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Rb biblioo

Revista
cultura informacional

A inclusão de pessoas com deficiência


A constituição de culturas, políticas e
práticas inclusivas nos espaços educacionais

QUESTIONAR
Uma abordagem factual e contemporânea

Um país diferente
Para aprender a lidar com as diferenças!

40
Edição

Ano 5, nº 01
Janeiro 2015
ISSN 2238–3336
Realização:
Revista Biblioo - Janeiro 2015, Ano 5, Nº 01 | 1
www.biblioo.info
2 | Revista Biblioo - Janeiro 2015, Ano 5, Nº 01
Fala, editor! Sumário
Impostos, taxas e juros
Pague e economize água! 5 | Um país diferente
No primeiro mês do ano chegam as cobranças dos impos-
Para aprender a lidar com as diferen-
tos e taxas que, muitas vezes, pagamos e não temos muito ças!
retorno. A preocupação em pagar as cobranças como IPTU,
o IPVA, o Registro Profissional, entre outros, entram nas
despesas e prioridades iniciais do orçamento anual.
8 | A inclusão de pessoas com defi-
Janeiro é o mês que procuramos organizar as dívidas do ciência
ano anterior e planejar o orçamento para o decorrer do
ano. No Rio de Janeiro – cidade dos megaeventos esporti-
A constituição de culturas, políticas e
vos – as autoridades parecem não ter organizado as finan- práticas inclusivas nos espaços educa-
ças, e, como se sabe, em período de recessão econômica, a
“corda sempre arrebenta no lado do mais fraco”. cionais
O Museu Nacional, administrado pela UFRJ, ficou onze dias
de portas fechadas devido à falta de pagamento para os 13 | Infomaré
funcionários da limpeza. Na UERJ, a situação também não
é diferente, além de atrasos de salários dos funcionários
Poesia
da limpeza e dos ascensoristas de elevador, o pagamento
das bolsas de estágios para alunos da graduação também 14 | Os novos ministros de Dilma
atrasaram.
Além dessas questões econômicas, iniciamos o ano de
O paradoxo da esquizofrenia política
2015 preocupados não somente com as contas e dívidas, em nome da governabilidade?
mas também com a necessidade de economizar o uso da
água devido à escassez de chuva e do descaso do poder
público. A seca deixou de ser um problema de “exclusivida-
18 | Livro e leitura
de” de região Nordeste e virou uma realidade no Sudeste. Um comparativo entre o Brasil e a Ar-
Apesar de toda essa recessão, a Revista Biblioo não vai eco-
nomizar em novidades na edição 40, dentre os destaques
gentina
temos “O país diferente” de Edilmar Alcantara e “Livro e lei-
tura: um comparativo entre Brasil e Argentina” por Lucia- 21 | Questionar
na Rodrigues. Acesse a nossa página e confira as atrações
dessa edição.
Uma abordagem factual e contempo-
Desejamos a todos uma boa leitura! rânea
Rodolfo Targino
Editor Adjunto
targino@biblioo.info

EXPEDIENTE ► EDITOR CHEFE: Chico de Paula - chico@biblioo. Para democratizar a difusão dos conteúdos publicados nesta revista, os
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Magalhães - bibliotecária e pesquisadora. CHARGISTA: Lazaro licença idêntica a esta.
Penha.

Revista Biblioo - Janeiro 2015, Ano 5, Nº 01 | 3


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4 | Revista Biblioo - Janeiro 2015, Ano 5, Nº 01


Um país diferente
Para aprender a lidar com
as diferenças!
Por Edilmar Alcantara

N
a edição 38, trouxe a você um texto por assinatura Globo News, sem contar a tendenciosa
em que abordei a questão da diferença revista Veja), era um discurso de ódio, desprezo e su-
que incomoda. Nesse texto, falei di- perioridade (da parte dos que acusavam).
retamente da população LGBT (Lés- Numa rápida pesquisa no site do Superior Tribu-
bicas, Gays, Bissexuais, Travestis, nal Eleitoral (sobre os números do segundo turno das
Transgênicos...), e da luta que encampam para ter os eleições presidenciais), coletei os seguintes dados: na
seus direitos básicos, que são os mesmos de qualquer região Sul, o candidato à presidência, Aécio Neves,
cidadão, respeitados. Nesta edição, eu vou continuar obteve 58,91% dos votos válidos, contra 41,09% da
falando sobre diferença entre as pessoas (algo ine- candidata Dilma Rousseff. Na Região Sudeste, o can-
rente ao ser humano), pois bem sabemos que não há didato do PSDB também foi o preferido dos eleitores
ninguém igual a ninguém, no mundo constituído por e das eleitoras, conquistando 56,19% dos votos váli-
cerca de 6,5 bilhões de pessoas. dos, contra 43,81% da candidata do PT.
Nas últimas semanas ocorreu uma onda de protes- Já no Nordeste, a preferência disparada foi pela
tos e discursos inflamados, tendo como mote o se- candidata, que conquistou 71,62% dos votos válidos,
gundo turno das eleições presidências. Basicamente, contra 28,32% que foram para o candidato. Os núme-
algumas pessoas da região Sul e Sudeste acusavam ros ainda seguem nas regiões Norte e Centro-Oeste,
os nordestinos de reelegerem a então candidata, Dil- onde o candidato do PSDB obteve 43,47% e 57,43%
ma Rousseff. Se a discussão ficasse apenas no campo dos votos válidos, respectivamente, contra 56,53% e
das ideologias políticas, acredito que seria (digamos) 42,57% na mesma ordem, da candidata reeleita. Fa-
até interessante para o debate e, por consequência, a zendo uma análise simples, em que qualquer pessoa,
troca de informação; todavia, o que se via nas redes sem muitos conhecimentos em estatística, pode se
sociais (principalmente), mas não só nelas, também aventurar, pode-se constatar que os votos que o can-
em veículos de comunicação oficial (como o canal didato do PSDB recebeu nas Regiões Sul e Sudeste,

Revista Biblioo - Janeiro 2015, Ano 5, Nº 01 | 5


superam os votos que a presidente Dilma recebeu no leiro (não se tinha a ideia de Nordeste antes de 1930),
Nordeste, ou seja: Não foi o Nordeste sozinho que era desprezado e relegado a sua própria sorte.
reelegeu Dilma, foi o Brasil! A população dos estados do Norte e Nordeste foi
Sabemos que no Brasil, as questões que envolvem a que mais migrou para o Sul e Sudeste em busca de
o regionalismo são muito fortes, algo que rendeu re- melhores trabalhos e garantia de uma renda mais dig-
voltas e muitas mortes no período em que o Brasil na do que as que recebiam em suas regiões de origem.
era Colônia e posteriormente Império. A Região que Foi com mãos nordestina, também, que São Paulo foi
conhecemos hoje como Nordeste (algo que só pas- sendo construída ao longo dos tempos; a mesma São
sou a figurar oficialmente no governo Vargas) foi a Paulo que (representada por alguns filhos seus men-
mais importante para o país nos primeiros séculos de tecaptos) xinga, humilha, ridiculariza, tantos e tantas
existência deste gigante de proporções continentais nordestinos(as) pelo fato de serem nordestinos, ou
chamado Brasil. Preferencialmente Salvador e Reci- pelo fato de votarem em Dilma, e não no Aécio.
fe despontavam como as capitanias mais importantes No Brasil que vivemos e que tanto amamos, há uma
nesse período, pois a primeira mantinha-se como a variedade de diferenças, que faz com que este nação
capital do país, ou seja, trazia o poder político; en- seja especial, e também diferente: negros e negras,
quanto a segunda, despontava como capital econômi- índios e índias, brancos e brancas, judeus e judias,
ca, devido o açúcar que era extraídos das canas culti- cristãos e cristãs, adeptos e adeptas das religiões de
vadas nas terras pernambucanas. matrizes africanas, budistas, Islamitas, e tantas outras
Com a descoberta de metais preciosos na Região pessoas que professam ou não uma crença, ou que
das Minas Gerais (que compreendia o Estado de Mi- escolheram este país para viverem, ou quis o destinos
nas, e parte do Centro-Oeste), a capital do país é des- que nascessem aqui; sem contar da população LGBT,
locada para a Região Sudeste, tirando de Salvador, o ou punks, os eremitas etc.
centro político nacional. Com a troca da matriz eco- Que nação nós queremos para nós e para os nos-
nômica brasileira, do açúcar para o café, Pernambuco so filhos?! Que país teremos amanhã?! É necessário
também perde importância no cenário nacional, só combatermos toda e qualquer forma de descrimina-
que na economia. Com isso, na segunda metade do ção, seja ela por cor de pele, origem, condição sexual,
Século XVIII, o Sudeste já despontava como a Re- estrutura corpórea etc. A nação de todas as “raças”,
gião mais importante do Brasil. Como afirma Bores tribos, cores e crenças não pode permitir que haja em
Fausto no livro História Concisa do Brasil, “a atual seu seio pessoas humilhadas e violentadas psíquico e
situação do Nordeste não é fruto da fatalidade, mas de fisicamente. Precisamos dar um basta na discrimina-
um processo histórico. Até meados do século XVIII, ção, no olhar diferente que algumas pessoas recebem
a região nordestina concentrou as atividades econô- nas ruas, na palavra que não constrói. Falo aos meu
micas e a vida social mais significativas da Colônia; colegas bibliotecários e minhas colegas bibliotecárias
nesse período, o Sul foi uma área periférica, menos (não só esta classe trabalhista, mas a todas) que preci-
urbanizada, sem vinculação direta com a economia samos fazer a diferença também, não reproduzindo o
exportadora”. discurso e o modelo segregacionista.
Não precisa ficar discorrendo sobre os aconteci- Este ano foi um ano de muitas conquistas, mas tam-
mentos históricos para sabermos que as regiões Sul bém de muitos desafios para o povo brasileiro. Pre-
e Sudeste, de periféricas e abandonadas até a metade cisamos continuar caminhado em busca de uma país
do Século XVIII, passaram a ser as regiões mais im- mais justo, solidário, com serviços básicos e vitais de
portantes para o país, desse período até os dias atuais. qualidade, e pelo fim de toda forma de discrimina-
Com a descoberta de metais preciosos nas Minas Ge- ção contra a pessoa humana. Que em 2015, nós da
rais, produção de Café na região conhecida do Vale Biblioo, possamos levar até a você, informações que
do Paraíba (área compreendida entre os estados de possam fazer a diferença positivamente em sua vida,
São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais) e a mudan- mas não só a informação como produto jornalístico,
ça do Corte portuguesa para o Rio de Janeiro, a região mas também as informações que formam, que tragam
Sudeste passa a ser a campeã de recursos vindo da alegria e que nos conduzam a todos à construção de
Coroa, para obras de urbanização, industrialização, uma sociedade por muitos sonhada. Feliz 2015 a você
em uma série de benefícios que transformaram suas e aos seus. Nos encontraremos na próxima edição. ✪
pacatas cidades, em metrópoles conhecidas interna-
cionalmente. Na outra ponta, o até então Norte brasi-

6 | Revista Biblioo - Janeiro 2015, Ano 5, Nº 01


Revista Biblioo - Janeiro 2015, Ano 5, Nº 01 | 7
A inclusão de pessoas
com deficiência
A constituição de culturas, políticas
e práticas inclusivas nos espaços
educacionais
Por Silvilene de Barros R. Morais, mestre em Educação UFRJ

8 | Revista Biblioo - Dezembro 2014, Ano 4, Nº 12


A
sociedade em que vivemos tem se ca- A preocupação com um atendimento adequado e
racterizado pelo desenvolvimento cien- sistematizado às pessoas com deficiência pelas insti-
tífico e tecnológico e pelo acesso a um tuições e espaços educacionais brasileiros é um fenô-
conteúdo informacional ilimitado. Tais meno recente. Reflete o processo de conscientização
aspectos tornaram-se tão relevantes da sociedade que aos poucos começa a reconhecer
que passaram a integrar e conformar o cotidiano das esses indivíduos como cidadãos de direitos e deve-
pessoas e suas relações. Em decorrência disso, con- res. Portanto, enfatizamos que nos Interessamos por
sideramos que tanto as instituições de educação for- discutir neste artigo alguns parâmetros que têm fun-
mal, como as de educação não formal tem um papel damentado as ações de caráter inclusivo, com ênfase
de destaque a desempenhar: auxiliar os indivíduos a nas atividades comunicacionais e educacionais ofe-
compreenderem esse contexto e se prepararem me- recidas a esse segmento, embora ampliando o nosso
lhor para responderem as demandas do modo de vida olhar para outros grupos igualmente excluídos.
da sociedade contemporânea.
A educação formal é definida por Luciana Sepúl- As políticas de inclusão de pessoas
veda Köptcke como “aquela que tradicionalmente se com deficiência
desenvolve no seio do sistema de ensino, regido por A formulação de resoluções com a perspectiva in-
leis e diretrizes comuns, dentro de um espaço institu- clusiva no âmbito internacional, juntamente com a
cional socialmente reconhecido (a escola, o colégio, atuação dos grupos organizados de familiares e diver-
o liceu, a universidade etc.), tendo como característi- sas instituições brasileiras de defesa dos direitos das
cas elementares a obediência a um currículo comum, pessoas com deficiência influenciaram elaboração da
a progressão de caráter cumulativo e a certificação legislação nacional atual. Destacamos, entre outras a
como indicador social (extrínseco) de avaliação do Declaração de Salamanca sobre Princípios, Políticas
processo”. e Práticas na Área das Necessidades Educativas Es-
A educação não formal é considerada por Primeiro peciais (1994) e a Convenção Sobre os Direitos das
nome Trilla (citado por Elle Ghanem) como um con- Pessoas com Deficiência, de 2006, elaborada pelos
junto de meios e instituições que apresentam objeti- países integrantes da Organização das Nações Uni-
vos pedagógicos prévia e explicitamente definidos, das.
desenvolvidos por agentes cuja função educacional A última citada apresenta uma importante mudan-
está institucional ou socialmente reconhecida, mas ça de foco para a constituição e análise de instituições
que não integra o sistema educacional graduado ou e espaços inclusivos, pois compreende que pessoas
que fazendo parte deste, não constitui forma estrita e com deficiência são aquelas que têm limitações de
convencionalmente escolares. O campo da educação natureza física, intelectual ou sensorial, mas que a de-
não formal é constituído por uma grande variedade ficiência, especificamente, é um conceito em evolu-
e quantidade de meios e programas, dentre os quais ção, já que resulta da interação dessas pessoas com as
destacamos aqueles que constituem o foco deste ar- barreiras impostas, envolvendo atitudes e o ambiente
tigo, pois estão relacionadas à educação escolar, mas que impedem a sua plena participação na sociedade
para além dela, a formação do indivíduo no decorrer em igualdade de oportunidades com os demais indi-
de toda a vida, se apresentando como recursos didá- víduos.
ticos complementares: a TV, bibliotecas e fazendas, Como exemplo da interligação entre as resoluções
colônias de férias, intercâmbios, grupos de teatros e internacionais e a legislação nacional, podemos citar
esportivos, os museus e outros mais. o decreto nº 7.612/2011 que foi elaborado em conso-
Segundo Glória Regina Pessôa Campello Queiroz, nância com a Convenção Internacional sobre o Di-
a complexidade e o dinamismo da vida contemporâ- reito das Pessoas com Deficiência, estabelecendo, a
nea tem feito com que se reconheça cada vez mais partir de então, o Plano Nacional dos Direitos da Pes-
que a educação é produto das instituições e das re- soa com Deficiência – Plano Viver sem Limites. Esse
lações sociais, “tornando-se consenso entre os edu- documento apresenta como finalidade promover, por
cadores, sociólogos, psicólogos, etc., que a formação meio da integração e articulação de políticas, progra-
humana se constitui em espaços coletivos (formais e mas e ações, o exercício pleno e equitativo dos di-
não formais)”, passando a educação dos cidadãos a reitos das pessoas com deficiência. Considera que o
ser um empreendimento coletivo da sociedade como processo de inclusão desses indivíduos deve abarcar
um todo. todos os setores da vida, e para a sua concretização

Revista Biblioo - Dezembro 2014, Ano 4, Nº 12 | 9


deve articular ações, programas e políticas de diver- cultivados por meio do cumprimento de leis, como
sas áreas. Entre as suas diretrizes propõe a garantia também das normas estabelecidas nas instituições e
de um sistema educacional inclusivo, a ampliação do 3) a elaboração de práticas, que explicitam através
acesso à saúde, ao trabalho, a habitação adaptável, das ações e atividades propostas as concepções e nor-
às políticas de assistência social e aos equipamentos mas assumidas pela instituição. Essas dimensões são
públicos de educação e cultura, inclusive meios de complementares e não podem ser analisadas separa-
transporte adequados. damente e, segundo Mônica Pereira dos Santos de-
vem ser compreendidas em igualdade de importância
Inclusão: conceitos e princípios em todo e qualquer fenômeno social. A análise con-
norteadores junta dessas três dimensões permitem a identificação
O termo “inclusão”, desde o seu surgimento na de contextos contraditórios e das barreiras existentes
década de 1990, tem sido interpretado e utilizado de no processo de inclusão que tem se desenvolvido no
diversas maneiras, em função dos conceitos estabele- interior das instituições.
cidos por alguns segmentos da sociedade, de acordo
com suas concepções e interesses e, em consequência Identificando as barreiras à constituição
disso, tem gerado vários questionamentos e embates. de uma instituição inclusiva
Continuamente é percebido como um processo de in- Para exemplificação das dimensões citadas acima,
tegração dos deficientes, percepção essa que se esten- e a compreensão da relação existente entre elas, po-
de desde a década de 1970. demos citar a metodologia adotada atualmente pelas
Reconhecemos, primeiramente, que a inclusão não instituições culturais e educacionais para promover a
é um conceito que se relaciona apenas com as pessoas inclusão de pessoas com deficiência, a qual tem se
com deficiência, mas a qualquer grupo que encontre direcionado para o planejamento de atividades, recur-
barreiras ao seu desenvolvimento, à informação ou sos e atendimento de grupos específicos (dimensão de
à participação plena na sociedade. Diversos grupos práticas), numa visão compartimentada e que se apre-
têm tido suas necessidades desconsideradas em fun- senta insuficiente. São determinadas normas rígidas
ção de práticas homogeneizantes, que evidenciam o de atendimento (dimensão de políticas), atividades,
menosprezo as diferenças individuais, resultando em espaços e recursos pré-definidos e específicos para
desconforto, constrangimento ou inibição de sua par- cegos, surdos, cadeirantes, numa tentativa de classifi-
ticipação. car o indivíduo pelas suas limitações.
Em segundo lugar, trata-se de um processo con- Essas padronizações, ainda mais aplicadas a um
tínuo, interminável, que envolve esforço concentra- segmento tão diverso de usuários, tornam-se inefica-
do na luta pela eliminação dessas barreiras, as quais zes, pois não consideram que as diversas tipologias
continuam limitando a atuação e a aquisição de au- de deficiência não são homogêneas, mas são cons-
tonomia de diversos segmentos da sociedade, Por- tituídas por uma diversidade de características e ne-
tanto, não podem ficar restritos a projetos pontuais, cessidades específicas que variam de indivíduo para
realizados em períodos específicos, pois demandam indivíduo. Seja na sala de aula ou em outros espaços
avaliações e reformulações constantes dos serviços educacionais, ainda busca-se estabelecer um padrão
prestados pelas instituições. de aluno (dimensão de culturas), padrões de usuários,
Consideramos que tais avaliações devem abarcar direcionando um padrão restrito de atendimento ao
as três dimensões propostas por Tony Booth e Mel qual as pessoas devem se adaptar.
Ainscow: 1) a dimensão das culturas, isto é, compre- Consideramos ser essa uma perspectiva reducio-
ender quais os valores e significados que constituem nista, ainda preservada por alguns segmentos que
as concepções pessoais ou de um grupo de profissio- integram o sistema educacional, espelhando a per-
nais sobre a questão da inclusão, pois são elas que cepção fragmentada que a sociedade, de uma forma
legitimam as intenções e ações implementadas; 2) a geral, busca compreender os fenômenos. Esse é um
dimensão das políticas, que concretizam os valores processo que deixa claro a existência de um contex-

10 | Revista Biblioo - Janeiro 2015, Ano 5, Nº 01


to contraditório, pois ao desconsiderar a diversidade oportunidade para que eles exerçam suas escolhas.
como fator relevante na organização de suas ações Devem ser desenvolvidos projetos adequados, de
evidencia o descompasso entre um discurso aparen- maneira que os meios comunicacionais e os diversos
temente inclusivo e as práticas excludentes numa recursos disponibilizados se tornem ferramentas que
instituição. estimulem a aprendizagem ou o acesso à informação
Mas, em complementação, a condição de “igualda- de formas variadas, uma vez que os visitantes pos-
de” também deve ser considerada como um valor re- suem motivações, características e estilos diferentes
levante para a instituição, todos devem ter acesso aos de aprendizagem. Nesse caso, a disponibilização de
mesmos espaços e recursos. A pessoa com deficiência mediadores que esclareçam sobre a utilização e ex-
é um visitante com os mesmos direitos que outros ploração de recursos e tecnologias existentes se torna
visitantes, devendo ter a oportunidade de expressar fundamental para o sucesso da comunicação.
suas preferências e interesses, inclusive, devendo ser A mediação oferecida para usuários com defici-
consultado sobre o percurso, o espaço, o material e ência, justamente se apresenta como um dos mais
recurso que deseja utilizar. problemáticos na mediação de usuários com defici-
ência. O mediador muitas vezes identifica a pessoa
Construindo novos caminhos para com deficiência com a idéia de incapacidade, sem
a inclusão reconhecer suas especificidades e potencialidades,
Enfatizamos que, seja nos espaços formais ou não gerando uma mediação que pouco acrescenta à expe-
formais de educação, o processo de construção de riência de visitação do indivíduo. Esses aspectos são
uma instituição inclusiva, inicialmente, deve se de- fundamentais para a definição de recursos e modos de
senvolver internamente, a partir de reflexões emana- comunicação mais apropriados e a flexibilização de
das de seus elementos, nos mais diversos setores que estratégias, propiciando a utilização o mais autônoma
a compõe. As contribuições externas possibilitam o possível pelo usuário.
enriquecimento desse processo, mas não substituem O desenvolvimento de valores inclusivos, assumi-
a composição de um trabalho de caráter colaborativo. dos conjuntamente pelos profissionais das institui-
As ações definidas a partir das discussões entre os ções de caráter educacional, em consonância com as
profissionais da instituição devem constar no Plane- ações implementadas, favorecem que o processo de
jamento Geral da instituição. Nele devem ser regis- inclusão de grupos ainda marginalizados se concre-
tradas as prioridades definidas em conjunto, assim tize. Tais valores passam, então, a definir a identida-
como as questões relacionadas aos espaços, recursos de da instituição, evidenciando seu caráter inclusivo.
pedagógicos e de acessibilidade, os equipamentos Além disso, fornecem significado às políticas vigen-
disponíveis e a necessidade de consultoria de outros tes, dificultando que se tornem meros procedimentos
profissionais. a cumprir.
Esse procedimento implica em estabelecimento de Esperamos que as considerações expressas neste
cronograma, recursos, definições de responsabilida- artigo contribuam de forma a estimular reflexões, não
de e comprometimento profissional. Dessa maneira, somente sobre o atendimento de públicos escolares,
as ações relacionadas à inclusão não serão compre- mas também, sobre a relação com os demais visitan-
endidas como um apêndice, nem seus profissionais tes com deficiência usuários dos diversos espaços de
realizarão as atividades como se elas estivessem des- educação não formal. Além disso, que possam inspi-
conectadas do programa previsto, passando a ser or- rar novos debates sobre as culturas, normas e práti-
ganizadas com o engajamento de toda a equipe. cas ditas inclusivas, em vigência nas instituições, de
Para que o processo de inclusão ocorra é preciso forma que se possa avançar para uma percepção mais
que uma diversidade de recursos seja oferecida. Esse ampla sobre inclusão que resulte em oferecimento de
fato nos leva a reconhecer que, no trato com públi- um atendimento adequado a diversidade de indivídu-
cos cada vez mais diferenciados, se torna necessário os que desejam usufruir plenamente de seus espaços
oferecer diversas alternativas que possibilitem o aten- e de sua comunicação. ✪
dimento de necessidades individuais, ou mesmo dar

Revista Biblioo - Janeiro 2015, Ano 5, Nº 01 | 11


12 | Revista Biblioo - Janeiro 2015, Ano 5, Nº 01
INFOMARÉ Por Ermeson Nathan

Em todo lugar está,


Já nem sei como controlar
Essa imensa ‘infomaré’
Que é a causa da vertigem.

Do pairar no ar
Sem saber qual usar
Há um mar,
Mas não é o mar de nadar.

O mar me afoga.
Devora-me, te devora.
Quem será o herói
Para salvar?

Essa avalanche de informação


Que não dá para controlar
Seu doto da informação me ajude a filtrar
Esse mar de informação que nem sei como usar.

O bibliotecário cá está,
Representando a informação
Para tentar melhorar
Na busca da informação que me quer afogar.

Revista Biblioo - Janeiro 2015, Ano 5, Nº 01 | 13


Os novos ministros de Dilma
O paradoxo da esquizofrenia política
em nome da governabilidade?
Por Jonathas Carvalho

O
Foto: Lula Marques / Fotos Públicas

Brasil vive um tempo de difíceis distin- corrupção como se este fosse um fenômeno recente.
ções no desiderato da prática política. Em ambos os casos, há uma deformação inter-
Difíceis em virtude da conduta calcada pretativa e apropriativa de discursos, uma vez que
em adequações ideológicas líquidas, Dilma, ao vencer as eleições, convocou uma equipe
conforme perspectivas de manutenção econômica tão conservadora quanto aquela proposta
ou tomada de poder. Distinções em face da dificul- pelo candidato da oposição PSDBista, enquanto Aé-
dade de diferir o projeto promovido na díade política cio, denunciado por diversas práticas de corrupção
esquerda-direita. Em ambos os casos, a tônica está como Governador de Minas Gerais, como desvio de
vinculada a um utilitarismo político em que é ponde- dinheiro da saúde, resistência para pagar o teto míni-
rado o resultado (finalidade) independente dos meios mo do salário de professores da rede estadual, além
utilizados (procedimentos). da construção de um aeroporto em terreno familiar no
O utilitarismo político foi eminentemente contem- município de Cláudio (MG), entre outras denúncias.
plado na campanha presidencial de 2014 quando vi- Por isso, quando defino o título do texto como “o
venciamos um período difamatório em detrimento de paradoxo da esquizofrenia política” faço pelo fato
projetos efetivos para o desenvolvimento do Brasil. de que a esquizofrenia se constitui como transtorno
Pelo lado do PT (e aliados), a lógica estratégica foi mental que interfere negativamente na distinção entre
acusar os adversários de produzir uma equipe econô- experiências reais (factual) e experiências imaginá-
mica conservadora atrelada aos banqueiros, enquanto rias, deformando a estrutura lógica do pensamento,
do lado do PSDB (e aliados) foi acusar processos de das ideias e das ações.

14 | Revista Biblioo - Janeiro 2015, Ano 5, Nº 01


Foto oficial da presidente Dilma Rousseff e do vice-presidente Michel Temer com os 37 ministros empossados, 1º de janeiro de 2015

O paradoxo da esquizofrenia política é, por um democratizar os meios (políticos, tributários, midiá-


lado, a atitude dos grupos políticos ao distanciar dis- ticos, judiciários, educacionais e agrários), pois, do
curso e ação em prol da continuidade ou tomada de contrário, não será possível avançar continuadamente
poder e, por outro lado, implica no caráter da grande nos processos de justiça social e desenvolvimento hu-
mídia quando atua em prol da construção deformada mano.
da informação (contrainformação), mostrando aspec- A escolha dos Ministérios para o segundo governo
tos que representam suas estratégias ideológicas e Dilma faz crer que as reformas tão propaladas e pre-
empresariais. Por isso, a regulação da mídia é funda- mentes para o desenvolvimento do Brasil se situam
mento decisivo para superação da esquizofrenia po- na incógnita do paradoxo esquizofrênico.
lítica porque pode estimular a pluralidade dos meios A começar pela equipe econômica que contempla
informativos (e suas respectivas cargas ideológicas) a nomes como Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Bar-
fim de que a sociedade produza informação de forma bosa (Planejamento) com o claro intento de estabe-
mais autônoma, observando as diversas possibilida- lecer uma política econômica de maior austeridade,
des factuais e considerando as deficiências e perspec- especialmente em 2015/16, Dilma dá uma resposta
tivas que cada grupo político representa. positiva para os grandes representantes do mercado
A continuidade do PT no poder aponta a garantia financeiro (banqueiros, industriais e empresários).
da continuidade de um processo paulatino de distri- No Ministério da Agricultura, a escolha de Kátia
buição de renda via multiplicidade de programas para Abreu, uma das líderes e representantes do agrone-
o desenvolvimento social, mas não aponta indícios gócio, denota um distanciamento político-pragmático
expressos de uma reforma estrutural no sistema po- das históricas bandeiras levantadas pelo PT concer-
lítico, tributário, midiático, judiciário e educacional nente a reforma agrária.
brasileiro. O primeiro ponto (programas sociais) ga- Continuando pela escolha do Ministério das Cida-
rante uma margem de crédito para o governo petista des, o nome de Gilberto Kassab é visto com descon-
de uma maioria da população historicamente margi- fiança pela histórica articulação com o PSDB. Não é
nalizada ou parte considerável da população que não por coincidência que Kassab afirmou gostar da esco-
aceita a histórica desigualdade social no Brasil. Já o lha de Dilma para equipe econômica.
segundo ponto (reformas) será muito mais profundo No Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação
e será, provavelmente, o ponto de recuperação de (MCTI), a escolha de Aldo Rebelo demonstra o des-
credibilidade do governo Dilma junto a amplíssima prezo do Governo Federal por um dos setores mais
maioria da sociedade, de sorte que não adianta de- relevantes para inserir qualquer país como sinônimo
mocratizar o acesso aos bens de consumo e cogni- de competitividade e referência mundial em termos
ção (equipamentos tecnológicos e intelectuais) sem de desenvolvimento (científico, tecnológico, social,

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infraestrutura, meio ambiente etc.), compondo um buíram para sua eleição. Porém, medidas considera-
nome que já representou interesse contrário ao desen- das impopulares, mesmo que arrefeçam a resistência
volvimento científico-tecnológico quando apresen- do mercado, não garantem a chamada popularidade
tou, em 1994, como deputado federal, proposta para social, assim como as medidas ministeriais adotadas
proibir a adoção, pelos órgãos públicos, de inovação não garantem o enfraquecimento da oposição reacio-
tecnológica poupadora de mão-de-obra. nária e muito menos a manutenção de apoio dos mo-
Por fim, mas não menos importante, Dilma escolhe vimentos sociais.
o ex-governador do Ceará, Cid Ferreira Gomes, como A estratégia de Dilma para o segundo governo
ministro da Educação (MEC). Responsável pela tru- apela para um diletantismo político que varia confor-
culência física e “negocial” no tratamento com pro- me as articulações lógicas de estabilização do poder.
fessores da rede estadual de ensino básico e superior, Resta saber se essa estabilização será encaminhada
Cid talvez seja um dos nomes menos adequados para mais para satisfação dos interesses do mercado, dos
tratar da pasta, tanto pelo conhecimento técnico que interesses dos movimentos sociais ou uma concilia-
não possui quanto pelo seu histórico de desmandos ção parcialmente satisfatória para ambos. Os primei-
para com a categoria docente. Uma célebre frase o ros expedientes do governo Dilma parecem aglutinar
consagrou como “inimigo dos professores”: “Quem os interesses do mercado travando um conflito mais
quer dar aula faz isso por gosto, e não pelo salário. Se intenso com os movimentos sociais ligados ao setor
quer ganhar melhor, pede demissão e vai para o ensi- agrário, habitação, saúde, educação... Além de parte
no privado”. Isso demonstra um olhar mediocrizado dos servidores públicos ressaltando que os movimen-
de Cid para com os profissionais da educação. tos de 2013 e a tensão da campanha presidencial de
Diante das esquizofrenias políticas cometidas pelo 2014 deixaram claro que é preciso avançar na estru-
governo reeleito do PT, é preciso convir que para um tura progressista/reformista do Estado ponderando
eleitor que rechaça Aécio e vota em Dilma, a escolha que apenas manter os programas sociais do governo
de uma equipe mais conservadora provoca estranha- Federal, massificados nos dois governos Lula, não é
mentos e resistências na sociedade civil, em especial, mais uma política inovadora e atrativa de credibilida-
nos movimentos sociais agrários, científicos, político de político-social.
-econômicos e educacionais. Portanto, o governo Dilma possui dois grandes de-
Fica em evidência que Dilma estabeleceu, de for- safios: o primeiro é conter a força da oposição reacio-
ma relativamente arbitrária, um Ministério essencial- nária e os interesses de concentração de renda pre-
mente político, relegando a um plano inferior, aspec- gados pelo mercado financeiro a fim de estabelecer
tos técnicos. Com essa proposta, Dilma mais uma vez um processo de governabilidade mais sustentável e
recai em um paradoxo de esquizofrenia política, visto avançar nas reformas para garantir os meios institu-
que considerando a possibilidade real de ter represen- cionais de democratização do Brasil. Por enquanto, o
tações levemente minoritárias no Congresso Nacio- segundo governo Dilma ainda é um retrato potencial
nal, tenta equilibrar a correlação de forças políticas de práticas esquizofrênicas via escolha ministerial de
com uma equipe ministerial que garanta a represen- cunho eminentemente político e parcialmente alinha-
tação majoritária nas demandas decisionais do Con- da à conduta da oposição mais a direita que não tra-
gresso. Por outro lado, a escolha da equipe ministerial duzem a lógica estratégica da campanha presidencial.
promove no segundo governo Dilma uma resistência Seria um passo a direita de Dilma ou uma estratégia
ainda mais efetiva dos movimentos sociais que apoia- para garantir governabilidade mais progressista? A
ram direta ou indiretamente sua eleição, sendo perti- meu ver, é um pouco das duas situações, mas apenas
nente ressaltar que no primeiro governo Dilma, houve a pragmática política responderá para qual dos dois
um distanciamento dialógico com estes movimentos contextos o governo penderá de modo mais concreto.
e a promessa de aproximação no segundo governo Certamente, no ano de2015 já será possível esclarecer
que já apresenta comprometimento de ratificação pela várias respostas sobre a conduta do governo sobre o
escolha ministerial indicada. caráter austero ou progressista do governo, possibili-
Desse modo, Dilma já apresenta uma imagem es- tando afirmar antecipadamente que o segundo gover-
tratégica esquizofrênica, mesmo antes de seu limiar, no Dilma será uma construção instável de austeridade
de um governo que busca tomar medidas ministeriais em alguns setores e teor progressista em outros seto-
impopulares para inibir a força da oposição reacioná- res. ✪
ria trazendo uma resistência aos setores que contri-

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Revista Biblioo - Janeiro 2015, Ano 5, Nº 01 | 17
Por Luciana Rodrigues

A
leitura é à base da educação de qual- conhecimento, sejam elas políticas voltadas para ar-
quer sociedade ou deveria ser, porque, quivos, bibliotecas, leitura, livros etc., principalmen-
só através dela, poderemos ter uma so- te em países que estão em desvantagem competitiva
ciedade mais informada e mais igualitá- tecno-informacional. A UNESCO vem promovendo
ria. A importância do livro e da leitura políticas nacionais do livro, através do seu Manifesto
é aceita pela grande maioria, mesmo que não seja um sobre Bibliotecas Públicas.
hábito da sociedade e nem que haja um incentivo por Como existe a velha rixa no futebol sulamericano,
parte dos governos. Segundo o educador Paulo Frei- escolhi Argentina e Brasil, para fazer uma compara-
re, “a leitura do mundo precede sempre a leitura da ção acerca das leis do livro e leitura entre ambos. A
palavra e a leitura desta implica a continuidade da lei- escolha se deu, pois os nossos vizinhos possuem re-
tura daquele”. O ato de saber ler e compreender atra- nomados escritores, como Jorge Luis Borges (1899-
vés das suas experiências o que está lendo, diminui 1986), e que tem destaque no estudo da área de Bi-
progressivamente as desigualdades sociais. A leitura blioteconomia.
é o acesso ao conhecimento. Apesar dos dois países pertencerem e serem os
O homem, ao compreender-se no mundo, passa a maiores da América do Sul, eles apresentam muitas
se enxergar e enxergar o seu redor de um modo dife- diferenças quanto à questão cultural e populacional,
rente, tornando-se um verdadeiro cidadão, pensante mas também possui algumas semelhanças quanto a
e crítico. Por isso a importância de políticas públicas dados estatísticos referentes à educação que merecem
na educação e na cultura que visem à informação, ao destaque antes da comparação das leis.

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Janeiro 2015,
2014,
AnoAno
5, Nº4,01
Nº 11
Fonte: Dados estatístico: www.apolo11.com e ww.pnud.org.br.
MALTCHIK, Roberto. Retratos da educação: ainda um desastre: Brasil consegue melhora em ranking internacional de
educação, mas qualidade continua baixa. O Globo, Rio de Janeiro, p. 3, 8 dez. 2010.

Em 2009, houve uma avaliação quanto à leitura de (2005), realizada em 30 países. Em 2000, outra
aplicada para alunos com 15 anos de idade através pesquisa mostrou que o brasileiro lê em média um
do Programa Internacional de Avaliação de Alunos livro por ano, já os argentinos uma média de cinco
(PISA) elaborado pela Organização para Cooperação livros, segundo a Associação Internacional de Leitu-
e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A escala ra Conselho Brasil Sul. É por essa falta de hábito de
chega a 800 e participaram 65 países. A média obtida leitura dos brasileiros que há o mito “Buenos Aires,
pela Argentina foi de 396 e o Brasil de 401. sozinha, tem mais livrarias que o Brasil inteiro”. Se-
Ainda sobre o PISA 2009 - Brasil, quando o as- gundo o senador Cristóvão Buarque, o país possui
sunto é a leitura, 49,6% dos brasileiros ficaram clas- apenas uma biblioteca pública para cada 33 mil bra-
sificados no nível 1, isso quer dizer, o aluno apenas sileiros, enquanto a Argentina tem uma para cada 17
identifica o tema do texto ou estabelece conexões mil habitantes.
com temas do dia a dia; sendo que o número máximo Ao comparar as leis do livro em ambos os países
de níveis é 6. Isso compromete toda a formação des- - lei brasileira (Lei nº10.753) e a lei argentina (Ley
te aluno que já na fase da adolescência pode apenas nº 25.446) - podemos observar que ambas entraram
identificar o tema do texto, não sendo capaz de ava- em vigor na década de 2000. A Portaria Interministe-
liar, criticar ou fazer hipóteses sobre o conteúdo, que rial MEC/MinC nº 1.442 (2006) e Proyecto de ley, nº
corresponde ao nível 5. 1678-d-2008, de criação do Instituto Nacional do Li-
Apesar de o Brasil ter ficado a frente da Argenti- vro também são bem recentes. O que demonstrou que
na no último PISA, os brasileiros lêem menos, apro- a preocupação com o livro e a leitura, pelos governos
ximadamente 5,2 horas de leitura, o que colocou o latino-americanos, destes dois países é algo relativa-
país em 27ª posição e a Argentina na 18ª posição, mente novo.
segundo a pesquisa da NOP World Reports Worldwi-

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As leis dos dois países reconhecem o livro como uma política pública, começando pelo próprio título
difusor/transmissor de cultura, sendo considerado in- da lei que informa livros e leitura, pelo seu tamanho
substituível na e para a sociedade. Assim como a Ar- de oito capítulos com trinta e dois artigos contra cin-
gentina que está com um projeto de Lei para a Criação co capítulos com dezenove artigos referentes à lei da
do Instituto Nacional do Livro, o Brasil já teve o seu. Política Nacional do Livro (Brasil). Além disso, o
O INL foi criado em 1937, durante o Estado Novo, conteúdo da Ley nº 25.446 é muito mais abrangente,
por Gustavo Capanema. Foi uma política cultural, abordando até mesmo a promoção do livro e da lei-
cujo objetivo era editar obras literárias, elaborar um tura no Mercosul que nem é citado na PNL, embora
dicionário e uma enciclopédia nacionais e expandir o a lei brasileira, pareça estar mais atualizada, pois já
número de bibliotecas pelo país. Em 1987, o INL se menciona os livros em meio digital.
uniu a Biblioteca Nacional e foi instituída a Fundação Penso que a lei argentina não é uma política pública
Pró-Leitura no Ministério da Cultura. apenas para livros e bibliotecas, e sim, de leitura e de
No livro “A Casa da Invenção: Biblioteca/Centro informação no seu sentido mais amplo, pois no art. 3º,
Cultural” (2003), o autor Milanesi afirma que esta lei nos objetivos fundamentais são citados os arquivos
de 1937 pouco foi alterada, permanecendo presente e públicosw e privados e informação. Essa preocupa-
precária até hoje. O autor ainda afirma que o INL como ção com a informação fica evidente com a Declaração
programa nasceu velho, pois só valoriza a quantidade de Buenos Aires sobre informação, documentação e
do acervo e não a qualidade deste e dos serviços. Em bibliotecas. Portanto, a principal diferença entre am-
vários momentos, chama de “pobre biblioteca pública bas as leis é a sua dimensão. A Lei nº10.753, de 30
brasileira”, pois muitas destas pararam no tempo e no de outubro de 2003, que instituiu a Política Nacional
espaço, tornando-se apenas acervo, sendo, às vezes, do Livro (Brasil), fica mais restrita ao livro nas suas
consultadas para suprir às necessidades dos estudan- variadas formas.
tes de ensino fundamental e médio. Embora eu acredite que o brasileiro venha lendo
Mas voltando as leis, fica claro que na Lei nº10.753, mais e que esta realidade esteja aos poucos sendo al-
há uma variedade maior de tipos de livros, abrangen- terada (ver em meu artigo Livro e leitura no Brasil),
do até os livros em meio digital e impressos no Siste- é fundamental implantar uma política pública de in-
ma Braile, que na Ley nº 25.446. Em compensação, formação de longo prazo, pois ainda há muita carên-
na lei argentina são citados mais profissionais, que cia em todos os sentidos. Além disso, são necessários
classifico como profissionais do livro, tais como: au- recursos humanos, tecnológicos, parcerias privadas e
tores, os trabalhadores das artes gráficas e editoras, investimentos constantes. Em “A casa da invenção”
livreiros, bibliotecários, tradutores, editores e agentes Luis Milanese assevera que a “Cultura não é uma
literários, sendo que na lei brasileira aparecem apenas ação cosmética de imediato e rápido efeito, mas um
autor, editor, distribuidor e livreiro. investimento com retorno garantido, mesmo sendo a
Na Argentina, a lei parece estar mais voltada para longo prazo.” ✪

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Questionar
Uma abordagem factual
e contemporânea
Por Bruno Lima, Graduando em Ciências Sociais

A
utilização de argumentos para defender praticável, impossível. Há uma enorme importância
uma hipótese: uma bela arte, haja visto no estudo filosófico- principalmente no ramo da edu-
que com argumentos convincentes há cação- que carece de boas atuações. Tal problema,
a possibilidade de conquistar valores, portanto, poderia ser atenuado com medidas simples
basta que os mesmos sejam direciona- na educação de base, sendo de importância vital para
dos para determinada função. Os usos dos critérios desenvolver o senso crítico dos alunos.
são, por sobremaneira, fundamentais para pôr obje- A ruptura de valores com o objetivo de abraçar
tividade nas atividades, seja ela qual for. A palavra o novo é uma árdua tarefa para o homem moderno.
“critério”, na sua raiz de origem, fora uma palavra Em diferentes contextos, esses ideais foram fortaleci-
da agricultura, com um significado próximo a sepa- dos pela sutil atuação do tempo histórico. Esse fato,
rar o joio do trigo, por exemplo. Essa necessidade do aliado às questões culturais, dá sentido aos discursos
uso de critérios para estabelecer conexões e, portanto, conservadores, vistos num crescimento quase que ex-
atribuir sentido no direcionamento de determinada ponencial, principalmente pelo crescimento ao acesso
questão é de extrema importância – sobretudo numa dos cidadãos conectados à rede. Alguns destes cida-
sociedade cada vez mais dinâmica- no que diz res- dãos serão aqueles que vão utilizar-se de argumentos
peito ao conhecimento, é claro. A propósito, vale res- que comprovam a imposição de determinadas con-
saltar, sobre isso, a velocidade com a qual as coisas figurações, a fim de adquirir bem estar social e ser
mudam na contemporaneidade, seja sobre questões aceito em algum grupo ou valor. Isso é, inclusive, um
de caráter social, econômico, político etc. agravante para o problema de reflexão sobre infor-
A existência de uma variabilidade e, por conse- mações e valores recebidos através das mídias, neste
guinte, diversificação em quase tudo, nos coloca caso, num contexto geral. A monotonia também influi
numa situação interessante: quais são os limites e a de uma maneira bastante contundente nessa “estáti-
serem vencidos? Como direcionar e dar critérios a ca” vida moderna. Todos esses valores, aliados- às
eles? Ainda é possível selecionar bons ideais a fim vezes- a uma gestão pública corrompida, imunda,
de conseguir bons objetivos? Questões como essa acaba idiotizando a sociedade, não no senso comum.
nos cercam diariamente. Felizmente, ou não, há uma A palavra “idiota” significa “aquele que mantém a sua
área do conhecimento que traduz (ou tenta) de uma vida individualizada, não pública”. Portanto, se ouvir
forma abrangente, esses paradigmas: a filosofia. Be- frases como: “política é coisa pra idiotas”, “minha
líssima! Outrora criticada, a filosofia nasce com o de- política é só minha”, estas estão, certamente, configu-
bruçar do homem sobre os conhecimentos. Os valores radas erroneamente.
conquistados e atribuídos a ela, fez nascer à ciência. Por fim, o homem pode abjugar-se de todas essas
A filosofia, antagônica ao senso comum, que acredi- garras de valores supérfluos que o cerca diariamente.
ta na filosofia como ciência, não pode ser dita como Basta refletir- flexionar sobre si, pensar, educar, ser
tal; uma vez que a filosofia não pode ser comprovada social e, portanto, não idiota, cidadão, ter critérios!
(no sentido de haver experimentações pragmáticas na Esse ideal é, sem sombra de dúvidas, um bom come-
essência filosófica) sendo, essencialmente, teórica, ço para desenvolver uma nação. Mentira, meu caro!
sobretudo pelas análises críticas acerca das questões O primeiro passo é, sem dúvidas, (ou com as suas
envoltas ao homem. Contudo, a filosofia não é im- dúvidas) questionar. ✪

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