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ASPECTOS CONCEITUAIS

Afonso Fleury* e Nilton Vargas**

1.1. A OBRA DE TAYLOR E A ADMINISTRAÇÃO CIENTÍFICA **.

O exame da obra de Taylor é de particular importância para entender


uma das componentes da matriz ideológica do movimento de "raciona-
lização" industrial das primeiras décadas do século.
De fato, a "Administração Científica" marcou as técnicas de organização
e gestão do trabalho e da produção. Isto fica evidente ao examinarmos os
manuais de engenharia de produção, de ergonomia e de psicologia industrial.
Todos eles estão permeados da ideologia taylorista, traduzida explicitamente
pelos seus "princípios" ou implicitamente pelos seus pressupostos.
Assim, a crítica, difundida entre os teóricos da administração em-
presarial, de que o taylorismo perdeu a atualidade não tem fundamento. O
que se abandonou em parte foram os métodos e técnicas que Taylor
utilizava, mas não os seus "princípios".
A própria obra que o tornou conhecido tem como título Princípios da
administração científica, e no seu interior Taylor deixa claro o seu objetivo
* Engenheiro Naval pela Escola Politécnica da USP; Master of Science pelo Industrial Engineering
Department da Stanford University; Mestre e Doutor em Engenharia pelo Departamento de Engenharia
de Produção da Escola Politécnica da USP. É professor do Depar tamento de Engenharia da Produção
da Escola Politécnica da USP e da Universidade Federal de São Carlos. Possui trabalhos publicados na
Rev is ta d e Engenharia da Produção, Rev is ta de Administração de Empresas e na Revista Brasileira de
Tecnologia. Desenvolve pesquisas na área de Progresso Técnico e Organização do Trabalho.
** Nilton Vargas é Engenheiro Mecânico pela Escola Politécnica da USP e Mestre em
Engenharia da Produção pela COPPE/UFRJ. É Professor-assistente da COPPE/UFRJ. É autor de
trabalhos técnicos apresentados em congressos realizados no país, no IUPERJ, SBPC, Instituto de
Engenharia de São Paulo e outras instituições.
*** Este tópico e o seguinte (1.2) são de autoria de Nilton Vargas. Os subseqüentes (1.3 e 1.4) são
de autoria de Afonso Fleury.

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sideração pessoal e amistoso tratamento que somente pode derivar de
interesse verdadeiro, posto a serviço do bem-estar dos subordinados, E
"Vários artigos foram escritos para expor os expedientes e normas adotados somente quando é dado estímulo especial ou incentivo desse gênero é que o
pela administração científica, bem como as etapas a serem observadas, a fim de
passar do sistema ordinário para o científico. Infelizmente a maioria dos leitores patrão pode esperar obter a iniciativa de seus empregados." 4
destes artigos tem confundido o mecanismo com a verdadeira essência do A crítica de Taylor sobre o sistema de "iniciativa e incentivo" estava
sistema. A administração científica consiste fundamentalmente em certos
princípios gerais ou numa filosofia, aplicável de muitos modos, mas a descrição fundamentada no fato de que a persuasão (incentivo) do operário só poderia
do que algumas pessoas acreditam ser o melhor meio de implantar esses princípios ter efeito quando se tivesse o controle do trabalho. Em outras palavras, a
gerais não deve ser, absolutamente, confundida com os princípios em si."1 administração não poderia depender da iniciativa operária, mesmo porque os
No entanto, isto não quer dizer que o taylorismo seja aplicável indi-
ferentemente a qualquer tipo de indústria. Existem aquelas em que as métodos de trabalho ainda guardavam algumas tradições das corporações de
características materiais do processo produtivo ou o porte da empresa ofício e, portanto, eram obsoletos em face das necessidades econômicas de
dificultam sua difusão. Tal é o caso das indústrias de processos e da aumentar o excedente naquele momento histórico.
construção civil ou das empresas que têm produtos muito diversificados.
Por outro lado, devemos ter presente, como já demonstraram vários 1.1.1. Primeiro princípio
autores,2 que essas ideologias difundidas no meio empresarial têm estreita
ligação com o momento político e econômico de cada país. Os próprios Taylor identificava, assim, como a raiz dos problemas de controle o
fundamentos das obras de Taylor tem de ser entendidos dentro do contexto desconhecimento por parte da administração empresarial de como realizar o
internacional e, particularmente, americano do início do século. trabalho. Esta preocupação, a nosso ver, está muito mais associada ao controle do
ritmo de trabalho e à sua intensificação do que propriamente à apropriação
Deste modo, o taylorismo no Brasil reveste-se de características particulares. do saber operário, apesar de sua obra propalar o oposto - a gerência não
Depende de duas tendências que se chocam. Uma, homogeneizadora, decorrente quer realizar o trabalho, mas identificar qual a possibilidade de aumentar a
da internacionalização das normas de produção e consumo. Outra, dada pelas, extração de excedente econômico.
especificidades da formação social brasileira, seus costumes, sua história, sua
economia etc. O primeiro princípio taylorista propõe, _portanto, a interferência e
Feitas essas observações, passemos, pois, a examinar alguns dos ele- disciplina do conhecimento operário sob o comando da gerência:
mentos principais da obra de Taylor. "À gerência é atribuída ... a função de reunir os
conhecimentos tradicionais que no passado possuíram os
Antes de anunciar seus princípios, Taylor analisou a administração trabalhadores e então classificá-los, tabulá-los, reduzi-los a normas, leis
tradicional que, ao seu ver, funcionava com os mecanismos de "iniciativa e
incentivo". "0 administrador mais experimentado deixa, assim, ao arbítrio ou fórmulas, grandemente úteis ao operário para execução do seu
do operário, o problema dai escolha do método melhor e mais econômico para. trabalho diário." 5
realizar o trabalho. Ele acredita que sua função seja induzir o trabalhador a
usar a atividade, o melhor esforço, os conhecimentos tradicionais, a Uma das técnicas que divulgava para alcançar os seus objetivos era a
habilidade, a inteligência e a boa vontade - em urna palavra - sua iniciativa, no "análise científica" do trabalho. Em poucas palavras tratava do estudo do
sentido de dar maior rendimento ao patrão." 3 Acompanhando esta iniciativa, movimento elementar de cada operário, decifrando quais são úteis para
o administrador deveria fornecer um incentivo que poderia assumir várias eliminar os inúteis, e assim aumentar a intensificação do trabalho. Tal análise
formas, "por exemplo, promessa de rápida promoção ou melhoria; salários era acompanhada do registro dos tempos com o intuito de identificar o
mais elevados, sob a forma de boa remuneração por peça produzida, ou por "tempo ótimo" para realizar uma tarefa. 6 A gerência passava assim a fixar
prêmio, ou por gratificação de qualquer espécie a trabalho perfeito e rápido; "cientificamente" um ritmo de trabalho projetado, em lugar de determinar
menores horas de trabalho, melhores condições de ambiente e 'serviço de subjetivamente um quantum de trabalho a executar segundo a experiência do
que são dadas habitualmente etc., e, sobretudo, este incentivo especial deve próprio trabalhador:
ser acompanhado por con- "0 estudo de tempos é o elemento da administração científica que torna
possível a transferência da habilidade da administração para os operários...
'Estudo de tempos' consiste em duas categorias gerais, a primeira, a fase
analítica, e a segunda, fase construtiva.
1. T AY LO R , F r e d e r i c k W. Princípios de administração cientifica. São Paulo, Atlas, 1966. p. 44.
2. Ver, principalmente, COR IAT, Benj amin. L' atelier et le chronometre. Paris. Bourgois, 1979;
NOBLE, David. America by Design. New York, Alfred A. Knopf, 1979. 18 4. Idem, p. 50.
3 . TAY LO R, Frederick W. Op. cit. p. 49. 5. Idem. p. 52.
6 . Além da modificação do trabalho, propriamente dito, existia também a preocupação de adequar os
instrumentos ao novo modo de produzir. Da mesma forma precisavam ser "cientificamente" selecionados
ou reprojetados para atender ao processo de trabalho modificado.

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A fase analítica do estudo de tempos é a seguinte: catalogação seria possível abandonar o estudo do trabalho concreto e projetar
a) dividir o trabalho de um homem executando qualquer operação em
movimentos elementares; um trabalho "simplificado", ou seja, determinar o tempo de sua duração, sem
b) selecionar todos os movimentos desnecessários e eliminá-los; que este tenha sido executado. Este foi o caminho desenvolvido em várias
c) observar como vários operários habilidosos executam cada movimento atividades com o surgimento de tabelas de tempos elementares
elementar, e, com auxílio de um cronômetro, escolher o melhor e mais rápido predeterminados com o M. T. M. (Methods-Time Measurement).
método de se executar cada um deles; Conforme podemos observar, também, neste "estudo de tempos", Taylor
d) descrever, registrar e codificar cada movimento elementar com seu não deixava de considerar a fadiga operária, e com esse propósito efetuou várias
respectivo tempo, de forma que possa ser facilmente identificável; investigações:
e) estudar e registrar a porcentagem que deve ser adicionada ao tempo "Entre as várias investigações empreendidas nesta época, uma delas consiste na tentativa de encontrar normas ou
selecionado de um bom operário, para cobrir esperas inevitáveis, in- leis que habilitassem um chefe a conhecer, de antemão, que quantidade de certo trabalho, pesado
terrupções, pequenos acidentes etc.; e contínuo, um homem habituado a ele podia fazer diariamente, isto é, estudar o efeito da fadiga provocada por
f) estudar e registrar a porcentagem que deve ser adicionada ao tempo trabalho pesado sobre um operário de primeira ordem." 8
selecionado, para cobrir a inexperiência do operário nas primeiras vezes que A determinação da fadiga diária era essencial porque podia prejudicar o
ele executa a operação. (Essa porcentagem é elevada em tarefas compostas ritmo de trabalho. Todavia, a fadiga acumulada por anos de atividade e
de um número elevado de elementos diversos, que formam uma longa
seqüência não repetitiva. 0 fator diminui, entretanto, quando a tarefa consiste camuflada pela rotação nos empregos, evidentemente, não era objeto de estudo.
de menor número de elementos compondo uma seqüência de maior Apesar de muitas disciplinas se ocuparem posteriormente destes estudos,
repetitividade); como a ergonomia e a medicina do trabalho, sempre ficou preservada a
g) estudar e registrar a porcentagem de tempo, que deve ser tolerada para separação estabelecida por Taylor entre os que trabalham e os que planejam a
descanso e os intervalos em que o descanso deve ser efetuado a fim de própria concepção original de fadiga.
eliminar a fadiga física.
A fase construtiva pode ser sumarizada como se segue: 1.1.2. Segundo princípio
h) combinar em vários grupos os movimentos elementares, que são usados
freqüentemente na mesma seqüência, em operações semelhantes; registrá- 0 segundo princípio tratava da seleção e treinamento e estava intima-
los e arquivá-los de tal forma que eles possam ser facilmente mente relacionado com o anterior. Se o trabalho já foi estudado, analisado,
encontrados;
i) destes registros, é fácil selecionar-se a seqüência adequada de movimentos, simplificado, enfim dominado pela gerência, o trabalhador adequado pode ser
que devam ser usados por um operário produzindo determinado artigo; escolhido mais facilmente, pois o que se procura, não é um homem que conheça
somando-se os tempos relativos a esses movimentos e adicionando-se as um ofício ou que tenha várias habilidades para desenvolver qualquer trabalho.
tolerâncias correspondentes, obteremos o tempo-padrão para a execução da Não há necessidade de "homens extraordinários". Não se desejam qualidades
tarefa em estudo; profissionais, mas habilidades pessoais específicas para atender à exigência do
j)a análise de uma operação, quase sempre revela imperfeições nas condições trabalho:
que cercam esta operação, tais como: o uso de ferramentas inadequadas, o "Em face da seleção científica do trabalhador, dos 75 carregadores de
emprego de máquinas obsoletas e a existência de más condições sanitárias barras de ferro, só aproximadamente 1 em 8 era capaz fisicamente de carregar
etc. E o conhecimento adquirido através da análise muitas vezes permite a
padronização das ferramentas e das condições de trabalho e o 47 1/2 toneladas por dia. Com a melhor das intenções, os outros 7 eram homens
desenvolvimento de melhores máquinas e métodos." 7 fisicamente inaptos para trabalho nesse ritmo. Ora, o único homem entro oito,
capaz de realizar o trabalho não tinha em nenhum sentido características de
Na visão de Taylor existia um modo ótimo de realizar o trabalho que superioridade sobre os outros. Apenas era um homem do tipo bovino - espécime
com o estudo de tempos e movimentos seria possível alcançar e padronizar. difícil de encontrar e, assim, muito valorizado. Era tão estúpido quanto
Do exposto ficaria eliminada a iniciativa operária na escolha do melhor incapaz de realizar a maior parte dos trabalhos pesados. A seleção, então, não
método. Essa função seria da gerência que imporia o método com consistiu em achar homens extraordinários, mas simplesmente em escolher entre ho-
o respectivo "tempo-padrão" para executá-lo. mens comuns os poucos especialmente apropriados para o tipo de trabalho em
Outra idéia subjacente a esses estudos era a identificação do tempo de vista." 9
execução dos movimentos elementares do corpo humano. Com sua 8. TAYLOR, Frederick W. Op. cit. p. 133.
9. Ibidem. p. 76 (grifo nosso).
7. Citado por BARNES, Ralph. Es tu do de movimentos e tempos. São Paulo, Edigard Blücher.

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Determinado tipo de habilidade pode ser uma força. bovina, como no
exemplo acima; em outros casos pode ser algo mais sofisticado como a rapidez de
percepção e reação na inspeção de qualquer objeto (chamado por ele de
baixo coeficiente pessoal). Em um relato sobre a organização da maior 0 elemento central da programação do trabalho passava a ser a "tarefa",
fábrica de esferas de aço temperado para mancais de bicicletas, Taylor como designava Taylor, ou a "ordem de produção', como seria. difundida na
deparou-se com a falta de adaptação das• trabalhadoras às exigências de literatura sobre o assunto:
inspeção das esferas defeituosas. Após estudos elaborados em um laboratório "A idéia de tarefa é, quiçá, o mais importante elemento na admi-
de fisiologia de uma universidade, ele pôde ter as "bases científicas" para nistração científica. 0 trabalho de cada operário é completamente planejado
efetuar a seleção: pela direção, pelo menos com um dia de antecedência, e cada homem recebe,
na maioria dos casos, instruções escritas completas que minudenciam a tarefa
de que é encarregado e também os meios usados para realizá-la ... Na tarefa
"Para benefício das raparigas, bem como da companhia, tornava-se, é especificado o que deve ser feito e também como faze-lo, além do tempo
contudo, necessário dispensar todas as moças que não apresentassem baixo exato concebido para a execução... A administração científica, em grande parte,
coeficiente pessoal. E, infelizmente, isso implicava no afastamento de grande consiste em preparar e fazer executar essas tarefas." 12
parte das moças mais inteligentes, esforçadas e leais, somente porque não Estes princípios, resumidamente colocados, mostram como serviriam de
possuíam percepção rápida seguida de rápida reação." 10
A par da escolha do trabalhador certo para o trabalho certo estava a base para a organização do trabalho fabril. 0 taylorismo não deve ser
necessidade de treinar o indivíduo, não em uma profissão, mas de modo que visto, assim, como um simples estudo de tempos e movimentos, isto porque
executasse uma tarefa conforme a gerência indicasse. Essa concepção era é orientador de muitas outras técnicas de gestão da produção. Além disso, não
bastante diferente dos tipos de organização do trabalho anteriores que ainda se limita somente ao campo de atuação do engenheiro, mas, também,
aguardavam semelhanças com as corporações de ofício. Em lugar de incursiona nas demais profissões que cuidam da atividade fabril como, por
observar outro operário a trabalhar, simplesmente ficaria atento às ordens exemplo, o selecionador e treinador de pessoal, o ergônomo, o médico do
dos instrutores que lhe diziam até mesmo quando deveria descansar: trabalho etc. É por isso que é atual e importante o seu estudo.

"Bem, se você é um operário classificado, deve fazer exatamente o 1.2. A OBRA DE FORD E A LINHA DE MONTAGEM
que este homem lhe mandar, de manhã à noite. Quando ele disser
para levantar a barra e andar, você se levanta e anda, e quando ele Em 1903, inaugurava-se a Ford Motor Company. Nesse tempo "fabricar
mandar sentar, você senta e descansa. Você procederá assim durante o automóveis era função reservada a profissionais que obtiveram sua formação
dia todo. E, mais ainda, sem reclamações." (Trecho de uma instrução dada nas oficinas de bicicletas e viaturas de Michigan e Ohio, que eram naquela
por Taylor a um operário da Bethlehem Steel.) 11 época os centros daquelas indústrias".13 A montagem final era uma operação
que exigia muita habilidade e a presença de certo número de mecânicos
1.1 .3. Terceiro princípio qualificados e competentes.
Dentro de sua ótica, restava a Taylor propor à gerência uma de suas Foi somente dez anos mais tarde, em 1913, que Ford aplicaria pela
principais funções: o planejamento e controle do trabalho. Era, assim, primeira vez, plenamente, os princípios da linha de montagem. Subtraiu a
contra o sistema de administração de sua época que deixava a um operário idéia do sistema de carretilhas aéreas usado nos matadouros de Chicago .para
antigo, o contramestre, a responsabilidade pela administração da produção. Em esquartejar reses. A esteira rolante passou a ter um funcionamento
seu lugar defendia a existência de especialistas responsáveis por cada uma das ininterrupto, combinando operações extremamente parceladas dos traba-
funções produtivas (disciplina, reparação, métodos, preparação do trabalho etc.). lhadores.
Com base nessa experiência, Ford descreveu os seus princípios:
Criava-se, então, uma nova estrutura administrativa na fábrica que seria
paradigma a ser seguido pelas organizações industriais. Surgiam os "1.°) sempre que for possível, o trabalhador não dará um passo supérfluo;
2.°) não permitir em caso algum, que ele se canse inutilmente, com
departamentos de programação e controle da produção, tempos e métodos, movimentos à direito ou à esquerda, sem proveito algum. As regras gerais que
controle de qualidade, arranjo industrial, ferramentaria etc., todos exercendo nos levaram a consegui-los são as seguintes:
atividades que antes cabiam ao coletivo de trabalhadores sob a supervisão do
contramestre.

12. Ibidem. p. 55 (grifo nosso).


10. Ibide m. p. 100 (grifo nosso). 13. B R AV E R M AN , H a r r y. Trabalho e capital monopolista. Rio de janeiro, Zahar, ,
11. Ibidem. p. 61. 1977, p. 130.

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1.°) tanto os trabalhadores como as peças devem ser dispostos na ordem
natural das operações, de modo que toda peça ou aparelho percorra o tanto, atrevo-me a dizer que para a maioria a repetição nada tem de desagradável.
menor caminho possível durante a montagem; Com efeito, para certos temperamentos a obrigação de pensar é uma ver-
2.°) empreguem-se planos inclinados ou aparelhos similares, de modo que o dadeira tortura, porque o ideal consiste em operações que de modo algum
operário sempre possa colocar no mesmo lugar as peças em que trabalhou, e exijam instinto criador. Os serviços que exigem esforço mental e físico gozam de
sempre ao seu alcance. Todas as vezes que for possível deve-se usar a mui limitada popularidade e não encontram aceitação." 16
gravitação como meio de transporte, para chegar às mãos do operário próximo E evidente a vantagem econômica do trabalhador desqualificado sobre o
à peça em trabalho; seu antecessor. Por este motivo todos os trabalhos foram levados à mais
3.°) construa-se uma rede auxiliar para a montagem dos carros, pela qual,
deslizando as peças que devem ser ajustadas, cheguem ao ponto exato onde são
extrema simplificação, de acordo com os princípios já lançados por Taylor. As
necessárias. estatísticas da Ford comprovavam o significado da nova ordem na esfera
0 resultado prático destas normas é a economia das faculdades mentais e produtiva:
"Uns 43 % de todos os serviços não requerem mais do que um dia de aprendizagem,; 36% requerem de um
a redução ao mínimo dos movimentos de cada operário, que, sendo possível, até oito dias; 6%, de uma a duas semanas; 14%, de um mês a um ano; 1 %, de um a seis
deve fazer sempre o mesmo movimento ao executar a mesma operação."14 anos. Este último trabalho", revela Ford, "é a fabricação dos instrumentos que como a
O sucesso dessa nova organização apareceu nos resultados da pro- soldadura* requerem uma aprendizagem especial". 17
dução: o tempo de montagem do chassi reduziu-se de 12 horas e 8 minutos 0 resultado dessa simplificação e parcelamento extremos do trabalho
para 1 hora e 33 minutos. E essa atividade ficou separada em 45 operações levou-o a perceber que eram reduzidas as necessidades de todo potencial
extremamente simplificadas: humano para o trabalho. Eis o seu relato:
"0 primeiro grupo de trabalhadores fixa-lhe os quatro suportes dos " Com extrema facilidade nos inclinamos a crer, sem investigação alguma, que a perfeita
pára-lamas. Na décima operação coloca-se o motor, e assim por diante. posse de todas as faculdades constitui a condição fundamental para o melhor
Alguns operários executam uma ou duas pequenas operações; outros fazem rendimento em qualquer classe de trabalho. Com o intuito de fazer um juízo real disto, mandei
muitas. 0 que coloca uma peça não a fixa; só depois de muitas operações é que isso classificar todas as diversas operações da fábrica segundo a espécie de máquina e do
acontece. Quem coloca o parafuso não coloca a p o r c a, o q ue p õe a p o r c a n ão trabalho (...) A estatística demonstrou que se contavam na fábrica 7.882
a f i x a. N a o p er aç ão 3 4 o mo to r re ceb e a gasolina, depois de previamente espécies distintas de operações, entre as quais 949 classificadas como trabalho
lubrificado; na operação 44 enche-se de água o radi ador, e na 45, a última, que exigia homens sãos e fortes, de perfeita saúde; 3.338 espécies exigiam o
o carro, pronto, vai para a John R. Street." 15 desenvolvimento físico comum e força normal. Entre as 3.595 espécies
Em uma linha de montagem de motores o trabalho também foi parcelado restantes nenhuma exigia esforço físico, de modo que podia efetuá-las o
homem mais fraco e débil, mulheres ou meninos.
nas mesmas proporções. Antes a operação era realizada por uma só pessoa. Os trabalhos mais fáceis foram por sua vez classificados, para verificar
Com a esteira rolante ficou dividida por 84 operários. quais deles exigiam o uso completo das faculdades; comprovou-se então que
Fixo no seu posto de trabalho, o homem passou a ser quase um componente 670 trabalhos podiam ser confiados a homens sem ambas as pernas; 237
da máquina. Os seus movimentos deveriam ser feitos mecanicamente sem, requeriam o uso de uma só perna; em dois casos podia-se prescindir dos dois
braços; em 715 casos de um braço, e em 10 casos a operação podia ser feita
segundo Ford, interferência da sua mente, guardando, assim, perfeita por um cego." 18
harmonia com o conjunto da linha de montagem.
Aquele trabalhador qualificado, antes necessário no processo de montagem, Portanto, a seleção de homens para o trabalho poderia ser feita de uma
era eliminado. Em seu lugar surgia um novo homem, cuja única função era forma diferente. Taylor já dizia, em um de seus princípios, que não se
repetir indefinidamente movimentos padronizados, desprovidos de qualquer deveriam procurar pessoas. excepcionais para o trabalho, mas homens
conhecimento profissional, que para Ford "nada tem de desa gradável" comuns apropriados para o tipo de trabalho exigido. Contudo, se uma
pequena parcela do corpo humano era solicitada, por que utilizar um or-
ganismo completo? Em verdade, a realidade estatística da investigação de
"Para certa classe de homens, o trabalho repetido, ou a reprodução Ford dava-lhe condições de aprofundar ainda mais a aplicação da "seleção
contínua de uma operação idêntica, por processos que não variam nunca,
constitui um espetáculo horrível. A mim me causa horror. Par preço algum do
científica"
mundo poderia fazer todos os dias as mesmas coisas. Entre-
16. Ibidem. p. 138.
17 Ibidem. 'p. 148 (grifo nosso).
18. Ibidem. p. 145.
14. Ibidem. p. 108-9 (grifo nosso).
15. Ibidem. p. 111.

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"Por ocasião de estatísticas mais recentes possuíamos como empregados mindo-se num menor esforço de tempo, sem necessidade de ultrapassar os limites
9.563 homens em condições inferiores ao nível normal. Entre estes havia 129 normais.21 Assim, não seria correto dizer que houve um aumento da produtividade, pois
mutilados, com braços, antebraços e mãos amputados. Havia um sem as duas este aumento pressupõe um incremento da produção com o mesmo dispêndio de
mãos, 4 cegos de ambas as vistas, 37 surdos-mudos, 60 epilépticos, 4 com energia do trabalhador.22
falta de todas as extremidades e 234 possuíam uma perna só ou um só pé. Os
outros tinham defeitos físicos de menor im Contudo, eram inúmeras as vantagens para o utilizador da força de trabalho;
portância."19 por exemplo, aumentava a possibilidade de utilização mais intensa, também, de
A primeira vista, poderia parecer que o emprego de pessoas em condições seus equipamentos, instrumentos e instalações. Isto era muito importante para o
inferiores às normais seria uma obra de caridade. Todavia, não era essa a capitalista, pois diminuía a depreciação dos equipamentos por obsolescência.
orientação do pensamento de Ford: Esta foi a organização engendrada por Ford, onde o trabalho era entendido
"A caridade tornar-se-d desnecessária se os que vivem dela forem
como fonte de riqueza e, por isso mesmo, não permitia qualquer desperdício:
retirados da classe improdutiva e postos na classe produtiva ... A indústria "Não há quase contato pessoal em nossas oficinas; os operários cum
organizada para o bem público dispensa a necessidade de filantropia. Este prem o seu trabalho e voltam logo para os seus lares. Uma fábrica não
sentimento, apesar da nobreza dos seus intuitos, nada faz para dar aos é um salão de conferências." 23
protegidos a necessária confiança em si..."20 A introdução da linha de montagem teve como resultado, portanto, a
O seu raciocínio estava guiado pela lógica do capital, que no seu desqualificação operária e a intensificação do trabalho. Estes dois fatores aliados ao
desenvolvimento procura colocar sob sua dependência um contingente humano aumento da produtividade conseguido por intermédio de inovações tecnológicas
antes marginalizado. 0 resultado final era o alargamento da reserva de permitiram o barateamento do automóvel e a transformação dele num bem de
braços para a indústria, com reflexos sobre o preço da força de trabalho. consumo de massa.
Outro aspecto de particular importância, que aparecia nos princípios da Já ressaltamos anteriormente a contribuição dada pelo taylorismo e, em particular, a
linha de montagem, é relacionado com o desejo de concentrar no menor aplicação dos estudos de tempos predeterminados, que na linha, de montagem é
espaço de tempo aquela parte do trabalho que realmente transforma e imprescindível como forma de concatenar os tempos de operação de cada posto com a
valoriza a mercadoria. velocidade das esteiras.
Com efeito, durante a jornada, o operário algumas vezes é obrigado a Além disso, as inovações tecnológicas da indústria mecânica, em especial o
interromper a sua atividade por falta de suprimento de materiais ou serviços aprimoramento das máquinas operatrizes, permitiram a produção em grande escala de
adequados, ou por qualquer outro motivo. Ou seja, o tempo normal de trabalho peças intercambiáveis. Só assim foi viabilizado o sistema de montagem em massa
está repleto de "poros" por onde flui a capacidade de realizar trabalho útil. dos. componentes do automóvel:
Taylor, em um de seus princípios, já enfatizava o importante papel que
desempenhava o planejamento prévio da "tarefa" para evitar esses "Para uma fabricação econômica é essencial que as peças sejam in-
desperdícios. No entanto, o novo modo de organização idealizado por Ford tercambiáveis. Nós não fabricamos carros Ford num certo lugar. Só em Detroit
incorporou com vantagens este preceito, porquanto a própria máquina construímos uma certa quantidade para o consumo local. Fabricamos as peças,
assumia o papel antes delegado ao corpo de planejamento fabril. As peças sendo os carros montados nos pontos de destino. Tal concepção implica
deslocavam-se automática e ininterruptamente, suprindo o trabalho de todos os necessariamente uma precisão de fabrico desconhecida outrora. Se as diferentes
homens da produção, sem esperas nem paradas. Ao operário só lhe restava seguir peças não se ajustassem com precisão, a montagem final seria impossível e a maior
parte da economia visada se perderia. Estas considerações nos levam a falar da
essa cadência, fixo no seu posto de trabalho, e alimentado continuamente de necessidade duma precisão absoluta de fabrico, levada a um decimilésimo de polegada."24
novos materiais que sofreriam a ação de seus membros. Para fazer frente a
este ritmo produtivo era impelido a mecanizar os seus movimentos. A linha de Essa produção de peças, dentro de rígidos padrões, foi acompanhada de um
montagem tornava-se, assim, notável instrumento de intensificação do trabalho. enorme esforço de padronização dos métodos, máquinas e instru-
Essa intensificação do trabalho resultava para o capital no mesmo que
o aumento da jornada de trabalho. Era uma metamorfose de uma forma 21. Ford até propôs a redução da jornada de trabalho de 9 para 8 horas quando introduziu a linha de
antiga de aumentar a quantidade de trabalho produtivo diário, compri- montagem.
22. Quando a máquina substitui o homem nas operações auxiliares e improdutivas como, por exemplo, o
transporte de materiais, ocorre um ganho efetivo de produtividade sem aumento do gasto da força de
trabalho. Ou, também, quando se introduz um novo método que elimina operações inúteis.
23. Ibidem. p. 151.
24. FORD, Henry. Hoje e amanhã. Rio de janeiro, Ed. Brand, 1954. p. 266.
19. Ibidem. p. 148. 26
20. Ibidem. p. 277.

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mentos, minimizando assim a coordenação e controle da complexa estrutura Com isto, as hipóteses de Taylor sobre motivação e produtividade foram
questionadas. Diversas propostas surgiram, então, no sentido de explorar
produtiva de Ford, e permitindo também a intercambialidade dos homens e das
esses fatores psicológicos para que o operário atingisse maior produtividade.
máquinas:
Assim surgiram:
"Uma operação em nossa usina de Barcelona deve ser executada do 1 . Cursos de treinamento para supervisores - Uma das conclusões da pesquisa
mesmo modo que em Detroit, pois não podemos sacrificar o lucro da nossa foi que o método de supervisão é fundamental para que os fatores psicológicos
experiência. Um homem que trabalha na rede de montagem de Detroit deve não venham a acarretar ineficiências no processo produtivo. Criaram-se,
poder ocupar instantaneamente o lugar correspondente na de Yokohama ou São
Paulo. Cada uma de nossas máquinas só executa a sua operação, embora no então, cursos de treinamento de supervisores com o intuito de ensiná-los a
caso das máquinas automáticas esta operação se desdobre em diversas. Os "compreender" os aspectos psicológicos dos trabalhadores.
planeadores de máquinas têm a tendência de as estabelecer sem atenção a 2. Atividades integrativas na empresa - Para os pesquisadores -da Western
uma outra. Cerca de 90% das nossas são estandardizadas e a adaptação Electric, uma das formas básicas de orientar os fatores psicológicos para a
delas a uma só operação é coisa de detalhes." 25 produtividade é fazer com que o operário se identifique com a empresa.
Foram essas algumas das inovações técnicas e organizacionais que Para isto, é necessário que esta faça com que ele se sinta importante para
permitiram a introdução da produção maciça por meio da linha de mon- a sua própria sobrevivência. Criaram-se, então, atividades integrativas na
tagem. 0 paradigma lançado por Ford, por meio de seus princípios, foi até empresa, tais como reuniões sociais, clubes, jornais de circulação
pouco tempo inquestionável na literatura sobre o assunto. interna e "caixinhas de sugestão".
Alguns desses esquemas subsistem até hoje. Entretanto, o que é im-
1.3. 0 ENRIQUECIMENTO DE CARGOS portante observar é que as idéias colocadas em prática não alteram, de
forma alguma, o modo como o trabalho é organizado: são modificações
periféricas.
1.3.1. Motivação para o trabalho
Hipóteses mais consistentes sobre o problema da motivação no trabalho
só foram formuladas a partir da década de 40. Em sua grande maioria estas
A preocupação básica da Administração Científica é estruturar total- hipóteses são derivadas de pesquisas empíricas em organizações. Três teorias
mente o trabalho, "racionalizando" a tarefa e formalizando as características são tidas como as mais influentes; por isso, iremos apresentá-las um pouco
dos cargos do setor produtivo. Tal proposta tem características emi-
mais detalhadamente. A primeira é a Teoria da Hierarquia de Necessidades,
nentemente técnicas, mecanicistas até, não só desconsiderando qualquer
aspecto do ser humano que não o fisiológico, como ainda tomando precauções de Maslow.
para que, no sistema de produção, não se manifestassem sinais de processos
sociais. Subjacente a esta proposta estão duas hipóteses sobre o De suas, pesquisas, Maslow formulou a seguinte tese: "Aparentemente, nós
comportamento humano: 1) que cada homem busca maximizar sua pros- funcionamos melhor quando estamos lutando por alguma coisa que
peridade, em termos econômicos, e 2) que a ambição individual é um fator de necessitamos, quando desejamos alguma coisa que não ternos. 0 objetivo desta
motivação que predomina sobre qualquer outro sentimento. Não obstante, tais luta varia de acordo com as circunstâncias."27 E admitiu que haveria uma
hipóteses se mostraram inadequadas e a sua contestação levou ao "hierarquia de necessidades" que orientaria o comportamento das pessoas, de
encaminhamento de outras propostas para a organização do trabalho na tal maneira que um indivíduo não passaria a perseguir as necessidades de
produção. nível mais elevado, enquanto não tivesse satisfeito as necessidades de nível
Em 1927, a Western Electric, empresa americana do setor eletroele- mais baixo. As necessidades primárias são de caráter fisiológico, vindo a
trônico, desenvolvia uma pesquisa, bem nos moldes da Administração Cien- seguir as necessidades de segurança, as necessidades sociais, as de auto-
tífica, que buscava correlacionar nível de iluminação do ambiente de trabalho estima e finalmente as de auto-realização.
à produtividade. Nesta experiência ficou constatado que os fatores Poder-se-ia, então, encarar o trabalho como um meio pelo qual as
psicológicos têm grande influência sobre a produtividade, talvez maior que os pessoas procuram satisfazer as suas necessidades. Em outras palavras, o -
fatores fisiológicos, e observou-se também que o maior "inconveniente" disso é trabalho só teria sentido para as pessoas à medida que algum tipo de ne-
que o sentimento do trabalhador em relação ao seu "grupo de tra cessidade estivesse sendo satisfeito.
balho" sobrepuja qualquer outro fator motivador.26
25. Idem. p. 268.
26. HOMANS, 0. C. As pesquisas na Western Electric. In: BULCÃO, Y. F. & COR 27. MASLOW, Abraham H. Motivation and personality. New York, Harper and Row,
DEIRO, L. L. (orgs.). 0 comportamento humano na e m p r e s a . São Paulo, FGV, 1967. 1970. p. 15.

28 29
replanejá-la e ganhar controle sobre ela, 2. abandonar a organização permanente
Se nos utilizarmos desta colocação para analisar a Administração Cien- ou periodicamente, 3. continuar na organização, mas abandoná-la
tífica, veremos que os fatores que estão sendo enfatizados são os fisiológicos psicologicamente, alienando-se, tornando-se apático e indiferente, para reduzir a
e os de segurança, e que não existe lugar para o surgimento dos outros importância intrínseca do trabalho e 4. aumentar a importância das recompensas
tipos de necessidade; neste 'caso, de acordo com a proposta de Maslow, recebidas pelo trabalho sem sentido ou tornar-se orientado para o consumo.29
não haverá motivação depois de o operário passar a receber um salário Para Argyris, a solução para este problema estaria na modificação das
satisfatório. organizações de forma que permitissem que as pessoas desenvolvessem suas
0 trabalho de Maslow marcou a início de uma nova fase de trabalho para os características de adultos no processo de trabalho.
psicólogos industriais, que deixaram de preocupar-se unicamente com os testes de Para complementar, é importante citar a pequisa de Herzberg.30 Esta pesquisa
seleção e treinamento de pessoal, características da Administração Científica, e levou Herzberg e seus colaboradores à conclusão de que os fatores determinantes
passaram a preocupar-se com as conseqüências do trabalho sobre a personalidade da, satisfação profissional são diferentes dos fatores que levam à insatisfação
das pessoas. As pesquisas de Argyris, denominadas Teoria de Organização e profissional. Assim, numa situação de trabalho, existem fatores que, se presentes,
Personalidade, são as mais representativas desta corrente.28 levam o trabalhador a ficar satisfeito, mas que, se não estiverem presentes, não o
Para Argyris existe uma incongruência básica entre as necessidades dos levam a ficar insatisfeito. Do mesmo modo, existem fatores que, se não estiverem
indivíduos sãos e os requisitos das organizações formais. No sentido de ilustrar o presentes, levam o trabalhador à insatisfação, mas que se estiverem presentes
seu argumento, no Quadro 1. 1 apresenta-se a concepção do autor sobre o que inibem a insatisfação, mas não conduzem à satisfação. Herzberg chamou o
caracteriza a personalidade infantil e o que caracteriza a personalidade dos adultos, primeiro grupo de fatores motivadores e o segundo de fatores de higiene, numa
analogia com medicina preventiva.
Quadro 1.1. Características da personalidade infantil e adulta. Os fatores motivadores são os que propiciam o crescimento psicológico da
pessoa, e são todos eles relacionados à organização do trabalho: realização,
As crianças começam E como adultos procuram
interesse intrínseco pelo trabalho, reconhecimento pela realização,
responsabilidade e promoção. Por sua vez, os fatores higiênicos estão voltados
1.sendo dependentes e relativa independência, auto- para "evitar o sofrimento", e não estão ligados diretamente ao trabalho que a
submissas aos pais (ou nomia, controle relativo ao pessoa desenvolve: política da companhia e práticas administrativas, supervisão,
outros adultos) ambiente próximo relações interpessoais, condições de trabalho e salário.
Desta maneira, a colocação de Herzberg vem corroborar a teoria de Argyris
2. tendo poucas desenvolver muitas habilidades de que o único modo de se terem pessoas satisfeitas no trabalho - o que seria o
habilidades mesmo que pessoas produtivas no trabalho - é estruturando os cargos de maneira
adequada à personalidade das pessoas, adequada aos requisitos de pessoas
3.tendo habilidades desenvolver muitas habilidades maduras. Isto porque, quando se trata de satisfação, as únicas variáveis influentes
pouco desenvolvidas a fundo estão relacionadas, intrineca-mente à situação do trabalho.

4.tendo uma perspectiva desenvolver uma perspectiva de 1 . 3 . 2 . Enriquecimento de cargos


de curto prazo longo prazo
A solução proposta para a questão acima colocada é apresentada num
Fonte: ARGYRIS, C. Ob. cit. p. 142. conjunto de idéias que se convencionou chamar Enriquecimento de Cargos.
"Um modo de se definir Enriquecimento de Cargos é concebê-lo como
A partir deste esquema, Argyris examina as atuais organizações de trabalho uma ampliação do trabalho de tal forma que isto traga maiores oportunidades
para concluir que elas se fundamentam no modelo do homem imaturo, exigindo para que os trabalhadores desenvolvam um trabalho que
comportamentos típicos de personalidade ainda infantis. Conseqüentemente, as
29. ARGYRIS, C. Ob. cit. P. 144.
organizações não podem ser eficientes, pois os indivíduos experimentarão: 1. 30. HERZBERG, F.; MAUSNER, B. & SNYDERMAN, B. The motivation to work. New
frustração; 2. problemas psicológicos; 3. perspectiva de curto prazo e 4. conflito. As York, John Wiley, 1959.
reações esperadas seriam as seguintes : 1. combater a organização, procurando
30 28. ARGYRIS, C. Personality and organization theory revisited. Administrative science quarterly. 31
18:141. jun. 1973.
os levem a atingir as características de personalidade de pessoas madu Robert Ford ressalta, ainda, que a definição do módulo e a delegação do
ras." 31
controle serão fúteis, a menos que os resultados dos esforços dos trabalhadores
Isto poderia ser alcançado através dos seguintes métodos: sejam discerníveis e sejam comunicados diretamente ao lugar onde geram
1. Rotação de Cargos - implica somente o revezamento entre as pessoas
motivação - o próprio empregado. Seria este o processo de feedback.
envolvidas nas tarefas de um processo produtivo; embora cada pessoa
tenha de desenvolver várias tarefas, ela só tem uma tarefa para Como se pode observar, é. difícil generalizar algo mais detalhado que
desenvolver por um considerável espaço de tempo, quando, então, troca isto, pois existem vários condicionantes para a aplicação do método, prin-
de posição. cipalmente as características do próprio trabalhador, variável não consi-
2. Ampliação Horizontal - neste caso, agrupam-se diversas tarefas, de mesma derada na Administração Científica.
natureza num único cargo; por exemplo, em vez de um operário montar
apenas um componente de um produto, ele passaria a montar vários
componentes; com isto se aumentaria o número de habilidades 1.3.3. Análise crítica do Enriquecimento de Cargos
requeridas do operário.
3. Ampliação Vertical é o caso em que se atribuem tarefas de diferentes Observa-se, desse modo, que o esquema de Enriquecimento de Cargos
naturezas para um cargo; por exemplo, um operador de torno seria
também responsabilizado pela inspeção do produto e pela manutenção da se baseia em duas hipóteses sobre o comportamento do homem no trabalho:
máquina; com isto existiria maior autonomia e controle do operador 1. que a produtividade de uma pessoa é tanto maior quanto mais ela
sobre o conteúdo do cargo. estiver satisfeita; e
4. Enriquecimento de Cargos - este é o caso em que a ampliação horizontal e
a ampliação vertical seriam aplicadas a um único cargo; somaria, então, 2. que a satisfação é decorrente de fatores intrínsecos ao trabalho.
os efeitos benéficos das duas. As críticas a essas premissas são muitas e se voltam principalmente para
Comparativamente à proposta da, Administração Científica, a im- a metodologia utilizada na pesquisas em que se chegou a essas hipóteses. A
plantação de um esquema de Enriquecimento de Cargos afigura-se mais questão é que, do mesmo modo que é difícil validá-las cientificamente, também
difícil, à medida que suas hipóteses básicas são menos intuitivas e ainda é difícil negá-las cientificamente, de maneira que a aceitação das hipóteses é
não cientificamente comprovadas. A primeira, em função de suas hipóteses assunto subjetivo, que depende de uma série enorme de condições. Por
lógicas e operacionais, permitiu o desenvolvimento de um grande aparato exemplo, existem restrições sérias quanto à possibilidade de enriquecer cargos,
de técnicas, inclusive quantitativas, que lhe conferem uma auréola de oriundas da própria tecnologia que a empresa utiliza. Emery 33 observa que
legitimidade, além de uma suposta facilidade de aplicação. Mesmo assim, existem sistemas onde as tarefas são por demais, complexas para serem
existem algumas tentativas de se sistematizar a abordagem pelo método de desenvolvidas por uma única pessoa e, assim, qualquer ampliação da tarefa
Enriquecimento de Cargos. A mais interessante foi desenvolvida na A. T. & não vai permitir que um trabalhador tenha o sentimento da realização de
T. e relatada por Robert Ford, 32 que recomenda que o esquema de todo um produto; a única solução seria a formação de grupos.
implantação do Enriquecimento de Cargos se dê através de mudanças em Aliás, esta é outra crítica comum à idéia do enriquecimento: muito
(a) o módulo de trabalho, (b) o controle do módulo e (c) a definição de embora a grande importância do grupo de trabalho no desempenho de um
feedback quando algo for realizado.
Um módulo é um conjunto de tarefas que dão ao empregado "urna área trabalhador já tivesse sido colocada no estudo da Western Electric, um dos
natural de responsabilidade", ou seja, o módulo é definido de maneira a criar precursores do movimento, o Enriquecimento de Cargos continua projetando
(ou recria:) um "produto" para o trabalhador, podendo este produto ser cargos individuais, sequer cogitando a idéia de grupos, mas ressaltando
relacionado: a) a um cliente (alguém fora da empresa), b) a um usuário sempre a preocupação de permitir ao trabalhador "contato com outras pessoas
(alguém dentro da empresa, que vai servir como um cliente) e c) uma tarefa e oportunidades para formar amizades".34
(por exemplo, a produção de itens completos). 0 controle do módulo deve Em suma, o método de Enriquecimento de Cargos deve ser visto como uma
ser gradualmente delegado pelos supervisores para o trabalhador, à medida que espécie de corretivo para as técnicas da Taylorização, inclusive à medida
este ganha experiência, até que passe a controlar o módulo todo. que depende da aplicação deste método para então poder ser
31. ARGYRI'., C. Ob. cit. p. 150.
32. FORD, R. Job enrichement lessons from A. T. & T. Harvard Business Review.. jan./mar. 1973. 33. EMERY, F. E. Characteristics of socio-technical systems. Londres, Tavsitock Ins-titute of
Human Relations. p. 17. (mimeo.)
34. HACKMAN, R. & LAWLER, F. Employee reactions to job characteristics. Journal
of Applied Psichology, 55: 259-86. 1971.

32 33
introduzido; o Enriquecimento pressupõe que exista alguma coisa não en- do Enriquecimento de Cargos. Além disso, sob o prisma individual, requer o
riquecida. A aplicação deste corretivo depende, fundamentalmente, da acei- desenvolvimento de múltiplas habilidades.
tação de suas hipóteses básicas, e o caráter exploratório destas provoca Sob o aspecto técnico, o conceito fundamental é o da auto-regulação.
grande resistência para a introdução do método. ' Isto decorre da preocupação de se evitar a formalização dos cargos, e per-
Esta resistência é, de certo modo, abrandada por uma característica mite que o sistema de produção se caracterize por uma grande dose de
básica do processo de enriquecer cargos: ele não envolve o próprio trabalhador. flexibilidade.
Em outras palavras, o cargo é enriquecido para o operário, sem que, ele Em síntese, no esquema de Grupos Semi-Autônomos, o grupo recebe uma
participe do processo.35 Com isso, a distribuição de poder dentro da empresa tarefa com baixo nível de detalhamento, recebe recursos para executá-la e
sofre modificações de pouca monta. Como bem frisa Jenkins: 36 "0 tem autonomia para se estruturar durante o processo de desenvolvimento
Enriquecimento de Cargos de algum modo satisfaz às necessidades de do trabalho. A idéia implícita é a de que "um grupo, formado pelo menor
autonomia dos indivíduos, mas é uma técnica `segura' - não aborrece número de pessoas, capaz de desempenhar um trabalho completo e satisfazer as
ninguém e `não sacode o barco'." necessidades sociais e psicológicas de seus membros, é o arranjo mais
satisfatório e eficiente, tanto do ponto de vista do desempenho da tarefa
1.4. GRUPOS SEMI-AUTÔNOMOS quanto do ponto de vista daqueles que estão traba
As duas propostas para organização do trabalho já analisadas originam- lhando".37
se de diferentes concepções do sistema produtivo. A Administração Científica, Tal como no caso de Enriquecimento de Cargos, o esquema de G. S.
como já frisado, parte de concepção eminentemente técnica; por outro lado, A. permite a difusão de suas idéias, mas não propõe uma sistemática
o Enriquecimento de Cargos enfatiza o sistema social, praticamente definida para sua implantação, mesmo porque a proposta fundamental é a
desconsiderando as condicionantes técnicas da produção. de que o trabalho deve ser organizado, de acordo com as tarefas a serem
0 esquema de Grupos Semi-Autônomos é fruto da concepção socio- desenvolvidas e com as características das pessoas que delas estarão par-
técnica para a análise das organizações, que coloca que os dois enfoques ticipando.
acima são importantes, e não exclusivos. Sustenta também que o sistema Apenas para fins de ilustração seguem-se as maneiras de organizar os
produtivo só atingirá o seu máximo de produtividade quando se otimizar o grupos:
funcionamento conjunto do sistema técnico e do sistema social.
A idéia de Grupos Semi-Autônomos passou a ser difundida a partir de a ) Grupos em série
diversas experiências acerca de organização de trabalho. A primeira delas
desenvolveu-se nas minas de carvão em Durham, Inglaterra, por volta de 1948, e
as mais recentes e famosas são aquelas que estão sendo desenvolvidas nos
países escandinavos, e mais especificamente as experiências da Volvo e da
Saab.
Um grupo semi-autônomo (GSA) é uma equipe de trabalhadores que b) Grupos em paralelo (cada grupo faz o mesmo produto)
executa, cooperativamente, as tarefas que são designadas ao, grupo, sem que
haja uma predefinição de funções para os membros. As justificativas para este
esquema contemplam tanto o aspecto social como o aspecto técnico do trabalho.
Sob o aspecto social, admite-se que o ponto mais relevante é a coo-
peração requerida entre os elementos constituintes do grupo, ou seja, o
suporte para o inter-relacionamento entre as pessoas são relações de trabalho,
e não relações espontâneas de amizade como colocam os defensores

35. Para Argyris, o processo de Enriquecimento deve ser desenvolvido "por especialistas em diferentes
disciplinas, especialmente Psicologia e Sociologia". Cf. ob. cit. p. 143. 34
36. JENKINS, D. Job Power. Middlesex, Penguin Books, 1973. p. 169.
37. RICE, A. K. Productivity and social organizations. Londres, Tavistock Publications, 1958

34 35
r

Herbst38 "os atuais, sistemas tecnológicos foram projetados especificamente para


permitirem a máxima divisão do trabalho, criando cargos simples e
c) Grupos Independentes (branched groups) (cada grupo faz produtos diferentes) repetitivos, que requerem o mínimo de treinamento e iniciativa do traba-
lhador".
Em, sua pesquisa, Burbidge não observou evidências de que a tecnologia de
produção pudesse impossibilitar a introdução de G. S. A., muito embora, em
algumas fábricas, diminua a possibilidade de formar bons grupos. De
qualquer maneira, "a tecnologia de produção limita as escolhas quanto às
formas de organizar os grupos e influencia a sua organização
interna".39
As maiores dificuldades, porém, originam-se da resistência desenvolvida
pelos outros setores da empresa contra as mudanças que inevitavelmente
acarreta a introdução de um esquema de G. S. A. na estrutura or-
ganizacional. Em primeiro lugar, ocorre uma redução do número de níveis
Cada grupo tem autonomia para se estruturar do modo que quiser, mas hierárquicos, pois a necessidade de coordenação externa diminui. Em se-
três são os padrões mais observados gundo lugar, existe a redução da mão-de-obra indireta, pois as tarefas de
• Cada trabalhador produz produtos completos. planejamento e controle do trabalho são entregues aos próprios elementos do
grupo. Finalmente, "as mudanças no grau de autonomia parecem acarretar
modificações na posição do trabalhador dentro da empresa. Para definir a
natureza desta mudança existe uma única expressão que me parece adequada,
qual seja, a democratização do local de trabalho, (...) a democratização das
relações de trabalho" 40

• O grupo trabalha cooperativamente para produzir o produto completo.

• O grupo trabalha de modo progressivo: cada pessoa desenvolve um estágio

38. HERST, P. G. Socio-technical design. Londres, Tavistock Publications, 1974, p. 6.


39. BURBIDGE, J. L. Final report on a study of the effects of group production me
thods on the humanisation of work. International Centre for Advanced Technical and Vo
cational Training. Turin, 1975. Cap. 8.
40. EMERY, F. E. Technology and social organization. Scientific business, 1. ago. 1963.
Dificuldades para a implantação de um esquema de G. S. A. podem
36 provir da própria tecnologia de produção de empresa. Como bem observa 37

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