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IDENTIDADE E MEMÓRIA: UMA ANÁLISE DO HINO MUNICIPAL

DA CIDADE DE MINEIROS

Kerster Araújo Oliveira1

Nosso objetivo nesta pesquisa é analisar historicamente a


construção da memória da cidade Mineiros, situada no sudoeste
goiano, a partir do hino municipal da cidade. Em Mineiros, os espaços
de memória transformados em patrimônio estão em toda a parte, a
produção da memória é, por si fatos rememorados a sua realidade, a
sua história, esta por fim, pode ser utilizada para designar a
experiência humana em sua dimensão temporal ou em outro sentido
pode designar o seu relato, o seu registro da realidade, o que pode
ser chamado de micro-história.
Para Luís Rezenick (2002, p.03), “nessa concepção de micro-
história, cada aparente detalhe insignificante, adquire valor e
significado”, dessa forma a escrita da história local costura ambientes
intelectuais, ações políticas, processos culturais e econômicos que
envolvem a comunidade. Através então da análise de uma produção
“literária”, como o Hino oficial de Mineiros, poderemos construir uma
abordagem da história e da construção da comunidade mineirense, já
que muito de seus habitantes se quer conhecem a letra do hino
municipal, pois este traz estampado a história baseada na identidade
memorial da população, porque só assim haverá uma melhor
compreensão de um passado tão presente, mas ao mesmo tempo
distante.
Além da memória a pesquisa trabalha com outros conceitos,
dentre eles o Imaginário. De acordo com definição de Pesavento
(2003, p.43) “entende-se por imaginário um sistema de idéias e
imagens de representação coletiva que os homens, em todas as
épocas, construíram para si, dando sentido ao mundo”. Assim,

1
Graduanda de História pela Universidade Federal de Goiás, campus de Jataí.
segundo esta definição, podemos usar esse aparato conceitual na
busca pela compreensão da história e da construção da comunidade
mineirense, considerando que a coletividade da cidade criou uma
série de símbolos e representações de si próprios construindo a sua
memória.
Ao fazer a análise crítica do Hino Oficial de Mineiros estaremos
utilizando a memória como um dos nossos principais conceitos de
análise, fazendo uma reflexão sobre a memória viva e vivida que
permanece no tempo, renovando-se. Desta forma, este trabalho
aborda esse conceito na perspectiva de Halbwachs, que compreende
a memória como “a possibilidade de recolocação das situações
escondidas que habitam na sociedade profunda, na sensibilidade”
(HALBWACHS, 1990, p.67-68)
A renovação permanente das lembranças contidas nessas obras
artísticas, evidência um aspecto importante da memória, ou seja, a
mutabilidade da memória pois a memória “está em permanente
evolução, aberta a dialética do esquecimento” (NORA, 1993, p.09). O
autor ao fazer esta referência coloca em pauta a questão da
identidade e a ameaça de sua perda, considerando que a memória é
a grande responsável pela construção da identidade coletiva, a perda
da memória pode ocasionar graves distúrbios à coletividade,
prejudicando a coesão social do grupo.
Pensando nisso, é preciso utilizar de obras produzidas por
moradores da região de Mineiros, para que não se perca da memória
a história da ocupação territorial. O Hino Oficial da cidade escrito por
Rildo Rodrigues de Oliveira, foi aprovado pela Câmara Municipal em
outubro de 1998, no mandato do Prefeito Aderaldo da Cunha
Barcelos, mas antes desse Hino, houve outros, porém não
oficializados. Existiram vários outros hinos anteriores ao oficial, um
escrito pelo músico Arquilino Alves de Oliveira, outro pela poetisa
Consuelo Pereira Rezende e o Hino “Conheça Mineiros” escrito pelo
Dr. Edson Martins Smaniotto. O Hino oficial de Mineiros pode ajudar a
resgatar a história da cidade, através de uma abordagem não
convencional, onde podemos buscar traços da memória e da
identidade da população mineirense com base em uma produção
artística que muito tem a revelar sobre a história da cidade, sobre a
memória da ocupação e construção desta. História esta ainda viva na
memória de alguns de seus moradores.
Ao analisar o Hino escrito pelo músico e poeta Rildo Rodrigues
percebemos em suas estrofes o resgate da memória mineirense, na
primeira estrofe do Hino:
“ Aqui passaram os primeiros povos,
Tribos indígenas marcas deixaram;
Negros escravos os brancos trouxeram,
Até que livres moleques os fizeram.”

Os versos fazem alusão as comunidades primitivas que viveram


no espaço geográfico em análise, enfatizando a miscigenação de
culturas (branca, índia e negra) que conviveram na localidade. Na
opinião de Silva (2007), estudioso da Pré-história brasileira, a
ocupação desta região remonta a uma datação muita antiga, ao
período pré-histórico. Nessa época viveram nesses chapadões (região
de Mineiros) cerca de 11 mil anos atrás alguns povos primitivos,
caçadores e coletores silvestres, que deixaram sua marca registrada
em diferentes locais, segundo o autor “existe um grande complexo de
sítios arqueológicos na região de Mineiros, nos vales do Rio Verdinho,
Corrente e do Araguaia, sendo os vestígios mais freqüentes nas
serras da Urtiga, da Mumbuca e do Pinga-fogo, destacando-se como
abrigos naturais a Pedra Aparada e a Casa-de-Pedra” (MARTINIANO
J. SILVA, 2007, p.349)
Desses povos primitivos descendem os índios, atualmente
chamados Caiapós, Bororos, Tupi-Guarani, dentre outros. Mas com a
chegada da civilização branca, provavelmente oriunda de Minas
Gerais, em 1839, a situação das populações nativas sofrem uma
alteração. A cultura branca gradativamente começou a instalar-se na
região, para cá vieram no intuito de demarcar e apossar de terras
Gabriel Junqueira Vilela (Fazenda Babilônia) com isso muitos índios
foram mortos e expulsos da região, estes brancos trouxeram consigo
vários escravos negros por volta de 1873,completando a mistura de
culturas.
As primeiras famílias que exerceram influências políticas na
zona urbana foram os Carrijos, Machado, Resende e Paniago, com o
crescimento da zona rural, surge a necessidade de um núcleo urbano,
é imerso neste contexto que a primeira Igreja foi construída em 1896
dando origem ao aglomerado urbano na região. Assim, foi construída
a Igreja Matriz do Divino Espírito Santo que foi elevada à categoria de
paróquia do Divino Espírito Santo em 1913, ou seja, após 17 anos de
sua construção depois dessa construção é elevada ao nível de
Povoado, e posteriormente a Vila, somente em 31 de outubro de
1939, Mineiros foi elevada a categoria de Município.
Na estrofe seguinte podemos perceber a multiplicidade de
povos que migraram para a região:
“Depois chegaram de vários cantos
Outros tantos, estabeleceram;
Ergueram sonhos, despiram cerrados,
Recompensados, bons frutos colheram.”

Na estrofe supracitada o autor do hino, Rildo Rodrigues de


Oliveira, se refere a chegada dos nordestinos e dos baianos por volta
de 1900, e da chegada dos sulistas e da região de sudeste por volta
de 1970, estes últimos trouxeram consigo a agricultura mecanizada.
São os imigrantes da região sudeste que difundiram a agricultura
mecanizada na região de Mineiros, eliminando o caráter essencial
pecuarista que predominava na região, o que fez com que a cidade
deixasse de ser apenas pecuarista e passasse também a ser agrícola,
assim a economia mineirense passa a ser sustentada pela
agropecuária.
Na terceira e na quarta estrofe o poeta ressalta grandiosidade
da região e o caráter hospitaleiro da cidade :
“ Terra querida, tu és com certeza,
Dentre as belezas a maior que vi.
Tu te debruças em solo goiano,
Bem forte exclamo: Sou feliz aqui!

Ei de cantar-te ó mãe Mineiros,


Pois no teu seio soubeste cuidar
Dos adotivos e dos verdadeiros,
Seus filhos queridos vão sempre te amar!”

A população mineirense do passado, podemos assim dizer,


tinha entre as famílias tradicionais uma cordialidade que as uniam,
sobretudo, para manifestar suas crenças religiosas, para realizarem
os casamentos, e as festas em geral. Mas nos dias atuais devido ao
grande desenvolvimento e crescimento da cidade a cordialidade, dá
espaço ao individualismo, porém, mesmo assim os mineirense não
deixam de ser acolhedores e alegres.
Na quinta e na sexta estrofe o hino aborda as belezas naturais
a riqueza hídrica da região e seu potencial medicinal. O hino mostra
as riquezas turísticas e ecológicas de Mineiros, Pedra Aparada, além
de ser um sitio ecológico de grande importância, pela beleza natural,
pelos mistérios de suas lendas, com a flora formada por uma
vegetação rasteira, onde predomina gramíneas, gravatás e tendo
uma rica fauna composta por lobos-guarás, veados do campo, tatus,
tamanduás e uma grande variedade de aves.

“ Lendas e curas a ti reservadas


Pedra Aparada e Pilões revelam
A fauna e a flora se vêem mais vivas
Parque Nacional, reserva nativa.

Rios Formosos de águas correntes


Rasgam vertentes, desenham praias
Águas límpidas brotam pulsantes,
Nasce radiante o Rio Araguaia.”
A região Pilões e suas águas sulfurosas e medicinais, segundo a
tradição, as águas e os barros de “Pilões” são capazes de curar
verminoses, doenças de pele, pressão alta e outros tipos de doenças.
Uma outra reserva ecológica é o Parque Nacional das Emas,
que mantém a presença de animais raríssimos (Tatu Canastra, Lobo-
guará, Veado Campeiro, entre outros) numa área superior a 130 mil
hectares de terras , localiza-se nos divisores de água das bacias
Amazônica e Platina e limita-se ao norte pelo rio Jacuba e ao sul
ultrapassa o rio Formoso. É o maior parque de preservação do bioma
cerrado, que está em extinção no país, ali se encontra todos os tipos
de cerrado, cerradões, campos limpos, campos sujos, matas ciliares e
as veredas com grande presença de buritis, nas cabeceiras do
córrego e dos rios.
Mineiros é também um município de belas cachoeiras, que
podemos destacar a cachoeira do Pinguela ( 12 m de altura), a do
Sucuri, a dos Dois Saltos e a cachoeira do rio Verdinho (18 m de
queda), neste rio existe também uma praia de água doce, praia do
Rochedo.
A cidade é também considerada o berço natural das nascentes,
entre elas pode destacar a nascente do córrego Mineiros e a nascente
do Rio Araguaia. Não podemos deixar de citar a comunidade do Cedro
uma região quilombola, ela resistiu ao próprio tempo e manteve as
tradições do povo negro, como a medicina alternativa, utilizando
plantas do próprio cerrado.
Logo, o Hino Municipal nos leva a conhecer um pouco da
história da cidade de Mineiros, através da memória da população que
busca preservar a Identidade Mineirense.
Assim sendo nosso objetivo nesta pesquisa é proporcionar a
população mineirense um conhecimento de sua história a partir de
um ponto de vista diferente. Buscamos resgatar a história e a
memória da cidade de Mineiros através de um estudo detalhado do
seu Hino Oficial levando os habitantes a (re) conhecer e interpretar
uma obra artística percebendo na mesma a construção de sua própria
identidade, não perdendo de vista o reconhecimento histórico e o
valor da cultura mineirense, utilizando disso como um complemento
para a sua formação como cidadão responsável pelo processo de
ocupação territorial da região de Mineiros, Goiás.
O projeto visa também desenvolver o censo crítico sobre a
necessidade de preservar a memória histórica, para que sirva as
gerações futuras, estimulando o posicionamento critico e a
valorização da cidadania.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SILVA, Martiniano J. Traços da História de Mineiros. Goiânia: O


Popular, 1984.
. Quilombos do Brasil Central: Violência e Resistência
Escrava 1719 -1888. Goiânia: Kelps, 2003.
. Parque das Emas: Última Pátria do Cerrado. 2. ed.
Goiânia: Kelps, 2005.
. Escrito nos Jornais: Tempo de Aprendizagem. Goiânia:
Kelps, 2007.
. Mineiros: Terra e Povo. 1994. 128f. Dissertação ( ensaio
histórico-antropológico). Prefeitura Municipal de Mineiros.
http://www.achetudoeregiao.com.br/go/mineiros/historia.htm Acesso
em: 05 de junho de 2008.
GOFF, Jacques Le. A História Nova. Tradução de Eduardo Brandão.
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SIRINELLI, Jean François. Elogio da Complexidade. In: Para um
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http://www.mineiros.go.gov.br/ver.php?p=news&id_not=40 Acesso
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REZENICK, Luís. Qual o lugar da história local? Artigo Publicado
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PATLAGEN, Evelyne. A história do imaginário. In: A História nova.
São Paulo: Martins Fontes, 1990.

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