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Paulo Roberto Ottoni VISAO PERFORMATIVA DA LINGUAGEM John tangshaw Austin Performativo-Constativo Tradugio de Pauls Rober OWoni \ CAMPINAS EDITORA DA UNICAMP 1998 ~~ PERFORMATIVO-CONSTATIVO JOHN LANGSHAW AUSTIN © texto “Perfor Constai,escito em francés, fok aprexenta mo en eanga em margo de 05H ¢ ets public noe Cahter de Revaumen aris, Les Bdtions Je Agu, 1982 pp. 271-304 Durante 8 teaueso oh ‘0 les Phitsophy ad Ordinary Langone, sitabo por Chases Caton, Univeshy of inoie res 1963, pp. 22-54 Performativo-Constativo Pode-se muito bem fazer uma idéia do enunciado performative, termo, sei disso, que nio existe na lingua francesa, nem em outros lugares, Esta idéia fot imtroduzida para contrastar com a do enunciado declarative, ou melhor, como © chamarei, constativo. Bis af 0 que questionarei, Esta antitese performativo-constativo, devemos aceité-la? ‘© enunciado constative tem, sob 0 nome de afirmagao to queride dos fildsofos, a propriedade de ser verdadeiro ou falso, Ao contrario, o enunciado performative rndo pode jamais ser nem um nem outro: tem sua propria funcao, serve para realizar uma ago. “Formular um tal enunciado" € realizar a acao, ag2o, talvez, que ado poderia ser realizada, ao menas com uma tal precisao, de neahum outro modo. Bis alguns exemplos Batizo este navio “Liberdade" ego desculpa. Eu te desejo boas-vindas, Eu te aconselho a fazer. ‘Tals enunciados si0 muito frequentes: so encontrados, por exemplo, em todas as eldusulas de um instrumento legal que se chama em ingles operative.” Bvidente- mente, muitos deles nao sio sem interesse para os filésofos: dizer “eu prometo...", formular, como se diz, esse enunciado performative, & 0 proprio ato de fazer promessa; ato, como vemos, nao-misterioso, F vé-se logo que um tal enunciado no pode ser verdadeiro ou falso, ~ nao pode ser, digo, jd que ele pode muito bem implicar que oucras proposigoes sao verdadeitas ou sto falsas, 0 que, se alo me engano, é uma outta questio, 1 To jee sich an utterance mt Entretanto, 0 enunciado performativo ndo est isento de critcas: pode-se muito bem critic-Io, mas numa dimenso completamente diferente daquela da verdadeiro € do fal- so. E preciso que 0 performativo seja emitido numa situago que, em todos os pontos, seja apropriada 20 ato em questio: se 0 autor nio esti em condigbes exigidas para agir (© hhd uma quantidade destas condigdes), enti seu enunciado seri, como 0 nomeamos ge- ralmente, “infeliz” (unhappy) Inicialmente, nosso performativo, como qualquer outro ritual ou cerimdnia, pode ser ‘nulo ou sem efeito”, como dizem os homens da lei, Se, por exemplo, o autor ndo lest em posicio de realizar um tal ato, ou se o objeto em telacio ao qual pretende efetui- Jo ndo € proprio para sustents-lo, ento no consegue, unicamente formulando seu enum ciado, completar o ato pretendide. O bigamo sem ser casado uma segunda vez 6 tem ‘forma do segundo casamento. Nao posso batiaar 0 navio se nO sou eu a pesson aUlO- ‘ada a batizé-lo; no chego a batizar pingSins, criaturas pouco suscetiveis a esta proeza Em seguida, 0 enunciado performativo, embora nfo seja nul, pode ser “infeliz" de ‘uma outia maneita, isto é, se € formulado sem sinceridade, Se digo "eu prometo.., sem tera menor intencao de realizar esta acho prometida, talver mesmo sem pensar que es: teja em meu poder realied-la, a promessa ¢ vazia. Fla € feita evidentemente; entretant, hi uma “infelicidade®* houve um abuso da formula, Suponhamos agora que nosso ato tenha sido efetuados tudo se passou normalmente ‘© também sinceramente. Neste caso, o enunciado performative tem o costume de “ter feito”, Por iso no queremos dizer que tal ou tal acontecimento futuro & ou xeré produzida ‘como efeito deste ato funcionando come causa. Queremos dizer melhor que, pela sequién- cia da realizayao deste ato, tal ou tal acontecimento Futuro, se ocorrer, estar nz regra e aque tal ou tal outta acontecimento, se ocorter, no estar na fegra. Se eu disse: “eu prometo isto..", nfo estarei na regra se falto com minha palavra; se eu disse: “eu te desejo boas. viindas", nlo estarei na regra se te tralo como um inimigo ou um intruso, E assim que dizemos que, mesmo quando o performativo entra em vigor, existe sempre uma terceira espécie de infelicidade que chamamos de *quebra de compromisso”." Pode-se observat, 3 “unhappiness 4 “Breach of commitment. nz lids, que os compromissos podem ser mats ou menos vagos ¢ que podem nos ligar em ‘graus bastante diferentes, is, entlo, ts espécies de infelicidade que se associam 20 enunciado performative. Pode-se fazer dessa infelicidades toda uma classificagdo, somente & preciso admitir que ‘podem frequientemente se misturar e mesmo se confundit. Além disso, € preciso acres- Centar que nosso performative & a0 mesmo tempo acdo.e enunciado: ent, coitado, ele deve ser suscetivel de estar acima do padrio de todas as maneiras de ser da ayo em geral também do enunciado em geral. Por exemplo, 0 pesformativo pode ser emitido sob restricio ou por acidente; pode apresentar problemas de sintaxe ou de mal-entendidos, pode aparecer num contexto pouco “sério", numa peca de teatro, talvez, ou Aum poema ‘Tudo isto nés vamos deixar de lado ~ lembrar-nos-emos somente das infelicidades mais, especticas do performative, isto &, da nulidade, do abuso (alta de sinceridade) e de quebra «de compromisso, ‘Agora que lemos esta idéia do performativo, € natural esperar que se encontee al- ‘gum ertério, soja gramatical seja de vocabulirio, que nos permiliré resolver, em cada caso, a questo de saber se tal ou tal enunciado € performativo ou nao, Esperanga exagerada & em grande parte va. ‘E verdice que existem duas “formas normais", por assim dizer, nas quais o performative cencontra sua expressio. A primeira vista, todas a8 duas, coisa bem notivel, &m aparéncia de constaivo, Uma destas formas normais a que jé utilizei para construir meus exemplos: fo inicio do enunciado enconira-se um vero na primeira pessoa do singular, no presente do indicativo, na vox ativa. Assim: “eu te prometo que...” A outta forma, completamente ‘equivalente, mas que se encontra sobretudo nos enunciados emitidos por esctito,serve-se, ‘a0 contritio, de um verbo na vo2 passiva e na segunda ou terceira pessoa do presente do indicativo, Assim “os passsageiras estio convidados a uuiiaar a passarela para atravessar as pitas." Se algumas vezes perguntamos, ¢ isso pode ocorrer, se um enunciado qualquer com ‘esta forma & performativo ou constavo, resolver-se~i a questo penguntando se nbs podemos, inseriralguma frase que equivale & palavea inglesa hereby, isto €, “por meio desta" ‘Servimo-nos, pata por a prova Os enunciados que se poderiam acreditar performatives, de uina assimetsia bem conhecida entre a primeira pessoa do presente da indicative do ‘verbo, quando 0 verbo &, como dizemos, “explicitamente performativo" e as outras pes a5 ¢ tempos do mesmo verbo. "Eu prometo”, Formula que ulilizamos para realizar 0 ato de prometer; “eu prometi” ou “ele promete’, frases que utiizamos, 20 contro, somente para descrever ou relatar tal ato, no para efetus-lo 13 Entretanto, no € totalmente necessério que um enunciado, para ser perfor mativo, seja expresso numa destas formas ditas normais. Dizer "feche a porta” & performativo e também € a realizagao de um ato, tanto quanto dizer *ordeno que Feche a porta’. Mesmo a palavra “clo”, sozinha, pode as vezes (ao menos na Inglaterra, pais pratico e pouco polido) tomar lugar do performativo explicito e formal efetua-se através desta palavra 0 mesmo ato que pelo enunciado “previno que o cio vat atacar", ou por, “pessoas estranhas estao avisando que existe aqui um cao brave" Para tornar performative nosso enunciada, e sem equivoco, podemos empregar, no lugar da formula explicita, virios expedientes mais primitivos como a entonagao, por exemplo, e 0 gesto; além disso, e sobretudo, o proprio contexto, no qual S40 pronunciadas as palaveas, pode tornar bastante certa a maneira pela qual se deve tomé-las ~ como deseri¢30, por exemplo, ou como adverténcia. "Clo", neste caso, di detalhes sobre a fauna do pais? Questes que nao temos necessidade de colocar neste contexte, isto é, na placa sobre o portdo. ‘Tudo 0 que se pode dizer, enfim, € que nossa formula explicita performativa eu prometo”, “eu ordeno” ete) serve para tornar explicito e ao mesmo tempo mais, preciso 0 que € o ato que se pretende realizar emitindo seu enunciado, Digo “tornar texplicito” © que no € a mesma coisa que afirmat, Ao me inclinat na sua frente, me descubro, ou entio digo “old”: entio, € certo, estou mostrando meu respeite a voc! ‘nao estou fazendo simplesmente gindstica; mas a palavra “ols”, do mais que o ato de me descobrit, no alirma de nenhum modo que estou eespeitando. € desse modo {que nossa formula constitu a emissio do enunciado, 0 ato que &, sem aliemar que & {As outras formas de expresso, sem formula explicita performativa, serio mais primitivas © menos precisas, poder-se-ia quase dizer mais vagas. Se digo, simples mente, “estarei ai", nao xe sabe, consideranda somente as palavras, se me engao, ou se declaro uma intencio, ou se fago uma previsio fatalista. Pode-se imaginar que as formulas precisas s4o um fendmeno recente na evolucio da linguagem © que ‘caminham juntas com 0 desenvolvimento das formas mais complexas da sociedade e da cigncla Entdo, no podemos esperar nenbum critério verbal do performative. Quando muito, podleriamos esperar que cada enunciado que é na verdade performativo possa ser reduzido (num sentido qualquer deste termo) a um enunciado numa ou noutta de nossas formas normais, Em seguida, paderemos, com a ajuda de um dicionario, fazer uma lista de todos o8 verbos que podem aparecer numa de nossas Formulas 14 explicitas. Chegaremos, assim, a uma classificagio dtl de todas as variedades de atos {que efetuamos ao dizer alguma coisa (em um sentido, a0 menos, dessa frase ambigua). is, endo, introduzidas as idéias do enunciado performativo, de suas infelicidades, & de suas formas explicitas, Mas falamos durante todo este tempo como se cad enunciado Udevesse ser ou constalivo ou performative, ¢ como se ao menos a idéia do constativo fosse tao clara quanto familag. Mas isto no € assim. Observemos, em primeifo lugar, que um enunciado que ¢ indubitavelmente uma afirmacio de fato, um enunciado constativo portanto, pode nao funcionar de mais de ‘uma maneira. Pode ser falso, naturalmente, mas pode também ser absurdo, ¢ nao neces: sariamente de maneita brutal (problemas de sintaxe, por exemplo). Gostaria de examinar mais em detalhe trés maneiras um pouco mais sutis de ser absurdo, das quais duas foram descobertas recentemente 1. Alguém diz: “Todos 0s filbos de Joao so carecas, mas (ou e) Jodo nao tem filhos ‘ou ainda, alguém diz: "Todos os filhos de Joao sio carecas”, quando, de fato,Jouo. filhos. 2. Alguém dis “O gato esta sobre o capacho, mas (ou) eu nao ereio que esteja"; ou ainda, alguém diz:“O gato esté sobre o capacho”, quando, de fato, ele no acredlita que 0 ato esteja ai 5, Alguém diz: “Todos os convidados slo franceses, alguns dentre eles nio 0 si0"; fou ainda, alguém diz: "Todos os convidados sto franceses’, logo apés diz: "Alguns den- tue eles no slo franceses.” Em cada um destes casos sente-se uma sensayao de ultrae, ¢ pode ser que cada vez {que tentemos expressi-la n6s nos utlizaremos da mesina palavra “implicag30” ou talvez do termo “vontradic2o", que consideramos perfeitamente adequado, Mas ha outros modos {de matar o gato além de afogé-lo na manteiga,* assim como, para fazer insulto a lingua ‘gem, nlo se tem necessidade sempre de contradicao, 5 Proverb inglés, ns Unilizemos trés termos, “pressupor" “implicar’,’ “acartetae* para nossos tres casos respectivamente, Entio: 1. Nao somente “0 flhos de Jodo sto eareca: mn, “08 filhos de Joao so casecas", pressupde que Jodo tem filhos. Falar destesfilhos ou a eles se referir pres- supde a sua existéncia. Ao contririo, nao & absolutamente verdadeiro que “0 gato nao {est sobre o capacho" implica, do mesmo mado que “o gato esta sobre o capacho”, que eu creio que ele alt esteja; e da mesma maneira, “nenhum dos convidados & francés" acarreta, do mesmo modo que “todos os convidados sao franceses", que € falso que al: ‘guns dos convidados nao sejam franceses, 2. Podemos muito bem dizer “Pode ser que ao mesmo tempo o gato esteja sobre 0 capacho ¢ cu nao crvio que ele lt esteja” Isto é, na0 ha de neahum modo incompati: lidade entre estas duas proposigdes, as duas podem ser verdadeiras juntas. O que & im= possivel & afirmar as duas 20 mesmo tempo: afirmar que o gato estd sobre o capacho, & isso © que implica que quem afirma acreditanisso. Ao contriri, no se podria dizer: "Pode ser que ao mesmo tempo Jodo nao tem filhos © que seus filhos so carecas”; também nao se poderia dizer: “Pode ser que a0 mesmo tempo todos 8 convidados sto franceses & alguns dentre eles no sto franceses, 43, Se "todos os convidaclos so franceses” acarreta "no € 0 caso que alguns dos con- vidados nfo slo franceses’,ent2o, alguns dos convidados nio sto franceses” acarneta "n20 €o-caso que todos 0s convidados sao franceses". Trata-se aqui da compatibilidade e da incompatibiidade das proposigGes. Ao contrio, nao € assim comn a pressuposigao: se “Os filhos de Jo2o sio carecas” pressupde que Joao tem filhos, ndo € absolutamente verdadei- +o que “Joao nao tem filhos” pressupe que os fihos de Jodo ado sto carecas, E do mesmo modo se “o gato esti sobre 0 capacho" implica que eu creio nisso, nlo é absolutamente 6 “Prenuppeon 16 vverdadeiro que “nao ereio que © gato esteja sobre capacho" implica que o gato nie estela ai (no mesmo sentide ao menos; aids ja se via que para nosso “implica” ndo se trata de incompatibilidade das proposigoes) Bis endo és maneiras pelas quais uma afirmagto pode deixar de funcionar sem que sejafalsa © nem mesmo algo completamente sem sentido, Gostaria de observar que estes tues modos de fracasso correspondem a trés das nossas maneiras pelas quais um enuncia- do pesformativo pode ser infeliz. Para estabelecer a comparacao, tomemos incialmente dois enunciados performativos: 4.°Bu te Lego meu relogio, mas (ou €) eu nio tenho rel6gio.” Ou alguém diz: “Bu te lego meu relogio, quando ele no tem rel6gio, 5. “Bu prometo estar af (ou €) nao tenho nenhuma fntengo de af estar." Ow alguém dias “Bu prometo estar ai” sem tera intengao de ai estar Comparemos 0 4 com o 1, isto €, com a pressuposigd0. Pois dizer ou “eu te lego meu rel6gio" ou “eu no te lego meu rel6gio" pressupde igualmente que tenho um rel6: Bio: a existencia do relogio & pressupasta pelo falo de que se fala disso ou que se relere 4 rel6gio aqui no enunciado performativa tanto quanto no enuinciada constative. E do mesmo modo que nés podemos nos uilizar aqui do termo "pressuposigao" emprestado dla doutrina do constativo, podemos jgualmente adotar para esta doutrina o termo “nulo” temprestado da doutrina das infelicidades do performativo. A afirmacto no caso dos filhos de Joao é, pode-se dizer, “nula pela auséncia de referencia’, 0 que diriam precisamente ‘0s homens da lei no caso da dita doacio do relogio. Eis entio um primeito caso em que tice a uma das infelicidadles que carac- ‘um embaraco que aflige as afirmacoes parece i terizam o enunciado performative, ‘Comparemos 0 5 com o 2, sto &, com 0 caso em que se “implica”. Do mesmo modo que dizer que o gato esta sobre'6 capacho implica que eu creio que ele a estea, do mesmo modo dizer que prometo af esta implica que tenho a intengao de af estar. © procedimen: to da afirmagio é destinado aqueles que eréem justamente no que dizer, do mesino modo que o procedimento da promessa ¢ destinado aqueles que tém uma certaintengio, a sa ber, a intencao de fazer a coisa prometida. Se ndo acreditamos, ou melhor, se nlo temos ‘estas intengdes, conforme 0 contetido de nosso enunclado, entdo nesses casos ha falta de sinceridade e abuso de procedimento, Se anunciamos 20 mesmo tempo que nao acrediae u7 mos, ov que nao temos a intengio, no momento em que fazemas a alirmagao ou a pro- rmessa, entdo é a isto que chamaremos auto-anulacio do enunciado, o que ocasiona nossa sensago de ultraje a0 escutt-lo, Este & mais um caso em que um embarago que aflige as afirmagdes € idéntico a uma das infelicidades que alligem os enunciados pexformativos Retomemos, agora, o 3 o acarretamento nas alirmagoes: E possivel encontrar nos performativos algo analogo a isto tamhém? Quando faco afirmacao, por exemplo, "todos 0 convidados sio franceses", no € que eu me engaje de uma maneira mais ou menos rigorosa para me conduzir no futuro de ta ou tal maneira, sobretudo pelo que diz respeito as afirmagoes que farei? Se na seqiléncia afiemo coisas incompativeis com meu enunciad (a saber, que todos fs convidados sao franceses), havera uma quebra de compromisso que se pode muito bem ser comparada Aquela que tem lugar quando digo “eu te desejo boas-vindas e em seguida comego a te tratar como um inimigo ou um intruso ~ e talvez melhor ainda, Aquela pela qual se torna reprovavel aquele que diz de inicio “€ assim que defino a palavra (enunciado petformativo) e depois em seguida se utiliza da palavra num outro sentido. Enfim, parece-me que o enunciado constative esta sujeita as infelicdades tanto quan- to © enunciado performative, e quase as mesmas. Além disso, utilizando-nos da chave que nos fornece a lista das infelicidades descobertas para os performativas, podemos ‘Ros perguntar se nao existem ainda varias infelicidades pas afirmacies além das ts que acabamos de mencionar. Por exemplo, acontece frequentemente que um performativo seja nulo porque aquele que o formula no esta em estado ou em posigao de realizar 0 ato que preiende fazer: posso dizer tantas vezes quanto quiser, “eu te ordeno", mas se ro tenho nenhuma autoridade sobre li, nfo te posso ordenar, ¢ meu enuinciado € nulo, meu ato ¢ 56 pretendido. Ora, tem-se a impressio de que se rata de uma afirmagao, de lum enunciadlo constativo, o caso € completamente diferente: ndo importa quem pode afirmar nao importa 0 que. E se se esta mal informado? E entao, pode-se nao er £3280, € tudo, Somos livres, como? Afirmar 0 que é falso & um direito do homem. E, entretanto, testa impressao pode nos conduzir a um erro... De fato, ndo ha nada mais comum que ddescobrir que no se pode afirmar absolutamente nada a respeito de alguma coisa por que nao se esté em posigao de afirmar o que quer que seja, © que pode, alii, acontecer por mais de uma razio, NZo posso aflemar neste momento quantas pessoas hé na sala Vizinha: nao fui ver, no me informei. E se digo, todavia, “ha cinquenia pessoas neste momento na sala Vizinha"? Vocé concordara talvez que disse isto por conjectura; que us firme! isto, voce nio concordari, 20 menos sem acrescentar “sem ter @ menor direito dle fazer isto"; €, neste caso, meu “afirmo" se coloca no mesmo nivel de seu “ordeno", dito, lembremo-nos, sem ter © menor direito para ordenar. Ainda um outro exemplo. Vocé me faz uma confidéncia: “estou chateado", respondo igualmente “voc® nao esti chateado". E voct: “O que voce quer dizer, que eu nao estou chateado? Com que direito € que voc’ diz como eu me sinto?” Eu: °E voce, que quer dizer com que direito? $6 afirmo 0 que so seus sentimentos, ¢ tudo, Posso me enganar, naturalmente, mas © que importa? Suponho que se possa sempre fazer uma simples afirmagao, nao €* Nao, nao se pode sempre fazer isso: comumente, no posso afirmar 0 que sio seus sentiments, ‘4 menos que voc# os tenha me revelado. ‘Ale aqui, observei duas coisas: que nfo existe nenhum critério verbal para distinguir © enunciado performativo do enunciado constativo, © que 0 constative esta sujeito as ‘mesmas infelicidades que 0 performativo. Vamos entio nos perguntar se isto nao €, antes de tudo, realizar um ato que formular um enunciado constalivo, a saber o ato de afirmar. Airmar € um ato no mesmo sentido que se casar, se desculpar, apostar etc.? Aqui nao pposso mais sondar este mistério, Entretanto pode-se jf ver que a Formula “afirmo que” & Inteiramente parecida com a formula “te previno que", formula a qual, como dissemos, serve para tornar explicito 0 ato de fala que efetuamos; ¢, além disso, que nao se pode ‘nunca emitir um enuinciado qualquer sem realizar um ato de fala deste genero. ‘Temos talvez necessidade de uma teoria mais geral dos atos de fala e nesta teoria ‘nossa antitese constativo-performativo tera dificuldade para sobreviver. ara nos aqui, resta ainda examinar, brevemente, esta mania de ser ou verdadero ou Faso, que se supe propria somente & afiemagio, e que deveria instalar a afirmagao sobre seu pedestal, Hors-concours. E desta ver comecemos pelo enunciado performative: & verdacde que nao se encontra nada aqui a0 menos andlogo a verdade? Tnicialmente, esta claro que, se se estabelece que um enunciado performative nao € infeliz, isto &, que o autor efetuou seu ato felizmente e sinceramente, isto nao é suficien te ainda para pé-lo a salvo de toda ertica, Pode-se sempre cnitica-lo numa outea dimen- Suponhamos que eu diga *aconselho que voeé faca assim", ¢ admitamos que todas as crcunstincias sejam apropriadas, que as condicbes de sucesso sejam preenchidas, Di- endo isso, aconselho voce efetivamente a fazer assim ~ ndo € que eu afirme, verdadei- ramente, falsamente, que aconselho a voc®. Isso € entio um enunciado performativo. Co- Toca-se do mesmo modo, ainda, uma pequena questo: Este consetho foi bom ou mal? De ng acordo, falei com toda sinceridade, pensei que iso seria de interesse para voc®: Mas tive razio? justifiquei nestas circunstancias ter pensado assim? Ou, o que tem talvez menos Jimportincia, 0 acontecimento ou de fato isto ter sido de interesse para voc®? F a contron ‘agao com situacao em que e em relagao a qual ele fi formulado, Tive dieito, mas estava “Muitos outros enunciados que tém aparéncia incontestavelmente performativa dao Iugara esta segunda critica. Admitamos que voce tenha conseguido o veredicto devida mente e de boa fé, declarando 0 acusado culpado; resta saber se 0 veredicto fot justo ou cequitativo, Admitamos que voc? tena © direito de censuri-lo como voc fez, que voce no 0 fez por maldade; podemos, apesar de tudo, nos perguntar se a sua reprimenda fot merecida. Ainda uma confrantagao com os fatos, al compreendidas as citcunstaneias da ‘oeasito da formulagto, Pode acontecer que os enunciados performativos nao estejam todos € sem excegio sujetos a esta avaliagdo quase objetiva, que deve, aids, ficar vaga e multiforme. ‘Aqui est o que seré de preferéncia levantado como objecao a toda comparagao entre cesta segunda ertica ea erica propria As afirmagdes: Estas questoes de bom ¢ de justo, de ceqiitativo, de mérto, s40 completamente distintas da questio do verdadeiro ¢ do falso? Isto nao é uma questo muito simples, de preto e branco: ou o enuaciado corresponde 08 fatos ou nao corresponde, e 6 ‘Quanto @ mim, nlo ereio nisso. Mesmo que exista uma classe bem definida de afir- mages, a qual podéemos nos restringlr, esta classe seri sempre muito ampla, Nesta classe, Ho as seguintes afirmagbes: A Franca & hexagonal ‘Lord Raglan ganhou a batalha de Alma, Oxford fica 2 100 km de Londres. B verdade que, para cada uma destas afirmag6es, pode-se colocar a questao: “verds- deiro ou falso", Mas € s6 em casos bem favordveis qule devemos esperar uma resposta, ‘sim ou nao, de uma vez por todas. Colocando a questo, compreende-se que o enuaciatlo deve ser confrontado de uma maneira ou de outra com os fatos, Bvidentemente, Confeon- temos entio “a Franca & hexagonal” com a Franca. Que dizer, verdade ou nao? Questio, ‘vemos, simplista. Bem, se voce quiser, simplista até certo ponto; podemos ver 0 que voce quer dizer: sim talvez, com tal objetivo ou com tl propésito, para as pessoas em geval 120 isto pode ser, mas nio para os geografos. E assim sucessivamente. & uma afimiacio-esbo- 0," mas nao se pode dizer que ela seja falsa simplesmente, E'Alma, batalha de um nico Soldado, se ele nunca li esteve:é verdade que Lord Raglan tinh 0 comando do exército aliado, € que este exército ganhou de um certo mado uma espécie confusa de vitoria; sim, isto seria jusificado, merecida até, para os escolares, pelo menos, ainda que verda- deifamente um pouco exagerado, E Oxford, sim é verdade que esta cidade fica a 100 km de Londres, se voc? nao quer um certo grau de precisa0, Sob o titulo de “verdadeiro", o que temos de fato nao & de jeito nenhurn uma sien- ples qualidade nem uma relagio, nem uma coisa qualquer, mas de preferéneia toda uma dimensio de critica. Pode-se fazer uma ideia, talvez nao muito clara esta critica: 0 que festa clara € que ha uma porgao de coisas a considerar e a pesar nesta Gnica dimensto — os fatos, sim, mas também a stuacio de quem falou, a finalidade com a qual falou, seu audi- {Grio, questbes de precisao etc: Se nos contentassemos em nos eestringir a afirmacdes de ‘uma simplieidade idiota ou ideal, ndo chegarlamos nunca a desemaranhar 0 verdadeiro do justo, eqditativo, merecid, preciso, exagerada ete,, 0 resumo e 0 detalhe, o desenvalvi doe 0 concise, €0 rest. Enfim, deste lado também, do lado do verdadeira ¢ do falso, sentimo-nos levados a relletir de novo sobre a antitese Performativa-Constalivo, Temos necessidade, parece-me, Ede uma doutrina nova, 20 mesmo tempo completa e geral, do que se faz a0 dizer algu -ma coisa, em todos os sentidos desta frase amigua, ¢ do que chamo de ato de fala," nio sob tal ou tal aspecto somente, abstracao feita de todo o resto, mas tomado na sua totali- dade “Rough statement 10 “The speect-acr 121 Discussio Presidente: W. V. Quine MLE, Well Gostaria de colocar uma questio. £ verdadeiramente uma questo, 0 contririo de uma objecio. Parece-me, refletindo sobre as ttimas paginas da sua éxposi¢l0, que hhaveria talvez uma solucio a ser esbocada, a propésito da dificuldade que vocé levan- tou, se invertemos o problema, ¢ se perguntamos se todos os enuinciados do dia-aia, ou quase todos, nao sio, na verdade, performativos. Dizendo da “vida ordinéria’, fago excecdes, bem entendido, aos exemplos dados pelos logicos. Quando um logico dé uum exemplo, esse exemplo nao € performativo, mas o fato de ele dar esse exemplo & performativo, O que quero dizer: quando digo a alguém “0 tempo esta bom” na con: versac2o, eu “realizo" um ato: me engajo na conversacio. Minha formula muitas vezes 1ndo tem outro valor sendo o de me introduzir, e de me engajar no seu turno e respon der, Ela nao consiste num julgamento sério, verdadeiro ou falso, sobre como esta 0 tempo. Se tomamos a formula ao pé da letra, podemos responder alguma coisa como: “estou vendo", ot) "em que vooe acha que Isto me interessa?", mas esta resposta, pela sua insolencia’ ov pela sua agressividade, nao deixaria de provocar alguma inquietude sobre o estado de espirito daquele que a deu, Isso acontece sempre com milhares de Danalidades desse genero, Ora, a conversago nao € outra coisa senao um tecido de ba- nalidades Pergunto-me agora se no seri necessério distinguir as expresses ou formas “expressamente” performativas daquelas que s6 0 $30 implicitamente pelo seu su- bentendido, F seria talver o caso de analisar as situagdes linguisticas, se posso em- pregar esse termo, e as implicacoes performativas que essas situagdes ou produzem fou contém, 13 1M, Austin Fstou interamente de acordo nesses dois pontos. Fayo eu mesmo frequentemente uma distingzu ene os explicy performative formulas ¢ os peimary ou primitive utterances € creio na mesma distineso que Voce quer inteodzir. Quanto a saber se estamos em condigdes de poder afirmar que todos os enunciados da linguagem ordindria sto de fatos perfortnativos, isto & uma outta coisa. Tendeviamos a scredilar nisso, quando encaramos as coisas do ponto de vista'no qual me coloco aqui. texemplo classico dos enunciados constativos € aquele em que se di: "eu afirmo que Parimos dai c logo encontramos. “eu te previno que. E ainda uma declaragao ou ja € tama ameaca?E se € ainda um enunciado constativa, como nés distinguiemos estes dois sos! Nao haveriaalver grande problema se fossem confundidos, se cada vez mas Wve semos percebido, em todas as fines da inguagem ordinaria,o enunciado performative expifito,o que afasta, hem entendido, toda margem precisa da distingao da qual nbs parimos, £ exatamente para esse género de difculdadee que chamei a atencao 20 longo a minha exposigao “Tudo o que me aventuraria a dizer em resposta a sua questo € que, partindo de ‘uma distingSo muito vaga, entre 0 simples eaunciado (stating) e o ato (ordering), encon- {ramos no camino um certo nimero de eifieuldades que nos levam a modifica sensivel mente nossa peimeita anlise, a no mas ver somente dois pes de speech acts no inte- rior da inguagem, o que nos leva a retomar no seu conjunto nossa concepeo da ling zgem que poderia se dar mito mal nos testes sem que n6s estivessemos emt condigoes 4inda de formular urna teora englobando toda a especie de speech-act Dito iso, estou interamente de acordo com voce M. Hare Pergunto-me se a confusio nao vem em parte do fato de que a dupla € utlizada realmente pasa marear duas espécies de distingoes. Nao digo que o professor Austin as cconfunde; mas me pergunto se certas passagens da sua exposigo nao levam essa confu- io A mente daqueles que a escutam. 1. Ha primeiramente a distincao estabelecida pelos ldgicos entre duas maneiras de ‘exprimir, ot de fazer, a mesma coisa: por exemplo, entre “eu te ordeno que faga ito ou 18 aquilo” ¢ “faca isto ou aguilo”, ou entre “eu declaro que o gato esta sobre 0 capacho" ou “olhe, gato esté sabre o capacho!” 2. Mas ha também a disting20 entre os diferentes atos de linguagem; entre aqueles que nds fazemos quando afirmamos alguma coisa a prop6sito nao importa do que: € aque Jes que fazemos quando nés pronietemos alguma coisa a alguém: ou o que fazemos quando pedimos a alguém para fazer alguma coisa ete. ete [As duas distinedes tendem a se confundir, porque em cestos casos ambas se aplicam. em nome destas duas que nds dstinguimos, por exemplo, ‘prometo fazer isto ou aquilo” 1 %0 gato esti sobre 0 capacho” arece-me que M. Austin, sobretudo no final da sua exposigfo, autoriza alguns ouvintes 1 pensar que € porque podemos formar tanto enunciados de um fato, como de uma ordem, or exemplo, ou usa promessa, da maneira solene e formal “digo que”, “ordeno que", “20 romero que." no lugar de utlizar oindicativo, 0 imperativo ou © futuro (istincd0 n® 1), que estamos no direito de pensar que eles no sio também diferentes uns dos outros que levaria, 4 crer nossa distingo n® 2. No estou dizendo que essa confusdo esti na nossa mente, mas acredito que esclareceria muito 0 problema, para um hom nimero de pessoas, fabricar uma ‘outra dupla de termos permitind dstinguir, entre eles, estas duas distingdes M. Austin Sua questio se aproxima muito daquela que me colocou M. Welle acredito que minha resposta ndo podera ser diferente. A dificuldade, se hi dificuldade, advinda da distingao tentre 0s enunciados performativos ¢ outra classe de enunciados, que se supoe querer se ‘opor aquela, mas que se evita, em muitos c2s0s, definir de outea maneiea em termos musko vagos, $6 foi obtida, de partida, quebrando a cabeca sobte os primeiros exemplos, que ccontém, de Fato, quando nds os examinamos mais de perto, o que chamo de formas explt citamente performativas do tipo: “eu te prometo que..." “eu te advito." ete. Mas perce: Demos logo de inicio que para prometer ou ameacar no & necessirio servirse esses desvios e que, num grande nimero de casos, tem que se ir diretamente ao assunto, Essa constatagio leva a distinguir que eu chamo de performativo explicito do performativo Drimacio exatamente como de outa maneita NOs distinguimos 0 constativo explieito e o constativo primario. O que aio quer dizer que a diferenga entre performative e constaivo seja sempre clara, como eu disse na minha exposi¢io. 125 [Nao acredito ento que haja uma verdadeita confusio (se nao talvez na ordem hist6- riea em que estas dstingbes so introduidas na flosofia) mas, sobrenido, falta elaborayio talvex nas nossas discussdes sobre esse assunto, May nao estou muita seguro para compreender a que genero de dificuldade filo sofica M, Hare actedita que a eonfusdo, se hd confusio, pocleria nos conduzir. Se reto- masse suas observagées, iso tefrescaria talver minha meméria ¢ contiibuiria paca es- clarecer 0 ponto que discutimos, tante para vor’ quanto para mim, Voce disse: "Pare: ce-me que M. Austin, no final da sua comunicagao, pode induzir as pessoas que © es: ccutaram, a um ert, fazendo-as supor que a distingdo entre, digamos, “enunciar’e ‘or. denar (distingo n® 2) pode se dar, mostrando que nos dois easos n6s podemos fazer fo que fazemos utlizando 0 enunciado performative explicito no sentido da distingao n® 1." Minha explicacio & que o que procuro fazer nao é atenuar totalmente a distin (640, nto deixando claro em qual plano ela se situa (n | ou 2), mas € recoloci-la em questio, mostrando que ela nao € suficientemente estabelecida nem suficientemente clara, Eo vejo em qué a maneira que utilizet para estancar, como ele disse, ou para colocar ein questo, como acredito que fi, essa distinga0 nao seja um metodo per feitamente vilido. Como ja disse na minha resposta ao professor Eric Weil, ¢ sO me resta repetir agus, o que me aborrece, nessa disting’o que tentamos estabelecer inici= almmente entre os enunciados pevformativos € os enunciados constatvos, o que me faz acreditar que esta distingo ndo & clara & que a formula “eu afitmo que...” me pare responder a todos os eritérios, ein chivida ainda muitissimo vagos dos quats nos servi ros para qualificar os enunciados performativos, Néo tenho nenhuma intencio de at nuara diferenga, se & que hi diferenga, entre o ato de declarar ¢ 0 ato de ordenar. Quero simplesmente ressaltar que, na medida em que se pode aplicar a no¢io muito Vaga que temos no espitito, ao falar do performativo, a distingo nao & justificad, jt que a Férmuala “eu afirmo que...” tem todas as caracteristicas nas quais acreditamos #e- conhecer os enunciados performativos, ia tradupio om inglés Warne snes uma nota com 2 qui consord ineiaments, ele sian 0 126 M, Hare Seo entendo bem, vocé quer dizer que os critérios que otilizamos habitualmente ‘no permicem distinguir “eu afirmo que...” de "eu te prometo que...” ou “eu te oFdeno. Mas voc8 nao quer dizer que nao exista uma diferenca entre estes dois tipos de ato na linguagen? M, Austin Certamente que nio. lids j4 indiqued, sem davida, muito brevemente, na conclusto ‘da minha exposicao, em qual dreglo poderiamos pesquisat, Parece-me que devemos fazer a lista de todas as formulas deste género, uma lista completa e geral do que se faz a0 dizer alguma coisa, em todos os sentidos desta frase ambigua, antes de formular uma dloutrina geral do que eu chamo "ato do discurso" encarada sob seus aspectos ¢ tomada na sua totalidade, Assia nos poderemos decidir, com a cabeca fia e comprovadamente, as familias ou classes nas quals poderemos organizé-las, E nto estaremos tentados a atibuie 4 uma 56 expressdo: “eu afirmo que...” ~ que pessoalmente me parece apresentar poucos tttulos a esta ascensio ~ 0 lugar preeminente que the damos atvalmente. Poderia muito hem acontecer que, ao estahelecermos uma classfieagio de tados os atos de discurso, chegariamos a constatar uma fissura muito marcada, num lugar ou noutro, entre os atos adverténcia, ou ordem, ¢ um niimero considerivel de outros atos tentre os quais entrar a afirmacao, Uma coisa me parece segura, € que “ew afirmo que ‘ecupa 4 posicio promontoria que queremos Ihe conferit, ‘Tudo isto € para dizer que a distin¢ao da qual partimos, entre performative & cconstativo, nao é suficiente. & preciso chegar a uma teoria muito mais geral do ato do discurso antes de estabelecer uma distingo marcada, ‘como a prome M. Devaux, stow disposto a acta, juntamente com 0 professor Austin, que nossas decaragdes, que nnossos statements sejam 20 mesmo tempo, ou em todo caso poderiam ser ao mesmo tempo, fo que ele chama performative e indicative. Isso nio me parece incompativel na verdade. 127 Mas quando comeco a enfrentar difculdades, 6 quando se trata dos envolvimentos, & fem particular das declaragoes que compostam um envolvimento moral da parte daquele que a faz, de respeitar a palavea dada. E a questio que quero colocar ao professor Austin a seguinte: Quando tomo para mim mesmo, frente a frente com minha consciéncia moral, lum envolvimento diante de mim mesmo, sem testemunhas, nesse caso, me encontro di ante de uma alividade performativa? E se me encontro diante de uma atividade performa- tiva, serd que podemos admitir que ela ndo seja nem verdadeira nem falsa? A auséncia de verdade e de falsidade me parece dificil de admitir quando se tata de um engajamento formal perante 0 tribunal de minha conscigncia em que € minha lealdade diante de mim mesmo que esti em jogo M. Austin A questo que voc? me coloca eomporta uma multiplicidade de facetas. E nao sei como devo ataci-la, Voce quet me perguatar o que se passa de fato, quando eu prometo 4 mim mesmo alguma coisa sem testemunhas? Ou voe€ me pergunta se 6 ato que fago 6, 2 meu ver, performative? Voe® me pergunta por que, nesse caso, nao acredito que a ‘questao da verdade e da falsdade intervenha? Ha tres questoes distintas, senao mais, ‘Tomemos a primeira. Quando voe# diz: “eu prometo a mim mesmo ser fiel & minha promessa", "ndo penso que voce esteja querendo falar de todos os casos sem distingio fem que se pode dizer a si mesmo, sem queser entretanto proclamar em vo2 alta: "eu pro- meto fazer tl tal coisa, ou nao fazt-a"; como nds podemos nos prometer ito mals Fura. Suponho que voc’ queira dizer desta espécie de ato mental que acompanha geralmente toda promessa feta de bos intengao a outro, e que nos faz dizer in petto: “eu prometo rmanter esta promessa que acabo de fazer" ~ Ou inversamente, se n6s estamos de maf, "eu prometo a mim mesmo nao fazer nada disso" M, Devaux Nao, pensava simplesmente no caso em que estamos engajados, em que nés nos ligamos por uma promessa a nos mesmor, a propésito de um ato qualquer que desejamos cumpairou evitar 128 1M. Austin Voc® nao aceita minha distingo entre “prometer a si mesmo", como se prometeria ‘nfo importa quem fosse 0 outro, ¢ "prometer-se a si mesmo manter a promessa que se acaba de fazer a0 outro”? M, Devaux Se voct quer de preferéncia: o caso no qual me prometo fazer alguma coisa, € no qual eu me prometo manter esta promessa que me fiz a mien mesmo. 1M, Austin £ sempre delicado falar de casos nos quai, como nos dissemos, “se diz", ou "se pro- mete", o0 “se pede” alguma coisa. Por outzo lado, 0 caso de “prometo realizat minha pro~ essa" aparece como uma expécie de caso parasitirio numa série geral “me prometo 20 outro". Entzo ja temos aqui dois aspectos e ser preciso encard-los separadamente, Nao digo que nio haja, neste caso, um exemplo de difcukdade de ordem geral que se encon tra intrincado em todas as espécies de problemas. E voce tem razao de ressaltar Mas ndo sei se estou, neste caso, obrigado a elaborar uma resposta 4 questio de sa ber se *me prometo a mim mesmo" é diferente de "prometo ao outro”, ou se “dizer a ‘mim mesmo" pode ser comparado a se exprimir em vor alta na frente de alguém. O que vvoc® me perguntow antes, se compreendi bem, & se "o que faco quando eu me prometo mim mesmo manter minha promessa", o que quer que se entenda por isso, & no meu sentido performative ov nio-performativo. Entao, estou inclinado a responder Ihe que isso rio pode ser outra coisa. O que quer que seja que queiramos dizer, flando de se prome {era'si mesmo, € 0 que quer que seja que se entenda quando dizemos que dizemos algu- ia coisa, no vemos como — a parti de crtérios mu Vagos que nos servem para qua- Iifcar os enunciados performativos; apesar de to vagos, s6 dispomos ainda deles~ isto poderia ser outa coisa, ji que a Unica alternativa seria que eles fossem afiemagSes que pudéssemos quiaificar dle verdadeiras ow falsas. Quando o critério de verdade ob de eto fencontraria a sua aplicacio? 129 Quanto a saber por que declaragbes deste género no sto verdadeiras nem fasas, & © aso, por definicto, de todos 08 atos, quer sejam quer nao, mas que nao podem ser vverdadeiros ou falsos. Quando nos casamos, ealizamos um ato. O que se pode dizer des- te.ato pode ser verdadero ou falso. Fles sao casados, ou nao s40? Mas a propria cerimonia do casamento nao permite colocar a questo, Nao sei em qual alternativa voc® esta pen- sando quando colaca esta tkima questio, M, Devas E precisamente a propésito deste ultimo ponto que eu a coloce. M. Austin ‘Um enunciado performativo ndo pode ser verdadeiro ou falso. Quando digo “aposto ccem reais que chovers amanha”, frase perfeitamente natural e ordindria, a aposta que fago) no pode ser qualificada de verdadeira ou falsa, O que pode ser verdadeiro ou falso ¢ que 0 apostei, Poderia muito bem apostar 0 contrao, ou no podesia apostar de feito ne- shun, M. Devaux, Pode ser verdadeiro ou falso em dois sentidos: verdadeito ou falso no que se react ‘ona aquele que fala; verdadeiro ou Talso sobte 0 sentido da aposta M. Austin ‘Mas 0 fato de dizer “aposto que” constitu uma aposta, nao pode ser verdadeiramen- te colocada em questio, nem qualificada de verdadeira ou falsa, Nao veo como se pode cconceber que seja 130 M, Devaux INés nao sairemos disso, M, Austin ‘Bom, para sairmos disso, voltemos 4 cerimOnia de casamento: se no momento no qual os dois noivos, respondendo a questio do juiz, pronunciando 0 “sim” sacramental que os une, alguém pergunta se € verdadeiro este "sim*, nds o tomaremos como i ota, Que ele pergunte se & um bom casamento, se eles foram feitos um para o outro, se eles sio sinceros a0 pronunciar este “sim’, se o casamento € valido por tal ou tal azo, mas nos no podemos nos perguntar se este "sim" é verdadeiso ou false, Para tomar um exemplo mais familiar ainda, quando eu digo “Teche a porta”, nao se pode pperguntar se "fechar a porta” € verdadeiro ow falso. Podemos quando muito nos inter- rogar para saber se tenho raza0 de dizer isto, por exemplo, na caso em que a porta j& std fechada, Mas a ordem que dou nao € ela mesma nem verdadeira nem falsa, voce celta isso? M. Devaux Nao estou de acordo, mas vejo aonde voce quer chegar, 1M, Austin “Peche a porta” M, Devaux, Nao, pensava no casamento ou em toda espécie de envolvimento, 131 M. Austin Mas voltemos ao inicio: “Feche a porta” pode ser verdadeira ou falso? M, Devaux Sim, enquanto um ato mencionado num enunciado. M, Austin Pode-se dizer de um ato que ele € dil, que € conveniente, que ele & mesmo sense to, ndo se pode dizer que cle seja tre or false. Qualquer que seja ele, tudo 0 que posse dizer € que os enunciados deste tipo sio muito mais numerosos e variados do que se acreditava e que muitos deles, numa primeiea andlise, &m aparéncia de enunciados. "Fe- che a porta” nao tem a aparencia de um enuneiado, porque eu emprego o imperativo ‘Mas, quando o transforma em “eu te digo para fechar a porta”, podemos facilmente, neste ‘aso, nos enganar. E se eu acreditasse nas gramiticas, eu o tela classificado como "propo- sicdes completivas” como 0 enunciado “eu te digo que chove". Tudo o que gostaria de dizer, se vor® quiser, & que “eu digo para fechara porta” € da mesma categoria de propo- sigdes como “Teche a porta" e duma categoria distinta de “eu te digo que a porta esta fechada’. Nés acreditamos saber alguma coisa desse Gltimo tipo de enunciado, ainda que eu ndo esteja muito seguro de saber o que queremos dizer quando afirmamos que a porta testa fechada, em particular acreditamos poder dizer que eles sto suscetiveis de serem verdadeiros ou falsos, © que nao se aplica ao outro tipo de enunciado. MJ. Wahl ‘Vou dar minha questao uma forma pouco satisfatria, A filosofia & uma ilba ou um promontério? Quero dizer simplesmente que tenho sempre a impressio de que nos mo- ‘vemos sobre uma estteita faixa de terra linguistica, que nés nos esforcamos para nao ir além, mas que sabemios, ainda assim, que ba coisas além, De maneira que se pressionado 132 serel forcado a me penguntar quals sao as explicagdes deste estado de coisas, F.entio me lofereceriam sejam explicagoes psicanalitica, sejam explicagoes marxistas,.. Nao acredito nlsco enquanto explicagbes. Entretanto, parece-me, ainda assim, que esta € uma situaclo na qual sma explicagao seria bem-vinda Estou diante a uma afiemacio como: “eu tenho um rel6gio." Temos aqui duas coisas Hi primeiro a idéia do relogio, e a partir dessa idéia, hia idéia da medida do tempo, ha 16 tempo, e depois ha as categorias. Por outro lado, ha a palavra ter. E ereio que, em cada uma destas diregdes, encontramos as categorias. Acredito que mesino em Oxford se estu dams categorias. Mas, por enquanto, queremos nos restringir aos estudos das afirmagoes. Gostaria muito, entretanto, que nos detivéssemos, seja idéia de “ter”, sea a idéia de tempo! FE jé que se trata de afirmagbes, me pergunto, a propésito dos dois exemplos, muito diferentes um do outro, qual € o seu estatuto? Trata-se de to be of not to be, that is the ‘question... Em qual gnero isso se encaixa? Nao sei. E constativo na aparéncia, Mas 0 & verdadeiramente? Nao sei, Estou contente de ter aqui ao meu lado, como vizinho ¢ como amigo e como colega, M. Austin, O.que me permite Ihe perguntar, é que sou seu vizinho, cada manha: “Voce dormiv hem esta noite Se porazar ele me dissesse, me olhando de ‘uma ceria maneifa:“Dormi muito mal’... Eentao, isto poderia dizer: "Preste atencdo a rOxima noite e faga menos harulho.” Neste caso, o que & esta afirmagAo? “Dorml muito smal” pode ser uma adverténcia Isto pode ser tamhém um pedido, Ou uma queixa, Final: mente, isto pode ser toda especie de coisas, Lis simplesmente onde gostaria de chegae M, Austin Nao tentarei responder a todos este pontos que M, Jean Wahl levantou, Mas retoma- rei primeiramente sua questo inicial, A filosofia € uma ilha ou um promont6rio? Se procu- raste uma imagem deste género, creio que dira que ela se assemelha mais & superficie do sol. "A pretty fair mess.” Voe® Se desembaraca como voc® pode com os meios que voce tem mao. Psicologia, sociologia, fisiologia,fisica, gramitica, vale tudo. A flosofia sem 133 ‘essa ultrapassa suas fronteiras e chega a0s seus vizinhos, Acredito que a Gnica manein clara de definir 0 objeto da filosofia € dizer que ela se ocupa de todos os residuos, de todos os problemas que ficam ainda insolives, apés experimentar todos os métodos apro- vados anteriormente. Ela € 0 depositirio de tudo o que foi ahandonado por todas as ct cias, em que se encontra tudo 0 que nao se sabe como resolver. Desde que se encontre lum metodo respeitivel e seguro para tratae uma parte destes problemas residuais, de ime- diato uma cigncia nova se forma, que tend a se desprender da flosofia & medida que ela define melhor seu objeto e que cla afirma sua autoridade. Entao a batizamos; matemética =o divorcio data de muito tempo; ou Fisica ~ a separag20 € mais recente; ou psicologia, ‘ou Logica matematica, o cone € ainda recente; ou mesmo quem sabe, talvez amanha, gr matica ou linguistica? Creio que, deste modo, a filosofia transbordata ainda mais do seu Ieito inicial, Entao, gramatica, linghfstica, I6gica e psicologia formarao talvez um novo amalgama que se deslocaré do conjunto ainda consideravel dos problemas em suspensio ‘umultuada que transports consigo a filosofa. Mas essa separacao leva muito tempo, muito tempo. A psicologia, cagula das cién- cis, safda da matrz original, nto cessa de nascer e i880 jé ha cem anos 2A mesina coisa aconteceré com a lingistica: uma cineia da linguagem terminaré por se desgarrar ¢ en- slobaré um grande nimero de coisas das quais a filosofia se ocupa hoje. Sua questo € tentio muito natural. Onde esta a fronteira? Ha uma em alguma parte? Voe® podera colo- car esta mesma questo nos quatro cantos do horizonte. Nao hi fronteira. O campo esti livre para quem quiser se instalar. © lugar & do primeiso que chegar. Boa sorte 20 prime ro que encontrar alguma coisa ‘ua dikima questo € mais precisa. Aflrmagdes na apar€ncia tho factuais, do constativas ‘como “dormi mal esta noite” nto podem ser, na realidade, pedidos, soplicas, ameacas, cadas? Minha tesposta é: Naturalmente! Além do que nés entendemos pela “signifi de uma fase, ese tudo 0 que esta denominago pode ter de obseuro mesmo quando 16S a reduzimos pelo uso anal que fazemos dela, nds temos sempre alguma coisa que ‘chamaremos, jf que € preciso Ihe dar um nome, sua orca”. Poderiamos sempre atsibuir lum sentido, mesmo que se trate de um eixe de signifieagdes e intengdes extremamente complexas para uma expresso como “dormi mal esta noite”, sem ter abordado tanto a 12"Peychology has Been belng born for a very great muny years steady, and stil et entirely out 134 uestio que se coloca sobre um outro plano: E um enunciado constativo? & uma queixa? E uma advertencia? £ uma ameaca ete? Temos ai uma segunda dimensio. Podemos ainda falar de significago, mas, 4 que nbs uulizamos esta palavea num estagio inferior, vamos ‘escolher uma palavra diferente, ¢ nos esforcamos para claborar uma dutrina nova para dar conta do que se pode chamar de forra desta expressdo. Estas forgas sao precisamente ‘2 mesma coisa que encontrariamos daqui 2 pouco, ¢ 0 que deserevi, ou o que me esforcei para descrever sob o nome de speech-acts. Tentando explicar 0 segundo sentido, ou a orca de uma expressto como “dori mal esta noite", nds dizemos: € uma ameaca, é uma advertencia, € uma queisa etc., quer dizer, n6s nos esforcamos para qualificar o genero do ato do discurso que ela manifesta Estou totalmente de acordo com vocé: hi af um problema completamente distinto daquele da significag20, que no se situa sobre o plano do contetdo Factual das expres- sbes, mas sobre o plano das forcas que se manifestam quando falamos. 0 Presidente Devo lembrar que ainda faltam sete pedis de intervenyao? Peco encarecidamente 08 oradores para serem breves M. Perelman Gostaria de comecat com um exemplo de expressio linguistic que apresentare em feancés, porque tenho muito medo de que em inglés seja uma outa coisa. Serdtlvez tama razao a mats que levarei a M, Aposel para leitimar aanslise comparaiva Suponhamos que um sargeato d@ uma ordem a um soldado, 0 soldado responde: ‘Recuso-me a obedeeer”Julgamento performative no sentido do professor Austin. O sar- sento vai so capilio fazer seu relatorio, © eapitao chama 0 soldado e Ihe pergunta: “E verdade que voce se recusou a obedever” O outro responde: “E verdad.” A questio ea resposta sdo certamente entnciados constativos:“E verdade que eu me recusei a obede ‘ee Somente em ingls, isto nfo aconteceria, porque no lugar de dizer: "eu recuso", a ‘questo seria: Are you refasing? Ese transformania o presente em participio presente a ‘Yo. Nao haveria mais a necessdade de introdusir a expressio "€ verdad que." porque 135 se dispoe de uma forma gramatical particular, que em francés & substituida por est vai {que para distinguir justamente as duas formas. Acredito que em geral, por autto lado, em frances pode-se assim transformar os enunciados performativos em enuinciados constativos fazendovse preceder a expressio por if est vrai que... est faux que. H muitas espe es de expresses do mesmo género. ‘Se entao nos colocamos simplesmente sobre o plano corrente da linguagem, se nos mantemos a palavra “€ verdade” na Trente do que se segue, nao se pode mais eliminar completamente os enunciados constativos. Por outro lado, pergunto-me se ha um interes- se em querer reduzir todos esses enunciados ¢ cteio, 20 conteario, que M. Austin se esto (2 sobretudo por salvaguards-tos, e de hes dar um estatuto Minha segunda questio se refere a0 uso da palavra *ridiculo”. Vooes sem divida cobservaram que, na exposicio de M. Austin, &frequente a questio da palavra “absurdo” (Ora, ha casos em que nao se falaria da nogio de absurdo, em que se invocaria de pref rénciaa do ridiculo. Quando uma criang2 quer dar uma lio aos seus irmos mais velhos, (0 pais nto dirdo: € absurdo. Dirto mais facilmente: ¢riciculo. E ridiculo dar ordem para alguém quando nio se tem autoridade para dar ordens e quando se est seguro de que elas nao serao executadas Isso seria, creio, 0 caso para um bom niimero de exemplos em que M. Austin coloca antes 0 termo “absurdo” e em que nés empregaremos mais A vontade 0 do “ridiculo". De fato, hai toda tuma familia, endo somente tma ou duas nagdes, todo um leque de nuangas, que permitem exprimir nossas apreciages diante de tal ou tal ato do diseurso, e que tra fem nossas atitudes em tal ou tal situagao. Para mim, absurdo tem alguma coisa de mais, ogico eo ridiculo alguma coisa de mais social. Pergunto se M_ Austin aceita essa distinco, M, Austin Essa. a, € muitas outras. Hi uma mulidio de nogbes deste género, da qual nés nos ser- vimos ou da qual nés nos poderiamos servir, se falissemos mais corretamente nossa lingua. A infelicidade € que para estes epitetos cartegados de emogdes, clas slo quase sempre pejora- tivas ou insultantes, nbs temos tendencia a utilizar o primeirotermo que nos ex a mio, aque [que é mais forte porque est na moda, e no procure precisis exatamente a nuanga de 20850 desacordo, Mas creio que se pode tira alguma coisa na verdade de ur estudo mais atento dos ‘epitetos deste genero, € aceito ento musto A vontade a distineao que voce fe7. 136 Estou de acordo também sobre o primeiro ponto. Mesmo na primeira frase em que nbs nos esforgamos para estabelecer ~e mais frequentemente em vo, como acredico ter conse. guido mostrar com sucesso ~ uma distinco marcada entre 0 performativo e o constativo, po ‘eriaindicar muito mais lladas e emboscadas do que fiz na minha exposigao, Acredito que ‘mesmo em inglés, apesar da disting2o que voce introduziu sobre o seu exemplo, deveriamos tempregar as expresses: it i true ou itis false para introduzir um enunciada puramente constativo, exatamente como &o caso em francés. Para tomar um exemplo banal, voces po- {dem se servir da locugao I promise to como de um simples presente histico. Voc® dirs, por exemplo- "pelo artigo 37, segunda alinea, parigrafo terceiro, proponho-me a fazer isto Ou aqui.” Est claro que neste caso o enunciado € constativo, que ele pode ser verdadeico 04 falso, apesar do fato de conter a formula consagrada da promessa, Nos somos levados 2 dizer: este & um presente histrico, e no o genero de presente que nos interessa, ‘Mas nio estou tio segura para concordar com voce quando Voce invoca de novo & crtério extralingistico, A distingo com a qual acabamos de concordat se encontraria ta {o num tratado de lingistica quanto numa gramética hem Fela. Um lingiista Cera cuidada de marcar a diferenca entre os dois empregos. E como © faria? Certamente nao por um simples recurso 20 crtério linguistico, pelo qual se entende, suponho, o exame atento da ldem das palavras e de sua funcao na frase. Precisasia que fosse chamada alguma coisa do exterior da linguagem para avaliar a quesiao de dois empregos de um mesmo grupo de ts palavras:"T promise that..." nestes dois casos. Entio no vejo em que o que ele faria seria mais legtimo, ov mesmo seria diferente, do que © que nds acabamos de fazer. © que quer que seja, estou de acordo com voc’ sobre 0 primeieo ponto, ¢ ainda mais do que de acordo, porque 0 que voce entrevé em frances pode-se Fazer da mesma ‘muneira em inglés. Mas no creio que nds estejamos remetenda com isso a uma exper @éncia extralingistica, para fazer uma distingo que de um lado & de bom senso, e que de foutra parte & corrente entre os graméticos. Nao ereio qule isso nos faga suit de nosso Pe jqueno mundo, Essasdistingdes & 0 método aprovado que nés empregamos para estabelece las sempre existiram entre nos M. Poirier Gostaria de dizer inicialmente como estou encantado de ouvir 0 professor Austin © como me senti inteiramente de acordo com ele, As questoes que gostaria de Ihe 137 colocar se referem ao prolongamento logico e filosofico da andlise da linguagem e elas ‘io sem davida legitimas na medida em que a escola de Oxford nao procura se ater a ‘uma explicacio de textos filologicos ou psicologicas. Essas questoes se referem a 2s ppontos: expressio linguistica dos pensamentos performativos, relagdes do performative € do logico, natureza de uma eventual logica dos enunciades performativos. 1 Inicialmente, € possivel caracterizarlinghisticamente os enunciados declarati- vos € performativos, de mancita a poder construir posteriormente uma teoria, uma logica dos emunciados performativos (que seria tamhém uma logica dos peasamentos per formativos) ‘© que complica um pouco o debate, parece-me, é que se parte de bom grado de enunciados que estio, gramaticalmente, no indicativo (ou no infinitive) © sem, davida, entre esses enunciados, hi os que so declarativos e derivam de situagoes ‘materiais, mas hd outros também que exprimem sentimentos, estados de espirito de natureza muito diversa: promessa, temor, injungao, vontade, desejo, esperancas, confianca ete. Podemos separi-los, editar regras para isto? A coisa & diffeil de direito € de fato," pois 0 uso é sempre incerto, ¢ se vé mal como fixi-lo mesmo por deci- so, Caso $6 se tratasse de equivacos da linguagem, ainda haveria um remédio, may © equivoco atinge freqilentemente 0 proprio pensamento. Assim, quando digo “or- leno", posso exprimir uma injungao dura e sincera, ¢ isto equivale a: faga, obedecal Mas posso também exprimir a consciéncia ou a certeza que tenho de dar uma oF dem, de exigit, ov, se queremos, descrevo-me dando uma ordem; € posso igualmen te dar uma ordem, s6 por ter dado, sem me preocupar com sua execugao.""E claro {que nao teria sentido enunciar as leis da expresso "ordeno” sem ter determinado ‘em qual sentido a tomamos. ‘© que € que fixa o sentido dos enunciados na linguagem corrente? Nao @ somen- te 0 vocahulirio. E preciso levar em conta © contexto gramatical o8 0 contexto psico: logico ou humano. Na terceira pessoa, “ele ordena” € puramente descritivo; aa pri- 13 No cao de querermo fazer wins logic das inner, 1. E acomece que, a pronuacar ext Grmula, eu pepo alo se qual & precsmente, minh item 20 mats profunda 138 meira, “eu ordeno” pode ser imperativo. Mas, se acrescento © comentario: “obedega ‘ou do", a Formula nao pode traduzir uma vontade, uma injungo sincera preciso levar em conta também a mimica, o tom pelo qual se marca a intenc30 real, Quando digo “foi uma bela confereneia", € suficiente um nada no tom para se pas sar da admiragao simples &ironia Somente 0 {om € o contexto nao sio instrumentos dos quais poderiamos normal mente nos servir. Colocaremos aspas (pode-se colocé-las mesmo oralmente!). Empre- sgaremos tintas de cores diferentes para marcar diversas acepgdes? E ainda seria preciso que estas fossem nao-equivocadas no pensamento! Na verdade, temos sempre um recurso, ji que mo raciocinamos 20 mesmo tempo em varios planos; foi dito no comega de nossa discussie em qual plano raciocinamos, ¢ se tomamos os indicativos pessoais no sentido completamente injuntivo, optativo ete ou no sentido reflexivo ou descritvo. F hi, simplesmente, os processos clissicos para eliminar os equivocos e que con- sistem em eliminar, por exemplo, o modo indicativo, a0 menos na primeira pessoa, ou ainda na voz ativa, Normalmente uma injungio se exprime pelo emprego do imperati- vvo (ou mesmo do Subjuntivo ativo ou passiva). Faga, que se faga, que sejafeita, Pode se ainda usar formas positivas impessoals: esta prescrito, est4 ordenado, que eliminam praticamente os equivocos da subjetividade. Da mesma maneira, no lugar de dizer: eu desejo, que € equivoco, diremos: Possa isso acontecer! Que acontesa! E preciso desejar que ete ‘0 que concluir de tudo isso? De um lado, que © pensamento subjetivo € infinita- mente diverso © com auancas € que nos mesmos nao sabemos, apesar de tudo, o que pensamos, Por outro lado, nossa expressao lingbistica ¢ extremamente variavel, ex tremamente incerta, e depende de mil citcunstaneias gramaticais ou psicolégieas. N40 importa quat género de expresso traduzit, dependendo do caso, no imports qual enero de pensamento. E a tese célebre e dificil de contestar de Ferdinand Brunot, em particular em La Pensée et Ia Langue. Nao ha sindnimos verdadeiros, nao ha tam bem formas gramaticais com sentido Gnico, € nao ha pensamento com mia Unica ex- pressio. ‘Tudo isso nio impede que existam praticamente pensamentos sobre os quais concordamos de comum acordo, que se podem considerar como definidos, categorias, ‘mentais aproximativas, © que estes pensamentos admitem quase todos, a0 lado de ex- Dressdes equivocas, expresses ndo-equivocas, ao menos em certs linguas e para aqueles 139 que falam corretamente."*Convém, evidentemente, nos discursos de boa fé, empregar esses expresses sem equvocos, pos ns ermos design, a saber, © que se quer Quanto a saber o que “a linguagem” quer dizer “em si mesm evar em conta individuos que a falam,circunstincias, contexto acidental, isto ser divida “objetivamente, sem ‘nto quer dizer grande coisa 2. Um seguado ponto sera o seguinte. Supomos'*que para uma analise linghist cae psicologica nés chegariamos a classificar objetivamente enunciados performativos definidos,isolando categorias mentais e gramaticais propriamente performativas: © que uma e as outras t&m a ver com a Logica? Nao seria preciso dizer que estas s6 se ligam As frases declarativas, apoffinticas e que o performativo pertence a psivologia indivi- ‘dual ou coletiva? A solugio ¢ verdadeiramente tio simples? Nao acredito e imagine {que o professor Austin estaria de acordo em dizer que, se fosse assim, isto seria bom demais Bem entendido, sea logica s6 &, por definigto, o estudo e a representagio formal das leis mais gerais dos acontecimentos individuais ov coletivos da sua presenga e de sua auséneia, de sua co-presenga e de sua co-auséncia, os enuinciados petformativos 85 tentram como expresso de fatos materiais especiais, com suas relagdes © suas leis pro pias, Pode-se simplesmente fazer a teoria, no quadro da logica comum, como se faz tworia das atragSes eletroestatieas, das lembrancas ou dos instintos ou aquela dos movi rmentos de opiniao, Mas, se tomamos no sentido amplo a palavra logica, fazendo-a designar, como & alits normal, © estudo dos métodos e das tentativas gerais pelas quais chegaremos a de Finit ea conquistar a verdade,"”no sentido mais completo deste termo, entao o proble ma é muito mais complicado, a oposicio da logica e da psicologia se atenuam & os enun- ciados performativos tém talve7 direitos de entrar no reino da logica 156 precismnentew cano, parece, das nope dope 16 C0 que conten talver; min neste cate, mbH AA Mal problemas HilosOieus © nem dacusa consider. 17 OW ainds 0 estudo das leis do racioinio, do pensmentn demonstrative «ie se Inserem nadueks (bu cemezs e dt cones 140

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