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Revista
cultura informacional
QUESTIONAR
Uma abordagem factual e contemporânea
Um país diferente
Para aprender a lidar com as diferenças!
40
Edição
Ano 5, nº 01
Janeiro 2015
ISSN 2238–3336
Realização:
Revista Biblioo - Janeiro 2015, Ano 5, Nº 01 | 1
www.biblioo.info
2 | Revista Biblioo - Janeiro 2015, Ano 5, Nº 01
Fala, editor! Sumário
Impostos, taxas e juros
Pague e economize água! 5 | Um país diferente
No primeiro mês do ano chegam as cobranças dos impos-
Para aprender a lidar com as diferen-
tos e taxas que, muitas vezes, pagamos e não temos muito ças!
retorno. A preocupação em pagar as cobranças como IPTU,
o IPVA, o Registro Profissional, entre outros, entram nas
despesas e prioridades iniciais do orçamento anual.
8 | A inclusão de pessoas com defi-
Janeiro é o mês que procuramos organizar as dívidas do ciência
ano anterior e planejar o orçamento para o decorrer do
ano. No Rio de Janeiro – cidade dos megaeventos esporti-
A constituição de culturas, políticas e
vos – as autoridades parecem não ter organizado as finan- práticas inclusivas nos espaços educa-
ças, e, como se sabe, em período de recessão econômica, a
“corda sempre arrebenta no lado do mais fraco”. cionais
O Museu Nacional, administrado pela UFRJ, ficou onze dias
de portas fechadas devido à falta de pagamento para os 13 | Infomaré
funcionários da limpeza. Na UERJ, a situação também não
é diferente, além de atrasos de salários dos funcionários
Poesia
da limpeza e dos ascensoristas de elevador, o pagamento
das bolsas de estágios para alunos da graduação também 14 | Os novos ministros de Dilma
atrasaram.
Além dessas questões econômicas, iniciamos o ano de
O paradoxo da esquizofrenia política
2015 preocupados não somente com as contas e dívidas, em nome da governabilidade?
mas também com a necessidade de economizar o uso da
água devido à escassez de chuva e do descaso do poder
público. A seca deixou de ser um problema de “exclusivida-
18 | Livro e leitura
de” de região Nordeste e virou uma realidade no Sudeste. Um comparativo entre o Brasil e a Ar-
Apesar de toda essa recessão, a Revista Biblioo não vai eco-
nomizar em novidades na edição 40, dentre os destaques
gentina
temos “O país diferente” de Edilmar Alcantara e “Livro e lei-
tura: um comparativo entre Brasil e Argentina” por Lucia- 21 | Questionar
na Rodrigues. Acesse a nossa página e confira as atrações
dessa edição.
Uma abordagem factual e contempo-
Desejamos a todos uma boa leitura! rânea
Rodolfo Targino
Editor Adjunto
targino@biblioo.info
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Magalhães - bibliotecária e pesquisadora. CHARGISTA: Lazaro licença idêntica a esta.
Penha.
N
a edição 38, trouxe a você um texto por assinatura Globo News, sem contar a tendenciosa
em que abordei a questão da diferença revista Veja), era um discurso de ódio, desprezo e su-
que incomoda. Nesse texto, falei di- perioridade (da parte dos que acusavam).
retamente da população LGBT (Lés- Numa rápida pesquisa no site do Superior Tribu-
bicas, Gays, Bissexuais, Travestis, nal Eleitoral (sobre os números do segundo turno das
Transgênicos...), e da luta que encampam para ter os eleições presidenciais), coletei os seguintes dados: na
seus direitos básicos, que são os mesmos de qualquer região Sul, o candidato à presidência, Aécio Neves,
cidadão, respeitados. Nesta edição, eu vou continuar obteve 58,91% dos votos válidos, contra 41,09% da
falando sobre diferença entre as pessoas (algo ine- candidata Dilma Rousseff. Na Região Sudeste, o can-
rente ao ser humano), pois bem sabemos que não há didato do PSDB também foi o preferido dos eleitores
ninguém igual a ninguém, no mundo constituído por e das eleitoras, conquistando 56,19% dos votos váli-
cerca de 6,5 bilhões de pessoas. dos, contra 43,81% da candidata do PT.
Nas últimas semanas ocorreu uma onda de protes- Já no Nordeste, a preferência disparada foi pela
tos e discursos inflamados, tendo como mote o se- candidata, que conquistou 71,62% dos votos válidos,
gundo turno das eleições presidências. Basicamente, contra 28,32% que foram para o candidato. Os núme-
algumas pessoas da região Sul e Sudeste acusavam ros ainda seguem nas regiões Norte e Centro-Oeste,
os nordestinos de reelegerem a então candidata, Dil- onde o candidato do PSDB obteve 43,47% e 57,43%
ma Rousseff. Se a discussão ficasse apenas no campo dos votos válidos, respectivamente, contra 56,53% e
das ideologias políticas, acredito que seria (digamos) 42,57% na mesma ordem, da candidata reeleita. Fa-
até interessante para o debate e, por consequência, a zendo uma análise simples, em que qualquer pessoa,
troca de informação; todavia, o que se via nas redes sem muitos conhecimentos em estatística, pode se
sociais (principalmente), mas não só nelas, também aventurar, pode-se constatar que os votos que o can-
em veículos de comunicação oficial (como o canal didato do PSDB recebeu nas Regiões Sul e Sudeste,
Do pairar no ar
Sem saber qual usar
Há um mar,
Mas não é o mar de nadar.
O mar me afoga.
Devora-me, te devora.
Quem será o herói
Para salvar?
O bibliotecário cá está,
Representando a informação
Para tentar melhorar
Na busca da informação que me quer afogar.
O
Foto: Lula Marques / Fotos Públicas
Brasil vive um tempo de difíceis distin- corrupção como se este fosse um fenômeno recente.
ções no desiderato da prática política. Em ambos os casos, há uma deformação inter-
Difíceis em virtude da conduta calcada pretativa e apropriativa de discursos, uma vez que
em adequações ideológicas líquidas, Dilma, ao vencer as eleições, convocou uma equipe
conforme perspectivas de manutenção econômica tão conservadora quanto aquela proposta
ou tomada de poder. Distinções em face da dificul- pelo candidato da oposição PSDBista, enquanto Aé-
dade de diferir o projeto promovido na díade política cio, denunciado por diversas práticas de corrupção
esquerda-direita. Em ambos os casos, a tônica está como Governador de Minas Gerais, como desvio de
vinculada a um utilitarismo político em que é ponde- dinheiro da saúde, resistência para pagar o teto míni-
rado o resultado (finalidade) independente dos meios mo do salário de professores da rede estadual, além
utilizados (procedimentos). da construção de um aeroporto em terreno familiar no
O utilitarismo político foi eminentemente contem- município de Cláudio (MG), entre outras denúncias.
plado na campanha presidencial de 2014 quando vi- Por isso, quando defino o título do texto como “o
venciamos um período difamatório em detrimento de paradoxo da esquizofrenia política” faço pelo fato
projetos efetivos para o desenvolvimento do Brasil. de que a esquizofrenia se constitui como transtorno
Pelo lado do PT (e aliados), a lógica estratégica foi mental que interfere negativamente na distinção entre
acusar os adversários de produzir uma equipe econô- experiências reais (factual) e experiências imaginá-
mica conservadora atrelada aos banqueiros, enquanto rias, deformando a estrutura lógica do pensamento,
do lado do PSDB (e aliados) foi acusar processos de das ideias e das ações.
A
leitura é à base da educação de qual- conhecimento, sejam elas políticas voltadas para ar-
quer sociedade ou deveria ser, porque, quivos, bibliotecas, leitura, livros etc., principalmen-
só através dela, poderemos ter uma so- te em países que estão em desvantagem competitiva
ciedade mais informada e mais igualitá- tecno-informacional. A UNESCO vem promovendo
ria. A importância do livro e da leitura políticas nacionais do livro, através do seu Manifesto
é aceita pela grande maioria, mesmo que não seja um sobre Bibliotecas Públicas.
hábito da sociedade e nem que haja um incentivo por Como existe a velha rixa no futebol sulamericano,
parte dos governos. Segundo o educador Paulo Frei- escolhi Argentina e Brasil, para fazer uma compara-
re, “a leitura do mundo precede sempre a leitura da ção acerca das leis do livro e leitura entre ambos. A
palavra e a leitura desta implica a continuidade da lei- escolha se deu, pois os nossos vizinhos possuem re-
tura daquele”. O ato de saber ler e compreender atra- nomados escritores, como Jorge Luis Borges (1899-
vés das suas experiências o que está lendo, diminui 1986), e que tem destaque no estudo da área de Bi-
progressivamente as desigualdades sociais. A leitura blioteconomia.
é o acesso ao conhecimento. Apesar dos dois países pertencerem e serem os
O homem, ao compreender-se no mundo, passa a maiores da América do Sul, eles apresentam muitas
se enxergar e enxergar o seu redor de um modo dife- diferenças quanto à questão cultural e populacional,
rente, tornando-se um verdadeiro cidadão, pensante mas também possui algumas semelhanças quanto a
e crítico. Por isso a importância de políticas públicas dados estatísticos referentes à educação que merecem
na educação e na cultura que visem à informação, ao destaque antes da comparação das leis.
Em 2009, houve uma avaliação quanto à leitura de (2005), realizada em 30 países. Em 2000, outra
aplicada para alunos com 15 anos de idade através pesquisa mostrou que o brasileiro lê em média um
do Programa Internacional de Avaliação de Alunos livro por ano, já os argentinos uma média de cinco
(PISA) elaborado pela Organização para Cooperação livros, segundo a Associação Internacional de Leitu-
e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A escala ra Conselho Brasil Sul. É por essa falta de hábito de
chega a 800 e participaram 65 países. A média obtida leitura dos brasileiros que há o mito “Buenos Aires,
pela Argentina foi de 396 e o Brasil de 401. sozinha, tem mais livrarias que o Brasil inteiro”. Se-
Ainda sobre o PISA 2009 - Brasil, quando o as- gundo o senador Cristóvão Buarque, o país possui
sunto é a leitura, 49,6% dos brasileiros ficaram clas- apenas uma biblioteca pública para cada 33 mil bra-
sificados no nível 1, isso quer dizer, o aluno apenas sileiros, enquanto a Argentina tem uma para cada 17
identifica o tema do texto ou estabelece conexões mil habitantes.
com temas do dia a dia; sendo que o número máximo Ao comparar as leis do livro em ambos os países
de níveis é 6. Isso compromete toda a formação des- - lei brasileira (Lei nº10.753) e a lei argentina (Ley
te aluno que já na fase da adolescência pode apenas nº 25.446) - podemos observar que ambas entraram
identificar o tema do texto, não sendo capaz de ava- em vigor na década de 2000. A Portaria Interministe-
liar, criticar ou fazer hipóteses sobre o conteúdo, que rial MEC/MinC nº 1.442 (2006) e Proyecto de ley, nº
corresponde ao nível 5. 1678-d-2008, de criação do Instituto Nacional do Li-
Apesar de o Brasil ter ficado a frente da Argenti- vro também são bem recentes. O que demonstrou que
na no último PISA, os brasileiros lêem menos, apro- a preocupação com o livro e a leitura, pelos governos
ximadamente 5,2 horas de leitura, o que colocou o latino-americanos, destes dois países é algo relativa-
país em 27ª posição e a Argentina na 18ª posição, mente novo.
segundo a pesquisa da NOP World Reports Worldwi-
A
utilização de argumentos para defender praticável, impossível. Há uma enorme importância
uma hipótese: uma bela arte, haja visto no estudo filosófico- principalmente no ramo da edu-
que com argumentos convincentes há cação- que carece de boas atuações. Tal problema,
a possibilidade de conquistar valores, portanto, poderia ser atenuado com medidas simples
basta que os mesmos sejam direciona- na educação de base, sendo de importância vital para
dos para determinada função. Os usos dos critérios desenvolver o senso crítico dos alunos.
são, por sobremaneira, fundamentais para pôr obje- A ruptura de valores com o objetivo de abraçar
tividade nas atividades, seja ela qual for. A palavra o novo é uma árdua tarefa para o homem moderno.
“critério”, na sua raiz de origem, fora uma palavra Em diferentes contextos, esses ideais foram fortaleci-
da agricultura, com um significado próximo a sepa- dos pela sutil atuação do tempo histórico. Esse fato,
rar o joio do trigo, por exemplo. Essa necessidade do aliado às questões culturais, dá sentido aos discursos
uso de critérios para estabelecer conexões e, portanto, conservadores, vistos num crescimento quase que ex-
atribuir sentido no direcionamento de determinada ponencial, principalmente pelo crescimento ao acesso
questão é de extrema importância – sobretudo numa dos cidadãos conectados à rede. Alguns destes cida-
sociedade cada vez mais dinâmica- no que diz res- dãos serão aqueles que vão utilizar-se de argumentos
peito ao conhecimento, é claro. A propósito, vale res- que comprovam a imposição de determinadas con-
saltar, sobre isso, a velocidade com a qual as coisas figurações, a fim de adquirir bem estar social e ser
mudam na contemporaneidade, seja sobre questões aceito em algum grupo ou valor. Isso é, inclusive, um
de caráter social, econômico, político etc. agravante para o problema de reflexão sobre infor-
A existência de uma variabilidade e, por conse- mações e valores recebidos através das mídias, neste
guinte, diversificação em quase tudo, nos coloca caso, num contexto geral. A monotonia também influi
numa situação interessante: quais são os limites e a de uma maneira bastante contundente nessa “estáti-
serem vencidos? Como direcionar e dar critérios a ca” vida moderna. Todos esses valores, aliados- às
eles? Ainda é possível selecionar bons ideais a fim vezes- a uma gestão pública corrompida, imunda,
de conseguir bons objetivos? Questões como essa acaba idiotizando a sociedade, não no senso comum.
nos cercam diariamente. Felizmente, ou não, há uma A palavra “idiota” significa “aquele que mantém a sua
área do conhecimento que traduz (ou tenta) de uma vida individualizada, não pública”. Portanto, se ouvir
forma abrangente, esses paradigmas: a filosofia. Be- frases como: “política é coisa pra idiotas”, “minha
líssima! Outrora criticada, a filosofia nasce com o de- política é só minha”, estas estão, certamente, configu-
bruçar do homem sobre os conhecimentos. Os valores radas erroneamente.
conquistados e atribuídos a ela, fez nascer à ciência. Por fim, o homem pode abjugar-se de todas essas
A filosofia, antagônica ao senso comum, que acredi- garras de valores supérfluos que o cerca diariamente.
ta na filosofia como ciência, não pode ser dita como Basta refletir- flexionar sobre si, pensar, educar, ser
tal; uma vez que a filosofia não pode ser comprovada social e, portanto, não idiota, cidadão, ter critérios!
(no sentido de haver experimentações pragmáticas na Esse ideal é, sem sombra de dúvidas, um bom come-
essência filosófica) sendo, essencialmente, teórica, ço para desenvolver uma nação. Mentira, meu caro!
sobretudo pelas análises críticas acerca das questões O primeiro passo é, sem dúvidas, (ou com as suas
envoltas ao homem. Contudo, a filosofia não é im- dúvidas) questionar. ✪