Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
I - O paradigma do consenso
Candido A. C. Gomes *
1. Introdução
• •
Fim da
II Guerra Guerra
•
Sputnik
• Progr. Inicio da
Crise Grande crise do
Mundial da Coréia Comunidade dos Sociedade petr61eo
Contexto 1948
•
Econ. Européia
1955
mlsseis
em Cuba
(EUA)
• Estagnaçã'o
li'
hist6rico
Bloqueio
de Berlim •
Pacto 1959
" 1963-8
•4
1965-73 •
econômica e
inflaçA'o
1949
• de
Vars6via
•
Revoluçá'o
Lutas raciais
(EUA)
EUA na Guerra do Vietnã'
1968
Otan
Rep. Pop.
Cubana
•
Manifestações estudantis
da China
• • • • •
•
Davi. &
Parsons
(1959)
Schultz
(1961)
Blau &
Duncan
Collins
(1971)
Bowles &
Gintis
(1967)
Estudos Moore Young (1976)
em
(1945)
• • • (1971 )
lllich
Kerr Clark
Freire
(1969) (1971 ) •
Collins
educaçá'o et alii (1962)
(1960)
•
.. Bourdieu •
(1979)
4
&Passeron Althusler
ci'
~
Predomlnio do Funcionalismo (1970) (1972)
~ .i
1945
I
1950
I
1955 1960
I I
1965
I
1970 1975 1980
"-1
~ * Este quadro, por ter caráter seletivo e ná'o exaustivo, inclui alguns dos mais importantes fatos hist6ricos e obras publicadas. As datas ap6s o nome dos
t.J
autores ná'o são necessariamente correspondentes às primeiras edições. Fontes para o contexto hist6rico: Freernan·Grenville (1978) e Tragge"r (1979).
Do pós-guerra até o início dos anQs 60 se verificam a guerra fria e uma intensa
competição, quando não conflito declarado, entre as superpotências. Dada a ne-
• cessidade de integração interna então gerada, floresceu o paradigma do consenso,
representado sobretudo pelo funcionalismo, em sociologia, e pela teoria do capi-
tal humano, em economia. Basicamente o paradigma do consenso vê a sociedade
como um conjunto de pessoas e grupos unidos por valores comuns, que geram um
consenso espontâneo.
Todavia, a partir dos anos 60, o mundo tem sido marcado pela contestação dos
padrões estabelecidos, lutas internas e crescentes dificuldades econômicas. Por
acréscimo, as reformas educacionais não' atendem às demandas em grande parte
irrealistas do seu contexto social. Com isto, passa a vicejar o paradigma do confli-
to, representado pelo neomarxismo, utopismo e outras correntes. A sociedade
passa a ser vista basicamente como um conjunto de grupos em contínuo conflito,
onde uns estabelecem dominação sobre os outros. Em vez de um consenso espon-
tâneo, obtém-se um consenso imposto. A educação é considerada um instrumento
de dominação e de dissimulação do verdadeiro caráter da dominação. Tal contex-
to, todavia, não determinou a sucessã'o de um paradigma por outro, mas a passa-
gem do domínio quase absoluto do paradigma do consenso para o predomínio do
paradigma do conflito (quadro 2).
Quadro 2
Algumas características diferenciadoras dos paradigmas do consenso e do conflito
Sociologia da educação 5
A resenha e discussio destes paradigmas é extremamente útil para que os estudos
de educaç§o se baseiem em perspectivas teóricas claramente delineadas, o que nem
sempre ocorre. ~ importante, também, para que se forme uma consciência crítica,
capaz de identificar as vantagens e limitações inerentes aos diferentes enfoques
teóricos.
2. O paradigma do consenso
6 Forum2/83
sistemas, seria possível acelerar, mas não queimar etapas. Conforme a colocação
dos evolucionistas, a natureza não dá saltos.
3. O funcionalismo
Parsons considera que as sociedades estão estruturadas com base em quatro sis-
temas: o cultural, o social, o da personalidade e o do organismo, este nos aspectos
que se relacionam ao comportamento (Parsons, 1951). O sistema cultural tem
como unidade básica de análise o significado. A ação humana não é possível sem
sistemas simbólicos relativamente estáveis, ou seja, sem valores compartilhados
que, entre outras coisas, definem o que é bom e mau, certo e errado, inferior e su-
perior, etc. Tais valores são internalizados através da socializaç6o, ou seja, do pro-
cesso pelo qual as pessoas se preparam para exercer papéis na sociedade e se inte-
gram à vida social (cf. Levy, 1965). Desta forma, a socialização - que inclui em
seu bojo a educação formal - é uma poderosa força integrativa da sociedade.
Sociologia da educação 7
o sistema social, por sua vez, inclui uma pluralidade de indivíduos que interagem
entre si. Como tais indivíduos desempenham papéis sociais, eles são chamados
atores. Os atores atuam num "palco", ou seja, num ambiente, que delimita a situa-
ção onde a interação ocorre. A relação dos atores com as situações é definida e
mediatizada pelos símbolos compartilhados do sistema cultural. Os atores são
motivados por uma tendência á otimizar as gratificações que recebem. Por exem-
plo, as pessoas numa festa desempenham papéis sociais, agem de acordo com de-
terminados valores e se comunicam através de símbolos que têm significados co-
muns. O "palco" pode ser um clube. No entanto, o sistema social pode incluir,
como atores, grupos e não só indivíduos, a exemplo dos países membros da Orga-
nização das Nações Unidas.
Estes pares de alternativas são muito importantes inclusive porque ajudam a defi-
nir, nos termos de Parsons, as sociedades como tradicionais e modernas, ao longo
de um continuum. Assim;numa sociedade tradicional as relações sociais tenderiam
a se caracterizar pelo particularismo, qualidade e difusão, ao passo que, numa so-
8 Forum2/83
ciedade moderna, as relações tenderiam a ser baseadas na neutralidade afetiva,
universalismo, desempenho e especificidade. Esta tipologia bipolar se inspira no
trabalho de outros sociólogos, como Tõnnies e Durkheim. O principal objetivo de
tais tipologias foi explicar a RevoluçãO Industrial, iniciada na Europa, ou seja, a
transição das sociedades agrárias para as sociedades industriais. Estas dicotomias
são aplicadas ao estudo das sociedades subdesenvolvidas e desenvolvidas de hoje.
A transformação das primeiras implicaria caminhar do pólo tradicional ao modero
no, ao longo de um continuum. Logo, a mudança tenderia a ser gradual, sem rup-
turas profundas, sendo os indicadores estatísticos considerados bastante apropria-
dos para refleti-Ia.
Sociologia da educação 9
dentro dos sistemllS socials, nlo a transformação destes sistemas. Ademais, Parsons
usa a noção de equilíbrio como um construto teórico, nlo como uma descrição da
realidade empírica (Wallace & Wolf,·1980, p. 43 segs.). Como é comum, muitos
dos seguidores radicalizam as teorias do mestre e levam-nas a sérias desfigurações.
Não há dúvida, porém, de que os mestres têm certa dose de responsabilidade pelas
distorções que ensejam.
10 Forum2/83
Outro trabalho clássico é o de Oavis & Moore (1945). Segundo eles, a estratifica-
ção social é universal porque toda sociedade precisa alocar e motivar os indivíduos
para o desempenho de diferentes papéis - que podem ser mais ou menos essen-
ciais para a sociedade. Portanto, toda sociedade precisa usar recompensas para
obter o preenchimento satisfatório de tais papéis. As recompensas são as coisas
que contribuem para o sustento e o conforto, aquelas que contribuem para o
humor e a diversão, assim como as que contribuem para o auto-respeito e a expan-
são do ego.
Uma das críticas dirigidas à perspectiva funcionalista é que ela legitima a manuten-
ção de desigualdades sociais ao considerá-Ias "necessárias". Esta teoria seria uma
espécie de caso especial de mecanismos de mercado ou sistema de preços segundo
a teoria econômica clássica (Wrong, 1970).
Oavis & Moore tiveram uma longa controvérsia com Tumin (1953; 1963). Uma
das críticas do último foi que o termo "importância funcional" (de um papel) ê
ambíguo e difícil de aplicar. ~ problemático estabelecer se a importância funcional
a curto ou longo prazo determina a estrutura de recompensas. Por exemplo, tra-
balhadores não qualificados de uma oficina são tão importantes quanto engenhei-
ros porque, se os trabalhadores não estiverem presentes, não haverá produção.
Ademais, a desigualdade de acesso a oportunidades para desenvolver e demonstrar
o talento minimiza o potencial de localizar o melhor talento possível para posições
difíceis de uma sociedade estratificada. O acesso à educação, por exemplo, é con-
dicionado pela riqueza da famllia, muito mais que pelo potencial do indivíduo.
Isto não apenas limita a probabilidade de descobrir talento, como também afeta
os componentes motivacionais. Por outro lado, as elites tendem a restringir o
Sociologia da educação 11
acesso a estas posições. Davis & Moore (1953) responderam que o processo geral
de seleção ocorre sempre que uma nação totalitária determina onde seus recursos
financeiros e sociais devem ser utilizados ou quando as organizações decidem que
posições são importantes e quais não são. Davis & Moore afirmaram que Tumin
não considerou a escassez diferencial de pessoal (engenheiros são mais difíceis de
substituir que trabalhadores não qualificados). Davis & Moore argumentaram
também que não importa a maneira pela qual as posições são preenchidas.
Como Wrong (1970) assinalou, os críticos não têm sido bem-sucedidos em contes-
tar o argumento central dos funcionalistas de que recolT'pensas desiguais são fun-
cionalmente necessárias em todas as sociedades cuja divisjo do trabalho se estende
além das diferenças de idade e sexo. A teoria não nega que a distribuição de re-
compensas numa determinada sociedade pode exceder em muito o nível de desi-
gualdades necessárias para manter uma divisão complexa do trabalho. Todavia, a
teoria funcionalista não foi formulada de modo a considerar os elementos de po-
der na estratificação. Ela negligencia o fato de que certas posições, uma vez preen-
chidas, dão aos seus titulares o poder de insistir no pagamento das recompensas e
ainda de exigir recompensas cada vez maiores. Portanto, nunca pode não haver
uma correspondência entre a escala existente de recompensas desiguais e a escala
mínima necessária à manutenção da ordem social.
5. O funcionalismo e a educação
12 Forum 2/83
5. 1 A contribuição de Durkheim
Durkheim (1858 - 1917). um dos pioneiros da sociologia, é o mais importante
precursor do moderno funcionalismo. Positivista, influenciado por Comte, sua
obra contribuiu decisivamente para o moderno funcionalismo através do seu im-
pacto sobre Radclift-Brown e Malinowski.
Como professor e pesquisador, Durkheim viu na educação o meio pelo qual a so-
ciedade se perpetua. A educação, segundo ele, transmite valores morais que in-
tegram a sociedade. Por isto, a mudança educacional é não só um importante re-
flexo das mudanças sociais e culturais, mas também um agente ativo de mudanças
da sociedade envolvente. Deste modo, os educadores, particularmente ao nível do
ensino fundamental, poderiam provocar mudanças em educação e, por conseqüên-
cia, na sociedade (Durkheim, 1961 I. No contexto da França do seu tempo, a
preocupação de Durkheim estava voltada para as transformações provocadas pela
Revolução Industrial, que ele chamou de "desintegração moral". As escolas pode-
riam ter um ativo papel na reorganização da sociedade (Karabel & Halsey, 1978, p.
87; Mercer & Covey, 1980, p. 28 segs.l. Não é de admirar, portanto, que a análise
da educação fosse parte importante de sua teoria geral da sociedade.
Sociologia da educação 13
Esta análise revela o grande valor de uma abordagem precursora do moderno fun-
cionalismo. Durkheim opõe-se à simples descrição da forma manifesta de um fe-
nômeno social. Ele busca a função do fato social, que é encontrada em sua rela-
ção com algum objetivo da sociedade. Além disto, busca inserir o fato social na
estrutura da sociedade (cf. Nisbet, 1974, p. 13 segs.; Wilson, 1961, p. xxv segs.).
Graças a esta abordagem, o autor transcende as análises do seu tempo e revela a
educação no contexto da sociedade.
Outros aspectos aparecem ainda, nos dias de hoje, como limitações à definição
durkheimiana de educação. Primeiro, ela reduz o processo educacional à ação de
uma geração "madura" sobre uma geração "imatura" para a vida social. É extre-
mamente difícil distinguir maturidade e imaturidade quando, ao longo de sua
vida, o indivíduo deve socializar-se para o desempenho de muitos papéis. A educa-
ção, como se sabe, expandiu-se e vai muito além da infância e adolescência.
14 Forum 2/83
soante suas outras obras, Durkheim vê os fatos sociais como coisas - não são
extensões da individualidade, mas são reais e distintos como fatos físicos. Uma
vez que grupos e comunidades são formados, uma vez que costumes, tradições
e códigos passam a influenciar, educar e socializar os indivíduos, surge uma esfera
de dados tão evidente e real como a que se encontra no interior das pessoas. As-
sim, os fatos sociais se caracterizam por serem exteriores ao indivíduo e coerciti-
vos. Isto quer dizer que o fato social se impõe ao indivíduo de fora para dentro,
gera sanções e muitas vezes preexiste ao indivíduo. ~ o que ocorre, por exemplo,
com o uso de determinadas roupas em nossa sociedade. O indivíduo já encontra as
normas estabelecidas quando nasce. Tais normas se lhe impõem e, quando o indi-
víduo busca desviar-se das mesmas, enfrenta a punição da sociedade sob formas
variadas, desde o desprezo e a exclusão do grupo, se não usa as roupas compatíveis
com os seus status, até o processo criminal se o seu comportamento não é ade-
quado às regras de moralidade (Durkheim, 1963, p. 1 segs.; Nisbet, 1974, p. 13
segs.l.
Esta caracterização do fato social foi de certa forma útil para caracterizar o objeto
da sociologia em tempos pioneiros. A forma pela qual Durkheim vê a educação é
também útil no sentido de desvelar a sua coercitividade e exterioridade. Porém, a
ênfase a estes aspectos da realidade social não pode esconder ou obscurecer o
papel do indivíduo e sua vontade, que também têm existência concreta. Concep-
ções pedagógicas que consideram o educando um elemento passivo falham exata-
mente porque a atividade dos educandos faz com que o processo educacional e
seus resultados se desviem do que tais concepções pedagógicas, baseadas em falsos
pressupostos, esperam.
Críticos afirmam que Durkheim fez uma confusão entre o fato social da solidarie-
dade e o princípio da obrigação moral e entre a coerção social e as normas morais
(Lukes, 1972, p. 500 segs.l. Assim, Durkheim, que é tão cuidadoso em analisar a
Sociologia da educação 15
educação ontologicamente, como cientista, ao abordar a educação moral não dei-
xa clara a fronteira entre o ontológico e o deontológico, ou seja, entre o que ela é
e o que deve ser. Ademais, ao situar a educação como a forma pela qual a coerção
social se exerce sobre as novas gerações e legitimando a priori esta coerção como
positiva, Durkheim não coloca em questão as finalidades e métodos da coerção
social. O poder do professor, exercido em nome da sociedade, é consagrado como
um poder racional, porque representa a Razão encarnada pela sociedade (Lourau,
1971, p. 183 segs.). Com efeito, ao situar sua sociologia no paradigma do consen-
so, Durkheim viu unidade onde existe diversidade. A sociedade mais parece um
bloco indiferenciado, um mar calmo e liso. No entanto, diversos valores e normas
sociais, freqüentemente opostos, possuem graus e formas diferentes de legitimida-
de. A autoridade do professor é, na verdade, questionada com base em variados va-
lores. E pouco consenso existe quanto aos fins da educação, quer entre prófissio-
nais, quer entre leigos. Assim, Durkheim, embora tenha revelado aspectos impOr-
tantes, supersimplificou a realidade.
16 Forum2/83
Como podemos observar, a obra de Durkheim não tem para a atualidade simples
valor histórico, como importante ponto de partida para o estudo sociológico da
educação. Embora limitada por uma série de razões, algumas das quais vimos aci-
ma, ela continua sendo importante fonte de inspiração para o funcionalismo. Mais
do que isto, porém, a obra de Durkheim possui tâ"o amplo escopo que autores de
tendência diversa nela têm encontrado inspiração. Bourdieu, em seus estudos que
abordam as relações entre educação e estrutura social, tem se inspirado em Durk-
heim. O mesmo ocorre com Bernstein e seus trabalhos sobre a cultura da escola
e códigos lingüísticos (d. Swartz, 1977). Isto ocorre em parte porque Durkheim,
considerando o fato social como externo e coercitivo e, ainda, analisando histori-
camente as relações entre educação e sociedade, abriu caminho para uma sociolo-
gia do conflito em educação.
Nos últimos 50 anos o funcionalismo tem tido uma grande influência no mundo
ocidental. Só nos anos 60 e 70 o paradigma do conflito passou a disputar o campo
com o funcionalismo. Influência tâ"o longa e profunda foi favorecida pelo contexto
histórico após a II Guerra Mundial. Como frisamos antes, a guerra fria entre os
EUA e a URSS tornou a educação um recurso para a competiçio tecnológica, eco-
nômica e militar. O funcionalismo encara a educaçlo como um processo pelo qual
as pessoas adquirem conhecimentos e se engajam numa ordem de valores sociais.
Além disso a educação é vista como um processo de seleçâ'o de talentos. Desta for-
ma, o funcionalismo, com sua ênfase à integração, era muito atrativo naquele con-
texto histórico.
Sociologia da educação 17
mesmos. Os países subdesenvolvidos deveriam considerar seriamente as suas
deficiências de capital humano como obstáculos ao uso de tecnologias modernas e
à industrialização.
18 Forum 2/83
A perspectiva da modernização considera que mudanças progressivas através deste
continuum levam o Terceiro Mundo à modernidade. O subdesenvolvimento é
conseqüência de valores, instituições e padrões de ação da sociedade tradicional.
Assim, a modernização é baseada mais na transformação dos indivíduos através de
sua assimilação de valores modernos. A modernização das elites através da adoção
do modelo das sociedades industriais do Ocidente é crucial para o desenvolvimen-
to (Valenzuela & Valenzuela, 1978). Naturalmente a educação é considerada um
meio de promover a modernização, seja através da abordagem psicológjca, seja
através da abordagem sociológica. A educação não só muda valores e atitudes,
como é também um canal para a transformação da tecnologia e da ciência ..
Sociologia da educação 19
Para Kerr e seus colaboradores (1960) existe uma "lógica da industrializaçfo", o
que significa que este processa tem características comuns no mundo inteiro.
Portanto, a força de trabalho e a educação sofrem mudanças similares como con-
seqüência de um processo comum. As elites têm o papel crucial de conduzir o
processo, de tal modo que a industrialização adquire características diversas con-
forme a elite que a lidera.
O estudo mais importante que apóia o, funcionalismo nesta área é o de Blau &
Duncan (1967). Os resultados indicam que, embora a educação seja fortemente
afetada pelo background familiar, a carreira profissional depende basicamente da
educação e da experiência. Conforme a imagem da sociedade meritocrática, as
origens sociais apenas indiretamente afetam a carreira.
Ne: entanto, críticos apontam ~ue a pesquisa não encontrou, ao comparar as di-
ferentes coortes de idade, uma correlação decrescente entre status ocupacional
de pais e filhos e uma correlação crescente entre educação dos filhos
e status de sua primeira ocupação (Karabel & Halsey, 1978). Se houvesse crescente
20 Forum 2/83
dependência do mérito para a alocaçfo dos indivíduos aos papéis profissionais,
enoontrar-se-iam tais resultados. Por sua vez, Hurn (1978, p. 91-2) também nã'o
achou a esperada relaçfo entre populaçfo matriculada nas escolas e mobilidade
social. Por outro lado, Folger & Nam (1964) observaram uma associaçfo decres-
cente entre educação e ocupação no período de 1940 a 1960. A elevaçã"o do nível
educacional da força masculina de trabalho se deveu mais ao aumento da escolari-
dade dos trabalhadores de determinadas ocupações do que ao aumento do número
de empregos que exigissem mais educação. O próprio Collins (1971) concluiu que
a educaçfo nlo leva necessariamente ao aumento de produtividade e tem sido uti-
lizada como meio de seleçã"o não de competências, mas de certas características
sociais dos trabalhadores (grupo étnico, status sócio-econômico, trato social, ati-
tudes frente ao trabalho, etc.). O apoio à tese da construção progressiva de socie-
dades baseadas no mérito tem, portanto, apoio precário.
7. Conclusões
Fica claro, pelo exposto, que são igualmente arriscadas quer a aceitação, quer a re-
jeiçfo completa do paradigma do consenso, particularmente o funcionalismo:
Entre suas vantagens, o funcionalismo oferece uma visA'o integrada da sociedade,
onde as partes se relacionam com o todo; a idéia de causaçã"o múltipla e recíproca
e o reconhecimento do consenso como uma base importante de integraçã"o: No
entanto, o modelo tem sérios limites, especialmente na explicaçã"o da mudança so--
. cial de mais profundidade.
Sociologia da educação 21
· Referências bibliográficas *
Althusser, Louis. Ideology and ideological state apparatuses. In: Cosin, B. R., ed.
Education: structure and society. Middlesex, Penguin Books/The Open University
Press, 1972. p. 242-80.
Becker, Gary S. Human capital; a theoretical and empirical analysis, with special
reference to education. 2. ed. New York, Columbia University Press, 1975.
Blau, Peter M. & Duncan, Otis D. The American occupational structure. New
York, Wiley, 1967.
* Nota do Autor - Bourdieu (19.701, Bowles (19761, Davis & Moore (19451, Durkheim
(1961a; 1961bl, Freire (19691, 1I'lich (19711, Karabel & Halsey (19781, Paulston (19771
e Roches (19681 são considerados parte de uma bibliografia básica, destinada ao leitor Que de-
seje aprofundar-se na área.
22 Forum 2/83
Davis, Kingsley & Moore, Wilbert E. Some principies of stratification. American
Sociological Review, 10(2) : 242-9, Apr. 1945. Trad. bras. Velho, Otávio G. C.;
Palmeira, Moacir G. S. e Bertelli, Antônio R., Estrutura de classes e estratificação
social. Rio de Janeiro, Zahar, 1966.
Denison, Edward. F. The sources of economic growth in the United States and the
alternatives before uso New York, Committee for Economic Development, 1962.
Folger, John K. & Nam, Charles B. Trends in education in relation to the occupa-
tional structure. Sociology of Education, 38 : 19-33, Autumn 1964.
Freire, Paulo. Educação como prática de liberdade. Rio de Janeiro, Paz e Terra,
1969.
Hurn, Christopher. The /imits and possibi/ities of schoo/ing. Boston, Allyn &
Bacon, 1978.
Socie/ogia da educação 23
lllich, Ivan. Deschoo/ing society. New York, Harper & Row, 1971. Trad. bras,
Petrópolis, Vozes, 1973.
Kerr, Clark et alii. Industrialism and industrial man; the problems of labor and
management in economic growth. New York, Oxford University Press, 1960.
Trad. Bras. Rio de Janeiro, Fundo de Cultura, 1963.
Levy Jr., Marion J. Socialização. In: Cardoso, Fernando Henrique & lanni, Octa-
vio. Homem e sociedade; leituras básicas de sociologia geral. 2. ed. São Paulo, Na-
cional, 1965. p. 60-2.
Lukes, Steven. ~mile Durkheim: his life and work. New York, Harper & Row,
1972.
Nisbet, Robert. The sociology of ~mile Durkheim. New York, Oxford University
Press, 1974.
- - - - . The social system. New York, The Free Press of Glencoe, 1951.
Pereira, Luiz & Foracchi, Marialice M. A educaçâ'o como processo social: introdu-
çâ"o. In: , ed. Educação e sociedade; leituras de sociologia da educaçâ'o.
São Paulo, Nacional, 1974. p. 110-1.
24 Forum2/83
Rocher, Guy. Intriduction à la saciologie générale. Paris, Points, 1968. v. 2.
Schultz, Theodore W. Investment in human capital. In: Karabel, Jerome & Halsey,
A. H., ed. Power and ideology in education. New York, Oxford University Press,
1978. p. 313-25.
Trager, James, ed. The peop/e's chron%gy. New York, Holt, Rinehart & Winston,
1979.
Van den Berghe, Pierre C. Dialectic and functionalism: toward a theoretical syn-
thesis. American Soci%gica/ Review, 28(5) : 605-15, Oct. 1963.
Young. Michael F. D., ed. Knowledge and contraI; new directions for the sociolo-
gv of education. London, Collier, 1971.
SociolOgia'da educação 25