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Percepção da ascensão social dos negros no ensino superior

Patrícia de Souza Guimarães

I - Introdução
Educação, mobilidade social e relações raciais são temas centrais nos estudos do
campo das ciências sociais, dentre eles, temos alguns exemplos como Fry, 2005;
Maggie, 2005; Silva, 2012. A articulação desses temas se intensificou nos últimos anos,
visto que a educação passou a ser um direito básico da cidadania a partir da
Constituição de 88 e foi reforçada, posteriormente, com a promulgação da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação. Contudo, a universalização formal de direitos não
garantiu a inserção educacional igualitária dos cidadãos. Algumas vertentes como raça,
sexo, classe e origem social contribuem na variação de inserção e rendimento escolar e
acadêmico dos indivíduos (Silva e Brandão, 2008).
A educação – principalmente a de ensino superior – é um dos instrumentos mais
importantes para a mobilidade social (Barbosa e Brandão, 2007). E, como a inserção
educacional é, muitas vezes, desigual, a transição da vida escolar e acadêmica para o
mercado de trabalho também passa a ser uma forma de estruturar posições
hierarquizadas entre indivíduos, famílias e classes sociais. Por ter efeitos cumulativos
sobre a trajetória de vida dos indivíduos, a educação condiciona suas chances de
mobilidade educacional, e por isso é uma variável importante para explicar a
desigualdade social (Cardoso, 2010).
Além de uma inserção no ensino superior desigual entre negros e brancos,
observa-se que a maioria dos negros ingressa em cursos de menor prestígio social, com
notas de corte mais baixas no vestibular e com pouco reconhecimento da profissão. Isto
ocorre porque os processos seletivos para o ensino superior incorporam critérios de
distinção que fazem com que negros e brancos se distribuam de modo desigual entre as
carreiras mais ou menos concorridas e prestigiosas. (Brandão e Marins, 2007).
A desigualdade de oportunidades educacionais no Brasil se torna, assim, uma
chave para compreender o padrão de mobilidade social e a configuração da
desigualdade brasileira. Contudo, estes mecanismos de reprodução da desigualdade não
implicam na incapacidade dos atores sociais de reagir frente à discriminação. E este
trabalho pretende explorar como os estudantes percebem a manutenção dessas
desigualdades e quais estratégias utilizam para driblar a discriminação.
Já sabemos da existência das “desvantagens cumulativas” entre os negros,
explicitadas diversas vezes por Hasenbalg (Guimarães, 2006). Contudo, é preciso ir
além deste conceito e questionar como as vítimas dessas desvantagens reagem, quais
são suas estratégias pessoais no ensino superior e qual é o impacto dessas estratégias na
vida acadêmica e na inserção profissional dos estudantes.
II - Objetivo
Para analisar como a desigualdade racial se manifesta na vida acadêmica, esta
pesquisa explorará a percepção de estudantes universitários, tanto negros quanto
brancos, sobre o papel da raça em diferentes momentos da trajetória acadêmica:
passado, presente e futuro. O primeiro momento, referente ao passado, será analisado
através de indicadores socioeconômicos da família desses estudantes – como a
escolaridade dos pais e seu impacto sobre o status dos filhos, tipo de escola que o
entrevistado estudou, rendas individual e familiar e percepção dos entrevistados de
mobilidade social em relação aos pais. O objetivo desta análise é traçar um perfil dos
estudantes e comparar as trajetórias entre os grupos raciais e sociais.
A análise do segundo momento, caracterizado pelo presente, se divide em duas
partes: a primeira se refere aos indicadores de sucesso acadêmico, como notas, inserção
em estágios, bolsas de iniciação científica e projetos de extensão. Já a segunda parte,
pretende analisar se há reprodução ou não dos diferenciais de raça no interior da carreira
e, no caso positivo, quais as estratégias de ascensão social dos alunos, como eles
driblam possíveis situações de discriminação e quais são suas estratégias de legitimação
na universidade e no mercado de trabalho.
Por fim, o terceiro momento foca na percepção dos entrevistados sobre uma
possível mobilidade futura e sua perspectiva de vida daqui a alguns anos. Com isto, a
análise fecha um ciclo de antes, durante e depois do ingresso no ensino superior. Para
entender como os entrevistados mobilizam os elementos limitadores na inserção no
ensino superior e no mercado de trabalho, esta pesquisa inicia com três perguntas:
1) A desigualdade racial permanece ainda no ensino superior ou o diploma é suficiente
para apagar as desigualdades?
2) Caso ainda exista desigualdade, como ela se manifesta no cotidiano dos estudantes?
3) Como os estudantes se legitimam na universidade e no mercado de trabalho?
Precisam criar alguma estratégia ou só o diploma já é suficiente para os legitimar como
um profissional qualificado?
III - Métodos
Para analisar as trajetórias dos estudantes no passado e na primeira parte do
presente – referente ao desempenho acadêmico –, pretendo aplicar questionários que me
permitam traçar um perfil dos grupos raciais. E, para analisar a segunda parte do
presente – em relação à reprodução dos diferenciais de raça no interior da carreira – e a
perspectiva em relação ao futuro, pretendo realizar aproximadamente 25 entrevistas
semiestruturadas.
Em ambas as etapas, a pesquisa será realizada com alunos de universidade
pública que se autodeclarem negros e brancos. Para abarcar casos de sucesso
educacional, isto é, alunos com grande possibilidade de concluir o curso, a seleção dos
entrevistados será feita a partir de alunos estejam cursando os dois últimos períodos.
O objetivo é analisar seis cursos da universidade pública, sendo três de alto
prestígio social e os outros três de baixo prestígio social. Serão entrevistados quatro
alunos de cada curso, sendo dois negros e dois brancos. Pressupõe-se que esse total de
entrevistas é suficiente por conta de uma questão de saturação e, por isso, contemplará
os objetivos da pesquisa.
IV - Resultados esperados
Assim como a pesquisa se divide em três momentos, também há três hipóteses a
serem testadas – cada uma referente a um período temporal. A primeira, referente ao
passado, é de que a mobilidade dos negros é maior do que a dos brancos, visto que os
primeiros tiveram ascensão social em relação a sua família, pois, muitas vezes, foram os
primeiros a ingressar no ensino superior – diferente do que ocorre com a maioria dos
estudantes brancos.
A segunda hipótese, referente ao presente, distingue os alunos negros dos cursos
de menor e maior prestígio. Partindo da ideia de que negros de classe média percebem
mais discriminação do que negros de classe trabalhadora (Silva e Reis, 2011), a hipótese
é que o mesmo ocorre na esfera acadêmica: negros de cursos de maior prestígio se
sentem mais discriminados e deslocados – como se estivessem “fora do seu lugar”. Isto
faz com que eles precisem mobilizar uma série de estratégias para se legitimar como
profissionais qualificados, o mesmo não ocorrendo para os negros de cursos de menor
prestígio social. Em contrapartida, a ascensão social entre os negros estaria mais
presente em carreiras com pouco prestígio, justamente porque nesta classe, os negros
encontram menos barreiras simbólicas.
E, por último, em relação ao futuro, a hipótese é de que a percepção de
mobilidade dos negros depois da formatura é menor do que a dos brancos, o que
mostraria que os negros percebem que a raça é um elemento limitador na inserção no
mercado de trabalho.

Referências bibliográficas
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