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À minha mulher
.::-.
A. I. KAPAN DJ I
Ex-Interno dos Hospitais de Paris
Ex-Chefe de Clínica-Auxiliar dos Hospitais de Paris
Membro da Sociedade Francesa de Ortopedia e Traumatologia (S.O.F.C.O.T.)
Membro da Sociedade Francesa de Cirurgia da Mão (G.E.M.)
FISIOLOGIA ARTICULAR
ESQUEMAS COMENTADOS DE MECÂNICA HUMANA
VOLUME 11
5ª edição
MEMBRO INFERIOR
I. - O QUADRIL
11. - O JOELHO
111.- O TORNOZELO
IV. - O PÉ
V. - AABÓBADA PLANTAR
- EDITORIALMEDICA-
Cpanamericana -=:>
~Tr
MALOINE
Título do original em francês
PHYSIOLOGIE ARTICULAIRE. 2. Membre Inférieur
© Éditions MALOINE. 27, Rue de l'École de Médecine. 75006 Paris.
Tradução de
Editorial Médica Panamericana S.A.
Revisão Científica e Supervisão por Soraya Pacheco da Costa, fisioterapeuta
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ~
K26f
v.2
Kapandji, A. L (Ibrahim Adalbert)
Fisiologia articular, volume 2 : esquemas comentados de
mecânica humana / A. r. Kapandji ; com desenhos originais
do autor; [tradução da 5.ed. original de Editorial Médica
Panamericana S.A. : revisão científica e supervisão por Soraya
Pacheco da Costa]. - São Paulo: Panamericana ; Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2000
: 690 il.
UNIVERSIDADE CAT()IICA
DE BRASil IA
Tradução de: Physiologie articulaire, 2 : membre
Ínférieur
Sistema de Bjtliiotecas
Inclui bibliografia
Conteúdo: v.2. Membro inferior: O quadril - O joelho -
O tornozelo - O pé - A abóbada plantar
ISBN 85-303-0044-0
Todos os direitos reservados para a língua portuguesa. Excetuando críticas e resenhas científico-
literárias, nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, armazenada em sistemas computadorizados ou transmitida
de nenhuma forma e por nenhum meio. sejam eletrônicos, mecânicos, fotocopiadoras, gra\'adoras ou qualquer outro,
sem a prévia permissão deste Editor
(Medicina Panamericana Editora do Brasil Ltda.)
Distribuição exclusiva para a língua portuguesa por Editora Guanabara Koogan S.A.
Travessa do Ouvidor, 1I - Rio de Janeiro - RJ - 20040-040
Te!.: 21-222 I -962 I
Fax: 21-2221-3202
www.editoraguanabara.com.br
Passaram mais de vinte e cinco anos desde o momento em que se escreveram estes três volu-
mes de Esquemas Comentados de Fisiologia Articular obtendo grande sucesso entre os leitores de
todo tipo, estudantes de medicina e fisioterapia, médicos, fisioterapeutas e cirurgiões. O fato de que
continue atual se deve ao particular caráter destas obras, cujo objetivo é o ensino do funcionamento
do Aparelho Locomotor de maneira atrativa, privilegiando a imagem diante do texto: o princípio é
e).plicar uma única idéia através do desenho, o qual permite lima memorização e uma compreensão
definitivas. O fato de que estes liiTos não tenham competidor sério demonstra nitidamente o seu valor
intrínseco. Na verdade, é a clareza da representação espacial do funcionamento dos músculos e das
articulações o que faz com que seja tão evidente: estes esquemas não integram unicamente as três
dimensões do espaço, mas também uma quarta dimensão, a do Tempo, porque a Anatomia Funcional
está i'iva e, conseqiientemente, móvel- isto é. inscrita no Tempo. Isto diferencia a Biomecânica da
Mecânica propriamente dita, ou Mecânica Industrial. A Biomecânica é a Ciência das estruturas evo-
lutims, que se modificam segundo os contratempos e evoluem em função das necessidades, capazes
de renovar-se cOllStantemente para compensar o desuso. É lima mecânica sem eixo materializado,
móvel inclusive no percurso do movimento. As suas supofícies articulares integram um jogo mecâni-
co que seria por completo impossível na mecânica industrial, porém lhe outorga possibilidades adi-
clOnazs.
Eis aqui o espírito que impregna estes volumes, ao mesmo ternpo que deixa a porta aberta aos
outros métodos de ensino para o futuro. Este é, na verdade, o segredo da sua perenidade.
A. I. KAPANDJI
ADVERTÊNCIA DO AUTOR À QUINTA EDIÇÃO
A partir de sua primeira edição, há sete anos atrás, este lin'o, inspirado principalmente por
. Duchenne de Boulogne, o "grande precursor" da Biomecânica, permaneceu fiel a si mesmo, exceção
feita por algumas pequenas correções. Neste momento, na oportunidade do aparecimento da quinta
edição, achamos necessário incluir modificações importantes, em especiai no que se refere à mão. De
fato, o rápido desenvolvimento da cirurgia da mão exige um incessante aprofundamento quanto ao
conhecimento de sua fisiologia. Este é o motivo pelo qual, à luz de recentes trabalhos, temos escrito e
desenhado novamente tudo relacionado ao polegar e ao mecanismo de oposição: a função da articu-
lação trapézio-metacarpeana na orientação e rotação longitudinal da coluna do polegar se explica de
maneira matemática a partir da teoria das articulações de dois eixos tipo cardan: assim mesmo, se es-
clarece afunção da articulação metacarpofalangeana no "bloqueio" da preensão de grandes objetos
e, enfim, a função da articulação inteJfalangeana na "distribuição" da oposição do polegar sobre a
polpa de cada um dos quatro dedos. A riqueza na variedade de preensão e preensões associadas às
ações está ilustrada com novos desenhos. Temos apelfeiçoado a definição das distintas posições fzlll-
cionais e de imobilização. Porfim, com o O,bjetivo de estabelecer um balanço fzlllcional rápido da mão.
propõe-se uma série de provas de movimentos, as "preensões mais ação" que, melhor do que as ,'a-
lorações analíticas da amplitude de cada uma das articulações e da potência de cada mÚsculo, faci-
litam uma apreciação sintética do valor da utilização da mão.
No final do livro suprimimos alguns modelos obsoletos ou que não oferecem muito interesse.
e substituímos por um modelo da mão que explica, neste caso de maneira satisfatória, a oposição do
poleg([J~
Em resumo, este é um livro renovado e enriquecido em profundidade.
PREF ÁCIO À EDIÇÃO EM PORTUGUÊS
Passaram mais de vinte e cinco anos desde o momento em que se escreveram estes três volu-
mes de Esquemas Comentados de Fisiologia Articular obtendo grande sucesso entre os leitores de
todo tipo, estudantes de medicina e fisioterapia, médicos,jisioterapeutas e cirurgiões. O fato de que
continue atual se deve ao particular caráter destas obras, cujo objetivo é o ensino do funcionamento
do Aparelho Locomotor de maneira atratim, prh'ilegiando a imagem diante do texto: o princípio é
explicar uma Única idéia através do desenho, o qual permite uma memorização e uma compreensão
definitivas. O fato de que estes lii'J"OSnão tenham competidor sério demonstra nitidamente o seu valor
intrínseco. Na verdade, é a clareza da representação espacial do funcionamento dos mÚsculos e das
articulações o que faz com que seja tão evidente: estes esquemas não integram unicamente as três
dimensões do espaço, mas também uma quarta dimellSão, a do Tempo, porque a Anatomia Funcional
está i'iva e, conseqiientemente, móvel- isto é, inscrita no Tempo. Isto diferencia a Biomecânica da
Mecânica propriamente dita, ou Mecânica Industrial. A Biomecânica é a Ciência das estruturas evo-
lutims, que se modifIcam segundo os contratempos e evoluem em função das necessidades, capazes
de renovar-se constantemente para compensar o desuso. É uma mecânica sem eixo materializado,
móvel inclusive no percurso do movimento. As suas supelfícies articulares integram um jogo mecâni-
co que seria por completo impossível na mecânica industrial, porém lhe outorga possibilidades adi-
CIOIICIlS.
Eis aqui o espírito que impregna estes i'olumes, ao mesmo tempo que deixa a porta aberta aos
outros métodos de ensino para o futuro. Este é, lia i'erdade, o segredo da sua perenidade.
A. I. KAPANDJI
ÍNDICE
o QUADRIL
Movimentos de flexão do quadril 14
Movimentos de extensão do quadril 16
Movimentos de abdução do quadril 18
Movimentos de adução do quadril 20
o JOELHO
Os eixos da articulação do joelho 76
o TORNOZELO
OPÉ
A ABÓBADA PLANTAR
BIBLIOGRAFIA 253
MODELOS DE MECÂNICA ARTICULAR PARA CORTAR E ARMAR 255
ÍNDICE DE ABREVIATURAS 279
10 FISIOLOGIA ARTICULAR
2. MEMBRO INFERIOR 11
12 FISIOLOGIA ARTICULAR
X'
Fig.1-1
14 FISIOLOGIA ARTICULAR
A ftexão do quadril é o movimento que pro- rém a posição do joelho é importante: se está
duz o contato da face anterior da coxa com o estendido (fig. 1-4), a flexão é muito menor
tronco, de modo que a coxa e as porções rema- que quando está flexionado (fig. 1-5); neste úl-
nescentes do membro inferior ultrapassam o pla- timo caso, a amplitude ultrapassa os 140° e a
no frontal da articulação, situando~se por diante coxa quase toca totalmente o tórax. Constata-
dela. remos mais adiante (pág. 150) como a flexão
A amplitude da flexão varia dependendo de do joelho, sempre que os ísquio-tibiais estejam
diversos fatores: relaxados, permite uma maior flexão do qua-
dril.
No conjunto, a ftexão ativa do quadril não é
tão ampla como a passiva. A posição do joelho Se ambos os quadris se fiexionam de forma
também intervém na amplitude da ftexão: quando passiva ao mesmo tempo estando os joelhos
o joelho está estendido (fig. 1-2), a ftexão não também fiexionados (fig. 1-6), a face anterior
passa dos 90°, ao passo que quando o joelho está das coxas mantém um amplo contato com o
fiexionado (fIg. 1-3), atinge ou ultrapassa os 120°. tronco, já que, além da fiexão das articulações
No que diz respeito à flexão passiva, a coxofemorais, vemos a retroversão da pelve fa-
sua amplitude sempre ultrapassa os 120°, po- zendo desaparecer a lordose lombar (seta).
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Fig.1-3
Fig. 1-2
Fig.1-6
J Fig.1-4
Fig.1-5
16 FISIOLOGIA ARTICULAR
A extensão leva o membro inferior para medir-se nas figuras 1-7 e 1-8 pelo ângulo com-
trás do plano frontal. preendido entre a vertical (traços finos) e a posi-
A amplitude da extensão do quadril é mui- ção de alinhamento normal da coxa (traços gros-
to menor que a da flexão, estando limitada pela sos). Esta última posição se obtém graças ao ân-
tensão do ligamento ílio-femoral (ver pág. 36). gulo invariável que a coxa forma com a linha
que une o centro do quadril e a espinha ilíaca ân-
A extensão ativa é de menor amplitude que tero-superior. Todavia, este ângulo varia depen-
a extensão passiva. Quando o joelho está esten- dendo de cada sujeito, visto que depende da es-
dido (fig. 1-7), a extensão é maior (20°) que tática da pelve, ou seja, do grau de retroversão
quando está tlexionado (fig. 1-8), isto se deve ao ou anteversão pélvica.
fato de os músculos ísquio-tibiais perderem to-
talmente a sua eficácia como extensores do qua- As amplitudes citadas aqui se correspon-
dem com indivíduos "normais" sem treina-
dril, porque utilizam grande parte de sua força
de contração na flexão do joelho (ver pág. 150). mento prévio. Estas podem aumentar-se consi-
deravelmente graças ao exercício e ao treina-
A extensão passiva é de apenas 20° no mento apropriados; por exemplo, as bailarinas
passo para diante (fig, 1-9); alcança os 30° podem realizar a abertura de ambas as pernas
quando o membro inferior se situa bem para sem problemas (fig, 1-11) inclusive sem apoio
trás (fig. 1-10). no chão, graças à flexibilidade de seu ligamen-
É necessário destacar que a extensão do to de Bertin; porém, é necessário destacar que
quadril aumenta notavelmente devido à báscula a escassa extensão relativa da coxa posterior é
de pelve produzida por uma hiperlordose lom- compensada com uma importante anteversão
bar. Esta participação da coluna lombar pode da pelve.
2. MEMBRO INFERIOR 17
Fig.1-9
18 FISIOLOGIA ARTICULAR
A abdução dirige o membro inferior dire- ção de 45° com respeito à horizontal, do lado
tamente para fora e o afasta do plano de sime- que suporta a carga. A coluna vertebral, em con-
tria do corpo. junto, compensa estâ inclinação da pelve com
Se teoricamente é possível realizar a abdu- uma convexidade para o lado que suporta a car-
ção de só um quadril, na prática a abdução de ga. De novo reaparece a participação da coluna
um quadril se acompanha de uma abdução nos movimentos do quadril.
idêntica a do outro quadril. Isto acontece a par- A abdução está limitada pelo impacto ós-
tir dos 30° (fig. 1-12), amplitude em que se ini- seo do colo do fêmur com o rebordo cotilóide
cia uma báscula da pelve pela inclinação da linha (ver pág. 34), porém antes que isto aconteça, in-
que une as duas fossas laterais e inferiores (que tervêm os músculos adutores e os ligamentos
correspondem à projeção cutânea das espinhas ílio-femorais e pubofemorais (ver pág. 42).
ilíacas póstero-superiores). Prolongando-se o Com exercício e treinamento adequados, é
eixo de ambos os membros inferiores, constata- possível aumentar a máxima amplitude da abdu-
mos que se cortam no eixo simétrico da pelve: ção, como no caso das bailarinas, que podem
portanto, podemos deduzir que nesta posição os atingir de 120° (fig. 1-14) a 130° (fig. 1-15) de ab-
quadris estão em abdução de 15°. dução ativa, isto é, sem apoio. Na abdução passi-
Quando se completa o movimento de ab- va, os indivíduos que se treinam podem alcançar
dução (fig. 1-13), o ângulo formado pelos dois os 180° de abdução frontal (fig. 1-16a); na reali-
membros inferiores atinge os 90°. A simetria de dade, não se trata de abdução pura, visto que pa-
abdução de ambos os quadris reaparece, então ra distender os ligamentos de Bertin a pelve bas-
deduzimos que a amplitude máxima de abdução cula para diante (fig. l-l6b), enquanto a coluna
de um quadril é de 45°. Observe-se que, neste lombar adquire uma hiperlordose (seta) de modo
preciso instante, a pelve apresenta uma inclina- que o quadril está em abdução-flexão.
Fig.1-13
Fig.1-16
a
20 FISIOLOGIA ARTICULAR
A adução leva o membro inferior para den- to da coluna. Destacar que a partir do momento
tro e o aproxima do plano de simetria do corpo. em que os pés se separam - e isto é necessário
Como na posição de referência ambos os mem- para assegurar o equilíbrio do corpo - o ângulo
bros inferiores estão em contato um com o outro, de adução de um quadril não é exatamente o
não existe movimento de adução "pura". mesmo que o ângulo de abdução do outro quadril
Pelo contrário, existem movimentos de (fig. 1-21): a sua diferença é igual ao ângulo for-
adução relativa (fig. 1-17) quando, a partir de mado pelos eixos de ambos os membros inferio-
uma posição de abdução, o membro inferior se res na posição simétrica de partida.
dirige para dentro. Em todos estes movimentos de adução
Também existem movimentos de adução combinada, a amplitude máxima de adução é
combinada com extensão do quadril (fig. 1- de 30°.
18) e movimentos de adução combinada com Entre todos estes movimentos de adução
flexão do quadril (fig. 1-19). - combinada, existe um que realiza uma posição
Finalmente, existem movimentos de adu- bastante freqüente (fig. 1-22): a posição de senta-
ção de um quadril combinada com uma abdu- do com as pernas cruzadas. Neste caso, a adução
ção do outro quadril (fig. 1-20), acompanhados associa-se à flexão e à rotação externas. É a posi-
de uma inclinação da pelve e de um encurvamen- ção mais instável do quadril (ver pág. 46).
2. MEMBRO INFERIOR 21
Fig.1-26
24 FISIOLOGIA ARTICULAR
VI
Fig.1-29
Fig.1-30
--
26 FISIOLOGIA ARTICULAR
A articulação coxofemoral é uma enartro- A cavidade cotilóide (fig. 1-32, vista exter-
se: as suas superfícies articulares são esféricas. na) recebe a cabeça femoral; ela está situada na
A cabeça femoral (fig. 1-31, vista anterior) face externa do osso ilíaco, na união das três
está constituída por 2/3 de uma esfera de 40 a 50 partes que o compõem. Ela tem a forma de semi-
mm de diâmetro. Pelo seu centro geométrico O esfera limitada no seu contorno pelo rebordo co-
passam os três eixos da articulação: eixo horizon- tilóide (C). Apenas a periferia do cótilo está re-
tal (1), eixo vertical (2), eixo ântero-posterior (3). coberta de cartilagem: é a meia.:lua articular
O colo femoral serve de suporte para a cabeça fe- (Ml), interrompida na sua parte inferior pela
moral e assegura a sua união com a diáfise. O ei- profunda incisura ($quio-púbica. A parte central
xo do colo femoral (seta Cf) é oblíquo para cima, do cótilo está situada para trás em relação à
para dentro e para diante, formando assim o eixo meia-lua articular e, portanto, não entra em con-
diafisário (D), ângulo denominado "de inclina- tato com a cabeça femoral: é o fundo cotilóide
ção", de 125° no adulto; ele forma um ângulo com (Tf) que uma fina lâmina óssea separa da super-
o plano frontal (fig. 1-37, vista superior) denomi- fície endopélvica do osso ilíaco (fig. 1-33, osso
nado "de declinação ", de 10 a 30°, aberto para transparente). Veremos mais adiante (pág. 32)
dentro e para diante e também denominado ângu- como a orla acetabular (La) se encaixa no re-
lo de anteversão. Desta forma (fig. 1-34, vista bordo cotilóide (Rc).
póstero-intema), o plano frontal vertical que passa O cótilo não está orientado diretamente para
pelo centro da cabeça femoral e pelo eixo dos côn- fora, mas sim para baixo e para diante (a seta C'
dilos (plano P) deixa a diáfise femoral e a sua ex- representa o eixo do cótilo). Sobre um corte ver-
tremidade superior quase totalmente atrás de si; tical (fig. 1-36) esta orientação para baixo pode
dito plano P contém o eixo mecânico MM' do ser nitidamente vista: o eixo do cótilo forma um
membro inferior, que junto com o eixo diafisário ângulo de 30 a 40° com a horizontal, isto faz com
(D) forn1a um ângulo de 5 a 7° (ver pág. 76). que a parte superior do cótilo ultrapasse a cabeça
A forma da cabeça e do colo varia segundo os para fora; esta ultrapassagem se mede pelo ângu-
indivíduos, de maneira que os antropólogos cons- lo de cobertura W, que geralmente é de 30° (ân-
tataram que ela era o resultado de uma determina- gulo de Wiberg). No nível do teto do cótilo a
da adaptação funcional. Portanto, se distinguem pressão da cabeça é maior e a cartilagem dela e da
dois tipos extremos (fig. 1-35 segundo Bellugue): meia-lua articular é mais grossa. Sobre um corte
- um tipo "longilíneo" no qual a cabeça horizontal (fig. 1-37) aparece a orientação para
representa mais de 2/3 de uma esfera e diante: o eixo do cótilo (C') forma um ângulo de
os ângulos cérvico-diafisários são máxi- 30 a 40° com o plano frontal. Distingue-se tam-
mos (I = 125°, D = 2SO). A diáfise femo- bém o fundo (Tf) para trás da meia-lua (Ml) e da
ral é fina e a pelve pequena e alta. Uma orla encaixado no rebordo cotilóide (Rc). O pla-
morfologia como esta favorece grandes no tangente ao rebordo cotilóide (Pr) é oblíquo
amplitudes articulares e corresponde a para diante e para dentro.
uma adaptação à velocidade da corrida
(esquemas a e c); Na prática, para realizar estes dois tipos de corte po-
demos utilizar:
- um tipo "brevilíneo": a cabeça mal ul-
trapassa a semi-esfera, os ângulos são - para o corte vértico-frontal, a tomorradiogra-
fia, que oferece uma imagem semelhante à da fi-
pequenos (I = 115°, D = 10°), a diáfise é
gura 1-36;
mais larga e a pelve maciça e larga. A
- para o corte horizontal, ao exame escanográfico
amplitude articular não é tão grande, po-
do quadril, que nos dá uma imagem semelhante a
rém o que a articulação perde em velo- da figura 1-37 e permite medir o ângulo de ante-
cidade ganha em robustez (b e d). É uma versão do cóti10 e do colo femoral, que é muito útil
morfologia de "força". para o diagnóstico das displasias do quadril.
2. MElviBRO I;-";FERlOR 27
Fig.1-33
Fig.1-31
Tf
Fig.1-35
Pr
28 FISIOLOGIA ARTICULAR
Fig.1-38
Fig.1-43
C"
Cf
Fig.1-44 Fig.1-45
30 FISIOLOGIA ARTICULAR
Fig.1-47
Fig.1-46
Fig.1-48
Fig.1-49
Fig.1-51
Fig.1-50
32 FISIOLOGIA ARTICULAR
A orla cotilóide (Rc) é um anel fibro-car- mento somente desliza-se sobre ela. A banda se
tilaginoso que se insere no rebordo cotilóide divide em três feixes:
(fig. 1-52), aumentando notavelmente a profun- - um feixe posterior isquiático (fp), o de
didade da cavidade cotilóide (ver pág. 44) e maior comprimento, que sai pela incisu-
igualando as irregularidades do rebordo (C): se ra ísquio-púbica, passando por baixo do
removemos a palie superior da orla, podemos ligamento transverso (fig: 1-52), para in-
ver a incisura flio-púbica (IP). Quanto à incisu- serir-se abaixo e atrás do corno posterior
ra ísquio-púbica (IlP), a mais profunda das três, da meia-lua articular,
a orla forma uma ponte inserindo-se no ligamen-
to transverso do acetábulo (LT), fixado por sua - umfeixe anterior púbico (fa) que se fixa
vez nos dois bordos da incisura: no esquema es- na mesma inéisura, por trás do corno an-
tão "desmontados" LT e Rc. No corte (fig. 1-53), terior da meia-lua articular,
a orla se fixa com firmeza no bordo do ligamen- - um feixe médio (fm) mais fino, que se
to transverso (ver também a figo 1-36). insere no bordo superior do ligamento
De fato, no corte pode-se apreciar a forma transverso (fig. 1-52).
triangular da orla além das três faces que se O ligamento redondo se localiza (fig. 1-53),
descrevem a continuação: uma face interna que junto com tecido celular adiposo, na cavidade
se insere totalmente no rebordo e ligamento posterior (CP), onde está recoberto pela sinovial
transverso; uma face central (que está orienta- (fig. 1-54); esta membrana se insere, por uma
da para o centro da articulação) recoberta de parte, no bordo central da meia-lua articular e no
cartilagem, continuação da meia-lua articular bordo superior do ligamento transverso e, pela
e, portanto, em contato com a cabeça femoral, outra, na cabeça femoral, no bordo da fosseta de
uma face periférica na qual se insere a cápsula inserção do ligamento redondo. Portanto, a sino-
articular (Ca), embora esta inserção capsular só vial tem uma forma troncocônica, e por isso le-
ocorra na parte mais interna dessa face, deixan- va o nome de tenda do ligamento redondo (Ts).
do livre o bordo cortante da orla dentro da ca-
O ligamento redondo não desempenha uma
vidade articular; desta forma, aparece um re- função mecânica importante, apesar de ser ex-
cesso circular delimitado entre a orla e a cápsu- tremamente resistente (carga de ruptura = 45
la (fig. l-54, segundo Rouviere), denominado kg); contudo, contribui para a vascularização da
prega perilímbica (Pp). cabeça femoral. De fato (fig. 1-57, vista inferior
O ligamento redondo (LR) é uma banda segundo Rouviere), do ramo posterior da artéria
fibrosa achatada (fig. 1-56), de 30-35 mm de obturatória (1) se desprende uma arteríola, a ar-
comprimento, que se estende da incisura ísquio- téria do ligamento redondo (6), que passa por
púbica (fig. 1-52) até a cabeça femoral e se en- baixo do ligamento transverso e penetra na es-
caixa no fundo do cótilo (fig. 1-53). Asua inser- pessura do ligamento redondo. Por outro lado, a
ção na cabeça femoral (fig. 1-55) situa-se na cabeça e o colo estão vascularizados pelas arté-
parte superior de uma fosseta localizada um rias capsulares (5), ramos das artérias circunfle-
pouco abaixo e por trás do centro da superfície xas anterior (3) e posterior (4), colaterais da ar-
cartilaginosa; na parte inferior da fosseta, o liga- téria femoral profunda (2).
I 00 . SISTEMADE BIBlIOIi:U! I 2. MEMBRO INFERIOR 33
GM
T2
Fig.1-52
Fig.1-57
34 FISIOLOGIA ARTICULAR
A cápsula do quadril tem a forma de bainha ce posterior do colo (8), por cima da cor-
cilíndrica (Fig. 1-58) que se estende do osso ilíaco rede ira (9) do tendão do obturador exter-
até a extremidade superior do fêmur. Esta bainha es- no, antes de fixar-se na fossa digital (Fd);
tá constituída por quatro tipos de fibras: - a linha de inserção cruza, obliquamente, os
- fibras longitudinais (1), de união, paralelas bordos superior e inferior do colo. Embai-
ao eixo do cilindro; xo, passa por cima da fosseta pré-trocanti-
- fibras oblíquas (2), também de união, po- niana (10), e 1,5 cm acima e adiante do
rém formando uma espiral, mais ou menos trocânter menor (Tme). Ás fibras mais pro-
longa, ao redor do cilindro; fundas sobem pela parte inferior do colo
para fixar-se no limite da cartilagem da ca-
- fibras arciformes (3), cuja única inserção é
beça. Desta forma elevam as pregas sino-
o osso ilíaco, expandidas em forma de
viais ou frenula capsulae (11), o mais sa-
"guirlandas" de um ponto ao outro do re-
liente de todos forma a prega pectíneo-fo-
bordo cotilóide, formam um arco, de com-
veal de Amantini (12).
primento variável, cuja parte mais proemi-
nente sobressai do centro da bainha. Estes A utilidade destes fremtla capsulae se toma
arcos fibrosos "envolvem" a cabeça femo- evidente nos movimentos de abdução. De fato, se
ral como se fossem um nó de gravata e aju- em adução (fig. 1-60) a parte inferior da cápsula (1)
dam a mantê-Ia no cótilo; se distende enquanto a sua parte superior (2) se con-
trai, durante a abdução (fig. 1-61) a longitude da par-
- fibras circulares (4), sem nenhuma inser-
te inferior da cápsula (1) seria insuficiente e limita-
ção óssea. São abundantes no centro da
ria o movimento se as frenula capsulae (3), ao de-
bainha, ao qual retraem ligeiramente. So-
senrolar-se, não acrescentassem uma folga adicio-
bressaem-se na face 'profunda da cápsula
nal. Podemos ver de que maneira a cápsula se dobra
formando o anel de Weber ou zona orbicll-
para cima (2) enquanto o colo bate com o rebordo
lar, que rodeia e estreita o colo. cotilóide através da orla (4) que se deforma e se
Pela sua extremidade interna, a bainha cap- achata: este mecanismo explica que a orla aumente
sular se fixa no rebordo cotilóide (5), no ligamento a profundidade do cótilo sem limitar o movimento.
transverso e na superfície periférica da orla (ver Nos movimentos de flexão extrema, a por-
pág. 32), estabelecendo relações estreitas com o
ção ântero-superior do colo faz impacto contra o
tendão do reto anterior (RA, figo 1-52). rebordo, o qual em alguns indivíduos deixa no co-
lo (fig. 1-58) a marca de um trilho ilíaco (Ri) lo-
o seu feixe direto (T) se fixa na espinha ilíaca ântero- calizado abaixo do limite da cartilagem.
inferior, o seu feixe reflexo (T,) se fixa na parte posterior da
corredeira supracotilóide após haver-se deslizado por um des-
dobramento da inserção capsular (fig. l-53) e do ligamento Se infiltramos um produto opaco na cavidade articular
ílio-tendino-pré-trocanteriano (Lit) que reforça a parte supe- podemos obter, radiologicamente, uma artrografia do qua-
rior da cápsula (ver pág. 36); o seu feixe recorrente (T,) refor- dril (fig. 1-62), que põe em evidência alguns detalhes da cáp-
ça a parte anterior da cápsula. sula e da orla.
O anel de Weber ou zona orbicular (9) forma uma retra~
ção evidente que divide a cavidade articular em dois compar-
A extremidade externa da bainha capsular timentos: o compartimento externo (1) e o compartimento in-
não se insere no limite da cartilagem da cabeça, terno (2). Ambos constituem os recessos superiores na sua
mas na base do colo, seguindo uma linha de inser- porção superior (3) e os recessos inferiores na sua porção in-
ção que passa: ferior (4). Na porção superior do compartimento interno se ra-
núfica um esporão, cujo vértice se orienta em direção ao re-
- adiante, ao longo da linha intertrocante- bordo cotilóide: é o recesso supralímbico (5) (comparar com a
riana anterior (6); figo 1-53); de sua porção inferior se desprendem duas "ilhas"
pequenas e arredondadas separadas por um profundo "golfo":
- atrás (fig. l-59), não na linha intertrocan- são os dois recessos acetabulares (6) e o trilho de parte do li-
tellana posterior (7), mas na união do ter- gamento redondo (7). Finalmente, entre a cabeça e o cótilo fi-
ço externo e dos dois terços internos da fa- ca desenhada a interlinha articular (8).
2. MEMBRO INFERIOR 35
3 352 8
Fig.1-62
Tme
Fig.1-58
Fig.1-60 Fig.1-61
36 FISIOLOGIA ARTICULAR
OS LIGAMENTOS DO QUADRIL
---(as explicações são comuns a todâs as figuras)
LB
fi
VE
Fig.1-63 Lpf
Fig. 1-67
fiLpf
•••
~1'1I
~ •• ___
.
Lif
- -
•
- .. ~,-
~ -
// -.r
- I'
~.I~.-~
_Tr
RA
h
j
i Fig. 1-65
Fig.1-66
38 FISIOLOGIA ARTICULAR
Lif
Fig.1-69
Fig.1-68
Fig. 1-71
Fig.1-72
40 FISIOLOGIA ARTICULAR
Quando o quadril realiza uma rotação ex- póstero-superior dq articulação (fig. 1-76); de-
terna (fig. 1-75), a linha intertrocanteriana ante- monstrando que durante a rotação externa o li-
rior se afasta do rebordo cotilóide; de maneira gamento ísquio-femoral está distendido.
que todos os ligamentos anteriores do quadril
estão tensos, e, portanto, a tensão é máxima nos Pelo contrário, na rotação interna
feixes cuja direção é horizontal, isto é, o feixe (fig. 1-77), todos os ligamentos anteriores se
ílio-pré-trocanteriano e o ligamento pubofe- distendem e em particular o feixe ílio-pré-tro-
moral. Esta tensão dos ligamentos anteriores canteriano e o ligamento pubofemoral, en-
pode ser observada tanto num corte horizontal quanto o ligamento ísquio-femoral entra em
visto desde cima (fig. 1-75) quanto numa vista tensão (figs. 1-78 e 1-79).
2. MEMBRO INFERIOR 41
Fig.1-74
Fig.1-75
Fig.1-79
Fig.1-76
1- -
42 FISIOLOGIA ARTICULAR
Fig.1-82
Fig.1-83 Fig.1-84
_____ n __ ~ _
44 FISIOLOGIA ARTICULAR
o ligamento redondo representa uma relí- face posterior do colo no rebordo cotilóide re-
quia anatômica e desempenha um papel bastan- presentado pela orla deslocada e comprimida.
te inadvertido na limitação dos movimentos do Na abdução~fig. 1-90), a fosseta desce em
quadril. direção à incisura ísquio-púbica (5) e o ligamen-
N a posição de alinhamento normal to está dobrado sobre si mesmo. A orla está
(fig. 1-85, corte vértico- frontal) está levemente comprimida entre o bordo superior do colo e o
tenso e a sua inserção femoral ocupa na parte rebordo cotilóide.
profunda (fig. 1-86, diagrama da parte cotilóide
Finalmente, a adução (fig. 1-91) desloca a
profunda com as diferentes posições da fosseta
fosseta para cima (6) até o contato com o limite
do ligamento redondo) sua posição média (1),
superior da parte profunda. Esta é a única posição
um pouco abaixo e atrás do centro (+).
onde o ligamento está verdadeiramente tenso. A
Durante a flexão do quadril (fig. 1-87), o parte inferior do colo empurra ligeiramente tanto
ligamento redondo se prega sobre si mesmo e a a orla quanto o ligamento transverso.
fosseta (fig. 1-86) acaba situada acima e adiante
Assim sendo, parece que a parte cotilóide
do centro da parte profunda (2). Por conseguin-
profunda representa a localização em todas as
te, o ligamento redondo não intervém na limita-
posições possíveis da fosseta do ligamento re-
ção da flexão.
dondo, incluindo as incisuras posterior (7) e an-
Durante a rotação interna (fig. 1-88, corte terior (8): de fato, nelas se localiza a fosseta du-
horizontal, vista superior), a fosseta se desloca rante os movimentos de adução-extensão-rota-
para a parte posterior e a inserção femoral do li- ção interna (7) e adução-flexão-rotação externa
gamento entra em contato com a parte posterior (8). Entre ambas as incisuras a parte proeminen-
da meia-lua articular (3). O ligamento se man- te e arredondada da cartilagem corresponde à
tém ligeiramente tenso. posição na qual a adução está mais limitada no
Durante a rotação externa (fig. 1-89), a plano frontal, pelo obstáculo que representa o
fosseta se desloca para diante e o ligamento en- outro membro inferior. Portanto, o perfil interno
tra em contato com a parte anterior da meia-lua da meia-lua articular não é devido ao acaso, mas
articular (4). O ligamento, novamente, só apare- representa a linha das posições extremas da fos-
ce ligeiramente tenso. Observar o impacto da seta do ligamento redondo.
2. MEMBRO INFERIOR 4S
Fig.1-91
J Fig.1-85 Fig.1-90
46 FISIOLOGIA ARTICULAR
~4'!' , Fig.1-96
.~~0»
+
o Fig. 1-94 .- -.
Fig.1-101
aI b
Fig.1-100
Fig.1-98 Fig.1-97
48 FISIOLOGIA ARTICULAR
Os músculos têm uma função essencial na es- adução deste tipo reforça o componente de luxação
tabilidade do quadril, porém com a condição de que dos adutores. A coxa valga favorece a luxação pato-
tenham uma direção transversal. De fato (fig. 1-102), lógica. Pelo contrário, este quadril malformado estará
os músculos cuja direção é semelhante à do colo estabilizado com uma posição em abdução, o que ex-
mantêm a cabeça no cótilo; isto é rigorosamente ver- plica as posições utilizadas para o tratamento ortopé-
dadeiro no caso dos pelvitrocanterianos (aqui apare- dico da luxação congênita do quadril, consistindo a
cem representados o piramidal (Pm) e o obturador primeira manobra numa abdução de 90° (fig. 1-106).
externo (Obe); a mesma coisa acontece com os glú- No plano horizontal (fig. 1- to7, diagrama do
teos, principalmente o glúteo mínimo e o glúteo mé- quadril vista superior), o valor médio do ângulo de
dio (GM), cujo componente de coaptação (seta pre- declinação é de 20° (a), devido à orientação diver-
ta) é muito importante, e graças à sua potência de- gente do colo e dó cótilo na posição bípede, tal co-
sempenham uma função primordial, por isso se de- mo vimos anteriormente (pág. 26), a parte anterior
nominam músculos suspensores do quadril. da cabeça femoral nãó está coberta pelo cótilo; se o
Contudo, os músculos que têm uma direção lon- colo está mais orientado para frente por um aumen-
gitudinal, como é o caso dos adutores (Ad), têm a to, por exemplo, de 40° do ângulo de declinação
tendência de luxar a cabeça femoral para cima do có- (b), podemos dizer que existe uma anteversão do
tilo (lado direito da figo 1-102) especialmente se o te- colo e a cabeça se encontra mais exposta à luxação
to do cótilo está achatado; esta malformação do cóti- anterior. De fato, numa rotação externa de 25° (c),
10 pode-se observar nas luxações congênitas do qua- o eixo de um colo normal ainda "cai" no cótilo (N),
dril e se identifica com facilidade numa radiografia enquanto o eixo do colo em anteversão (P), situado
ântero-posterior da pelve (fig. 1-103): normalmente 20° pela frente do colo normal, "cai" sobre o rebor-
o ângulo de Hilgenreiner, localizado entre a linha ho- do cotilóide: o quadril está prestes a sofrer uma lu-
rizontal que passa pelas cartilagens em Y (denomina- xação anterior. A ante versão do colo favorece a
da "Iinha dos Y") e a linha tangente ao teto do cótilo, luxação patológica. Pelo contrário, a retroversão
é de 25° no recém-nascido e de 15° no final do primei- do colo femoral é um fator de estabilidade; assim
ro ano; quando este ângulo ultrapassa os 30° se pode como a rotação interna (d); isto explica por que a
afirmar que existe uma malformação congênita do posição 3 de redução ortopédica da luxação congê-
cótilo. A luxação pode ser diagnosticada pela subida nita (fig. 1-106) se realiza em alinhamento normal
do núcleo cefálico por cima da linha dos Y (signo de e rotação interna.
Putti) e pela inversão do ângulo de Wiberg (ver Estes fatores arquitetônicos e musculares são
figo 1-36). Quando existe uma malformação do cóti- muito importantes na estabilidade das próteses. Na
10. a ação luxante dos adutores (-I-') está mais acentua- artroplastia total do quadril, o cirurgião deve cuidar
da quando a perna está em adução (fig. 1-102), porém especificamente:
o componente de luxação dos adutores diminui com
- a orientação correta do colo: que não tenha
a abdução (fig. 1-104) de forma que acabam sendo
muita anteversão, especialmente se opera
coaptadores em abdução máxima. por via anterior e vice-versa;
A orientação do colo femoral intervém, de ma- - a orientação correta do cótilo protético que,
neira importante, na estabilidade do quadril, conside- como o cótilo natural, deve "orientar-se" pa-
rando sua orientação tanto no plano frontal quanto no ra baixo (fig. 1-106) (inclinação máxima so-
plano horizontal. Já vimos (pág. 24), que no plano bre a horizontal: 45-50°) e ligeiramente para
frontal, o eixo do colo do fêmur forma um ângulo de diante (15°);
inclinação de 120-125° com o eixo diafisário (a, figo 1-
- o restabelecimento de um "comprimento fi-
105, diagrama do quadril, vista de frente); na luxação
congênita do quadril existe uma abertura do ângulo de siológico" do colo femoral, isto é, um braço
de alavanca normal dos glúteos, que desem-
inclinação (coxa valga) que pode alcançar os 140° (b);
durante a adução (c), o eixo do colo estará "adianta- penham uma função essencial na estabilida-
do" 20° com relação à sua posição normal: uma adu- de das próteses.
ção de 30° no caso de um quadril patológico (P) corres- Também deve-se ter em conta a importância da
ponde, portanto, a uma adução de 50° num quadril escolha da via de abordagem, para alterar o menos
normal; contudo, como vimos anteriormente, uma possível o equilíbrio muscular.
2. MEMBRO INFERIOR 49
Fig. 1-104
Normal Patológico
20
.t J
ab
c
p\
~N 20
'~P
N oJU d
\ Fig.1-106
N ~ •• N
~;p
50 FISIOLOGIA ARTICULAR
Os músculos flexores do quadril estão si- - o tenso r da fáscia lata (TFL), além da
tuados pela frente do plano frontal que passa sua ação estabilizadora da pelve (ver
pelo centro da articulação (fig. 1-108), todos pág. 58) e sua potente ação de abdu-
eles passam adiante do eixo de fiexão-extensão ção, possui um grande componente de
XX' incluído neste plano frontal. flexão.
Os músculos flexores do quadril são mui- Alguns músculos possuem, acessoriamen-
tos, porém os mais importantes são (fig. 1-109): te, um componente de flexão sobre o quadril,
- o psoas (Ps) e o ilíaco (I), cujos tendões, ação coadjuvante que não deve desprezar-se; são
unidos, se fixam no trocanter. Ele é o os seguintes: _
mais potente de todos os flexores e o - o pectíneo (Pec) principalmente adutor,
que tem um trajeto mais longo (as fibras e também
mais superiores do psoas se inserem na - o adutor médio (AM), que flexiona até
D12). Embora o seu tendão passe por um determinado ponto (ver pág. 68),
dentro do eixo ântero-posterior, muitos
autores discutem a sua ação adutora; es- - o reto interno (VI) e, finalmente,
ta ausência de adução poderia ser expli- - os feixes mais anteriores dos glúteos
cada pelo fato de que o vértice do tro- mínimo (Gm) e médio (GM).
canter menor se projeta sobre o eixo me- Todos os flexores do quadril têm, como
cânico do membro inferior (ver figo 1-
ações secundárias, componentes de adução-ab-
48). Contudo, a favor da sua ação aduto-
dução ou de rotação externa-interna, de tal for-
ra pode constatar-se, no esqueleto, que
ma que, sob este ponto de vista, podem classifi-
em flexão-adução-rotação externa a dis-
tância entre o trocânter menor e a emi- car-se em dois grupos:
nência ílio-pectínea é menor. O ílio- No primeiro grupo se incluem os feixes an-
psoas também é rotador externo; teriores dos glúteos mínimo e médio (Gm e GM)
e o tensor da fáscia lata (TFL): são os fiexores-
- o sartório (Sa) é, principalmente, flexor
abdutores-rotadores internos (perna direita da
do quadril e age como acessório na abdu-
figo 1-109), cuja contração isolada ou predomi-
ção e rotação externa (fig. 1-110); tam-
nante determina o movimento do jogador de fu-
bém participa no joelho (flexão-rotação
tebol (fig. 1-112).
interna; ver pág. 152). Sua potência (2
kg) não deve-se desprezar, visto que as No segundo grupo se incluem o ílio-psoas
suas 9/1 O partes são utilizadas na flexão; (PI), o pectíneo (Pec) e o adutor médio (AM),
que realizam o movimento defiexão-adução-ro-
- o reto anterior (RA) é um potente fle-
tação externa (perna esquerda da figo 1-109), co-
xor (5 kg), porém a sua ação no quadril
mo no jogador de futebol da figura 1-113.
depende do grau de flexão do joelho:
quanto maior seja a flexão deste, maior Durante a flexão direta, como acontece na
é a eficácia do reto anterior no quadril marcha (fig. 1-111), é necessário que ambos os
(ver pág. 148). Ele intervém, principal- grupos realizem uma contração sinérgica-anta-
mente, nos movimentos que associam a gonista equilibrada. A flexão-adução-rotação
extensão do joelho com a flexão do qua- interna (fig. 1-114) necessita de que predomi-
dril, como na fase de oscilação da mar- nem os adutores e o tensor da fáscia lata, assim
cha quando o membro inferior avança como os glúteos mínimo e médio como rotado-
(fig. 1-111); res internos.
2. MEMBRO INFERIOR 51
XI
Fig.1-108
Fig.1-112
Fig.1-109
Fig.1-113
Os músculos extensores do quadril estão si- - aqueles cujo trajeto passa abaixo do ei-
tuados atrás do plano frontal que passa pelo xo YY' são tanto extensores quanto adu-
centro da articulação (fig. 1-115), este plano tores, como ilustra a figura 1-118: são os
contém o eixo transversal XX' de fiexão-exten- ísquio-tibiais, os adutores {os que estão
são. situados por trás do plano frontal) e a
Distinguem-se dois grandes grupos de maior parte do glúteo máximo (G).
músculos extensores dependendo se eles se in- Quando queremos obter um movimento de
serem na extremidade superior do fêmur ou ao extensão direta (fig. 1-119), ou seja, sem com-
redor do joelho (fig. 1-116). ponente de abdução nem de adução, é necessá-
No primeiro grupo, o mais importante é o rio que estes dois grupos musculares entrem em
glúteo máximo (G e G'); é o músculo mais po- ação em contração aptagonista-sinérgica equili-
brada.
tente do corpo (34 kg para um comprimento de
15 cm), também é o de maior tamanho (66 cm2 Os extensores do quadril têm uma função
de secção) e, naturalmente, o mais forte (238 essencial na estabilização da pelve no sentido
kg). A sua ação está complementada pelos feixes ântero-posterior (fig. 1-120).
mais posteriores dos glúteos médios (GM) e mí-
- quando a pelve é basculada para trás (a),
nimo (Om). Estes músculos também são rotado-
isto é, no sentido da extensão, a estabili-
res externos (ver pág. 64).
dade se consegue unicamente através da
No segundo grupo figuram essencialmente tensão do ligamento de Bertin (LB) -
os músculos ísquio-tibiais: porção longa do bí- que limita a extensão (ver pág. 38) -;
ceps femoral (B), semitendinoso (ST) e semi-
- existe uma posição (b) na qual o centro
membranoso (SM), cuja potência total é de 22 kg
de gravidade (C) se localiza exatamente
(isto é, 2/3 da do glúteo máximo). Trata-se de
acima do centro do quadril: nem os fle-
músculos biarticulares e a sua eficácia no quadril
xores nem os extensores intervêm, po-
depende da posição do joelho: o bloqueio do
rém o equilíbrio é instável;
joelho em extensão favorece a sua ação de exten-
são sobre o quadril; portanto, existe uma relação - quando a pelve bascula para diante (c),
de antagonismo-sinergia entre os ísquio-tibiais e o centro de gravidade (C) passa pela
o quadríceps (principalmente o reto anterior). frente da linha dos quadris e os ísquio-
Uma parte dos adutores deve incluir-se entre es- tibiais (IT) são os primeiros a iniciar a
tes músculos extensores (ver pág. 62) e em parti- ação para endireitar a pelve;
cular o terceiro adutor (A'), cuja função acessó- - nos esforços de extensão sobre uma pel-
ria é a extensão do quadril. ve muito basculada (d) o glúteo máximo
Os músculos extensores do quadril pos- (G) se contrai energicamente, assim co-
suem ações secundárias dependendo da sua po- mo os ísquio-tibiais, cuja eficácia au-
sição com relação ao eixo ântero-posterior YY' menta se o joelho estiver em extensão
de abdução-adução: (posição de pé, tronco inclinado para
frente, mãos tocando os pés).
- aqueles cujo trajeto passa acima do eixo
YY' determinam uma abdução simultâ- Durante a marcha normal, os ísquio-ti-
nea à extensão, como no movimento de biais realizam a extensão e o glúteo máximo
dança da figura 1-117: são os feixes não intervém. Não acontece o mesmo ao correr,
mais posteriores dos glúteos mínimo saltar ou caminhar num plano ascendente,
(Gm) e médio (GM) e os feixes mais quando o glúteo máximo é indispensável e tem
elevados do glúteo máximo (G'); um papel principal.
2. MEMBRO INFERIOR 53
VI
Xl
Xl
Fig.1-115
Fig.1-118
Fig.1-116
....• -
IT IT
a
[)
b c
f)
d
Fig.1-120
54 FISIOLOGIA ARTICULAR
São músculos que estão geralmente si- mais superficial, que forma parte do glúteo del-
tuados fora do plano sagital que passa pelo tóide (fig. 1-127).
centro da articulação (fig. 1-121) e cujo tra- O piramidª.l da pelve (Pm) possui uma
jeto passa por fora e por cima do eixo ântero- ação abdutora inegável porém difícil de apreciar
posterior YY' de abdução-adução contido experimentalmente .devido à sua localização
neste plano. profunda.
O principal músculo abdutor do quadril é Dependendo das suas funções secundárias
o glúteo médio (GM): com seus 40 cm2 de su- na flexão-extensão e abdução-adução, podemos
perfície de secção e 11 cm de longitude, ele classificar os músculos abdutores em dois gru-
realiza uma potência de 16 kg. Ele é de uma pos.
grande eficácia, visto que a sua direção é qua-
No primeiro grupo se incluem todos os
se perpendicular ao seu braço de alavanca OT
músculos abdutores situados pela frente do pla-
(fig. 1-122). Podemos constatar também que
no frontal que passa pelo centro da articulação:
ele desempenha uma função essencial junto ao
o tensor da fáscia lata, quase todos os feixes an-
glúteo mínimo, na estabilidade transversal da
teriores dos glúteos médio e mínimo. Estes mús-
pelve (ver pág. 58).
culos determinam, pela sua contração isolada ou
O glúteo mínimo (Gm) é principalmente predominante, um movimento de abdução-fle-
abdutor (fig. 1-123), sua secção de 15 cm2 e seu xão-rotação interna (fig. 1-124).
comprimento de 9 cm lhe dão urna potência três
No segundo grupo se encontram os feixes
vezes menor que a do glúteo médio (4,9 kg).
posteriores dos glúteos mínimo e médio (os que
O tensor da fáscia lata (TFL) é um poten- estão situados por trás do plano frontal), assim
te abdutor com o quadril em alinhamento nor- como os feixes abdutores do glúteo máximo. Es-
mal; a sua potência é aproximadamente a meta- tes músculos determinam, pela sua contração
de da do glúteo médio (7,6 kg), embora seu bra- isolada ou predominante, um movimento de ab-
ço de alavanca seja muito mais longo. Ele tam- dução-extensão-rotação externa (fig. 1-125).
bém estabiliza a pelve. Para obter urna abdução direta (fig. 1-
O glúteo máximo (G) só é abdutor através 126), isto é, sem nenhum componente parasita,
de seus feixes mais superiores (na sua maior é necessário que ambos os grupos entrem em
parte, este músculo é adutor) e da sua porção contração antagonista-sinérgica equilibrada.
2. MEMBRO INFERIOR 55
Fig.1-121
Fig.1-122
Fig.1-124
Fig.1-123
56 FISIOLOGIA ARTICULAR
AABDUÇÃO
(continuação)
o glúteo deltóide (Farabeuf) forma um frágil que limita mais rapidamente a abdução,
amplo leque muscular (fig. 1-127) na face exter- porém reforça a ação do glúteo médio, indispen-
na da perna, no nível do quadril. Sua denomina- sável para a estabilidade transversal da pelve.
ção se deve à sua forma triangular com uma A ação do glúteo médio (fig. 1-129) sobre
ponta inferior e à sua analogia tanto anatômica o braço de alavanca do colo femoral varia de
quanto funcional com o deltóide braquial. Con- acordo com o grau de abdução:- na posição de
tudo, não está formado por uma camada muscu- alinhamento normal do quadril (a), a força do
lar contínua, mas por dois corpos musculares músculo F não é perpendicular ao braço de ala-
que ocupam os bordos anterior e posterior do vanca OTj; de forma que pode ser decomposta
triângulo; pela frente, o tensor da fáscia lata num vetor fU dirigid<?ao centro da articulação e
(TFL), que se insere na espinha ilíaca anterior e portanto centrípeto, componente coaptador do
superior (Eil), se dirige obliquamente para baixo glúteo médio (fig. 1-102) e num vetor perpendi-
e para trás; por trás, a porção superficial do glú- cular f/, e portanto tangencial, que representa a
teo máximo (G), que se fixa no terço posterior da força eficaz do músculo no início da abdução.
crista ilíaca e crista sacra, para dirigir-se para Por isso, à medida que a abdução aumenta (b), o
baixo e adiante. Ambos os músculos finalizam vetor fU tem a tendência a diminuir, enquanto o
com um desdobramento do bordo anterior e do vetor f' aumenta. Por conseguinte, o glúteo mé-
bordo posterior da banda ílio-femoral ou banda dio é cada vez menos coaptador e mais abdutor.
de Maissiat (CM), espessamento longitudinal da Sua máxima eficácia se desenvolve em abdução
fáscia lata (porção externa da aponeurose CfU- de 35° aproximadamente: neste momento, a di-
ral); deste modo, a partir da inserção do tensor e reção da sua força é perpendicular ao braço de
do glúteo superficial, esta banda se converte no
tendão terminal do glúteo deltóide (DG) que irá
alavanca OT2 e r se confunde com F - toda a
força do músculo se utiliza para realizar a abdu-
fixar-se na face externa da tuberosidade tibial ção. O músculo encurtou-se numa longitude
externa, no tubérculo de Gerdy (TG). Entre o TjTZ' que representa aproximadamente um terço
tensor e o glúteo máximo, a aponeurose glútea do seu comprimento: porém conserva um sexto
(AO) recobre o glúteo médio. Naturalmente, as deste.
duas porções musculares do glúteo deltóide po-
A ação do tensor da fáscia lata (fig. 1-130)
dem contrair-se de forma isolada, porém quando
pode ser analisada do mesmo modo (a). Sua for-
agem de maneira equilibrada a tração sobre o
ça F aplicada na espinha ilíaca CI se decompõe
tendão se realiza no eixo longitudinal e o glúteo
em dois vetores: flu centrípeto e fi' tangencial
deltóide realiza uma abdução pura. que fazem bascular a pelve. À medida que a ab-
A eficácia dos glúteos médio e mínimo es- dução se consolida (b) o componente f2/ aumen-
tá condicionada pelo comprimento do colo fe- ta, porém nunca poderá ser igual à força global F
moral (fig. 1-128). De fato, supondo que a cabe- do músculo. Por outro lado, é fácil ver neste es-
ça femoral esteja "colocada" diretamente sobre quema que o encurtamento CITz do músculo re-
a diáfise, a amplitude total da abdução aumenta- presenta uma fração mínima do seu comprimento
ria consideravelmente, porém o braço de alavan- total, da espinha ao tubérculo: isto explica que o
ca OT/ do glúteo médio seria quase três vezes corpo muscular seja curto com relação ao com-
mais curto, o qual dividiria por três sua potência primento do tendão, visto que sabemos que o
muscular. Desta forma podemos "explicar" ra- comprimento máximo de um músculo não ultra-
cionalmente a montagem da cabeça femoral no passa a metade do comprimento das suas fibras
"postigo" (ver pág. 30), solução mecânica mais contráteis.
2. 1IEMBRO INFERIOR 57
Eil
AG
eM
G
T TFL
DG
TG
Fig.1-128
Fig.1-127
Fig.1-130
a b a b
58 FISIOLOGIA ARTICULAR
Quando a pelve está em apoio bilateral tam com a poderosa ajuda do tensor da fáscia
(fig. 1-131), seu equilíbrio transversal está asse- lata TFL (fig. 1-132).
gurado pela ação simultânea e bilateral dos adu- Se um destes músculos se debilitar (fig. 1-
tores e abdutores. Quando estas ações antago- 132, b), a ação da gravidade não estará contra-
nistas estão equilibradas (a), a pelve é estável balançada e veremos como a pelve se "inclina"
numa posição simétrica, como na "posição de do lado oposto, de um ângulo a que aumenta
sentido" por exemplo. segundo a importância da paralisia. O tensor da
Se, por um lado, os abdutores dominam, en- fáscia lata estabiliza, não somente, a pelve, mas
quanto do outro predominam os adutores (b), a também o joelho: como se demonstrará mais
pelve se deslocará lateralmente para o lado no adiante (ver pág. 118), é um verdadeiro liga-
qual predominam os adutores; se não se restabele- mento lateral externo ativo, portanto a sua de-
ce o equihôrio muscular se produz a queda lateral. bilidade pode, depois de algum tempo, favore-
cer uma abertura externa da interlinha articular
Quando a pelve está em apoio unilateral
(fig. 1-132), o equilíbrio transversal se assegu- do joelho (ângulo B).
ra unicamente sob a ação dos abdutores do la- A estabilização da pelve através dos glú-
do do apoio: solicitado pelo peso do corpo P teos médio e mínimo e o tensor da fáscia lata é
aplicado ao centro de gravidade, a pelve tem a indispensável para uma marcha normal (fig. 1-
tendência a bascular em volta do quadril que 134). De fato, durante o apoio unilateral, a linha
suporta o peso. Neste caso podemos considerar da pelve, representada pela linha biilíaca, per-
a cintura pélvica como um braço de alavanca manece horizontal e sensivelmente paralela à
de primeiro gênero (fig. 1-133), cujo ponto de linha dos ombros. Quando os músculos do lado
apoio está constituído pelo quadril que carrega do apoio unilateral se paralisam (fig. 1-135), a
O, a resistência pelo peso do corpo P aplicado pelve bascula para o lado oposto, o qual provo-
ao centro de gravidade G e a potência pela for- caria uma queda se o tronco não se inclinasse
ça do glúteo médio GM aplicada à fossa ilíaca em bloco para o lado do apoio junto com uma
ântero-superior. Para que a linha dos quadris inclinação inversa da linha dos ombros. Esta ati-
permaneça horizontal em apoio unilateral é ne- tude característica do apoio unilateral, que asso-
cessário que a força do glúteo médio seja sufi- cia a basculação da pelve para o lado oposto e a
ciente para equilibrar o peso do corpo, tendo inclinação da parte superior do tronco, constitui
em conta a desigualdade dos braços de alavan- o sinal de Duchenne- Trendelenburg, diagnóstico
ca OE e OG. Neste equilíbrio da pelve, os glú- de paralisia ou de insuficiência dos glúteos mí-
teos médio e mínimo não estão sozinhos, con- nimo e médio.
b
a Fig.1-132 b
a
Fig.1-131
Fig.1-133
Fig.1-134 Fig.1-135
60 FISIOLOGIA ARTICULAR
Os músculos adutores do quadril se locali- mite uma maior amplitude de abdução manten-
zam geralmente dentro do plano sagital que do a eficácia do músculo, tal como podemos ver
nafigura 1-139:
passa pelo centro da articulação (fig. 1-136).
do lado A, a direção real das fibras;
De qualquer modo, a direção destes músculos
passa abaixo e por dentro do eixo ântero-pos- do lado B, a direção real das fibras (traços longos)
e a direção. "simplificada" (pontilhado):
terior YY' de abdução-adução, situado no plano
sagital. as fibras mais internas e mais baixas, as fibras
mais externas mais altas (disposição inversa da
(;J
Os músculos adutores são particularmen- disposição real). Estas duas posições estão repre-
te numerosos e potentes. Numa vista poste- sentadas em adução (adu) e em abdução (abd). O
rior (fig. 1-137), formam um amplo leque que alongamento das fibras entre a abdução e a adu-
ção, tanto na disposição real (faixa preta) quanto
se estende por todo o fêmur: na disposição "inversa ou simplificada" (faixa
-o músculo grande adutor (A) é o mais branca), aparece nitidamente.
potente (13 kg); sua conformação tão
especial (fig. 1-138) se deve a suas fi- - O reto interno (Ri) forma o bordo inter-
bras mais internas do ramo ísquio-pú- no do leque muscular;
bico se inserirem na porção superior do - o semimembranoso (SM), o semiten-
fêmur e as mais externas no ísquio, ter- dinoso (ST) e a porção longa do bíceps
minando mais abaixo, na linha áspera. femoral (B), embora sejam músculos
Por conseguinte, seus feixes superior ísquio-tibiais, essencialmente extenso-
(2) e médio (1) formam urna corredeira res do quadril e flexores do joelho, têm
de concavidade póstero-externa que um importante componente adutor,
pode ser vista graças à transparência do
feixe superior e à desarticulação do - o glúteo máximo (G) é adutor quase to-
quadril com rotação externa do fêmur. talmente (todos seus feixes passam por
Na concavidade de ambos os feixes debaixo do eixo YY');
(detalhe que representa o corte indica- - o quadrado crural (CC) é adutor e ro-
do pela seta) se encontra em tensão o tador externo;
terceiro feixe, o inferior, denominado - também é assim com o pectíneo (P);
também terceiro adutor (A'), que forma
- o obturador interno (Obi) ajudado pe-
um corpo muscular diferente.
los gêmeos pélvicos (não figurados) e
Esta disposição das fibras musculares tem como
resultado a redução do alongamento relativo - o obturador externo (Obe) possuem
que se realiza durante a abdução, portanto per- um componente de adução.
3
Fig.1-138
Fig.1-136
Fig.1-137
Fig.1-139
62 FISIOLOGIA ARTICULAR
o esquema frontal dos adutores (fig. 1-140) frontal que passa pelo centro da articulação
mostra: (linha de pontos e traços), agem como exten-
- o adutor médio (AM), cuja potência (5 sares; éo caso específico dos feixes inferiores
kg) alcança apenas a metade da do adutor do adutor magno, do terceiro adutor e, natural-
malOr; mente, dos ísquio-tibiais. Quando a inserção
superior se localiza adiante do plano frontal.
- o adutor curto (Am), cujos dois feixes os adutores são também flexores, é o caso do
estão recobertos pelo adutor médio, por
pectíneo, dos adutores mínimo e médio, do fei-
baixo, e o pectíneo (P), por cima;
xe superior do adutor magno e do reto interno.
- o reto interno (Ri) limita, por dentro, o Contudo, este componente de flexão-extensão
compartimento dos adutares. depende também da posição de partida do qua-
J unto à sua ação principal, os adutores pos- dril (ver pág. 68).
suem componentes de flexão-extensão e de rota- Como vimos anteriormente, os adutores
ção axial. são indispensáveis para o equilíbrio da pelve
Sua função na flexão-extensão (fig. 1-141, em apoio unilateral; além disso, desempenham
vista interna) depende da localização da sua in- um papel essencial em certas atitudes ou mo-
serção superior. Quando esta inserção se en- vimentos esportivos, como a prática do esqui
contra no ramo ísquio-púbico, atrás do plano (fig. 1-142) ou a equitação (fig. 1-143).
2. MEMBRO INFERIOR 63
y
fIJIC.
Fig.1-141
Fig.1-143
-----
64 FISIOLOGIA ARTICULAR
Os rotadores externos do quadril são nu- guir o seu tendão rodeia a face poste-
merosos e potentes. Seu trajeto cruza por trás rior do colo femoral e a face inferior
do eixo vertical do quadril. Esta característica da articulação, suas fibras carnosas
aparece nitidamente num corte horizontal da se fixam na face externa do contorno
pelve que, realizado ligeiramente por cima do do forame obturador. Em conjunto,
centro da articulação (fig. 1-144, vista supe- ele se enrola ao redor do colo e para
rior), mostra o conjunto dos rotadores externos. poder vê-Io inteiro é necessário fle-
Estes são: xionar ao máximo a pelve sobre o fê-
- os pelvitrocanterianos, que desem- mur (fig. 1-146, vista póstero-ínfero-
penham o papel principal: externa' da pelve, com o quadril fle-
xionado). Desta forma podemos en-
- o piramidal da pelve (Pm), que se fi- tender duas características da sua
xa no bordo superior do trocânter ação: é principalmente rotador exter-
maior, se dirige para dentro e atrás, no com o quadril flexionado (ver a
penetra na incisura ciática maior (fig. página seguinte) e é ligeiramente fle-
1-145, vista póstero-superior) e se in- xor do quadril devido à sua disposi-
sere na face anterior do sacro; ção, enrolado em volta do colo;
- o obturador interno (Obi), que se- - alguns músculos adutores são também
gue primeiro um trajeto sensivel- rotadores externos:
mente paralelo ao piramidal, porém
logo se reflete em ângulo reto no bor- - o quadrado crural (CC), que se estende
do posterior do osso ilíaco, abaixo da da linha intertrocanteriana posterior (fig.
espinha ciática (fig. 1-145). A segun- 1-145) até a tuberosidade isquiática.
Além disso, ele é extensor ou flexor se-
da parte do seu trajeto (Obi') é endo-
pélvica e o conduz até suas inserções gundo a posição do quadril (fig. 1-153);
no bordo interno do forame obtura- - o pectíneo (Pec), que se expande da linha
dor. Na primeira parte de seu trajeto média de trifurcação da linha áspera
está acompanhado pelos dois gê- (fig. 1-146) até o ramo horizontal do pú-
meos pélvicos, pequenos músculos bis, é adutor, flexor e rotador externo;
que se estendem ao largo dos seus - os feixes mais posteriores do adutor
bordos superior e inferior e se inse- magno possuem um componente de ro-
rem (fig. 1-145) nas proximidades da tação externa, do mesmo modo que os
espinha ciática (+) e da tuberosidade ísquio-tibiais (fig. 1-147);
isquiática (+) respectivamente .. Eles
terminam na face interna do trocân- - os glúteos:
ter maior através de um tendão co- - o glúteo máximo inteiro, tanto sua por-
mum com o do obturador interno. ção superficial (G) quanto sua porção
Sua ação é idêntica; profunda (G');
- o obturador externo (Obe) se inse- - os feixes posteriores do glúteo mínimo
re no fundo da fosseta digital, na fa- e, principalmente, os do glúteo médio
ce interna do trocânter maior, a se- (Gm) (figs. 1-144 e 1-145).
/
2. MEMBRO INFERIOR 65
Fig.1-146
Fig.1-145
Fig.1-144
66 FISIOLOGIA ARTICULAR
o corte horizontal (fig. 1-147) que passa li- - o glúteo médio (GM), spmente pelos
geiramente abaixo da cabeça femoral (em pontia- seus feixes anteriores.
do) mostra o componente de rotação dos ísquio-ti- Na rotação interna de 30 a 40° (fig. 1-149),
biais e adutores. A projeção horizontal da porção o trajeto do obturddor externo (Obe) e do pectí-
longa do bíceps femoral (B), do semitendinoso, neo se projeta exatamente abaixo do centro da
do semimembranoso e do terceiro adutor (seta articulação; assim, estes dois músculos não são
branca A) e inclusive dos adutores médio (AM) e rotadores externos. Os glúteos mínimo e médio
mínimo passa por trás do eixo vertical: portanto continuam sendo rotadores internos.
estes músculos são rotadores externos quando o
membro inferior gira ao redor do seu eixo mecâ- Contudo, se a rotação interna continua (fig.
nico longitudinal (fig. 1-148), isto é, com o joelho 1-150), o obturador externo e o pectíneo se
estendido, e o quadril e o pé servindo como eixo. transformam em rotadores internos, visto que o
Além disso, é necessário destacar que na rotação seu trajeto passa pela frente do eixo vertical, en-
quanto o tensor da fáscia lata e os glúteos míni-
interna (RI) o trajeto de uma parte dos adutores mo e médio se transformam em rotadores exter-
passa pela frente do eixo vertical e que, por isso,
eles se transformam em rotadores internos. nos. Isto só é verdade quando a rotação interna
alcança a sua amplitude máxima; este é um
Os rotadores internos são menos numero- exemplo da inversão das ações musculares de-
sos que os externos e sua potência é três vezes pendendo da posição da articulação.
menor (54 kg para os rotadores internos, em
Esta inversão das ações musculares é devi-
comparação com os 146 kg dos rotadores exter-
da a uma mudança na orientação das fibras
nos). A trajetória destes músculos passa pela
musculares, cuja vista em perspectiva ântero-sú-
frente do eixo vertical do quadril. O corte hori-
pero-externa (fig. 1-151) demonstra que com o
zontal (fig. 1-148) mostra os três rotadores inter-
quadril em rotação interna máxima os músculos
nos do quadril:
obturador externo e pectíneo (setas tracejadas)
- o tenso r da fáscia lata (TFL), que se di- passam pela frente do eixo vertical (linha em
rige à espinha ilíaca ântero-superior pontos e traços), enquanto os glúteos mínimo e
(Eil); médio (setas pretas) tomam uma direção oblíqua
- o glúteo mínimo (Gm), rotador interno para cima e para trás.
quase totalmente;
2. .\fEMBRO INFERIOR 67
Fig.1-148
Fig.1-150
68 FISIOLOGIA ARTICFLAR
Fig.1-153
Fig.1-152
Fig.1-155
Fig.1-154
70 FISIOLOGIA ARTICULAR
Na posição de flexão acentuada do quadril xionado), não somente o piramidal (Pm) é abdu-
(fig. 1-156), o piramidal modifica as suas ações tor, mas também o obturador interno possui a
(fig. 1-157: vista externa): enquanto no alinha- mesma ação (Obi), assim como todo o glúteo
mento normal é rotador externo-flexor-abdutor máximo (G); a ação destes músculos permite as-
(seta branca), na flexão acentuada se transfor- sim, com os quadris flexionados a 900, separar os
ma (seta tracejada) em rotador interno-exten- joelhos um do outro. O glúteo mínimo (Gm) é
sor-abdutor, a transição entre estas duas zonas um rotador interno evidente e se transforma em
de ação se situa perto da flexão de 600, onde ele adutor (fig. 1-159), bem como o tensor da fáscia
é somente abdutor. Em flexão sempre acentuada lata (TFL); o movimento global realizado é uma
(fig. 1-158: vista póstero-externa do quadril fle- flexão-adução-rotação interna (fig. 1-160).
--------- ~---~--~
2. MEMBRO INFERIOR 71
\
\ I
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1
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...
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\
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Fig.1-157 I1
III
I
Fig.1-158
Fig.1-159 Fig.1-160
- -'Ir
72 FISIOLOGIA ARTICULAR
Segundo o grau de flexão do quadril, a pel- que este músculo também é abdutor-flexor, co-
ve, em apoio unilateral, está estabilizada por mo o tensor.
diferentes músculos abdutores.
Quando a pelve está em equilíbrio no plano
Com o quadril em extensão (fig. 1-161), o ântero-posterior (fig. 1-163), o centro de gravida-
centro de gravidade cai por trás da linha dos de cai na linha dos quadris, e neste caso será o
quadris e este não pode realizar a báscula poste- glúteo médio que estabiliza a pelve lateralmente.
rior da pelve devido à tensão do ligamento de A partir do momento no qual a pelve bas-
Bertin (ver também página 38) e à contração do cula para frente, o glúteo máximo intervém, ao
tensor da fáscia lata que, ao mesmo tempo, é fle- qual se juntam sucessivamente o piramidal
xor do quadril: portanto, o tensor corrige a bás- (fig. 1-164), o obturador interno (fig. 1-165) e
cula lateral e a báscula posterior da pelve ao o quadrado crural (fig. 1-166), à medida que a
mesmo tempo. flexão do tronco aumenta: estes músculos são
Quando a pelve está menos basculada para simultaneamente abdutores - com o quadril
trás (fig. 1-162), o centro de gravidade continua em flexão - e extensores, o que permite que
caindo por trás da linha dos quadris e o glúteo se corrija a báscula da pelve, simultaneamente,
mínimo começa a agir: não devemos esquecer nos dois planos.
2. MEMBRO INFERIOR 73
Fig.1-161 Fig.1-162
Fig.1-163 Fig.1-164
Fig.1-165 Fig.1-166
74 FISIOLOGIA ARTICULAR
o primeiro grau de liberdade está condi- XX' e o eixo do fêmur e 93° entre XX' e o eixo
cionado pelo eixo transversal XX' (fig. 2-1, vis- da perna. Do qual se deduz que, em máxima fie-
ta interna e 2-2, vista externa do joelho semifie- xão, o eixo da perna não se situa, exatamente por
xionado), ao redor do qual se realizam os movi- trás do eixo do fêmur, mas por trás e um pouco
mentos de fiexão-extensão no plano sagital. Es- para dentro, o qual desloca o calcanhar em dire-
te eixo XX', contido num plano frontal, atraves- ção ao plano de' simetria: a fiexão máxima faz
sa horizontalmente os côndilos femorais. com que o calcanhar entre em contato com a
Por causa da forma "em alpendre" do colo nádega, no nível da "tuberosidade isquiática.
femoral (fig. 2-3), o eixo da diáfise femoral não O segundo grau de liberdade consiste na
está situado, exatamente, no prolongamento do rotação ao redor do eixo longitudinal YY' da per-
eixo do esqueleto da perna, e forma com este um na (figs. 2-1 e 2-2), com o joelho em flexão. A
ângulo obtuso, aberto para dentro, de 170-175°: estrutura do joelho toma esta rotação impossível
se trata do valgo fisiológico do joelho. quando a articulação está em máxima extensão;
Contudo, os três centros articulares do qua- assim, o eixo da perna se confunde com o eixo
dril (H), do joelho (O) e do tornozelo (C) estão mecânico do membro inferior e a rotação axial
alinhados numa mesma reta HOC, que represen- não se localiza no joelho, mas no quadril que o
ta o eixo mecânico do membro inferior. Na per- substitui.
na, este eixo se confunde com o eixo do esque- Na figura 2-1 aparece desenhado um eixo
leto; porém, na coxa, o eixo mecânico HO for- ZZ' ântero-posterior e perpendicular aos dois ei-
ma um ângulo de 6° com o eixo do fêmur. xos mencionados. Este eixo não representa um
Por outro lado, o fato de que os quadris terceiro grau de liberdade; quando o joelho está
estejam mais separados entre si que os torno- fiexionado, uma certa folga mecânica permite
zelos faz com que o eixo mecânico do membro movimentos de lateralidade de 1 a 2 em no tor-
inferior seja ligeiramente oblíquo para baixo nozelo; porém, em extensão completa, estes mo-
e para dentro, formando um ângulo de 3° com vimentos de lateralidade desaparecem totalmen-
a vertical. Este ângulo será mais aberto quanto te: se existissem, deveriam ser considerados pa-
mais larga seja a pelve, como no caso da mu- tológicos.
lher. Isso explica por que o valgo fisiológico Contudo, é necessário saber que os movi-
do joelho é mais marcado na mulher do que no mentos de lateralidade aparecem normalmente
homem.
sempre que se flexione minimamente o joelho;
O eixo de fiexão-extensão XX' é mais ho- para saber se são patológicos, é indispensável
rizontal, assim sendo, não constitui a bissetriz compará-Ios com os do lado oposto, com a
(Ob) do ângulo de valgo: medem-se 81° entre condição de que este lado seja normal.
2. MEMBRO INFERIOR 77
Fig.2-2
Fig.2-3
78 FISIOLOGIA ARTICULAR
Além das suas yariações fisiológicas de- que na maior parte dos casos a deformação é se-
pendendo do sexo, o ângulo de valgo sofre va- melhante e bilateral, porém não é obrigatoria-
riações patológicas dependendo de cada indiví- mente simétrica, já que um joelho pode estar
duo (fig. 2-4). mais desviado que o outro; todavia, existem ca-
Quando este ângulo se inverte, se trata de sos muito raros de desvios em "rajada", ou seja,
um genu varo (lado esquerdo da figo 2-4): nor- com os dois joelhos do mesmo lado, como mos-
malmente diz-se que o indivíduo está "camba- tra o esquema: esta é uma situação muito incô-
do" (fig. 2-6); o centro do joelho, representado moda, que provoca um desequilíbrio do lado do
pela incisura interespinhosa da tíbia e a incisura genu valgo; podemos encontrar este caso, quan-
intercondiliana do fêmur, se desloca para fora. O do após uma osfeotomia, se hipercorrigiu um
genu varo pode ser apreciado de duas maneiras: genu varo em genu valgo; assim sendo, é neces-
sário operar rapidaménte o outro lado para resta-
- medindo o ângulo entre o eixo diafisá-
belecer o equilíbrio.
rio do fêmur e o da tíbia: quando é
maior do que o seu valor fisiológico de Os desvios laterais dos joelhos não são raros,
170°, por exemplo, 180 ou 185°, repre- visto que com o passar do tempo podem gerar
senta uma inversão do ângulo obtuso; uma artrose; de fato, as cargas não estão repartidas
- medindo o deslocamento externo com igualdade entre os compartimentos externo e
(fig. 2-5) do centro do joelho com re- interno do joelho, provocando um desgaste pre-
lação ao eixo mecânico do membro in- maturo do compartimento interno, uma artrose
ferior, por exemplo 10, 15 ou 20 mm. remoro-tibial interna, no genu varo, ou sob o
Observa-se D.E. = 15 mm. mesmo mecanismo, uma artrose remoro-tibial
externa no genu valgo; isso pode levar a realizar,
Pelo contrário, quando o ângulo de valgo se no primeiro caso uma osteotomia tibiaI (ou fe-
"fecha", corresponde ao genu valgo (lado direi- moral) de valgização e no segundo caso, uma os-
to da figo 2-4): se diz então que o indivíduo é teotomia tibiaI (ou femoral) de varização.
"zambro" (fig. 2-8). Também existem dois mé-
todos possíveis para se detectar o genu valgo: Na atualidade, para prevenir estes proble-
mas, se dá muita importância à vigilância dos
- medindo o ângulo dos eixos diafisários,
desvios laterais dos joelhos nas crianças peque-
cujo valor estará menor do que o ângulo
nas. Isto se deve a que o genu valgo bilateral é
fisiológico de 170°: por exemplo 165°.
muito freqüente nas crianças, e embora desapa-
- medindo o deslocamento interno reça progressivamente durante o crescimento, é
(fig. 2-7) do centro do joelho com re- necessário realizar um seguimento desta evolu-
lação ao eixo mecânico do membro in- ção favorável com radiografias do conjunto dos
ferior, por exemplo 10, 15 ou 20 mm. membros inferiores, visto que no caso de per-
Observa-se D.I = 15 mm. sistir um desvio importante até o final da infân-
A medida do deslocamento externo ou in- cia, seria conveniente avaliar uma intervenção
terno é mais rigorosa do que a do ângulo de val- por epifisiodese tíbio-femoral interna no caso
go, porém requer excelentes radiografias de to- de genu valgo, ou externa no caso de genu varo,
do o conjunto dos membros inferiores deno- que deve ser realizada antes do final do período
minadas "de goniometria" (fig. 2-4). No esque- de crescimento visto que estas intervenções
ma da figura, cúmulo do azar, o indivíduo apre- agem impedindo o crescimento de um lado pro-
senta um genu valgo à direita e um genu varo à vocando um maior crescimento do lado "mais
esquerda. Esta circunstância é estranha, visto desviado" .
2. 1'1EMBRO INFERIOR 79
Fig.2-5
Fig.2-4
Fig.2-8 Fig.2-6
80 FISIOLOGIA ARTICULAR
OS MOVIMENTOS DE FLEXÃO·EXTENSÃO
Fig.2-9 Fig.2-10
Fig.2-14
Fig.2-13
82 FISIOLOGIA ARTICULAR
Rotação da perna ao redor do seu eixo A medida da rotação axial passiva se rea-
longitudinal: este movimento só pode ser reali- liza com o indivíduo em decúbito prono, com o
zado com o joelho flexionado, enquanto com o joelho flexionado em ângulo reto: o examina-
joelho estendido o bloqueio articular une a tíbia dor segura o pé com as duas mãos e o gira, le-
com o fêmur. vando a sua ponta para fora (fig. 2-18) e para
Para medir a rotação axial ativa, devemos dentro (fig. 2-19). Como é de se esperar, esta
rotação passiva é um pouco mais ampla que a
flexionar o joelho em ângulo reto, o indivíduo
rotação ativa.
sentado com as pernas penduradas para fora da
mesa de exame (fig. 2-15): a flexão do joelho ex- Finalmente, existe uma rotação axial de-
clui a rotação do quadril. Na posição de referên- nominada "automática", visto que está, inevi-
cia, a ponta do pé se dirige ligeiramente para fo- tável e involuntariamente, ligada aos movimen-
ra (ver pág. 84). tos de flexão-extensão. Ocorre, principalmente.
nos últimos graus de extensão ou no início da
A rotação interna (fig. 2-16) leva a ponta
flexão. Quando o joelho se estende, o pé é leva-
do pé para dentro e intervém, de forma importan-
do para a rotação extema (fig. 2-20); se indica
te, no movimento de adução do pé (ver pág. 160).
uma simples regra mnemotécnica para lembrar
A rotação externa (fig. 2-19) leva a ponta esta associação: EXTensão e rotação EXTerna.
do pé para fora e também intervém no movi- De maneira inversa, quando o joelho está flexio-
mento de abdução do pé. nado a perna gira em rotação interna (fig. 2-21).
Para Fick, a rotação externa é de 40° com O mesmo movimento se realiza quando, ao do-
relação aos 30° de rotação interna. Esta amplitu- brar as pernas sobre o corpo, a ponta do pé é le-
de varia com o grau de flexão, visto que, segun- vada para dentro. Esta postura também corres-
do este autor, a rotação externa é de 32° quando ponde à posição fetal.
o joelho está flexionado a 30° e de 42° quando Mais adiante vamos estudar o mecanismo
está flexionado em ângulo reto. desta rotação automática.
82 FISIOLOGIA ARTICULAR
Rotação da perna ao redor do seu eixo A medida da rotação axial passiva se rea-
longitudinal: este movimento só pode ser reali- liza com o indivíduo em decúbito prono, com o
zado com o joelho flexionado, enquanto com o joelho flexionado em ângulo reto: o examina-
joelho estendido o bloqueio articular une a tíbia dor segura o pé com as duas mãos e o gira, le-
com o fêmur. vando a sua ponta para fora (fig. 2-18) e para
Para medir a rotação axial ativa, devemos dentro (fig. 2-19). Como é de se esperar, esta
rotação passiva é um pouco mais ampla que a
flexionar o joelho em ângulo reto, o indivíduo
rotação ativa.
sentado com as pernas penduradas para fora da
mesa de exame (fig. 2-15): a flexão do joelho ex- Finalmente, existe uma rotação axial de-
clui a rotação do quadril. Na posição de referên- nominada "automática", visto que está, inevi-
cia, a ponta do pé se dirige ligeiramente para fo- tável e involuntariamente, ligada aos movimen-
ra (ver pág. 84). tos de flexão-extensão. Ocorre, principalmente.
nos últimos graus de extensão ou no início da
A rotação interna (fig. 2-16) leva a ponta
flexão. Quando o joelho se estende, o pé é leva-
do pé para dentro e intervém, de forma importan-
do para a rotação extema (fig. 2-20); se indica
te, no movimento de adução do pé (ver pág. 160).
uma simples regra mnemotécnica para lembrar
A rotação externa (fig. 2-19) leva a ponta esta associação: EXTensão e rotação EXTerna.
do pé para fora e também intervém no movi- De maneira inversa, quando o joelho está flexio-
mento de abdução do pé. nado a perna gira em rotação interna (fig. 2-21).
Para Fick, a rotação externa é de 40° com O mesmo movimento se realiza quando, ao do-
relação aos 30° de rotação interna. Esta amplitu- brar as pernas sobre o corpo, a ponta do pé é le-
de varia com o grau de flexão, visto que, segun- vada para dentro. Esta postura também corres-
do este autor, a rotação externa é de 32° quando ponde à posição fetal.
o joelho está flexionado a 30° e de 42° quando Mais adiante vamos estudar o mecanismo
está flexionado em ângulo reto. desta rotação automática.
2. MEMBRO INFERIOR 83
, (
I"
~
Fig.2-16 Fig.2-17
Fig.2-19
Fig.2-18
Fig.2-21 Fig.2-20
84 FISIOLOGIA ARTICULAR
A orientação dos côndilos femorais e dos Durante a flexão (fig. 2-27), as curvaturas
platôs tibiais favorece a flexão do joelho côncavas do fêmur e da tíbia estão face a face,
(fig. 2-22, segundo Bellugue). Duas extremida- aumentando, portanto, o espaço disponível para
des ósseas móveis uma com relação à outra (a) as massas musculares.
modelam rapidamente a sua forma em função As figuras na margem inferior da página
dos seus movimentos (b) (experiência de Fick). explicam através de uma espécie de "álgebra
Todavia, a flexão não pode atingir o ângulo re- anatômica" as torções axiais sucessivas dos seg-
to (c), a menos que não se elimine um fragmen- mentos do membro inferior, vistos desde cima
to (d) do segmento superior a fim de retardar o no esquema. "
impacto com a superfície inferior. O ponto fra- Torção do fêmur (fig. 2-28): se a cabeça e
co criado no fêmur se compensa pela transpo- o colo (1) com o maciço condiliano (2) se unem
sição para diante (e) da diáfise, o qual desloca (a); sem torção (b), o eixo do colo está no mes-
os côndilos para trás. Simetricamente, a tíbia se mo plano que o eixo dos côndilos; porém, na
torna mais fraca atrás e mais forte adiante (f), verdade, o colo forma um ângulo de 30° com o
deslocando para trás a superfície tibial. Desta plano frontal (c), de modo que o eixo dos côndi-
forma, na flexão máxima, as importantes mas- Ias permanece frontal (d) e é necessário introdu-
sas musculares podem situar-se entre a tíbia e o zir uma torção da diáfise femoral de -300 por
fêmur.
uma rotação interna que corresponde ao ângulo
As curvaturas gerais dos ossos do mem- de anteversão do colo femora!.
bro inferior representam os esforços que agem Torção do esqueleto da perna (fig. 2-29):
sobre eles. Obedecem às leis das "colunas
se a tíbio-tarsiana (1) e os platôs tibiais (2) se
com carga excêntrica" de Euler (Steindler). unem (a); sem torção (b), o eixo dos platôs e o
Quando uma coluna está articulada pelos seus eixo da tíbio-tarsiana são frontais; na verdade
dois extremos (fig. 2-23, a), a curvatura ocupa (c), a retroposição do maléolo externo converte
toda a sua altura, este é o caso da curvatura de o eixo da tíbio-tarsiana oblíquo para fora e para
concavidade posterior da diáfise femoral (fig. trás, o qual corresponde a uma torção do esque-
2-23, b). Se a coluna está fixada embaixo e é leto da perna de +250 por uma rotação externa.
móvel em cima (fig. 2-24, a), existem duas
Se unirmos (fig. 2-30, a) os côndilos (1) e
curvaturas opostas, a mais alta ocupa 2/3 da
os platôs, parece que os dois eixos deveriam ser
coluna: estas correspondem às curvaturas do
frontais (b). Na realidade, a rotação axial auto-
fêmur no plano frontal. Se a coluna estivesse
mática acrescenta +5° de rotação externa da tí-
fixada pelos seus dois extremos (fig. 2-25, a), bia sobre o fêmur em extensão máxima.
a curvatura ocuparia as duas quartas partes
centrais, o que corresponde às curvaturas da Estas torsões escalonadas ao longo do
tíbia no plano frontal (fig. 2-25, b). No plano membro inferior (-30° +25° +5°) se anulam
sagital, a tíbia apresenta três características (fig. 2-31, a) de tal modo que o eixo da tíbio-
(fig. 2-26, b): tarsiana está quase na mesma direção do que o
eixo do colo, ou seja, em rotação externa de
- a retrotorção (T), deslocamento poste-
30°, provocando um deslocamento de 300 para
rior citado anteriormente;
fora do eixo do pé, na posição de pé, com os
- a retroversão (V), declive de 5-6° dos calcanhares juntos e a pelve simétrica (b). Du-
platôs tibiais para trás; rante a marcha, o avanço do membro oscilante
- a retroflexão (F), curvatura de concavi- leva o quadril homólogo para diante (c); se a
dade posterior de uma coluna móvel em pelve gira 30°, o eixo do pé se dirige diretamen-
ambos os extremos (fig. 2-23, a), como te para frente, no sentido da marcha, o que per-
no caso do fêmur. mite um "ótimo desenvolvimento do passo".
2. MEMBRO INFERIOR 85
b c
a
Fig.2-22 e
a b a
a b b a
Fig.2-26 Fig.2-25
Fig.2-24 Fig.2-23 Fig: 2-27
+30
'G-_~
+
-W- Fig. 2-28 b b
+30
2 ~30~30
Fi9.2-302 -O b c ~;
~30
1.6-
O-
+ ~4- b
---~ ~+25
c
c
a
Fig.2-29
86 FISIOLOGIA ARTICULAR
AS SUPERFÍCIES DA FLEXÃÜ-EXTENSÃü
Fig.2-32
Fig.2-33
Fig.2-34
GI
~
Fig.2-35
88 FISIOLOGIA ARTICULAR
As superfícies articulares, tal corno estão terna dos ligamentos cruzaqos, parece maIS
descritas na página anterior, só permitem um apropriado o termo união central.
único movimento que é o da fiexão-extensão. Esta transformação das superfícies articula-
De fato, a crista romba da superfície inferior, ao res é mais fácil' de entender quando se utiliza co-
encaixar-se na garganta da polia em todo o seu rno exemplo um m!Jdelo mecânico (ver o mode-
comprimento, impede qualquer movimento de lo lU no final do volume).
rotação axial da superfície inferior sob a super-
fície superior. Se pegarmos duas peças (fig. 2-39), uma
superior que apresenta urna fenda e outra infe-
Para que a rotação axial seja factível, deve- rior, com uma espiga de tamanho e medidas in-
se modificar a superfície inferior (fig. 2-37) de tal feriores à fenda, as duas peças podem deslizar-
forma que a crista romba reduza o seu compri- se com facilidade uma sobre a outra, mas não
mento. Com esta finalidade, se limam (fig. 2-38)
podem girar uma com relação à outra.
as duas extremidades desta crista, de forma que a
parte média que permanece forme um pivô, en- Se eliminarmos as duas extremidades da
caixado na garganta da polia e ao redor do qual a espiga da peça inferior para que permaneça so-
superfície inferior pode girar. Este pivô é o ma- mente a sua parte central, cujos diâmetros não
ciço das espinhas tibiais que forma a vertente excedem o comprimento da fenda (fig. 2-40), se
externa da glenóide interna e a vertente interna substitui a espiga por um pivô cilíndrico, capaz
da glenóide externa; por este pivô central, ou de ser encaixado na fenda da peça superior.
mais concretamente, pela espinha tibial interna, Então (fig. 2-41), as duas peças são capazes
passa o eixo vertical (R), ao redor do qual se rea- de realizar dois tipos de movimento, uma em re-
lizam movimentos de rotação longitudinal. Al- lação à outra:
guns autores designam os dois ligamentos cru-
- um movimento de deslizamento da espi-
zados, denominando-lhes pivô central, conside-
ga central ao longo da fenda, que corres-
rados o eixo de rotação longitudinal do joelho.
Esta terminologia parece não ser muito apro- ponde à fiexão-extensão;
priada, visto que o conceito de pivô significa um - um movimento de rotação da espiga no
ponto de apoio sólido, e portanto se deveria re- interior da fenda (seja qual for a posição
servar para a espinha tibial interna, que é o ver- na fenda), que corresponde à rotação ao
dadeiro pivô mecânico do joelho. Quanto ao sis- redor do eixo longitudinal da perna.
--------.-.---
2. MEl\IBRO INFERIOR 89
Fig.2-37 ;
Fig.2-38
Fig.2-39
Fig.2-41
Fig.2-40
90 FISIOLOGIA ARTICULAR
Vistos pela sua face inferior (fig. 2-42), os pela frente do côndilo interno (fig. 2-45) e de 60 a
côndilos formam duas proeminências convexas 16 mm pela frente do côndilo externo (fig. 2-46).
em ambas as direções e alongadas de diante para Novamente, os centros da curvatura se alinham
trás. Os côndilos não são estritamente idênticos: numa espiral m'm" (côndilo interno) e n'n" (côn-
seus grandes eixos ântero-posteriores não são pa- dilo externo). No total, as linhas dos centros da
ralelos, mas sim divergentes para trás; além disso, curvatura fonnam duas espirais juntas, cuja cús-
o côndilo interno (I) diverge mais que o externo pide muito aguda (m' e n') corresponde sobre o
(E) e também é mais estreito. Entre a tróclea e os côndilo ao ponto t de transição entre dois segmen-
côndilos se perfila, de cada lado, a fenda côndilo- tos do contorno condiliano:
trodear (r), a interna normalmente mais marcada - atrás do ponto t, a parte do côndilo for-
que a externa. ma parte da articulação fêmoro-tibial;
A incisura intercondiliana (e) está no eixo - adiante do 'ponto t, a parte do côndilo e
da garganta trodear (g). A face externa da tróclea da tróclea formam parte da articulação
é mais proeminente do que a interna. fêmoro-patelar.
Num corte frontal (fig. 2-43) nota-se que a Portanto, o ponto de transição t representa
convexidade dos côndilos em sentido transversal o ponto mais adiantado do contorno condiliano
corresponde à concavidade das glenóides. que pode entrar diretamente em contato com a su-
Para analisar as curvaturas dos côndilos e perfície tibial.
das glenóides no plano sagital, é conveniente rea- O perfil ântero-posterior das glenóides
lizar um corte vértico-sagital nas direções aa' e (figs. 2-47 e 2-48) é diferente segundo a glenóide
bb' (fig. 2-43); de forma que se consegue o perfil de que se trate:
exato dos côndilos e das glenóides sobre o osso - a glenóide interna (fig. 2-47) é côncava
fresco (figs. 2-45 a 2-48). Então, torna-se eviden- para cima (o centro da curvatura O está
te que o raio da curvatura das superfícies condilia- situado acima) como um raio de curvatu-
nas não é uniforme, mas sim que sofre variações ra de 80 mm;
como se fosse uma espiral.
- a glenóide externa (fig. 2-48) é convexa
Em geometria, a espiral de Arquimedes (fig. para cima (o centro da curvatura O' está
2-44) está construída ao redor de um pequeno situado para baixo) como um raio de cur-
ponto denominado centro (C), e cada vez que o vatura de 70 mm.
raio R descreve um ângulo igual, aumenta o seu Enquanto a glenóide interna é côncava nos
comprimento na mesma medida. dois sentidos, a externa é côncava transversal-
A espiral dos côndilos é muito diferente; é mente e convexa sagitalmente (no osso fresco). O
verdade que o raio da curvatura cresce regular- resultado desta afirmação é que se o côndilo femo-
mente de trás para diante, que varia de 17 a 38 mm ral interno é relativamente estável na sua glenóide,
no caso do côndilo interno (fig. 2-45) e de 12 a o côndilo externo está numa posição instável so-
60 mm no caso do côndilo externo (fig. 2-46), po- bre a lombada da glenóide externa e a sua estabi-
rém não existe um centro único nesta espiral, exis- lidade durante o movimento depende essencial-
te uma série de centros dispostos, por sua vez, so- mente da integridade do ligamento cruzado ânte-
bre outra espiral mm' (côndilo interno) e nn' ro-externo (LCAE).
(côndilo externo). Portanto, a curvatura dos côndi- Por outra parte, os raios da curvatura dos
Ias é uma espiral de espiral, como demonstrou côndilos e das glenóides correspondentes não são
Fick que denominou curvatura voluta à espiral iguais, portanto existe uma certa discordância en-
dos centros da curvatura.
tre as superfícies articulares: a articulação do
Por outro lado, a partir de um certo ponto t joelho é uma verdadeira imagem das articulações
do contorno condiliano, o raio da curvatura come- não concordantes. O restabelecimento da concor-
ça a diminuir, de forma que passa de 38 a 15 mm dância depende dos meniscos (ver pág. 102).
r
Fig.2-42
Fig.2-44
-- "
..•...
Fig.2-46
\
\\ .
Fig.2-43
Fig.2-47 Fig.2-48
O"
92 FISIOLOGIA ARTICULAR
Utilizando um modelo mecânico (fig. 2-49), çar uma família de curvaturas dos côndilos e da
em 1967, foi demonstrado (Kapandji) que o con- tróclea, a qual demonstra a "personalidade" de
torno da tróc1ea e os côndilos femorais estão de- cada joelho: nenhuma se parece com a outra no
terminados corno lugares geométricos que depen- plano estritamente geométrico, daí a dificuldade
dem, por uma parte, das relações estabelecidas en- em se colocarem próteses especificamente adap-
tre os ligamentos cruzados e suas bases de inser- tadas a cada uma delas: elas somente podem ser
ção na tíbia e no fêmur e, por outra parte, das re- uma aproximação relativamente ,fiel.
lações existentes entre o ligamento patelar, a pate- A mesma dificuldade se apresenta no caso
Ia e as asas patelares (ver modelo li ao final do vo- das pIastias ou das próteses ligamentares, por
lume). Quando movemos um modelo deste tipo exemplo (fig. 2:53), se a inserção tibial do
(fig. 2-50), podemos ver o desenho do perfil dos LCAE se desloca para diante, o círculo descrito
côndilos femorais e da tróc1ea como se fosse a
pela sua inserção feinoral vai deslocar-se tam-
parte envolvente das posições sucessivas das gle- bém para diante (fig. 2-54), o que vai induzir um
nóides tibiais e da patela (fig. 2-51). novo perfil condiliano, no interior do que esta-
A parte póstero-tibial do contorno côndilo- va antes, determinando por sua vez a aparição de
troclear (fig. 2-51) se determina pelas posições umjogo mecânico que seria um fator de desgas-
sucessivas, numeradas de 1 a 5 (além de todas as te das superfícies cartilaginosas.
intennédias), do platô tibial, "submetidas" ao fê- Mais tarde, em 1978, A. Menschik, de Vie-
mur pelo ligamento cruzado ântero-externo na, realizou a mesma demonstração com meios
(LCAE) (traços pequenos) e o ligamento cruza- puramente geométricos.
do póstero-interno (LCPI) (grandes traços), ca-
da um deles descrevendo um arco de círculo cen- Evidentemente, toda esta teoria do determi-
trado pela sua inserção femoral, de raio igual ao nismo geométrico do perfil côndilo-troc1ear se
seu comprimento; note-se que numa flexão máxi- baseia na hipótese da isometria, isto é, da inva-
ma, a abertura anterior da interlinha fêmoro-tibial riabilidade do comprimento dos ligamentos cru-
demonstra a "distensão" do LCAE no final da fle- zados, da qual se sabe atualmente (ver abaixo)
xão, enquanto o LCPI está contraído. que não está confirmada pelos fatos. Isso não
significa que não explique corretamente as COllS-
A parte anterior patelar do contorno côn- tatações e possa servir de guia no conceito das
dilo-troc1ear (fig. 2-52) está determinada pelas operações sobre os ligamentos cruzados.
posições sucessivas, numeradas de 1 a 6 (e todas
as intermédias), da patela, unidas ao fêmur pelas Mais recentemente, P. Frain e cols., utili-
zando um modelo matemático baseado no estu-
asas patelares e à tíbia pelo ligamento patelar.
do anatômÍco de 20 joelhos, confirmaram a no-
Entre a parte anterior patelar e a parte pos- ção de curvatura-envolvente e de policentrismo
terior tibial do perfil côndilo-troc1ear existe um dos movimentos instantâneos, insistindo nas
ponto de transição t (figs. 2-45 e 2-46) que re- constantes inter-relações funcionais dos liga-
presenta a fronteira entre a articulação fêmoro- mentos cruzados e laterais. O traçado dos veta-
patelar e a articulação fêmoro-tibial. res de velocidade em cada ponto de contato fê-
Modificando as relações geométricas do moro-tibial, feito por computador, reproduz exa-
sistema dos ligamentos cruzados, é possível tra- tamente a envolvente do contorno condiliano.
2. MEMBRO INFERIOR 93
Fig.2-50
Fig.2-52
Fig.2-54
94 FISIOLOGIA ARTICULAR
A forma arredondada dos côndilos poderia fa- nenhuma, que o côndilo roda e resvala sobre a gle-
zer pensar que eles rolam sobre as superfícies ti- nóide simultaneamente. De fato, esta é a única ma-
biais; esta é uma opinião errônea. De fato, quando neira de se evitar a luxação posterior do côndilo per-
uma roda gira sem resvalar no chão (fig. 2-55) a mitindo simultaneamente uma flexão máxima (160°:
cada ponto do chão corresponde só um ponto da comparar a flexão nas figs. 2-58 e 2-60).
roda; a distância percorrida no chão (OOU) é, por-
(Estas experiências podem ser Feproduzidas
tanto, exatamente igual à parte da circunferência com o modelo m incluído no final do volume.)
"desenvolvida" no chão (compreendida entre a re-
ferência triangular e o retângulo). Se fosse assim Experiências mais recentes (Strasse, 1917)
(fig. 2-56), a partir de certo grau de flexão (posição demonstraram que a proporção de rolamento e de
deslizamento não era a mesma durante todo o mo-
II), o côndilo bascularia para trás da glenóide -
produzindo uma luxação - ou então seria neces- vimento de flexão-extensão: a partir de uma exten-
sário que o platô tibial fosse mais longo. A possi- são máxima, o côndilo começa a rolar sem resva-
bilidade de um rolamento puro não seria possível lar e depois o deslizamento começa progressiva-
dado que o desenvolvimento do côndilo é duas ve- mente a predominar sobre o rolamento, de manei-
zes maior do que o comprimento da glenóide. ra que no fim dajlexão o côndilo resvala sem rolar.
Supondo agora que a roda resvale sem rolar Finalmente, o comprimento do rolamento pu-
(fig. 2-57): toda uma porção de circunferência da ro, no início da flexão, é diferente segundo o côn-
roda corresponderia a um só ponto no chão. É o dilo considerado:
que acontece quando uma roda "derrapa" ao desli- - no caso do côndilo interno (fig. 2-61) este
zar-se sobre uma superfície gelada. Tal desliza- rolamento ocorre apenas nos primeiros 10
mento puro é concebível para ilustrar (fig. 2-58) os a 15 graus de flexão;
movimentos do côndilo na glenóide: todos os pon-
- no caso do côndilo externo (fig. 2-62) o ro-
tos do contorno condiliano corresponderiam a um
lamento prossegue até os 20° de flexão.
único ponto na glenóide; porém se pode constatar
que, deste modo, ajlexão ficaria limitada prematu- Isto significa que o côndilo externo rola
ramente, visto que a margem posterior da glenóide muito mais que o côndilo interno, o que explica,
(seta) representa um obstáculo. em parte, que o caminho que ele percorre sobre a
glenóide seja mais longo que o percorrido pelo in-
Também é possível imaginar que a roda gire
terno. Voltaremos a esta noção importante para ex-
e resvale ao mesmo tempo (fig. 2-59): ela derra-
plicar a rotação automática (ver pág. 154).
pa, porém avança. Neste caso, à distância-percorri-
da no chão (00') corresponde um maior compri- Por outro lado, também é interessante notar
mento na roda (entre o losango e o triângulo pre- que estes 15 a 20° de rolamento inicial correspon-
tos) que se pode apreciar desenvolvendo-a no chão dem à amplitude habitual dos movimentos de jlexão-
(entre o losango preto e o triângulo branco). extensão que se realizam durante a marcha normal.
Em 1836 a experiência dos irmãos Weber P. Frain e cols. demonstraram que em cada
(fig.2-60) demonstrou que, na realidade, as coisas ponto da curvatura condiliana pode ser definido,
ocorriam da seguinte maneira: em várias posições por uma parte, o centro do círculo basculante, que
entre a flexão e a extensão máximas, eles marcaram representa o centro da curvatura condiliana neste
os pontos de contato entre o côndilo e a glenóide na ponto e, por outra parte, o centro do movimento,
cartilagem. Desta forma, puderam constatar que o que representa o ponto ao redor do qual o fêmur gi-
ponto de contato na tlôia recuava com a jlexão ra com relação à tíbia; somente quando estes dois
(triângulo preto: extensão - losango preto: flexão) pontos se confundem existe um rolamento puro, ou
e, por outra parte, que a distância entre os pontos de então a proporção de deslizamento com relação ao
contato marcados no côndilo era duas vezes maior rolamento é mais importante quanto mais afastado
que a que separava os pontos de contato da glenóide. o centro instantâneo esteja do movimento do cen-
Portanto, esta experiência demonstra, sem dúvida tro da curvatura.
2. MEMBRO INFERIOR 95
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Fig.2-57
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Mais adiante veremos por que os movi- - o côndilo externo (fig. 2-70) pelo con-
mentos de rotação axial só podem ser realizados trário, possui um trajeto (L) quase duas
quando o joelho está fiexionado. Em posição de vezes maior sobre a convexidade da gle-
rotação neutra (fig. 2-63), joelho fiexionado, a nóide externa. Durante o seu desloca-
parte posterior dos côndilos entra em contato mento na glenóide de diante para trás,
com a parte central das glenóides. Este fato é "ascende" primeiro na vertente anterior,
posto em evidência pelo diagrama (fig. 2-64), no até o vértice da "lombada", e depois
qual a silhueta dos côndilos se superpõe por desce novamente sobre a vertente poste-
transparência sobre o contorno tracejado das rior; de forma que muda de "altura" (e).
glenóides tibiais. Também se pode constatar A diferença de forma entre as duas glenói-
neste esquema que a fiexão do joelho separou o des repercute na forma das espinhas tibiais
maciço das espinhas tibiais do fundo da incisura (fig. 2-71). Quando se realiza um corte hori-
intercondiliana, onde está encaixada durante a zontal XX' do maciço das espinhas, pode-se
extensão (esta é uma das causas do bloqueio da constatar que a face externa da espinha externa
rotação axial em extensão). é convexa de diante para trás (como a glenóide
Durante a rotação externa da tíbia sobre o externa), enquanto a face interna da glenóide
fêmur (fig. 2-65), o côndilo externo avança so- interna é côncava (como a glenóide interna).
bre a glenóide externa, enquanto o côndilo inter- Se a isto juntamos que a espinha interna é niti-
no recua na glenóide interna (fig. 2-66). damente mais alta do que a externa, se pode
Durante a rotação interna (fig. 2-67) pro- compreender que a espinha interna forme uma
duz-se o fenômeno inverso: o côndilo externo espécie de ressalto sobre o qual o côndilo inter-
recua na sua glenóide, enquanto o interno avan- no vai embater, enquanto o côndilo externo
ça na sua própria (fig. 2-68). contorna a espinha externa. Por conseguinte, o
eixo real da rotação axial não passa entre as
Os movimentos ântero-posteriores do duas espinhas tibiais, mas sim, no nível da
côndilos nas suas glenóides correspondentes vertente articular da espinha interna que
não são totalmente semelhantes:
forma o verdadeiro pivô central. Este deslo-
- o côndilo interno (fig. 2-69) se desloca camento para dentro se traduz, justamente, por
relativamente pouco na concavidade da um trajeto maior do côndilo externo, como vi-
glenóide interna (1); mos anteriormente.
2 . .\IEtvillRO INFERIOR 97
Fig.2-65
Fig.2-63
Fig.2-68
Fig.2-64
Fig.2-66
A CÁPSULA ARTICULAR
A cápsula articular é uma bainha fibrosa importância veremos mais adiante (ver
que contorna a extremidade inferior do fêmur e pág. 108).
a extremidade superior da tíbia, mantendo-as em - dos lados (figs. 2-74 e 2-75), a inserção
contato entre si e formando as paredes não ós- capsular segue ao longo das faces arti-
seas da cavidade articular. Na sua camada mais
culares da tróc1ea, onde forma os fundos
profunda está recoberta pela sinovial. de saco látero-patelares (ver pág. 108),
A forma geral da cápsula do joelho para depois percorrer a certa distância o
(fig. 2-72) pode ser entendida facilmente se for limite cartilaginoso dos côndilos, em
comparada com um cilindro ao qual se deprime cujas superfícies cutâneas desenha as
a face posterior segundo uma geratriz (a seta rampas capsulares de Chevrier (Rch);
indica este movimento). Assim se forma um no côndilq externo, a inserção capsular
septo sagital cujas estreitas relações com os li- passa por cima da fosse ta onde se fixa o
gamentos cruzados serão tratadas mais adiante tendão do poplíteo (Pop), a inserção
(ver pág. 126) e que quase divide a cavidade deste músculo é, assim, intracapsular
articular em duas metades, externa e interna. (figs. 2-147 e 2-232);
Na face anterior deste cilindro se abre umaja- - atrás e em cima (fig. 2-75), a linha de
nela, na qual vai "inserir-se" a patela. As mar- inserção capsular contorna a margem
gens do cilindro se inserem no fêmur na parte póstero-superior da cartilagem condi-
de cima e na tíbia na parte de baixo. liana, justamente debaixo da inserção
A inserção sobre o platô tibial é relativa- dos gêmeos (Oe); a cápsula recobre a
mente simples (fig. 2-73): passa (linha de pontos) face profunda destes músculos, sepa-
para diante e para os lados externo e interno das rando-os dos côndilos, neste nível tem
superfícies articulares; a inserção retroglenóide maior espessura e forma as calotas con-
interna se une com a inserção tibial do LCPI; dilianas (Cco) (ver pág. 120);
quanto à linha retroglenóide externa, contorna a - na incisura intercondiliana (figs. 2-76
glenóide externa no nível da superfície retroes- e 2-77, com o fêmur serrado no plano
pinhal e se funde de novo com a inserção tibial sagital), a cápsula se fixa na face axial
do LCPI. Entre os dois ligamentos cruzados, a dos côndilos em contato com a cartila-
cápsula é interrompida e a fenda interligamentar gem, e no fundo da incisura, de modo
fica ocupada pela sinovial que recobre os dois li- que passa de um lado ao outro da carti-
gamentos cruzados; portanto, eles podem ser lagem. Na face axial do côndilo interno
considerados como espessamentos da cápsula ar- (fig. 2-76), a inserção capsular passa pe-
ticular na incisura intercondiliana.
la inserção femoral do ligamento cruza-
A inserção femoral da cápsula (figs. 2-74 a do póstero-interno (LCPI). Na face
2-77) é um pouco mais complexa: axial do côndilo externo (fig. 2-77), a
- pela frente (fig. 2-74), ela contorna a cápsula se fixa com a inserção femoral
fosseta supratroc1ear (Fs) por cima; nes- do cruzado ântero-externo (LCAE).
te local a cápsula forma um profundo Também neste caso, a inserção dos cruza-
fundo de saco (figs. 2-76 e 2-77), o fun- dos se confunde praticamente com a da cápsula,
do de saco subquadricipital (Fsq), cuja constituindo os reforços da cápsula.
2. MEMBRO INFERIOR 99
Rch
Fig.2-75
Fig.2-74
Fig.2-76
Fig.2-73
100 FISIOLOGIA ARTICULAR
Entre a superfície pré-espinhal do platá ti- Ia, podendo separar o fundo de saco
bial, a face posterior do ligamento menisco-pate- subquadricipital da cavidade articular; ela
lar e a parte inferior da tróc1ea femoral existe um só é patológica quando obstrui completa-
espaço morto (fig. 2-78), ocupado pelo corpo adi- mente o fundo de saco, provocando um
poso do joelho equivalente a uma faixa volumosa quadro de "hidrartrose suspensa".
de gordura. Este corpo adiposo (1) tem a forma de - aplica mediopatellaris (Pmp) existe em
uma pirâmide quadrangular, cuja base repousa na 24% dos casos; pode formar um septo in-
face posterior (2) do ligamento menisco-patelar completo, estendido horizontalmente da
(3) e sobressai da parte anterior da superfície pré- margem interna da pate1a até o fêmur, co-
espinhal. Sua face superior (4) é reforçada por um mo uma "prateleira" (shelf dos autores
cordão celular adiposo que se estende do ápice da americanos). Ela pode provocar dor
pate1a ao fundo da incisura intercondiliana (figs. quando a sua margem livre irrita, por atri-
2-78 e 2-79): é o ligamento adiposo (5). Aos lados to, a margem interna do côndilo interno.
(fig. 2-79, o joelho está aberto pela frente e a pa- Os problemas cessam imediatamente
tela está separada), o corpo adiposo se prolonga com a ressecção artroscópica.
para cima ao longo da metade inferior das mar- A capacidade articular apresenta variações
gens laterais da pate1a por estruturas adiposas: as de importância, tanto normais quanto patológicas.
pregas alares (6). O corpo adiposo age como "ta- Um derrame patológico - hidrartrose ou hemar-
pulho" na parte anterior da articulação; na flexão, trose - pode aumentá-Ia consideravelmente (fig.
ele fica comprimido pelo ligamento patelar e so- 2-80), sempre que o derrame seja progressivo; o
bressai em cada lado da ponta da pate1a. líquido se acumula nos fundos de saco sub-quadri-
O ligamento adiposo é o vestígio do septo cipitais (Fsq) e látero-patelares, assim como atrás
médio, que no embrião divide em dois a articula- e abaixo das calotas condilianas, nos fundos de sa-
ção até a idade de quatro meses. No adulto existe cos retrocondilianos (Frc). Segundo a posição do
normalmente (fig. 2-78) um hiato entre o ligamen- joelho, a distribuição do líquido varia: na exten-
to adiposo e o septo médio formado pelos liga- são (fig. 2-81), os fundos de sacos retrocondilia-
mentos cruzados (seta I). As metades externa e in- nos estão comprimidos pelos gêmeos em tensão e
terna da articulação se comunicam através deste o líquido se desloca para diante acumulando-se
hiato e também por um espaço situado acima do nos fundos de sacos subquadricipital e látero-pate-
ligamento (seta li) e atrás da pate1a. Às vezes, o lares; na flexão (fig. 2-82), são os fundos de sacos
septo médio persiste no adulto e a comunicação só anteriores os que estão comprimidos pelo quadrí-
se estabelece acima do ligamento adiposo. ceps em tensão e o líquido se desloca para trás.
Entre a flexão e a extensão máximas, existe uma
Esta formação também se denomina plica
posição denominada "capacidade máxima" (fig.
infrapatellaris ou ligamento mucoso. O sistema
2-80), na qual a pressão do líquido intra-articular
das plicae (plural do latim plica) é composto (fig. é menor: é a posição de semiflexão que adotam, de
2-83) de três pregas sinoviais, inconstantes porém forma espontânea, os pacientes com derrame arti-
muito freqüentes: segundo Dupont, presentes em cular, porque ela é a menos dolorosa.
85% dos joelhos. Na atualidade, são bem conheci-
Em condições normais, a quantidade de lí-
dos graças à artroscopia:
quido sinovial - ou sinóvia - é escassa (apenas
- aplica infrapatellaris (Pif), que prolon- alguns centímetros cúbicos). Contudo, os movi-
ga o corpo adiposo infrapatelar, existe em mentos de flexão-extensão asseguram a limpeza
65,5% dos casos; permanente das superfícies articulares pela sinó-
- aplica suprapatellaris (Psp), em 55% via, o que contribui para a boa nutrição da cartila-
dos casos; forma um septo transversal gem e, principalmente, para a lubrificação das zo-
mais ou menos completo, acima da pate- nas de contato.
2. MEMBRO INFERIOR 101
LCAE
5
1
3
2
Fig.2-79 Fig.2-78
Fsq
Psp Frc
Pmp
Pif
-
Fig.2-83
Fig.2-82
102 FISIOLOGIA ARTICULAR
OS MENISCOS INTERARTICULARES
2
6
4
LU
5
7
GI
Fig.2-85
Fig.2-84
Vimos (pág. 94) anteriormente que o ponto de recer muito simples, é muito evidente quando se mo-
contato entre os côndilos e as glenóides recua sobre biliza uma preparação anatômica na qual foram eli-
as glenóides no caso da fiexão e avança no caso da minadas todas as conexões dos meniscos, exceto as
extensão; os meniscos seguem este movimento, como inserções dos cornos (figs. 2-89 e 2-90): as superfí-
se pode constatar perfeitamente numa preparação cies são muito deslizantes e a "esquina" do menisco
anatômica na qual se conservaram apenas os liga- é expulsa entre a "roda" do côndilo e a "base" da gle-
mentos e os meniscos. Em extensão (fig. 2-89), a par- nóide (portanto, se trata de uma cunha completamen-
te posterior das glenóides está descoberta, principal- te ineficaz).
mente a glenóide externa (GE). Emflexão (fig. 2-90), Os fatores ativos são numerosos:
os meniscos (Me e Mi) cobrem a parte posterior da
glenóide, principalmente o menisco externo que des- - durante..a extensão (figs. 2-94 e 2-95), os
ce pela vertente posterior da glenóide externa. meniscos se deslocam para diante graças às
asas meniscQ-patelares (1) tensas pelo as-
Uma vista superior dos meniscos sobre as gle-
censo da patela (ver pág. 112), que arrasta
nóides mostra que a partir da posição de extensão
também o ligamento jugal. Além disso, o
(fig. 2-91), os meniscos recuam de maneira desigual:
corno posterior do menisco externo (fig. 2-
na fiexão (fig. 2-92), o menisco externo (Me) recua
95) é impulsionado para diante devido à ten-
duas vezes mais do que o interno. De fato, o trajeto
são do ligamento menisco-femoral (2), si-
do menisco interno é de 6 mm, enquanto o do exter-
no é de 12 mm. multânea à tensão do ligamento cruzado
póstero-interno (ver pág. 134);
Os esquemas mostram, além disso, que, ao - durante a ftexão:
mesmo tempo que recuam, os meniscos se defor-
mam. Isto se deve a que eles têm dois pontos fixos, os - o menisco intemo (fig. 2-97) é impul-
seus comos, enquanto o remanescente é móvel. O sionado para trás pela expansão do se-
menisco extemo se deforma e se desloca mais do que mimembranoso (3), que se insere na sua
o intemo, visto que as inserções de seus comos es- margem posterior, enquanto o como ante-
tão mais próximas. rior é impulsionado pelas fibras do liga-
Certamente, os meniscos desempenham um pa- mento cruzado ântero-extemo (4) que se
pel importante como meios de união elásticos trans- dirigem até ele;
missores das forças de compressão entre a tíbia e o - o menisco extemo (fig. 2-98) é impul-
fêmur (setas pretas, figs. 2-94 e 2-95): é necessário sionado para trás pela expansão do poplí-
destacar que, na extensão, os côndilos têm o seu raio teo (5).
de curvatura maior nas glenóides (fig. 2-93) e os me- A função de articulação de transmissão de forças
niscos estão peifeitamente intercalados entre as su- de compressão entre o fêmur e a tíbia foi subestimada
perfícies articulares. Estes dois elementos favorecem até que os primeiros pacientes submetidos a uma me-
a transmissão das forças de compressão durante a niscectomia "de princípio" começaram a sofrer artrose
extensão máxima do joelho. Contudo, no caso da fie- antes da idade habitual, em comparação com os pa-
xão, os côndilos têm o seu menor raio de curvatura cientes que não foram operados de meniscectomia. A
nas glenóides (fig. 2-96) e os meniscos perdem par- chegada da artroscopia supõe um grande progresso,
cialmente o contato com os côndilos (fig. 2-98): es- visto que, por uma parte, permitiu conhecer melhor as
tes dois elementos, junto com a distensão dos liga- lesões meniscais duvidosas naartrografia, ou os falso-
mentos laterais (ver pág. 114), favorecem a mobili- positivos, que derivavam numa meniscectomia "à-toa"
dade em detrimento da estabilidade.
(na qual se removia o menisco para ver se estava lesa-
Depois de ter definido os movimentos dos me- do!), e, por outra parte, fez possível a meniscectomia
niscos, vão-se expor os fatores que intervêm neles. "à Ia carte", na qual se extirpa apenas a parte lesada do
Podem-se classificar em dois grupos: os fatores pas- menisco que provoca a alteração mecânica e que pode
sivos e os ativos. ser causa de uma lesão das superfícies carti1aginosas.
Só existe um fator passivo do movimento de Também permite entender que a lesão meniscal é so-
translação dos meniscos: os côndilos empurram os mente uma parte do diagnóstico, visto que com muita
meniscos para diante, como um caroço de cereja que freqüência a lesão ligamentar é a que produz ao mes-
foge entre dois dedos. Este mecanismo, que pode pa- mo tempo a lesão menisca1 e a lesão carti1aginosa.
2. MEMBRO INFERIOR 105
LU
I.J I. "J I •• \/11. ~v·
LCAE
LCPI
LCAE
GE LLE
MI~\\~
Fig.2-90
Fig.2-89
Mi
Fig.2-93
Fig.2-91 Fig.2-92
~/Fig.2-96
1-
106 FISIOLOGIA ARTICULAR
Durante os movimentos de rotação axial, canismo, muito freqüente nos jogadores de fu-
os meniscos seguem exatamente os desloca- tebol, explica (fig. 2-107) as rupturas transver-
mentos dos côndilos sobre as glenóides (ver sais (a) ou as desinserções do corno anterior
pág. 96). A partir da sua posição em rotação (b), que se dobra como "um canto de um cartão
neutra (fig. 2-99), se pode observar como se- de visita". O outro mecanismo de lesões menis-
guem caminhos opostos sobre as glenóides: cais se deve à distorção do joelho associando
- durante a rotação externa (fig. 2-100) (fig. 2-103) um movimento de lateralidade ex-
da tíbia sobre o fêmur, o menisco exter- terna (1) e uma rotação externa (2); desta for-
no (Me) é puxado para frente (1) da gle- ma, o menisco interno é deslocado para o cen-
nóide externa, enquanto o menisco in- tro da articuláção, para baixo da convexidade
terno (Mi) se dirige para trás (2); do côndilo interno, o esforço de endireitamento
lhe surpreende nesta posição e ele fica entalado
- durante a rotação interna (fig. 2-101), entre o côndilo e a glenóide, provocando uma
o menisco interno (Mi) avança (3), en- fissura longitudinal do menisco (fig. 2-104), ou
quanto o externo (Me) recua (4). uma desinserção capsular total (fig. 2-105), ou,
Também neste caso, os meniscos se deslo- inclusive, uma fissura complexa (fig. 2-106).
cam ao mesmo tempo que se deformam, em vol- Em todas as lesões longitudinais citadas, a par-
ta dos seus pontos fixos, as inserções dos cornos. te central livre do menisco pode ficar elevada
A amplitude total do deslocamento do menisco dentro da incisura intercondiliana, formando
externo é duas vezes maior do que a do menisco um menisco em "alça de balde". Este tipo de le-
interno. são meniscal é muito freqüente nos jogadores
Os deslocamentos meniscais na rotação de futebol (durante as quedas sobre uma perna
axial são, principalmente, passivos - arrastados dobrada) e nos mineiros que são obrigados a
pelos côndilos -; contudo, também existe um trabalhar de cócoras nas galerias estreitas das
minas de carvão.
fator ativo: a tensão da asa menisco-patelar, de-
vido ao deslocamento da patela com relação à tí- Outro mecanismo de lesão meniscal é a
bia (ver pág. 112); esta tração arrasta um dos ruptura de um ligamento cruzado, por exemplo
meniscos para frente. o LCAE (fig. 2-108). O côndilo interno não fica
Os movimentos do joelho podem ocasio- forçosamente retido na parte posterior, se deslo-
nar lesões meniscais quando estes não seguem ca "cisalhando" o corno posterior do menisco
os deslocamentos dos côndilos sobre as glenói- interno, provocando uma desinserção capsular
des; assim, eles são "surpreendidos" em posi- posterior, ou uma fissura horizontal (ver o de-
ção anormal e terminam "esmagados entre a bi- senho pequeno).
gorna e o martelo". É o caso, por exemplo, de A partir do momento no qual um menisco
um movimento de extensão brusca do joelho se rompe, a parte lesada não segue os movimen-
(como um pontapé numa bola): não há tempo tos normais e se encaixa entre o côndilo e a gle-
para que um dos meniscos se desloque para nóide; conseqüentemente, se produz um blo-
frente (fig. 2-102), de forma que, quanto mais queio do joelho numa posição de flexão mais
forte se estenda o joelho, mais o menisco ficará acentuada quanto mais posterior seja a lesão me-
entalado entre o côndilo e a glenóide. Este me- niscal: a extensão completa torna-se impossível.
2. 1lEMBRO INFERIOR 107
Fig.2-108
a b
o aparelho extensor do joelho se desliza de deslizar-se pelo seu canal: esta retração
sobre a extremidade inferior do fêmur como se capsular é uma das causas da rigidez do joelho
fosse uma corda numa polia (fig. 2-109, a). A em extensão após traumatismos ou infecções.
tróclea femoral e a incisura intercondiliana
Na sua "descida" a pate1a é acompanhada
(fig. 2-11 O) formam, de fato, um canal vertical pelo ligamento adiposo (fig. 2-112), que passa
profundo (fig. 2-109, b), por onde a patela des- da posição ZT à posição ZZ", modificando 1800
liza. Desta forma, a força do quadríceps, diri- a sua orientação. Quando a pate1a "ascende", o
gida obliquamente para cima e ligeiramente fundo de saco subquadricipital se encaixaria en-
para fora, se converte numa força estritamen- tre a patela e a tróclea, se algumas fibras separa-
te vertical.
das da face profunda do crural não lhe puxassem
Portanto, o movimento normal da patela para cima, e que fo.rmam o chamado músculo
sobre o fêmur durante a flexão é uma translação subcrural (Msc) ou tensor do fundo de saco
vertical ao longo da garganta da tróclea e até a subquadricipital.
incisura intercondiliana (fig. 2-111, segundo ra- Normalmente, a patela só se desloca de ci-
diografias). Assim, o deslocamento da patela é ma para baixo e não transversalmente. De fato,
de duas vezes o seu comprimento (8 cm), sendo a patela está muito bem encaixada (fig. 2-113)
realizado com um giro sobre um eixo transver- na sua fenda pelo quadríceps, mais quanto maior
sal; de fato, sua face posterior, dirigida direta- é a flexão (a); no fim da extensão (b), esta força
mente para trás em posição de extensão (A), se de coaptação diminui e em hiperextensão (c) in-
orienta diretamente para cima quando a pate1a, clusive tem a tendência a inverter-se, isto é, a
no fim do seu trajeto (B), se encaixa, na flexão descolar a pate1a da tróclea. Neste momento (d),
extrema, sob os côndilos. Por conseguinte, se tem tendência a deslocar-se para fora, porque o
trata de uma translação circunferencial. tendão quadricipital e o ligamento menisco-pa-
Este deslocamento tão importante só é pos- telar formam um ângulo obtuso aberto para fo-
sível porque a patela está unida ao fêmur por co- ra. O que impede realmente a luxação da patela
nexões com comprimento suficiente. A cápsula para fora (fig. 2-114) é a face externa da tróclea
articular forma três fundos de saco profundos ao muito mais proeminente do que a interna (dife-
redor da patela (fig. 2-111): por cima, o fundo de rença = e). Se, devido a uma malformação con-
saco sllbquadricipital (Fsq) e, a cada lado, os gênita (fig. 2-115), a face externa está menos de-
fundos de saco látero-patelares (Lp). Quando a senvolvida (igualou menos proeminente do que
patela se desliza por baixo dos côndilos de A a a interna), a pate1a não está suficientemente fixa-
B, os três fundos de saco se abrem: graças à pro- da e se luxa para fora durante a extensão com-
fundidade do fundos de saco sub-quadricipital, a pleta. Este é o mecanismo da luxação recidivan-
distância XX' pode transformar-se em XX" (ou te da pate/a.
seja, quatro vezes mais); e graças à profundida- A torção externa da tíbia debaixo do fêmur,
de dos fundos de saco látero-patelares, a distân- assim como o genu valgo, ao fechar o ângulo en-
cia YY' pode transformar-se em YY" (ou seja, tre o tendão quadricipital e o ligamento menis-
duas vezes mais). co-patelar, aumentam o componente dirigido pa-
Quando a inflamação une as duas lâminas ra fora e favorecem a instabilidade externa da
dos fundos de saco, estes perdem toda sua pro- pate1a. Estes são fatores de luxação e de sublu-
fundidade e a patela fica aderida ao fêmur xação externas, de condromalacia patelar e de
(XX' e YY' se tornam inextensíveis) e não po- artrose fêmoro-patelar externa.
~.I
_~~IIZ
~,-.:
Fig.2-112
-
~ .••••.
...,
t
Z'
Fig.2-115
c d
Fig.2-113
110 FISIOLOGIA ARTICULAR
AS LIGAÇÕES FÊMORO-PATELARES
A face posterior da patela (fig. 2-116) es- 90° (C) sucessivamente, com a finalidade de ex-
tá envolvida por uma cartilagem muito espessa plorar a articulação em toda sua extensão.
(4 a 5 mm), principalmente no nível da crista Estas radiografias em incidências fêmoro-
média: é a cartilagem de maior espessura de patelares permitem apreciar:
todo o organismo. Isto pode ser explicado pelas
consideráveis pressões (300 kg, sem mencionar - o centrado da patela, principalmente na
os halterofilistas!) que se exercem neste nível radiografia com flexão de joelho a 30°
durante a contração do quadríceps sobre o joe- (A), por correspondência entre a crista
lho flexionado, por exemplo quando descemos patelar e a garganta troclear, e pelo
transbordamento do ângulo externo da
umas escadas ou quando ficamos de pé estando
agachados. patela com o limite da convexidade ex-
terna; este procedimento permite diag-
De um lado e do outro da crista média exis- nosticar uma subluxação externa.
tem duas faces articulares côncavas em ambos
os sentidos: - a diminuição da espessura da interlinha,
principalmente na sua parte externa, em
- a face externa, em contato com a super- comparação com o lado supostamente
fície externa abaulada da tróclea; sadio e utilizando um compasso de pon-
- a face interna, em contato com a super- tas duras; nas artroses já "avançadas",
fície abaulada interna; uma erosão cartilaginosa pode ser ob-
servada;
- esta última face se subdivide, por uma
crista oblíqua pouco proeminente, numa - a densificação óssea subcondral na face
face principal e uma face acessória, si- externa, que representa uma síndrome
tuada no ângulo súpero-interno e que se de hiperpressão externa;
articula com a margem interna da inci- - um deslocamento para fora da tubero-
sura intercondiliana na flexão máxima. sidade tibial anterior com relação à
Durante o seu deslocamento vertical ao garganta da tróclea; este sinal só pode
longo da tróclea quando se realiza uma flexão ser visto nas radiografias com flexão do
(fig. 2-117), a patela entra em contato com a tró- joelho de 30° (A) e de 60° (B); repre-
clea pela sua parte inferior em extensão máxima, senta uma torção externa da tíbia para
pela sua parte média em flexão de 30° e pela sua baixo do fêmur nas subluxações e nas
parte superior e a face súpero-externa em flexão hiperpressões externas.
máxima. Observando a topografia das lesões Atualmente, graças ao escaner, cortes da
cartilaginosas, é possível conhecer o ângulo crí- articulação fêmoro-patelar em máxima exten-
tico de flexão, e vice-versa, apontando o ângu- são e inclusive em hiperextensão podem ser rea-
lo de flexão dolorosa para prever o surgimento lizados, o que era impossível com a radiografia;
de lesões. isto permite observar a subluxação externa da
Até agora, as conexões da articulação fê- patela no momento em que a força de coaptação
moro-patelar se constatavam por meio de radio- é nula ou negativa, permitindo assim reconhecer
grafias denominadas "em incidência axial da pa- as instabilidades fêmoro-patelares menores.
tela" ou também "em incidência fêmoro-pate- Quanto à artroscopia, ela permite diagnos-
lar", tomando a interlinha "em fileira" (fig. 2- ticar as lesões cartilaginosas fêmoro-patelares
118): se abarcam as duas patelas na mesma pla- que não aparecem nas radiografias em incidên-
ca, flexionando os joelhos a 30° (A), 60° (B) e cia axial e os desequilíbrios dinâmicos.
2. MEMBRO INFERIOR 111
Fig.2-116
Fig.2-117
Fig.2-118
112 FISIOLOGIA ARTICULAR
Pode-se-ia imaginar a patela aderi da à tíbia rio; o fêmur arrasta a patela para dentro, de for-
para formar um olécrano (fig. 2-119) como no ma que o ligamento menisco-patelar fica oblí-
cotovelo. Esta disposição impediria qualquer quo para baixo e para fora, porém mais oblíquo
movimento da pateIa sobre a tíbia e limitaria de para fora que na rotação neutra.
modo notável a sua mobilidade, impedindo Conseqüentemente, os deslocamentos da
qualquer movimento de rotação axial. patela com relação à tíbia são indispensáveis
De fato, a patela realiza dois tipos de mo- tanto para os, movimentos de fiexão-extensão
vimento sobre a tíbia, dependendo se realiza fle- quanto para os de rotação axial.
xão-extensão ou rotação axial. Graças a um'modelo mecânico se demons-
Nos movimentos de flexão-extensão (fig. trou (ver modelo II ao final deste volume) que a
2-120), a patela se desloca no plano sagital. A patela amolda a tróclea e o perfil anterior dos
partir da sua posição em extensão (A), ela recua côndilos. De fato, nos seus deslocamentos, a pa-
deslocando-se ao longo de um arco de circunfe- tela está unida à tíbia pelo ligamento menisco-
rência cujo centro se situa na tuberosidade ante- patelar e ao fêmur pelas asas patelares (ver pági-
rior da tíbia (O) e cujo raio é igual ao compri- na seguinte). Quando os côndilos realizam seu
mento do ligamento menisco-patelar. Ao mesmo movimento sobre as glenóides no percurso da
tempo, bascula 35° sobre si mesma, de forma flexão do joelho, a face posterior da patela,
que sua face posterior, orientada para trás, se arrastada por suas conexões ligamentares, gera
orienta para trás e para baixo durante a flexão geometricamente o perfil anterior dos côndilos
máxima (B). De modo que realiza um movimen- representado pela curvatura envolvente das su-
to de translação circunferencial, com relação à cessivas posições da face posterior da patela. O
tíbia. Este retrocesso da pateIa se deve a dois fa- perfil anterior dos côndilos depende essencial-
tores: por um lado, o deslocamento para trás (D) mente das conexões mecânicas da pateIa e da
do ponto de contato dos côndilos nas glenóides sua disposição, assim como o seu perfil poste-
e, por outro, a redução da distância (R) da pate- rior depende dos ligamentos cruzados.
Ia ao eixo de flexão-extensão (+). Já citamos anteriormente (pág. 92) de que
Nos movimentos de rotação axial (figs. maneira o perfil côndilo-troclear está literalmen-
2-121 a 2-123), os deslocamentos da patela te "fabricado" pela tíbia e a patela, unidas ao fê-
com respeito à tíbia se realizam no plano fron- mur pelo sistema de cruzados por uma parte, e
tal. Em rotação neutra (fig. 2-121), a direção pelo ligamento e as asas patelares por outra.
do ligamento menisco-patelar é ligeiramente Certas intervenções cirúrgicas, ao transpor
oblíqua para baixo e para fora. Durante a rota- a tuberosidade tibial para diante (Maquet) ou pa-
ção interna (fig. 2-122), o fêmur gira em rota- ra dentro (Elmslie), modificam as conexões en-
ção externa com relação à tíbia, deslocando a tre a patela e a tróclea, e principalmente os com-
patela para fora: o ligamento menisco-patelar ponentes de coaptação e subluxação externa, o
fica oblíquo para baixo e para dentro. Durante a que explica que eles se pratiquem nas síndro-
rotação externa (fig. 2-123), acontece o contrá- mes patelares.
2. MEMBRO INFERIOR 113
Fig.2-120
Fig.2-122 Fig.2-121
114 FISIOLOGIA ARTICULAR
Eles asseguram a estabilidade lateral do - é oblíquo para baixo e para trás; de for-
joelho em extensão. ma que a sua direção Sy cruza no espaço
com a direção do ligamento lateral inter-
O ligamento lateral interno (fig. 2-124) se no (seta B).
estende da face cutânea do côndilo interno até a ex-
tremidade superior da tíbia (LU): Nestes dois esquemas (figs. 2-124 e 2-125) es-
tão desenhadas as asas menisco-patelares (1 e 2) e
- sua inserção superior se situa na parte pós-
as asas patelares (3'e 4) que mantêm a patela liga-
tero-superior da face cutânea, atrás e acima da à tróclea femoral.
da linha dos centros da curvatura (XX') do
côndi10 (ver pág. 90); Os ligamentos laterais se contraem duran-
te a extensão (figs. 2-126 e 2-128) e se disten-
- sua inserção inferior se situa atrás da zona
dem na flexão (figs. 2-127 e 2-129). Nos esque-
de inserção dos músculos da "pata de gan-
mas (figs. 2-126 e 2-127) vemos a diferença de
so", sobre a face interna da tíbia;
comprimento (d) do ligamento lateral interno en-
- suas fibras anteriores são diferentes da cáp- tre a extensão e a flexão, além da obliqüidade pa-
sula e compõem o seu fascículo superficial; ra diante e para baixo que é um pouco mais acen-
- suas fibras posteriores, que seguem as ante- tuada. No lado externo (figs. 2-128 e 2-129), tam-
riores, se confundem mais ou menos com a bém se põem em evidência uma diferença de com-
cápsula, formando uma lâmina triangular primento (e) do ligamento lateral externo e urna
de vértice posterior; este feixe profundo mudança de direção: de ser oblíquo para baixo e
contém inserções muito próximas à face para trás, ele passa a ser oblíquo para baixo e li-
periférica interna do menisco interno na sua geiramente para diante.
face profunda, constituindo assim um pon- A mudança de tensão dos ligamentos pode ser
to de união essencial, que alguns autores facilmente ilustrada por um modelo mecânico (fig.
denominam o ponto do ângulo póstero-in- 2-130): uma cunha C se desliza da posição I à
terno ou PAPI; 2 numa prancha B, esta cunha está encaixada num
-. sua direção é oblíqua para baixo e para "estribo" fixo em a na prancha B; quando a cunha C
diante; portanto, cruzada no espaço com se desliza de 1 a 2, o estribo, que supostamente é
a direção do ligamento lateral externo elástico, se contrai e adquire um novo comprimento
(seta A). ab', a diferença de comprimento e corresponde à di-
ferença de espessura da cunha entre as duas posi-
O ligamento lateral externo (fig. 2-125) se
estende da face cutânea do côndilo externo até a ca- ções 1 e 2.
beça da fíbula (LLE): Quanto ao joelho, à medida que a extensão se
- sua inserção superior está localizada acima completa, o côndilo se interpõe, como uma cunha,
e atrás da linha dos centros da curvatura entre a glenóide e a inserção superior do ligamento
(yy') do côndilo externo; lateral. O côndilo desempenha a função de urna
cunha porque seu raio de curvatura aumenta regu-
- sua inserção inferior se localiza na zona an- larmente, de trás para diante, e porque os ligamen-
terior da cabeça da fibula; no interior da tos laterais se fixam na concavidade da linha dos
zona de inserção do bíceps; centros da curvatura. A flexão de 30° que distende
- se diferencia da cápsula em todo seu tra- os ligamentos laterais é a posição de imobilização
jeto; após a sutura dos ligamentos laterais.
2. MEMBRO INrERIOR 115
Fig.2-124 Fig.2-125
Fig.2-130
o joelho está sujeito a importantes forças 10 (a) aberto para dentro. O sistema ligamentar
laterais e a estrutura das extremidades ósseas interno é o que norn1almente se opõe a este des-
(fig. 2-131) representa estas violências mecâni- locamento.
cas. Do mesmo modo que na extremidade supe-
Quanto mais acentuado é o valgo (fig.
rior do fêmur, se encontram sistemas de trabécu-
2-133), mais fürte é o componente transversal
Ias ósseas que constituem as linhas de força me-
cânica: (t): para uma direção F2 que corresponde a um
valgo de 1600 (genu valgo), o componente
- a porção inferior do fêmur está estru- transversal t2 é duas vezes maior que no caso
turada por dois sistemas trabeculares: de um valgo normal de 1700 (Fj e tJ Daí se
um deles se inicia na cortical interna e
deduz que quanto mais acentuado seja o val-
se expande ao côndilo do mesmo lado go, mais ele necessita do sistema ligamentar
(fibras de compressão) e ao côndilo con- interno e maior é a tendência a acentuar-se.
tralateral (fibras de tração); e o outro sai
Nos traumatismos das faces laterais do
da cortical externa e fica numa disposi-
ção simétrica; ele é um sistema de trabé- joelho podem produzir-se fraturas da extremida-
culas horizontais que une ambos os côn- de superior da tíbia. Se o traumatismo se loca-
dilos; liza na face interna do joelho (fig. 2-134), ele
tem a tendência a endireitar o valgo fisiológico
- a porção superior da tíbia possui uma
estrutura semelhante, com dois sistemas e determina em primeiro lugar uma fratura com-
pleta do platô tibial interno (1), e também uma
que se iniciam nas corticais interna e ex-
terna e se expandem para baixo da gle- ruptura do ligamento lateral externo (2), se a
nóide do mesmo lado (fibras de com- força não está esgotada. Quando o ligamento é o
pressão) e da glenóide contralateral (fi- primeiro em romper-se, não se produz a fratura
bras de tração); com trabéculas horizon- do platô tibial.
tais que unem ambas as glenóides. Quando o traumatismo se localiza na fa-
Devido à inclinação do eixo femoral para ce externa do joelho (fig. 2-135), como no ca-
baixo e para dentro, a força (F) que vai para a so de um choque ocasionado por um pára-cho-
porção superior da tíbia não é totalmente verti- ques de um carro, em primeiro lugar, o côndilo
cal (fig. 2-132), o que permite que ela seja de- externo se desloca ligeiramente para dentro, pa-
composta numa força vertical (v) e em outra ra introduzir-se depois na glenóide externa e fi-
transversal (t) dirigida horizontalmente para nalmente fazer estalar a cortical externa do pla-
dentro. Ao deslocar a articulação para dentro, tô tibial: desta forma, se produz uma fratura
este componente (t) tem a tendência a acentuar mista (afundamento-separação) do platô tibial
o valgo ao fazer abrir a interlinha em um ângu- externo.
2. MEMBRO INFERIOR 117
Fig.2-131
Fig.2-132
Fig.2-133
Fig.2-135
118 FISIOLOGIA ARTICULAR
Durante a marcha e a corrida, o joelho está tendidas pelos primeiros graus de flexão. O fato de
continuamente submetido a forças laterais. Em al- que não se pode estar seguro da posição em que se
guns casos, o corpo está em desequilíbrio interno realizaram as radiografias faz com que não seja
sobre o joelho que suporta o peso (fig. 2-136), o fidedigno o diagnóstico radiológico da oscilação da
que provoca um aumento do valgo fisiológico e interlinha interna em va1go forçado ou da oscilação
uma abertura da inter1inha para dentro. Se a força externa em varo.
transversal é muito importante, o ligamento lateral Na verdade, é francamente difícil conseguir
interno se rompe (fig. 2-137): é o que se denomi- um relaxamento muscular total num joelho doloro-
na entorse grave do ligamento lateral interno (é so que propicie uma exploração válida. Isso indica
necessário reforçar esta,afirmação destacando que o caráter quase obrigatório de uma exploração
uma entorse grave nunca é o resultado de uma sim- com anestesia geral.
ples posição de desequi1íbrio, para que isto aconte-
ça é necessário um choque violento). A entorse grave do joelho compromete a esta-
bilidade da articulação. De fato, a ruptura de um li-
No outro sentido, um desequilíbrio externo gamento lateral impede que o joelho possa opor-se
sobre o joelho de suporte de peso (fig. 2-138) tem às forças laterais que o solicitam continuamente
a tendência a endireitar o valgo fisiológico e a abrir (figs. 2-136 e 2-138).
a interlinha para fora. Se a face interna do joelho so-
fre um traumatismo violento, o ligamento lateral ex- Nas forças laterais bruscas da corrida e da
terno pode sofrer uma ruptura (fig. 2-139): é a en- marcha, os ligamentos laterais não são os únicos
torse grave do ligamento lateral externo. que asseguram a estabilidade do joelho; eles estão
reforçados pelos músculos que constituem liga-
Quando existe uma entorse grave do joelho, mentos ativos autênticos e que são os principais
os movimentos de lateralidade que se realizam ao responsáveis da estabilidade do joelho (fig. 2-140).
redor de um eixo ântero-posterior podem aparecer.
A exploração destes movimentos anormais se rea- O ligamento lateral externo (LLE) está mui-
liza tanto com o joelho em máxima extensão como to reforçado pela banda de Maissiat (BM), contraí-
em ligeira flexão e sempre se compara com o lado da pelo tensor dafáscia lata - esta contração apa-
supostamente normal. rece no esquema 2-138.
Estando o joelho em extensão (fig. 2"141), O ligamento lateral interno (LU) também es-
ou até mesmo em hiperextensão, o peso do mem- tá reforçado pelos músculos da "pata de ganso":
bro o desloca nesta direção: sartório (Sa), semitendinoso (St) e reto interno (Ri)
- a contração do sartório pode ser observada no es-
- um movimento de lateralidade externa,
quema 2-136.
ou em va1go, representa uma ruptura asso-
ciada do ligamento lateral interno (fig. 2- Portanto, os ligamentos laterais estão "prote-
137) e das formações fibroligamentares lo- gidos" por tendões consistentes. Eles também es-
calizadas atrás; se trata da convexidade tão reforçados pelo quadríceps cujas expansões di-
condiliana interna e do PAPI; retas (Ed) e cruzadas (Ec) constituem, na face an-
terior da articulação, uma camada fibrosa. As ex-
- o movimento de lateralidade interna, ou
pansões diretas se opõem à oscilação da interlinha
em varo, representa uma ruptura associada do mesmo lado, e as expansões cruzadas impedem
do ligamento lateral externo (fig. 2-138) a oscilação do lado oposto. Cada músculo age so-
e das formações fibro1igamentares poste- bre a estabilidade da articulação em ambos os sen-
riores, principalmente a convexidade con- tidos graças a estes dois tipos de expansões. De
diliana externa.
forma que se pode entender perfeitamente a impor-
Com o joelho flexionado 10° (fig. 2-142), os tância da integridade do quadríceps para garan-
mesmos movimentos anormais representam uma tir a estabilidade do joelho e, inversamente, as al-
ruptura isolada do LU ou do LLE respectivamen- terações da estática ('joelho que se afrouxa") que
te, visto que as convexidades condilianas estão dis- são o resultado de uma atrofia do quadríceps.
2. MEMBRO INFERIOR 119
Ed
Ec
Fig.2-140
~
@ Fig.2-139
Fig.2-136 Fig.2-138
Fig.2-142
Fig.2-141
120 FISIOLOGIA ARTICULAR
A estabilidade do joelho é totalmente dife- fibrosos. A cada lado, da face aos côndilos, um
rente se está ligeiramente flexionado ou se está engrossamento da cápsula forma os capas con-
em hiperextensão. dilianas (1), na face posterior, onde se inserem
Em alinhamento normal com ligeira fie- fibras dos gêmeos. Partindo da estilóide fibular,
xão (fig. 2-143), a força que representa o peso do se expande um leque fibroso, o ligamento poplí-
corpo passa por trás do eixo de flexão-extensão teo arqueado, no qual dois fascículos podem ser
do joelho e a flexão tem a tendência a aumentar distinguidos:
por si mesma se a contração estática do quadrí- - o fascículo externo, ou ligamento lateral
ceps não intervém; portanto, nesta posição, o externo curto de Valois, cujas fibras fina-
quadríceps é indispensável para a posição de pé. lizam ná capa condiliana externa (2) e no
Pelo contrário, se o joelho se coloca em hiperex- sesamóide do gêmeo externo, ou fabela
tensão (fig. 2-144), a tendência natural ao aumen- (3), também nesta camada;
to da citada hiperextensão fica rapidamente blo-
- o fascículo interno, que se expande em
queada pelos elementos cápsulo-ligamentares
forma de leque para dentro e cujas fibras
posteriores (em preto), e é possível manter a po-
inferiores (4) constituem o ligamento
sição de pé sem a intervenção do qltadríceps: se
poplíteo arqueado, arcada onde o poplí-
trata do bloqueio. Isto explica por que nas parali-
sias do quadríceps é necessário acentuar o gemi teo se introduz (seta branca) para pene-
recurvatum para que o paciente possa estar de pé
trar na articulação; constituindo assim a
ou caminhar. margem superior do orifício de penetra-
ção deste músculo através da cápsula.
Quando o joelho está em hiperextensão (fig.
2-145), o eixo da coxa é oblíquo para baixo e pa- No lado interno, o plano fibroso capsular es-
ra trás, e a força f desenvolvida pode decompor- tá reforçado pelo ligamento poplíteo oblíquo (5),
se num vetor vertical (v) que transmite o peso do constituído pelo fascículo recorrente, separado
do lado externo do tendão do semimembranoso
corpo para o esqueleto da perna, e um vetar ho-
rizontal (h), que se dirige para trás e que tem a (6); dirigindo-se para cima e para fora para termi-
nar na camada condiliana externa e fabela.
tendência a acentuar a hiperextensão: quanto mais
-oblíqua para trás seja a força f, mais importante Todas as formações do plano fibroso poste-
será este vetor (h) e mais solicitados estarão os rior entram em tensão na hiperextensão (fig.
elementos do plano fibroso posterior; um gelllt re- 2-148), principalmente as capas condilianas (1).
curvatum muito acentuado termina distendendo os Já vimos anteriormente que a extensão provoca a
ligamentos e se agrava a si mesmo. tensão do ligamento lateral externo (7) e do liga-
Embora não se encontre um obstáculo rígido mento lateral interno (8). O ligamento cruzado
como é o caso do olécrano no cotovelo, a limitação póstero-interno (9) também entra em tensão du-
da hiperextensão dojoelho é de uma eficácia extre- rante a extensão. De fato, é fácil constatar que as
ma (fig. 2-146). Esta limitação depende, essencial- inserções superiores (A, B, C) destes elementos
mente, de elementos cápsulo-ligamentares e de se projetam para diante durante a hiperextensão,
elementos musculares acessórios. ao redor do centro O. Contudo, trabalhos recentes
Os elementos cápsulo-ligamentares contêm: demonstraram que o ligamento mais tenso nesta
posição é o cruzado ântero-externo.
- o plano fibroso posterior da cápsula
Por último, os fiexores (fig. 2-149) são fato-
(fig.2-147);
res ativos de limitação: os músculos da "pata de
- os ligamentos laterais e o cruzado pós- ganso" (10) que passam por trás do côndilo inter-
tero-interno (fig. 2-148). no, o bíceps (11) e também os gêmeos (12) na
A parte posterior da cápsula articular medida em que estejam tensos pela flexão dorsal
(fig. 2-147) é reforçada por potentes elementos da articulação tíbio-tarsiana.
2. MEMBRO INFERIOR 121
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Fig.2-145
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Fig.2-144
Fig.2-147
Fig.2-148 Fig.2-149
122 FISIOLOGIA ARTICULAR
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5
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11
30
12 13
29
16 19 15 33 14
Fig.2-150
124 FISIOLOGIA ARTICULAR
Quando se abre pela frente a articulação do ultrapassa (figs. 2-153 e 2-154, segundo Rouviere)
joelho (fig. 2-151, segundo Rouviere), observa-se a margem posterior do platô tibial (ver também
que os ligamentos cruzados estão situados em figo 2-73). A inserção tibial do cruzado póstero-in-
pleno centro da articulação, alojando-se principal- terno está localizada bem para trás (fig. 2-152) da
mente na incisura intercondiliana. inserção dos cornos posteriores do menisco exter-
no (9) e do menisco interno (10). O trajeto do pós-
O primeiro que se encontra é o ligamento cru-
zado ântero-externo (1), cuja inserção tibial (5) se tero-interno é oblíquo para diante, para dentro e
para cima (fig. 2-154, joelho flexionado em 90°).
localiza (fig. 2-152, segundo Rouviere) na superfí"
Sua inserção femoral (2) ocupa o fundo da incisu-
cie pré-espinhal, ao longo da glenóide interna, en-
ra intercondiliana (fig. 2-155, segundo Rouviere),
tre a inserção do como anterior do menisco interno
e inclusive ultrapassa nitidamente (fig. 2-154) a
(7) pela frente e a do menisco externo (8) por trás
face axial do côndilo interno, ao longo da cartila-
(ver também a figo 2-73). O seu trajeto é oblíquo
gem, no limite inferior desta face, numa zona de
para cima, para trás e para fora e sua inserção fe-
inserção alongada horizontalmente (ver também
moral (1) se realiza (fig. 2-153, segundo Rouvie-
figo 2-76). O ligamento póstero-interno é o mais
re) sobre a face axial do côndilo externo, no nível
posterior sobre a tíbia e o mais interno sobre o fê-
de uma zona estreita e alongada verticalmente em
mur, por isso merece a sua denominação. De forma
contato com a cartilagem, na parte mais posterior
que é mais correto denominá-Io póstero-interno.
desta face (ver figo 2-77). O ligamento ântero-ex-
temo é o mais anterior sobre a tíbia e o mais exter- Descrevem-se quatro fascículos:
no sobre o fêmur, fazendo jus ao nome que o iden- - o fascículo póstero-externo: o mais poste-
tifica, de maneira que é preferível seguir denomi- rior sobre a tíbia e o mais externo sobre o
nando-o ântero-externo e não simplesmente ante- fêmur;
rior, como se faz na atualidade.
- o fascículo ântero-interno: o mais anterior
Descrevem-se três fascículos: sobre a tíbia e o mais interno sobre o fêmur;
- o fascículo ântero-interno: o mais longo, o - o fascículo anterior de Humphrey, in-
primeiro que se localiza e o mais exposto constante;
aos traumatismos;
- o fascículo menisco·femoral de Wrisberg
--'-'-o fascículo póstero-externo: oculto pelo an- (3), que se insere no como posterior do me-
terior, é o que persiste nas rupturas parciais; nisco interno (figs. 2-152 e 2-153) para, a se-
- o fascículo intermédio. guir, aderir-se ao corpo do ligamento ao qual
acompanha normalmente na sua face ante-
Em conjunto, na sua forma se apresenta torci-
rior (fig. 2-151) e inserir-se finalmente com
do sobre si mesmo, visto que suas fibras mais ante- ele na face axial do côndilo interno. Existe,
riores sobre a tíbia apresentam as inserções mais in- às vezes, um equivalente desta mesma dis-
feriores e mais anteriores no fêmur, e suas fibras
posição para o menisco interno (fig. 2-152):
mais posteriores sobre a tíbia se inserem na parte algumas fibras (12) do LCAE se inserem no
mais superior do fêmur, embora todas as suas fibras como anterior do menisco interno, próximo
não tenham o mesmo comprimento.
à inserção do ligamento transverso (11).
Segundo F. Bonnel, o comprimento médio das Os ligamentos transversos estão em contato
fibras do LCAE varia entre 1,85 e 3,35 cm; assim
um com o outro (fig. 2-155, com os ligamentos cru-
sendo, existe uma grande diferença dependendo da zados perto da sua inserção femoral seccionados)
localização das fibras. por sua margem axial, enquanto o ligamento exter-
O ligamento cruzado póstero-interno (2) apa- no passa por fora do interno. Estes ligamentos não
rece no fundo da incisura intercondiliana, por trás do estão livres no interior da cavidade articular, mas es-
ligamento cruzado ântero-externo (fig. 2-151). A sua tão recobertos pela sinovial (4) e estabelecem im"
inserção tibial (6) se localiza (fig. 2-152) na parte portantes conexões com a cápsula, como veremos
mais posterior da superfície retroespinhal; inclusive na página seguinte.
2. MEMBRO INFERIOR 125
3
3
2
2
Fig.2-151
3
4
2
1
4
Fig.2-155 Fig.2-154
8
10 3
2
6
Fig.2-152
126 FISIOLOGIA ARTICULAR
Fig.2-157
Fig.2-156
Fig.2-160
128 FISIOLOGIA ARTICULAR
Vistos em perspectiva (fig. 2-161), os liga- mentos quando eles são considerados por or-
mentos cruzados aparecem realmente como cru- dem, de fora p?fa dentro e vice-versa.
zados no espaço, um com relação ao outro. No ~xiste uma diferença de inclinação entre
plano sagital (fig. 2-162) estão cruzados (fig. 2- os dois ligamentos cruzados (fig. 2-162); com o
162), o ântero-externo (LCAE) é oblíquo para joelho em extensão, o ligamento cruzado ântero-
cima e para trás, enquanto o póstero-interno é
externo (LCAE) é mais vertical, enquanto o pós-
oblíquo para cima e para diante. As suas dire- tero-interno (LCPI) é mais horizontal; acontece
ções também estão cruzadas no plano frontal
o mesmo com a direção geral das zonas de inser-
(fig. 2-163, vista posterior) visto que as suas in-
ção femorais: a do póstero-interno é horizontal
serções tibiais (pontos pretos) estão alinhadas no
(b), enquanto a do ântero-externo é vertical (a).
eixo ântero-posterior (seta S), enquanto as suas
Uma norma mnemotécnica lembra este fato gra-
inserções femorais estão a 1,7 cm de distância:
ças ao adágio clássico: "O externo está em pé
conseqüentemente, o póstero-interno é oblíquo
quando o interno está deitado."
para cima e para dentro e o ântero-externo é
oblíquo para cima e para fora. Pelo contrário, no Com o joelho flexionado (fig. 2-164), o
plano horizontal (ver figo 2-185) eles são para- LCPI, horizontalizado durante a extensão, se en-
lelos e entram em contato entre si através da sua direita verticalmente, descrevendo um arco de
margem axial. círculo de mais de 60° com relação à tíbia, en-
quanto o LCAE se endireita pouco.
Os ligamentos cruzados não estão somente
cruzados entre si, mas também estão cruzados A relação de comprimento entre ambos os
com o ligamento lateral do lado homólogo. As- ligamentos cruzados varia, dependendo de cada
sim sendo, o cruzado ântero-externo se cruza indivíduo, porém, junto com as distâncias dos
com o ligamento lateral externo (fig. 2-165) e o pontos de inserção tibiais e femorais, constitui a
cruzado póstero-interno com o ligamento lateral característica própria de cada joelho, visto que
interno (fig. 2-166). Portanto, existe uma alter- determina entre outras, como já vimos, o perfil
nância regular na obliqüidade dos quatro liga- dos côndilos.
2. MEMBRO mFERIOR 129
LCPI
~ Fig.2-163
Fig.2-161
LLE LCAE
LCPI
LU
Fig.2-165
Fig.2-166
130 FISIOLOGIA ARTICULAR
//
// ~t
30° /
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A A
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~/ Fig.2-167
I /
I /
I /
I
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, I \I
Fig.2-168
Fig.2-169
Fig.2-170
132 FISIOLOGIA ARTICULAR
A partir do momento em que a flexão au- em hiperextensão (fig. 2-178), o fundo da incisura
menta até 90° (fig. 2-172) e depois até 120° intercondiliana c se apóia sobre o LCAE que se
(fig. 2-173), o LCPI se endireita verticalmente contrai como se fosse um cavalete. O cruzado ân-
e se contrai proporcionalmente mais que o tero-externo está tenso em extensão e é um dos
LCAE: no detalhe do esquema (fig. 2-174) se freios da hiperextensão.
pode observar que as fibras médias e inferiores Então, os trabalhos recentes de F. Bonnel
do LCAE estão distendidas (-), enquanto as fi- confirmam o que pensava Strasser (1917); quem,
bras ântero-superiores são as únicas que estão graças a um modelo mecânico, descobriu que o
tensas (+); pelo contrário, no caso do LCPI as LCAE está tenso na extensão e o LCPI na flexão.
fibras póstero-superiores estão pouco distendi- Contudo, uma análise mais minuciosa das con-
das (-), enquanto as fibras ântero-inferiores es- dições mecânicas confirmam que Roud (1913)
tão tensas (+). O cruzado póstero-interno es- também estava certo, visto que pensava que os
tá tenso em flexão.
cruzados permanecem sempre tensos em algu-
Em extensão e hiperextensão (fig. 2-175), mas de suas fibras. por causa do seu comprimen-
com relação à posição de partida (figs. 2-176 e to diferente. Como acontece amiúde em biome-
2-177), todas as fibras do LCAE estão, pelo con- cânica, duas propostas aparentemente contradi-
trário, tensas (+), enquanto só as fibras póstero-su- tórias podem ser certas simultaneamente e não
periores do LCPI estão tensas (+); por outro lado, se exc1uirem.
2. :-'JEMBRO INFERIOR 133
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I
134 FISIOLOGIA ARTICULAR
Antes, analisando o movimento dos côndilos Esta demonstração se pode retomar graças a
sobre as glenóides (ver pág. 94), se pôde constatar um modelo mecânico (ver modelo m no final des-
que este movimento combina rolamento e desliza- te volume), que faz reaparecer a tensão alternada
mento; assim como o rolamento pode ser explica~ dos ligamentos representados por elásticos.
do com facilidade, mas, como explicar o desliza- Os movimentos de gaveta são movimentos
mento numa articulação tão pouco encaixada co- anormais de deslocamento ântero-posterior da tí-
mo o joelho? Certamente, intervêm fatores ati- bia com respeito ao fêmur. Exploram-se em duas
vos; os extensores puxam a tíbia sobre ofêmur pa- posições: com o joelho tlexionado em ângulo reto
ra diante na extensão (ver pág. 146) e inversamen- e com o joelho ~m extensão máxima.
te os tlexores fazem com que o platô tibial se des-
Com o joelho fiexionado em ângulo reto
lize para trás na tlexão; porém, quando os movi-
mentos numa amostra anatômica são estudados, (fig. 183): o paciente em decúbito supino sobre um
plano duro, o joelho que vai ser explorado em ân-
predomina o papel dos fatores passivos e, mais
gulo reto, o pé apoiado sobre a mesa de exame; o
concretamente, o dos ligamentos cruzados. Os li-
examinador bloqueia o pé do paciente sentando-se
gamentos cruzados solicitam aos côndilos de for-
em cima dele, para a seguir segurar com ambas as
ma que fazem com que se deslizem sobre as gle-
nóides em sentido inverso ao do seu rolamento. mãos a extremidade superior da perna; pluando pa-
ra ele, explora uma gaveta anterior, empurrando
Partindo (fig. 2-179) da extensão (I), se o para trás explora uma gaveta posterior; esta explo-
côndilo rolasse sem deslizar-se deveria recuar à
ração deve ser realizada com o pé em rotação neu-
posição II e a inserção femoral b do cruzado ânte- tra - gaveta direta -, o pé em rotação externa -
ro-externo ab deveria situar-se em b', descreven-
gaveta em rotação externa - e o pé em rotação in-
do o suposto trajeto bb', eventualidade ilustrada terna - gaveta em rotação interna -. É preferível
na figura 2-108 (página 107), e causa das lesões esta terminologia à denominação "gaveta rotatória
do como posterior do menisco interno. Contudo, o externa ou interna", que tem implícita uma idéia
ponto b só pode deslocar-se ao longo de uma cir- de rotação durante o movimento de gaveta.
cunferência de centro e e de raio ab (supondo que
o ligamento seja inextensível), a conseqüência é A gaveta posterior (fig. 2-181) se manifesta
que o trajeto real de b não é bb', mas bb", o que por um deslocamento da tíbia sobre o fêmur para
corresponde à posição m do côndilo, mais ante- trás; devido a uma ruptura do cruzado póstero-in-
rior que a posição II de comprimento e. Durante a temo. A regra mnemotécnica é simples: gaveta
flexão, o cruzado ântero-externo age dirigindo o posterior = cruzado posterior.
côndilo para frente. Então, pode-se dizer que o li- A gaveta anterior (fig. 2-182) se traduz por
gamento cruzado ântero-externo é responsável um deslocamento para diante da tíbia sobre o fê-
pelo deslizamento do côndilo para diante, asso- mur devido à ruptura do cruzado ântero-externo.
ciado ao seu rolamento para trás. Gaveta anterior = cruzado anterior.
Do mesmo modo pode-se demonstrar (fig. Com o joelho em extensão, uma mão segura
2-180) o papel do cruzado póstero-interno durante a face posterior da coxa, enquanto a mão anterior,
a extensão. Passando da posição I à posição II por segurando a extremidade superior da perna, tenta
um rolamento simples, o ligamento póstero-interno mover a perna de diante para trás e vice-versa: é o
cd desloca o côndilo para trás, a trajetória de sua in- teste de Lachmann- Trillat. Se um deslocamento
serção femoral c não é cc', mas sim cc" numa cir- para frente pode ser percebido, este "Lachmann
cunferência de centro d e de raio dc. A conseqüên- anterior" é a prova de uma ruptura do LCAE, as-
cia é que o côndilo se desloca a um comprimento f sociada por Bousquet a uma ruptura da camada fi-
para trás para situar-se numa posição m. Durante a brotendinosa póstero-externa (PAPE); esta explo-
extensão, o ligamento cruzado póstero-interno é ração é complicada, visto que o movimento é de
responsável pelo deslizamento do côndilo para escassa amplitude e, por conseguinte, difícil de se
trás, associado ao seu rolamento para diante. afirmar.
2. MEMBRO INFERIOR 135
Fig.2-180
Fig.2-179
Fig.2-182
Fig.2-181
Fig.2-183
136 FISIOLOGIA ARTICULAR
Sabemos que os movimentos de rotação (fig. 2-191) determina, por razões inversas à
longitudinal do joelho só são viáveis quando ele rotação interna, uma distensão do LCAE (-) e
está flexionado. Contudo, na extensão máxima, uma tensão do LCPI (+) assim como do freio
a rotação longitudinal é impossível: ele está im- menisco-femoral (seta branca) que se insere no
pedido pela tensão dos ligamentos cruzados e corno posterior do menisco interno, deslocan-
laterais. do-o para diante.
Em visão anterior do joelho em rotação Os ligamentos cruzados impedem a rota-
neutra (fig. 2-184, as superfícies se ilustram "se- ção interna do joelho estendido.
paradas" devido a uma "elasticidade" anormal A rotação, interna contrai o LCAE e dis-
dos ligamentos), os ligamentos cruzados estão tende o LCPI.
bem cruzados um com relação ao outro, e sua
dupla obliqüidade, bem visível em vista de pla- A rotação externa contrai o LCPI e dis-
tende o LCAE.
no (fig. 2-185), faz com que esbocem um movi-
mento de enrolamento um ao redor do outro.
Donald B. Slocum e Robert L. Larson (J. Bone and
Durante a rotação interna da tíbia sobre o Joint Surg., março 68) analisaram a estabilidade rotatória
fêmur (fig. 2-186, vista anterior), a direção dos li- dojoelho fiexionado nos esportistas, principalmente nos jo-
gamentos é nitidamente mais cruzada no plano gadores de futebol, que quando giram bruscamente para o
lado oposto da perna que suporta o peso solicitam brusca-
frontal (detalhe), enquanto no plano horizontal mente o seu joelho em rotação externa. Estes autores de-
(fig. 2-187, vista superior) entram em contato en- monstraram a função relevante que desempenha a parte in-
tre si através da sua margem axial (detalhe); des- terna da cápsula:
ta fOffi1a,se enrolam um ao redor do outro (fig. - o seu terço anterior está excessivamente exposto à
2-188) e se contraem mutuamente (fig. 2-189) co- ruptura se o traumatismo em valgo-rotação exter-
mo as cordas de um "torniquete", conseguindo a na ocorre com o joelho tlexionado em 30 a 90°;
aproximação das supeifíâes da tiNa e do fêmur, - o seu terço posterior é vulnerável sempre que o
embora a rotação interna se bloqueie rapidamente. joelho esteja estendido;
Simultaneamente, como o centro desta ro- - o seu terço médio, assimilado a um fascículo pro-
fundo do ligamento lateral interno, se rompe
tação - marcado com uma cruz - (fig. 2-187) quando o traumatismo ocorre com o joelho em
não coincide com o centro da articulação (de fa- tlexão de 30 a 90°.
to corresponde à vertente interna da espinha ti- Além disso, se o joelho está tlexionado em 90° ou
bial interna), este movimento distende o LCPI mais, o ligamento cruzado ântero-externo começa a disten-
(-) e contrai o LCAE (+) assim como a sua ex- der-se durante os 15-20 primeiros graus de rotação externa,
pansão para o como anterior do menisco inter- para a seguir contrair-se e inclusive romper-se enrolando-
no, que se desloca para trás. se na face axial do côndilo externo se a rotação externa
continua.
Durante a rotação externa da tíbia sobre o
Finalmente, a metade posterior do menisco interno,
fêmur (fig. 2-190, vista anterior), os ligamentos pelas suas conexões capsulares com a tíbia, pode impedir,
têm a tendência a tornar-se paralelos (detalhe), por si mesma, a rotação externa com o joelho tlexionado.
enquanto no plano horizontal (fig. 2-191, vista Em conclusão, um traumatismo em valgo-rotação
superior) estão mais cruzados, porém perdem o externa com o joelho tlexionado produz sucessivamente e
contato de sua margem axial, distendendo o seguindo uma força crescente:
"torniquete" e permitindo uma ligeira separa- - uma ruptura do terço anterior da cápsula;
ção das superfícies articulares (fig. 2-193). Por - uma ruptura do ligamento lateral interno, come-
conseguinte, a rotação externa não está limitada çando com a camada profunda primeiro e conti-
pela tensão dos ligamentos cruzados. nuando com as fibras superficiais;
Contudo, o fato de que o centro de rota- - uma ruptura do ligamento cruzado ântero-externo;
ção não coincida com o centro da articulação - uma desinserção do menisco interno.
Fig.2-185
Fig.2-189 Fig.2-193
Fig.2-190
J
~
Fig.2-192
Fig.2-188
\ Fig.2-191
138 FISIOLOGIA ARTICULAR
A função dos ligamentos laterais na esta- estão menos coaptadas pelos ligamentos laterais
bilidade rotatória do joelho pode ser explicada (fig. 2-197) - enquanto estão mais coaptadas
por razões simétricas. pelos ligamentos cruzados. O "jogo" que permi-
te a distensão .dos ligamentos laterais é compen-
Em posição de rotação neutra (fig. 2-194,
sado pela tensão dos cruzados.
vista superior, côndilos transparentes), a obli-
qüidade do LU para baixo e para diante, e do Ao contrário; a rotação externa (fig. 2-198)
LLE para baixo e para trás, faz com que esbo- aumenta o enrolamento (fig. 2-200), com o qual
cem um movimento de enrolamento ao redor da as superfícies articulares se aproximam (fig.
porção superior da tíbia. 2-200) e se limita o movimento, enquanto os
cruzados se distendem.
A rotação interna (fig. 2-195) se opõe a
este enrolamento, e diminui a obliqüidade dos Os ligamentos laterais limitam a rotação
ligamentos laterais, embora sua tendência seja a externa, os cruzados a rotação interna.
de converter-se em paralelos (fig. 2-196, vista A estabilidade rotatória do joelho em ex-
póstero-intema: superfícies "separadas"); como tensão está assegurada tanto pelos ligamentos
b enrolamento diminui, as superfícies articulares laterais quanto pelos ligamentos cruzados.
2. MEMBRO INFERIOR 139
Fig.2-197
Fig.2-196
Fig.2-194
~
Fig.2-198
Fig.2-200 Fig.2·199
140 FISIOLOGIA ARTICULAR
Junto com os testes estáticos de estabilida- dilo femoral externo pular, literalmente, para
de do joelho, tão clássicos como a exploração da diante do platô tibia1 externo.
lateralidade ou da gaveta, se elaboraram testes A positividade do teste de Mac-Intosh, ou
dinâmicos de estabilidade (ou de instabilidade) seja, a existência de um ressalto externo em rota-
que pretendem a aparição de um movimento ção interna, diagnostica uma ruptura do
anormal inclusive no percurso de um movimen- LCAE. De fato, o LCAE, ao limitar a rotação in-
to de prova. Estes testes dinâmicos de instabili- terna, se o joelho está em extensão e rotação in-
dade são numerosos (cada escola de cirurgia do terna (fig. 2-203), o côndilo femoral externo se
joelho propõe mais um em cada congresso!), por subluxa posteriormente (SLP) sobre a vertente
isso é necessário tentar classificá-los e, princi- posterior (1) da "lombada" da glenóide externa;
palmente, destacar os mais significantes. é mantido nesta situação pelo tensor da fáscia la-
O mais prático é classificar estes testes di- ta (TFL) e pelo valgo que coaptam o côndilo so-
nâmicos em dois grupos: bre a glenóide. Enquanto a fáscia lata passa pela
- os testes em valgo-rotação interna e frente da lombada, o côndilo permanece blo-
queado em subluxação posterior, porém quando
- os testes em valgo-rotação externa. se ultrapassa este ponto devido a uma ftexão
Em primeiro lugar vamos analisar os testes crescente (fig. 2-204), o côndilo supera o vértice
dinâmicos em valgo-rotação interna. (S) e se bloqueia para diante (2), sobre a verten-
O teste de Mac-Intosh ou lateral Pivot te anterior onde permanece retido (fig. 2~204) pe-
Shift Test é o mais conhecido e utilizado. Po- lo LCPI. Um fato importante é a sensação de res-
de ser explorado com o paciente em decúbito salto que o paciente percebe espontaneamente.
supino (fig. 2-201) ou em inclinação de 45° O jerk test de Hughston é o inverso do Mac-
(fig. 2-202). No primeiro caso (fig. 2-201), a Intosh. Explora-se também com o paciente em de-
mão que segura o pé pela planta força uma ro- cúbito supino simétrico (fig. 2-205) ou em um de-
tação interna, enquanto o próprio peso do cúbito intermédio (fig. 2-206), com uma inclina-
membro aumenta um valgo no joelho. No se- ção de 45°, com as mesmas posições das mãos. A
gundo caso (fig. 2-202), a mão segura o pé pe- diferença está em que a posição de partida é de fle-
la face anterior do tornozelo passando por trás xão de 35-40° para estender de novo o joelho,
dele e provocando uma rotação interna com a mantendo a rotação interna do pé e a limitação em
extensão do punho. A posição de partida do valgo do joelho. O côndilo femoral externo parte,
joelho é a extensão (fig. 2-201), a mão livre então, de sua posição (fig. 2-203) mais "adianta-
empurra o joelho para diante para esboçar a da" (em pontilhado) correspondendo a um conta-
flexão e para baixo para aumentar o valgo. Du- to (2) com a vertente anterior da glenóide externa,
rante este movimento de flexão (fig. 2-202), para "pular" bruscamente (1) em subluxação pos-
para os 25-30°, após ter experimentado uma terior, sem ficar retido pelo LCAE quando se
resistência, se percebe de repente um desblo- aproxima à extensão. A positividade do jerk test
queio, enquanto se aprecia e se observa o côn- também indica uma ruptura do LCAE.
2. MEMBRO INFERIOR 141
Fig.2-201 Fig.2-205
Fig.2-202 Fig.2-206
142 FISIOLOGIA ARTICULAR
Embora os testes de Mac- Intosh e de pIora uma gaveta posterior, daí o nome inglês
Hughston sejam os mais utilizados, os mais fá- deste teste que indica também uma ruptura do
ceis de explorar e os mais fidedignos, não são os LCAE.
únicos que permitem diagnosticar uma ruptura O teste de Slocum (fig. 2-109) se explora
do ligamento cruzado ântero-externo (LCAE). com o paciente em decúbito supino, semigirado
Podem-se utilizar outros três testes; se trata dos
para o lado oposto e com o membro a explorar
testes de Losee, de Noyes e de Slocum. sobre a mesa de exame; desta forma, quando o
O teste de Losee (fig. 2-207) se explora joelho está em extensão, o próprio peso da per-
com o sujeito em decúbito supino, o examinador na provoca um valgo automático - rotação in-
segura o calcanhar com uma mão mantendo o terna; o fato de não ter que segurar o membro é
joelho fiexionado em 30°, com a outra mão man- de grande ajuda nos pacientes obesos. As duas
tém o joelho pela sua face anterior, enganchan- mãos do examinador se colocam no nível do
do o seu polegar na cabeça da fíbula. Simulta- joelho, a um e outro lado da interlinha, de forma
neamente realiza uma rotação externa com a pri- que se pode flexionar progressivamente, en-
meira mão, o que impede qualquer subluxação quanto o valgo aumenta. Como no teste de Mac-
posterior do côndilo externo, e um valgo com a Intosh, aparece um ressalto nos 30-40° de flexão,
outra mão; conduzindo o joelho em extensão re- e como no teste de Hughston, se reproduz em
laxando a rotação externa - este último ponto é sentido inverso quando o joelho se estende. Este
muito importante, visto que no caso contrário teste de Slocum também diagnostica uma ruptu-
seria em todos os casos negativo. Quando a ex- ra do LCAE.
tensão se completa, o polegar da mão que segu-
Embora os cinco testes sejam indicativos
ra o joelho desloca a fíbula para diante: quando
de uma ruptura do LCAE, existem duas circuns-
o teste é positivo, se produz um ressalto do pla-
tâncias nas quais não são exatos:
tô tibial para diante ao final da extensão.
- no caso das adolescentes hiperlaxas:
O teste de Noyes (fig. 2-208), ou fiexion
podem ser positivos sem existir uma
rotation drawer test, se explora também com o
ruptura do ligamento, daí a necessidade
paciente em decúbito supino, com o joelho fie-
xionado em 20 a 30° e rotação neutra, as mãos de explorar também o lado oposto que
do examinador se limitam a segurar a perna, e é pode ser também hiperlaxo;
unicamente o peso da coxa o que provoca uma - uma lesão importante da camada fibro-
subluxação posterior do côndilo externo (1) e tendinosa póstero-interna impede o blo-
uma rotação externa do fêmur. É possível redu- queio do côndilo externo sob a ação do
zir esta subluxação empurrando a porção supe- valgo e pode dificultar a aparição de um
rior da tlôia para trás (2), como quando se ex- ressalto.
2. MEMBRO INFERIOR 143
Fig.2-207
Fig.2-208
~
Fig.2-209
- __ n_
144 FISIOLOGIA ARTICULAR
Fig.2-211 Fig.2-214
'--
Fig.2-210
Fig.2-213
146 FISIOLOGIA ARTICULAR
Fig.2-219
Fig.2-224
Fig.2-226
Fig.2-227
152 FISIOLOGIA ARTICULAR
Os flexores do joelho são, ao mesmo tem- peso. O poplíteo (fig. 2-234, vista poste-
po, os seus rotadores; se dividem em dois gru- rior) é a única exceção desta disposição
pos segundo o seu ponto de inserção na perna geral: se insere na face posterior da por-
(fig. 2-228): ção proximal da tíbia, para penetrar, a
- os que se inserem por fora do eixo ver- seguir, na cápsula do joelho debaixo da
tical XX' de rotação do joelho: são os ogiva que forma o ligaj1lento poplíteo
arqueado (ver também figo2-147); antes
rotadores externos (RE), representados
de que isso aconteça, ele envia uma ex-
(fig. 2-231) pelo bíceps (B) e o tensor
pansão que se insere na margem poste-
da fáscía lata (TFL). Quando deslocam
rior do menisco externo; no interior da
a parte externa do platá tibial para trás
cápsula
(fig. 2-229), fazem o joelho girar de tal
forma que a ponta do pé se dirige direta- -porém para fora da sinovial- se desli-
mente para fora. O tensor da fáscia lata za entre o ligamento lateral externo e o
só age como flexor-rotador externo menisco externo (fig. 2-232) para termi-
quando o joelho está flexionado; num nar fixando-se no fundo de uma fosseta
joelho totalmente estendido, perde a sua que ocupa a parte inferior da superfície
cutânea do cándilo externo. É o único
ação de rotação para transformar-se em
extensor: "bloqueia" a extensão. A por- rotador interno monoarticular, de forma
ção curta do bíceps (fig. 2-232, B ') é o que a sua ação não está influenciada pe-
único músculo rotador externo monoar- la posição do quadril. Esta ação pode ser
tiCldar; o que significa que a posição do compreendida com facilidade por uma
quadril não repercute em absoluto sobre vista superior do platô tibial (fig. 2-
a sua ação. 233): o poplíteo (seta preta) desloca a
parte posterior do platá tibial para fora.
- os que se inserem por dentro do eixo
vertical XX' de rotação do joelho: são Embora esteja situado por trás da articula-
os rotadores internos (RI), representa- ção, o poplíteo é extensor do joelho: durante a
dos (fig. 2-231) pelo sartório (Sa), o se- flexão, a fosseta de inserção do poplíteo se des-
mitendinoso (ST), o semimembranoso loca para cima e adiante (fig. 2-232), estendendo
(SM), o vasto interno (VI) e o poplíteo o músculo e reforçando a sua ação como rotador
(fig. 2-232, Pop). Quando deslocam pa- interno. Pelo contrário, quando se contrai com o
ra trás a parte interna do platá tibial (fig. joelho flexionado e, especialmente, em rotação
2-230), o joelho gira de tal forma que a externa, desloca a fosseta para baixo e atrás, pro-
ponta do pé se dirige para dentro. Agem vocando um deslizamento do cándilo externo pa-
como freios da rotação externa com o ra a extensão. Em resumo, o poplíteo é tanto ex-
joelho flexionado, de forma que prote- tensor quanto rotador interno do joelho.
gem os elementos cápsulo-ligamentares Em conjunto, o grupo dos rotadores inter-
quando estes são requeridos violenta- nos é mais potente (2 kg) do que o grupo dos ro-
mente durante um giro inesperado para tadores externos (1,8 kg); porém, esta diferença
o lado oposto ao da perna que suporta o não tem muita importância.
Fig.2-232
Fig.2-234
RE
Fig.2-230 Fig.2-229
154 FISIOLOGIA ARTICULAR
Já vimos (ver pág. 84) que o fim da extensão estendido, os pontos de contato a e b estão alinha-
se acompanha de uma ligeira rotação externa e dos sobre uma transversal Ox; a ftexão provoca o
que o início daflexão não é possível sem uma ligei- retrocesso do côndilo interno de a para a' (5-6 mm)
ra rotação interna, e tudo isso de forma automáti- e do côndilo externo de b para b' (10-12 mm); os
ca, sem intervenção de nenhuma ação voluntária. pontos de contato a' e b' que correspondem à fle-
Esta rotação automática é evidente numa pre- xão estão alinhados sobre Oy que junto com Ox
paração anatômica com a experiência de Round: formam um ângulo xOy de 20°. Para que Oy este-
ja transversal, é necessário que a tíbia realize uma
- duas varetas transversais e horizontais, para- rotação interna de 20°.
lelas entre si quando o joelho está em exten-
Este retrocesso diferencial dos côndilos se de-
são, são introduzidas (fig. 2-235, vista supe-
rior) no platô tibial e no maciço condiliano; ve a três fatores:
- se o fêmur se flexiona sobre a tíbia 1) A desigualdade do desenvolvimento do
(fig. 2-236), que permanece fixa, se pode contorno condiliano (figs. 2-239 e 2-240).
comprovar como o eixo do fêmur se in- Quando se desenvolvem as superfícies ar-
clina para trás e para dentro (o desenho ticulares do côndilo interno (fig. 2-239) e
representa um joelho direito); no caso de se comparam com o desenvolvimento das
uma flexão de 90°, pode-se constatar que superfícies do côndilo externo (fig. 2-240)
ambas as varetas formam, no plano hori- pode-se constatar que o desenvolvimento
zontal, um ângulo de 30° aberto para fo- bd' da curvatura posterior do côndilo ex-
ra e para trás (Roud propõe 45°); terno é um pouco maior do que o do inter-
no (ac' = bc'). Isso explica, em parte, que o
- quando o eixo do fêmur numa direção sa-
côndilo externo rode mais do que o interno.
gital se situa outra vez (fig. 2-237) pode-
se observar que a vareta tibial se orienta 2) A forma das glenóides: o côndilo interno
nesta situação de dentro para fora e de trás recua pouco, visto que está dentro de uma
para diante; o que indica uma rotação in- glenóide côncava (fIg. 2-241), enquanto o
terna da tíbia sobre o fêmur. Esta vareta côndilo externo se desliza sobre a verten-
forma um ângulo de 20° com a perpendi- te posterior da glenóide externa convexa
cular ao eixo do fêmur. Portanto, a ftexão (fIg. 2-242).
do joelho se acompanha de uma rotação 3) A orientação dos ligamentos laterais:
interna automática de 20°. A diferença
quando os côndilos recuam sobre as gle-
de 10° se deve a que a vareta femoral (não
nóides, o ligamento lateral interno entra
ilustrada aqui), por causa do valgo fisioló-
em tensão mais rapidamente (fig. 2-241)
gico do joelho, não é perpendicular ao ei-
que o externo (fig. 2-242); deixando este
xo diafisário, mas sim que forma com ele
último ao côndilo externo mais margem de
um ângulo de 80° (ver figo 2-3);
retrocesso, devido à sua obliqüidade.
- esta experiência também pode ser realizada
Além disso, existem pares de rotação:
no sentido inverso: partindo de uma posi-
ção de ftexão em ângulo reto, em que as va- - a ação predominante dos músculos ftexo-
retas divergem (fig. 2-236), para alcançar a res-rotadores internos (fig. 2-243), múscu-
máxima extensão na qual as varetas são pa- los da "pata de ganso" (seta preta) e poplí-
ralelas (fig. 2-235): deste modo se eviden- teo (seta branca);
cia uma rotação externa automática con- - a tensão do ligamento cruzado ântero-ex-
temporânea da extensão do joelho. temo no fim da extensão (fig. 2-244): o li-
A rotação interna da tíbia aparece porque du- gamento passa por fora do eixo, de forma
rante a ftexão do joelho (fig. 2-238) o côndilo ex- que a sua tensão provoca uma rotação ex-
terno recua mais do que o interno: com o joelho terna.
2. MEMBRO INFERIOR 155
Fig.2-236
Fig.2-237
o .------:
y
Fig.2-238
RI
Fig.2-239 Fig.2-240
RE
Fig.2-244
Fig.2-241 Fig.2-242
156 FISIOLOGIA ARTICULAR
Ao final deste capítulo, parece que a estabilidade do 9) A gaveta posterior em rotação interna seria
joelho, articulação frouxamente encaixada, se mantém um sinal específico da ruptura do LCPI asso-
graças a um milagre constante. É por este motivo que ten- ciada a uma lesão da CFTPl (PAP/).
tamos expor num esquema sinóptico (fig. 2-245) os prin- 10) Um movimento de lateralidade em extensão,
cipais testes com relação às estruturas implicadas. A es-
de forma que provoque um ligeiro valgo (+)
colha destes testes pode gerar discusão, assim como a sua corresponde a uma ruptura do LLI; quando o
interpretação, embora se baseie nas publicações mais re- valgo é mais acentuado (++) indica uma lesão
centes. De todo modo, devemos ser conscientes de que se associada da convexidade condiliana intema:
trata de uma classificação provisória.
por último, quando é muito acentuada (+++)
1) A gaveta anterior em rotação neutra, ou ga- existe, além disso, uma ruptura do LCAE.
veta "direta", pode existir, em menor grau, de 11) Um movimento de lateralidade externa em
forma fisiológica; portanto, sempre será neces-
ligeira ftexão (10-30°) indica uma ruptura as-
sário comparar com o lado supostamente nor- sociada do LU, da convexidade condiliana in-
mal. Contudo, quando seu sinal é claro (+) terna e da CFTPI, assim como uma lesão do
diagnostica uma ruptura do LCAE. Quando ele
corno posterior do menisco interno.
é muito acentuado, se une uma ruptura do LLI
à anterior. Porém, cuidado com uma falsa ga- 12) Um movimento de lateralidade interna em
veta anterior que corresponderia à redução de extensão indica, quando existe um varo mode-
uma subluxação posterior espontânea por rup- rado (+), uma ruptura do LLE que pode estar
tura do LCPI! ou não associada a uma ruptura da banda de
Maissiat, e quando é acentuado (++), uma rup-
2) A gaveta anterior em rotação interna de tura associada da convexidade condiliana ex-
15° constitui um sinal claro de ruptura do
terna e da CFTPE (PAPE).
LCAE que pode estar unido com uma lesão
da CFTPE (camada fibrotendinosa póstero- 13) Um movimento de lateralidade interna em
externa ou PAPE). ligeira ftexão (I 0- 30°) indica as mesmas lesões
que no caso anterior, porém sem que a ruptura
3) A gaveta anterior em rotação interna de
da banda de Maissiat esteja associada.
30° traduz uma ruptura do LCAE associada à
do LCPI, e quando se percebe um ressalto se 14) O teste de recurvatum, rotação externa e
associa a uma desinserção do corno poste- valgo ou inclusive o teste de suspensão do de-
rior do menisco externo. do polegar do pé indicam uma ruptura associa-
da do LLE e da CFTPE (PAPE).
4) O ressalto externo em valgo, rotação interna
e ftexão, ou lateral pivot shift de Mac-Intosh e Para entender a mecânica do joelho é necessário
o jerk test de Hughston são sinais claros de compreender que o joelho em movimento realiza um
ruptura do LCAE. equilíbrio dinâmico e, principalmente, abandonar a idéia
de um equil1brio de dois termos, como o dos dois pratos
5) A gaveta anterior em rotação externa,
de uma balança. Contudo, uma tábua de vela (fig. 2-246)
quando é moderado (+) indica uma lesão da
é muito mais representativa, visto que corresponde a um
CFTPE (PAPE), e se pode-se perceber um
equilíbrio de três termos:
ressalto se associa a uma desinserção do cor-
no posterior do menisco interno. - o mar, que segura a tábua, corresponde à ação
das supeifícies articulares;
6) A gaveta posterior em rotação neutra ou ga-
veta posterior direta é o sinal infalível da rup- - o vento, que bate na vela, é a força motora, ou
tura do LCPl. seja, os músculos;
7) O ressalto externo em valgo, rotação externa - o indivíduo, que dirige o movimento pelas suas
e extensão ou pivot shift reverse test, assim co- constantes reações em função do vento e do mar.
mo o ressalto externo em valgo, rotação exter- corresponde ao sistema ligamentar.
na e flexão, indicam uma ruptura do LCPI. O funcionamento do joelho está determinado, em
8) A gaveta posterior em rotação externa tra- todo momento, pelas reações mútuas e equilibradas des-
duz uma lesão da CFTPE (PAPE), podendo-se tes três fatores, superfícies articulares, músculos e liga-
associar a uma ruptura do LCPI. mentos em equilíbrio dinâmico trilateral.
2. MEMBRO INFERIOR 157
(j) TA/R0(Direto)
Res. VURI/FL @
(Lateral Pivot Shift) // ""± ® TAlRE
Res. VURI/EX
++ + "\ +çj
+ +
LAT.INT.
EXT
Y
+-;;@
DI
'@VUREC/RE
(Suspensão)
@ TP/R0 (Direto)
I
Res. VURE/EX (J)
Fig.2-245 (Pivot Shift Reverse Test)
Res VURE/FL
Fig.2-246
158 FISIOLOGIA ARTICULAR
A articulação do tornozelo, ou tíbio-tarsia- da", muito encaixada, que tem limitações impor-
na, é a articulação distal do membro inferior. Ela tantes, visto que quando está em apoio monopo-
é uma tróclea, o que significa que possui só um daI suporta todo o peso do corpo, que pode in-
grau de liberdade. Ela condiciona os movimen- clusive estar aumentado pela energia cinética
tos da perna com relação ao pé no plano sagital. quando o pé entra em contato com o chão a cer-
ta velocidade durante a marcha, na corrida ou na
Ela é necessária e indispensável para a marcha,
preparação para o salto. É fácil imaginar a quan-
tanto se esta se desenvolve em terreno plano
tidade de problemas que têm que ser resolvidos
quanto em terreno acidentado.
para criar próteses tíbio-tarsianas totais, com
Trata-se de uma articulação muito "fecha- certa garantia de longevidade.
2. MEMBRO INFERIOR 159
160 FISIOLOGIA ARTICULAR
o COMPLEXO ARTICULAR DO PÉ
Fig.3-1
162 FISIOLOGIA ARTICULAR
A FLEXÃO-EXTENSÃO
A posição de referência (fig. 3-2) é a que a - quando este angulo é agudo (b), se tra-
planta do pé está perpendicular ao eixo da perna ta de uma flexão. Sua amplitude é de 20
(A). A partir desta posição, a flexão do tornozelo a 30°. A zona assombreada indica a
(B) é definida por ser o movimento que aproxi- margem de variações individuais de
ma o dorso do pé à face anterior da perna; tam- amplitude, isto é de 10°;
bém se denomina flexão dorsal ou dorsiflexão.
- quando este ângulo é obtuso (c), pode-
Pelo contrário, a extensão da articulação se afirmar que se trata de uma extensão.
tíbio-tarsiana (C) afasta o dorso do pé da face Sua amplitude é de 30 a 50°. A margem
anterior da perna enquanto o pé tem a tendência de variações individuais é maior (200)
a situar-se no prolongamento da perna. Este mo- que o da flexão.
vimento também se denomina flexão plantar,
embora esta não seja a denominação mais ade- Nos movimentos extremos não intervém
quada porque a flexão sempre corresponde a um somente a tíbío-tarsiana. mas também se associa
movimento que aproxima os segmentos dos a amplitude própria das articulações do tarso,
membros ao tronco. Nesta figura se pode com- que, sendo menos importante, não é desprezível.
provar que a amplitude da extensão é muito Na fiexão extrema (fig. 3-4) as articulações do
maior do que a da flexão. Para medir estes ângu- tarso aumentam alguns graus (+), enquanto a
los é melhor avaliar o ângulo entre a planta do abóbada se aplana. Pelo contrário. na extensão
pé e o eixo da perna (fig. 3-3) tomando como re- máxima (fig. 3-5), a amplitude suplementar (+)
ferência o centro da articulação tíbio-tarsiana: provém de uma escavação da abóbada.
2. MEMBRO INFERIOR 163
A Fig.3-2
c
Fig.3-3
(~ jJ
+ )
),
) /I
A
Fig.3-4
C'
C
164 FISIOLOGIA ARTICULAR
Se compararmos a tíbio-tarsiana com um para trás (fig. 3-12, corte sagital, vista externa),
modelo mecânico (fig. 3-6), ela pode ser descri- apresenta uma crista romba sagital (4) que se in-
ta da maneira seguinte: troduz na "garganta" da tróclea (fig. 3-11, corte
- uma peça inferior (A), o astrágalo ou ta- frontal, vista anterior). A cada lado, um "sulco"
lo, que suporta uma superfície cilíndrica interno (5) e outro externo (6) recebem as res-
(em primeira aproximação) com um pectivas vertentes da polia.
grande eixo transversal XX'; A face interna (7), visível em vista inter-
- uma peça superior (B), a porção inferior na do astrágalo (fig. 3-10), é praticamente pla-
da tíbia e a fíbula, que formam um blo- na - salvo adiante, onde se desvia para dentro
co - aqui supostamente transparente - (fig. 3-7) - e sagital (fig. 3-9). Toca a face ar-
cuja superfície inferior apresenta um ticular (8) da superfície externa do maléolo in-
orifício em forma de segmento cilíndri- terno (9), recoberta com uma cartilagem que
co idêntico ao anterior. prolonga a da superfície inferior do pilão tibial.
Entre estas duas superfícies, o ângulo diedro
O cilindro maciço, encaixado no segmento
(10) recebe a aresta aguda (11) que separa a
de cilindro oco, e mantido lateralmente entre os
vertente e face articular internas da polia.
dois flancos da peça superior, pode realizar mo-
vimentos de fiexão (F) e de extensão (E) ao re- A face externa (12) está fortemente desviada
dor do eixo comum XX'. para fora (fig. 3-8), côncava tanto de cima para bai-
xo (fig. 3-11) quanto de diante para trás (fig. 3-9);
Na realidade anatõmica (fig. 3-7, vista ân-
tero-interna da tíbio-tarsiana "desmontada" e seu "plano" é ligeiramente oblíquo para diante e
para fora. Entra em contato com a face articular
figo 3-8, idem, vista póstero-externa), o cilindro
(13) da face interna (fig. 3-7) do maléolo fibular
maciço corresponde à polia astragaliana com-
(14). Esta face está separada da superfície tíbial pe-
posta de três partes: uma superfície superior e
la interlinha tíbio-fibular inferior (15), ocupada por
duas superfícies laterais, as faces articulares.
uma faixa sinovial (16) (ver pág. 174) em contato
A superfície superior, a polia propria- com a aresta (17) que separa a vertente e face arti-
mente dita, convexa de diante para trás, marca- cular externas da tróclea. Esta aresta está biselada
da longitudinalmente por uma depressão axial, para diante (18) e para trás (19) (ver pág. 172).
a "garganta" da polia (1), para a qual conver-
Portanto, as duas faces laterais da polia do
gem a vertente interna (2) e a vertente externa
astrágalo estão mantidas pelos maléolos, cujas
(3) da tróc1ea. Como pode constatar-se em vis-
diferenças são:
ta superior (fig. 3-9), esta "garganta" não é es-
tritamente sagital, mas sim ligeiramente desvia- - a externa é mais volumosa do que a in-
da para diante e para fora (seta Z), na mesma di- terna;
reção do eixo longitudinal do pé, enquanto o - desce mais para baixo (m, figo3-11):
colo do astrágalo se dirige para diante e para
dentro (seta T) de forma que o astrágalo está - é mais posterior (fig. 3-9), o que explica
torcido sobre si mesmo. Esta vista superior tam- a ligeira obliqüidade (20°) para fora e
bém mostra que a tróc1ea é mais larga (L) para para trás do eixo XX'.
diante que para trás (1). Esta superfície troc1ear Também se descreve como terceiro maléo-
corresponde a uma superfície inversamente 10 de Destot (fig. 3-12) a margem posterior da
conformada, situada na superfície inferior do superfície tibial (20) que desce mais abaixo (p)
pilão tibial (figs. 3-7 e 3-8): côncava de diante que a margem anterior.
2. MEMBRO INFERIOR 165
6
27 5
14
13
21
Fig.3-12
Fig.3-11
Fig.3-10
166 FISIOLOGIA ARTICULAR
14
37
23
X
31
22
32
39
38
37
Fig.3-13
Fig.3-14
26
25 36
26 33
9 26 27~
35
3334 ~lllIn~~~~~, I~ 29 ~~
Fig.3-16
Fig.3-15
168 FISIOLOGIA ARTICULAR
5 Fig.3-17
Fig.3-19
Fig.3-23
Fig.3-21
Fig.3-25
170 FISIOLOGIA ARTICuLAR
Fig.3-28
Adu
Fig.3-32
172 FISIOLOGIA ARTICULAR
AS ARTICULAÇÕES TÍBIO-FIBULARES
A tíbia e a fíbula se articulam pelas suas Com a abertura semelhante, a articulação tí-
duas extremidades no nível das articulações tí- bio-fibular inferior (fig. 3-39) revela a ausência
bio-fibulares superior (figs. 3-36 a 3-38) e infe- de superfícies cartilaginosas: portanto, se trata de
rior (figs. 3-39 a 3-41). Como se poderá ver na uma sindesmose. Na tíbia, uma superfície cônca-
página seguinte, estas articulações estão meca- va (1) mais ou menos rugosa, delimitada pela bi-
nicamente comprometidas com a tíbio-tarsia- furcação da margem externa do osso, se opõe a
na: portanto, é lógico fazer a sua análise para uma superfície fibular (2) convexa, plana ou inclu-
tratar o tornozelo. sive côncava, debáixo da qual se localiza a face ar-
A articulação tíbio-fibular superior po- ticular fibular (3) da tíbio-tarsiana, flanqueada pe-
de ver-se claramente (fig. 3-36) quando se des- la inserção do fascícuio posterior (4) do LLE. O li-
gamento anterior (5) da tíbio-fibular inferior, es-
loca a fíbula após a secção do seu ligamento
anterior (1) e a expansão anterior (2) do tendão pesso e nacarado, se dirige obliquamente para bai-
xo e para fora (fig. 3-40, vista anterior); sua mar-
do bíceps (3). Assim sendo, a articulação se
gem inferior ocupa o ângulo externo da mortalha;
abre ao redor da charneira formada pelo liga-
de forma que bisela (seta dupla) a parte anterior da
mento posterior (4): a tíbio-fibular superior é
aresta externa da polia do astrágalo nos movimen-
uma artródia que põe em contato duas superfí-
tos de flexão do tornozelo. O ligamento posterior
cies ovais planas ou ligeiramente convexas. A
(6), mais espesso e mais largo (fig. 3-41, vista pos-
face articular tibial (5) se localiza no contorno
terior), se expande, muito longe, para o maléolo
póstero-externo do platô tibial; está orientada interno. Pelo mesmo mecanismo, ele faz chanfra-
obliquamente para trás, para baixo e para fora
dura sobre a parte posterior da mesma aresta du-
(seta). A face articular fibular (6) se localiza na rante os movimentos de extensão do tornozelo.
face superior da cabeça da fíbula. A sua orien-
tação é oposta à da face articular tibia!. Ela es- Além dos ligamentos tíbio-fibulares, os
tá localizada por baixo do processo estilóide da dois ossos da perna estão unidos pelo ligamen-
fíbula (7) no qual se insere o tendão do bíceps to interósseo, que se insere na margem externa
crural (3). O ligamento lateral externo do joelho da tíbia e na face interna da fíbula (traço ponti-
(8) se insere entre o bíceps e a face articular. lhado grosso nas figs. 3-36 e 3-39).
Uma vista externa (fig. 3-37) mostra a posição A tíbio-fibular inferior não coloca os dois
posterior da cabeça da fíbula na articulação. ossos em contato direto: permanecem separados
Também se pode observar o ligamento anterior por um tecido celular adiposo e este espaço se po-
(1) da tíbio-fibular, curto e retangular, assim de ver numa radiografia anterior (frontal) correta-
como a espessa expansão do bíceps (2), que se mente centrada do tornozelo (fig. 3-42). Normal-
insere na tuberosidade externa da tíbia. Uma mente, a projeção da fíbula (c) penetra mais
vista posterior (fig. 3~38) mostra as estreitas (8 mm) no tubérculo tibial anterior (a) do que a
conexões do músculo poplíteo (9) com a articu- sua separação (2 mm) do tubérculo posterior (b).
lação tíbio-fibular superior, enquanto se desliza Se a distância cb é maior do que a distância ac,
sobre seu ligamento posterior (4). podemos falar de diástase intertibio-fibular.
2. :\1EMBRO INFERIOR 173
2
1
Fig.3-37
5 1
5
2
6
Fig.3-39
5 6
a c b
Fig.3-42
Fig.3-41
174 FISIOLOGIA ARTICULAR
5mm
Fig.3-50 Fig.3-43
Fig.3-51
Fig.3-49 Fig.3-48
Fig.3-45 Fig.3-47
176 FISIOLOGIA ARTICULAR
Fig.4-2
V \1 ..
Fig.4-4 Fig.4-5
180 FISIOLOGIA ARTIClJLAR
o astrágalo se articula pela sua face inferior também possui .. esta forma cilíndrica,
(A, figo4-6, se separaram os dois ossos e o astrá- com o mesmo ralO e o mesmo eIXO,po-
galo foi deslocado ao redor do eixo XX' de mo- rém se trata de um segmento de cilindro
do que forma uma charneira) com a face supe- oco (fig. 4-7), enquanto o tálamo é um
rior do calcâneo (B, figo4-6). Estes dois ossos segmento de cilindro compacto (sólido);
entram em contato, cada um deles, através de
- globalmente, a cabeça do astrágalo é es-
duas superfícies articulares, constituindo o que férica e os planos que possui podem ser
se denomina articulação subastragaliana: considerados como faces articulares ta-
- a superfície posterior do astrágalo (a) se lhadas sobre uma esfera (linha traceja-
adapta à superfície maior (a') localizada da) de centro g (fig. 4-6). De fato, a su-
na face superior do calcâneo: é o tálamo perfície anterior do calcâneo (b') é côn-
de Destot. Estas duas superfícies estão cava em ambos os sentidos, enquanto a
unidas entre si por ligamentos e uma superfície astragaliana (b), que se opõe
cápsula que fazem delas uma articula- a ela, é convexa nos seus dois sentidos
ção anatomicamente autônoma; com os mesmos raios de curvatura. Com
- a superfície menor (b), localizada na face freqüência, a superfície calcânea está
inferior do colo e da cabeça do astrágalo, pinçada na sua parte central, como se
descansa na superfície anterior do calcâ- fosse uma palmilha de sapato (fig. 4-6)
neo (b'), alongada em sentido oblíquo e e inclusive, às vezes, se subdivide em
mantida pelas apófises maior e menor. duas faces articulares (figs. 4-7 e 4-8),
Estas superfícies, a astragaliana e a calcâ- uma (b') mantida pelo processo me-
nea, pertencem anatomicamente a uma dial da apófise e outra (b') pelo pro-
articulação mais ampla que inclui, tam- cesso lateral da apófise do calcâneo.
bém, a face posterior do escafóide (d') e Constatou-se que a estabilidade do cal-
que constitui com a cabeça do astrágalo câneo é proporcional à superfície desta
(d) a parte interna da articulação médio- última face articular. No astrágalo se
tarsiana, ou interlinha de Chopart. pode observar esta subdivisão (b1 e bJ
Antes de introduzir o funcionamento destas A superfície calcânea (b' ou b'l+ b'z) for-
articulações, é indispensável compreender a for- ma parte de uma superfície esférica oca mais
ma das suas superfícies. Trata-se de artródias: ampla que inclui a superfície posterior (d') do
- o tálamo (a') é uma superfície oval, com escafóide e a parte superior do ligamento glenói-
um grande eixo oblíquo para diante e de (c'), que se estende entre as duas superfícies.
para fora, convexa ao longo de todo o Estas superfícies formam uma cavidade de re-
eixo (fig. 4-7, vista externa e 4-8, vista cepção esférica para a cabeça do astrágalo, com
interna) e retilínea ou ligeiramente côn- o ligamento deltóide (5) e a cápsula. Na cabeça
cava em sentido perpendicular. Portan- do astrágalo se encontram as faces articulares
to, se pode comparar com um segmento correspondentes: a maior parte da superfície (d)
cilíndrico (f) cujo eixo seria oblíquo de corresponde ao escafóide; entre esta superfície
trás para diante, de fora para dentro e li- (d) e a face articular calcânea (b) se interpõe um
geiramente de cima para baixo. A super- campo triangular (c) de base interna que corres-
fície astragaliana (a) oposta à anterior ponde ao ligamento glenóide (c').
2. MEMBRO INFERIOR 181
9
1
A
Fig.4-6
Xl B
Fig.4-7 Fig.4-8
182 FISIOLOGIA ARTICULAR
A descrição da página anterior permite e a face articular média (cz) da cabeça do astrá-
compreender a disposição e a correspondência galo descansa na face articular horizontal (C'I)
das superfícies articulares, porém não permite da apófise maior. Esta posição de alinhamento
captar a sua forma tão específica de funcionar. em que as superfícies se adaptam umas às outras
De forma que para poder entender o seu fun- pela ação da gravidade e não pelos ligamentos,
cionamento é necessário aprofundar na descri- além de ser estável, pode ser mantida durante
ção das superfícies da articulação astrágalo- muito tempo graças à congruência. Todas as ou-
calcânea anterior representada aberta na figura tras posições são instáveis e provocam uma in-
(figs. 4-9 e 4-10), o astrágalo, situado como se congruência mais ou menos acentuada.
fosse as páginas de um livro que passam em No movimento de eversão, a extremidade
tomo a um eixo ântero-posterior, visto pela sua
anterior do calcâneo (fig. 4-11, vista superior
face inferior, enquanto a parte anterior do cal-
do lado direito. o astrágalo se supõe transparen-
câneo (fig. 4-10) se observa pela sua face supe-
te) se desloca para fora e tem a tendência a
rior (as explicações são comuns a todas as figu-
"deitar-se" (fig. 4-12, vista anterior) sobre a sua
ras desta página, porém não se correspondem
face interna. Neste movimento, as duas faces
com as da página anterior).
articulares (b e b') permanecem em contato, de
Sobre a face inferior do colo do astrágalo forma que constituem um pivô, enquanto a su-
(fig. 4-9), a face articular (b) corresponde à face perfície subastragaliana (a) se desliza para bai-
articular (b') localizada na face superior do cal- xo e para diante sobre o tálamo (a') fazendo im-
câneo (fig. 4-10), no nível da apófise menor do pacto com o soalho do seio do tarso; a parte
ca1câneo. Na cabeça do astrágalo (fig. 4-9) se en- póstero-superior do tálamo fica "descoberta".
contram de novo o campo escafóide (e) e o cam- Pela frente, a pequena face articular astragaliana
po glenóide (g). Contudo, a porção cartilaginosa (c) se desliza até entrar em contato (fig. 4-12)
localizada por fora do campo glenóide é subdivi- com a face articular oblíqua (c'z) do calcâneo.
dida em três faces articulares: de dentro para fo- Por este motivo. estas duas faces articulares (cz>
ra (cl' c2 e c3), que correspondem globalmente à e (c') podem denominar-se "faces articulares
face aI1icular situada na face superior da apófise de eversão".
maior do ca1câneo (fig. 4-10), por sua vez subdi-
vidida em duas faces articulares: de fora para Durante o movimento de inversão, o cal-
câneo se desloca ao inverso: a extremidade an-
dentro (C'I e c'J Por trás, se encontram as duas
superfícies da articulação astrágalo-ca1cânea pos- terior para dentro (fig. 4-13) e tem a tendência
terior: o tálamo (a') e a superfície inferior do cor- de "deitar-se" sobre a sua face externa (fig. 4-
po do astrágalo. 14). As duas faces articulares-pivô permane-
cem em contato entre si; a grande superfície
Existe apenas uma posição de congruên-
subastragaliana (a) se desloca sobre o tálamo
cia da subastragaliana: a posição média. O pé
(a') deixando descoberta a sua parte ântero-in-
é alinhado com o astrágalo, isto é, sem inversão
ferior; pela frente, a face articular de inversão
nem eversão, esta é a posição adotada por um pé
normal (nem chato, nem cavo) com o indivíduo (c) do astrágalo repousa sobre a face articular
horizontal (c') do processo lateral da apófise do
de pé sobre um plano horizontal, em posição de
ca1câneo (fig. 4-14).
descanso, com apoio simétrico. Assim, as super-
fícies articulares da subastragaliana posterior Portanto, estas duas posições são evidente-
são completamente correspondentes, a face arti- mente instáveis, incongruentes, de forma que
cular (b) do colo do astrágalo descansa sobre a solicitam ao máximo os ligamentos. Elas so-
face articular (b') da apófise menor do calcâneo mente podem ser transitórias.
2. MEMBRO INFERIOR 183
b'
a
a'
Fig.4-9 Fig.4-10
a
a'
Fig.4-11
a'
Fig.4-13
184 FISIOLOGIA ARTICULAR
Fig.4-15
1
2
3
9
4
10
7
6
8
5
7
6
9
3 3
Fig.4-17
186 FISIOLOGIA ARTICULAR
o calcâneo e o astrágalo estão unidos por galo se afasta do calcâneo se sup,usermos que os
potentes ligamentos curtos, visto que devem su- ligamentos sejam elásticos (fig. 4-19).
portar forças importantes durante a marcha, a Do mesmo modo, o astrágalo está unido ao
corrida e o salto.
calcâneo por outros dois ligamentos menos im-
O sistema principal está constituído pelo li- portantes (figs. 4-18 e 4-19):
gamento astrágalo-calcâneo interósseo, tam- - o ligamento astrágalo-calcâneo externo
bém denominado "fileira interóssea", formado (3), que se origina no processo lateral do
por duas lâminas tendinosas fortes e retangula- astrágalo e, após um trajeto oblíquo para
res, que ocupam o seio do tarso (fig. 4-18, vista baixo e para trás, paralelo ao fascículo
ântero-externa): médio do ligamento lateral externo da tí-
bio-tarsiana, se insere na face externa do
-. o fascículo anterior (1) se insere no sul-
calcâneo;
co calcâneo, que constitui o soalho do
seio do tarso, por trás da superfície ante- - o ligamento astrágalo-calcâneo poste-
rior. Suas fibras, espessas e nacaradas, se rior (4), banda fina que se expande do
dirigem obliquamente para cima, para tubérculo póstero-externo do astrágalo
diante e para fora, para inserir-se na fen- até a face superior do calcâneo.
da astragaliana, situada na face inferior O ligamento interósseo desempenha um pa-
do colo do astrágalo e formando o teto pel essencial na estática e na dinâmica da articu-
do seio do tarso (fig. 4-6, A), imediata- lação subastragaliana, visto que, como mostra o
mente por trás da superfície cartilagino- esquema (fig. 4-20) no qual se colocou uma tró-
sa da cabeça; clea do astrágalo, supostamente transparente, nas
- o fascículo posterior (2) se insere por superfícies calcâneas, ocupa uma posição central.
trás do anterior, no solo do seio, justo pe- Deste modo, se pode constatar que o peso do cor-
po, que se transmite à tróclea do astrágalo através
la frente do tálamo. Suas fibras, igual-
do esqueleto da perna, se reparte sobre o tálamo e
mente espessas, oblíquas para cima, para
sobre as superfícies anteriores do calcâneo. Tam-
trás e para fora, se inserem no teto do seio
bém se pode observar que o ligamento astrágalo-
(fig. 4-6, A), imediatamente pela frente calcâneo interósseo está situado exatamente no
da superfície posterior do astrágalo.
prolongamento do eixo da perna (círculo com a
A disposição dos fascículos do ligamento cruz), o que explica o trab"tlho que realiza tanto
interósseo aparece nitidamente quando o astrá- em torção quanto em alongamento (ver pág. 190).
2. MEMBRO INFERIOR 187
Fig.4-18
3 2
Fig.4-19
1
2
188 FISIOLOGIA ARTICULAR
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Fig.4-24
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Fig.4-25
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Fig.4-28
190 FISIOLOGIA ARTICULAR
OS JVIOVIMENTOS NA SUBASTRAGALIANA
Tomadas em separado, cada uma das super- - inclinação sobre a sua face externa (r):
fícies da subastragaliana pode ser comparada supinação.
com uma superfície geométrica: o tálamo é um (A mesma demonstração pode ser feita, em
segmento cilíndrico e a cabeça astragaliana um sentido inverso, no caso da eversão.)
segmento de esfera. Contudo, ela deve ser consi-
derada como uma artródia, porque é geometri- Farabeuf descreveu perfeitamente este mo-
camente impossível que duas superfícies esféri- vimento complexo, dizendo que "o calcâneo os-
cas e duas superfícies cilíndricas pertencentes a cila, vira e roda sabre o astrágalo". A compara-
um mesmo conjunto mecânico se deslizem si- ção com um navio está totalmente justificada
multaneamente uma sobre a outra, sem que apa- (fig. 4-33):
reça uma abertura, pelo menos, num dos pares, - oscila: sua proa se submerge nas ondas (a);
isto é. a perda de contato mais ou menos extensa - vira (b);
entre as superfícies que estão de frente. O funcio-
- roda ao inclinar-se sobre o seu lado (c).
namento desta articulação implica determinado
"jogo" devido à sua própria estrutura. Neste sen- Estes movimentos elementares em tomo
tido, ela se opõe totalmente a uma articulação dos eixos de oscilação, de virada e de balanço se
muito fechada como no caso do quadril, cujas su- associam de maneira automática quando o navio
perfícies são geométricas e concordantes, e o jo- desce obliquamente às ondas (e).
go fica reduzido ao mínimo. Contudo, se as su- Em geometria se pode demonstrar que um
perfícies da subastragaliana concordam perfeita- movimento em que se conhecem os componen-
mente na posição média, posição que necessita tes elementares com relação a três eixos pode
da maior superfície de contato para transmitir o reduzir-se a um simples movimento em torno
peso do corpo, nas posições extremas se tomam de um só eixo oblíquo com relação aos outros
muito discordantes, reduzindo assim a superfície três. No caso do ca1câneo, esquematizado no
de contato, embora as forças que se deveriam desenho em forma de paralelepípedo (fig. 4-
transmitir sejam muito menos contundentes. 31), este eixo mn é oblíquo de cima para baixo,
Partindo da posição média (fig. 4-29, vista de dentro para fora e de diante para trás. A ro-
anterior do calcâneo e do astrágalo, ambos tação ao redor deste eixo (fig. 4-32) provoca os
deslocamentos descritos anteriormente. Este
transparentes), o movimento do calcâneo sobre
o astrágalo, supostamente fixo, se realiza simul- eixo, descrito por Henke, penetra pela parte sú-
taneamente nos três planos do espaço. No pero-interna do colo do astrágalo, passa pelo
moyimento de inversão do pé (ver pág. 178), a seio do tarso e emerge pela tuberosidade pós te-
porção anterior do ca1câneo realiza três deslo- ro-externa do ca1câneo (ver pág. 196 e também
camentos elementares (fig. 4-30, posição ini- o modelo do pé no final do volume). Como ve-
cial em linha descontínua): remos mais adiante, o eixo de Henke não só re-
presenta o eixo da subastragaliana, mas tam-
- ele baixa ligeiramente (t): ligeira ex- bém o da mediotarsiana, de modo que condi-
tensão do pé; ciona todos os movimentos da porção posterior
- deslocamento para dentro (v): adução; do pé com relação ao tornozelo.
2. MEMBRO INFERIOR 191
Fig.4-29 Fig.4-30
m
m
n Fig.4-31 Fig.4-32
n
Fig.4-33
a
c
192 FISIOLOGIA ARTICULAR
Os deslocamentos relativos dos ossos do tar- - o ca1câneo (b) se desliza para dentro de-
so posterior são fáceis de analisar sobre uma pre- baixo do astrágalo e gira 20°.
paração anatõmica onde se fazem radiografias em Estas três rotações elementares se realizam
posição de inversão e de eversão. Deve-se tomar
no mesmo sentido, o da supinação, e o escafói-
a precaução de atravessar cada um dos ossos com
de gira mais que o calcâneo e, principalmente,
uma vareta metálica (a: para o astrágalo, b: para o
mais do que o cubóide.
ca1câneo, c: para o escafóide, d: para o clibóide);
os ângulos também podem ser observados. Finalmente, numa incidência lateral (vista
de perfil), entre a eversão (fig. 4-38) e a inversão
Numa radiografia de incidência vertical
(fig. 4-39), se podem constatar os seguintes des-
(vista superior), com o astrágalo fixo, a passa- locamentos:
gem da eversão (fig. 4-34) à inversão (fig. 4-35)
se produz pelos seguintes deslocamentos: - o escafóide (c) se desliza, literalmente,
- - o escafóide (c) se desliza para dentro so- debaixo da cabeça do astrágalo e gira
bre a cabeça do astrágalo e gira SO, sobre si mesmo 45°, de tal forma que
sua face anterior tem a tendência a
- o cubóide (d) segue o movimento, gira o orientar-se para baixo;
mesmo ângulo e se desliza para dentro
com relação ao ca1câneo e ao escafóide; - o cubóide (d) também se desliza para
baixo, com relação ao astrágalo e ao
- o ca1câneo (b) avança ligeiramente e gi- ca1câneo ao mesmo tempo. Esta desci-
ra também 5° sobre o astrágalo.
da com relação ao astrágalo é muito
Estas três rotações elementares se realizam mais importante que o do escafóide
no mesmo sentido, o da adução. com relação ao astrágalo. Simultanea-
Uma incidência frontal (vista ântero-pos- mente, o cubóide gira 12°;
terior), com o astrágalo sempre fixo, mostra os - por último, o ca1câneo (b) avança com
seguintes deslocamentos ao passar da eversão relação ao astrágalo, cuja margem pos-
(fig. 4-36) à inversão (fig. 4-37): terior cobre a superfície retrotalâmica.
- o escafóide (c) gira 25° e quase não ul- Ao mesmo tempo, gira 10° para a exten-
trapassa o astrágalo para dentro; são, como o escafóide.
- o cubóide (d) desaparece totalmente de- Estes três movimentos elementares se reali-
trás da sombra do calcâneo e gira 18°; zam no mesmo sentido, o da extensão.
2. MEMBRO INFERIOR 193
b'
15° b
<:::/
/
/
I
I
I
Fig.4-35
Fig.4-34
Fig.4-36 Fig.4-37
Fig.4-38
194 FISIOLOGIA ARTICULAR
OS MOVIMENTOS NA MEDIOTARSIANA
Fig.4-45
~f
Fig.4-46
Fig.4-41
Fig.4-44 Fig.4-47
196 FISIOLOGIA ARTICULAR
astr
9
astr~
d 9
1 d
2
a'
cale
9 d
Ic
Ilc
IlIc
Fig.4-50 Fig.4-51
198 FISIOLOGIA ARTICULAR
Fig.4-53
Fig.4-54
Fig.4-56
200 FISIOLOGIA ARTICULAR
Os movimentos de inversão e de eversão do pé es- Como relevo ligamentar, o astrágalo constitui, du-
tão limitados por dois tipos de resistências: rante a inversão, dois pontos de chegada e três pontos de
- os ressaltos ósseos, partida ligamentares.
2
3
Fig.4-57
202 FISIOLOGIA ARTICULAR
Todas estas articulações são artródias que guir as diferentes faces articulares do tarso e as
realizam movimentos de deslizamento e de faces articulares que correspondem à base dos
abertura de escassa amplitude. metatarsianos. A base do segundo metatarsiano
Em vista anterior do par do escafóide e do (lvf) se encaixa na mortalha dos três cuneiformes
cubóide (fig. 4-59) se podem distinguir três faces composta por: face articular externa (lImC) do
articulares (lc, IIc, lHc) que articulam o escafói- primeiro cuneiforme (C), face articular anterior
de com o primeiro, o segundo e o terceiro cunei- (lImC) do segundo cuneiforme (C) e face arti-
formes, e outras três faces articulares que articu- cular interna (lImC3) do terceiro cuneiforme
lam o cubóide com o quinto metatarsiano (5ºm), (C). Além disso, éla está mantida por potentes li-
quarto metatarsiano (4ºm) e terceiro cuneiforme gamentos, fáceis de di~tinguir (fig. 4-61), quando
(lI!' c); além disso, o cubóide fixa a extremidade se abre a articulação para cima, se faz girar sobre
esquerda do escafóide (articulação escafocubói- o seu eixo o primeiro metatarsiano (seta 1) e se
de, setas brancas). desloca para fora o terceiro metatarsiano (seta 2).
Então podemos observar:
Uma vista em perspectiva ântero-extema
(fig. 4-60) permite observar como o bloco dos - por dentro, o potente ligamento de Lis-
três cuneiformes (Cj, Cl e C3) se articula com o franc (18), que se estende da face exter-
escafóide e o cubóide: a seta dupla indica como na do primeiro cuneiforme à face inter-
o terceiro cuneiforme repousa sobre o cubóide, na da base do segundo metatarsiano. É a
numa face articular (U!'c) localizada na frente chave da desarticulação;
da face articular da articulação com o escafóide - por fora, um sistema ligamentar que
(articulação cubóide-cuneal). inclui fibras diretas (21) entre Cl e Ml e
As articulações intercuneiformes com- (22) entre C3 e M3 e fibras cruzadas (23)
preendem (fig. 4-61, vista superior das articula- entre C3 e Ml e (24) entre Cl e M3.
ções cúneo-escafóides, intercuneiformes e a de Por outra parte, a solidez da articulação
Lisfranc parcialmente) cada uma faces articula- tarsometatarsiana é assegurada por numerosos
res e ligamentos interósseos: entre o primeiro e o ligamentos (fig. 4-63, vista dorsal e figo 4-64,
segundo cuneiforme o ligamento interósseo foi vista plantar) que se expandem da base de cada
seccionado (19); entre o segundo e o terceiro cu- metatarsiano até o osso correspondente do tarso
neiforme, este ligamento (20) se deixou intacto. e para a base dos metatarsianos vizinhos. Espe-
A articulação tarsometatarsiana, ou in- cialmente, na face dorsal (fig. 4-63) existem li-
terlinha de Lisfranc, permite observar (fig. 4-63, gamentos que se expandem da base do segundo
vista superior), por um lado, os três cuneiformes metatarsiano para todos os ossos vizinhos, e pa-
(CI' Cl e C) para dentro e o cubóide (cub) para ra a face plantar (fig. 4-64) dos ligamentos es-
fora; por outro lado, a base dos cinco metatar- tendidos do primeiro cuneiforme aos três pri-
sianos (Mj, Ml, M3, M~ e MJ Ela é constituída meiros metatarsianos. No lado plantar da base
por uma sucessão de artródias intimamente im- do primeiro metatarsiano se fixa o tendão do fi-
bricadas. Em vista dorsal da articulação aberta bular lateral longo (FLL) após percorrer o seu
(fig. 4-62 segundo Rouviere) se podem distin- sulco plantar (linha descontínua 25).
2. MEMBRO INFERIOR 203
1II'c
cub ~-~ .;~\\'\\~;~11I 'v ~, ':!l~ 111m
4ºm
esc
5ºm
Illc
IIc
~~~/IJW!fI~~2
IIm(~12~fI!&?ftfI-C1
22
23.1
.~ ... 19
24·'
IIlm(C3) __ .. . __ .u ou
TA
~. M2
M3-1!!1!l111111~1~1l"\ \I\ill, ·~~/1.1Ul/J PLC~'m(C1).• - '. 11..
Ms
M1
M4 ,1m:JUM_f'llIBM1\'í ;"t~\\ M1
M3
Fig.4-62
esc cub
esc
C3
C3 C2
C2 C1
C1
1I111111~'1":tifiilh~~JI'1J~
Ms
3 .' ~ 4
~4 ~_. .1.lliI \ M1 FLL M3
~s
M2 .\~t'-iIl_.I*II~"\ , •. M1 M2
Fig.4-64
204 FISIOLOGIA ARTICULAR
Fig.4-66 astr
esc
C1.2.3.
E + Adu
Fig.4-67
Fig.4-68
Fig.4-70
206 FISIOLOGIA ARTICULAR
Fig.4-71
Fig.4-74 Fig.4-75
208 FISIOLOGIA ARTICULAR
Adu.g
Ecu
Fig.4-78 Fig.4-77
210 FISIOLOGIA ARTICULAR
MÚSCULOS DA PLANTA DO PÉ
(as explicações são comuns à página anterior)
Os músculos da planta do pé se dispõem, da pro- interno (exceto o abdutor). Inserem-se nos tu-
fundidade até a superfície, em três planos. bérculos laterais da base da primeira falange e
nos dois ossos sesamóides anexos à metatarso-
A. O plano profundo é composto pelos interós-
seos e os músculos anexos do 5º dedo e do hálux: falangeana do hálux. Este é o motivo pelo qual
também se denominam músculos sesamóides:
- os interósseos dorsais (fig. 4-83, vista infe-
rior) possuem, além de sua participação na fte- - no lado interno, sesamóide e falange re-
xão-extensão, uma ação de abdução dos dedos cebem a porção interna do flexor curto
com relação ao eixo do pé (segundo osso do (FC.h) e o adutor (Adu:h) que se origina
metatarso e segundo dedo). A separação do na tuberosidade póstero-interna do calcâ-
hálux é realizada pelo adutor do hálux (Adu.h) neo (fig. 4-86) e constitui um dos supor-
e a abdução do quinto dedo a realiza o abdutor tes do arco interno (ver pág. 230);
do quinto dedo (Abd.5). Estes dois músculos - no lado externo, sesamóide e falange re-
são os equivalentes dos interósseos dorsais; cebem as duas porções do abdutor (Abd.l
- os interósseos plantares (fig. 4-84, vista infe- e Abd.2) e a porção externa do fiexor cur-
rior) aproximam os três últimos dedos ao segun- to do hálux (FC.h) que tem origem nos os-
do. O hálux se aproxima do eixo do pé graças ao sos do tarso anterior.
seu abdutor, constituído por duas porções:
Os músculos sesamóides são potentes fle-
- o abdutor oblíquo (Abd.l) que se origina xores do hálux: desempenham um papel impor-
nos ossos do tarso anterior; tante na estabilização do hálux (insuficiência =
- o abdutor transverso (Abd.2) que se adere ao garra do hálux sob ação do extensor curto) e na
ligamento glenóide da terceira, da quarta e primeira fase do passo (ver pág. 240).
da quinta articulações metatarsofalangeanas B. O plano médio é formado pelos músculos fte-
e ao ligamento intermetatarsiano profundo. xores longos (fig. 4-87). O flexor comum (Fd) cruza
Desloca diretamente para fora a primeira fa-
debaixo do ftexor próprio do hálux (Fph) na saída do
lange do hálux e desempenha uma função de canal calcâneo. Posteriormente, eles intercambiam
suporte do arco anterior (ver pág. 234).
uma anastomose tendinosa (9) e, depois disso, o flexor
- os músculos anexos do 59 dedo (fig. 4-85, comum divide-se em quatro tendões destinados aos
vista inferior) são três e se localizam no com- quatro últimos dedos. Os lumbricais nascem (fig. 4-88)
partimento plantar externo: de dois tendões adjacentes salvo o primeiro (LJ Cada
- o oponente do 59 dedo (Op.5) é o mais tendão é perfurante para acabar na terceira falange. A
prafundo; se estende do tarso anterior até tração oblíqua destes tendões é compensada por um
o quinto osso do metatarso, tem uma fun- músculo aplainado, expandido pelo eixo da planta,
ção análoga, embora em menor grau, à do (fig. 4-87) entre as tuberosidades posteriores do ca1câneo
oponente do 5º dedo: afunda a abóbada e e a margem externa do tendão do 5º osso do metatarso:
o arco anterior; se trata do quadrado camoso de Sylvius (S) ou acessório
os outras dois músculos se inserem am- do ftexor comum. Sua contração simultânea corrige os
bos no tubérculo externo da base da pri- desvios axiais dos tendões.
meira falange. São: O flexor próprio do hálux (Fph, figs. 4-85 e 4-87)
- o flexor curto do 59 dedo (FC.5) que se se desliza entre os dois sesamóides para inserir-se na se-
origina no tarso anterior; gunda falange do hálux a qual ftexiona com força.
- o abdutor do 59 dedo (Abd.5), citado an- C. O plano superficial é representado (fig. 4-86)
teriormente, cujas inserções posteriores se por um músculo, incluído como flexor comum no
localizam (fig. 4-86) na tuberosidade pós- compartimento plantar médio, o flexor plantar curto
tera-externa do calcâneo e na estilóide do (FPC), fixado atrás sobre as tuberosidades posteriores
59 osso do metatarso. É um dos suportes do calcâneo e destinado aos quatro últimos dedos. É o
do arco externo (ver pág. 232). equivalente do FCS dos dedos da mão: seus tendões
- os músculos anexos do hálux (fig. 4-85) são são perfurados (fig. 4-88) e se fixam sobre a segunda
três e se localizam no compartimento plantar falange, a qual ftexionam.
2. MEMBRO INFERIOR 211
Fph
9 FPC
Abd.5
Fig.4-87
Fig.4-85 Fig.4-86
Fd
Isd
I
Fig.4-83 Fig.4-84
212 FISIOLOGIA ARTICULAR
o ligamento anular anterior do tarso mado, acima, pelo esqueleto e, abaixo, pelas fibras do
(fig. 4-89) adere os quatro tendões anteriores no es- fascículo superficial do ligamento calcâneo-cubóide
queleto, na concavidade da face anterior do dorso do plantar (fascículo profundo, 8) estendidas do calcâneo
pé, servindo-Ihes de polia de reflexão, seja qual for (9) até o cubóide e a base de todos os ossos do meta-
o grau de flexão do tornozelo. Da sua origem no tarso (x) e pelas expansões terminais (10) do tendão do
soalho do seio do tarso, na face superior do proces- tibial posterior (TP). O tendão do FLL se fixa na base
so lateral da apófise do calcâneo, este ligamento se do 1Q osso do metatarso (11) e envia expansões ao 2Q
divide imediatamente em duas lâminas divergentes: osso do metatarso e ao 1Q cuneiform~. De maneira qua-
se constante, na entrada no canal, se localiza um sesa-
- uma lâmina inferior (a), que se perde na
móide (12) que facilita sua reflexão.
margem interna do pé;
Portanto, a face plantar do tarso é coberta por
- uma lâmina superior (b), que termina na três sistemas fibrosos:
crista tibial perto do maléolo interno:
- as fibras longitudinais do grande ligamento
- por dentro é atravessada pelo tendão do calcâneo-cubóide plantar;
tibial anterior (TA), cuja bainha serosa as-
cende duas travessas de dedo acima de - as fibras oblíquas para diante e para dentro
sua margem supenor, do tendão do fibular lateral longo;
- por fora é reforçada em profundidade pe- - as fibras oblíquas para diante e para fora das
lo ligamento fundiforme, cujas fibras se expansões do tendão do tibial posterior, des-
tinadas a todos os ossos do tarso e do meta-
originam e se terminam no seio do tarso,
de modo que formam duas espirais:
tarso salvo os dois ossos do metatarso loca-
lizados nos extremos.
- o ramo interno, que contém o tendão
do extensor próprio do hálux (Eph), Por trás do maléolo interno (fig. 4-92) se des-
envolvido por uma bainha serosa que lizam, por canais e bainhas diferentes, emariações do
ultrapassa por pouco o ligamento anu- ligamento anular interno, três tendões dispostos de
lar por cima; diante para trás e de dentro para fora:
- o ramo externo destinado aos tendões - o tibial posterior (TP), em contato com o
do extenso r comum dos dedos (Ecd) e maléolo interno: após refletir-se no seu canal
do fibular anterior (FA) envolvidos nu- (13) sobre o vértice do maléolo, se fixa no
ma bainha serosa comum localizada tubérculo do escafóide (14) e envia numero-
um pouco mais acima do que a anterior. sas expansões plantares (10);
O resto dos tendões passam pelos canais retro- - o flexor comum dos dedos (Fd) se desliza
maleolares. com o anterior e junto à margem interna do
sustentáculo (15, ver também figo 4-94) antes
Por trás do maléolo externo (fig. 4-90) se desli-
de atravessar o tendão do flexor próprio por
zam por um canal osteofibroso (1) que sai do ligamen-
baixo (16);
to anular externo, os dois tendões paralelos do fibular
lateral curto (FLC) para cima e para a frente, e do fi- - o flexor próprio do hálux (Fph) passa, em
bular lateral longo (FLL) para trás e abaixo. Após re- primeiro lugar, entre os dois tubérculos poste-
fletir-se no vértice do maléolo ficam fixados à face ex- riores (17) do astrágalo (ver também pág.
terna do calcâneo em dois canais osteofibrosos (3 e 4), 166), e em segundo lugar, debaixo do rebordo
apoiados no tubérculo dos fibulares (5). Sua bainha se- do sustentáculo (18, ver também figo 4-94), de
rosa comum se desdobra neste ponto. Então, o FLC se modo que muda de direção duas vezes.
fixa na estilóide do 5Q osso do metatarso (6) e na base Dois cortes frontais (fragmentos anteriores, lado
do 4Q• Um pequeno fragmento (7) foi ressecado para direito), cujo nível fica especificado pelas setas A e B
comprovar quando o tendão do FLL muda de direção nas figs. 4-90 e 4-92, ilustram perfeitamente as dispo-
para introduzir-se no canal do cubóide. A seguir, apa- sições dos tendões e suas bainhas nos canais retro-
rece de novo na planta do pé (fig. 4-90), envolvido por maleolares: o corte A (fig. 4-93) compreende os ma-
uma nova bainha serosa, dirigindo-se obliquamente léolos; o corte B (fig. 4-94), mais anterior, se localiza
para diante e para dentro num canal osteofibroso for- no nível do sustentáculo e do tubérculo dos fibulares.
2. MEMBRO INFERIOR 213
2Tdd 9
FLC
b
5
FLL
8
12
a
6
Fig.4-89
Fig.4-93
FLL
FLC
3
5
4
FLC
TP FLL
Fd 1
Abd.5
Fph
Adu.h
S
FPC
16
Fig.4-94 Fig.4-92
214 FISIOLOGIA ARTICULAR
OS FLEXORES DO TORNOZELO
FLEX.
ADU.
SUPIN.
Eph
TA
F1f:
Fph
T
Fig.4-95
Ecd
Fig.4-101
Fig.4-98
j
\
Fig.4-97
Fig.4-102
216 FISIOLOGIA ARTICULAR
o TRÍCEPS SURAL
Os músculos extensores do tornozelo pas- ceps e do gêmeo externo (9), inconstante; bol-
sam todos atrás do eixo XX' de flexão-extensão sas onde se localizam os quistos poplíteos. Gê-
(fig. 4-96). Em teoria, existem seis músculos meos e solear finalizam num sistema aponeu-
extensores da tíbio-tarsiana (sem contar o plan- rótico complexo, descrito na página seguinte,
tar delgado, visto que se pode omitir totalmen- que dá origem ao tendão ca1câneo propriamen-
te). Na prática, somente o tríceps é eficaz: tam- te dito.
bém é um dos músculos mais potentes do cor-
O comprimento das diferentes porções
po, depois do glúteo máximo e do quadríceps.
do tríceps (fig. 4-104) é ligeiramente desigual:
Por outra parte, sua posição ligeiramente axial
faz dele um extensor. o comprimento do 'solear (Ls) é de 44 mm, o dos
gêmeos (Lg) é de 39 ~. Isso explica o fato de
Como o seu nome indica, o tríceps sural é que a eficácia dos gêmeos, músculos biarticula-
formado por três corpos musculares (fig. res, esteja sobreposta ao grau de fiexão do joe-
4-103) que possuem um tendão terminal co- lho (fig. 4-105): entre a fiexão e a extensão má-
mum, o tendão de Aquiles (1), que se insere na ximas, o deslocamento da inserção superior dos
face posterior do calcâneo (ver página seguin- gêmeos comporta um alongamento ou um en-
te). Das três porções, somente uma é monoar- curtamento relativo (e) igualou superior ao seu
ticular, o solear (2): que se insere simultanea- comprimento (Lg). Em conseqüência, quando o
mente na tíbia e na fíbula e no arco fibroso do
joelho é estendido (fig. 4-106), os gêmeos, es-
solear (3) que unifica estas duas inserções. tendidos passivamente, podem desenvolver sua
Músculo profundo, representado aqui através máxima potência; esta disposição permite trans-
dos gêmeos, só aparece na parte inferior da ferir ao tornozelo parte da potência do quadrí-
perna, de um lado e outro do tendão calcâneo. ceps. Contudo, quando o joelho é fiexionado
As outras duas porções são biarticulares; se (fig. 4-108), os gêmeos totalmente distendidos
trata dos gêmeos. O gêmeo externo (3) se in- (e maior que Lg) perdem toda a sua eficácia, só
sere acima do côndilo externo do fêmur e so-
intervém o solear, porém sua potência seria in-
bre a capa condilar externa, que às vezes con- suficiente para assumir a marcha, a corrida ou o
tém um sesamóide. O gêmeo interno (5) se in- salto se estas atividades não implicassem neces-
sere no nível do côndilo e da capa condilar in-
sariamente a extensão do joelho. Portanto, os
ternos. Ambas as porções carnosas convergem
gêmeos não são fiexores do joelho.
na linha média, constituindo o V inferior do
losango poplíteo (10). Estão mantidos lateral- Todos os movimentos que intervêm na ex-
mente pelos tendões dos músculos ísquio-ti- tensão do joelho e na do tornozelo ao mesmo
biais, cuja divergência forma o V superior in- tempo, como trepar (fig. 4-107) ou correr (figs.
vertido do losango poplíteo: o bíceps (6) por 4-109 - 4.110), favorecem a ação dos gêmeos.
fora e os músculos da "pata de ganso" (7) por O tríceps sural desenvolve sua máxima po-
dentro; o deslizamento entre os gêmeos e os tência quando, a partir de uma posição de fle-
tendões dos ísquio-tibiais está facilitado por xão do tornozelo e extensão do joelho (fig. 4-
uma bolsa serosa interposta no seu ponto de 109), se contrai para estender o tornozelo (fig.
intersecção: a bolsa serosa do semitendinoso e 4-110) e proporcionar o impulso motor na úl-
do gêmeo interno (8), constante, a bolsa do bí- tima fase do passo.
2. MEMBRO INFERIOR 217
6
9
4
Fig.4-103
Fig.4-106
Fig.4-110
218 FISIOLOGIA ARTICULAR
o TRÍCEPS SURAL
(continuação)
o aparelho aponeurótico do tríceps sural é mui- - uma camada anterior cujas fibras internas
to complexo (fig. 4-111, vista anterior: a tíbia foi re- (Sal) se inserem na face interna da lâmina
movida): inclui as aponeuroses de origem e as de ter- sagital e cujas fibras externas (SaE) se inse-
minação que compõem, a seguir, o tendão de Aquiles: rem na face externa da lâmina sagital.
- as aponeuroses de origem são três: Este esquema também lembra a estrutura em es-
- as duas bandas aponeuróticas dos gêmeos, piral do tendão de Aquiles que lhe proporciona elas-
ticidade.
o interno (1) e o externo (2), que se locali-
zam na parte lateral da zona de inserção A força do tendão de Aquiles se exerce sobre a
dos gêmeos, acima dos côndi10s femorais; extremidade posterior do calcâneo (fig. 4-113), numa
- a espessa lâmina aponeurótica do solear direção que forma Ílm ângulo muito acentuado com
(3) que se origina na tíbia e na fíbula, es- seu braço de alavanca AO. A decomposição desta for-
tando separados estes dois pontos de ori- ça T demonstra que o componente eficaz t[ - perpen-
gem pelo arco do solear; a parte inferior dicular ao braço de alavanca - é mais importante que
desta lâmina é profundamente decotada o componente centrípeto t2• Deste modo, o mÚsculo
"em estandarte", com uma lingüeta inter- trabalha em excelentes condições mecânicas.
na (4) e uma externa (5). O componente eficaz ti predomina sobre t2, inde-
- as aponeuroses de terminação são duas: pendentemente do grau de flexão-extensão do tornoze-
lo. Isto se deve ao modo de inserção do tendão calcâ-
- uma espessa lâmina comum terminal (6),
neo (fig. 4-114) que se realiza na parte inferior da fa-
paralela à lâmina do solear, que continua
ce posterior do calcâneo (ponto K), enquanto uma bol-
com o tendão calcâneo ou de Aquiles (A)
sa serosa o separa da parte superior. A força muscular
inserindo-se no calcâneo (C);
não se exerce no ponto de inserção (K), mas no ponto
- uma lâmina sagital (7), perpendicular à tangente (A) do tendão com a face posterior docalcâ-
lâmina comum terminal em cuja face an- neo. Na flexão (fig. 4-114, a), este ponto A se localiza
terior se adere; a particularidade desta relativamente alto na face posterior do calcâneo. Na
lâmina sagital é que se afina e ascende extensão (fig. 4-114, b), o tendão se "desenrola" e se
para a face anterior da lâmina do solear, descola da face posterior do calcâneo, e o ponto de tan-
após passar pela sua incisura. gênciaA' "desce" com relação ao osso, embora a dire-
De trás para diante se encontram assim, sucessi- ção do braço de alavanca A 'O permaneça ligeiramen-
vamente, três planos aponeuróticos: o das bandas dos te horizontal,jormando um ângulo constante com a di-
gêmeos, a seguir, o da lâmina comum terminal e, por reção do tendão. Este modo de inserção do tendão cal-
último, o da lâmina do solear; quanto à lâmina sagi- câneo permite assim que este se "desenrole" sobre o
tal, ela cavalga sobre o plano desta última. segmento de polia composto pela face posterior do cal-
câneo de forma que aumenta a eficácia do tríceps du-
As fibras musculares do tríceps se organi-
rante a extensão. Ela é idêntica à inserção do tríceps
zam com relação ao citado sistema aponeurótico
braquial no olécrano (ver volume I).
(fig.4-112):
- as fibras dos gêmeos (Gin e Gex) partem di- Quando a contração do tríceps alcança seu máxi-
mo (fig. 4-115), se pode comprovar como se associa à
retamente da superfície supracondilar em for-
ma de acento circunflexo e da face anterior de extensão um movimento de adução-supinação que di-
cada uma das bandas; se dirige para baixo e rige a planta do pé para trás e para dentro (seta). Este
adiante e para o eixo da perna para inserir-se componente terminal de adução-supinação se deve a
na face posterior da lâmina terminal. que o tríceps age sobre a tíbio-tarsiana através da sub-
astragaliana (fig. 4-116). Assim, mobiliza sucessiva-
As fibras musculares do solear se dispõem em mente estas duas articulações (fig. 4-117): primeiro a
duas camadas:
tzôio-tarsiana, estendendo a mesma 30° em tomo do
- uma camada posterior (Sp), cujas fibras se eixo transversal XX', e a seguir a subastragaliana, pro-
expandem pela face anterior da lâmina ter- vocando uma basculação do calcâneo em tomo do ei-
minal e também um pouco sobre as faces la- xo de Henke (mn), o que determina uma adução de 13°
terais da lâmina sagital; e uma supinação de 12° (Biesalski e Mayer, 1916).
2. MEMBRO INFERIOR 219
Gex
SaE
Fig.4-114
Fig.4-116
220 FISIOLOGIA ARTICULAR
Todos os músculos que passam detrás do tríceps é de 6,5. kg enquanto a potência glo-
do eixo transversal XX' de flexão-extensão bal de outros extensores (f) é de 0,5 kg, ou seja
(fig. 4-118) são extensores do tornozelo. Além a 1/14 da potência total de extensão. Se a po-
do tríceps sural (T), outros cinco músculos tência de um músculo é proporcional à superfí-
têm uma ação extensora na tíbio-tarsiana, - o cie da sua secção fisiológica e ao seu compri-
plantar (não descrito aqui) é muito fraco para mento, ele pode ser esquematizado num volume
tomá-lo em conta; só interessa como "banco cuja base é a superfície de secção e a altura é o
de tendão"; infelizmente ele é inconstante. comprimento. O solear (Sol), cuja secção é de
Por fora (fig. 4-119), o fibular lateral curto 20 cm2 e comprimento é de 44 mm, tem uma
(FLC) e o longo (FLL), localizados por fora do potência um pouco inferior (8,80) à (8,97) dos
eixo de Henke UU' (fig. 4-95), são abdutores e gêmeos (Ge), cuja secção global é de 23 cm2 e o
pronadores (ver página seguinte). comprimento é de 39 mm. Por outra parte, a po-
tência dos fibulares (cubo cinza) representa a
Por dentro (fig. 4-120), o tibial posterior metade da potência global dos extensores aces-
(TP), o fiexor comum dos dedos (Fd) e o fiexor sórios. O fibular lateral longo é duas vezes mais
próprio do hálux (Fph), localizados por dentro potente do que o fibular lateral curto.
do eixo UU' (fig. 4-95), são adutores e supina-
dores (ver pág. 224). Portanto, quando o tendão calcâneo se
rompe, os músculos extensores acessórios po-
Portanto, a extensão pura deriva da ação dem estender ativamente o tornozelo, com o
sinérgica-antagonista dos músculos do grupo pé livre sem apoio. Porém só o tríceps permite
externo e do grupo interno. a elevação sobre a ponta do pé. A perda da ele-
Contudo, a ação extensora destes múscu- vação ativa sobre a ponta do pé - posição tam-
los, que se poderiam denominar "extensores bém denominada "espírito da Bastilha"- é, as-
acessórios", é muito modesta comparada com a sim, o teste que permite diagnosticar a ruptura
do tríceps sural (fig. 4-121). De fato, a potência do tendão calcâneo.
2. MEMBRO li"lFERIOR 221
Fig.4-121
222 FISIOLOGIA ARTICULAR
Os músculos fibulares, que passam detrás 2. Ele é extensor de forma direta e indireta:
do eixo transversal XX' e para fora do eixo de - diretamente (figs. 4-124 e 125), desce
Henke UU', são simultaneamente (fig. 4-122): a cabeça do primeiro metatarsiano;
- extensores (seta 1);
- indiretamente: deslocando o primeiro
- abdutores (seta 2), desviando para fora metatarsiano para fora (fig. 4-125, se-
o eixo 22'; ta 5), aproxima os ossos do metatarso
- pronadores (seta 3), orientando para fo- internos dos externos. Contudo (fig.
ra o plano geral da planta do pé. 4-126), o tríceps só estende direta-
O fibular lateral curto (FLC), que se inse- mente os metatarsianos externos (es-
re (fig. 4-123) no processo estilóide do quinto quematizados em forma de viga).
osso do metatarso é, principalmente, abdutor do "Engatando" os metatarsianos inter-
pé: para Duchenne de Boulogne inclusive, ele é nos sobre os externos (seta 5), o fibu-
o único abdutor direto (ver também figo 4-90). lar lateral longo permite que a força
Ele é, em todo caso, mais abdutor que o fibular do tríceps se reparta por todos os
lateral longo. Ele participa (fig. 4-124) na prona- raios da planta. A confirmação está
ção (seta 3) da parte anterior do pé, elevando clara nas paralisias do fibular lateral
(seta a) os raios metatarsianos externos. Nesta longo, nas que o tríceps só estende o
ação, ele está reforçado pelo fibular anterior arco externo: o pé gira em supinação.
(FA) e o extensor comum dos dedos (sem repre- A extensão pura do pé é, assim, o
sentação aqui), que também são abdutores-pro- resultado da contração sinérgica-an-
nadores e, ao mesmo tempo, flexores do torno- tagonista do tríceps e do fibular late-
zelo. Portanto, a ação abdução-pronação pura é rallongo: sinérgica na extensão e an-
o resultado da ação sinérgica-antagonista dos fi- tagonista na pronação-supinação.
bulares laterais por um lado e do fibular anterior 3. Ele é pronador (fig. 4-124), de modo que
e do extensor comum dos dedos pelo outro. desce (seta b) a cabeça do primeiro me-
O fibular lateral longo (FLL) (figs. 4-123 e tatarsiano quando a parte anterior do pé
4-125) desempenha um papel primordial tanto não está apoiada no chão. A pronação
nos movimentos do pé como na estática e dinâ- (seta 3) é o resultado da elevação do ar-
mica da abóbada plantar: co externo (a) associado ao descenso do
1. Ele é abdutor, como o fibular lateral interno (b).
curto, e sua contração desloca a parte Veremos (pág. 234) também como o fibu-
anterior do pé para fora (fig. 4-127), em lar lateral longo acentua a curvatura dos três ar-
baioneta, enquanto o maléolo interno cos da abóbada plantar e constitui seu principal
está proeminente; suporte muscular.
Fig.4-127
Fig.4-126
224 FISIOLOGIA ARTICULAR
Fig.4-134
Fig.4-128
Fig.4-129
Fig.4-133
Fig.4-130
Fig.4-131
226 FISIOLOGIA ARTICULAR
A abóbada plantar é um conjunto arqui- cas e nas circunstâncias mais diversas. Ele de-
tetônico que associa com harmonia todos os sempenha o papel de amortecedor indispen-
elementos ósteo-articulares, ligamentares e sável para a flexibilidade da marcha. As altera-
musculares do pé. Graças às suas modificações ções que podem acentuar ou diminuir suas cur-
de curvatura e à sua elasticidade, a abóbada é vaturas repercutem gravemente no apoio no
capaz de adaptar-se a qualquer irregularidade chão, de modo que obrigatoriamente alteram a
do terreno e transmitir ao chão as forças e o corrida e a marcha, ou mesmo o simples fato
peso do corpo nas melhores condições mecâni- de estar de pé.
2. MEMBRO INFERIOR 227
228 FISIOLOGIA ARTICULAR
Considerada no seu conjunto, a estrutura abóbada e arcos estão tão expandidos e tão acei-
da planta do pé pode definir-se corno urna tos na linguagem, que é preferível seguir utili-
abóbada sustentada por três arcos. Os arqui- zando-Ihes de forma paralela aos termos de ar-
tetos e engenheiros realizaram urna abóbada madura de carpintaria e tirantes de coberta. Co-
semelhante (fig. 5-1, pavilhão do CNIT na La rno é freqüente em biomecânica, duas noções
Défense): se fixa no chão por três pontos, A, B que parecem contraditórias não se excluem e
e C, que estão dispostos sobre um plano hori- participam num conceito sintético. Portanto, se
zontal (fig. 5-2), nos vértices de um triângulo continuará empregando os termos de abóbada
eqüilátero. Um arco que delimita os lados late- plantar e arcos.
rais da abóbada foi colocado entre dois apoios
A abóbada plantar (fig. 5-5, vista interna,
consecutivos AB, BC ou CA. O peso da abóba-
transparente) não forma um triângulo equilátero,
da recai (fig. 5-3) sobre a chave da abóbada
mas ao ter três arcos e três pontos de apoio, sua
(seta) e se reparte através dos dois arcobotantes
estrutura é comparável: seus pontos de apoio
para os pontos de apoio A e B, também deno-
minados "estribos do arco". (fig. 5-6, o pé visto desde cima, supostamente
transparente) estão incluídos na zona de contato
Alguns autores posteriores a Lapidus, co- com o chão, ou impressão plantar (tracejada).
rno De Doncker e Kowalski, criticam o concei- Correspondem à cabeça do primeiro osso do
to de abóbada, que consideram muito estático, e metatarso (A), à cabeça do quinto osso do me-
opinam, com certas justificativas, que os arcos tatarso (B) e às tuberosidades posteriores do
externos e anteriores somente são construções calcâneo (C). Cada ponto de apoio é comum aos
da imaginação. Eles preferem comparar o pé dois arcos contíguos.
com urna "armadura de carpintaria" (fig. 5-4),
O arco anterior, o mais curto e baixo, se
parte da armação com duas vigas (SA) e (SB),
localiza entre os dois pontos de apoio anteriores
articuladas conjuntamente no remate (S), e su-
A e B. O arco externo, de longitude e altura in-
tentadas na base por um tirante de coberta (AB)
termédias, se localiza entre os dois pontos de
que impede que o triângulo caia debaixo da car-
apoio externos B e C. Por último, o arco inter-
ga sobre o remate. Portanto, o pé somente teria
urna abóbada axial com um tirante de coberta no, o mais longo e alto, se localiza entre os dois
pontos de apoio internos C e A. Ele é o mais re-
principal composto essencialmente por potentes
levante dos três, tanto no plano estático quanto
ligamentos plantares e músculos plantares e
no dinâmico.
dois tirantes laterais secundários, no nível do
que se denominava, até então, de arcos interno e De modo que a forma da abóbada plantar
externo. Certamente, este conceito corresponde (parte inferior da figo 5-5) é semelhante a uma
melhor à realidade anatômica, e particularmen- vela triangular inflada pelo vento. O seu vérti-
te, no que diz respeito aos elementos ligamenta- ce é deslocado para trás e o peso do corpo se
res e musculares que formam cordas de arcos e exerce na sua vertente posterior (seta) num
que, de fato, também podem ser comparados ponto (cruz preta da figo 5-6) situado no centro
com tirantes de coberta. Contudo, os termos da garganta do pé.
2. MEMBRO INFERIOR 229
A B
Fig.'5-2
c
,~
A- -B
Fig.5-3 Fig.5-4
B c
A B Fig.5-5
c
230 FISIOLOGIA ARTICULAR
o ARCO INTERNU
Entre os seus dois pontos de apoio anterior do arco, porém o papel que desempenha é pri-
(A) e posterior (C), o arco interno (fig. 5-7), in- mordial. De fato (fig. 5-9), dirige o escafóide
clui cinco peças ósseas; de diante para trás: para baixo e atrás, sob a cabeça do astrágalo
- o primeiro osso do metatarso (M), cujo (círculo tracejado); a um encurtamento relati-
único contato com o chão é sua cabeça; vamente pouco importante (e) corresponde
uma mudança de orientação do escafóide que
- o primeiro cuneiforme (C), sem contato
determina um descenso do arc9botante ante-
algum com o chão;
rior. Além disso, as expansões plantares do seu
- o escafóide (esc), chave da abóbada (tra- tendão (fig. 5-7, 3) se entrelaçam com os liga-
cejado) deste arco, localizado a 15-18 mentos plantares' de modo que incidem sobre
mm por cima do chão; os três metatarsianos médios.
- o astrágalo (astr), que recebe as forças O fibular laterâllongo (FLL) também in-
transmitidas pela perna e as reparte flui sobre o arco interno cuja cavidade aumen-
(ver figo 5-34) pela abóbada; ta (fig. 5-11), flexionando o primeiro osso do
- o calcâneo (cale), cujo único contato com metatarso sobre o primeiro cuneiforme, e este
o chão é pela sua extremidade posterior. por sua vez sobre o escafóide (fig. 5-9) (ver
A transmisão das forças mecânicas se pode também sua ação sobre a curvatura transversal,
constatar (fig. 5-8) na disposição das trabécu- pág.234).
Ias ósseas: O flexor próprio do hálux (Fph) forma
- as trabéculas originadas na cortical an- uma curvatura subtotal (fig. 5-12) do arco inter-
terior da tíbia percorrem, oblíquas para no; portanto, age com potência em sua concavi-
baixo e atrás, o arcobotante posterior, dade, ajudado pelo flexor comum dos dedos
atravessando o corpo do astrágalo para (Fd) que o cruza para baixo (fig. 5-13). O flexor
expandir-se no leque subtalâmico para o próprio também desempenha o papel de estabi-
arcobotante posterior do arco; lizador do astrágalo e do calcâneo: passando
entre seus dois tubérculos posteriores, se opõe
- as trabéculas originadas na cortical pos-
(fig. 5-14) ao retrocesso do astrága10 (r) pelo es-
terior da tíbia se orientam para baixo e
cafóide que empurra (seta branca): em primeiro
adiante no colo e a cabeça do astrágalo,
lugar, o ligamento interósseo entra em tensão (2)
para atravessar o escafóide e o arcobotan-
te anterior: cuneiforme e metatarsiano. de modo que o astrágalo se desloca para dian-
te pelo tendão que o propulsa como se fosse a
O arco interno conserva sua concavidade
corda de um arco que lança a seta. Ao passar por
graças aos ligamentos e aos músculos (fig. 5-7). baixo da proeminência do sustentáculo do astrá-
Numerosos ligamentos plantares unem galo (fig. 5-15), o tendão do flexor próprio, pelo
as cinco peças ósseas: cúneo-metatarsiana, cú- mesmo mecanismo, levanta a extremidade ante-
neo-escafóide, mas especialmente a calcâneo- rior do caleâneo que recebe o impulso vertical
escafóide inferior (1) e a subastragaliana ou (seta branca) da cabeça do astrágalo.
astrágalo-calcânea (3). Eles resistem todas as O adutor do hálux (Adu.h) constitui a cor-
forças violentas, embora de curta duração, ao da total do arco interno (fig. 5-16). Portanto, é
contrário dos músculos que se opõem às defor- um tensor particularmente eficaz: aumenta a
mações prolongadas. concavidade do arco interno aproximando as
Os músculos que unem dois pontos mais ou suas duas extremidades.
menos afastados do arco formam cordas parciais Contudo (fig. 5-17), o extensor próprio do
ou totais. Eles agem como verdadeiros tensores. hálux (Eph) - em certas condições - e o ti-
O tibial posterior (TP) constitui uma cor- bial anterior (TA) diminuem a sua curvatura e
da parcial (fig. 5-10) situada perto do vértice o achatam.
2. MEMBRO INFERIOR 231
Fig.5-8
Fd
Fig.5-10~ ~ ~. ~ TP
/~Ph ~FPh
/ FLL - Fig.5-12 -- Fig.5-13
Fi9.5.11~
~ ~
-.' TA
;Z
Fig.5-16
/~ E:i,. ".17
232 FISIOLOGIA ARTICULAR
o ARCO EXTERNO
o arco externo somente contém três peças de-metatarsiana (fig. 5-20) sob o peso do corpo
ósseas (fig. 5-18): (seta). A chave de abóbada do arco é composta pe-
- o quinto osso do metatarso (5ºm), cuja la apófise maior do calcâneo (D) onde se opõem
cabeça constitui o ponto de apoio ante- as forças do arcobotante posterior CD e anterior
rior (B) do arco anterior; BD. Quando se exerce verticalmente uma força
muito violenta sobre o arco, pelo astrágalo - caí-
- o cubóide (cub), sem nenhum contato
da sobre os pés desde um lugar elevado - se pro-
com o chão;
duzem duas conseqüências (fig. 5-21):
- o calcâneo (cale), cujas tuberosidades - o ligamento calcâneo-cubóide plantar re-
posteriores constituem o ponto de apoio siste, porém o arco se rompe no nível da
posterior (C) do arco. sua chave de abóbada e a apófise maior se
Este arco, ao contrário do interno que se desco- descola por um .traço vertical que passa pe-
la do chão, está pouco distanciado (3-5 mm) e entra lo ponto fraco;
em contato com o chão através das partes moles. - o tálamo se afunda no corpo do ca1câneo:
A transmissão de forças mecânicas (fig. 5-19) o ângulo de Boehler (PTD) geralmente ob-
se realiza através do astrágalo, fixado ao calcâneo tuso (fig. 5-20) para baixo está anulado e
por dois sistemas trabeculares: inclusive invertido em PT'D;
- Originadas na cortical anterior da tíbia, as - no lado interno, a apófise menor se desco-
trabéculas posteriores se expandem para la com freqüência por um traço sagital
o leque subtalâmico; (sem representar).
- Originadas na cortical posterior da tíbia, Este tipo de fraturas do ca1câneo são muito
as trabéculas anteriores atravessam em complicadas de reduzir-se, visto que não só é ne-
primeiro lugar o astrágalo, cuja cabeça cessário levantar o tálamo, mas também que a apó-
repousa em parte na apófise maior do cal- fise maior tem que ser endireitada, sem a qual o ar-
câneo e, em segundo lugar, o cubóide, co interno permaneceria afundado.
através do qual alcançam o quinto osso Três músculos são os tensores ativos do cita-
do metatarso e o apoio anterior. do arco:
Além do leque subtalâmico, o ca1câneo con- - o fibular lateral curto (FLC) é uma corda
tém dois sistemas trabeculares principais: parcial (fig. 5-22) do arco, porém, como o li-
- um sistema arciforme superior, côncavo gamento calcâneo-cubóide, impede a aber-
para baixo, que se condensa numa lâmina tura inferior das articulações (fig. 5-23);
compacta no chão do seio do tarso, suas fi- - o fibular lateral longo (FLL), que segue até
bras trabalham em compressão; o cubóide um trajeto paralelo ao anterior,
- um sistema arciforme inferior, côncavo desempenha o mesmo papel; porém, tam-
para cima, que se condensa na cortical in- bém (fig. 5-24), enganchado ao calcâneo pe-
ferior do osso e trabalha em alongamento. lo tubérculo dos fibulares (6), mantém elas-
ticamente sua extremidade anterior como o
Entre estes dois sistemas se encontra um pon-
to fraco (+). flexor próprio do hálux no lado interno;
Enquanto o arco interno é todo flexível, gra- - o abdutor do quinto dedo (Abd.5) cons-
ças à mobilidade do astrágalo sobre o calcâneo, o titui a corda total do arco externo (fig. 5-
arco externo é muito mais rígido para poder trans- 25); como seu par o adutor do hálux: tem
mitir o impulso motor do tríceps (fig. 5-125, pág. uma ação análoga.
223). Esta rigidez se deve à potência do grande li- O fibular anterior (F) e o extensor comum dos
gamento calcâneo-cubóide plantar, cujos feixes dedos (Ecd) - em certas condições - diminuem
profundo (4) e superficial (5) impedem a abertura a curvatura do arco externo ao agir sobre a sua con-
inferior das articulações ca1câneo-cubóide e cubói- vexidade. O mesmo acontece com o tríceps (T).
2. ivIEMBRO INFERIOR 233
Fig.5-19
5 6 4 Abd.5
Fig.5-18
T
c Fig.5-20 B
FLC
-
..• ~ ..
c Fig.5-21 - Fig.5-25
Fig.5-26
Fig.5-23
234 FISIOLOGIA ARTICULAR
o arco anterior (fig. 5-27, corte I) se esten- xo do pé, a cúspide da abóbada. Este arco é
de entre a cabeça do primeiro osso do meta- subtenso pelo tendão do fibular lateral longo
tarso, que repousa sobre os dois sesamóides, (FLL), que desta forma age com grande potên-
a 6 mm do chão (A), e a cabeça do quinto os- cia sobre a curvatura transversal.
so do metatarso (B), também a 6 mm do chão. No nível do escafóide e do cubóide
Este arco anterior passa pela cabeça de outros (fig. 5-27, corte lU), o arco transversal somente
metatarsianos: a segunda cabeça, a mais eleva- entra em contato com o chão através da sua ex-
da (9 mm), constitui a chave da abóbada. A ter- tremidade externa composta pelo cubóide (cub).
ceira (8,5 mm) e a quarta cabeças (7 mm) estão O escafóide (esc), suspenso acima do chão, des-
em posição intermédia. cansa "em suporté em falso" sobre o cubóide pe-
A concavidade deste arco é pouco acentua- la sua extremidade externa. A curvatura deste ar-
da e entra em contato com o chão por intermé- co está mantida pelas' expansões plantares do ti-
dio das partes moles, constituindo o que alguns bial posterior (TP).
denominam "o calcanhar anterior do pé". Este Uma vista inferior do pé (esquerdo) supos-
arco está subtenso pelo ligamento intermetatar- tamente transparente (fig. 5-28) mostra como a
siano, sem uma grande eficácia, e por um só curvatura transversal da abóbada está mantida
músculo, o fascículo transverso do abdutor do por três músculos, sucessivamente de diante
hálux (Abd.h), que forma uma série de cordas para trás:
parciais e totais entre a cabeça do primeiro me-
- o abdutor do hálux (Abd.h), de direção
tatarsiano e a dos outros quatro. É um músculo transversal;
relativamente pouco potente e fácil de forçar. O
arco anterior "cai" com freqÜência - parte an- - o fibular lateral longo (FLL), o mais
terior do pé chato - ou mesmo invertido - par- importante do ponto de vista dinâmico e
te anterior do pé convexo -, o que provoca a que constitui um sistema tensor oblíquo
formação de calos debaixo das cabeças metatar- para diante e para dentro, que age sobre
sianas rebaixadas (ver pág. 150). os três arcos;
Os cinco raios metatarsianos finalizam no - as expansões plantares do tibial poste-
arco anterior. O primeiro raio (fig. 5-29) é rior (TP), desempenhando um papel
o mais erguido e forma, segundo Fick, um ângu- principalmente estático, e que consti-
lo de 18 a 25° com o chão. A seguir, este tuem um sistema tensor oblíquo para
ângulo metatarsiano/chão diminui regularmen- diante e para fora.
te: 15° para o segundo (fig. 5-30), 10° para o ter- A curvatura longitudinal do conjunto da
ceiro (fig. 5-31), 8° para o quarto (fig. 5-32) e só abóbada plantar é controlada por:
5° para o quinto osso do metatarso (fig. 5-33), - o adutor do hálux (Adu.h)* por dentro,
quase paralelo ao chão. junto com o flexor próprio (sem repre-
A curvatura transversal da abóbada segue sentação);
de diante para trás. No nível dos cuneiformes - o abdutor do quinto dedo (Abd.5) por
(fig. 5-27, corte II), o arco transversal somente fora.
contém quatro ossos e entra em contato com o
chão através da sua extremidade no nível do cu- Entre estes dois tensores extremos, o flexor
bóide (cub). O primeiro cuneiforme (C1) está to- comum dos dedos (sem representação) e seu aces-
talmente suspenso, sem nenhum contato com o sório e o flexor plantar curto (FPC) mantêm a cur-
chão; o segundo cuneiforme (C,) constitui a cha- vatura dos três raios médios igual a do externo.
ve da abóbada (tracejado) e foma, com o segun- *Nota do autor: é abdutor com relação ao plano sagi-
do metatarsiano que o prolonga para diante, o ei- tal e adutor com relação ao eixo do pé.
2. MEMBRO INFERIOR 235
11
111
Fig.5-28 Fig.5-27
236 FISIOLOGIA ARTICULAR
Fig.5-36
Fig.5-37
Fig.5-35
..•• +12,5m/m
Fig.5-38 x
Fig.5-39 Fig.5-40
238 FISIOLOGIA ARTICULAR
o EQUILÍBRIO ARQUITETÔNICO DO PÉ
o pé tem uma estrutura triangular (fig. 5-42) complexo articular do tarso posterior:
com:
- um aumento ~a curvatura plantar, pro-
- um lado inferior (A), a base ou abóba- vocando um pé cavo, pode dever-se tan-
da, subtensas pelos músculos e os liga- to a uma retração dos ligamentos planta-
mentos plantares; res ou uma contratura dos músculos
- um lado ântero-superior (B), onde se plantares, quanto a uma insuficiência
localizam os flexores do tornozelo e os dos músculos flexores do tornozelo,
extensores dos dedos; - um aplainamento da curvatura plantar, o
- um lado posterior (C), que compreen- pé chato, pode dever-se tanto a uma insu-
de os extensores do tornozelo e os fle- ficiência das formações ligamentares ou
xores dos dedos. musculares plantares, quanto a um tônus
exagerado dos músculos anteriores ou
Uma forma normal da planta do pé, que
posteriores.
condiciona sua correta adaptação ao chão, é o
resultado de um equilíbrio entre as forças pró- Novamente, encontra-se a noção de equilí-
prias de cada um destes três lados (fig. 5-43), brio trilateral (fig. 5-44), ilustrada pela tábua de
organizados sobre três raios esqueléticos arti- vela que permite compreender o equilíbrio dinâ-
culados entre si, no nível do tornozelo e do mico do joelho.
2. MEMBRO INFERIOR 239
Fig.5-43
Fig.5-42
Fig.5-44
240 FISIOLOGIA ARTICULAR
Durante a marcha, o desenvolvimento do Terceira fase: primeiro impulso motor (fig. 5-47).
passo vai submeter a abóbada plantar a forças
e deformações que demonstram o seu papel de Agora, o peso do corpo se encontra para dian-
amortecedor elástico. O desenvolvimento do te do pé em apoio, a contração dos extensores do
passo se realiza em quatro fases. tornozelo (T), e principalmente a do tríceps, vai
levantar o calcanhar (seta 3). Entretanto, a tíbio-
tarsiana se estende ativamente, o conjunto da abó-
Primeira fase: tomada de contato com o chão bada realiza uma rotação em volta do seu apoio
(fig. 5-45). anterior (A). O corpo se eleva e se dirige para
diante: se trata do primeiro impulso motor, o mais
Quando o membro oscilante lançado para importante, visto que põe em jogo músculos mui-
diante está a ponto de entrar em contato com o to potentes. Contudo, a- abóbada, apanhada entre o
chão, o tornozelo está alinhado ou em ligeira chão pela frente, a força muscular por trás e o pe-
flexão (fig. 5-45) devido à ação dos flexores da so do corpo no meio (alavanca de segundo gêne-
tíbio-tarsiana (Ft). Portanto, o pé entra em con- ro, denominada inter-resistente) teria a tendência a
tato com o chão através do calcanhar, ou se- aplainar-se se não interviessem uma vez mais os
ja, o ponto de apoio posterior (C) da abóbada. tensores plantares (Tp): é o segundo efeito amor-
Imediatamente, sob o impulso da perna (seta tecedor, que permite reservar uma parte da força
branca), o resto do pé entra em contato com o do tríceps para restituí-Ia no final do impulso. Por
chão (seta 1) enquanto o tornozelo se estende outra parte, é no momento do apoio anterior quan-
passi vamente. do o arco interno se aplaina (fig. 5-48) e a parte
anterior do pé se expande pelo chão (fig. 5-49).
Segunda fase: máximo contato (fig. 5-46).
Quarta fase: segundo impulso motor (fig. 5-50).
Então, a planta do pé entra em contato o impulso fornecido pelo tríceps se prolonga
com o chão com toda a sua superfície de apoio por um segundo impulso (seta 4), devido à con-
(fig. 5-46) que representa a impressão plantar. tração dos flexores dos dedos (Fd), especialmen-
a corpo, propulsionado pelo outro pé, vai te os músculos sesamóides e o flexor próprio do
passar por cima e depois para diante do pé hálux. O pé, deslocado uma vez mais para cima e
em apoio (fase de apoio unilateral). O torno- para diante, abandona seu apoio sobre o calcanhar
zelo passa passivamente da extensão anterior à anterior e somente está em contato com os três pri-
flexão (seta 2). Ao mesmo tempo, o peso do meiros dedos, especialmente o hálux, na fase ter-
corpo (seta branca) incide totalmente sobre a minal do apoio (A'). Durante este segundo impul-
abóbada plantar que se aplaina. Simultanea- so motor, a abóbada plantar resiste, uma vez mais,
mente, a contração de todos os tensores plan- ao aplainamento graças aos tensores plantares, en-
tares (Tp) se opõe a este afundamento da abó- tre os quais se destacam os flexores dos dedos. É
bada (primeiro efeito amortecedor); aplainan- no final desta fase quando a energia reservada an-
do-se, a abóbada se alonga ligeiramente: ao teriormente se restitui. O pé se levanta do chão en-
início do movimento, o apoio anterior (A) quanto o outro começa a desenvolver seu passo:
avança ligeiramente, porém no final, quando o de modo que ambos os pés estão simultaneamen-
apoio anterior entra cada vez mais em contato te em contato com o chão, durante um pequeno
com o chão devido ao peso do corpo, o apoio instante (fase do duplo apoio). Na fase seguinte,
posterior C, o calcanhar, recua. A superfície da denominada apoio unilateral, a abóbada do pé os-
impressão plantar é máxima quando a perna cilante - o que acaba de descolar do chão - re-
passa pela vertical do pé. cupera a sua posição normal.
2. MEMBRO INFERIOR 241
Fig.5-45
\\
\\
\
\
\
\
\ c__
A
\\
Fig.5-46
Fig.5-47 \I
,I,
I
I
I
I
\
\
~
\
~
\
\\
-
OL--A'
Fig.5-51
242 FISIOLOGIA ARTICULAR
Nas páginas anteriores, analisamos as mo- no sagital P, que passa por este eixo, se
dificações que ocorrem na abóbada plantar du- desviam para dentro um ângulo m (P' re-
rante o passo, isto é, as diferentes inclinações da presenta a posição final deste plano e P
perna sobre o pé no plano sagital. Contudo, du- sua posição inicial) que mede esta adu-
rante a marcha ou a corrida em curvas ou terre- ção. Além disso, a parte anterior do pé
no acidentado, é necessário que a perna possa realiza uma pronação, porém é bastante
inclinar-se sobre o pé no plano frontal, ou seja, evidente que estes movimentos de adu-
para fora e para dentro da impressão plantar. Es- ção-pronação são movimentos relati-
tes movimentos de inclinação lateral se locali- vos aos da parte posterior do pé locali-
zam na subastragaliana e na médio-tarsiana e zados na árticulação médio-tarsiana.
determinam modificações da forma da abóbada 4. Escavação do arco interno (fig. 5-51).
plantar. Pelo contrário, a tíbio-tarsiana não par- Este aumento da curvatura do arco inter-
ticipa: o astrágalo, fixado na pinça bimaleolar, no (seta 2) é a conseqüência dos movi-
se move com relação aos demais ossos do tarso. mentos relativos da parte posterior e an-
A inclinação da perna para dentro, em terior do pé. Ele se manifesta pela eleva-
relação ao pé considerado fixo (fig. 5-51), tem ção do escafóide com relação ao chão,
quatro conseqÜências: fenômeno simultaneamente passivo
1. Rotação externa da perna sobre o pé (se- (deslizamento para fora da cabeça do as-
ta 1), que só aparece quando a planta do trágalo) e ativo (contração do tibial pos-
pé entra com firmeza em contato com o terior). A modificação da curvatura glo-
chão. Manifesta-se pelo retrocesso do bal da abóbada plantar está clara na im-
maléolo externo, nitidamente visível se é pressão plantar, cujo golfo se afunda,
comparado com a posição na qual o pé, como no caso de um pé cavo varo.
perpendicular à perna, somente entra em A inclinação da perna para fora (fig. 5-55)
contato com o chão mais com sua borda tem quatro conseqÜências simétricas:
interna (fig. 5-52). Esta rotação externa
1. Rotação interna da perna sobre o pé (se-
da pinça bimaleolar provoca o desliza-
ta 3): retrocesso do maléolo interno
mento do astrágalo para fora, principal-
(comparar com a figo 5-56, na qual o pé
mente da sua cabeça no escafóide.
só entra em contato com o chão pela sua
2. Abdllção-supinação da parte posterior borda externa), deslizamento do astrága-
do pé (fig. 5-53). A abdução se deve a 10 para dentro, cuja cabeça sobressai na
uma fração de rotação externa sem com- margem interna do pé.
pensar. Quanto à supinação, esta deriva
do movimento do ca1câneo para dentro, 2. Adução-pronação da parte posterior do
pé (fig. 5-57): adução por rotação interna
perfeitamente visto por trás (ângulo x) e
em comparação com um pé sem apoio não totalmente compensada, pronação
no chão (fig. 5-54): este varo do ca1câneo por valgo (ângulo y) do ca1câneo (com-
se reconhece pela incurvação da borda parar com a figo5-58).
interna do tendão de Aquiles. 3. Abdllção-supinação da parte anterior do
3. Adução-pronação da parte anterior do pé (fig. 5-55): ângulo de abdução (n) en-
pé (fig. 5-51). Para que o arco anterior tre os planos P e P".
entre em contato com o chão, a parte an- 4. Aplainamento do arco interno (seta 4),
terior do pé deve deslocar-se para dentro: com aumento da superfície da impressão
o eixo da parte anterior do pé, que passa plantar, como no caso de um pé chato
pelo segundo osso do metatarso, e o pla- valgo.
2. ME\fBRO DlFERIOR 243
Fig.5-56==
Fig.5-51
Fig.5-57
244 FISIOLOGIA ARTICULAR
o homem da cidade caminha sempre so- - o apoio anterior é mais amplo nas in-
bre um terreno liso e resistente, com os pés clinações para fora (fig. 5-60) graças
protegidos pelo calçado. Suas abóbadas plan- ao comprimento decrescente de dentro
tares devem realizar poucos esforços de adap- para fora dos raios metatarsianos;
tação e os músculos, que são o seu suporte
- de pé sobre uma inclinação transversal
principal, acabam por atrofiar-se: o pé chato é
(fig. 5-61), o pé "de baixo" está em su-
a conseqüência do progresso e certos antropó-
pinação, enquanto o pé "de cima" está
logos não hesitam em prognosticar tempos que
o homem "caminhará" com uns pés reduzidos em eversão ou em astrágalo valgo;
a cotos. Esta teoria se baseia na atrofia dos de- - a escalada (fig. 5-62) necessita da an-
dos e na perda da oposição do hálux, ainda coragem do pé de baixo, em posição de
presente no macaco. pé cavo varo, perpendicular à linha de
Contudo, ainda não chegou este momento declive, enquanto o pé de cima entra
em contato com o chão em flexão má-
e o homem, até mesmo o "civilizado", é capaz
de andar com os pés nus na areia ou entre as xima e paralelo à inclinação;
pedras. Este "retorno ao estado natural" bene- - a descida (fig. 5-63) às vezes obriga as
ficia consideravelmente a abóbada plantar (en- atitudes do pé em eversão para conse-
tre outros), que reencontra suas possibilidades guir uma aderência máxima.
de adaptação.
Desse modo, como a palma da mão, que
Adaptação às asperezas do terreno sobre permite a preensão graças às modificações de
as quais o pé se agarra (fig. 5-59) graças ao sua curvatura e de sua orientação (ver volume I),
afundamento da abóbada.
a planta do pé pode, com algumas limitações,
Adaptação às inclinações do chão com re- adaptar-se às irregularidades do terreno para as-
lação aos pés: segurar o melhor contato possível com o chão.
2. MEMBRO INFERIOR 245
Fig.5-60
246 FISIOLOGIA ARTICULAR
os PÉS CAVOS
Fig.5-70
Fig.5-72
Fig.5-73 Fig.5-75
Fig.5-74
_m
.,i
11 Fig.5-77 111 IV
248 FISIOLOGIA ARTICULAR
os PÉS CHATOS
Fig.5-78
Fig.5-80
IV III II
Fig.5-79
Fig.5-84
250 FISIOLOGIA ARTICULAR
No decurso das deformações da abóbada plantar, o nômeno: pé ancestral (ou Neanderthal foot ou pes an-
arco anterior pode desequilibrar-se nos seus apoios ou ticus), que lembra o pé pré-humano com hálux preensor
deformar-se em sua curvatura. (fig. 5-91), este fenômeno também é favorecido por:
Em geral, o desequilíbrio é secundário a um pé ca- ~ o primeiro metatarsiano é curto, hipermóvel e,
vo anterior: o eqüino da parte anterior do pé aumenta as especialmente, muito separado do segundo
pressões suportadas pelo arco anterior segundo três pos- (metatarso varo ou aduzido), deslocando o há-
sibilidades: lux numa direção oblíqua para diante e para
dentro;
1. O eqÜino da parte anterior do pé é simétrico
(fig. 5-85), sem pronação, nem supinação; a cur- - o segundo metatarsiano nitidamente ultrapassa
vatura do arco se conserva; portanto, existe uma os outros, o que. provoca um apoio no final do
sobrecarga dos dois pontos de apoio, que pro- passo levando a uma sobrecarga, articulação
voca a formação de um calo debaixo das cabe- dolorosa na base e algumas vezes fratura da
ças do primeiro e do quinto ossos do metatarso; marcha (pé forçado)';
2. O eqÜino da parte anterior do pé acompanha- - quinto metatarsiano muito separado para fora
se de uma pronação (fig. 5-86) devido ao des- (quinto metatarsiano valgo ou abduzido).
censo predominante do raio interno (contratura
Quando esta parte anterior do pé, amplamente ex-
do tibial posterior ou do fibular lateral longo); a
pandido, está aprisionada num calçado de ponta fina
curvatura do arco permanece, a sobrecarga se
(fig. 5-92), o hálux se desloca para fora (a). O desequi-
centra no apoio interno do pé, aparecendo um
líbrio se transforma em permanente, fixado pelas retra-
calo debaixo da cabeça do primeiro metatarsia-
no; ções capsulares, a luxação para fora dos sesamóides (c)
e dos tendões, acompanhado por uma exostose (b) da
3. O eqüino da parte anterior do pé se acompa- cabeça do metatarsiano, onde aparece uma calosidade:
nha de uma supinação (fig. 5-87); a curvatura assim se forma um hallux valgus. O hálux atravessado
do arco permanece, a sobrecarga se centra no desloca os dedos médios (fig. 5-93) de modo que agra-
ponto de apoio externo (calo debaixo da cabe- va a deformação em martelo dos dedos. O quinto dedo
ça do quinto metatarsiano). deforma-se ao contrário (d): se trata do quintus varus,
Em alguns pés cavos anteriores, a curvatura nor- que contribui também para a garra dos dedos médios.
mal do arco anterior se pode deformar: Desta maneira o arco se toma convexo.
Fig.5-85 Fig.5-86
Fig.5-87 t
t t
Fig.5-89
Fig.5-90 t
Fig.5-93
Fig.5-91
Fig.5-92
---
r -----
2. BIBLIOGRAFIA 253
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r
2. :MEMBRO INFERIOR 255
Para colar os modelos, é necessário uma cola de 1. recortar as duas peças A e B (Prancha I);
celulose de secagem rápida. As superfícies tracejadas 2. num papelão mais resistente, cortar outras duas
delimitadas por linhas pontilhadas (atenção, não con- peças com as mesmas dimensões;
fundir estas linhas pontilhadas com os traços de uma
prega) representam as zonas que se devem colar no anver- 3. numa folha de papel comum, cortar três tiras de 1
so. As superfícies quadriculadas correspondem às zonas cm de largura por 14 cm de comprimento;
que se devem colar no verso. Depois de ter feito isto, se 4. na peça A, colar a extremidade de cada uma das
indicam as superfícies que se vão colar juntas com a tiras nas zonas tracejadas a', b' e c', com a pre-
mesma letra. Colar de uma em uma, e dar tempo a que caução de que elas fiquem paralelas com o lado
uma esteja bem seca para passar à seguinte na mesma maior da peça;
peça. Entretanto, se podem ir colando outras peças dife-
5. colar acima da peça A e das extremidades das três
rentes. Enquanto estejam secando, é melhor colocar as
tiras, uma das peças de papelão grosso; deve
peças numa tábua de madeira fixadas por elásticos ou
cobrir exatamente a peça A;
alfinetes que fixam uma prega e mantêm uma lingüeta.
6. colocar o conjunto sobre a mesa, o papelão grosso
Excepcionalmente, no caso do modelo V, as dobras
que representam chameiras articulares se devem realizar del<aixo,e dobrar por cima da peça A as três tiras
de pãpel, que devem ficar paralelas entre si e com
sem incisões para que mantenham a solidez.
o lado maior da peça;
Como material acessório, precisa-se de:
7. colocar a peça B em cima, com o anverso para
- papelão grosso (l mm) para reforçar algumas peças cima, orientando a zona tracejada a' para o lado
(modelos I e III) ou servir de base (modelo III); da extremidade livre da tira média;
256 FISIOLOGIA ARTICULAR
8. dobrar a extremidade livre das três tiras sobre a 2. Realizar a dobragem em acordeão das tiras que
peça que vão ser coladas em a, b e c; vão constituir as "arandelas", depois fazer um
9. colar a segunda peça de papelão grosso em cima furo ao mesmo tempo nas seis partes dobradas.
e esperar que fique bem seco. 3. Realizar uma prega dupla em cada extremidade
O esquema de montagem (fig. 1, Prancha I ) põe o do LCPI antes de perfurar os furos 3 e 4.
Cuidado!, fazer um corte na arandela do furo 4,
cruzamento das tiras que representam os ligamentos cruza-
mas sem cortar o LCPI.
dos em evidência, porém na montagem real, a tensão das
tiras deve impedir qualquer separação das peças (se traçaram 4. Fazer os furos nas outras peças, exatamente nos
por separado para que o desenho seja mais cômodo). lugares indicados.
A montagem se realiza seguindo o esquema (fig. 3)
Utilização: com grampos metálicos de tamanho reduzido. Os furos
coincidem em cada peça e elas devem ser montadas por
Com este modelo se pode demonstrar que é impos- ordem numérica sem esquecer de colocar urna arandela
sível deslizar uma peça sobre a outra no sentido do com- nos furos 5, 6 e 7. Por.último, a base femoral se fixa na
primento. peça C na zona tracejada, através dos furos 8 e 9.
Porém, se só a peça superior é tomada e inclinada
para um lado, a peça inferior gira ao redor de uma
charneira constituída pelo lado menor e mais baixo, e vice- Utilização:
versa no caso de urna inclinação oposta. As duas peças O modelo está pronto para funcionar (fig. 4):
parecem não ter conexão nenhuma entre si, porém estão Partindo da posição de extensão - platô tibial
articuladas por cada uma de suas extremidades.
deslocado o máximo possível para a esquerda - (graças
Os côndilos e as glenóides realizam uma montagem ao corte da arandela do furo 4), se traça com lápis o contorno
análoga, embora existe a diferença de que as "tiras" não posterior da patela e o contorno superior do platô tíbial no
sejam iguais entre si, e também não sejam fixas nos maior número possível de posições de flexão.
extremos numa base de igual comprimento. Em conse- À medida que a plataforma tibial se desliza para a
qüência, o resultado é uma rotação. não somente em volta direita, se pode observar como a sua face superior
dos dois eixos, mas também em volta de uma sucessão de
descreve a curva do côndilo ao mesmo tempo que a face
eixos alinhados sobre a curva dos côndilos (esse ponto está posterior e o ângulo póstero-superior da patela desenham
indicado no modelo seguinte). o contorno da tróclea (fig. 5). Se o modelo foi montado
corretamente, essas duas curvas se unem com os dois
traços espessos.
Modelo lI: Determinismo experimental do contorno da
tróclea e dos côndilos Assim fica demonstrado que os contornos da tróclea
e dos côndilos são a curvatura envolvente das respectivas
posições sucessivas dos platôs tibiais e da patela num sis-
Este modelo traça por si mesmo o contorno da tró- tema mecânico definido pelo comprimento relativo e a dis-
clea e dos côndilos, o que esclarece a função dos ligamen- posição dos ligamentos cruzados e das conexões liga-
tos no deterrninismo da forma das superfícies articulares. mentares da patela. Poder-se-iam realizar perfeitamente
outros contornos modificando um ou vários elementos
deste conjunto mecânico.
Realização (Prancha lI):
1. Cortar as peças do modelo:
Modelo III: Exposição do papel desempenhado pelos
A: o platô tibial; ligamentos cruzados e laterais
B: uma peça denominada "base femoral" que se
fixa em C;
O modelo permite ver a tensão eletiva dos liga"
C: a platina retangular na qual se realizará o traça- mentos cruzados e laterais no caso de alguns movimen-
do; com traços espessos a referência do contorno tos (ver pág. 134). Assim se pode explicar de forma
articular com a diáfise femoral;
específica o papel de "chamada" do côndilo sobre a
P: a patela, prolongada para baixo pelo ligamen- glenóide que os ligamentos cruzados desempenham
to patelar; durante a flexão-extensão.
AR: uma asa patelar;
LCAE: o ligamento cruzado ântero-externo; Realização (Prancha I):
LCPI: o ligamento cruzado póstero-interno e as Antes de cortar, reforçar as duas peças do modelo
três tiras para confeccionar as "arandelas". colando-as sobre um papelão grosso (1 rnrn).
2. MEMBRO INFERIOR 257
Fig.4
Fig.5
Fig.3
1-
258 FISIOLOGIA ARTICULAR
Peças C e D:
Realização (Prancha IlI).
1. Cortar com muito cuidado C e D e realizar as
Este modelo é constituído por duas peças principais
incisuras para as dobras (estão todas no anverso).
A e B e duas peças acessórias idênticas C e D. Também se
adicionam quatro cordões que representam os ligamentos. 2. Pregar segundo indica o esquema.
I -
2. MEMBRO INFERIOR 259
Fig.12
Fig.9
Fig.10
Fig.7
260 FISIOLOGIA ARTICULAR
Fig.15
a
Fig.14
Fig.16
Fig.17 Fig.18
262 FISIOLOGIA ARTICULAR
assim, do ponto de vista funcional, a parte anterior do cal- plexo articular subastragaliana-médio-tarsiano
câneo e todo o cubóide. (eixo de Henke). Deste modo fica constituída toda
a parte posterior do pé e o tornozelo (fig. 22, vista
D) Cortar a peça D (Prancha V) e traçar as incisões
ântero-inferior).
da dobragem (salvo D/C'2: charneira). Ao colar, não tem
importância se a lingüeta b não é a que se cola no verso 4. Encaixe dos três primeiros ossos do metatarso.
de DI' ao longo da aresta D/C'2 que representa o eixo da Colocar F' ,cujo anverso estará coberto previa-
escafocubóide. A peça D, que tem a forma de uma
mente de cola, sobre uma pequena tábua.
pirâmide triangular com uma enorme lingüeta (C,) cor-
Colocar sucessivamente, por cima, o anverso da
responde ao escafóide e aos três cuneiformes. - base dos três ossos do metatarso fazendo com
E) e F) Cortar sem realizar dobra nenhuma as que coincidam exatamente com a zona que cor-
peças E, E', F e F' (Prancha IV) que vão constituir os responde em F'. A base de cada um dos metatar-
suportes da articulação de Lisfranc. sianos deve estar em contato com a do adja-
cente. Passar cola no verso de F e cobrir a base
I, II, IU, IV, V) Cortar estas peças (Prancha VI)
dos metatarsianos já colados sobre F'. Fixar
tendo especial cuidado em seguir com precisão os con-
tudo com alfinetes e deixar secar o tempo sufi-
tornos das bases cuja forma determina a orientação dos
osso do metatarso (ver mais adiante). Atenção, as ciente para que as três camadas de papelão
lingüetas pequenas da base são frágeis, já que se devem formem um conjunto sólido. Dessa maneira fica
esvaziar, segundo o quadrado preto (com um estilete). constituída a parte interna da interlinha de
Lisfranc.
Também se esvaziam os outros dois quadrados pretos
situados perto do dedo fazendo um orifício um pouco 5. Encaixe dos dois Últimos ossos do metatarso.
menor do que a borracha (ver mais adiante: colocação
dos elásticos). Cuidado com o sentido das dobras: Fazer o mesmo que no caso anterior com E'
(antes, marcar o losango I no verso), a base dos
incisões no verso para as articulações interfalangeanas e VI e V metatarsianos e E. Deste modo fica cons-
nenhuma incisão no caso da articulação tarsometatar-
tituída a parte externa da interlinha de Lisfranc
siana. Não confundir a zona do verso que deve ser cola-
da (tracejada) com uma lingüeta que tem que ser dobra- 6. Encaixe da articulação de Lisfranc.
da: portanto, nenhuma incisão neste caso. A dobra da Passar cola na zona tracejada do anverso de E e
base não deve estar muito marcada, porém deve realizar-
colocá-Ia em C2, na face inferior de C, fixando-
se exatamente, porque determina a orientação do
a com força com alfinetes para evitar qualquer
metatarsiano. Quando começar a colar, não esquecer a
deslocamento durante a secagem. Realizar o
pequena lingüeta situada perto da metatarsofalangeana;
mesmo com F, que se cola sobre D I na face infe-
porque esta origina uma face para o apoio da cabeça do rior de D.
metatarsiano no chão. As pequenas lingüetas esvaziadas
se dobram em ângulo reto sobre o verso de modo que
constituem uma polia para o músculo extensor curto dos m. Instalação dos ligamentos e tendões
dedos (ver mais adiante).
Antes de começar com esta instalação, se devem
colar os pontos de inserção e os sulcos:
lI. Encaixe
- verso de B'6 sobre B6' a dobra está pouco mar-
As partes constituintes já estão secas e prontas para cada. Esta peça constitui as inserções posteri-
a montagem. ores dos músculos plantares (pequenos quadra-
dos perfurados);
1. Montagem de A com B (fig. 18):
- anverso de C'5 (dobrado em ângulo agudo) sobre
Passar cola no verso de B '3 da peça A e colá-Io
a zona tracejada de C5. Esta zona proporciona a
sobre B3 de B fazendo com que coincidam. Deste
inserção ao flexor curto dos dedos (se colocaram
modo fica constituída a articulação tíbio-tarsiana.
cinco porções em vez de quatro de propósito);
2. Montagem de C com D (fig. 19).
- colar sobre a peça A os canais do tibiaI anterior
Passar cola no verso de C'2 de D e colá-Io na parte (TA), do fibular anterior (FA), do tibial posterior
de C2 que corresponde. Desta maneira fica consti- (TP) e dos fibulares laterais (FLC, FLL), canais
tuída a articulação escafocubóide, prolongada recortados da prancha IV. Cuidado com o sentido
para diante pela cúneo-escafóide. das dobras;
3. Montagem do conjunto AB com o conjunto CD - colar na peça B os canais do tibial posterior (TP) e
(fig. 20, vista superior; figo21, vista inferior). dos fibulares (FLC, FLL) recortados da prancha V;
Passar cola no verso de B '5 de C e colar sobre - colar na peça C o canal do fibular lateral longo
toda a face de B5 de B, o que conforma o com- (FLL) recortado da prancha V.
i---
2. ~IEMBRO INFERIOR 263
Fig.19
Fig.21
Fig.20
Fig.22
264 FISIOLOGIA ARTICULAR
r--
2. MHvffiRO INFERIOR 265
FA
J
'I
8
Fig.24
Fig.23
266 FISIOLOGIA ARTICULAR
TA
Fig.26
Fig.27
·.--- . .--
3-$-
-.--.----
_.-.-.~ \
----------- Eixo 2
\
\
-'~
.~.~\
\
\
III1
4
r~ 82
\\6 \.
\
\
1 Eixo 2
8\
\
\
\
\
\\\ . 5
\
\
\
\
\
\
\
\
\
\
\
\
PRANCHA I
I •
Modelo I
I
~
I
~ "
.~
I
B
A
Modelo III
Fig.1
Fig.2
c
PRANCHA 11
LCPI
3~i~1+1
c
Modelo II
P/alô tibial
Base femoral
PRANCHA 11I
Região de
colagem
ade A2
Modelo IV
/ A2 (margem superior)
i"
+
T
+
+
+
+
+
+
+
t
+
+
+
8 ~~~
b" a
o '~,:h~A~
v,V
~
PRANCHA IV
\
B
Marcar no verso
ant~s <;tecolar
~~\i~m
•••••
PRANCHA V
-- -- \
\
\
\
\
\ B8
\
\
\
\
B2 \
\
~
~
~
\
\
\ J
sobre B7
5
c
BB'
~
FLL
,~j'
Colar o reverso
de C'2 sobre C2
PRANCHA VI
>
Modelo V
ÍNDICE DE ABREVIATURAS
Fd
Fi
FLC
afa
G
G'
Ge
GE
Ft
Gex
GM
Gin
Gl
Gm
Fd
FA
FC.h 241)
A Incisura
Escafóide
Astrágalo
Garganta
Glúteo
Côndil0
Extensão
Cubóide
Extensor intercondiliana
(págs.
(págs.
trodear
deltóide
externo
(págs.
comum
diafisário (pág.
69,
(pág. 57)
205)91)(pág.
197,203,205,230,231)
197,205,230,231,233)
(pág. 91)
197,203,205,233,235)
dos
(págs. dedos
27, 29) 91)
(págs. 207, 209, IHi
fm
Frc
FPC
Fs
fs
F
Exa
esc
IIP
213,
fp 109)
215,221,231,235)
231)
221,223,233,235)
Calotas
Calcâneo
Cavidade
Terceiro
Fundos
Banda
Crural
Feixe
Grande
Fossa
Esporão
Espinha
Ilíaco
Flexão
Primeiro
Bíceps
Rebordo
Fibular
Faceta
Quadrado
Fosseta
Cápsula
Adutor
Adutores
Flexor
Aponeurose
Segundo
Feixe
Abdução
Expansão
Eixo
Porção
Fundo do
Flexores
Abdutor
Glúteo
Côndilo
Trilho
Feixes
lncisura
Gêmeos
Glenóide
Gêmeo de
decondilianas
(pág.
dode
superior(págs.
posterior
cuneiforme
plantar
inferior
digital
(pág. da
máximo
médio saco
Maissiat
ciático
interna
adutor
anterior
ilíaca
(págs.
articular
femoral
lateral 147)
hálux
cervical
51)
saco
próprio
interno
ilíaco
interno
mais do
69,
inominado
cotilóide
supratrodear
colo
anterior
dos
curto
posterior
médio
curta crural
articular
próprio
(pág. ou
cuneiforme
oblíquo
(págs.
transverso
do
curto 197,231,233)
(págs.
femoral
dedos
hálux
glútea
(pág.
púbico
49)
aponeurótica
cótilo (págs.
(pág.
(pág.
ísquio-púbica
(pág.
externoelevados
(pág.
interna
99,
externa (pág.
(págs.
retrocondilianos
curto
(pág.
(pág.
(págs.
curto
longo
(págs. (págs.
grande
flexor
~5)
externa 31)
(págs.
61,
inferior
205)
(págs.213,
57, 211,
53, 99)
33)
57,119,
69)
(págs-.203, 203,
209,
curto
adutor
67)
de215,
31) 213,
(fibular)
27,
61,151,
ílio-pré-trocanteriano
(pág.
do
isquiático
171,(pág.
63)
33)
(pág.
bíceps
35)
(págs.
(pág.151) (pág.
subquadricipital
tíbio-tarsiana
5.°
do do(págs.
dedo
5.° hálux
(pág.
dedo 61,
(págs.
33)
53,
219)
37,
(págs. do(pág.
51,
219) 65)
51,63,67,69)
hálux
(pág.
235)
(págs.209,
57)
197,205)
27,211)
(pág.
29)
(pág. 99)
27,
(págs.
33)
(pág.
55,
(págs.
211) 211,
203,
37)
211,
(pág.
glúteo
87,
87, 53,
33)
103)
103, 205)
(pág.
211,
(pág.
ou
223)
Merkel
189,203,213,215,
29, 213,
33)
.29)
33)
153) 129)
233,
207,
213,
205)
(págs.
241)
57,
211,
211)
33,49,53,55,59,65,67)
91) 55, 59,
213,
máximo67,
105) 10
213,
terceiro
211)
235)
(pág.
153)
215,
175)1)
235)
(pág.
209,
215,
99,
61,
213,
233,
71) Fsq
adutor
31)
221,37)
213,
221,
101,
65)
215,
235)
(pág. Eph
53)
FLL
G5 223, 225, 233)
~~""~_:lt"!-