóstico e tratamento dos
M. (Orgs.). Análise do comportamento para
problemas de aprendizagem. Trad. Ana Ma-
a educação. Contribuições recentes. Santo
ria Netto Machado. Porto Alegre: Artes Mé-
André, São Paulo: ESETec, p.33-47, 2004.
dicas, 1992.
ALSOP, Pippa; MCCAFFREY, Trisha (orgs).
PATTO, M. H. S. A produção do fracasso es-
Transtorno emocionais na escola: alternati-
colar: histórias de submissão e rebeldia. São
vas teóricas e práticas. 2 ed. Trad. Maria Bo-
Paulo: T. A. Queiroz, 1990.
lanho. São Paulo: Summus, 1999.
RAPOSO, N. V. Estudos de psicopedago-
BEAUCLAIR, João. Para entender psicope-
gia. 2 ed. Coimbra: Ed. Coimbra, 1995.
dagogia: perspectivas atuais, desafios futu-
ros. 3 ed. Rio de Janeiro: Wak, 2009. SÁNCHEZ-CANO, Manuel; BONALS, Joan.
Avaliação psicopedagógica. Trad. Fátima Mu-
BOSSA, Nadia A. A psicopedagogia no Bra-
rad. Porto Alegre: Artmed, 2008.
sil: contribuições a partir da prática. Porto
Alegre: Artes Médicas, 2000. SILVA, Vanessa Ferreira. Problema de
Aprendizagem: Possíveis Intervenções
CHAMAT, Leila Sara José. Técnicas de in-
Psicopedagógicas (2002). Profala. Dispo-
tervenção psicopedagógica para dificulda-
nível em: http://www.profala.com/artedu-
des e problemas de aprendizagem. São Pau-
cesp108.htm
lo: Vetor, 2008.
TELES, Antonio Xavier. Psicologia moder-
CORREIA, L. M. Alunos com necessidades
na. 23 ed. São Paulo: Ática, 1983.
educativas especiais na classe regular. Porto:
Ed. Porto, 1997. WEISS, Maria Lucia Lemme. Psicopedago-
gia clínica: uma visão diagnóstica. Porto Ale-
CORREIA, L.M.; MARITNS, A. P. Dificulda-
gre: Artes Médicas, 1992.
des de aprendizagem: o que são, como en-
tendê-las. Porto: Ed. Porto, 1999.

FERNÁNDEZ, Alícia. A Inteligência Aprisio-


nada: Abordagem Psicopedagógica Clínica
da Criança e sua Família. Trad. Iara Rodrigues.
Porto Alegre: Artes Médicas, 2008.

FIORI, Nicole. As neurociências cognitivas.


Trad. Sonia M.S. Fuhrmann. Petrópolis (RJ):
Vozes, 2008.

FONSECA, Vítor da. Cognição, Neuropsico-


logia e Aprendizagem: abordagem neuropsi-
cológica e psicopedagógica. 4 ed. Petrópolis
(RJ): Vozes, 2009.

FONSECA, Vitor da. Dificuldades de apren-


dizagem: abordagem neuropsicológica e psi-
91

ANEXO

Uma pesquisa realizada por Rossi e Ro- cativo de acertos que demonstre domínio
drigues (2009) procurou descrever como em identificar e diferenciar o TDAH.
professores de ensino fundamental iden-
A análise da quantidade de acertos por
tificam e definem TDAH.
questão mostrou que não há um conjun-
O Inventário para Identificação de Sin- to expressivo de comportamentos sobre
tomas de TDAH constou de duas partes: na TDAH ou ainda sobre outras patologias
primeira, havia um espaço para os dados que os professores dominem. Variaram
demográficos do professor e, na segunda, muito os acertos para cada questão. Das
cinquenta afirmações, sendo trinta sobre questões, em apenas três delas os pro-
sintomas de TDA, TDH e TDAH e vinte de fessores apresentaram consenso.
outras patologias, contendo espaço para
Analisando em separado as questões
a anotação da resposta pelo professor
referentes à TDA, TDH, TDAH e outras pa-
(questionário abaixo). Esse inventário foi
tologias, observou-se que os professores
elaborado especialmente para essa pes-
acertaram mais sobre TDH e menos sobre
quisa a partir dos comportamentos des-
TDAH. Os da Escola 1 foram mais compe-
critos no DSM-IV (2002) e contou com a
tentes que os professores da Escola 2 ao
participação de um professor da disciplina
identificar os sintomas de TDA, que iden-
de Psicopatologia da Unesp-Bauru.
tificaram melhor “outras patologias”.
A aplicação do Inventário para Iden-
A análise das definições de TDAH foi
tificação de Sintomas de TDAH para os
feita para o conjunto dos professores (39)
professores de duas escolas de Ensino
sem especificar as escolas. Observa-se
Fundamental de uma cidade paulista de
que as definições se referem aos exces-
pequeno porte mostrou que os profes-
sos comportamentais (exemplo: “agita-
sores, no geral, sabem muito pouco dife-
do, inquieto...”), consequências destes
renciar os sintomas para TDAH. Conside-
na aprendizagem ou em relacionamentos
rando o desempenho dos professores das
sociais (exemplo: “prejudica o relaciona-
duas escolas no Inventário, percebe-se
mento social e irrita os colegas”) e com-
um melhor desempenho dos professores
portamentos diretamente relacionados
da Escola 1, pois 50% deles acertaram de
com a aprendizagem (exemplo: “não pres-
71% a 80% das questões. Já na Escola 2,
ta atenção”). Nas definições, observou-se
a maioria dos professores (58%) acertou
que, pelo menos parcialmente, a maioria
de 61% a 70% das questões do Inven-
dos professores define o TDAH. Porém,
tário. Em ambas as escolas, apenas um
ainda são definições incompletas, que de-
professor de cada (5%) acertou acima de
monstram conhecimento da questão pau-
80%. Os resultados parecem indicar que
tando-se pelo senso comum.
os professores da Escola 1 são mais infor-
mados e confundem menos o TDAH com Nota-se neste estudo que os profes-
outras psicopatologias, porém, em ambas sores da Escola 2 são mais jovens e parti-
as escolas não houve um número signifi- cipam mais de cursos rápidos (99%) e de
92

especialização (47%) do que os professo- a incidência é inferior a 5%. Por outro lado,
res da Escola 1. Apesar de mostrarem-se nos Estados Unidos e Canadá, Szatmari et
mais ativos e empenhados na busca de al. (1989 apud ROSSI; RODRIGUES, 2009)
conhecimentos, os professores da Escola afirmaram que o problema ocupa cerca de
2 mostraram piores desempenhos em to- 30% das consultas de saúde infantil.
dos os instrumentos neste estudo.
Apesar de existirem prevalências tão
Os autores ainda enfatizam que o TDAH diferentes, em geral, há algum consenso
permanece mal compreendido e contro- de que a prevalência está próxima de 5%
verso nas informações do público em ge- da população infantil, com um predomínio
ral e das autoridades educacionais. de 3:1 (meninos para meninas), embora
isso varie segundo a idade e nível socioe-
Para eles, a dificuldade começa na
conômico (CONDEMARÍN et al., 2006).
identificação e encaminhamento adequa-
do dos alunos com TDAH, principalmente Fica aqui a dica para vocês: o ponto
porque o transtorno não está descrito de partida, então, é informar, ensinar e
de maneira objetiva quanto à sua delimi- orientar o professor sobre o que é TDAH,
tação e ao uso de critérios para se fazer suas causas, diagnóstico, prevalência, en-
o diagnóstico, influenciando os dados da fim, tudo o que esclareça o professor so-
prevalência (que variam nos diferentes bre o assunto e, tão importante quanto,
países: EUA, Nova Zelândia, Alemanha, In- fornecer subsídios, por meio de técnicas
glaterra, Taiwan, Itália, dentre outros). cognitivo-comportamentais, para que
ele possa atuar (fornecer ajuda, incenti-
Jensen (2000 apud ROSSI; RODRIGUES,
vo e apoio) com esse aluno que apresenta
2009), ao descrever os obstáculos que di-
comportamentos inadequados e/ou difi-
ficultam sua apropriada identificação e a
culdades escolares.
obtenção de dados cientificamente váli-
dos sobre sua evolução, etiologia, preva-
lência e tratamento, questiona: será que
o TDAH deve ser conceitualizado como
transtorno ou faz parte do extremo de
um continuum do desenvolvimento nor-
mal? Condemarín et al. (2006) relataram
que, ainda hoje, não há um consenso en-
tre profissionais que trabalham no campo
da psicopatologia infantil a respeito da
prevalência exata do TDAH na população,
apesar de ser considerado um dos trans-
tornos mais comuns da infância. A autora
relata que os dados variam segundo o in-
vestigador, o local, os critérios diagnós-
ticos empregados, as fontes de informa-
ção, bem como o conceito e definição de
TDAH. Segundo a autora, no Reino Unido,
93

Abaixo, há uma série de descrições de pera que permaneça sentado.


comportamentos frequentemente apre-
7. ( ) Falta de flexibilidade, é imprevisí-
sentados pelos alunos na escola, dentre
vel.
eles os comportamentos referentes a
crianças que possuem o TDAH. Faça um 8. ( ) Fracasso em usar os sons da fala
“X” nos itens que correspondem ao TDAH: esperados para o estágio do desenvolvi-
mento.
1. ( ) Não presta atenção em detalhes
ou comete erros por omissões em ativida- 9. ( ) Não segue instruções e não termi-
des escolares, de trabalho ou outras. na seus deveres escolares.
2. ( ) Funcionamento intelectual signifi- 10. ( ) Agita as mãos ou os pés ou se re-
cativamente inferior à média. mexe na cadeira.
3. ( ) As habilidades de escrita estão 11. ( ) Fala em demasia.
acentuadamente abaixo do nível espera-
12. ( ) Comprometimento grave e per-
do.
sistente da interação social, interesses e
4. ( ) Comprometimento qualitativo da atividades.
interação social, da comunicação e pa-
13. ( ) Difícil de agradar.
drões restritos e repetitivos de compor-
tamento, interesses e atividades. 14. ( ) Medo acentuado e persistente de
uma ou mais situações sociais ou de de-
5. ( ) Dificuldade para manter a atenção
sempenho, nas quais a criança é exposta a
nas tarefas e atividades lúdicas.
pessoas estranhas. A ansiedade é expres-
6. ( ) Abandona sua carteira em sala de sa por choro, ataques de raiva, imobilida-
aula ou outras situações nas quais se es- de ou afastamento de situações.
94

15. ( ) É facilmente distraído por estí- não rítmicas e estereotipadas).


mulos alheios à tarefa.
29. ( ) Capacidade matemática está
16. ( ) Age como se estivesse a “todo o acentuadamente abaixo do nível Espera-
vapor”. do.

17. ( ) O desempenho em atividades diá- 30. ( ) Evita, demonstra ojeriza ou relu-


rias que exigem coordenação motora está ta em envolver-se em tarefas que exijam
substancialmente abaixo do nível espera- esforço mental constante.
do, considerando a idade cronológica e a
31. ( ) Perde as coisas necessárias para
inteligência medida do indivíduo.
tarefas ou atividades.
18. ( ) Não aprende com erros passados.
32. ( ) Agressividade.
19. ( ) Dificuldades de linguagem recep-
33. ( ) Dificuldade para aguardar sua
tiva e expressiva que acabam interferindo
vez.
significativamente no rendimento escolar
ou na comunicação social. 34. ( ) Perturbação na fluência e no rit-
mo da fala: repetição de sons e sílabas, re-
20. ( ) Rendimento em leitura está acen-
petições de palavras monossílabas com-
tuadamente abaixo do nível esperado.
pletas, palavras truncadas, dentre outras,
21. ( ) Parece não ouvir quando lhe diri- que acabam atrapalhando o rendimento
gem a palavra. escolar.

22. ( ) Dificuldade para organizar tare- 35. ( ) Apresenta esquecimento em ati-


fas e atividades. vidades diárias.

23. ( ) Corre ou escala em demasia, em 36. ( ) Comportamentos incendiário e


situações impróprias. proposital em mais de uma ocasião. Ten-
são ou excitação afetiva antes do ato.
24. ( ) Não tem noção de perigo.
37. ( ) Dificuldade para brincar ou se en-
25. ( ) Comportamento motor repeti-
volver silenciosamente em atividades de
tivo, não funcional e aparentemente in-
lazer.
tencional, comportamento que interfere
acentuadamente nas atividades normais 38. ( ) Dá respostas precipitadas antes
ou provoca lesão corporal autoinfligida de as perguntas terem sido completa-
que exige tratamento médico. mente formuladas.

26. ( ) Fica aborrecida com atividades 39. ( ) Interrompe ou se intromete em


não estimulantes ou rotineiras. assuntos alheios.

27. ( ) Apresenta percepção sensorial 40. ( ) Perturbação persistente da per-


diminuída. sonalidade que envolve um acentuado
desvio do desenvolvimento normal.
28. ( ) Tiques motores e/ou vocais, iso-
lados ou múltiplos (i.e, movimentos ou vo- 41. ( ) Dificuldade em terminar uma ati-
calizações súbitas, rápidas, recorrentes, vidade ou trabalho.
95

42. ( ) Déficits ou comprometimentos no


funcionamento adaptativo atual em pelo
menos duas das seguintes áreas: comuni-
cação, cuidados pessoais, vida doméstica,
habilidades sociais/interpessoais, uso de
recursos comunitários, independência,
habilidades acadêmicas, trabalho, lazer,
saúde e segurança.

43. ( ) Fracasso persistente para falar


em situações sociais específicas (ex. na
escola), apesar de falar em outras situa-
ções.

44. ( ) Apresenta problemas de sono.

45. ( ) Frustra-se com facilidade.

46. ( ) Perturbação da linguagem ex-


pressiva que pode manifestar-se por sin-
tomas que incluem um vocabulário acen-
tuadamente limitado, erros nos tempos
verbais ou dificuldades com a evocação
de palavras ou com a produção de frases
de extensão ou complexidade próprias do
estágio evolutivo.

47. ( ) Não reconhece os limites dos ou-


tros.

48. ( ) Fracasso recorrente em resistir


a impulsos de furtar objetos desnecessá-
rios para o uso pessoal ou destituídos de
valor monetário.

49. ( ) Apresenta comportamento re-


corrente de arrancar os cabelos, resultan-
do em perda capilar perceptível.

50. ( ) Dificuldade de relacionamento


com colegas e nos estudos.
96

Vous aimerez peut-être aussi