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Aos membros da subcoordenação de missa, colação e fogos,

Como motivação, relato aqui a história dos meus pais e penso que por meio
dela será possível avaliar se eles têm a capacidade de representar todos os pais (ou
responsáveis) dos formandos de janeiro de 2019.

Senhor Eustáquio e Dona Tita (na foto acima) nasceram na zona rural de
Bateias, município de Santa Bárbara – MG, nos anos de 1949 e 1955,
respectivamente. Os meus avós paternos tiveram 14 filhos e os maternos 13. A
infância e a adolescência foram complicadas pois tiveram que começar a trabalhar
muito cedo. Meu pai relata que aos 6 anos ele já ia para a roça com o meu avô a fim
de ajudá-lo nos processos de aragem da terra e nos plantios de milho, feijão, arroz e
cana. Naquela época (anos 50 e 60) não havia a dinâmica comercial de hoje e quem
morava no campo só consumia o que plantava. Com a minha mãe não foi diferente:
começou a cozinhar com apenas 7 anos de idade.

A rotina pesada de trabalho dificultou muito o avanço dos estudos. Além dessa
rotina, os dois contam que o ambiente escolar era muito complicado, visto que na zona
rural não havia prédio escolar e a única professora enviada pela prefeitura lecionava
em um paiol (isso mesmo, os alunos assistiam as aulas junto às espigas de milho!).
Como se não bastasse, os estudantes sofriam com os excessos de autoridade do
professor. Era a época do uso da palmatória, de socos e tapas. Minha mãe conta que
ficava paralisada durante as aulas pois a mínima desconfiança do mestre já era motivo
para atos de ignorância. Ela ainda relata uma agressão que sofreu, a qual se deu por
causa de um mosquito que a incomodava e a tentativa de retirá-lo causou a ela rasgo
em sua orelha pois a professora a puniu, arrancando o brinco que usava. Ao retornar
da escola, eles tinham que obedecer aos pais rigorosos, que, segundo eles, “achavam
que as tarefas escolares de casa deveriam ser feitas na escola”. Assim era um beco
sem saída: ou eram punidos pelos pais se fizessem as tarefas de casa em casa ou
eram agredidos pela professora se chegassem à escola sem a tarefa cumprida. Como
resultado de toda essa dificuldade, meu pai estudou apenas até a terceira série do
ensino fundamental e minha mãe até a quarta série. Mas eles sempre tiveram em
mente que para ir mais longe era necessário estudar.

Já na adolescência, minha mãe conhece o meu pai ainda muito jovem: ela
com 13 anos e ele com 19. O interessante é que, para a minha mãe, meu pai foi o seu
único homem e, para o meu pai, ela foi a sua única mulher. Depois de 7 anos de
namoro, eles se casaram em 1976 e foram morar em uma antiga fazenda que era do
meu bisavô. Foram cinco anos de muita luta. Meu pai trabalha nas carvoarias da
região, transportando lenha com tropas de burro e minha mãe cuida da casa,
cozinhando, lavando e passando a roupa de mais de 15 tropeiros que trabalhavam
com meu pai e que também moravam na fazenda. Às vezes ela ficava muitos dias
sozinha quando meu pai ia trabalhar em lugares mais longes e ficava nos ranchos de
pau a pique. Depois de muito suor, eles conseguiram construir uma casa, também na
zona rural e lá educaram os 5 filhos.

A energia elétrica só chegou em 1985, com meus três irmãos mais velhos já
nascidos. A luz de lamparina iluminava então as noites antes da chegada da
eletricidade. Dos anos 1960 para os anos 1980 as condições de vida na zona rural
mudaram muito pouco e as consequências disso refletiram nos anos de escola dos
meus dois irmãos mais velhos: atravessando diariamente um rio a pé e
impossibilitados de ir à aula nos períodos chuvosos, terminaram apenas a quinta série
do ensino fundamental.

A minha terceira irmã ainda superou uma dura rotina e conseguiu


milagrosamente completar o ensino médio. Eu também vivi essa rotina. Depois do
ensino fundamental 1, era necessário ir para as escolas do centro urbano. O detalhe
é que a cidade mais próxima de onde eu morava ficava a 25km e o ponto do ônibus
escolar era distante 3km da minha casa. Em um dia normal, sem chuva, levantávamos
4h com o café da minha mãe e às 5h30 chegávamos ao ponto do ônibus na companhia
dos cachorros dentro de uma escuridão total. Nos meses com horário de verão a
situação piorava. Mas nada se comparava à rotina nos períodos chuvosos. Meu pai
nos ajudava na travessia da pinguela (uma passarela de tábuas e cabo de aço) que
ficava escorregadia e depois de muitos atoleiros, chegávamos ao ponto de parada do
ônibus. Entretanto após umas 2h esperando, vinha a notícia de que o veículo estava
atolado na estrada e só ia sair com a ajuda de um trator. Eram dias e dias sem ir à
escola. A nossa técnica para não ficar no prejuízo, era garantir boas notas nos
períodos de seca a fim de cobrir as perdas no fim do ano. Essa rotina se repetiu ao
longo de 8 anos.

Durante mais de 20 anos, a fonte de renda dos meus pais foi as carvoarias,
um ambiente com condições terríveis de trabalho. Já no final dos anos 1990, meu pai
começou a trabalhar com o leite. Com um lucro muito baixo, vivíamos com as contas
limitadas, o que impossibilitava qualquer perspectiva de ajuda financeira nos meus
estudos superiores. Então em 2008, com a ajuda dos meus padrinhos, plantamos 2mil
pés de eucalipto visando a faculdade que viria 5 anos depois. Meus pais cuidaram
desse eucalipto quase como filhos e no final colhemos todos os anos de trabalho.

Em 2013, consegui então ser aprovado no vestibular na UFV e foi uma


extraordinária alegria para todos. Eles pararam de vender o leite e começaram a
fabricar queijos a fim de me ajudar nos estudos, mesmo sendo muito mais trabalhoso,
eles já com idade avançada e com o auxílio da aposentadoria como trabalhadores
rurais. Para completar e renda, minha mãe começou a vender hortaliças e frangos
caipiras. Dois anos depois, meu irmão mais novo também veio para a universidade.

Além de me ajudar financeiramente, minha mãe é o meu maior suporte


psicológico. Sempre nos meus momentos de dificuldade aqui na UFV, ela não hesita
em colocar os joelhos no chão e rezar por mim. Eu só os vejo a cada final de semestre,
ou seja, duas vezes por ano, visto que a passagem de ônibus é muito cara daqui de
Viçosa até minha cidade.

Em 2016 consegui uma bolsa de estudos na França, algo que seria


inimaginável para os meus pais há alguns anos. Janeiro de 2019 será a nossa grande
vitória e vou ser o primeiro da minha família a conseguir o diploma superior. O meu
pai e a minha mãe têm uma participação imensa nessa conquista, que é um troféu por
todas as dificuldades que eles venceram durante as suas vidas no campo.

Essa é a história. Os nossos pais e responsáveis são parte fundamental da


nossa vitória. Espero que a história dos meus pais possa sintetizar e representar a
essência dessa importância.
Grato pela atenção,

Ítallo Sávio de Melo – 78372 – CCE.

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